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Nietzsche – Psicologia do
Ressentimento
O ressentimento é uma das condições mais perigosas ao homem e, infelizmente, esta parece ser sua
condição moderna. Para Nietzsche, o ser humano declina, seu grande medo é que o ressentimento se
torne de tal forma contagioso e perigoso que consiga operar uma inversão dos valores. Aqui o
pesadelo se torna realidade: os fracos triunfam sobre os fortes.
Para entender melhor, precisamos analisar a famosa oposição “moral de senhores versus moral de
escravos”. Por trás destas morais encontra-se a Vontade de Potência como força de afirmação e
criação que opera uma hierarquização das forças, uma valoração dos valores, uma estrutura onde as
forças de conservação servem às forças de criação e expansão. Estes tipos psicológicos são definidos
por Nietzsche:
A ação do senhor, em sua própria força e vigor, afirma sua vontade: sua lei é a afirmação de si.
Fluxos em um campo de forças buscando cada uma sua própria ampliação e afirmação. O tipo
Aristocrático é predominantemente ativo, suas ações são espontâneas, quase inocentes, fruto de um
excesso que transborda. Sua saúde necessita de um mínimo de estímulos para explodir em atos, para
extravasar e criar, sua capacidade de agir no mundo com esta leveza o faz dizer Sim para seus
próprios atos, ele legisla através de sua própria afirmação, se diferencia no processo e todo o resto é
uma consequência de si.
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24/11/2021 08:57 Nietzsche - Psicologia do Ressentimento • Razão Inadequada
O tipo escravo, por um desequilíbrio das forças, não tem vigor o bastante em sua ação, seu ato é
sobrepujado pelas forças externas. A fraqueza do escravo impede que sua força se afirme
plenamente, ele não é dono de si, é constrangido, desviado, impedido constantemente em razão de
forças externas que o ultrapassam. Em face de um mundo ameaçador e perigoso, o escravo diz Não,
ele sente o Não como uma entidade ontológica e totalizadora. Tudo é complicado demais, pesado
demais, a vida exige demasiado esforço. Ao escravo, levando em conta sua desordem fisiológica,
sua debilidade, pusilanimidade, está vedada a ação. Nele, a Vontade de Potência não pode afirmar-se
plenamente, o escravo não pode devir, ele não está à altura do mundo.
oposição Senhor/Escravo, Nobre/Plebeu, remete à Vontade de Potência porque é nela onde as forças
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24/11/2021 08:57 Nietzsche - Psicologia do Ressentimento • Razão Inadequada
de diferenciação e expansão organizam o corpo do homem. Ao nobre, por sorte, cuidado, condições
adequadas, é possível o livre fluxo de sua força; ao escravo, por azar, descuido, condições
desfavoráveis, sua ação está vedada, quase completamente obstruída, sua potência de diferenciação
é debilitada.
O nobre confunde sua valoração com o mundo, porque o mundo mesmo parece estar em suas mãos,
ele demonstra um controle de si e de sua relação com o que lhe é exterior, os dois movem-se em
harmonia, uma dança onde os dois crescem em potência; já o escravo de imediato cria uma
separação entre ele e o mundo, negando o exterior em busca de afirmar-se com seus parcos recursos.
A cama está armada para o nascimento do ressentimento. Como diz Nietzsche: “O ressentimento,
a ninguém é mais prejudicial que ao próprio ressentido” (Nietzsche, Ecce Homo, §6). Em
sua incapacidade de agir, o tipo escravo tende a se tornar cada vez mais doente e incapaz, cada vez
mais extenuado e incapacitado. Em sua busca por afirmação, ele recorre a táticas desesperadas: a
confundindo com o alívio de energias represadas, tomando excêntricas atitudes que descarregam de
uma vez toda sua força, mas que o torna, por fim, ainda mais frágil frente aos estímulos externos.
O ressentido busca o alívio de sua dor, seu desconforto, a Vontade de Potência busca caminhos para
afirmar-se, mas encontra apenas becos sem saída. Então, já incapaz de afirmar, até mesmo a reação
torna-se inautêntica, incapaz de criar e diferenciar-se, inapta para dar conta da relação entre as
forças interiores com as exteriores. Chega o momento para o qual Nietzsche nos alertou: a dor se
contamina de ressentimento. Mágoa, raiva, ira, ódio tomam a consciência. Ao fraco, abre-se o
assustador destino de ressentido, a incapacidade de esquecer aqueles que o ofenderam, a raiva
contida, dissimulada, daqueles que o superaram, a dor persistente e atrofiadora, a sede de vingança.
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signos que possam levá-lo a redimir-se frente sua plateia imaginária. O caminho rancoroso que o
ressentido segue o afasta da saúde, ele se fecha cada vez mais, cria mundos, e, eventualmente, torna-
se inacessível.
Onde ainda se encontra a saúde do homem moderno contaminado pelo verme do ressentimento? Ele
acredita demasiadamente na identidade para se deixar levar pelo devir; ele se encontra
exageradamente afundado em si mesmo para realizar os encontros que só acontecem na superfície;
ele acredita excessivamente em quem é para dar um chance à espontaneidade em si mesmo.
É preciso ter ainda o caos dentro de si, para poder dar à luz uma
estrela dançante. Eu vos digo, tendes ainda o caos dentro de vós”
Texto da Série:
Ressentimento
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