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Aula BNCC – Unidade 3: Por que e como agimos? Cap. 1- Os valores e as escolhas
O conceito de valor exprime uma relação entre as
necessidades do indivíduo e a capacidade das
coisas e de seus derivados, objetos ou serviços em
as satisfazer. É na apreciação desta relação que se
explica a existência de uma hierarquia de valores,
segundo a urgência/prioridade das necessidades e
a capacidade dos mesmos objetivos para as
satisfazerem, diferenciadas no espaço e no tempo.
Platão e a universalidade do valor
Aula 2
Objetivo:
Compreender os valores morais em Nitezsche
Para Nitezsche, não há valores universais. Todos os valores são criações humanas e
correspondem a interesses particulares. Os valores são sempre criações históricas, com
validade naquele tempo e lugar. Segundo o filósofo, há um caráter ativo, que afirma seus
próprios valores, e um caráter reativo, que só afirma seus valores negando os valores do
outro. Para ele, uma situação saudável é aquela em que predomina o caráter ativo. Porém,
na sociedade ocidental houve um processo de “inversão de valores”, pois predomina o
caráter reativo, centrado na negação da vida e não em sua afirmação. Por isso é necessária
uma “transvaloração dos valores”, que recoloque em cena o caráter afirmativo da vida
A historicidade dos valores: crítica à ideia platônica de universalidade dos valores. Eles são
produzidos historicamente. A principal tarefa da filosofia seria produzir uma escala de
valores, mostrando sua hierarquia. É sobre a própria moral que se precisa pensar,
compreendida na história, analisada em suas origens. Predomina entre nós uma “moral de
rebanho”, isto é, um tipo de ação em que grandes grupos seguem um líder. Essa moral,
provém de uma inversão de valores, que passou a considerar o fraco como melhor que o
forte. Todos os seres vivos são animados por um impulso vital: “vontade de poder” ou
“vontade de potência”. Há uma “vontade de poder forte”, que é ativa, e uma “vontade de
poder fraca”, que é reativa. Elas implicam dois tipos de caráter: um caráter ativo (forte) e
um caráter reativo (fraco). Porém, foi sendo criada a ideia de que os fracos são os bons e os
fortes, por oposição, são maus: a inversão de valores; cujas duas fontes principais são a
crença na imortalidade da alma, como propunha a filosofia socrático-platônica; e o
cristianismo, que levou a resignação às suas mais profundas consequências.
Para explicar essa ideia, Nietzsche afirma que todos os seres vivos são animados
por um impulso vital que ele denomina “vontade de poder” ou “vontade de
potência”. Essas vontades implicam dois tipos de caráter:
um caráter ativo (forte) e um caráter reativo (fraco).
O caráter ativo está presente nos indivíduos que são capazes de afirmar a si
mesmos por meio da ação. Nas palavras de Nietzsche, são aqueles que
conseguem “dizer um grande sim à vida” e a vivem de forma intensa. Um
exemplo de caráter ativo é o de um artista, que cria suas obras segundo
seus impulsos, sem importar-se com as convenções sociais, se sua obra será
ou não bem recebida pelo público. Sua criação é uma afirmação de si
mesmo.
Já o caráter reativo é o do indivíduo que não é capaz de afirmar a si mesmo senão por
meio da negação do outro. Ele não age, mas reage às ações do outro. Por isso
Nietzsche o identifica como fraco: sua ação é uma ação fraca, uma reação. Para
manter o exemplo anterior, poderíamos citar aqui o artista que cria para o mercado,
segundo o gosto comum, para que sua obra seja um sucesso e fonte de recursos
financeiros.
Genealogia da Moral
Os indivíduos fracos são aqueles que olham para o
forte e dizem: “Você me domina, então você é mau;
e se você é mau, eu, por oposição, sou bom”.
Na natureza, o forte é o bom (o que não significa
que o fraco seja mau). Ele é bom porque é capaz de
afirmar-se.
A partir de determinado momento na história
humana, contudo, foi sendo criada a ideia de que
os fracos são os bons e os fortes, por oposição, são
maus. É a inversão de valores a que nos referimos
anteriormente.
A crítica à inversão dos valores
Segundo Nietzsche, há duas fontes principais para essa inversão de valores na cultura ocidental.
A primeira é a crença na imortalidade da alma, como propunha a filosofia socrático-platônica.
Se acreditamos que a alma é imortal, que continuaremos vivendo após a morte do corpo
(mesmo que de outra maneira), então deixamos de afirmar a vida tal como a conhecemos. Por
causa dessa crença, diz Nietzsche, os gregos deixaram de ser afirmadores da vida, criadores,
indivíduos nobres, para se tornarem produtores de uma cultura de resignação.
A segunda fonte é o cristianismo, que levou a resignação às suas mais profundas
consequências. Aprende-se, nos preceitos cristãos, ao menos como eles foram difundidos pela
Igreja, que o importante é a resignação com a vida terrena, para se obter o reino dos céus
Um dos melhores exemplos daquilo que Nietzsche critica no cristianismo está
expresso no famoso “Sermão da Montanha”. O caráter ativo (baseado na afirmação) e
o caráter reativo (centrado na negação) implicam dois sistemas de valores distintos, ou
duas diferentes morais.
➢ A moral do forte, afirmativa, Nietzsche denomina “moral dos fortes” ou “moral
dos nobres”. É um sistema de valores centrado na afirmação de qualidades como a
coragem, a força, a saúde e o orgulho.
➢ A moral do fraco, reativa, Nietzsche chama de “moral dos fracos”, “moral dos
escravos”, ou mesmo “moral de rebanho”. Está centrada em valores como
submissão, humildade, piedade e importância do sofrimento.
A Genealogia da Moral
• Em "A Genealogia da Moral", Nietzsche aborda
a origem dos valores morais e a definição do que é
ser bom. Para ele, a moral não deve ter ligação com o
utilitarismo, ou seja, algo não deve ser considerado
bom porque o resultado dá ação foi útil a uma
pessoa. Assim, Nietzsche não considera que exista
qualquer ação boa por si própria.
• A conclusão de Nietsche é de que a moral deve surgir
da imparcialidade, e não de um objetivo a ser
alcançado com tal ação moral.
• Em uma análise mais aprofundada, tem-se que
quando se questiona o que é bom e mau para uma
pessoa, ela vai definir de acordo com sua posição
social e com quem se relaciona. Portanto a definição
de bom e mau é relativa.
• É a partir dessas conclusões que Nietzsche cria o
conceito de Super-homem. Para ele, esse seria o
indivíduo que cria seus próprios valores, que vive de
acordo com o que lhe é correto e assume as
consequências de sua escolha.
• Quando falamos em super-homem logo nos vêm à
memória o personagem do desenho animado. Mas,
para Nietzsche, o super-homem é a superação do
homem atual.
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Aula 3
Objetivo:
Tratar a questão do valor articulada com as noções de escolha e
liberdade em Sartre
Para Sartre, o humano é um ser consciente, e Segundo Sartre, é por meio desse
o valor é a forma de ser da consciência. Em processo que um ser transcende seu
sua concepção, valor e vontade têm a mesma próprio ser, indo além de si mesmo. Um
pintor, por exemplo, depois de uma
“estrutura de ser”. Ao afirmar isso, ele está se
longa busca, conseguiu criar uma técnica
referindo à noção de falta, que acredita ser o mediante a qual se tornou reconhecido
elemento comum àqueles dois conceitos. por produzir belíssimos quadros. Ele
Segundo o filósofo, nós atribuímos valor poderia permanecer neste estado,
àquilo que nos falta, da mesma forma que mantendo-se convicto com relação à
temos vontade daquilo que não possuímos, concepção técnica que orienta sua
produção artística. Porém, tão logo
pois se temos essa coisa não a desejamos.
conquistado o desafio inicial que o
Um exemplo: em um dia de grande calor, nos consagrara no estilo ao qual pertence,
falta o frescor e desejamos o frio; um tempo ele deseja ir além. Mais experimentos,
mais fresco constitui valor para nós. Sartre diferentes temas e muitos estudos são
afirma ter o valor a mesma estrutura da algumas medidas práticas e teóricas que
vontade: o valor é uma falta, uma ausência, o pintor mobiliza para a realização dessa
que faz com que atuemos para preenchê-la, nova busca: a superação da técnica
anterior.
para anulá-la. É assim, como quando
mobilizamos ação e pensamento em busca
da realização de um desejo, que a
consciência produz novos valores.
Ora, esse processo é na verdade a superação de si mesmo. É o que Sartre chama
transcendência. Ela só é possível por intermédio do valor, que, no exemplo do pintor, é a
técnica artística. Ao possibilitar a manifestação da vontade, a consciência lhe toma como seu
motor. O valor impulsiona constantemente o indivíduo à ação para superar-se na busca de
novos valores. Se eles mudam, a consciência muda também; modifica-se o seu próprio ser,
modificando também o ser consciente, isto é, a pessoa, que pensa, age e se expressa
mediante os valores. Eis porque são eles o motor da ação humana. Uma vez que o valor não
é algo dado, algo absoluto com o que nos defrontamos, mas um produto da consciência,
percebe-se que é impossível, na perspectiva de Sartre, uma moral que fundamente normas e
leis em valores absolutos e abstratos, como a moral cristã, por exemplo.
Baseada no decálogo de Moisés, ela afirma valores desse gênero quando determina: “não
matarás”. Ora, afirma-se assim a vida como um valor absoluto.
No entanto, ele é apresentado de forma abstrata, quando diz
simplesmente “não matarás”, sem fornecer especificações concretas e
precisas sobre as possíveis circunstâncias. Um exemplo: se estou sendo
mortalmente atacado por alguém e, para me defender, mato aquele
que me agride, estou, ainda assim, cometendo um pecado por infringir
essa regra moral geral? Como sabemos, os mandamentos não preveem
situações como essa. Se tomarmos, por outro lado, a perspectiva
apontada por Sartre, só podemos falar em uma moral baseada na ação
individual, sem regras gerais e válidas para todos. Isso quer dizer que
cada ação humana só pode ser julgada depois de realizada e avaliada
caso a caso.
A inovação introduzida por Sartre é o fato de dizer que o valor não é um ser
em si mesmo, mas uma “estrutura da consciência”, ou seja, produzimos
valores porque somos seres conscientes. Da mesma forma, produzimos
conhecimentos porque somos seres conscientes. Mas a relação consciência-
valor é diferente da relação consciência-conhecimento. O conhecimento
não é uma falta; ao contrário, é a presença de um objeto que move a
consciência na produção do saber. Já o valor, sendo uma falta, é o motor da
produção da consciência, aquilo que nos faz agir, buscando o
preenchimento dessa falta. Toda consciência é consciência reflexiva, isto é,
pressupõe aquele movimento de aperceber-se a si mesma no ato da
percepção, como vimos no exemplo da árvore. A consciência reflete, volta-
se sobre si mesma, tomando-se objeto do pensamento.
Mas nem toda consciência é moral, isto é, julga e avalia ações de pensamentos
morais. Os valores podem, pois, ser ou não objeto da atenção de minha consciência,
mas nenhuma consciência será “moral” pelo simples fato de ser consciência. Sendo
parte da estrutura da consciência, os valores nunca poderão ser absolutos e
universais, mas serão sempre criações particulares, individuais. Sartre diz que é
preciso que abandonemos aquele “espírito de seriedade” (usando uma expressão de
Nietzsche) que faz com que tomemos os valores como dados, absolutos, como bons
em si mesmos e, portanto, geradores do bem. Uma moral baseada nesses valores é
uma moral de “má-fé”, pois estamos recebendo uma orientação externa, muitas
vezes imposta a nós. Se nelas nos fiamos sem reflexão prévia, corremos o risco de
estarmos enganando a nós mesmos.
Os valores não são abstratos, transcendentes: nós próprios inventamos nossos valores, e
isso quer dizer que somos nós mesmos que damos sentido às nossas vidas. Esse sentido
por nós escolhido é nosso valor: a falta que procuraremos completar para a nossa
realização, nos vários momentos de nossa existência. O único valor para o ser humano é,
então, a realidade humana, pois tudo o que fazemos é a construção de nossa realidade,
de nossa vida. Sem o mundo, sem o ser humano, nunca haveria valor: eis a conclusão de
Sartre.
As consequências políticas são bastante claras: o “valor universal” é uma abstração irreal
usada com a finalidade de manipular as consciências e a realidade humana.