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Escola Estadual “Senador João Bosco”

Profª Msc. Valdenei Santos


Disciplina: Filosofia
Série: 3º ano EM

Nietzsche

Nietzsche procedeu a um deslocamento do problema do conhecimento, alterando o papel da


filosofia. Para ele, o conhecimento não é uma explicação da realidade, pois não passa de
interpretação, de atribuição de sentidos. Atribuir sentidos é, também, revestir de valores, ou
seja, os sentidos são construídos com base em determinada escala de valores que se quer
promover ou ocultar.

Genealogia

A genealogia é o método de decifração proposto por Nietzsche para desmascarar 0


modo pelo qual os valores são construídos. Por esse método, ele descobre lacunas, espaços
em branco mais significativos, e o que não foi dito ou foi reprimido. Com isso, identifica
como determinados conceitos foram transformados em verdades absolutas e eternas. O
método genealógico visa resgatar o conhecimento primeiro, indevidamente transformado em
verdade metafísica, estável e intemporal. Como a vida é um devir — este sempre em
movimento -, não é possível reduzi-la a conceitos abstratos, a significados estáveis e
definitivos.

Nietzsche: a transvaloração dos valores


O filosofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) orientou-se no sentido de
recuperar as forças vitais, instintivas, subjugadas pela razão durante séculos. Para tanto,
critica Sócrates por ter sido o primeiro a encaminhar a reflexão moral em direção ao controle
racional das paixões. A tendência de desconfiança nos instintos culminou com o
cristianismo, que acelerou a “domesticação” do ser humano.
Em diversas obras, em estilo apaixonado e mordaz, Nietzsche analisa historicamente a
moral e denuncia sua incompatibilidade com a esfera da vida. Em outras palavras, sob o
domínio da moral, o ser humano se enfraquece, tornando-se doentio e culpado.
Ao fazer a critica da moral tradicional, Nietzsche preconiza a “transvaloração de todos
os valores”.
Considerando que os valores não existiram desde sempre, mas foram criados,
Nietzsche propõe a genealogia como método de investigação sobre a origem deles. Mostra
como foram criadas lacunas — o que não foi dito ou foi recalcado -, permitindo que alguns
valores predominassem sobre outros, até se tornarem, aos poucos, conceitos abstratos e
inquestionáveis.
Pela genealogia, Nietzsche descobre que os instintos vitais foram submetidos e
degeneraram. Denuncia a falsa moral, “decadente”, “de rebanho”, “de escravos”,cujos
valores seriam a bondade, a humildade, a piedade e o amor ao próximo. E, desse modo,
ressalta os valores comprometidos com o “querer-viver”. Distingue então a moral de
escravos e a moral de senhores.
a) Moral de escravos
Herdeira do pensamento socrático-platônico e da tradição judaico-cristã, a moral de
escravos consiste na tentativa de subjugação dos instintos pela razão. O homem-fera, animal
de rapina, é transformado em animal doméstico ou cordeiro. A moral plebeia estabelece um
sistema de juízos em que o bem e o mal são valores metafísicos transcendentes, isto é,
independentes da situação concreta vivida.
A moral de escravos nega os valores vitais e resulta na passividade, na procura da paz
e do repouso. O individuo se enfraquece e sua potência diminui. A conduta humana,
orientada pelo ideal ascético, torna-se vitima do ressentimento e da má consciência - o
sentimento de culpa.
Ao criar a noção de pecado, o sentimento de culpa toma-se um ressentimento voltado
contra si mesmo e inibidor da ação. O ideal ascético nega a alegria da vida e faz da
mortificação o meio para alcançar a outra vida num mundo superior, do além. As praticas de
altruísmo destroem o amor de si, domesticando os instintos.
b) Moral de senhores
A moral que visa à conservação o da vida e dos seus instintos fundamentais é positiva
porque se baseia no sim a vida e configura-se sob o signo da plenitude, do acréscimo. Ela se
funda na capacidade de criação, de invenção, cujo resultado é a alegria, consequência da
afirmação da potência. O individuo que consegue se superar é o que atingiu o além-do-
homem. E aquele que reavalia os valores, para desprezar os que o diminuem e criar outros
que tenham compromisso com a vida. No homem o sentimento de potência, a vontade de
potência, a própria potência. O que é mau? Tudo que provém da fraqueza.

Vontade de potência
Há quem pense que Nietzsche chega ao extremo individualismo e amoralismo. Muitos
até o chamaram de niilista, para acusá-lo de negar os valores, o que não faz jus ao seu
pensamento. Ao contrario, o filosofo atribuía o niilismo à moral decadente dos valores
tradicionais, que acomodaram o ser humano na mediocridade uniformizadora. Destruir esses
valores é condição para que possam nascer os valores novos do além-do-homem, o que só é
alcançado pela vontade de poder.
Também essa expressão pode levar a confusões: não se trata do poder que domina os
outros, mas de forcas vitais entorpecidas e recuperadas pelo individuo dentro de si “num
dionisíaco dizer-sim ao mundo”. O poder é virtude no sentido de forca, vigor, capacidade.
Portanto, virtude é autorrealização. Se essa moral valoriza a individualidade, o faz tanto para
quem a detém como para os outros, pois permite a cada um ser ele mesmo.

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