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Resumo: Capítulo 1 (página 65 a 83)

“Como apareceu Yebá bëló do nada”


Desde o princípio, não existia nada no mundo, apenas trevas. E desse nada,
brotou uma mulher, que surgiu de si mesma em seus bancos mágicos e se cobriu
com enfeites que transformaram na sua moradia de quatzo, um
compartilhamento chamado etãn bë tali bu. Esta mulher, se chamava Yebá bëló
que significa a “não criada” que ela é a avó do universo. Em sua própria criação
misteriosa, se utilizou de seis coisas invisíveis: sé-kali (brancos), salipu (suportes
de panelas), kuásulu pu (cuias), kuásulu verá (cuias, ipadu), dëhkë iuhku verá
pogá kuá (pés de maniva, ipadu, tapioca, cuia), muhlun iuhku (cigarros). Esta
mulher, depois de aparecer, pensou no seu compartilhamento sobre o mundo e
como ele deveria ser no futuro. Enquanto pensava, ela mascou ipadu mágico e
fumou o cigarro mágico, e de repente, seus pensamentos foram tomando forma,
a se levantar como uma esfera culminando em uma torre. A esfera, quando se
levantou, incorporou a escuridão, ou seja, o escuro ficou dentro da esfera que
era o universo. Contudo faltava a luz, e só aonde ela se fez que tinha, pois era
todo branco de quartzo. Ela chamou a esfera de ëmëkho patolé, que era como
se fosse uma grande maloca, porém ela sentiu a necessidade de povoar essa
grande casa, e voltou a mascar ipadu e fumar o cigarro. Quando tirou o ipadu da
boca ela o fez se transformar em homens-trovões, chamados em conjunto de
ëmëkho ñehke semá (muitos avós do universo), isto é, os cinco trovões
chamados etãn bë weli mahsá. Esses homens da pedra branca eram eternos e
imortais, e Yebá bëló fez eles na morada em que onde apareceu. Em seguida
ela saudou como irmãos: “ëmekho ulãn”, e os trovões lhe responderam: “ëmëkhó
sulãn ñehko”, avó do universo e de tudo que existe, e em seguida distribuiu um
compartilhamento para cada um da casa grande, que tinham nomes. Nesta
divisão, o primogênito ficou como o quarto do chefe, no sul que se chamava diá
ahpikun wi; já o segundo com o quarto do lado direito no leste, acima do dele, e
se chamava diá gahsiló ehtamun wi. O terceiro recebeu o quarto no alto do jirau
chamado ëmësin wi, onde tinham muitas riquezas repletas de enfeites de dança
(coisas mágicas); o quarto trovão recebeu o cômodo da esquerda, por cima do
primeiro, e em frente ao quarto do segundo trovão, localizada no oeste, chamada
de diá pássaros wi. Já o quinto, recebeu o cômodo bem na entrada, perto da
porta onde dormiam os hóspedes, no norte, que se chamava diphá mahãn wi. É
importante lembrar, que a torre citada na criação do universo, é onde o mundo
terminava. Nessa extremidade dos confins do mundo, havia um outro
compartilhamento, onde ficava um morcego de asas enormes, que parecia um
gavião, que o lugar, chamava-se ëmësin doló.
Esses quartos dos 5 trovões, se tornaram casas, que apenas nesses lugares
haviam a luz, porém, todo o resto do mundo, continuava na escuridão.
Entretanto, Yebá bëlo disse aos trovões que eles foram gerados para criar o
mundo, e cabia a eles, fazer a luz, rios e a humanidade. No entanto,
responderam que fariam, mas não fizeram, e cada um ficou na sua casa, sem
lembrar do que a avó tinha dito. Como eles não cumpriram as ordem da avó, ela
os advertiu, e eles realizaram uma grande festa ou pooli, com bebidas, oferta de
frutos. Voltando a morada, Yebá bëlo estava convencidas que os trovões não
iriam conseguir, pois eles não estavam tendo o resultado que ela esperava. E
resolveu criar outro ser, mascou o ipadu fumou o cigarro e da sua fumaça,
formou-se um ser que não tinha corpo, e não podia-se ver ou tocar. Ele foi
chamado de Yebá ngoamãn (bisneto, criador), ele aceitou as condições, e ser
guiado por ela. Do seu bastão mágico com chocalho, Yebá ngoamãn, fez subir
até o torre do morcego com a ajuda de Yebá bëló, a luz com a cara de um rosto
humano, era o sol que foi criado. Diante do poder e do feito do bisneto, os trovões
ficaram inquietos e enciumados, querendo destruir o trabalho que era pra ser
deles, porém o criador conseguiu acalma-los com ipadu e cigarros. Continuando
sua criação, Ngoamãn subiu na casa do terceiro trovão, e com a ajuda de
algumas coisas, ele se sustentou por paris ascendeu no espaço dentro do
bastão. E, Yebá bëlo tirou do seu seio esquerdo sementes de tabaco, espalhou
no paris, e tirou leite do seio direito e derramou nas estreitas, que formam a terra
e o adubo. Nisso, o bisneto cortou a terra e o espaço em camadas, que dividiu o
mundo em patamares visíveis ou não. São divididas em 4 camadas, a primeira
o é uma rocha escura, a segunda a Rocha meio amarelada, a terceira a tabatinga
amarelada corresponde a superfície da terra, já a quarta está acima de nós, é o
céu. Seguindo as instruções de Yebá bëló, o criador foi a casa do terceiro trovão,
e dizer para Ëmëkho ñehké para pedir as riquezas dele para se formar a futura
humanidade. A casa estava fechada, porém o criador sabia domar a defesa, e
abriu a porta, com isso, apareceu Boléka, e entraram na casa juntos, até terceiro
trovão abri o weré e despejar as riquezas (enfeites que representavam o homem
e a mulher): acagataras, diademas, colares com pedras de quartzo, enfeites de
peitoral de quartzo, colares de dente de onça, placa peitoral, porta cigarro,
quando ele acabou de entregar e despejar tudo, ensinou o criador os ritos para
serem realizados. Precisava pegar uma folha de ipadu e engolir, quando sentir
dor de barriga, acerder o turi e molhar numa cuia de água, beber e vomitar em
um só buraco dentro do rio. Ao vomitar, os dois Ëmëkho sulãn Panlãmin e
Ëmëkho mahsãn Boléká fizeram duas mulheres e puxaram-nas da água, sendo
assim, as suas filhas. E assim, levaram elas para a casa do terceiro trovão e, ele
verificou que eles sabiam fazer algo certo, e assim formar a futura humanidade.

Anna Victória Soares Menezes

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