Desde o princípio, não existia nada no mundo, apenas trevas. E desse nada, brotou uma mulher, que surgiu de si mesma em seus bancos mágicos e se cobriu com enfeites que transformaram na sua moradia de quatzo, um compartilhamento chamado etãn bë tali bu. Esta mulher, se chamava Yebá bëló que significa a “não criada” que ela é a avó do universo. Em sua própria criação misteriosa, se utilizou de seis coisas invisíveis: sé-kali (brancos), salipu (suportes de panelas), kuásulu pu (cuias), kuásulu verá (cuias, ipadu), dëhkë iuhku verá pogá kuá (pés de maniva, ipadu, tapioca, cuia), muhlun iuhku (cigarros). Esta mulher, depois de aparecer, pensou no seu compartilhamento sobre o mundo e como ele deveria ser no futuro. Enquanto pensava, ela mascou ipadu mágico e fumou o cigarro mágico, e de repente, seus pensamentos foram tomando forma, a se levantar como uma esfera culminando em uma torre. A esfera, quando se levantou, incorporou a escuridão, ou seja, o escuro ficou dentro da esfera que era o universo. Contudo faltava a luz, e só aonde ela se fez que tinha, pois era todo branco de quartzo. Ela chamou a esfera de ëmëkho patolé, que era como se fosse uma grande maloca, porém ela sentiu a necessidade de povoar essa grande casa, e voltou a mascar ipadu e fumar o cigarro. Quando tirou o ipadu da boca ela o fez se transformar em homens-trovões, chamados em conjunto de ëmëkho ñehke semá (muitos avós do universo), isto é, os cinco trovões chamados etãn bë weli mahsá. Esses homens da pedra branca eram eternos e imortais, e Yebá bëló fez eles na morada em que onde apareceu. Em seguida ela saudou como irmãos: “ëmekho ulãn”, e os trovões lhe responderam: “ëmëkhó sulãn ñehko”, avó do universo e de tudo que existe, e em seguida distribuiu um compartilhamento para cada um da casa grande, que tinham nomes. Nesta divisão, o primogênito ficou como o quarto do chefe, no sul que se chamava diá ahpikun wi; já o segundo com o quarto do lado direito no leste, acima do dele, e se chamava diá gahsiló ehtamun wi. O terceiro recebeu o quarto no alto do jirau chamado ëmësin wi, onde tinham muitas riquezas repletas de enfeites de dança (coisas mágicas); o quarto trovão recebeu o cômodo da esquerda, por cima do primeiro, e em frente ao quarto do segundo trovão, localizada no oeste, chamada de diá pássaros wi. Já o quinto, recebeu o cômodo bem na entrada, perto da porta onde dormiam os hóspedes, no norte, que se chamava diphá mahãn wi. É importante lembrar, que a torre citada na criação do universo, é onde o mundo terminava. Nessa extremidade dos confins do mundo, havia um outro compartilhamento, onde ficava um morcego de asas enormes, que parecia um gavião, que o lugar, chamava-se ëmësin doló. Esses quartos dos 5 trovões, se tornaram casas, que apenas nesses lugares haviam a luz, porém, todo o resto do mundo, continuava na escuridão. Entretanto, Yebá bëlo disse aos trovões que eles foram gerados para criar o mundo, e cabia a eles, fazer a luz, rios e a humanidade. No entanto, responderam que fariam, mas não fizeram, e cada um ficou na sua casa, sem lembrar do que a avó tinha dito. Como eles não cumpriram as ordem da avó, ela os advertiu, e eles realizaram uma grande festa ou pooli, com bebidas, oferta de frutos. Voltando a morada, Yebá bëlo estava convencidas que os trovões não iriam conseguir, pois eles não estavam tendo o resultado que ela esperava. E resolveu criar outro ser, mascou o ipadu fumou o cigarro e da sua fumaça, formou-se um ser que não tinha corpo, e não podia-se ver ou tocar. Ele foi chamado de Yebá ngoamãn (bisneto, criador), ele aceitou as condições, e ser guiado por ela. Do seu bastão mágico com chocalho, Yebá ngoamãn, fez subir até o torre do morcego com a ajuda de Yebá bëló, a luz com a cara de um rosto humano, era o sol que foi criado. Diante do poder e do feito do bisneto, os trovões ficaram inquietos e enciumados, querendo destruir o trabalho que era pra ser deles, porém o criador conseguiu acalma-los com ipadu e cigarros. Continuando sua criação, Ngoamãn subiu na casa do terceiro trovão, e com a ajuda de algumas coisas, ele se sustentou por paris ascendeu no espaço dentro do bastão. E, Yebá bëlo tirou do seu seio esquerdo sementes de tabaco, espalhou no paris, e tirou leite do seio direito e derramou nas estreitas, que formam a terra e o adubo. Nisso, o bisneto cortou a terra e o espaço em camadas, que dividiu o mundo em patamares visíveis ou não. São divididas em 4 camadas, a primeira o é uma rocha escura, a segunda a Rocha meio amarelada, a terceira a tabatinga amarelada corresponde a superfície da terra, já a quarta está acima de nós, é o céu. Seguindo as instruções de Yebá bëló, o criador foi a casa do terceiro trovão, e dizer para Ëmëkho ñehké para pedir as riquezas dele para se formar a futura humanidade. A casa estava fechada, porém o criador sabia domar a defesa, e abriu a porta, com isso, apareceu Boléka, e entraram na casa juntos, até terceiro trovão abri o weré e despejar as riquezas (enfeites que representavam o homem e a mulher): acagataras, diademas, colares com pedras de quartzo, enfeites de peitoral de quartzo, colares de dente de onça, placa peitoral, porta cigarro, quando ele acabou de entregar e despejar tudo, ensinou o criador os ritos para serem realizados. Precisava pegar uma folha de ipadu e engolir, quando sentir dor de barriga, acerder o turi e molhar numa cuia de água, beber e vomitar em um só buraco dentro do rio. Ao vomitar, os dois Ëmëkho sulãn Panlãmin e Ëmëkho mahsãn Boléká fizeram duas mulheres e puxaram-nas da água, sendo assim, as suas filhas. E assim, levaram elas para a casa do terceiro trovão e, ele verificou que eles sabiam fazer algo certo, e assim formar a futura humanidade.