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DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
CURITIBA
MARÇO 2021
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
Alexandre Dittrich
CURITIBA
MARÇO 2021
i
Aos meus pais, sempre lutando para me prover a melhor educação possível
Ao Prof. Alexandre, sempre nos orientando da melhor forma e que acreditou nesta
À Letícia, sempre.
ii
SUMÁRIO
RESUMO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .viii
ABSTRACT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ix
1. INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1
2. MÉTODO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
5.3. Terceira Etapa – Definição dos efeitos seletivos das consequências . . . . . . . . . .90
5.6.1. Cruzamento dos dados produzidos na análise ética com o primeiro guia
5.6.2. Cruzamento dos dados produzidos na análise ética com o segundo guia
5.6.3. Cruzamento dos dados produzidos na análise ética com o terceiro guia
6. CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
LISTA DE TABELAS
documento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18
primeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18
Tabela 4 – Diretrizes fornecidas pela OMS no segundo documento aos tomadores de decisão .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Tabela 5 – Lista de potenciais riscos a serem levados em conta pelos tomadores de decisão
documento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .24
documento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .25
segundo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
segundo documento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Tabela 10 – Exemplos de ambientes nos quais o público geral deve ser encorajado a usar
documento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
terceiro documento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
terceiro documento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
terceiro documento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Tabela 15 – Lista de Artigos do The New York Times (Primeiro Intervalo) . . . . . . . . . . . . . .43
Tabela 22 – Quarta Etapa da Análise Ética: Sequência Temporal das Consequências . . . . . . .93
LISTA DE FIGURAS
RESUMO
ABSTRACT
Among the uncertainties posed by the COVID-19 pandemic, we highlight the question of
whether or not the general public should have been wearing masks in public spaces. The WHO
released three guidelines about the subject on the first half of 2020. In this work, we propose
to analyze them and identify, accompanied by external sources, the variables involved in the
making of said guidelines. We have produced an ethical model based on consequence analysis,
to which we compared the guidelines and then articulated the data in considerations about
WHO's decision-making process. The main variable controlling the directives was the concern
that there might be a shortage of masks to healthcare workers. Not making this explicit, the
WHO focused on the lack of scientific evidence for the use of face coverings in population
settings and presented incoherent guidelines with diverging recommendations. Consequence
analysis showed that the decision regarding the use of masks by the general population operates
under cost-benefit relations and how the first guidelines failed to take this into account.
Evaluating WHO's proceedings we find the inability to articulate the variables at play and
operate adequately in the absence of solid scientific evidences. In conclusion, we highlight the
importance that cost-benefit relations be well articulated on institutional decision-making and
that the communication be made in a clear manner.
1 1. INTRODUÇÃO
4 vinham sendo tratados no final de 2019, conforme relatório do governo chinês. Ao fim da
5 primeira semana de 2020 um novo tipo de Coronavírus, SARS-CoV-2 (Dong, Hongru, &
6 Gardner, 2020), foi isolado em laboratório. No dia 11 de Janeiro a primeira morte em função
7 da doença causada pelo vírus (COVID-19), um senhor de 61 anos, era comunicada pelas
8 autoridades chinesas. No dia 13, na Tailândia, o Ministro da Saúde confirmou o primeiro caso
9 fora das fronteiras do país de origem. Os mais de 11 milhões de habitantes de Wuhan foram
10 isolados em quarentena por autoridades chinesas no dia 23 de janeiro (Taylor, 2021). No dia
13 Enquanto os cenários críticos causados pela disseminação do vírus ainda pareciam uma
14 realidade distante e muito pouco provável de se repetir na Europa ou nas Américas, Norman,
16 Pandemic via Novel Pathogens – Coronavirus: A Note” no qual é delineada uma abordagem
17 considerada pelos autores como prudente frente aos riscos colocados pelos efeitos
20 A conectividade global nunca esteve maior, sendo a China uma das sociedades
5 todo o território para tentar conter o avanço da pandemia no país, a percepção global em relação
8 Como sinalizar ao mercado que não existe motivo para pânico, mas, simultaneamente, tomando
9 medidas como se houvesse? É melhor agir o quanto antes, principalmente em casos de riscos
10 exponenciais, mas as contingências que fariam um governante pagar o capital político de uma
14 sanitárias colocam incentivos claros: reduza o contato entre as pessoas, impeça aglomerações
15 públicas, corte a mobilidade dentro do território, etc. A economia, setor estratégico mais
16 importante do Estado, impõe, via de regra, o oposto: eventos públicos devem ser encorajados
18 produtividade do país, a mobilidade livre é vital para o turismo e distribuição de recursos dentro
19 de um regime liberal.
21 diferentes das do setor de saúde pública ao governo, ela sempre dependerá deste para garantir
22 a manutenção da vida cotidiana na qual o consumo floresce e o dinheiro circula. Se faz sentido
1
Global connectivity is at an all-time high, with China one of the most globally connected societies.
Fundamentally, viral contagion events depend on the interaction of agents in physical space, and with
the forward-looking uncertainty that novel outbreaks necessarily carry, reducing connectivity
temporarily to slow flows of potentially contagious individuals is the only approach that is robust
against misestimations in the properties of a virus or other pathogen (Norman, Bar-Yam, & Taleb,
2020).
3
1 falar em uma economia de guerra, na qual o setor produtivo deve assumir configurações
2 excepcionais dado o cenário geopolítico conflituoso do país em que se encontra, faria sentido
3 falar em uma economia de epidemia? Quais posturas frente a esta um governo pode adotar e
6 para perguntas já colocadas e outras que ainda serão, se faz necessária a exposição de alguns
8 população.
10 número de casos secundários resultantes de casos primários (Wallinga & Teunis, 2004), ou
11 seja, em uma população, calcula-se a média de pessoas infectadas por cada indivíduo com o
12 vírus.
14 de pessoas com o vírus ativo simultaneamente continua subindo dia após dia. Se o R está igual
16 pessoas atualmente infectadas permanece o mesmo. Já com o R menor do que 1 o vírus está
17 em vias de desaparecer, mantendo-se o panorama. Wallinga & Teunis apontam: “Para parar
18 uma epidemia, o R tem que ser persistentemente reduzido para um nível menor do que 1”
19 (2004, p.511).2
21 em uma pandemia, três cenários básicos, definidos pela postura governamental adotada, são
22 possíveis. No primeiro deles (Estratégia 1) nada é feito para tratar do problema e a doença
23 segue um ritmo não perturbado de contágio em uma população, diminuindo quando uma
24 parcela suficiente das pessoas desenvolve anticorpos contra o vírus e passa a não ser mais vetor
2
“To stop an epidemic, R needs to be persistently reduced to a level below 1.” (2004, p.511)
4
1 de transmissão, fazendo com que ele vá desaparecendo do meio (R<1). Para que tal cenário,
3 organismo que é contaminado devem fornecer imunidade por tempo suficiente até que o vírus
4 circule por toda a população vulnerável. Caso contrário, quem se contaminou uma vez, no
6 No segundo cenário (Estratégia 2), medidas são tomadas para desacelerar a transmissão
7 do vírus (embora não o suprimindo), para que a quantidade de pessoas contaminadas não atinja
8 um pico insustentável aos sistemas de saúde, que não mais teriam condições de fornecer um
9 atendimento adequado aos quadros mais graves da doença provocada pelo vírus, o que elevaria
11 A terceira alternativa (Estratégia 3) visa reduzir a taxa de contágio (R) para menos do
12 que 1, eliminar o vírus, tendo todos os casos sob controle, e, na sequência, adotar medidas que
13 assegurem que não ocorrerá uma segunda onda de contágio. Ela não toma a imunidade de
15
5
2 Cada um dos três cenários acima requer diferentes níveis de coordenação por parte dos
3 cidadãos e dos membros do poder público. A Estratégia 1 é a que menos exige ações por parte
4 dos governantes e cidadãos. Destes pede-se, justamente, a inação: que apenas continuem com
7 menos não é possível, sejam quais forem as ações do governo junto à população. O tempo e os
9 capacidade do sistema hospitalar e não existem profissionais suficientes para dar conta do
10 número de pacientes que precisarão de atendimento especializado no pico da crise, ainda que
13 não por força de regulamentação governamental mas por medo do vírus -, a estratégia começa
17 erradicação da primeira onda de contágios e foca em manter a taxa o mais próximo possível da
18 manutenção da estabilidade no número de casos ativos. É o cenário que prevê mais tempo
3
O caso da Bielorrússia parece ilustrar isso. O presidente do país, Alexandre Lukashenko, tentou tranquilizar a
população sobre o novo coronavírus. Afirmando que ninguém morreria por conta do vírus, não decretou
quarentena e aglomerações não foram impedidas no país. O presidente chegou a participar de um jogo de hóquei
para tentar comunicar a imagem de normalidade e convencer as pessoas a seguirem suas vidas normais
(Makhovsky, 2020). No entanto, como um profissional de turismo operando no país, Arnold Góralski, afirmou
ao Portal UOL: "Parece que, quanto mais ele [Lukashenko] ignora a situação do coronavírus, mais as pessoas
ficam com medo [da doença]. (...) Muitos restaurantes e bares não estão abrindo porque as pessoas não querem
mesmo sair de casa e preferem pedir entregas em domicílio. Isso faz com que, em muitos aspectos, Minsk esteja
parecida com outras cidades do mundo, onde há quarentena" (Vicenti, 2020).
6
1 aglomerações não podem acontecer, setores inteiros da economia estarão impedidos de atuar
2 por vários meses, durante os quais os hospitais funcionarão em “regime de guerra” com leitos
3 e UTIs lotados ou com mínima folga. Grandes pacotes de incentivos econômicos precisarão
4 ser adotados pelo governo para impedir a perda de grande parte dos postos de trabalho e
5 falência de empresas dos setores mais afetados pela nova postura dos consumidores durante a
6 crise sanitária.
7 A erradicação da doença sem que uma boa parte da população desenvolva anticorpos
8 contra o vírus, ponto central da Estratégia 3, demanda sofisticados esforços por parte das
10 onda de contágio. O estado deve ter recursos operacionais para conseguir identificar novos
11 casos e isolar as pessoas infectadas para que não disseminem o vírus e a taxa R saia do índice
13 aparecimento dos sintomas, período durante o qual a pessoa pode transmitir o vírus sem saber
14 que está contaminada, o que exige que o governo implemente programas de rastreamento de
18 população geral em ambientes públicos. Se o uso pela população contribuir para a diminuição
19 da taxa de infecção (R) a recomendação só não faria sentido na estratégia que prevê que o maior
21 Na estratégia de achatar a curva (2) e na de eliminar o vírus (3), no entanto, o uso das máscaras
22 pela população aparece como uma das medidas que poderiam ser tomadas pelos governos.
24 pandemia de COVID-19 dota as decisões tomadas e diretrizes emitidas pela organização com
2 checking, etc.
4 funções e o papel da organização são descritos: "Os especialistas da OMS produzem diretrizes
5 e normas sanitárias e ajudam países a lidarem com problemas de saúde pública. A OMS
6 também apoia e promove pesquisas em saúde. Através da OMS, governos podem, de maneira
7 conjunta, tratar de problemas globais de saúde pública e, assim, melhorarem o bem-estar das
8 populações"4 (p.2).
9 A OMS funciona, então, como um nódulo por meio do qual esforços globais para
10 promoção da saúde possam ser concretizados. Uma pandemia é o teste de estresse definitivo
12 que "Um surto é, por definição, um evento excepcional que comumente requer recursos
14 adicionais. Uma coordenação sólida é essencial a todo momento para garantir que todos estes
15 recursos e parceiros estejam trabalhando juntos de modo eficiente para controlar o surto.
18 Este trabalho tem por objetivo identificar as variáveis que potencialmente controlaram
21 analisaremos a pertinência ética das decisões e de que forma elas foram tomadas, i.e., como as
4
“WHO experts produce health guidelines and standards, and help countries to address public health issues.
WHO also supports and promotes health research. Through WHO, governments can jointly tackle global health
problems and improve people’s well-being.” (p. 2).
5
“An outbreak is by definition an exceptional event which often requires extra human and financial resources
and may also rely on additional partners, agencies and other sectors. Strong coordination is essential at all times
to ensure that all those resources and partners are working effectively together to control the outbreak. WHO
is often expected to lead the international response to support national health authorities” (p. 32).
8
2 análise de consequências.
10 de outro modo ficariam omitidas. O exame comportamental não se limita a analisar medidas já
11 tomadas visando torná-las mais eficientes. A apuração ética por uma ótica de análise de
12 consequências demonstra que nenhuma decisão é tomada em um cenário ideal abstrato: sempre
13 existirão ponderações a serem feitas, cálculos de custo e benefício, avaliações de riscos, etc. A
14 eficiência de uma medida não é algo a ser considerado a posteriori, mas que atravessa a própria
15 decisão, expondo de que forma certas variáveis foram pesadas e como foram articuladas até
18 “Difficult trade-offs in response to COVID-19: the case for open and inclusive decision-
20
9 atravessamento ético presente na própria condução do processo de decisão que julgamos que a
10 aplicação dos princípios da análise do comportamento pode contribuir para elucidar. Conduzir
15 de decisão.
16 O saber das ciências comportamentais tem sido cada vez mais mobilizado por
18 Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor geral da OMS, anunciou por meio de tweet7 a criação
19 de um “Technical Advisory Group on Behavioural Insights & Sciences for Health” dentro da
6
“A major challenge for authorities is to be and to present themselves as trustworthy when making difficult
choices in a pandemic. To provide reasons to be trusted, they should make themselves accountable to the public.
By describing how they manage evidence and uncertainty and just distribution of burdens and benefits and by
ensuring that policies are decided after dialogue with the people who are affected and are open to challenge and
revision, members of society are given opportunities to influence and assess the authorities’ choices. Authorities
thus allow people to place justified, and not blind, trust in their governance strategies.” (Norheim, et al., 2021,
p.7)
7
https://twitter.com/DrTedros/status/1288951939334574080
10
1 feitas pela instituição. Assim, a análise de variáveis toma um papel social importante na
4 justifica-se pelo impacto das decisões tomadas pela OMS em contexto de emergências de saúde
6 base para decisões tomadas por governos ao redor do mundo, bem como sua capacidade de
8 cientificamente embasadas usadas pela imprensa. Assim, a presente análise resulta em dados e
10 Tomadas de decisão que podem ter impacto crítico no gerenciamento de crises sanitárias.
11
1 2. MÉTODO
3 O método do presente trabalho consiste em uma análise das decisões sobre diretrizes
4 em relação à utilização de máscara pela população geral pela OMS durante a pandemia de
5 COVID-19, bem como das variáveis que controlaram tais decisões. A OMS foi escolhida por
6 conta de seu papel central globalmente em assuntos de saúde pública. Com mais de 190
10 Um quadro das variáveis que teriam controlado as decisões da OMS foi construído
11 utilizando duas categorias de fontes: as fontes oficiais e as fontes não oficiais. As fontes oficiais
12 consistiram nos três guias disponibilizados pela OMS ao longo do primeiro semestre de 2020
14 incluía uma seção separada, para análise dos comentários sobre máscaras nos pronunciamentos
15 oficiais conduzidos pela OMS ao longo da pandemia, que foi cortada por não prover muitos
16 dados adicionais aos guias e pelas declarações mais relevantes já terem sido comentadas nos
17 artigos analisados.
19 pelos intervalos entre os documentos, uma seleção de fontes foi necessária. A natureza
20 globalizada da OMS faz com que nos voltemos aos jornais de maior influência global. Segundo
21 o indexador 4 International Media & Newspapers os dois jornais de maior audiência no mundo
23 Estes dois periódicos fornecem um retrato suficientemente claro da opinião global sobre
24 a pandemia, considerando que representam dois países centrais no contexto geopolítico e social
25 global, além de EUA e Reino Unido encontrarem-se na lista de maiores financiadores da OMS
12
2 comunicação asiático, como de China e Japão, que também encontram-se na lista de maiores
4 cultural dos habitantes destes países com a utilização de máscaras pela população geral. No
5 Japão, como descrevem Burgess & Horii (2012), verifica-se uma relação particular dos
6 habitantes do país com o utensílio: "O ato de vestir máscara não é só uma demanda
7 externamente imposta, mas parece ter se tornado uma prática social estabelecida enquanto parte
9 Dois filtros temporais foram aplicados: (1) para o intervalo entre o primeiro e segundo
11 (véspera da publicação do segundo); (2) para o intervalo entre o segundo e terceiro documentos
13 destes dois recortes temporais, foram selecionados os primeiros cinco artigos que apareceram
14 em cada jornal pela busca dos termos “WHO Masks”, observando como critério de exclusão
15 se o artigo não fazia menção à OMS ou não ajudava a clarificar o discurso em volta do uso de
16 máscaras. Compilamos em tabelas os títulos dos artigos, bem como a data de sua publicação,
17 junto de um pequeno sumário. Comentários adicionais são feitos para expor conexões do artigo
18 com a posição da OMS sobre a utilização de máscaras ou variáveis relacionadas com este tema.
21 Quais informações emergiram que pudessem ter justificado mudanças nas diretrizes? Como a
22 opinião pública foi se modificando a respeito do uso de máscaras ao longo das semanas de
23 pandemia?
8
“Mask-wearing is not only an externally imposed demand but appears to have become an
embedded social practice as part of the armoury of individual responsibility for good health”
13
3 da OMS. Afinal, muitas vezes a linguagem jornalística não é suficientemente clara na ordem
4 comportamental, sendo necessário uma reformulação do que está sendo dito na frase para uso
5 na análise.
7 como procedimento para decisões éticas. Dittrich (2010) propõe um método para prever as
9 escolha entre diferentes possibilidades mais clara sob um ponto de vista ético.
13 A segunda etapa (2) é a de definir as pessoas ou grupos afetados. A pergunta proposta pelo
14 autor para realizar tal definição é: “Quais as pessoas ou grupos afetados pelas consequências
16 A terceira e quarta etapa são: a de definir os efeitos seletivos das consequências (3) e a
20 consequências de longo prazo ocasionadas pela intervenção? Quais são elas? De que forma
24 Tabela 1
25
14
5 Este método foi escolhido para a segunda parte do trabalho, na qual as decisões e os
6 pesos dados para as variáveis em cada uma delas serão analisadas visando a pertinência ética
8 da tabela não só pelas variáveis resultantes, mas, também, pelo modo de tratar os desafios éticos
11 potenciais riscos envolvidos, que pode ser comparado ao modo como a organização
13 produzidos.
15
2 3.1. Documento 1 9
3 O primeiro guia, datando do dia 29 de janeiro de 2020, começa ressaltando que, até o
6 respiratório. Sendo assim, qualquer pessoa que estivesse em contato próximo (1 metro ou
10 médicas é uma das medidas úteis para limitar a disseminação (a) de doenças respiratórias em
11 contextos afetados. Isso também se aplica ao novo coronavríus. No entanto, é enfatizado que o
12 dispositivo sozinho não é suficiente para prover um nível de proteção adequado e que outras
13 medidas de proteção devem ser adotadas. Máscaras devem ser utilizadas em conjunto com
15 contagiosas.
16 Já o parágrafo seguinte traz: "Usar máscaras médicas quando não indicado pode
17 acarretar custos desnecessários (b), aumento de preço por conta do aumento de demanda (c) e
18 criação de um falso senso de segurança (d) que pode levar à negligência de outras medidas
19 essenciais como a de higiene das mãos. Ainda, usar a máscara incorretamente pode
22 aos indivíduos sem sintomas respiratórios: que se evite aglomerações, que se mantenha
9
Esta seção contém a análise do documento emitido pela OMS em 29 de Janeiro de 2020 de título "Advice on
the use of masks in the community, during home care and in health care settings in the context of the novel
coronavirus (2019-nCoV) outbreak".
10
"Wearing medical masks when not indicated may cause unnecessary cost, procurement burden and create a
false sense of security that can lead to neglecting other essential measures such as hand hygiene practices.
Furthermore, using a mask incorrectly may hamper its effectiveness to reduce the risk of transmission."
16
1 distância de 1 metro de qualquer pessoa com sintomas respiratórios, atenção à higiene das
2 mãos, que se cubra a boca com o cotovelo flexionado ou com um lenço ao tossir ou espirrar,
3 que se evite tocar o nariz e boca. O último ponto, que diz respeito à utilização de máscaras,
4 coloca: "uma máscara médica não é necessária, dado que não se encontram evidências que elas
5 protejam pessoas que não estão doentes. No entanto, máscaras podem ser usadas em alguns
6 países de acordo com normas culturais. Se máscaras forem utilizadas, os cuidados adequados
7 devem ser seguidos enquanto a como vestir, remover e descartar os utensílios e na higiene das
8 mãos depois de retirá-los (ver abaixo conselhos sobre o manejo adequado das máscaras)"11.
10 uma máscara médica e procurar atenção profissional se estiver experienciando febre, tosse e
14 infecção pelo novo coronavírus com sintomas amenos e que permaneçam em casa devem, além
15 de manter higiene das mãos e buscar observar a distância de 1m sempre que possível, usar
16 máscara o máximo possível para contenção de secreções respiratórias. Nos casos de indivíduos
17 que não conseguem tolerar a utilização dos dispositivos, a atenção à higiene respiratória, tossir
18 com o cotovelo flexionado e cobrir o nariz com um lenço descartável quando espirrar, deve ser
19 rigorosa.
20 Já aqueles que dividem moradia ou prestam cuidado a pacientes suspeitos com sintomas
21 brandos, devem vestir máscara sempre que estiverem presentes no mesmo cômodo do
11
“a medical mask is not required, as no evidence is available on its usefulness to protect non-sick
persons. However, masks might be worn in some countries according to local cultural habits. If masks
are used, best practices should be followed on how to wear, remove, and dispose of them and on
hand hygiene action after removal (see below advice regarding appropriate mask management).”
17
2 deve ocorrer durante a espera para triagem, em áreas de espera, durante locomoção dentro do
4 confirmados. As máscaras não devem ser utilizadas durante o isolamento em quarto individual,
5 mas a atenção à higiene respiratória deve ser mantida. Os profissionais de saúde devem utilizar
7 atendidos e em qualquer situação de prestação de cuidado para com estes pacientes. Durante
11 aviso: “Máscaras de tecido (e.g. algodão ou gaze) não são recomendadas sob nenhuma
12 circunstância”12.
13
16 reconhece as propriedades de proteção que a máscara médica provém aos usuários (a) e faz
17 recomendações sob controle disso em relação àqueles que dividem ambiente com pacientes
19 sem sintomas e sem contato com indivíduos suspeitos, a OMS coloca que não existem
20 evidências disponíveis que mostram que os dispositivos funcionam para proteger pessoas que
22 A não indicação de uso para o público geral sem contato doméstico com indivíduos em
23 suspeita parece ter relação com os motivos elencados no documento para o desencorajamento
12
“Cloth (e.g. cotton or gauze) masks are not recommended under any circumstance.”
18
1 falso senso de segurança (d) e aumento do preço do dispositivo por conta do aumento da
2 demanda (c). Este último parece ser o ponto crítico e que embasa a exceção ressaltada pela
3 organização em relação aos países que já possuem a prática cultural estabelecida de utilização
4 de máscaras médicas pela população. Nestes lugares, o mercado já está configurado para uma
5 alta demanda dos dispositivos e não sofreria tanto com o impacto de novas diretrizes
8 máscaras não médicas ainda não era considerada como uma alternativa viável, a possibilidade
9 de organizar os dados em duas tabelas. Uma tabela que mostra as variáveis que reforçariam a
10 decisão de aconselhamento do uso de máscaras médicas pela população geral (Tabela 2) e outra
11 que mostra que variáveis penderiam contra esta decisão (Tabela 3).
12 Tabela 2
13
Categorias Variáveis
15
16 Tabela 3
17
19 documento
Categorias Variáveis
Categorias Variáveis
máscaras médicas pela população geral Aumento do preço do dispositivo por conta
do aumento de demanda (c)
Criação de falso senso de segurança (d)
2 3.2. Documento 2 13
6 mudança de cenário nestes quase dois meses entre um documento e outro foi a emergência de
7 evidências de que a transmissão do novo coronavírus ocorre também por indivíduos sem
8 apresentação de sintomas. "O período de incubação para a COVID-19, que é o tempo entre a
9 exposição ao vírus e o estabelecimento de sintomas, é, em média, de 5-6 dias, mas pode durar
10 até 14 dias. Durante este período, também referido como ‘pré-sintomático’, algumas pessoas
11 infectadas podem ser contagiosas e, portanto, transmitir o vírus para os outros"14 (p.1). (e)
13 "máscaras cirúrgicas ou de procedimento que são lisas ou plissadas (algumas tem o formato de
14 copo); que são fixadas à cabeça com alças. Elas são testadas de acordo com uma série de
15 métodos de teste padronizados (ASTM F2100, EN 14683, ou equivalente) que visam balancear
17 de fluídos"15 (p.1).
13
Esta seção contém a análise do documento emitido pela OMS em 6 de Abril de 2020 de título "Advice on the
use of masks in the context of COVID-19".
14
“The incubation period for COVID-19, which is the time between exposure to the virus and symptom onset,
is on average 5-6 days, but can be as long as 14 days. During this period, also known as the “pre-symptomatic”
period, some infected persons can be contagious and therefore transmit the virus to others” (p.1)
15
“In this document medical masks are defined as surgical or procedure masks that are flat or pleated (some are
shaped like cups); they are affixed to the head with straps. They are tested according to a set of standardized test
methods (ASTM F2100, EN 14683, or equivalent) that aim to balance high filtration, adequate breathability and
optionally, fluid penetration resistance.” (p.1)
20
1 A seção “Community Settings” deste documento abre com um parágrafo expondo que
2 existem estudos com doenças como gripe e coronavírus humanos de que o uso de uma máscara
7 enquanto medida de prevenção. No entanto, o texto ressalta, não existe no momento evidências
8 de que vestir uma máscara (seja ela médica ou de outros tipos) por pessoas saudáveis no amplo
11 O próximo parágrafo abre com a seguinte frase em negrito: “Máscaras médicas devem
12 ser reservadas para os profissionais da saúde” (p.1). De novo são citados os motivos de falso
14 prevenção e custos desnecessários. A observação de que o uso dos dispositivos pode resultar
15 em toques no rosto e embaixo dos olhos também é feita. O motivo que parecia estar implícito
16 no documento de janeiro é, neste, explicitado: o uso generalizado de máscaras pode criar uma
17 escassez do produto para aqueles que mais precisam, ou seja, os profissionais de saúde. (f)
19 procurar assistência médica assim que começarem a sentir mal-estar. Todas as pessoas devem:
21 pessoas (em especial as que apresentem sintomas respiratórios), evitar de tocar rosto, nariz e
22 boca e prestar atenção à higiene das mãos. O documento ainda coloca: "Em alguns países,
23 máscaras são usadas de acordo com costumes locais ou em acordo com indicações pelas
1 melhores práticas de como vestir, remover e descartar os dispositivos, e para higiene das mãos
2 após a remoção".
3 O documento abre a seção intitulada "Advice to decision makers on the use of masks
4 for healthy people in community settings" ressaltando que, como descrito antes, as evidências
5 no momento não apoiam o uso de máscaras por pessoas saudáveis. No entanto a OMS oferece
6 diretrizes para os tomadores de decisão, adaptadas aqui em formato de tabela (Tabela 4):
7 Tabela 4
Esfera Considerações
Esfera Considerações
4 O documento também lista "potenciais riscos que devem ser cuidadosamente levados
6 Tabela 5
8 Lista de potenciais riscos a serem levados em conta pelos tomadores de decisão sobre a
Potenciais riscos
Realocação de recursos públicos que seriam utilizados para medidas de saúde pública
reconhecidamente efetivas como as de higiene manual (i)
10 Nota: Adaptado de “Advice on the use of masks in the context of COVID-19” de WHO publicado em
11 6 de Abril de 2020, p. 2.
23
3 da decisão. Os cidadãos devem receber instruções claras sobre que tipo de máscaras utilizar,
4 quando e como, além da reafirmação do compromisso com as demais medidas de cuidado que
5 devem ser observadas em contextos de epidemia: higiene das mãos, distanciamento físico, etc.
7 profissionais de saúde devem ter acesso prioritário às máscaras médicas e respiradores, a OMS
8 destaca que o uso de máscaras feitas de material alternativo (algodão ou pano) ainda não passou
9 por avaliação adequada e por isso ainda não são encontradas evidências aconselhando ou
11 está colaborando com pesquisas neste sentido, para elucidar a eficácia das máscaras
12 alternativas, e encoraja os países que recomendem o uso a fazerem seus próprios estudos.
13 Também são listados alguns fatores a serem considerados em relação às máscaras não médicas
17 categorias “Home Care” e “Health care settings”. Apontaremos as mudanças feitas em relação
20 contexto de impossibilidade de remanejamento para local mais adequado. Para quem convive
1 em que o uso de máscaras de pano em uma instalação de saúde apontou que os profissionais
2 utilizando esse tipo de máscara estavam sob risco maior de contaminação em comparação aos
3 que portavam máscaras médicas. A utilização de máscaras não médicas não é considerada
5 utilização das máscaras de tecido, as autoridades locais devem observar prover material que
9 Esta nova versão do guia sobre uso de máscaras, feita para acomodar o debate sobre
12 acesso às máscaras médicas. As máscaras não médicas aparecem sempre como alternativas,
15 até o momento, eram vagas e incertas sobre a eficácia dos dispositivos não-médicos. Esta
17 variáveis presentes neste documento, duas para as máscaras médicas (Tabela 6 e Tabela 7) e
19 Tabela 6
20
Categorias Variáveis
Categorias Variáveis
2 Tabela 7
Categorias Variáveis
6 Tabela 8
9 documento
Categorias Variáveis
1 Tabela 9
4 documento
Categorias Variáveis
6 3.3. Documento 3
7 O terceiro guia data de 5 de junho de 2020 e é bem mais extenso que os dois primeiros.
8 Totaliza 16 páginas, enquanto o primeiro tinha duas e o segundo cinco. As principais diferenças
9 em relação ao guia anterior são listadas em quatro pontos: Informações atualizadas sobre a
11 diretrizes sobre o uso continuado de máscaras médicas por profissionais de saúde em trabalho
13 tomadores de decisão sobre o uso de máscaras médicas e não médicas pela população; e novo
16 que novas informações aparecem todo dia, mas que as evidências permanecem de que a rota
1 pode ser tanto em contato direto (menos de 1m de distância) ou entrando em contato indireto
5 aérea pode acontecer. Os estudos sobre o assunto ainda são em número insuficiente e o
9 evidências continuam apontando que a maioria das transmissões acontece a partir de contato
11 ou pré-sintomáticas também é tratada novamente (e), assim como uma discussão mais
13 apontando uma média agregada entre todos de 16%, ainda ressaltando fragilidade nestes
14 trabalhos resultante da falta de controle sobre o relato de sintomas e o detalhamento do que foi
16 Em seção intitulada “Guidance on the use of masks in health care settings (including
18 aqueles profissionais de saúde que estejam prestando cuidado a indivíduos com infecção pelo
19 novo coronavírus confirmada ou suspeita usem máscaras médicas sempre que em contato com
21 aerossol.
23 suspeita ou confirmada do novo coronavírus uma subseção é reservada. O documento nota que
16
Quando existem casos que não mais podem ser traçados a outros já identificados.
28
1 COVID-19 a utilização de máscaras por todos os trabalhadores de hospitais tem sido adotada.
2 Nota, também, que no momento não existem estudos sobre o uso universal de máscaras por
4 mesmo sem evidências, o "WHO COVID-19 IPC GDG"17 recomenda o uso de máscara aos
11 e pacientes não infectados pelo vírus; estas preferências e valores devem pesar mais
21 aos que estejam provendo cuidados a pacientes com casos de COVID-19 confirmados
22 ou suspeitos"18 (p.4).
17
World Health Organization Infection Prevention and Control Guidance Development Group
18
“This practice reflects the strong preferences and values placed on preventing potential COVID-19 infections
in health workers and in non-COVID-19 patients; these preferences and values may outweigh both the potential
discomfort and other negative consequences of continuously wearing a medical mask throughout their shift and
the current lack of evidence.
Note: Decision makers should consider the transmission intensity in the catchment area of the health facility and
the feasibility of implementing a policy of continuous mask use for all health workers compared to a policy
based on assessed or presumed exposure risk. Either way, procurement and costs should be taken into account
and planned. When planning masks for all health workers, long-term availability of medical masks for all
29
6 uso contínuo por muitas horas, os dispositivos podem ser de uso desconfortável, falso senso de
7 segurança, risco de transmissão por conta de gotículas se a devida proteção para os olhos não
8 for utilizada, dificuldade de uso por populações específicas e a dificuldade de vestir as máscaras
10 Na seção “Guidance on the use of masks for the general public” a subseção sobre as
11 evidências disponíveis afirma que estudos sobre gripe e coronavírus humanos, não incluindo
12 COVID-19, mostram que o uso de máscaras médicas pode prevenir a disseminação de gotículas
13 infecciosas por parte de uma pessoa infectada e sintomática para outro indivíduo ou prevenir a
17 usuário não seja infectado (a). O documento faz menção à uma "recente meta-análise" dos
18 estudos empíricos que mostra que tanto máscaras cirúrgicas descartáveis quanto "reusable 12-
21 "Isto pode ser considerado como evidência indireta em favor do uso das máscaras
22 (médicas ou de outro tipo) por indivíduos saudáveis na comunidade de forma mais ampla; no
23 entanto, estes estudos sugerem que tais indivíduos precisariam estar próximos de uma pessoa
workers should be ensured, in particular for those providing care to confirmed or suspected COVID-19
patients.” (p.4)
30
2 distanciamento físico não pode ser observado, para serem infectados pelo vírus"19 (p.6).
4 efetividade do uso universal de máscaras por pessoas saudáveis no ambiente comunitário para
5 prevenção de infecções por vírus respiratórios, dentre os quais enquadra-se o novo coronavírus
7 regularmente evidências que emergirem sobre o tema e prestar as devidas atualizações frente a
8 novas informações.
9 Para pessoas com qualquer sintoma que possa sugerir COVID-19, a OMS sugere, neste
11 médica assim que os sintomas começarem a causar mal-estar. Devem, também, seguir as
14 das mãos.
16 COVID-19, evitar aglomerações, observar distanciamento de pelo menos 1 metro para outras
17 pessoas, frequentemente atentar a higiene das mãos e higiene respiratória e evitar tocar nariz,
18 boca e olhos.
19 Em subseção intitulada "Advice to decision makers on the use of masks for the general
21 disponibilizada. A principal diferença está no item "viabilidade" que agora acrescenta que os
19
“This could be considered to be indirect evidence for the use of masks (medical or other) by healthy
individuals in the wider community; however, these studies suggest that such individuals would need to be in
close proximity to an infected person in a household or at a mass gathering where physical distancing cannot be
achieved, to become infected with the virus” (p.6).
31
1 tomadores de decisão devem também levar em conta o acesso da população a água limpa para
4 população geral deve ser encorajada a vestir máscaras médicas e máscaras não médicas em
6 Tabela 10
8 Exemplos de ambientes nos quais o público geral deve ser encorajado a usar máscaras médicas
9 ou não médicas
20
“Examples of where the general public should be encouraged to use medical and non-medical masks in areas
with known or suspected community transmission” (p.7).
32
3
33
2 de medidas para o uso de máscaras pela população geral: redução do potencial expositor de
5 engajamento da população (n). Este benefício vem da possibilidade de uma ocupação produtiva
6 (confecção de máscaras) em meio a uma crise econômica proveniente da crise sanitária por
7 conta da pandemia. Máscaras de tecido podem, também, servirem de veículo para "expressão
8 cultural" (o), tornando a aceitação de outras medidas de proteção menos aversiva. Além de que
9 uma reutilização sanitariamente segura das máscaras de pano, pode reduzir custos (p) e
12 proveniente da manipulação das máscaras (g) enquanto estiverem sendo vestidas, potenciais
13 autocontaminações provenientes de máscaras não médicas que não forem trocadas quando
17 desconforto (v), falso senso de segurança, pouca adesão com a medida (principalmente por
18 crianças pequenas) (w), problemas com produção e coleta do material (x), dificuldades de
19 comunicação para pessoas surdas dependentes de leitura labial (v), dificuldades em vestir as
20 máscaras corretamente para diversos grupos de pessoas com necessidades especiais (y).
21 Se a utilização de máscaras pelo público geral for adotada pelas autoridades tomadoras
22 de decisão, estas devem: comunicar claramente o propósito de se vestir máscaras; onde, como,
23 quando e que tipo de máscara deve ser vestido; explicar o que o uso de máscaras pretende
24 promover e o que ele não faz; comunicar claramente que a medida é uma entre várias outras,
25 como higiene das mãos e distanciamento físico. Informar e treinar a população sobre como
34
2 acesso aos dispositivos, aceitação social e psicológica da medida. Continuar coletando dados e
7 médicas. Permanece a indicação de que o fornecimento de máscaras médicas deve ser garantido
8 aos profissionais de saúde, além de dedicar um parágrafo para expor alternativas para as
9 máscaras não médicas para o público geral. No caso de inacessibilidade do produto, os “face
10 shields” podem ser usados, apesar de serem inferiores às máscaras para prevenir o contágio por
11 meio de gotículas.
12
17 contexto de diretrizes locais para que o uso das máscaras pela população geral seja universal
19 porém, não é contestada. Os profissionais de saúde, devem sempre optar por elas quando
20 estiverem disponíveis, disponibilidade essa que deve ser mantida enquanto prioridade das
21 autoridades. Estando sob controle disso, precisamente, é que decretos para uso de máscaras
23 Apesar dos fatores que pesam contra decretos para o uso de máscara pela população
24 geral estarem presentes em maior número, como verificado nas tabelas que mostram as
25 variáveis que pesariam contra os aconselhamentos de máscaras médicas (Tabela 12) e máscaras
35
1 não médicas (Tabela 14), e a decisão ser deixada, em última instância, para os tomadores de
3 não médicas, principalmente para dar conta de situações presentes no cotidiano das
7 Tabela 11
Categorias Variáveis
10
11 Tabela 12
12
14 documento
Categorias Variáveis
Categorias Variáveis
2 Tabela 13
5 documento
37
Categorias Variáveis
2 Tabela 14
5 documento
Categorias Variáveis
Categorias Variáveis
3 Cabe aqui fazer um exame dos três documentos enquanto um todo, consolidando a
4 versão oficial (explícita e implícita) da instituição, antes de trazer à análise fontes externas de
6 ainda era vista como uma realidade distante pelos países ocidentais, é categórico em não
7 recomendar o uso de máscaras médicas (a alternativa das máscaras não médicas ainda não era
39
7 Antes de procedermos com a análise, cabe aqui apresentar a classificação proposta por
8 Copi (1981) e que se mostrará útil aos nossos objetivos neste trabalho. O autor identifica três
9 principais funções do discurso. Uma delas seria a função expressiva, que caracteriza uma
11 determinado sentimento, etc. Outra é identificada como a função informativa: discurso que visa
13 com a realidade. Já a terceira seria a nomeada função diretiva e que objetiva levar o interlocutor
15 Aqui parece entrar em jogo a dupla função discursiva desempenhada pela OMS, que
18 evidências de que as máscaras funcionam para impedir a disseminação de gotículas por pessoas
19 infectadas, o que controlaria a recomendação de uso por parte dos indivíduos com COVID-19
20 confirmada ou com suspeita quando em ambientes com outras pessoas. Também existem sinais
21 que apontam que o equipamento possa impedir que pessoas saudáveis possam vir a se infectar
22 por conta do contato com alguém doente, o que controlaria a recomendação de que os parentes
23 vestissem máscaras médicas ao entrar no mesmo ambiente que alguém infectado. Não existe,
24 então, uma justificativa explícita, no nível de evidências científicas da eficácia, para não
2 a existência de algum outro fator que, para além do caráter científico, controlara a decisão de
3 enfaticamente desaconselhar o uso de máscaras pelo público geral. Este fator aparece neste
4 primeiro momento como a distorção no mercado que seria causada pelo aumento na demanda
5 pelos dispositivos médicos. Se o público geral fosse massivamente atrás das máscaras, o preço
6 alto comprometeria a logística dos hospitais, já passando por um teste de resistência por conta
8 O que parece acontecer nesse primeiro momento, então, é que a OMS entende que suas
9 declarações têm um papel diretivo sobre os tomadores de decisão, a imprensa e o público geral,
10 mesmo quando a intenção da inclusão de algo nos documentos for de promover um debate em
11 nível científico. Então, no caso das máscaras, a abertura para um debate e o reconhecimento da
12 possível efetividade do uso dos dispositivos pela população geral, ainda que não recomendado
13 explicitamente, seria um risco muito grande a ser assumido, tendo em vista uma possível falta
16 máscaras seria a principal variável que teria controlado a não recomendação de uso dos
17 dispositivos pela população geral neste primeiro documento está na ressalva, já mencionada,
18 que é feita aos países que possuem uma cultura já estabelecida de uso de máscaras. Nestes
19 países, com redes de fornecimento estabelecidas para uma demanda muito maior do que nos
20 países em que tal cultura não se apresenta, o risco de distorção de preços é muito menor se toda
21 população passar a utilizar máscaras nos ambientes públicos. Estes países, indica então a OMS,
24 indicando o risco apresentado pelos pacientes assintomáticos, que mesmo sem apresentarem
25 sintomas podem transmitir o vírus, dá nova dimensão à equação de riscos feita pela instituição.
41
1 Se, no primeiro documento, medidas podiam ser reservadas a pessoas sintomáticas, no segundo
2 documento os sintomas deixam de ser um sinalizador de risco tão valioso. Se antes era possível
3 indicar o uso de máscara só por pessoas sintomáticas, o que representaria um risco menor ao
7 das OMS com a possível escassez de máscaras médicas aos profissionais de saúde, o uso de
8 máscaras não médicas passou a ser uma alternativa a ser considerada. Com isto, o uso de
9 máscaras pela população geral pôde ser aconselhado pelos tomadores de decisão sem
10 representar um risco aos profissionais de saúde. Abre-se, então, por meio do documento, uma
11 via mais estabelecida para diálogo sobre a efetividade do uso de máscaras pela população geral.
14 as evidências deste tipo de propagação são ainda restritas e carecem de mais estudos antes de
15 serem reconhecidas como uma ameaça real ao público geral. Aqui aparece uma importante
16 característica do modo como as decisões acerca das orientações disponibilizadas são tomadas
17 pela OMS: como a transmissão aérea ainda não é uma realidade comprovada cientificamente,
18 ela não deverá exercer influência sobre as diretrizes deste documento. Ao invés do princípio
19 da cautela, i.e., dada a possibilidade real de algo deve-se agir sob controle disso, dá-se
22 frente. Cabe aqui destacar que o papel central e de referência da OMS num cenário como o
24 credibilidade que deve ser mantida para que os esforços promovidos por ela possam ser tão
42
3 Tendo construído o quadro “oficial” das decisões e diretrizes produzidas pela OMS em
4 relação à utilização de máscaras, avancemos para a próxima etapa relatada no método, que visa
6 a utilização de máscaras por parte da OMS para além do que se encontra explicitamente
7 relatado nos documentos oficiais. Usaremos para isto artigos publicados nas versões online do
11
13 Tabela 15
14
Artigo 1 How Not to Get Sick While Artigo que visa responder às
Traveling (09/03) perguntas de quem fará viagens no
contexto da pandemia do novo
coronavírus. Não recomenda que as
pessoas usem máscaras, só
respiradores N95 em contextos
específicos de grande incidência do
vírus.
Artigo 2 Why Telling People They Don’t Artigo de opinião que argumenta
Need Masks Backfired (17/03) que a não recomendação inicial de
uso de máscaras pela população
geral por parte da OMS e do CDC
americano foi um erro estratégico,
comprometendo esforços iniciais de
44
Artigo 3 Infected but Feeling Fine: The Comentário sobre como dinâmicas
Unwitting Coronavirus menos evidentes de transmissão,
Spreaders (31/03) como a por pessoas assintomáticas
e por aerossol, pode mudar o
panorama das recomendações para
uso de máscaras.
Artigo 5 A Debate Over Masks Uncovers Artigo que mostra divisões internas
Deep White House Divisions dentro do governo federal dos
(03/04) Estados Unidos sobre a diretriz de
utilização de máscaras pela
população geral e como tal medida
deveria ser encorajada e fiscalizada.
1
3 4.1.1.1. Artigo 1 21
4 Artigo por Laura M. Holson publicado em 9 de Março que visa a responder dúvidas
5 daqueles que tinham viagem programada ou estavam considerando viajar no primeiro mês em
6 que a pandemia tornou-se uma realidade mais palpável nos Estados Unidos. A seção sobre a
7 pergunta “Devo usar uma máscara?” traz a história do Dr. Tierno, professor de microbiologia
21
Todas as referências nesta seção, a não ser quando indicado, são ao artigo "How Not to Get Sick While
Traveling" de Laura M. Holson. Os dados completos encontram-se na lista de referências ao final do trabalho.
45
1 na Universidade de Nova Iorque, que sentou do lado de uma pessoa sintomática em um voo
2 longo e acabou sendo contaminado. Dr. Tierno comenta que esta foi a primeira vez em que ele
3 sentiu que gostaria de estar usando uma máscara. No metrô, no entanto, o professor diz que
4 vestir uma máscara é equivalente a não estar usando nada, pois o ar pode passar pelas laterais
6 O artigo também traz uma declaração do cirurgião geral, chefe operacional do Corpo
8 publicamente para as pessoas pararem de comprar máscaras frente a uma possível falta do
11 com muita prevalência do vírus, as pessoas deveriam usar respiradores N95, capazes de filtrar
13
16 intitulado “Why Telling People They Don’t Need Masks Backfired”, argumenta que a
17 mensagem que as autoridades, como a OMS e o CDC estadunidense, passaram sobre a não
18 necessidade de utilização das máscaras pelo público geral, prejudicou a credibilidade das
20
22
Todas as referências nesta seção, a não ser quando indicado, são ao artigo "Why Telling People They Don’t
Need Masks Backfired" de Zeynep Tufekci. Os dados completos encontram-se na lista de referências ao final do
trabalho.
46
6 Tufecki aponta para a contradição que existia nos pronunciamentos das autoridades
8 sua suposta ineficácia para proteção do público geral: “Como estas máscaras magicamente
10 A autora também critica o raciocínio por trás da justificativa de que as pessoas não
12 máscaras para proteção, em oposição aos profissionais de saúde, treinados adequadamente para
14 incorretamente, o que não impede de que o hábito seja encorajado e que se tomem medidas
17 funcionam, ainda que não perfeitamente: "O uso delas foi sempre aconselhado como parte do
18 procedimento padrão ao estar ao redor de pessoas infectadas, especialmente para pessoas que
19 podem ser vulneráveis"26. Aponta, também, que os membros da OMS vestem máscaras em
20 suas coletivas de imprensa. "Eu estudei e lecionei sobre a sociologia de pandemias e sabia que
23
Termo usado para designar quem deteria o controle de facto sobre o fluxo de informações, escolhendo o que é
ou não publicamente exposto.
24
Unfortunately, the top-down conversation around masks has become a case study in how not to communicate
with the public, especially now that the traditional gatekeepers like media and health authorities have much less
control. The message became counterproductive and may have encouraged even more hoarding because it
seemed as though authorities were shaping the message around managing the scarcity rather than confronting
the reality of the situation.
25
"How do these masks magically protect the wearers only and only if they work in a particular field?"
26
“Their use has always been advised as part of the standard response to being around infected people,
especially for people who may be vulnerable”
47
1 na experiência com SARS em 2003 na qual autoridades de saúde de vários países asiáticos de
5 pessoas com o vírus possam infectar outras. A emergência dos casos pré-sintomáticos e
6 assintomáticos que podem transmitir o vírus aponta que todos deveriam vestir máscaras. A
7 autora aponta para o risco de estigmatização social se só quem estiver sintomático vestir
10 Taiwan, recomendam a utilização universal das máscaras. Oficiais do governo de Hong Kong
13
14 4.1.1.3. Artigo 3 28
15 Artigo publicado em 31 de Março, assinado por Apoorva Mandavilli, que informa que
16 até 25% das pessoas, de acordo com novos estudos, podem ser contaminadas pelo novo
17 coronavírus mas permaneceram assintomáticas. Fato que estava levando o CDC estadunidense
18 a reconsiderar suas diretrizes sobre a utilização de máscaras, o que vem depois de o órgão
19 enfatizar várias vezes publicamente que não recomendava o uso dos equipamentos pela
20 população geral.
22 de Hong Kong, sobre a chance pequena de ser contaminado em um contato breve com alguém,
27
“I had studied and taught about the sociology of pandemics and knew from the SARS experience in 2003 that
health officials in many high-risk Asian countries had advised wearing masks”
28
Todas as referências nesta seção, a não ser quando indicado, são ao artigo "Infected but Feeling Fine: The
Unwitting Coronavirus Spreaders" de Apoorva Mandavilli. Os dados completos encontram-se na lista de
referências ao final do trabalho.
48
1 como passar do lado de uma pessoa infectada na rua. O risco aumenta exponencialmente dado
2 o tempo de contato; uma conversa cara-a-cara ou estar no mesmo ambiente que outra pessoa
3 por um longo tempo são situações de grande risco. O artigo coloca: “Além de sua posição
4 confusa em relação às máscaras, ‘a OMS vem dizendo que a transmissão por aerossol não
5 ocorre, o que também é desconcertante’, disse o Dr. Cowling, que ainda coloca, ‘acho que está
8 condução da pandemia. A organização, em sua missão à China, concluiu que a maioria das
10 Cowling, no entanto, avaliou os dados produzidos pela China durante a pandemia e verificou
11 que o país adotava critérios muito restritos para confirmar um caso de COVID-19: o paciente
12 teria que apresentar sintomas respiratórios, febre alta e um raio-x do pulmão mostrando
13 pneumonia. “Esta definição deixava de lado casos brandos e assintomáticos e, como resultado
14 disso, a equipe [da OMS] subestimou grandemente a natureza e a escala do surto ali
15 encontrado”30.
17 mostrou que a análise de pessoas que testaram positivo múltiplas vezes durante o período de
18 duas semanas, aponta que em torno de 20% dos indivíduos mantinham-se assintomáticos. O
19 Dr. Cowling estima que até 40% dos infectados possam passar o ciclo da doença sem
20 desenvolver sintomas.
22 possa ser uma realidade. Sessenta membros de uma orquestra em Mount Vernon, Washington,
23 se reuniram duas horas e meia para ensaiarem. Ninguém apresentava sintomas e não
29
“In addition to its confusing stance on masks, ‘the W.H.O. has been saying aerosol transmission doesn’t
occur, which is also perplexing,’ Dr. Cowling said, adding, ‘I think both are actually wrong’.”
30
“Their definition left out mild and asymptomatic cases and, as a result, the team vastly underestimated the
scale and nature of the outbreak there.”
49
1 mantiveram contato físico uns com os outros. Vinte dias depois, no entanto, dezenas tinham
2 testado positivo e dois membros da orquestra faleceram. “Esse episódio sugere a transmissão
3 por aerossol, que alcança espaços maiores do que as grandes gotículas que a OMS e o CDC
6 4.1.1.4. Artigo 4 32
8 a questão: pessoas saudáveis devem usar máscaras? As autoras apontam, então, que tanto a
9 OMS como o CDC estadunidense não recomendam o uso de máscaras pelo cidadão comum a
10 não ser que ele esteja com febre e tossindo, mas alertam que as diretrizes poderiam mudar em
11 um futuro breve.
13 quanto ao uso de máscaras por cidadãos comuns respondeu que a situação estava sendo
14 observada pelo governo e que existia a possibilidade de que o uso fosse recomendado por um
15 período de tempo. O diretor do CDC do país, Dr. Robert Redfield, declarou em entrevista que
16 as diretrizes sobre o uso de máscaras emitidas pela instituição estavam passando por revisão
18 Uma das preocupações, expostas pelo Dr. Anthony Fauci, diretor do National Institute
19 of Allergy and Infectious Diseases, é que o uso de máscaras pela população geral pudesse
21 O artigo coloca que as máscaras poderiam funcionar não tanto para proteger o indivíduo
22 portador de ser infectado, mas proteger as outras pessoas, tornando alguém infectado menos
31
“Their experience points toward airborne transmission via aerosols, which can travel farther than the large
droplets the W.H.O. and the C.D.C. have emphasized.”
32
Todas as referências nesta seção, a não ser quando indicado, são ao artigo "C.D.C. Weighs Advising
Everyone to Wear a Mask" de Abby Goodnough e Knvul Sheikh. Os dados completos encontram-se na lista de
referências ao final do trabalho.
50
1 passível de disseminar o vírus. Também chama atenção para lugares tidos como exemplos de
2 sucesso na contenção inicial da disseminação do vírus, como Hong Kong e Taiwan, que
3 tomaram o uso universal de máscaras como parte importante da sua estratégia de contenção do
4 novo coronavírus.
6 4.1.1.5. Artigo 5 33
7 O artigo escrito por Michael D. Shear e Sheila Kaplan parte do ocorrido quando o
9 recomendar que os cidadãos vestissem máscaras sempre que saíssem de suas casas. No entanto,
10 Donald Trump ressaltou que a decisão sobre usar ou não era, em última instância, pessoal e
11 que ele próprio não passaria a vestir o item. Esta atitude demonstrava a cisão interna no alto
17 vida normal, ainda que usando máscaras. Ainda outros membros do governo, traz o artigo sem
18 citar nomes, são céticos quanto à disposição da população em se adequar ao uso de máscaras,
22 população geral que vinha ocorrendo no ambiente para fora da Casa Branca. O governador da
23 Pensilvânia requisitou aos cidadãos do seu estado para passarem a usar máscaras o quanto antes
33
Todas as referências nesta seção, a não ser quando indicado, são ao artigo "A Debate Over Masks Uncovers
Deep White House Divisions" de Michael D. Shear e Sheila Kaplan. Os dados completos encontram-se na lista
de referências ao final do trabalho.
51
1 possível. Também coloca que na coletiva mais recente promovida pela OMS a organização
2 manteve sua posição para que o uso dos dispositivos fosse feito só pelos profissionais de saúde,
3 pessoas sintomáticas ou aquelas cuidando de pessoas doentes, mas adicionou que a organização
4 não é ignorante aos casos onde o uso pela população geral possa ser encorajado e recomendado.
6 Nature, que mostra que o uso de máscaras cirúrgicas diminui significativamente a quantidade
10 Tabela 16
11
Artigo 8 Face masks: can they slow Matéria que entrevista quatro
52
34
2 4.1.2.1. Artigo 6
4 difusa no ocidente, e assinado pela editora de Saúde, Sarah Boseley, aponta que a pandemia do
6 equipamentos de proteção pelo mundo. Segundo o diretor geral da OMS, Dr. Tedros Adhanom
7 Ghebreyesus, esta falta se daria por conta do uso inapropriado dos equipamentos por aqueles
8 que não os profissionais de linha de frente na luta contra o coronavírus. O diretor ainda pediu
9 para que países não fizessem estoques de EPI, que no momento estavam em falta na China,
34
Todas as referências nesta seção, a não ser quando indicado, são ao artigo "WHO warns of global shortage of
face masks and protective suits" de Sarah Boseley. Os dados completos encontram-se na lista de referências ao
final do trabalho.
53
2 segundo lugar, para aqueles que estavam cuidando de alguém doente. O artigo coloca, ainda, a
3 declaração feita pelo diretor apontando que as máscaras não seriam necessariamente úteis ao
4 público geral, mas que elas funcionam para impedir que alguém doente contamine outra pessoa.
6 4.1.2.2. Artigo 7 35
7 Artigo assinado por Hannah Devlin and Denis Campbell em primeiro de Abril
8 comentando a possível mudança nas diretrizes emitidas pela OMS sobre o uso de máscaras
9 durante a pandemia do novo coronavírus. Enquanto a OMS e países como o Reino Unido
10 mantinham que a utilização dos utensílios não surtia efeito em diminuir a propagação da
11 pandemia, novas evidências estavam surgindo que poderiam apontar que as máscaras tiveram
14 estudos conduzidos em Hong Kong e debatendo possíveis mudanças em seus guias, sem se
17 interesses de classe de médicos britânicos, já havia se pronunciado para que todas as pessoas
18 em ambiente hospitalar mantivessem sua boca coberta sempre que possível, dado que o vírus
21 O artigo menciona a posição da OMS de que máscaras eram efetivas para impedir a
22 disseminação de partículas infecciosas por pessoas doentes, mas que, com novas evidências de
35
Todas as referências nesta seção, a não ser quando indicado, são ao artigo "WHO considers changing
guidance on wearing face masks" de Hannah Devlin e Denis Campbell. Os dados completos encontram-se na
lista de referências ao final do trabalho.
54
4 4.1.2.3. Artigo 8 36
5 Danielle Renwick assina artigo publicado em 2 de Abril que abre comentando que por
6 semanas, profissionais de saúde, líderes políticos e OMS vieram a público declarar que o uso
7 de máscaras era recomendado somente para quem estivesse doente ou cuidando de alguém
10 estadunidense estavam revendo as diretrizes para o uso de máscaras. O artigo traz, então,
12 Sobre a eficácia das máscaras para deterem a transmissão do novo coronavírus, Jeremy
14 coloca que a transmissão ocorre em grande parte nos sete primeiros dias depois da infecção,
15 quando muitos ainda estão assintomáticos. Então todos devem assumir que podem ser
16 transmissores em potencial. Quando alguém fala, gotículas se espalham por até 2 metros. Se
17 esta pessoa está com uma proteção na frente da boca, como uma máscara, as gotículas ficam
18 na proteção e não se espalham. "É por isso que máscaras ajudam a reduzir dramaticamente a
21 de Columbia, opta pela analogia com o beisebol. É tudo sobre impedir que o arremessador
22 possa lançar a bola. Existem mais arremessadores do que se imaginava anteriormente e se todos
36
Todas as referências nesta seção, a não ser quando indicado, são ao artigo "Face masks: can they slow
coronavirus spread – and should we be wearing them?" de Danielle Renwick. Os dados completos encontram-se
na lista de referências ao final do trabalho.
37
“That’s why masks dramatically help reduce the spread of the virus.”
55
1 Sobre se as máscaras protegeriam mais quem usa ou as pessoas ao redor, Howard coloca
2 que existe um nível de proteção para o portador, mas que não se trata de uma proteção perfeita
3 e que o melhor jeito é pensar que ao vestir uma máscara você está protegendo sua comunidade
6 dispositivos, Howard coloca que eles estavam receosos de que os profissionais de saúde não
8 Kong, coloca que se a OMS viesse a mudar suas diretrizes, eles poderiam insistir que
12 segurança que elas poderiam criar, Saskia Popescu, epidemiologista, diz se preocupar com
13 alguém doente e usando máscara, mas que toca em seu rosto, não lava as mãos e encosta em
14 uma superfície. Também se preocupa com pessoas não as vestindo de forma apropriada, tendo
16 que deve sempre se procurar que as pessoas doentes vistam máscaras, mas que encorajar todos
17 a vestirem os itens de uma hora para outra pode colocar uma pressão descabida nos sistemas
19 encorajadas a usar cinto de segurança quando se descobriu que eles as mantinham seguras, e
20 foram também encorajadas a usar preservativos quando foi evidenciado que estes impediam
21 contaminações. “Se tem algo que pode dramaticamente cortar a transmissão de uma doença, e
22 a nossa resposta é falar para as pessoas não usarem porque elas podem usar errado, isso é
38
If there’s something that could dramatically slash the transmission of disease, and our response is to tell
people not to use it because they might do it wrong, that’s incompatible with any other kind of policy decisions
we make.
56
1 4.1.2.4. Artigo 9 39
3 London School of Hygiene & Tropical Medicine, que parte de uma pressuposição: não
5 funcionam no ambiente hospitalar, quando usadas por profissionais altamente treinados para
7 Heymann escreve que não existem evidências sólidas da efetividade quando o público
8 geral usa as máscaras. O padrão ouro em pesquisas médicas é o ensaio clínico randomizado, o
9 que seria bem difícil neste caso, coloca o autor, pois os participantes não poderiam saber se
12 pessoas não deveriam usar máscara como uma medida de precaução. No entanto, nem sempre
13 é sábio fazer algo dada a ausência de evidências, “especialmente se ao remover a máscara que
15 problemas de fornecimento para os profissionais de saúde, que são quem mais precisa do
18 Esses serão alguns dos fatores levados em conta pela OMS ao tomar decisões sobre a
19 recomendação ou não do uso de máscaras pela população geral, além da emergência de novas
20 evidências. Enquanto isto, conclui Heymann, existem muitas outras medidas que podem ser
22
39
Todas as referências nesta seção, a não ser quando indicado, são ao artigo "Do face masks protect against
coronavirus? Here's what scientists know so far" de David Heymann. Os dados completos encontram-se na lista
de referências ao final do trabalho.
40
“...especially if removing a mask that has been contaminated may increase your risk of infection.”
57
1 4.1.2.5. Artigo 10 41
4 estudo publicado na revista Nature que mostra que as pessoas têm mais potencial para infectar
5 os outros na primeira semana depois de contraírem COVID-19, quando a maioria das pessoas
7 O autor então é categórico: o melhor jeito de ter certeza de que você não é um cúmplice
8 silencioso do novo coronavírus é usar máscara e manter distância das outras pessoas. Enfatiza,
9 no entanto, que não se usem respiradores N95, destinados aos profissionais de saúde que já
10 vêm enfrentando fornecimento precário do material, mas que qualquer outro tipo de máscara,
13 que mostra que colocar um pedaço de pano na frente da boca impede disseminação de 99% das
14 gotículas, bem como uma declaração de um consultor da OMS, David Heymann, dizendo que
15 o uso de máscaras pode ser tão ou mais efetivo do que as medidas de distanciamento.
16 Menciona-se também outro estudo, conduzido durante cinco anos e publicado na Nature,
18 O autor então coloca: “Existe uma vasta lacuna entre o que a ciência vem mostrando e
19 o que muitos países estão fazendo. As máscaras podem ser a arma mais importante em nossa
20 guerra contra o vírus. Mas não estamos sequer as usando”42. Sobre a recomendação da OMS
21 que ainda vigorava, de que máscaras deveriam ser usadas só por pessoas doentes ou cuidadores
41
Todas as referências nesta seção, a não ser quando indicado, são ao artigo "To help stop coronavirus,
everyone should be wearing face masks. The science is clear" de Jeremy Howard. Os dados completos
encontram-se na lista de referências ao final do trabalho.
42
“There’s a vast chasm between what the science is showing and what many countries are doing. Masks may
be the most important weapon in our war on the virus. But we’re not even using it.”
58
1 de pessoas doentes, Howard conclui: “Com as novas evidências, isto não faz sentido, se é que
3 O texto traz, ainda, outras evidências, citando que todos os países que obrigam o uso
4 de máscaras pela população verificam números de mortos muito mais baixos do que aqueles
5 que não tomam esta medida. Faz referência, também, à Coréia do Sul, tida como exemplo de
6 sucesso na luta contra a disseminação de COVID-19, e que só conseguiu controlar sua situação
8 Howard aponta que um dos desafios do uso de máscaras é que ele só é efetivo de fato
9 quando a maioria das pessoas adere à prática. O autor cita estudo da Food and Drug
11 alimentar, fiscalização de vacinas e equipamentos médicos, etc., que estima que se 50% da
12 população usasse máscaras a transmissão do vírus da gripe cairia pela metade e que se 80%
14 O artigo dá como exemplo que leis para o uso de máscaras pela população estão em
15 efeito em: Israel, Áustria, República Tcheca, Hong Kong, Mongólia e ainda outros lugares.
16 Que mesmo nos Estados Unidos, onde os decretos sobre o assunto estariam demorando muito
17 para aparecer, alguns distritos já estavam criando legislações locais sobre o uso dos
18 dispositivos. Enfatiza que as máscaras não substituem distanciamento social ou higiene manual
19 e que é preciso utilizar todas essas ferramentas para combater a disseminação do vírus.
21 pavimentar a via legal do uso dos dispositivos, o esforço deve vir de baixo para cima, focado
23 Cita o caso da República Tcheca, que por meio de uma campanha nas redes sociais com apoio
43
“With the new evidence, this makes no sense, if it ever did.”
59
1 de influenciadores foi de 0% de uso de máscaras pela população para quase 100% de adequação
2 em apenas 3 dias, sendo que só depois o governo instituiu leis regulando a prática.
5 Como vimos ao analisar o primeiro guia emitido pela OMS a respeito do uso de
7 desaconselhar o uso dos dispositivos por pessoas que não apresentassem sintomas ou não
11 explicação, dado que no mesmo documento a organização recomendava o uso para os parentes
13 Esses sinais contraditórios sobre a eficácia das máscaras estão presentes no primeiro
14 artigo aqui analisado, considerando a ordem cronológica. O Artigo 6, publicado cerca de uma
15 semana após a emissão do primeiro guia, traz uma OMS preocupada com a falta de EPIs para
16 os profissionais de saúde e que ao mesmo tempo tenta diminuir a funcionalidade protetiva das
17 máscaras para a população geral. O que é contraditório tanto com a insistência da organização
18 em assegurar os dispositivos para os profissionais de saúde, reconhecendo seu uso como uma
21 doentes.
22 O segundo artigo analisado é uma peça importante no discurso público sobre o uso de
23 máscaras. Texto opinativo publicado no The New York Times, assinado por Zeynep Tufekci,
24 socióloga que ficou notória pela sua aplicação de análises de sistemas complexos para tratar da
25 pandemia de COVID-19, traz não só a defesa do uso de máscaras, como a crítica das
60
1 instituições que não recomendaram o uso dos dispositivos pela população geral. A autora
2 aponta a contradição das autoridades em frisar a importância das máscaras para os profissionais
3 de saúde, ao mesmo tempo em que afirmavam não ter utilidade para proteger as pessoas em
4 outros ambientes. Tanto a OMS quanto o CDC estadunidense recomendaram o uso de máscaras
8 mudança nas diretrizes do uso de máscaras, depois de semanas em que profissionais de saúde
9 e oficiais de saúde desaconselharam o uso dos dispositivos pelas pessoas que não
12 drasticamente a distância pela qual gotículas emitidas pela boca ou nariz de um indivíduo se
13 disseminam. Ou seja, que se trata mais de proteger os outros de você, do que o contrário.
14 Howard então atribui o receio da OMS e do CDC dos EUA em recomendar o uso de
15 máscaras pela população geral ao medo de que respiradores e máscaras faltassem aos
16 profissionais da saúde e Ben Cowling, que esteve presente no Artigo 3, do The New York
17 Times, propõe como solução para mudança das diretrizes, que o uso de máscaras de pano pela
23 relata a preocupação de que com o uso de máscaras reutilizáveis pela população geral muitas
24 pessoas não higienizem o equipamento corretamente e que sugerir que todos vestissem
25 máscaras de uma hora pra outra poderia criar uma pressão que o sistema de fornecimento dos
61
1 produtos não aguentaria. Howard, no entanto, insiste que a possibilidade de pessoas vestirem
2 as máscaras de modo errado não é motivo suficiente para desencorajar a recomendação de uso
5 Artigo 9, é um texto opinativo assinado pelo professor David Heymann, que contesta a ideia
6 de que porque as máscaras funcionam no ambiente hospitalar elas também funcionariam fora
7 dele, usadas por pessoas sem o treinamento pelo qual passaram os profissionais de saúde.
8 Heymann aponta a não existência de evidências sobre a efetividade do uso dos dispositivos
9 pela população geral e o que o padrão-ouro em pesquisas médicas, i.e. o ensaio clínico
11 O professor trata da sugestão de que as máscaras poderiam ser usadas pela população
14 inadequadamente a máscara pudesse ser um risco maior do que o incerto benefício. Cita
15 também a possível falta dos produtos para os profissionais de saúde e o possível falso senso de
17 O último artigo analisado entre a emissão do primeiro e segundo guia pela OMS é de 4
18 de Abril. Trata-se de texto opinativo assinado pelo já citado Jeremy Howard, fundador do
19 #Masks4All, publicado no The Guardian (Artigo 10). Menciona estudo publicado na Nature
20 que mostra o perigo da infecção por pessoas que não apresentam sintomas e argumenta, então,
21 que a postura mais responsável é manter distância das outras pessoas e usar máscaras de pano,
24 recomendar o uso de máscaras só por pessoas doentes ou por aqueles que cuidam de pessoas
62
1 doentes é mostrada como incongruente com as novas evidências, se é que em algum momento
3 O texto enfatiza que a medida só é verdadeiramente efetiva quando o uso é feito por
4 grande parcela da população. Dá, também, o exemplo de diversos países que já impuseram leis
5 tornando universal o uso de máscaras. Se o governo de um determinado país não tomar a via
6 legal para fazer com que todos passem a utilizá-las, o autor apela ao poder de coordenação das
8 dispositivos.
9 O que a análise destes dez artigos parece apontar, de maneira mais clara, é que a
10 discussão desenvolve-se para além e, por vezes, em discordância com os esforços conduzidos
12 diálogo envolvendo o uso ou não de máscaras pela população geral, discutindo claramente o
13 que estava em jogo e quais seriam os pontos de ruptura que poderiam mudar o panorama do
15 instituição e que passam a ocupar uma lacuna na opinião pública deixada pela organização.
18 vezes como ponto central da mudança do quadro a respeito das máscaras por aqueles que
19 enxergam como positivo o uso dos dispositivos pela população geral. Estes apontam que as
20 diretrizes emitidas pela OMS no primeiro documento deixam margem para que se reconheça
21 que a organização admite a eficiência das máscaras tanto para proteger os usuários de se
22 contaminarem (como quando encoraja o uso por parentes ao entrarem em contato com os
23 infectados pelo novo coronavírus), quanto para frear o potencial infeccioso de pessoas
24 sintomáticas.
63
1 A organização é criticada diversas vezes pela falta de consistência em seus guias e pela
2 demora em se adaptar ao novo cenário de luta contra o vírus criado pela constatação de
3 transmissão assintomática. Demora esta que faz com que a mídia comece a tratar mudanças
5 No primeiro guia sobre o uso de máscaras emitido pela OMS, a preocupação com a
6 falta de EPI para os profissionais de saúde não é explicitada, mas, sim, aludida por meio da
10 máscaras pela população geral, mas também como a grande motivação por trás das decisões da
11 OMS. Ou seja, mesmo não tendo deixado claro que esta era a motivação principal das diretrizes
12 contrárias ao uso universal de máscaras presentes no guia emitido em 29 de Janeiro, fica claro
13 para a imprensa e especialistas em epidemiologia e saúde pública que era disso que se tratava.
16 recomendação ou não do uso de máscaras parece ser centrada na opção por uma conduta
19 tentam embasar seu suporte à recomendação do uso de máscaras pela população geral usando
21 grande potencialidade do uso de máscaras estaria no uso por grande parcela da população, para
22 além do exame da eficácia dos dispositivos para os indivíduos isoladamente. Os que se opõem
23 ao uso dos dispositivos, como Heymann, que veremos nos próximos artigos ser ocupante de
24 importante posição dentro da OMS, frisam a importância de evidências sólidas que comprovem
64
1 que o uso de máscaras é eficiente. Este chega até a ressaltar a importância de ensaios clínicos
3 A OMS parece tender em seus guias sobre máscaras para a postura adotada por
4 Heymann. Tanto que em um primeiro momento não recomenda o uso de máscaras pela
6 medida. Isso pode ajudar a explicar a demora da instituição em expedir um segundo guia, para
9 únicas em nome da organização. Este é um tema que aparecerá no segundo grupo de artigos
10 analisados e na discussão ética sobre as decisões da OMS sobre o uso de máscaras durante a
11 pandemia.
12 A variável que diz respeito ao falso senso de segurança, que já constava como um fator
13 no guia emitido em 29 de janeiro, é constantemente citada por aqueles que se opõem ao uso de
14 máscaras pela população geral. O uso dos dispositivos, argumentam, poderia sinalizar, tanto
15 num nível individual quanto num nível comunitário, que o distanciamento social não precisa
16 mais ser observado, o que poderia comprometer, em nome de uma aposta (no uso de máscaras
17 pela população geral), uma medida reconhecidamente efetiva, i.e., a do distanciamento físico.
18 Também é importante atentar a uma variável que aparece em dois momentos, a saber,
21 pela população dos Estados Unidos. A medida pode ter funcionado em países asiáticos,
22 constantemente usados como exemplo de sucesso das máscaras por aqueles que defendem seu
23 uso, mas dificilmente daria certo em um país sem a cultura prévia de uso dos dispositivos.
25 uso do equipamento de proteção pela população geral para os países que já têm cultura
65
1 estabelecida de uso de máscaras. Isto mostraria que a organização não tem objeções ao uso
2 universal de máscaras em si, mas, sim, receio de consequências secundárias, como a escassez
5 sua esfera cotidiana, quanto nas discussões presentes na imprensa, e que não teve relevância
9 documento de 29 de Janeiro: “Máscaras de tecido (e.g. algodão ou gaze) não são recomendadas
10 sob nenhuma circunstância”. No entanto, seu uso crescente em países nos quais a oferta pelos
13 disseminação de gotículas com potencial infeccioso por indivíduos contaminados e não mais o
14 de proteger o usuário, torna sua realidade algo a ser mais demoradamente considerado pela
15 organização. O que fará com que o segundo guia veja o surgimento de duas categorias de
16 discussão separadas: uma que diz respeito à funcionalidade do uso das máscaras cirúrgicas e
17 outra para as considerações do uso das máscaras de pano enquanto via para recomendações de
19
21
23 Tabela 17
1 4.2.1.3. Artigo 11 44
3 experiência daqueles que, por terem entrado em contato com pessoas com o novo coronavírus,
4 estão em quarenta voluntária, diferente de isolamento voluntário, destinado para quem teve a
5 infecção confirmada.
6 No momento de publicação do artigo, a testagem ainda era escassa nos EUA e muitas
7 pessoas que haviam entrado em contato com casos confirmados não conseguiam fazer testes
8 para saber se também tinham sido contaminadas. A quarentena voluntária, então, aparecia
9 como opção. A imagem de que esta experiência consistiria de duas semanas de tédio em casa
11 A reportagem traz, então, dicas básicas sobre diversas áreas que compõem as vivências
12 das pessoas em quarentena. Sobre máscaras, é posto que se o indivíduo em quarentena estiver
13 ao redor de outras pessoas, em casa ou num carro indo para uma consulta, por ex., todos devem
14 estar usando máscaras. Como fazer isso em um contexto de falta de oferta de máscaras
16
17 4.2.1.2. Artigo 12 45
19 funcionários que acabam sendo encarregados de cobrar o uso de máscaras pelos consumidores
21 supermercado, no qual uma consumidora se recusa a vestir uma máscara, mesmo quando o
44
Todas as referências nesta seção, a não ser quando indicado, são ao artigo "How to Quarantine Yourself" de
Roni Caryn Rabin. Os dados completos encontram-se na lista de referências ao final do trabalho.
45
Todas as referências nesta seção, a não ser quando indicado, são ao artigo "Who’s Enforcing Mask Rules?
Often Retail Workers, and They’re Getting Hurt" de Neil MacFarquhar. Os dados completos encontram-se na
lista de referências ao final do trabalho.
68
1 funcionário pede para que ela o faça: “Não estou aqui para questionar no que você acredita.
2 Essas são as regras. Só estou pedindo educadamente para você usar uma máscara”46.
3 A cliente, então, se recusa e diz: "Aqui nós estamos na América, terra dos livres". Então
4 se vira para os outros consumidores presentes na loja, que observavam a cena e profere:
5 "Observe todo este gado que está aqui, todos vestindo essas máscaras que na verdade são
6 perigosas para eles"47. O funcionário ligou para a polícia, que nunca chegou. Os outros
7 consumidores aplaudiram a cena quando a cliente que se recusava a usar máscara foi embora
8 da loja.
10 trabalhadores dos EUA. À medida que o comércio ia reabrindo com a prática de medidas
11 sanitárias, como o uso de máscaras, a tarefa de exigir conformidade às regras acabava sendo
14 recomendadas por oficiais de saúde pública, sem prover mais detalhes, como medida para
15 diminuir a disseminação do novo coronavírus. Pelo menos uma dúzia de estados, até o
16 momento de publicação do artigo, tinha emitido decretos requerendo o uso dos dispositivos
20 direitos individuais, não temos direitos comunitários"48. A diretora do Centro para Lei e
22 nunca possuiu o direito de fazer algo que pudesse comprometer a saúde dos seus vizinhos. Ela
23 adiciona, ainda, que esse tipo de medida é feito para proteger as outras pessoas, e não o próprio
46
“I am not here to question what you believe in. These are the rules. I am just asking you kindly to wear the
mask.”
47
“Look at all of these sheep that are here, all wearing this mask that is actually dangerous for them.”
48
“We have individual rights, we don’t have community rights”
69
1 usuário da máscara, e que deveria ser encarada como usar cinto de segurança ou não fumar em
2 lugares públicos, uma medida inicialmente imposta, mas que se torna hábito.
4 nacionais e locais sobre o uso de máscaras. O CDC que inicialmente não recomendava o uso
7 4.2.1.3. Artigo 13 49
12 metrópole asiática havia registrado 4 mortes por COVID-19, Nova Iorque já registrara mais de
13 20 mil. Perto de 99% dos habitantes de Hong Kong relatava vestir máscaras, mas só ⅓ dos
14 cidadãos estadunidenses usava os dispositivos sempre que saíam de casa, ⅓ usava de vez em
16 A diferença entre as duas realidades não está só nas máscaras, apontam os autores, e os
17 dispositivos não são substitutos para distanciamento físico e higiene manual. Mas máscaras,
18 nem que seja um simples cachecol na frente da boca e nariz, são amplamente vistas como parte
19 crítica dos esforços para a supressão do novo coronavírus. O texto contém link para estudo da
20 The Royal Society que conclui em parecer favorável ao uso de máscaras pela população geral.
21 No entanto, a adesão à medida "neste lado do pacífico" tem sido inconsistente. O que é
49
Todas as referências nesta seção, a não ser quando indicado, são ao artigo "There Are 3 Things We Have to
Do to Get People Wearing Masks" de Angela Duckworth, Lyle Ungar e Ezekiel J. Emanuel. Os dados
completos encontram-se na lista de referências ao final do trabalho.
70
1 Se o caminho mais óbvio para adesão ao uso universal de máscaras é por meio de
2 decretos e estabelecimento de punições, fazer cumprir a lei pode ser difícil e custoso. Em um
3 ambiente polarizado, poder levar a protestos, revoltas e até violência. Os professores, então,
4 propõem uma postura complementar: fazer o uso de máscaras ser fácil, compreensível e
5 esperado.
7 a obtenção de máscaras pelos cidadãos seja o mais fácil e simples possível. Exemplos são
8 usados para representar a possibilidade de uma realidade diferente da observada na maioria das
9 cidades ocidentais, como o empresário do ramo imobiliário em Hong Kong que estabeleceu
10 uma fábrica em um de seus terrenos vazios com o objetivo de produzir máscaras que seriam
11 disponibilizadas gratuitamente para aqueles que não pudessem pagar. Logo depois disso, o
13 para receber máscaras reutilizáveis em casa. Ou, ainda, em Utah, onde os cidadãos também
14 podem se cadastrar online para receber uma máscara de pano pelo correio.
16 que marcaram a comunicação das autoridades sobre o uso de máscaras pela população durante
18 público geral porque eles não deveriam usar máscaras — recomendação que mudou
19 completamente no momento em que ficou evidente que a transmissão por pessoas que não
20 apresentam sintomas era uma realidade. "Dado que é difícil para as pessoas atualizarem suas
21 convicções depois que uma mensagem já foi recebida, não é surpreendente que desinformação
23 sociais"50.
50
“Since it’s hard for people to update their beliefs once a message has been received, it’s no surprise that
misinformation and outdated news continue to ricochet in the echo chambers of social media.”
71
3 informações que provam o contrário. Pode ser útil, então, prover as pessoas com uma
4 justificativa para mudarem seu comportamento sem aparentar hipocrisia. Esta solução é
5 exemplificada pelos autores com a possibilidade das autoridades de enfatizarem que no começo
7 apresentar sintomas, mas que agora, a todo dia novas evidências científicas surgem mostrando
9 "From uncoventional to expected": o artigo coloca que aderir às normas sociais está na
10 natureza humana. Sem ter certeza do que fazer, os indivíduos tendem a copiar o que está sendo
11 feito ao seu redor. Os autores se perguntam, então, como criar um ambiente em que o uso de
12 máscaras passe a ser a norma, dado que tantos estadunidenses estão caminhando para o lado
13 oposto. Um erro, apontam, é o enfoque público naqueles que estão fazendo a coisa errada. Se
14 a cobertura jornalística focasse na quantidade de pessoas que jogam lixo na rua, mostrando-a
15 como a normal, o provável é que mais pessoas passassem a poluir as ruas por identificarem isto
17 devem, então, enfatizar que o uso de máscaras por um número cada vez maior de pessoas vêm
20 gestão Qualtrics, apontou que a maioria dos estadunidenses consultados não voltaria a
21 frequentar o escritório se o uso de máscaras não fosse obrigatório. Apontam também, que em
22 uma só semana em Abril, a porcentagem de estadunidenses que declarou que usaria máscaras
24 Celebridades e atletas são convocados a fazerem sua parte, já que possuem uma grande
2 sobre as máscaras, tanto líderes de esquerda quanto de direita devem ser aplaudidos ao usarem
3 os dispositivos.
5 4.2.1.4. Artigo 14 51
7 comentando metanálise promovida pela OMS de 172 estudos e que conclui que as máscaras
8 cirúrgicas no ambiente hospitalar fornecem uma proteção inadequada quando comparadas aos
11 reportagem, comenta que é decepcionante que tanto OMS quanto o CDC estadunidense tenham
12 sugerido, ao decorrer da pandemia, que máscaras cirúrgicas poderiam ser substitutos adequados
13 para os profissionais de saúde. Ele aponta, ainda, que o fato de que profissionais de saúde
15 O artigo explora que apesar de a OMS não recomendar o uso universal de máscaras,
16 muitos membros da instituição passaram a utilizar os itens meses atrás [da data de publicação].
17 A resistência da organização em recomendar o uso dos dispositivos pela população geral teria
18 frustrado muitos especialistas em saúde pública que enxergam nas máscaras uma estratégia
21 Sidney, escreveu em comentário que acompanha o estudo: "Quando existem incertezas e você
51
Todas as referências nesta seção, a não ser quando indicado, são ao artigo "Medical Workers Should Use
Respirator Masks, Not Surgical Masks" de Apoorva Mandavilli. Os dados completos encontram-se na lista de
referências ao final do trabalho.
73
1 não sabe tudo sobre uma doença, você deve ser precavido, o que significa assumir o pior e
3 A metanálise mencionada no artigo, diferenciada por ser uma das primeiras a usar
5 respiratórios, indicou que o vírus poderia também se disseminar por meio de gotículas menores
6 que 5 microns, chamadas aerossóis. No entanto, a OMS ainda não reconheceu este risco e não
8 O artigo faz menção à revisão recente publicada no periódico Science, que abordou
14 diretrizes dado o baixo fornecimento dos respiradores e recorreu a uma analogia para explicar
15 que as diretrizes devem ser baseadas em evidências e não em oferta e demanda: seria como
16 comunicar a um exército que as armas acabaram e eles devem ir para guerra munidos de arcos
17 e flechas. A pesquisadora destaca, então, que os respiradores não são caros para serem
18 produzidos e que outros países, como a Austrália, tinham remanejado fábricas para fabricarem
19 os produtos.
52
“When there is uncertainty and you don’t know everything about a disease, you have to be precautionary,
which means you have to assume the worst and provide the best for health care workers”
74
1 4.2.1.5. Artigo 15 53
7 público declarar que algumas medidas para conter a disseminação do novo coronavírus, como
8 uso mandatório de máscaras pela população geral, poderiam prejudicar o setor dos bancos.
9 Mais máscaras, por exemplo, poderiam levar a maior número de assaltos a bancos.
12 ou todos os espaços públicos criam o risco real do aumento no número de roubos a bancos".
13
15 Tabela 18
16
53
Todas as referências nesta seção, a não ser quando indicado, são ao artigo "New Regulator Warns Health
Measures, Like Masks, May Hurt Banks" de Emily Flitter. Os dados completos encontram-se na lista de
referências ao final do trabalho.
75
2 4.2.2.1. Artigo 16 54
3 Artigo publicado em 6 de Abril e assinado por Ian Sample, editor de Ciência do jornal,
4 comentando a decisão da OMS de manter a posição de não recomendar o uso de máscaras por
5 pessoas saudáveis em seu novo guia, disponibilizado no dia anterior, 5 de Abril. Ainda que
6 existissem evidências de que os dispositivos poderiam ser úteis para diminuir a velocidade de
7 disseminação da doença, a medida seria insuficiente por si só, além de não existirem evidências
9 comunitário.
54
Todas as referências nesta seção, a não ser quando indicado, são ao artigo "Face masks cannot stop healthy
people getting Covid-19, says WHO" de Ian Sample. Os dados completos encontram-se na lista de referências
ao final do trabalho.
76
2 declarou que para pessoas que não estivessem trabalhando em um ambiente hospitalar,
3 máscaras só servem para a proteção de outras pessoas e não para proteção do próprio usuário.
6 contaminadas. Medidas como distanciamento físico e higiene das mãos são próprias para evitar
8 O artigo observa, então, que esta recomendação da OMS sobre o uso de máscaras pela
13 Heymann declarou que o uso de máscaras poderia dotar o usuário de um falso senso de
14 segurança, o que poderia resultar em um comportamento menos cauteloso. Mesmo com boca
15 e nariz cobertos, o vírus ainda pode entrar em contato com os olhos. Além do risco existente
18 William Keevil, professor da Universidade de Southampton, adota tom crítico. Para ele,
19 as recomendações de uso de máscaras pela população geral parecem ser fruto de governos se
20 vendo pressionados a mostrar serviço, mas que a medida resulta em desperdício de tempo e
21 recursos valiosos. Coloca que as máscaras de pano não conseguem filtrar pequenas gotículas
23 não está sendo encarado: como bloquear a rota de contaminação pelos olhos?
25 posição estadunidense, frisando que pessoas que acham que podem ter sido expostas ao vírus
77
1 deveriam usar máscaras em ambientes públicos e que a população de alto risco para
2 desenvolver casos mais graves de COVID-19 também deveria usar os equipamentos sempre
5 4.2.2.2. Artigo 17 55
7 o artigo aborda a questão de se a população geral deveria estar ou não usando máscaras. Muitas
8 pessoas, nas semanas anteriores à publicação do artigo, passaram a usar máscaras na rua,
10 da agência governamental Public Health England, indicando que elas não protegem contra o
11 novo coronavírus.
13 recomendações da OMS e passar a indicar que as máscaras devem ser usadas pela população.
14 "Para aumentar a confusão", na segunda, dia 13, Sir Patrick Vallance, principal assessor
18 vírus não vai embora e nós ainda não sabemos se quem teve o vírus permanece imune depois",
22 que máscaras são para os trabalhadores de saúde e não para o público. O que parece motivar as
55
Todas as referências nesta seção, a não ser quando indicado, são ao artigo "Coronavirus: should everyone be
wearing face masks?" de Sarah Boseley. Os dados completos encontram-se na lista de referências ao final do
trabalho.
56
“The virus isn’t going to go away and we don’t know if people who have had the virus stay immune
afterwards (..) Yes, we will have to wear masks.”
78
3 Além da preocupação de que os cidadãos sem treinamento prévio não saibam usar os
4 dispositivos corretamente, o artigo classifica como principal fator contrário ao uso de máscaras
5 pela população geral a falta de evidências científicas robustas de que máscaras comuns
8 entanto, é apontada. Ressaltando que como muitas pessoas transmitem o vírus antes mesmo de
14 evidências científicas não é produtivo para esta questão. Ensaios clínicos randomizados são o
15 padrão-ouro para o desenvolvimento de medicamentos, mas não o mais apropriado para arbitrar
16 sobre máscaras em meio a uma pandemia, adicionou Greenhalgh. Completou: "O ponto
17 principal é que agora temos um problema incrivelmente complexo acontecendo. A última coisa
19 complexos"57.
57
“The point is we have now got a hugely complex issue going on. The last thing we need is a controlled
experiment. We need to follow the logic of complex systems”.
79
1 4.2.2.3. Artigo 18 58
2 Artigo, datado de 28 de Abril, assinado por Shefali Luthra e Christina Jewett, co-
3 publicado com o portal Kaiser Health News, ONG destinada à cobertura de políticas na área
4 de saúde pública, noticiando que dada a falta de EPI causada pelo novo coronavírus,
5 autoridades estão recomendando aos profissionais de saúde que máscaras cirúrgicas são opções
6 aceitáveis aos respiradores N95. O CDC estadunidense classificou a troca como ‘alternativa
10 esta diretriz, afirmando que ela poderia ser responsável pelo agravamento de um quadro já
11 crítico, no qual os profissionais de saúde respondem por até 11% das infecções pelo novo
12 coronavírus. A reportagem aponta que a opção por máscaras cirúrgicas fazia sentido quando se
13 pensava que a transmissão acontecia por meio de grandes gotículas, no entanto, uma quantidade
14 crescente de novas evidências chama atenção para que o vírus pode se disseminar por gotículas
16 A nova recomendação do CDC entra em contradição com o que está escrito em outra
17 seção do site da organização, na qual lê-se que máscaras cirúrgicas não provêm o usuário de
18 proteção contra a inalação de partículas menores e não pode ser considerada como proteção
19 respiratória. Dois estudos são mencionados: um de Abril de 2020, feito em dois hospitais da
20 Coréia do Sul, que mostrou que máscaras cirúrgicas parecem ser ineficientes para impedir a
22 chineses, que produziu dados mostrando que 17% dos trabalhadores de saúde contraiam
58
Todas as referências nesta seção, a não ser quando indicado, são ao artigo "Coronavirus mask guidance is
endangering US health workers, experts say" de Shefali Luthra e Christina Jewett, Kaiser Health News. Os
dados completos encontram-se na lista de referências ao final do trabalho.
80
3 4.2.2.4. Artigo 19 59
5 Maio, aborda a divergência entre os especialistas sobre a eficácia do uso de máscaras. Relatório
6 multidisciplinar feito pela The Royal Society, chamado Delve – Data Evaluation and Learning
7 for Viral Epidemics, emitiu parecer favorável ao uso de máscaras, incluindo as feitas de pano,
10 usados em locais onde o distanciamento físico não pode ser observado. O uso então, não é
11 focado na proteção do usuário, mas, sim, na diminuição do potencial infeccioso dos pacientes
14 O relatório foi contestado por alguns especialistas e cientistas. Dr. Simon Clarke, da
16 descarta com muita facilidade as preocupações de que o uso de máscaras poderia ter um
17 impacto negativo no comportamento das pessoas. Adicionou ainda: “Até que mais evidências
18 surjam, apontando em uma direção ou em outra, toda recomendação poderá ser baseada em -
19 opiniões”60.
21 London, coloca que o relatório é demasiadamente otimista sobre a utilidade das máscaras e erra
59
Todas as referências nesta seção, a não ser quando indicado, são ao artigo "Report on face masks'
effectiveness for Covid-19 divides scientists" de Nicola Davis. Os dados completos encontram-se na lista de
referências ao final do trabalho.
60
“Until more evidence is delivered in either direction, that’s all advice can be based on – opinions.”
81
5 científico sólido. "As evidências de que precisamos antes de implementar intervenções públicas
7 nível populacional ou, pelo menos, de estudos de acompanhamento com comparação entre
8 grupos"62.
10 o relatório, dizendo que ele reforça o argumento de que o uso universal de máscaras seria uma
11 das medidas para possibilitar a reabertura gradual pós-lockdown. Chama atenção para as
12 evidências de que boa parte das transmissões acontecem por pessoas que ainda não apresentam
13 sintomas e sobre a qualidade do trabalho dos cientistas responsáveis pelo relatório, dissecando
15
16 4.2.2.5. Artigo 20 63
18 sobre as discussões do uso de máscaras pela população geral. O governo do Reino Unido e o
20 distanciamento físico não é possível, enquanto outros países, como a República Tcheca,
61
“There is in fact no good evidence that face coverings achieve this.”
62
“The evidence we need before we implement public interventions involving billions of people, must come
ideally from randomised controlled trials at population level or at least from observational follow-up studies
with comparison groups”.
63
Todas as referências nesta seção, a não ser quando indicado, são ao artigo "Covid-19: face mask rules more
political than scientific, says UK expert" de Nicola Davis. Os dados completos encontram-se na lista de
referências ao final do trabalho.
82
2 cirúrgicas e de pano, mostrou que o uso dos dispositivos diminui a distância de projeção das
3 gotículas em até 90%, mas que o encaixe inadequado no rosto pode causar a criação de
4 vazamentos que expeliriam as gotículas por grandes distâncias, para os lados e para trás.
6 sobre o uso de máscaras passou do terreno da ciência para o da política. Vestir uma máscara
8 seriedade da crise enfrentada. No entanto, não usar uma, também passou a ser um modo de
9 enviar uma mensagem. Kolstoe faz menção a reportagem do site Politico de título: “Vestir
11 Sobre as máscaras feitas em casa, Kolstoe declara: "Não acho que exista prejuízo em
12 usá-las, mas também não acho que exista vantagens em vesti-las - e como consequência disso
13 você vai começar a ver pessoas se colocando de um lado ou de outro. [Se existissem evidências
14 mostrando que as máscaras de pano] fazem uma grande diferença, então não estaríamos tendo
15 este argumento"64.
16
18 As máscaras não médicas aparecem enquanto uma opção factível no segundo guia, e se
19 sedimentam enquanto via responsável, ou seja, que não correrá o risco de comprometer o
21 em uma população.
23 datada de um dia após a emissão do documento pela OMS, a importância de qualquer tipo de
64
“I don’t think it does any particular harm to wear, them I don’t think it does any particular good to wear them
– and as a consequence you are going to get people jumping on either side of the bandwagon. [If there was
evidence showing cloth masks] make a massive difference, then we wouldn’t be having this argument.”
83
1 proteção que vise minimizar a disseminação de gotículas pelos que estão com suspeita de
2 infecção é ressaltada. Se uma pessoa em quarentena tiver que sair por qualquer motivo, até um
5 insistência da OMS em permanecer com a mensagem de que pessoas saudáveis não devem usar
6 máscaras no guia emitido no dia anterior. David Heymann, que já apareceu na primeira porção
7 de artigos analisados, apontado pelo jornal como ocupando importante posição dentro da OMS,
8 afirmou que fora do ambiente hospitalar, as máscaras servem só para a proteção das outras
11 transmissão por aerossol, insiste que o principal veículo de propagação são as gotículas que
12 entram em contato direto com os indivíduos, ou em contato indireto, por meio de superfícies
13 contaminadas.
14 Heymann volta ao argumento do falso senso de segurança, que o uso de máscaras não
16 no manejo do objeto. William Keevil, especialista consultado pelo jornal, é cético enquanto às
17 recomendações governamentais que encorajam o uso das máscaras, apontando que a medida
18 parece ser recomendada por líderes que não conseguem mostrar progresso de fato em relação
19 à contenção da pandemia.
21 diretamente com a emissão dos guias pela OMS. Heymann dá grande valor à variável do falso
22 senso de segurança, ao mesmo tempo em que parece sugerir que as máscaras seriam úteis
23 somente para impedirem a disseminação por aerossol. Ressurge a aparente contradição, por
24 parte da OMS, apontada na seção anterior de análise, de que o valor de proteção das máscaras
2 geral, que implica que a medida seria fruto de governos que não sabem o que fazer, entra em
3 aparente contradição com os exemplos de sucesso de países muito bem organizados em seus
4 esforços contra a pandemia, como Hong Kong e Taiwan. No entanto, pode sinalizar a crença
7 A reportagem do The Guardian (Artigo 17) traz um ainda mais detalhado exame dos
8 prós e contras do uso de máscaras pela população geral. O artigo traz a declaração de um
9 representante da ONU, instituição da qual a OMS faz parte, que sedimenta a realidade
11 da OMS em não recomendar ou uso, observada no mais novo guia emitido, e que isso estaria
12 motivado pelo medo de que os dispositivos faltassem aos profissionais de saúde. Ainda,
13 aparece como motivação principal para esta posição a falta de evidências científicas robustas
15 analisamos na seção anterior, a importância dada a este fator desponta como o grande ponto de
19 precaução e das consequências exponenciais que uma medida pode ter em sistemas complexos.
21 no princípio de precaução, criticando o que considera ser uma exigência por evidências
22 científicas que não teria lugar no contexto de urgência posto pela pandemia.
23 A situação de precarização dos trabalhadores de saúde tendo que lidar com a falta dos
24 EPIs apropriados é retratada na imprensa, que sugere que esses profissionais precisam não de
25 máscaras cirúrgicas, mas da melhor proteção, a fornecida pelos respiradores, como o N95.
85
1 Neste movimento a efetividade das máscaras cirúrgicas é colocada em xeque, mostrando que
2 elas não são suficientes para criar barreira para as menores partículas do novo coronavírus.
5 máscaras são delineadas e discutidas. Estudos, como o da The Royal Society, e exemplos, como
6 de Hong Kong, são trazidos para expor uma das premissas que sustentam o artigo: a de que o
7 uso de máscaras pela população geral é uma medida produtiva. Outra das premissas é que o
8 convencimento é mais efetivo que a fiscalização do uso dos dispositivos por meio de punições
9 e multas. Os autores apontam que para que um maior número de pessoas usem as máscaras,
10 obter o produto não pode ser difícil ou caro. Outro fator que comprometeu a adesão da
11 população à medida foi a má comunicação feita pelas autoridades no que diz respeito ao tema.
12 Recomendações contrárias ao uso das máscaras mudaram rapidamente assim que iam surgindo
13 evidências da realidade da transmissão por pessoas que não apresentam sintomas. Chamam
14 atenção para que a desinformação tende a se alimentar nas bolhas discursivas das redes sociais.
15 Este ponto parece elucidar a importância de uma comunicação clara e assertiva por
16 meio das autoridades, para que as medidas recomendadas durante a pandemia possam ter mais
17 força do que as informações confusas e imprecisas que povoam o discurso popular neste
18 contexto. O que ajuda a construir um argumento para que as instituições, como a OMS, sejam
19 tão claras quanto possível em suas declarações, evidenciando o que controla seu discurso. A
20 importância dessa comunicação assertiva é ainda sustentada pelo o que apontam os autores do
22 O terceiro grande fator elencado pelos professores é que a adesão tende a seguir um
23 regime de crescimento exponencial: quanto mais pessoas usam, mais pessoas tendem a ser
24 convencidas a usarem. Isso se daria por conta do que é apontado como sendo parte da natureza
1 popularização já estava sendo observado, argumentam, por estudo apontando que a maioria
4 O Artigo 14 trata da mesma questão levantada pela reportagem do The Guardian que
6 contexto de ambientes hospitalares. Apesar da OMS não recomendar o uso de máscaras pela
7 população geral, para frustração de grande parcela da comunidade científica, muitos membros
9 enfrentado pela organização: a dificuldade de coordenar a ação das milhares de pessoas que
10 compõem seu quadro de membros. O que explica tanto a demora em chegar em consensos,
11 como os que produziriam os guias sobre o uso de máscara, como os sinais divergentes emitidos
14 do uso de máscaras, ao citar revisão publicada no periódico Science que criticou a instituição
15 por sua postura em relação ao tema, apontando que, ao mesmo tempo em que exige sólidas
17 físico e higiene manual são feitas baseadas em estudos feitos nos anos 1930. Tal fato pode ser
18 usado para argumentar que a decisão pela não recomendação do uso de máscaras deu-se
20 escassez dos produtos, e que o apelo à falta de evidências científicas foi usado como
21 justificativa a posteriori. Medidas como distanciamento social e higiene manual poderiam ser
24 Encerrando-se esta seção, faz-se relevante uma recapitulação do que foi discutido, vital
25 para a próxima parte do trabalho. O que vimos, então, ao longo da análise das fontes não oficiais
87
1 foi a elucidação dos pontos relevantes que influenciaram as decisões da OMS e que pautaram
2 o debate público sobre o tema do uso de máscaras durante a pandemia de COVID-19, bem
3 como a recomendação de uso pela população geral por parte de governos e organizações de
4 saúde. Destacam-se esses pontos: a falta de evidências sobre a eficácia do uso em ambiente
5 comunitário, preocupações com a possível escassez dos dispositivos para uso dos profissionais
7 falso senso de segurança a partir do uso, falta de consistência nas mensagens da OMS sobre o
8 assunto, o papel da transmissão assintomática e uma possível eficácia que surgiria só a partir
1 5. ANÁLISE ÉTICA
3 O método delineado por Dittrich (2010) é descrito, pelo próprio autor, como um
4 instrumento simples para auxiliar àqueles que operam sob a égide da Análise do
7 usado para demonstrar uma possível aplicação do método, consiste em uma análise do
9 nossa análise ética, i.e., a postura da OMS sobre o uso de máscaras pela população geral durante
11 suas ramificações, quanto na natureza temporal das tomadas de decisão relativas ao objeto de
12 análise.
13 Ao passo que uma política governamental pode ser planejada por anos e ter uma
14 implementação gradual, decisões como as da OMS, que aqui analisaremos, devem ser feitas
15 em uma janela limitada de tempo e em um cenário de grandes incertezas. Estas diferenças não
16 interferem nas etapas da análise, que visa construir um quadro de variáveis em relação de custo,
18 novas informações que possam modificar como esta tríade se configura e a respectiva
21 raciocínios claros e apontamento das variáveis que podem ser afetadas pela emergência de
22 novas informações.
25 19”. Posteriormente, cada um dos guias disponibilizados pela OMS será comparado ao quadro.
89
2 Esta é a primeira etapa de análise e visa cumprir a função de delinear diferentes esferas
3 nas quais a medida analisada terá impacto. Pode ocorrer de a análise não precisar de uma
4 categorização nesta etapa, sendo o caso de que todas as consequências poderiam ser agrupadas
5 em um único grupo, sem que, com isso, a análise fosse prejudicada. Nosso objeto de estudo,
7 Economia.
8 A esfera da Saúde mostra-se evidente. Afinal, estamos tratando de uma medida a ser
9 tomada para frear uma pandemia, na qual as vidas e as condições orgânicas de milhões de
10 pessoas estão ameaçadas. A Economia, como tratamos na introdução, não é uma esfera de
12 de grandes proporções afeta a saúde de uma população, a economia irá, inevitavelmente, sentir
13 efeitos perturbadores.
14 Tabela 19
15
19 É a etapa na qual elencamos quem será afetado pelas consequências que delinearemos.
20 Sujeitos específicos ou grupos de pessoas? Os dois? Para nossa análise é possível apontar três
2 processo de tomada de decisão da OMS, como extensivamente vimos, tanto nos documentos
3 oficiais, quanto nas fontes secundárias. Afinal, o primeiro grupo é o de usuários preferenciais
10 Tabela 20
11
15 Esta é a etapa na qual se inicia a exploração dos efeitos das medidas sobre os
18 previstos de fato se verificam, mas isso não dispensa a tarefa de planejá-los (se quem faz a
2 esperada ao aconselhar a população geral para que faça uso dos dispositivos durante a duração
3 da pandemia. Aumento da demanda pelos itens, também, visto que a prática é nova e a grande
4 maioria das pessoas não contaria com um estoque doméstico de máscaras cirúrgicas ou
6 treinamento específico em relação aos dispositivos e como vesti-los, a população será educada
7 pela mídia ou por outras pessoas sobre como vestir adequadamente as máscaras, o que pode
9 Tabela 21
10
14 Neste momento da análise buscamos nos debruçar sobre o fato observado por Dittrich
16 movimento perpétuo das contingências presentes no mundo. No entanto, por mérito de análise,
17 recortes devem, necessariamente, serem feitos. Em nosso trabalho este recorte pode ser mais
19 vida normal é restabelecida. O uso de máscaras, afinal, foi uma medida discutida sempre neste
92
1 contexto e sua utilização pós-pandemia muito provavelmente não mais seria de domínio de
3 Em nossa análise, uma dessas consequências seria uma menor circulação do vírus a
5 dispositivos em ambientes públicos. Outra, a variável que somos levados a classificar como a
6 mais importante para OMS, é a possível falta do item aos profissionais de saúde. A demanda
7 pelo produto aumentaria e com isso poderia ocorrer uma perturbação na cadeia produtiva,
8 resultando em dois possíveis cenários: aumento do preço dos produtos a um ponto em que
11 É esperado, também, que o uso das máscaras pela população siga trajetória similar a de
12 uma linha de progressão exponencial: quanto mais pessoas usam, mais passam a usar. Assim
13 seria até o estabelecimento do comportamento enquanto hábito, sustentado pelo grande número
16 cenário em que os hospitais estão menos cheios e os profissionais de saúde sob menor pressão,
19 renda durante a pandemia, auxiliando parte da população a fazer frente a seus impactos
20 negativos na economia de um país. Este impacto pode ser menor se as máscaras representarem
21 um caminho para reabertura econômica, possibilitando um fluxo maior de pessoas pela cidade,
24 vem acompanhada de um risco comumente mencionado ao longo dos dados coletados nas
25 seções anteriores deste trabalho por aqueles contrários ou receosos à recomendação do uso dos
93
1 dispositivos pela população geral: que alguém vestindo o item possa incorrer em
4 contaminação.
6 também significar uma má capacitação dos indivíduos para manusearem os dispositivos, tanto
7 enquanto estiverem em seus rostos, quanto na hora de removê-los, seja para lavagem ou para
8 o descarte. Isto poderia constituir uma via para infecções pelo novo coronavírus.
9 Tabela 22
10
1 5.5. Fluxograma
4 as etapas de análise.
10 áreas (verde). Estas variáveis coloridas de verde, em especial, marcam a interdependência entre
11 os dois setores e como a população geral encontra-se sob controle de fatores de ambos os
12 campos.
15 do uso de máscaras”, por exemplo, diz respeito a um comportamento da População Geral, assim
16 como o “aumento da demanda pelos itens” relaciona-se fundamentalmente com o grupo dos
17 Fabricantes de Máscaras.
95
2 de análise. Como na tríade “aumento da frequência do uso de máscaras” que resulta em uma
3 “menor circulação do vírus” que, por sua vez, acarreta em “hospitais menos cheios”. As setas,
4 em conjunção com o esquema de cores, explicitam ainda mais a interdependência dos setores,
5 pois vemos sequências temporais entre variáveis agrupadas nas três cores diferentes.
9 5.6.1. Cruzamento dos dados produzidos na análise ética com o primeiro guia emitido pela
10 OMS
12 pandemia na maioria dos países, focava na argumentação de que a falta de evidências era o
13 principal ponto para a não recomendação do uso de máscaras pela população geral naquele
14 momento. Outros motivos dedutíveis são: custos desnecessários de algo que poderia não
15 proteger contra o vírus, aumento dos preços dos dispositivos e o falso senso de segurança que
17 Comparando ao quadro de variáveis que obtemos na seção anterior, podemos ver que
18 apesar da OMS também trabalhar nas duas categorias de consequências, Saúde e Economia, as
21 entrelaçam com a categoria da Saúde pois um aumento nos preços poderia comprometer o
24 O que aparece como fator mais relevante colocado pelo documento, i.e., a falta de
25 evidências, não consta em nosso quadro de análise ética. Esta opção de enfoque por parte da
96
1 OMS será discutida em maior detalhe posteriormente, mas, por ora, cabe apontar que o apelo
2 a este fator cumpre um papel de impedir que sejam feitas discussões mais detalhadas e
3 pertinentes nas áreas que aqui identificamos como Efeitos Seletivos e Sequência Temporal das
5 uma análise muito pequena e simplificada tendo em vista um assunto com relevância global
7 Vê-se, neste primeiro documento, a falta de uma linha clara de raciocínio para trabalhar
10 políticas públicas. A explicitação da ausência desta linha clara de raciocínio aparece como
11 produto de uma das funções do método que delineamos na seção de discussão deste. Sem uma
13 Dittrich, o guia não produz um modelo adequado para uma decisão que articule as diferentes
16
17 5.6.2. Cruzamento dos dados produzidos na análise ética com o segundo guia emitido pela
18 OMS
19 O segundo guia emitido pela OMS traz considerações mais elaboradas em relação ao
20 primeiro. O que aparecia como algo implícito no primeiro documento, é explicitado neste: o
22 com a falta de EPI para os profissionais de saúde, sedimentando a divisão entre dois grupos
23 afetáveis pelas consequências das medidas. No entanto, a emergência das máscaras não
24 médicas como uma alternativa considerável permite que a discussão avance no terreno de
1 a seção intitulada de "Advice to decision makers on the use of masks for healthy people in
2 community settings" na qual são listadas áreas importantes para os tomadores de decisão se
4 O uso não adequado dos dispositivos pela população geral, sem o treinamento que é
6 uso universal das máscaras, fator constatado como relevante para tomada de decisão em nosso
8 que não encontrava-se no primeiro documento. O fator responsável por isso, além do uso de
12 O quadro de variáveis que delineamos cria esta balança adaptável às novas evidências
15 vírus (Sequência Temporal de Consequência). Cabe analisar o peso desta consequência tendo
16 em vista o outro par composto por aumento da demanda pelos itens (Efeito Seletivo de
18 Consequências). Este tipo de raciocínio já encontrava-se presente no primeiro guia, ainda que
20 o que é um movimento produtivo para construção de um quadro mais completo, que auxiliará
1 5.6.3. Cruzamento dos dados produzidos na análise ética com o terceiro guia emitido pela
2 OMS
4 disponibilizado pela OMS traz um quadro mais completo das variáveis em jogo, tanto na
5 produção do documento, quanto nas realidades que seriam encontradas pelos tomadores de
7 encontradas no segundo documento: a transmissão por pessoas ainda sem apresentar sintomas
8 é uma realidade mais concreta, assim como o uso de máscaras não médicas para substituírem
10 ‘correndo atrás’ de vários países que internamente já adotavam a medida, alguns antes mesmo
12 Este guia traz algo mais próximo dos dados produzidos por nosso quadro de análise
14 “novas informações aparecendo todo dia” um modelo de decisão pode ser delineado. Este foi
15 sempre o papel da OMS enquanto órgão de referência: a criação de guias contendo informações
17 encontradas pelos tomadores de decisão em cada realidade particular. Vemos isto na detalhada
18 tabela contida na seção intitulada “Examples of where the general public should be encouraged
19 to use medical and non-medical masks in areas with known or suspected community
24 Comparando os guias com o modelo ético produzido neste trabalho vê-se uma
25 conformidade tardia às variáveis aqui estabelecidas, assim como uma igualmente tardia
99
4 5.7. Agrupando as análises éticas dos documentos, os dados de fontes secundárias e tecendo
6 O terceiro guia da OMS, como discutimos acima, está em consonância com o modelo
7 com o qual produzimos o quadro de variáveis por meio do qual considerações éticas são
8 possíveis de serem feitas. Existe um delineamento claro das categorias de consequências, dos
9 diferentes grupos afetados, bem como dos efeitos seletivos das consequências e sua sequência
11 tomadores de decisão.
13 uso de máscaras pela população geral durante a epidemia de COVID-19, no entanto, deve,
14 como fizemos aqui, acompanhar de forma longitudinal a emissão dos documentos. Por que as
15 orientações contidas no terceiro guia não encontravam-se no primeiro? Trata-se de uma questão
18 com outros materiais adicionais, a integralidade das análises produzidas neste trabalho.
19 Em nossas primeiras análises sobre os guias emitidos pela OMS, dois fatores pareciam
22 um primeiro momento, com a possível falta de EPIs aos profissionais de saúde. Os dados
23 secundários que obtivemos ao trabalhar com os artigos selecionados do The New York Times e
3 liderança esta que acarretaria em que suas sugestões assumissem um valor diretivo para os
4 tomadores de decisão ao redor do mundo, mesmo que com as diversas ressalvas de fatores a
7 contenção do vírus . Este reconhecimento aparece no primeiro guia pelo caráter diretivo e
8 sumário das orientações de que o uso de máscaras médicas pela população geral não era
11 com suas orientações detalhadas, não se encontra presente neste primeiro guia, o que fortalece
12 a hipótese de que a organização via sua participação no debate sobre o uso de máscaras pela
13 população neste primeiro momento como um risco ao fornecimento adequado do EPI aos
16 contrasta, à primeira vista, com a postura da OMS de apelo à falta de evidências científicas
17 sólidas da eficácia do uso de máscaras pela população geral para diminuir a velocidade de
20 documentos adquirem nas teias discursivas sociais, o apelo à solidez científica de determinada
21 medida ressoa com a posição de referência da OMS dentro da comunidade científica, na qual
22 o caráter diretivo das declarações da organização seria substituído por uma função de promoção
24 encontravam-se suprimidos sob a égide de que engajar-se neles seria adentrar em terreno
25 cientificamente nebuloso.
101
2 resolve-se ao longo dos guias pelo progressivo aumento de raciocínios do tipo custo-benefício,
3 elencando variáveis que tendem a acenar para um uso cada vez mais disseminado das máscaras
4 pelas populações de territórios nos quais a pandemia não esteja sob estrito controle. A ascensão
5 das máscaras não médicas como opção factível é um evento relevante para considerações sobre
6 não só a resolução deste dilema, mas também sobre como pensar relações de custo-benefício
8 A recusa sumária às máscaras não médicas presente no primeiro guia emitido pela OMS
10 medida. Estes dispositivos não precisam passar por um teste de qualidade rigoroso para
12 determinados ambientes públicos, quando utilizadas por todas as pessoas que ali se encontram.
13 Qualquer barreira física colocada entre o nariz e a boca de uma pessoa e o ambiente diminuirá
14 a dispersão de gotículas produzidas pelo indivíduo. É este tipo de raciocínio que encontra-se
15 no apelo da Professora Greenhalgh para que questões como esta sejam olhadas pelo prisma da
17 Por esta lógica o descarte de opções como a das máscaras não médicas não aconteceria
18 de imediato. Não é preciso que as máscaras forneçam proteção perfeita, ou perto disso, aos
19 usuários do público geral, se elas servirem para diminuir a quantidade de partículas de vírus
20 que um sujeito infectado espalha em um ambiente. Trata-se de uma situação identificável como
21 um Evento de Limiar (Threshold Event): "...eventos discretos provocados quando uma variável
23 seja, o indivíduo só será infectado pelo novo coronavírus se entrar em contato com uma
65
“... discrete events triggered when an observable continuous variable passes a known threshold” (p.1083).
102
5 seja reservados aos profissionais de saúde que passarão horas trabalhando em ambientes
8 de uso de máscaras e a diminuição de circulação do vírus que deve ser levada em conta pelos
10 território. A não abertura para tipos de considerações desta natureza nos primeiros guias, indica
11 a força do controle exercido pela variável de possível falta de EPIs aos profissionais de saúde
12 nas posições adotadas pela organização. A falta de comunicação sobre o peso dado a esta
13 variável desponta como um dos principais pontos resultantes pela falta de solidez dos primeiros
14 documentos.
15 Outra análise passível de ser feita sobre a postura da OMS na condução de seus guias
16 conta com a ajuda dos dados produzidos nas seções em que examinamos as fontes secundárias
17 de informação e nos ajuda a ver como o posicionamento da organização estava surtindo efeito
18 na opinião pública ao longo do intervalo entre a publicação do primeiro e terceiro guias. A falta
19 de uma postura coerente sobre como lidar com a questão, em oposição à clareza do paradigma
23 infectadas, que também eram observadas na mídia que, neste momento, promovia debates entre
1 6. CONCLUSÃO
4 trabalho. Elas são algumas e devem ser explicitadas. Existem as limitações de origem temporal:
5 nos debruçamos sobre um fenômeno que estava ainda acontecendo, assim, não existia uma
6 abundância de material teórico sobre, e, também, nos concentramos nos guias emitidos pela
7 OMS na primeira metade do ano de 2020, ignorando, em teor de análise, futuros documentos.
8 Existem, também, limitações por conta da natureza do objeto que estudamos. Não temos uma
9 via-régia de acesso aos determinantes precisos por trás das decisões que analisamos. Fizemos
10 o possível para construir um caso sólido, complementamos as análises dos documentos com
12 o que de fato aconteceu. No entanto, sem uma documentação extensa detalhando os bastidores
13 do processo de decisão, as variáveis com que trabalhamos terão sempre uma dimensão
14 especulativa.
15 Vamos, agora, às conclusões: as três seções do trabalho — a análise inicial dos guias,
18 decisão institucional. Vemos os problemas causados pela falta disto nas inconsistências
19 internas que aparecem nos dois primeiros guias disponibilizados pela OMS, na falta de um
20 discurso unificador na imprensa sobre como pensar a questão das máscaras e na não
21 conformidade do processo de elaboração dos guias com o modelo de custo, benefício e risco.
25 públicas. O método escolhido para a análise ética foi fundamental neste processo por trazer
104
2 elucidação das variáveis. Ao conduzir a análise ética, não só comparamos o processo de tomada
3 de decisão produtor de cada guia e a articulação entre os três momentos como compositores de
4 uma unidade maior com os dados produzidos na análise, mas com a própria lógica inerente
5 àquele modelo.
7 sobre a postura da OMS na condução das orientações sobre o uso das máscaras pela população
8 geral durante a pandemia de COVID-19. Podemos concluir, seguindo um quadro que ficava
9 mais claro a cada seção e etapa do trabalho, que a condução do processo não foi feita da forma
10 mais adequada possível: a importância dada para a necessidade de garantir EPIs aos
11 profissionais de saúde foi omitida do público, contradições internas aos documentos apareciam
13 contradição externa com outras medidas promovidas pela organização. Não se trata de julgar a
15 mas sim os meios pelos quais a posição era obtida e como ela era justificada frente à opinião
17 Os motivos por trás desta resposta não otimizada frente ao problema posto pelas
18 máscaras, não são objeto próprio deste trabalho, mas despontam como encaminhamentos para
19 outras pesquisas. Cabe avaliar, de um ponto de vista de planejamento estrutural, caminhos que
20 possam produzir uma entidade de referência global em saúde mais apta para coordenação de
23 Outros temas tangenciados por este trabalho e que merecem maior atenção em
4 Este último tema, em especial, parece de uma relevância ímpar e foi muito presente,
5 ainda que em momentos de forma implícita, na pesquisa aqui feita. Como a produção de
7 para produção destas? Tanto nos guias produzidos pela OMS, quanto nos discursos de
8 especialistas presentes nas fontes secundárias, não se encontra um caminho claro de como
9 promover esta articulação. Parece existir uma dicotomia entre o que é científico e o que é feito
10 em caráter de urgência, sem tentativas de procura de conciliação entre estes dois princípios,
11 salvo os apelos de alguns especialistas pela atenção aos princípios da teoria dos sistemas
12 complexos.
13 O modelo ético sob o qual produzimos nossa análise parece também ser útil para a
15 processo de tomada determinada decisão, quais grupos elas afetam e de que maneira se
17 novos dados podem ser ponderados em relação aos outros raciocínios de custo-benefício
19 do uso de máscaras como exemplo, a falta de evidências sobre a efetividade dos dispositivos
20 em um contexto populacional não deveria ser, em si, uma barreira à recomendação, mas deveria
23 fazer científico. Pelo contrário, a explicitação deste campo, sempre presente em algum grau
24 nas tomadas de decisão, por mais disponibilidade de evidências que se observe, abre caminho
25 para a produção de ciência dentro dele. Podemos, assim, propor outra sugestão, mais concreta,
106
1 para prosseguimento dos estudos nos temas aqui levantados: como o modelo ético de análise
3 evidências?
5 anticiência. Em termos gerais, o que funciona estaria do lado da ciência e o que não funciona
6 estaria contra ela. Isto, no entanto, serve para omitir as instâncias em que em nome da ciência
7 certas posturas disfuncionais acabam sendo perpetuadas, como o apelo por vezes falacioso a
9 ciência. Ainda, as tentativas de mostrar esses erros de procedimento são muitas vezes vistas
11 produção de uma ciência sólida, que consiga pensar de maneira crítica suas práticas e com a
15 de máscaras pela população geral: falta de comunicação adequada sobre o que está por trás de
17 No evento da história recente no qual a comunidade científica foi mais amplamente convocada
18 ao assumir um papel central na condução de políticas públicas, o resultado parece ser uma
19 alienação ainda maior dos cidadãos em relação ao processo de tomada de decisão sobre
66
Dois episódios ilustrativos: o estudo com problemas metodológicos claros que mostrava ineficiência e risco
da hidroxicloroquina publicado na The Lancet, cujos críticos eram encarados como partidários do uso do
remédio no tratamento da COVID-19, e apelos vazios aos protocolos científicos, colocando que a rapidez do
processo de desenvolvimento dos imunizantes os torna inseguros, feitos por aqueles contrários à liberação
emergencial de vacinas com o intuito de enquadrar os partidários do uso como anti científicos.
107
1 como são decididas quais medidas de distanciamento social estão em vigor e como operará a
2 distribuição de vacinas são alguns exemplos. A população de cada localidade deve ser o
3 máximo possível incluída nestas tomadas de decisões, caso contrário, espera-se que os níveis
5 Por fim, para sintetizarmos o que foi produzido neste trabalho: não existe uma posição
6 científica dissociada do mundo real, das contingências reais, dos riscos reais. Assim como não
7 existem posições éticas alheias a isto. Quando cientistas, especialistas e órgãos de referência
9 grande número de pessoas, não existe refúgio: tudo deverá ser pensado pela ótica de custo,
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