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Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

A RELIGIÃO DO ANTIGO EGITO

Remontam à pré-história os indícios da religião egípcia, quer na forma de objetos e de


estátuas representando deuses, quer na existência de túmulos que pressupõem já a crença na
vida eterna no Além. As primeiras figuras divinas apareceram na forma de animais, o que se
comprova pela relativa abundância que temos de imagens que datam da emergência do Egito
unificado, sendo um fenómeno posterior a preferência por figuras humanas, numa evidente e
sintomática antropomorfização dos poderes, que irão relegar a figuração de animais para uma
categoria de fauna sagrada subsidiária.
Como também ocorreu noutras civilizações pré-clássicas politeístas, os sacerdotes do
antigo Egito procuraram dar ordem e compreensão à perturbante multidão de divindades que
se iam acumulando, sincretizando e fundindo, e foram organizando famílias divinas com pai,
mãe e filho (por vezes uma filha), num esforço de sistematização simples e espontânea, pelo
que o nosso conhecimento mais estruturado e ordenado do panteão se deve a esse trabalho de
racionalizar o mundo divino povoado com inúmeros deuses.
Todas essas personagens, a quem chamamos deuses (netjeru), e a quem os Egípcios
atribuiram nomes que são ao mesmo tempo símbolos em que o divino se tornava acessível ao
crente, foram venerados, cultuados, acarinhados, respeitados, temidos, invocados ao longo de
milénios, até porque os Egípcios sentiam os seus deuses como fazendo parte deste mundo e
não situados num espaço do Além (embora também lá vivessem).
Um aspeto tradicional da religião egípcia é o sincretismo, um fenómeno resultante da
necessidade de robustecer uma divindade com os predicados de outra, conciliando assim a
unidade do divino com a pluralidade das suas formas, sem que exista verdadeiramente uma
fusão: mesmo quando se juntam dois deuses numa única figura, qualquer deles continua a ter
uma existência autónoma. Mas o sincretismo podia ainda juntar três deuses, sendo o exemplo
porventura mais divulgado o de Ptah-Sokar-Osíris, reunindo um deus ligado à criação (Ptah),
à morte (Sokar) e à ressurreição (Osíris), formando o ciclo completo.
A civilização do antigo Egito tinha um forte cariz religioso, e essa particularidade fica
bem demonstrada pelo facto de o faraó, senhor do Alto e do Baixo Egito, ser considerado um
deus vivo, fazendo da monarquia faraónica uma instituição religiosa. O rei devia governar de
acordo com as regras da maet, entre as quais avultavam arreigadas noções de justiça, verdade,
harmonia, ordem e equilíbrio. Era o cumprimento da maet que propiciava ao defunto atingir o
paraíso, para lá poder fruir a vida eterna – e a crença na vida eterna foi uma notável invenção
do antigo Egito, que levaria a outra: a crença na ressurreição.
Na arreigada esperança de poder fruir a vida eterna, depois de ter passado pelo tribunal
de Osíris e Maet, onde tinha lugar o julgamento final, e depois de ter ressuscitado para poder
alcançar o paraíso, o defunto tornava-se um ser luminoso, um akh, robustecido pelo seu ka e
pelo ba, estando então apto para a grande recompensa que a religião egípcia reservava aos que
tinham cumprido a maet no quotidiano – tornar-se ele próprio um deus!
Ao longo do tempo foram-se acumulando as mais diversas crenças de vida eterna e as
conceções acerca do outro mundo não eram idênticas em todos os locais. Mas num ponto as
ideias sobre o paraíso úbere e ditoso e o que o defunto lá desejava fazer estavam de acordo,
como se lê no capítulo 110 do «Livro dos Mortos»: «Aqui como e bebo, aqui trabalho e aqui
ceifo, aqui copulo e faço amor».
Entre os deuses relacionados com os funerais ou com o culto fúnebre avultam Anúbis
e Sokar, e no outro mundo reinava Osíris, o senhor da eternidade, pai de Hórus, o grande deus
da realeza – e o rei do Egito é um Hórus vivo, filho de Ré, que reina sobre a terra, mantendo-a
a funcionar segundo as normas justas da maet.
Também as deusas tinham papel de relevo, a começar por Ísis, sendo muito solicitadas
deusas como Hathor, Sekhmet, Bastet, Mut, Neit, Serket, Taueret, Nut…
Entre as divindades ligadas à criação do mundo e da humanidade destacam-se Atum
(por masturbação), Ptah (pela palavra), Khnum (pelo manuseamento do barro), Amon (com
várias formas de criar) e Aton com a sua criação diária, visto essencialmente como uma fonte
de luz, de calor e de vida. Mas há outras divindades que sem estarem diretamente ligadas aos
fenómenos da criação ganharam notoriedade devido ao seu papel «intelectual» (Tot e Sechat),
«guerreiro» (Montu e Sekhmet) «político» (Hórus), «familiar» (Osíris e Ísis), «sexual» (Min),
«carinhoso» (Bastet), «apotropaico» (Hathor e Bés), «vil» (Set)…

Luís Manuel de Araújo


Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

Bibliografia específica

Luís Manuel de ARAÚJO, O Egito Faraónico: Uma civilização com três mil anos, Lisboa: Arranha-
céus, 2015.
Jan ASSMANN, Maât. L'Égypte Pharaonique et l'Idée de Justice Sociale, Collège de France, Ed.
Julliard, Paris, 1989.
José Nunes CARREIRA, Filosofia Antes dos Gregos, Mem Martins: Publ. Europa-América, 1994.
Jean-Pierre CORTEGGIANI, L'Égypte Ancienne et ses Dieux. Dictionnaire illustré, Paris: Librairie
Arthème Fayard, 2007.
Françoise DUNAND e Christiane ZIVIE-COCHE, Dieux et Hommes en Égypte, 3000 av. J.-C.-395
apr. J.-C. Anthropologie religieuse, Paris: Armand Colin, 1991.
Henri FRANKFORT, Reyes y Dioses. Estudio de la Religión del Oriente Próximo en la Antigüedade
en tanto que integración de la sociedad y la naturaleza, Madrid: Alianza Editorial, 1983.
George HART, A Dictionary of Egyptian Gods and Goddesses, Londres, Nova Iorque: Routledge &
Kegan Paul, 1986.
Erik HORNUNG, The Ancient Egyptian Books of the Afterlife, Ithaca: Cornell University, 1999.
Erik HORNUNG, Conceptions of God in Ancient Egypt. The One and the Many, Londres, Melbourne:
Routledge & Kegan Paul, 1983.
Georges POSENER, De la Divinité du Pharaon, Cahiers de la Société Asiatique, 15, Paris: Imprimerie
Nationale, 1960.
José das Candeias SALES, As Divindades Egípcias: uma chave para a compreensão do Egipto antigo,
Lisboa: Editorial Estampa, 1999.
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

MITOS DA CRIAÇÃO NO ANTIGO EGITO

No antigo Egito, com a sua religião politeísta e tolerante, não houve, nem podia haver,
uma única modalidade para a criação do mundo, sendo conhecidas várias, a mais antiga das
quais é a de Heliópolis (Iunu). Aqui, o deus Atum, que se tinha criado a si próprio sobre uma
colina do oceano primordial (o Nun caótico), masturbou-se para gerar o par Chu (o ar seco) e
Tefnut (o ar húmido), vindo depois o resto da Enéade (o grupo de nove deuses de Heliópolis):
Chu e Tefnut geraram Geb (a terra) e Nut (o céu), e destes vieram quatro deuses, Osíris e Ísis,
Set e Néftis. Neste grupo final, bisnetos do grande Atum, avultam Osíris (deus bom, irmão e
esposo de Ísis) e Set (o símbolo da malvadez). Outra variante do mito punha o deus Atum a
escarrar (ichech) para criar Chu, e a cuspir (tefen) para gerar Tefnut.
Venerado também em Heliópolis, o deus solar Ré acabaria por suplantar Atum como
criador da Enéade, tendo das suas lágrimas aparecido os homens, jogando com a prosódia que
fazia Ré chorar (remi), para com as lágrimas (remit) criar a humanidade (remetj). O deus solar
fundiu-se depois com o demiurgo heliopolitano para formar Ré-Atum, existindo ainda outros
sincretismos muito divulgados como Amon-Ré, ou Ré-Horakhti, sendo as suas formas solares
diferenciadas na alvorada (Khepri) e no ocaso (Atum).
Em Mênfis (Mennefer ou Ienebhedj) era venerado o deus Ptah, visto como criador do
cosmos pela força da palavra divina, usando o coração e a língua como eficaz demiurgo, mas
também, segundo outras versões, por ação do seu trabalho de metalúrgico.
Em Elefantina (Abu), capital da 1.ª província do Alto Egito (Assuão), o deus Khnum
tinha criado os seres divinos e humanos a partir do barro da terra, trabalhando no seu torno de
oleiro como exímio ceramista para produzir figuras animadas pelo respetivo ka.
Conhecem-se outros mitos de criação em Tebas-Uaset (Amon) e Amarna-Akhetaton
(Aton), este último a assumir-se como uma criação diária, manifestada na luz e no calor, por
empenhamento pessoal e fundamentalista do controverso rei Akhenaton.

Luís Manuel de Araújo


Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

Bibliografia específica

Luís Manuel de ARAÚJO, Erotismo e Sexualidade no Antigo Egito, Lisboa: Edições Colibri, 2012.
Luís Manuel de ARAÚJO, Mitos e Lendas do Antigo Egito, 2.ª edição revista e aumentada, Lisboa:
Escolar Editora, 2017.
José Nunes CARREIRA, Mito, Mundo e Monoteísmo, Mem Martins: Publ. Europa-América, 1994.
François DAUMAS, Les Dieux de l’Égypte, Paris: Presses Universitaires de France, 1982.
José das Candeias SALES, As Divindades Egípcias: uma chave para a compreensão do Egipto antigo,
Lisboa: Editorial Estampa, 1999.
Rogério SOUSA, O Livro das Origens. A Inscrição Teológica da Pedra de Chabaka, Lisboa: Funda-
ção Calouste Gulbenkian, 2012.
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

OS TEMPLOS E O CLERO DO ANTIGO EGITO

Os primeiros santuários pré-dinásticos e proto-dinásticos datando da emergência do


poder faraónico no país do Nilo são os protótipos distantes dos futuros templos, os quais se
podem diferenciar como templos funerários e templos solares (cujas funcionalidades se esta-
belecem, no essencial, durante o Império Antigo), e templos divinos que continuarão com um
esquema básico até à Época Greco-romana: pilone, pátio hipostilo, sala da barca e santuário,
onde era venerada a estátua divina. Um templo egípcio tinha a envolvê-lo celeiros e armazéns,
açougues e padarias, além de pastagens com muitas cabeças de gado graúdo e miúdo, e férteis
campos de cultivo onde laboravam centenas de camponeses.
Os templos eram animados pela presença de muitos sacerdotes (hemu-netjer) e outros
servidores do deus, que incluiam escribas e guardas, além de artesãos ligados à produção de
alfaias litúrgicas e objetos funerários, e especialistas na preparação dos alimentos e bebidas
destinados ao deus – isto é, aos membros do clero, onde se incluíam mulheres que prestavam
serviço nos templos em rotatividade, tal como os sacerdotes. De resto, muitas dessas mulheres
que ciclicamente colaboravam na celebração do culto como cantoras (chemait), músicas (hesit
ou ihit) ou dançarinas (khebait), eram esposas de sacerdotes – e tanto eles como elas, depois
de terem cumprido o seu mês de serviço no templo, regressavam às suas atividades normais
fora do espaço sagrado.
São conhecidos, com razoável detalhe, os sistemas de funcionamento e hierarquia dos
cultos de Ré (cujo chefe tinha o título de uer-maá, ou «grande vidente», e que, de uma forma
sintomática, também foi o título usado pelo sumo sacerdote do clero de Aton, em Akhetaton-
Amarna), de Tot (cujo sumo sacerdote era o «grande dos cinco», isto é, o uer-diu), de Ptah
(conduzido pelo seu líder que era o «grande chefe dos artesãos», ou uer kherep-hemut), e de
Amon, que no Império Novo dispôs de um influente e rico corpo sacerdotal onde pontificava
o hem-netjer tepi en Amon, o sumo sacerdote de Amon, ou primeiro sacerdote, expressão que
clarifica melhor a forma egípcia do que a forçada e ínvia (e de resto bastante inexpressiva em
contexto egípcio) tradução grega de «primeiro profeta». Na verdade, o rei do Egito era o sumo
sacerdote de todos os cleros, e era ele quem devia oficiar perante todos os deuses, se bem que,
na impossibilidade prática de o fazer, fosse o pontífice máximo de cada corpo sacerdotal a
representar o monarca inubíquo no seu templo, cumprindo a apropriada liturgia.
O clero de Amon, quando começou a sua ascensão no Império Médio, e, sobretudo, no
Império Novo, quando se viu cumulado de riquezas, deparou-se com a questão da emergência
do mundo e da vida – aparentemente Amon tinha chegado tarde, já tudo estava criado… Mas
com o empenhamento do seu clero, o deus tebano, «rei dos deuses», apropria-se das faculda-
des e caraterísticas demiúrgicas de outras divindades de mais antiga projeção, sem no entanto
as destruir; pelo contrário, precisava até delas para afirmar o seu poder criador e omnipotente,
não deixando de ser o «único» – como «únicos» eram os outros deuses.
Só em consequência das cartas de imunidade outorgadas aos domínios dos templos a
partir do fim do Império Antigo é que se deteta a formação de um verdadeiro clero, mas ao
longo do Império Médio ele terá apenas uma importância secundária na vida social do Egito,
podendo afirmar a sua presença mais atuante no culto dos mortos. Em todo o caso, como
noutras situações, também entre o clero egípcio os filhos vão herdando as funções dos pais, e
desta forma se foi estabilizando o serviço litúrgico, provando alguns documentos a existência
de verdadeiras dinastias ao serviço de determinados templos. Várias listas de pagamentos por
serviços efetuados nos templos de uma certa grandeza revelaram que os sacerdotes recebiam,
em espécie, cântaros de cerveja e pão. Será apenas no Império Novo que os reis irão cumular
de bens os templos dos deuses e se constituirão realmente cleros poderosos, a começar pelo de
Amon, sediado em Tebas-Uaset (Karnak).

Luís Manuel de Araújo


Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

Bibliografia específica

Luís Manuel de ARAÚJO, O Clero do Deus Amon no Antigo Egipto, Lisboa: Edições Cosmos, 1999.
Luís Manuel de ARAÚJO, «Clero» e «Sacerdotes», Dicionário do Antigo Egipto, Lisboa: Editorial
Caminho, 2001, pp. 209-211 e pp. 757-759.
John BAINES e Jaromír MÁLEK, Atlas of Ancient Egypt, Oxford: Phaidon Press, 1981.
Paul BARGUET, Le temple d'Amon-Rê à Karnak. Essai d'exégèse, Cairo, Institut Français d'Archéo-
logie Orientale, 1962.
André BARUCQ e François DAUMAS, Hymnes et Prières de l'Égypte ancienne, Paris: Les Éditions
du Cerf, 1980.
Hermann KEES, Ancient Egypt. A Cultural Topography, Chicago, Londres: University of Chicago
Press, 1977.
Jean-Marie KRUCHTEN, Les Annales des Prêtres de Karnak (XXI-XXIIemes dynasties), et autres textes
contemporains relatifs à l’initiation des prêtres d’Amon, Lovaina: Orientalia Lovaniensia Analecta,
Departement Oriëntalistiek, 1989.
Saphinaz-Amal NAGUIB, Le Clergé Féminin d’Amon Thébain à la 21e dynastie, Lovaina: Peeters,
1990.
José das Candeias SALES, «Culto», Dicionário do Antigo Egipto, Lisboa: Editorial Caminho, 2001,
pp. 257-260.
Serge SAUNERON, Les Prêtres de l’Ancienne Égypte, edição revista e completada por Jean-Pierre
Corteggiani, Paris: Éditions Persea, 1988.
Serge SAUNERON, «Temple divin», em Georges Posener (dir.), Dictionnaire de la Civilisation
Égyptienne, Paris: Fernand Hazan, 1970, pp. 281-282.
Ian SHAW e Paul NICHOLSON, «Temple», em The British Museum Dictionary of Ancient Egypt,
Londres: The British Museum Press, 2008, pp. 323-324.
Steven SNAPE, Egyptian Temples, Princes Risborough: Shire Publications, 1996.
Rogério SOUSA, Iniciação e Mistério no Antigo Egipto, Lisboa: Edições Ésquilo, 2009.
Richard WILKINSON, The Complete Temples of Ancient Egypt, Cairo: The American University in
Cairo Press, 2005.
A HIERARQUIA SACERDOTAL AMONIANA

Alto clero
Os hemu-netjer (servidores do deus):
— Sumo sacerdote de Amon (hem-netjer tepi en Amon)
— Segundo sacerdote de Amon (hem-netjer 2-nu en Amon)
— Terceiro sacerdote de Amon (hem-netjer 3-nu en Amon)
— Quarto sacerdote de Amon (hem-netjer 4-nu en Amon)
— Pai-divino de Amon (it-netjer en Amon)

Baixo clero
— Sacerdote puro (ueb) ou de «mãos puras» (ueb aui)
— Sacerdote leitor (kheri-hebet)
— Sacerdote imi-seté
— Sacerdote horólogo (uenet)
— Sacerdote funerário (sem ou setem)

Era o sumo sacerdote que assegurava a celebração do culto em nome do faraó e que
superintendia na administração dos bens do templo, transferindo essas funções para o segundo
sacerdote quando estava ausente. Por sua vez era assessorado pelo terceiro sacerdote e quarto
sacerdote, e por outros membros do clero, nomeadamente os pais-divinos. Este título aparece
também como it-netjer meri-netjer, ou seja, «sacerdote pai-divino, amado do deus».
No baixo clero integravam-se os sacerdotes «puros» ou uebu (plural de ueb), os quais
estavam incumbidos de cuidar dos instrumentos do culto e dos objetos sagrados, mantendo os
templos limpos, cuidando da estátua do deus (lavando-a, alimentando-a, incensando-a e ves-
tindo-a), ou da barca sagrada processional. Os sacerdotes leitores (kheriu-hebet) tinham por
função ordenar as cerimónias segundo o ritual e recitar em voz alta os hinos sagrados durante
o culto, lendo textos, como o seu título indica; era a eles que se atribuíam poderes mágicos
pelo conhecimento das fórmulas contidas nos rituais. Dirigia-os um chefe, o heri-tep. Quanto
ao cargo de imi-seté, julga-se que era desempenhado por pessoas a quem competia o trans-
porte de objetos dentro do templo. Os sacerdotes horólogos calculavam as horas destinadas a
cada cerimónia pela observação do curso diurno do Sol e da marcha noturna das estrelas.
Os membros do baixo clero estavam divididos em quatro grupos, sendo cada grupo
designado em egípcio por sá (correspondentes às filés do período ptolemaico), que assumiam
alternadamente durante um mês por estação do ano os seus encargos religiosos, após o que
regressavam às suas funções habituais do dia-a-dia, não se distinguindo em nada dos «laicos»
porque na verdade não havia uma classe profissional, todos eles eram, em suma, funcionários.
Assinale-se ainda a existência dos sacerdotes funerários que se dedicavam à importante tarefa
de providenciar o culto aos mortos, sem o qual a vida no Além não se concretizaria. Inclui-se
neste grupo o sacerdote sem ou setem (aparecendo por vezes ao lado dele o sacerdote leitor
para que fossem lidas passagens do ritual) e o sacerdote ut ligado às tarefas de mumificação e
embalsamamento, atividades de suma importância ritual que eram, em geral, realizadas em
espaços anexos aos templos.
ICONOGRAFIA DAS DIVINDADES EGÍPCIAS

Identificação das imagens divinas, com tradução dos textos hieroglíficos que estão à frente de
cada figura, as quais se reconhecem pela simbologia que exibem na cabeça ou nas mãos.

1 – Amon-Ré, senhor dos tronos das Duas Terras


2 – Anuket, senhora da Terra do Arco (Núbia)
3 – Anúbis (Anupu), que está sobre a sua colina
4 – Bastet, senhora do céu, dama das Duas Terras e de todas (as terras)
5 – Chu, filho de Ré
6 – Ré-Horakhti, deus grande
7 – Herichef (o que está sobre o seu lago; o lago Faium)
8 – Hathor, senhora das turquesas (referência às minas do Sinai)
9 – Hórus, o Antigo, filho de Ré
10 – Horpakhered, o grande de Amon (Harpócrates)
11 – Ísis, a grande mãe divina
12 – Khnum-Ré, senhor da catarata
13 – Khonsu, (que está) em Uaset (Tebas, Lucsor)
14 – Montu, senhor de Uaset (Tebas, Lucsor)
15 – Mut, senhora do céu
16 – Nefertum, o que protege as Duas Terras
17 – Neit
18 – Nekhbet, (senhora) da Branca (o Sul, Alto Egito)
19 – Néftis, senhora do céu, dama dos deuses
20 – Anhur, filho de Ré (Onúris)
21 – Osíris, senhor da eternidade
22 – Uadjit, mãe que dá a vida
23 – Ptah
24 – Satet, senhora de Abu (Elefantina, Assuão)
25 – Sobek, deus grande
26 – Sekhmet, a grande, senhora das Duas Terras, a amada
27 – Serket
28 – Set, o Ombita (de Ombos, no Sul do Egito)
29 – Sokar
30 – Tot (Djehuti)

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