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DO MITO AO LÓGOS

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O mito de NARCISO
Era filho do deus-rio Cefiso, e de uma
Ninfa. Desprezava o amor, embora as
Ninfas o perseguissem, enamoradas
dele. Houve uma, Eco, que se
apaixonou de tal maneira pelo belo
rapaz que emagreceu a ponto de só
restarem dela os ossos e a voz. O mito
narra a vingança de Nêmesis (filha da
noite por quem Zeus se apaixonou) em
nome das Ninfas desprezadas por
Narciso. Um dia, fez com que ele
contemplasse o reflexo de seu rosto
nas águas de uma fonte. Capturado
pela imagem especular, Narciso ali
permaneceu até morrer. No lugar onde
morreu brotou uma flor.

Caravaggio [Public domain or Public domain


Flor de Narciso

https://pixabay.com/pt/abr%C3%B3tea-nazisse-flor-amarelo-324106/
Mýthos: palavra proferida, discurso,
narrativa; rumor; notícia que se espalha,
mensagem; conselho; prescrição.

O verbo mythéomai significa: dizer, conversar,


contar, narrar, anunciar (um oráculo),
designar, nomear, dizer a si mesmo, deliberar
em si mesmo.
No decorrer da história, mýthos passou a
designar o lendário e irreal, ficção, mentira, relato
não histórico. Nessa acepção, mýthos opõe-se a
lógos.

In: Marilena CHAUÍ, “Glossário de termos gregos” In: Introdução à História da Filosofia
1

https://www.youtube.com/watch?v=r2O6rbGDxfE
Lógos: vem do verbo légo (no infinitivo: légein) e
reúne vários significados que em português estão
separados:
1) reunir, colher, contar, enumerar, calcular;
2) narrar, pronunciar, proferir, falar, dizer,
declarar, anunciar, nomear claramente, discutir;
3) pensar, refletir, ordenar
Lógos é palavra, o que se diz, sentença, máxima,
pensar, inteligência, razão, faculdade de
raciocinar, argumento, juízo.

Lógos dá a razão, o sentido, o valor, a causa, o


fundamento, o ser da coisa.

In: Marilena CHAUÍ, “Glossário de termos gregos” In: Introdução à História da


Filosofia 1
A consciência mítica como estrutura do
ser no mundo
O mito está ligado ao primeiro conhecimento que
o homem adquire de si mesmo e de seu
contorno: mais ainda, ele é a estrutura deste
conhecimento (...) Pelos mitos, o mundo até
então privado de sentido, adquire sentido. A
consciência mítica é estrutura desta distância
tomada, deste jogo entre o homem e o mundo”.
Georges GUSDORF – Mito e Metafísica
Theogonia:narrativa da geração dos deuses. Composta por
théos [deus, o divino] e gonía [ação de engendrar e
procriar por fecundação]

Eia! pelas Musas comecemos, elas a Zeus pai Sim bem primeiro nasceu Caos,
hienando alegram o grande espírito no Olimpo depois também
dizendo o presente, o futuro e o passado Terra de amplo seio, de todos sede
vozes aliando... Brilha o palácio do pai irresvalável sempre,
Zeus troante quando a voz liral das deusas dos imortais que tem a cabeça do
espalha-se, ecoa a cabeça Olimpo nevado Olimpo nevado,
e o palácio dos imortais... e Eros: o mais belo entre deuses
Dizei como no começo Deuses e Terra
imortais,
nasceram, solta-membros, dos deuses todos
os Rios, o Mar infinito impetuoso de ondas, e dos homens todos
os Astros brilhantes e o céu amplo em cima... ela doma no peito o espírito e a
Teogonia de Hesíodo prudente vontade...
[tradução de Jaa Torrano] Teogonia - Hesíodo
Caos

Gaia Tártaro Eros Érebo Nix

Urano Tânatos

Titãs E
Titanidas

Cronos e
Réia

Zeus
Kosmogonia
Explicação racional sobre a origem do kósmos através das relações sexuais entre os deuses ou os
elementos naturais enquanto forças vitais que engendram ou procriam todos os seres.

“Para os gregos, mito é um discurso


pronunciado ou proferido para ouvintes que
recebem como verdadeira a narrativa,
porque confiam naquele que narra; é uma
narrativa feita em público, baseada, portanto
na autoridade e confiabilidade da pessoa do
narrador”.

Marilena CHAUÍ – Convite à Filosofia


O Mito e a Consciência Mítica

• Mais do que explicar a realidade, a função do


mito é acomodar e tranquilizar o homem num
mundo desconhecido, portanto, assustador.
• O homem recorre ao deuses para sossegar
suas aflições e angústias.
• Nesse sentido, o mundo marcado pelo mito
valoriza o sagrado (aquilo que diz respeito aos
deuses e herois) demarcando modelos para as
atividades humanas.
• O real é interpretado e significado pela
consciência mítica, comunitária, coletiva.
• A consciência mítica é marcada pela aceitação
dos mitos e das prescrições dos rituais. A
adesão ao mito se dá através da fé e da crença.
• No mito, há unidade entre o pensamento e a
ação.
Do Mito ao
Pensamento Filosófico (Lógos)
MITO FILOSOFIA

Narra como as coisas eram Explica como e por que das coisas, os
no passado longínquo e fabuloso. modos de ser, através da totalidade do
tempo (passado – presente).

Volta-se para o antes de. Explica a produção natural das coisas por
elementos causais naturais e impessoais.

Narra a origem através das gerações e


rivalidade e alianças de forças. Não admite contradições, incompreensão
e fábulas.

Trabalha com contradições, com o Exige que toda explicação seja coerente,
fabuloso, com o incompreensível. lógica e racional.

Pressupõe a confiança na autoridade A autoridade da explicação não está no


do narrador (poeta-rapsodo). filósofo, mas na razão.
REFERÊNCIA:
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:
Introdução à Filosofia. 3ª ed. Revista. São Paulo: Moderna, 2003.

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