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Filosofia Geral e do Direito ​Filosofia

Geral e do Direito

Juliano Carneiro Veiga

julianocarneiroveiga@hotmail.com

Conteúdo Programático ​Conteúdo


Programático

1. Abordagem filosófica, a partir de conceitos e história da filosofia.

2. Liberdade, poder, política e sua correlação com o Direito.

3. Vicissitudes entre democracia e igualdade desde a antiguidade até

a contemporaneidade e sua influência na formação do homem.

4. Relação entre ciência, verdade e método.

5. Racionalismo, Irracionalismo e suas correntes filosóficas: materialismo

e idealismo.

6. Relação entre filosofia ética e moral.

7. Problemas e questões fundamentais de Filosofia geral e do Direito.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA:
MONTALVÃO, Bernardo. Manual de filosofia e teoria do direito. Salvador: Juspodivm, 2018.

ADEODATO, João Maurício. Filosofia do direito: uma critica a verdade na ética e na ciência. 5. ed. São Paulo:
Saraiva, 2013.

MONTALVÃO, Bernardo. Noções gerais de direito e formação humanística: resolução n. 75 do CNJ. Salvador:
Juspodivm, 2018.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

LAFER,Celso. Filosofia e teoria geral do direito: ​Um Percurso No Direito No Século XXI. V. 3. São Paulo: Atlas, 2015.

MONTALVÃO, Bernardo. Resolução n. 75 do CNJ: descomplicando a filosofia do direito. Salvador: Juspodivm, 2017.

MONTALVÃO, Bernardo. Manual de filosofia do direito. Salvador: Juspodivm, 2017.

SANTOS, André Leonardo Copetti; Doglas Cesar Lucas. Sobre a Autonomia da Diferença na Filosofia do Direito e suas
Repercussões na Razão Prática Jurídica. Revista Novos Estudos Jurídicos, n. 21, v. 3. 2016. p. 846-878. Disponivel em:
<​https://app.vlex.com/#BR/search/jurisdiction:BR,XM,EA/filosofia+do+juridica/vid/701527409​>.

TOBIAS, José Antonio. Filosofia do Direito. 2. ed. Jardim Leme: JHMizuno, 2016. Disponível em:
<​https://app.vlex.com/#BR/search/jurisdiction:BR,XM,EA/filosofia+do+direito/BR/sources/21017​>.

MENEZES, Joyceane Bezerra de; MARTINS, Rogério Parentoni. Revista Novos Estudos Jurídicos, Itajai, v. 13, n. 18. Disponível:
<​https://app.vlex.com/#BR/search/jurisdiction:BR,XM,EA/filosofia/p2/vid/522804134​>.

TROTTA, Wellington. O pensamento político de Hegel à luz de sua filosofia do direito. Rev. Sociol. Polit., Fev 2009, vol.17, no.32, p.9-31. Disponível em:
<​http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-44782009000100002&lng=pt&nrm=isso​>.

OPETTI NETO, Alfredo. Pragmatismo em filosofia, realismo em direito e o duplo assalto à economia política clássica: as bases do First Law and
Economics Movement na Progressive Era Americana (1880-1930). Sequência (Florianópolis), Dez 2012, no.65, p.209-239. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-70552012000200010&lng=pt&nrm=iso

Unidade 1:

Abordagem filosófica, a partir de


conceitos e história da filosofia.
1.1 O que é a Filosofia?

1.1 O que é a Filosofia?

- Filo = amigo + Sofia = sabedoria ou conhecimento

A filosofia apresenta-se como uma busca continuada pelo saber

A filosofia se preocupa com o universal (visão de totalidade) e não com o particular


(não contingência no tempo + espaço).

O objetivo da filosofia é perseguir a verdade (aletheia), despertando a reflexão


crítica frente à realidade

1.1 O que é a Filosofia?

A filosofia segundo alguns filósofos:

Platão: A filosofia é um saber verdadeiro que deve ser usado em benefício dos seres humanos

Descartes: A filosofia é o estudo da sabedoria, conhecimento perfeito de todas as coisas que os humanos
podem alcançar para o uso da vida, a conservação da saúde e a invenção das técnicas e das artes

Kant: A filosofia é o conhecimento que a razão adquire de si mesma para saber o que pode conhecer
e o que pode fazer, tendo como finalidade a felicidade humana

Marx: A filosofia, após passar muito tempo apenas contemplando o mundo, passa agora a conhecê-lo
para transformá-lo, no intuito de trazer justiça, abundância e felicidade para todos

Espinosa: A filosofia é um caminho árduo e difícil, mas que pode ser percorrido por todos que
desejarem a liberdade e a felicidade

1.1 O que é a Filosofia?

Definições de filosofia segundo Marilena Chauí (Convite à filosofia):

a) Visão de mundo de um povo = filosofia é o estudo dos conjuntos de ideias,


valores e práticas pelos quais uma sociedade compreende e apreende o mundo e a
si mesma

b) Sabedoria de vida = filosofia como uma contemplação do mundo e dos homens para
nos conduzir a uma vida justa, sabia e feliz

c) Esforço racional para conhecer o universo como uma totalidade orde- nada e
dotada de sentido (elemento racional o distingue da religião (fé))

d) Fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas =


conhecimento dos princípios que visam ser racionais e verdadeiros

1.1 O que é a Filosofia?

Definição analítica de filosofia:

a) Lógica = Pensamento (formal – matemática + material - metodologia)

b) Especulativa = Olhar para a realidade (natureza – cosmologia e antro- pologia +


além da natureza – ontologia (ser) e gnosiologia (conhecer))

c) Prática = práxis (ética – moral e Direito + estética – arte/belo)

1.2 Atitudes iniciais do filosofar

1a Admiração: inquietação/perplexidade frente a alguma coisa que se


desconhece (consciência da ignorância + atitude problematizadora)
2a Dúvida metódica: questionamento sobre o ato de questionar/pensar (retorno do
pensamento sobre si mesmo - autocrítica)

A postura crítico-filosófica implica em agir de maneira negativa e positiva:


– ​Negativa: negação do senso comum (preconceitos, prejuízos, etc.) ​– ​Positiva:
interrogar e questionar constante dos porquês das coisas

1.3 Filosofia do/no Direito

“A filosofia do Direito não é disciplina jurídica, é a própria filosofia, enquanto


voltada à realidade jurídica” (REALE, Miguel. A Filosofia do Direito. São Paulo:
Saraiva, 1999).

Por ser um fenômeno universal, o Direito é suscetível de indagação Filosófica.

“A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo” (Merleau-Ponty)

“Não há filosofia que se possa aprender; só se pode aprender a filosofar” (Immanuel


Kant)

1.3 Filosofia do/no Direito


Distinção: senso comum, ciência e filosofia

a) Senso comum ou conhecimento vulgar: assistemático, desorganizado, não


demonstrável – opinião/doxa – matriz (pré-filosófico e pré-científico)

b) Ciência: busca do conhecimento sistematizado, seguro e ordenado,


comprometido com a comprovação desse conhecimento por meio do método
científico (problema – hipótese – experimento – conclusão) - recortes do real

c) Filosofia: busca dos princípios e das causas primeiras em uma visão de


conjunto/integridade (não fragmentação do real) – busca os funda- mentos do
conhecimento e do agir (ex: o que é a ciência/o método?) (não há que se falar em
superação de sistemas filosóficos, mas em contribuições e críticas) – não se realiza
pelas experiências/refutação
1.3 Filosofia do/no Direito

Qual é a utilidade da filosofia?

1.3 Filosofia do/no Direito

Objetivos:

- Crítica das práticas, das atitudes e das atividades dos operadores do Direito

- Avaliar e questionar a atividade legiferante

- Avaliar o papel desempenhado pela ciência jurídica

- Depurar a linguagem jurídica, os conceitos filosóficos e científicos do Direito,


além de analisar a estrutura lógica das proposições

- Investigar a eficácia social dos institutos jurídicos

- Denunciar ideologias e os pré-conceitos que orientam a cultura e as atitudes


da comunidade jurídica

1.3 Filosofia do/no Direito

Em síntese:

A filosofia permite ao ser humano transcender a situação dada e não escolhida,


conferindo significado à experiência a partir da reflexão sobre a realidade posta,
em busca de desnudar para transformar

1.4 A história da Filosofia


1.4.1 Na antiguidade: sofistas e pré-socráticos

A) Os sofistas: eram professores viajantes que vendiam ensinamentos práticos do


conhecimento, no intuito de desenvolver a argumentação e a habilidade retórica na
arte de convencer as pessoas, driblando as teses dos adversários (não buscavam uma
verdade única, mas sim o convencimento da plateia acerca da tese pela qual foi
contratado)

B) Os pré-socráticos: denominados de filósofos da natureza ou cosmo- Cêntricos,


tinham o interesse voltado para o mundo da natureza e a organização das coisas
(observadores da natureza)

1.4 A história da Filosofia

1.4.1 A antiguidade: sofistas e pré-socráticos

A) Os sofistas: eram professores viajantes que vendiam ensinamentos práticos do


conhecimento, no intuito de desenvolver a argumentação e a habilidade retórica na
arte de convencer as pessoas, driblando as teses dos adversários (não buscavam uma
verdade única, mas sim o convencimento da plateia acerca da tese pela qual foi
contratado)

B) Os pré-socráticos: denominados de filósofos da natureza ou cosmo- cêntricos,


tinham o interesse voltado para o mundo da natureza e a organização das coisas
(observadores da natureza). A principal preocu- pação era saber do que são feitas as
coisas (nada vem do nada e nada volta ao nada – eterna recliclagem – physis (mundo
perene de onde surgem todas as coisas e seres, em permanente transformação)

1.4 A história da Filosofia


1.4.1 A antiguidade: sofistas e pré-socráticos

1) Tales de Mileto (aprox. 624-546 a.C): considerado o primeiro filósofo da história.


Parte da questão de onde todas as coisas se originavam e para onde voltavam. Para
Tales, o princípio que explica tudo era a água (tudo é água) – ela é fundadora do
início da vida, somos compostos por água, etc.

2) Anaximandro (610-546 a. C): elaborou os primeiros textos escritos de Filosofia.


Crítico do pensamento de Tales, afirma que não se pode explicar a origem dos
elementos da natureza pelos seus próprios elementos. acreditava na existência de um
princípio primordial para o Universo. Defendia que o infinito (ápeiron) é a origem de
tudo, porque somente algo ilimitado e eterno poderia explicar a multiplicidade das
coisas.

1.4 A história da Filosofia


1.4.1 A antiguidade: sofistas e pré-socráticos

3) Anaxímenes (aprox. 588-524 a.C): Defendia que o ar era o item fundamental.


Do ar procedem todos os demais elementos e coisas, conforme o grau de rarefação
e condensação. Dilatando-se dá origem aos ventos, às nuvens; em maior grau de
densidade, forma a água, as pedras e a terra. Nada sobreviveria sem o ar.

4) Heráclito de Éfeso (aprox. 540-476 a.C): Apregoava que tudo é constante processo;
nada é estático/permanente (constante devir – vir a ser – tudo se transforma). Há uma lei
imanente nas coisas que regula o Devir - a razão universal (logos). A natureza do devir é
uma luta entre polos opostos/contrários (diaxnoite/vidaxmorte/bemxmal, etc). Para o
conhecimento da verdade, o homem dispõe de 2 instrumentos: a sensa- ção e a razão,
mas apenas a razão é digna de fé. Se buscar se unir ao Logos, o homem será sábio, bom
e feliz: caminho ascendente que inicia pelo conhecimento de si mesmo, distanciando-se
do prazer (descendente)

1.4 A história da Filosofia

1.4.1 A antiguidade: sofistas e pré-socráticos

5) Parmênides de Eléia (aprox. 515-450 a.C): reconheceu que nossos sentidos nem
sempre estão certos, valorizando a importância de se fazer uma interpretação racional
do mundo.

Apregoava que a Teoria do Devir seria uma contradição (ou o ser é alguma
coisa ou não é) - a essência não muda.

A única realidade é o ser (o pensar), sendo que o nascer e o perecer são apenas opiniões
falazes – os sentidos nos dão a impressão de que as coisas estão sujeitas ao vir-a-ser.
1.4 A história da Filosofia

1.4.1 A antiguidade: sofistas e pré-socráticos

6) Pitágoras de Samos (582 a.C a 497 a.C): filósofo e matemático. O Princípio de tudo é
o número. Pela abstração, conseguiu separar-se das aparências sensíveis para identificar
um elmento imaterial. Tudo pode ser quantificado (o cosmo, o tempo, a tonalidade dos
sons, o movimento..)

Apregoa que a alma do homem é composta de inteligência, razão e impuls passional,


mas apenas a parte racional é imortal. O mais importante na vida é converncer a alma
para o bem ou para o mal, propondo um Código moral rigoroso – praticar a virtude para
libertar-se da prisão que é o corpo.

1.4 A história da Filosofia

1.4.1 A antiguidade: sofistas e pré-socráticos

7) Protágoras (aprox. 481 a.C): “o homem é a medida de todas as coisas das que são,
enquanto são, e das que não são, enquanto não são”. Assim, não existe verdade absoluta,
sendo que o homem interpreta os dados dos sentidos a seu modo e de acordo com seus
interesses.

Por isso, o sábio (sofista), usando de sua arte de persuadir, consegue convencer
sobre as opiniões mais vantajosas. Na moral, apregoa que cada um é obrigado a

obedecer a lei moral dada pela constituição da cidade (convencional) ​1.4 A

história da Filosofia

1.4.1 A antiguidade: sofistas e pré-socráticos

8) Górgias (aprox. 484 a.C): “nada existe; se existisse alguma coisa, não poderíamos
conhecê-la; se pudéssemos conhecê-la, não poderíamos comunicar nosso conhecimento
aos outros”.

O ser não existe, seja ele gerado (quem o gerou – regresso ao infinito) ou não gerado
(eterno/infinito - não está contido em nenhum lugar). Posso pensar em algo que não
existe (pensar difere do ser). Por fim, a palavra dita difere da coisa significada – a
realidade, se fosse admitida, não poderia ser traduzida em palavras.

Assim, não pode haver conhecimento certo das coisas, devendo-se esforçar-se para
persuadir o outro sobre a probabilidade do que aparece
1.4 A história da Filosofia

1.4.2 A era clássica: Sócrates, Platão e Aristóteles

1) Sócrates (aprox. 469-400 a.C): não deixou nenhum escrito. Procurava incitar os
homens a se preocuparem, antes de tudo, com os interesses da alma, procurando
adquirir a sabedoria e a virtude. Procurou livrar seus concidadãos da influência nefasta
dos sofistas, que colocavam em dúvida o conhecimento de uma verdade suprema e de
uma lei moral absoluta.

Usou como método a ironia (simulação para desmascarar a vaidade), ameaçando as


opiniões correntes e os valores consagrados. Por meio de perguntas, Sócrates deixa
embaraçado e perplexo aquele que está seguro de si mesmo; fá-lo ver novos problemas
e estimula a reflexão, ajudando nos partos do espírito (maiêutica). Seus diálogos
levantam uma questão, Mas não dão a solução, deixando que o próprio interlocutor a
encontre.

Sócrates não se interessa pelos princípios supremos do universo, mas pelo valor do
conhecimento humano – discutia tudo o que diz respeito ao homem e essencial para
ser virtuoso.

1.4 A história da Filosofia

1) Sócrates x sofistas:

Sofistas: buscam o sucesso e ensinam como consegui-lo. Gabam-se de saberem tudo e


de ensinarem a todos. Para eles, aprender é algo fácil e, por um preço módico, podem
garantir aos discípulos o conhecimento da retórica e da arte de governar. Ademais, o
valor do conhecimento e de qualquer lei moral é relativo, subjetivo.

Socrátes: busca a verdade e incita seus discípulos a descobri-la. Para chegar a ela
deve-se desapegar das riquezas, honras e prazeres, anali- sando a própria alma
(reconhecer a ignorância e conhecer a si mesmo). Sócrates não se vê como um mestre,
mas obsetra (maieuta); não ensina a verdade, mas ajuda seus discípulos a descobri-la
neles mesmos. Não leciona, mas conversa, discute e guia-os em suas discussões. Para
ele, aprender não é coisa fácil. Apenas lenta e progressivamente se chega ao
conhecimento da verdade. Para Sócrates, existem conhecimentos e leis morais de valor
absoluto, objetivo e universal.

1.4 A história da Filosofia

1) Sócrates – principais ensinamentos filosóficos:

Faz uma clara distinção entre opinião e verdade. O conhecimento sensível não pode nos
levar, por si, a conhecer a verdade (apenas opiniões). Mas existe um outro tipo de
conhecimento, o intelectual ou conceitual, que vai além das aparências sensíveis,
extraindo das coisas sua verdadeira natu- reza, formando na mente um conceito, de
valor universal. Pela indução se chega a esse conceito universal, partindo de definições
insuficientes para se chegar a uma satisfatória. Voltou sua atenção para definir o que é o
Bem, a Justiça, a Felicidade e a Virtude (conceitos éticos).

Embora os homens considerem boas coisas diferentes, todos têm a mesma noção do bem
e do mal (ninguém dirá que o bem é mal), buscando o que pensam ser bom e evitando o
que pensam ser mau. Para ele, a moralidade identifica-se com o conhecimento: a virtude
se identifica com a sabedoria (homem erra/faz o mal por ignorância do que seja o bem) e
apenas ela torna o homem livre. A felicidade consiste na honestidade, na prática da
virtude, em seguir os ditames da razão (consciência reta)

1.4 A história da Filosofia

1.4.2 A era clássica: Sócrates, Platão e Aristóteles

2) Platão (427-347 a.C):

Escreveu diversas obras. Nas primeiras, expõe o pensamento de Sócra- tes (Ex:
Apologia de Sócrates), passando pelos Diálogos Polêmicos (ex: Protágoras), em que
combate os sofistas, pelos Diálogos da Maturidade (ex: Banquete e República, em que
discorre sobre o amor e o Estado Idea até chegar aos Diálogos da Velhice, em que faz
uma revisão crítica da doutrina das Ideias e do Estado (ex: Teeteto: sobre o
conhecimento; Leis: a legislação do Estado Ideal).

1.4 A história da Filosofia


1.4.2 A era clássica: Sócrates, Platão e Aristóteles

2) Platão: a teoria das ideias

Para chegar à verdadeira causa, julgou que deveria refugiar-se nas ideias e considerar
nelas a realidade das coisas existentes. Assim, alguma coisa só é bela porque participa
do Belo em si; só é verdadeira porque participa da Verdade; só é boa porque participa
da Bondade. Essa é a causa do mundo sensível: sua participação no mundo intelectual.

As ideias são imateriais, não sensíveis, eternas, imutáveis, incorpóreas,


incorruptíveis, simples, transcendentes e auto-suficientes.

A origem do mundo sensível: no princípio, além das Ideias, existiam o Caos (matéria
informe a plasmar) e o Demiurgo (artífice soberano). Este, contemplando as ideias,
plasma a matéria informe e produz o mundo material, infundindo nele uma alma
universal, que tem como função conservar a vida do mundo sem necessidade de sua
intervenção contínua

1.4 A história da Filosofia


2) Platão: o problema do conhecimento

Para ele, a realidade é constituída de dois estratos: um estático e outro dinâmico


(conhecimento intectivo (mundo das Ideias) e sensitivo (mundo sensível)) – distinção
radical entre sensação e intelecção.

Os sentidos podem, no máximo, chegar a formar uma opinião (doxa) aobre seu
objeto; enquanto que o intelecto produz um verdeiro conheci- mento (episteme) – um
conhecimento universal.

Platão distingue dois graus de conhecimento sensitivo e dois de intelectivo No sensível,


podemos conhecer as coisas reais (ex: plantas) e as imagens delas refletidas (na água,
nas sombras). No intelectivo, de um lado as ideias éticas (o bem em si) e metafísicas (o
ser em si); do outro, as ideias matemáticas. Assim, recorrendo ao “mito da caverna”,
mostra que a passagem de um grau para o outro se dá lentamente, exigindo grande
esforço e conversão – mudança de mentalidade.

1.4 A história da Filosofia

2) Platão: o problema do conhecimento explícito no mito da caverna

Neste mundo, a maioria dos homens está no estado de eikasia (apreende apenas
imagens), sendo vítima dos preconceitos do ambiente. Um ou outro se liberta das
cadeias dos preconceitos e vê as coisas da caverna à luz do fogo (pístis). Se, após isso,
sai da caverna, vê todas as coisas à luz do sol (dianoia – conhecimento das entidades
matemáticas por meio de um processo raciocinativo). Por fim, poderá dirigir seus olhos
para o sol e ver o próprio sol (nóesis – conhecimento direto da Ideia pura)

A doutrina da reminiscência: nosso conhecer é recordar. O encontro com as coisas desse


mundo (cópias das Ideias) desperta na alma a recordação das Ideias (ver as coisas belas
desperta em nós a Ideia de Beleza; ver coisas justas, desperta a Ideia de Justiça). Assim,
Platão dá valor ao conhecimento sensitivo, fornece uma prova da preexistência e da
imortalidade da alma.

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