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UNIDADE I
GÊNESE HISTÓRICA E CONCEITUAL DO
TRABALHO, DA EDUCAÇÃO E DA ESCOLA
ITEM 03:
TRABALHO, EDUCAÇÃO E ESCOLA
Entender as razões que deram origem à escola é fundamental para entender qual
é o papel da escola na formação dos seres humanos na atualidade, vez que a escola hoje
tornou-se a modalidade predominante e principal de educação para todos. Assim, é
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Estas ideias mostram que há uma relação intrínseca entre a educação ou o processo
educativo e a necessidade de o ser humano trabalhar para extrair da natureza tudo do que
precisa para sobreviver. A educação aparece aqui como ato segundo, derivado, porque a
sua função social é a de reproduzir para as novas gerações os conhecimentos
desenvolvidos pelas gerações mais velhas no passado até o presente momento.
Em outros termos,
A criança será inserida na vida social do grupo onde nasceu e deste grupo irá
aprender os elementos fundamentais para poder viver neste mundo, conforme as
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considerações, costumes e tradições desse seu grupo social. Cada grupo social somente
pode ensinar ao novo membro, recém-chegado, à criança, aquilo que esse grupo
efetivamente conhece e reconhece como o modo mais adequado de se viver e sobreviver.
O que, por sua vez, aprenderam dos grupos antes deles, ao qual acrescentaram as suas
próprias experiências, invenções e criações desde as gerações dos seus antepassados até
o nascimento desse novo membro, ao qual será repassado pelo grupo conforme o processo
educativo que lhe é próprio, tais conhecimentos, costumes, técnicas etc.
Então aqui já temos um primeiro ponto, qual seja, a escola surge em determinado
momento histórico e social como uma modalidade específica de educação diferenciada
da educação em geral pela qual passavam as gerações anteriores.
atuais. Diz ele, retomando resumidamente o que já foi dito, que o trabalho e a educação
são tão antigos quanto os seres humanos, desde que o homem existe ele teve a necessidade
de trabalhar, isto é, de agir sobre a natureza para transformá-la e de criar coisas úteis para
o consumo e o bem-estar humanos, bem como teve a necessidade de se educar, de passar
para as novas gerações o domínio dos conhecimentos adquiridos pelos humanos em cada
momento da sua história.
E mais ainda: diz Saviani que nesta fase existia educação, mas não existia ainda
a escola. Tratava-se de uma educação prática, empírica, adquirida com a experiência.
Aprendia-se a trabalhar, trabalhando; aprendia-se a viver, vivendo. A escola irá surgir
muito muito tempo depois, ela surge mais recentemente na história da humanidade, em
especial no mundo grego e romano, e a sua origem está associada ao surgimento da
propriedade privada dos meios de produção.
Com isto temos agora o segundo ponto, o mais importante para entendermos o
que é a escola, ou melhor, o que ela foi, por quê e para quê foi criada. E até que ponto
podemos afirmar que a escola de hoje guarda ainda muitas semelhanças com a “escola
das origens”.
As sobras se estragavam e foi neste momento que surgiu a ideia de trocar o seu
excedente de produção (as suas sobras) com outras tribos vizinhas por outras coisas que
eles não possuíam ou tinham em menor quantidade. E isto é o que se conhece pelo nome
de “escambo”, a troca de um produto por outro, o que deu origem às primeiras formas de
economia de mercado. No mercado se efetua a troca de mercadorias. O que é uma
mercadoria? Mercadoria é todo o produto destinado à venda (troca). Um produto feito
para o consumo próprio do seu grupo pode ser chamado de produto de subsistência,
porém, um produto que desde antes já se prepara a sua produção com a intenção de vendê-
lo (ou trocá-lo por outro produto) e não necessariamente para o próprio consumo, a isto
se chama de mercadoria. Toda mercadoria tem um duplo valor, chamado de valor-de-uso
e valor-de-troca. Valor-de-uso é aquilo que tem alguma utilidade para as pessoas, seja
esta vital (do estômago) ou supérflua (da fantasia). E o valor-de-troca é aquilo que pode
gerar algum ganho, lucro, na sua troca ou venda. Por exemplo, numa sapataria um calçado
qualquer tem para o cliente um valor-de-uso, pois ele o está comprando para usar. Já para
o dono da sapataria os calçados têm valor-de-troca, ele é o dono de todos aqueles
calçados, mas não pretende usá-los, e sim, vendê-los. E com o lucro da venda destes
calçados ele irá comprar outras coisas que ele deseja ou precisa. (NETTO e BRAZ, 2006,
p. 79; MARX, 2008, p. 57).
Mas, o que é o dinheiro? Dinheiro é uma mercadoria como outra qualquer, porém,
sem valor-de-uso imediato, ele tem apenas valor-de-troca. É o que os economistas
chamam de “equivalente geral”, uma mercadoria que equivale a qualquer outra,
proporcionalmente. Antes de o dinheiro ser o equivalente geral, tinha-se, por exemplo,
em determinado tempo, o sal como equivalente geral, ou seja, pagava-se as mercadorias
por uma quantidade “x” do seu peso em sal. Até os serviços prestados costumavam a ser
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pagos pelo seu valor em sal. Disto é que se originou a palavra “salário’. (NETTO e BRAZ,
2006, p. 88-89).
Voltando ao nosso tema central. Ainda nesta fase os ganhos alcançados com a
produção dos excedentes econômicos, as mercadorias que eram vendidas ou trocadas nos
mercados, o que se conseguia em troca era posto a serviço e para o consumo de toda a
tribo. Só para lembrar o que já disse Saviani, nesta fase “todos viviam do trabalho de
todos”. A propriedade era coletiva, ou seja, os meios de produção, tais como a terra, os
animais, os instrumentos de trabalho etc. eram de todos, ninguém se dizia dono disto ou
daquilo, portanto, sendo a propriedade dos meios de produção coletiva, os produtos
criados por estes meios, as mercadorias, também eram de todos. Aqui devemos esclarecer
um aspecto que gera muita confusão quando se trata de falar de “propriedade privada”, o
que era coletivo eram os meios de produção e não os bens de produção, isto é, a terra, os
animais e os instrumentos de trabalho é que eram propriedade coletiva, mas os bens
produzidos, roupas, alimentos, abrigo etc., estes eram privados, cada um deveria ter o seu,
em igualdade de condições aos demais.
Disto irá resultar aos poucos a noção de “propriedade privada”, particular, dos
principais meios de produção da época. E muito rapidamente as terras e os animais que
antes eram de todos passaram a ser a propriedade particular de apenas alguns e a
comunidade ao invés agora de trabalhar e ver os produtos do seu trabalho gerarem
recursos para todos, passou a trabalhar e gerar recursos apenas para alguns poucos que se
apoderaram da propriedade, antes coletiva agora privada.
propriedade privada que, por sua vez, gera relações de oposição e antagonismo, pois, os
produtores diretos são, neste caso, constrangidos a trabalhar para um outro por
necessidade ou pela força e não por opção, estes são explorados por aqueles. (NETTO e
BRAZ, 2006, p. 64).
A seguir disponibilizamos duas imagens que ilustram isto que foi dito. Durante a
Idade Média cunhou-se o termo “Artes Liberais” e “Artes Mecânicas” para representar o
que seriam os conhecimentos próprios dos proprietários, nobres e aristocratas e dos não-
proprietários, os trabalhadores. (ZANELLA, 2003, p. 142).
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É neste contexto que teve origem a Escola, como Scholé, uma modalidade restrita
de educação, destinada apenas para aqueles que viviam do trabalho de outros homens,
pois, a maioria continuava a se educar como sempre se fez, no próprio trabalho e na vida.
A escola nasce com esta marca congênita baseada na divisão entre trabalho
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Isto perdurou até o fim da Idade Média, sofrendo drástica mudança durante as
Revoluções Burguesas no Período Moderno. Todavia, para a classe trabalhadora, os não
proprietários, em essência, as coisas não mudaram tanto assim. O que será evidenciado
mais adiante. Não mudaram, pois, alterou-se a forma, mas não a lógica de organização e
funcionamento da sociedade, vez que não se alterou, substancialmente, o regime de
propriedade. Prevalecendo o regime da propriedade privada dos meios de produção em
detrimento do regime da propriedade coletiva.
REFERÊNCIAS
DURKHEIM, Émile. Educação e Sociologia. 6ª. ed. São Paulo: Ed. Melhoramentos, s/d.
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Livro I, vol. 01. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2008.
NETTO, José Paulo; BRAZ, Marcelo. Economia política: uma introdução crítica. 6ª. ed. – São
Paulo: Cortez, 2006. Disponível em:
<https://drive.google.com/open?id=1ufbI01QVcbbyCX5W3SBF9IyXftG1FjiB>. Acesso em:
19.03.2019.
SAVIANI, Dermeval. “O trabalho como princípio educativo frente às novas tecnologias”. In:
FERRETTI, Celso [et ali]. Novas tecnologias, trabalho e educação: um debate
multidisciplinar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. Disponível em:
<http://www.forumeja.org.br/go/files/demerval%20saviani.pdf>. Acesso em: 20.jul.2018.
ZANELLA, José Luiz. O trabalho como princípio educativo do ensino. Tese de Doutorado.
Campinas: UNICAMP/Faculdade de Educação, 2003. Disponível em:
http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/252569/1/Zanella_JoseLuiz_D.pdf. Acesso
em: 15.03.2019.