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Direitos Reais: VI - Factos constitutivos do direito depropriedade [Hipótese n° 28]

Alínea c):
Poderíamos levantar aqui várias hipóteses de solução:
(i) O usufruto acaba e a propriedade deixa de estar por ele onerada (aquisição derivada restitutiva);
(ii) O usufruto não acaba e regressa ao usufrutuário primitivo (B) - a admitir-se esta solução estaria
a legitimar-se um enriquecimento sem causa, uma vez que o B já recebera a contrapartida pela
transmissão do direito;
(iii) O usufruto passa aos herdeiros de C. Apesar de o usufruto inicial não ser passível de transmissão
por sucessão (uma vez que se extingue com a morte do usufrutuário), entende-se que essa
restrição não se aplica tendo havido trespasse (1444) e falecendo o trespassário, desde que o
usufrutuário primitivo se mantenha vivo e o usufruto não tenha caducado por termo do prazo.
Esta é a posição defendida por Oliveira Ascensão e1
)

Alínea d):
A morte do A não afecta o direito do usufrutuário, continuando a propriedade por ele onerada.

Alínea e):
A venda do direito de propriedade também não afecta o direito de usufruto: este é um direito real
dotado da característica da inerência, pelo que persegue a coisa onde quer que ela vá.
Nota: alíneas d) e e) hão foram resolvidas na aula.

Aula de 04-04-2006
A, ao passear pelo campo, entrou no prédio de B e encontrou nele a passear um G.ii_Q_.aba!14011f!do.
Gostando imediatamente do cão, A pegou no mesmo e levou-o consigo, passando a tr~mo seu.
Ao tomar conhecimento do local onde A pegara no cão, B invoca ser o cão objecto de um direito de
, propriedade seu.
Explique quem é o p1:,ORrie.1{Ír..io-do
cão fundamentando a resposta .
.,..~.:J;:~:.~,,;..!::-..::~
,"":" .

***
A primeira ideia que vem à mente é que estaremos perante um caso de ocupação, cujo regime se
encontra consagrado nos arts. ~ e ss. Vejamos se estão preenchidos todos os requisitos de que a lei
faz depender este facto constitutivo da propriedade. .
São requisitos da ocupação os seguintes:
1. Um acto de apreensão material (aRq~S1Jlllento);
2. De uma coisa móvel;
3. Que não tenha dono ou tenha sido abandonada.

21 Direito Civil- Reais, Coimbra Editora, 58 Ed, 2000, pg. 474

Carlos Fernandes - 2005/2006 IsI


Direitos Reais: VI-Factos constitutivos do direito depropriedade [Hipótese n° 29]

Há, ainda, quem exija um certo animus que ilunine essa apreensão material da coisa, seja esse animus
uma intenção de adquirir a propriedade, seja a mera vontade de colocar a coisa na própria esfera de
acção. Mas o que importa verdadeiramente é o acto de apossamento e que a coisa seja nulius.
Estaremos perante um caso de ocupação? Bom, isso depende: ",
:. i
Se A sabia, ao apossar-se do animal, que este pertencia a outrem, poderá, quando muito,
configurar um caso de achamento. Este distingue-se da ocupação pelo facto de aqui a coisa ter
dono: simplesmente terá sid9'perdida ou escondida. O achamento não funciona como facto
aquisitivo da propriedade em termos automáticos (como acontece com a ocupação); nos
termos do art. 132.3/1, P parte, se o o achador souber quem é o dono da coisa é obrigado a
entregar-lha ou a avisá-lo do achado; se ignorar quem ele seja, é obrigado a publicitar o
achado e, caso o dono apareça a reclamar a sua entrega, deve restituir a coisa (embora tenha
direito a um prémio pelo achado). Só adquirirá a proppriedade da coisa decorrido um ano a
contar da data do an˙ncio se o dono não aparecer a reclamá-la.
- A sabia que o cão tinha sido abandonado: nesse caso há verdadeira ocupação, adquirindo no
acto do apossamento quer a posse quer a propriedade do animal (1318).

A pretensão do B, que se arroga proprietário pelo facto de o cão ter sido encontrado no seu prédio, não
tem razão de ser. Se fosse uma planta; ela considerar-se-ia parte integrante do prédio, mas não o
animal que, apesar de ser uma coisa, se enquadra numa modalidade de coisa de alguma forma
especial, a que Menezes Cordeiro chama semoventes.
B poderia, quando muito, alegar violação do seu direito de propriedade, mas isso é uma questão lateral
que não é para aqui chamada.
A intenção do A é irrelevante para este efeito: desde que a sua conduta gere posse, dá-se a ocupação
desde que os demais requisitos (coisa móvel sem dono ou abandonada) estejam preenchidos.

Aula de 21..;04-2006
A, proprietário do prédio r˙stico X; acedeu ao pedido de um amigo para o deixar acampar numa
pequena porção do prédio, na parte Norte deste.
Ausente no estrangeiro, A não tomou conhecimento que B, excedendo a permissão dada, construiu
uma cabana para habitação.
Quando, um ano e meio depois, A vem a saber o que B fizera, pede-lhe para sair. Mas B recusa-se a
fazê-lo.
Antes da construção da cabana, o prédio de A valia 200.000,00 euros e passou a valer 210.000,00
euros após essa construção.
Esclareça os factos relevantes da hipótese e diga a quem cabe a cabana caso B seja forçado a
restituir a porção do prédio em que se instalou.

***
I - Começaremos por analisar o caso na perspectivajurídico-possessória.
Tendo B sido autorizado pelo proprietário do prédio a acampar numa parte deste, não chega a adquirir
qualquer direito real ou de crédito, uma vez que a sua situação não passa de mera detenção fundada
num acto tolerância do titular do direito de propriedade (l253/b).
Ao extravasar o âmbito da autorização, passando a agir como um dominus daquela parte do prédio
com oposição ao possuidor nos termos da propriedade, B inverte o título da posse, passando de

Carlos Fernandes - 2005/2006 js;


Direitos Reais: VI - Factos constitutivos do direito depropriedade [Hipótese n° 29]

detentor a verdadeiro possuidor nos termos da propriedade (1263/d e 1265).


A posse em questão é formal, não titulada (1259), de má fé (1260/1-2), pacífica (126111) e p˙blica
(1262). Mas, apesar da aquisição da posse por B, o anterior possuidor (A) não perde de imediato a sua
posse sobre essa parcela do prédio, apenas ocorrendo tal perda decorrido um ano desde a data em
e
aquela se iniciou, dado ter sido tomada de forma p˙blica 2). Vimos que tal prazo já foi ultrapassado,
uma vez que a nova posse se constituiu há um ano e meio, pelo que A deixou de ser possuidor da
parcela em disputa. Tal facto afasta a possibilidade de recorrer à acção de restituição da posse prevista
no art. 1278, por um lado porque não lhe pode ser restituído o que já não tem, por outro porque a
acção de restituição caducou um ano após a constituição da nova posse (1282).

II - Importa agora responder ao que nos é directamente perguntado, deslocando a discussão para o
âmbito da acessão, cujo regime se encontra previsto nos arts. 1325 a 1343.
De facto, a construção da cabana no terreno alheio preenche claramente a noção de acessão que nos é
dada no art. 1325: o B uniu a cabana, construída com materiais que lhe pertenciam, ao terreno do A.
Estamos perante a modalidade de acessão industrial imobiliária, por a união resultar de facto humano
(1326/1) e a uma coisa imóvel (terreno) ter sido unida a cabana, coisa móvel O regime dae\
modalidade de acessão industrial imobiliária está defmido nos arts. 1339 a 1343.
Na figura da acessão industrial imobiliária do Direito Romano vigorava um princípio segundo o qual
"a superfície cede ao solo", o que significa que qualquer coisa que fosse unida ao bem imóvel ficaria a
pertencer ao dono deste. O regime português afastou-se de alguma forma deste princípio, não o
consagrando na sua plenitude. Aqui faz-se depender o resultado do valor relativo das coisas unidas e
da boa ou má fé do autor da união ou incorporação.
No nosso caso, não restam quaisquer d˙vidas deque o autor da acessão estava de má fé, visto este
conceito à luz da norma ínsita no art. 1340/4. E nem sequer é necessário, neste caso concreto, discutir
se a concepção de boa fé inscrita neste normativo é meramente psicológica ou se, pelo contrário,
deverá ser seguida uma perspectiva ética: o B sabia, concreta e categoricamente, que o terreno era
alheio.
Mas esta discussão assume especial relevância e é transversal a todas as situações em que, em Direitos
Reais, se apela ao conceito de boa fé. A doutrina mais tradicional, fazendo fmca-pé numa
interpretação mais próxima da letra da lei, defende que o que releva é apenas o aspecto psicológico: ou
o agente conhecia ou não conhecia, pouco importando se deveria ou não deveria saber. Esta posição
encontra reflexo, ainda hoje, na maioria da jurisprudência. Para Menezes Cordeiro e outros seguidores
modernos (entre os quais se conta o Prof. Vieira Coelho), pelo contrário, a coerência e ajuricidade do
sistema impõem que se adopte a concepção subjectiva ética de boa fé: não basta ao agente alegar - e
mesmo provar - que desconhecia que o terreno pertencia a terceiro; é necessário demonstrar,
igualmente, que esse conhecimento lhe não era exigido. Como refere Menezes Cordeiro, a própria
praticabilidade do sistema exige que seja esta e não a outra a concepção a adoptar: isto porque não é
possível saber o que vai na mente das pessoas e, logo, determinar se o agente conhecia ou não certos
factos; tudo o que é possível é saber que tinha o dever de conhecer. Não é praticável um sistema que
assente exclusivamente no que vai no foro íntimo das pessoas; exige-se, pelo contrário, que as
soluções se fundem em manifestações exteriores que garantam um grau mínimo de segurança e certeza

22 Levantou-se alguma discussão quanto a este ponto, relativo à necessidade ou não de dar a conhecer ao
proprietário/possuidor a oposição que lhe é feita pelo detentor. O Prof. ensinou que a oposição não tem que ser comunicada
ao anterior possuidor, bastando que o comportamento de quem inverte o título da posse seja lido claramente como oposição.
Fiquei na d˙vida: é um facto que a posse é p˙blica se for "exercida de modo a poder ser conhecida pelos interessados", não
·i sendo necessário um conhecimento efectivo do anterior possuidor; no entanto, toma-se difícil aceitar que a nova posse
-'
chegue a constituir-se sem que esteja preenchido o requisito da oposição. E para tal, como escreve Oliveira Ascensão em
Direito Civil - Reais, Coimbra Editora, 5" Ed., 2000, p. 92, "a oposição tem de ser categórica, de modo a sobrepor-se à
aparência que era representada pelo título" e o detentor terá de a dar "a saber ao proprietário".
23 Estamos perante uma acessão industrial imobiliária quando a uma coisa imóvel for unida ou incorporada uma coisa móvel;
será mobiliária quando ambas as coisas unidas forem móveis.

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Direitos Reais: VI - Factos constitzaiuas do direito depropriedade (Hipótese nO 30]

juridica. Não é, na maioria dos casos, possível afirmar com segurança que certa pessoa sabia que um
determinado prédio pertencia a outrem; mas é perfeitamente coerente afirmar que a tal pessoa devia
conhecer porque, atendendo ao critério do homem médio, lhe era exigível um mínimo de diligência
para se assegurar, perante os registos p˙blicos, se o tal prédio tinha ou não dono.
B está, portanto, de má fé. O que leva à subsunção dos factos na norma do art. 1341, que define as
regras e consequências da acessão industrial imobiliária de má fé.
O dono do terreno (A) tem à sua frente duas alternativas: (i) pode exigir que o prédio seja restituído ao
seu primitivo estado à custa do autor da união; ou (ii) pode ficar com a coisa unida ou incorporada
(cabana) pelo valor que for fixado segundo as regras do enriquecimento sem causa, nos termos dos
arts. 473 e ss,
Vimos que o enriquecimento do A em resultado da acessão é de 10.000,00 euros, pelo que será este o
valor a pagar ao B, independentemente de a construção da cabana ter custado a este mais ou menor do
que esse valor.

III - Ao contrário do que sucede nalguns casos de acessão natural, no caso em apreço a aquisição do
direito não é automática. A lei faz depender o resultado de uma escolha por parte do proprietário do
terreno, que pode optar, como vimos, entre ficar com a coisa mediante o pagamento do valor com que
se 'enriqueceu sem causa, ou exigir a restituição do terreno ao estado em que se encontrava antes da
união. Sendo a primeira alternativa a escolhida, há que realizar ainda a obrigação de pagar o valor do
enriquecimento sem causa; e é só no momento em que este pagamento é realizado que o direito de
propriedade sobre a coisa unida ou incorporada ocorre. Trata-se, assim, de uma aquisição potestativa e
não automática.

IV - Quais as vias de acção que se oferecem ao A, para garantir o seu direito?


No presente caso, ele deveria intentar uma acção com dois pedidos cumulados: um primeiro a
reivindicar a parcela do terreno que o B se recusa a entregar; o segundo a pedir a condenação do B a
reconhecer o seu direito de propriedade sobre mediante o pagamento do valor do enriquecimento dela
resultante.

Aula de 27-04-2006
o prédio X é propriedade de A, tendo B sobre ele um direito de usufruto. C constrói no prédio em
causa um imóvel.
Quidjuris?

***
I - À primeira vista, a situação exposta parece configurar um caso de acessão industrial imobiliária,
cujo regime se encontra definido nos arts. 1339 e ss. Saber qual o normativo que, em concreto, rege o
presente caso depende de saber se, por um lado, os materiais com que o C constrói o imóvel no terreno
alheio pertencem ao próprio ou são alheios e, por outro, de o mesmo ter agido de boa ou má fé.
A boa fé é aferida à luz do art. 1440/4; a interpretação desta norma deverá ser feita segundo a
concepção subjectiva ética de boa fé e não, como a respectiva letra parece consagrar, segundo uma ", )

perspectiva meramente psicológica. De facto, a eticidade do direito e a própria coerência do sistema i


exigem que seja aquela e não esta a concepção a adoptar. Não basta, assim, que o autor da
incorporação ou união desconhecesse que o terreno era alheio; é necessário que esse desconhecimento
seja não culposo.

Carlos Fernandes - 2005/2006 ~


Direitos Reais: VI-Factos constitutivos do direito depropriedade [Hipótese n° 30]

Estando o autor da incorporação de boa fé, e abstraindo, por agora, da existência do usufruto,
poderiam configurar-se as seguintes hipóteses 4): e
a) Os materiais são do C e a incorporação resulta num aumento do valor total do prédio maior
e
do que o valor que o prédio tinha antes 5): neste caso rege o art. 1340/1, que atribui a
propriedade do prédio ao autor da incorporação, desde que este pague ao proprietário do
terreno o valor que este tinha antes;
b) Os materiais são do C e o aumento do valor resultante da incorporação é igual ao valor total
que o prédio tinha antes: aplica-se o art. 1340/2, abrindo-se licitação entre o proprietário do
terreno e o autor da incorporação segundo as regras do art. 1333/2, sendo a propriedade
atribuída ao que oferecer maior valor;
c) Os materiais são do C e o aumento do valor resultante da incorporação é inferior ao valor
total que o prédio tinha antes: aplica-se o art. 1340/3, pertencendo a obra ao dono do terreno,
devendo este pagar ao autor dela o valor que ela tiver ao tempo da incorporação.
Se o C estiver de má fé, a solução seria uma das seguintes:
a) Os materiais são do C: aplica-se o art. 1341, que confere ao proprietário do terreno um direito
potestativo que se resolve em alternativa: ou opta por exigir que o terreno seja restituído, a
expensas do autor da incorporação, ao estado primitivo; ou faz sua a obra pagando ao autor
dela o valor que resultar da aplicação das regras do enriquecimento sem causa (significa que
não será obrigado a pagar de acordo com o custo da obra, mas segundo o enriquecimento que
dela para si resultou - ver arts, 473 e S8.);
b) São alheios quer o terreno quer os materiais e o dono destes tem culpa: aplica-se o regime do
art. 1342/2-28 parte e 1341, sendo solidariamente responsáveis o autor da incorporação e o
dono dos materiais pelos prejuízos a que a incorporação tiver dado causa.

Por ˙ltimo, se os materiais forem alheios e o dono deste não tiver culpa, independentemente de o autor
estar de boa ou má fé, cabem àquele os direitos conferidos ao autor pelo art. 1340.
Vemos, assim, que sem dados adicionais não é possível fazer o enquadramento adequado e
determinar, com objectividade, quem seria o beneficiário da acessão caso o usufruto não existisse.

II - Fizemos a análise da hipótese abstraindo da existência do usufruto de B. Este levanta, contudo,


alguns problemas concretos, a saber:
1. Poderá o titular de um direito real menor beneficiar da acessão?
2. No caso de a resposta ser positiva, qual o direito passível de ser adquirido?
Vamos tentar responder a uma e outra.

1. Da possibilidade de o titular de um direito real menor beneficiar da acessão


Tradicionalmente, considerava-se que a acessão beneficiava o proprietário, uma vez que se trata de um
facto aquisitivo do direito de propriedade. No entanto, o Prof. Menezes Cordeiro trouxe à discussão
uma nova perspectiva, ao questionar se não será de atribuir o benefício ao titular do direito real menor
que onera a propriedade. Tal só pode ser aferido à luz do direito real que estiver concretamente

24 Omite-se a hipótese de o terreno ser do C e os materiais alheios, situação regida pelo art. 1339, uma vez que quanto à
propriedade do terreno o enunciado não deixa d˙vidas.
25Note-se que não basta, para que esta condição seja preenchida, que o valor actual do prédio seja superior ao que ele tinha
antes da incorporação: é necessário que o aumento do valor resultante da incorporação seja, ele próprio, superior ao valor
anterior do prédio (ex. o prédio valia 10.000,00 e passou a valer 21.000,00: o aumento de valor criado é de 11.000,00, logo,
superior ao que o prédio tinha antes)

Carlos Fernandes - 2005/2006 r;


Direitos Reais: VI-Factos constitutivos do direito depropriedade [Hipótese n° 30]

constituído sobre a coisa. No caso do usufruto, depende de saber, por exemplo, se este inclui o direito
de nele construir um prédio. Note-se que há direitos reais menores que admitem o poder de
transformação e, logo, o direito de construção, sementeira, etc.
Para o Prof. Menezes Cordeiro, o usufrutuário pode beneficiar da acessão desde que o direito de que é
titular permita tal aproveitamento da coisa; tanto o Prof. Oliveira Ascensão, como os Profs. Carvalho
Fernandes e Coelho Vieira seguem esta mesma posição. Se o beneficiário tem direito à acessão é ele
que exerce e não o proprietário; a lei consagra a indemnização ao proprietário por perda da acessão.
A acessão tem que ser registada para que o beneficiário a possa transmitir. O registo é feito por
recurso ao tribunal ou através de escritura notarial de justificação, seguindo este o modelo da
usucapião. Segundo o Prof., aplicam-se analogicamente as normas do Código do Notariado relativas à
usucapião.
A lei portuguesa só permite o funcionamento da acessão se o beneficiário dela pagar o valor
correspondente ou a indemnização devida. A aquisição não é, assim, de funcionamento automático,
mas antes um direito potestativo. Depende de uma declaração de vontade do beneficiário e do
pagamento do valor da coisa ou da indemnização que ao caso couber.
Segundo o Prof., numa leitura literal do art. 1317/d CC, o momento da transmissão do direito de
propriedade por efeito da acessão seria aquele em que se tivesse praticado o facto que origina a união
ou incorporação; no entanto, deve entender-se antes que o facto que desencadeia verdadeiramente essa
transmissão é o pagamento do valor ou da indemnização.

2. Do tipo de direito adquirido pelo titular do direito real menor


Para Menezes Cordeiro e Oliveira Ascensão, o direito adquirido pelo usufrutuário é o usufruto; para o
Prof. Coelho Vieira, o titular do direito real menor adquire o próprio direito de propriedade, já que a
acessão é um facto aquisitivo deste direito e é ele quem paga a indemnização devida.
E o que é que acontece depois, quando o-usufruto se extinguir? Neste caso, extinto o usufruto, a coisa
tem que ser devolvida ao proprietário. Se nessa altura a coisa tiver tido melhoramentos através de
benfeitorias realizadas pelo usufrutuário, elas passam a pertencer ao proprietário do terreno, mas este é
obrigado a indemnizar o autor delas - 1450.

O prof. Coelho Vieira defende que as lacunas verificadas no regime da acessão das coisas imóveis
pode ser integrada pelo regime das coisas móveis. Assim, o B ter direito à acessão é uma forma de
resolução do conflito entre proprietário e usufrutuário e respeita o regime do usufruto, uma vez que o
proprietário está onerado por este direito enquanto este se mantiver em vigor. Findo o usufruto, o
usufrutuário perde a obra para o proprietário, uma vez que esta está incorporada numa coisa que não
era sua. Enquanto este durar, no entanto, a propriedade da coisa incorporada é do usufrutuário e não do
proprietário do terreno.

Matéria para o 30 teste:


Factos constitutivos, translativos e modificativos dos direitos reais;
Em especial: ~, acharnentoe gçessão;
Não há perguntas teóricas;
A matéria da posse e da usucapião já foi avaliada: mas pode vir a ''tãl~AAe
~-~.;
foice"

I
!
... )

Carlos Fernandes - 2005/2006 ~


Direitos Reais: VII - Direito depropriedade [Hipótese n° 31]

Aula de 04-05-2006 (compropriedade)


Por contrato de compra e venda, A vendeu a B e C o direito de propriedade sobre o prédio X No
contrato nada se estipulou sobre as quotas de B e C, sendo que B pagou 70% do preço e C o restante.
Após entrega do prédio, B impossibilitou C de usar a coisa, alegando poder decidir sobre a
administração da coisa. Inconformado, C constituiu u§,ifJ::H.f(}a favor de D, que tem por objecto 30%
da área do prédio, que C considera ser a sua parte da coisa. ;,~:
':>~~~.

a) Esclareça qual a posição que B e C têm quanto ao prédio;


b) Analise a licitude do comportamento de B;
c) Diga qual o valor juridico do contrato celebrado entre C e D.

***
Antes de iniciar a resolução da hipótese, importa tecer algumas considerações acerca da
compropriedade, já que é disso que o caso se ocupa (compropriedade constituída por contrato de
compra e venda).
Nos termos do art. 1403, existe compropriedade quando duas ou mais pessoas são simultaneamente
titulares DO direito de propriedade sobre a mesma coisa. Esta é uma forma de explicar a
compropriedade.
Para o Prof. Coelho Vieira, no entanto, do que se trata não é de um só direito de propriedade de que
sejam titulares duas ou mais pessoas, mas sim de tantos direitos de propriedade quantos os
comproprietários, direitos estes que incidem sobre uma só e mesma coisa.
A compropriedade é uma propriedade e, como tal, o comproprietário tem o mesmo conte˙do do direito
que tem o proprietário singular, i. é, aquele que é definido pelo art.l305 CC: os poderes de uso,
fruição e disposição. No artigo1403/2 refere-se que os direitos dos comproprietários são
qualitativamente iguais, o que quer dizer que cada um dos comproprietários tem o mesmo conte˙do de
direito que os demais proprietários, designadamente tem o de usar a coisa igual ao de qualquer outro
comproprietário (1406).
Note-se, contudo, que os direitos dos comproprietários, podem ser quantitativamente diferentes,
dependendo das quotas de cada um disponha. Daí podem resultar diferentes conte˙dos desses direitos
no que se refere à fruição, à sub-rogação de encargos e à administração da coisa comum, que serão
proporcionais ao valor das respectivas quotas. Tenha-se em mente que se trata de uma quota ideal e
não de uma parte diferenciada da coisa comum. Sendo a coisa comum, cada um dos comproprietários
tem um direito indiferenciado sobre totalidade dela. Na falta de indicação em contrário do título
constitutivo os direitos presumem-se quantitativamente iguais.
Havendo com propriedade há, em princípio, composse - cada comproprietário é, simultaneamente, um
compossuidor.
Pode haver contitularidade relativamente a outros direitos reais de gozo, tais como o usufruto e a
superfície. Note-se que o art. 1404 manda aplicar, subsidiariamente, as regras da compropriedade a
outras formas de comunhão de quaisquer outros direitos.
A construção dogmática do direito romano, que foi absorvida pelo direito português actual, admitia a
diferenciação entre comproprietários por referência a uma quota. Essa quota representava uma
·1
I diferença potencial da posição de cada um dos comproprietários. Como, tendo em conta o facto do
conte˙do do direito de propriedade serigual na propriedade singular e na compropriedade? A verdade
é que, o poder de fruição pode ser distribuído em medidas diferentes e, do mesmo modo, a suportação
dos encargos pode ser feita em moldes diferentes. O regime da compropriedade permite, assim, que
.j cada comproprietário veja a sua posição, quando efectivamente diferenciada relativamente aos demais

Carlos Fernandes - 2005/2006 r;


Direitos Reais: VII - Direito depropriedade [Hij>ótesen° 31]

comproprietários, por referência a uma quota. A quota, que aparece referida nos arts.1403, 1405, 1408
e 1409 (por exemplo), aparece como o valor abstracto que quantifica a posição de cada
comproprietário relativamente à fruição e, do mesmo modo, determina ainda, a sua participação nos
encargos que a coisa gere.
O nosso sistema segue o modelo da compropriedade romana em que se admite:
A separação de direitos;
- A existência de quotas;
A possibilidade de a comunhão se extinguir por acordo ou através da acção de divisão de coisa
comum, visto ser considerada uma situação temporária,

Contrariamente, o modelo germânico apresenta as seguintes características:


Cada pessoa é comunheira com as restantes;
Não há diferenciação nem qualitativa nem quantitativa;
Não há lugar à divisão da coisa comum, uma vez que é vista como uma situação perpétua.

***
Alínea a):
O título constitutivo da compropriedade neste caso é o contrato de compra e venda, o qual não define
o valor das quotas. Funciona, assim, a presunção do art. 1403/~ que, sendo inilidível (iure et de iure),
determina que cada coinproprietário dispõe de uma quota d~ 50%, independentemente do valor que
tenha pago. -_ -
"------.----
Havendo enriquecimento de um dos comproprietários - como é o caso - pode haver reajustamento
. através do instituto do enriquecimento sem causa.

Alínea b):
.}

O B violou o direito de compropriedade do C, uma vez que o art. 1406 dispõe que o uso de um é igual
ao uso dos outros, independentemente da quota, não sendo permitidoa qualquer deles vedar ao outro o
uso da coisa comum. Esta violação dava o direito ao C de interpor contra o yioladot uma acção de
reivindicação da coisa, para além do direito à indemnizaçãoem termos obrigacionais./
Em termos possessórios ...

Alínea c):
Cada comproprietário pode onerar ou dispor de toda a sua quota na comunhão ou de parte dela; mas
não pode onerar ou dispor de parte especificada da coisa comum. Cada comproprietário é titular de um
direito de propriedade sobre a totalidade da coisa e não sobre uma parte concreta da mesma. A sua
quota é uma quota ideal da totalidade da coisa e não uma parte concreta.
Para que o negócio jurídico de constituição ..do usufruto fosse válido teria que ser praticado com o
consentimento do outro comproprietário. Como C onerou parte da coisa sem esse consentimento, tal
oneração é tida como de coisa alheia, sendo o negócio nulo por violação do art. 8Q2 ex vi do art.
~C. . .~ ,
~..

Carlos Fernandes - 2005/2006 0s


Direitos Reais: VII - Direito depropriedade [Hipótese n° 32]

ltiP~i~~~;ii)~~~:
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...., ;:: . P:

Aula de 05-05-2006 (propriedade horizontal x compropriedade)


Em testamento, A atribui a seus filhos B e C o direito ao RlC e 10 andar da vivenda X No testamento
fica estipulado que o RlC caberá a B e o 10 andar a C.
A vivenda é composta de RlC e 10 andar com uma ligação interna por escadaria entre o RlC e o 10
andar e uma saída própria pelo RlC para a via p˙blica.
Após ter conhecimento do testamento, C deu de arrendamento a D a fracção que lhe cabe por
testamento.
Quidjuris?

***
A hipótese remete para a análise do regime da propriedade horizontal (arts. 1414 e ss.) concatenado
com o da compropriedade (1403 e ss.). Assim, importa, em primeiro lugar, verificar se a situação cabe
no primeiro regime e, caso negativo, fazer a aplicação do segundo, por força do art. 1416.
A propriedade horizontal é uma forma de propriedade especial que não pode ter lugar em todos os
casos. Não pode; nomeadamente, haver propriedade horizontal sobre coisas móveis nem sobre prédios
r˙sticos; quanto aos prédios urbanos, a lei submete a possibilidade de constituição da propriedade
horizontal a diversos requisitos administrativos (que agora não nos interessam) e a dois requisitos
civis, a saber:
lOQue as fracções do prédio sejam autónomas, independentes, distintas, isoladas entre si e com saída
própria para a via p˙blica ou para uma parte comum;
20 Que exista título constitutivo da propriedade horizontal (que pode ser um negócio jurídico,
usucapião ou decisão judicial proferida em acção de divisão de coisa comum ou em processo de
inventário (147111). Este tem que obedecer ao conte˙do mínimo estipulado pelo art. 1418, sob pena de
nulidade, devendo:
Individualizar as fracções, especificando as partes do edificio que lhe correspondem;
Fixar o valor relativo de cada fracção, expresso em percentagem ou permilagem, do valor total
do prédio. .
A falta de qualquer dos requisitos exigidos determina a nulidade do título constitutivo e a sujeição ao
regime da compropriedade (1416).
Quanto à natureza da propriedade horizontal não há unanimidade: para alguns autores, há tantas coisas
·1
quantas as fracções autónomas; para Oliveira Ascensão (e para o Prof.), há uma só coisa: as fracções
são partes dessa coisa e não coisas autónomas. À posição de quem defende tratar-se de uma
multiplicidade de coisas (tantas quantas as fracções) opõe-se uma dificuldade de monta: o que fazer,
neste caso, com as partes comuns?

***
No nosso caso, temos um prédio urbano constituído por duas fracções: o RlC e o 10 andar. No entanto,
estas fracções não cumprem os requisitos exigidos no art. 1415, uma vez que não são independentes
(há uma escadaria interna a interligá-las) e o 10 andar não tem saída directa para a via p˙blica ou para
uma parte comum.
O título constitutivo, neste caso, é o testamento (negócio jurídico unilateral), o qual não preenche os
requisitos exigidos no art. 1418, pois apesar de individualizar as fracções de forma suficientemente
especificada, não indica o valor relativo de cada uma delas.
Assim, na falta dos requisitos legais exigidos, o título de constituição da propriedade horizontal é nulo,
pelo que são aplicáveis à situação as regras da compropriedade (1416/1).
Como vimos, o art. 1408/1 permite ao comproprietário a disposição ou oneração, no todo ou em parte,

Carlos Fernandes - 2005/2006 r;


Direitos Reais: VII - Direito depropriedade [Hipótese n° 33]

da sua quota, mas não de uma parte diferenciada da coisa, a menos que conte com o consentimento do
outro comproprietário.
Ora C deu de arrendamento a D a "sua" fracção. Poderá o arrendamento ser entendido como oneração
da coisa? Segundo o Prof., não o sendo em sentido técnico, são-lhe aplicadas as mesmas regras, pelo
que C não poderia ter arrendado a dita fracção sem consentimento do B. Este negócio é nulo, nos
termos do art. 1408/2 e 892 do CC.

I Matéria para o 4° teste: Propriedade, Usufruto, Superfície e Servidões

Aula de 09-05-2006
Os condóminos do prédio X receberam uma convocatória do Administrador do condomínio que
comunicava a realização de uma Assembleia-Geral para o dia 30-04-2006, três semanas antes dessa
data. Na convocatória constava que a AG teria lugar na sala do condomínio pelas 21HOO, com a
seguinte ordem de trabalhos:
1. Aprovar o orçamento do ano anterior;
2. Decidir sobre a possibilidade de os condóminos terem animais domésticos nas suas fracções;
3. Proibir a visita de pessoas estranhas ao prédio a partir das 23HOO.
No final da convocatória comunicava-se ainda, que, em caso de falta de quorum, a assembleia
reuniria, com os condóminos presentes, meia hora depois e no mesmo Zocal.
Porquanto só estavam presentes 5 condóminos, a assembleia realizou-se às 21H30, havendo sido
aprovados todos os pontos da ordem de trabalhos.
Os condóminos presentes totalizavam 30% do valor do prédio, tendo as deliberações sido tomadas
por maioria representativa de 25% dos condóminos.
A administração notificou aos condóminos ausentes a acta da reunião do condomínio 48 horas após a
realização da assembleia. A acta foi assinada pelos condóminos presentes.
Quid juris?

***
I - Convocação da assembleia de condóminos.
A assembleia pode ser convocada pelo administrador ou por condóminos que representem, pelo
menos, 25% do capital investido, i. é, do valor do prédio (1431/2). Neste caso foi convocada pelo
administrador, pelo que não se oferece, neste ponto, qualquer crítica a tecer. Quanto à forma que tal
convocação deve revestir, estipula o art. 1432/1 que a assembleia é convocada:
Por meio de carta registada, enviada com 10 dias de antecedência, ou
Mediante aviso convocatório feito com a mesma antecedência, desde que haja recibo de
recepção assinado pelos condóminos.
O texto diz-nos que os condóminos receberam a convocação três semanas antes da data da realização
da assembleia, pelo que quanto à antecedência mínima não há qualquer problema; já quanto à forma, o
texto não nos permite saber se foi realizada por carta registada ou por convocatória confirmada por
recibo: diz-nos apenas que os condóminos a receberam. Não é, assim, possível aferir da validade da
convocação quanto a este aspecto.
Note-se que no caso sub judice estamos 'perante uma dupla convocatória: para a assembleia em
primeira convocação, a ter lugar às 21HOO, e para as 21HOO em segunda convocação, caso a primeira
não possa ter lugar por falta de quorum. A propósito deste, diz-nos o art. 1432/3 que "As deliberações

Carlos Fernandes - 2005/2006 r;


Direitos Reais: VII - Direito depropriedade [Hipótese n° 33]

são tomadas, salvo disposição especial, por maioria dos votos representativos do capital investido",
pelo que o quorum exigido é, assim, o que permita uma maioria simples do valor do capital investido.
Quanto à legitimidade desta segunda convocatória e consequente realização da assembleia na hora
indicada, tal resulta do art. 1432/4: se na convocatória tiver sido desde logo fixada outra data, como é
o caso, a data de realização será a que for indicada; caso a convocatória seja omissa, considera-se
convocada nova reunião para uma semana depois, na mesma hora e local.
Note-se que, por força do art. 1431/1, a assembleia para aprovação do orçamento deveria ser feita na
primeira quinzena de Janeiro; mas este é um pormenor irrelevante que não levanta problemas de
maior.

II - Maioria de aprovação das deliberações.


Se a assembleia tivesse reunido em primeira convocatória, as deliberações teriam que se aprovadas por
maioria dos votos representativos do capital investido (salvo disposição especial em contrário). Note-
se que pode suceder que nem todos os condóminos tenham um n˙mero de votos iguais, dado que estes
dependem do valor relativo da ou das respectivas fracções.
Os casos em que for exigida a unanimidade terão que ser especificados na ordem de trabalhos com
esta menção (1432/2).
No presente caso, tratando-se de assembleia reunida em segunda convocatória, as deliberações podem
ser aprovadas por maioria de votos dos condóminos presentes, desde que estes [condóminos]
representem, pelo menos, um quarto do valor total do prédio (1432/4). Diz-nos o texto que estavam
presentes 5 condóminos, que representavam 30% do valor do prédio, pelo que é superior aos 25%
exigidos. Tendo a votação atingido 25% do valor do prédio, as deliberações foram aprovadas de
acordo com a lei.

m .; Pontos 2 e 3 da ordem de trabalhos.


O goro das fracções autónomas pertence ao respectivo proprietário, integrando o conte˙do do direito
de propriedade. Os poderes de admninistração dos órgãos administrativos do condomínio - assembleia
de condóminos e administrador - está limitado às partes comuns do edifício, não têm competência
nem legitimidade para interferir no domínio das fracções autónomas.
A competência da administração sobre as partes comuns não se pode projectar ou reflectir para além
dessas partes comuns. A questão que se levanta prende-se, contudo, com o desvalor jurídico das
deliberações que extravasem o âmbito de competências dos órgãos administrativos do condomínio.
O art. 1433/1 sanciona com a anulabilidade as deliberações contrárias à lei ou a regulamentos
", I anteriormente aprovados; contudo, segundo o Prof. Coelho Vieira, isto não faz sentido. A adtnítir-se
J esta possibilídade, tal levaria a consequências absolutamente iníquas e despropositadas: imagine-se
que a assembleia de condóminos deliberava que uma condómina era obrigada a desfilar nua à janela
da sua casa e ninguém arguia a anulabilidade. Neste caso o vício sanava-se e a deliberação não
poderia mais ser atacada. Não pode ser!
Qual a solução?
O Prof. Coelho Vieira diz que vem ensinando, desde há muitos anos, que o desvalor das deliberações
contrárias à lei e tomadas fora do âmbito de competências da assembleia seriam nulas e não anuláveis.
Extraía esta conclusão através de uma interpretação restritiva da norma do 1433/1. Hoje, contudo,
tende para uma solução diferente. Baseado na referência do art. 1433/2, in [me, considera como
r

.J
J provavelmente mais acertado defender tratar-se de ineficácia. Note-se que esta solução encontra apoio
literal no art. 1433/2, o que não sucede com a tese da nulidade, sendo igualmente expedita e eficaz
para obviar às tais consequências de que se falou. O que não pode ser de modo algum é considerar que
neste caso se estaria perante o desvalor da mera anulabilidade.

Carlos Fernandes - 2005/2006 f;l


Direitos Reais: VII - Direito depropriedade

N - Modos de impugnação das deliberações.


Vamos supor, para efeitos académicos, que estas deliberações eram anuláveis. Quem poderia arguir
este vício?
o art. 1433/1 dá-nos a resposta: qualquer condómino que as não tenha aprovado (e não apenas os
ausentes).
Note-se que as deliberações têm que ser comunicadas aos condóminos ausentes no prazo de 30 dias,
mediante carta com aviso de recepção (1432/6), tendo estes o prazo de 90 dias para declararem a sua
concordância ou discordância (1432/7). O silêncio vale como aprovação (1432/8).
Com o fim de revogar as deliberações inválidas ou ineficazes pode ser exigida ao administrador a
convocação de uma assembleia extraordinária, a ter lugar no prazo de 20 dias (1433/2).Em alternativa,
pode qualquer condómino sujeitar a deliberação a um centro de arbitragem, no prazo indicado no art.
1433/3.
Em que prazo deve a anulabilidade ser judicialmente requerida?
Bom, isso depende: se tiver havido assembleia extraordinária convocada nos termos e para os efeitos
do art. 1433/2, o prazo será de 20 dias contados sobre a deliberação que tiver sido tomada nessa
assembleia extraordinária; caso contrário, o prazo será de 60 dias contados da data da deliberação que
se quer impugnar (1433/4).

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Carlos Fernandes - 2005/2006 ~


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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
Direito Penal I - Teste de Avaliação Contínua

28 de Março de 2007
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}_1)/' Z:;:2'/)21>;/~;? Numa madrugada de Inverno, com muita chuva e nevoeirolAnt6ni~~IonduZia o seu camião na
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auto-estrada de Cascais. Foi-lhe dada ordem de paragem por um agente da PSP que o seguia num

carro de patrulha, porque o a_~elado ~?_.~~~~


...~~?~~~_~l3:!~-~.~.:.~?..~?_P::.~~
..J.~,~?',':~.9..~~do,n~
piscas, factos de que aquele agente se apercebeu durante a parte do trajecto em que seguira atrás
--
do camião. Para segurança dos automóveis que circulavam na auto-estrada, o~ente da P.$L
--
colocou 1ill!ª- la.9-.!ema
~ de luz vermelha no lugar do "stop" esquerdo em falta. Depois
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de , realizadas ,

':::"~~7-;;:'C _';.tlecessáti~s adver~?as,~ d;PSP a l~Em


r~tir::. seguida, ordenou a António
I'.}.~ que conduzisse até ao postÕêle comfiustiv~xuno,
V1 a cerca de 1 km, comunicando-lhe
dzj.:p . 7
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1JiJ{ti1 que, para maior segurança, o carro patrulha escoltá-lo-ia à retaguarda. No momento em que eram
;1{ffJi:4 pr dadas aquelas instruções, r_.~on<luto~d;~~;;~·_~~~-q~~~ ..~;~:~~~·_ª_µtQ=~§ix;d~~.~~ ao

..~'-1:._----_..- aproximar-se, julgou ver uma !!l.2!!.P-l!!ad?;J?:ª."h.eJ.Vla.Só quando se encontrava a cerca de 25


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Suponha que, em resultado da colisão Dani~!,.~~~:p

Ferimentos .1?ll.Í!Cl graves. Transportado ao hospital, é submetido a. uma


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~rv:~~~<? ..~~_~gica de elevado n.~C?,durante a ~~_r:.~tesist~L~?jP'~~~
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Duração: 60 minutos

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