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Direito das Sucessões

Aulas práticas

Sofia de Vasconcelos Casimiro

Faculdade de Direito de Lisboa


Sucessão legitimária

I - Resolução de casos
(redução por inoficiosidade e colação)

Sofia de Vasconcelos Casimiro


Resolução de casos

A, viúvo, tinha três filhos: B, C e D.


A, que pretendia refazer a sua vida ao lado de E, celebra uma convenção
antenupcial pela qual atribui a D, em caso da sua morte e por conta da quota
disponível, as jóias de família, no valor de €40.000, que esta imediatamente aceita.
No ano seguinte, após casar com E, A doa um imóvel a B por conta da quota
disponível, no valor de €80.000, para que este possa iniciar uma nova vida após a
sua licenciatura, e faz um testamento público que estipula o seguinte:
“Para compensar o C dos benefícios acrescidos que dei à D e ao B, deixo-lhe os
imóveis que tenho em Lisboa por conta da quota disponível”.

A vem a falecer no ano seguinte ao do testamento, com um património avaliado


em 580.000, que inclui dois imóveis em Lisboa (no valor de €100.000). Deixou
também uma dívida de um empréstimo no valor de 60.000. Proceda à partilha de
A.

Sofia de Vasconcelos Casimiro


Resolução de casos

1. Referir a abertura da sucessão, pelo 2031.º (figura 2024.º)


2. Referir o chamamento dos sucessíveis, pelo 2032.º
3. Referir as modalidades de designação sucessória (2026.º a 2028.º)
4. Referir a respetiva hierarquia (2156.º)
5. Verificar se há lugar a sucessão legitimária, procurando sucessíveis
legitimários (2157.º): mulher e filhos
6. Cálculo da porção da herança correspondente à legítima objetiva
(QI): (1) identificar os sucessíveis legitimários prioritários; (2)
calcular o valor total da herança (VTH); e (3) apurar a fração
correspondente a esses sucessíveis legitimários

Sofia de Vasconcelos Casimiro


Resolução de casos

6. Explicar que o Donatum resulta da soma do “valor dos bens doados” com as
“despesas sujeitas a colação” (2162.º, n.º 1). Neste caso, temos de verificar se é
aplicável o regime da colação, segundo os seguintes passos:
1) Âmbito subjetivo (2104.º/1 + 2105.º): B reúne as condições e recai no âmbito subjetivo.
2) Âmbito objetivo (2104.º/1 e 2 + 2110.º): valores atribuídos a B estão abrangidos pelo âmbito
objetivo da colação (integram o Donatum).
3) Dispensa de colação (2113.º) - há a indicação tácita de dispensa (“por conta da quota
disponível)

Conclusões: aplica-se o art. 2114.º - De acordo com o n.º1, há imputação do valor


primeiramente na quota disponível. Só se exceder o valor da quota disponível poderá depois
haver imputação do remanescente na legítima subjetiva. Adicionalmente, se sobrarem valores
na QD e, como tal, houver a abertura da sucessão legítima, não há a preocupação de igualar os
valores recebidos por cada um dos descendentes.

Sofia de Vasconcelos Casimiro


Resolução de casos

1. Referir a abertura da sucessão, pelo 2031.º (figura 2024.º)


2. Referir o chamamento dos sucessíveis, pelo 2032.º
3. Referir as modalidades de designação sucessória (2026.º a 2028.º)
4. Referir a respetiva hierarquia (2156.º)
5. Verificar se há lugar a sucessão legitimária, procurando sucessíveis
legitimários (2157.º): mulher e filhos
6. Cálculo da porção da herança correspondente à legítima objetiva
(QI): (1) identificar os sucessíveis legitimários prioritários; (2)
calcular o valor total da herança (VTH); e (3) apurar a fração
correspondente a esses sucessíveis legitimários
(1) 2157.º, 2133.º n.º 1, al. a), 2134.º e 2135.º (2) 2162.º (3) 2159.º, nº 1

VTH = 580.000 + 80.000 – 60.000 = 600.000


QI (600.000 x 2/3) = 400.000 QD (600.000–400.000) = 200.000
Sofia de Vasconcelos Casimiro
Resolução de casos

7. Calcular o valor das legítimas subjetivas


2139.º, n.º 1 (= 2136.º da divisão por cabeça) aplicável ex vi 2157.º
Vamos dividir pelo cônjuge e pelos 3 filhos:
QI = 400.000, pelo que /4 = 100.000

Sofia de Vasconcelos Casimiro


Resolução de casos

8. Analisar as liberalidades

8.1. Doação mortis causa válida – com aceitação, a D (2028.º, 946.º, 1700.º) a título
de legado (2030.º/1 e 2, 2.ª parte), no valor total de 40.000

Porque se trata de liberalidade a favor de sucessível legitimário, necessária


discussão adicional da imputação desta liberalidade (na legítima subjetiva ou na
QD) . No caso, o autor da sucessão refere expressamente que pretende imputar na
QD

8.2. Doação em vida a B (940.º e ss) no valor de 80.000. Já vimos que, nos termos
dos artigos 2113.º e 2114.º, o valor desta doação é imputada na QD.

8.3. Deixa testamentária (2179.º e ss) a título de legado (2030.º/1 e 2, 2.ª parte) a
favor de C, no valor de 100.000. Uma vez mais, infere-se do testamento a
intenção de imputar na QD.

Sofia de Vasconcelos Casimiro


8. Análise das liberalidades face à QD

D 40.000 (doação mortis causa)


B 80.000 (doação em vida)
C 100.000 (deixa testamentária a título de legado)
Total: 220.000

Uma vez que a QD é de 200.000, há uma inoficiosidade de 20.000 (220.000 -


200.000). O autor da sucessão parece ter disposto da QI.
Pode haver redução (fictícia) de liberalidades: 2168.º e segs. Veja-se em
particular o artigo 2171.º (ordem redução).
Assim, na QD cairia a doação de B na totalidade e a doação mortis causa a
D na totalidade (total de 40.000). Contudo, dos 100.000 de C apenas 80.000
seriam imputáveis na QD. O restante é imputável na legítima subjetiva de C
(para que ele possa ficar com os imóveis e, assim, ainda respeitar a vontade
do autor da sucessão). Aplica-se aqui também o n.º 2 do artigo 2174.º
Sofia de Vasconcelos Casimiro
Resolução de casos

9. Mapa final da partilha

Sucessíveis Quota Quota Disponível Total do Quinhão


Indisponível Hereditário
E (cônjuge) 100.000 0 100.000
B- 100.000 80.000 180.000
(descendente/filho)
C 100.000 80.000 180.000
(descendente/filho)
D- 100.000 40.000 140.000
(descendente/filha)
400.000 200.000 VTH: 600.000

Sofia de Vasconcelos Casimiro


Resolução de casos

A, viúvo, tinha três filhos: B, C e D.


A, que pretendia refazer a sua vida ao lado de E, celebra uma convenção
antenupcial pela qual atribui a F, em caso da sua morte, as jóias de família, no
valor de €50.000, que esta imediatamente aceita.
No ano seguinte, após casar com E, A doa um imóvel a B, no valor de €200.000,
para que este possa iniciar uma nova vida após a sua licenciatura, e faz um
testamento público que estipula o seguinte:
“Deixo à G os quadros que tenho nos imóveis de Lisboa”.

A vem a falecer no ano seguinte ao do testamento, com um património avaliado


em €500.000, que inclui dois quadros nos imóveis em Lisboa (no valor de
€10.000). Deixou também uma dívida de um empréstimo no valor de €100.000.
Proceda à partilha de A.

Sofia de Vasconcelos Casimiro


Resolução de casos

1. Referir a abertura da sucessão, pelo 2031.º (figura 2024.º)


2. Referir o chamamento dos sucessíveis, pelo 2032.º
3. Referir as modalidades de designação sucessória (2026.º a 2028.º)
4. Referir a respetiva hierarquia (2156.º)
5. Verificar se há lugar a sucessão legitimária, procurando sucessíveis
legitimários (2157.º): mulher e filhos
6. Cálculo da porção da herança correspondente à legítima objetiva
(QI): (1) identificar os sucessíveis legitimários prioritários; (2)
calcular o valor total da herança (VTH); e (3) apurar a fração
correspondente a esses sucessíveis legitimários

Sofia de Vasconcelos Casimiro


Resolução de casos

6. Explicar que o Donatum resulta da soma do “valor dos bens doados” com as
“despesas sujeitas a colação” (2162.º, n.º 1). Neste caso, temos de verificar se é
aplicável o regime da colação, segundo os seguintes passos:
1) Âmbito subjetivo (2104.º/1 + 2105.º): B reúne as condições e recai no âmbito subjetivo.
2) Âmbito objetivo (2104.º/1 e 2 + 2110.º): valores atribuídos a B estão abrangidos pelo âmbito
objetivo da colação (integram o Donatum).
3) Dispensa de colação (2113.º) - Quanto a B, não há indicação de dispensa (expressa ou
tácita) nem cai numa das situações de presunção de dispensa

Conclusões: aplica-se o art. 2108.º - De acordo com o n.º1, há imputação do valor


primeiramente na legítima subjetiva. Só se exceder o valor da legítima subjetiva poderá depois
haver imputação do remanescente na quota disponível, estando nesta parte sujeito ao regime
geral da redução por inoficiosidade (n.º 2 do artigo 2108.º). Adicionalmente, se sobrarem
valores na QD e, como tal, houver a abertura da sucessão legítima, tem de se procurar igualar
os valores recebidos por cada um dos descendentes (n.º 1 do artigo 2104.º), na medida do
possível (n.º 2 do art. 2108.º).

Sofia de Vasconcelos Casimiro


Resolução de casos

1. Referir a abertura da sucessão, pelo 2031.º (figura 2024.º)


2. Referir o chamamento dos sucessíveis, pelo 2032.º
3. Referir as modalidades de designação sucessória (2026.º a 2028.º)
4. Referir a respetiva hierarquia (2156.º)
5. Verificar se há lugar a sucessão legitimária, procurando sucessíveis
legitimários (2157.º): mulher e filhos
6. Cálculo da porção da herança correspondente à legítima objetiva
(QI): (1) identificar os sucessíveis legitimários prioritários; (2)
calcular o valor total da herança (VTH); e (3) apurar a fração
correspondente a esses sucessíveis legitimários
(1) 2157.º, 2133.º n.º 1, al. a), 2134.º e 2135.º (2) 2162.º (3) 2159.º, nº 1

VTH = 500.000 + 200.000 – 100.000 = 600.000


QI (600.000 x 2/3) = 400.000 QD (600.000–400.000) = 200.000
Sofia de Vasconcelos Casimiro
Resolução de casos

7. Calcular o valor das legítimas subjetivas


2139.º, n.º 1 (= 2136.º da divisão por cabeça) aplicável ex vi 2157.º
Vamos dividir pelo cônjuge e pelos 3 filhos:
QI = 400.000, pelo que /4 = 100.000

Sofia de Vasconcelos Casimiro


Resolução de casos

8. Analisar as liberalidades

8.1. Doação mortis causa válida – com aceitação, a F (2028.º, 946.º, 1700.º, 1705.º)
a título de legado (2030.º/1 e 2, 2.ª parte), no valor total de 50.000

8.2. Doação em vida a B (940.º e ss) no valor de 200.000. Já vimos que, nos termos
dos artigos 2113.º e 2114.º, o valor desta doação é imputada primeiramente na
QI. Uma vez que a sua legítima é de apenas 100.000 euros, a parte excedente, no
valor de outros 100.000 euros, é imputada na QD.

8.3. Deixa testamentária (2179.º e ss) a título de legado (2030.º/1 e 2, 2.ª parte) a
favor de G, no valor de 10.000.

Sofia de Vasconcelos Casimiro


8. Análise das liberalidades face à QD

F 50.000 (doação mortis causa)


B 100.000 (doação em vida)
G 10.000 (deixa testamentária a título de legado)
Total: 160.000

Uma vez que a QD é de 200.000, sobram 40.000.

9. Aplicar o regime da sucessão legítima para o valor restante, embora


“corrigida” pelo regime da colação (tendo em vista igualar a posição
dos descendentes na maior extensão possível)
2131.º, 2132.º, 2133.º/1/a), 2134.º, 2135.º, 2136.º, 2139.º/1
Aqui o cônjuge fica equiparado: E, C e D recebem 13.333 cada.

Sofia de Vasconcelos Casimiro


Resolução de casos

10. Mapa final da partilha

Sucessíveis Quota Quota Disponível Total do Quinhão


Indisponível Hereditário
E (cônjuge) 100.000 13.333 113.333
B- 100.000 100.000 200.000
(descendente/filho)
C 100.000 13.333 113.333
(descendente/filho)
D- 100.000 13.333 113.333
(descendente/filha)
F 50.000 50.000
G 10.000 10.000
400.000 200.000 VTH: 600.000

Sofia de Vasconcelos Casimiro

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