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Direito de Propriedade

O direito de propriedade e a sua definição histórica-jurídica


Baseando-se na lição do prof. Moreira Alves e no disposto nas
Instituitas, diz-se que o direito de propriedade é o ius utendi et abutendi re sua
(o direito de usar e abusar de sua coisa).
O direito de propriedade era uma faculdade que ligava uma pessoa a
determinada coisa.
Poder absoluto versus limitações ao poder
No início, o proprietário detinha um poder absoluto quanto a
propriedade. Posteriormente, o proprietário passou a ter limitações no seu
poder. Podia-se usar, fruir e abusar da propriedade, desde que não
prejudicassem os direitos de outrem.
Espécies de propriedade
1. Propriedade quiritária = Primeiro tipo de propriedade, estava
prevista na lei decenviral, portanto era privativa de cidadão romano,
seu objeto poderia ser móvel ou imóvel, deveria estar localizado em
solo romano ou itálico, não poderia ser objeto as coisas que
pertenciam ao povo romano ou ao imperador
2. Propriedade bonitária = Surgiu quando o pretor precisou proteger a
pessoa que adquiria uma res mancipi por meio da traditio. Como
houve vício na forma da transmissão, o direito de propriedade era
conservado pelo alienante e o adquirente ficava apenas com a posse
do bem. Após um ano (bens móveis) ou dois anos (bens imóveis) o
adquirente passava a ter a propriedade do bem por usucapião. Caso
o vício formal tivesse ocorrido por má-fé do alienante, esse prazo era
desconsiderado para os fins de usucapião (actio publiciana).
3. Propriedade provincial: As terras situadas nas províncias são de
propriedade do povo romano ou do imperador (províncias senatoriais
e imperiais) que são dadas em posse para exploração mediante
pagamento de stipendium ou tributum
4. Propriedade Peregrina: Os estrangeiro não podem ser proprietários.
É protegida pelos pretores peregrinos e pelos governadores de
províncias através de ações análogas. Com a constitutivo
Antonianiana (212 d.c) desaparece a condição jurídica de peregrinos,
junto com a propriedade peregrina.
Modos de aquisição do direito de propriedade
Aquisição à título originário:
1. Ocupação: três requisitos obrigatórios: A apreensão da coisa, a
intenção de ser proprietário da coisa e que a coisa seja sem dono.
Res Nullius -> Coisa que não é de ninguém
Res Derelicta -> Coisas que são abandonadas
Res hostium -> Coisas que são de inimigos

Trebácio: entendia que o caçador que ferisse o animal e que o estivesse


perseguindo já detinha a propriedade sobre o animal e que cometeria
furto aquele que se apoderasse do animal enquanto era perseguido

Justianiano: entendeu que a aquisição da propriedade se verificava com


a apreensão da coisa, ainda que em propriedade alheia e contra a
vontade do proprietário do terreno (que podia ser indenizado
judicialmente por danos eventualmente causados)

2. Acessão: Ocorre quando duas coisas se unem de maneira que não


mais adquirem a individualidade anterior. A coisa acessória segue o
destino da principal e ela se incorpora. O acessório segue o principal.
Existem três formas:
IMÓVEL + IMÓVEL
a) Aluvião: acréscimo lento e gradual de terras a um imóvel, provenientes
de outro (águas de um rio levam as terras de uma propriedade a outra).
b) Avulsão: acréscimo rápido e violento de terras a um imóvel,
provenientes de outro (deslizamento de terras).
c) Leito abandonado: quando o rio não corre mais pelo local tem-se um
leito abandonado, as terras são igualmente dividas entre os proprietários
ribeirinhos.
d) Ilha nascida no meio de um rio: as ilhas nascidas nos rios pertenciam
aos respectivos donos dos rios.
MÓVEL + MÓVEL
a) Escritura: se alguém em material alheio escrito passava a ser do
proprietário do papiro
b) Pintura: Justiniano entendeu que quando alguém pintava um quadro
em tela alheia tornava-se proprietário do quadro o pintor
c) Textura: Torna-se proprietário por acessão o dono do tecido bordado
com fios alheios
d) Ferruminatio ou soldatura: Soldagens de duas coisas, torna-se
proprietário o dono da coisa principal.
MÓVEL + IMÓVEL
a) Semeadura: a acessão ocorre quando alguém semeia em terreno
alheio. Torna-se proprietário o dono do terreno
b) Plantação: a acessão se dá quando alguém planta uma árvore em
terreno de outro. Adquire a propriedade quando a árvore cria raízes o
dono do terreno
c) Edificação: quando alguém constrói um edifício com o material
alheio, em terreno próprio. Torna-se proprietário o dono do solo.

3. ESPECIFICAÇÃO
É uma forma de aquisição de propriedade que consiste na
transformação de uma matéria prima em uma coisa nova, distinta e com
função econômico-social própria
a) Quando a coisa não pode retornar a forma original torna-se
proprietário o especificador. Ex: vinho em relação à uva
b) Quando a coisa pode retornar a forma original torna-se proprietário o
dono da matéria prima. Ex: barra de prata transformada em vaso de
prata
4. AQUISIÇÃO DE TESOURO
Tesouro é um velho depósito de dinheiro, do qual não resta lembrança,
de modo que já não tem dono
Adriano estabeleceu que o tesouro fosse encontrado em terreno alheio
pertencia em partes iguais ao descobridor e ao proprietário do solo

5. ADIJUDICATIO
Ocorre quando em razão de ações divisórias o juiz tem poder para
atribuir a propriedade de uma coisa singular ou de parte de uma coisa
comum aqueles interessados na divisão desta

6. AQUISIÇÃO EX LEGE: Marco Aurélio diz que um condômino que não


pagasse dentro de quatro meses as despesas que fizera para restaurar
a casa comum, perdia a cota para aquele onerado com as despesas.
Valentino, Teodósio e Arcádio estabeleceram que aquele que invadisse
violentamente imóvel próprio que estivesse na posse de outro perderia a
propriedade para o possuidor

MODOS DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE A TÍTULO DERIVADO

a) Mancipatio: é um negócio jurídico do ius civile. Tinha quatro pré-


requisitos: cinco testemunhas, um porta-balança, o proprietário, o
adquirente, o bem (poderia ser um pouco do solo, no caso de venda de
terrenos).
b) Iure cessio: surgiu depois da mancipatio. É feita na presença de um
magistrado. O adquirente reclama o bem perante o magistrado, na
presença do proprietário, que não o contesta.
c) Traditio: é a transferência de posse de um bem no intuito de também se
transferir o direito de propriedade. Possui quatro requisitos: (1) a
transferência da posse; (2) que o bem seja suscetível de traditio, i.e.,
seja uma res nec mancipi; (3) a intenção de transferir e adquirir a
propriedade; (4) a existência da causa jurídica.
Aquisição por usucapião: Após um ano (bens móveis) ou dois anos (bens
imóveis) o adquirente passava a ter a propriedade do bem por usucapião. Caso
o vício formal tivesse ocorrido por má-fé do alienante, esse prazo era
desconsiderado para os fins de usucapião (actio publiciana).
Direitos reais
Conceito: direitos reais sobre coisas alheias ou direitos limitados
decorrem do desmembramento de um ou mais direitos atinentes ao direito de
propriedade. O seu objeto não é coisa própria, mas coisa que pertence a outra
pessoa
Direito real de gozo e fruição
1.1 Superfície: o proprietário concede a outra pessoa o direito de
construir ou plantar no terreno que lhe pertence, por tempo
determinado, de forma gratuita ou onerosa, mediante escritura
pública registrada em cartório.
1.2 Servidão predial: limite imposto a um imóvel para o uso e utilidade
de outro que pertence a outro dono. Trata-se de um direito real
instituído sobre um prédio (serviente) em favor do outro prédio
9dominante), não a um dono
1.3 Usufruto: direito real de uso fruição das utilidades e frutos sobre
coisa alheia
1.4 Uso: direito real sobre coisa alheia, temporário destinado a permitir
que o usuário retire utilidades necessárias as necessidades de sua
família, sendo mais restrito que o direito do usufrutuário
1.5 Habitação: direito temporário de ocupar alheia gratuitamente para
moradia do titular

Direito real de garantia


2.1 Penhor: direito real que vincula coisa móvel a uma satisfação de
uma dívida. Ocorre quando se transfere a posse da coisa pelo devedor
como garantia do pagamento ao credor
2.2 Hipoteca: Direito real sobre coisa alheia recai principalmente sobre
imóveis ou outros bens do devedor, cujo objetivo é assegurar o
recebimento de um crédito, não transferindo a posse do imóvel que
continua com o devedor
2.3 Anticrese: consiste em direito real sobre coisa alheia, por meio da
qual o credor tem a posse de coisa frugífera, recebendo frutos e
rendimentos, imputando-os no pagamento da dívida

3.1 Servidões Prediais (ou Reais) → “UM IMÓVEL SERVE A UM IMÓVEL”


Retira-se a utilidade de imóvel (serviente) em favor de outro imóvel
(dominante). Tem como princípios: “Um imóvel serve a outro”; são perpétuas;
são permanentemente vinculadas ao imóvel dominante; não é passível de
divisão, alienação ou cessão; o proprietário serviente não pode causar danos à
servidão. São extintas por três motivos: pela destruição completa do imóvel ou
da servidão; pela falta de uso; pela confusão do direito de propriedade (v.g. o
dono do imóvel serviente compra o imóvel dominante). Dividem-se
basicamente em duas: as rústicas e as urbanas.

3.1.1 Servidões Prediais Rústicas (ou Rurais) (iura praediorum


rusticorum)
a) Servidão de passagem:

• Iter: passagem de pessoas (pode ser a pé, cavalo e


liteira). Exemplo: Alessandro é dono de uma propriedade a qual não
possui acesso à rua pública. Para chegar ao logradouro ou ter acesso à
sua propriedade necessita passar pela propriedade de Clara, que não o
autoriza. Se Alessandro levasse o caso a um magistrado romano, este,
baseando-se no seu imperium, determinaria a criação da servidão que
se possibilitaria a passagem de Alessadro, mesmo que sem o
consentimento de Clara. (Nomes fictos).
• Actus: passagem de rebanhos ou carros.
• Via: passagem de pessoas, rebanhos, carros e também o transporte de
cargas.

b) Servidão de águas:

• Aquaeductus: direito de canalização de água do prédio serviente para o


dominante.
• Haustus: direito de retirar água do prédio serviente vizinho.
• Observação importante: são servidões prediais rústicas de águas os
seguintes direitos: (1) conduzir o gado para beber água no prédio
vizinho; (2) direito de navegação por rio existente no prédio vizinho.

2.1.2 Servidões Prediais Urbanas (iura praediorum urbanorum)

• Servidão de travas: relaciona-se ao Direito de travejamento na parede


do vizinho.
• Servidão de luz: veda-se o bloqueio da luz do vizinho por construção de
prédio demasiadamente alto.
• Servidão de escoamento das chuvas: relaciona-se ao direito de não
deixar o vizinho escoar as águas das chuvas na propriedade do vizinho.

3.2 Servidões Pessoais (servitutes personarum) → “UM IMÓVEL SERVE A


UMA PESSOA”

• Usufruto: a mais importante das servidões pessoais. Segundo


Justiniano, usufruto é o direito de usar e fruir da coisa alheia sem lhe
alterar a substância, sem que se possa dispor da coisa. É como se fosse
uma “propriedade por tempo determinado”, a qual se priva do poder de
disposição precisamente por ser por tempo determinado. O usufruto não
é passível de transmissão ou alienação, mas pode ser cedido. O
usufrutuário não possui a propriedade e nem a posse, ele possui a
detenção da coisa (i.e., não possui o ímpeto de ser o proprietário).
• Uso: é um direito real transferido ao usuário para utilização de coisa
alheia não-consumível. Sem prejuízo da sua destinação econômica.
Poderia ser concedido a título gratuito ou oneroso. Tinha-se o dever de
conservar a coisa como se fosse sua, para posteriormente restituí-la
como recebeu.
• Habitação: era o direito de usar uma casa alheia com a finalidade de
habitá-la.
• Operae servorum et animalis alterius: era o direito de usar os serviços
de animais e escravos alheios. Geralmente, originava-se de um
testamento e podia ser objeto de locação.
Posse
Proteção possessória:
·Interdicta retinendae possessionis causa: destinado a proteção da
posso turbada.
Proibitórios pois o pretor proibia fazer algo que perturbasse a paz, e
duplo pois dirige-se ao possuidor e ao perturbador.

Interdicta unde vi: fazia a recuperação na posso imóvel aquele que foi
despojado de forma violenta. Justiniano funde todos esses interditos.
Vi cotidiana: violência comum, sem violência física.
Vi armata: violência de um bando armado, a posse pode ter se dado de
forma violenta clandestina e/ou precária.
De precario: dado ao proprietário contra o precário que não quer
entregar a coisa.
De clandestina possessione: dado ao desposado para que recuperasse
a posso de imóvel ocupado clandestinamente por um terceiro.
·Interdito uti possidetis: visava a retenção de bens imóveis, era para o
possuidor que adquiriu de forma não violenta, clandestina e precária.
·Interdito utrubi: visava a manutenção de bens móveis, sem violência,
clandestinidade ou precariedade. Eram concedidos aos que tinham posse atual

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