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23/11/2021 22:21 2021/Anual - 04830008 - T2 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS: Direito de propriedade e posse

2021/Anual - 04830008 - T2 - HISTÓRIA DAS


INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
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2021/Anual - 04830008 - T2 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS

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TÓPICO Nº 06 - DIREITO DAS COISAS, DIREITO DE PROPRIEDADE E POSSE /
Direito de propriedade e posse

Direito de propriedade e posse


Direito de Propriedade

         

1. O DIREITO DE PROPRIEDADE E A SUA DEFINIÇÃO HISTÓRICA-JURÍDICA

          A origem da propriedade na Roma Antiga não é bem registrada, sendo assim há teorias que apontam pela origem na propriedade coletiva, outras
na propriedade privada e outros ainda afirmam que haveria a existência concomitante entre ambas. Adotando a lição do prof. Severino dos Santos,
afasto a possibilidade de precisar qual a propriedade que originou no Antiguidade Romana devido a carência de provas e fundamentações históricas
completas.

          Acompanhando a visão do italiano Biondo Biondi, é possível apontar que a propriedade era conectada com a instituição da família e que não
constituía uma propriedade coletiva (por não se admitir igualdade jurídica entre membros) e nem individual ou privada (porque há um grande
reconhecimento dos direitos do grupo familiar).

          De mesmo modo, o Direito Romano não desenvolveu uma definição clara do direito de propriedade. Baseando-se na lição do prof. Moreira Alves
e no disposto nas Institutas, diz-se que o direito de propriedade é o ius utendi et abutendi re sua (o direito de usar e abusar de sua coisa).

          Resumidamente e de certa forma empobrecendo a matéria, o direito de propriedade era uma faculdade que ligava uma pessoa a determinada
coisa. Adotando a doutrina de Moreira Alves diz que o direito de propriedade é a faculdade natural de se fazer o que se quiser sobre a coisa, exceto
aquilo que é vedado pela força ou pelo Direito.

           

2. PODER ABSOLUTO VERSUS LIMITAÇÕES AO PODER

          No início, a proprietário detinha um poder absoluto quanto a propriedade, materializado por meio do ius utendi (direito de usar e tirar todas as
utilidades), ius fruendi (direito de fruir e de aproveitar os benefícios produzidos) e o ius abutendi (direito de dispor, de explorar e, até mesmo, de
destruir).

          Posteriormente, o proprietário passou a ter limitações no seu poder. Podia-se usar, fruir e abusar da propriedade, desde que não prejudicassem
os direitos de outrem (v.g. direitos de vizinhança, razões sociais, interesse do Estado Romano).

      

3. ESPÉCIES DE PROPRIEDADE

          A propriedade na Roma Antiga era quadripartida, a saber, elenca-se uma breve definição contendo requisitos e características de cada uma:

Propriedade quiritária: foi o primeiro tipo de propriedade; estava prevista na lei decenviral, portanto era privativa de cidadão romanos; seu
objeto poderia ser móvel ou imóvel; deveria estar localizado em solo romano ou itálico; não poderia ser objeto as coisas que pertenciam ao povo
romano ou ao imperador.
Propriedade bonitária (ou propriedade pretoriana): surgiu quando o pretor precisou proteger a pessoa que adquiria uma res mancipe por meio
da traditio (vício formal). Como houve vício na forma da transmissão, o direito de propriedade era conservado pelo alienante e o adquirente ficava
apenas com a posse do bem. Após um ano (bens móveis) ou dois anos (bens imóveis) o adquirente passava a ter a propriedade do bem por
usucapião. Caso o vício formal tivesse ocorrido por má-fé do alienante, esse prazo era desconsiderado para os fins de usucapião (actio publiciana).
Propriedade provincial: provincías eram territórios conquistado pelo Império Romano. Eram subdivididas em municípios e regidas por um
governador. As províncias eram res extra commercium: pertenciam ao povo romano. Portanto, as propriedades provinciais eram concessões para a
exploração econômica mediante o pagamento de tributos. Este tipo de propriedade fora extinto com a ampliação da cobrança de tributos a todos
os tipos de propriedade.
Propriedade peregrina: eram as propriedades dos peregrinos sem ius commercium que foram defendidas pelo pretor peregrino. Esse pretor
requiria um julgamento do direito de propriedade do peregrino como se romano fosse (uma ficção jurídica).

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4. MODOS DE AQUISIÇÃO DO DIREITO DE PROPRIEDADE

(1)  Aquisição a título originário

Ocupação: há três requisitos obrigatórios: (1) a apreensão da coisa; (2) a intenção de ser proprietário da coisa e; (3) que a coisa seja sem dono, i.e.,
res nullius (de ninguém), res hostium (do inimigo) e res derelicta (abandonadas).

Acessão: ocorre quando duas coisas se unem de maneira que não mais adquirem a individualidade anterior. Há três formas:

Imóvel + imóvel

a)        Aluvião: acréscimo lento e gradual de terras a um imóvel, provenientes de outro (v.g. águas de um rio levam as terras de uma
propriedade a outra).

b)        Avulsão: acréscimo rápido e violento de terras a um imóvel, provenientes de outro (v.g. deslizamento de terras).

c)        Leito abandonado: quando o rio não corre mais pelo local tem-se um leito abandonado, as terras são igualmente dividas
entre os proprietários ribeirinhos.

d)        Insula in flumine nata: as ilhas nascidas nos rios pertenciam aos respectivos donos dos rios.

Imóvel + móvel: são exemplos: a plantação em relação ao solo, a construção em relação ao solo.

Móvel + móvel: são exemplos: escritos e pinturas realizados em material alheio.

Especificação: ocorre quando se transforma matéria prima em coisa nova, fazendo surgir uma nova espécie. É a transformação da matéria prima
(v.g. a uva em vinho, a linha em tecido). Se a coisa especificada pudesse retornar ao seu estado original (v.g. vaso de ouro que derretido retorna a
ouro), o dono seria o dono da matéria prima. Já se a coisa especificada não pudesse ser reduzida a coisa que lhe originou, o dono passa a ser o
dono da coisa especificada.
Aquisição de frutos: são exemplos: colheita de frutos de árvore, coleta dos juros sobre dívida.

Adjudicação: definido por algum ato de um magistrado.

Aquisição de tesouros: tesouro é o velho depósito de dinheiro do qual não se tenha memória de quem tenha sido o dono.

Ex lege: definido por alguma norma jurídica.

     

(2)   Aquisição a título derivado

Mancipatio: é um negócio jurídico do ius civile. Tinha quatro pré-requisitos: cinco testemunhas, um porta-balança, o proprietário, o adquirente, o
bem (poderia ser um pouco do solo, no caso de venda de terrenos).
Iure cessio: surgiu depois da mancipatio. É feita na presença de um magistrado. O adquirente reclama o bem perante o magistrado, na presença do
proprietário, que não o contesta.
Traditio: é a transferência de posse de um bem no intuito de também se transferir o direito de propriedade. Possui quatro requisitos: (1) a
transferência da posse; (2) que o bem seja suscetível de traditio, i.e., seja uma res nec mancipi; (3) a intenção de transferir e adquirir a propriedade;
(4) a existência da causa jurídica.

      

(3)  Aquisição por usucapião: Após um ano (bens móveis) ou dois anos (bens imóveis) o adquirente passava a ter a propriedade do bem por
usucapião. Caso o vício formal tivesse ocorrido por má-fé do alienante, esse prazo era desconsiderado para os fins de usucapião (actio publiciana).

          

            

      

Posse (possessio)

        

1 DEFINIÇÃO

          Para o prof. Severino dos Santos, a posse é o poder físico exercido sobre a coisa, pelo proprietário ou por outrem. Não constitui um poder de jure,
mas um poder de facto, protegido juridicamente. A palavra se origina de possessio, que tem raízes em potis e sedere, no sentido de estar sentado,
assentar-se. Biondo Biondi afirma que “a noção geral e compreensiva de posse é aquela de senhoria sobre coisa de modo corporal”.

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          Muitos autores associam o surgimento deste instituto com a repartição de terras conquistadas pelos romanos, que tinham sido loteadas e
cedidas a título precário aos cives romanos – essas eram as possessiones. Contudo, outros autores divergem e apontam o surgimento da posse a partir
de decisões arbitrárias de pretores que, na fase inicial das ações reivindicatórias, quando outorgava a qualquer das partes litigantes, a guarda ou
detenção da coisa em disputa.

      

2 ELEMENTOS DA POSSE

2.1 Animus

          É o elemento subjetivo, é a intenção. Segundo Jhering: “o animus nada mais é do que a intenção de deter a coisa”. Para Savigny, era “a intenção de
proprietário”, que se traduz na maneira de atuar, de agir como se proprietário fosse. Note que as definições desses dois romanistas não se excluem,
mas se complementam.

2.2 Corpus (ou possessio corpore)

          É o elemento objetivo, de ordem física, material, concreta, a dominação de fato, o apoderamento da coisa. Note que há situações em que falta o
animus possidenti, no exemplo de um locatário que só tem a posse física do imóvel, porém não há o animus de ser o proprietário, tanto que há o
estabelecimento de um contrato.

2.3 Considerações sobre os elementos da posse

          Note bem que é necessária que estejam presentes, ao mesmo tempo, os dois elementos da posse. Quanto ao proprietário, veja que ele tem o
animus e o corpus quando o objeto está em suas mãos. Tem apenas o animus, entanto, quando a coisa se encontrar em posse de outrem.

                      

3 DISTINÇÃO DE PROPRIEDADE

          Embora no entendimento comum, posse e propriedade são expressões equivalentes, contudo, para o Direito não significam a mesma coisa. Por
um lado, temos o Direito de Propriedade que é o maior dos Direitos Reais, protegido pelo ius civile. Enfim, é um estado de direito. O proprietário tem
sobre a coisa o animus domini. Por outro, temos a posse que é um estado de fato protegido pelo direito. O possuidor não tem o animus domini, tem o
animus possiendi.

          Essa distinção fora muito bem estabelecida no direito justinianeu, nos livros 41 e 43 do Digesto encontram-se passagens que dizem ser
necessária a desvinculação da posse e da propriedade, cita-se a saber: D. 43,14,1,2: A posse deve estar separada da propriedade.

                          

4 ESPÉCIES DE POSSE

          Antes de adentrar no tema desta seção, faz-se necessária a anotação de que não há posse justa que seja originária de atos violento, clandestino
ou precário. Para especificar os tipos de posse, adotar-se-á a divisão tripartite do Direito Clássico:

4.1 Possessio naturalis

          É aquela que corresponde à simples detenção, constituindo uma relação de fato com a coisa, sem a intenção de apoderar-se dela porque se
detinham em nome de outrem. Trata-se da posse material, sem o animus. O detentor da posse está na posse precariamente, devendo restituir a coisa
ao seu proprietário quando for reclamada.

4.2 Possessio civilis

          É a relação de fato com a intenção de ter a coisa para si, baseada numa justa causa, i.e., sob uma relação reconhecida como idônea, capaz de
permitir a aquisição do direito de propriedade por meio da traditio ou da usucapio. Esse tipo de posse era protegido pela actio publiciana.

4.3 Possessio ad interdicta

          Indica uma relação de fato que se estabelece com a detenção com a detenção da coisa e a vontade de possuí-la. É a categoria mais importante e
mais frequente. Consistem na possessio naturalis conjugada com o elemento do animus. Eram protegidas pelos interditos possessórios (estudados no
primeiro semestre) e dessa proteção vem o nome desta espécie.

                    

5 OBJETO DA POSSE

          Podiam ser objeto de posse todas as coisas corpóreas (e, no período justinianeu, incluíram-se a posse de direitos) que fossem res in commercio e
que, portanto, podiam tornar-se objeto de propriedade.

                    

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6 INÍCIO E TÉRMINO DA POSSE

          A priori, o termo inicial da posse se dava quando estavam presentes os seus dois elementos constitutivos, sendo necessária a apreensão material
da coisa pela própria pessoa ou um terceiro que lhe estivesse subordinado. Já o termo final se dava quando desapareciam um ou ambos os seus
elementos constitutivos.

          No tocante ao término da posse, o prof. Moreira Alves ressalta que haviam casos em que para os jurisconsultos não se extinguia a posse com o
desaparecimento de um dos seus elementos constitutivos, cita-se alguns casos: (1) ocupação clandestina de imóvel não acarreta perda imediata da
coisa pelo possuidor; (2) se o possuidor se separasse brevemente da coisa; (3) a loucura não ocasionava o término da posse.

           

7 NATUREZA DA POSSE E FUNDAMENTO DA PROTEÇÃO POSSESSÓRIA

          Enquanto a ação do proprietário é contra terceiros era a reivindicativo, o possuidor tinha ao seu alcance os interditos possessórios.

          Para Savigny, a proteção possessória era calcada na ideia de ordem pública, cita-se: “a posse é protegida porque cabe ao Estado coibir a violência
e a turbação da posse é delio contra a própria pessoa do possuidor”.

          Para Jhering, “a proteção da posse é apenas um complemento necessário à tutela da propriedade”. Assim, para ele está no campo do interesse
privado, pois muitas vezes a posse e a propriedade se encontram sob a mesma pessoa. Para este romanista, proteger a posse é também proteger a
propriedade.

          Contudo, a origem da proteção possessória parece ser diferente aos olhos do prof. Severino Santos. Aparenta ter surgido quando da exploração
das terras públicas por particulares. Como não possuíam a propriedade, não poderiam usar a reivindicativo, mas não estavam desprotegidos pelo
Direito de seu tempo. Os interditos eram mecanismos de defesa da posse e de manutenção da harmonia social.

          A proteção da posse se dava, como alhures mencionada, por meio dos interditos, uma determinação do pretor, atendendo solicitação dos
litigantes, para proteger a posse ameaçada ou violada. As espécies de interditos foram estudadas no semestre anterior quando dos expedientes do
pretor

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

JUSTINIANO. Institutas do Imperador Justiniano: traduzidas e comparadas com o Direito Civil Brasileiro. Tradução de Spencer Vampré. São Paulo:
Livraria Magalhães, 1915.

MOREIRA ALVES, José Carlos. Direito Romano. Rio de Janeiro: Forense, 2018.

SANTOS, Severino Augusto dos. Direito Romano: uma introdução ao Direito Civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2013.

Última atualização: domingo, 30 mai 2021, 21:37

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