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GRUPO REALIZADOR
AVALIAÇÃO PROFESSOR(A)
Critérios de Avaliação da A1
Critério de avaliação Detalhamento do critério Peso
Uso da norma culta da língua Avaliar: (i) correção ortográfica e gramatical; (ii) uso 20%
portuguesa e linguagem de termos jurídicos; (iii) coesão e coerência textuais:
jurídica. Estruturação formal frases, parágrafos e ideias do texto estão conectados,
do texto fazendo sentido.
Compreensão do enunciado e Avaliar: (i) a questão foi respondida; (ii) a resposta 30%
desenvolvimento da resposta contém conceitos e/ou argumentos que tragam
profundidade.
Fundamentação jurídica Avaliar: (i) utilização da legislação, jurisprudência, 50%
doutrina e/ou outras fontes do direito; (ii) raciocínio
jurídico conectando a fonte do direito ao caso
apresentado
ATIVIDADE AVALIATIVA A3
PARECER JURÍDICO
I- DO RELATÓRIO
II- DA FUNDAMENTAÇÃO
Conforme já dito, a ação de Usucapião ordinária requerida pela Sra. Maria das Graças não
pode ser acolhida e deferida neste processo pois não atende os requisitos mínimos exigidos na
legislação brasileira.
Usucapião ordinária é uma das modalidades do Usucapião e está prevista no artigo 1242 do
Código Civil Brasileiro de 2002, que além dos requisitos comuns, como a posse ininterrupta e
sem oposição, possui requisitos específicos como o justo título e a boa-fé, além do prazo de 10
anos de posse efetiva.
Pode-se observar o artigo 1242 do Código Civil:
Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido
adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório,
cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua
moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico.
O parágrafo único trata sobre a redução do prazo prescricional para 5 (cinco) anos, caso
o possuidor tenha adquirido o imóvel de forma onerosa e obtenha o registro do mesmo, o que
não se aplica no caso de Maria das Graças.
Atentando-se ainda ao prazo, vale citar que para possuir o bem é requisitado o prazo de
10 anos. Prazo que deve ser cumprido de forma contínua, incontestada e com “animus domini”.
Em seu pedido Maria das Graças alega que possuía a posse mansa e pacífica do imóvel
por mais de 20 (vinte) anos, sem que houvesse interrupção, diz que sempre zelou pela
residência, administrando o pagamento de despesas e arcava com a prestação de contas aos
litisconsortes passivos. A autora ainda alega que, realizou obras no imóvel à suas próprias
expensas, sendo elas: conserto das telhas, colocação de papel de parede em todo imóvel,
instalação corrimão na escada que conduz ao segundo andar e troca da fiação elétrica, tudo
realizado em seu atual período de posse.
Mas, ainda sim Maria das Graças não possui pleno direito de posse. Vamos aos fatos.
I- DOS FATOS
Pode-se dizer que o justo título e a boa-fé são requisitos mínimos para a usucapião ordinária.
Há definição prevista em lei para o justo título e se encontra no Código Civil Brasileiro.
Art. 1.242: Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e
incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos.
Seu conceito gera diferenças entre opiniões doutrinárias, uma parte da doutrina acredita
que o justo título é um instrumento para transferência do domínio a alguém. Nesse sentido é o
que lecionam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald: “Justo título é o instrumento que
conduz um possuidor a iludir-se, por acreditar que lhe outorga a condição de proprietário. Trata-
se de um título que, em tese, apresenta-se como instrumento formalmente idôneo a transferir a
propriedade, malgrado apresente algum defeito que impeça a sua aquisição. Em outras palavras,
é o ato translativo inapto a transferir a propriedade”.1
Para Carlos Roberto Gonçalvez o termo título é tomado em sentido lato, isto é, é o
elemento representativo da causa ou fundamento jurídico de um direito.2
Já Maria Helena Diniz, “para que haja justo título, a lei exige que o possuidor seja
portador de documento capaz de transferir-lhe o domínio”. Pode se dizer que Maria não faz
qualquer distinção entre instrumento e ato.3
Art. 1.201 É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a
aquisição da coisa. Parágrafo único: O possuidor com justo título tem por si a presunção
da boa-fé salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta
presunção.
Entendemos que o possuidor deve ter a certeza de que a coisa que está em sua posse lhe
pertence, e por boas intenções ignora o vício e/ou obstáculo que impede a aquisição da coisa.
1
FARIAS, Cristiano Chaves de ROSENVALD, Nelson. Direito Civil. Direitos Reais. 4 ed. Rio de Janeiro: Lúmen
Juris, 2007.p. 277
2
GONÇALVEZ. Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Direito das Coisas. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 5. p.
77.
3
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Direito das coisas. 24 ed. Reformulada. São Paulo:
Saraiva, 2009. v. 4. DINIZ. op. cit. Pg. 164.
Sendo assim, a boa-fé está ligada ao estado de ignorância do usucapiente, com isso ela
se torna necessária para que o possuidor entenda que o usucapiente é seu, a boa-fé é tida como
opinio domini, uma vez que o possuidor se identifica como dono da coisa.
Apesar de Maria das Graças ter boa-fé, não há existência de justo título.
O fato é que, para constituir a posse mansa e pacífica é necessário que além do interesse
de usucapir o imóvel e exercer poderes como se dono fosse, é imprescindível que não exista
contestação nenhuma do proprietário do imóvel sobre a posse durante o prazo mínimo de 10
(dez) anos estabelecido no artigo 1242 do Código Civil já citado anteriormente.
Pode-se considerar a posse como mansa, quando não se sofre dentro do prazo legal,
oposição de quem tenha interesse sobre o imóvel. Não obstante, deve-se além de exercer a posse
e os requisitos acima, o animus domini, exercício que quando realizado caracteriza, efetiva e
diferencia a posse criando a oportunidade da posse comum.
Para Flávio Tartuce a posse ad usucapionem é uma exceção à regra que se prolonga por
determinado lapso de tempo previsto na lei.
(...) Em outras palavras, é aquela posse com olhos à usucapião (posse usucapível), pela
presença dos seus elementos. A posse ad usucapionem deve ser mansa, pacífica, duradoura por
lapso temporal previsto em lei, ininterrupta e com intenção de dono (animus domini – conceito
de Savigny). Além disso, em regra, deve ter os requisitos do justo título e boa-fé.4
Quanto a isso é evidente que a Sra. Maria das Graças não possui a posse mansa e pacífica
do imóvel, sendo este um requisito importante para a ação de usucapião ordinária.
4
Tartuce, Flávio, Manual do Direito Civil, volume único, 2019, 10ª edição, pg. 850.
c) Do prazo
Como relatado anteriormente, o artigo 1242 do Código Civil Brasileiro trás o prazo de 10
(dez) anos para possuir de fato a propriedade através da usucapião ordinária.
Maria das Graças afirma possuir o imóvel por mais de 20 (vinte) anos, uma vez que foi
contratada pelos filhos do Sr. Pedro Álvares Cabral para o exercício da função de cuidadora,
serviço que foi prestado por 20 (vinte) anos, até o óbito de Sr. Pedro.
O fato é que, o período correspondente há 20 (vinte) anos de posse alegado por Maria
das Graças é insuficiente para a procedência da usucapião ordinária, tendo em vista que Maria
estava na propriedade durante esses 20 (vinte) anos apenas cumprindo sua função de cuidadora.
O empregado que reside em área pertencente ao empregador por motivo empregatício não
constitui relação de posse, pois apenas é um servidor da posse alheia.
Com isso, o período de posse em que Maria tem o imóvel como seu de forma contínua
é de 8 (oito) meses, prazo insuficiente para requerer ação de usucapião ordinária.
d) Do esbulho
Após a morte do Sr. Pedro Álvares Cabral houve uma inversão no animus da Sra. Maria
das Graças, que passou a se comportar como proprietária do imóvel, passando assim a agir de
má-fé.
Porém, a Sra. Maria das Graças foi notificada pelos filhos de Sr. Pedro, para deixar
imóvel no prazo de 30 (trinta) dias, uma vez que o imóvel estava sendo negociado para venda
de um terceiro.
Com a recusa do pedido, o que antes era mera detenção devido ao cumprimento de suas
obrigações de cuidadora, se tornou posse, porém viciada pela precariedade posteriormente
transformada em esbulho pela recusa da autora em deixar o imóvel.
Para Guilherme Gama a “proteção judicial da posse, cabíveis nos casos em que, em
decorrência de ato ilícito de ameaça, turbação ou esbulho, há clara possibilidade de perda ou
obstrução do exercício do poder de fato sobre a coisa”.6
5
Júnior, Humberto Theodoro., Curso de Direito Processual Civil, editora forense, 2003, 32ª edição, volume III,
pg. 117.
6
GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da, op. cit., p. 167
Cível Nº 185019320, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Alçada do RS, Relator: José
Maria Rosa Tesheiner, Julgado em 14/05/1985)
As benfeitorias são bens acessórios de um imóvel ou bem imóvel que visam a conservação
ou melhoria do mesmo.
Maria realizou benfeitorias necessárias e úteis – são as que têm por fim conservar ou evitar
que o bem se deteriora e aumentam ou facilitam o uso da coisa, tornando-a mais útil.
O Código Civil trata sobre as benfeitorias descritas no art. 96º, parágrafo 2º e 3º:
§ 3º São necessárias as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore.
Agindo de boa-fé, mesmo sem ser possuidora Maria tem direito a indenização das
benfeitorias, conforme previsto no Código Civil Brasileiro:
Para a retenção das benfeitorias, o artigo 1.219 do Código Civil expressa três
consequências muito claras, quais sejam: ser possuidor de boa-fé, não ter sido indenizado, e a
terceira quanto a benfeitorias voluptuárias.
Quanto a primeira, Flávio Tartuce expressa que o possuidor de boa-fé tem o direito à
indenização pelas benfeitorias necessárias e úteis que fez no imóvel.7
7
Tartuce, Flávio. Direito Civil : direito das coisas – v. 4 / Flávio Tartuce. – 11. ed. – Rio de Janeiro: Forense,
2019. pg 92
Quanto a terceira, concernente às voluptuárias, Carlos Roberto Gonçalves, expressa que
poderá o possuidor de boa-fé levantá-la, se não acarretar estrago à coisa e se o reivindicante
não preferir ficar com elas, indenizando o seu valor. O objetivo é evitar o locupletamento sem
causa do proprietário pelas benfeitorias então realizadas.8
Sendo assim, Maria das Graças tem o direito do ressarcimento das benfeitorias
necessárias e úteis realizadas.
f) Do título de domínio
Atualmente, em nosso sistema o título por si só não prova o domínio sobre a coisa,
porque a propriedade se adquire pelo registro.
8
Roberto Gonçalves, Carlos. Direito Civil Brasileiro – Direito das Coisas, 10ª ed. São Paulo, Saraiva, 2015.
9
DINIZ, Maria Helena. Direito das Coisas – Curso de Direito Civil Brasileiro - vl. 4 - 26. ed., São Paulo: Saraiva,
2011.op. Cit. P. 128
um bem, sem ter à propriedade, mas, a contrário sensu, não há possibilidade de se ter à
propriedade de um bem sem ter o domínio.
Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinquenta
metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para
sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja
proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
Por fim, nos termos do artigo 85 do Código de Processo Civil de 2015, fica majorado a Sra.
Maria das Graças, 20% do valor atualizado das despesas processuais, honorários advocatícios
e sucumbências a serem fixadas no valor da causa. Atentando-se aos limites estabelecidos nos
parágrafos 2º e 3º do referido artigo.
É o parecer.
OAB/SP: XXXX
OAB/SP: XXXX