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Turma Nacional de Uniformização

Da Jurisprudência dos
Juizados Especiais Federais
______________________________________________________________________
Pedido de Uniformização de Interpretação de Lei Federal
Processo nº: 2006.83.00.51.8147-3
Origem: Seção Judiciária de Pernambuco
Requerente: União
Advogado: Advogado da União
Requerido: Carlos Alberto da Silva
Advogado: Maria da Penha Lima
Relator: Juiz Federal Sebastião Ogê Muniz

RELATÓRIO

Cuida-se de pedido de uniformização da interpretação de


lei federal.

No dizer da União, Requerente, o acórdão da Turma


Recursal de origem (Seção Judiciária de Pernambuco), que a condenou a
pagar indenização por danos morais, por ter suspenso o pagamento de
proventos de suboficial aposentado do Ministério da Marinha, em face do
suposto óbito deste, destoa de paradigma da 1ª Turma Recursal da Seção
Judiciária da Bahia (Recurso Inominado nos autos do processo n.º
2003.33.00.744006-2, Relatora Juíza Federal Cynthia de Araújo Lima Lopes).

Consoante o paradigma invocado, na hipótese de


cessação indevida de benefício previdenciário, constitui ônus da parte
interessada comprovar os danos morais sofridos, para que a parte adversa
possa ser condenada a indenizá-los.

No dizer da Requerente, o entendimento adotado no


referido paradigma vai de encontro àquele adotado no acórdão da Turma
Recursal de origem. Sustenta, de resto, que ‘a simples suspensão temporária
do pagamento de benefício, com o fim de regularizá-la, não gera direito à
indenização por danos morais, que não podem ser presumidos.’ Sustenta,
ademais, ‘que o autor não comprovou, de fato, a efetiva ocorrência dos
danos morais.’ Enfatiza que ‘não há comprovação de que seu seguro [do
autor] foi realmente cancelado.’

O Requerente pede que o entendimento desta Turma seja


uniformizado no sentido do paradigma antes mencionado. Caso isso não
ocorra, pede que seja reduzido o quantum da indenização, de R$ 7.000,00
(sete mil reais).

Após a apresentação de contra-razões, o recurso foi


admitido na origem.

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Num primeiro momento, neguei seguimento ao pedido de
uniformização. Ulteriormente, em face do pleito da parte que o interpôs, o
qual recebi como agravo regimental, retratei-me da aludida decisão.

É o relatório.

Peço dia para julgamento.

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Pedido de Uniformização de Interpretação de Lei Federal
Processo nº: 2006.83.00.51.8147-3
Origem: Seção Judiciária de Pernambuco
Requerente: União
Advogado: Advogado da União
Requerido: Carlos Alberto da Silva
Advogado: Maria da Penha Lima
Relator: Juiz Federal Sebastião Ogê Muniz

VOTO

O acórdão da Turma Recursal de origem assim enfrentou a


questão que constitui objeto da controvérsia trazida ao descortino desta
Turma:

“2. A responsabilidade civil pode decorrer tanto de


contrato como de ato ilícito, na forma da legislação civil
em vigor na época dos fatos (arts. 159 e 1.521 do Código
Civil de 1916), onde o dever de indenizar decorre de três
fatores, quais sejam, existência de dano, do nexo causal
entre esse dano e uma conduta comissiva ou omissiva
atribuída ao causador do ano e a presença da culpa, se
não for o caso de responsabilidade objetiva do Estado, em
uma de suas espécies (negligência, imprudência ou
imperícia). Logo, no presente caso, ficou comprovada a
responsabilidade civil da recorrida, uma vez presentes os
fatores causadores da situação fática alegada.
(...)
4. Recurso improvido. Sentença mantida, também, por
seus próprios fundamentos.”

A sentença de primeiro grau, por sua vez, adota, no que


interessa à solução da controvérsia, a seguinte fundamentação:

“08. (...) O autor foi dado como morto e, pelo visto, a


burocracia da administração exigiu três meses para
‘ressuscitá-lo’, bem mais do que necessitou para ‘matá-lo’.
Nesse ínterim, os transtornos foram muitos, como
demonstrado na instrução. E mais, de todo modo, não
compensa a humilhação de ter sido ‘assassinado’ como ele
foi pela administração, ainda que juridicamente.

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09. É verdade que, no caso de ontem, o dano em si foi
mais grave, dada a reiteração. Também não se pode
perder de vista que não se relata aqui nenhum problema
de saúde em virtude dos fatos. Todavia, aqui uma outra
característica é determinante: a remuneração do autor é
bem superior à do segurado de ontem, já que percebe
proventos no valor aproximado de R$ 1.700,00, de modo
que os transtornos também foram mais ‘caros’, tanto que
perdeu um contrato de seguro de vida cujo prêmio vinha
pagando mensalmente há cerca de 20 (vinte) anos e cuja
indenização remonta a R$ 50.000,00. Os fatos econômicos
devem ser levados em consideração sob o aspecto
subjetivo, a fim de que o autor seja adequadamente
compensado pelos prejuízos morais suportados.”

Por sua vez, o paradigma invocado, da Turma Recursal da


Seção Judiciária da Bahia (processo n.º 2003.33.00.74.4006-2), adota o
seguinte entendimento:

“JUIZADOS ESPECIAIS. RECURSOS INOMINADOS. NÃO


CONHECIMENTO DO RECURSO INTERPOSTO PELO INSS.
INTEMPESTIVIDADE. SUSPENSÃO DO BENEFÍCIO DE
PENSÃO POR MORTE. INEXISTÊNCIA DE DANO MORAL.
DESPROVIMENTO DO RECURSO MANEJADO PELO
AUTOR. SENTENÇA MANTIDA.
1. Na medida em que o recurso inominado do INSS foi
interposto somente em 24/09/2003, após o decurso do
decêndio legal, que teve como termo final o dia
15/09/2003 (art. 42 da Lei nº 9.099/95), malgrado a parte
ré tenha sido devidamente intimada do decisum no dia
03/09/2003 (fl.30), o mesmo não pode ser conhecido, em
face da flagrante intempestividade.
2. A cessação indevida do benefício de pensão por morte
não gera, por si só, o dever de indenizar, sendo
imprescindível a demonstração dos danos morais sofridos.
3. Não tendo o autor se desincumbido do ônus de
provar a ocorrência efetiva dos danos morais,
incabível se torna a indenização pleiteada.
4. Recurso interposto pelo INSS, não conhecido.
5. Recurso interposto pela ao autor, conhecido e
improvido.
6. Sem condenação do autor em honorários advocatícios,
em face da concessão do benefício da assistência
judiciária gratuita (fl.25).”
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Merece destaque, no voto da Relatora, Juíza Federal
Cínthia de Araújo Lima Lopes, que foi sufragado por unanimidade, o
seguinte trecho:

“No caso em apreço, o autor não comprovou a ocorrência


efetiva dos danos morais, imprescindível à condenação
pleiteada. Com efeito, o simples fato do autor ter tido o
seu benefício cessado indevidamente, não enseja a
ocorrência de dano moral, na medida em que não restou
comprovada a lesão à sua honra ou à sua imagem, bem
como qualquer reflexo no psíquico do indivíduo,
considerando-se, inclusive, que o autor é portador de
problemas psiquiátricos.”

Assim, observo que, efetivamente, o paradigma invocado


considera ser necessária a prova dos danos morais em si, para que estes
possam ser indenizados. Já o acórdão da Turma Recursal de origem não faz
tal exigência.

Tenho como caracterizado, pois, o dissenso entre Turmas


Recursais de diferentes regiões, acerca de tema de direito material (artigo
14, § 2º, da Lei n.º 10.259/2001.

Assinalo que o debate acerca da necessidade ou não de


prova do dano moral não significa que se trata de questão que não seja de
direito material. Com efeito, está em jogo o próprio alcance da norma de
direito substantivo (artigo 186 do Código Civil), que especificamente prevê
o pagamento de indenização por danos morais.

O artigo 186 do Código Civil assim dispõe:

“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,


negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.”

O tema em questão, que deflui do teor desse dispositivo,


diz respeito, exclusivamente, à necessidade ou não de comprovação do
dano moral, quer ele seja reclamado de forma isolada, quer o seja em
concurso com o dano material.

O entendimento pacífico do Superior Tribunal de Justiça


é no sentido de que os danos morais, em si, não necessitam ser
comprovados. Vejam-se, a propósito, os seguintes julgados daquela Corte:
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“Ementa
AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO.
RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL CONFIGURADO.
REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE. ÓBICE NA SÚMULA 7/STJ.
AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.
I - A jurisprudência desta Corte firmou entendimento de
que não há falar em prova do dano moral, mas, sim, na
prova do fato que gerou a dor, o sofrimento, sentimentos
íntimos que o ensejam (REsp 86.271/SP, 3ª Turma, Rel. Min.
MENEZES DIREITO, DJ 9.12.97)
II - O Tribunal a quo julgou com base no conjunto fático-
probatório e em cláusulas contratuais, assim, impossível se
torna o exame do recurso, nos termos das Súmulas 5 e 7 do
STJ.
Agravo regimental improvido.”
(AgRg no Ag 707741/RJ, Relator Ministro SIDNEI BENETI,
Terceira Turma, DJe de 15/08/2008)

“Ementa
RECURSO ESPECIAL. ALEGADA VIOLAÇÃO DO ART. 535,
DO CPC. INEXISTÊNCIA. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO
CARACTERIZADO. ACIDENTE DE TRABALHO. DANO
MORAL CONFIGURADO. INDENIZAÇÃO. INCIDÊNCIA DA
SÚMULA 7 DO STJ. PAR. ÚNICO DO ART. 538 DO CPC.
MULTA. MERA PRETENSÃO DE REDISCUSSÃO DA
MATÉRIA. APLICABILIDADE. RECURSO PARCIALMENTE
CONHECIDO, E, NESSA EXTENSÃO, IMPROVIDO.
1. Os embargos interpostos na instância anterior, em
verdade, sutilmente se aprestavam a rediscutir questões
apreciadas no v. acórdão; não cabia, porém, redecisão,
nessa trilha, quando é da índole do recurso apenas
reexprimir, no dizer peculiar de PONTES DE MIRANDA,
que a jurisprudência consagra, arredando,
sistematicamente, embargos declaratórios, com feição,
mesmo dissimulada, de infringentes (R.T.J. 121/260).
2. No tocante à insurgência relativa à alínea "c", cabe
registrar que o recurso especial, para merecer
conhecimento, deve conter em seu arrazoado a descrição
detalhada dos pontos fáticos convergentes e dos desates
jurídicos diversos dados à causa de pedir, não sendo
suficiente, para tanto, a mera transcrição da ementa
divergente.

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3. É de se distinguir o dano material do dano moral, tendo
em vista que não restou configurado o primeiro, face à
ausência de comprovação quanto à incapacidade
laborativa do autor; o que não afasta, porém, o segundo,
decorrente da deficiência física, ainda que em proporção
reduzida, adquirida durante o pacto laboral, junto à ora
recorrente.
4. Demais disso, consoante jurisprudência remansosa deste
Sodalício Superior, "não há falar em prova do dano moral,
mas, apenas, do fato que lhe deu causa" (REsp 595355/MG,
Rel. Min. CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, DJ
11.04.2005).
5. Não restou clara nos aclaratórios a intenção de
prequestionamento das matérias controvertidas, tendo a
ora recorrente, naquela oportunidade, se limitado a uma
simples tentativa de forçar o órgão julgador a acatar tese já
anteriormente, afastada, pelo que deve ser mantida a multa
aplicada no Tribunal de origem, nos termos do art. 538,
parágrafo único, do Código de Processo Civil.
6. Recurso não conhecido.”
(REsp 594900/MG, Relator Ministro HÉLIO QUAGLIA
BARBOSA, Quarta Turma, DJU de 28/05/2007, p. 345)

Por uma questão de segurança jurídica, tenho que se


deve prestigiar o entendimento já uniformizado, pelo Superior Tribunal de
Justiça, acerca do tema.

Ademais, a adoção de entendimento diverso acarretaria,


a meu sentir, sério obstáculo à efetivação dos danos morais, que estão
previstos na Constituição (artigo 5º, inciso X), no capítulo que trata dos
direitos e garantias individuais.

Assim posta a questão, tenho que o pedido de


uniformização deve ser julgado improcedente, pois o acórdão da Turma
Recursal de origem está em sintonia com a jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça, acerca do tema, a qual está sendo prestigiada, neste
voto.

Quanto ao pedido de redução do valor arbitrado a título


de danos morais – R$ 7.000,00 (sete mil reais) -, tenho que ela só seria
possível, nesta instância, em caráter excepcional, caso esse valor fosse
irrisório ou excessivo, o que não ocorre, no presente caso. De resto, a
respeito da quantificação dos danos morais, nenhum paradigma – do

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Superior Tribunal de Justiça ou de Turma Recursal de outra região – foi
invocado.

Ante o exposto, voto no sentido de conhecer em parte do


pedido de uniformização e, nessa extensão, negar-lhe provimento.

Brasília, 24 de abril de 2009.

Sebastião Ogê Muniz


Juiz Federal

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QUARTA SESSÃO ORDINÁRIA DA TURMA DE UNIFORMIZAÇÃO

Presidente da Sessão: Ministro HAMILTON CARVALHIDO


Subprocurador-Geral da República: ANTÔNIO CARLOS PESSOA LINS
Secretário, em exercício: MARCUS AURELIUS SOARES DE
ARAÚJO

Relator(a): Juiz(a) Federal SEBASTIÃO OGÊ MUNIZ

Requerente: UNIÃO
Proc./Adv.: HERBERTT CAETANO BARRETO

Requerido: CARLOS ALBERTO DA SILVA


Proc./Adv.: MARIA DA PENHA LIMA

Remetente.: PE – SEÇÃO JUDICIÁRIA DE


PERNAMBUCO
Proc. Nº.: 2006.83.00.51.8147-3

CERTIDÃO

Certifico que a Egrégia Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência dos


Juizados Especiais Federais, ao apreciar o processo em epígrafe, em sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: "Após o voto do Juiz Relator
conhecendo em parte do Incidente de Uniformização e negando-lhe provimento, sendo
acompanhado pelos Juízes Federais Ricarlos Almagro, Jacqueline Bilhalva, Cláudio
Canata, Joana Carolina, Otávio port, Rosana Noya Kaufmann, pediu vista o Juiz
Federal João Carlos Mayer. Aguardam os Juízes federais Eduardo André e Élio
Wanderley".

Participaram do julgamento os Excelentíssimos Juízes Federais Élio Wanderley de


Siqueira Filho, Sebastião Ogê Muniz, Ricarlos Alamagro Vitoriano Cunha, Jacqueline
Michels Bilhalva, Cláudio Roberto Canata, Joana Carolina Lins Pereira, Otávio
Henrique Martins Port, Rosana Noya Alves Weibel Kaufmann e os Juízes Federais
João Carlos Costa Mayer Soares e Eduardo André Brandão de Brito Fernandes em
substituição aos Juízes Federais Derivaldo de Figueiredo Bezerra Filho e Manoel
Rolim Campbel Penna, respectivamente.

Brasília, 24 de abril de 2009.

MARCUS AURELIUS SOARES DE ARAUJO


Secretário, em exercício

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PROCESSO : 2006.83.00.51.8147-3
CLASSE : PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE
INTERPRETAÇÃO DE LEI FEDERAL
RELATOR : JUIZ FEDERAL SEBASTIÃO OGÊ MUNIZ
REQUERENTE : UNIÃO
PROCURADOR : HERBERTT CAETANO BARRETO
REQUERIDO : CARLOS ALBERTO DA SILVA
ADVOGADO : MARIA DA PENHA LIMA
ORIGEM : SEÇÃO JUDICIÁRIA DE PERNAMBUCO

VOTO-VISTA

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE


JURISPRUDÊNCIA. DANO MORAL. SUSPENSÃO INDEVIDA DE
PAGAMENTO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO ESTATUTÁRIO. QUESTÃO
DE DIREITO MATERIAL. ACÓRDÃO RECORRIDO COM DUPLO
FUNDAMENTO. INDEPENDÊNCIA ENTRE ELES. INEXISTÊNCIA DE
SIMILITUDE FÁTICO-JURÍDICA. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICA.
IMPOSSIBILIDADE. NÃO CONHECIMENTO.
1. Não cabe pedido de uniformização de jurisprudência quando inexiste
similitude fático-jurídica entre os julgados em confronto.
2. É inadmissível o reexame de matéria fática por meio de incidente de
uniformização.
3. Pedido de uniformização não conhecido.

O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL JOÃO CARLOS COSTA MAYER


SOARES:

Após o voto do Relator, o Juiz Federal Sebastião Ogê Muniz, que negou
provimento, na parte conhecida, ao pedido de uniformização, pedi vista dos autos para
melhor examinar a questão da admissibilidade do incidente.

O pedido de uniformização, na forma delineada no art. 14, § 2.º, da Lei


10.259/2001, constitui via extraordinária de impugnação de decisão judicial e tem por
finalidade dar conformação à jurisprudência sobre a interpretação de lei
infraconstitucional federal, exigindo o atendimento de pressupostos essenciais de
admissibilidade como o prequestionamento, a juntada de cópias dos acórdãos
paradigmáticos, com transcrição dos trechos que configurem o dissídio jurisprudencial, e
que tal dissídio incida sobre questão de direito material. (Cf. STJ, ERESP 409.451/CE,
Corte Especial, Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 06/12/2004; AgRg no AG

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498.192/RJ, Quarta Turma, Ministro Jorge Scartezzini, DJ 22/11/2004; AgRg nos ERESP
284.586/RJ, Segunda Seção, Ministro Castro Filho, DJ 15/09/2004; AgRg na PET
2.162/MG, Terceira Seção, Ministro Gilson Dipp, DJ 17/05/2004; RESP 20.250/CE,
Segunda Turma, Ministro João Otávio de Noronha, DJ 12/04/2004; AgRg no AG
498.935/RS, Quarta Turma, relator para acórdão o Ministro Fernando Gonçalves, DJ
05/04/2004; JEF, TNU, PUILF 2003.38.00.709461-3/MG, Juiz Federal Renato
Toniasso, DJ 19/08/2004; PUILF 2003.38.00.719919-7/MG, Juíza Federal Mônica
Sifuentes, DJ 29/09/2004.)

Impende ressaltar, outrossim, que nos Juizados Especiais Federais o


pedido de uniformização de interpretação de lei federal tem natureza de recurso,
assemelhando-se aos embargos de divergência. Deste diferencia-se apenas em razão
de seu objeto, que se restringe a questões de direito material. Sobre o assunto,
acentuam os eminentes professores Fernando da Costa Tourinho Neto e Joel Dias
Figueira Júnior o seguinte: “Trata-se, na verdade, de embargos de divergência,
objetivando uniformizar a jurisprudência das Turmas Recursais integrantes da mesma
Região ou de Regiões diferentes, desde que a apontada discrepância entre os
julgados esteja fundamentada em direito material objeto da controvérsia na qual a
parte interessada tenha sido vencida totalmente ou parcialmente”. (Cf. STF, RE
445.169/TO, Decisão Monocrática, Ministro Carlos Velloso, DJ 09/12/2005; JEF, TNU,
Questão de Ordem 1.)

Destaque-se que a questão controvertida diz respeito a se o fato – no


caso a indevida suspensão do pagamento do benefício previdenciário estatutário do
requerido –, por si só, é suficiente à caracterização do dano moral, afastando a
necessidade de comprovação do abalo.

O acórdão proferido pela Turma Recursal da Seção Judiciária de


Pernambuco, adotando os fundamentos lançados na sentença recorrida, abrange
duplo fundamento, com independência entre eles, apontando que a caracterização do
dano moral depende apenas da verificação da existência de um fato potencialmente
ensejador de um aborrecimento, humilhação ou sentimento negativo ao ofendido
prescindindo de específica comprovação da dor sofrida, uma vez que impossível a
demonstração concreta de um sentimento; e, ainda, que, não fosse isso bastante,

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houve, no caso concreto, comprovação do dano moral sofrido, merecendo transcrição
o seguinte trecho do julgado, verbis:

----------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
09. É verdade que, no caso de ontem, o dano em si foi mais grave, dada a
reiteração. Também não se pode perder de vista que não se relata aqui
nenhum problema de saúde em virtude dos fatos. Todavia, aqui uma outra
característica é determinante: a remuneração do autor é bem superior à da
segurada de ontem, já que percebe proventos no valor aproximado de R$
1.700,00, de modo que os transtornos também foram mais “caros”, tanto que
perdeu um contrato de seguro de vida cujo prêmio vinha pagando
mensalmente há cerca de 20 (vinte) anos e cuja indenização remonta a R$
50.000,00. Os fatos econômicos devem ser levados em consideração sob o
aspecto subjetivo, a fim de que o autor seja adequadamente compensado
pelos prejuízos morais suportados.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Por outro lado, o acórdão em confronto, oriundo da Turma Recursal da


Bahia, aponta objetivamente que a cessação do benefício não gera, por si só, o dever
de indenizar, sendo imprescindível a demonstração dos danos morais sofridos, que,
naquele caso, não ocorreu, pelo que negada a indenização pleiteada.

Ora, se o acórdão recorrido, não obstante afirmar a desnecessidade de


comprovação do dano moral, aponta elementos que demonstram a sua ocorrência, e o
acórdão paradigma adota o entendimento de que é indispensável a efetiva
comprovação do abalo moral, é de se concluir que não há similitude fático-jurídica
entre os acórdãos confrontados, pelo que ausente o requisito do dissídio
jurisprudencial entre eles, quanto a tema de direito material.

Outrossim, ainda que superado o requisito da similitude fático-jurídica, é


descabido, em sede de pedido de uniformização, o revolvimento de matéria fática,
como pretende o requerente ao defender a inexistência de prova cabal de que o
seguro de vida do requerido teria sido efetivamente cancelado, conforme extrai-se do
pedido de uniformização, litteris:

----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Ademais, faz-se necessário destacar que, ao contrário do
entendimento proferido pelas instâncias anteriores, o autor não comprovou, de
fato, a efetiva ocorrência dos danos morais.
A leitura da sentença singular, especialmente do item 09,
transcrito abaixo, revela que o fator fundamental para o eminente Julgador

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singular visualizar a ocorrência do dano moral não restou suficientemente
provada pelo autor, conforme adiante será demonstrado.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
Analisando-se os autos pode-se verificar que o autor apenas
anexou carta da seguradora informando o não pagamento de determinada
parcela, e que tal débito poderia ser pago através de autorização para que
fosse debitado de sua conta “POUPEX”, onde o recorrido certamente tinha
saldo.
Em audiência informou o autor que o seguro em questão havia
sido, efetivamente, cancelado, imputando toda a responsabilidade à demora no
recebimento de seus proventos.
Ora, ilustres Julgadores, não há, nos autos, qualquer prova de
que o seguro do recorrente foi efetivamente cancelado, há, apenas,
comunicação da seguradora a respeito da inadimplência observada, bem como
de maneira alternativa para saldá-la.
Dessa forma, não restou comprovado o dano moral sofrido pelo
autor, uma vez, repita-se, não há comprovação de que o seu seguro foi
realmente cancelado. Por outro lado, ainda que tal fato tenha ocorrido, não se
pode ignorar o fato de que o autor tinha condições de evitá-lo, pois conforme
informação da própria entidade seguradora, o adimplemento poderia ser feito
através de débito em conta “POUPEX”, sendo, portanto, também responsável
pelo suposto, já que não comprovado, dano que alega ter sofrido.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
------

Com efeito, é pacífico na jurisprudência desta Turma Nacional de


Uniformização o entendimento de que é inadmissível o reexame de matéria fática por
meio de incidente de uniformização. (Cf. STJ, Súmula 7, interpretação analógica; JEF,
TNU, PUILF 2007.70.53.000813-8, Juiz Federal Sebastião Ogê Muniz, DJ 25/03/2009;
PUILF 2005.83.00.505074-0, Juiz Federal Renato César Pessanha de Souza, DJ
26/11/2008; PUILF 2007.83.00.519558-0, Juiz Federal Valter Antoniassi Maccarone,
DJ 26/11/2008.)

Nessa orientação, ausente pressuposto essencial de admissibilidade,


não há como dar seguimento ao incidente.

À vista do exposto, pedindo vênia ao ilustre Relator, em divergência ao


voto proferido por Sua Excelência, não conheço do pedido de uniformização, na
sua integralidade.

É como voto.

JOÃO CARLOS COSTA MAYER SOARES


Juiz Relator – Turma Nacional de Uniformização

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QUINTA SESSÃO ORDINÁRIA DA TURMA DE UNIFORMIZAÇÃO

Presidente da Sessão: Ministro HAMILTON CARVALHIDO


Subprocurador-Geral da República: ANTÔNIO CARLOS PESSOA LINS
Secretário(a): VIVIANE DA COSTA LEITE

Relator(a): Juiz(a) Federal SEBASTIÃO OGÊ MUNIZ

Requerente: UNIÃO
Proc./Adv.: HERBERTT CAETANO BARRETO

Requerido: CARLOS ALBERTO DA SILVA


Proc./Adv.: MARIA DA PENHA LIMA

Remetente.: PE - SEÇÃO JUDICIÁRIA DE


PERNAMBUCO
Proc. Nº.: 2006.83.00.518147-3

CERTIDÃO

Certifico que a Egrégia Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência dos


Juizados Especiais Federais, ao apreciar o processo em epígrafe, em sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

Prosseguindo o julgamento, após o voto-vista do Juiz Federal João Carlos Mayer não
conhecendo do Incidente, a Turma, preliminarmente, por maioria, conheceu em parte
do Incidente de Uniformização, vencidos os Juízes Federais João Carlos Mayer, Élio
Wanderley e Manoel Rolim que não conheciam do Incidente, e, no mérito, por
unanimidade, negou-lhe provimento, nos termos do voto do Juiz Relator, sendo que os
vencidos, no conhecimento, o faziam por fundamentação diversa.

Participaram do julgamento os Excelentíssimos Juízes Federais Élio Wanderley de


Siqueira Filho, Sebastião Ogê Muniz, Ricarlos Alamagro Vitoriano Cunha, Derivaldo
Filho, Jacqueline Michels Bilhalva, Manoel Rolim, Joana Carolina Lins Pereira, Otávio
Henrique Martins Port, Rosana Noya Alves Weibel Kaufmann e o Juiz Federal Paulo
Ricardo Arena Filho em substituição ao Juiz Federal Cláudio Roberto Canata.

Brasília, 28 e 29 de maio de 2009.

VIVIANE DA COSTA LEITE


Secretário(a)

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Processo nº: 2006.83.00.51.8147-3
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Requerente: União
Advogado: Advogado da União
Requerido: Carlos Alberto da Silva
Advogado: Maria da Penha Lima
Relator: Juiz Federal Sebastião Ogê Muniz

EMENTA

PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO. DISSÍDIO CARACTERIZADO.


DANOS MORAIS. DESNECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO.
CONTROVÉRSIA ACERCA DA QUANTIFICAÇÃO DOS
ALUDIDOS DANOS MORAIS. NÃO CONHECIMENTO DO
PEDIDO, QUANTO A ESSA PARTE.
Tendo ficado demonstrado que o acórdão da Turma Recursal
de origem destoa de julgado de Turma Recursal de outra
região, acerca de tema de direito material, cabível o pedido
de uniformização. Isto, porém, não se aplica à questão
atinente à quantificação dos danos morais, em relação à qual
nenhum paradigma foi invocado, não podendo o pedido,
nesse particular, ser conhecido.
Adoção do entendimento, firmado pelo Superior Tribunal de
Justiça, no sentido de que não se há que falar em prova do
dano moral, mas na prova do fato que gerou a dor, o
sofrimento, o sentimento íntimo que o ensejam.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Juízes


da Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência, por maioria, em
conhecer em parte do pedido de uniformização e, no mérito, por
unanimidade, negar-lhe provimento.

Brasília, 28 de maio de 2009.

Sebastião Ogê Muniz


Juiz Federal

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