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PRINCÍPIOS

DO PROCESSO
DE EXECUÇÃO
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Marina Vezzoni

PRINCÍPIOS
DO PROCESSO
DE EXECUÇÃO
© 2008, Elsevier Editora Ltda.

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ISBN: 978-85-352-2920-2
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CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte.
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
_________________________________________________________________________
V663p Vezzoni, Marina
Princípios do processo de execução : a correlação entre o sistema
processual civil e o trabalhista / Marina Vezzoni. - Rio de Janeiro :
Elsevier, 2008.

IInclui bibliografia
ISBN 978-85-352-2920-2

1. Execuções (Direito) - Brasil. 2. Processo civil - Brasil. 3. Processo


trabalhista - Brasil. I. Título.

07-4464 CDU: 347.952(81)


_________________________________________________________________________
“Hoje centuplicarei meu valor.
Uma folha de amoreira, tocada pelo gênio do homem,
torna-se seda.
Um campo de barro, tocado pelo gênio do homem, torna-se
um castelo.
Um cipreste, tocado pelo gênio do homem, torna-se um
santuário.
A lã tosquiada da ovelha, tocada pelo gênio do homem,
torna-se vestuário de um rei.
Se é possível às folhas, ao barro, à madeira e à lã terem
seu valor centuplicado, sim, multiplicado pelo homem, não
posso eu fazer o mesmo com o barro que leva meu nome?
Hoje centuplicarei meu valor.”
O Maior Vendedor do Mundo, OG Mandino, p. 85.
À minha mãe, por tudo;
Ao meu pai (incansável), especialmente, meu melhor
amigo e a pessoa mais solidária que já conheci...
Ao meu filho Dodo, que continua me ensinando, todos
os dias, mais do que eu a ele;
A Bibi, que me mostrou que o amor vai bem além do
sangue;
Ao Marcos Gabriel, todo o meu amor e a certeza do es-
teio, da estrutura e da proteção de sempre;
Ao Cássio, que me inspirou nas várias vezes que o vi de-
bruçado, nas madrugadas frias, nos domingos quentes, nas noi-
tes intermináveis, sobre os livros de medicina;
A minhas tias, tios, primos e primas, a melhor família que
eu poderia desejar;
Aos meus amigos Patrícia, Junior e Paula, desde a facul-
dade, por toda a vida;
Aos meus queridos amigos da Faap e da Unifieo, sempre
presentes.
À minha nona, meu anjo na terra, agora no céu.
A AUTORA

Marina Vezzoni, é professora de Processo Civil na gra-


duação e na pós-graduação na Fundação Armando Álvares
Penteado – Faap e Unifieo – Osasco – SP. Leciona, ademais,
nos cursos de pós-graduação da EPD – SP, Univem – Marília e
ESA – SP. Palestrante em diversas unidades da federação e na
Escola de Magistratura TRT 2a R, graduou-se pela FMU em
1992. Nos anos seguintes, tornou-se especialista em Direito e
Processo do Trabalho pela Cogeae – PUC/SP e mestre pela
mesma instituição.
Membro do Instituto Sul-Americano de Direito e Pro-
cesso do Trabalho, já escreveu vários artigos, entre eles “A exe-
cução na nova sistemática”, publicado pela Revista de Direito
do Trabalho. Seus últimos trabalhos foram sobre o cabimento
da exceção de pré-executividade após a Reforma e a competên-
cia para a atribuição de efeito suspensivo nos Recursos Excep-
cionais.
APRESENTAÇÃO

Os princípios executivos do processo civil aplicáveis no pro-


cesso do trabalho e os comuns constitucionais

O presente estudo se presta à análise pragmática do cabimen-


to dos princípios executivos do processo civil no processo do traba-
lho, assim como dos comuns constitucionais inerentes a ambos.
Para tanto, partiremos do conceito e da natureza jurídica
dos princípios processuais em geral, até alcançarmos os da exe-
cução, destacando o redimensionamento e a revisitação de tais
normas à luz da doutrina mais autorizada.
Neste ponto, procuraremos sistematizar a estrutura da exe-
cução trabalhista e civilista, após a introdução da nova legislação,
não sem antes nos debruçarmos detidamente sobre os principais
pontos desta forma de tutela processual, mormente no que se refe-
re ao modelo pós-contemporâneo de jurisdição e tutela executiva.
O interesse pelo tema se deu em razão das profundas mo-
dificações introduzidas no sistema executivo com a chamada
Reforma do CPC, que não dirimiram os debates e as dúvidas
sobre a compatibilização entre as esferas civil e trabalhista. A
controvérsia existe particularmente por contar o processo do
trabalho com regras, doutrina e princípios próprios.
Tal controvérsia gira, sobretudo, nas demandas propostas
na justiça obreira não informadas pela proteção, por força da
Emenda no 45. Seriam as lides não fundadas nas relações de
emprego e, desta feita, estruturadas na igualdade das partes, su-
jeitas às mesmas regras tuitivas?
Por fim, passaremos à conclusão, tendo como esteio os prin-
cípios constitucionais do acesso à justiça e da proporcionalidade.
PREFÁCIO

Conheci a professora Marina Vezzoni no Curso de Pós-


Graduação promovido pelo Núcleo Mascaro, dirigido pelo Prof.
Dr. Amauri Mascaro Nascimento. Estreitamos amizade e, se
antes já admirava o talento de Marina Vezzoni, passei a apreci-
ar sua refinada educação, incrível dedicação e seriedade ao es-
tudo do processo.
No magistério, está cada vez mais galgando posições. É pro-
fessora de Direito Processual Civil na Faculdade de Direito da Faap
e nos cursos de especialização do Unifieo e da Escola Paulista de
Direito. Tenho a alegria de ser colega da professora Marina Vezzoni
e de acompanhar sua trajetória profissional com atenção, sempre
merecedora de elogios de todos, seja pela qualidade de seu traba-
lho, seja pela seriedade com que examina as várias e delicadas ques-
tões ligadas ao estudo do processo.
Cercada do carinho de seus alunos e de seus colegas de
magistério, tem titulação reconhecida como mestre pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, contribuíndo
para a edição de revistas e livros na área processual.
O trabalho que nos oferece a autora Marina Vezzoni é
fruto de sua extrema dedicação ao estudo do Direito Processu-
al e de sua rica atividade profissional como professora universi-
tária, pautando sua conduta pela ética e qualidade de atuação
pessoal e profissional.
Os temas que estudou e que expõe com singular clareza,
objetividade e detalhes, são dos mais atuais no processo, eis que
trata dos princípios executivos do processo civil aplicáveis ao
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

processo do trabalho, natureza jurídica dos princípios proces-


suais em geral e os específicos do processo de execução.
Temas atuais e delicados como a nova sistemática executi-
va processual civil e eventual compatibilidade com a sistemática
executiva trabalhista, os impactos da Emenda Constitucional no 45
sobre a ampliação da competência da Justiça do Trabalho, o
sincretismo processual, a execução coletiva e as ações coletivas
no processo do trabalho, dentre outros de igual relevância, re-
ceberam adequada, coerente e rica abordagem, mercê das
induvidosas qualidades da autora, que ora propicia ao mundo
jurídico brasileiro o conhecimento de tais questões sem qual-
quer pretensão de esgotar a matéria.
Marina Vezzoni com este livro premia a comunidade aca-
dêmica integrada pelos estudiosos do processo e presta ao Di-
reito importante contribuição.
O excelente livro que ora nos é oferecido, além de cuidar de
temas importantes e pouco estudados entre os estudiosos e opera-
dores do Direito, tem como qualidade as reflexões sérias e funda-
mentadas da autora, fruto de experiências profissionais e pessoais,
analisados os aspectos relevantes do processo do trabalho, que, sem
dúvida, necessita de tratamento urgentemente adequado.

Yone Frediani
Desembargadora do Tribunal Regional do Trabalho da 2a Região
(aposentada). Mestre em Direito das Relações do Estado PUC/SP;
Mestre em Direitos Fundamentais/Unifieo; Doutora em Direito do
Trabalho PUC/SP. Professora de Direito Individual e Coletivo do
Trabalho e de Direito Processual do Trabalho nos cursos de Pós-
Graduação e Graduação do Unifieo. Professora de Direito do
Trabalho na Faculdade de Direito da Faap. Membro da Academia
Nacional de Direito do Trabalho, do Instituto de Direito do
Trabalho do Mercosul e da Associación Iberoamericana de Derecho
del Trabajo y de la Seguridad Social. Professora Visitante da
Universidad Tecnológica del Peru.

XIV
CAPÍTULO 1

DO IDEAL DE UM MODELO
EFETIVO

Sabemos, e a doutrina não deixa margem a dúvidas, que o


maior problema do processo é a sua ineficiência.
Isso porque nosso Direito deitou as suas raízes em uma
teoria geral essencialmente de matriz liberal, mais voltada para a
garantia do contraditório e da segurança jurídica do que para o
resultado do processo. É dizer, mais preocupada com o instru-
mento mesmo do que com o direito por ele veiculado.
Em virtude disso, a partir de 1994, o Código de Processo
Civil passou a ser alterado, em um movimento conhecido como
Reforma.
Essas alterações, interessa ressaltar, aproximaram, e mui-
to, o processo civil do trabalhista, especialmente no que se refe-
re à ênfase na celeridade.
Justifica-se, pois novos direitos passaram a exigir novas for-
mas de instrumentalização, como os relativos ao consumidor, parte
hipossuficiente, algo que para o Direito do Trabalho não soava
como inédito. Os novos direitos exigem, inclusive, um processo
de novos contornos, de cunho metaindividual, para a proteção
dos chamados direitos de massa, questão essa também sem qual-
quer ineditismo em sede de dissídios coletivos laborais. Esses
novos direitos exigem, finalmente, a busca por soluções
autocompositivas, sem a substituição das partes pelo juiz, especi-
almente por meio das chamadas cortes menores. Neste ponto, mais
uma vez, encontramos algo há muito praticado nas audiências
trabalhistas, sempre dirigidas às tentativas conciliatórias, sem
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

mencionar a criação das comissões prévias com claro intuito de


desafogar a justiça. Por derradeiro, chamamos a atenção para a
repercussão geral positivada como pressuposto de admissibilidade
dos recursos extraordinários, muito conhecido entre nós como a
transcendência no recurso de revista.
Ocorre que, apesar de tal estrutura paradigmática, igual-
mente moroso é o processo do trabalho.
Moroso especialmente em razão da execução da decisão. Ou
seja, conquanto previsto inicialmente um modelo moderno de juris-
dição, particularmente no conhecimento, os operadores do Direito
do Trabalho imprimem e sempre imprimiram um procedimento in-
compatível com a celeridade e a efetividade que sempre lhe foi ine-
rente, ínsito. Some-se a isso as poucas alterações legislativas sofridas
na CLT no que toca à realização do Direito Material.
A idéia, portanto, é aproximar as novas regras do proces-
so executivo civil ao trabalhista, para conferir maior efetividade
a esse último. Isto é, reaproximar o modelo celetista de suas
origens, quais sejam, um processo simples e de resultados, con-
siderando os interesses que veicula.1
1
Precisas, nessa linha, as palavras de José Augusto Rodrigues Pinto: “(...) Em resul-
tado, tem sido crescente a pressão social sobre o processo civil para se tornar mais
expedito, forçando-o a servir-se em igual progressão das nascentes simplificadoras
do processo do trabalho, enquanto este, por pressão do interesse individual dos
sujeitos das relações jurídicas, se deixou enredar, com progressiva passividade, nos
moldes complexos do processo civil.
Observa-se, então, a reversão de impulso dos dois sistemas desejosos de uma direção
comum: ou provoca a fusão ou leva ao caos as duas dinâmicas, sendo inconcebível
esta última alternativa numa área, como é a processual, somente cultivável com as
sementes da ordem, da clareza e do método.
Daí a percepção, hoje presente, em todos os processualistas do trabalho, na medida da
sensibilidade de cada um, de que o processo civil marcha na direção dos postulados
originários do processo do trabalho, contrastando com uma visível estagnação deste
último no conservadorismo antes tão criticado do processo civil. Isso tem ocasionado a
troca do critério da permissividade pelo da licenciosidade na aplicação da regra do art. 769
da CLT pelo juízo trabalhista (...)” “A hora e a vez da unificação dos processos civil e
trabalhista.”, p. 25.

2
ELSEVIER Capítulo 1 • Do Ideal de um modelo efetivo

E, por efetividade, leia-se resultado no plano físico. Re-


sultado esse que apenas existe quando projetado na vida das
pessoas, isto é, sentido no plano fático.
Wilges Bruscato adere à tese, afirmando que proceso efe-
tivo é o que reúne um conjunto de medidas que buscam garan-
tir a concretude do Direito Material perseguido.2
Daí porque a execução, antes relegada a segundo plano,
ganha mais importância, pois de nada adianta a declaração de
um direito se o vencedor não pode usufruir dessa decisão.

1. Do conceito clássico para o pós-contempo-


râneo de jurisdição
Nessa linha, devemos precisar o que entendemos como
jurisdição.
Jurisdição, em uma concepção mais clássica,3 seria o po-
der do Estado de pacificar os conflitos de interesse.
Em uma acepção mais contemporânea, todavia, falamos
em função desempenhada pelo Estado ou por entes paraestatais
na resolução dos conflitos de interesses, de forma adequada.
Dizemos função e não poder ou dever, pois não se trata de
algo que pode ou não ser feito mas que deve ser realizado por quem
de direito. O juiz não julgará se quiser ou deixará de fazê-lo, ainda
que na falta de lei.4 É seu dever de ofício.
Mas quem tem esta função? Respondemos: todo aquele
que pode se substituir às partes, impondo a sua decisão.
No nosso ordenamento, quem tem essa função, ordinari-
amente, é o Estado, por intermédio do Poder Judiciário. Toda-
2
Bruscato, “Efetividade do processo de execução”, Repro 129, p. 10.
3
Friede, Comentários ao CPC, p. 9.
4
Art. 126. O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuri-
dade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais, não as havendo,
recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de Direito.

3
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

via, em virtude de lei, poderão outros entes, não estatais, cum-


prir este mister, como é o caso do árbitro. O árbitro igualmente
julga, devendo as partes se submeterem a sua decisão. Acaso
não cumprida, é certo, deverá haver a interferência do Judiciá-
rio, único com poder de coerção.
Cândido Dinamarco, a esse respeito é enfático
(...) O Prof. Carlos Alberto Carmona vem sustentando a
natureza jurisdicional da arbitragem, conceito com o qual
concordo ao menos em parte. Já ao prefaciar o primeiro
de seus livros a respeito do tema, manifestei simpatia por
essa idéia, asseverando que “se o poder estatal é exercido,
sub specie jurisdictionis, com o objetivo de pacificar pesso-
as e eliminar conflitos com a justiça, e se, afinal, a arbi-
tragem também visa a esse objetivo, boa parte do caminho
está vencida, nessa caminhada em direção ao reconheci-
mento do caráter jurisdicional da arbitragem”. Mais re-
centemente, tenho pensado em uma natureza
parajurisdicional das funções de árbitro, a partir da idéia
de que, embora ele não as exerça com o escopo jurídico
de atuar a vontade da lei, na convergência em torno do
escopo social pacificador reside algo muito forte a apro-
ximar a arbitragem da jurisdição estatal.5
No âmbito trabalhista, como exposto, há expressa menção
às Comissões Prévias.6 Trata-se, é claro, de jurisdição privada, já
que a resolução dos conflitos dos interesses dos trabalhadores
será realizada por seus próprios representantes, empresa ou sin-
dicato, de modo mais célere.
Quanto à arbitragem preconizada na Lei no 9.307/1996,
a doutrina e a jurisprudência trabalhista restringem o seu al-
cance, vez que limitada “a dirimir litígios relativos a direitos
patrimoniais disponíveis” (art. 1o).
5
Dinamarco, Nova era do processo civil, p. 39.
6
Arts. 625-A a 626-H da CLT.

4
ELSEVIER Capítulo 1 • Do Ideal de um modelo efetivo

Isso porque, tendo as parcelas remuneratórias natureza


alimentar, ingressariam no conceito de direitos indisponíveis.
De qualquer sorte, no plano da execução, muito pouco
importam as considerações sobre a justiça privada, vez que in-
discutível a ausência de poder de coerção de suas decisões. Vale
dizer, se cumpre voluntariamente, sob pena de recorrer-se ao
Judiciário, valendo a decisão arbitral como título executivo e, na
mesma linha, as decisões tomadas validamente pelas comis-
sões prévias.
Na verdade, jurisdição é algo mais que função de pacifi-
cação: é de tutela. E por tutela leia-se proteção. O Estado,
portanto, assim como os demais órgãos paraestatais, deverá
proteger as partes.
Assim, entendemos que só haverá jurisdição se receber o
jurisdicionado tudo aquilo e exatamente o que merece e busca,
não bastando a mera resolução do conflito. Isso envolve, entre
outros aspectos, a necessária celeridade processual prevista no
art. 5o, LXXIV, da CF, e a efetividade, de que já tratamos.
Explicitando. A despeito de quem tenha resolvido o litígio
(as próprias partes de forma autocompositiva ou terceiros de for-
ma heterocompositiva, no âmbito público ou privado), só haverá
jurisdição na medida em que a parte obtenha tudo e exatamente
aquilo a que tem direito, na forma e no tempo esperado.
Não se deve confundir provimento com jurisdição. Uma
coisa é sentenciar, e isso pouco resolve, outra é realizar, e isso é
efetivo, é jurisdição.

2. A evolução do conceito de processo


Se jurisdição é a função de tutelar de forma adequada, tal
mister depende de ativação por quem tem direito de provocá-lo.

5
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

E quem tem essa prerrogativa é quem tem ação, que nada


mais é do que o direito condicionado da parte em pedir uma
proteção jurisdicional.
Condicionado, na medida em que o sistema exige a con-
corrência da possibilidade jurídica do pedido, do interesse de
agir e da legitimação para a causa.
Uma vez preenchidas tais condições, passa a depender o
autor de um meio para instrumentalizar a ação. Esse meio é o
processo.
De início, influenciado pelo modelo liberal (sem conside-
rar portanto a estrutura anterior à Revolução Francesa), os pro-
cessos eram classificados em duas espécies: conhecimento e
execução. Pelo primeiro, se limitava o juiz a resolver a crise de
certeza havida entre as partes, declarando quem tinha razão. Ou
seja, de maior amplitude procedimental, destinava-se unicamen-
te a instrução da lide, estabelecendo uma sanção para o futuro.
Pelo segundo, cuidava-se de concretizar a sanção fixada na sen-
tença condenatória, transferindo do patrimônio do devedor os
bens necessários ao pagamento do credor. Tanto é assim que o
conceito clássico de execução forçada é exatamente o de transfe-
rência forçada de patrimônio, não se concebendo, de plano, a
incidência de medidas executivas sobre a pessoa do devedor.
Ocorre que o sistema passou a sentir a fragilidade dessa
estrutura dual, já que, não raras vezes, a declaração ou a realização
física pouco ou nada resolviam quanto às situações preventivas
ou de conservação. Daí que surgia, junto aos demais, um terceiro
gênero de processo, chamado cautelar. O processo cautelar, dife-
rentemente dos outros, buscava a mera conservação dos interes-
ses, existindo tão-somente para instrumentalizá-los.
Mas o jurisdicionado precisava de mais. A simples con-
servação, muitas vezes, não resolvia, havendo a necessidade
de satisfação imediata. Vale dizer, era preciso um instrumento

6
ELSEVIER Capítulo 1 • Do Ideal de um modelo efetivo

de realização imediata do direito e não apenas de mera garan-


tia de interesses. Foi então que a doutrina, influenciando a
jurisprudência, passou a admitir o manejo do processo cautelar
para verdadeiramente antecipar os efeitos da sentença, des-
virtuando-o de sua finalidade. A chamada cautelar satisfativa,
fundada no poder geral de cautela, aparecia como um meio de
completar a lacuna do sistema.
Aliado a isso, identificava a doutrina, mormente por in-
termédio de Pontes de Miranda, a existência de situações pon-
tuais em que um só processo reunia as duas funções – cognitiva
e executiva – , ou seja, a realização material da sentença se dava
sem intervalo, como sucedia no Mandado de Segurança e nas
Ações de Despejo: surgia a noção de sentenças mandamentais
e executivas em sentido lato.
A essa altura, parece claro que o sistema como apresenta-
do era altamente ineficiente, pois incompleto.
Com a já mencionada Reforma, a classificação dos pro-
cessos se altera, passando a contar com uma nova estrutura.
Além de permitir o retorno das funções da cautelar ao
que de fato lhe cabia, já que inserida a antecipação de tutela
como medida satisfativa genérica (art. 273 do CPC), pas-
sou-se a contar com as técnicas executivas e mandamentais
igualmente genéricas, ou seja, sem intervalo, em todas as
decisões cujo objeto se tratasse de prestação de fazer ou en-
tregar coisa.
Até chegar o momento em que, inserido o parágrafo séti-
mo no art. 273, admitiu-se o deferimento de providências
cautelares no bojo do próprio processo, por fungibilidade, assim
como a relação processual única, ou sincrética, para toda e qual-
quer prestação, inclusive de pagar.

7
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

Portanto, não se pode dizer que aquela classificação inici-


al de processo persista neste novo modelo, deixando muito cla-
ro o legislador que, a rigor, o meio é apenas um: o que se altera
é a tutela pedida e deferida!7

7
Não se quer dizer com isso que o processo de conhecimento desapareceu por
completo, bem como o de execução. De fato, em se tratando de provimentos mera-
mente declaratórios ou constitutivos, que independem de qualquer providência
jurisdicional posterior, o modelo se conserva. Igualmente as hipóteses de execução de
títulos extrajudiciais. Mas são situações absolutamente pontuais, de modo que nesse
momento a regra é dos processos em fases ou sincréticos, constituindo-se em exceção
os processos puros.

8
CAPÍTULO 2

A NOVA SISTEMÁTICA EXECUTIVA


CIVIL

1. Linhas gerais sobre as novas regras de


cumprimento de sentença no processo civil:
Lei no 11.232/2005
Como dissemos alhures, o sistema processual civil vem
sofrendo paulatinas modificações em seu cenário.
Entre outros aspectos, o sistema inseriu de forma genéri-
ca a antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional, ampliou os
poderes do relator no processo e reduziu o cabimento da
recorribilidade das decisões interlocutórias de forma imediata.
Todavia, onde obteve maior amplitude de alteração foi,
sem sombra de dúvida, no modelo executivo.
Dizemos execução pois, como aponta Medina1 e como
sustentamos em linhas transatas, não há mais que se falar em
processo de execução. Na atualidade, há todo um sistema de re-
alização física do direito reconhecido, em que pese compreen-
dido em uma nova relação processual ou em uma mera fase do
mesmo procedimento.
Em outros termos, tanto haverá execução de uma sentença
em um processo autônomo quanto o seu cumprimento no mesmo
processo, ou a efetivação de uma decisão interlocutória nos mes-
mos autos da fase cognitiva. Em todos, parte-se da mesma premis-
sa: do direito declarado, ainda que provisoriamente, para os fatos!

1
Medina, Execução civil, p. 31.
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

Se serão os mesmos princípios, regras e procedimentos, é


outra questão. Mas ninguém duvida que se trata de tutela exe-
cutiva, a despeito de onde é efetivada: na mesma ou em outra
relação processual.
Em sede de sentença passamos a ter ora como regra o
cumprimento nos próprios autos, nos termos da Lei no 11.232/
2005. Quer dizer, será executada no mesmo processo, sem a
necessidade de uma nova citação e da oposição de embargos.
Um primeiro problema se coloca. O que seria sentença e
em quais situações seria adotada essa forma sincrética. Isso por-
que sentença passou a ser, por definição do art. 162 do CPC,
ato processual do juiz, com ou sem conteúdo do arts. 269 e 267
do mesmo diploma, ou seja, com ou sem conteúdo de mérito.
O que afirmar então sobre as decisões parciais de mérito?
Vale dizer, teriam sido introduzidas no ordenamento sentenças
interlocutórias?
Imaginemos a hipótese em que um dos pedidos cumulados
é julgado antecipadamente, por incontroverso, na forma do § 6o,
do art. 273, do CPC. Ou a situação em que um dos litisconsortes
é excluído da demanda, seguindo o processo com relação aos
demais, sendo certo que o advogado pretende cobrar a sua ver-
ba honorária.
Teresa Arruda Alvim Wambier 2 não é de hoje que sus-
tenta a natureza da sentença tendo em consideração o seu con-
teúdo e não a sua finalidade, se terminativa ou não do feito.
Por tais razões é que, para alguns, à luz do art. 475-N do
CPC, sustenta-se como título executivo à decisão interlocutória
de mérito proferida no processo civil.3

2
Wambier, “O agravo e o conceito de sentença”, p. 253-255.
3
Nesse sentido, afirma Shimura estarem entre os títulos executivos as decisões
interlocutórias parciais de mérito. Aspetos polêmicos da nova execução 3.

10
ELSEVIER Capítulo 2 • A nova sistemática executiva civil

Embora possa parecer, em um primeiro momento, uma


mera discussão acadêmica, veremos que a tomada de posição em
um sentido ou em outro terá enormes repercussões no campo do
procedimento. Só para mencionar, se um provimento desta na-
tureza for considerado uma sentença, o recurso cabível será uma
apelação que, a propósito, terá efeito suspensivo, paralisando toda
a continuidade do procedimento.4 No processo do trabalho, abriria
a possibilidade do manejo de recurso ordinário, algo impensável
pela irrecorribilidade das interlocutórias!
Na verdade, pensamos que as sentenças como títulos exe-
cutivos deverão ser conceituadas por seu conteúdo e por sua
finalidade. Quer dizer, será sentença passível de cumprimento
na forma dos arts. 461, 461-A e 475-J (art. 475, I) o ato
jurisdicional de mérito ou sem conteúdo de mérito que finaliza
o procedimento em primeiro grau ou a fase dita cognitiva.
Superado esse ponto, inseriu o legislador reformista a pos-
sibilidade clara de execução de sentenças declaratórias negati-
vas. Na verdade, apenas se positivou o que já estava chancelado
na prática. Se o juiz indefere a pretensão da parte declarando
inexistente um crédito, significa que reconhece a existência dele,
logo, poderá ser executado. Haveria como que uma dupla fun-
ção nessa decisão: ela nega o pedido do autor e igualmente re-
conhece a validade de um crédito.
Outra questão importante gravita na continuidade do pro-
cesso de execução autônomo no processo civil, ainda que se
trate de sentença.
Isso porque, em certas situações, não há como a sentença
deflagrar uma mera fase, dependendo de nova citação. Nada obstante,
o rito – penhora, impugnação e expropriação – será o mesmo!

4
Registramos, a propósito, a presença de sentenças interlocutórias apeláveis. Alguns
juízes de varas cíveis têm determinado a formação de autos suplementares ou de
cópias do processo para fins de subida da apelação sem prejuízo do andamento do
processo principal ou dos suplementares.

11
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

Nesses casos, estão as sentenças arbitrais, as homologatórias


de sentença estrangeira, as penais condenatórias e, acrescenta-
mos, as proferidas nos processos coletivos por interpretação ex-
tensiva, já que não arrolada.
Explicamos. A legislação extravagante criou um subsistema
de ações coletivas. Nesse passo, a Lei no 7.347/1985, o CDC e a
Lei da Ação Popular. Tais diplomas regulam o processo das
ações de natureza transindividual, de forma artificial ou real.
Uma sentença coletiva, definindo os danos genéricos, não
exclui a possibilidade de execução dos danos individuais. Tra-
ta-se, como veremos em tópico específico, de uma verdadei-
ra ação de cumprimento na qual se fixam os danos
individuais.
Há ainda outras hipóteses de processo autônomo de execu-
ção da sentença, quando se tratar de prestação de pagar quantia. É
o que ocorre com as execuções especiais contra a Fazenda Pública
e de alimentos. Nesse último caso, apenas quando se tratar de medida
executiva consistente na prisão civil e não na penhora de bens
(arts. 732 e 733).5
Explicitando. A execução de alimentos poderá se proces-
sar pela via sub-rogatória (desconto em folha, expropriação de
rendas e penhora) ou pela via coercitiva (prisão civil). Se a autor
optar pela execução na forma expropriativa, absolutamente com-
patível à incidência das regras de cumprimento, inclusive com a
incidência da multa. Alguns juízes chegam mesmo a sustentar a
revogação do art. 732 do CPC. Em outro passo, se o alimentan-
do ou seu representante recorrem à técnica da pressão sobre a
vontade do devedor, daí outra não será a alternativa senão a do
manejo do processo autônomo na forma do art. 733 do CPC.

5
Nessa mesma linha, Delore e Tartuce em “Alimentos via cumprimento de sentença:
novo regime de execução?”, p. 163.

12
ELSEVIER Capítulo 2 • A nova sistemática executiva civil

Pois bem, estabelecido que a reforma processual civil in-


seriu um modelo sincrético – conhecimento/execução – no que
toca às sentenças, com algumas raras exceções, passaremos a
discorrer sobre as suas formas.
Reza o art. 475-I, que o cumprimento de sentença se fará
na forma dos arts. 461 e 461-A em se tratando de obrigação de
fazer, de não fazer e de entregar coisa, e por execução, quando a
obrigação for de pagar quantia.
O meio executivo utilizado, se sub-rogatório (de substi-
tuição da parte pelo Estado, de forma prevista ou não em lei),
ou coercitivo (de realização pelo próprio devedor, mediante
medidas coercitivas, algumas nominadas e outras não), é de todo
irrelevante.
Da execução de obrigação de fazer e de entregar coisa
trataremos com mais vagar em tópico próprio. Por ora, vamos
nos concentrar na Reforma quanto ao cumprimento de sen-
tença condenatória de obrigação de pagar.
De acordo com a lei, proferida a sentença, deverá o deve-
dor cumprir a decisão em 15 dias, sob pena de imputar-se à
dívida uma multa de 10% sobre o seu valor.
Assim, ou o executado cumpre voluntariamente ou paga-
rá uma multa pelo inadimplemento.
Para a doutrina e a jurisprudência civilista tal questão é
tormentosa. Esse cumprimento será automático ou dependerá
de intimação específica? A partir de que momento? O credor
deverá requerer essa providência, ou a mesma será de ofício?
Discute-se, ademais, se a sua incidência apenas decorrerá do
trânsito em julgado ou se será cabível no cumprimento provisório.
Finalmente, discute-se se essa multa será imputada ainda
que o devedor não tenha condições de atender ao comando
jurisdicional, seja por não possuir patrimônio seja por não dis-
por de quantia em espécie.

13
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

No que toca à deflagração da multa, o art. 475-J fala em


requerimento para penhora (grifo nosso), o que naturalmente
acontece após o descumprimento para pagamento. Significa,
portanto, que antes deste descumprimento não terá o credor de
pedir coisa alguma, sendo inerente à sentença a ordem para
pagamento.
Daniel A. Assumpção Neves refuta essa possibilidade,6
sob o argumento de que, por menor que seja, sempre será ne-
cessária uma atualização. Adverte o autor que o art. 475-B im-
põe à parte que junte a memória dos cálculos requerendo (grifo
nosso) a execução. Entende, pois, que sempre dependerá, no
plano prático, de pedido do exeqüente.
Athos Gusmão Carneiro envereda posição diversa,7 sus-
tentando a desnecessidade de pedido do credor e de intimação
específica para pagamento. Quer dizer, o pedido será automáti-
co. Pondera, no entanto, que o prazo apenas começará a correr
a partir do momento em que a sentença tiver condições de ser
cumprida, o que vale dizer: no dia seguinte ao trânsito em jul-
gado ou ao recebimento de recurso,8 com efeito meramente
devolutivo. Vale observar que o autor foi um dos idealizadores
do projeto que se converteu na nova lei.
Há quem sustente, na mesma linha dos que pugnam pelo
início do prazo automaticamente, que o dia inicial se daria com
a publicação de a sentença. Ou seja, de modo bem radical, de-
fendem que antes mesmo de a sentença gerar qualquer efeito
processual, sua publicação já teria força suficiente para o seu
cumprimento.

6
Neves, Reforma do CPC, p. 211.
7
Carneiro, Cumprimento da sentença civil, p. 43.
8
Na mesma linha Alexandre Câmara quanto aos efeitos da decisão, entendendo que
apenas haverá possibilidade do ato judicial refletir efeitos a partir da interposição do
apelo sem efeito suspensivo. Lições de Direito Processual Civil, v. II, p. 254.

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ELSEVIER Capítulo 2 • A nova sistemática executiva civil

Em posição intermediária, situa-se Cássio Scarpinella


Bueno,9 para quem sempre será necessária a intimação especí-
fica para ciência inequívoca do devedor do dia em que iniciará o
prazo para pagamento. Mas tal intimação independerá de re-
querimento da parte, sendo certo que as eventuais atualizações
só poderão ficar a cargo do executado.10
Quanto à multa, Bueno defende que para a sua incidên-
cia apenas será necessária a provocação da parte, em se tratan-
do de execução provisória. Explica-se. A realização provisória
da sentença, em razão da pendência de um recurso que poderá
modificá-la, exige do demandante que arque com as eventuais
conseqüências de sua pressa. Se este quiser correr o risco de
executar a decisão, o sistema permitirá, mas, se perder, deverá
responder por perdas e danos ao executado nos mesmos autos.
É a responsabilidade objetiva processual prevista no art. 475-O,
I, do CPC. Ora, se a parte não quer correr tal risco, não poderá
o juiz deflagrá-lo independentemente da vontade daquela que,
afinal, vai responder pelos prejuízos.
Assim é que, por interpretação sistemática dos disposi-
tivos legais, admite-se que a efetivação da decisão será inde-
pendente do requerimento do credor, desde que no plano
definitivo, ou seja, sem a pendência de recurso. Nesse caso,
deverá o magistrado de ofício noticiar o retorno dos autos para
cumprimento.
Essa intimação seria na pessoa do advogado, pois a refor-
ma a todo tempo sinaliza nesse sentido, para agilizar o procedi-
mento.

9
Bueno, Aspectos polêmicos da nova execução 3, p. 128.
10
Tem sentido. Querendo o legislador agilizar a execução, a atualização seria verda-
deiro entrave para tanto. Logo, melhor o executado se beneficiar da percepção dos
valores rapidamente, ainda que não atualizados ou atualizados de forma incorreta,
seguindo pelo que sobejar, do que nada receber.

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Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

Parte da doutrina civilista discorda, vez que a nocividade


da sanção para a parte seria incompatível com a comunica-
ção apenas ao causídico. Entendem que ao advogado reser-
va-se a prática de atos processuais e não a de atos materiais.
De mais a mais, a sua responsabilidade seria sobremodo acen-
tuada. Isso sem falar nas situações em que o representante
renuncia ao mandato, bem como nos casos de revelia.
Claro que nessas situações não haveria outra solução se-
não que se determinar a intimação pessoal da parte.11
A jurisprudência se inclina em um sentido e em outro,
havendo certa tendência do STJ a suprimir a intimação especí-
fica e a iniciativa da parte:
LEI No 11.232/2005. ARTIGO 475-J, CPC. CUM-
PRIMENTO DA SENTENÇA. MULTA. TERMO
INICIAL. INTIMAÇÃO DA PARTE VENCIDA.
DESNECESSIDADE.
1. A intimação da sentença que condena ao pagamento
de quantia certa se consuma mediante publicação, pe-
los meios ordinários, a fim de que tenha início o prazo
recursal. Desnecessária a intimação pessoal do devedor.
2. Transitada em julgado a sentença condenatória, não
é necessário que a parte vencida, pessoalmente ou por
seu advogado, seja intimada para cumpri-la.
11
Ressalvamos, contudo, que a sistemática civilista resolve de modos diferentes a sorte
da contumácia do réu, conforme a espécie de citação e a presença ou não de advogado
nos autos. Assim, se citado de forma ficta (hora certa ou edital), conquanto revel, os
efeitos da revelia não se verificarão, pois o art. 9o, II, do CPC impõe a nomeação de um
curador à lide, que o defenderá por negativa geral. Citado por Correio ou por oficial de
justiça, sendo disponível o direito ou não havendo litisconsórcio, os fatos alegados serão
presumidamente verdadeiros.Todavia, a dispensa das intimações apenas incidirá se o
réu revel não tiver advogado constituído nos autos.
Do exposto, entendemos que apenas o réu revel, citado fictamente, é que poderá se
beneficiar da intimação específica, e na pessoa do curador. O citado de modo real,
com ou sem advogado, não poderia usufruir de melhores condições que aquele que
efetivamente respondeu e atuou no processo, de modo que a incidência da multa será
automática!

16
ELSEVIER Capítulo 2 • A nova sistemática executiva civil

3. Cabe ao vencido cumprir espontaneamente a obriga-


ção, em 15 dias, sob pena de ver a sua dívida acrescida de
10%. (Resp. 954.859-RS, Terceira Turma, STJ, Rel. Min.
Humberto Gomes de Barros, j. 16/08/2007)
...
Pois bem. Uma vez escoado o prazo, o que dizer do exe-
cutado que não paga por não possuir bens para fazê-lo?
Sim, porque até aqui tudo parece muito claro; basta a co-
municação para pagamento ou a mera publicação da sentença,
para que, escoado o prazo, incida a multa. Ocorre que é preciso
perquirir a natureza jurídica dessa multa. Seria uma sanção pelo
descumprimento à ordem judicial ou uma medida de cunho
coercitivo?
Para uma primeira corrente, trata-se, inegavelmente, de
uma sanção.12 O devedor sofre uma punição por não cumprir a
ordem jurisdicional. Como regulado nos arts. 14, V, parágrafo
único, e 601 do CPC há ato atentatório à dignidade da justiça,
em razão do desacato à ordem jurisdicional.
Para uma segunda corrente, não há dúvida de sua natu-
reza coercitiva, já que é claro o propósito de compelir o deve-
dor a pagar voluntariamente. Ora, se o devedor não possui
numerário para pagar, nenhuma pressão teria exercido tal
multa. Essa é a mesma corrente que impede a prisão civil do
devedor de alimentos quando evidentemente desprovido de
capacidade financeira.
Vale lembrar que a manifestação do devedor no prazo,
dando coisa em lugar de pagamento, ou mesmo à luz da execu-
ção de títulos extrajudiciais, pagando 30% do valor e requeren-
do o parcelamento do restante, são condutas aptas a impedir a
incidência da multa.
12
Guimarães, “Rediscussão do valor da multa fixada em liminar e confirmada na
sentença, quando da apresentação da impugnação a execução”, p. 501.

17
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

Podendo, e não pagando nem parcelando a dívida, passa


a correr, para o credor, o ônus de iniciar a execução.
Nessa medida, deverá, por mera petição simples, sem
maiores formalidades, pedir a penhora de bens que a propósito
indica, seguindo-se a constrição.
Quer dizer, logo após o descumprimento voluntário, é dis-
parada a execução propriamente dita, com a substituição do
Estado pela parte, que passará a vincular o patrimônio do deve-
dor por meio da penhora.
Algumas palavras sobre essa fase do cumprimento. Primei-
ro, não é eterna, posto que fixado pela norma o prazo de seis meses
para o pedido de expedição de mandado de penhora, sob pena de
arquivamento (que não se confunde com a prescrição superveniente
contada a partir do escoamento do prazo para pagamento).
Segundo, a indicação de bens à penhora deixa de ser um
ônus do devedor e passa a ser um dever. Isso porque, cabendo
ao autor indicar os bens a serem penhorados, só não o fará se
não puder, o que acaba imputando ao devedor a obrigação de
fazê-lo sob pena de ato atentatório.
Destacamos esse aspecto da lei, que rompeu profunda-
mente com a jurisprudência então reinante. Para os Tribunais,
no processo civil não havia problemas com a omissão em indi-
car, mas com a ação no sentido de ocultar os bens penhoráveis.
Entendiam que apenas na obrigação de entregar coisa certa
haveria esse dever, sob pena de multa.
O art. 600 do CPC, que regula os atos atentatórios à dig-
nidade da justiça, passou a expressamente prever o dever do
executado de dizer quais e onde se encontram os seus bens, sob
pena de configurar-se ato atentatório.
Com a indicação, seja por um ou outro, segue-se a avali-
ação do bem, que agora será efetivada pelo próprio oficial, do
mesmo modo que na trabalhista.

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ELSEVIER Capítulo 2 • A nova sistemática executiva civil

Com a penhora, passa a correr prazo de 15 dias para a


impugnação.13 Vale dizer, não há mais em sede de cumprimento
o vetusto embargo do devedor, mormente com o efeito suspensivo
que lhe era ínsito.
Explica-se. Agora o executado passa a apresentar as ma-
térias de defesa previstas no art. 475-L nos mesmos autos, não
havendo a paralisação da execução, que continua, a menos que
seja deferida uma medida cautelar pelo juiz (art. 475-M).
Essa é uma das facetas mais importantes, reputamos, da
Reforma executiva.
Realmente, uma das maiores críticas ao sistema girava
exatamente na suspensão imediata das medidas executivas quan-
do opostos os embargos. A doutrina chegava mesmo a pugnar,
nesse caso, que, sendo meramente protelatórios os embargos,
fosse deferida a antecipação de tutela punitiva (art. 273, II), ex-
cluindo tal efeito.
Agora, dependerá do magistrado, fundado no perigo de
dano e na verossimilhança da alegação, especialmente a im-
possibilidade de retorno ao estado anterior pela transferência
do bem, permitir ou não a continuidade do procedimento.
Ainda assim, acaso suspensa a execução, poderá o juiz,
desde que o autor dê uma garantia pela eventual responsabili-
dade no caso de procedência da impugnação (e, desta feita, de
desconstituição do título que embasava a execução), cassar os
efeitos deferidos. É dizer: partindo-se da premissa que a princí-
pio o credor tem razão, a execução deverá ser processada de

13
Daniel Amorim Assumpção Neves entende em sentido oposto. Para o autor,
a penhora apenas funciona como referência ao prazo máximo para a oposição
da impugnação. Argumenta que a execução de título extrajudicial, não conten-
do a mesma restrição e sendo norma posterior, impediria uma interpretação
em outro sentido. Logo, se a parte quiser opor a sua impugnação a despeito de
penhora poderá fazê-lo. In Reforma do CPC, p. 227.

19
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

modo mais efetivo a ele, sendo exceção a paralisação do proces-


so até o julgamento da defesa. In verbis:
Art. 475
§ 1o. Ainda que atribuído efeito suspensivo à impugnação, é
licito ao exeqüente requerer o prosseguimento da execução,
oferecendo e prestando caução suficiente e idônea, arbitrada
pelo juiz e prestada nos mesmos autos.
Interessante ressaltar a esse respeito que o fato de vincu-
lar o legislador a impugnação à penhora parece ter mantido no
sistema a exceção de pré-executividade.
Por exceção de pré-executividade temos o incidente nos
autos da execução pelo qual o devedor procura afastar a validade
do título, impedindo a execução injusta. Não estando previsto
em lei, mas chancelado pela jurisprudência consolidada, poderá
aviar matéria de ordem pública ou de mérito, desde que não exija
dilação probatória incompatível, a rigor, com a fase executiva.14
Para parte da jurisprudência e da doutrina, contudo, ape-
nas será permitida a objeção de não-executividade, vez que a
única matéria apta a ser suscitada pelo executado é de ordem
pública, ou seja, condições da ação e pressupostos processuais.
Assim, para esta corrente, não importaria o grau de pro-
fundidade do exame do magistrado, mas a circunstância da
matéria poder ser agitada pela parte ou conhecida pelo juiz.
Ressaltamos, a propósito, a possibilidade franqueada ao
magistrado de reconhecer de ofício a prescrição, em que pese se
trate de matéria de mérito:
Art. 219 do CPC....
§ 5o. O juiz pronunciará, de ofício, a prescrição.
Devemos lembrar que a falta de título executivo, o excesso
de execução, tidos como impossibilidade jurídica do pedido, cons-
tituem-se em carência de ação, a ser agitada em objeção de pré.
14
Na jurisprudência trabalhista tal consideração é igualmente seguida. V. TRT 23a R,
AP 01667.2001.001.23.01-2-Ac. 14/2/2007, Rel. Leila Calvo.

20
ELSEVIER Capítulo 2 • A nova sistemática executiva civil

Debate-se se a carência de ação não-reconhecida nem


suscitada antes da formação da sentença poderia ser alvo de
discussão na execução. Quer dizer, seria executável um ato judi-
cial maculado de impossibilidade jurídica ou que o réu seja par-
te manifestamente ilegítima? A exceção de pré ou a impugnação
poderiam questionar as nulidades ocorridas antes da formação
do título?
O art. 475-L reconhece a possibilidade de argüição da
falta de citação na fase de conhecimento. Permite, inclusive, o
exame da declaração de inconstitucionalidade ulterior da lei que
escorava a sentença, contaminado-a com a ineficácia.
Uma sentença proferida sem condição da ação seria tão
inexistente quanto aquela lançada sem a citação do réu ou por
um juiz desinvestido de jurisdição.15
Por tudo isso, nos parece perfeitamente admissível a ale-
gação, pelo executado, de matéria de ordem pública, inclusive
anterior à sentença, em impugnação ou exceção de pré.
Superada a questão da matéria, convém mencionar o pra-
zo pelo qual poderá ser aviada.
Carreira Alvim e Luciana Gontijo16 admitem apenas a
oposição da exceção para impedir a penhora dos bens pelo que

15
Conforme a propósito Teresa Wambier, Nulidades do Processo, p. 283 a 368. O
processo como meio de instrumentalização de um direito, precisa existir e ser válido. Não
existe, e portanto não tem efeitos jurídicos, sempre que conduzido por um juiz sem
jurisdição, sem um pedido efetuado pela parte, ou sem a citação do réu, bem como sem a
juntada de procuração do advogado (art. 37, parágrafo único, CPC). Será nulo, logo
passível de refletir efeitos jurídicos e formar coisa julgada material, o processo desenvolvido
por um juiz incompetente absolutamente, impedido ou suspeito, com partes incapazes de
ser parte e de estar em juízo, pedido inepto e existência de perempção, litispendência ou
coisa julgada. A diferença, pois, será que os primeiros vícios sempre poderão ser agitados
pelas partes ou pelo juiz de ofício, sem existência de prazo via ação declaratória de inexistência.
A nulidade, ao revés, terá como dies ad quem a ação rescisória. Passado o prazo da ação
desconstitutiva, ingressa validamente no sistema a sentença assim lançada.
16
Alvim e Cabral, Nova execução de título extrajudicial, p. 652.

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Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

apenas se justificaria nesse ínterim (entre a citação e a penhora


em três dias).
A maciça doutrina e a jurisprudência, no entanto, enve-
redam por outra posição.
Na verdade, exatamente pelo fato de não estar prevista
em lei, não pode estar sujeita a prazo. Logo, poderá ser aviada
no início do processo, após a penhora, inclusive para questionar
a sua validade, ou após a impugnação.
Já sustentamos em outro ensaio que a exceção poderá ser
interposta em razão do executado ter perdido o prazo para a
impugnação, não ter argüido todas as matérias de defesa ou
não contar com patrimônio para segurar o juízo. Também, dada
a sua natureza de mero incidente (art. 20, § 1o,CPC), razoável a
sua oposição na dúvida sobre o seu deferimento, já que não
rende honorários advocatícios se denegada pelo juiz.17
Após a impugnação ou exceção de pré-executividade, e
sendo elas indeferidas como incidentes que são ou estando em
fase de julgamento sem a suspensão do feito, segue-se fase
expropriatória.
A expropriação de bens também foi alvo de modificação.
Agora, a preferência é a adjudicação. Assim, querendo o credor
ficar com os bens penhorados do devedor, resolve-se a execu-
ção, desde que de mesmo valor. Tal medida, é bom dizer, é mui-
to mais barata e rápida para o processo.
Se não puder ou não quiser o credor a adjudicação, passa-se
à alienação, preferencialmente, de iniciativa particular. É dizer:
poderão os corretores credenciados na justiça ou o próprio cre-
dor ofertarem o bem, obtendo melhor preço, sendo certo que,
inclusive, poderão se valer da rede mundial de informações.

17
Vezzoni, “Métodos de oposição ao titulo executivo.”, p. 409 e segs.

22
ELSEVIER Capítulo 2 • A nova sistemática executiva civil

Não sucedendo a alienação por iniciativa particular, se-


gue-se a arrematação pública. Frustrada esta, ainda poderá a
parte recorrer ao usufruto judicial de imóveis ou móveis, já que,
em se tratando de empresa, basta a penhora no seu faturamento,
dentro das regras legais, de acordo com a nova redação dada
pela sistemática processual civil:
Art.655. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte
ordem:
...
VII – percentual do faturamento de empresa devedora;
Art. 716. O juiz pode conceder ao exeqüente o usufruto de
móvel ou imóvel quando reputar menos gravoso ao execu-
tado e eficiente para o recebimento do crédito.

2. Linhas gerais acerca da execução de títulos


extrajudiciais
Não apenas as regras relativas ao cumprimento da sen-
tença foram modificadas, mas também as pertinentes a execu-
ção de título extrajudicial.
Em um primeiro plano, devemos recordar que a sistemá-
tica civilista permite a execução não apenas de títulos judiciais,
mas igualmente um rol expressivo dos extrajudiciais (art. 585
do CPC), assim considerados os atos jurídicos documentados e
arrolados pelo legislador como executivos.
Pelas novas regras, estando a petição inicial instruída com
o documento apto a aparelhar a execução, será o executado ci-
tado para pagar em três dias. Vale dizer, não será notificado para
pagar ou nomear bens.
Isso se deve a duas razões: uma, para evitar a ocorrência
de incidente de nomeação de bens, sempre possível quando da
alçada do devedor; outra, por permitir a indicação a cargo do
exeqüente para agilizar o procedimento.

23
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

Se porventura não souber ou for impossível por alguma


razão a indicação, escoado o prazo de três dias, passará o oficial
a buscar os bens para tanto.
Claro – e Daniel Amorim A. Neves tem razão nesse sen-
tido –18 que o fato de o oficial penhorar bens não exclui a pos-
sibilidade de o devedor ofertá-los, devendo o juiz ouvir o
exeqüente sobre a questão. Mas, asseveramos, o simples fato de
no final dos três dias não pagar, apresentando o executado bens,
não impedirá o oficial de buscar outros suscetíveis de constrição.
Não pagando nem apresentando bens, nem o oficial lo-
calizando-os, daí passará ao juiz o mister de intimar o devedor
para dizer quais e onde se encontram,19 sob pena de multa por
desacato à corte.
Propõe-se, para se imprimir maior celeridade, que o cre-
dor, já na exordial, peça a citação para pagamento, a penhora
de bens e, frustrada essa, a imediata intimação do executado
para arrolar o seu patrimônio. Ou seja, que na mesma peça, já
sejam efetuados todos os requerimentos, na eventualidade de
frustração de alguma ou algumas das medidas, para maior
celeridade.
Devemos recordar que pela penhora não se perde a pro-
priedade do bem, mas apenas se mantém o mesmo afetado à
futura expropriação, conferindo ao exeqüente o direito de pre-
ferência perante os demais.
Sobre os bens passíveis de constrição, o art. 649 modificou
o rol de impenhorabilidades, incluindo novas hipóteses e restrin-
gindo outras, como teremos oportunidade de examinar.
Positivada por igual a penhora online, fruto de tantas crí-
ticas ao Judiciário trabalhista.

18
Neves, Reforma do CPC 2, p. 232-44.
19
Op. cit., p. 232.

24
ELSEVIER Capítulo 2 • A nova sistemática executiva civil

Embora considerada de forma excepcional pela jurispru-


dência civilista, a penhora é sustentada pela maioria doutriná-
ria, que não apenas reconhece a sua importância para um modelo
efetivo, como a sua prioridade. Sustentamos a possibilidade de
ser postulada na inicial, inclusive inautida altera pars, sempre
que ficar demonstrado o perigo em que, citado o executado,
reste frustrada a execução.
É digno de nota o tratamento igualitário conferido pelo
legislador à fraude à execução e à fraude contra credores. A ju-
risprudência civilista, atenta à segurança das relações negociais,
há muito tempo defendia que o ônus da prova da fraude ficasse
com o credor, salvo se houvesse publicidade.
Assim é que o art. 615-A faculta ao demandante a
averbação da certidão de ajuizamento da execução, junto aos
cartórios de bens, assegurando, deste modo, que o terceiro even-
tual adquirente de um bem litigioso reste indiscutivelmente ci-
ente da pendência da lide e do risco incurso. Logo, sem a
averbação, o exeqüente incauto deverá demonstrar que o ter-
ceiro agiu de má-fé, enquanto que, com ela, há presunção abso-
luta de fraude.
Penhorados e avaliados pelo oficial os bens, ou não pe-
nhorados, poderão ser opostos os competentes embargos à
execução.
Vale lembrar que, embora irrelevante, a intimação do de-
vedor para perfectibilização da penhora e para o escoamento do
prazo de defesa, tal não a exclui, na pessoa do advogado. Não
havendo patrono constituído (o que a rigor sucede, pois rara-
mente juntada a procuração nesse momento), será intimado o
executado pessoalmente.
O art. 652, não obstante, assevera que o juiz poderá dis-
pensar tal intimação. Na verdade, tal artigo positivou antiga dou-
trina que sempre sustentou que a mera citação já era suficiente

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Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

como comunicação sempre que não encontrado o executado.


Ou seja, havendo dificuldade em se encontrar o devedor ou não
tendo advogado nos autos, poderá o magistrado dá-lo como
intimado, pois evidentemente ciente da afetação.
De qualquer sorte, isso não exclui o direito conferido ao deve-
dor de, em dez dias, pedir a substituição da penhora efetuada, especi-
almente através de fiança bancária ou seguro, mais 30% da dívida.
Quanto aos embargos à execução, além de não mais de-
penderem da segurança do juízo, terão como dies a quo a junta-
da aos autos do mandado de citação devidamente cumprido.
Carreira Alvim e Luciana Gontijo,20 já mencionados, re-
cordam que o fato de não dependerem de garantia não significa,
em nenhuma hipótese, que a penhora não será realizada. Apenas
permite que o executado sem patrimônio possa se defender.
Esse é mais um argumento para se sustentar a continui-
dade da exceção de pré-executividade no sistema, inclusive com
relação aos títulos extrajudiciais. Desde que a prova seja plena,
passível de exame sumário pelo juiz, deverá ser admitida com o
intuito exato de impedir a penhora.
Advertimos, contudo, escorados nas lições de Daniel
Amorim A. Neves,21 que essa atitude do executado deve ser to-
mada com as devidas reservas, já que com a sua interposição (da
exceção de pré) acaba a parte por juntar a procuração do advoga-
do, o que poderá facilitar as intimações pela via eletrônica. Expli-
camos: a intimação da penhora, assim como da indicação de bens
sob pena de ato atentatório, deveria se efetivar na pessoa do ad-
vogado. Ocorre que dificilmente haverá procuração nos autos para
tanto, o que indiscutivelmente prolongará a demanda em razão
da necessidade de comunicação pessoal à parte.

20
Alvim e Cabral, op. cit. p. 193.
21
Neves, op. cit. p. 238.

26
ELSEVIER Capítulo 2 • A nova sistemática executiva civil

Esses embargos trazem como novidade a mesma disci-


plina conferida à impugnação: não possuem efeito suspensivo
imediato. Para alcançar tal desiderato, o executado deverá re-
querer uma medida cautelar, nos próprios autos, com o fim de
impedir a continuidade do processo, ou seja, a conseqüente ex-
propriação, em razão do perigo de dano.
Note-se. Os embargos com efeito suspensivo não terão o
condão de impedir a penhora, mas apenas a alienação dos bens.
Também, além de não impedi-la, o efeito suspensivo a pres-
supõe. Ou seja, o sistema até admitirá a paralisação pelo perigo
de dano, mas o executado deverá oferecer ao menos uma caução.
Julgados improcedentes, poderá a cautelar ser retomada
ao ensejo da apelação, renovando-se a suspensão da execução.
Mas deverá ser requerida expressamente ao Relator, pois a
provisoriedade da cautela perdura até a sentença de improce-
dência, a despeito do trânsito em julgado.22
Se porventura concedido o efeito suspensivo à apelação,
ainda assim parece ser possível a continuidade do processo, trans-
ferindo-se os bens do executado. Basta o exeqüente oferecer
uma garantia pelas eventuais perdas e danos decorrentes do
provimento do recurso. Quer dizer, trata-se de mais uma hipó-
tese de execução provisória (art. 475-O CPC), vez que o título
corre o risco de ser alterado. O art. 587 do CPC encontra-se
vazado nos seguintes termos:
É definitiva a execução fundada em título extrajudicial; é
provisória enquanto pendente apelação da sentença de im-
procedência dos embargos do executado, quando recebidos
com efeito suspensivo (art. 739).

22
Há posição contrária à nossa, admitindo a manutenção da medida em que pese
improcedente a sentença. De todo modo, é prudente que os advogados das partes aten-
tem para esta questão, postulando expressamente a cassação ou a retomada da cautela.

27
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

Reforça ainda mais o argumento o estabelecido para a


impugnação, cujo art. 475-M, § 1o, do CPC é expresso nesse
sentido (v. 1b1, p. 18).
Opostos os embargos, sem efeito suspensivo, bem como
a apelação, no caso de sua improcedência, segue-se a expropri-
ação dos bens.
Como já aduzido para o cumprimento, agora a adjudica-
ção prefere a alienação particular, que por sua vez prefere a
arrematação pública, até afinal permitir o usufruto judicial.
Com a expropriação, efetuado o competente termo ou auto,
passa a correr o prazo de cinco dias para os embargos de segunda
fase. Por ele, aduz o executado as nulidades posteriores à penhora.
Por ensejar a citação do adquirente, admite o legislador re-
formista a possibilidade do exercício do arrependimento. Isto é,
embora o adquirente não seja atingido com o resultado dos em-
bargos, de qualquer sorte assiste-lhe o direito de desistir do bem
arrematado em até cinco dias contados da sua comunicação.
Finalmente, como já sustentado anteriormente, digna de
aplausos a previsão legal acerca do parcelamento da dívida em
até seis vezes, desde que depositado o valor de 30%, nos termos
do art. 745-A do CPC.

3. Procedimentos executivos especiais: tutela


específica
Neste momento, nos debruçaremos sobre a execução de
obrigação de fazer, de não fazer, de entregar coisa e de emitir
declaração de vontade, o que completa o arcabouço da realiza-
ção genérica dos títulos executivos.
Pensamos que não interessaria, no presente momento,
uma análise de outros procedimentos executivos especiais, ou
seja, perante a Fazenda Pública, o devedor insolvente, e ali-
mentos, dada a proposta de aproximação dos modelos civilista
e trabalhista por força dos princípios e da nova legislação.

28
ELSEVIER Capítulo 2 • A nova sistemática executiva civil

Em um primeiro plano, temos a explanar o que queremos


dizer com tutela específica.
Tutela específica seria a prestação ao exeqüente de exata-
mente aquilo a que tem direito.23 Isso porque, no sistema libe-
ral, era inconcebível que o executado sofresse qualquer sorte de
pressão em sua vontade, sendo no máximo responsável em ter-
mos patrimoniais. Quer dizer: não importava o bem jurídico,
tudo poderia ser reparado patrimonialmente.
Ocorre que novos direitos passaram a demandar uma nova
forma de proteção, assim como direitos antigos, por sua nota de
indisponibilidade.
Corolário a isto, o Direito Material, especialmente o Di-
reito Civil, passou a contar com novos contornos, destacando,
entre outros aspectos, a função social do contrato e a boa-fé.
É dizer: a absoluta autonomia dos litigantes e a alternati-
va do inadimplemento pelo sucedâneo econômico passaram a
ser mitigadas. Se é assim, sendo o processo instrumento do Di-
reito Material, nada mais natural que a acomodação do proces-
so civil a essa nova realidade.
Devemos lembrar que tal circunstância não era desco-
nhecida do Direito Trabalho, expresso há muito tempo (con-
quanto injustamente criticado) acerca da reintegração do
reclamante ao emprego. Dito isto, os arts. 461, 461-A, 466-A,
B e C, 621 e 632, todos do CPC, passam a regular o instituto.
Os primeiros, dizem respeito ao cumprimento de senten-
ça de obrigação de fazer e de não fazer, de entregar coisa e de
declarar vontade (execução sem intervalo fundada em título
judicial).24 Por se tratar de cumprimento, será deflagrada ex

23
Marinoni, Tutela Específica, p. 67.
24
Talamini, Tutela relativa aos deveres de fazer de não fazer e sua extensão aos deveres
de fazer de não fazer e sua extensão aos deveres de entrega de coisa, p. 125.

29
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

officio, a despeito de requerimento da parte, e atuada através das


medidas executivas inominadas a cargo do magistrado.
Destarte, uma vez condenado o executado a uma presta-
ção de fazer, bem como de entregar coisa, será instado a tanto
de acordo com o que o juiz determinar, independentemente da
sua vontade, pois apenas será efetiva a tutela se a parte obtiver
exatamente aquilo que espera do Estado.
Claro que restando impossível o seu cumprimento, outro
não poderá ser o desfecho senão a conversão em perdas e danos:
frisamos, apenas se inviável o cumprimento in natura, como no
caso do cantor que perde a sua voz, ou então por pedido da parte.
Ressaltamos que nas ações declaratórias de emissão de
vontade, pela possibilidade franqueada ao juiz de emitir a sen-
tença como a própria vontade declarada, não há espaço para o
manejo de medidas executivas. Vale dizer, já contando o siste-
ma com a possibilidade de através do Judiciário ou de seus ór-
gãos substituírem o executado no que toca a sua declaração de
vontade, nada mais será necessário, não havendo razoabilidade
em se permitir o uso de instrumentos de pressão para que o
próprio demandado emita a declaração.
Uma questão que provoca dúvidas gira em torno da pos-
sibilidade da parte ser instada a manter um contrato ou a renová-
lo, em que pese a sua vontade. A doutrina costuma elencar essa
espécie de tutela específica como de inadimplemento contratual.
Em outro passo, relevamos a positivação das medidas ini-
bitórias.
Por tutela inibitória, temos as técnicas preventivas de um
ilícito.25 Não se trata, como se pode perceber, de prevenção do
dano, mas do próprio ilícito. Isso porque há determinados direi-
tos que não podem sequer ser vulnerados, mesmo que dessa
violação não resulte qualquer lesão.

25
Marinoni, Técnica Processual e Tutela dos Direitos, p.249.

30
ELSEVIER Capítulo 2 • A nova sistemática executiva civil

Tutela-se o ilícito, o ato contrário ao direito. Assim, por


exemplo, é que a parte tem direito de impedir que a sua imagem
seja publicada sem a sua autorização, sendo certo que não há
nenhum interesse público nessa divulgação; ou que o consu-
midor não tenha um produto nocivo exposto à venda, ainda
que ninguém o tenha consumido.
Caberá, outrossim, tanto para impedir a sua ocorrência
quanto a continuidade do ilícito já perpetrado ou ainda para
impedir que novamente ocorra.
Mas, ainda que não seja isso possível, ocorrendo um dano,
não necessariamente o lesado terá de buscar o equivalente ge-
nérico. Poderá optar por uma reparação consistente em um facere:
essa a tutela ressarcitória específica.
Pensemos em um dano à personalidade. Muitas vezes,
bem melhor do que as perdas e danos, será o desagravo promo-
vido pelo réu, especialmente quando veiculada a retratação nos
mesmos moldes da ofensa.
A efetivação de decisão interlocutória, a propósito, e como
teremos oportunidade de verificar, muito se aproxima do cum-
primento de sentença específica, apenas se ressaltando que, por
sua provisoriedade, sujeitará o autor, se sucumbente, às perdas e
danos sofridos pelo réu.
Aos títulos extrajudiciais, no entanto, resta a ainda vetus-
ta execução por obrigação de fazer. Malgrado a tentativa do
legislador reformista em simplificá-la, continua a dever, em ter-
mos de efetividade na execução dos títulos extrajudiciais.
Explicamos. O executado será citado para cumprir, no
prazo assinado pelo juiz ou constante do título que a escora, a
obrigação sob pena de multa.26 Escoado o prazo, com a recusa

26
Art. 645 do CPC. Na execução de obrigação de fazer ou não fazer, fundada em título
extrajudicial, o juiz, ao despachar a inicial, fixará multa por dia de atraso no cumpri-
mento da obrigação e a data a partir de qual será devida.

31
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

do devedor, passa a contar o credor com uma de duas possibili-


dades: ou pede as perdas e danos convertendo o procedimento
para cumprimento de sentença de pagar quantia ou passa a con-
tar com a realização por terceiro.27
A essa altura poder-se-ia indagar: qual o problema de um
terceiro fazer aquilo que o executado devia, já que, no mínimo,
o resultado será equivalente?
Vale lembrar que apenas as prestações fungíveis, isto
é, que não demandam qualquer aspecto pessoal do obriga-
do, é que poderão ser objeto desta forma de execução.
O problema reside no fato de que, embora excluída a lici-
tação entre os interessados (o que outrora era exigido), quem
inicialmente arcará com as despesas do trabalho do terceiro será
o exeqüente, que ficará com o título executivo em face do deve-
dor. Imagine explicar para o seu cliente que ainda por cima fi-
cará a cargo dele a prestação do fato por um terceiro em lugar
do devedor, mas tudo bem, já que a percepção da quantia
despendida será rapidamente devolvida pela penhora e aliena-
ção de bens, isso se houver muita sorte e a alienação não for vil,
nem objeto de impugnação à arrematação...
Quanto à obrigação de entrega de coisa, não há muitas
mudanças com relação a tudo que foi dito até aqui, salvo com
relação à recusa do executado em entregar o bem, o que ensejará
obrigatoriamente a expedição de mandado de busca e apreen-
são ou imissão na posse.
Ressaltamos, ainda, nesse caso, a desnecessidade de de-
pósito da coisa para fins de embargos à execução. Forte nas
regras gerais introduzidas pela reforma nos arts. 736 e segs. do
CPC, não temos dúvida que a despeito do procedimento de

27
Art. 634 do CPC. Se o fato puder ser prestado por terceiro, é lícito ao juiz, a requeri-
mento do exeqüente, decidir que aquele o realize à custa do executado.

32
ELSEVIER Capítulo 2 • A nova sistemática executiva civil

pagar quantia, de fazer ou entregar, os embargos independerão


de penhora ou depósito prévio, a menos que a parte busque dar
efeito suspensivo à hipótese.
Advertimos, nada obstante, escorados nas lições de
Arakem de Assis, que o depósito poderá ser uma boa medida
para impedir a fluência da multa diária, bem como de outros
riscos a que a coisa poderá ser exposta.
Mais algumas palavras sobre este procedimento no que
se refere às benfeitorias. Benfeitorias são as melhorias realiza-
das na coisa. Podem ser úteis, necessárias ou voluptuárias, sen-
do certo que, em qualquer caso, assiste à parte o direito de retê-la
até a imputação do crédito na dívida, desde que de boa-fé.
A forma de veiculação desse direito dependerá do título
que a escora. Se for extrajudicial, cabíveis os embargos nos ter-
mos do art. 745-IV, em 15 dias contados da citação do executa-
do para entregar a coisa.28 Se for judicial, ou muito bem o réu
contesta na fase cognitiva argüindo a existência de benfeitorias
ou reconvém pelas voluptuárias, sob pena de preclusão. Isto é,
não há espaço para impugnação por benfeitorias em cumpri-
mento para entrega de coisa. Tem de ser feita no módulo
cognitivo!

28
Câmara, Lições de Direito Processual Civil, v. II, p. 257.

33
CAPÍTULO 3

A EXECUÇÃO TRABALHISTA

Sobre a execução no Direito do Trabalho, igualmente


passaremos a uma análise geral, para, após, confrontarmos os
modelos à luz dos princípios executivos.
Em um primeiro plano, destacamos que a execução tra-
balhista vem regrada nos arts. 876 a 892 da CLT, sendo certo
que na omissão de regras, contará com as normas da LEF, vez
que ambas as disciplinas tutelam créditos privilegiados com re-
lação aos demais.1
Só subsidiariamente será aplicado o CPC.
Como a civil, a execução trabalhista também se escora
em títulos judiciais e extrajudiciais.
Todavia, o rol destes últimos é bem mais restrito, pautando-
se nos termos de ajustamento de conduta, de conciliação obtidos
nas Comissões Prévias e, por força da Emenda no 45, as certidões
da dívida ativa da União, decorrentes das autuações promovidas
pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
Discute-se o cabimento de outros títulos, não arrolados
na CLT, como passíveis de execução na especializada.
Posicionam-se nesse sentido Wagner Giglio e Antonio
Umberto de Souza Jr. Este último, aliás, sistematizou um ex-
tenso rol de títulos exeqüíveis na Justiça do Trabalho, in verbis:
(...) a) títulos executivos judiciais:
– decisões condenatórias;
– decisões mandamentais;

1
Martins Filho, Manual esquemático de Direito e Processo do Trabalho, p. 246.
ELSEVIER Capítulo 3 • A Execução Trabalhista

– sentenças homologatórias de acordo;


– sentenças condenatórias de efeitos civis que resvalem
em direitos trabalhistas;2
– sentenças arbitrais trabalhistas;
b) títulos executivos extrajudiciais:
– termos de ajustamento de conduta firmados perante
o MP; e
– temos de acordo firmados perante a comissão de con-
ciliação prévia;
b2) títulos extrajudiciais atípicos ou comuns:
– termos de ajustamento de conduta firmados perante
os demais orgãos públicos;
– títulos executivos extrajudiciais comuns, representa-
tivos de dívidas provenientes de relações de trabalho,
inclusive de emprego;
– títulos executivos extrajudiciais comuns, representa-
tivos de relações sindicais;
– títulos representativos extrajudiciais comuns, represen-
tativos de dívidas oriundas do exercício do direito de greve;
– certidões de dívida ativa referentes à multa adminis-
trativa por infração à legislação trabalhista. 3
Discute-se, ademais, se os títulos judiciais poderiam re-
sultar de ações monitórias.
Renato Saraiva e Mauro Schiavi admitem que os docu-
mentos escorados em relações de trabalho instruam ações
monitórias para a formação de título judicial.4

2
Jorge Pinheiro Castelo(2007/p. 8), no mesmo sentido, arrola sentenças penais
originadas de crime relacionado à Justiça comum, por força da Emenda no 45.
3
Op. cit., p. 129.
4
Saraiva, Curso de Direito Processual do Trabalho, p. 552; Schiavi, “Novas Reflexões
sobre a ação monitória no processo do trabalho”, p. 919.

35
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

Ressalta este último que as monitórias seriam excelentes


instrumentos especialmente para as lides decorrentes de relação
de trabalho lato sensu e inseridas por força da Emenda no 45.
Não temos dúvida quanto a tal possibilidade. A CLT é ex-
pressa sobre o cabimento da execução em sede de sentenças.
Como no Direito Comparado, que não conta com um rol exten-
so de títulos extrajudiciais, absolutamente compatível àqueles sis-
temas a adoção de um procedimento de tipo monitório, idôneo, a
criação de uma decisão judicial exeqüível.
Seja uma sentença (inclusive resultante de ação monitória
por força de documentos não arrolados em lei como executivos,
mas provenientes da relação de emprego) ou um título
extrajudicial nas estritas hipóteses previstas no art. 876, certo é
que a CLT, em regra,5 não prevê procedimentos diferenciados.
Assim, contará sempre com um processo autônomo. O
devedor não é intimado para pagamento, mas citado para pagar
ou nomear bens à penhora em 48 horas (art. 880 da CLT).
Diferentemente, os títulos não arrolados na CLT como
executivos (como as decisões interlocutórias decorrentes de
antecipação de tutela e as sentenças substitutivas da declaração
da vontade) ou não decorrentes de relação de emprego, deverão
se sujeitar a procedimentos diferentes, como teremos oportuni-
dade de examinar.
Vale lembrar que a deflagração da execução de sentença
poderá ser de ofício por expressa disposição legal.
Uma vez garantido o juízo, com a indicação e nomeação
do depositário, que a rigor é o próprio devedor, passa a ser con-
tado o prazo de cinco dias para os embargos à execução.
Tais embargos, a propósito, terão efeito suspensivo ex lege,
paralisando a execução a partir de sua oposição.

5
Com exceção da ação de cumprimento relativa à execução de sentença normativa.

36
ELSEVIER Capítulo 3 • A Execução Trabalhista

Carlos Henrique da Silva Zangrando6 discorda desta tese.


Para o autor, a CLT jamais foi clara acerca dos efeitos dos em-
bargos. A LEF, por igual, não colmatou a omissão. Logo, con-
clui que poderia ser aplicado o art. 739-A do CPC.7
Uma vez julgado e interposto o agravo de petição, reto-
ma-se o procedimento, passando-se à arrematação, que prefere
a adjudicação,8 nos moldes tradicionais, através de editais. TRT
3a R-4 a T-AP 2927/2000.079.03.00-4-Rel. Caio Luiz de
Almeida V. de Mello-DJ 27/01/2007-p.15. Adjudicação. Mo-
mento oportuno. O pressuposto para o exercício do direito à
adjudicação é a inocorrência de lances na praça realizada. Em-
bora os §§ 1o e 4o do art. 888 da CLT estabeleçam que o
exeqüente terá preferência à adjudicação, não dispõem sobre o
prazo desse direito quando não houverem licitantes, prazo este
também não previsto na Lei no 6830/1980 (art.24), tampouco
no art. 714 do CPC. Tem-se assim, que o exeqüente poderá
requerer a adjudicação após o leilão, sem prazo pré-determina-
do, quando não houver licitantes, conquanto não assinado o
auto de arrematação.

6
Zangrando, “A reforma do processo de execução e suas repercussões no processo do
trabalho”, p. 8.
7
Art.739-A: Os embargos do executado não terão efeito suspensivo.
8
Questão essa nada pacífica. Cf. Pedro Paulo Manus, Execução, p. 219. Para o autor,
como vasta doutrina, a adjudicação tem preferência no processo do trabalho.

37
CAPÍTULO 4

DA LIQUIDAÇÃO

Seja no plano civil seja no trabalhista, toda e qualquer


execução será aparelhada com base em um título líquido, certo
e exigível, sob pena de nulidade por carência de ação.
Para tanto, vale-se o exeqüente dos seguintes expedientes:
• a liquidação, como mera fase do processo, ou a juntada de me-
mória de cálculo, como incidente da execução (modelo civilista);
• a liquidação, como processo incidente dentro do processo de
execução (modelo trabalhista).
No art. 879 da CLT há previsão de três espécies de liqui-
dação: por cálculo, arbitramento e artigos.1
Deflagrada independentemente de requerimento da parte (en-
vio dos autos do processo findo ao serviço de cálculos ou ao perito),
encerrará uma decisão que não se sujeita a recurso,2 vez que objetada
por impugnação, como faculta o art. 879, § 2o ou mediante embar-
gos do executado, nos termos do art. 884, § 3o da CLT.
Já a liquidação no processo civil, nos moldes do art. 475-
A, será iniciada mediante pedido do autor, com intimação do
advogado do réu, sendo certo que será exclusivamente por arti-
gos ou arbitramento.
Quando se tratar de meros cálculos, não há liquidação,
competindo à parte juntar a sua memória no seio da execução,
o que apenas renderá a oposição de embargos do devedor.
1
Cf. Guilherme Guimarães Feliciano, em importante texto sobre a execução das
contribuições sociais. Defende os cálculos, se indiscutíveis as taxas, os índices e
fatores, cabendo a requisição (art. 604, § 1o, CPC), no caso da falta de informações
técnicas. RTRT 15a P, no 19, jun. 2002, p. 52.
2
Embora absolutamente compatíveis, no cível a decisão proferida se sujeita a agravo de
instrumento, que não oposto fará a decisão imutável na execução! Art. 475-H do CPC.
ELSEVIER Capítulo 4 • Da Liquidação

Nessa senda defendemos, de lege ferenda, com base no


sistema trabalhista, art. 879, § 2o (e por que não?), o manejo de
impugnação antes da penhora no juízo cível, ou, não enten-
dendo assim o magistrado que a receba, ao menos como exce-
ção de pré-executividade por fungibilidade.
A liquidação por artigos é mecanismo de quantificação
ou de individuação do objeto, sempre que a sentença for gené-
rica e houver a necessidade de provar fatos novos.
Para tanto, desloca-se o procedimento anterior da fase de
conhecimento/processo (ordinário, sumário ou sumaríssimo),
para a fase/processo de liquidação, nada obstante seja iniciada
por mera intimação do advogado/de ofício, conforme se trate
do modelo civilista ou trabalhista.
Tal fato não desnatura a sua natureza de ação incidental,
mesmo no processo civil, contando com a possibilidade de pe-
tição inicial, contestação e audiência.
Necessitando apenas da intervenção de um perito, será caso
de liquidação por arbitramento. Nessa hipótese, desloca-se o pro-
cedimento pericial do conhecimento, para uma fase posterior à
sentença, vez que impossível a sua realização naquele momento.
Julgadas no processo civil, em ambas as situações, através
de decisão sujeita a agravo, não mais se permite a rediscussão
em sede de impugnação no cumprimento de sentença ou em-
bargos, pois atingida pela preclusão.
No mais, de aplicar-se as regras do CPC (com os procedi-
mentos da CLT quanto aos artigos, como já mencionado), consig-
nando, apenas, que os processos de cunho sumário, como os
trabalhistas, não se compatibilizam ou não deveriam se compatibilizar
com sentenças ilíquidas, a ampliar ainda mais o procedimento.
Apenas para ilustrar, o procedimento sumaríssimo no JEC
cível não permite sentenças ilíquidas; o art. 475-A do CPC, igual-
mente, coíbe as sentenças ilíquidas em se tratando de ações su-
márias de reparação de danos, ainda que ilíquido o pedido, tudo
com a clara intenção de agilizar o andamento do processo.

39
CAPÍTULO 5

AS LIDES TRABALHISTAS E AS
NÃO-TRABALHISTAS E SEU
IMPACTO NO PROCEDIMENTO:
EMENDA NO 45 E AMPLIAÇÃO DA
COMPETÊNCIA NA JUSTIÇA
OBREIRA

Edilton Meireles1 leciona que o procedimento estabele-


cido pela CLT tem suas raízes no principio da proteção, base
do Direito do Trabalho.
Isso porque, escorado em relações desiguais entre empre-
gador e empregado, o Direito do Trabalho necessitava de um
processo e de um procedimento com outros contornos, incom-
patível com o do Direito Civil, calcado na igualdade e na dispo-
nibilidade de interesses.
Não apenas essas relações, mas outras expressamente pre-
vistas e, por suposto, vulneráveis. Assim, a pequena empreitada
e o trabalho avulso – arts. 643 e 743 da CLT.
Contudo, a nova Justiça do Trabalho, regulada pela
Emenda no 45 da CF, passou a instrumentalizar outros vín-
culos jurídicos e não apenas os trabalhistas. Quer dizer, pas-
sou a ser uma justiça Comum – Especial. 2 Comum porque
competente para os mais diversos tipos de ações; espe-

1
Competência e procedimento na Justiça do Trabalho, p. 94.
2
Idem, p. 96.
ELSEVIER Capítulo 5 • As lides trabalhistas e as não-trabalhistas...

cializada porque competente para as causas expressamente


previstas em lei. 3
Por tudo isso, critica-se que se imprima um único rito,
apenas porque o juiz do trabalho é o competente.
Ora, o procedimento não se estabelece em razão da com-
petência do juiz, mas pela relação material que veicula. Se não
fosse assim, acresce, quando o juízo estivesse em exercício de
competência delegada, como os cíveis nas comarcas que não
sejam sede de justiça obreira, deveria ser utilizado o rito do CPC!4
Não apenas essas. Embora sujeitas a Justiça obreira, as
demandas entre sindicatos e os que envolvem questões admi-
nistrativas, em todas elas, indiscutível a aplicação do CPC.
Se assim é, justifica-se o procedimento diferente, com regras
protetivas, quando calcada a prestação de serviços na subordinação.
Em contrapartida, se prestada de modo autônomo a várias pessoas
sem vínculo de emprego, será o Código Civil Brasileiro a sua base
jurídica, o que significa paridade de armas no plano processual. Por
fim, se o serviço é lançado no mercado de consumo, a parte
hipossuficiente não é o fornecedor, mas o consumidor, o tomador do
serviço, invertendo-se, inclusive, o ônus da prova (art. 6o do CDC).5

3
Cf. no entanto, Mauricio Godinho Delgado citado por Carlos Henrique Zangrando:
“(...) Se usarmos o método liberal de interpretação, a conclusão será que todas as
relações que envolvam dispêndio de alguma energia considerada economicamente
útil para qualquer ser humano é uma relação de trabalho... se todas as relações que
existem na sociedade capitalista forem levadas à competência da Justiça Trabalhista,
ela se tornará uma Justiça Geral e a Justiça Estadual ficará especializada em relações
sociais que não tenham trabalho envolvido”. “As diferenças entre relação de consumo
e relação de trabalho...”, RDT, ano 12, no 10, p. 13.
4
Idem, Ibidem.
5
Cf. a propósito, Claudia Coutinho Stephan. “A Competência Material da Justiça
do Trabalho e a Relação de Consumo”, RDT, ano 11, no 10, p. 15. Também,
Zangrando, RDT, ano 12, no 10, p. 14, diferenciando relações de emprego da de
consumo. Entre outros aspetos, nomeando a primeira como fator econômico, en-
quanto a segunda é fator de produção.

41
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

Nada obstante, vale carrear os julgados dos TRT 2a R e


do TST em sentido oposto:
COMPETENCIA – AÇÃO DE COBRANÇA
DE HONORÁRIOS PROFISSIONAIS – COM-
PETÊNCIA – A nova competência da justiça do
trabalho prevista no art. 114 da CF, com a redação da
Emenda n o 45/2004, passou a abranger, de forma
genérica, todas as relações de trabalho, fazendo-se ne-
cessário distingui-las da relação de consumo, a fim
de definir o alcance da norma constitucional. A re-
lação de trabalho tutela os direitos do trabalhador
(prestador de serviços) e tem por objeto uma presta-
ção; enquanto que a relação de consumo volta-se à
proteção do consumidor (tomador de serviço) e visa
ao produto ou ao serviço. A relação de consumo, por-
tanto, não está compreendida no âmbito da relação de
trabalho. Dessa forma, não há outra conclusão do
silogismo em comento, senão a de que a relação entre
cliente e advogado, como na hipótese dos autos, é de
consumo e, portanto, refoge da competência desta Jus-
tiça Especializada. (02871200504302008-
Ac.200070285238-11aT-Rel. Juíza Maria Aparecida
Duenhas – DOESP 08/05/2007)6
CONTRATO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍ-
CIOS – COBRANÇA –INCOMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA DO TRABALHO – A competência da
Justiça do Trabalho, embora tenha sido ampliada com o
advento da Emenda Constitucional no 45, que deu nova
redação ao art. 114 da Carta Magna, não abrange a hi-
pótese sub judice, em que se discute a cobrança de hono-
rários advocatícios em virtude da celebração de contrato
de prestação de serviços entre profissional liberal e seu

6
No mesmo sentido: TRT 15a – Proc.0237-2006-129-15-00-2 ROPS – Ac.18083/
07-3a C – Rel. Juíza Luciane Storel da Silva – DOESP 27/04/2007.

42
ELSEVIER Capítulo 5 • As lides trabalhistas e as não-trabalhistas...

cliente, daí exsurgindo a natureza eminentemente civil


da questão, pois a relação jurídica existente entre as par-
tes não pode ser considerada como de índole trabalhista.
Sendo assim, como a ação não envolve controvérsia oriunda
ou decorrente da relação de trabalho existente entre os liti-
gantes, não se inserindo no permissivo do art. 114 da Lei
maior, sobressai a incompetência da Justiça do trabalho para
apreciar a ação de cobrança de honorários advocatícios, plei-
teada na forma do art. 24 §§ 1o e 2o, da Lei no 8.906/1994,
em face da natureza civil do contrato de honorários. Nesse
mesmo sentido são os precedentes do STJ que, ao dirimir
conflitos de competência onde se discute a matéria em co-
mento, tem afastado a competência desta Justiça Especi-
alizada. IV. Recurso conhecido e desprovido. (TST RR 762/
2005-023-04-00, Ac. Quarta Turma, 08/08/2007, Rel.
Min. Barros Levenhagen)
Nesse sentido, Antonio Umberto de Souza Junior,7 para
quem as novas regras do CPC podem ser aplicadas nas execu-
ções de créditos não-trabalhistas, inclusive nas execuções fis-
cais de multas administrativas decorrentes do descumprimento
das regras trabalhistas e cuja LEF faz expressa alusão ao siste-
ma civilista no caso de lacuna.
Wolney de Macedo Cordeiro, em uma tese intermediária,
defende uma execução atípica, conforme se trate ou não de um
título típico trabalhista. Quer dizer, em sede de contribuições
previdenciárias, por exemplo, haveria como que um rompimento
do sistema, justificando-se, nesses casos, a aplicação de um pro-
cedimento híbrido,8 fundado em um terceiro gênero de título, e
admitindo uma cognição muitíssimo mais ampla nos embargos
à execução do que a estabelecida pela CLT (art. 884,§ 1o).
7
Souza Júnior, “Um olhar invejoso de uma velha senhora: a execução trabalhista no
ambiente da Lei no 11.832/2006”, p. 108.
8
Cordeiro, “A execução provisória trabalhista e as novas perspectivas diante da Lei
no 11.232, de 22/12/2005”, p. 448.

43
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

Em outras palavras, defende o autor que, conquanto man-


tenha-se um único sistema para toda e qualquer demanda pro-
posta na especializada, a subsidiariedade do processo civil e da
LEF deve se fazer mais proeminente nas causas não decorren-
tes da relação de emprego.
Lílian de Souza Ramos concorda com a tese em sede de
contribuições previdenciárias, asseverando que continua se tra-
tando de execução fiscal, sendo que o diploma legislativo não é
o do CPC, mas da própria LEF.9
De toda sorte, ninguém duvida que a amplitude de dis-
cussão emprestada aos embargos na Justiça do Trabalho resta
incompatível com as questões de alta indagação pertinentes às
contribuições previdenciárias.
Assim, nos permitimos cotejar os dispositivos para uma
melhor visualização:
Art. 884 da CLT. Garantida a execução ou penhorados os
bens, terá o executado 5 (cinco) dias para apresentar em-
bargos, cabendo igual prazo ao exeqüente para impugnação.
§ 1o. A matéria de defesa será restrita às alegações de cum-
primento da decisão ou do acordo, quitação ou prescrição da
dívida.
Art. 16 da LEF. O executado oferecerá embargos no prazo
de 30 (trinta) dias contados:
...
§ 2o No prazo dos embargos, o executado deverá alegar toda
a matéria útil à defesa, requerer provas e juntar aos autos
documentos e rol de testemunhas, até três, ou, a critério do
juiz, até o dobro desse limite.
Wagner Giglio vai além.10 Para o autor, a existência de
lides não-trabalhistas amplia o espectro dos títulos extrajudiciais,
9
Ramos, “Contribuições Previdenciárias nas Ações Trabalhistas, EC no 20/1998”,
p. 140-152.
10
Giglio e Correia, Direito Processual do Trabalho, p. 522.

44
ELSEVIER Capítulo 5 • As lides trabalhistas e as não-trabalhistas...

de modo que, nesse caso, deverão ser observados os termos do


art. 585 do CPC no processo do trabalho.
Temos pois, que o procedimento sincrético civilista deve-
ria ser observado em todas as lides não-trabalhistas objeto de
competência da Justiça do Trabalho,11 que, a propósito, enten-
demos como ampla. Na mesma linha, a execução de títulos
extrajudiciais nos mesmos moldes, inclusive por força da
subsidiariedade imediata prevista na LEF.
Não apenas isso. O próprio termo de ajustamento de con-
duta, em que pese relativo a direitos trabalhistas, por não resul-
tar de um processo de conhecimento, assim como pelo fato de
consignar inúmeras prestações diferentes (de pagar, de fazer),
não se compatibiliza com a execução trabalhista.
Muito melhor, até pela cumulação que acaba lhe sendo
imanente, aplicar-se inteiramente o rito civilista.12
De aplicar-se, inclusive, no que toca à execução das multas
vencidas (astreintes) e que se constituem em crédito a favor da
Fazenda Pública a ser buscado via execução por quantia certa.
O CPC sempre contemplou procedimentos diferentes
para situações diferentes. A própria CLT criou um sistema co-
letivo diferenciado. Por que não admitir, pois, procedimentos
diferentes para situações outras não pautadas na desigualdade?
Carlos Alberto Álvaro, pontua:
(...) Feição relevante adquire ainda a adequação
teleológica, a interferir tanto na adaptação do procedi-
mento às diversas funções da jurisdição quanto nos ri-
tos internos a cada um dos processos. Aliás, a existência
de regras processuais para determinados procedimen-

11
Estevão Mallet adverte que apenas serão excluídos da competência da JT os
serviços prestados por pessoas jurídicas sem fraude. “Apontamentos sobre a compe-
tência da Justiça do Trabalho após a Emenda no 45/2004”, p. 34.
12
Araruna. “A Execução do Termo de Ajuste de Conduta: Pontos Polêmicos”, p. 22.

45
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

tos, em função da relação jurídica substancial (grifos nos-


sos) submetida à apreciação do órgão jurisdicional, re-
leva exatamente a necessidade de adequação do processo
ao Direito Material.13
O CDC não justifica o tratamento diferenciado ao con-
sumidor, inclusive mudando as regras do ônus da prova pela
hipossuficiência? As demandas consumeristas, então, admiti-
das como da competência da JT, deverão inverter o ônus em
favor do prestador do serviço?
Como justificar uma afirmação como essa – da maior pro-
teção sempre ao prestador do serviço, ainda que não seja a parte
hipossuficiente –, forte no argumento que a alteração do art.
114 da CF veio, na verdade, para mitigar o princípio da valori-
zação do trabalho e da dignidade humana?14
Claro que, nesse caso, o ideal seria a criação de varas
especializadas, de modo a viabilizar uma melhor prestação
jurisdicional.
No entanto, as IN nos 27/2005 do TST e 01/2005 das 2a e
15a Regiões, regraram a questão de modo contrário. Como as-
severado por Mallet, os tribunais se posicionaram no sentido
de manter o mesmo procedimento celetista para qualquer feito
deslocado para a competência da especializada.15
A exceção fica por conta da verba honorária, reconheci-
damente devida, de acordo com os pretórios, nas demandas que
não veiculam direitos trabalhistas.
Sobre tais honorários, aliás, não podemos deixar de con-
signar, ao ensejo deste tópico, o seu cabimento a despeito de se
tratar de uma mera fase de cumprimento. Vale dizer, uma vez

13
Álvaro de Oliveira, Do formalismo no processo civil, p. 119.
14
V. por tudo isso, inclusive com os fortes argumentos de Jorge Luiz Souto Maior e
Mauricio Godinho Delgado. In “A essência da Justiça do Trabalho”.
15
Mallet, op. cit. p. 42.

46
ELSEVIER Capítulo 5 • As lides trabalhistas e as não-trabalhistas...

aplicado o modelo civilista, os honorários serão devidos, po-


dendo ser sobejados à medida que haja ou não a impugnação
da sentença. O art. 20 do CPC em momento algum mencio-
nou a incidência de honorários por se tratar de processo de exe-
cução, mas apenas aludiu à execução!16
Quanto aos títulos extrajudiciais, aplicável na íntegra o
texto do art. 652-A, parágrafo único, do CPC:
Ao despachar a inicial, o juiz fixará, de plano, os honorários
de advogado a serem pagos pelo executado (art. 20 § 4o).
Parágrafo único. No caso de integral pagamento no prazo
de 3 (três) dias, a verba honorária será reduzida pela me-
tade.

16
Shimura, “A execução da sentença na Reforma de 2005”, p. 546.

47
CAPÍTULO 6

P RINCÍPIO

Princípio é a base de tudo. De acordo com Marcelo Lima


Guerra, são mandados de otimização, compondo o gênero nor-
ma jurídica.1
Dizemos norma, pois igualmente de regras jurídicas é in-
tegrado o sistema.
A diferença está em que, enquanto os segundos se exclu-
em, valendo a técnica do tudo ou nada, os primeiros poderão
ser aplicados em uma situação concreta ou outra, de acordo com
os valores em jogo, sem saírem do sistema.
Em outros termos, se uma regra jurídica conflita com
outra, será automaticamente varrida do sistema, vez que revogada
pela posterior. Já um princípio poderá não incidir naquela situ-
ação, mas valerá para uma próxima. Ademais, as regras se apli-
cam por subsunção, no sentido de que uma conduta será
obrigatória ou permitida, enquanto os princípios incidirão por
ponderação.2
A sua principal função, pois, é auxiliar a interpretação e a
aplicação das normas processuais, sobretudo completando o
ordenamento na falta ou no excesso legislativo, engessado
muitas vezes pelo legislador.
Assim, confrontando princípios, regras e sistema, temos:
• sistema – seria a unidade, conjunto composto de elemen-
tos combinados: fato, valor e norma;

1
Guerra, Direitos Fundamentais e a proteção do credor na execução civil, p. 85.
2
Idem, ibidem.
ELSEVIER Capítulo 6 • Princípio

• norma – subdividida em:


– princípios: comandos genéricos – abstratos e com alta
carga ideológica;
– regras: comandos concretos.
Não há um rol predeterminado, variando a doutrina, sen-
do certo que resulta de opção do legislador em um determinado
contexto de tempo, de lugar e de valor.

1. Princípios infraconstitucionais do processo


Sobre os princípios genéricos infraconstitucionais do pro-
cesso, trazemos a seguinte classificação:4
3

• Princípios fundamentais e informativos


Informativos: Seriam os princípios lógico, jurídico, políti-
co e econômico. Tais princípios coincidem com os constitucio-
nais, funcionando como verdadeiros vetores e com alta carga
ideológica.
Fundamentais: Seriam os dispositivo da instrumentalidade
das formas, preclusão e bilateralidade da audiência. Dão ordem,
sentido e unidade às normas processuais civis.
Com relação aos primeiros, temos que pelo princípio ló-
gico o processo tem um fim, que é o proferimento de uma sen-
tença de mérito. Logo, para atingi-la, deve-se usar os meios
mais eficazes e rápidos para descobrir a verdade e evitar o erro.
Já o princípio jurídico sedimenta que o processo deve se
submeter a um ordenamento preexistente. Vale dizer, há que ser
observada a igualdade no procedimento e a justiça na decisão.

3
Queremos dizer com isso que se referem a todo o processo (na acepção proposta,
como único meio, sem classificações em conhecimento, execução e cautelar) e não a
um determinado segmento, ainda que, eventualmente, adquira uma maior intensi-
dade de discussão em determinados tipos de tutela.
4
De acordo com Luiz Rodrigues Wambier, Curso Avançado de Processo Civil, p. 68-
69

49
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

O princípio político consigna que, sendo o processo ins-


trumento de autoridade estatal, deve-se dar às partes o máximo
de garantia social e o mínimo sacrifício individual da liberdade.
O princípio econômico, por seu turno, avia a idéia de que
o processo deve se desenvolver com o mínimo de atividade e o
máximo de rendimento, sendo idealmente gratuito.
Com relação aos fundamentais ou relativos à prestação
jurisdicional,5 temos o do dispositivo, que tem como consectários
o da correlação e o da demanda. Assim:
• a iniciativa do processo é da parte; a jurisdição é provocada.
Excepcionalmente, o juiz agirá de ofício, como no reco-
nhecimento de matérias de ordem pública e da prescrição.
Nos feitos de jurisdição voluntária há combinação da inér-
cia com a oficiosidade, havendo hipóteses em que o juiz
iniciará a demanda. O cumprimento de sentença definiti-
va, igualmente, será de ofício, como aliás sempre foi a exe-
cução trabalhista.
• cautelar, poder geral de cautela e princípio dispositivo. Uma
das hipóteses mais conhecidas no sistema civilista é a iniciati-
va oficial do juiz no poder geral de cautela, desde que nos ca-
sos previstos em lei. Já a antecipação de tutela encontra
resistência nesta sede. Parte da doutrina6 pugna pela interpre-
tação sistemática entre as tutelas de urgência, possibilitando o
deferimento da providência satisfativa de ofício com base no
poder geral. Outra mitigação ocorre nos alimentos provisórios
que contam com tal possibilidade por expressa previsão legal.
Também as perdas e danos na ação popular, que poderão ser
deferidas ainda que não postuladas. Essa derrogação à inicia-
tiva das partes é chamada de princípio da ultrapetição.

5
Bueno, Direito Processual Civil, p. 477 e segs.
6
Carpena, Do processo cautelar moderno, p. 104/108.

50
ELSEVIER Capítulo 6 • Princípio

Portanto, forte neste princípio fundamental do processo


vigora a iniciativa das partes, decorrendo de lei as situações ex-
cepcionais.
Quanto à correlação, inerente à vedação da iniciativa ofici-
al, uma vez formulada a pretensão pela parte o juiz fica atrelado à
mesma, não podendo proferir sentença fora do pedido, sob pena
de nulidade (arts. 128 e 460 do CPC). As exceções seriam:
• Danos morais – trata-se de pedido genérico e estimado,
logo o juiz poderá sentenciar genericamente, remetendo as
partes à liquidação, ou fixar imediatamente valor superior
ou inferior;
• Pedidos implícitos – correção monetária, juros legais, pres-
tações vincendas e honorários advocatícios;
• Providências cautelares – podem ser substituídas por cau-
ção ou por outra medida correta (ampliação do conceito
de poder geral de cautela como deferimento da providên-
cia certa a despeito de formular outra incabível). Um des-
dobramento também possível, sem ofensa à correlação e
ao princípio dispositivo, seria o deferimento de uma pro-
vidência cautelar em lugar de uma antecipatória, por en-
tender o juiz ou relator mais adequado. Não se trata de
fungibilidade, mas de poder do magistrado para deferir a
medida que entenda melhor (e não a certa!) para o siste-
ma no caso concreto.
• Medidas executivas dos arts. 84 do CDC, 461 e 461-A do
CPC – como já demonstrado, o juiz poderá conceder de
ofício multa diária para cumprimento de obrigação de fa-
zer, bem como o deferimento de qualquer medida que re-
putar mais adequada, a despeito da formulada (resultado
prático equivalente no lugar da multa etc.).
• Possibilidade de deferimento de providência possessória
diferente da postulada pela mais adequada.

51
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

Ressalvamos que uma importante fase do processo foi


especialmente influenciada pelo princípio dispositivo, qual seja,
a instrutória. Inicialmente concebido como meio posto à dis-
posição das partes e não como instrumento publico de justiça,
vigorava a tese que apenas autor e réu poderiam requerer e pro-
duzir as provas dos fatos alegados.
No sistema atual, prevalece o princípio inquisitório ou
dispositivo em matéria de provas? Há um verdadeiro conflito
entre e verdade formal e material.
Para parte da doutrina, mais clássica,7 a iniciativa probatória é
apenas complementar, só se legitimando a atuação do juiz no caso
de perplexidade (muitas provas produzidas e dúvida quanto a quem
tem razão). Para outra, mais contemporânea, a iniciativa se impõe a
despeito da natureza do direito ou da posição das partes,8 até porque
o acesso à justiça significa o dever de se buscar a verdade.
No que toca ao princípio da preclusão, fica impedida a
prática ou a repetição de atos ou faculdades processuais em de-
terminadas circunstâncias. Trata-se de norma dirigida às partes
e aos julgadores.
Isso reflete, particularmente, no campo procedimental, con-
tando o nosso sistema com um procedimento rígido: o juiz não
pode rever as suas decisões de ofício; não pode dilatar prazos pe-
remptórios; não pode alterá-los nem modificar a sua ordem.
Carlos Alberto Álvaro de Oliveira,9 em obra referencial
sobre o tema, discorre sobre o formalismo no processo:
(...) O formalismo processual contém, portanto, a pró-
pria idéia do processo como organização da desordem,
emprestando previsibilidade a todo o procedimento. Se

7
Cf. Santos, Prova judiciária e comercial no cível.
8
Bedaque, Poderes instrutórios do juiz.
9
Do Formalismo no processo civil, p. 7.

52
ELSEVIER Capítulo 6 • Princípio

o processo não obedecesse a uma ordem determinada,


cada ato devendo ser praticado a seu devido tempo e
lugar, fácil entender que o litígio desembocaria numa
disputa desordenada, sem limites ou garantias para as
partes, prevalecendo ou podendo prevalecer a arbitrari-
edade e parcialidade do órgão jurisdicial ou a chicana
do adversário.
Nada obstante, ressalva o autor, tal posição tem de ser
pensada em um contexto mais prospectivo. O procedimento é
formal para evitar a arbitrariedade do juiz, permitir o tempo ra-
zoável do processo e a justiça da decisão, mas não para impedir
que sejam alcançados os valores perseguidos pelo processo.10
Assim, apresenta como uma relativização à preclusão e às
bases do formalismo, o princípio da adaptalidade do procedi-
mento.11
Salientamos a importância deste princípio, no que se re-
fere ao nosso trabalho, especialmente em função da
subsidiariedade. Por ele, resta aberta ao magistrado a possibili-
dade de alterar o procedimento estabelecido pelo legislador,
desde que tal adaptação viabilize uma melhor prestação
jurisdicional à luz do Direito Material controvertido.
É dizer: tomadas em consideração as partes ou os inte-
resses envolvidos, ou mesmo a sua teleologia, admissível a adap-
tação ao melhor rito. A propósito, indica exatamente as relações
laborais como valores indisponíveis a serem considerados na
normatividade do processo.

10
Idem, p. 62.
11
Idem, p. 116.

53
CAPÍTULO 7

PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO: DO
MODELO CLÁSSICO – LIBERAL
PARA A REVISITAÇÃO

1. Princípios clássicos e próprios trabalhistas


A doutrina costuma elencar, entre os princípios clássicos
da execução, os seguintes:
• Da realidade;
• Da utilidade;
• Da nulidade da Execução sem título;
• Da execução menos gravosa ao devedor ou da não-onerosidade;
• Da disponibilidade.
Discute-se se o Direito do Trabalho possui princípios pro-
cessuais próprios. Para muitos, sendo instrumental de um Di-
reito Material escorado na proteção, igualmente protetor o
processo.1
Nessa senda, seriam peculiares ao Direito do Trabalho os
princípios:
a. da proteção: conferindo prerrogativas processuais ao traba-
lhador;
b. informalidade: em que pese documentado;
c. celeridade: pela natureza alimentar da pretensão;
d. simplicidade;
e. oralidade;
1
Schiavi, “Os Princípios Processuais do Direito Processual do Trabalho e a Apli-
cação Subsidiária do CPC quando há Regra Expressa da CLT em Sentido Contrá-
rio”, p. 187.
ELSEVIER Capítulo 7 • Princípios da Execução...

f. um poder mais acentuado do juiz trabalhista na direção do


processo;
g. procedimento mais ágil;
h. subsidiariedade; e
i. da presunção dos descontos previdenciários na reclamações
trabalhistas (art. 33, § 5o da Lei no 82.112/1991).
Devemos salientar que, a despeito da classificação usada, dú-
vida não há que os princípios têm de ser considerados à luz das ten-
dências e mitigações do processo constitucional, quais sejam: celeridade,
contraditório, efetividade, informalismo e ativismo judiciário.
Em outras palavras, embora tenhamos discorrido sobre
princípios infraconstitucionais, certo é que deverão ser matiza-
dos pelos constitucionais do processo, verdadeiros vetores do
ordenamento. Os valores constitucionais tomam à frente, no
modelo pós-contemporâneo, da concepção formal em torno da
norma jurídica.2
Por fim, não podemos deixar de concluir esse tópico sem
transcrever as lúcidas palavras de José Augusto Rodrigues Pin-
to no que se refere ao modelo ideal de unificação dos sistemas
civil e trabalhista:
(...) Unificação normativa, quando permitida pela
convergência de objetivos, jamais levará ao sacrifício
da autonomia de ramos que conservarão seus princí-
pios peculiares e doutrina própria, procurando apenas
harmonizar a aplicação prática através dos institutos
comuns à teoria processual e dos institutos funda-
mentais comuns a todos os ramos, conforme salienta
a própria citação feita. 3 Ela não irá além de
homogeneizar os sistemas em torno das metas vitais

2
Palavras muito bem colocadas por Gregório Assagra de Almeida, “Execução cole-
tiva em relação aos direitos difusos coletivos e individuais homogêneos”, p. 323.
3
A citação se refere à posição de Julio César Beber. In “A hora e a vez da unificação
dos processos civil e trabalhista”, p. 36.

55
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

para a sua eficácia, como a modernidade (de idéias e


de instrumentos), os princípios gerais inarredáveis,
como a celeridade e economia, a garantia da ampla
defesa, o contraditório e as técnicas que otimizam
seu aproveitamento, como a oralidade, a concentra-
ção e a instrumentalidade de atos. São aspectos em
que todos os sistemas processuais podem ser iguais e, por-
tanto, igualmente regrados (grifos do autor).4

1.1. Patrimonialidade
Um dos primeiros princípios articulados é, sem sombra
de dúvida, o da patrimonialidade ou da realidade.
Isso se deve, entre outros aspectos, ao fato de conceberem os
liberais que a única forma de responder à execução seria com o
patrimônio do devedor. É dizer: a vontade ou a pessoa do executa-
do jamais ficaria jungida à execução, mas unicamente seus bens.
Nessa medida, se apenas bens se sujeitam ao processo,
por igual os de terceiros poderão se submeter à constrição.
De acordo com o art. 592 do CPC, há responsabilidade
secundária de determinadas pessoas pela dívida de outrem: ou
seja, existe responsabilidade sem dívida, nos casos em que o de-
vedor não possui patrimônio, respondendo, de tal arte, terceiros
vinculados a ele, sempre com a possibilidade de regresso.5

1.2. Da utilidade
Também denominado de princípio do resultado,6 impede
que o exeqüente use medidas que em nada lhe acrescerão, cau-
sando inconvenientes desnecessários ao devedor.
4
Pinto, “A hora e a vez da unificação dos processos civil e trabalhista”, p. 36.
5
Sampaio, Reflexos da Reforma do CPC no Processo do Trabalho, p. 150. O autor,
comentando o princípio da patrimonialidade, indica outro, consistente na Isenção do
Patrimônio do Terceiro, salvo às hipóteses previstas em lei.
6
Licastro, Recurso Especial e Extraordinário, Repercussão Geral e atualidades, p. 41.

56
ELSEVIER Capítulo 7 • Princípios da Execução...

Tal norma se dirige a todos os participantes do contradi-


tório, de modo que o juiz também deverá observá-la.
O julgado da 4a Região reflete esta tese, mostrando que
para fins de oposição dos embargos, onde ainda deve ser seguro
o juízo, nada impede que o executado não a complete, especial-
mente por versar a matéria sobre a penhora e a sua avaliação:
AGRAVO DE PETIÇÃO INTERPOSTO PELA
EXECUTADA. CONHECIMENTO DOS EMBAR-
GOS À EXECUÇÃO POR SI OPOSTOS. Desneces-
sária a garantia integral do juízo quando o objeto da
discussão versa sobre os bens penhorados e sua avalia-
ção, devendo ser conhecida e apreciada a matéria pela
instância de origem quanto a tais tópicos. Recurso pro-
vido. (Ac. 01400-2003-221-04-00-9 AP, Quinta
Turma, Rel. Juíza Berenice Messias Corrêa)
Pensamos que a utilidade também deve ser tomada em
outra perspectiva. No sentido de que o ato praticado só deve ser
realmente efetuado se trouxer resultado para a execução. As-
sim, não há porque arrematar se possível adjudicar.
Essas as palavras de Paulo Manus,7 comentando as re-
gras da arrematação: “Do ponto de vista da execução, creio que
o fundamental é não praticar um ato que, formalmente, tem de
ser praticado, se não houver razão.”
Tão simples, tão adequado!

1.3. Da Nulidade da execução sem título


Para a segurança das relações jurídicas, além da existên-
cia de um título previsto em lei é preciso que este seja líquido,
certo e exigível.
Sobre a liquidez, já nos posicionamos em linhas transatas.
Importa, por ora, tratar da certeza e da exigibilidade.
7
In Frediani, Tendências do Direito Material e Processual do Trabalho, p. 224.

57
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

O título é certo quando perfeitamente definido com rela-


ção à obrigação e a seus titulares, ou seja, exeqüente e executado.8
Se assim é, o que dizer a respeito da desconsideração da
pessoa jurídica em sede executiva? Vale lembrar, que a execução
não se compatibiliza com a cognição exauriente, de modo que,
salvo a expressa opção do legislador em sentido oposto (como
sucede hoje na impugnação do processo civil), nesta fase ape-
nas se realizam atos materiais.9
Se assim é, não constando o sócio do título executivo,
não poderia passar a figurar como executado, condição essa a
ser examinada pela prova da fraude.
É preciso lembrar que uma coisa é a responsabilidade do
sócio por dívida da sociedade e outra é a condição de devedor do
próprio sócio.
Claro, e o sistema não deixa dúvidas, pelo texto do art. 592
do CPC, que há responsabilidade sem dívida, respondendo,
assim, determinadas pessoas vinculadas pelo legislador, tais como
o cônjuge, o fiador e o sócio.
Contudo, para ostentarem tal condição, deverão reunir
determinados elementos. Por exemplo, no caso do cônjuge é
preciso perquirir se beneficiou-se da dívida em prol da família,
inclusive por culpa in vigilando, vez que poderia prever ou im-
pedir a formação da dívida. O sócio, se integra a um tipo de
sociedade empresarial que admita a responsabilização no caso
da inexistência de patrimônio próprio.
Não havendo tal responsabilidade, não há que se indagar
sobre a fraude na constituição da sociedade, nos autos da execu-
ção, com o claro intuito de remanejá-lo à condição de parte.
8
Medina assevera que o conceito de certeza vai bem além da existência da dívida.
Exprime a natureza da obrigação, o bem devido e os sujeitos da relação jurídica (grifo
nosso). Execução Civil, p. 498.
9
Tanto assim é que houve por parte do Legislativo Projeto de Lei regrando a
desconsideração e exigindo contraditório.

58
ELSEVIER Capítulo 7 • Princípios da Execução...

Nesta hipótese, das duas uma: no ingresso da demanda


de conhecimento o próprio reclamante já cuida de introduzir
o sócio como litisconsorte eventual; ou, em se tratando de
título extrajudicial, promove-se a competente ação monitória
para o estabelecimento do contraditório acerca da fraude.
Não é de hoje que, a doutrina sustenta a admissibilidade
de um litisconsórcio assim formado. Ora, se os pedidos podem
ser subsidiários, alternativos ou eventuais, igualmente podem
os réus. O CCB é expresso sobre tal possibilidade, elencando,
entre outras hipóteses, os arts. 50, 928 e 1698.10
Assim é que, havendo dúvidas sobre a idoneidade
patrimonial da empresa, particularmente pela má gestão, o que
se evidencia muitas vezes pela dificuldade na citação, deverá o
autor cuidar de emendar a inicial, colocando no pólo passivo os
sócios, na condição de litisconsortes eventuais.
Deste modo, o contraditório fica acomodado em momen-
to próprio, qual seja, o conhecimento.
Finalizando, embora por outros fundamentos, os termos
do julgado que segue:
AGRAVO DE PETIÇÃO DOS EXEQÜENTES.
COISA JULGADA. LIMITES DA EXECUÇÃO.
Hipótese em que os exeqüentes pretendem discutir na
fase da liquidação, na qual a prestação jurisdicional cin-
ge-se à observância dos exatos termos da decisão transi-
tada em julgado, circunstâncias que sequer foram
alegadas durante toda a instrução processual. Provimento
negado (Ac.0037-2000-026-04-00-6 AP, Segunda
Turma, TRT 4a Região, Rel. Maria Beatriz Condessa
Ferreira).

10
Cf. Bueno, Partes e Terceiros no Processo Civil, p. 98.

59
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

1.4. Da execução menos gravosa ao devedor ou da


menor onerosidade
Daniel Amorim A. Neves11 destaca que a execução não é
instrumento de vingança privada, não devendo ir além do ne-
cessário à satisfação do exeqüente.
Tal disposição encontra-se positivada no art. 620 do CPC.
Rogério Licastro,12 nomeando tal princípio como da
economicidade, aponta o disposto no art. 745-A do CPC, que viabiliza
o parcelamento do débito, com as devidas atualizações e sob pena de
multa, caso descumprido. Ressalta que se trata de direito do executa-
do, não podendo o exeqüente se opor a tal direito, que ademais se
justifica quando não dispõe o devedor do valor integral.
Zangrando,13 nesse ponto, defende a aplicação na ínte-
gra da regra no processo do trabalho, especialmente por força
do art. 764 da CLT:
Os dissídios individuais ou coletivos submetidos à apreciação
da Justiça do Trabalho serão sempre sujeitos à conciliação.
§ 3o. É licito às partes celebrar acordo que ponha termo ao
processo, ainda mesmo depois de encerrado o juízo conciliatório.
Em compensação, rechaça a incidência do art. 656, § 2o,
do CPC, que se refere ao direito do devedor em substituir a
penhora por fiança bancária, acrescida de 30%.14 Para o autor,
contando a LEF com preferência na aplicação subsidiária no
caso de omissão da CLT, a fiança poderá ser prestada sem o
adicional, já que a primeira não o estipulou.
Assim, o art. 15, I, da Lei no 6.830/1980: “Em qualquer fase
do processo, será deferida pelo juiz: I – ao executado, a substituição
da penhora por depósito em dinheiro ou fiança bancária; e,...”
11
Neves, “Princípios do processo de execução”, p. 47.
12
Licastro, “Princípios do processo executivo”, p. 42.
13
Zangrando, “A reforma do processo de execução e suas repercussões no processo
trabalhista”, p. 9-10.
14
Op. cit. p. 4.

60
ELSEVIER Capítulo 7 • Princípios da Execução...

Estevão Mallet15 exclui a subsidiariedade do parcelamento,


mas sob outros argumentos não exatamente favoráveis ao de-
vedor. Aduz que a lei não tem respaldo para tal benesse. Se o
credor concordar, então caberá o parcelamento, como aliás são
ínsitas ao Direito do Trabalho as tentativas conciliatórias a todo
momento. Amador Paes de Almeida, sem ingressar na discus-
são, apenas destaca que as parcelas previdenciárias haverão de
ser negociadas com a Receita, diretamente! Este é o teor do
art. 889-A, acrescido dos §§1o e 2o pela Lei no 11.457/2007.16
Não vemos dessa forma. A CLT não possui uma regra
explícita inibindo tal procedimento, que é mais favorável ao
executado, sem vulnerar o crédito do exeqüente.
Registramos, por derradeiro, o tratamento diferenciado em
favor do executado, quando não se tratar de crédito de natureza
salarial.17
Penhora online – Inadmissibilidade – Crédito que não
é de natureza salarial, nem será revertido em proveito
imediato de qualquer trabalhador – Execução que pode
ser realizada por outros meios – Impossibilidade do
agravamento da situação do devedor – Inteligência do
art. 620 do CPC-MS 00611.2006.000.03-1a Seção
Especializada de Dissídios Individuais – TRT 3a R –
maioria – Rel.Juiz João Bosco Pinto Lara.

15
Mallet, op. cit. p. 76.
16
Em contrapartida, sendo salarial e portanto de natureza alimentar, a jurisprudência
se inclina em sentido oposto: “Execução – Art. 620 do CPC – Aplicação na JT. O
art. 620, do CPC, não pode ser interpretado de forma isolada, sem levar em conta o
estatuído no art. 612, caput, também do Estatuto Processual, fixando que a execução
deve ser promovida no interesse do credor, além disso, há de se mitigar a observância
do citado art. 620, CPC, nesta Especializada, diante da natureza alimentar dos
créditos normalmente perseguidos pelos obreiros. TRT 15a -AP-0-1086-Ac. Ter-
ceira Turma 25337/01 – Rel. Juiz Francisco Alberto da Motta Peixoto Giordani:
DJSP 25/06/2001, p. 30.
17
Almeida, Curso prático de processo do Trabalho, p.401.

61
CAPÍTULO 8

DA REVISITAÇÃO DOS
PRINCÍPIOS

Devemos explicar o que entendemos por revisitação. Tra-


ta-se de adaptação ou reavaliação dos princípios existentes, es-
pecialmente em consideração a novas realidades de tempo e
valores (aggionamento).
Não que muitos deles não estivessem expressos ou implí-
citos no sistema de há muito. Contudo, merecem uma nova
leitura, principalmente em confronto com as novas regras e o
novo modelo previsto no sistema.

1. Do sincretismo
Como sobejamente demonstrado, o modelo civilista de exe-
cução optou claramente por um modelo sincrético, onde são con-
centradas no mesmo processo os módulos cognitivos e executivos.
Assim é que o princípio da autonomia cede para o do sincretismo.
Resta saber se a sistemática trabalhista também se baseia
na mesma norma.
Manuel Antonio da Silva recorda que a execução traba-
lhista sempre se diferenciou das demais por permitir a execução
de ofício, in verbis:
Art. 878-CLT. A execução poderá ser promovida por qual-
quer interessado, ou ex officio pelo próprio juiz ou Presi-
dente ou Tribunal competente, nos termos do artigo anterior.
De tal arte, conclui, apesar da citação do devedor, a exe-
cução trabalhista sempre pôde correr a despeito da presença do
credor, o que significa que ao menos pragmaticamente “(...) foi
projetada para servir como simples fase (grifos nossos) subse-
ELSEVIER Capítulo 8 • Da Revisitação dos Princípios

qüente ao processo de conhecimento, destituída, por isso, de


autonomia ontológica (exceto quando calcada em título
extrajudicial, como previsto pelo art. 876 da CLT), embora não
se lhe possa negar a autonomia finalística. (...)”1
Daniel Amorim A. Neves,2 comentando o tradicional
princípio da autonomia da execução, colaciona o pensamento
de Leonardo Greco, que arrola entre as suas características: a
necessidade de nova citação na execução; e a necessidade de
iniciativa da parte e a oposição de Embargos.
Vários autores criticavam essa dicotomia no processo ci-
vil, no entanto, ela existia, é fato. Tanto assim era que se justifi-
cava a interposição dos embargos do devedor, vez que execução
é incompatível com cognição exauriente.
A execução trabalhista, é inegável, mantém tal estrutura.
Em que pese possa ser deflagrada de ofício, conserva a necessi-
dade de citação do executado, bem como de oposição de em-
bargos para a desconstituição do título.3
Não obstante, ressalvamos casos pontuais de sincretismo
nas relações trabalhistas: ações de obrigação de fazer, como a
de anotação em CTPS e reintegração de posse no emprego;
emissão de declaração de vontade e cumprimento de decisão
interlocutória proveniente de antecipação de tutela.

2. Da execução sem título permitida


Uma das primeiras matérias que estudávamos na discipli-
na da execução era exatamente o brocado da nulla executio sine
titulo. Expressa no art. 486 do CPC, sempre significou um dos
mais importantes pilares da execução forçada, no sentido de que

1
Teixeira Filho, Execução no processo trabalhista, p. 105.
2
Neves, “Princípios do processo de execução”, p. 36.
3
A circunstância do processo ser iniciado de ofício não impressiona para efeito do
sincretismo. O inventário também pode ser deflagrado pelo juiz; e é o processo
autônomo (art. 989 do CPC)!

63
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

o credor apenas teria interesse de agir na exata medida em que


sustentado em uma sentença ou em um título extrajudicial.
Ocorre que, mantendo-se como títulos judiciais as sen-
tenças (art. 475-N), ficaram de fora as decisões interlocutórias.
Com a introdução da antecipação dos efeitos da tutela
genérica, não resta dúvida acerca da possibilidade de efetivação
dessa decisão. É dizer: só há sentido na antecipação da tutela,
na medida em que possa ser executada e de modo efetivo.
Por tal razão, estamos com Medina,4 no sentido de que
coexistem os princípios da nulidade da execução sem título e a
execução sem título permitida, exatamente para escorar a reali-
zação física das decisões interlocutórias antecipadas, a despeito
da sua natureza ou da prestação que veicula, de dar, fazer, não
fazer ou entregar coisa.5
Esse ponto é sem dúvida um dos de maior interesse para
o processo do trabalho. Porque se de fato não há omissão em
tese para a execução de sentença (art. 876 da CLT), certamente
há para a efetivação de medidas antecipadas.
Vale lembrar que a antecipação dos efeitos de uma sen-
tença surgiram de forma genérica no processo civil a partir de
1994, como um meio de conferir àquele que aparentemente
tem razão, a realização imediata de seu direito.
Assim é que será deferida, de acordo com o caput do
art. 273, I, do CPC, nos casos em que o autor faça prova robus-
ta, embora sumária do alegado (verossimilhança), e demonstre
o perigo de dano.
Há mais. Ainda que não haja perigo, poderá ser adianta-
do o pedido ou algum de seus efeitos, no caso da parte atuar de
forma ímproba no processo. Sim, porquanto aliado à tutela de

4
Medina, Execução Civil, p. 94.
5
Já se discutiu muito sobre a possibilidade de antecipação de uma sentença declaratória
ou constitutiva. Como o efeito, ou alguns deles, é que será adiantado, não há motivos
para se inibir a antecipação de efeitos condenatórios.

64
ELSEVIER Capítulo 8 • Da Revisitação dos Princípios

urgência, há a antecipação punitiva, fundada não no perigo, mas


na atitude maliciosa do réu quanto a sua defesa.
O art. 273, II, regula essa possibilidade. Para Scarpinella
Bueno,6 a má-fé não pode ser pensada apenas como defesa
protelatória, mas como toda forma de atuação desleal do réu,
nos termos do art. 17 do CPC, e que permitirá a antecipação
dos efeitos da decisão final.
Logo, se o réu apenas apresenta uma contestação
procrastinatória, ou procura trazer obstáculos para a citação, se
ocultando, poderá a parte postular ao juiz que adiante a sua pre-
tensão, desde que escorada em prova robusta dos fatos.
Devemos asseverar que tal posição não é seguida por
Marinoni.7 Para o autor, uma das maiores autoridades no as-
sunto, apenas a defesa de mérito indireta, com a alusão de fatos
novos aparentemente destituídos de veracidade (como o paga-
mento), é que gerarão a antecipação. Justifica seu pensamento
na medida em que, se é o réu quem precisa provar o alegado, ele
é quem precisa do tempo do processo e não o autor. Seria como
uma técnica de reserva de cognição, dividindo ambas as partes os
ônus do tempo do processo.
O § 6o, por seu turno, regula a chamada tutela de evidên-
cia.8 É de direito evidente, e não de urgência nem punitiva, por-

6
Bueno, Tutela antecipada, p. 40.
7
Marinoni, tutela antecipatória, julgamento antecipado e execução imediata da senten-
ça, p. 165.
8
Não apenas nesses casos. A jurisprudência registra vários casos em que, apesar de
não haver perigo de dano, a antecipação é deferida. Isso se dá por estar o pedido
respaldado em enunciados firmes do Tribunal. De maneira que não seria apenas de
evidência as hipóteses em que incontroverso o pedido, mas os respaldados em Direito
reconhecido por outros julgados (jurisprudência firme).
A recíproca também é verdade. É possível a antecipação dos efeitos da sentença,
embora o fato não se respalde em um fato verossímil, contudo, o perigo é tão signifi-
cativo, que a tutela é deferida unicamente por tal motivo (tutela apenas de urgência).

65
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

que se pauta na atitude do demandado, que reconhece juridica-


mente parte do pedido ou não controverte um deles.
Destarte, o legislador permitiu ao autor a execução de
parcela da demanda, fracionando o procedimento e seguindo
apenas quanto às demais pretensões controversas objeto de ins-
trução.

3. Da atipicidade de meios
Corolário do anterior, surge o princípio da atipicidade.
Isso porque, a rigor, temos um sistema em que as técnicas
executivas se encontram nominadas para cada procedimento.
Assim é que, para os alimentos constantes de sentença, e apenas
para eles, poderá a parte requerer o desconto em folha, a expro-
priação de rendas e bens e até a prisão civil. Para as sentenças
condenatórias de quantia certa, ultrapassada a fase de cumpri-
mento, a execução será necessariamente sub-rogatória, ou seja,
através da penhora de bens, para ulterior expropriação.
Com o ingresso dos arts. 461 e 461-A no CPC foi dado o
primeiro passo para a mudança. Inseriu-se no sistema a possibili-
dade do magistrado se valer, na efetivação ou no cumprimento das
decisões antecipatórias e sentenças de obrigação de fazer, não fa-
zer e entregar coisa, de medidas não previstas (atípicas, inominadas),
apenas limitando-se os poderes do juiz ao razoável.
Assim é que surgiram as multas coercitivas,9 entre as vá-
rias medidas executivas, como uma nova técnica de realização
do Direito.

9
Art. 461...
§ 5o. Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático equivalente,
poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas necessárias, tais como
a imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas,
desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva, se necessário com requisição de
força policial.

66
ELSEVIER Capítulo 8 • Da Revisitação dos Princípios

Conhecidas por astreinte, instituto do Direito francês, as


multas têm por escopo constranger a parte a cumprir sua obri-
gação. Para alguns, trata-se de execução indireta, pois não há
transformação do bem constritado, mas a contribuição do pró-
prio executado.
Conquanto nos pareça clara a sua natureza cominatória,
fato é que para parte da doutrina, a multa se reveste de cunho
punitivo, vale dizer, incide em razão do descumprimento da or-
dem judicial.
A tomada de posição acerca de sua natureza jurídica tem
importantes reflexos em uma série de institutos processuais.
Entre eles o da acumulação com outras sanções previstas no
sistema, bem como da responsabilidade pelas perdas e danos
no caso de sua efetivação provisória.
Assim vejamos. No Direito Comparado, especialmente o
anglo-saxão, são corriqueiras as medidas conferidas ao Judiciá-
rio para o acatamento de suas decisões. Naquele modelo, os
provimentos jurisdicionais são levados a sério, configurando a
Contempt of Court o seu descumprimento. Trata-se de desacato,
ato atentatório à dignidade da jurisdição.
No nosso sistema, temos vários dispositivos a contem-
plar o ato atentatório, entre os quais os arts. 14 e 600 do CPC.
Uma vez que o magistrado determine a alguém que faça
ou deixe de fazer alguma coisa, o descumprimento, por si só,
gerará uma multa como sanção. Mas isso não significa afirmar
que será excluída uma outra com finalidade de coagir o execu-
tado a realizar o direito reconhecido.
Explicitando. Uma coisa é a multa incidente para pres-
sionar o executado a fazer o que o juiz determinou na decisão
judicial, outra é a ser paga ao Estado pelo descumprimento da
ordem.

67
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

Tanto isso é verdade que a primeira será destinada à parte


e a outra ao Judiciário, convolando-se em dívida ativa (art. 14,
parágrafo único do CPC).
Não apenas isso. Se, em virtude desse comportamento, a
parte também vier a sofrer danos processuais, ensejará a res-
ponsabilidade por litigância de má-fé (art. 17 do CPC).
Tratam-se de fatos geradores totalmente diversos. No pri-
meiro, o Judiciário fixou como técnica executiva a multa, que,
descumprida, deverá ser paga ao exeqüente; no segundo, a par-
te desrespeitou o Estado, pelo que haverá de ressarci-lo; no ter-
ceiro, causou um dano processual ao seu adverso, devendo arcar
com as perdas e danos no processo.
Devemos lembrar que não se tratam de multas diárias,
mas multas no módulo mais compatível para com a prestação
prevista. Logo, poderá ser horária ou mensal.
Lembramos, ainda, que não se sujeita ao valor da causa
nem da obrigação.10 O limite, pois, será o da capacidade econô-
mica do renitente (nada adianta uma multa correr diante de
alguém que não dispõe de meios econômicos para suportá-la) e
da proibição do enriquecimento sem causa.
Poderia ser cobrada? Sem dúvida, vez que o fato de ape-
nas correr muitas vezes não importará na necessária intimadação
à parte, que apenas se sentirá efetivamente pressionada, no
momento em que sofre os efeitos econômicos de sua leniência.
No entanto, forte nos argumentos da coercitividade e não
da sanção, a cobrança da mesma gerará para o credor a obriga-

10
Das astreintes. A natureza das astreintes é precipuamente inibitória, ou seja, a sua
finalidade é obrigar a parte a cumprir a ordem proferida pelo órgão julgador. Dessa
forma, o seu valor pode e deve ser alto, tanto quanto necessário para compelir ao
cumprimento do mandamento judicial. MANTIDO O VALOR FIXADO NA
SENTENÇA. Apelação Cível, no 70015337983, 14a Câmara Cível – Rel. Cláudio
Bauermann Lummertz – TJRS.

68
ELSEVIER Capítulo 8 • Da Revisitação dos Princípios

ção de reparar as perdas e danos no caso da alteração da decisão


jurisdicional que a sustentava.11
E com relação à Fazenda Pública, admissível a sua incidência?
A jurisprudência e a doutrina, em sua maioria, não diver-
gem disto, todavia, ressaltam a onerosidade causada aos cofres
públicos por conta de seu cabimento.
Por tais razões, Marcelo Lima Guerra12 defende o cabi-
mento da incidência e cobrança da multa perante o adminis-
trador ou a autoridade pública, responsável por atender ao
comando jurisdicional.
Dirão alguns: como transferir para alguém que não é par-
te uma obrigação de tal natureza? Ora, do mesmo modo que
outros dispositivos do sistema, como os arts. 355, 844 e segs. do
CPC. Nesses casos, o terceiro que se recusa a exibir documen-
tos, ou a testemunha que se nega a dizer a verdade poderão e
sempre puderam sofrer conseqüências processuais e
extraprocessuais pela falta de colaboração com o Judiciário.
Ressaltamos as reiteradas decisões tomadas pelo egrégio
STJ no sentido, inclusive, de permitir o bloqueio de verbas pú-
blicas, como medida de apoio:

11
Guilherme Rizzo do Amaral, em excelente obra sobre o assunto, discorre sobre as
correntes que negam essa possibilidade. Diz que, entre outros aspectos, vislumbra
parte da doutrina uma execução definitiva, já que naquele momento fora desacatada
a autoridade. As Astreintes no Processo Civil brasileiro, p. 212. Também Marco Túlio
Murano Garcia, “Da Execução da Astreinte Prevista no CPC – Brevíssimas Considera-
ções”, p. 247-248.
Cf. jurisprudência sobre o assunto: TUTELA ANTECIPATÓRIA – Multa – San-
ção estipulada em caso de descumprimento da decisão – Decisão que serve como
título executivo judicial – Formação de dívida de valor, não importando qual o
desfecho da demanda de conhecimento - Possibilidade de execução definitiva se
ausente a interposição de recurso – Inteligência do art. 587 do CPC. Ap. Cív.
70005366620 - 19a Câmara – TJRS-j. 10/12/2002 - Rel. Des. Mário José Gomes
Pereira.
12
Guerra, op. cit., p. 130. Na mesma linha, Guilherme Rizzo do Amaral, op.cit., p. 99.

69
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

RECURSO ESPECIAL – FAZENDA PÚBLICA


– FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS –
CRIANÇA – LEITE ESPECIAL COM PRESCRI-
ÇÃO MÉDICA – BLOQUEIO DE VERBAS PÚ-
BLICAS – CABIMENTO – ART. 461, § 5 o DO
CPC – PRECEDENTES. (REsp. no 900.487-RS-
2006/0245696-5 – Rel. Min. Humberto Martins)13
Aproveitamos a menção aos arts. 355 e 844 do CPC, para
destacar a possibilidade do manejo das astreintes à parte e ao
terceiro resistentes à entrega de documento ou coisa. Tal possi-
bilidade se estende, inclusive, à liquidação:
Art. 475-B. Quando a determinação do valor da condena-
ção depender apenas de cálculo aritmético, o credor requere-
rá o cumprimento da sentença, na forma do art. 475-J desta
lei, instruindo o pedido com a memória discriminada e atu-
alizada do cálculo.
§ 1o. Quando a elaboração da memória de cálculo depender
de dados existentes em poder do devedor ou de terceiro, o
juiz, a requerimento do credor, poderá requisitá-los, fixan-
do prazo de até 30 dias para o cumprimento da diligência.
§ 2o. Se os dados não forem, injustificadamente, apresentados
pelo devedor, reputar-se-ão corretos os cálculos apresentados
pelo credor, e, se não o forem pelo terceiro, configurar-se-á a
situação prevista no art. 362.
Entrementes, a multa é uma técnica de efetivação colocada
à disposição da parte para o cumprimento de qualquer obrigação de
fazer ou entregar. Assim, no caso de exibição incidental ao proces-
so, malgrado a omissão da lei,14 a recusa do terceiro poderá render
a incidência da multa para compeli-lo a entregar o que lhe foi de-
terminado. À parte, o sistema já impõe uma sanção: sua recusa
configurará a confissão ficta, na forma do art. 359 do CPC.
13
No mesmo sentido, REsp 820.674 – RS (2006/0034569-5), Rel. Min. Eliana
Calmon.
14
Art. 362 do CPC.

70
ELSEVIER Capítulo 8 • Da Revisitação dos Princípios

Em sede de exibição cautelar – necessariamente antece-


dente ou preparatória do processo principal –, a jurisprudência
é tranqüila sobre a impossibilidade de confissão à parte inerte.
Daí que, sustentamos, com maior razão ainda, o cabimento da
astreinte para compelir o requerido a exibir o documento ou
coisa, como aliás a todos aqueles que devem colaborar com a
justiça e prestar informação.
Isto posto, indica o art. 273, § 3o, que a efetivação das
decisões interlocutórias observará, no que couber, as regras dos
arts. 461, 461-A e 475-O.
Significa pois:
• que no momento de efetivar a antecipação,15 o juiz não
precisará seguir um procedimento rígido, podendo usar to-
dos os meios nominados e inominados;
Todavia, devemos asseverar que a denominada atipicidade
apenas se justifica nas hipóteses de efetivação de antecipa-
ção de tutela de urgência e na punitiva.
Isso porque realmente se tratam de decisões provisórias, po-
dendo ser modificadas por uma sentença de improcedência.
Some-se a isto o fato de o perigo de dano figurar como
elemento essencial a viabilizar uma execução muito mais
eficiente do que outra não fundada no mesmo argumento.
Quando esta antecipação não se funda no perigo, mas no
direito evidente (art. 273 § 6o do CPC), muitas vezes não
será modificada pela sentença final, o que justifica uma exe-
cução definitiva nos mesmos moldes.
Por outras palavras, não será, salvo no caso da incontrovérsia
sujeita a prova em contrário, uma medida provisória, já que
a sentença final jamais irá revogá-la (uma vez reconhecido
o pedido, não há razões para modificação).

15
Ou seja, executar uma decisão interlocutória.

71
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

A efetivação da medida nesta hipótese será em tudo e por


tudo similar à de uma sentença definitiva, contando com
um procedimento típico. Na seara trabalhista, pois, se su-
jeitará às mesmas regras, não havendo que se falar em cau-
ção de nenhuma espécie, nem atrelada a qualquer teto16
(art. 475-O do CPC).
Finalizamos este tópico assinalando que todo o exposto se apli-
ca à Fazenda Pública, inclusive em sede de obrigação de pagar!
No entanto, em razão da dotação orçamentária prévia e do
regime de precatórios, defendemos como forma de
efetivação da tutela antecipada, neste caso, a inserção ante-
cipada e provisória do autor na lista do precatório!17
• que o manejo da multa, inclusive diária, é perfeitamente
cabível em se tratando de antecipação de pagar quantia
(grifos nossos), fundada em decisão antecipatória, já que
prevista no § 4o do mencionado artigo;
• que em sede trabalhista, se é verdade que a sentença não po-
derá ser cumprida mediante multa de 10%, já que não há omis-
são, a recíproca não é verdade quanto às decisões interlocutórias,
sem qualquer dispositivo consectário na CLT ou na LEF em
sentido contrário, sendo de se aplicar o CPC (art. 273 § 3o);
Não compartilha de nossa tese Carolina Tupinambá. Como
outros autores,18 defende a aplicabilidade do art. 475-J do CPC (in-
cidência da multa de 10% à sentença não cumprida) sempre que
houver uma sentença proferida na Justiça do Trabalho.19 No mesmo
sentido, segue o seguinte precedente: Art. 475-J do CPC-

16
Moura, “A estabilização da tutela antecipada pelo pedido incontroverso no proces-
so do trabalho”, p. 444.
17
Cf. Lopes, Tutela Antecipada no processo civil brasileiro, p. 108.
18
Tupinambá, “A nova execução do processo civil e o processo trabalhista”, p. 33.
19
Reis, “O Cumprimento de Sentença Trabalhista”, p. 157.

72
ELSEVIER Capítulo 8 • Da Revisitação dos Princípios

Aplicação ao processo do trabalho. Não há óbice à aplicação do


art. 475-J do CPC ao processo do trabalho, pois o conteúdo da
referida norma é plenamente compatível com os princípios da
celeridade e da simplicidade, que regem a sistemática processu-
al trabalhista e, ademais, embora a CLT não seja, tecnicamente
omissa quanto à matéria, verifica-se que há uma omissão histó-
rica, pois as normas trabalhistas não assimilaram o processo de
desenvolvimento das instituições , restando, em muitos casos,
obsoletas diante das inovações introduzidas no CPC. Cabe ao
intérprete promover a atualização das normas processuais tra-
balhistas, tornando possível a aplicação, no âmbito do processo
do trabalho, dos novos instrumentos destinados à concretização
do principio da efetividade da tutela jurisdicional- TRT 3a R- 3a
T- RO n.100/2007.037.03.00-0-Rel. Adriana Goulart de Sena-
DJ 14/07/2007, p.5
Reiteramos a nossa discordância. Sob pena de ofensa ao
devido processo legal, as partes deverão atender ao procedimento
pré-constituído, nominado, salvo as situações que o próprio le-
gislador dispensou. O princípio da tipicidade de meios ainda
prevalece como regra nas obrigações de pagar, especialmente
escoradas em sentença.
Se a CLT dispõe de regras próprias, inaplicável o proces-
so civil:
Art. 769. Nos casos omissos, o Direito Processual comum será
fonte subsidiária do Direito Processual do Trabalho, exceto
naquilo em que for incompatível com as normas deste Título.
Art. 889. Aos trâmites e incidentes do processo de execução
são aplicáveis, naquilo em que não contravierem ao presen-
te Título, os preceitos que regem o processo dos executivos
fiscais para a cobrança judicial da dívida ativa da Fazen-
da Pública Federal.

73
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

Tal aspecto, aliás é mais do que enfatizado por Paulo Manus.20


Com o brilhantismo de sempre, o processualista da Universidade
Católica de São Paulo ressalta que mencionados artigos oferecem
um limite à aplicação subsidiária do CPC, sob pena de ofensa ao
devido processo legal.21 Em primeiro lugar, por não ser o CPC a
fonte imediata de aplicação na execução, mas a LEF; em segun-
do, porquanto necessária a omissão da CLT e da LEF para a apli-
cação do CPC; e em terceiro, porque além da omissão é preciso a
compatibilidade procedimental entre os institutos.
É claro, e o pensamento de Beber impressiona,22 que alu-
didas regras (arts. 789 e 889 da CLT) foram insculpidas como
uma forma de blindagem ao sistema processual trabalhista (“clá-
usula de contenção”).
Como já dissemos, o processo civil era extremamente
moroso, arcaico, o que significava um perigo admitir-se a sua
aplicação subsidiária que deveria ser excepcional.
Assim, pugna o autor por uma interpretação mais
consetânea, no sentido de reduzir o alcance dessas disposições
e relativizar a sua autonomia, notadamente quanto à execução
civil, muito mais eficaz no cenário atual do que a celetista.23
Manuel Antonio Teixeira Filho,24 sempre mencionado,
ressalta que o sistema celetista nessa parte é completo.

20
Manus, “A execução no processo do trabalho, o devido processo legal, a efetividade
do processo e as novas alterações do processo civil”, p. 46.
21
No mesmo sentido, Guilherme Feliciano, “O novíssimo processo civil brasileiro”,
p. 75. Aduz o mal do efeito surpresa da supressão do mandado citatório.
22
Op. cit., p. 98.
23
Cf., a propósito, a excelente exposição do autor quanto às espécies de lacunas. Fala
sobre lacunas ontológicas e axiológica, sendo essa última essencial para o entendi-
mento de que a interpretação literal do art. 769 se mostra insatisfatória ao
jurisdicionado trabalhista. Op. cit., p. 103.
24
Teixeira Filho, “O Cumprimento de Sentença no CPC e o Processo do Trabalho”,
p. 53.

74
ELSEVIER Capítulo 8 • Da Revisitação dos Princípios

Em oposição à tese da incompletude, discorre sobre o


pensamento compartilhado pelos adeptos do cabimento das
novas regras executivas do CPC ao processo do trabalho.
Na realidade, explica, não se baseiam em uma omissão
formal, mas jurídica. Vale dizer, não que desconheçam a cir-
cunstância da CLT possuir, de fato (grifos nossos), regras sobre
a execução, mas diante de sua ineficiência, de sua superação,
acaba formando um sistema lacunoso. Assim é como se hou-
vesse (grifos nossos) uma omissão, daí a compatibilidade.
Para reforçar seus argumentos, traz à colação o PL no 7.152/
2006, que ao acrescentar um parágrafo único ao dispositivo tra-
tado, admitirá a aplicação da execução civilista, in verbis: “O Di-
reito Processual comum também poderá ser utilizado no processo
do trabalho, inclusive na fase recursal ou de execução, naquilo
que permitir maior celeridade ou efetividade de jurisdição, ainda
que existente norma previamente estabelecida em sentido con-
trário.”
Na mesma linha as sentenças condenatórias de obrigação
de fazer proferidas na Especializada.
Defendemos que a CLT não diferenciou o procedimento
no que toca à obrigação, apenas aludindo que as decisões passa-
das em julgado (seja de pagar, fazer, não fazer, entregar coisa) se-
rão cumpridas na forma estabelecida naquele capítulo.25
Considerando a autonomia do processo que ainda lhe é
ínsito, quando muito, de se aplicar as regras previstas no art. 632
do CPC, mas não no art. 461! A exceção, é certo, como já aduzido
(p. 54, no 3.b.1), ficaria por conta das regras pontuais na CLT,
quais sejam, os arts. 39 e 649, relativos à obrigação de anotar a
CTPS e à reintegração do obreiro.
25
Nesse sentido, Pedro Paulo Teixeira Manus. Para o autor, contando a CLT com a
previsão de dois títulos judiciais e três extrajudiciais, só prevê um tipo de procedi-
mento para todos. “A execução no processo...”., p. 48.

75
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

Há entendimento em sentido oposto ao nosso. Para al-


26
guns, aplica-se por subsidiariedade a execução sem intervalo
prevista no art. 461.
O que dizer, entretanto, no que se refere à realização por ter-
ceiro já mencionada e expressamente prevista no art. 634 do CPC?
Considerando, especialmente, as novas regras sobre a
competência na Justiça do Trabalho, seria viável ao emprega-
dor, escorado em título executivo, determinar que o trabalho a
cargo do empregado fosse realizado por outrem?
Devemos lembrar que somente as obrigações fungíveis é
que serão objeto de execução por terceiro, sendo certo que a
relação de emprego é caracterizada pela pessoalidade.
De modo que apenas poderão ser reputadas como fato
realizável por terceiro as lides fundadas em prestação de serviço
não subordinada.
Mais um ponto a ser considerado. A tutela específica no
processo civil acompanha a evolução do Direito Material, pre-
conizando a possibilidade de cumprimento forçado das dispo-
sições contratuais.
Nesse passo, seriam válidas e passíveis de cumprimento
por tutela específica as cláusulas inseridas nos contratos de tra-
balho sobre o prazo de vinculação do obreiro por treinamento
custeado pela empregadora ou pelos privilégios de invenção?
Seria viável pensar na invalidade da avença, especialmente con-
sideradas a boa-fé e o dever social no cumprimento dos ajustes
estabelecidos? Poderia a empresa exigir do empregado o cum-
primento do ajuste contratual?

26
Entre eles, Marcelo Freire Sampaio, p. 52. Aduz, entre outros aspectos, uma nova
visão para o tema da prescrição intercorrente. Todavia, reportamos-nos ao estabele-
cido por Pizzol e Miranda. Para os autores, a execução sem intervalo não impede a
fluência da prescrição entre fases. “Novos Rumos da Execução Contra Devedor
Solvente”, p. 179.

76
ELSEVIER Capítulo 8 • Da Revisitação dos Princípios

Dirão alguns que as partes estão em planos diferentes,


sendo o empregado parte hipossuficiente.
Contudo, o que dizer dos empregados de altos escalões,
que percebem vultosas quantias salariais, muitas vezes pelo fato
de guardarem segredos industriais. Não poderão ser compeli-
dos a não divulgar? Não fica comprometida a efetividade da
jurisdição e a tutela adequada no momento em que o Estado
não responde nesses termos?
As Leis nos 9.279/1996 e 8.884/1994 resguardam o em-
pregador de atos de concorrência praticados pelo empregado, o
que é corroborado pelo art. 482, c e g, da CLT.
Regiane De Mello João,27 discorre sobre a cláusula de não
concorrência após o término do vínculo de emprego. Ao comen-
tar dois interessantes julgados a respeito,28 um considerando a
ilegalidade da avença e outro legitimando-a, destaca a importân-
cia dos princípios da valorização do trabalho e da boa-fé.
Conclui seus estudos manifestando-se sobre a necessi-
dade da previsão e do manejo de instrumentos processuais ap-
tos à efetivação da mencionada avença, que deverá ser validada
sempre à luz da razoabilidade.
Ao contrário, Jorge Pinheiro Castelo e Paulo Sergio G.
Palermo,29 em excelente artigo sobre direitos autorais, enfatizam
que os contratos de trabalho, por serem de atividade (de fazer),
não se compatibilizam com uma pactuação de não fazer.
Devemos lembrar que tal intervenção nas relações
contratuais não é uma novidade na seara laboral. A estabili-
dade no emprego, assim como as hipóteses de suspensão e de
27
Cláusula de não-concorrência... Revista LTr, ano 71, no 06, p. 720.
28
TRT 2a, Oitava Turma, Rel. José Carlos da Silva Arouca, Ac.200220079847,
DOESP 05/03/02 e TRT 2a R, Quinta Turma, Rel. Rita Maria Silvestre – Ac.
20020534536 – DOESP 30/8/2002. Op. cit., p. 721.
29
“Direitos Autorais: Enfoques Civil, Trabalhista, Tributário e Previdenciário”, p. 541.

77
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

interrupção, são mecanismos legais de intervenção sobre a


vontade das partes.
Tanto é assim, que o empregador não poderá exercer o
seu direito potestativo de dispensar o empregado, bem como
será compelido a reintegrá-lo.30
Digno de nota,31 os termos do novo art. 9o, § 2o, inciso II,
da Lei Maria da Penha, sobre mais uma hipótese de manuten-
ção do vínculo empregatício por seis meses decorrentes de afas-
tamento da empregada por violência doméstica.
Há mais com relação à tutela específica no Direito do
Trabalho.
Dispondo a legislação que, no caso de anotação na CTPS,
o descumprimento culminará na anotação pela Secretaria da
vara, pensamos restar incompatível a incidência da astreinte.

30
ESTABILIDADE OU GARANTIA DE EMPREGO. REINTEGRAÇÃO.
Recurso Ordinário. Empregado portador de Aids. Responsabilidade social da em-
presa. Impossível colher prova mais robusta da discriminação contra o aidético do
que sua dispensa imotivada, especialmente quando o exame demissional o considera
apto para o trabalho. É a segregação silenciosa de quem busca livrar-se de um
presumido problema funcional lançando o empregado portador do vírus HIV à
conta do Poder Público e à sua própria sorte. Como participante de sua comunidade
e dela refletindo sucessos e insucessos, ganhos e perdas, segurança e risco, saúde e
doença, a empresa consciente de suas responsabilidades sociais atualmente já assimila
o dever de colaborar na luta que amplamente se trava com a Aids e, através de suas
lideranças, convenciona condições coletivas que excluem a exigência de teste de HIV
por ocasião da admissão no emprego ou na vigência do contrato de trabalho, e veda
a demissão arbitrária do empregado que tenha contraído o vírus, assim entendida a
despedida que não esteja respaldada em comprovado motivo econômico, disciplinar,
técnico ou financeiro. E isso sob o fundamento de que a questão envolve a
vulnerabilidade da saúde pública, não podendo a categoria econômica furtar-se à
responsabilidade social que inegavelmente detém. Além do mais, a inviolabilidade
do direito à vida está edificada em preceito basilar (art. 5o, caput, da CF). Recurso a
que se dá provimento. TRT 2o, Ac. 20060877078, Décima primeira Turma, Rel.
Wilma Nogueira de Araújo Vaz da Silva, j. 24/10/2006.
31
V. com mais detalhes, Eduardo Henrique Brennand Dornelas Câmara, “Reper-
cussões Trabalhistas da Lei Maria da Penha”. RDT, ano 21, no 10, out. 2006.

78
ELSEVIER Capítulo 8 • Da Revisitação dos Princípios

Como já mencionado e de acordo com doutrina de peso, se o


suprimento da declaração de vontade pode ser feito pelo pró-
prio juiz ou alguém designado por ele (art. 466-A do CPC),
não se justifica a multa para pressionar o empregador.32
Nesta senda, embora pautados em outras bases:33
Resta inconciliável a aplicação subsidiária do Direito
Processual comum (arts. 287 a 644 do CPC), uma vez
que a CLT, em seu art. 39 e parágrafos, estabelece que
a Junta de Conciliação e Julgamento, na sentença, de-
terminará que seja feita a anotação da CTPS na Secre-
taria, uma vez transitada em julgado a decisão, afastando
a possibilidade de se condenar a empresa a fazê-lo de
forma cominatória, sob pena de pagamento de multa
diária (TST, RR 274.437/96.7, José Carlos Perret
Schelt, Ac. Quarta Turma).34
Em sentido oposto, trazemos à baila decisão do TRT, 24a R:
Carteira de Trabalho e Previdência Social – Anotações
– Obrigação de Fazer – Dever do empregador em pro-
ceder os devidos registros no documento – Possibilida-
de de o juiz, em sentença, estabelecer prazo para que o
contratante cumpra a obrigação sob pena de multa –
Realização do registro por auxiliares da Justiça que so-
mente deve ser efetuado se verificada a impossibilidade
do cumprimento do dever diretamente pelo emprega-
dor – Interpretação do art. 39 § 1o da CLT – RO

32
Art. 39
§ 1o Se não houver acordo, a Junta de Conciliação e Julgamento, em sua sentença,
ordenará que a Secretaria efetue as devidas anotações, uma vez transitada em julgado, e
faça a comunicação à autoridade competente para o fim de aplicar a multa cabível.
33
Pois não pensamos que a incompatibilidade se dá por conta da existência da regra
expressa, mas pelo fato de se tratar de suprimento da vontade pelo Estado, o que
basta para a incidência do art. 466-C do CPC, bem como do art. 39 da CLT.
34
Carrion, Comentários à CLT, p. 102.

79
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

01466-2003-022-24-00-0-TRT – 24 a Reg. – Rel.


Juiz AMAURY RODRIGUES PINTO JÚNIOR.
Os arts. 466-A e B, a propósito, nada mais representaram
do que uma alteração topográfica dos dispositivos do CPC, quais
sejam, os arts. 639 a 641, sem qualquer mudança de conteúdo:
Condenado o devedor a emitir declaração de vontade, a
sentença, uma vez transitada em julgado, produzirá todos
os efeitos da declaração não emitida.
Se aquele que se comprometeu a concluir um contrato não
cumprir a obrigação, a outra parte, sendo possível e não
excluído pelo título, poderá obter uma sentença que produ-
za o mesmo efeito do contrato a ser firmado.
Considerando que no caso de declaração de vontade, o
processo sempre contou com um rito diferenciado, e como a
CLT é omissa nesse ponto, pensamos inteiramente aplicável a
regra em questão.
Guilherme Guimarães Feliciano35 aponta as situações de
pré-contrato ocorrentes no Direito do Trabalho, notadamente
no desporto e no mercado de altos executivos. Contudo, asse-
vera a impossibilidade jurídica de substituição da vontade do
obreiro, “obrigando-o” (aspas do autor) a prestar serviços ao não
concluir o contrato preliminar. De outra parte, no que concerne
ao empregador, a recíproca não seria verdadeira, sustentando-
se a possibilidade de o juiz substituir a sua vontade.
Como medida de substituição, apontamos, ainda, o art. 466
do CPC no decisum abaixo:
RECURSO DE REVISTA. COMPENSAÇÃO DE
JORNADA... III. RECURSO NÃO CONHECIDO.
HIPOTECA JUDICIÁRIA. I – A hipoteca judiciária,
apesar de pouco usada pelo Judiciário Trabalhista, é efei-
to ope legis da sentença condenatória, cabendo ao ma-

35
Feliciano, “O novíssimo processo civil e o processo do trabalho”, p. 49.

80
ELSEVIER Capítulo 8 • Da Revisitação dos Princípios

gistrado apenas ordenar sua inscrição no cartório de imó-


veis para que tenha eficácia contra terceiros. II – Diz o
art. 466 do CPC que “a sentença que condenar o réu no
pagamento de uma prestação consistente em dinheiro
ou em coisa valerá como título constitutivo de hipoteca
judiciária, cuja inscrição será ordenada pelo juiz na for-
ma prescrita na Lei de Registros Públicos. Sendo a hipo-
teca judiciária efeito da sentença, é certo que independe
de pedido. III – De outro, dúvida não há sobre a aplica-
ção subsidiária deste artigo ao processo trabalhista, visto
que tanto a sentença no processo cível quanto a sentença
no processo do trabalho são ontologicamente iguais. IV
–...” RR- 1048/2005-105-03-00, DJ 05/10/2007.
Quanto à reintegração no emprego, corretíssimas as pos-
turas adotadas pela doutrina36 e pela jurisprudência, tanto sobre
o cabimento da multa para compelir o empregador a aceitar o
retorno do trabalhador quanto na conversão em perdas e danos
pelo escoamento do período estabilitário.37
Sobre a entrega de guias para movimentação do FGTS,
Manuel Antonio Teixeira Filho38 sustenta o acerto da praxe
forense em convolar a obrigação do reclamado em entregar coisa
em perdas e danos, posto impossível a prestação em natura.

36
Manuel Antonio Teixeira Filho, faz uma importante compilação dos vários enten-
dimentos trilhados pelos maiores expositores do Direito do Trabalho. Relembra a
discussão da reintegração manu militari, à revelia do empregador, defendida por
Wagner Giglio até a reconhecido direito do reclamado em não cumprir a sentença
consoante o saudoso Antonio Lamarca, p. 409.
37
MANDADO DE SEGURANÇA – ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA
TUTELA PARA REINTEGRAR RECLAMANTE QUE COMPÕE CONSE-
LHO FISCAL DO SINDICATO NA CONDIÇÃO DE SUPLENTE – Não há
ilegalidade na decisão que, à luz da verossimilhança das alegações e do dano de difícil
reparação, antecipa só efeitos da tutela a empregado dirigente sindical, restaurando o
contrato de trabalho e suas cláusulas. Exegese dos arts. 522 e 543 da CLT, art. 8o, VIII,
da CF, e OJ no 64 da SDI – II do TST. Segurança denegada. (TRT 4a R- 00714-2007-
000-04-00-0 MS – 1a SDI – Rel. Juiz José Felipe Ledur – DJU 26/07/2007).
38
Op. cit., p. 406-407.

81
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

Ressalva, nada obstante, que a expedição de alvará poderá se


constituir em boa medida, substituindo a vontade do devedor
recalcitrante.39 É o chamado resultado prático equivalente. Fi-
naliza, admitindo nesta hipótese a incidência da multa.
Aliás, nossa dissertação de mestrado tratava exatamente
desse ponto. Da possibilidade, diríamos mais, do mister conferi-
do ao Judiciário trabalhista em usar de todas as medidas conferidas
pelo sistema sob pena de responsabilidade objetiva estatal.
Argumentamos, inclusive, sob a rubrica da paralisação de
serviços essenciais, sobre a possibilidade de intervenção no sindi-
cato,40 resistente quanto à manutenção do mínimo dos serviços
para atendimento da comunidade, forte na lei antitruste (art. 89).
Reiteramos. Se a rigor a liberdade não é tanta quanto às
sentenças de pagar quantia, o poder do juiz é apenas limitado
pelo razoável nas decisões interlocutórias e sentenças de fazer e
não fazer!
Não podíamos concluir este tópico sem mencionar uma
importante questão. Dissemos que a atipicidade se fundamen-
ta, sobretudo, no fato de se escorar em uma antecipação de tu-
tela concedida em uma decisão interlocutória.
Dissemos, ainda, que esta tese ganha mais importância
na esfera trabalhista, que, como a civil, não possui um procedi-
mento predefinido quanto à realização de decisões interlocu-
tórias dotadas de medidas antecipatórias. Por certo. Mas o que

39
Digna de nota a arguta observação do autor no que toca à execução de sentença
consistente na entrega das guias. Para tanto, destaca a impossibilidade de realização
por terceiro no que respeita à prestação do reclamado, já que a assinatura deste é
indispensável. Idem, ibidem, p. 408.
40
Entre outras propostas, como a fixação da asterinte na pessoa dos diretores dos sindi-
catos recalcitrantes quanto à determinação judicial de retorno às atividades, ao menos
para atender às necessidades inadiáveis da comunidade. A responsabilidade civil do Estado
pela paralisação nas atividades essenciais, Dissertação de Mestrado, PUC/SP, 2005.

82
ELSEVIER Capítulo 8 • Da Revisitação dos Princípios

dizer da hipótese de concessão de antecipação de tutela na sentença


trabalhista? O que significaria isso no plano prático?
Jorge Pinheiro Castelo trata desse ponto.41 Com maestria,
destaca que as sentenças apenas se sujeitam a um procedimen-
to próprio, nominado quando a tutela for ordinária (comum).
Se veiculam uma tutela diferenciada, outro não poderá ser o seu
efeito senão o de se submeter a mesma atipicidade procedimental
das decisões interlocutórias:
(...) através da inserção do provimento da tutela dife-
renciada (urgência ou evidência) no corpo do provimento
sentencial da tutela ordinária, permite-se a realização
completa e satisfativa do direito antecipadamente ao
momento em que o título do proveniente da tutela or-
dinária, que igualmente reconheceu o direito, tenha se
tornado definitivo.42
Assim, não importa se a tutela antecipada diferenciada foi
deferida em uma decisão interlocutória ou no corpo de uma sentença, o
resultado será o mesmo: a execução da decisão, fundada no perigo
de dano, será balizada apenas pela razoabilidade do juiz, logo, atípica.
Isso justificaria especialmente a realização provisória de
obrigações de fazer. Como apontado pelo autor, comum à resis-
tência experimentada na execução das obrigações de fazer,43
especialmente as de reintegração de posse, enquanto pendente

41
“Tutela antecipada e mandado de segurança”, Revista do Advogado no 82, p. 75. Cf.
a propósito, o interessante estudo que desenvolve tendo em consideração as OJs
nos 50, 51, 63 e 87 da SDI do TST. Pensamos que, deferida na sentença, poderá ser
impugnada apenas pelo próprio RO, considerada a unirrecorribilidade recursal. Em
compensação, concedida após ou antes da sentença, impugnável por mandado de
segurança. No entanto, vedado o mandado por tais orientações, nada melhor do que
o manejo de petição simples cautelar. Aliás, a jurisprudência civilista é rica nesse
assunto. Op. cit., p. 81-3. De qualquer sorte, cf. EN. 414 do TST.
42
Castelo, “Tutela antecipada e mandado de segurança: da busca do efeito ativo da
tutela antecipada”, p. 77.
43
Castelo, op. cit., p. 76.

83
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

de recurso ordinário. A provisoriedade do título, na visão da ju-


risprudência, impediria a execução completa, devendo-se aguar-
dar o trânsito em julgado para a reintegração.
Assim, a antecipação no bojo da sentença condenatória
de obrigação de fazer ganharia força para ser inteiramente rea-
lizada, já que o conceito e as regras inerentes à execução provi-
sória, nesse caso, apenas funcionam como mero parâmetro
operativo (art. 273, § 3o, do CPC).
No mesmo sentido, aliás, qualquer execução de título pro-
visório pendente de recurso na Especializada.
Nesta senda, carreamos os seguintes julgados:
RECURSO ORDINÁRIO. MANDADO DE SE-
GURANÇA. DEFERIMENTO DE PEDIDO DE
ANTECIPAÇÃO DE TUTELA FORMULADO
EM EXECUÇÃO PROVISÓRIA DE SENTENÇA
CONCESSIVA DE REINTEGRAÇÃO NO EM-
PREGO EM HIPÓTESE NÃO PREVISTA LE-
GALMENTE. DIREITO LÍQUIDO E CERTO
DO IMPETRANTE. Na figura, configura-se o direi-
to líquido e certo do impetrante ao não-cumprimento
da obrigação de fazer, tendo em vista que o juiz coator
concedeu tutela antecipada pretendida, ordenando a
reintegração do reclamante ao emprego, diante da: I)
ausência de dano de difícil reparação, pois o trabalha-
dor prestaria ser viços em troca da respectiva
contraprestação; e II) da existência de verossimilhança
de sua alegação, consistente nos provimentos
jurisdicionais a ele favoráveis obtidos nas instâncias or-
dinárias, que reputam nulo o procedimento adminis-
trativo adotado pelo empregador na qualidade de
sociedade de economia mista integrante da Adminis-
tração Pública indireta estadual para a sua dispensa, ante
a ausência de prévia apuração da suposta falta cometida
pelo empregador, com direito a contraditório e defesa,

84
ELSEVIER Capítulo 8 • Da Revisitação dos Princípios

além da falta de motivação do ato demissional. Como


se vê, a medida não encontra respaldo no ordenamento
jurídico pátrio ou na jurisprudência desta alta corte (OJs
nos 64 e 142, desta SBDI-2, e 247 da SBDI-I, e Súmula
no 390/TST). Recurso provido para conceder a segu-
rança, cassando a reintegração. ROMS-10235/2006-
000-22-00, DJ 19/10/2007
AÇÃO CAUTELAR INOMINADA. PERICULUM
IN MORA E FUMUS BONI JURIS. EFEITO
SUSPENSIVO AO RECURSO DE REVISTA. O
provimento da presente ação cautelar faz-se necessário,
ante a ordem de reintegração no emprego à reclamante,
que se aposentou espontaneamente, o que nos termos
da OJ no 177 da C.SDI – 1, faz extinto o contrato de
trabalho, e de acordo com o Enunciado no 363 do C.
TST, torna o novo contrato que se iniciou nulo. Tam-
bém a jurisprudência da C.SDI – II é no sentido de
que ser incabível a reintegração em execução provisória.
Assim, tratando-se de situação envolvendo contrato nulo,
o periculum in mora resta presente diante do pagamento
de salários realizado pelo erário, sob o qual deverá o
administrador público responder. AC-149506/2004-
000-00-00, DJ 20/10/2006.
Interessante analisar como o sistema trabalhista é apto a
aceitar a realização provisória da obrigação de fazer escorada
em decisão liminar, mas é contrário a tal possibilidade em sede
de sentença final.
O fato a ser analisado, reforçamos, não é o ato jurídico
motivador da decisão, mas o conteúdo desta. Havendo perigo
de dano, seja em uma decisão interlocutória seja em uma sen-
tença, a solução deverá ser a mesma: a imediata reintegração a
despeito da existência de um recurso pendente sob a responsa-
bilidade exclusiva do exeqüente!

85
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

Reforça nossos argumentos:


Nos termos do art. 1 o da Lei n o 9.270/1996, de
17/04/1996, cabe concessão de medida liminar, até
a decisão final do processo, em reclamações traba-
lhistas que visem a reintegrar o empregado diri-
gente sindical afastado, suspenso ou dispensado
pelo empregador. (TST, RO-MS 139.872/94.3,
Francisco Fausto, Ac. SBDI-2 n o 1.057/1997) 44
Transcrevemos as OJS citadas nos julgados acima, para
uma melhor compreensão da matéria:
63. Não fere direito líquido e certo a concessão de tutela
antecipada para reintegração de empregado protegido por
estabilidade provisória decorrente de lei ou norma coletiva.
142. Inexiste direito líquido e certo a ser oposto contra
ato de juiz que, antecipando a tutela jurisdicional, deter-
mina a reintegração do empregado até a decisão final do
processo, quando demonstrada a razoabilidade do direito
subjetivo material, como nos casos do anistiado pela Lei no
8.878/1994, aposentado, integrante de comissão de fá-
brica, dirigente sindical, portador de vírus HIV ou deten-
tor de estabilidade provisória prevista em norma coletiva.
Por último, não podemos deixar de considerar que tudo
que foi dito a respeito das decisões interlocutórias bem como
das sentenças fundadas em medida de urgência serão integral-
mente aplicáveis às sentenças cautelares.
Logo, tratando-se de liminar ou sentença assecuratória, a
sua realização física independerá, inclusive na esfera trabalhis-
ta, de maiores rigores, caracterizando-se como mandamental.
Isso significa, portanto, que o princípio da atipicidade é
base da efetivação das medidas cautelares, tanto quanto nas an-
tecipações de tutela!

44
Carrion, Comentários à CLT, p. 522.

86
ELSEVIER Capítulo 8 • Da Revisitação dos Princípios

• que não apenas as medidas executivas coercitivas são ad-


mitidas, mas as sub-rogatórias nominadas, como o descon-
to em folha de pagamento ainda que não se trate de parcela
alimentar.
Cumpre registrar, neste aspecto, a redação do art. 475-Q
do CPC, inteiramente aplicável ao processo do trabalho:
Quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de
alimentos, o juiz, quanto a esta parte, poderá ordenar ao
devedor constituição de capital, cuja renda assegure o paga-
mento do valor mensal da pensão.
...
§ 2o. O juiz poderá substituir a constituição de capital pela
inclusão do beneficiário na prestação em folha de pagamen-
to de entidade de Direito Público ou de empresa de Direito
Privado de notória capacidade econômica, ou, a requeri-
mento do devedor, por fiança bancária ou garantia real, em
valor a ser arbitrado de imediato pelo juiz.
• que diferentemente do que ocorre com a execução provisória
de sentença, o cumprimento de uma decisão interlocutória,
mormente fundada no perigo não possui os mesmos limites,
sendo mero parâmetro operativo. Logo, mesmo que importe
em levantamento de quantia em valores superiores a 60 salá-
rios-mínimos, independerá de caução.45
Com maior razão, se aplica na íntegra ao processo do traba-
lho, lembrando que o sistema civilista reconhece a possibilidade de
levantamento de quantia em favor do autor em qualquer hipótese de
alimentos, inclusive indenizativos, ou seja, decorrentes de ato ilícito.

45
O art. 475 O do CPC impõe a prestação de uma garantia para que a execução
provisória prossiga, quer dizer, seja completa. De outra parte, exclui tal obrigação:
§ 2o. A caução a que se refere o inciso III do caput deste artigo poderá ser dispensada:
I – quando, nos casos de crédito de natureza alimentar ou decorrente de ato ilícito, até o
limite de 60 (sessenta) vezes o valor do salário-mínimo, o exeqüente demonstrar situação
de necessidade.

87
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

Logo, deve ser compreendida a expressão alimentos, ain-


da que não advinda de relações parentais ou por afinidade, por
extensão, às percepções provenientes do trabalho subordinado
e de ato ilícito.
Insta registrar a posição contrária de Carlos Henrique da
Silva Zangrando.46 Ao comentar a possibilidade de execução pro-
visória no processo do trabalho, já que reconhece uma omissão
da CLT em relação ao efeito suspensivo dos embargos do deve-
dor, o autor menciona a total irresponsabilidade do julgador em
permitir a execução completa nesses casos. Quer dizer, seja a
efetivação de uma antecipação de tutela ou a execução de uma
sentença impugnada com embargos sem efeito suspensivo, o ris-
co será sempre altíssimo, devendo-se inibir o levantamento de
quantia. No mesmo sentido, juntamos o precedente seguinte:
Execução Provisória – TRT 3 a R-5 a T- Ap. n.184/
2003.108.03.00.1-Rel.Dês.José Murilo de Morais –DJ 06/02/
2007, p.18. Nos termos do art. 889 da CLT, a execução provisó-
ria vai até a penhora, não sendo permitida a liberação de di-
nheiro ao exeqüente enquanto pendente recurso de decisão que
lhe deu ensejo. Nesse sentido a OJ 56 da SBDI-II do TST,
segundo a qual “não há direito líquido e certo à execução defi-
nitiva na pendência de recurso extraordinário ou de agravo de
instrumento visando a destrancá-lo” impedimento que se veri-
fica nos autos.
Por fim, devemos lembrar que a presença de agravo de
instrumento no recurso extraordinário, pela Reforma (art. 475-O,
§ 2o, inciso II, do CPC), não impede a execução completa. É
que o legislador supôs, a essa altura, que a chance de êxito do
devedor é bastante diminuta.

46
Zangrando, “A Reforma do Processo de Execução e suas Repercussões no Processo
do Trabalho”, p. 8.

88
ELSEVIER Capítulo 8 • Da Revisitação dos Princípios

• que por não se tratar de execução de sentença, mas de


interlocutória, não permitirá a oposição dos embargos à exe-
cução.
Nesse caso, no processo civil, restará ao demandado a
oposição de Agravo de Instrumento (para impugnar a decisão
concessiva da tutela).
Na trabalhista, pela irrecorribilidade, somente admissível
o pedido de reconsideração ou a impetração de mandado de
segurança, sem exclusão da possibilidade sempre aberta ao ma-
gistrado de revogar a sua decisão perante os argumentos trazi-
dos em contestação pelo reclamado ou por novos fatos ocorridos
ulteriormente.
• que por se tratar de título provisório a encerrar responsabi-
lidade objetiva, não autorizará a efetivação de ofício.
Entrementes, se já não era novidade na seara trabalhista
a atuação de ofício do juiz na execução, mais fácil ainda absor-
ver tal possibilidade em sede de decisão interlocutória, vez que
não regrada.
Ainda que assim não fosse, em razão do sincretismo do pro-
cesso civil, estaria autorizada a deflagração oficial, forte na ausên-
cia de disciplina na CLT para a execução de decisão interlocutória.
No entanto, por coerência a tudo que foi exposto, asseve-
ramos: somente a antecipação fundada na incontrovérsia, que
é definitiva, autoriza a efetivação de ofício; no mais, será neces-
sária a iniciativa da parte.
Explicitando: a antecipação de tutela depende de pedi-
do,47 mas a sua efetivação poderá acontecer a despeito da inicia-
tiva do autor, desde que não pautada nem na urgência nem no

47
Embora pensemos que poderá ser de ofício com base no microssistema de tutelas
de urgência, ou seja, aplicando-se os arts. 798 e 797 do CPC, de modo harmônico.

89
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

abuso de direito de defesa, pois estes poderão ser revogados pela


sentença final de improcedência obrigando o autor a indenizar
o reclamado.
• que por se tratar de decisão provisória, ademais, poderá per-
sistir no tempo a despeito do resultado final.
É dizer: a efetivação, nos moldes atípicos e profundos,
poderá se manter no tempo, enquanto não transitada em julga-
do a sentença final.
Devemos advertir que o fato de a tutela de urgência ser
provisória não raras vezes causa divisão tanto doutrinária quan-
to jurisprudencial sobre o seu dies ad quem.48
Pelo sim, pelo não, deverão as partes se garantir acerca da
continuidade ou não da tutela provisória após a sentença final
ainda pendente de recurso.
As partes deverão interpor recurso de embargos de decla-
ração, com o claro intuito de que o juiz, expressamente, mencione

48
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. PROCESSO CIVIL. TUTELA AN-
TECIPADA. SUBSEQÜENTE SENTENÇA DE MÉRITO. SUBSISTÊN-
CIA DO RECURSO ESPECIAL QUE ESTENDE OS EFEITOS DA
ANTECIPAÇÃO DA TUTELA PARCIALMENTE CONCEDIDA NO
JUÍZO A QUO ATÉ O TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA DE
MÉRITO. REJEIÇÃO.
...
2. Não podem prosperar as assertivas da embargante. Como assinalado pelo emi-
nente Ministro Ari Pargendler no REsp 112111/PR:
“Não há relação de continência entre tutela antecipada e a sentença de mérito. A
aludida tutela não antecipa simplesmente a sentença de mérito; antecipa, sim, a
própria execução dessa sentença, que por si só não produziria os efeitos que irradiam
da tutela antecipada.” No mesmo sentido a doutrina de Guilherme de Almeida
Bossler: “Diferentemente dos demais casos, a decisão interlocutória que concede a
antecipação de tutela não é substituída pela decisão de mérito. Seus efeitos perma-
necem até que seja cassada pela instância superior.”
3. Em atenção à segurança jurídica há de se manter incólume o provimento antecipatório
da tutela, até o trânsito em julgado da sentença de mérito...” EDcl no REsp 6444845/
RS, Primeira Turma, Rel. Min. José Delgado, DJU. 17/10/2005, p. 182.

90
ELSEVIER Capítulo 8 • Da Revisitação dos Princípios

a sorte da antecipação de tutela. Ao autor não restará outra al-


ternativa que tentar, especialmente no Tribunal, por intermédio
do Relator, manter os efeitos da decisão provisória, sempre sob
os requisitos do perigo e da verossimilhança.

4. Da efetividade
Dissemos que apenas haverá jurisdição na exata medida
em que o Judiciário der ao jurisdicionado tudo o que ele busca-
va e exatamente aquilo a que tem direito, de modo que uma
execução frustrada é uma “não jurisdição”.
Lima Guerra,49 falando sobre o direito fundamental à tu-
tela executiva aduz sobre (...) a exigência de que existam meios
executivos capazes de proporcionar a satisfação integral de qual-
quer direito consagrado em título executivo.
Significa dizer que o sistema deve contemplar e viabilizar
(...) meios capazes de proporcionar pronta e integral satisfação
de qualquer direito merecedor de tutela executiva.50
Já nos debruçamos exaustivamente sobre a tutela específica.
Agora cuidaremos de abordar a execução de obrigação de pagar.
Conquanto neguemos a possibilidade de multa para com-
pelir o empregador a cumprir a sentença, não temos dúvida so-
bre o seu manejo para compeli-lo a indicar bens à penhora.
É claro que não incorrerá, como visto, em multa por ato
atentatório na sua omissão de arrolar o seu patrimônio. Na CLT,
a indicação ainda é um ônus do devedor, que descumprido ape-
nas passará ao jugo do credor.
Em sentido oposto, Luiz Ronan Neves Koury, para quem
no processo do trabalho justifica-se ainda mais a incidência da
norma.51

49
Guerra, op. cit., p. 101.
50
Guerra, op. cit., p. 103.
51
A Lei no 11.382, de 6 de dezembro de 2006, e o processo do trabalho, RTST, v. 73, p. 92.

91
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

Sustentável no processo do trabalho, a incidência da multa


para compelir o executado a indicar seus bens, especialmente
nos casos em que infrutífera a indicação pelo credor ou a expe-
dição de ofícios pelo juiz.52
É cediço que muitas vezes o devedor apresenta indicativos
de riqueza, malgrado inexista qualquer rastro de patrimônio.
Dizemos mais. Escorados nas lições de Lima Guerra, cujos
estudos baseados nos princípios executivos encontram-se sem-
pre atuais, defendemos a possibilidade do manejo de medidas
restritivas de direito, desde que não violem direitos fundamen-
tais, como a proibição da empresa de participar de licitação públi-
ca ou mesmo a expedição de ofícios para os serviços de proteção
ao crédito.53
Há exemplos de medidas restritivas de direitos previstas
no sistema, como a proibição da parte de falar nos autos no
caso da medida cautelar de atentado (art. 881 do CPC).
A antecipação de tutela no corpo da sentença, igualmente
se apresenta como uma medida de efetividade absolutamente
compatível com o Direito do Trabalho. Através dela, se permite
uma execução completa (e não meramente provisória, como já
exposto) a despeito da interposição do recurso ordinário.
Permite, ainda, especialmente nas situações de abuso
do direito de defesa (oposição de recurso meramente
protelatório), a realização provisória nos casos em que o re-
curso possui efeito suspensivo (o que é a regra no processo
civil, art. 520 do CPC).

52
Aspecto esse igualmente destacado por Guilherme Feliciano. Contudo, o autor men-
ciona o cabimento da multa tarifada de 10% para fins de ato atentatório. Não concorda-
mos, não sendo o caso de aplicação subsidiária do art. 475-J do CPC, mas apenas de
medida coadjuvante, dependerá o seu valor unicamente do juiz. Op. cit., p. 77.
53
Guerra, op. cit., p. 152. Defende o autor o manejo das medidas coercitivas como
coadjuvantes da execução por quantia.

92
ELSEVIER Capítulo 8 • Da Revisitação dos Princípios

Permite-se, finalmente, o chamado efeito ativo recursal


(arts. 273, I e II, e 558 PU do CPC).
Por efeito ativo temos a antecipação do mérito
recursal, o que significa a possibilidade de um dos juízes
integrantes da turma julgadora, provisoriamente, com ful-
cro na probabilidade de êxito da demanda (fumaça do bom
Direito) e no perigo de dano, adiantar o mérito do próprio
recurso aviado.
Explicitando. No plano do recurso ordinário traba-
lhista, seria o mesmo que admitir a abertura de carta de
sentença, em que pese a extinção do processo sem a reso-
lução do mérito ou a improcedência do pedido em primeiro
grau.
O título executivo, nesse caso, é a decisão monocrática
do juiz de 2o grau, que concedeu a antecipação da tutela no
tribunal, adiantando os efeitos do provimento do recurso. A
propósito vale a pena conferir a medida cautelar em RO-Pro-
cesso 02005/2005.000.15.00-8.54
No mesmo sentido, a possibilidade de suspensão dos efei-
tos de uma decisão, via medida cautelar.
Isso porque o reclamado também poderá, se provável o
êxito de seu recurso e presente o perigo de dano, postular ao
Judiciário que monocrática e provisoriamente impeça a abertu-
ra de carta de sentença e a penhora de bens, enquanto não re-
solvido o apelo pelo colegiado.
Vale lembrar que os recursos da Justiça do Trabalho não
costumam ter efeito suspensivo, de modo que a execução, con-
quanto provisória, é de rigor. A exceção fica por conta dos
dissídios coletivos.

54
Medida cautelar em RO- Processo 02005/2005.000.15.00-8. Ação Cautelar, 3a
Vara do Trabalho de Jundiaí. Rel. Ana Paula Pellegrina Lockmann.

93
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

Tal afirmação, calcada na literalidade do art. 899 da CLT,


é combatida por alguns doutrinadores.55 Entre outros argumen-
tos, aludem aos termos do § 2o, do art. 896, da CLT: “O recurso
de revista dotado apenas de efeito devolutivo...”
Ora, se jamais contasse o sistema recursal celetista com a
possibilidade de efeito suspensivo, não seria necessário que o
legislador mencionasse os efeitos da revista!
Assim, em qualquer recurso na Justiça do Trabalho, seja
nos embargos de declaração, agravo de petição, recurso ordi-
nário, de revista ou extraordinário, o reclamado poderá contar
com a perspectiva da paralisação de atos da execução ou da
sua integralidade.
Tais requerimentos – de antecipação ou cautelar, confor-
me se pretenda “tirar” (Súmula no 414 do TST) ou “dar”
efetividade à execução – poderão ser aviados nas próprias ra-
zões, contra-razões do recurso; no corpo dos embargos de de-
claração; da ação rescisória; ou via petição simples cautelar.
Conforme já entendeu o STF, um mero incidente, sem citação,
contestação ou sentença:
“Medida cautelar – Atribuição de efeito suspensivo a
recurso especial pendente de admissibilidade – Ação
de despejo – Concessão de liminar que não extrapola a
pretensão recursal – Efeito suspensivo parcial – Obser-
vância do término do contrato de locação de imóvel não
residencial.”
(...), mas medidas cautelares que tenham por finalida-
de atribuição de efeito suspensivo a recursos excepcio-
nais, desnecessária a citação dos requeridos, conforme
orientação do STF. Nesta senda, colhe-se:

55
Entre eles, Mário Gonçalves Junior, “Efeito Suspensivo dos Recursos Trabalhistas”,
Revista Síntese no 183, set. 2004; Valentin Carrion, Comentários, p. 806, nota 3.

94
ELSEVIER Capítulo 8 • Da Revisitação dos Princípios

A concessão de eficácia suspensiva a recurso extraordi-


nário constitui incidente peculiar ao apelo extremo –
conseqüente desnecessidade de citação da parte
requerida.
A outorga de eficácia suspensiva a recurso especial ou
recurso extraordinário em sede de procedimento cautelar
constitui em medida que se exaure por si mesma, não
dependendo, por tal motivo, da ulterior efetivação do ato
citatório, eis que a providência cautelar em referência não
guarda – enquanto mero incidente peculiar ao julgamen-
to do apelo extremo – qualquer vinculação com o litígio
subjacente à causa. O procedimento cautelar, instaurado
com objetivo de conferir efeito suspensivo ao apelo ex-
tremo, rege-se, no STF, por norma especial, de índole
processual (RISTF, art. 21, V) que, por haver sido rece-
bida pela nova Constituição Federal da República com
força e eficácia de lei (RTJ 167/1951), afasta a incidên-
cia – considerando o princípio da especialidade – das
regras gerais constantes do CPC (art. 796 e ss.). Prece-
dentes AC 83-QO/CE, Segunda Turma, Rel. MIN.
Celso de Mello. J. 14/10/2003, DJ 21/11/2003, p. 15"56
Com relação à competência para o deferimento das medidas
de urgência após a sentença, pensamos aplicável o art. 518 do CPC
ao Direito do Trabalho, vez que competindo ao juiz de 1o grau rece-
ber recurso ordinário, nada impede que ele examine os seus efeitos,57
notadamente sob os argumentos expendidos sobre as relações não-
trabalhistas e objeto da competência da especializada.
No entanto, devemos mencionar os dispositivos em con-
trário, quais sejam, os arts. 800, parágrafo único, e 558, parágrafo

56
Julgado esse também mencionado em nossa obra, “A competência para o deferi-
mento da tutela cautelar”, p. 154.
57
Sabendo o juiz que sua decisão está divorciada da jurisprudência dominante, con-
quanto segura sobre os fatos e argumentos em que se escorou, nada impede de ele
próprio suspender os efeitos de sua decisão. Cf. Mário Gonçalves Jr., op. cit., p. 57.

95
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

único do CPC, pelos quais as providências de urgência serão pos-


tuladas diretamente ao tribunal, após a interposição do recurso.58
Ainda sobre o assunto,59 trazemos os termos das Súmulas
nos 634 e 635 do STF: “Não compete ao Supremo Tribunal
Federal conceder medida cautelar para dar efeito suspensivo a
recurso extraordinário que ainda não foi objeto de juízo de
admissibilidade na origem.”
“Cabe ao presidente do tribunal de origem decidir o pedi-
do de medida cautelar em recurso extraordinário ainda penden-
te do seu juízo de admissibilidade.”
Justifica-se a incidência do princípio da efetividade em
favor do reclamado, permitindo-se a suspensão dos efeitos da
decisão, na medida em que o processo deve ser instrumento de
justiça para a parte que tem razão e não para a que não a tem.
O argumento se reforça quando se está diante de partes iguais.
A inexistência de efeito suspensivo se escora na hipossuficiência do
empregado e na natureza alimentar do crédito trabalhista. Contudo,
ampliada a competência da Justiça do Trabalho para questões outras
que não envolvam relação de emprego ou que a prestação de servi-
ços muitas vezes se desenvolve no plano da igualdade, não pode se
sustentar uma mesma situação processual.
Sim, porque até esse momento, aludimos ao princípio sem-
pre pelo prisma dos direitos do credor, especialmente na figura
do empregado–exeqüente.

58
No processo civil há grande divergência acerca de quem poderia deferir medidas de
urgência após a interposição do recurso. Isso porque o mencionado art. 518 do CPC
menciona que o juiz de primeiro grau determinará em quais efeitos receberá o
recurso. No cível, diferentemente do trabalhista, a apelação é recebida no duplo
efeito, o que justificaria ao juiz examinar as hipóteses em que não seria assim admi-
tida, seja por força de lei, seja por conta do perigo de dano e da fumaça do bom
Direito.
59
Com mais detalhes, consultar a nossa obra, “A competência para o deferimento de
tutela cautelar”, p. 156.

96
ELSEVIER Capítulo 8 • Da Revisitação dos Princípios

De modo que a justiça e a efetividade do processo tam-


bém devem ser pensadas na perspectiva do executado. O art. 618
do CPC expressa que a execução não poderá ser nula:
I.se o título executivo extrajudicial não corresponder à obri-
gação certa, líquida e exigível (art. 586);
II. se o devedor não for regularmente citado;
III. se instaurada antes de se verificar a condição ou de ocor-
rido o termo, nos casos do art. 572.
Jorge Luís Souto Maior,60 a propósito, ao comentar a relação
entre o processo civil e o do trabalho, ressalta que “(...) a desigualda-
de de tratamento no processo não deve servir para conceder ao pro-
cessualmente assistido mais do que, de fato, ele tenha direito”.
Logo, devem ser asseguradas ao devedor ferramentas ap-
tas a elidir uma execução não respaldada em um título executi-
vo ou sem o crédito que lhe é ínsito.61
Sucede que tal direito não se limita exclusivamente à sede
recursal. Também poderá ser valer o reclamado de ações autôno-
mas62 e de incidentes processuais, com pedido cautelar, para im-
pedir, paralisar ou represar algum ou alguns dos atos executivos.
60
Maior, Direito Processual do Trabalho, p. 26.
61
REPETIÇÃO DE INDÉBITO. DEVOLUÇÃO DE VALORES RECEBI-
DOS POR FORÇA DE DECISÃO POSTERIORMENTE RESCINDIDA
POR AÇÃO RESCISÓRIA. Rescindido o título executivo judicial que deferiu
diferenças de salário à empregada, ora reclamada, conclui-se que a discussão sobre a
boa-fé da parte que recebeu valor indevido se mostra improdutiva, porque o direito
à repetição de indébito é fundado no princípio da eqüidade, sendo pois, o meio
técnico através do qual deve, aquele que se locupletou de coisa alheia, restituí-la ao
seu legitimo dono. Recurso provido. Segunda Turma, TRT 4a Região, Ac. 00473-
2005-008-04-00-9 RO, Rel. Juiz Juraci Galvão Junior.
62
SECURITIZAÇÃO. TUTELA ANTECIPADA. SUSPENSÃO DA EXE-
CUÇÃO EM ANDAMENTO. ADMISSIBILIDADE.
2 – Admite-se a suspensão da execução como antecipação de tutela, se na ação
declaratória restar provada a origem da dívida e restar convincente a verossimilhança
das alegações. A penhora resguarda o direito do credor enquanto que a possível
arrematação do bem trará prejuízo irreversível ao devedor. AI 139.726-6, 7a C do
Tribunal do Paraná, Rel. Miguel Pessoa, j. 04/10/1999.

97
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

Estamos falando, especificamente, das ações rescisórias e


das demais prejudiciais à execução previstas no art. 585, § 1o, do
CPC, tais como as anulatórias, declaratórias de nulidade ou
inexigibilidade de título, in verbis:
São títulos executivos extrajudiciais:....
§ 1o. A propositura de qualquer ação relativa ao débito
constante do título executivo, não inibe o credor de promo-
ver-lhe a execução.
Sandro Gilbert63 leciona todos os aspectos atinentes a
essas ações impugnativas autônomas, inclusive no que se refere
à suspensão da execução em curso.
Menciona, como dispositivos legais argüíveis, o art. 265,
IV, letra a, que expressamente prevê a suspensão da causa prin-
cipal (execução, por exemplo) quando pendente uma demanda
prejudicial (causa externa, como a ação de anulação do título) e
os arts. 273 e 79864 do CPC, que viabilizam a antecipação de
tutela medida cautelar de suspensão.
É certo que a doutrina65 costuma limitar a antecipação
como medida de urgência, nas hipóteses em que possa repre-
sentar negativa de acesso à justiça, impedindo a propositura de
uma ação.
Para tanto, argumenta-se que a proibição da parte em in-
gressar em juízo, configuraria carência de ação pela impossibi-
lidade jurídica do pedido.

63
A defesa do executado por meio de ações autônomas, p. 145.
64
Temos que o pedido de suspensão de uma execução proposta, no bojo de uma ação
autônoma, se trata inegavelmente de uma ação cautelar. E cautelar nominada, não
havendo mais que se falar em poder geral de cautela na medida em que prevista a
cautelar de suspensão no art. 489 do CPC. Sobre o tema, discorremos exaustiva-
mente em competência para atribuição de medidas cautelares. In Recurso Especial e
Extraordinário: repercussão geral e atualidades, Rogério Licastro (coord.). São Paulo:
Método, 2007.
65
Carpena, Do Processo Cautelar Moderno, p. 133.

98
ELSEVIER Capítulo 8 • Da Revisitação dos Princípios

Mas, uma vez proposta, nada impede a sua postulação,


sobretudo escorada nos argumentos da probabilidade de êxito
da demanda prejudicial.
Uma hipótese, aliás, conhecida de ação autônoma igual-
mente prejudicial à execução é a ação rescisória. Conforme a
nova redação do art. 489 do CPC, suspende-se a execução, com
a sua interposição, nos casos de perigo de dano. O TST, por
meio da Súmula no 405 chancelou a subsidiariedade:
I – Em face do que dispõe a MP no 1.984-22/2000 e
reedições e o art. 273, § 7o, do CPC, é cabível o pedido
de liminar formulado na petição inicial de ação rescisória
ou na fase recursal, visando a suspender a execução da
decisão rescindenda.
II – O pedido de antecipação de tutela, formulado nas
mesmas condições, será recebido como medida
acautelatória em ação rescisória, por não se admitir tu-
tela antecipada em sede de ação rescisória.
Quanto aos incidentes com a finalidade de represar uma
execução injusta, não podemos deixar de reproduzir a exceção
de pré-executividade.66
O principal a ser dito sobre tal medida neste tópico, é que:
• independe de prazo, podendo ser oposta antes da penhora,
após a penhora ou depois da penhora, não se sujeitando à
preclusão;
• independe da questão da inexistência de patrimônio,67 logo,
cabível em sede de obrigação de fazer ou de entregar coisa;
• independe da matéria, podendo veicular qualquer defesa,
desde que passível de prova sumária;

66
Por tudo, cf. Vezzoni, “Métodos de oposição ao título executivo: a manutenção da
exceção de pré- executividade na nova sistemática executiva”, p. 409 e segs.
67
Conquanto no mais das vezes seja aviada com este propósito: impedir a penhora ou
viabilizar a defesa a par da falta de patrimônio.

99
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

• versando sobre o perigo de dano e a fumaça do bom direito,


poderá instrumentalizar pretensão cautelar, como as demais ações.
Com relação aos embargos à execução, devemos asseve-
rar que não entendemos compatíveis com a CLT os arts. 475-
M e 739-A do CPC.
Quer dizer, sendo automaticamente suspensivos os embar-
gos opostos (e isso é um direito do executado), no máximo o que
poderá postular o reclamante é a supressão dos efeitos pela má-
fé, o que será abordado na continuidade ou, por aplicação do § 1o,
a realização da expropriação mediante caução do exeqüente:
Ainda que atribuído efeito suspensivo à impugnação é lícito
ao exeqüente requerer o prosseguimento da execução, ofere-
cendo e prestando caução suficiente e idônea, arbitrada pelo
juiz e prestada nos próprios autos.68
No mesmo sentido, a prescrição intercorrente e seu reco-
nhecimento de ofício por conta da nova redação do processo civil.
Malgrado, baseada no princípio da proteção, a resistência da
doutrina e da jurisprudência trabalhista, fato é que a inércia do
autor prejudica a pretensão, sendo inegável que a execução assim
efetivada é injusta ao devedor, posto que indevida. Logo, é vulnerado
o princípio da efetividade, já que a tutela estatal não será adequada.
A propósito disto:
Prescrição- argüição de oficio - art.219, § 5o do CPC. A partir
da data que entrou em vigor o novo regramento do instituto
prescricional , consubstanciado no §5o do art. 219 do CPC, com a
redação determinada pela Lei no 11.280/2006, vigente a partir de
17/05/2006, impõe-se decretar de ofício a prescrição quando a parte
é silente a esse respeito. TRT 12a R-3a T-RO no 968/2006.030.12.00-
6-Ac.n.896/07-Rel. Lilia Leanor de Abreu-DJ 12/02/2007.

68
Paralisa-se a arrematação, principalmente nos casos em que se demonstra a
irreparabilidade da transferência do bem (perigo de dano), mas não assim a penhora!

100
ELSEVIER Capítulo 8 • Da Revisitação dos Princípios

Mais um reflexo importante da efetividade versa sobre a


competência para a execução.
A propósito, forte na efetividade e no acesso à ordem ju-
rídica justa, entendemos compatível o disposto no art. 475-P,
parágrafo único, do CPC com a execução trabalhista, sempre
no intuito de facilitar o acesso do trabalhador ao seu crédito.
Ademais, as regras da competência esculpidas na CLT sempre
foram relativizadas no interesse do reclamante:
O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante:...
II – o juízo que processou a causa no primeiro grau de jurisdição.
Parágrafo Único. No caso do inciso II deste artigo, o
exeqüente poderá optar pelo juízo do local onde se encon-
tram bens sujeitos à expropriação ou pelo do atual domicílio
do executado, casos em que a remessa dos autos do processo
será solicitada ao juízo de origem.
Um outro desdobramento importante do Direito à tutela
executiva justa diz respeito à liberdade do juiz em usar a técnica
expropriativa mais eficaz à execução.
Assim, a par de aparentemente a arrematação judicial pre-
vista como técnica prioritária à adjudicação de bens; de não con-
templar a CLT a expropriação por iniciativa particular, todas estas
regras poderão ser remanejadas pelo juiz em prol da efetividade.
Explicamos. Tanto no CPC, como na CLT existem
regras relativas à fase de expropriação dos bens. Para a mai-
oria, possuem uma ordem de prioridade. 69 Mas o que dizer
de uma situação em que o devedor sabe do desinteresse do
exeqüente pela adjudicação e da inviabilidade da
arrematação do bem constritado? Não poderia postular o

69
Ronan Neves Koury, entendendo de forma contrária, aduz: a nova sistemática não
tem aplicação porquanto o art. 888, § 3o possui regra específica a respeito, determi-
nando a alteração da técnica expropriatória apenas na falta de licitante. “A Lei
11.382, de dezembro de 2006, e o processo do trabalho”, p. 93.

101
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

usufruto judicial prioritariamente, evitando os morosos e


onerosos editais?
Alguns admitem o cabimento do usufruto de modo prefe-
rencial e de ofício, por conta do princípio da proporcionalidade.70
A questão para nós, neste ponto, vai além das partes. Na rea-
lidade, interessa à justiça que a execução seja rápida, barata e justa.71
No usufruto o executado não perde o bem, mas a sua pos-
se para efeito de render frutos para o pagamento da dívida. Isso
inclusive poderia, no nosso sentir, incidir sobre o bem de famí-
lia que, a par de irrenunciável, não impede a entrega do bem
para satisfação através de sua renda. Não há perda da proprie-
dade nesse caso.
Com base nessa efetividade, igualmente cabível o reque-
rimento de penhora online antes mesmo da citação do execu-
tado, sempre que houver o perigo de dano.
Finalizamos esse tópico procurando demonstrar que o
manejo do princípio da efetividade no processo do trabalho pode
ser aplicado sem violar as disposições expressas previstas na CLT
ou no próprio CPC. Defendemos a harmonização dos siste-
mas e a colmatação das situações lacunosas por outras mais
eficazes. Mas em prol do processo mais adequado, mais efetivo,
não podemos admitir a aplicação claramente oposta ao dese-
nhado pela lei, ainda que sob a rubrica de lacuna axiológica.

5. Da proporcionalidade
Conforme mencionado, se é verdade que a execução é
realizada no interesse do credor, que apresenta uma posição de
proeminência pelo crédito (art. 612 do CPC), isso não exclui os

70
Ver Góes, “A base ética da execução por sub-rogação no processo civil brasileiro:
os princípios da idoneidade do meio e da menor onerosidade”, p. 105.
71
Guerra, op. cit., p. 105.

102
ELSEVIER Capítulo 8 • Da Revisitação dos Princípios

interesses do devedor, que deverá sofrer a menor restrição de


direitos possível em confronto com aquele.
Esse conflito, apontado especialmente nos incidentes da
execução como a ordem de bens a serem indicados, deve ser resol-
vido dentro de uma regra de ponderações. Ou seja, se é verdade
que a execução deve ser realizada no interesse do exeqüente, ha-
vendo mais de uma possibilidade aberta ao juiz, este deverá esco-
lher a menos gravosa ao executado. Trata-se de conciliar o binômio
necessidade/adequação.
Assim, se o devedor deve ter respeitado o mínimo à sua
manutenção e à de sua família, nada impede que, com base na
proporcionalidade, o juiz permita a penhora de valores que so-
bejem essa sobrevivência.
Em outros termos, contando o devedor com valores em
conta-corrente, a despeito de salariais ou não, uma vez que não
utilizados com o escopo de garantir a dignidade humana do
executado – garantir as despesas do mês –, ingressa com a ca-
racterística de patrimônio, penhorável, pois.72
Rogério Licastro,73 forte no argumento de que a execu-
ção não pode permitir que o devedor fique em uma condição
incompatível com a dignidade humana, destaca o veto aos
arts. 659, § 3o, e 650, parágrafo único do anteprojeto. Tais dis-
positivos previam a penhora de salários independentemente da
natureza alimentar do crédito, assim como a penhorabilidade
relativa do bem de família.
72
Daniel Amorim Neves, citando Celso Neves, para quem os valores são
impenhoráveis no limite do comprometimento da receita necessária à subsistência
do executado e sua família; Dinamarco, ao ponderar que a exclusão se dará apenas
sobre os valores suficientes e necessários à manutenção do devedor, mas não assim os
que sejam de grande monta; Leonardo Greco, ao defender a impenhorabilidade dos
bens percebidos e gastos no mesmo mês, mas não assim aqueles excedentes e não
utilizados. Impenhorabilidade de bens, op. cit, p. 61.
73
Licastro, op. cit., p. 39.

103
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

Pensamos, especialmente a vista dos demais ordenamentos,74


como o espanhol (Ley de Enjuciamento Civil, art. 607), que as
restrições estabelecidas em favor do devedor não podem
desconsiderar o direito do credor. Uma coisa é deixar o executa-
do sem o mínimo para prover as suas despesas ou sem um bem
compatível com a sua morada. Mas outra, muito diferente, é
permitir a penhora de percentual, no que sobejar a um teto es-
tabelecido em lei (no caso a previsão era da penhorabilidade de
até 40% do que ultrapassasse sete salários-mínimos), o que ape-
nas acomodaria as duas regras em jogo.
Estevão Mallet compartilha do mesmo entendimento,
criticando não apenas o veto, como a ampliação do rol de
impenhorabilidades no que se refere aos rendimentos produzi-
dos pelo trabalho, isto é, os ganhos do trabalhador autônomo e
os honorários do profissional liberal.75
Nesse sentido, a decisão do e. TRT da 15a R:
COLISÃO DE DIREITOS F UNDAMENTAIS
– PROVENTOS – BENS PENHORÁVEIS. É
VÁLIDA A PENHORA DE PROVENTOS DE
BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS, COM-
PROVADA A INEXISTÊNCIA DE OUTROS
B E N S Q U E G A R A N TA M O C R É D I T O
TRABALHISTA,VEZ QUE ESTE GOZA DO
STATUS DE ALIMENTAR, NÃO SENDO RA-
ZOÁVEL SACRIFICAR TOTALMENTE UM
DIREITO F UNDAMENTAL EM FAVOR DE
OU TRO. ESTA É A DECORRÊNCIA DA
APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA UNIDA-
DE DA CONSTITUIÇÃO, DA CONCORDÂN-
CIA PRÁTICA, DA PROPORCIONALIDADE

74
Neves, “Impenhorabilidades de bens”, p. 47.
75
“Anotações à Lei no 11.382, de 6 de dezembro de 2006”, Revista do Tribunal
Superior, v. 73, no 1. jan-mar. 2007, p. 79.

104
ELSEVIER Capítulo 8 • Da Revisitação dos Princípios

E DA RAZOABILIDADE PARA O CASO DE


COLISÃO DE DIREITOS F UNDAMENTAIS.
Ac. TRT n o 0215/2002. 76
Teresa Aparecida Asta Geminignani77 trabalha com o pro-
blema do conflito entre a penhora de verbas salariais em prol de
verbas da mesma natureza. Ilustra, com as não raras situações em
que o empregador encerra as suas atividades empresariais, pas-
sando à condição de empregado de outra empresa.
Veja, não se trata de perceber o executado um padrão sa-
larial elevado, como colocado alhures. Mas de contar com uma
remuneração proporcional a um médio padrão de vida, sufici-
ente para respaldar a dignidade humana.
Nesse caso, envolvendo interesses salariais iguais das duas
partes,78 sustenta a autora que o julgador não deverá simples-
mente aplicar a regra, mas “(...) socorrer-se dos princípios cons-
titucionais como bússolas de orientação”.79
De modo que, uma forma de compensar os interesses em
jogo – valorização do trabalho, recebimento de salários e legali-
dade – seria a aplicação sempre de um percentual que não

76
RDT, no 6, 2002, p. 44-6. Interessante colacionar o trecho do acórdão em que
fixada as bases para o pagamento: “(...)...torna-se válida a realização da constrição
judicial dos benefícios previdenciários do executado, respeitando-se o limite máximo
mensal de um salário mínimo, até a integral quitação da dívida, como o único meio
para a concretização do crédito trabalhista.”
77
“Penhora sobre salários, proventos da aposentadoria e poupança – O princípio da
legalidade e da utilidade da Jurisdição”. Revista LTr, ano 71, ago. 2007, p. 957.
78
Nelson Nazar, comentando o conflito entre a impenhorabilidade do bem de
família e o crédito alimentar salarial, assim se posiciona: “(...) quando estamos diante
do crédito alimentar ou do débito alimentar-se nos referimos propriamente à relação
de emprego –, o exame da lei que trata do resguardo ao bem de família deve ter
presente critérios de valores superiores estabelecidos em princípios. Isso nos impõe,
constantemente, uma interpretação restritiva, sempre que possível, privilegiando o
débito com reação ao alimento ou à sobrevivência daquele que trabalha dentro do
princípio informador das regras de proteção que norteiam o Direito do Trabalho
(...)”. Tendências de Direito Material e Processual do Trabalho, p. 271.
79
Germinignani, op. cit., p. 959.

105
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

comprometa os direitos do executado, bem como a inexistência


de outros bens para garantia da dívida.
Em contrapartida, excluímos dessa tese as importâncias
depositadas em caderneta de poupança. Embora inseridas como
parcela impenhorável, temos que não se inserem no conceito
verba de natureza alimentar.80
O mesmo raciocínio deve ser aplicado quanto aos instru-
mentos de trabalho. Sendo de alto valor, poderão ser alienados
e, com o produto da venda, adquirido outro de menor valia, mas
de mesma funcionalidade, quitando a dívida.81
A recíproca também é verdadeira. Independentemente de
se tratar de pessoa física, firma individual ou microempresa, respal-
da a dignidade humana do executado, a proibição da penhora dos
instrumentos de trabalho. O projeto anterior, que se converteu na
nova legislação, previa a hipótese, igualando as situações. Todavia,
sem maiores razões, acabou-se mantendo a redação atual.82
Quanto à ordem de bens prevista no art. 655 do CPC,
algumas questões devem ser examinadas à luz do princípio ora
em comento.
Primeiro. A posição que estabelece a ordem de bens como
um dogma.
O argumento é de que interessa à justiça a penhora de di-
nheiro, já que excluindo a expropriação fica reduzido o procedi-
mento. Todavia, desconsidera por completo a possibilidade de a
execução satisfazer o exeqüente sem vulnerar o executado.83
Lógico que a penhora de dinheiro é infinitamente mais
célere, já que dispensa a expropriação. Por outro lado, ninguém

80
Nessa linha, Daniel Natividade e Narbal Antonio de Mendonça Fileti. “Penhora
de salário” Revista LTr, ano 71, no 02/2007, p. 185.
81
Aspecto esse muito bem apontado por Daniel Amorim, op. cit., p. 214.
82
Marina Vezzoni, “Ainda sobre o anteprojeto”, p. 203, RT, ano 23, mar. 2006.
83
Não são raros os julgados que atribuem apenas ao credor, a possibilidade de alterar
a ordem de nomeação, restando ao executado apenas segui-la.

106
ELSEVIER Capítulo 8 • Da Revisitação dos Princípios

duvida que muitas vezes poderá acarretar prejuízos de monta e


desnecessários ao devedor.
Por tais razões é que a jurisprudência civilista é restritiva
quanto à penhora de faturamento de empresa, que deverá ser
excepcional, ou seja, apenas na ausência de outros bens, em
montante que não comprometa a sua continuidade. Sugerem
como limite entre 25 e 30%.
Pensamos que a penhora no faturamento não deverá ser
excepcional, mas regrada. Desde que nomeado perito adminis-
trador para equalizar os valores a serem pagos conforme os ba-
lanços, sem exclusão da sobrevivência da empresa, sobretudo
dos seus quadros funcionais, deve ser admitido.
A OJ da SDI-II enveredou para essa tese: “É admissível a
penhora sobre renda mensal ou faturamento da empresa, limi-
tada a determinado percentual, desde que não comprometa o
desenvolvimento regular de suas atividades.”
Na mesma linha, a penhora preferencial dos bens gra-
vados por hipoteca, nos termos do art. 655, § 2 o, do CPC.
Seria proporcional a penhora e a alienação de um bem pra-
ticamente quitado? Não poderia ser outro o bem a ser
ofertado?
Os tribunais mitigam os rigores da norma para favorecer
o credor, ou seja, dispensando a penhora sobre o próprio bem se
este perecer ou perder sensivelmente o seu valor em relação ao
crédito. Mas vedam a prerrogativa ao executado. Assim:
PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO. INEXISTÊNCIA
DOS BENS DADOS EM PENHOR NA OPORTU-
NIDADE DA EXECUÇÃO. PENHORA DE
OU TROS BENS DOS DEVEDORES.
INOCORRÊNCIA DE VIOLAÇÃO DOS ARTS.
655, § 2o, E 620 DO CPC. RECURSO NÃO CO-
NHECIDO.

107
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

I – Assentado o fato de que na oportunidade da execu-


ção não existiam mais os bens dados em garantia
pignoratícia, não viola os arts. 655 e 620, do CPC a
concretização da penhora sobre outros bens dos devedo-
res (REsp 309545/SP, Quarta Turma, STJ, Rel. Sálvio
de Figueiredo Teixeira, DJU. 09/09/2002, p. 230)
É sabido que a execução se dá no limite do crédito
exeqüendo,84 devendo haver perfeita correlação entre o cré-
dito e o patrimônio. No entanto, a própria legislação admite
a ruptura da regra: assim os novos termos do art. 656, § 2o,
do CPC, já mencionado, ao prever o acréscimo de 30% ao
crédito exeqüendo, o que vale dizer, que a penhora poderá
incidir sobre um bem de maior valor do que a dívida.
Logo, com base no princípio da proporcionalidade e da
limitação, a doutrina admite que o devedor também entregue
para penhora um bem inferior ao do crédito exeqüendo.
Ainda sobre a fiança bancária, entendemos que viola a
proporcionalidade, a substituição pelo juiz quando se tratar de
dinheiro depositado (e não outro bem!).
Na mesma linha, rechaçando o entendimento que a pe-
nhora de precatório se iguala à penhora de dinheiro:
AGRAVO DE PETIÇÃO. SUBSTITUIÇÃO DE
BEM IMÓVEL POR CRÉDITO DECORRENTE
DE PRECATÓRIO CONTRA A UNIÃO. A
constrição de expectativa de recebimento mediante
precatório contra a União não gera a mesma efetividade
para o exeqüente que a penhora de bem imóvel nos
autos, cabendo a resguardar a disponibilizarão de valo-
res decorrentes do precatório e depositar o valor à
disposição do juízo trabalhista. (Ac. 0074-1997-005-
04-00-8 AP, TRT 4a R, Sétima Turma, Rel. Maria da
Graça Ribeiro Centeio).
84
Licastro, op. cit., p. 41.

108
ELSEVIER Capítulo 8 • Da Revisitação dos Princípios

A norma deve ser pensada ainda, impedindo a maior


gravosidade da execução no que toca ao preço vil. Arakem de
Assis aponta,85 com o recurso da analogia, a aplicação do
art. 701 do CPC, absolutamente compatível com a execução
trabalhista. Logo, verificando o juiz que o lanço não alcança
80% do valor do bem, deverá buscar outra forma, menos onero-
sa, de expropriação.
Contudo, veja jurisprudência do TRT, 2a R:
Execução. Penhora. Em geral. Preço Vil. Registre-se,
inicialmente, que a arrematação respeitou os termos do
art. 888 da CLT, ou seja, foi efetuada pelo valor do
maior lanço oferecido em leilão. Saliente-se, ainda, que
a análise do preço vil possui caráter subjetivo, não ha-
vendo como se estabelecer uma regra, na medida em
que a CLT (art. 888) e o CPC (art. 692) nada dispõem
acerca de que percentual do valor avaliado seja conside-
rado razoável para a arrematação. Por outro lado, verifi-
cando que o preço estava muito abaixo da avaliação,
poderia ter a executada se valido da faculdade prevista
no art. 651 do CPC e remido a execução. Por fim, o
valor da arrematação atingiu mais de 30% do valor da
penhora, percentual que não torna vil a adjudicação.
Apelo não provido. Ac. 20060899624, Apet, Quarta
Turma, rel. Odette Silveira Moraes, j. 07/11/06.

6. Do contraditório
Pode causar estranheza a inserção do princípio constitu-
cional do contraditório entre os revisitados.
Em primeiro lugar, não podemos deixar de assinalar que
todos os princípios infraconstitucionais, executivos ou não, de-
vem se acomodar junto aos constitucionais, formando um mo-
delo constitucional de processo.
85
Assis, Manual do Processo de Execução, p. 749.

109
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

Nessa senda, tratamos em tópicos próximos os que repu-


tamos mais importantes a serem considerados, sobretudo à luz
de novas questões.
São eles: a efetividade, a proporcionalidade e o contraditório.
E por que isso? Porque durante muito tempo vigoraram
três premissas falsas:
1a. Que o contraditório dirige-se apenas às partes, quando na
verdade o juiz também deve participar do diálogo processual;
a
2 . Que não há contraditório na execução;
3a. Que contraditório significa contestação, resposta.
R. Ives Braghittoni,86 em interessante estudo, comenta
que foi Tarzia87 um dos primeiros a sustentar o contraditório na
execução, conquanto (...) parcial e atenuado, mas nem por isso
inexistente.
De fato, embora detenha o exeqüente uma posição proe-
minente no que se refere aos atos executivos, isso não afasta
nem exclui a isonomia ínsita às partes. Igualdade, no sentido
do acesso a uma tutela justa.
Aliás, para o próprio credor é de grande valia o entendi-
mento de que haverá contraditório na execução, posto que a ele
também se dirige.
Não são raras as situações a envolver o exame superficial,
nos autos, pelo juiz, quanto à ordem de bens na penhora, à
inexistência de título através de exceção de pré-executividade,
entre tantas outras.
Assim, contraditório é reação possível e não apenas res-
posta, o que pode ser efetivado pelo autor ou pelo réu, ante as
posturas ativas do juiz.

86
Braghittoni, O Princípio do Contraditório no Processo, p. 152.
87
Indica o artigo datado de 1978, “Il Contradittorio Nel Processo Esecutivo”. In
Rivista de Dirito Processuale, Padova, Cedam.

110
ELSEVIER Capítulo 8 • Da Revisitação dos Princípios

7. Da lealdade e da boa-fé
Nesse contexto, não podemos deixar de considerar a ques-
tão consectária à responsabilidade. Seriam as hipóteses de frau-
de à execução e dos efeitos dos embargos, especialmente na
esfera trabalhista.
Regulados nos arts. 600 e 601 do CPC lastreiam-se na
inarredável postura ética que as partes deverão ostentar a todo o
momento e em qualquer justiça.88
Como já apontado nas linhas gerais sobre a execução ci-
vil, a fraude à execução dependerá, à luz do novo sistema, do
autor averbar a distribuição da ação ou penhora realizada
(art. 615-A) nos registros de bens.89 Nesse caso a lei presume,
de modo absoluto, que o terceiro sabia ou podia saber da
constrição, respondendo como responsável subsidiário.
Para alguns, em razão do princípio da disponibilidade,90
contando o credor com a execução aparelhada em seu favor, a
nova regra sujeita ainda mais o devedor, já que poderá ter con-
tra si os registros efetuados pelo autor, dificultando a aliena-
ção de seus bens.
De outra parte, o legislador buscou enfatizar a importân-
cia da boa-fé no processo, de modo que o terceiro apenas res-
ponda subsidiariamente na medida em que saiba ou possa saber
da existência da constrição.91

88
Nesse sentido, Daniel Amorim Neves. “Princípios do processo de execução”. In
Revista Dialética de Direito Processual, p. 47.
89
Mallet entende absolutamente compatível a nova regra com o processo do traba-
lho, inclusive no que toca à responsabilidade do reclamante pelo abuso. Op. cit.,
p. 85. No mesmo sentido, José Augusto Rodrigues Pinto. “A hora e a vez da unifi-
cação dos processos civil e trabalhista”, p. 30.
90
Enquanto princípio revistado proposto por Licastro, op. cit., p. 45.
91
Teori Zawascki entende que há um dever social das partes consultarem os cartórios
de distribuição.

111
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

Isso se dá, entre outros aspectos, na busca da segurança


das relações negociais.92
A despeito de vozes em contrário,93 não nos parece com-
patível a regra com o processo do trabalho.
Não que a boa-fé não seja um princípio tão aplicável à
Justiça do Trabalho quanto à civil. No entanto, conferir ao re-
clamante94, parte hipossuficiente, tal mister, isso sem mencio-
nar os encargos econômicos correlatos, seria demasiado. Na
realidade, a doutrina talvez tenha desconsiderado que a falta do
gravame se voltará contra o próprio reclamante que, não se
desincumbindo, carreará o ônus da prova para si, devendo mos-
trar que o terceiro e o devedor agiam de má-fé.
Nada obstante, compilamos a posição da jurisprudência
trabalhista quanto ao ônus da prova na fraude:
Fraude de execução – Caracterização. Restando
incontroverso nos autos que a transferência do bem
objeto da constrição judicial ocorreu posteriormente
ao ajuizamento da reclamatória, presume-se a má-fé do
devedor, estando caracterizada a fraude à execução
(CPC, 593, II). Cumpre ao terceiro prejudicado pro-
duzir prova robusta e induvidosa para elidir a presunção
de fraude. TRT 12a R, AG-PET-06018/01-Ac. Segun-
da Turma 12076/01 – Rel. Juiz Jorge Luiz Volpato,
DJSC 23/11/01, p. 176.
Fraude a execução. Caracterização. Para caracterizar a fraude
a execução basta a transferência do patrimônio do devedor

92
PROCESSO CIVIL. FRAUDE A EXECUÇÃO.TERCEIRO DE BOA-FÉ.
A ineficácia proclamada pelo art. 593, II, do CPC, da alienação do imóvel não pode
ser oposta a terceiros de boa-fé. Embargos conhecidos mas não providos. EREsp
144190/SP, 2a S do STJ, Rel. Min. Ari Pargendler, DJU 01/02/2006, p. 427.
93
Como exposto em nota, Mallet e Rodrigues Pinto.
94
O que não afasta, agora com maior substrato jurídico, a prática de alguns TRTs,
consistentes na expedição de ofícios para a indisponibilização de bens do executado,
para o Detran, registros de imóveis.

112
ELSEVIER Capítulo 8 • Da Revisitação dos Princípios

depois de proposta a ação, de forma a inviabilizar o pro-


cesso executivo ( inteligência do art.593, II CPC). TRT
3a R- 2a T-Ap 479/2006.106.03.00-8.Rel. Anemar Pe-
reira Amaral.
Isso não exclui, de qualquer modo, a responsabilidade
do devedor em arcar com a multa estabelecida nos arts. 600
e 601, cujo fato gerador não tem qualquer relação com a
nova disposição. Basta a transferência do bem para incidir a
multa.
Apesar de se tratar de desacato à corte, essa multa será
imputada no crédito do exeqüente, não se convolando em dívi-
da ativa em favor do Estado.
No mesmo sentido a exclusão do efeito suspensivo dos
embargos. Dissemos que tais embargos na esfera trabalhista
continuam impedindo a fluência da execução enquanto não
julgados. Tanto é assim que os arts. 886 e 887 da CLT, inclusive
em seus parágrafos, pontuam que apenas após a oitiva das tes-
temunhas é que será julgada subsistente a penhora e avaliados
os bens.
No entanto, forte no princípio da boa-fé e no disposto
no art. 273, II, do CPC, retomamos a doutrina utilizada ou-
trora no processo civil, para suprimir o efeito suspensivo dos
embargos do executado no processo do trabalho.
Como apontado, a antecipação dos efeitos da tutela tam-
bém incide quando há má-fé do executado, que opõe os embar-
gos à míngua de qualquer argumento consistente, apenas com
o claro propósito de paralisar a execução.
Nesse sentido, poderá a penhora se completar assim como
a avaliação, seguindo-se do levantamento de quantia ou expro-
priação de bens.
Advertimos, no entanto, que o juiz deverá exigir caução do
exeqüente, uma vez que os embargos poderão ser julgados proce-
dentes, desconstituindo o título. A ressalva ficaria por conta das par-

113
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

celas inferiores a 60 salários-mínimos que, contando com natureza


alimentar, podem ser levantadas a despeito de garantia.95
A responsabilidade, nesse caso, não se escora na inten-
ção ou não do credor em causar prejuízo ao executado, mas no
simples fato de prosseguir com uma execução lastreada em um
título provisório.96 Trata-se de responsabilidade objetiva.97
Mister considerar que só serão compatíveis as regras da
execução provisória do art. 475-O do CPC,98 notadamente no
plano da disposição de bens, na exata medida em que admitida
a interpretação extensiva e a aplicação do princípio da
efetividade ao estabelecido no art. 889 da CLT: “Os recursos
serão interpostos por simples petição e terão efeito meramente
devolutivo, salvo exceções previstas neste Título, permitida a
execução provisória até a penhora.”
Logicamente, a disposição celetista era respaldada no
modelo liberal, forte na segurança jurídica.
Destarte, a execução provisória também deve ser pensada
de modo revisitado, 99 para fazer face à necessidade de
harmonização entre os interesses do exeqüente e do executado.
A responsabilidade objetiva como exposto por
Scarpinella,100 ante o risco da alteração do provimento, não po-
derá deflagrar a execução provisória de ofício, inclusive na tra-

95
Art. 475-O do CPC.
96
Qualquer título, seja uma decisão interlocutória antecipada ou em uma sentença.
Vale lembrar que o cumprimento das sentenças e liminares cautelares, por se sujeitar
ao resultado do processo principal, importa na mesma responsabilidade nos termos
do art. 811 do CPC. Finalmente, a caução não pode ser obstáculo à efetivação
sempre que o título esteja baseado em uma situação de perigo.
97
Assis, Manual do Processo de Execução, p. 312.
98
Tese essa aprovada no Seminário As Recentes Mudanças do CPC e suas Implicações
no Processo do Trabalho (TRT 15a R, 04/08/2006).
99
No mesmo sentido, Marcelo Freire S. Costa, Reflexos da reforma do CPC no
processo do trabalho, p. 85.
100
Bueno, “Variações sobre a multa do caput...”, p. 128 .

114
ELSEVIER Capítulo 8 • Da Revisitação dos Princípios

balhista, onde os dispositivos devem ser interpretados com base


na execução definitiva (art. 878 da CLT).101
Ainda sobre a boa-fé, defendemos o cabimento da multa
por ato atentatório no processo do trabalho, sempre que os
embargos forem opostos de modo protelatório.
Além do princípio agitado, dispõe o art. 740, parágrafo
único, do CPC,102 expressamente sobre tal possibilidade:
(...)
Parágrafo Único. No caso de embargos manifestamente
protelatórios, o juiz imporá, em favor do exeqüente, multa ao
embargante em valor não superior a 20% do valor em execução.
Logo, mesmo que o reclamado não responda por ato
atentatório pela não indicação de bens:
• sujeitar-se-á a multa se proceder com fraude à execução ou
pela oposição de embargos protelatórios.
Ainda que beneficiado pelos efeitos ex lege dos embargos:
• sofrerá as conseqüências da exclusão dos efeitos dos em-
bargos com a antecipação dos efeitos da tutela em razão da
má-fé perpetrada;
• pagará a multa por desacato à corte, quando manifestamente
protelatórios.
Não apenas em sede de responsabilidade objetiva há
conseqüências processuais, mas em qualquer situação em que
se verifique o abuso do Direito Processual.
Para tanto, basta um comportamento incorreto, aparente-
mente legal, tomado no exercício livre (não vinculado) de uma
situação jurídica subjetiva (direito ou poder de ação) e desvio de
finalidade (o interessado não visa à tutela jurisdicional, mas utili-
za o processo com o fim de aborrecer a parte contraria).103

101
Marcelo Freire S. Costa também compartilha dessa tese. Op. cit., p. 89.
102
Na mesma linha, Zangrando. “A reforma do processo de execução e suas
repercurssões no processo trabalhista”, p. 7.
103
Abdo, O abuso do processo, p. 146.

115
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

Helena Abdo,104 comentando o abuso do processo, des-


taca as hipóteses em que o credor, ciente da existência de ou-
tros bens da empresa, pede e obtém a constrição sobre o
estabelecimento comercial, causando ao executado um gravame
desnecessário.
Não se trata apenas da questão da execução menos gravosa,
mas especialmente do abuso empreendido pelo exeqüente.
Na mesma linha, a apresentação de cálculos em montan-
te muito superior ao da dívida.105
Sabemos que nesta hipótese o sistema processual ci-
vil exige a garantia prévia para ulterior oposição. Não seria
uma situação clara de abuso processual, vez que a parte sabe
que o executado somente poderá se defender em momento
processual muito posterior e necessariamente mediante
penhora?
No processo do trabalho, este exemplo seria de configu-
ração mais restrita, já que a parte dispõe da impugnação aos
cálculos.
Contudo, não aberta pelo juiz à faculdade da impugnação,
a procedência dos embargos pelo excesso de execução poderá
confirmar o abuso!
Por fim, devemos expressar a importância do art. 574
do CPC, no que se refere à execução injusta, qual seja, aque-
la em que se tenta obter o que não é devido ou mais que o
devido:
O credor ressarcirá ao devedor os danos que este sofreu quan-
do a sentença, passada em julgado, declarar inexistente, no
todo ou em parte, a obrigação que deu lugar à execução.

104
Abdo, op. cit., p. 221.
105
O que chancela, vez mais, a nossa posição sobre o cabimento da exceção de pré-
executividade no processo civil.

116
ELSEVIER Capítulo 8 • Da Revisitação dos Princípios

8. Princípio da Aplicação Subsidiária


Marcelo Freire Sampaio Costa106 discorre em sua obra
acerca do que denominou de princípio da subsdiariedade.
Não vamos nos repetir aqui acerca dos comentários teci-
dos sobre a questão, mas não podemos concluir o tema sem
explicitar o problema da revisitação no âmbito dessa
subsidiariedade.
Significa, como sustentado igualmente por outros autores,
a revisão da técnica de acomodamento da regra civilista à traba-
lhista, dando-se uma nova leitura aos arts. 769 e 889 da CLT.
De modo que o intérprete apenas estaria atendendo aos
princípios constitucionais comuns, mormente o da duração ra-
zoável do processo, na exata medida em que harmonizasse as
várias fontes de Direito, sem se preocupar se haveria ou não a
omissão e a incompatibilidade.
É dizer: ou bem se coloca em uma interpretação
propositiva, buscando a interpretação conforme a Constitui-
ção, até mesmo ao arrepio das regras expressas em sentido con-
trário, ou mantém uma visão clássica, desatrelada do
compromisso de efetividade do processo e do acesso à ordem
jurídica justa.
Não pensamos assim. Até por coerência do que entende-
mos por princípio, como uma técnica valorativa mutável e fle-
xível no caso concreto, há possibilidade de se dar uma aplicação
consentânea com os ideais da Constituição, em que pese res-
peitadas determinadas regras expressas aparentemente em con-
trário. Basta, para tanto, acomodá-la com outras normas, sem
derrogá-las ou revogá-las.

106
Costa, op. cit., p. 29.

117
CAPÍTULO 9

A EXECUÇÃO COLETIVA

Inserimos neste tópico a execução coletiva não apenas


por motivos pragmáticos, mas especialmente em virtude de cons-
tituir o tratamento processual coletivo um consectário impor-
tante do princípio da efetividade.
Isso se dá pela possibilidade de resolução de um conflito
de massa ou de uma reunião de interesses individuais em uma
única relação processual.
Facilitando e muito o acesso à justiça pela potencialidade
da via coletiva, igualmente efetiva deverá se mostrar a realiza-
ção material da decisão jurisdicional.
Não é de agora que o sistema trabalhista conta com a
previsão de um modelo de execução nesse padrão, qual seja,
a normativa (art. 872 da CLT), operada pela via da ação de
cumprimento.
Além da previsão dos dissídios coletivos, a hipossuficiência
dos obreiros sempre se mostrou um terreno fértil ao surgimento
de interesses metaindividuais.
Isso leva ao entendimento que os interesses dos traba-
lhadores terão um resultado muito melhor se instrumentalizados
em conjunto.1
Pensamos que o procedimento da ação de cumprimento será
totalmente compatível com qualquer sorte de sentença coletiva

1
Couto, “Efetividade da execução e da liquidação da tutela jurisdicional coletiva na
área trabalhista e o código brasileiro de direitos coletivos”, p. 292.
ELSEVIER Capítulo 9 • A Execução Coletiva

exarada,2 a despeito de resultar de um conflito trabalhista ou não;


de uma sentença normativa proveniente de um dissídio ou de uma
sentença oriunda de uma ação civil pública ou coletiva.3
De fato, haverá de ser integrado com o sistema coletivo
do CDC, da Lei no 7.347/1985 e da Ação Popular, a CLT e o
CPC, subsidiariamente.
Haverá de integrar-se, ademais, aos princípios correlatos
do processo coletivo enquanto ramo autônomo, quais sejam:4
• Princípio da máxima amplitude da tutela jurisdicional co-
letiva: art. 83 do CDC;
• Princípio da obrigatoriedade da execução coletiva pelo Mi-
nistério Público;
• Princípio da efetiva prevenção e reparação de danos causa-
dos aos direitos metaindividuais;
• Princípio da maior coincidência possível entre o Direito e sua
realização;
• Princípio da atipicidade das medidas executivas no modelo
coletivo.
E por que isso? Até agora, analisamos um modelo de cu-
nho individual, pelo que a omissão das regras celetistas gera-
vam a aplicação da LEF e do CPC.
No plano metaindividual é diferente. Na verdade, há dois
subsistemas bastante diferenciados. Um individual e o outro co-
letivo. Esse é integrado das leis reguladoras dos processos coleti-

2
Contra, Francisco Antonio. Para o autor, a ação de cumprimento possui requisitos
próprios, sendo que conta com uma fase de conhecimento. Op. cit., p. 255. Não
discordamos disto. O fato é que a existência do dano, como de uma convenção
coletiva, não mais se discute, ficando a instrução relegada para a prova do direito
individual.
3
Zawancki, com o costumeiro acerto, utiliza para a liquidação e execução das parce-
las decorrentes de ações coletivas da terminologia ação de cumprimento.
4
Com mais detalhes, cf. Gregório Assagra Almeida, “Execução coletiva em relação
aos Direitos Difuso, coletivos e individuais homogêneos”, p. 324.

119
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

vos e subsidiariamente pelo CPC. Esse último, aliás, apenas será


aplicado na omissão e na compatibilidade do sistema coletivo.
No que toca ao processo do trabalho, a mesma linha de-
verá ser observada, contudo: a parte sobre processos coletivos
da CLT deverá ser integrada primeiramente (antes do CPC,
portanto) ao subsistema do CDC, da Lei da Ação Civil Pública
e da Ação Popular.5
Devemos demonstrar o que entendemos por processo
coletivo. Trata-se do arcabouço regulador dos instrumentos de
veiculação de direitos metaindividuais, quais sejam, os difusos,
coletivos e individuais homogêneos.
Difusos são os interesses de todos e de ninguém. São
indivisíveis e impassíveis de divisão, com titulares indeterminados
e com a mesma origem fática.
Exemplificamos, com o meio ambiente ou o patrimônio
público.
Coletivos são os indivisíveis em um primeiro momento,
mas passíveis de divisão. Decorrem de uma mesma base jurídi-
ca, ou seja, há entre os titulares e o causador da lesão algum
vínculo jurídico. Por exemplo, todos os trabalhadores da fábrica
poluidora que não contam com o adequado EPI.
Já os individuais homogêneos não são metaindividuais,
senão que artificialmente, vez que instrumentalizados na for-
ma coletiva. Na verdade, são absolutamente individuais e divi-
síveis, decorrendo de um mesmo fato comum. Entre os lesados
e o causador do dano não há qualquer vínculo.
Poderíamos, sinteticamente, descrever o sistema coletivo
desta forma:6
5
É o que nomina Bezerra Leite de jurisdição trabalhista metaindividual. Processo
Civil Coletivo, p. 540.
6
Inspirados por Teori Zavascki, em Processo Coletivo, tutela de direitos coletivos e
tutela coletiva de direitos.

120
ELSEVIER Capítulo 9 • A Execução Coletiva

• ACP: tutela de direitos metaindividuais


Base legal: Lei no 737/1985 e CDC.
Variantes: Lei de Improbidade, Meio Ambiente, Porta-
dor de Deficiência, ECA e Estatuto do Idoso.
Legitimação: ampla dos representantes adequados(art. 5o).
• Ação Coletiva ou de Classe: tutela coletiva de direitos individuais
Base legal: CDC.
Legitimação: restrita ao interesse social ou quando se tra-
tar de uma tutela superior.
• Ação Popular: tutela de direitos coletivos pelo cidadão.
Base legal: CF e Lei no 4.717/1965.
• MS Coletivo: tutela de direitos coletivos e tutela coletiva
de direitos individuais.
Base legal: CF.
Legitimação: mais restrita
• ADIN/ADECON: tutela do Direito objetivo com reper-
cussão na sociedade.
Não apenas por força da ampliação da competência da Jus-
tiça do Trabalho, pois, mesmo antes, dúvida não havia sobre a
legitimidade do Ministério Público do Trabalho, entre outros le-
gitimados para a defesa de direitos coletivos dos trabalhadores.
A dúvida ficava por conta de quais direitos poderiam ser
protegidos pelo parquet.
Osmar Mendes Paixão Côrtes7 expõe a divisão no âmbi-
to do TST, especialmente no que se refere à defesa dos interes-
ses individuais homogêneos pelo órgão ministerial. Tal se dá, pela
interpretação literal emprestada ao art. 83, III, da LC no 75/1993.8

7
Côrtes, “Legitimidade do MPT – Interesses Difusos, Coletivos e Individuais Ho-
mogêneos”, p. 530.
8
“Compete a este órgão promover a Ação Civil Pública no âmbito da Justiça do
Trabalho, para a defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos
sociais, constitucionalmente garantidos.”

121
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

Bezerra Leite, com propriedade, recorda que a expressão


interesses individuais homogêneos só surgiu no cenário jurídi-
co a partir do CDC. Logo, natural que o legislador constituin-
te, e com razão maior o da lei complementar, não se utilizasse
da expressão com todo o rigor técnico.9
Na realidade, o que importa é verificar se a natureza do
direito individual protegido é exclusivamente individual, ou se
desborda para o plano social (inclusive no que toca ao número
de pessoas lesadas). Mais ainda, se esses direitos, conquanto
individuais, possuem notas de indisponibilidade.
Alguns autores, mormente em consideração à função so-
cial do processo do trabalho, excluem a necessidade da reper-
cussão social e da indisponibilidade.
Defendem que a instrumentalização coletiva de direitos
trabalhistas de cunho individual democratizariam o acesso à
justiça, sem embargo de reduzirem, sensivelmente, a quantida-
de material de demandas que atravancam os serviços das secre-
tarias.10
Complementam, destacando a legitimação concorrente
do MP com os sindicatos e associações legitimadas, inclusive
por força de disposição constitucional.
A propósito, trazemos o julgado que segue:
Ação Civil Pública – Cabimento – Legitimidade do
MPT – alegação de que a empresa nega-se a registrar
empregados e proceder aos depósitos do Fundo de Ga-
rantia – Réu revel – arts. 127, caput, e 129, III e IX, da
CF e arts. 6o, VII, d, e XII; 83, III, e 84, caput, e V, da
Lei Complementar no 75/1993 – Noticiando a petição
inicial, em ação civil pública na qual o réu sequer apre-

9
Bezerra Leite, “Ação Civil Pública e Tutela dos Interesses Individuais Homogêneos
dos Trabalhadores em Condição de escravidão”, p. 539.
10
Idem, p. 552.

122
ELSEVIER Capítulo 9 • A Execução Coletiva

sentou defesa, um procedimento genérico e continua-


do de desrespeito a direitos trabalhistas elementares,
consistente na negativa de formalizar as relações de
emprego mantidas e de proceder aos depósitos do Fun-
do de Garantia, não obstante reiteradas notificações e
intimações por parte tanto do MTB quanto do MPT,
tem-se como cabível a medida judicial intentada e como
parte legítima, para o ajuizamento, o MPT, com am-
paro nas normas mencionadas em epígrafe. TRT, 4a
R, Rel. Dionéia Amaral Silveira, 24/10/2001.11
Dizemos mais,12 não somente para a defesa de direitos
trabalhistas, mas para qualquer sorte de interesses metaindividuais
ou individuais homogêneos dos trabalhadores, inclusive no que se
refere aos portadores de deficiência, crianças e adolescentes e
consumidores.13
A lei da Ação Civil Pública regula a execução dos inte-
resses metaindividuais nos arts. 11 ao 13. O CDC, por seu tur-
no, trata da efetivação dos interesses individuais homogêneos
nos arts. 97 a 100, de forma mais profunda.
Por esses dipositivos, uma vez havendo uma condenação
genérica em uma sentença de natureza transindividual, com-
pete aos lesados individualmente e a seus sucessores (transpor-
te in utilibus da coisa julgada) buscar os seus danos individuais,
a serem provados em correlata liquidação.

11
Revista do MPT, ano XII, p. 507.
12
Com respaldo das lições de Bezerra Leite. Op. cit., p. 540.
13
Em sentido contrário, v. TRT, 2a R: AÇÃO CIVIL PÚBLICA. GERAL. Cabí-
vel para a defesa de interesse difuso ou coletivo, mas não para tutela de direito
individual, ainda que homogêneo (art. 1o,V, e parágrafo único, Lei no 7.347/1985, e
art. 81 da Lei no 8.078/1990). Recurso ordinário improvido, porque correto o
indeferimento da petição inicial em que o sindicato postula os salários em atraso
através de meio processual idôneo (Ac.20060724085, Sétima Turma, Rel. Catia
Lungov, j. 14/09/2006.

123
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

E será mesmo uma ação, pois em que pese indiscutível o


dano, haverá de ser provado o nexo de causa e efeito entre esse
e o dano individual da vítima. Terá, ainda, que se apurar o que e
de quanto se trata.
Indaga-se, acerca de tais, se a ação poderia ser intentada
pelo legitimado coletivo, por exemplo, o sindicato. Desde que
devidamente autorizado, por procuração específica, parece contar
com tal possibilidade.
Poderá, ademais, ser intentada pelo MP, desde que não
haja habilitação dos titulares ou de titulares suficientes no perío-
do de um ano (art. 100 do CDC), em sede de relação de consu-
mo ou 60 dias, quando se tratar de outros interesses coletivos.
Sergio Pinto Martins,14 comentando sobre a ação de cum-
primento resultante de sentença normativa, defende a
legitimação do sindicato para a sua propositura, a despeito de
procuração, já que é substituto processual.
Já as verbas provenientes de direitos difusos e coletivos, tais
como as astreintes fixadas nas obrigações de fazer e não fazer,
bem como as decorrentes de danos morais coletivos, serão rever-
tidas a um fundo comum, qual seja, o FAT. A liquidação, nesse
caso, compete ao próprio legitimado promovente da ação. Se
porventura inerte, passa tal legitimação ao co-legitimado.
Vale lembrar, que no caso de direitos individuais, nada
impede a habilitação dos retardatários, que demandarão o pró-
prio Fundo constituído da indenização promovida pelo demais
legitimados no caso da inércia das vítimas no período aludido
de 60 dias ou 1 ano.
Assim é que, junto à petição inicial, deverá ser acostada a
certidão da sentença, postulando-se a liquidação por artigos e
ulterior execução de sentença.

14
Comentários à CLT, p. 911.

124
ELSEVIER Capítulo 9 • A Execução Coletiva

Exclui-se o conhecimento, partindo-se para a execução,


o que significa:
i. a aplicação da execução nos moldes celetistas, o que viabiliza
a oposição de embargos à execução e agravo de petição ao
regional;15
ii. que mediante ação de cumprimento, será liquidada e exe-
cutada a sentença coletiva, provados os danos individuais
sofridos pelo obreiro (titularidade) além do quantum;
iii. que isso não exclui a eventual possibilidade de apresenta-
ção de cálculos sem liquidação prévia;
iv. que as verbas da sucumbência a serem fixadas na liquida-
ção ou nas contas deverão ter por base a eqüidade;
v. que competente para a execução será o juiz de primeira ins-
tância, posto o mesmo que sentenciou;
vi. que malgrado a sua competência, poderá a ação individual
de cumprimento ser ajuizada perante o juízo do domicílio
do exeqüente, facilitando o acesso do lesado (CDC);
vii. que tal competência se justifica, ainda mais, se tomados em
consideração o tumulto e a cumulação de demandas na
mesma vara, o que significa uma medida de celeridade;
viii. que a sentença poderá ser executada provisoriamente, já que
deve ter o mesmo trato da sentença normativa;
ix. que em se tratando de parcela metaindividual, o crédito
deverá ser revertido a um Fundo comum;
x. que em se tratando de direitos individuais homogêneos, a
indenização deverá ingressar no patrimônio das vítimas;
xi. que eventualmente, quando não habilitadas as vítimas in-
dividualmente ou não habilitadas em quantidade suficien-
te, neste caso a indenização, que será quantificada pelo total,
será revertida para o Fundo;

15
Oliveira, Ação Civil Pública, p. 251.

125
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

xii. que em hipótese alguma as astreintes poderão ser converti-


das em perdas e danos, considerando-se determinados di-
reitos indisponíveis veiculados, como a proibição de
contratar mão-de-obra escrava;
xiii. que a liquidação, no caso das astreintes (e não as perdas e
danos) descumpridas, se efetivará mediante cálculos do con-
tador do juízo;16
xiv. que os danos morais coletivos deverão ser imediatamente
fixados na sentença, não havendo sentido em se relegar a
uma fase posterior, já que não havendo tarifação, depende-
rá apenas da razoabilidade do juiz.17
Por fim, devemos ressaltar o teor do art. 12, § 2o, da Lei
no 7.347/1985. O dispositivo em comento, deixa expressa a in-
cidência da multa a partir do momento em que a decisão liminar
gera efeitos, mas veda a sua cobrança enquanto não transitada
em julgado a sentença final. O que vale dizer: no plano coletivo
a efetivação das decisões interlocutórias não contam com o
mesmo alcance das liminares no plano individual. Provavel-
mente, por ser antecedente ao art. 461 do CPC, com uma
potencialidade muitíssimo maior.

16
Idem, p. 302.
17
Idem, Ibidem.

126
CAPÍTULO 10

CONCLUSÃO

“Não se encontra um princípio isolado, em ciência al-


guma; acha-se cada um em conexão íntima com outros.
O Direito objetivo não é um conglomerado caótico de
preceitos; constitui vasta unidade, organismo regular,
sistema, conjunto harmônico de normas coordenadas,
em interdependência metódica, embora fixada cada uma
no seu lugar próprio”.
STJ, Quarta Turma; Resp 52052-5-RS – Rel. Min.
Sálvio de Figueiredo – DJU de 19/12/1994.1
Não há uniformidade na doutrina civilista ou trabalhista acer-
ca dos princípios executivos, bem como de sua heterointegração.
Temos que os princípios, a despeito de sua classificação,
são as vigas mestras de um sistema, orientando e, sobretudo,
vinculando o aplicador da norma.
No entanto, dada a sua natureza axiológica, permite uma
flexibilidade muito maior no caso concreto, notadamente quando
conflita com outro princípio.
Na verdade, tudo deve ser resolvido à luz da proporcionalidade,
que é o princípio dos princípios, buscando-se a solução ótima ou
mais adequada para o exeqüente, com a menor restrição possível ao
executado.
Quer dizer, deve-se buscar uma harmonização entre os ins-
titutos civil e trabalhista, mormente no que se refere aos princípi-
os constitucionais e infraconstitucionais comuns a todos os ramos.

1
Trecho de Acórdão extraído da obra de Marcio Louzada Carpena.
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

Contudo, em prol da efetividade ou da celeridade proces-


sual, não se pode sacrificar os princípios peculiares, a doutrina
própria e especialmente o devido processo legal. Quer dizer, os
fins (celeridade, efetividade) não justificam os meios (a aplica-
ção irrestrita de regras e princípios do processo civil ao arrepio
das normas e princípios próprios da CLT).
A nova sistemática executiva do processo civil parece ter
se escorado na proporcionalidade: procura equilibrar a todo
momento o direito das partes, sem olvidar que o processo efeti-
vo é aquele que concede tudo e exatamente aquilo que se tem
direito.
Coíbe, pois, um processo executivo que não seja de resul-
tados, buscando a realização dos direitos do credor e ao mesmo
tempo inibindo uma execução injusta.
Para tanto, aparelha o devedor de instrumentos de defesa,
que sem suspender o curso da demanda, viabilizam que o Esta-
do tutele quem tem razão.
Estruturado em um modelo sincrético, passa agora a per-
mitir a efetivação da decisão e o cumprimento da sentença, a
despeito da natureza da prestação, na mesma relação processu-
al, porém em módulos distintos.
De outra parte, conserva a autonomia do processo no caso
de alguns títulos, como os extrajudiciais, os judiciais não prove-
nientes do juízo cível e os proferidos por esse, mas sujeitos a
procedimento próprio.
O processo do trabalho, ao revés, conserva o modelo dual,
separando a atividade cognitiva e executiva em processos autô-
nomos.
Assim, a despeito de se tratar de título extrajudicial ou
sentença condenatória de obrigação de pagar, fazer, não fazer
ou entregar coisa, demandará nova citação e a oposição de em-
bargos do devedor.

128
ELSEVIER Capítulo 10 • Conclusão

Isso não vulnera a pragmática do processo executivo tra-


balhista: instado de ofício e realizado nos mesmos autos, o que
a propósito se tornou a regra no processo civil no que toca ao
cumprimento de sentença.
Isso não exclui, ademais, a incidência do sincretismo, da
validade da execução sem título e da atipicidade de meios nas
decisões interlocutórias, porquanto pautadas no perigo ou no abuso
da defesa, seja no processo civil ou trabalhista.
O mesmo se diga das sentenças cautelares. Logo, deve-
rão ser efetivadas tendo por base única e exclusivamente a
razoabilidade do juiz e o art. 475-O, como mero parâmetro
operativo.
Sincréticas também serão algumas situações pontuais do
processo celetista, como a reintegração, a assinatura em CTPS
e a emissão de declaração de vontade.
Tal razoabilidade, assim como a efetividade, atipicidade e
a completude da execução do processo civil, também se justifi-
cam em algumas hipóteses de sentenças trabalhistas.
Tal se dará quando deferida a antecipação de tutela no
corpo da sentença, transformando a tutela ordinária em dife-
renciada. Igualmente, quando admitido o efeito ativo recursal,
pelo qual o tribunal viabilizará a formação de um título executi-
vo provisório, para fins de abertura de carta de sentença no pro-
cesso do trabalho, em que pese a improcedência ou a extinção
do processo sem a resolução do mérito.
De outra banda, as demandas entre sindicatos e empre-
gador, ou entre sindicatos, processos envolvendo questões ad-
ministrativas ou consumeristas, de prestação de serviços em
sentido amplo, em todas elas, é indiscutível a aplicação do CPC.
Na mesma linha, a sistemática coletiva do CDC, Lei da Ação
Civil Pública e da Ação Popular para os processos coletivos su-
jeitos à nova competência laboral.

129
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

Não poderia ser diferente a aplicação preferencial da


LEF nas contribuições previdenciárias, já que inerente à rela-
ção fiscal.
No entanto, estabelecida que foi na Justiça do Trabalho a
unidade de rito, pugnamos por uma aplicação subsidiária mais
proeminente em se tratando de títulos não pautados em relação
de emprego em sentido estrito.
Como colocado, esse processo híbrido, sem violar a espe-
cialização consectária, acomodaria os interesses em conflito mais
ligados ao Direito Civil ou Fiscal.
Afinal, a competência não estabelece o procedimento, mas
a relação jurídica subjacente. De mais a mais, quando a própria
doutrina trabalhista nega a aplicação do procedimento celetista,
à vista dos princípios e regras do processo civil, por entender
que este último é mais efetivo, causa perplexidade negá-lo para
as outras causas sujeitas à especializada!
A boa-fé, por sua vez, continua sendo um princípio
inarredável, conferindo às partes uma série de deveres e di-
reitos.
É dever do executado, em qualquer justiça, não fraudar a
execução e não apresentar defesa destituída de fundamento. Essa
última, aliás, viabilizará, além da multa, a antecipação dos efei-
tos da tutela executiva na esfera trabalhista, onde os embargos
ainda conservam o efeito suspensivo.
Não apenas isso. Qualquer conduta contrária, ainda que
no exercício do Direito, com mero intuito emulativo, configura
abuso de Direito Processual, apto a deflagrar conseqüências
sancionatórias.
Em compensação, a execução dos títulos provisórios, para
equilibrar a efetividade e a celeridade, enseja a responsabilidade
objetiva, a despeito da intenção ou não do obreiro em lesar o
executado.

130
ELSEVIER Capítulo 10 • Conclusão

Sobre a incidência da multa, em virtude da resistência do


devedor em cumprir a sentença, há ofensa ao devido processo
legal a sua aplicação no processo do trabalho. A CLT não é
omissa a respeito, e a aplicação de uma parte do processo civil
ao trabalhista seria como que criar um terceiro gênero não pre-
visto em lei, ensejando violação literal de lei.
Mas forte na efetividade, as astreintes são absolutamente
cabíveis em qualquer obrigação de fazer, seja para coadjuvar a
nomeação de bens pelo reclamado na obrigação de pagar quantia,
na apresentação de documentos por esse ou qualquer terceiro
ou para efetivar uma decisão interlocutória de qualquer nature-
za no processo civil ou no do trabalho.
O limite é a proibição do enriquecimento sem causa, sen-
do certo que o julgador deverá converter a execução em perdas
e danos na impossibilidade de realização específica.
Nesse passo, restringimos a medida executiva da multa
nos casos de substituição da declaração da vontade da parte por
ato do Estado.
Sobre este tema, importa concluir que o princípio da rea-
lidade sofreu uma profunda relativização, já que o sistema con-
temporâneo aceita e estimula que o devedor sofra medidas de
pressão a sua vontade, e não apenas o seu patrimônio, para cum-
prir o que pactuou.
Há mais. Determinados direitos simplesmente não po-
dem ser vulnerados. Daí a possibilidade aberta pelo sistema para
que o reclamante possa se valer de medidas inibitórias para que
o reclamado não incorra no ilícito, na sua continuidade ou na
sua repetição.
Neste contexto, devem ser revisitadas várias questões
surgidas no cenário trabalhista, entre as quais as relativas à in-
tervenção do Judiciário nos contratos entre empregado e em-
pregador. Malgrado a discussão que se trava, fato é que cláusulas

131
Princípios do Processo de Execução • Marina Vezzoni ELSEVIER

como a de não concorrência e de direitos autorais devem con-


tar com um arsenal de medidas executivas idôneas a sua
operacionalização.
As obrigações de fazer e não fazer (inibitórias) portanto,
ganham no modelo processual atual uma importância muito
maior que outrora, permitindo medidas de força sobre a vonta-
de do executado. Pouco importa o seu patrimônio, mas a
efetivação do direito a ser recomposto integralmente.
Contudo, ainda que ocorra a lesão, compete unicamente
ao autor definir se pretende o ressarcimento da forma genérica
ou específica. Em sede trabalhista a questão ganha corpo espe-
cialmente em razão dos direitos difusos e coletivos do trabalha-
dor, bem como as não raras lesões à honra e objeto de danos
morais.
Acerca da menor onerosidade, tranqüilo o cabimento das
disposições civilistas em favor do executado no que toca a
parcelamento da dívida. A fiança bancária, no entanto, calcada
no mesmo princípio, deverá seguir as regrar da LEF, preferen-
cial em sua aplicação, salvo quando substitutiva de depósito em
dinheiro. Entre outros aspectos, a economicidade restringe as
possibilidade de exceder a penhora ao valor do crédito.
Em contrapartida a efetividade da execução respalda o
pedido liminar de penhora on line na exordial, seja no processo
civil ou trabalhista, sempre tomando como norte o perigo de
restar inviabilizada a constrição após a citação do executado.
Nessa esteira, e considerando os princípios da dignidade
humana, da justiça social e do valor social do trabalho, as
impenhorabilidades consignadas no processo civil não podem
ser aplicadas literalmente. Isso significa, pois, que os créditos
salariais permitirão a constrição de verbas da mesma natureza,
desde que considerados: o padrão salarial diferenciado (altos
salários); se não diferenciado, em um percentual que não ofen-

132
ELSEVIER Capítulo 10 • Conclusão

da o mínimo à sobrevivência do executado; excluídas quaisquer


forma de aplicação ou cumulação financeira (inclusive depósi-
tos em caderneta de poupança); desde que não existam outros
bens.
Sobre o contraditório na execução, conquanto previsto
pelo legislador civilista em maior profundidade na fase executi-
va por conta da impugnação, ainda depende da segurança do
juízo para ser apresentada. Vale notar que na execução de título
extrajudicial os embargos independem de penhora prévia.
No processo do trabalho, o contraditório se mantém ra-
refeito e sumário no processo de execução, não havendo espaço
para impugnação, salvo na liquidação, mas embargos como ação
autônoma e garantia do juízo. Justifica-se, pois, ainda mais, o
cabimento da exceção de pré-executividade, embora com es-
pectro cognitivo infinitamente menor do que a impugnação
por mera opção legislativa.
Por derradeiro, pensamos ser absolutamente compatível
nos processos civil e trabalhista a inversão das técnicas
expropriativas, inclusive através do expediente da alienação por
iniciativa particular. A proporcionalidade e o Direito Constitu-
cional a uma tutela executiva justa chancelam sobretudo o usu-
fruto judicial e a iniciativa oficial do magistrado.
Não apenas isso, o juiz deverá se ativar a todo momento
da execução, a despeito de se tratar de uma lide trabalhista ou
não, permitindo que credor e devedor tenham seus direitos pre-
servados e satisfeitos, contribuindo para um modelo de
efetividade.

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