1. O documento discute a livre iniciativa econômica no Brasil e o papel do Estado na economia. 2. A Constituição de 1988 estabelece uma economia de livre mercado com intervenção estatal para promover a justiça social e a concorrência. 3. A livre iniciativa permite que qualquer pessoa inicie uma atividade empresarial, mas pode ser limitada para proteger outros direitos ou o interesse social.
1. O documento discute a livre iniciativa econômica no Brasil e o papel do Estado na economia. 2. A Constituição de 1988 estabelece uma economia de livre mercado com intervenção estatal para promover a justiça social e a concorrência. 3. A livre iniciativa permite que qualquer pessoa inicie uma atividade empresarial, mas pode ser limitada para proteger outros direitos ou o interesse social.
1. O documento discute a livre iniciativa econômica no Brasil e o papel do Estado na economia. 2. A Constituição de 1988 estabelece uma economia de livre mercado com intervenção estatal para promover a justiça social e a concorrência. 3. A livre iniciativa permite que qualquer pessoa inicie uma atividade empresarial, mas pode ser limitada para proteger outros direitos ou o interesse social.
1 - Ordem Econômica, Financeira e Arranjos Empresariais: Livre Iniciativa, Constituição da
Pessoa Jurídica e Tipos Societários;
A intervenção do Estado na economia sempre existiu. Até mesmo na
transição do absolutismo para um estado centrado na lei, é possível visualizar uma atuação estatal visando proteger as relações privadas, e mais especificamente, as econômicas. O próprio Direito Civil nasce para resguardar as propriedades e os acordos entre indivíduos que decidiram viver em comunidade e até mesmo a 1ª geração de direitos fundamentais, apesar de tratar de direitos relacionados à liberdade frente ao estado, não nega a necessidade de existência deste mesmo Estado como garantidor do direito de propriedade.
Não seria possível ao Estado se excluir da atividade econômica (economia
aqui entendida como capacidade de gerar lucros) ou financeira (finanças aqui como gestão/administração de recursos), a grande questão sempre foi: “até onde o estado pode intervir nas relações econômicas e financeiras, de forma legitima?
A necessidade de uma intervenção realmente intensa (inclusive com
construção normativa mais complexa) do Estado na economia e mais especificamente no mercado/comércio, somente ocorreu no século 20. A quebra da bolsa de Nova York em 1929 é apontada por considerável parte da doutrina como a crise que influenciou diretamente as nações, demonstrando que questões econômicas podem pôr em risco a existência e funcionamento de Estados inteiros. Coincidentemente, poucos anos depois em 1934 a Constituição Federal Brasileira positivou a participação estatal na ordem econômica, adotando um modelo essencialmente intervencionista, preocupado com a proteção de interesses coletivo e tendo como objetivo a busca por justiça social. Todas nossas constituições posteriores também trouxeram de forma positivada tais fundamentos.
A Constituição Federal de 1988 (nossa atual Constituição), consagra uma
economia de livre mercado de natureza capitalista, aonde os meios de produção pertencem aos particulares e qualquer particular tem a liberdade de escolher que atividade econômica irá desenvolver e como irá desenvolve-la, a chamada “livre iniciativa econômica privada “.
De forma mais especifica, a livre iniciativa está diretamente ligada à
atividade empresarial, que nada mais é do que qualquer atividade humana, devidamente organizada, com o intuito de gerar lucros através da circulação de bens ou serviços. É com base no princípio da livre iniciativa que qualquer pessoa capaz pode ingressar na atividade empresarial, e também é com base no mesmo princípio que não se exige qualificação profissional para que qualquer pessoa possa exercer atividade empresarial.
Mesmo havendo esta liberdade atribuída às atividades econômicas dentro
do Brasil, conforme exposto, vivemos em um Estado pautado no intervencionismo econômico, havendo previsão para tanto no artigo 174 da CF/88, que diz expressamente que o Estado é “agente normativo e regulador da atividade econômica” exercendo papel de incentivar, fiscalizar e planejar a atividade econômica dentro do País, sendo o planejamento somente indicativo para o setor privado.
As bases que fundamentam este intervencionismo estatal se encontram
dispostas no artigo 170 da Constituição Federal de 1988. Tal artigo dispõe ser nossa ordem econômica fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa e ter como finalidade proporcionar a todos existência digna pautada em justiça social, sendo o intervencionismo estatal na economia direcionado e limitado pelos princípios da soberania nacional, propriedade privada, função social da propriedade, livre concorrência, defesa do consumidor, proteção do meio ambiente, redução das desigualdades regionais e sociais, busca do pleno emprego e tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte com sede e administração nacionais.
É possível identificar quão importante a livre iniciativa é dentro do Estado
Brasileiro quando se destaca sua localização no texto constitucional. Logo no primeiro artigo da Constituição Federal de 1988 se encontra a indicação da livre iniciativa como Fundamento da República Federativa do Brasil. Desta forma, trata-se de um dos valores sob o qual se apoia toda a constituição e consequentemente todo o Estado. Posteriormente o texto constitucional mais uma vez faz referência à livre iniciativa em seu artigo 170, como sendo fundamento também da ordem econômica.
Dentro do Direito Empresarial, a livre iniciativa pode ser reconhecida como
um direito que todos tem de explorarem as já conceituadas atividades empresariais, e além disso, também gera um dever para todos de respeitarem a liberdade dos demais, sendo um dever imposto inclusive frente ao Estado, que só pode interferir na ordem econômica dentro dos limites fixados constitucionalmente, a exemplo do disposto nos artigos 170 e 174 da Constituição, logo, também existe a possibilidade de interferência do Estado na livre iniciativa, desta forma não se trata de um direito absoluto. Mesmo podendo haver interferência estatal, esta deve ser legitima, podendo haver controle judicial se houver ato do poder público que venha a interferir de forma injusta. A título de exemplo poderíamos citar a sumula 646 do STF, que dispõe ser ofensa à livre concorrência quando lei municipal impede a instalação de empresas do mesmo ramo em determinada área.
Caso o direito à liberdade de iniciativa de alguém esbarre no interesse
social ou caso o direito à livre iniciativa esbarre em outro direito constitucionalmente garantido, poderá haver restrição/limitação da livre iniciativa. O mais comum caso onde este tipo de conflito ocorre, se dá no atrito entre a livre iniciativa e a chamada livre concorrência. O estado interfere diretamente no mercado proibindo, por exemplo, a criação de empresas ou união entre empresas quando identificada a ocorrência, ou potencial ocorrência, do chamado abuso econômico, caracterizador de violação à livre concorrência, identificado quando ocorre aumento arbitrário de lucros, domínio de mercado ou eliminação de concorrência.
Dentro de uma econômica de mercado, deve haver o incentivo à
concorrência, de forma a impulsionar o desenvolvimento das empresas e também a fixação de preços justos ao consumidor. Caso o estado não pudesse intervir, proibindo o crescimento desregrado de certas empresas ou proibindo certas pratica de grandes empresas, estaríamos impossibilitando que os pequenos empresários entrassem ou permanecessem no mercado, e logo estaríamos violando o direito das pessoas de exercerem a livre iniciativa empresarial. Para esta finalidade de garantir a livre concorrência, existe o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) entidade estatal responsável por fiscalizar e regular a livre concorrência no mercado.
Conforme exposto, o artigo 174 da CF/88 diz ser dever do estado
“incentivar” a atividade econômica. Ao prever meios legais que estimulem as pessoas a ingressarem na economia de mercado, na condição de empresários ou de investidores, o Estado cumpre com sua atribuição Constitucional. Um desses estímulos é a chamada limitação de responsabilidade, ou autonomia patrimonial da pessoa jurídica. A atividade empresarial, por sua própria natureza, é uma atividade arriscada e de forma a incentivar novos empresários a ingressarem no mercado, o Estado possibilita que as pessoas físicas criem as chamadas “pessoas jurídicas” e que estas últimas possam contrair direitos e deveres, não só isso, possibilita que mesmo não dando certo determinada empreitada empresarial, não venha o empresário a perder seu patrimônio ou dever qualquer obrigação a terceiro, pois a pessoa jurídica será responsável com seu próprio patrimônio e terá que cumprir as obrigações contraídas em seu próprio nome. Em outra palavras, ao se dividir o patrimônio da pessoa jurídica do patrimônio da pessoa física, e ao se limitar a responsabilidade da pessoa física, protegendo seu patrimônio caso a atividade econômica não dê certo, vem o Estado a estimular que as pessoas ingressem no mercado, pois estarão seguras de que este ingresso não irá por em risco seu patrimônio pessoal e inclusive possibilitando que caso não dê certo em um primeiro momento, seja possível uma nova tentativa.
Além da limitação de responsabilidade, o Estado também regula a criação
das chamadas “sociedades”, que nada mais são do que a união de duas ou mais pessoas que colaboram aplicando esforços e/ou recursos em atividade econômica, visando obter lucro e repartir este lucro. Uma sociedade nem sempre será uma empresa. Para que uma sociedade se torne uma empresa, logo uma sociedade empresaria, ela precisará possuir as características da atividade empresarial, ou seja, a sociedade deve exercer atividade econômica (buscar lucro) devidamente organizada e destinada à circulação de bens ou serviços (com exceção da sociedade por ações, que mesmo que não possua essas características será considerada empresária por força da lei que assim o diz). Um exemplo de sociedade não empresaria, chamada de sociedade simples, seria a união de dois médicos em um consultório para trabalharem juntos. Tal atividade só seria considerada empresária se ganhasse características de empresa, segundo parte da doutrina, ao desenvolver maior complexidade e porte ou segundo outra corrente doutrinária, caso incorporasse diversos tipos de atividades comerciais à atividade intelectual, como por exemplo, mantivesse uma farmácia, com funcionários, funcionando junto ao consultório.
Também não se deve confundir sociedade com personalidade jurídica, pois
nem toda sociedade irá possuir personalidade jurídica própria, podendo haver sociedades aonde as pessoas físicas responderão diretamente frente à terceiros pela obrigações contraídas no exercício desta. O nascimento da Pessoa Jurídica se dá através de um ato negocial entre aqueles que desejam a criação do ente, tal ato é denominado “ato constitutivo”.
Conforme o artigo 45 de nosso atual Código Civil, a pessoa jurídica nasce
para o Direito quando tem seu ato constitutivo registrado. O ato negocial (o ato constitutivo) que irá criar a Pessoa Jurídica nas sociedades, será o chamado contrato social ( com exceção das chamadas sociedades anônimas que possuirão estatutos). As sociedades que possuem personalidade jurídica serão chamadas de “personalizadas” e aquelas que não possuem serão chamadas de “despersonalizadas”. Conforme o artigo 46 do nosso Código Civil, o ato de registro das sociedades basicamente deverá conter a descrição da pessoa jurídica, os responsáveis por sua criação, a finalidade dela, sua duração, de que forma será administrada e qual a responsabilidade de seus criadores, podendo a lei acrescentar algum outro requisito. O local adequado para registro das sociedades em regra será a junta comercial (as sociedades que não desenvolvem atividade empresarial irão ser registradas no registro civil de pessoas jurídicas). São dois órgãos que irão organizar esses registros, inicialmente as já mencionadas juntas comerciais e além delas o DNRC (Departamento Nacional de Registro do Comércio). As juntas irão efetivamente realizar o registro dos atos constitutivos das sociedades e estão submetidas hierarquicamente ao DNRC, este faz a gestão a nível nacional dos registros. Segundo a lei, deve haver uma junta comercial em cada unidade federativa, e é obrigatória para as sociedades empresarias que seja feito o registro de seu ato constitutivo antes do início de suas atividades, conforme disposição expressa do Código Civil.
Os tipos societários previstos na Lei podem ser classificados inicialmente de
acordo com a atividade que desempenham, em Sociedades Simples (aquelas que não exercem atividade empresarial), Sociedades Empresárias (aquelas que exercem atividade empresarial). Quanto à importância dos sócios e do capital investido podem ser classificadas em sociedade de pessoas (quando as pessoas que fazem parte da sociedade importam) e sociedade de capitais ( quando as pessoas que fazem parte não são tão importantes quanto o capital investido. Também é possível classificar as sociedades pela limitação de responsabilidade dos sócios frente às obrigações contraídas pela sociedade. E por fim pode se classificar os tipos societários conforme a sociedade possua personalidade jurídica (chamadas de sociedades personificadas) ou não possuam (as chamadas sociedades não personificadas).
Os tipos societários trazidos pelo código civil, são: a sociedade comum, a
sociedade em conta de participação, sociedade simples, sociedade limitada, sociedade anônima, sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita simples e sociedade em comandita por ações. É importante ressaltar que a figura chamada de EIRELI (empresário individual de responsabilidade limitada) não é considerado pela doutrina como um tipo societário pois não reúne pessoas conforme as características já apontadas da sociedade, sendo constituída unicamente por um indivíduo, trata-se sim de uma nova modalidade de pessoa jurídica privada destinada à pratica de atividade empresarial.
As sociedades comuns são aquelas aonde não existe contrato social
(chamadas sociedades de fato) ou aonde existe o contrato mas este não foi devidamente registrado antes do início das atividades da sociedade, ou tendo sido registrado, o foi no local errado (as chamadas sociedades irregulares). São sociedades que não possuem personalidade jurídica, pois não registraram seu ato constitutivo, mesmo assim não poderiam deixar de ter seus atos regulados pelo Direito. A importância de tal regulação é evidente quando se imagina a quantidade de sociedades irregulares ou de fato que atualmente fazem parte do mercado Brasileiro. Não se poderia deixar de prever responsabilidades frente a terceiros, diante da falta de registro da sociedade, pois estaríamos dando vantagens àqueles que estão atuando de forma irregular. Nas sociedades comuns, os débitos contraídos pela empresa podem ser diretamente cobrados dos sócios.
As sociedades em conta de participação também não possuem
personalidade jurídica própria, mas não pela irregularidade ou falta do registro. Aqui a falta de personalidade se dá pela própria natureza da sociedade. Este tipo societário é formado por duas espécies de sócios, o sócio ostensivo e o sócio participante (ou sócio oculto). Somente o sócio ostensivo desempenha as atividades da sociedade e assume em seu nome as responsabilidades dela. O sócio oculto só tem de colher os lucros alcançados pelo sócio participante, em virtude disto parte da doutrina diz inclusive não tratar-se de sociedade, mas sim de contrato de investimento O sócio ostensivo tem responsabilidade ilimitada perante terceiros enquanto que o sócio oculto só tem responsabilidade perante o sócio ostensivo e somente nos limites impostos pelo acordo feito entre eles (contrato). Esse tipo de sociedade é visto com frequência no ramo imobiliário, aonde a construtora realiza as obras e espera de alguns sócios apenas o investimento. A doutrina caracteriza este tipo de sociedade como empresária.
As sociedade simples, além do já exposto, são caracterizadas em geral pelas
chamadas atividades intelectuais, de natureza artística, cientifica ou literária. São dois médicos ou dois advogados, por exemplo, que resolvem trabalhar juntos. Aqui a atividade se caracteriza predominantemente pelas características do profissional, e pela atividade que ele desenvolverá de forma individualizada. Na atividade empresarial, quem entrega (as características da pessoa) o produto ou o serviço, em regra, não importa, o que importará será o nível de organização e profissionalização na entrega do bem ou serviço.
A sociedade limitada, é uma sociedade empresária aonde o capital social (o
valor dos bens ou o dinheiro com que os sócios contribuem para uma empresa sem direito de devolução e que se tornarão patrimônio de titularidade da própria empresa) será dividido em quotas (estas cotas são indivisíveis, conforme previsão legal), e cada sócio responde pelo valor de sua quota (ou seja, o tamanho da responsabilidade do sócio é proporcional ao investimento realizado na integralização do capital social), porém todos os sócios são responsáveis solidariamente pela integralização do capital social. Uma das principais características da sociedade limitada é a limitação da responsabilidade dos sócios pelas obrigações contraídas pela sociedade, não havendo responsabilidade de sócio além do valor de sua respectiva quota. A sociedade limitada foi criada como uma opção frente à sociedade anônima, com intuito de oferecer um tipo societário menos burocrático e destinado a investimentos de pequeno e médio porte de capital. A integralização do capital poder ser feita tanto com dinheiro como com bens, mas não será possível a integralização de quota com serviços. E é uma característica marcante deste tipo societário a importância dada aos sócios quotistas, não é livre a entrada e saída de sócios quotistas ou cessão das quotas integralizadas, existindo aqui o chamado affectio societatis, ou seja, as pessoas que fazem parte da sociedade fazem diferença e não podem ser trocadas livremente.
A Sociedade anônima é considerada o tipo societário mais complexo do
ordenamento jurídico Brasileiro. Esta tradicionalmente associada a investimentos elevados de capital. Ela é regida pela lei 6.404/76. Aqui o capital social será dividido em partes iguais que serão chamadas de ações, e a responsabilidade dos sócios é limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas. Diferente da sociedade limitada, nesse tipo societário não existe qualquer responsabilidade solidária dos sócios pela integralização do capital social e as ações são mais importantes do que os sócios, não havendo aqui a chamada “affectio societatis”. As sociedades anônimas podem ser de capital aberto ou de capital fechado. Caso sejam de capital aberto, poderão negociar suas ações no mercado de capital e terão que ser fiscalizadas por uma autarquia Federal, a CVM (Comissão de valores mobiliários) frente aos grandes impactos gerados pelo comércio de ações de empresas no mercado de capitais. As famosas Bolsas de Valores são os locais aonde acontecem as negociações de ações das sociedades anônimas.
Já em relação a sociedade em comandita simples, sociedade em nome
coletivo e sociedade em comandita por ações a doutrina informa serem tipos societários de menor importância e menor frequência tendo em vista a impossibilidade de limitação da responsabilidade social nelas. A sociedade em nome coletivo é caracterizada por somente pessoas físicas poderem integra-las e por todos os sócios serem solidariamente e ilimitadamente responsáveis pelas obrigações da sociedade. A sociedade em comandita simples é aquela aonde existem dois tipos de sócios, os comanditados, responsáveis ilimitadamente pelas obrigações da sociedade e responsáveis também pela administração desta e os comanditários, que não possuem poderes de gerência e só respondem na medida do capital investido. Já na sociedade em comandita por ações, serão utilizadas as regras das sociedades anônimas tendo como única diferença a restrição de que somente os acionistas poderão ser diretores e estes responderão ilimitadamente pelas obrigações da sociedade , enquanto que os sócios que não participam da administração possuem responsabilidade limitada ao capital social.