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Introdução:

Historicamente, pode-se verificar que, no processo de construção de uma nação,


sempre esteve presente uma associação entre a política e a economia. De fato, toda alteração
efetivada em virtude de lei ou construção doutrinária, no campo da economia, provoca
reflexos no aspecto político e a situação inversa também ocorre.
Ao longo do tempo, a intervenção estatal na economia vem sofrendo algumas
variações, de acordo com a política econômica adotada.
A intervenção do Estado no domínio econômico, hoje, “somente se
justifica quando visa colimar fins maiores de interesse coletivo, mormente o
atendimento das necessidades da população” (FIGUEIREDO, 2006, p.7),
coadunando com os fundamentos primordiais da Constituição Federal,
de modo geral, o da dignidade da pessoa humana e os valores sociais do
trabalho e da livre iniciativa.

FORMAS DE ATUAÇÃO DO ESTADO


A despeito da existência de algumas controvérsias acerca do tema, pode-se estabelecer
que o Estado atua de duas formas na ordem econômica.
Estado regulador: a primeira forma de atuação do ente público no domínio econômico
se dá por meio da regulação das atividades exercidas pelos particulares. Neste contexto, atua
definindo normas de atuação, reprimindo o abuso do poder econômico e fiscalizando as
atividades exercidas pelos particulares com finalidade lucrativa, como forma de evitar
distorções do sistema.
Estado executor: trata-se da segunda forma de atuação do Estado que, em casos e
excepcionais, pode explorar diretamente atividades econômicas. Com efeito, o ente estatal
deixa a posição de controlador da atividade dos particulares para se inserir no mercado como
executor direto da atividade do segundo setor.
Vale salientar que o art. 173 da CF/88 dispõe que esta exploração direta de atividade
econômica pelo Estado se dá como forma de atingir o interesse da coletividade ou de garantir
a segurança nacional, não se dando com finalidade lucrativa.
Como em cada uma dessas posições há regras e princípios específicos, passa-se à
análise de cada uma delas.

ESTADO REGULADOR
Em princípio, podemos afirmar que, quando o Estado exerce como Agente Regulador,
o que se pretende é a Intervenção na ordem econômica, estabelecendo regras disciplinadoras,
objetivando melhor ajusta-la a busca da justiça social; nesta qualidade de Agente Normativo,
o Estado se incumbe de fiscalizar, incentivar e planejar a ordem econômica. No papel de
fiscalizar, cabe ao Estado evitar as formas abusivas de particulares, ou seja, impedir que
consumidores menos favorecidos sejam prejudicados. Já na parte que incumbe ao Estado de
incentivar, cabe ao Governo oferecer mecanismos de incentivo ao desenvolvimento
econômico e social do país. Por fim, planejar significa na verdade, que o Estado deve
estabelecer metas a serem alcançadas pelo Governo na economia em determinado período.

Como bem diz José dos Santos Carvalho Filho, “Estado Regulador é aquele que,
através de regime interventivo, se incumbe de estabelecer as regras disciplinadoras da ordem
econômica com o objetivo de ajustá-la aos ditames da justiça social”.

ESTADO EXECUTOR

Na função estatal de Executor, o Estado assume a função de explorar a atividade


econômica, através de seus órgãos públicos. Podemos exemplificar o momento em que o
Estado através de suas secretarias de saúde, passa a favorecer medicamentos, visando
favorecer a sua aquisição a pessoas de baixa renda. Entretanto, o Governo prioriza a criação
de pessoas jurídicas a ele vinculadas, ou seja, criação de Empresas Públicas, Sociedades de
Economia Mista. Podemos até confundir acreditando serem estas empresas como pessoas
autônomas, porém, quem controla, executa e impõe seus objetivos institucionais é o Estado.

SISTEMA BRASILEIRO DE DEFESA DA CONCORRÊNCIA (SBDC) E A ATUAÇÃO


DO CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA (CADE) – LEI N.
12.529/2011

O Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência – SBDC é o conjunto de órgãos


responsável por promover uma economia competitiva de maneira saudável, tendo como
objetivo prevenir e reprimir práticas restritivas de competição, isto é, que sejam capazes de
limitar ou prejudicar a livre concorrência no Brasil.
A estrutura do SBDC é disciplinada pela Lei n. 12.529/2011, sendo tal sistema
composto: a) pela Secretaria de Direito Econômico – SDE, que é órgão integrante do
Ministério da Justiça; b) pela Secretaria de Acompanhamento Econômico – SEAE, que
integra o Ministério da Fazenda; e c) pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica –
CADE, que se trata de autarquia federal vinculada ao Ministério da Justiça.
A Secretaria de Direito Econômico – SDE, embora seja órgão componente do Sistema
Brasileiro de Defesa da Concorrência, não está disciplinada na Lei n. 12.529/2011, que trata
da estrutura desse sistema, como anteriormente explicitado. Todavia, a SDE é o órgão
vinculado ao Ministério da Justiça com a função de instruir a análise concorrencial dos atos de
concentração econômica e de investigar infrações à ordem econômica.

Assim, a SDE é competente para formular, promover, supervisionar e coordenar a política de


proteção da ordem econômica nas áreas de concorrência e defesa do consumidor, monitorar as
práticas de mercado, proceder com averiguações preliminares em caso de indícios de infração
à ordem econômica e instaurar o processo administrativo para a respectiva apuração e
repressão, dentre outras atividades.
A Secretaria de Acompanhamento Econômico – SEAE, órgão integrante do Ministério
da Fazenda, por sua vez, está disciplinada no art. 19 da Lei n. 12.519/2011, sendo responsável
por promover a concorrência em órgãos de governo e perante a sociedade, devendo
acompanhar os preços da economia, emitir pareceres econômicos em atos de concentração e
em investigações de condutas anticoncorrenciais, propor a revisão de leis, regulamentos e
outros atos normativos da administração pública federal, estadual, municipal e do Distrito
Federal que afetem ou possam afetar a concorrência nos diversos setores econômicos do país,
dentre outras competências.

Assim, a atuação da SEAE consiste basicamente em três esferas: a) promoção e defesa da


concorrência; b) regulação econômica; e c) acompanhamento de mercados.

O Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência – CADE, por fim, trata-se de


autarquia federal, com sede no Distrito Federal e vinculada ao Ministério da Justiça, sendo
responsável pela decisão final, na via administrativa, dos processos iniciados pela SDE ou
pela SEAE acerca de condutas anticoncorrenciais ou de atos de concentração econômica. O
CADE é composto por três órgãos: (i) Tribunal Administrativo de Defesa da Concorrência;
(ii) Superintendência-Geral; e (iii) Departamento de Estudos Econômico.
O Tribunal Administrativo de Defesa da Concorrência é regulamentado pelos artigos
6° a 11 da Lei n. 12.529/2011, sendo formado por um Presidente e seis Conselheiros
escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta anos de idade, de notório saber jurídico ou
econômico e reputação ilibada, todos nomeados pelo Presidente da República, após aprovação
do Senado Federal, com mandato de quatro anos, não sendo possível recondução.
O art. 8° da Lei n. 12.529/2011 estabelece vedações aos membros do Tribunal, não se
permitindo, por exemplo, que exerçam profissão liberal ou atividade político-partidária,
que recebam, a qualquer título, e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens ou
custas, que utilizem, a qualquer tempo, informações privilegiadas obtidas em decorrência
do cargo exercido, dentre outras vedações.
Ao Plenário do Tribunal Administrativo de Defesa da Concorrência, compete
instruir o público sobre as formas de infração à ordem econômica; decidir sobre a
existência de referida infração no caso concreto e aplicar as penalidades legais, bem como
ordenar providências para a sua cessação; apreciar, em grau de recurso, as medidas
preventivas adotadas pelo Conselheiro-Relator ou pela Superintendência-Geral; apreciar
processos administrativos de atos de concentração econômica; além de outras
competências previstas pelo art. 9° da Lei n. 12.529/2011. As decisões são tomadas por
maioria, com a presença mínima de quatro membros, sendo o quorum de deliberação
mínimo de três membros, e não podem ser revistas no âmbito do poder Executivo,
promovendo-se, de imediato, sua execução. As competências do Presidente e dos
Conselheiros do Tribunal, em separado, estão previstas respectivamente nos artigos 10 e
11 da Lei n. 12.529/2011.
A Superintendência-Geral do CADE está disciplinada pelos artigos 12 a 14 da Lei
n. 12.529/2011, sendo composta por um Superintendente-Geral, cuja escolha ocorre da
mesma forma que a dos membros do Tribunal Administrativo de Defesa da Concorrência,
e por dois Superintendentes-Adjuntos, que são indicados pelo Superintendente-Geral.
Compete à Superintendência-Geral, segundo art. 13 da Lei n. 12.529/2011,
monitorar as práticas de mercado; acompanhar as atividades comerciais de pessoas físicas
ou jurídicas com posição dominante em mercado relevante de bens ou serviços, para
prevenir infrações à ordem econômica; promover, em face de indícios de infração à ordem
econômica, inquérito administrativo para a respectiva apuração; recorrer de ofício ao
Tribunal quando decidir pelo arquivamento de processo administrativo para imposição de
sanções administrativas por infrações à ordem econômica; desenvolver estudos e
pesquisas objetivando orientar a política de prevenção de infrações, entre outras
competências.
Finalmente, o Departamento de Estudos Econômicos, outro órgão componente do
CADE, é dirigido por um Economista-Chefe, a quem incumbe a elaboração de estudos e
pareceres econômicos, de ofício ou por solicitação do Superintendente-Geral, do Plenário,
do Presidente ou do Conselheiro-Relator do Tribunal, devendo zelar pela atualização
técnica e científica das decisões do órgão, conforme art. 17 da Lei n. 12.529/2011. O art.
18 desta Lei, por sua vez, dispõe que o Economista-Chefe será nomeado pelo
Superintendente-Geral e pelo Presidente do Tribunal, conjuntamente, dentre brasileiro de
ilibada reputação e notório conhecimento econômico, podendo participar das reuniões do
Tribunal, sem direito a voto.
Importante frisar, ainda, que o art. 15 da Lei n. 12.529/2011 prevê o
funcionamento junto ao CADE de Procuradoria Federal Especializada, que possui
competência para prestar consultoria e assessoramento jurídico ao CADE; representá-lo
judicial e extrajudicialmente; promover a execução judicial das decisões e julgados do
CADE, bem como acordos judiciais nos processos relativos a infrações contra a ordem
econômica, mediante autorização do Tribunal Administrativo de Defesa da Concorrência;
emitir parecer nos processos de competência do CADE, sempre que houver solicitação
expressa do Conselheiro-Relator ou do Superintendente-Geral; dentre outras atribuições.
O Procurador-Chefe da Procuradoria Federal junto ao CADE será nomeado pelo
Presidente da República, após aprovação do Senado Federal, entre cidadãos brasileiros
com mais de trinta anos de idade, de notório conhecimento jurídico e reputação ilibada,
tendo mandato de dois anos, permitida uma recondução. O Procurador-Chefe poderá
participar das reuniões do Tribunal, sem direito a voto, mas prestando assistência e
esclarecimentos, quando requisitado pelos Conselheiros.
Percebe-se, assim, que a atuação dos órgãos do Sistema Brasileiro de Defesa da
Concorrência ocorre tanto de forma preventiva, promovendo estudos e instruindo o
mercado sobre a cultura da concorrência, como de forma repressiva, investigando,
apurando e punindo as infrações à ordem econômica e as condutas anticoncorrenciais.
Para finalizar, vale salientar que a disciplina da Lei n. 12.529/11, consoante seu
art. 2°, aplica-se, sem prejuízo de convenção e tratados de que seja signatário o Brasil, às
práticas cometidas, no todo ou em parte, no território nacional ou que nele produzam ou
possam produzir efeitos, atingindo também, portanto, empresas estrangeiras com atuação
no território nacional.

CRIMES E INFRAÇÕES CONTRA A ORDEM ECONÔMICA

Crimes contra a ordem econômica são todos aqueles que colocam em causa a
credibilidade da organização econômica constante da Constituição, repercutindo-se na
confiança que ao público deve merecer essa organização. Essas infrações violam, além
de bens jurídicos, os interesses gerais da sociedade e consubstanciam-se, dessa
maneira, em normas reguladoras da produção, circulação e distribuição de bens que
visam combater os abusos contra a ordem econômica e seus princípios como a livre
concorrência e a livre iniciativa. Assim, o respeito aos direitos e deveres decorrentes
do regramento civil administrativo que orienta as relações entre fornecedores e
consumidores (empresários e consumidores) está garantido.
No Brasil, os crimes contra a economia e as relações de Consumo estão
tipificados no Capítulo II da Lei 8.137 de 27/12/1990, que foi alterada pela Lei 12.529
de 30/11/2011, bem como na Lei 8.176 de 08/02/ 1991.
Dentre os diversos crimes contra a ordem econômica tipificados, a Lei 8.176/91
prescreve, em seu artigo 1°, inciso I, que “constitui crime contra a ordem econômica
adquirir, distribuir e revender derivados de petróleo, gás natural e suas frações
recuperáveis, álcool etílico, hidratado carburante e demais combustíveis líquidos
carburantes, em desacordo com as normas estabelecidas na forma da lei”.

REFERÊNCIAS
BRASIL, Constituição (1988). A Constituição da República Federativa do
Brasil. Disponível em: Acesso em Set. 2013. CARVALHO FILHO, José dos Santos.
Manual de Direito Administrativo. 24.ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2011.
FARIA, Fernanda Cury de; RIBEIRO, Márcia Weber Lotto. Intervenção do
Estado no Domínio Econômico. In: Revista Científica Semana Acadêmica. Vol. 01,
2012. FIGUEIREDO. Leonardo Vizeu. Lições de Direito Econômico. Rio de Janeiro:
Editora Forense, 2006. (CADE) – LEI N. 12.529/2011.
SUYANE DA SILVA PAIXÃO

CASO CONCRETO:
PRÁTICO PROFISSIONAL
ÁREA:
DIREITO
CONSITUTCIONAL.

BELÉM/PA

2022

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