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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

ANA PAULA PEREIRA BENITES

EXECUÇÃO CIVIL DE OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA: UM


ESTUDO ACERCA DA VIABILIDADE E DOS BENEFÍCIOS DA
DESJUDICIALIZAÇÃO NO CENÁRIO BRASILEIRO

Braço do Norte
2021
ANA PAULA PEREIRA BENITES

EXECUÇÃO CIVIL DE OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA: UM


ESTUDO ACERCA DA VIABILIDADE E DOS BENEFÍCIOS DA
DESJUDICIALIZAÇÃO NO CENÁRIO BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Direito da Universidade do Sul de
Santa Catarina como requisito parcial à
obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Fábio Gesser Leal, Ms.

Braço do Norte
2021
ANA PAULA PEREIRA BENITES

EXECUÇÃO CIVIL DE OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA: UM


ESTUDO ACERCA DA VIABILIDADE E DOS BENEFÍCIOS DA
DESJUDICIALIZAÇÃO NO CENÁRIO BRASILEIRO

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi


julgado adequado à obtenção do título de
Bacharel em Direito e aprovado em sua forma
final pelo Curso de Direito da Universidade do
Sul de Santa Catarina.
À minha família, por todo o apoio e por tornar
tudo isso possível.
Às minhas amizades, pelo apoio e por tornarem
os dias difíceis mais leves.
Aos meus professores, pelo máximo empenho e
dedicação para transmitirem sempre os
melhores ensinamentos.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pela oportunidade de poder realizar e concluir essa


etapa tão significativa em minha vida.
À minha mãe por todo o incentivo e encorajamento durante toda a vida. Obrigada
por não medir esforços para as minhas realizações, mesmo diante das dificuldades e dos
incontáveis obstáculos. Mãe, o orgulho que tenho de ti é imensurável. Obrigada por todos os
constantes ensinamentos.
Ao meu pai, que apesar da distância, sempre se manteve disposto a fazer o
necessário para a realização e conquista dos meus sonhos. Obrigada, pai, pelo apoio e incentivo
nas minhas escolhas e objetivos.
A minha tia Dilsa, que mesmo diante de todos os seus receios e preocupações,
sempre esteve ao meu lado, estimulando e incentivando. Te admiro muito, especialmente por
toda tua trajetória de vida. Obrigada por estar tão presente na minha vida. Obrigada por realizar
todos os meus desejos, que estão ao teu alcance e até mesmo os que não estão.
Ao meu avô Lucas, por compartilhar suas histórias e experiências. Obrigada pelas
nossas cantorias e brincadeiras. Vô, teu entusiasmo e humildade sempre me deixam orgulhosa
de ti. Obrigada pelos carinhos e massagens.
A minha avó Helaine, por me acompanhar em todas as etapas da minha vida pessoal
e acadêmica, sendo mais uma das pessoas que tornaram esse momento possível. Muito
obrigada, vó, por todos os cuidados, carinhos e amor que você me deu e me dá. Essas
demonstrações me fortalecem cada vez mais nessa jornada.
À minha avó Alice (in memorian) por fazer e dispor de tudo que tinha para que este
momento se realizasse. Jamais esquecerei do seu papel nessa jornada.
Aos meus irmãos, Yan, Sophia, e em especial, Leonardo e Pedro, que sempre
estiveram ao meu lado, tornando meus dias muito mais alegres e divertidos.
Ao meu padrasto Rodrigo, por sempre tornar tudo mais leve. Admiro teu carisma e
a forma como lida com os problemas diários. Obrigada pelos ensinamentos e pelas palavras de
apoio.
A minha madrasta Patrícia, por todo o companheirismo e por sempre estar presente
nos bons e maus momentos. Obrigada por sempre estar disposta a fazer de tudo para o nosso
bem-estar.
A todos esses familiares, muito obrigada! Obrigada por todo empenho, amor e
carinho. Essa conquista não é só minha, pois todos participaram ativamente de todo esse
processo. Gratidão pelo apoio incondicional de todos, por sempre acreditarem em mim, muitas
vezes até mais do que eu mesma. Amo todos vocês!
Ao meu querido e amado namorado Maurício, que apesar dos percalços, esteve ao
meu lado nesta caminhada, como colega, amigo e, especialmente, companheiro. Obrigada pelos
momentos de alegria que me proporcionou, principalmente nos períodos de tensão e ansiedade.
Entramos juntos nesta caminhada e, hoje, vemos o resultado desse processo. Que continuemos
crescendo juntos cada vez mais. Te amo muito!
À minha amiga Geovana, que se mostrou imprescindível nesta caminhada.
Esperava uma boa colega, e ganhei uma amiga. Obrigada, Geovana, por ser sempre essa pessoa
atenciosa e comprometida com tudo o que faz. Te admiro muito e desejo sempre o melhor para
você.
À minha amiga Graziela, que apesar de conhecer há pouco tempo, já tenho muito
carinho e consideração. Tenho orgulho e admiração pela pessoa empenhada e dedicada que és.
Grazi, tu és muito especial, conte comigo para o que precisar.
Agradeço a todo o corpo docente da Unisul, especialmente, ao meu orientador,
Fábio Gesser Leal, pelo máximo empenho e dedicação para a produção deste trabalho.
Agradeço a todos os meus amigos e colegas acadêmicos que foram preciosos durante esta
jornada.
A todos os demais familiares, amigos, professores e profissionais que contribuíram,
apoiaram e auxiliaram nesta caminhada.
“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana
seja apenas outra alma humana”. (Carl Gustav Jung).
RESUMO

A presente monografia apresenta um estudo acerca da viabilidade e dos benefícios da


desjudicialização da execução civil de obrigação de pagar quantia certa, no cenário brasileiro.
O objetivo geral desta pesquisa é apurar quais os reais benefícios da desjudicialização da
execução civil por quantia certa de títulos judiciais e extrajudiciais no ordenamento jurídico
brasileiro. Os objetivos específicos são: descrever o atual sistema brasileiro de execução civil;
descrever o fenômeno da desjudicialização, no âmbito da execução civil, com base na
implementação desse modelo em outros países; demonstrar a efetividade de outros temas que
já foram desjudicializados no Brasil; comparar as condições e os fatores externos dos países
estrangeiros que já se utilizam da desjudicialização com os fatores e condições do Brasil;
demonstrar os verdadeiros impactos e benefícios dessa proposta na realidade brasileira; e,
analisar o Projeto de Lei nº 6.204/19. Diante do exposto, a questão que guiará esta pesquisa
será: Quais os reais benefícios da desjudicialização da execução por quantia certa de títulos
judiciais e extrajudiciais no ordenamento jurídico brasileiro? Quanto à metodologia, o presente
trabalho monográfico pode ser classificado como uma pesquisa bibliográfica e documental, de
caráter dedutivo, natureza exploratória, e, abordagem qualitativa. Os resultados obtidos indicam
que os reais benefícios da desjudicialização da execução por quantia certa de títulos judiciais e
extrajudiciais no ordenamento jurídico brasileiro são, em síntese: a redução da sobrecarga do
Poder Judiciário; maior efetividade e celeridade da execução, de modo econômico e
simplificado; redução de despesas do judiciário; e, redução de atos do processo executivo do
Poder Judiciário, reservando-se para o magistrado a prática exclusiva de atos que exijam maior
cognição.

Palavras-chave: Execução civil. Obrigação de pagar quantia. Desjudicialização.


ABSTRACT

This monograph presents a study on the feasibility and benefits of access to justice beyond
courts of the obligation to pay amount, in the Brazilian scenario. The general objective of this
research is to find out what are the real benefits of de-judicialization of civil execution of the
obligation to pay amount of judicial and extrajudicial titles in the Brazilian legal system. The
specific objectives are: to describe the current Brazilian civil enforcement system; describe the
phenomenon of de-judicialization, in the context of civil enforcement, based on the
implementation of this model in other countries; demonstrate the effectiveness of other issues
that have already been de-judicialized in Brazil; compare the conditions and external factors of
foreign countries that are already using de-judicialization with the factors and conditions of
Brazil; demonstrate the true impacts and benefits of this proposal in the Brazilian reality; and,
analyze Bill 6.204/19. Given the above, the question that will guide this research will be: What
are the real benefits of de-judicialization of enforcement of amount of judicial and extrajudicial
titles in the Brazilian legal system? As for the methodology, the present monographic work can
be classified as a bibliographical and documental research, of deductive character, exploratory
nature, and, qualitative approach. The results obtained indicate that the real benefits of de-
judicialization of enforcement of amount of judicial and extrajudicial titles in the Brazilian legal
system are, in summary: the reduction of the burden on the Judiciary; greater effectiveness and
speed of execution, in a cost-effective and simplified way; reduction of expenses for the
judiciary; and, reduction of acts of the executive process of the Judiciary Power, reserving for
the magistrate the exclusive practice of acts that demand greater cognition.

Keywords: Civil enforcement. Justice beyond courts. De-judicialization.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................. 10
2 EXECUÇÃO CIVIL NO BRASIL .................................................................................. 13
2.1 ASPECTOS GERAIS DO FENÔMENO EXECUTÓRIO.............................................. 13
2.2 SISTEMA BRASILEIRO DE EXECUÇÃO CIVIL ....................................................... 18
2.3 A EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA ...................................................................... 22
3 A DESJUDICIALIZAÇÃO ............................................................................................. 30
3.1 ASPECTOS GERAIS DO FENÔMENO DA DESJUDICIALIZAÇÃO ........................ 30
3.2 A DESJUDICIALIZAÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO E O PRINCÍPIO DA
INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO ............................................................................ 34
3.3 A DESJUDICIALIZAÇÃO DA EXECUÇÃO CIVIL EM OUTROS PAÍSES ............. 40
4 VIABILIDADE E BENEFÍCIOS DA APLICAÇÃO DO MODELO DE
DESJUDICIALIZAÇÃO NA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA NO BRASIL ..... 46
4.1 VIABILIDADE E IMPASSES NA IMPLEMENTAÇÃO DA DESJUDICIALIZAÇÃO
46
4.2 O PROJETO DE LEI Nº 6.204/19 ................................................................................... 51
4.3 BENEFÍCIOS DA DESJUDICIALIZAÇÃO NA EXECUÇÃO POR QUANTIA
CERTA ..................................................................................................................................... 56
5 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 61
10

1 INTRODUÇÃO

No cenário atual, vê-se uma crise no sistema judiciário brasileiro, devido à sua
sobrecarga. Percebe-se, então, que tal sistema não vem cumprindo da melhor forma com o seu
dever de prestar a tutela jurisdicional eficientemente. Ressalte-se que o processo executivo
precisa assegurar os resultados concretos prometidos pelo direito material, com o menor
dispêndio possível de tempo e de recursos. E, para o jurisdicionado, é sobremaneira importante
a satisfação do direito material. Portanto, tão ruim ou pior que um Estado que não reconhece os
direitos materiais é um Estado que não consegue garantir esses direitos. Dessa forma, o presente
trabalho de conclusão de curso de Direito possui como objeto de estudo a execução civil de
obrigação de pagar quantia, especialmente estudando a viabilidade e os benefícios da
desjudicialização da execução no cenário brasileiro.
Tendo isso em vista, o objetivo geral desta pesquisa é apurar quais os reais benefícios
da desjudicialização da execução civil por quantia certa de títulos judiciais e extrajudiciais no
ordenamento jurídico brasileiro. Os objetivos específicos são descrever o atual sistema
brasileiro de execução civil, de forma a evidenciar a execução por quantia certa; descrever o
fenômeno da desjudicialização, no âmbito da execução civil, com base na implementação desse
modelo em outros países; demonstrar a efetividade de outros temas que já foram
desjudicializados no Brasil; comparar as condições e os fatores externos dos países estrangeiros
que já se utilizam da desjudicialização com os fatores e condições do Brasil; demonstrar quais
os verdadeiros impactos e benefícios dessa proposta na realidade brasileira; e, analisar o Projeto
de Lei nº 6.204/19 e apurar questões que geram dúvidas e críticas quanto a sua implementação.
A justificativa do estudo encontra-se na relevância do tema para a busca de uma possível
solução para melhorar a prestação jurisdicional como um todo. Com efeito, conforme dados do
Conselho Nacional de Justiça, observa-se que o Poder Judiciário conta com um vasto número
de processos pendentes, em sua maioria tratando-se da fase de execução. Percebe-se, portanto,
que há um problema na execução civil que a torna infrutífera. Diante disso, várias são as
propostas para combater tal óbice, entre elas está a desjudicialização da execução civil, a qual
busca delegar atos de execução para um terceiro privado e imparcial. O fenômeno da
desjudicialização é um caminho natural, e verifica-se isso em outros temas que sofreram com
o mesmo, como a arbitragem, o inventário, a separação e o divórcio, por exemplo.
Inúmeros países europeus aderiram ao fenômeno da desjudicialização, em diferentes
formatos, alguns com mais e outros com menos intervenção privada, todos obtiveram
11

experiências positivas. Assim, diante do colapso da fase executiva, a desjudicialização seria


uma excelente proposta para o Brasil adotar.
Como resultado dessa demanda, hoje tem-se o Projeto de Lei 6.204/2019, em
tramitação, de autoria da senadora Soraya Thronicke (PSL/MS), que teve como base a tese de
doutorado de Flávia Pereira Ribeiro. Tal projeto trata da execução extrajudicial
(desjudicialização) civil de títulos executivos judiciais e extrajudiciais. Vale evidenciar que o
projeto teve como referência o modelo de desjudicialização de Portugal.
É intuitivo que a desjudicialização pode trazer consigo incontáveis avanços. Mas, é
preciso salientar que a ineficiência das execuções pode vir de diferentes fatores, portanto o
problema não se encontra apenas no método processual adotado no Brasil. Ademais, sabe-se
que, um dos maiores problemas que os juízes enfrentam é o gargalo da execução. E, a crise da
jurisdição passa, necessariamente por esse óbice. Desse modo, revela-se a importância desta
pesquisa no fato de a desjudicialização ser uma provável solução não só para amenizar a crise
da jurisdição, retirando a sobrecarga do Judiciário, mas também para amparar o jurisdicionado,
a fim de que possa receber a tutela jurisdicional em tempo razoável, adequado e justo, de modo
efetivar a execução.
Ademais, conforme pesquisas realizadas no Repositório Institucional da Unisul –
RIUNI, verificou-se que não há trabalhos acadêmicos com o objetivo do tema proposto,
encontrando-se apenas assuntos que ou abordam unicamente a execução civil ou a
desjudicialização de outros conteúdos. Identifica-se, portanto, o ineditismo do tema no
ambiente acadêmico.
Diante disso, a desjudicialização da execução civil torna-se um dos temas mais
importantes da atualidade do processo e, justifica-se a escolha do tema por sua notável
relevância jurídica. Como exemplo de atualidade e pertinência, tem-se o Projeto de Lei
6.204/19, já mencionado acima, que representa importante avanço para o amadurecimento das
discussões em torno do assunto. Tal projeto apresenta diversas questões polêmicas que ainda
necessitam de muitos debates. Sendo assim, a pesquisa e a discussão em torno da temática é de
extrema relevância, visto que contribui para a dogmática jurídica, pois incentiva os acadêmicos,
doutrinadores e juristas de Direito Processual Civil a explorar e trazer novas propostas e críticas
acerca da desjudicialização da execução civil por quantia certa de títulos judiciais e
extrajudiciais.
Diante do exposto, a questão que guiará esta pesquisa será: Quais os reais benefícios da
desjudicialização da execução por quantia certa de títulos judiciais e extrajudiciais no
ordenamento jurídico brasileiro?
12

A hipótese básica estabelecida como resposta ao problema de pesquisa é a seguinte: a


desjudicialização da execução civil de obrigação de pagar quantia irá contribuir para a
economia dos cofres públicos, eficácia, celeridade, segurança e justiça do direito reconhecido
na sentença ou no título extrajudicial, de modo a efetivar o cumprimento das decisões. Além
disso, fará com que haja o alívio dos magistrados, pois poderão dedicar seu tempo,
exclusivamente, com as causas que exijam maior cognição, e não mais com atos burocráticos.
Quanto à metodologia, a presente pesquisa pode ser classificada segundo os critérios de:
método de abordagem, nível de profundidade, abordagem e procedimento. Assim, o método de
abordagem da presente pesquisa é o dedutivo, pois parte de uma proposição geral para atingir
uma conclusão específica. Quanto ao nível de profundidade, verifica-se a natureza exploratória.
Quanto à abordagem, classifica-se como qualitativa, pois uma vez que, pautou-se em uma
análise subjetiva, intuitiva e reflexiva do assunto. No que se refere ao procedimento para a
coleta de dados, trata-se de uma pesquisa bibliográfica e documental, visto que as fontes
utilizadas tiveram origem predominantemente na doutrina, leis, jurisprudências, livros, artigos
científicos, artigos de revistas, teses, dissertações, dados disponibilizados por órgão
governamentais e projetos de leis.
O trabalho de conclusão de curso tem seu desenvolvimento estruturado em três
capítulos, que são antecedidos pela introdução e sucedidos pela conclusão, formando o conjunto
dos elementos textuais.
O primeiro capítulo do desenvolvimento apresenta a trajetória da execução, desde o seu
conceito, inclusive, abordando seus principais aspectos. Bem como, demonstra a execução civil
no cenário brasileiro, com a exposição e explicação da execução por quantia certa.
O segundo capítulo do desenvolvimento destaca o fenômeno da desjudicialização, com
exposição de seus aspectos gerais, como conceitos, causas e aspecto histórico, a sua
implantação no Brasil, sua relação com o princípio da inafastabilidade da jurisdição e, por fim,
a implantação da desjudicialização da execução civil em outros países.
Por fim, o terceiro capítulo do desenvolvimento averigua a viabilidade e os possíveis
impasses na implementação da desjudicialização. Inclusive, faz uma análise do Projeto de Lei
nº 6.204/19, juntamente com a perspectiva de juristas e doutrinadores. E, demonstra, também,
os benefícios da desjudicialização na execução por quantia certa no Brasil.
13

2 EXECUÇÃO CIVIL NO BRASIL

Inicialmente, para a compreensão em torno do presente estudo, torna-se imprescindível


a demonstração da trajetória da execução, desde o seu conceito, inclusive, abordando seus
principais aspectos. Também, necessária a demonstração da execução civil no cenário
brasileiro, com a exposição e explicação da execução por quantia certa, de forma específica,
posto que tal modalidade de execução é o cerne da pesquisa.

2.1 ASPECTOS GERAIS DO FENÔMENO EXECUTÓRIO

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso XXXV (Brasil, 1988),
estabelece que “ a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.
Tal garantia não se restringe apenas a viabilização das lides serem levadas ao Poder Judiciário,
mas principalmente, que estas sejam solucionadas de forma efetiva, produzindo resultados reais
no mundo dos fatos. (SOUZA, 2014, p. 109).
Desta forma, somente pode-se considerar justa, a tutela jurisdicional que, ao ser entregue
ao jurisdicionado, consiga pôr em prática todos os princípios do devido processo legal, com
adequação de meios e resultados, de forma que a função estatal seja praticada legitimamente.
Além disso, tal tutela deve proporcionar ao jurisdicionado liberdade e condições de impor-se
na formação do resultado do processo, reconhecendo e permitindo a fruição do direito ao
litigante que seja dela merecedor. (ABELHA, 2019, p. 2-3).
Nessa perspectiva, entende-se que o direito de ação não só atribui ao jurisdicionado o
direito a obtenção de decisão que promova o respectivo direito, mas também lhe atribui o direito
à obtenção da efetiva satisfação empírica da parte. E, isso, pode-se demonstrar com o artigo 4º
do Código de Processo Civil: “As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução
integral do mérito, incluída a atividade satisfativa”. Dessa forma, percebe-se que a atividade
satisfativa é inerente à prestação da tutela jurisdicional, sendo, inclusive, uma função do Poder
Judiciário. Essa atividade satisfativa pode se dar por meio do cumprimento de sentença ou por
processo de execução. (ALVIM, 2019, p. 1399).
Nesse sentido, comenta Gajardoni (2018, p. 1):

A depender da pretensão a ser exercida, nosso sistema oferece ao jurisdicionado 03


(três) formas para o exercício do direito de ação (pese sua abstração e singularidade).
Tem-se a pretensão cognitiva (Livro I, da parte especial), exercitada toda vez que se
objetivar a afirmação do direito, o acertamento ou a definição de quem tem razão, com
a declaração da existência ou inexistência da relação jurídica controvertida; a criação,
modificação ou extinção de relação jurídica; ou o reconhecimento e imposição de uma
obrigação de fazer, não fazer, dar ou pagar quantia. Tem-se a pretensão cautelar (arts.
14

300 a 302 e 305 a 310 do CPC/2015) para os casos em que, havendo probabilidade do
direito, seja necessária intervenção judicial a bem de evitar risco ao resultado útil do
processo (de conhecimento ou execução). E tem-se a pretensão executiva, tratada
tanto nos arts. 513 a 538 do CPC/2015 (cumprimento de sentença) (execução de título
judicial) quanto no livro II, da parte especial, do CPC/2015 (arts. 771 a 925) (execução
de título extrajudicial).

Nesta ambiência, no âmbito do processo civil, Bueno (2020, p. 87 e 90) reitera que a
tutela jurisdicional executiva busca a satisfação do exequente, em concordância com o direito
que é retratado no título executivo, seja ele judicial ou extrajudicial. Esta satisfação acontece
por meio de diversos atos jurisdicionais, os quais podem ser chamados de “atividade
jurisdicional executiva”. Assim, a palavra “execução” pode ser entendida como sinônimo de
concretização da tutela jurisdicional executiva.
Isto posto, torna-se possível perceber a existência de uma fase de conhecimento e de
uma fase de execução. A primeira tem por objetivo a confecção de uma sentença, na qual o juiz
dirá o direito, julgando e resolvendo a incerteza a respeito da pretensão do autor. A segunda,
por sua vez, busca que o juiz tome providências concretas, de forma a satisfazer o titular do
direito. (GONÇALVES, 2017, p. 901).
Ademais, de acordo com Ribeiro (2019b, p. 471), a execução civil pode ser entendida
como uma atividade processual, exercida pelo Estado, que garante a satisfação concreta de um
crédito. Sendo possível e lícito ao credor, postular em juízo a prática de atos jurisdicionais de
agressão patrimonial para garantir o cumprimento do dever, e assim, sucessivamente, a
satisfação do crédito. Além disso, ressalta-se que não há dependência entre a execução
(atividade) e a existência de um processo de execução, pois a atividade pode ocorrer em um
processo autônomo de execução ou no processo de conhecimento (cumprimento de sentença).
Ainda, reforça o autor que, o atual sistema comtempla duas possibilidades de exercício da
execução. A primeira se baseia em um título executivo judicial, cujo procedimento leva o nome
de cumprimento de sentença. A segunda, por sua vez, ocorre por meio de um processo
autônomo de execução, quando o jurisdicionado detém título executivo extrajudicial.
Isto posto, Greco (2020, p. 14) esclarece:

Incumprida a obrigação pelo devedor, e desde que munido o credor de título


executivo, põe o direito à disposição do credor um conjunto de meios executórios,
cuja atuação se realiza com ou sem a colaboração voluntária do inadimplente. A
execução civil visa a anular os efeitos do ato ilícito, ou seja, conseguir por outros
meios o mesmo resultado, ou pelo menos outro, quanto mais próximo possível ao que
teria decorrido da espontânea observância do imperativo originário. Sua finalidade é
reparatória, satisfativa: propõe-se restabelecer e satisfazer, à custa do responsável, o
direito subjetivo que o ilícito inadimplemento violou. Esse restabelecimento da ordem
jurídica, mediante a satisfação integral do direito violado, é o escopo da execução.
15

Gonçalves (2017, p. 902-907), ainda, classifica a execução civil, dentre outras


modalidades, em título judicial ou extrajudicial; em mediata e imediata; em cumprimento
definitivo ou provisório de sentença; e em obrigação de fazer ou não fazer, obrigação de
entregar coisa, e obrigação de pagar quantia.
Quanto ao título executivo, este revela-se imprescindível para qualquer execução,
sendo, portanto, documento necessário e suficiente para a prática de atos executivos. Necessário
porque, sem título executivo, não há execução. Suficiente porque basta a apresentação do título
para o início dos atos executivos pelo estado-juiz, independentemente de qualquer juízo de valor
expresso acerca do direito nele retratado. Tal título executivo pode ter sua origem judicial ou
extrajudicial, cujos atos e procedimentos variam para a concretização da tutela jurisdicional
executiva. Também, a obrigação retratada em ambos os títulos deve ser certa, líquida e exigível.
(BUENO, 2020, p. 159-160).
Pode-se conceituar obrigação líquida, certa e exigível como sendo aquela perfeitamente
determinada quanto ao seu valor, qualidade e quantidade, sobre o qual não haja dúvidas quanto
à sua existência. Também, não deve estar sob dependência de termo ou condição, na chamada
execução diferida. (ARAUJO JÚNIOR, 2018, p. 428).
Nesta perspectiva, cabe ainda salientar que, várias teorias foram desenvolvidas com o
propósito de consolidar a definição do título, sendo as mais importantes as desenvolvidas por
Piero Calamandrei (teoria documental do título executivo) e por Enrico Tullio Liebman (teoria
do título executivo como ato jurídico). O primeiro autor afirmava que título executivo seria o
documento apresentado pelo credor para fundamentar a execução. Em contrapartida, Liebman
afirmava que o título diria respeito ao ato ou ao fato jurídico que o direito elegeu como de
especial importância, sem supervalorizar o seu aspecto documental. (MONTENEGRO FILHO,
2019, p. 627).
No que tange aos títulos executivos extrajudiciais, estes são classificados como aqueles
formados fora do juízo, previstos no artigo 784 do CPC e em leis especiais. Neste caso, há
sempre processo autônomo. Desse modo, a atividade executiva possui natureza mediata,
autônoma, sendo prescindível o prévio processo de conhecimento, porque tais títulos gozam de
um grau de certeza tal que permite a instauração da execução, sem prévia fase cognitiva. A
execução por título executivo extrajudicial será sempre definitiva. (GONÇALVES, 2017, p.
902 – 930).
Ainda, destaca-se que, o título executivo extrajudicial é considerado de restrita
interpretação, pois encontra seus fundamentos no acertamento dos particulares e não da
atividade jurisdicional. (SANTOS, 2017, p. 136).
16

Segundo Gonçalves (2017, p. 902 - 930), os títulos executivos judiciais, por sua vez,
são aqueles emanados do Poder Judiciário. E, ressalta-se que, devido ao princípio da
taxatividade, só a lei pode criá-los. Dessa forma, estão previstos no Código de Processo Civil –
CPC - em seu artigo 515 e em leis especiais. Nesse caso, pode-se afirmar que a execução terá
caráter de procedimento, visto que, em regra, não forma um processo novo, mas apenas uma
fase. Assim, verifica-se que a atividade executiva possui natureza imediata, posto que não há
processo autônomo, salvo nos casos de execuções fundadas em sentença arbitral, penal
condenatória ou estrangeira. Também, com este título é possível que o cumprimento de
sentença possa ser definitivo ou provisório.
Destarte, Abelha (2019, p. 39-40) enfatiza que, quando se tratar de procedimento
executivo por expropriação (pagamento de quantia), transformação (fazer ou não fazer) ou
desapossamento (entrega de coisa), se o título for judicial, um só processo é instaurado
(cumprimento de sentença). Todavia, quando se tratar de execução fundada em título
extrajudicial, será necessária a instauração de um processo autônomo.
O cumprimento da sentença abrange a execução de títulos judiciais, que se dará por
meio de uma fase processual, ligada ao processo de conhecimento. Ressalta-se ainda, que as
características mais marcantes a respeito do cumprimento de sentença são a subsidiariedade,
pois aplicável na execução de título extrajudicial, e a possibilidade de o exequente, titular do
direito reconhecido por sentença, requerer a abertura da fase de cumprimento, sendo vedado ao
magistrado iniciar a fase de execução incidental de ofício. (THAMAY, 2020, p. 669-671).
Neste viés, pode-se visualizar que nos artigos 513 a 519 do Código de Processo Civil,
consta as disposições gerais aplicáveis ao cumprimento de todas as sentenças. Cujas obrigações
podem ser de fazer, de não fazer, de entregar coisa ou pagar quantia. Pode-se afirmar, ainda,
que a expressão cumprimento de sentença disposta no CPC/2015 é genérica, visto que abrange
não só as sentenças em sentido estrito, mas também as decisões interlocutórias que reconheçam
a exigibilidade de obrigação. (THEODORO JUNIOR, 2020a, p.17).
Vale ainda ressaltar que, além das decisões que reconheçam a exigibilidade de obrigação
de pagar quantia, fazer, de não fazer ou de entregar coisa, também se sujeitam ao procedimento
de cumprimento de sentença: a) as decisões homologatórias de autocomposição judicial ou
extrajudicial; b) o formal e a certidão de partilha; c) o crédito de auxiliar de justiça aprovado
por decisão judicial; d) a sentença penal condenatória transitada em julgado; e) sentença
arbitral; f) a sentença e a decisão interlocutória estrangeira. (CARNEIRO, 2019, p. 126).
Além disso, salienta-se que, o cumprimento de sentença pode ser definitivo ou
provisório. Será definitivo quando a decisão de mérito, sentença ou acórdão já houver transitado
17

em julgado. Será provisório quando a decisão, sentença ou acórdão tiver sido impugnado por
recurso, sem efeito suspensivo; ou nos casos de efetivação de tutela provisória. Importante frisar
que ambos se processam do mesmo modo, todavia o provisório corre por conta e risco do
exequente, pois corre sempre o risco de reforma. Por isso, nela se exige caução para os atos que
importem levantamento de dinheiro, transferência de posse ou alienação de domínio ou que
possam trazer grave dano ao executado. Entretanto, há casos em que, a caução poderá ser
dispensada. (GONÇALVES, 2017, p. 904 - 907).
O processo de execução, por sua vez, tem por finalidade a entrega, pelo Estado, de uma
prestação jurisdicional que satisfaça de maneira efetiva e concreta o direito da parte autora, já
reconhecido em um título executivo extrajudicial. Ressalta-se que, o processo de execução não
tem por escopo reconhecer nem declarar direitos, mas sim, a efetivação material destes, por
meio de atos de invasão estatal no patrimônio do devedor. (SALES, 2018, p. 421).
Para Araujo Júnior (2018, p. 421), o processo de execução é aquele que invoca uma
tutela de execução (força estatal), que busca cumprir o direito já reconhecido em certos títulos
extrajudiciais. Desta forma, os titulares dos títulos a quem a lei confere força executiva estão
dispensados de ajuizar o processo de conhecimento, podendo demandar diretamente a tutela
executiva.
As execuções de título executivo extrajudicial são diferenciadas conforme a espécie de
obrigação envolvida. Dessa forma, podem ser: a) para a entrega de coisa certa ou incerta; b) de
obrigação de fazer ou de não fazer; c) de obrigação por quantia certa em geral; d) contra a
Fazenda Pública; e e) de obrigação alimentar. À vista disso, pode-se demonstrar que as
principais diferenças entre execução de título extrajudicial e execução de título judicial
(cumprimento de sentença) é que a execução de título extrajudicial sempre gerará um processo
novo e a defesa do executado se faz mediante embargos à execução, que se constituem em ação
autônoma. De outro lado, o cumprimento de sentença não gera novo processo, visto que será
apenas uma fase no processo sincrético que compreende conhecimento, liquidação e execução,
além disso, o executado se defende por meio de impugnação, que, em regra, é julgada por
decisão interlocutória. (LUNARDI, 2019, p. 822).
Diante do exposto, resta evidente que no processo de conhecimento, busca-se o
acertamento do direito, a aplicação do direito ao caso concreto. Ou seja, o autor da ação de
cobrança busca que o réu seja condenado a prestar aquilo que lhe é devido, não sem antes passar
pelo elemento declaratório, ínsito a toda constituição e condenação. O processo de execução ou
a fase de cumprimento de sentença, por sua vez, busca que o direito já assegurado ao autor, por
18

decisão judicial ou por documento com força executiva (títulos extrajudiciais), seja efetivado,
isto é, implementado na ordem prática. (ALVIM, 2019, p. 1402).

2.2 SISTEMA BRASILEIRO DE EXECUÇÃO CIVIL

Com relação ao tema apresentado, possível perceber que o sistema brasileiro de


execução civil é baseado na execução fundada em título judicial, denominada cumprimento de
sentença, que constitui apenas uma fase subsequente ao processo de conhecimento, na qual
tenha sido proferida sentença condenatória; e na execução fundada em título executivo
extrajudicial, que implica a formação de um novo processo. (GONÇALVES, 2017, p. 898).
No sistema brasileiro, portanto, a execução se desenvolve de formas diferenciadas.
Pode-se identificar a execução (atividade executiva) diante de um título judicial ou de um título
extrajudicial. As formas executivas são, desta maneira, diferenciadas, havendo procedimentos
diversos conforme a natureza do título e conforme a natureza da obrigação. (CARDOSO, 2017,
p.1).
Diante disso, importante destacar os artigos 515 e 784 do Código de Processo Civil, que
tratam, respectivamente, do título executivo judicial e do título executivo extrajudicial, sem
prejuízo da indicação de outros títulos em lei especial:

Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com
os artigos previstos neste Título:
I - as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de
obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa;
II - a decisão homologatória de autocomposição judicial;
III - a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de qualquer natureza;
IV - o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos
herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal;
V - o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas, emolumentos ou honorários
tiverem sido aprovados por decisão judicial;
VI - a sentença penal condenatória transitada em julgado;
VII - a sentença arbitral;
VIII - a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça;
IX - a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exequatur à carta
rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça;

[...]

Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais:


I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque;
II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor;
III - o documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas) testemunhas;
IV - o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria
Pública, pela Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores ou por conciliador
ou mediador credenciado por tribunal;
V - o contrato garantido por hipoteca, penhor, anticrese ou outro direito real de
garantia e aquele garantido por caução;
VI - o contrato de seguro de vida em caso de morte;
19

VII - o crédito decorrente de foro e laudêmio;


VIII - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem
como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio;
IX - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei;
X - o crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de condomínio
edilício, previstas na respectiva convenção ou aprovadas em assembleia geral, desde
que documentalmente comprovadas;
XI - a certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa a valores de
emolumentos e demais despesas devidas pelos atos por ela praticados, fixados nas
tabelas estabelecidas em lei;
XII - todos os demais títulos aos quais, por disposição expressa, a lei atribuir força
executiva. (BRASIL, 2015).

Feitas essas declarações, importante destacar alguns dos princípios gerais da execução,
que regem o sistema brasileiro de execução civil, a saber, o princípio da autonomia, o princípio
do título, o princípio da patrimonialidade, o princípio do exato adimplemento, o princípio da
disponibilidade da execução, o princípio da utilidade, o princípio da menor onerosidade, o
princípio do contraditório e o princípio da atipicidade dos meios.
O princípio da autonomia estrutural dispõe que a execução de título extrajudicial tramita
em processo autônomo, onde há atividade eminentemente satisfativa. Desse modo, quando
opostos embargos à execução, instaura-se novo processo, com atividade cognitiva, que será
autuado em apartado e terá procedimento próprio. Cabe evidenciar que este princípio somente
se aplica às execuções de títulos extrajudiciais, visto que no cumprimento de sentença, vige o
princípio do sincretismo, pois execução da sentença ocorrerá no mesmo processo em que
tramitou a ação de conhecimento. (LUNARDI, 2019, p. 799).
O princípio do título estabelece que não há execução sem um título executivo, que deve
ser líquido, certo e exigível. Ou seja, é preciso saber quem deve, para quem se deve, quanto se
deve e quando deveria ter sido adimplida a obrigação. E, faltando liquidez, certeza ou
exigibilidade, será nula a execução. Sabe-se que tais títulos podem ser de natureza judicial ou
extrajudicial, ambos os casos possuem força normativa, e cabe ao Poder Judiciário compelir o
devedor da obrigação a adimpli-la, imiscuindo-se no patrimônio deste, se for o caso, para
satisfazer o credor. (ALVIM, 2019, p. 1404).
Ainda, em relação ao referido princípio, Bueno (2020, p. 99) destaca que a atual
compreensão deste impõe leitura mais ampla e sistemática para verificar que os títulos
executivos nele previstos não são os únicos a legitimar a prestação da tutela jurisdicional
executiva, sendo indiferente, para tanto, que a formação do título seja judicial ou extrajudicial.
O princípio da patrimonialidade, contido no artigo 789 do CPC, fundamenta que a
execução recai sobre o patrimônio do devedor, sobre os seus bens, não sobre sua pessoa.
Ressalta-se que, atualmente existe apenas um caso de prisão civil em nosso ordenamento
20

jurídico: a do devedor de alimentos decorrentes do direito de família, isto é, de casamento, união


estável e parentesco. Vale dizer que, outros meios de coerção, como a multa, a busca e
apreensão e a tomada de bens não violam este princípio, pois dizem respeito aos bens do
devedor, não à sua pessoa. (GONÇALVES, 2017, p. 908).
A respeito do princípio do exato adimplemento ou da especificidade, entende-se que a
efetividade de uma execução se encontra ligada à tentativa de se entregar ao exequente o bem
da vida em termos idênticos ao direito anteriormente descumprido. (ONO, 2018, p. 20).
Ainda em relação a tal princípio, verifica-se, portanto que a execução deve ser
específica, atribuindo ao credor exatamente aquilo a que faz jus. Somente em duas situações a
obrigação específica será substituída pela de reparação de danos: quando o credor preferir, ou
quando o cumprimento específico se tornar impossível. Por outro lado, este princípio também
impõe que a execução deve se limitar àquilo que seja suficiente para garantir o cumprimento
da obrigação. (GONÇALVES, 2017, p. 908-909).
O princípio da disponibilidade da execução, disposto no artigo 775 do CPC, garante ao
exequente o direito de desistir de toda a execução ou de apenas alguma medida executiva, sem
que isso afete a existência, a validade ou a eficácia da obrigação representada no título
executivo, que pode, inclusive, ser objeto de nova execução. Ademais, vale ressaltar que, tal
princípio vige em matéria de execução, inclusive em sede de cumprimento provisório de
sentença, pois o credor pode desistir a qualquer tempo e grau de jurisdição, podendo, inclusive,
sequer exercitá-la. (GAJARDONI, 2018, p. 34).
Quanto ao princípio da utilidade, este revela-se importante pois prevê que a execução
só cumprirá o seu papel se trouxer alguma vantagem para o credor. Isso porque, a finalidade da
execução é conquistar a satisfação total ou parcial do crédito. Desse modo, caso os bens
encontrados forem suficientes para fazer frente a alguma parte do débito, ainda que pequena, a
execução prosseguirá. (GONÇALVES, 2017, p. 909- 910).
O princípio da menor onerosidade ou do favor debitoris, decorre da regra contida no
artigo 805 do CPC, segundo o qual, no caso de existir vários meios para a promoção da
execução, o juiz deve optar pelo meio menos gravoso para o executado. Este princípio tem por
objetivo resguardar o interesse do devedor, evitando que a execução possa aviltá-lo. Ainda,
quando a invocação deste princípio surgir do interesse do devedor, este deverá indicar ao juiz
os meios menos onerosos e mais eficazes e se não o fizer, serão mantidos os atos executivos já
fixados pelo juiz. (SALES, 2018, p. 441).
Em relação ao princípio do contraditório, sabe-se que este não é específico da execução,
mas do processo em geral. Entretanto, este deve ser também observado na execução civil, pois
21

o executado deve ser citado e intimado de todos os atos do processo, tendo oportunidade de se
manifestar, por meio de advogado. Também, quando houver qualquer tipo de incidente
processual, como os cálculos de liquidação, penhora e avaliação de bens, o executado terá
também oportunidade de se manifestar. (GONÇALVES, 2017, p. 910-911).
Por fim, o princípio da atipicidade dos meios revela que não existem meios definidos na
lei para usar da coerção. São variados esses meios previstos em lei: penhora, expropriação,
busca e apreensão, astreintes, arresto executivo, remoção de pessoas ou coisas, fechamento de
estabelecimentos comerciais etc. Todavia, apesar de o rol legal ser amplo, a doutrina é pacífica
no entendimento de se tratar de rol meramente exemplificativo, podendo o juiz adotar outros
meios executivos que não estejam expressamente consagrados em lei. Ainda, de acordo com
este princípio, conforme o entendimento de Neves, a previsão contida no art. 139, IV, do CPC
pode ser aplicada de forma ampla e irrestrita, a qualquer espécie de execução,
independentemente da natureza da obrigação exequenda, e, em especial, nas obrigações de
pagar quantia certa. (NEVES, 2018, p. 31).
Ainda, com relação ao atual sistema brasileiro de execução civil, cabe destaque a
discussão sobre o atual cenário do Poder Judiciário, a fim de que se possa compreender mais
sobre a necessidade de mudanças no âmbito da execução civil. Nesse sentido, quanto ao tema
da crise do Poder Judiciário, Scalabrin (2017, p.1) cita o autor Marcelo Abelha, informando que
este destaca uma visão pessimista sobre o novo diploma processual. E, após, ao destacar a
vagueza conceitual do conceito de “crise“, busca identificar os fatores, ou causas, dessa chaga
que torna questionável a efetividade da tutela jurisdicional.
Abelha (2019, p. 31 - 33) afirma que nenhum Código será capaz de reduzir o tempo do
processo e sanar a morosidade da justiça, pois não são as técnicas processuais, os agentes
responsáveis pela tal crise que assola o Poder Judiciário. Desse modo, exemplifica três possíveis
causas para a atual crise do judiciário. A primeira seria uma crise estrutural do Poder Judiciário,
em razão das deficiências de espaço, instalações, equipamentos, funcionários, que acabam
revelando-se em meios materiais inadequados. A segunda seria uma crise de autogestão
administrativa do judiciário, visto que este é ineficiente e incapaz de realizar a gestão
administrativa de sua atividade em razão da ausência de logística e planejamento. A terceira,
por sua vez, refere-se a crise nos métodos e técnicas de resolução de conflitos, havendo,
portanto, uma ausência de meios alternativos para o tratamento desses conflitos.
Segundo o Relatório Justiça em Números 2020, o Poder Judiciário finalizou o ano de
2019 com 77,1 milhões de processos pendentes, sendo que mais de 11 milhões desses se
referiam a fase de execução civil. Percebe-se então que tal sistema não vem cumprindo com o
22

seu dever de prestar a tutela jurisdicional eficientemente, visto que a taxa de congestionamento
média dos processos em fase de execução é de 82,4%. E, o tempo médio de um processo
pendente na Justiça Comum no âmbito da execução é de 7 anos. (CNJ, 2020, p. 47 e 155).
A ausência de infraestrutura para atender a esses milhões de causas, portanto, refere-se
a uma falta de política pública adequada, e se revela em todos os setores da atuação estatal. Não
há nenhuma política pública no País que seja sequer satisfatória. O Estado não consegue prover
à prestação da justiça à população. Assim, a prestação de uma justiça adequada à população é
mais um exemplo concreto de inoperância e ineficiência da atuação estatal, que, certamente,
não será resolvida ou remediada por um novo diploma processual civil. (ABELHA, 2019, p.
33).
Nesse sentido, pode-se entender que o procedimento de execução, disposto no Código
de Processo Civil brasileiro é dispendioso, demorado e presta-se a manobras procrastinatórias
do devedor, notadamente nas execuções relativas a pagamento de quantia, quando exsurge a
necessidade, muitas vezes, de se ter que apreender bens do devedor a fim de obter, com a
respectiva alienação, numerário suficiente para o pagamento do credor. (LIMA, 2018, p. 46).

2.3 A EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA

Primordialmente, convém elucidar que, a execução de obrigação de pagar quantia é


aquela cujo débito pode provir de obrigação originariamente contraída em torno de dívida de
dinheiro ou pode resultar da conversão de obrigação de outra natureza no equivalente
econômico. A execução por quantia certa pode fundar-se tanto em título judicial como em título
extrajudicial. Pode, também, decorrer da substituição de obrigação de entrega de coisa e da
obrigação de fazer ou não fazer, quando a realização específica dessas prestações se mostrar
impossível ou quando o credor optar pelas equivalentes perdas e danos. Tem como objetivo
expropriar bens do devedor para apurar judicialmente recursos necessários ao pagamento do
credor. (THEODORO JÚNIOR, 2020b, p. 321 e 863).
Para Abelha (2019, p. 310):

A prestação de pagar quantia (modalidade de obrigação de dar) enseja a utilização de


técnicas processuais executivas que culminam com a expropriação forçada do
patrimônio do devedor em prol do credor no limite necessário à satisfação do crédito.
Há, por assim dizer, uma transferência de patrimônio do devedor para o credor no
limite do crédito exequendo.

Nesse mesmo sentido, Theodoro Júnior (2020b, p. 321 e 863) dispõe que, a obrigação
de quantia certa é, na verdade, uma obrigação de dar, cuja coisa devida consiste numa soma de
23

dinheiro. E, quando possível encontrá-la em espécie no patrimônio do devedor, o órgão judicial


a apreenderá para usá-la em pagamento do crédito do exequente. Caso isto não seja possível,
outros bens serão apreendidos para a conversão em dinheiro ou para adjudicação ao credor, se
a este convier assim se pagar.
Quanto ao cumprimento de sentença, definitivo ou provisório, que reconhece a
exigibilidade de obrigação de pagar quantia certa, este encontra-se disposto no capítulo III do
Título II (Do cumprimento de sentença) do Livro I (Do processo de conhecimento e do
cumprimento de sentença) da Parte Especial do Código de Processo Civil, nos artigos 523 a
527:

Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no


caso de decisão sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença
far-se-á a requerimento do exequente, sendo o executado intimado para pagar o débito,
no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de custas, se houver.
§ 1º Não ocorrendo pagamento voluntário no prazo do caput, o débito será acrescido
de multa de dez por cento e, também, de honorários de advogado de dez por cento.
§ 2º Efetuado o pagamento parcial no prazo previsto no caput, a multa e os honorários
previstos no § 1º incidirão sobre o restante.
§ 3º Não efetuado tempestivamente o pagamento voluntário, será expedido, desde
logo, mandado de penhora e avaliação, seguindo-se os atos de expropriação.
Art. 524. O requerimento previsto no art. 523 será instruído com demonstrativo
discriminado e atualizado do crédito, devendo a petição conter:
[...]
Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário,
inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para que o executado, independentemente de
penhora ou nova intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação.
[...]
§ 6º A apresentação de impugnação não impede a prática dos atos executivos,
inclusive os de expropriação, podendo o juiz, a requerimento do executado e desde
que garantido o juízo com penhora, caução ou depósito suficientes, atribuir-lhe efeito
suspensivo, se seus fundamentos forem relevantes e se o prosseguimento da execução
for manifestamente suscetível de causar ao executado grave dano de difícil ou incerta
reparação.
§ 7º A concessão de efeito suspensivo a que se refere o § 6º não impedirá a efetivação
dos atos de substituição, de reforço ou de redução da penhora e de avaliação dos bens
§ 8º Quando o efeito suspensivo atribuído à impugnação disser respeito apenas a parte
do objeto da execução, esta prosseguirá quanto à parte restante.
§ 9º A concessão de efeito suspensivo à impugnação deduzida por um dos executados
não suspenderá a execução contra os que não impugnaram, quando o respectivo
fundamento disser respeito exclusivamente ao impugnante.
§ 10. Ainda que atribuído efeito suspensivo à impugnação, é lícito ao exequente
requerer o prosseguimento da execução, oferecendo e prestando, nos próprios autos,
caução suficiente e idônea a ser arbitrada pelo juiz.
[...]
Art. 526. É lícito ao réu, antes de ser intimado para o cumprimento da sentença,
comparecer em juízo e oferecer em pagamento o valor que entender devido,
apresentando memória discriminada do cálculo.
§ 1º O autor será ouvido no prazo de 5 (cinco) dias, podendo impugnar o valor
depositado, sem prejuízo do levantamento do depósito a título de parcela
incontroversa.
§ 2º Concluindo o juiz pela insuficiência do depósito, sobre a diferença incidirão multa
de dez por cento e honorários advocatícios, também fixados em dez por cento,
seguindo-se a execução com penhora e atos subsequentes.
24

§ 3º Se o autor não se opuser, o juiz declarará satisfeita a obrigação e extinguirá o


processo.
Art. 527. Aplicam-se as disposições deste Capítulo ao cumprimento provisório da
sentença, no que couber. (BRASIL, 2015).

No caso do cumprimento definitivo de sentença de obrigação de pagar quantia certa,


sendo líquido e não mais sujeito a recurso o título executivo, pode o exequente requerer a
intimação do devedor para pagamento em 15 dias sob pena de multa. Ainda, em se tratando de
cumprimento de decisão interlocutória, necessário que não haja mais recurso pendente de
julgamento. Dessa forma, infere-se que, não se aplica esse procedimento ao julgamento parcial
de mérito, disposto no artigo 356, I, do CPC. Vale ainda ressaltar que, existem espécies de
títulos executivos judiciais que não admitem o cumprimento provisório, tão somente o
definitivo, como é o caso da sentença penal condenatória, que necessita do trânsito em julgado,
e da sentença estrangeira, que necessita da homologação do STJ. Será considerado
cumprimento provisório de sentença de obrigação de pagar quantia certa quando a decisão que
originar o título for objeto de recurso desprovido de efeito suspensivo. Conforme o caput do
artigo 520 do CPC, extrai-se que se aplicam ao cumprimento provisório as disposições
referentes ao cumprimento definitivo de sentença. (ALVIM, 2019, p. 1471-1479).
Quanto a execução de títulos extrajudiciais por quantia certa, esta encontra disposta no
capítulo IV do Título II (Das diversas espécies de execução) do Livro II (Do processo de
execução) da Parte Especial do Código de Processo Civil, sendo que suas disposições gerais
estão nos artigos 824 a 826:

Art. 824. A execução por quantia certa realiza-se pela expropriação de bens do
executado, ressalvadas as execuções especiais.
Art. 825. A expropriação consiste em:
I - adjudicação;
II - alienação;
III - apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e de
outros bens.
Art. 826. Antes de adjudicados ou alienados os bens, o executado pode, a todo tempo,
remir a execução, pagando ou consignando a importância atualizada da dívida,
acrescida de juros, custas e honorários advocatícios. (BRASIL, 2015).

No caso de execução de obrigação de pagar quantia certa, o procedimento a ser


observado na execução por quantia certa será o mesmo do cumprimento de sentença que
imponha obrigação pecuniária, com exceção das questões tocantes ao próprio início da
execução, que nesse caso se faz a partir da petição inicial, enquanto no cumprimento de sentença
há, como regra, “mero” requerimento (regra porque alguns títulos executivos judiciais não
autorizam cobrança dentro da mesma relação processual, como é o caso da sentença arbitral),
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bem como ao prazo para pagamento, regramento dos honorários advocatícios e a possibilidade
de parcelamento. (ALVIM, 2019, p. 1523-1524).
Cabe destacar que, existem execuções especiais por quantia certa que não se realizam
mediante expropriação de bens do executado. É o caso da execução contra a Fazenda Pública,
que se satisfaz mediante o pagamento do precatório ou da Requisição de Pequeno Valor. Da
mesma forma, a execução de alimentos, embora possa ser satisfeita pela expropriação de bens
do executado, pode lançar mão de outros meios executivos, como a prisão civil do alimentante.
(GAJARDONI, 2018, p. 212).
Nesta ambiência, para Carneiro (2019, p. 171):

A chave para a simplificação e o êxito do processo de execução por quantia certa


consiste na qualidade do bem apreendido: a) se for dinheiro, o pagamento ao
exequente pode ser imediato (artigo 905, primeira parte), ressalvada a possibilidade
de embargos à execução recebidos com efeito suspensivo (artigo 919, § 1º); b)
também será simplificado, parcialmente, o procedimento quando o exequente receber
em pagamento (adjudicação, artigos 876/878) os bens apreendidos, ou os frutos
produzidos por estes, como pode ocorrer com o usufruto de imóvel (artigo 825, incisos
I e III); c) no caso de alienação do bem apreendido para transformá-lo em dinheiro, o
procedimento será completo, observando-se todas as suas fases: penhora, depósito,
avaliação, adjudicação, se for o caso, alienação por iniciativa particular ou por
licitação pública e finalmente o pagamento (artigo 825, inciso II; 879/909).

Vale destacar que, o Livro II da Parte Especial traz regras sobre os mecanismos da
execução em geral, e não apenas disposições de natureza procedimental. Tais regras se aplicam
supletivamente ao cumprimento de sentença, desde que não sejam incompatíveis, nem
contrariarem algum dos dispositivos específicos supramencionados. (GONÇALVES, 2017, p.
900).
É importante notar que as execuções por quantia (judiciais ou extrajudiciais) possuem
tipos procedimentais específicos, segundo critérios adotados pelo legislador. Assim, as
obrigações de pagar quantia são ainda subdivididas segundo critérios “pessoais, estado
(solvência ou insolvência) patrimonial do executado, o direito exequendo” etc. Dessa forma, há
diversos procedimentos especiais referentes ao tronco comum das obrigações de pagar quantia.
(ABELHA, 2019, p.40).
Nesse sentido, evidencia Neves (2018, p. 20 e 27) que, a execução por quantia certa,
disposta no artigo 824 do CPC, deve ser interpretada com cuidado, visto que no procedimento
comum da execução de obrigação de pagar quantia certa existem outras formas executivas, em
especial de natureza coercitiva e indutiva (execução indireta), e que a mera presença da
expropriação não é o suficiente para tornar comum o procedimento executivo. O autor ressalta
que o CPC prevê meios de execução indireta, por meio de ameaça de piora ou oferta de melhora
na situação do executado, aplicáveis a execução por quantia certa. A execução indireta por
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meio de ameaça de piora na situação do executado vem prevista em dois dispositivos da


execução de obrigação de obrigação de pagar quantia certa: um do cumprimento de sentença e
outro do processo de execução, que será aplicável ao cumprimento de sentença.
Dessa forma, apesar da execução por quantia certa se utilizar, como regra, da técnica da
sub-rogação como instrumento de sanção executiva, verifica-se que a coerção, apesar de
excepcional, é possível, com base no artigo 139, IV, do CPC. Nesse contexto, entende-se que
os meios de sub-rogação são aqueles em que o Estado-juiz substitui o devedor no cumprimento,
ou seja, se o devedor não paga, o Estado apreende bens suficientes do seu patrimônio, e com o
produto da excussão, paga o credor. A coerção, por sua vez, busca que a prestação seja realizada
pelo próprio devedor. (GONÇALVES, 2017, p. 901 – 902).
Como exemplo desses instrumentos indiretos de execução, tem-se a possiblidade do
protesto do art. 517, caput, do CPC, quando o executado não realiza o pagamento no prazo de
15 dias previsto pelo art. 523 do mesmo diploma legal; a inclusão do nome do executado em
cadastros de inadimplentes, prevista no art. 782, § 3o, do CPC; a oferta de uma melhora na
situação da parte caso ela cumpra sua obrigação, como ocorre na medida prevista no art. 827,
§ 1o, do CPC, que prevê um desconto de 50% no valor dos honorários advocatícios, no caso de
pagamento do valor exequendo no prazo de 3 dias da citação; a aplicação das astreintes (multa
cominatória ou multa processual) para pressionar o executado a cumprir a obrigação, com base
no inciso IV do artigo 139 do CPC; e, por fim, no procedimento de cumprimento de sentença
de obrigação de pagar quantia, existe a previsão de multa no valor de 10% do valor da
condenação na hipótese de o executado não realizar o pagamento no prazo de 15 dias. Para
parcela da doutrina, trata-se de medida de execução indireta, que busca pressionar
psicologicamente o executado a efetuar o pagamento do valor devido. (NEVES, 2018, p. 28-
30).
Ainda, vale frisar que, na tutela dos deveres de fazer e não fazer, a produção, mediante
meios sub-rogatórios, do resultado que se teria com o cumprimento espontâneo pelo executado
muitas vezes é impossível, e quando possível, acaba sendo onerosa e complexa. Por outro lado,
o conteúdo do dever de fazer é extremamente variado, assim como os resultados que ele produz.
Diferentemente do dever de entrega de coisa e do pagamento de quantia, cujo resultado é
sempre a transferência do bem objeto da prestação. Desse modo, diante dessa grande
diversidade de conteúdos e resultados, a atipicidade dos meios sub-rogatórios e coercitivos
constitui aspecto fundamental para a eficácia da execução por quantia certa. Na execução para
pagamento de quantia, não há dúvidas de que o emprego da atividade sub-rogatória pode
demandar tempo e ser custosa. Entretanto, importante ressaltar que, nem sempre o emprego
27

generalizado de medidas coercitivas é necessariamente a providência adequada. (MOTTA,


2018, p. 597).
Quanto as fases, a execução por quantia conta com 3 (três) etapas. Inicia com a fase de
proposição/inicial/saneadora (petição inicial e fluência do prazo para pagamento voluntário
pelo executado e arresto executivo). Posteriormente, começa a fase de
instrução/preparatória/intermediária (penhora, avaliação do bem e prática de eventuais atos
voltados à expropriação do bem penhorado). E, por fim, tem início a última fase do processo,
fase satisfativa/final/materializadora, em que se pretende a concretização da tutela jurisdicional
executiva (entrega do dinheiro; remissão; expropriação: adjudicação, alienação por iniciativa
privada ou alienação em leilão e apropriação de frutos ou rendimentos penhorados; e extinção
normal da execução). (BUENO, 2020, p. 443).
Em relação a petição inicial, esta deve conter os requisitos dos artigos 319 e 320, bem
como dos artigos. 798 a 799 do CPC. A causa de pedir será o próprio título executivo
extrajudicial, não sendo necessário declinar a causa do título ou o negócio jurídico subjacente.
O pedido imediato será a execução; o pedido mediato será o crédito constante no título. Quando
não preenchidos os requisitos da petição inicial, o juiz deverá determinar a sua emenda, no
prazo de 15 dias, na forma do art. 801 do CPC, quando se tratar de vício sanável. (LUNARDI,
2019, p. 826).
Acolhida a inicial, o órgão judicial expede o mandado executivo, no qual irá citar o
devedor, intimando-o a, em três dias, cumprir a obrigação, sob pena de penhora (art. 829, caput
e § 1º). Os requisitos do mandado estão dispostos no artigo 250 do CPC, dentre os quais, e
obrigatoriamente, deverão constar, os nomes e endereços das partes, o fim da citação, com as
especificações da inicial e do título executivo, a cominação de penhora, a cópia do despacho
que deferiu o pedido do credor, e a assinatura do escrivão, com a declaração de que o subscreve
por ordem do juiz. (THEODORO JÚNIOR, 2020b, p. 328).
Quanto ao arresto executivo, pré-penhora ou arresto prévio, este pode ser entendido
como um ato de constrição de bens destinado à conversão em penhora. É sempre prévio à
citação e ele se converterá em penhora, depois que a citação se efetivar. Em razão disso, é
considerado ato preparatório, realizado com todas as formalidades que a penhora exige.
(GONÇALVES, 2017, p. 490 e 491).
Feitas as considerações da fase inicial da execução por quantia certa, importante também
discorrer acerca da fase preparatória. Acerca da penhora, Thamay (2020, p. 690 - 692) dispõe
que esta deverá incidir em tantos bens quantos bastem para o pagamento do principal
atualizado, juros, custas e honorários advocatícios, e onde quer que se encontrem os bens, ainda
28

que sob a posse, detenção ou guarda de terceiros. Além disso, também é possível sua
substituição, nas hipóteses do art. 848 do CPC, a pedido do exequente e do executado, ou por
fiança bancária ou seguro-garantia judicial, em valor não inferior ao do débito constante da
inicial, mais 30% (trinta por cento). Também, cabe evidenciar que, o executado sempre será
intimado para responder a respeito de eventual pedido de substituição.
Após realizar a penhora, o oficial de justiça deve promover a avaliação do bem, valendo-
se de todos os elementos ao seu alcance, como consultas a anúncios e classificados de jornais,
pesquisas em imobiliárias, informações de corretores, elementos trazidos pelas próprias partes,
ou qualquer outro meio idôneo, com o objetivo de identificar o preço da coisa penhorada.
(GONÇALVES, 2017, p. 995).
Por fim, importante, também, destacar a fase final da execução por quantia certa. A
expropriação de bens, caminho natural para a satisfação concreta do direito de crédito, é
praticada logo após à penhora e à avaliação. Por essa via, perde o executado a propriedade dos
bens penhorados, independentemente de sua vontade. Três são as técnicas de expropriação
previstas no Código de Processo Civil: adjudicação, alienação e expropriação de frutos e
rendimentos de bem penhorado. (RIBEIRO, 2019b, p. 515).
A adjudicação é forma indireta de satisfação do credor, que se dá pela transferência a
ele ou aos terceiros legitimados, da propriedade dos bens penhorados. A alienação por iniciativa
particular consiste na venda realizada pelo Estado e com atuação conjunta e principal do
exequente. A alienação em leilão judicial consiste na venda realizada pelo estado por meio de
licitação e ocorre quando não há interessados na adjudicação, nem requerimento do credor para
a alienação particular do bem. E, outra forma e expropriação, é a apropriação de frutos e
rendimentos de móvel ou imóvel, que ocorre após o deferimento da penhora sobre eles, onde o
juiz nomeia um administrador, com poderes para gerir a coisa. E, a ele é dada a posse direta do
bem, cabendo-lhe fazer com que produza frutos e rendimentos, que serão utilizados para pagar
o credor. (GONÇALVES, 2017, p. 998 - 1001).
Ainda nesta última fase, tem-se a satisfação do crédito exequendo, que pauta a atividade
executiva. Sua efetivação acontece por meio da entrega do dinheiro ou pela adjudicação dos
bens penhorados. Ademais, em razão da pluralidade de exequentes ou de credores, a satisfação
do crédito observa uma ordem de preferência. Se o caso concreto seguiu pela adjudicação ou
alienação, os créditos que recaírem sobre o bem sub-rogam-se sobre o respectivo preço,
observada a ordem de preferência. Para tanto, instaura-se um concurso especial de credores, a
fim de viabilizar a dedução de pretensões ao juiz da execução. A decisão deve pautar-se pelas
eventuais preferências estabelecidas em lei material, ou, na inexistência delas entre os credores,
29

o dinheiro será distribuído em acordo com a anterioridade da penhora realizada. (RIBEIRO,


2019b, p. 521).
Ante o exposto, percebe-se que, na execução por quantia certa, se o devedor se obriga a
pagar quantia determinada e não o faz, o credor adquire o direito de receber forçosamente.
Todavia, em razão do objeto da dívida ser dinheiro, na execução o credor não pode pretender,
de imediato, o recebimento de bem determinado do patrimônio do devedor, cujo valor tenha
equivalência com a dívida. Dessa forma, portanto, faz-se necessário que ele agrida o patrimônio
de quem lhe deve e o transforme em dinheiro, a fim de que receba o que lhe é devido, ou, se
preferir, requeira outra forma de concretização da tutela jurisdicional executiva, como, por
exemplo, a adjudicação do bem penhorado pelo seu justo valor. (SANTOS, 2017, p. 205 e 401).
30

3 A DESJUDICIALIZAÇÃO

O presente capítulo aborda o fenômeno da desjudicialização, trazendo em exposição


seus aspectos gerais – tais como conceitos, causas e aspecto histórico -, a sua implantação no
Brasil, sua relação com o princípio da inafastabilidade da jurisdição e, por fim, a implantação
da desjudicialização da execução civil em outros países.

3.1 ASPECTOS GERAIS DO FENÔMENO DA DESJUDICIALIZAÇÃO

Sabe-se que a sociedade está habituada a levar suas demandas para os tribunais em busca
da prestação jurisdicional, por acreditar que o Poder Judiciário seria o único meio de acesso à
justiça. Tal fato, pode ser enxergado como o fenômeno da judicialização. Ocorre que, em razão
do excesso de demandas no sistema judiciário, surge o fenômeno da desjudicialização, como
um relevante instrumento capaz de proporcionar a redução do volume de processos, de forma
a desobstruir o Poder Judiciário, auxiliando-o na prestação da tutela jurisdicional pretendida.
(MARQUES, 2014, p. 1).
Tendo isso em vista, vale evidenciar que a expressão judicialização tem sido utilizada
há algumas décadas e significa dizer que as decisões, inclusive de natureza política, estão sendo
analisadas predominantemente pelo Poder Judiciário. Existem diversas narrativas para a
ocorrência da judicialização. Uma delas é a do aumento de complexidade da sociedade, que
demanda soluções, inclusive do sistema jurídico, cabendo, então, ao Judiciário, as que lhe forem
demandadas em situações concretas ou até em algumas situações abstratas, em se tratando de
Cortes Superiores, em especial da Corte Constitucional. (RIBEIRO, 2013, p. 26).
Ainda, ressalta-se o contexto da judicialização, haja vista se tratar de um dos aspectos
do centralismo contemporâneo do Poder Judiciário. Dessa forma, evidencia-se que a posição
ocupada pelo judiciário e a magistratura reflete o resultado de um processo de evolução
histórica que variou conforme o paradigma político-jurídico instituído. Pode-se dizer, portanto,
que, atualmente o sistema judiciário brasileiro assume uma posição centralizadora e
contramajoritária, em razão da sociedade estar inserida num processo instável de desigualdades
de toda ordem e que são asseguradas pela Constituição, visando o reconhecimento de direitos
humanos e sociais. (OLIVEIRA, 2015, p. 203).
Nesse sentido, pode-se entender a judicialização como:

[...] um fenômeno mundial por meio do qual importantes questões políticas, sociais e
morais são resolvidas pelo Poder Judiciário ao invés de serem solucionadas pelo poder
competente, seja este o Executivo ou o Legislativo. Assim, o fenômeno da
31

judicialização significa levar ao conhecimento do Judiciário matéria que não foi


resolvida, como deveria, pelo Poder Executivo ou pelo Poder Legislativo. (MANSUR,
2016, p. 1)

Ainda neste panorama, para Barroso (2009, p. 12 - 20), a judicialização ocorre quando
questões de larga repercussão política ou social são decididas por órgãos do Poder Judiciário, e
não por instâncias políticas tradicionais, como o Congresso Nacional e o Poder Executivo.
Dessa forma, entende-se que há uma transferência de poder para juízes e tribunais, com
alterações significativas na linguagem, na argumentação e no modo de participação da
sociedade. Ainda, o autor cita três possíveis causas para a judicialização. A primeira seria a
redemocratização do país, com a promulgação da Constituição de 1988. A segunda foi a
constitucionalização abrangente, que trouxe para a Constituição inúmeras matérias que antes
eram deixadas para o processo político majoritário e para a legislação ordinária. Por fim, a
terceira e última causa da judicialização é o sistema brasileiro de controle de
constitucionalidade, um dos mais abrangentes do mundo.
Nesta ambiência, Streck (2016, p. 724) afirma que, a judicialização sempre decorre da
incompetência de poderes ou instituições, sendo considerada contingencial, pois depende de
vários fatores que estão relacionados ao funcionamento constitucionalmente adequado das
instituições. Desse modo, ressalta que, de uma questão que sofreu judicialização se pode ter
como consequência uma resposta ativista, o que é considerado algo ruim e censurável em um
panorama de democracia normativa. Entretanto, pode-se afirmar que existem casos de
judicialização nos quais a resposta oferecida pelo sistema judiciário é adequada à Constituição,
concretizadora de direitos fundamentais e/ou procedimentos guarnecedores da regra
democrática.
Cavaco (2017, p. 110 - 113) ainda faz a distinção entre os termos jurídico e judicial,
sendo o primeiro caracterizado por se apresentar em um contexto de maior amplitude, que
integra todas as instâncias de processamento e produção do Direito. Já o segundo, refere-se
estritamente ao Poder Judiciário, mediante a equalização de direitos aparentemente colidentes,
ou fazendo composições dos mesmos. Assim, ainda afirma que, o conceito de judicialização,
como costuma ser utilizado, é muito restrito para o fenômeno, havendo necessidade de se
remeter à definição semântico-normativa de jurisdicionalização.
Para Humberto Martins (2020, p. 1 - 3), atual ministro e presidente do Superior Tribunal
de Justiça, a judicialização passou a ser uma utente assídua dos tribunais brasileiros, que passou
a se intensificar ainda mais em razão da pandemia. Isso pois, é em momentos como esse, de
crise, em que mais se cobra a segurança jurídica, tanto na função legislativa, quanto na
32

judiciária, a qual está encarregada de solucionar o caso concreto, ou seja, de realizar a segurança
jurídica na prática. A desjudicialização, por sua vez, tema ainda tímido no Direito Brasileiro, é
um instrumento bastante ativo em diversos ordenamentos jurídicos estrangeiros para solucionar
controvérsias sem precisar se utilizar, nem sobrecarregar, a jurisdição formal. Ainda, menciona
o autor que, desjudicializar não é sinônimo apenas de “desafogar os tribunais”, pois tal
discussão revela-se muito mais abrangente, visto que interessa aos demais poderes, às
instituições, à advocacia, à defensoria, e aos estudiosos da área do Direito.
Assim, pode-se perceber que:

Com a evolução dos sistemas judiciais surgiu a necessidade de novos meios para
resolver ou encarar os conflitos do Estado Moderno, o qual tem falhado muito na sua
missão pacificadora, que inexoravelmente tenta realizar mediante o exercício da
jurisdição, havendo situações em que se afigura legítima e necessária a intervenção
de outros agentes que compõem o sistema judicial, devidamente legitimados pelo
Estado, desde que seja assegurado ao jurisdicionado, de forma diferida, o direito de
acesso aos tribunais. (GONÇALVES; HÜLSE; RIBEIRO, 2017, p. 172).

Nessa perspectiva, Pereira (2020, p. 56-57) dispõe que, os obstáculos sofridos pela
justiça oficial têm acarretado modificações no sistema judicial brasileiro. Dessa forma, verifica-
se uma maior tendência à desjudicialização dos conflitos por meio da crescente disposição de
modelos alternativos de solução de conflitos. E, pode-se perceber isso através do próprio
sistema jurídico, que tem desenvolvido mecanismos que disponibilizam e incentivam o uso
destes métodos, seja pela autocomposição (mediação; conciliação) ou heterocomposição
(arbitragem) ou vias híbridas.
Tem-se, portanto, que o Poder Judiciário não pode ser considerado o único meio de
acesso à justiça. Dessa forma, destacam-se as técnicas alternativas de solução de conflitos, que
contribuem para o enxugamento da máquina do judiciário. E, vale ressaltar que, isso não
significa substituir nem reduzir o poder do sistema judiciário, mas oferecer formas aliadas de
solução de demandas, em razão das constantes modificações sociais, que requerem mais que
um único ente capaz de tutelar seus direitos. Assim sendo, é nesse contexto que surge a
desjudicialização como forma de assegurar o acesso à justiça. (MARQUES, 2014, p. 1).
Conforme Cavaco (2017, p. 110 - 123), o fenômeno da desjudicialização pode ser
conceituado como um conjunto de ações ou práticas executadas fora da esfera judicial, com a
transferência da solução de litígios para a esfera administrativa. Pode, ainda, ser compreendida
como uma pauta de legitimação das ações pelo procedimento, em que a diversidade decorre do
pluralismo e da maior autonomia dos indivíduos. Sendo assim, pode-se dizer que a
desjudicialização é marcada pelo movimento de reformulação da função judiciária, de forma a
minimizar seu papel em vista do impositivo pluralismo de instâncias, tendo em vista a cena
33

pós-moderna plúrima e descentralizada. Assim, ocorre a transferência de procedimentos antes


exclusivamente judicantes para a alternância de meios. Tornando, desse modo, o Judiciário
apenas mais uma alternativa de processamento, a critério dos interessados, e, quando excluído
da sua função, terá o papel de controle da legalidade dos demais procedimentos.
A desjudicialização, portanto, pode ser entendida como a possibilidade de solução de
conflitos de interesse sem a prestação jurisdicional, visto que a jurisdição é somente aquela
resposta estatal. Entretanto, vale ressaltar que, existem situações de desjudicialização em que
não há necessariamente um conflito de interesses, como a do Estado prever a necessidade de
atividade jurisdicional em razão da natureza da decisão. (RIBEIRO, 2013, p. 30).
Para Oliveira (2015, p. 218):

Num sentido amplo, desjudicialização relaciona-se com os meios alternativos de


solução de controvérsia, posto que vem de um conjunto de procedimentos
extrajudiciais. Mas apenas nesse fato há um ponto de encontro. Em verdade, os meios
alternativos, como o nome já sugere, são buscados pelos indivíduos em sua autonomia
de vontade, como outra possibilidade de resolução de conflitos. É possível atribuir
aqui como natureza jurídica o contratualismo, realizado no afã de se constituir o tipo
de procedimento a ser seguido caso porventura nasça o conflito. Cuida-se, mesmo, de
uma alternativa à jurisdição estatal.

Pode-se, ainda, contextualizar a desjudicialização como a transferência de atos, que


antes competiam aos tribunais, exercidos por juízes ou oficiais de justiça sob ordem e direção
de um magistrado judicial, para entes privados ou para funcionários públicos ou Órgãos da
Administração, detentores de poderes públicos delegados, com competência para praticar todos
os atos e operações em determinados procedimentos. (FARIAS, 2015, p. 79).
Para Hill (2021, p. 383):

A desjudicialização consiste no fenômeno segundo o qual litígios ou atos da vida civil


que tradicionalmente dependeriam necessariamente da intervenção judicial para a sua
solução passam a poder ser realizados perante agentes externos ao Poder Judiciário,
que não fazem parte de seu quadro de servidores. Trata-se, em suma, da consecução
do acesso à justiça fora do Poder Judiciário, ou seja, do acesso à justiça extra muros.

Tal fenômeno resulta especialmente da insuficiência do Estado-juiz no mundo


contemporâneo, tendo em vista que a sociedade exige outras possibilidades de soluções, mais
eficazes. Entretanto, tal insuficiência não decorre de ausência de prestação jurisdicional. É até
possível que ela efetivamente ocorra na quase totalidade dos casos. Desse modo, trata-se de
insuficiência porque a jurisdição tradicional, solução imposta de conflito de interesses, não é
eficaz, visto que não acompanha a velocidade das transformações sociais. (RIBEIRO, 2013, p.
31-32).
Para Ribeiro (2019a, p. 41), a desjudicialização decorre de dois fatores. O primeiro se
relaciona com o fato de o Estado não suportar mais o peso da atividade jurisdicional, ou seja, é
34

motivado pela dificuldade do Estado em corresponder com eficiência às demandas judiciais da


sociedade contemporânea. O segundo fator, por sua vez, refere-se a um contexto global de
desjudicialização e de harmonização de sistemas jurídicos, de forma a reconhecer a
transferência para o setor privado de tarefas que até então estavam, historicamente, confiadas
ao Judiciário.
Ainda, Hill (2021, p. 405) também considera que, a desjudicialização pode reduzir a
dramática sobrecarga do Poder Judiciário, além de, consequentemente, zelar pelo devido
processo legal extrajudicial, oferecendo ao jurisdicionado novos mecanismos aptos a
solucionar, com efetividade, o crescente e multifacetado contingente de litígios que eclodem na
sociedade contemporânea. Deste modo, tal fenômeno não consiste apenas na possibilidade de
o jurisdicionado sair do Poder Judiciário e, assim, contribuir para a redução de sua sobrecarga,
mas deve também resguardar as garantias fundamentais do processo.
Isto posto, percebe-se que a resolução de conflitos apenas por tribunais já não é mais
suficiente para garantir em tempo razoável os direitos e interesses dos jurisdicionados. E, em
razão desse fato, a desjudicialização passou a ser evidenciada cada vez mais. Dessa forma, tal
medida pode ser posta em prática como um mecanismo facilitador para o desenvolvimento de
determinados atos em processos judiciais, o que não significa afronta às demais funções do
Poder estatal. E, é nesse sentido que a desjudicialização pode ser classificada como uma
alternativa eficaz, evitando incontáveis percalços quanto à prática de atos burocráticos pelo juiz.
(FARIAS, 2015, p. 78 - 80).

3.2 A DESJUDICIALIZAÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO E O PRINCÍPIO DA


INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO

Diante da dificuldade do Poder Judiciário em atender com presteza às demandas


judiciais que a sociedade produz, a desjudicialização tornou-se uma realidade no Brasil, com a
edição de leis que favorecem a composição amigável de situações sociais por meio dos serviços
extrajudiciais, objetivando o desafogo do Poder Judiciário. Tais normas representam uma
enorme contribuição do legislador para diminuição do acúmulo de processos e para possibilitar
soluções mais eficazes e eficientes. (MARQUES, 2014, p. 1).
No âmbito do Processo Civil Brasileiro, é possível visualizar procedimentos inteiros
sendo desjudicializados através de uma série de legislações. Em determinados casos, apenas
fases de um procedimento são transferidos para a instância extrajudicial. E, ainda, percebe-se
que há movimentos extrajudiciais específicos da tutela coletiva, assim como etapas inteiras de
35

um processo judicial, como é o caso da hipótese da desjudicialização da execução. (OLIVEIRA,


2015, p. 226).
Para Cavaco (2017, p. 88-89), com o marco constitucional do Estado democrático de
Direito, passou a ter-se uma ressignificação do acesso à justiça. Tal fato se relaciona com a
desconstrução do dogma da produção jurídica dentro dos estreitos quadrantes estatais, de forma
a trazer à tona o tema da desjudicialização dos conflitos.
Nesse sentido, conforme Oliveira (2015, p. 225), o tema da desjudicialização passou a
ser notório com a Lei nº 11.441/07, que passou a instituir como possibilidade o inventário,
partilha e divórcio extrajudiciais, sendo realizados através do cartório de notas.
Cumpre ainda destacar que, desde a redemocratização do país e a previsão expressa do
acesso à justiça no texto constitucional, as demandas litigiosas apresentaram um crescimento
exponencial, aumentando cada vez mais a quantidade de pessoas que se utilizam do sistema
judiciário. Além disso, diversos fatores contribuem para o aumento da litigiosidade, a exemplo
da confiança do brasileiro nas instituições destinadas à promoção da justiça. (CAVACO, 2017,
p. 94).
Ainda, conforme Hill (2020, p. 175-16), o fenômeno da desjudicialização, no Brasil,
tem se desenvolvido em uma perspectiva bifronte. Através da jurisdição voluntária: onde a
desjudicialização avança naturalmente, com menor resistência, uma vez que atrelada ao
elemento do consenso, à ausência de litígio entre os interessados. E, através da jurisdição
contenciosa: a exemplo da autocomposição – em que há adoção dos mecanismos de solução
consensual dos litígios, a exemplo da mediação, conciliação, negociação direta e negociação
assistida, onde o litígio é solucionado através da celebração de um acordo entre as partes
litigantes, com ou sem o auxílio de um terceiro imparcial - e da heterocomposição – em que há
emprego de mecanismos com a substituição da vontade dos litigantes, mediante a imposição de
uma solução por um terceiro imparcial que, no caso da desjudicialização, não integra o Poder
Judiciário, a exemplo da arbitragem.
Dessa maneira, visando o pleno desenvolvimento das novas estratégias compatíveis com
um sistema multiportas de acesso à justiça, tem-se observado no Brasil, a gestão sistêmica de
conflitos, englobando métodos autocompositivos e heterocompositivos, sem renúncia à
alternativa de judicialização. Nota-se, portanto, que atualmente adota-se no processo civil
brasileiro, a estratégia anunciada pela Resolução 125/2010 do CNJ, conhecida como sistema
multiportas de acesso à justiça. Negociação, mediação, conciliação, arbitragem e outros
métodos eram caracterizados como métodos ou meios de resolução alternativa de disputas.
Ressalta-se que, todos esses meios judiciais ou extrajudiciais de acesso à justiça compõem o
36

hoje denominado sistema multiportas, que, também, abrange as práticas restaurativas. Vale
evidenciar que, a expressão multi-door courthouse (corte de múltiplas portas) foi originalmente
utilizada pelo Professor Frank Sander (Harvard), em 1976, numa conferência publicada em
1979. (VASCONCELOS, 2020, p. 26, 33, 91).
Ainda, até 2007, o legislador ensaiou alguns movimentos pontuais de desjudicialização,
a exemplo da Lei Federal nº 6015/1973 (Lei dos Registros Públicos), a Lei Federal n°
8.951/1994 (consignação em pagamento extrajudicial, com a inserção do § 1° no art. 890 do
CPC/73), a Lei Federal nº 9.514/1997 (alienação fiduciária em garantia de coisa imóvel), dentre
outros e a Lei Federal nº 11.441, em 2007, que previu a possiblidade de que inventário, partilha,
separação e divórcio consensuais sejam realizados através de escritura pública, em cartórios
extrajudiciais de Notas. Ademais, a criação do Conselho Nacional de Justiça, pela Emenda
Constitucional nº 45, em 2004, igualmente contribuiu para o incremento da desjudicialização.
Pode-se exemplificar a evolução da desjudicialização com a possibilidade de alteração,
diretamente no cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais, de prenome e sexo no registro
de nascimento em virtude de transexualidade (Provimento nº 73/2018 do CNJ), averbação da
paternidade ou maternidade socioafetiva diretamente perante o cartório de Registro Civil de
Pessoas Naturais (Provimento nº 83/2019 do CNJ) e retificação extrajudicial de registro público
(artigo 110, da Lei Federal nº 6.015/1973), dentre vários outros. (HILL, 2020, p. 173-174).
Como exemplo de desjudicialização de fase do rito ordinário do processo, tem-se,
através da Lei nº 8.455/92, as perícias extrajudiciais, possibilitando ao juiz dispensar a perícia
judicial, objetivando a utilidade e adequação. Ainda, pode-se afirmar que, com tal possibilidade,
a tutela jurisdicional acaba tornando-se mais efetiva, visto que passa a ser realizada por técnicas
mais simples, céleres e funcionais. (OLIVEIRA, 2015, p. 226).
Em relação ao Código de Processo Civil de 2015, percebe-se que este contribuiu para o
avanço da desjudicialização, ao prever:

a usucapião extrajudicial (artigo 1071 do CPC/15 que inseriu o artigo 216-A na Lei
Federal nº 6.015/1973 e Resolução nº 65/2017 do CNJ), a consignação em pagamento
extrajudicial (artigo 539, §§ 1º a 4º, CPC/2015), a homologação do penhor legal
extrajudicial (artigo 703, §2º, CPC/2015), a divisão e demarcação de terras
particulares extrajudicial (artigo 571, CPC/15), a dispensa de homologação, pelo
Superior Tribunal de Justiça, de sentença estrangeira de separação e divórcio puros
(artigo 961, §5º, CPC/2015 e Provimento 53/2016 do CNJ), assim como ao deixar
clara a importância das atividades extrajudiciais para o processo judicial, ao prever,
ad exemplum tantum, a Ata Notarial como meio de prova típico (artigo 384, CPC/15),
a possibilidade de averbação premonitória (artigo 828, CPC/15), o protesto de decisão
judicial transitada em julgado (artigo 517, CPC/15), e a penhora de imóvel
devidamente matriculado por termo nos autos (artigo 845, §1º, CPC/15). (HILL, 2020,
p. 175)
37

Nesse mesmo contexto, Mancuso (2018, p. 164 -165) entende que, portanto, o vigente
CPC estimula o uso dos meios alternativos ou parajurisdicionais das controvérsias. Isso devido
ao fato de reafirmação de acesso à justiça estatal, através da arbitragem, conciliação, mediação
e outros métodos de solução consensual dos conflitos. Dessa forma, afirma que o CPC
recepciona a tendencial desjudicialização dos conflitos, ao permitir que consignações em
pagamento sejam feitas em estabelecimento bancário, e ao autorizar que inventários, partilhas,
divórcios, entre partes capazes e havendo consenso, possam ser celebrados por escritura pública
em tabelião; e, ainda, na legislação extravagante, a Lei nº 11.101/2005 permite que o empresário
devedor estabeleça com os credores um plano de recuperação extrajudicial, a ser submetido à
homologação pelo juiz.
Desse modo, pode-se citar, ainda, como exemplos de desjudicialização no Brasil: a) Lei
n° 8.560/92 que trata do reconhecimento de paternidade perante os serviços de registro civil; b)
Lei n° 9.514/97, que se refere aos procedimentos de notificação do devedor e leilão extrajudicial
nos contratos de alienação fiduciária; c) Lei n° 10.931/2004, que autoriza a retificação
administrativa dos registros imobiliários; d) Lei 11.481/2007 que dispõe sobre a regularização
fundiária para zonas especiais de interesse social; E, ainda, ressalta-se que os cartórios
extrajudiciais passaram a atuar de forma a prevenir litígios e homologar acordos, solucionando
com agilidade os problemas. (MARQUES, 2014, p. 1).
Assim sendo, entende-se que,

a busca pelo aumento da eficiência da atividade satisfativa de direitos ensejou


alterações legislativas ocorridas nas últimas décadas. Dentre elas, vale destacar (i) a
Lei 8.952/1994, que dispôs sobre o dever do magistrado indicar as medidas executivas
na própria sentença que prevê o cumprimento de obrigações de fazer ou não fazer,
além de admitir a execução da tutela antecipada sem a necessidade de iniciar um novo
processo; (ii) a Lei 10.444/2002, que ampliou às obrigações de entrega de coisa a
possibilidade de execução a partir dos comandos delineados na própria sentença
judicial; (iii) a Lei 11.232/2005, que deu origem ao processo sincrético para casos
envolvendo obrigações de pagamento de quantia certa; e (iv) a Lei 11.382/2006, que
trouxe significativas alterações à execução de títulos executivos extrajudiciais.
Apesar dessas iniciativas legislativas, dedicadas a melhorar o sistema de execução
civil pátrio, nota-se que o acesso à Justiça pela execução eficiente ainda enfrenta
muitos desafios. O jurisdicionado que aguardou um tempo considerável até que o seu
direito seja reconhecido em uma decisão judicial terá, provavelmente, de aguardar um
tempo ainda maior para que o veja concretizado, isso caso esse direito não perca seu
objeto e nem seja atingido pelos efeitos da prescrição antes da sua realização. Como
se verá adiante, na contramão dos esforços empreendidos no passado, a execução hoje
encontra-se em grave crise. (ONO, 2018, p. 73).

Nesse contexto, evidencia-se que, o sistema de execução civil brasileiro, tem como base,
dentre outros, o princípio do acesso à justiça, também chamado de princípio da inafastabilidade
da jurisdição, previsto no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal:
38

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito
(BRASIL, 1988).

Para Gonçalves (2017, p. 88), tal princípio pode ser entendido como o direito de ação
em sentido amplo, de forma a se obter do Poder Judiciário uma resposta aos questionamentos
a ele dirigidos. E, devido ao fato de ser um direito amplo e incondicional, não se admite a recusa
do Judiciário a examinar e responder os pedidos que lhe forem formulados.
Importante destacar que, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, que
marcou o período de redemocratização em nosso país, passou-se a observar diversos fatores
que obstavam o acesso dos jurisdicionados brasileiros ao Poder Judiciário, motivo pela qual, o
constituinte acabou por considerar, naquele contexto histórico, acesso à justiça como sinônimo
de acesso ao Poder Judiciário. (HILL, 2021, p. 380-381).
Para Cappelletti e Garth (1988, p. 3), a expressão “acesso à Justiça” é de difícil
definição, mas serve para determinar duas finalidades básicas do sistema jurídico. Desse modo
esse sistema em que a sociedade pode reivindicar seus direitos e/ou resolver seus litígios, deve,
primeiramente, ser acessível a todos; e, segundo, deve produzir resultados que sejam individual
e socialmente justos. Também, evidencia-se que tal conceito vem sido utilizado com uma
abordagem nova e compreensiva dos problemas que esse acesso apresenta nas sociedades
contemporâneas. Assim, possível identificar o início da ruptura da crença tradicional de
confiabilidade nas instituições jurídicas, em razão do desejo de tornar efetivo o direito do
cidadão comum.
Neste cenário, atenta-se para o risco de a garantia de acesso à Justiça se transformar em
uma judicialização exacerbada, que insufla a contenciosidade social e arrisca banalizar a
intervenção jurisdicional do Estado. Ademais, percebe-se que, a leitura ponderada e realista do
art. 5º, XXXV, da CF amolda-se com a contemporânea tendência à desjudicialização dos
conflitos. E, vale dizer que, tal tendência em nada atrita ou desmerece o Judiciário, visto que
contribui para a superação do monopólio estatal na distribuição da justiça, como o evidencia o
expressivo rol de agentes, órgãos e instâncias credenciados a resolver conflitos. (MANCUSO,
2018, p. 80).
O sistema judiciário, portanto, não pode ser considerado como a única forma de acesso
à justiça, a questão que se traz em evidência é garantir este acesso, ainda que por meio de outras
vias que não as judiciais, em tempo razoável e de maneira efetiva. (MARQUES, 2014, p. 1).
39

Nesse ponto, no Brasil, podem ser observadas diversas mudanças relacionadas ao acesso
à justiça, tais como: a) O reconhecimento da necessidade de “desformalização do processo”,
visando a redução do excesso de formalidades do processo; b) a Reforma do Judiciário (EC n.
45/2004), com a criação do CNJ, que impôs o estabelecimento de normas de gestão, de metas
a serem cumpridas, bem como de outros mecanismos de estabelecimento de controle de
produtividade e qualidade das decisões judiciais; c) A valorização dos equivalentes
jurisdicionais - meios alternativos ou adequados de resolução dos conflitos, tais como
mediação, conciliação e arbitragem – Lei n. 9.307/1996. Assim, a garantia do acesso à Justiça
não significa necessariamente que o conflito será resolvido pelo Judiciário, na medida em que
os equivalentes jurisdicionais também são formas legítimas de resolução dos litígios. Nesse
sentido, aliás, têm-se reconhecido que tais mecanismos são tão eficazes quanto, ou até mais
eficazes, que a via da Jurisdição estatal para a solução adequada dos conflitos. (LUNARDI,
2019, p. 77).
Tendo tudo isso em vista, infere-se que, no ordenamento jurídico brasileiro, portanto, o
acesso à Justiça e o direito de ação passaram a abranger também as soluções consensuais, as
quais são aceitas pela Constituição de 1988, no art. 5º, inc. XXXV, § 1º. Também, a Resolução
n. 125/2010, do CNJ, trata a conciliação, a mediação e outros métodos consensuais como
instrumentos efetivos de pacificação social, solução e prevenção de demandas, visto serem
aptos a reduzir a judicialização, a interposição de recursos e a execução de sentenças. E, levando
em conta recomendações da Organização das Nações Unidas, a Resolução n. 225/2016 do CNJ,
considera que o direito constitucional de acesso à Justiça não abrange apenas as decisões
adjudicadas pelos órgãos judiciários, mas também soluções efetivas de conflitos por meio de
uma ordem jurídica justa. Assim sendo, verifica-se que o cenário brasileiro possui bons
exemplos de desjudicialização e, especialmente no âmbito processual civil, onde se mostra
favorável às novas alternativas de conferir celeridade às demandas sociais, das quais seria
exemplo a ora debatida desjudicialização da execução civil, caso seja legalizada. (MARTINS,
2020, p. 9-10).
Nessa ambiência, destaca-se que em relação a desjudicialização, não há que se pensar
em violação à inafastabilidade do controle jurisdicional, tendo em vista que as portas do Poder
Judiciário não são trancadas, em absoluto. Sendo inviável o acesso aos mecanismos
extrajudiciais, nada obsta a que o jurisdicionado recorra ao Poder Judiciário. Trata-se, apenas,
de racionalizar o sistema de justiça e a entrega da prestação jurisdicional estatal. (HILL, 2020,
p. 179).
40

Ainda, a respeito da compatibilidade do Princípio da Inafastabilidade da Jurisdição e a


desjudicialização, conforme Ono (2018, p. 180):

Pela análise do sistema português, verifica-se que a atividade executiva


desjudicializada coaduna-se com o princípio da inafastabilidade da jurisdição. Esta
visão, inclusive, encontra-se alinhada ao entendimento da Corte Constitucional
brasileira, firmado no julgamento do Recurso Extraordinário 223.075-DF. Na
oportunidade, a respeito de uma hipótese especial de execução extrajudicial admitida
pelo Decreto 70/1966 – que prevê a possibilidade de satisfação de créditos por
alienação fiduciária de bem praticada fora do Poder Judiciário -, o STF fixou
entendimento pela sua constitucionalidade, sob a compreensão de que quaisquer
ilegalidades praticadas nesse procedimento extrajudicial poderiam ser reprimidas por
meios judiciais disponíveis às partes.

Isto posto, conforme entendimento de Ribeiro:

Entende-se que a proposta da desjudicialização da execução – ou do poder de império


– também não afronta a Constituição federal, uma vez que o devedor que entender
que a execução realizada por um agente privado desenvolve-se de forma injusta ou
ilegal poderá socorrer-se do Judiciário por meio da oposição de embargos,
assegurando-se, assim, os princípios constitucionais do contraditório, da ampla defesa
e até mesmo do acesso à Justiça, ainda que sob um novo prisma. (2019a, p. 31-32).

Ante o exposto, percebe-se que no cenário contemporâneo, o acesso à justiça significa


respeito e tolerância na sociedade complexa, assim como promoção do pluralismo jurídico e
processual. E, nesse sentido, os meios alternativos de solução de controvérsia e a
desjudicialização vêm para colaborar tal pensamento. Assim sendo, o acesso à justiça deixa de
ser uma questão de acolhimento por um órgão específico estatal com poder jurisdicional para
se tornar uma questão de diversidade de locus e procedimentos, e, principalmente, de
possibilidade de realização efetiva de valores. (OLIVEIRA, 2015, p. 156-157).

3.3 A DESJUDICIALIZAÇÃO DA EXECUÇÃO CIVIL EM OUTROS PAÍSES

Inicialmente, cumpre destacar que, a desjudicialização não é um movimento


exclusivamente brasileiro. Em países da Europa já é comum a execução ser extrajudicial, sendo
conduzida por um profissional que se assemelha a figura nossa do oficial de justiça, sendo uma
espécie de profissional liberal e funcionário público, concomitantemente. E, nesta toada, cada
país traz a sua cultura com suas particularidades. De forma geral, pode-se exemplificar que na
França, a execução se dá pela figura do “hussier”, desde a citação até a venda dos bens, somente
em relação a bens móveis e quantias em dinheiro. Na Alemanha, tem-se a figura do
“gerichtsvollzieher”, que possui independência no exercício das suas funções, mas ainda é
submetido a prestação de contas, e em alguns casos, pode, ainda, necessitar de autorizações do
juiz, como no caso da penhora sobre créditos e outros direitos patrimoniais do devedor. Em
41

Portugal, existe a figura do “solicitador de execução”, que tem o dever de realizar todas as
diligências do processo executivo, tais como citações, notificações, penhoras e venda de bens,
sendo possível, ainda, ao exequente recorrer ao juiz das decisões proferidas na execução. E, por
fim, na Itália, os atos de execução passaram a ser de competência exclusiva dos “agenti di
esecuzione”. (OLIVEIRA, 2015, p. 224).
Desse modo, pode-se afirmar que não há harmonia nesses diversos sistemas jurídicos
europeus, especialmente em relação a desjudicialização, visto que diferentes pessoas ou
instituições podem atuar na realização forçada do direito, podendo acontecer de forma
diferenciada a questão da importância, autonomia e a própria forma dessa atuação. Destaca-se,
ainda, que, o principal responsável pela execução pode ser o próprio tribunal – como é o caso
da Espanha -, um órgão administrativo sem intervenção do Poder Judiciário – como ocorre na
Suécia -, ou, ainda, um agente de execução com a intervenção do juiz apenas quando houver
litígio. Ainda, ressalta-se que, o agente de execução pode ser um funcionário público – a
exemplo da Alemanha e Itália – ou um profissional liberal, que exerce a sua atividade mediante
nomeação oficial – como é o caso da França. (RIBEIRO, 2019a, p. 77).
Desse modo, Oliveira (2015, p. 225) afirma que:

Esse fenômeno de retirada estratégica do estado do controle de determinados assuntos


se dá também nos demais níveis de estruturação do poder. Vê-se, por exemplo, no
Executivo a série de desestatizações da década de 90, ao mesmo passo em que a longa
manus das agências reguladoras mantém o controle estatal. Vê-se, no Legislativo, o
labor técnico da escolha dos princípios e da delegação no lugar da estrutura fechada
das regras, possibilitando uma abertura para a normatização para além da lei. Vê-se,
agora, no judiciário, um movimento que convive com o agigantamento das Cortes
superiores em temas do próprio poder estatal, o efervescer das instâncias inferiores
com a explosão litigiosa surgida com o fortalecimento da cidadania e da república, ao
mesmo tempo que se assiste surgimento de outros focos de processamento das
demandas jurídico-sociais. Desses núcleos, alguns se formam espontaneamente, como
se dá com a mediação, outros são provocados elo próprio estado.

Desse modo, pode-se afirmar que, no modelo alemão, a execução civil é realizada de
forma difusa, pois são vários os órgãos de execução, que atuam conforme a pretensão a se
executar, o objeto a ser penhora ou as medidas executivas a serem realizadas. Neste modelo, o
gerichtsvollzieher é o agente que detém competência para a execução, agindo, também, como
mandatário do credor. O gerichtsvollzieher é considerado um funcionário judicial, pago pelo
erário público, que realiza, dentre outros atos: a notificação do devedor, buscas domiciliares,
recebimento da dívida, penhora, e a apreensão e entrega de coisas. Para se tornar um
gerichtsvollzieher, o indivíduo deve ter a idade mínima de 25 anos, ter concluído o ensino
médio e trabalhado para um dos órgãos da jurisdição estatal por no mínimo 2 anos. Além disso,
devem passar por um período de treinamento de 18 meses e obter sua aprovação. Com relação
42

ao procedimento, o gerichtsvollzieher será o incumbido de, em havendo bens para penhora,


registrar a penhora em ata, avaliar o bem, marcar e realizar o leilão. Ademais, caso a execução
não seja bem-sucedida por falta de bens penhoráveis, é possível que o credor intente uma nova
execução quando tiver conhecimento de ativos novos ou que antes eram desconhecidos. Isso,
pois, a prescrição do crédito decorrente de sentença é de 30 anos. (RIBEIRO, 2019a, p. 82-88).
Dessa forma, apesar do gerichtsvollzieher ser um agente público remunerado pelo
estado, é possível observar traços típicos da iniciativa privada na atividade desse agente na
tutela de direitos na execução. E, além do gerichtsvollzieher, o sistema executivo alemão conta
com a participação de outras duas figuras: prozessgerich e rechtspfleger. O primeiro integra o
juízo de primeira instância, e realiza a tutela específica de direitos, de forma a satisfazer as
obrigações de fazer e de não fazer. O segundo exerce a competência administrativa e recebe
treinamento específico para a realização dos atos de sua atribuição, não necessitando de
formação superior para tanto. Este último, tem o dever de conduzir o processo executivo, de
forma a acompanhar o cumprimento das obrigações que envolvam constrição ou depósito de
bens imóveis, bem como a sua avaliação e alienação, e créditos que constituam objeto de litígio,
a exemplo de haver concurso de credores. Nota-se, portanto, que a desjudicialização pela
transferência de competência a um servidor público vinculado ao Poder Judiciário pode ocorrer
de diferentes formas. (ONO, 2018, p. 142 - 144).
No processo executivo italiano, caso a obrigação não seja cumprida espontaneamente
no prazo de 10 dias, o ufficiale giudiziario inicia a fase expropriatória da execução, sem
qualquer interferência do judiciário. Após realizada a expropriação, o ufficiale giudiziario tem
o dever de depositar o auto de penhora na secretaria de execução, e, a partir deste momento,
iniciará o processo de execução. Após isso, o processo será levado ao conhecimento do juiz,
que passará a ser o novo responsável. (RIBEIRO, 2019a, p. 89-94).
Desse modo, na Itália, dentro da função jurisdicional, o processo executivo é
supervisionado e coordenado por um juiz e conta com o oficial de justiça (ufficiale giudiziario)
como importante agente auxiliar. O procedimento executivo apresenta três fases. A primeira,
preliminar, ocorre com a apresentação do título pelo credor, acompanhado de uma requisição
de pagamento. Nessa fase haverá a intimação pessoal, e, caso não haja o pagamento, o oficial
irá praticar as medidas constritivas – penhora. Após isso, inicia-se a segunda fase,
expropriatória. Feita a constrição, o oficial entregará o auto de penhora na secretaria de
execução, onde serão formados os atos executivos, e, a partir desse momento, o juiz passará a
atuar ativamente. Posteriormente, por fim, abre-se a fase satisfativa, onde ocorrerá a
distribuição dos proventos coordenada pelo juiz. (CILURZO, 2016, p. 130).
43

No Direito Francês, por sua vez, o agente de execução é um ente privado que tem sua
atividade altamente regulamentada. A execução forçada dos títulos executivos judiciais e
extrajudiciais é uma atividade exercida exclusivamente pelos huissiers de justice, em caráter de
monopólio. Todavia, verifica-se que, na prática, as agências de cobrança concorrem com os
huissiers em situações de composição ou parcelamento, tendo em vista que são, muitas vezes,
mais rápidas e baratas. Quando se tratar de execução sobre bens móveis e quantias em dinheiro,
a execução é feita exclusivamente pelo huissier. Mas, no caso de a penhora recair sobre bens
imóveis, os atos executivos serão feitos pelo huissier e, conjuntamente, com o Tribunal de
Grande Instância. Ainda, evidencia-se que o huissier pode trabalhar em um escritório próprio e
individual, ou ainda pode se associar a outros, formando uma sociedade. De forma geral, pode-
se dizer que a natureza jurídica da atividade do huissier é híbrida, mas com acentuada
característica privada, visto que ele é considerado um profissional liberal, mas que exerce
funções públicas. (RIBEIRO, 2019a, p. 95-98).
Ademais, nas palavras de Martins (2020, p. 12-13):

Outro interessante modelo diz respeito à desjudicialização da execução civil na


França, incrementada pelo Código de Procedimentos Civis de Execução, em vigor
desde 1º de junho de 2012, o qual congregou várias leis esparsas referentes aos
procedimentos de execução, seguindo a tendência da desjudicialização da execução
civil que vem orientando o processo civil na Europa.
O agente de execução francês (huissier de justice) é um servidor público ministerial
designado para o exercício de uma profissão liberal regulamentada e, a partir daí,
competente para executar decisões judiciais de cunho patrimonial, realizar e mediar
atos extrajudiciais tendentes à execução de julgados e de atos notariais, solucionar
disputas, cobrar dívidas, proteger direitos autorais e informações trocadas por meio
eletrônico e mediar controvérsias de consumo, além de outras atribuições de cunho
bastante abrangente

Nesse sentido, percebe-se que a execução organizada pelo estado e conduzida por
profissionais liberais, trata-se de um sistema que perdurou por vários séculos da história
francesa. E, mesmo havendo servidores estatais especializados na cobrança de dívidas ficais,
verifica-se que há uma transferência dessa competência aos huissiers. Tal fato evidencia que
essa forma de execução, praticada de modo autônomo e independente tem promovido, em
alguma medida, resultados mais vantajosos em comparação à execução realizada diretamente
pela Administração. Ademais, vale mencionar que, o modelo executivo francês influenciou e
ainda tem influenciado tal modo de execução em outros países, como exemplo disso, pode-se
mencionar o sistema de execução da Alemanha, que foi pensada e planejada, tomando como
base o sistema executivo francês. (ONO, 2018, p. 150).
No processo executivo espanhol, a execução é realizada diretamente pelo juiz, com os
auxiliares judicias. Assim, esses funcionários detêm responsabilidades e deveres que não são
44

exclusivamente jurisdicionais, objetivando a máxima eficiência da atividade judicial. Toda essa


forma de organização foi estabelecida para que se racionalizasse e otimizasse os recursos
destinados à administração da justiça. Dessa forma, os juízes podem dedicar seus esforços
exclusivamente paras as funções já previstas, de julgar e executar as sentenças. Ocorre que,
pode-se dizer que, na Espanha, a desjudicialização está em processo de maturação. Isso, porque,
apesar de toda a atividade executiva ainda se manter dentro de um processo judicial, é possível
perceber que auxiliares passaram a assumir parcela dos poderes do juiz. (RIBEIRO, 2019a, p.
98-106).
Deste modo, na Espanha, o juiz deve receber a petição de execução proposta pelo
exequente, e analisar a sua admissibilidade, e na sequência deve emitir a chamada orden general
de ejecución, que é uma espécie de ordem endereçada ao agente de execução. Feita essa etapa
inicial, a condução do processo fica sob a incumbência de um Letrado de la Administración de
Justicia, que tem o encargo de acompanhar o processo e de tomar decisões acerca das medidas
executórias necessárias à satisfação da obrigação. (ONO, 2018, p. 143).
Feitas essas considerações, evidencia-se o modelo de desjudicialização português. Isso
porque, o sistema executivo de matriz judicial de Portugal era exatamente igual ao atual sistema
de execução brasileiro. Essa reforma de Portugal surgiu devido à crise da justiça, pois o
processo era moroso e havia, ainda, um excesso de execuções pendentes. Assim, Portugal
passou a se inserir no contexto global da desjudicialização e da harmonização de sistemas
jurídicos dentro da Europa. Considera-se que houve uma evolução do sistema de execução de
natureza pública para privada em Portugal, através das reformas de 2003 e 2008. Entende-se
que, com a reforma de 2003 houve apenas uma desjudicialização parcial, visto que o juiz ainda
detinha o poder geral de controle sobre os processos e os agentes de execução. Entretanto, com
a reforma de 2008, foi possível observar a desjudicialização total, pois os juízes passaram a
intervir somente em casos específicos previstos em lei. (RIBEIRO, 2019a, p. 115-118).
Nesse sentido, percebe-se que a ação executiva em Portugal passou pela simplificação
do seu sistema, e desenvolvimento, mediante a redução de algumas formas de processo. Assim,
a reforma de 2003, passou a ser prevista a criação dos juízos de execução – com competência
exclusiva para a ação executiva – e as secretarias de execuções – responsáveis pelas diligências
necessárias para o desenvolvimento do processo. Desse modo, pode-se dizer que ouve a
inversão do contencioso, pois primeiro era realizada a penhora e depois era feita a citação, para
que o executado não praticasse qualquer ato de extravio ou descaminho do seu patrimônio. Em
2008, a execução civil de Portugal passou por mais uma reforma, visando sempre a celeridade
e eficácia do sistema judicial referente à cobrança de dívidas. Com essas novas alterações, o
45

agente de execução passou a ter mais atribuições, de forma a realizar diligências relacionadas
à extinção da execução, e para o seu arquivamento, enviava-se apenas uma informação
eletrônica ao tribunal, e não mais era necessário haver intervenção do juiz ou da secretaria para
finalizar o processo. Assim sendo, com a reforma de 2008, houve uma proteção ainda maior
quanto às funções essenciais do juiz da execução, pois a sua intervenção somente ocorria nos
casos estritamente necessários à resolução do conflito – ações declarativas. (FARIAS, 2015, p.
87-98).
Conforme Ono (2018, p. 180), a desjudicialização em Portugal:

[...] manteve a possibilidade de o executado provocar o Poder Judiciário sempre que


se sentir prejudicado por algum ato praticado pelo agente de execução (por meio de
“reclamações” e “impugnações”) e nas hipóteses em que se pretender discutir aspectos
relacionados à obrigação disposta no título (embargos à execução) ou houver o
interesse de se insurgir contrariamente à penhora de bens (oposição à penhora). Note-
se que, nesse país, embora a execução seja conduzida por um profissional liberal e
ocorra externamente à estrutura judiciária, o seu diploma processual prevê as medidas
que podem ser adotadas por partes que queiram submeter à análise judicial alguma
oposição relativa à execução, sendo esta processada de forma autônoma ao processo
executivo extrajudicial.

Dessa forma, entende-se que Portugal adotou duas tendências atuais do sistema
de justiça europeu: a desjudicialização e a privatização. A desjudicialização porque o juiz
deixou de exercer as funções que antes lhe estavam submetidas. E, a privatização porque houve
a transferência da atividade para um agente de execução, que não é um funcionário público,
mas um profissional liberal. (RIBEIRO, 2019a, p. 120).
Ante o exposto, percebe-se que, no cenário internacional, o movimento da
desjudicialização já é uma realidade consolidada, cada um com suas especificidades, de acordo
com a realidade de cada lugar. Tal fenômeno também tem sua relevância no âmbito da execução
civil, para a concretização do direito reconhecido no título executivo judicial ou extrajudicial.
Isso porque, diversos países já o adotaram, de forma a deslocar a competência da execução do
Poder Judiciário para um terceiro.
46

4 VIABILIDADE E BENEFÍCIOS DA APLICAÇÃO DO MODELO DE


DESJUDICIALIZAÇÃO NA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA NO BRASIL

O panorama atual do sistema judiciário brasileiro é marcado pelo excesso de processos,


congestionamento e ineficiência do Poder Judiciário. Isso é trazido pelo último relatório
divulgado pelo Conselho Nacional de Justiça, denominado “Justiça em números”,
evidenciando-se, portanto, uma verdadeira crise da jurisdição. Dessa forma, faz-se necessária a
reflexão acerca da possibilidade da mitigação ou eliminação da morosidade judicial por meio
da desjudicialização de procedimentos judiciais, o que já foi adotado de forma tímida pela
legislação brasileira. (GONÇALVES; HÜLSE; RIBEIRO, 2017, p. 160).
Neste capítulo, portanto, são apurados a viabilidade e os possíveis impasses na
implementação da desjudicialização. Além disso, exibe-se uma análise do Projeto de Lei nº
6.204/19, juntamente com a perspectiva de juristas e doutrinadores. E, por fim, são
demonstrados os benefícios da desjudicialização na execução por quantia certa no Brasil.

4.1 VIABILIDADE E IMPASSES NA IMPLEMENTAÇÃO DA DESJUDICIALIZAÇÃO

Primordialmente, cabe salientar que, em razão de o Poder Judiciário não oferecer a


jurisdição de forma completa, com rapidez, segurança e efetividade, o princípio do monopólio
jurisdicional nas mãos do Estado mostra-se insustentável. Dessa forma, cabe analisar a
possibilidade desse poder de império ser delegado. Assim, os atos de constrição não seriam
realizados por qualquer particular, mas por entes delegados pelo próprio Estado, passando a
exercer função pública de forma privada. Nesse sentido, a tarefa de verificar os pressupostos
da execução, realizar a citação, penhorar, vender, receber pagamentos e dar quitação seria
delegada a um agente privado, reservando-se ao juiz a eventual resolução de litígios, quando
provocado por intermédio dos competentes embargos do devedor. (RIBEIRO, 2019a, p. 146-
147).
Atualmente, a execução de títulos executivos é realizada por meio de processo judicial,
originado por uma petição inicial, onde um juiz possui poderes jurisdicionais para realizar todas
as diligências do processo de execução, incluindo citações, notificações, penhoras e venda de
bens. Tendo isso em vista, entende-se que, as atividades de cunho mais burocráticos, como as
desenvolvidas durante a execução – citação, notificações, penhora e venda de bens – podem
deixar de ser realizadas exclusivamente pelo juiz, a fim de que este possa exercer as atividades
que de fato, sejam cognitivas e decisórias. Dessa forma, busca-se priorizar a preocupação
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direcionada às soluções dos litígios, especialmente na execução, de forma simples, célere,


eficiente e eficaz, o que se torna dificultoso, caso a ótica processualista permaneça voltada para
a excessiva judicialização. (FARIAS, 2015, p. 143-145).
Sabe-se que, o magistrado exerce papel importante na resolução de litígios. Ocorre que,
em relação a atividade executiva, a imprescindibilidade da atuação estatal torna-se discutível.
No atual sistema jurídico brasileiro, o processo se desenvolve de forma vinculada a ordens
emitidas direta e sistematicamente pelo juiz. Nesse contexto, o Poder Judiciário se encontra
assoberbado de processos, os quais vêm se acumulando a cada ano. E, desse modo, tal fato
acaba prejudicando o acesso à justiça, especialmente em razão da ineficiência da execução.
(ONO, 2018, p. 169).
Assim, diante das dificuldades que o Poder Judiciário vem enfrentando para
corresponder funcionalmente às demandas, vê-se necessária a busca de soluções para atingir
um resultado, no mínimo, aceitável, em relação ao exercício das suas funções. Assim, é natural
que qualquer mudança cultural ou de atitudes envolva preocupações, e, até mesmo, rejeições
iniciais devido ao fato de se tentar introduzir na habitualidade da população um parâmetro novo.
(FARIAS, 2015, p. 143).
Ressalta-se que, a desjudicialização aqui exposta refere-se as execuções de obrigações
de pagar quantia. No sistema processual brasileiro, a tentativa de dar ensejo ao adimplemento
da obrigação por intermédio do executado, requer uma participação ativa e criativa do juiz na
análise de cada caso concreto. Assim, em razão da atipicidade do procedimento executivo, a
cognição judicial passa a constituir-se elemento essencial para a conformação do procedimento
das obrigações específicas, de fazer, não fazer ou entregar coisa. A situação se mostra diferente
quando se trata da execução de obrigação de pagar quantia certa, pois a atividade cognitiva
judicial é mitigada diante de um procedimento minucioso e rigidamente descrito na legislação
processual. Dessa forma, as regras que dispõem sobre a apreensão de bens, a expropriação e a
satisfação do crédito estabelecem de antemão os prazos, formas, lugar e as eventuais
alternativas existentes para o exercício dos atos executivos. Assim, verifica-se que, nas
execuções por quantia certa, em regra, os atos dos juízes encontram-se previstos e vinculados
às disposições legais, sendo, portanto, a atividade cognitiva limitada. O juiz exerce o papel de
reproduzir os comandos da lei nos mandados que emite aos oficiais de justiça, auxiliares e
partes. Dessa maneira, embora o juiz conduza o processo de execução, pode-se afirmar que
quem, de fato, exerce o protagonismo nas execuções pecuniárias é a própria lei. Há, portanto,
um desprendimento entre o procedimento executivo das obrigações pecuniárias e a atividade
cognitiva. (ONO, 2018, p. 171-173).
48

Ainda, reforça Farias (2015, p. 145) que, seria possível e viável desjudicializar a
execução no ordenamento jurídico brasileiro. Isso porque, atos burocráticos, eminentemente
técnicos e que não necessitam de maior nível de conhecimento jurídico não devem ficar restritos
ao juiz, uma vez que sua função é de extrema especificidade. Por isso, necessita de maior
aprofundamento e conhecimentos jurídicos para solucionar as demandas levadas ao judiciário,
o que durante a execução, em sua maioria, não é necessário. Afinal, na fase executiva, o direito
já foi solucionado.
Relacionando-se a viabilidade da implantação da desjudicialização da execução civil de
obrigação de pagar quantia com o sistema executório de Portugal, verifica-se que neste, o agente
responsável pela execução também se encontra vinculado a um procedimento tipificado em lei.
A atuação do magistrado é demandada apenas quando a cognição se fizer imprescindível. Desse
modo, entende-se que a relativa independência da atividade judicial da cognição nas execuções
das obrigações de pagar quantia certa, bem como a tipicidade de seu procedimento, oportuniza
a implementação da desjudicialização no Brasil. Isso porque, existe uma predominância de
atos de natureza administrativa que demandam apenas um cumprimento sistemático ao que já
se encontra detalhadamente descrito na legislação processual. À vista disso, verifica-se que, a
desjudicialização levaria a uma racionalização da atuação judicial sem que isso ocasione
redução da proteção estatal sobre os direitos do exequente e do executado. (ONO, 2018, p. 173-
174).
Quanto ao procedimento, Farias (2015, p. 148-150) comenta que, a desjudicialização
poderia se iniciar por meio de um sistema misto, onde haveria uma supervisão judicial, quando
necessária e requerida. Ainda, assim como em Portugal, um agente especializado poderia ser
criado para se encarregar apenas das execuções civis, oriundas de títulos executivos judiciais e
extrajudiciais. Assim, sendo líquido o título este seria remetido ao órgão especializado.
Importante destacar que, conforme Ribeiro (2019a, p. 146), não se pretende penas
transplantar as medidas adotadas por Portugal para o Brasil. O objetivo é fazer uma proposta
lúcida, coerente com o sistema brasileiro e com aproveitamento das estruturas já existentes.
Evidencia-se também que, o jurisdicionado ainda poderá socorrer-se ao Poder Judiciário diante
da lesão ou ameaça de direito ocorrida no processo executivo por intermédio dos embargos do
devedor.
O que se estabelece, portanto, é a ideia de uma espécie de “cartório privado”, com o
aproveitamento da estrutura já existente junto aos tabelionatos de protesto. Assim, o tabelião
assumiria função análoga à que hoje é exercida pelos escrivães judiciários. Ademais, os atos
jurisdicionais e o controle da atividade permaneceriam sob o encargo do Poder Judiciário, a
49

critério do magistrado, alterando-se apenas o que se revelar essencial para viabilização da


atividade. (CILURZO, 2016, p. 198-199).
Dessa forma, o que se propõe é que

[...] ao notário ou registrador seja delegada a função pública da execução de títulos,


por meio de outorga a um profissional de direito devidamente concursado, e que a sua
remuneração seja realizada de acordo com os emolumentos fixados por lei, em sua
maior parte cobrada do devedor ao final do procedimento executivo. A fiscalização
dessa atividade será realizada pelo Poder Judiciário - corregedorias estaduais. A
delegação é o regime jurídico sugerido para a efetivação da desjudicialização da
execução no Brasil, de modo a evitar boa parte dos problemas enfrentados pelos
portugueses.
Frise-se, os notários e registradores são profissionais do direito, altamente
qualificados, uma vez que o ingresso na atividade depende de concurso público de
provas e títulos. Já existe a previsão de um controle externo, realizado pelo Poder
Judiciário, mais especificamente pelo Conselho Nacional de Justiça, pelos Tribunais
de Justiça de cada Estado e suas respectivas Corregedorias-Gerais de Justiça. O
exercício da advocacia é incompatível com as atividades delegadas, de modo que caso
um advogado pretenda concorrer a uma vaga, deve submeter-se ao mesmo concurso
dos demais candidatos e, em sendo aprovado, requerer a suspensão do seu registro na
Ordem dos Advogados (RIBEIRO, 2019a, p. 150).

Ainda, em relação aos tabeliães de protesto, destaca-se que, estes possuem formação
profissional, todos são bacharéis em direito, e conhecimento específico sobre a matéria, o que
lhes confere qualificação diferenciada para o desempenho das funções já mencionadas. E, são
ainda os notários e registradores agentes responsáveis pela prática de seus atos e de seus
prepostos, no âmbito administrativo, civil e criminal, o que reforça a garantia e exigência da
prestação de um serviço público transparente, qualificado, célere e efetivo. Por fim, destaca-se
ainda que, todos são supervisionados pelos Tribunais de Justiça locais, através de suas
respectivas Corregedorias e pelo Conselho Nacional de Justiça. (FIGUEIRA JÚNIOR, 2020, p.
1).
Ribeiro (2019a, p. 151 e 176) também evidencia que, em razão de não ser permitido ao
advogado escolher o agente de execução dá credibilidade ao sistema proposto e garante o
profissionalismo e a isonomia de tratamento. Dessa forma, serão preservados os princípios da
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência que regem a função dos
agentes delegados – artigo 37, caput, da CF. A autora ainda destaca que, o Poder Judiciário
enfrenta problemas orçamentários, visto que não há verba nem para a contratação de oficiais de
justiça, e ainda ressalta o baixo desempenho destes na atividade executiva, cuja eficácia é de
16%. Assim, a proposta que se faz, levando em consideração as necessidades e possibilidades,
é a desjudicialização com privatização, por meio de delegação, e, dentre os agentes delegados,
sugere-se a ampliação das atividades dos tabelionatos de protesto, já que os únicos habituados
50

aos títulos e documentos de dívidas e dotados de estrutura adequada para localização e


intimação do devedor.
Ocorre que, após o tema ser amplamente discutido e a divulgação do Projeto de Lei nº
6.204/19, a comunidade jurídica se viu surpreendida com um impasse para a implementação,
devido a uma nota técnica da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) endereçada ao
Senado Federal desaconselhando o acolhimento deste Projeto de Lei, com o argumento de que
os atos expropriatórios se encontram sujeitos à reserva de jurisdição e de que a proposição
legislativa contraria o princípio da inafastabilidade jurisdicional. (THEODORO JÚNIOR,
2020c, p.1).
Desse modo, em relação a proteção de princípios e dispositivos, especialmente
constitucionais, ressalta-se ainda que,

É evidente que não se pode desconsiderar a proteção jurídica que deve também ser
dada ao devedor, pois se estaria ferindo importantes princípios e dispositivos legais
que foram elaborados, a fim de não permitir que abusos fossem cometidos, e para que
a dignidade das partes fosse preservada. Isso pode ser logrado por meio da
implementação de mecanismo informáticos (processo eletrônico) que permitem, a
qualquer momento, às partes, a consulta do processo e o conhecimento dos atos
praticados pelo agente de execução (v.g., bens penhorados, quantias recebidas do
devedor, pagamentos já efetuados, montante das quantias depositadas em conta
bancária aberta pelo agente de execução à ordem do específico processo executivo
etc.). (FARIAS, 2015, p. 145)

Nesse mesmo contexto, quanto ao obstáculo que se impõe a desjudicialização em termos


de monopólio de jurisdição, este pode ser entendido como superável, visto que é possível a
edição de lei para que legitime a transferência deste poder do Estado para outro agente. Essa
transferência de atos tipicamente jurisdicionais pode ser feita a agentes privados ou
administrativos, desde que pela via legal. (CILURZO, 2016, p. 159 e 169).
Em conformidade com esse pensamento, leciona Martins (2020, p. 17):

Questões como desjudicialização da execução civil podem, sim, resolver um


problema processual e de política judiciária, mas não podemos nos esquecer de que é
necessária uma adaptação consentânea com a realidade brasileira, com o nosso direito,
com nossa estrutura cartorária, segundo o crivo do nosso processo legislativo.

Além disso, cabe ressaltar também que, surge como impasse, a questão do patrimônio
do executado. Nesse sentido, dispõe Freitas (2021, p. 1) que:

O que se deve questionar é se o fato de, simplesmente, retirar a execução do Judiciário


e delegar essa atribuição para agentes administrativos vai, de modo efetivo, dar ensejo
à satisfatividade dos créditos executados ou se não estaríamos apenas mudando o
problema de lugar. Ou seja, o gargalo da execução passaria do Judiciário para a esfera
administrativa, já que o problema de fundo diz mais respeito à ausência de patrimônio
(ou ocultação) dos devedores, do que às técnicas executivas em si.
51

Diante disso, revela-se de extrema importância considerar que a retirada de funções


executivas das mãos do magistrado está estritamente relacionada à percepção geral de que se
deve racionalizar o processo. Isso porque, atos que são de competência do juiz poderiam ser
facilmente realizados por terceiros menos onerosos, mais especializados e, mais céleres e
eficazes. Deste modo, o juiz, por exemplo, não precisaria acessar o sistema BACEN-JUD para
a implementação meramente burocrática de um bloqueio de valores em contas bancárias do
devedor ou mesmo obrigá-lo a intimar o credor para que vá a juízo levantar os valores pagos
pelo devedor. Esses atos, portanto, tranquilamente poderiam ser praticados por terceiros
capacitados, com muito menor dispêndio de tempo, dinheiro e energia. (FARIA, 2021, p. 8).
Ante o exposto, entende-se que, embora inicialmente a desjudicialização no processo de
execução brasileiro possa ser vista como algo inviável para o nosso sistema, necessário
evidenciar que não seria tão dificultoso a ponto de impedir que órgãos fossem criados, tais como
os tribunais/agentes de execução existentes em Portugal, que pudessem ser filiados ou
interligados ao Judiciário. Desse modo, existindo mais delegações de funções para o
desenvolvimento de atos burocráticos, já seria possível visualizar um nível de flexibilização
com vista à solução das demandas. Nesse sentido, para que o Judiciário atue com mais
eficiência, necessário que alguma mudança ocorra, nesse caso, a implantação da
desjudicialização, tendo como exemplos outros ordenamentos jurídicos, em especial o de
Portugal. (FARIAS, 2015, p. 148).

4.2 O PROJETO DE LEI Nº 6.204/19

Tendo em vista a experiência portuguesa, o que se propõe é uma desjudicialização da


execução adaptada à realidade brasileira, com o máximo aproveitamento das estruturas
extrajudiciais já existentes. A escolha do tabelionato de protestos para exercer a função pública,
de forma delegada, da execução dos títulos executivos se dá em razão: a) da valorização do
protesto, que representa eficiente medida para o cumprimento das obrigações; b) do
alargamento das atividades do tabelião de protesto, visto que afeitos aos títulos de crédito; c)
de existir um profissional concursado e remunerado por emolumentos fixados por lei,
antecipados pelo credor, mas cobrados do devedor ao final do procedimento executivo; d) e, da
fiscalização já realizada pelo Poder Judiciário, através do CNJ e Corregedorias estaduais.
(RIBEIRO, 2020, p. 23-27).
Dessa forma, coloca-se em evidência a informação mais recente no tocante à
desjudicialização da execução civil, que é o Projeto de Lei nº 6.204/2019, de autoria da
52

Senadora Soraya Thronicke, que aguarda designação de relator. Esse Projeto de Lei visa resultar
em lei que discipline a execução extrajudicial civil para cobrança de títulos executivos judiciais
e extrajudiciais, delegando ao tabelião de protesto o exercício das funções de agente de
execução, mas preservando a aplicação subsidiária do Código de Processo Civil. (MARTINS,
2020, p. 3-4).
Nesse sentido, inspirado na experiência da desjudicialização da execução vivenciada em
outros países, especialmente no sistema português, e na tese de doutorado de Flávia Pereira
Ribeiro, o Projeto de Lei nº 6.204/2019 sugere que ao tabelião de protestos seja atribuída com
exclusividade a função de agente de execução, incumbindo-lhe a prática de diversas atividades
hoje desempenhadas por juízes e servidores do Poder Judiciário, tais como: a verificação dos
requisitos do título executivo, inclusive a ocorrência de prescrição e decadência; a suspensão e
a extinção da execução; a realização da citação do executado; e a efetivação de atos de
expropriação, como a penhora. (PEIXOTO, 2020, p. 87).
À vista disso, a execução seria realizada da seguinte maneira:

o credor, munido de título executivo judicial ou extrajudicial, e, representado por


advogado, apresentaria um requerimento ao tabelionato de protesto, onde seria
formado um instrumento a ser cumprido pelo "agente de execução", a quem
incumbiria a citação do devedor, a penhora, a avaliação e o cumprimento dos demais
atos de expropriação, incluindo a eventual entrega do dinheiro àquele e a extinção da
execução. Como resultado, a atuação do juiz seria excepcional, residual e
condicionada à provocação do próprio agente de execução — no caso de haver
dúvidas sobre como proceder —; do devedor — no caso de querer se opor ao
procedimento por meio de embargos —; e/ou das partes — no caso de se depararem
com decisões do agente que fossem capazes de lhes causar prejuízos. (RANGEL;
RODRIGUES, 2020, p. 1).

Diante desse cenário, o Projeto de Lei já nasce promissor, pois busca, a partir de uma
ousada proposta de solução fora do processo judicial, não só chamar a atenção da comunidade
jurídica para o tema da desjudicialização como, também, pretende fazer com que a execução
civil de obrigação de pagar quantia certa revele-se mais efetiva e adequada. O PL pretende
atribuir funções executivas ao tabelião de protesto, transferindo a competência da resolução de
litígios para instâncias não judiciais, utilizando-se de uma “velha profissão”, mas com novas
atribuições. E, tendo como base o sistema executivo lusitano, pode-se enquadrar a
desjudicialização em um nível intermediário, no qual há transferência de competências para
agente externo ao Poder Judiciário – tabelião de protestos -, mas sob delegação, intervenção e
fiscalização direta desse mesmo Poder. (FARIA, 2021, p. 4-6).
O PL dispõe que caberá a desjudicialização das execuções que envolvam obrigações de
pagar quantia líquida, certa e exigível fundadas em títulos executivos judiciais – inclusive os
heterogêneos, notadamente sentenças arbitrais, sentenças penais condenatórias e sentenças
53

estrangeiras homologadas pelo Superior Tribunal de Justiça -, ou extrajudiciais. Ademais,


ressalta-se ainda que, as obrigações sujeitas a termo ou condição não podem ser objeto de
execução extrajudicial. Podem ser partes na execução civil extrajudicial as pessoas jurídicas de
direito privado ou pessoas naturais capazes, não podendo ser parte o incapaz, o preso ou
internado, as pessoas jurídicas de direito público, a massa falida ou o insolvente civil. E, por
fim, destaca-se que o projeto de lei permite apenas a desjudicialização da execução, exigindo o
trânsito em julgado da sentença exequenda, razão pela qual não cabe a execução extrajudicial
da execução provisória. (HILL, 2020, p. 182-184).
Ademais, para Figueira Júnior:

é assente que pela própria natureza dos títulos executivos, os procedimentos judiciais
desta espécie são basicamente administrativos, o que importa em pouca atuação
jurisdicional do magistrado; por outro lado, são inúmeros os atos praticados por juízes
e serventuários voltados à efetivação da execução em prol da satisfação perseguida
pelo credor (citação, intimação, penhora, localização de bens, avaliação, alienação
etc.), o que lhes absorve incontável tempo precioso. [...] O PL 6.204/19 oferece a
oportunidade de desafogar o Judiciário com a supressão de milhares de demandas
executivas civis cujos procedimentos importam, majoritariamente, em atos
burocráticos de cobranças de dívidas, tendo como administrador o juiz togado; por
conseguinte, reserva-se para o magistrado a prática exclusiva da típica e nobre
atividade jurisdicional (dizer o direito) em processos ou incidentes que demandem
verdadeira cognição (v.g. processos de rito comum ou especial, tutelas de urgência,
incidentes em execução). (2020, p. 1).

Pode-se ressaltar como principal novidade do PL, a criação da figura do agente de


execução, que deverá ser exercida pelo tabelião de protesto. E, este fato gera a indagação de ser
ou não constitucional a imposição de que a execução civil se dê perante um agente de execução
extrajudicial. Entretanto, pode-se entender que, a utilização de um tabelião de protestos, desde
que garanta de modo rápido, eficaz e com custos módicos o controle judicial, não ofende o
direito de acesso à Justiça. Ainda, ressalta-se que, em boa parte das execuções no Brasil apenas
são praticados atos burocráticos, em que sequer há controvérsia a ser decidida pelo magistrado.
E, também existem as situações em que o executado realiza o pagamento de forma voluntário,
à vista ou parceladamente, o que também reflete apenas atos burocráticos a serem realizados,
sem qualquer tipo de cognição pelo juiz. (FARIA, 2021, p. 6-8).
Segundo Hill (2020, p. 181):

de acordo com o Projeto de Lei nº 6.204/2019, as execuções de obrigações pecuniárias


líquidas, certas e exigíveis envolvendo sujeitos capazes e solventes passariam a ser
conduzidas, com exclusividade, pelos chamados agentes de execução, um terceiro
imparcial que não faz parte dos quadros do Poder Judiciário, embora por ele
fiscalizado. De se notar que o Projeto de Lei não autoriza a autotutela privada na
execução civil, visto que exige que o procedimento seja inexoravelmente presidido e
conduzido pelo agente de execução, que, conforme pontuamos acima, consiste em um
agente imparcial que deve preencher todos os requisitos legais e presta um serviço
público delegado pelo Poder Judiciário e por ele fiscalizado.
54

Assim, após o protesto, o tabelião irá realizar a verificação dos pressupostos da


execução, a citação, a penhora, o recebimento de pagamento, e a extinção do procedimento
executivo extrajudicial. Todavia, ressalta-se que, é mantido o contraditório e a ampla defesa,
pois os embargos da execução são opostos perante o juiz de direito competente. Ademais,
destaca-se outros detalhes do Projeto de Lei: as partes estarão sempre representadas por
advogado, com a verba honorária devida conforme o CPC; execuções de pequeno valor, até 40
salário mínimo, podem ser realizadas perante o JEC; quando as partes forem hipossuficiente
podem se utilizar dos benefícios da gratuidade; dispõe apenas de execuções de obrigações de
pagar quantia certa, sem participação do Ministério Público; no caso de não localização de bens
suficientes para a satisfação do crédito será suspensa a execução. (RIBEIRO, 2020, p. 28-34).
Todavia, o Projeto de Lei nº 6.204/2019 também sofre críticas que deverão ser notadas
pelos legisladores, dentre as quais estão a irrecorribilidade das decisões proferidas na suscitação
de dúvida, o que pode acarretar diversas impetrações de Mandados de Segurança, e, a
obrigatoriedade do prévio protesto do título judicial ou extrajudicial como condição para a
instauração do procedimento desjudicializado, isso porque, tal imposição cria um novo e
desnecessário ônus financeiro ao exequente, que já está sendo prejudicado pelo
inadimplemento. (FANTON; OLIVEIRA, 2021, p. 1).
Quanto as especificidades, Hill (2020, p. 185-192) evidencia que, a via extrajudicial será
prioritária para as execuções instauradas a partir da entrada em vigor da lei. Também, prevê a
obrigatoriedade de que o exequente seja assistido por advogado. Em relação ao agente de
execução, o projeto prevê que compete exclusivamente aos tabeliães de protestos e a seus
escreventes devidamente credenciados atuar como agentes de execução, após realizar um curso
de capacitação a ser organizado pelo CNJ antes da entrada em vigor da lei (prazo de um ano).
A autora, no entanto, discorda da obrigatoriedade do advogado e ainda ressalta que, no Brasil,
há 3.787 tabelionatos de protesto, não tendo, portanto, tabelionato de protesto para todos os
municípios brasileiros. Assim, entende que o PL deveria a atribuir a todas as 13.369 serventias
extrajudiciais a função de agente de execução, com vistas a facilitar o acesso à justiça e
aproximar a execução do jurisdicionado. A autora entende, ainda, que deve ser modificada
competência para competência concorrente, a fim de possibilitar o acesso à justiça, pois quando
se trata de execuções fundadas em título executivo extrajudicial, o PL prevê que estas devem
ser processadas no tabelionato do foro do domicílio do devedor, e quando se tratar de execuções
fundadas em título executivo judicial, deverão ser processadas no foro do juízo sentenciante.
55

Com relação a discussão sobre a possível ofensa ao Princípio da inafastabilidade da


jurisdição, dispõe Theodoro Junior (2020c, p. 1) que não haveria ofensa, visto que ainda seria
possível o acesso ao Poder Judiciário nos casos em que o jurisdicionado se sinta prejudicado:

A nenhum pretexto, enfim, se pode ter a execução desjudicalizada como uma ofensa
à garantia constitucional de acesso à justiça. É que os agentes executivos somente se
encarregam dos atos executivos, de modo que os eventuais embargos e impugnações
ao direito do exequente e aos atos praticados pelos referidos agentes são sempre
submetidos à decisão de um juiz togado. [...] Nenhuma razão há para se ver na
desjudicialização executiva uma negação da garantia de acesso ao Poder
Judiciário. [...] Ora, quando a lei põe à disposição do credor um serviço público apto
a tutelá-lo in concreto, faltar-lhe-á interesse para movimentar a máquina judiciária.
Esse interesse, portanto, somente se configurará quando no curso da execução
extrajudicial surgir conflito de interesses, cuja solução não se comporte nos poderes
do agente executivo. Nessa conjuntura, o sistema de execução desjudicializada não
será empecilho ao acesso da parte à tutela jurisdicional, visto que lhe restará
assegurada a submissão do incidente contencioso ao juiz competente.

Ainda, Peixoto (2020, p. 89-90) afirma que:

Mais do que apenas permitir a tramitação das execuções nos tabelionatos de protestos,
o Projeto busca promover uma profunda alteração nas execuções, retirando do
Judiciário a maior parte dos atos executivos e, inclusive, alguns atos decisórios, como
o deferimento ou indeferimento do pedido inicial, a decretação da prescrição e da
decadência, o deferimento da gratuidade da justiça, a suspensão e a extinção da
execução.
Em razão disso, muitas críticas têm sido suscitadas pela doutrina ao referido Projeto
de Lei. O primeiro ponto que pretendemos abordar no presente texto é o relativo à
existência ou não de reserva de jurisdição no tocante aos atos executivos,
especialmente os expropriatórios.
Segundo o Supremo Tribunal Federal, a denominada cláusula constitucional de
reserva de jurisdição importa em “(...) submeter, à esfera única de decisão dos
magistrados, a prática de determinados atos cuja realização, por efeito de explícita
determinação constante do próprio texto da Carta Política, somente pode emanar do
juiz, e não de terceiros (...)”. Normalmente a reserva de jurisdição é relacionada a
matérias como a busca domiciliar (CF, art. 5º, XI), a interceptação telefônica (CF, art.
5º, XII) e a decretação da prisão, ressalvada a hipótese de flagrância (CF, art. 5º, LXI),
porquanto tais dispositivos constitucionais exigem expressamente a intervenção
judicial, por meio de ordens ou decisões, afastando, em consequência, a atuação de
qualquer outra pessoa ou ente, inclusive autoridades ou órgãos estatais.
Relativamente a esses temas considerados pelo próprio texto constitucional como
mais sensíveis, cabe ao Poder Judiciário “não apenas o direito de proferir a última
palavra, mas, sobretudo, a prerrogativa de dizer, desde logo, a primeira palavra”.
Entende-se, no entanto, que a reserva de jurisdição, nos termos acima referidos, não
se aplica aos atos processuais executivos, sequer aos expropriatórios.
Isso porque não há qualquer dispositivo constitucional que, de modo expresso,
imponha a prática desses atos exclusivamente aos juízes de direito.

Assim, considerando-se, em primeiro lugar, que não há reserva de jurisdição quanto aos
atos expropriatórios; e, segundo, que se revela possível o exercício da função jurisdicional e,
bem assim, a prática de atos executivos e expropriatórios, por órgãos e entes não integrantes do
Poder Judiciário, inclusive por particulares, sem ofensa ao princípio da inafastabilidade da
jurisdição, entende-se, portanto, que o Projeto não contém qualquer ofensa à Constituição
Federal. (PEIXOTO, 2020, p. 92).
56

Nesse sentido, Fanton e Oliveira (2021, p. 1) reafirmam esse posicionamento, dispondo


que, em relação a reserva de jurisdição, não estão submetidos a ela os atos executivos, havendo
a possibilidade da delegação a órgãos não pertencentes ao Poder Judiciário. Além disso,
incabível falar de inobservância ao princípio da inafastabilidade de jurisdição e acesso à justiça,
visto que se trata de um equivalente jurisdicional, em prol das resoluções de conflitos obtidas
com simplicidade, eficiência, economia, celeridade e efetividade. E, por fim, ressaltam que, o
Poder Judiciário continuará conservando o controle de legalidade sobre a atuação desses
organismos extrajudiciais.
Assim, entende-se que alguns argumentos contrários ao projeto devem ser rechaçados:
o primeiro, o de que os atos expropriatórios estariam submetidos à reserva de jurisdição, porque
não há regra constitucional que estabeleça que os atos expropriatórios somente podem ser
praticados por juízes; o segundo, de que o PL viola o princípio da inafastabilidade da jurisdição,
porque a jurisdição pode ser exercida por particulares e o PL, apesar de estabelecer que a função
de agentes de execução deve ser exercida com exclusividade pelos tabeliães, garante o acesso
ao Judiciário como ultima ratio. Ante o exposto, entende-se que é preciso que não se considere
o Projeto de Lei nº 6.204/2019 como solução, mas sim como mais uma alternativa aos
problemas da inefetividade do processo executivo. (PEIXOTO, 2020, p. 95-96).

4.3 BENEFÍCIOS DA DESJUDICIALIZAÇÃO NA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA

Sabe-se que o processo de execução sofreu diversas modificações legislativas nas


últimas décadas. Entretanto, como restou demonstrado pelas estatísticas judiciárias oficiais, as
alterações praticadas revelaram-se insuficientes para atender as demandas pela tutela satisfativa
estatal. Vê-se, portanto, uma baixa eficiência da atividade estatal na recuperação de créditos via
execução forçada. Dessa forma, essa crise torna-se um ambiente propicio para que se busque
soluções. (ONO, 2018, p.165).
Como já dito anteriormente, sabe-se que o Poder Judiciário está deficitário, e, suas
despesas aumentam a cada ano. Acredita-se, ainda que nem mesmo uma injeção considerável
de recursos seria suficiente para fazer a máquina funcionar. Além disso, o sistema judiciário
apresenta-se moroso e burocrático. Constata-se, portanto, que a desjudicialização pode trazer
fôlego para a prestação jurisdicional, tornando-a efetiva, célere e justa, isso porque o Estado
não irá mais despender esforços e recursos na prestação jurisdicional, pois o exercício da
atividade notarial, embora estatal, se dá em caráter privado. É inegável que ainda existirá um
pagamento adicional relativo aos custos da atividade jurisdicional, entretanto, conforme
57

estatísticas do Colégio Notarial do Brasil, depreende-se que o jurisdicionado prefere pagar com
emolumentos da escritura pública para a realização de separações, divórcios e inventários do
que esperar a longa tramitação do processo judicial. Ou seja, com relação ao custo-benefício,
prevalece a justiça privada, que dispõe de rapidez e segurança. (RIBEIRO, 2019a, p. 33-35).
Desta forma, cumpre ainda evidenciar que, a desjudicialização se caracteriza em um
fenômeno de maior espectro, caracterizado pela busca de instancias institucionalizadas para o
processamento e distribuição do direito. Esse fenômeno surge, portanto, diante de momentos
de crise jurisdicional e insuficiência das respostas estatais aos conflitos surgidos da sociedade.
(CAVACO, 2017, p. 245).
Tendo em vista a desjudicialização da execução em Portugal, pode-se perceber inúmeras
vantagens na sua aplicação. Isso porque, o agente pode praticar diligências do processo de
execução. Fazendo com que o magistrado não mais tivesse de praticar atos de caráter não
jurisdicional, apenas intervindo nos incidentes ocorridos no desenvolvimento do processo.
Assim, com a reforma feita em Portugal, a execução não se equiparou a um procedimento
administrativo, mas o objetivo central era aumentar a celeridade e a efetividade da execução,
sem contrariar a reserva de jurisdição, visto que se referia à resolução de demandas em que já
se sabia quem é o executado e o que é devido. Pôde-se ver também, o aliviamento do
congestionamento do Poder Judiciário, bem como os custos e a demora, em solucionar casos.
(FARIAS, 2015, p. 137).
Desse modo, diante de um cenário de morosidade, uma mudança de modelo processual,
que visa deslocar a execução para fora da estrutura congestionado do Poder Judiciário ganha
força como uma alternativa para a celeridade do processo. Através dos dados coletados, também
foi possível identificar que uma iniciativa de desjudicialização preponderantemente de atos não
jurisdicionais, que crie um procedimento alternativo de execução por quantia, cuja tramitação
se dará especialmente perante agente privados – preservada a competência do juiz nos aos que
demandarem a prática de atos de decisão e de imposição de decisões – se demonstra como uma
alternativa coerente. Isso porque, por meio dela, há potencial de melhoras como a possibilidade
de especialização do agente de execução, a desvinculação entre as administrações orçamentária
e de pessoal do Judiciário e o agente externo, e a redução no consumo de tempo e recursos do
Poder Judiciário, com a progressiva redução de atos do processo executivo que sejam de sua
incumbência. (CILURZO, 2016, p. 218).
Assim, a desjudicialização da execução de obrigação de pagar quantia, juntamente com
o Projeto de Lei nº 6.204/2019, visa:
58

proporcionar aos jurisdicionados um eficiente mecanismo de realização de pretensões


voltadas à satisfação rápida de créditos representados por dívidas líquidas, certas e
exigíveis, de modo mais econômico e simplificado, além de impactar positivamente
na redução de expressivo número de demandas que tramitam no Poder Judiciário (em
torno de 13 milhões = 17% de todo o acervo), bem como gerar economia para os
cofres públicos de aproximadamente 65 bilhões de reais; este resultado decorre
também das modificações trazidas aos arts. 9º e 11 da lei 9.430/96, ao permitir que na
hipótese de execução extrajudicial ajuizada por pessoa jurídica em que não se localiza
bens do devedor suficientes para a satisfação do crédito, o agente de execução
suspenda o procedimento e lavre certidão comprobatória do não recebimento de
créditos, de maneira que essas perdas possam ser deduzidas como despesas para
determinação do lucro real, contabilizando como receita, o que atualmente só se obtém
através do ajuizamento de ações executivas unicamente para este fim, sabidamente
frustradas, perante o Estado-juiz. (FIGUEIRA JÚNIOR, 2020, p. 1).

A desjudicialização no Brasil deve ser vista como a principal solução de tornar a


prestação jurisdicional mais célere e retirar a sobrecarga de demandas do Poder Judiciário ou
distribuí-las conforme o grau de complexidade. Além disso, contribui também para a exigência
social, para o acesso à justiça e para maior participação dos cidadãos nos problemas que os
envolvem. Ademais, pode-se dizer que a desjudicialização pode contribuir para a promoção da
Justiça e a realização de direitos fundamentais dos cidadãos – com o acesso à justiça, celeridade,
efetividade de direitos, pacificação. Desta forma, a desjudicialização representa, portanto, um
avanço na resolução de conflitos e contribui significativamente para desafogar o Poder
Judiciário, liberando-o para cumprir adequadamente a sua função essencial, nas demandas que
forem levadas à sua apreciação, além de se traduzir em uma nova forma de acesso à Justiça.
(GONÇALVES; HÜLSE; RIBEIRO, 2017, p. 178-179).
Figueira Júnior (2020, p. 1), também dispõe que, com a desjudicialização, por meio do
Projeto de Lei já mencionado, ocorrerá o aumento de demandas nas serventias extrajudiciais, o
que demandará criação de novos cargos e a realização de concursos públicos para o
preenchimento das vagas, permitindo o acesso aos tabelionatos de protestos de títulos a todos
os bacharéis de direito interessados. Além disso, o PL desonera também os cofres públicos,
visto que as serventias extrajudiciais não acarretam ônus financeiro algum para o Poder
Judiciário, visto que a remuneração de todos os notários, registradores e prepostos advém da
arrecadação dos emolumentos estabelecidos em lei. Diferentemente do que ocorre com a
criação de cargos de juízes, onde geralmente estão vinculados a novas unidades jurisdicionais
e aos cargos de serventuários da justiça, ao que se agrega a ampliação da correspondente
infraestrutura. Dessa forma, entende-se que com a implantação do fenômeno da
desjudicialização não só reduzirá as demandas e despesas decorrentes dos custos processuais
para o Poder Judiciário, mas também irá elevar a sua arrecadação diante dos repasses de
percentuais que incidem sobre os emolumentos percebidos pelos extrajudiciais. Ademais,
59

evidencia-se que o Judiciário continuará percebendo ainda as custas decorrentes dos acessos
feitos pelas partes ou terceiros interessados (direta ou indiretamente) com a execução - se e
quando necessário - como por exemplo, em embargos do devedor.
Desse modo, dispõe Martins (2020, p. 15) que:

a eficácia e a celeridade da satisfação do direito subjetivo declarado na sentença ou


no título extrajudicial dependem também do menor risco de inadimplência, o qual
pode ser muito bem gerido pela desjudicialização da execução civil, com o valoroso
apoio dos tabelionatos de protestos por meio da delegação.

Assim, entende-se que, a desjudicialização da execução de obrigação de pagar quantia


oferece a oportunidade de desafogar o Judiciário com a supressão de milhares de demandas
executivas civis cujos procedimentos importam, em sua maioria, em atos burocráticos de
cobranças de dívidas, tendo como administrador o juiz togado; dessa forma, reserva-se para o
magistrado a prática exclusiva da típica e nobre atividade jurisdicional de dizer o direito em
processos ou incidentes que demandem verdadeira cognição. Nesse contexto, com as execuções
sendo conduzidas pelos tabeliães de protesto, o processamento destas passará a tramitar com
competência, independência, segurança, eficiência, rapidez, adequação, qualidade, sigilo, fé
pública e responsabilidade. (FIGUEIRA JÚNIOR, 2020, p. 1).
Ademais, no que tange ao alcance da pacificação da justiça através da Justiça
Multiportas, Hill (2020, p. 178), dispõe que:

As novas funções, que foram transferidas para os cartórios extrajudiciais em


decorrência da desjudicialização, o foram precisamente com o escopo de garantir, em
maior grau, o acesso à justiça nos dias atuais. Trata-se de movimento inerente à noção
de Justiça Multiportas, em que novos agentes são convocados a oferecer ao
jurisdicionado outros mecanismos igualmente legítimos e adequados para a solução
dos litígios (ou o exercício da jurisdição voluntária) e que se colocam ao lado da
adjudicação estatal. Abrem-se vários possíveis caminhos para se chegar, no Estado
Democrático de Direito contemporâneo, à pacificação com justiça.

Theodoro Júnior (2020c, p. 1) ainda destaca como vantagens:

a) Os processos judiciais acumulados aos milhões atualmente correspondem, em mais


da metade, a execuções em dificuldade ou impossibilidade de conclusão, por ausência
de localização de bens exequíveis;
b) As tarefas práticas de localização de bens a penhorar são de problemático exercício
pelos juízos cíveis, mas são mais facilmente praticáveis por um agente especializado
na função executiva, sendo remunerado exatamente pelo êxito em seu desempenho;
c) Transferindo-se o encargo para o agente executivo (um notário especializado) os
serviços a seu cargo serão, naturalmente, mais eficientes, enquanto os encargos dos
juízos do Poder Judiciário serão aliviados de um enorme volume de processos, em
benefício da maior disponibilidade de tempo e condições para enfrentar os processos
de cognição, que, na verdade, são os que reclamam a atividade pacificadora
contenciosa;
d) Os participantes da execução extrajudicial não ficarão privados, quando necessária,
da tutela jurisdicional, mas esta será muito menos numerosa e não comprometerá os
serviços das varas cíveis comuns, já que poderá ser concentrada numa ou algumas
varas especializadas (juízo de execução), como hoje é comum nas comarcas de grande
60

porte, onde existem varas especializadas em questões oriundas dos Tabelionatos e


Registros Públicos.
A se levar em conta a experiência exitosa dos países europeus, muitas são as vantagens
significativas que a desjudicialização da execução civil oferece, tanto para os
credores, como para o próprio serviço público a cargo do Poder Judiciário.

Isso não significa dizer que a implantação da desjusdicialização trará apenas efeitos
positivos, pois, como toda mudança e inovação, pode-se trazer, também, problemas que são
inerentes a todos os tipos de situação e execução de procedimentos dentro do próprio processo.
Entretanto, com uma boa organização administrativa dos órgãos do judiciário, esses efeitos
negativos podem ser controlados, de forma a prevalecer as vertentes positivas (FARIAS, 2015,
p. 144).
Assim sendo, fazer com que a desjudicialização se aprimore e funcione trará benefícios
ao Poder Judiciário, que poderá se concentrar na solução dos litígios para os quais realmente é
encarregado, e para a sociedade, que poderá obter a efetiva prestação jurisdicional, de forma
mais célere e eficiente, sem abrir mão das garantias fundamentais do processo. (HILL, 2020, p.
198).
61

5 CONCLUSÃO

O presente trabalho de conclusão de curso teve como objetivo central realizar um estudo
acerca da viabilidade e dos benefícios da desjudicialização no cenário brasileiro, especialmente
quanto a execução civil de obrigação de pagar quantia certa.
No primeiro capítulo do trabalho, abordou-se o tema da execução civil no Brasil,
trazendo os aspectos gerais do fenômeno executório, bem como as características do sistema
brasileiro de execução civil. E, verificou-se, ainda, a modalidade de execução de obrigação de
pagar quantia certa.
Constatou-se que a execução civil busca satisfazer o direito do jurisdicionado, advindo
de um título executivo judicial ou extrajudicial. Ainda, verificou-se que o sistema brasileiro de
execução civil se rege por inúmeros princípios, tais como: Princípio da autonomia, Princípio da
atipicidade dos meios, Princípio do título, Princípio da menos onerosidade, Princípio da
patrimonialidade, dentre outros. E, observou-se, também, a execução por quantia certa, que se
mostra importante modalidade de execução, visto que trata da expropriação de bens do
executado.
O segundo capítulo de desenvolvimento apresentou o fenômeno da desjudicialização,
evidenciando seus aspectos gerais, a desjudicialização no direito brasileiro e sua relação com o
princípio da inafastabilidade da jurisdição, e, por fim, o capítulo mostra a desjudicialização em
outros países, com suas peculiaridades.
Concluiu-se que a desjudicialização mostra-se uma verdadeira tendência internacional,
pois permite que o jurisdicionado possa resolver determinado conflito fora do âmbito dos
tribunais, transferindo atos, muitas vezes somente burocráticos, para fora do Poder Judiciário.
Ainda, ressaltando essa tendência natural, verificou-se que, no Brasil já é possível visualizar
diversos temas que foram desjudicializados, e que esse fenômeno não contraria o princípio da
inafastabilidade da jurisdição, visto que ainda permite que o jurisdicionado possa recorrer ao
Judiciário, quando necessário. Por fim, constatou-se que a desjudicialização vem sendo
utilizada em diversos países, cada um com suas peculiaridades, representando um avanço,
especialmente no âmbito da execução civil.
No terceiro capítulo do trabalho, foram evidenciados a viabilidade da aplicação da
desjudicialização da execução por quantia certa no brasil, bem como os possíveis impasses na
implementação da desjudicialização. Também foi exposto o Projeto de Lei nº 6.204/19, que traz
a proposta de desjudicialização da execução civil de obrigações de pagar quantia certa, tendo
62

por base o modelo de desjudicialização de Portugal. E, por fim, foram abordados, também, os
benefícios da desjudicialização na execução por quantia certa.
Constatou-se que, com base no modelo de desjudicialização de Portugal, é possível a
aplicação do fenômeno da desjudicialização no sistema executivo brasileiro, desde que com as
adaptações necessárias. O Projeto de Lei nº 6.204/19, portanto, representa enorme avanço para
a implantação e entendimento do tema, entretanto, ainda há diversas questões para serem
analisadas e discutidas. Por fim, é inegável que a desjudicialização traz incontáveis benefícios,
e, nesse sentido, no âmbito da execução civil por quantia certa, pode-se visualizar, a exemplo,
uma redução da sobrecarga do judiciário; transferência de atos que não exijam cognição para
fora do judiciário, a fim de possibilitar ao magistrado a resolução de conflitos que necessitam
de cognição; aumento da eficiência da concretização do direito reconhecido no título executivo,
dentre outros.
Assim, diante de um sistema processual judiciário que se mostra burocrático, demorado,
ineficiente e inefetivo, resta claro que a desjudicialização da execução civil irá contribuir para
a eficácia e celeridade do direito reconhecido no título, seja ele judicial ou extrajudicial,
efetivando o cumprimento das decisões. Isso porque, percebe-se que o sistema cartorário
demonstra ser o inverso no desempenho de suas atividades em relação ao Poder Judiciário.
Será possível, portanto, através da delegação da execução civil para os agentes de
execução, visualizar um “desafogamento” do Poder Judiciário. Assim, poderá se observar
rapidez, segurança e justiça das decisões, juntamente com alívio dos magistrados para que
possam decidir causas que exigem maior cognição. Ademais, restou evidenciado que a proposta
poderá gerar economia para os cofres públicos.
Desse modo, segundo o exposto, a desjudicialização da execução civil por quantia certa
de títulos judiciais e extrajudiciais deve ser vista como uma possibilidade para a mitigação da
sobrecarga do Poder Judiciário e para a efetividade do direito reconhecido no título executivo
do jurisdicionado. Contudo, é preciso destacar que não basta analisar a experiência desse
instituto em outros países, mas também se torna necessária a percepção e estudos específicos
do ordenamento jurídico brasileiro, pois difere muito dos demais. Isso porque, percebe-se que
o maior problema das execuções por quantia, seja de título judicial ou extrajudicial, são de
origem econômica, visto que o devedor não possui patrimônio.
Dessa forma, entende-se também que, o processo de desjudicialização das execuções
civis por quantia certa não vai resolver por completo o problema da execução civil no Brasil,
sendo apenas mais um caminho para facilitar tal ato. Isso, porque, é preciso esclarecer que uma
63

execução infrutífera não se dá apenas pelo método processual utilizado, mas também pelo “fator
patrimônio”.
Com relação ao Projeto de Lei nº 6.204/2019, apesar de representar um enorme avanço
para o amadurecimento do assunto, é preciso observar alguns pontos de aprimoramento deste,
tendo em vista a realidade brasileira. Também cabe evidenciar que, nem todas as matérias foram
abordadas em tal Projeto, que acabaram por deixar diversas lacunas no projeto, gerando, dessa
forma, muitas dúvidas para os acadêmicos, doutrinadores e juristas do Direito Brasileiro.
Disso resulta que, embora a desjudicialização da execução civil possa trazer consigo
inúmeros benefícios para o sistema jurídico brasileiro, é preciso observar as críticas e sugestões,
bem como sua aplicabilidade, tendo em vista as condições do Brasil. Restou evidenciado,
portanto, que a desjudicialização da execução civil não é o caminho absoluto, mas apenas um
dos caminhos para a óbice da execução.
Conclui-se, pois, em atenção ao problema de pesquisa proposto, que os reais benefícios
da desjudicialização da execução por quantia certa de títulos judiciais e extrajudiciais no
ordenamento jurídico brasileiro são, em síntese: a redução da sobrecarga do Poder Judiciário;
maior efetividade e celeridade da execução, de modo econômico e simplificado; redução de
despesas do judiciário; e, redução de atos do processo executivo do Poder Judiciário,
reservando-se para o magistrado a prática exclusiva de atos que exijam maior cognição.
Por fim, cabe evidenciar que, o estudo enfrentou certos obstáculos, pois embora o tema
seja de extrema relevância para a comunidade jurídica, são poucos os doutrinadores e
conhecedores do direito que abordam de maneira técnica sobre o assunto, concluindo-se,
portanto, a imprescindibilidade de uma maior abordagem, com pesquisas de aprofundamento
do tema.
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