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Braço do Norte
2021
ANA PAULA PEREIRA BENITES
Braço do Norte
2021
ANA PAULA PEREIRA BENITES
This monograph presents a study on the feasibility and benefits of access to justice beyond
courts of the obligation to pay amount, in the Brazilian scenario. The general objective of this
research is to find out what are the real benefits of de-judicialization of civil execution of the
obligation to pay amount of judicial and extrajudicial titles in the Brazilian legal system. The
specific objectives are: to describe the current Brazilian civil enforcement system; describe the
phenomenon of de-judicialization, in the context of civil enforcement, based on the
implementation of this model in other countries; demonstrate the effectiveness of other issues
that have already been de-judicialized in Brazil; compare the conditions and external factors of
foreign countries that are already using de-judicialization with the factors and conditions of
Brazil; demonstrate the true impacts and benefits of this proposal in the Brazilian reality; and,
analyze Bill 6.204/19. Given the above, the question that will guide this research will be: What
are the real benefits of de-judicialization of enforcement of amount of judicial and extrajudicial
titles in the Brazilian legal system? As for the methodology, the present monographic work can
be classified as a bibliographical and documental research, of deductive character, exploratory
nature, and, qualitative approach. The results obtained indicate that the real benefits of de-
judicialization of enforcement of amount of judicial and extrajudicial titles in the Brazilian legal
system are, in summary: the reduction of the burden on the Judiciary; greater effectiveness and
speed of execution, in a cost-effective and simplified way; reduction of expenses for the
judiciary; and, reduction of acts of the executive process of the Judiciary Power, reserving for
the magistrate the exclusive practice of acts that demand greater cognition.
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................. 10
2 EXECUÇÃO CIVIL NO BRASIL .................................................................................. 13
2.1 ASPECTOS GERAIS DO FENÔMENO EXECUTÓRIO.............................................. 13
2.2 SISTEMA BRASILEIRO DE EXECUÇÃO CIVIL ....................................................... 18
2.3 A EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA ...................................................................... 22
3 A DESJUDICIALIZAÇÃO ............................................................................................. 30
3.1 ASPECTOS GERAIS DO FENÔMENO DA DESJUDICIALIZAÇÃO ........................ 30
3.2 A DESJUDICIALIZAÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO E O PRINCÍPIO DA
INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO ............................................................................ 34
3.3 A DESJUDICIALIZAÇÃO DA EXECUÇÃO CIVIL EM OUTROS PAÍSES ............. 40
4 VIABILIDADE E BENEFÍCIOS DA APLICAÇÃO DO MODELO DE
DESJUDICIALIZAÇÃO NA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA NO BRASIL ..... 46
4.1 VIABILIDADE E IMPASSES NA IMPLEMENTAÇÃO DA DESJUDICIALIZAÇÃO
46
4.2 O PROJETO DE LEI Nº 6.204/19 ................................................................................... 51
4.3 BENEFÍCIOS DA DESJUDICIALIZAÇÃO NA EXECUÇÃO POR QUANTIA
CERTA ..................................................................................................................................... 56
5 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 61
10
1 INTRODUÇÃO
No cenário atual, vê-se uma crise no sistema judiciário brasileiro, devido à sua
sobrecarga. Percebe-se, então, que tal sistema não vem cumprindo da melhor forma com o seu
dever de prestar a tutela jurisdicional eficientemente. Ressalte-se que o processo executivo
precisa assegurar os resultados concretos prometidos pelo direito material, com o menor
dispêndio possível de tempo e de recursos. E, para o jurisdicionado, é sobremaneira importante
a satisfação do direito material. Portanto, tão ruim ou pior que um Estado que não reconhece os
direitos materiais é um Estado que não consegue garantir esses direitos. Dessa forma, o presente
trabalho de conclusão de curso de Direito possui como objeto de estudo a execução civil de
obrigação de pagar quantia, especialmente estudando a viabilidade e os benefícios da
desjudicialização da execução no cenário brasileiro.
Tendo isso em vista, o objetivo geral desta pesquisa é apurar quais os reais benefícios
da desjudicialização da execução civil por quantia certa de títulos judiciais e extrajudiciais no
ordenamento jurídico brasileiro. Os objetivos específicos são descrever o atual sistema
brasileiro de execução civil, de forma a evidenciar a execução por quantia certa; descrever o
fenômeno da desjudicialização, no âmbito da execução civil, com base na implementação desse
modelo em outros países; demonstrar a efetividade de outros temas que já foram
desjudicializados no Brasil; comparar as condições e os fatores externos dos países estrangeiros
que já se utilizam da desjudicialização com os fatores e condições do Brasil; demonstrar quais
os verdadeiros impactos e benefícios dessa proposta na realidade brasileira; e, analisar o Projeto
de Lei nº 6.204/19 e apurar questões que geram dúvidas e críticas quanto a sua implementação.
A justificativa do estudo encontra-se na relevância do tema para a busca de uma possível
solução para melhorar a prestação jurisdicional como um todo. Com efeito, conforme dados do
Conselho Nacional de Justiça, observa-se que o Poder Judiciário conta com um vasto número
de processos pendentes, em sua maioria tratando-se da fase de execução. Percebe-se, portanto,
que há um problema na execução civil que a torna infrutífera. Diante disso, várias são as
propostas para combater tal óbice, entre elas está a desjudicialização da execução civil, a qual
busca delegar atos de execução para um terceiro privado e imparcial. O fenômeno da
desjudicialização é um caminho natural, e verifica-se isso em outros temas que sofreram com
o mesmo, como a arbitragem, o inventário, a separação e o divórcio, por exemplo.
Inúmeros países europeus aderiram ao fenômeno da desjudicialização, em diferentes
formatos, alguns com mais e outros com menos intervenção privada, todos obtiveram
11
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso XXXV (Brasil, 1988),
estabelece que “ a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.
Tal garantia não se restringe apenas a viabilização das lides serem levadas ao Poder Judiciário,
mas principalmente, que estas sejam solucionadas de forma efetiva, produzindo resultados reais
no mundo dos fatos. (SOUZA, 2014, p. 109).
Desta forma, somente pode-se considerar justa, a tutela jurisdicional que, ao ser entregue
ao jurisdicionado, consiga pôr em prática todos os princípios do devido processo legal, com
adequação de meios e resultados, de forma que a função estatal seja praticada legitimamente.
Além disso, tal tutela deve proporcionar ao jurisdicionado liberdade e condições de impor-se
na formação do resultado do processo, reconhecendo e permitindo a fruição do direito ao
litigante que seja dela merecedor. (ABELHA, 2019, p. 2-3).
Nessa perspectiva, entende-se que o direito de ação não só atribui ao jurisdicionado o
direito a obtenção de decisão que promova o respectivo direito, mas também lhe atribui o direito
à obtenção da efetiva satisfação empírica da parte. E, isso, pode-se demonstrar com o artigo 4º
do Código de Processo Civil: “As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução
integral do mérito, incluída a atividade satisfativa”. Dessa forma, percebe-se que a atividade
satisfativa é inerente à prestação da tutela jurisdicional, sendo, inclusive, uma função do Poder
Judiciário. Essa atividade satisfativa pode se dar por meio do cumprimento de sentença ou por
processo de execução. (ALVIM, 2019, p. 1399).
Nesse sentido, comenta Gajardoni (2018, p. 1):
300 a 302 e 305 a 310 do CPC/2015) para os casos em que, havendo probabilidade do
direito, seja necessária intervenção judicial a bem de evitar risco ao resultado útil do
processo (de conhecimento ou execução). E tem-se a pretensão executiva, tratada
tanto nos arts. 513 a 538 do CPC/2015 (cumprimento de sentença) (execução de título
judicial) quanto no livro II, da parte especial, do CPC/2015 (arts. 771 a 925) (execução
de título extrajudicial).
Nesta ambiência, no âmbito do processo civil, Bueno (2020, p. 87 e 90) reitera que a
tutela jurisdicional executiva busca a satisfação do exequente, em concordância com o direito
que é retratado no título executivo, seja ele judicial ou extrajudicial. Esta satisfação acontece
por meio de diversos atos jurisdicionais, os quais podem ser chamados de “atividade
jurisdicional executiva”. Assim, a palavra “execução” pode ser entendida como sinônimo de
concretização da tutela jurisdicional executiva.
Isto posto, torna-se possível perceber a existência de uma fase de conhecimento e de
uma fase de execução. A primeira tem por objetivo a confecção de uma sentença, na qual o juiz
dirá o direito, julgando e resolvendo a incerteza a respeito da pretensão do autor. A segunda,
por sua vez, busca que o juiz tome providências concretas, de forma a satisfazer o titular do
direito. (GONÇALVES, 2017, p. 901).
Ademais, de acordo com Ribeiro (2019b, p. 471), a execução civil pode ser entendida
como uma atividade processual, exercida pelo Estado, que garante a satisfação concreta de um
crédito. Sendo possível e lícito ao credor, postular em juízo a prática de atos jurisdicionais de
agressão patrimonial para garantir o cumprimento do dever, e assim, sucessivamente, a
satisfação do crédito. Além disso, ressalta-se que não há dependência entre a execução
(atividade) e a existência de um processo de execução, pois a atividade pode ocorrer em um
processo autônomo de execução ou no processo de conhecimento (cumprimento de sentença).
Ainda, reforça o autor que, o atual sistema comtempla duas possibilidades de exercício da
execução. A primeira se baseia em um título executivo judicial, cujo procedimento leva o nome
de cumprimento de sentença. A segunda, por sua vez, ocorre por meio de um processo
autônomo de execução, quando o jurisdicionado detém título executivo extrajudicial.
Isto posto, Greco (2020, p. 14) esclarece:
Segundo Gonçalves (2017, p. 902 - 930), os títulos executivos judiciais, por sua vez,
são aqueles emanados do Poder Judiciário. E, ressalta-se que, devido ao princípio da
taxatividade, só a lei pode criá-los. Dessa forma, estão previstos no Código de Processo Civil –
CPC - em seu artigo 515 e em leis especiais. Nesse caso, pode-se afirmar que a execução terá
caráter de procedimento, visto que, em regra, não forma um processo novo, mas apenas uma
fase. Assim, verifica-se que a atividade executiva possui natureza imediata, posto que não há
processo autônomo, salvo nos casos de execuções fundadas em sentença arbitral, penal
condenatória ou estrangeira. Também, com este título é possível que o cumprimento de
sentença possa ser definitivo ou provisório.
Destarte, Abelha (2019, p. 39-40) enfatiza que, quando se tratar de procedimento
executivo por expropriação (pagamento de quantia), transformação (fazer ou não fazer) ou
desapossamento (entrega de coisa), se o título for judicial, um só processo é instaurado
(cumprimento de sentença). Todavia, quando se tratar de execução fundada em título
extrajudicial, será necessária a instauração de um processo autônomo.
O cumprimento da sentença abrange a execução de títulos judiciais, que se dará por
meio de uma fase processual, ligada ao processo de conhecimento. Ressalta-se ainda, que as
características mais marcantes a respeito do cumprimento de sentença são a subsidiariedade,
pois aplicável na execução de título extrajudicial, e a possibilidade de o exequente, titular do
direito reconhecido por sentença, requerer a abertura da fase de cumprimento, sendo vedado ao
magistrado iniciar a fase de execução incidental de ofício. (THAMAY, 2020, p. 669-671).
Neste viés, pode-se visualizar que nos artigos 513 a 519 do Código de Processo Civil,
consta as disposições gerais aplicáveis ao cumprimento de todas as sentenças. Cujas obrigações
podem ser de fazer, de não fazer, de entregar coisa ou pagar quantia. Pode-se afirmar, ainda,
que a expressão cumprimento de sentença disposta no CPC/2015 é genérica, visto que abrange
não só as sentenças em sentido estrito, mas também as decisões interlocutórias que reconheçam
a exigibilidade de obrigação. (THEODORO JUNIOR, 2020a, p.17).
Vale ainda ressaltar que, além das decisões que reconheçam a exigibilidade de obrigação
de pagar quantia, fazer, de não fazer ou de entregar coisa, também se sujeitam ao procedimento
de cumprimento de sentença: a) as decisões homologatórias de autocomposição judicial ou
extrajudicial; b) o formal e a certidão de partilha; c) o crédito de auxiliar de justiça aprovado
por decisão judicial; d) a sentença penal condenatória transitada em julgado; e) sentença
arbitral; f) a sentença e a decisão interlocutória estrangeira. (CARNEIRO, 2019, p. 126).
Além disso, salienta-se que, o cumprimento de sentença pode ser definitivo ou
provisório. Será definitivo quando a decisão de mérito, sentença ou acórdão já houver transitado
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em julgado. Será provisório quando a decisão, sentença ou acórdão tiver sido impugnado por
recurso, sem efeito suspensivo; ou nos casos de efetivação de tutela provisória. Importante frisar
que ambos se processam do mesmo modo, todavia o provisório corre por conta e risco do
exequente, pois corre sempre o risco de reforma. Por isso, nela se exige caução para os atos que
importem levantamento de dinheiro, transferência de posse ou alienação de domínio ou que
possam trazer grave dano ao executado. Entretanto, há casos em que, a caução poderá ser
dispensada. (GONÇALVES, 2017, p. 904 - 907).
O processo de execução, por sua vez, tem por finalidade a entrega, pelo Estado, de uma
prestação jurisdicional que satisfaça de maneira efetiva e concreta o direito da parte autora, já
reconhecido em um título executivo extrajudicial. Ressalta-se que, o processo de execução não
tem por escopo reconhecer nem declarar direitos, mas sim, a efetivação material destes, por
meio de atos de invasão estatal no patrimônio do devedor. (SALES, 2018, p. 421).
Para Araujo Júnior (2018, p. 421), o processo de execução é aquele que invoca uma
tutela de execução (força estatal), que busca cumprir o direito já reconhecido em certos títulos
extrajudiciais. Desta forma, os titulares dos títulos a quem a lei confere força executiva estão
dispensados de ajuizar o processo de conhecimento, podendo demandar diretamente a tutela
executiva.
As execuções de título executivo extrajudicial são diferenciadas conforme a espécie de
obrigação envolvida. Dessa forma, podem ser: a) para a entrega de coisa certa ou incerta; b) de
obrigação de fazer ou de não fazer; c) de obrigação por quantia certa em geral; d) contra a
Fazenda Pública; e e) de obrigação alimentar. À vista disso, pode-se demonstrar que as
principais diferenças entre execução de título extrajudicial e execução de título judicial
(cumprimento de sentença) é que a execução de título extrajudicial sempre gerará um processo
novo e a defesa do executado se faz mediante embargos à execução, que se constituem em ação
autônoma. De outro lado, o cumprimento de sentença não gera novo processo, visto que será
apenas uma fase no processo sincrético que compreende conhecimento, liquidação e execução,
além disso, o executado se defende por meio de impugnação, que, em regra, é julgada por
decisão interlocutória. (LUNARDI, 2019, p. 822).
Diante do exposto, resta evidente que no processo de conhecimento, busca-se o
acertamento do direito, a aplicação do direito ao caso concreto. Ou seja, o autor da ação de
cobrança busca que o réu seja condenado a prestar aquilo que lhe é devido, não sem antes passar
pelo elemento declaratório, ínsito a toda constituição e condenação. O processo de execução ou
a fase de cumprimento de sentença, por sua vez, busca que o direito já assegurado ao autor, por
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decisão judicial ou por documento com força executiva (títulos extrajudiciais), seja efetivado,
isto é, implementado na ordem prática. (ALVIM, 2019, p. 1402).
Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com
os artigos previstos neste Título:
I - as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de
obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa;
II - a decisão homologatória de autocomposição judicial;
III - a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de qualquer natureza;
IV - o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos
herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal;
V - o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas, emolumentos ou honorários
tiverem sido aprovados por decisão judicial;
VI - a sentença penal condenatória transitada em julgado;
VII - a sentença arbitral;
VIII - a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça;
IX - a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exequatur à carta
rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça;
[...]
Feitas essas declarações, importante destacar alguns dos princípios gerais da execução,
que regem o sistema brasileiro de execução civil, a saber, o princípio da autonomia, o princípio
do título, o princípio da patrimonialidade, o princípio do exato adimplemento, o princípio da
disponibilidade da execução, o princípio da utilidade, o princípio da menor onerosidade, o
princípio do contraditório e o princípio da atipicidade dos meios.
O princípio da autonomia estrutural dispõe que a execução de título extrajudicial tramita
em processo autônomo, onde há atividade eminentemente satisfativa. Desse modo, quando
opostos embargos à execução, instaura-se novo processo, com atividade cognitiva, que será
autuado em apartado e terá procedimento próprio. Cabe evidenciar que este princípio somente
se aplica às execuções de títulos extrajudiciais, visto que no cumprimento de sentença, vige o
princípio do sincretismo, pois execução da sentença ocorrerá no mesmo processo em que
tramitou a ação de conhecimento. (LUNARDI, 2019, p. 799).
O princípio do título estabelece que não há execução sem um título executivo, que deve
ser líquido, certo e exigível. Ou seja, é preciso saber quem deve, para quem se deve, quanto se
deve e quando deveria ter sido adimplida a obrigação. E, faltando liquidez, certeza ou
exigibilidade, será nula a execução. Sabe-se que tais títulos podem ser de natureza judicial ou
extrajudicial, ambos os casos possuem força normativa, e cabe ao Poder Judiciário compelir o
devedor da obrigação a adimpli-la, imiscuindo-se no patrimônio deste, se for o caso, para
satisfazer o credor. (ALVIM, 2019, p. 1404).
Ainda, em relação ao referido princípio, Bueno (2020, p. 99) destaca que a atual
compreensão deste impõe leitura mais ampla e sistemática para verificar que os títulos
executivos nele previstos não são os únicos a legitimar a prestação da tutela jurisdicional
executiva, sendo indiferente, para tanto, que a formação do título seja judicial ou extrajudicial.
O princípio da patrimonialidade, contido no artigo 789 do CPC, fundamenta que a
execução recai sobre o patrimônio do devedor, sobre os seus bens, não sobre sua pessoa.
Ressalta-se que, atualmente existe apenas um caso de prisão civil em nosso ordenamento
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o executado deve ser citado e intimado de todos os atos do processo, tendo oportunidade de se
manifestar, por meio de advogado. Também, quando houver qualquer tipo de incidente
processual, como os cálculos de liquidação, penhora e avaliação de bens, o executado terá
também oportunidade de se manifestar. (GONÇALVES, 2017, p. 910-911).
Por fim, o princípio da atipicidade dos meios revela que não existem meios definidos na
lei para usar da coerção. São variados esses meios previstos em lei: penhora, expropriação,
busca e apreensão, astreintes, arresto executivo, remoção de pessoas ou coisas, fechamento de
estabelecimentos comerciais etc. Todavia, apesar de o rol legal ser amplo, a doutrina é pacífica
no entendimento de se tratar de rol meramente exemplificativo, podendo o juiz adotar outros
meios executivos que não estejam expressamente consagrados em lei. Ainda, de acordo com
este princípio, conforme o entendimento de Neves, a previsão contida no art. 139, IV, do CPC
pode ser aplicada de forma ampla e irrestrita, a qualquer espécie de execução,
independentemente da natureza da obrigação exequenda, e, em especial, nas obrigações de
pagar quantia certa. (NEVES, 2018, p. 31).
Ainda, com relação ao atual sistema brasileiro de execução civil, cabe destaque a
discussão sobre o atual cenário do Poder Judiciário, a fim de que se possa compreender mais
sobre a necessidade de mudanças no âmbito da execução civil. Nesse sentido, quanto ao tema
da crise do Poder Judiciário, Scalabrin (2017, p.1) cita o autor Marcelo Abelha, informando que
este destaca uma visão pessimista sobre o novo diploma processual. E, após, ao destacar a
vagueza conceitual do conceito de “crise“, busca identificar os fatores, ou causas, dessa chaga
que torna questionável a efetividade da tutela jurisdicional.
Abelha (2019, p. 31 - 33) afirma que nenhum Código será capaz de reduzir o tempo do
processo e sanar a morosidade da justiça, pois não são as técnicas processuais, os agentes
responsáveis pela tal crise que assola o Poder Judiciário. Desse modo, exemplifica três possíveis
causas para a atual crise do judiciário. A primeira seria uma crise estrutural do Poder Judiciário,
em razão das deficiências de espaço, instalações, equipamentos, funcionários, que acabam
revelando-se em meios materiais inadequados. A segunda seria uma crise de autogestão
administrativa do judiciário, visto que este é ineficiente e incapaz de realizar a gestão
administrativa de sua atividade em razão da ausência de logística e planejamento. A terceira,
por sua vez, refere-se a crise nos métodos e técnicas de resolução de conflitos, havendo,
portanto, uma ausência de meios alternativos para o tratamento desses conflitos.
Segundo o Relatório Justiça em Números 2020, o Poder Judiciário finalizou o ano de
2019 com 77,1 milhões de processos pendentes, sendo que mais de 11 milhões desses se
referiam a fase de execução civil. Percebe-se então que tal sistema não vem cumprindo com o
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seu dever de prestar a tutela jurisdicional eficientemente, visto que a taxa de congestionamento
média dos processos em fase de execução é de 82,4%. E, o tempo médio de um processo
pendente na Justiça Comum no âmbito da execução é de 7 anos. (CNJ, 2020, p. 47 e 155).
A ausência de infraestrutura para atender a esses milhões de causas, portanto, refere-se
a uma falta de política pública adequada, e se revela em todos os setores da atuação estatal. Não
há nenhuma política pública no País que seja sequer satisfatória. O Estado não consegue prover
à prestação da justiça à população. Assim, a prestação de uma justiça adequada à população é
mais um exemplo concreto de inoperância e ineficiência da atuação estatal, que, certamente,
não será resolvida ou remediada por um novo diploma processual civil. (ABELHA, 2019, p.
33).
Nesse sentido, pode-se entender que o procedimento de execução, disposto no Código
de Processo Civil brasileiro é dispendioso, demorado e presta-se a manobras procrastinatórias
do devedor, notadamente nas execuções relativas a pagamento de quantia, quando exsurge a
necessidade, muitas vezes, de se ter que apreender bens do devedor a fim de obter, com a
respectiva alienação, numerário suficiente para o pagamento do credor. (LIMA, 2018, p. 46).
Nesse mesmo sentido, Theodoro Júnior (2020b, p. 321 e 863) dispõe que, a obrigação
de quantia certa é, na verdade, uma obrigação de dar, cuja coisa devida consiste numa soma de
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Art. 824. A execução por quantia certa realiza-se pela expropriação de bens do
executado, ressalvadas as execuções especiais.
Art. 825. A expropriação consiste em:
I - adjudicação;
II - alienação;
III - apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e de
outros bens.
Art. 826. Antes de adjudicados ou alienados os bens, o executado pode, a todo tempo,
remir a execução, pagando ou consignando a importância atualizada da dívida,
acrescida de juros, custas e honorários advocatícios. (BRASIL, 2015).
bem como ao prazo para pagamento, regramento dos honorários advocatícios e a possibilidade
de parcelamento. (ALVIM, 2019, p. 1523-1524).
Cabe destacar que, existem execuções especiais por quantia certa que não se realizam
mediante expropriação de bens do executado. É o caso da execução contra a Fazenda Pública,
que se satisfaz mediante o pagamento do precatório ou da Requisição de Pequeno Valor. Da
mesma forma, a execução de alimentos, embora possa ser satisfeita pela expropriação de bens
do executado, pode lançar mão de outros meios executivos, como a prisão civil do alimentante.
(GAJARDONI, 2018, p. 212).
Nesta ambiência, para Carneiro (2019, p. 171):
Vale destacar que, o Livro II da Parte Especial traz regras sobre os mecanismos da
execução em geral, e não apenas disposições de natureza procedimental. Tais regras se aplicam
supletivamente ao cumprimento de sentença, desde que não sejam incompatíveis, nem
contrariarem algum dos dispositivos específicos supramencionados. (GONÇALVES, 2017, p.
900).
É importante notar que as execuções por quantia (judiciais ou extrajudiciais) possuem
tipos procedimentais específicos, segundo critérios adotados pelo legislador. Assim, as
obrigações de pagar quantia são ainda subdivididas segundo critérios “pessoais, estado
(solvência ou insolvência) patrimonial do executado, o direito exequendo” etc. Dessa forma, há
diversos procedimentos especiais referentes ao tronco comum das obrigações de pagar quantia.
(ABELHA, 2019, p.40).
Nesse sentido, evidencia Neves (2018, p. 20 e 27) que, a execução por quantia certa,
disposta no artigo 824 do CPC, deve ser interpretada com cuidado, visto que no procedimento
comum da execução de obrigação de pagar quantia certa existem outras formas executivas, em
especial de natureza coercitiva e indutiva (execução indireta), e que a mera presença da
expropriação não é o suficiente para tornar comum o procedimento executivo. O autor ressalta
que o CPC prevê meios de execução indireta, por meio de ameaça de piora ou oferta de melhora
na situação do executado, aplicáveis a execução por quantia certa. A execução indireta por
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que sob a posse, detenção ou guarda de terceiros. Além disso, também é possível sua
substituição, nas hipóteses do art. 848 do CPC, a pedido do exequente e do executado, ou por
fiança bancária ou seguro-garantia judicial, em valor não inferior ao do débito constante da
inicial, mais 30% (trinta por cento). Também, cabe evidenciar que, o executado sempre será
intimado para responder a respeito de eventual pedido de substituição.
Após realizar a penhora, o oficial de justiça deve promover a avaliação do bem, valendo-
se de todos os elementos ao seu alcance, como consultas a anúncios e classificados de jornais,
pesquisas em imobiliárias, informações de corretores, elementos trazidos pelas próprias partes,
ou qualquer outro meio idôneo, com o objetivo de identificar o preço da coisa penhorada.
(GONÇALVES, 2017, p. 995).
Por fim, importante, também, destacar a fase final da execução por quantia certa. A
expropriação de bens, caminho natural para a satisfação concreta do direito de crédito, é
praticada logo após à penhora e à avaliação. Por essa via, perde o executado a propriedade dos
bens penhorados, independentemente de sua vontade. Três são as técnicas de expropriação
previstas no Código de Processo Civil: adjudicação, alienação e expropriação de frutos e
rendimentos de bem penhorado. (RIBEIRO, 2019b, p. 515).
A adjudicação é forma indireta de satisfação do credor, que se dá pela transferência a
ele ou aos terceiros legitimados, da propriedade dos bens penhorados. A alienação por iniciativa
particular consiste na venda realizada pelo Estado e com atuação conjunta e principal do
exequente. A alienação em leilão judicial consiste na venda realizada pelo estado por meio de
licitação e ocorre quando não há interessados na adjudicação, nem requerimento do credor para
a alienação particular do bem. E, outra forma e expropriação, é a apropriação de frutos e
rendimentos de móvel ou imóvel, que ocorre após o deferimento da penhora sobre eles, onde o
juiz nomeia um administrador, com poderes para gerir a coisa. E, a ele é dada a posse direta do
bem, cabendo-lhe fazer com que produza frutos e rendimentos, que serão utilizados para pagar
o credor. (GONÇALVES, 2017, p. 998 - 1001).
Ainda nesta última fase, tem-se a satisfação do crédito exequendo, que pauta a atividade
executiva. Sua efetivação acontece por meio da entrega do dinheiro ou pela adjudicação dos
bens penhorados. Ademais, em razão da pluralidade de exequentes ou de credores, a satisfação
do crédito observa uma ordem de preferência. Se o caso concreto seguiu pela adjudicação ou
alienação, os créditos que recaírem sobre o bem sub-rogam-se sobre o respectivo preço,
observada a ordem de preferência. Para tanto, instaura-se um concurso especial de credores, a
fim de viabilizar a dedução de pretensões ao juiz da execução. A decisão deve pautar-se pelas
eventuais preferências estabelecidas em lei material, ou, na inexistência delas entre os credores,
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3 A DESJUDICIALIZAÇÃO
Sabe-se que a sociedade está habituada a levar suas demandas para os tribunais em busca
da prestação jurisdicional, por acreditar que o Poder Judiciário seria o único meio de acesso à
justiça. Tal fato, pode ser enxergado como o fenômeno da judicialização. Ocorre que, em razão
do excesso de demandas no sistema judiciário, surge o fenômeno da desjudicialização, como
um relevante instrumento capaz de proporcionar a redução do volume de processos, de forma
a desobstruir o Poder Judiciário, auxiliando-o na prestação da tutela jurisdicional pretendida.
(MARQUES, 2014, p. 1).
Tendo isso em vista, vale evidenciar que a expressão judicialização tem sido utilizada
há algumas décadas e significa dizer que as decisões, inclusive de natureza política, estão sendo
analisadas predominantemente pelo Poder Judiciário. Existem diversas narrativas para a
ocorrência da judicialização. Uma delas é a do aumento de complexidade da sociedade, que
demanda soluções, inclusive do sistema jurídico, cabendo, então, ao Judiciário, as que lhe forem
demandadas em situações concretas ou até em algumas situações abstratas, em se tratando de
Cortes Superiores, em especial da Corte Constitucional. (RIBEIRO, 2013, p. 26).
Ainda, ressalta-se o contexto da judicialização, haja vista se tratar de um dos aspectos
do centralismo contemporâneo do Poder Judiciário. Dessa forma, evidencia-se que a posição
ocupada pelo judiciário e a magistratura reflete o resultado de um processo de evolução
histórica que variou conforme o paradigma político-jurídico instituído. Pode-se dizer, portanto,
que, atualmente o sistema judiciário brasileiro assume uma posição centralizadora e
contramajoritária, em razão da sociedade estar inserida num processo instável de desigualdades
de toda ordem e que são asseguradas pela Constituição, visando o reconhecimento de direitos
humanos e sociais. (OLIVEIRA, 2015, p. 203).
Nesse sentido, pode-se entender a judicialização como:
[...] um fenômeno mundial por meio do qual importantes questões políticas, sociais e
morais são resolvidas pelo Poder Judiciário ao invés de serem solucionadas pelo poder
competente, seja este o Executivo ou o Legislativo. Assim, o fenômeno da
31
Ainda neste panorama, para Barroso (2009, p. 12 - 20), a judicialização ocorre quando
questões de larga repercussão política ou social são decididas por órgãos do Poder Judiciário, e
não por instâncias políticas tradicionais, como o Congresso Nacional e o Poder Executivo.
Dessa forma, entende-se que há uma transferência de poder para juízes e tribunais, com
alterações significativas na linguagem, na argumentação e no modo de participação da
sociedade. Ainda, o autor cita três possíveis causas para a judicialização. A primeira seria a
redemocratização do país, com a promulgação da Constituição de 1988. A segunda foi a
constitucionalização abrangente, que trouxe para a Constituição inúmeras matérias que antes
eram deixadas para o processo político majoritário e para a legislação ordinária. Por fim, a
terceira e última causa da judicialização é o sistema brasileiro de controle de
constitucionalidade, um dos mais abrangentes do mundo.
Nesta ambiência, Streck (2016, p. 724) afirma que, a judicialização sempre decorre da
incompetência de poderes ou instituições, sendo considerada contingencial, pois depende de
vários fatores que estão relacionados ao funcionamento constitucionalmente adequado das
instituições. Desse modo, ressalta que, de uma questão que sofreu judicialização se pode ter
como consequência uma resposta ativista, o que é considerado algo ruim e censurável em um
panorama de democracia normativa. Entretanto, pode-se afirmar que existem casos de
judicialização nos quais a resposta oferecida pelo sistema judiciário é adequada à Constituição,
concretizadora de direitos fundamentais e/ou procedimentos guarnecedores da regra
democrática.
Cavaco (2017, p. 110 - 113) ainda faz a distinção entre os termos jurídico e judicial,
sendo o primeiro caracterizado por se apresentar em um contexto de maior amplitude, que
integra todas as instâncias de processamento e produção do Direito. Já o segundo, refere-se
estritamente ao Poder Judiciário, mediante a equalização de direitos aparentemente colidentes,
ou fazendo composições dos mesmos. Assim, ainda afirma que, o conceito de judicialização,
como costuma ser utilizado, é muito restrito para o fenômeno, havendo necessidade de se
remeter à definição semântico-normativa de jurisdicionalização.
Para Humberto Martins (2020, p. 1 - 3), atual ministro e presidente do Superior Tribunal
de Justiça, a judicialização passou a ser uma utente assídua dos tribunais brasileiros, que passou
a se intensificar ainda mais em razão da pandemia. Isso pois, é em momentos como esse, de
crise, em que mais se cobra a segurança jurídica, tanto na função legislativa, quanto na
32
judiciária, a qual está encarregada de solucionar o caso concreto, ou seja, de realizar a segurança
jurídica na prática. A desjudicialização, por sua vez, tema ainda tímido no Direito Brasileiro, é
um instrumento bastante ativo em diversos ordenamentos jurídicos estrangeiros para solucionar
controvérsias sem precisar se utilizar, nem sobrecarregar, a jurisdição formal. Ainda, menciona
o autor que, desjudicializar não é sinônimo apenas de “desafogar os tribunais”, pois tal
discussão revela-se muito mais abrangente, visto que interessa aos demais poderes, às
instituições, à advocacia, à defensoria, e aos estudiosos da área do Direito.
Assim, pode-se perceber que:
Com a evolução dos sistemas judiciais surgiu a necessidade de novos meios para
resolver ou encarar os conflitos do Estado Moderno, o qual tem falhado muito na sua
missão pacificadora, que inexoravelmente tenta realizar mediante o exercício da
jurisdição, havendo situações em que se afigura legítima e necessária a intervenção
de outros agentes que compõem o sistema judicial, devidamente legitimados pelo
Estado, desde que seja assegurado ao jurisdicionado, de forma diferida, o direito de
acesso aos tribunais. (GONÇALVES; HÜLSE; RIBEIRO, 2017, p. 172).
Nessa perspectiva, Pereira (2020, p. 56-57) dispõe que, os obstáculos sofridos pela
justiça oficial têm acarretado modificações no sistema judicial brasileiro. Dessa forma, verifica-
se uma maior tendência à desjudicialização dos conflitos por meio da crescente disposição de
modelos alternativos de solução de conflitos. E, pode-se perceber isso através do próprio
sistema jurídico, que tem desenvolvido mecanismos que disponibilizam e incentivam o uso
destes métodos, seja pela autocomposição (mediação; conciliação) ou heterocomposição
(arbitragem) ou vias híbridas.
Tem-se, portanto, que o Poder Judiciário não pode ser considerado o único meio de
acesso à justiça. Dessa forma, destacam-se as técnicas alternativas de solução de conflitos, que
contribuem para o enxugamento da máquina do judiciário. E, vale ressaltar que, isso não
significa substituir nem reduzir o poder do sistema judiciário, mas oferecer formas aliadas de
solução de demandas, em razão das constantes modificações sociais, que requerem mais que
um único ente capaz de tutelar seus direitos. Assim sendo, é nesse contexto que surge a
desjudicialização como forma de assegurar o acesso à justiça. (MARQUES, 2014, p. 1).
Conforme Cavaco (2017, p. 110 - 123), o fenômeno da desjudicialização pode ser
conceituado como um conjunto de ações ou práticas executadas fora da esfera judicial, com a
transferência da solução de litígios para a esfera administrativa. Pode, ainda, ser compreendida
como uma pauta de legitimação das ações pelo procedimento, em que a diversidade decorre do
pluralismo e da maior autonomia dos indivíduos. Sendo assim, pode-se dizer que a
desjudicialização é marcada pelo movimento de reformulação da função judiciária, de forma a
minimizar seu papel em vista do impositivo pluralismo de instâncias, tendo em vista a cena
33
hoje denominado sistema multiportas, que, também, abrange as práticas restaurativas. Vale
evidenciar que, a expressão multi-door courthouse (corte de múltiplas portas) foi originalmente
utilizada pelo Professor Frank Sander (Harvard), em 1976, numa conferência publicada em
1979. (VASCONCELOS, 2020, p. 26, 33, 91).
Ainda, até 2007, o legislador ensaiou alguns movimentos pontuais de desjudicialização,
a exemplo da Lei Federal nº 6015/1973 (Lei dos Registros Públicos), a Lei Federal n°
8.951/1994 (consignação em pagamento extrajudicial, com a inserção do § 1° no art. 890 do
CPC/73), a Lei Federal nº 9.514/1997 (alienação fiduciária em garantia de coisa imóvel), dentre
outros e a Lei Federal nº 11.441, em 2007, que previu a possiblidade de que inventário, partilha,
separação e divórcio consensuais sejam realizados através de escritura pública, em cartórios
extrajudiciais de Notas. Ademais, a criação do Conselho Nacional de Justiça, pela Emenda
Constitucional nº 45, em 2004, igualmente contribuiu para o incremento da desjudicialização.
Pode-se exemplificar a evolução da desjudicialização com a possibilidade de alteração,
diretamente no cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais, de prenome e sexo no registro
de nascimento em virtude de transexualidade (Provimento nº 73/2018 do CNJ), averbação da
paternidade ou maternidade socioafetiva diretamente perante o cartório de Registro Civil de
Pessoas Naturais (Provimento nº 83/2019 do CNJ) e retificação extrajudicial de registro público
(artigo 110, da Lei Federal nº 6.015/1973), dentre vários outros. (HILL, 2020, p. 173-174).
Como exemplo de desjudicialização de fase do rito ordinário do processo, tem-se,
através da Lei nº 8.455/92, as perícias extrajudiciais, possibilitando ao juiz dispensar a perícia
judicial, objetivando a utilidade e adequação. Ainda, pode-se afirmar que, com tal possibilidade,
a tutela jurisdicional acaba tornando-se mais efetiva, visto que passa a ser realizada por técnicas
mais simples, céleres e funcionais. (OLIVEIRA, 2015, p. 226).
Em relação ao Código de Processo Civil de 2015, percebe-se que este contribuiu para o
avanço da desjudicialização, ao prever:
a usucapião extrajudicial (artigo 1071 do CPC/15 que inseriu o artigo 216-A na Lei
Federal nº 6.015/1973 e Resolução nº 65/2017 do CNJ), a consignação em pagamento
extrajudicial (artigo 539, §§ 1º a 4º, CPC/2015), a homologação do penhor legal
extrajudicial (artigo 703, §2º, CPC/2015), a divisão e demarcação de terras
particulares extrajudicial (artigo 571, CPC/15), a dispensa de homologação, pelo
Superior Tribunal de Justiça, de sentença estrangeira de separação e divórcio puros
(artigo 961, §5º, CPC/2015 e Provimento 53/2016 do CNJ), assim como ao deixar
clara a importância das atividades extrajudiciais para o processo judicial, ao prever,
ad exemplum tantum, a Ata Notarial como meio de prova típico (artigo 384, CPC/15),
a possibilidade de averbação premonitória (artigo 828, CPC/15), o protesto de decisão
judicial transitada em julgado (artigo 517, CPC/15), e a penhora de imóvel
devidamente matriculado por termo nos autos (artigo 845, §1º, CPC/15). (HILL, 2020,
p. 175)
37
Nesse mesmo contexto, Mancuso (2018, p. 164 -165) entende que, portanto, o vigente
CPC estimula o uso dos meios alternativos ou parajurisdicionais das controvérsias. Isso devido
ao fato de reafirmação de acesso à justiça estatal, através da arbitragem, conciliação, mediação
e outros métodos de solução consensual dos conflitos. Dessa forma, afirma que o CPC
recepciona a tendencial desjudicialização dos conflitos, ao permitir que consignações em
pagamento sejam feitas em estabelecimento bancário, e ao autorizar que inventários, partilhas,
divórcios, entre partes capazes e havendo consenso, possam ser celebrados por escritura pública
em tabelião; e, ainda, na legislação extravagante, a Lei nº 11.101/2005 permite que o empresário
devedor estabeleça com os credores um plano de recuperação extrajudicial, a ser submetido à
homologação pelo juiz.
Desse modo, pode-se citar, ainda, como exemplos de desjudicialização no Brasil: a) Lei
n° 8.560/92 que trata do reconhecimento de paternidade perante os serviços de registro civil; b)
Lei n° 9.514/97, que se refere aos procedimentos de notificação do devedor e leilão extrajudicial
nos contratos de alienação fiduciária; c) Lei n° 10.931/2004, que autoriza a retificação
administrativa dos registros imobiliários; d) Lei 11.481/2007 que dispõe sobre a regularização
fundiária para zonas especiais de interesse social; E, ainda, ressalta-se que os cartórios
extrajudiciais passaram a atuar de forma a prevenir litígios e homologar acordos, solucionando
com agilidade os problemas. (MARQUES, 2014, p. 1).
Assim sendo, entende-se que,
Nesse contexto, evidencia-se que, o sistema de execução civil brasileiro, tem como base,
dentre outros, o princípio do acesso à justiça, também chamado de princípio da inafastabilidade
da jurisdição, previsto no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal:
38
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito
(BRASIL, 1988).
Para Gonçalves (2017, p. 88), tal princípio pode ser entendido como o direito de ação
em sentido amplo, de forma a se obter do Poder Judiciário uma resposta aos questionamentos
a ele dirigidos. E, devido ao fato de ser um direito amplo e incondicional, não se admite a recusa
do Judiciário a examinar e responder os pedidos que lhe forem formulados.
Importante destacar que, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, que
marcou o período de redemocratização em nosso país, passou-se a observar diversos fatores
que obstavam o acesso dos jurisdicionados brasileiros ao Poder Judiciário, motivo pela qual, o
constituinte acabou por considerar, naquele contexto histórico, acesso à justiça como sinônimo
de acesso ao Poder Judiciário. (HILL, 2021, p. 380-381).
Para Cappelletti e Garth (1988, p. 3), a expressão “acesso à Justiça” é de difícil
definição, mas serve para determinar duas finalidades básicas do sistema jurídico. Desse modo
esse sistema em que a sociedade pode reivindicar seus direitos e/ou resolver seus litígios, deve,
primeiramente, ser acessível a todos; e, segundo, deve produzir resultados que sejam individual
e socialmente justos. Também, evidencia-se que tal conceito vem sido utilizado com uma
abordagem nova e compreensiva dos problemas que esse acesso apresenta nas sociedades
contemporâneas. Assim, possível identificar o início da ruptura da crença tradicional de
confiabilidade nas instituições jurídicas, em razão do desejo de tornar efetivo o direito do
cidadão comum.
Neste cenário, atenta-se para o risco de a garantia de acesso à Justiça se transformar em
uma judicialização exacerbada, que insufla a contenciosidade social e arrisca banalizar a
intervenção jurisdicional do Estado. Ademais, percebe-se que, a leitura ponderada e realista do
art. 5º, XXXV, da CF amolda-se com a contemporânea tendência à desjudicialização dos
conflitos. E, vale dizer que, tal tendência em nada atrita ou desmerece o Judiciário, visto que
contribui para a superação do monopólio estatal na distribuição da justiça, como o evidencia o
expressivo rol de agentes, órgãos e instâncias credenciados a resolver conflitos. (MANCUSO,
2018, p. 80).
O sistema judiciário, portanto, não pode ser considerado como a única forma de acesso
à justiça, a questão que se traz em evidência é garantir este acesso, ainda que por meio de outras
vias que não as judiciais, em tempo razoável e de maneira efetiva. (MARQUES, 2014, p. 1).
39
Nesse ponto, no Brasil, podem ser observadas diversas mudanças relacionadas ao acesso
à justiça, tais como: a) O reconhecimento da necessidade de “desformalização do processo”,
visando a redução do excesso de formalidades do processo; b) a Reforma do Judiciário (EC n.
45/2004), com a criação do CNJ, que impôs o estabelecimento de normas de gestão, de metas
a serem cumpridas, bem como de outros mecanismos de estabelecimento de controle de
produtividade e qualidade das decisões judiciais; c) A valorização dos equivalentes
jurisdicionais - meios alternativos ou adequados de resolução dos conflitos, tais como
mediação, conciliação e arbitragem – Lei n. 9.307/1996. Assim, a garantia do acesso à Justiça
não significa necessariamente que o conflito será resolvido pelo Judiciário, na medida em que
os equivalentes jurisdicionais também são formas legítimas de resolução dos litígios. Nesse
sentido, aliás, têm-se reconhecido que tais mecanismos são tão eficazes quanto, ou até mais
eficazes, que a via da Jurisdição estatal para a solução adequada dos conflitos. (LUNARDI,
2019, p. 77).
Tendo tudo isso em vista, infere-se que, no ordenamento jurídico brasileiro, portanto, o
acesso à Justiça e o direito de ação passaram a abranger também as soluções consensuais, as
quais são aceitas pela Constituição de 1988, no art. 5º, inc. XXXV, § 1º. Também, a Resolução
n. 125/2010, do CNJ, trata a conciliação, a mediação e outros métodos consensuais como
instrumentos efetivos de pacificação social, solução e prevenção de demandas, visto serem
aptos a reduzir a judicialização, a interposição de recursos e a execução de sentenças. E, levando
em conta recomendações da Organização das Nações Unidas, a Resolução n. 225/2016 do CNJ,
considera que o direito constitucional de acesso à Justiça não abrange apenas as decisões
adjudicadas pelos órgãos judiciários, mas também soluções efetivas de conflitos por meio de
uma ordem jurídica justa. Assim sendo, verifica-se que o cenário brasileiro possui bons
exemplos de desjudicialização e, especialmente no âmbito processual civil, onde se mostra
favorável às novas alternativas de conferir celeridade às demandas sociais, das quais seria
exemplo a ora debatida desjudicialização da execução civil, caso seja legalizada. (MARTINS,
2020, p. 9-10).
Nessa ambiência, destaca-se que em relação a desjudicialização, não há que se pensar
em violação à inafastabilidade do controle jurisdicional, tendo em vista que as portas do Poder
Judiciário não são trancadas, em absoluto. Sendo inviável o acesso aos mecanismos
extrajudiciais, nada obsta a que o jurisdicionado recorra ao Poder Judiciário. Trata-se, apenas,
de racionalizar o sistema de justiça e a entrega da prestação jurisdicional estatal. (HILL, 2020,
p. 179).
40
Portugal, existe a figura do “solicitador de execução”, que tem o dever de realizar todas as
diligências do processo executivo, tais como citações, notificações, penhoras e venda de bens,
sendo possível, ainda, ao exequente recorrer ao juiz das decisões proferidas na execução. E, por
fim, na Itália, os atos de execução passaram a ser de competência exclusiva dos “agenti di
esecuzione”. (OLIVEIRA, 2015, p. 224).
Desse modo, pode-se afirmar que não há harmonia nesses diversos sistemas jurídicos
europeus, especialmente em relação a desjudicialização, visto que diferentes pessoas ou
instituições podem atuar na realização forçada do direito, podendo acontecer de forma
diferenciada a questão da importância, autonomia e a própria forma dessa atuação. Destaca-se,
ainda, que, o principal responsável pela execução pode ser o próprio tribunal – como é o caso
da Espanha -, um órgão administrativo sem intervenção do Poder Judiciário – como ocorre na
Suécia -, ou, ainda, um agente de execução com a intervenção do juiz apenas quando houver
litígio. Ainda, ressalta-se que, o agente de execução pode ser um funcionário público – a
exemplo da Alemanha e Itália – ou um profissional liberal, que exerce a sua atividade mediante
nomeação oficial – como é o caso da França. (RIBEIRO, 2019a, p. 77).
Desse modo, Oliveira (2015, p. 225) afirma que:
Desse modo, pode-se afirmar que, no modelo alemão, a execução civil é realizada de
forma difusa, pois são vários os órgãos de execução, que atuam conforme a pretensão a se
executar, o objeto a ser penhora ou as medidas executivas a serem realizadas. Neste modelo, o
gerichtsvollzieher é o agente que detém competência para a execução, agindo, também, como
mandatário do credor. O gerichtsvollzieher é considerado um funcionário judicial, pago pelo
erário público, que realiza, dentre outros atos: a notificação do devedor, buscas domiciliares,
recebimento da dívida, penhora, e a apreensão e entrega de coisas. Para se tornar um
gerichtsvollzieher, o indivíduo deve ter a idade mínima de 25 anos, ter concluído o ensino
médio e trabalhado para um dos órgãos da jurisdição estatal por no mínimo 2 anos. Além disso,
devem passar por um período de treinamento de 18 meses e obter sua aprovação. Com relação
42
No Direito Francês, por sua vez, o agente de execução é um ente privado que tem sua
atividade altamente regulamentada. A execução forçada dos títulos executivos judiciais e
extrajudiciais é uma atividade exercida exclusivamente pelos huissiers de justice, em caráter de
monopólio. Todavia, verifica-se que, na prática, as agências de cobrança concorrem com os
huissiers em situações de composição ou parcelamento, tendo em vista que são, muitas vezes,
mais rápidas e baratas. Quando se tratar de execução sobre bens móveis e quantias em dinheiro,
a execução é feita exclusivamente pelo huissier. Mas, no caso de a penhora recair sobre bens
imóveis, os atos executivos serão feitos pelo huissier e, conjuntamente, com o Tribunal de
Grande Instância. Ainda, evidencia-se que o huissier pode trabalhar em um escritório próprio e
individual, ou ainda pode se associar a outros, formando uma sociedade. De forma geral, pode-
se dizer que a natureza jurídica da atividade do huissier é híbrida, mas com acentuada
característica privada, visto que ele é considerado um profissional liberal, mas que exerce
funções públicas. (RIBEIRO, 2019a, p. 95-98).
Ademais, nas palavras de Martins (2020, p. 12-13):
Nesse sentido, percebe-se que a execução organizada pelo estado e conduzida por
profissionais liberais, trata-se de um sistema que perdurou por vários séculos da história
francesa. E, mesmo havendo servidores estatais especializados na cobrança de dívidas ficais,
verifica-se que há uma transferência dessa competência aos huissiers. Tal fato evidencia que
essa forma de execução, praticada de modo autônomo e independente tem promovido, em
alguma medida, resultados mais vantajosos em comparação à execução realizada diretamente
pela Administração. Ademais, vale mencionar que, o modelo executivo francês influenciou e
ainda tem influenciado tal modo de execução em outros países, como exemplo disso, pode-se
mencionar o sistema de execução da Alemanha, que foi pensada e planejada, tomando como
base o sistema executivo francês. (ONO, 2018, p. 150).
No processo executivo espanhol, a execução é realizada diretamente pelo juiz, com os
auxiliares judicias. Assim, esses funcionários detêm responsabilidades e deveres que não são
44
agente de execução passou a ter mais atribuições, de forma a realizar diligências relacionadas
à extinção da execução, e para o seu arquivamento, enviava-se apenas uma informação
eletrônica ao tribunal, e não mais era necessário haver intervenção do juiz ou da secretaria para
finalizar o processo. Assim sendo, com a reforma de 2008, houve uma proteção ainda maior
quanto às funções essenciais do juiz da execução, pois a sua intervenção somente ocorria nos
casos estritamente necessários à resolução do conflito – ações declarativas. (FARIAS, 2015, p.
87-98).
Conforme Ono (2018, p. 180), a desjudicialização em Portugal:
Dessa forma, entende-se que Portugal adotou duas tendências atuais do sistema
de justiça europeu: a desjudicialização e a privatização. A desjudicialização porque o juiz
deixou de exercer as funções que antes lhe estavam submetidas. E, a privatização porque houve
a transferência da atividade para um agente de execução, que não é um funcionário público,
mas um profissional liberal. (RIBEIRO, 2019a, p. 120).
Ante o exposto, percebe-se que, no cenário internacional, o movimento da
desjudicialização já é uma realidade consolidada, cada um com suas especificidades, de acordo
com a realidade de cada lugar. Tal fenômeno também tem sua relevância no âmbito da execução
civil, para a concretização do direito reconhecido no título executivo judicial ou extrajudicial.
Isso porque, diversos países já o adotaram, de forma a deslocar a competência da execução do
Poder Judiciário para um terceiro.
46
Ainda, reforça Farias (2015, p. 145) que, seria possível e viável desjudicializar a
execução no ordenamento jurídico brasileiro. Isso porque, atos burocráticos, eminentemente
técnicos e que não necessitam de maior nível de conhecimento jurídico não devem ficar restritos
ao juiz, uma vez que sua função é de extrema especificidade. Por isso, necessita de maior
aprofundamento e conhecimentos jurídicos para solucionar as demandas levadas ao judiciário,
o que durante a execução, em sua maioria, não é necessário. Afinal, na fase executiva, o direito
já foi solucionado.
Relacionando-se a viabilidade da implantação da desjudicialização da execução civil de
obrigação de pagar quantia com o sistema executório de Portugal, verifica-se que neste, o agente
responsável pela execução também se encontra vinculado a um procedimento tipificado em lei.
A atuação do magistrado é demandada apenas quando a cognição se fizer imprescindível. Desse
modo, entende-se que a relativa independência da atividade judicial da cognição nas execuções
das obrigações de pagar quantia certa, bem como a tipicidade de seu procedimento, oportuniza
a implementação da desjudicialização no Brasil. Isso porque, existe uma predominância de
atos de natureza administrativa que demandam apenas um cumprimento sistemático ao que já
se encontra detalhadamente descrito na legislação processual. À vista disso, verifica-se que, a
desjudicialização levaria a uma racionalização da atuação judicial sem que isso ocasione
redução da proteção estatal sobre os direitos do exequente e do executado. (ONO, 2018, p. 173-
174).
Quanto ao procedimento, Farias (2015, p. 148-150) comenta que, a desjudicialização
poderia se iniciar por meio de um sistema misto, onde haveria uma supervisão judicial, quando
necessária e requerida. Ainda, assim como em Portugal, um agente especializado poderia ser
criado para se encarregar apenas das execuções civis, oriundas de títulos executivos judiciais e
extrajudiciais. Assim, sendo líquido o título este seria remetido ao órgão especializado.
Importante destacar que, conforme Ribeiro (2019a, p. 146), não se pretende penas
transplantar as medidas adotadas por Portugal para o Brasil. O objetivo é fazer uma proposta
lúcida, coerente com o sistema brasileiro e com aproveitamento das estruturas já existentes.
Evidencia-se também que, o jurisdicionado ainda poderá socorrer-se ao Poder Judiciário diante
da lesão ou ameaça de direito ocorrida no processo executivo por intermédio dos embargos do
devedor.
O que se estabelece, portanto, é a ideia de uma espécie de “cartório privado”, com o
aproveitamento da estrutura já existente junto aos tabelionatos de protesto. Assim, o tabelião
assumiria função análoga à que hoje é exercida pelos escrivães judiciários. Ademais, os atos
jurisdicionais e o controle da atividade permaneceriam sob o encargo do Poder Judiciário, a
49
Ainda, em relação aos tabeliães de protesto, destaca-se que, estes possuem formação
profissional, todos são bacharéis em direito, e conhecimento específico sobre a matéria, o que
lhes confere qualificação diferenciada para o desempenho das funções já mencionadas. E, são
ainda os notários e registradores agentes responsáveis pela prática de seus atos e de seus
prepostos, no âmbito administrativo, civil e criminal, o que reforça a garantia e exigência da
prestação de um serviço público transparente, qualificado, célere e efetivo. Por fim, destaca-se
ainda que, todos são supervisionados pelos Tribunais de Justiça locais, através de suas
respectivas Corregedorias e pelo Conselho Nacional de Justiça. (FIGUEIRA JÚNIOR, 2020, p.
1).
Ribeiro (2019a, p. 151 e 176) também evidencia que, em razão de não ser permitido ao
advogado escolher o agente de execução dá credibilidade ao sistema proposto e garante o
profissionalismo e a isonomia de tratamento. Dessa forma, serão preservados os princípios da
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência que regem a função dos
agentes delegados – artigo 37, caput, da CF. A autora ainda destaca que, o Poder Judiciário
enfrenta problemas orçamentários, visto que não há verba nem para a contratação de oficiais de
justiça, e ainda ressalta o baixo desempenho destes na atividade executiva, cuja eficácia é de
16%. Assim, a proposta que se faz, levando em consideração as necessidades e possibilidades,
é a desjudicialização com privatização, por meio de delegação, e, dentre os agentes delegados,
sugere-se a ampliação das atividades dos tabelionatos de protesto, já que os únicos habituados
50
É evidente que não se pode desconsiderar a proteção jurídica que deve também ser
dada ao devedor, pois se estaria ferindo importantes princípios e dispositivos legais
que foram elaborados, a fim de não permitir que abusos fossem cometidos, e para que
a dignidade das partes fosse preservada. Isso pode ser logrado por meio da
implementação de mecanismo informáticos (processo eletrônico) que permitem, a
qualquer momento, às partes, a consulta do processo e o conhecimento dos atos
praticados pelo agente de execução (v.g., bens penhorados, quantias recebidas do
devedor, pagamentos já efetuados, montante das quantias depositadas em conta
bancária aberta pelo agente de execução à ordem do específico processo executivo
etc.). (FARIAS, 2015, p. 145)
Além disso, cabe ressaltar também que, surge como impasse, a questão do patrimônio
do executado. Nesse sentido, dispõe Freitas (2021, p. 1) que:
Senadora Soraya Thronicke, que aguarda designação de relator. Esse Projeto de Lei visa resultar
em lei que discipline a execução extrajudicial civil para cobrança de títulos executivos judiciais
e extrajudiciais, delegando ao tabelião de protesto o exercício das funções de agente de
execução, mas preservando a aplicação subsidiária do Código de Processo Civil. (MARTINS,
2020, p. 3-4).
Nesse sentido, inspirado na experiência da desjudicialização da execução vivenciada em
outros países, especialmente no sistema português, e na tese de doutorado de Flávia Pereira
Ribeiro, o Projeto de Lei nº 6.204/2019 sugere que ao tabelião de protestos seja atribuída com
exclusividade a função de agente de execução, incumbindo-lhe a prática de diversas atividades
hoje desempenhadas por juízes e servidores do Poder Judiciário, tais como: a verificação dos
requisitos do título executivo, inclusive a ocorrência de prescrição e decadência; a suspensão e
a extinção da execução; a realização da citação do executado; e a efetivação de atos de
expropriação, como a penhora. (PEIXOTO, 2020, p. 87).
À vista disso, a execução seria realizada da seguinte maneira:
Diante desse cenário, o Projeto de Lei já nasce promissor, pois busca, a partir de uma
ousada proposta de solução fora do processo judicial, não só chamar a atenção da comunidade
jurídica para o tema da desjudicialização como, também, pretende fazer com que a execução
civil de obrigação de pagar quantia certa revele-se mais efetiva e adequada. O PL pretende
atribuir funções executivas ao tabelião de protesto, transferindo a competência da resolução de
litígios para instâncias não judiciais, utilizando-se de uma “velha profissão”, mas com novas
atribuições. E, tendo como base o sistema executivo lusitano, pode-se enquadrar a
desjudicialização em um nível intermediário, no qual há transferência de competências para
agente externo ao Poder Judiciário – tabelião de protestos -, mas sob delegação, intervenção e
fiscalização direta desse mesmo Poder. (FARIA, 2021, p. 4-6).
O PL dispõe que caberá a desjudicialização das execuções que envolvam obrigações de
pagar quantia líquida, certa e exigível fundadas em títulos executivos judiciais – inclusive os
heterogêneos, notadamente sentenças arbitrais, sentenças penais condenatórias e sentenças
53
é assente que pela própria natureza dos títulos executivos, os procedimentos judiciais
desta espécie são basicamente administrativos, o que importa em pouca atuação
jurisdicional do magistrado; por outro lado, são inúmeros os atos praticados por juízes
e serventuários voltados à efetivação da execução em prol da satisfação perseguida
pelo credor (citação, intimação, penhora, localização de bens, avaliação, alienação
etc.), o que lhes absorve incontável tempo precioso. [...] O PL 6.204/19 oferece a
oportunidade de desafogar o Judiciário com a supressão de milhares de demandas
executivas civis cujos procedimentos importam, majoritariamente, em atos
burocráticos de cobranças de dívidas, tendo como administrador o juiz togado; por
conseguinte, reserva-se para o magistrado a prática exclusiva da típica e nobre
atividade jurisdicional (dizer o direito) em processos ou incidentes que demandem
verdadeira cognição (v.g. processos de rito comum ou especial, tutelas de urgência,
incidentes em execução). (2020, p. 1).
A nenhum pretexto, enfim, se pode ter a execução desjudicalizada como uma ofensa
à garantia constitucional de acesso à justiça. É que os agentes executivos somente se
encarregam dos atos executivos, de modo que os eventuais embargos e impugnações
ao direito do exequente e aos atos praticados pelos referidos agentes são sempre
submetidos à decisão de um juiz togado. [...] Nenhuma razão há para se ver na
desjudicialização executiva uma negação da garantia de acesso ao Poder
Judiciário. [...] Ora, quando a lei põe à disposição do credor um serviço público apto
a tutelá-lo in concreto, faltar-lhe-á interesse para movimentar a máquina judiciária.
Esse interesse, portanto, somente se configurará quando no curso da execução
extrajudicial surgir conflito de interesses, cuja solução não se comporte nos poderes
do agente executivo. Nessa conjuntura, o sistema de execução desjudicializada não
será empecilho ao acesso da parte à tutela jurisdicional, visto que lhe restará
assegurada a submissão do incidente contencioso ao juiz competente.
Mais do que apenas permitir a tramitação das execuções nos tabelionatos de protestos,
o Projeto busca promover uma profunda alteração nas execuções, retirando do
Judiciário a maior parte dos atos executivos e, inclusive, alguns atos decisórios, como
o deferimento ou indeferimento do pedido inicial, a decretação da prescrição e da
decadência, o deferimento da gratuidade da justiça, a suspensão e a extinção da
execução.
Em razão disso, muitas críticas têm sido suscitadas pela doutrina ao referido Projeto
de Lei. O primeiro ponto que pretendemos abordar no presente texto é o relativo à
existência ou não de reserva de jurisdição no tocante aos atos executivos,
especialmente os expropriatórios.
Segundo o Supremo Tribunal Federal, a denominada cláusula constitucional de
reserva de jurisdição importa em “(...) submeter, à esfera única de decisão dos
magistrados, a prática de determinados atos cuja realização, por efeito de explícita
determinação constante do próprio texto da Carta Política, somente pode emanar do
juiz, e não de terceiros (...)”. Normalmente a reserva de jurisdição é relacionada a
matérias como a busca domiciliar (CF, art. 5º, XI), a interceptação telefônica (CF, art.
5º, XII) e a decretação da prisão, ressalvada a hipótese de flagrância (CF, art. 5º, LXI),
porquanto tais dispositivos constitucionais exigem expressamente a intervenção
judicial, por meio de ordens ou decisões, afastando, em consequência, a atuação de
qualquer outra pessoa ou ente, inclusive autoridades ou órgãos estatais.
Relativamente a esses temas considerados pelo próprio texto constitucional como
mais sensíveis, cabe ao Poder Judiciário “não apenas o direito de proferir a última
palavra, mas, sobretudo, a prerrogativa de dizer, desde logo, a primeira palavra”.
Entende-se, no entanto, que a reserva de jurisdição, nos termos acima referidos, não
se aplica aos atos processuais executivos, sequer aos expropriatórios.
Isso porque não há qualquer dispositivo constitucional que, de modo expresso,
imponha a prática desses atos exclusivamente aos juízes de direito.
Assim, considerando-se, em primeiro lugar, que não há reserva de jurisdição quanto aos
atos expropriatórios; e, segundo, que se revela possível o exercício da função jurisdicional e,
bem assim, a prática de atos executivos e expropriatórios, por órgãos e entes não integrantes do
Poder Judiciário, inclusive por particulares, sem ofensa ao princípio da inafastabilidade da
jurisdição, entende-se, portanto, que o Projeto não contém qualquer ofensa à Constituição
Federal. (PEIXOTO, 2020, p. 92).
56
estatísticas do Colégio Notarial do Brasil, depreende-se que o jurisdicionado prefere pagar com
emolumentos da escritura pública para a realização de separações, divórcios e inventários do
que esperar a longa tramitação do processo judicial. Ou seja, com relação ao custo-benefício,
prevalece a justiça privada, que dispõe de rapidez e segurança. (RIBEIRO, 2019a, p. 33-35).
Desta forma, cumpre ainda evidenciar que, a desjudicialização se caracteriza em um
fenômeno de maior espectro, caracterizado pela busca de instancias institucionalizadas para o
processamento e distribuição do direito. Esse fenômeno surge, portanto, diante de momentos
de crise jurisdicional e insuficiência das respostas estatais aos conflitos surgidos da sociedade.
(CAVACO, 2017, p. 245).
Tendo em vista a desjudicialização da execução em Portugal, pode-se perceber inúmeras
vantagens na sua aplicação. Isso porque, o agente pode praticar diligências do processo de
execução. Fazendo com que o magistrado não mais tivesse de praticar atos de caráter não
jurisdicional, apenas intervindo nos incidentes ocorridos no desenvolvimento do processo.
Assim, com a reforma feita em Portugal, a execução não se equiparou a um procedimento
administrativo, mas o objetivo central era aumentar a celeridade e a efetividade da execução,
sem contrariar a reserva de jurisdição, visto que se referia à resolução de demandas em que já
se sabia quem é o executado e o que é devido. Pôde-se ver também, o aliviamento do
congestionamento do Poder Judiciário, bem como os custos e a demora, em solucionar casos.
(FARIAS, 2015, p. 137).
Desse modo, diante de um cenário de morosidade, uma mudança de modelo processual,
que visa deslocar a execução para fora da estrutura congestionado do Poder Judiciário ganha
força como uma alternativa para a celeridade do processo. Através dos dados coletados, também
foi possível identificar que uma iniciativa de desjudicialização preponderantemente de atos não
jurisdicionais, que crie um procedimento alternativo de execução por quantia, cuja tramitação
se dará especialmente perante agente privados – preservada a competência do juiz nos aos que
demandarem a prática de atos de decisão e de imposição de decisões – se demonstra como uma
alternativa coerente. Isso porque, por meio dela, há potencial de melhoras como a possibilidade
de especialização do agente de execução, a desvinculação entre as administrações orçamentária
e de pessoal do Judiciário e o agente externo, e a redução no consumo de tempo e recursos do
Poder Judiciário, com a progressiva redução de atos do processo executivo que sejam de sua
incumbência. (CILURZO, 2016, p. 218).
Assim, a desjudicialização da execução de obrigação de pagar quantia, juntamente com
o Projeto de Lei nº 6.204/2019, visa:
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evidencia-se que o Judiciário continuará percebendo ainda as custas decorrentes dos acessos
feitos pelas partes ou terceiros interessados (direta ou indiretamente) com a execução - se e
quando necessário - como por exemplo, em embargos do devedor.
Desse modo, dispõe Martins (2020, p. 15) que:
Isso não significa dizer que a implantação da desjusdicialização trará apenas efeitos
positivos, pois, como toda mudança e inovação, pode-se trazer, também, problemas que são
inerentes a todos os tipos de situação e execução de procedimentos dentro do próprio processo.
Entretanto, com uma boa organização administrativa dos órgãos do judiciário, esses efeitos
negativos podem ser controlados, de forma a prevalecer as vertentes positivas (FARIAS, 2015,
p. 144).
Assim sendo, fazer com que a desjudicialização se aprimore e funcione trará benefícios
ao Poder Judiciário, que poderá se concentrar na solução dos litígios para os quais realmente é
encarregado, e para a sociedade, que poderá obter a efetiva prestação jurisdicional, de forma
mais célere e eficiente, sem abrir mão das garantias fundamentais do processo. (HILL, 2020, p.
198).
61
5 CONCLUSÃO
O presente trabalho de conclusão de curso teve como objetivo central realizar um estudo
acerca da viabilidade e dos benefícios da desjudicialização no cenário brasileiro, especialmente
quanto a execução civil de obrigação de pagar quantia certa.
No primeiro capítulo do trabalho, abordou-se o tema da execução civil no Brasil,
trazendo os aspectos gerais do fenômeno executório, bem como as características do sistema
brasileiro de execução civil. E, verificou-se, ainda, a modalidade de execução de obrigação de
pagar quantia certa.
Constatou-se que a execução civil busca satisfazer o direito do jurisdicionado, advindo
de um título executivo judicial ou extrajudicial. Ainda, verificou-se que o sistema brasileiro de
execução civil se rege por inúmeros princípios, tais como: Princípio da autonomia, Princípio da
atipicidade dos meios, Princípio do título, Princípio da menos onerosidade, Princípio da
patrimonialidade, dentre outros. E, observou-se, também, a execução por quantia certa, que se
mostra importante modalidade de execução, visto que trata da expropriação de bens do
executado.
O segundo capítulo de desenvolvimento apresentou o fenômeno da desjudicialização,
evidenciando seus aspectos gerais, a desjudicialização no direito brasileiro e sua relação com o
princípio da inafastabilidade da jurisdição, e, por fim, o capítulo mostra a desjudicialização em
outros países, com suas peculiaridades.
Concluiu-se que a desjudicialização mostra-se uma verdadeira tendência internacional,
pois permite que o jurisdicionado possa resolver determinado conflito fora do âmbito dos
tribunais, transferindo atos, muitas vezes somente burocráticos, para fora do Poder Judiciário.
Ainda, ressaltando essa tendência natural, verificou-se que, no Brasil já é possível visualizar
diversos temas que foram desjudicializados, e que esse fenômeno não contraria o princípio da
inafastabilidade da jurisdição, visto que ainda permite que o jurisdicionado possa recorrer ao
Judiciário, quando necessário. Por fim, constatou-se que a desjudicialização vem sendo
utilizada em diversos países, cada um com suas peculiaridades, representando um avanço,
especialmente no âmbito da execução civil.
No terceiro capítulo do trabalho, foram evidenciados a viabilidade da aplicação da
desjudicialização da execução por quantia certa no brasil, bem como os possíveis impasses na
implementação da desjudicialização. Também foi exposto o Projeto de Lei nº 6.204/19, que traz
a proposta de desjudicialização da execução civil de obrigações de pagar quantia certa, tendo
62
por base o modelo de desjudicialização de Portugal. E, por fim, foram abordados, também, os
benefícios da desjudicialização na execução por quantia certa.
Constatou-se que, com base no modelo de desjudicialização de Portugal, é possível a
aplicação do fenômeno da desjudicialização no sistema executivo brasileiro, desde que com as
adaptações necessárias. O Projeto de Lei nº 6.204/19, portanto, representa enorme avanço para
a implantação e entendimento do tema, entretanto, ainda há diversas questões para serem
analisadas e discutidas. Por fim, é inegável que a desjudicialização traz incontáveis benefícios,
e, nesse sentido, no âmbito da execução civil por quantia certa, pode-se visualizar, a exemplo,
uma redução da sobrecarga do judiciário; transferência de atos que não exijam cognição para
fora do judiciário, a fim de possibilitar ao magistrado a resolução de conflitos que necessitam
de cognição; aumento da eficiência da concretização do direito reconhecido no título executivo,
dentre outros.
Assim, diante de um sistema processual judiciário que se mostra burocrático, demorado,
ineficiente e inefetivo, resta claro que a desjudicialização da execução civil irá contribuir para
a eficácia e celeridade do direito reconhecido no título, seja ele judicial ou extrajudicial,
efetivando o cumprimento das decisões. Isso porque, percebe-se que o sistema cartorário
demonstra ser o inverso no desempenho de suas atividades em relação ao Poder Judiciário.
Será possível, portanto, através da delegação da execução civil para os agentes de
execução, visualizar um “desafogamento” do Poder Judiciário. Assim, poderá se observar
rapidez, segurança e justiça das decisões, juntamente com alívio dos magistrados para que
possam decidir causas que exigem maior cognição. Ademais, restou evidenciado que a proposta
poderá gerar economia para os cofres públicos.
Desse modo, segundo o exposto, a desjudicialização da execução civil por quantia certa
de títulos judiciais e extrajudiciais deve ser vista como uma possibilidade para a mitigação da
sobrecarga do Poder Judiciário e para a efetividade do direito reconhecido no título executivo
do jurisdicionado. Contudo, é preciso destacar que não basta analisar a experiência desse
instituto em outros países, mas também se torna necessária a percepção e estudos específicos
do ordenamento jurídico brasileiro, pois difere muito dos demais. Isso porque, percebe-se que
o maior problema das execuções por quantia, seja de título judicial ou extrajudicial, são de
origem econômica, visto que o devedor não possui patrimônio.
Dessa forma, entende-se também que, o processo de desjudicialização das execuções
civis por quantia certa não vai resolver por completo o problema da execução civil no Brasil,
sendo apenas mais um caminho para facilitar tal ato. Isso, porque, é preciso esclarecer que uma
63
execução infrutífera não se dá apenas pelo método processual utilizado, mas também pelo “fator
patrimônio”.
Com relação ao Projeto de Lei nº 6.204/2019, apesar de representar um enorme avanço
para o amadurecimento do assunto, é preciso observar alguns pontos de aprimoramento deste,
tendo em vista a realidade brasileira. Também cabe evidenciar que, nem todas as matérias foram
abordadas em tal Projeto, que acabaram por deixar diversas lacunas no projeto, gerando, dessa
forma, muitas dúvidas para os acadêmicos, doutrinadores e juristas do Direito Brasileiro.
Disso resulta que, embora a desjudicialização da execução civil possa trazer consigo
inúmeros benefícios para o sistema jurídico brasileiro, é preciso observar as críticas e sugestões,
bem como sua aplicabilidade, tendo em vista as condições do Brasil. Restou evidenciado,
portanto, que a desjudicialização da execução civil não é o caminho absoluto, mas apenas um
dos caminhos para a óbice da execução.
Conclui-se, pois, em atenção ao problema de pesquisa proposto, que os reais benefícios
da desjudicialização da execução por quantia certa de títulos judiciais e extrajudiciais no
ordenamento jurídico brasileiro são, em síntese: a redução da sobrecarga do Poder Judiciário;
maior efetividade e celeridade da execução, de modo econômico e simplificado; redução de
despesas do judiciário; e, redução de atos do processo executivo do Poder Judiciário,
reservando-se para o magistrado a prática exclusiva de atos que exijam maior cognição.
Por fim, cabe evidenciar que, o estudo enfrentou certos obstáculos, pois embora o tema
seja de extrema relevância para a comunidade jurídica, são poucos os doutrinadores e
conhecedores do direito que abordam de maneira técnica sobre o assunto, concluindo-se,
portanto, a imprescindibilidade de uma maior abordagem, com pesquisas de aprofundamento
do tema.
64
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