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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS – DCSA


BACHARELADO EM DIREITO

ANA CAROLINA PESSOA BRAZ DE OLIVEIRA

O NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO


SUDOESTE DA BAHIA E O PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA

VITÓRIA DA CONQUISTA – BA
2019.2
ANA CAROLINA PESSOA BRAZ DE OLIVEIRA

O NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO


SUDOESTE DA BAHIA E O PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Colegiado do Curso de Bacharelado em
Direito da Universidade Estadual do Sudoeste
da Bahia como requisito básico para a obtenção
do título de bacharela em Direito.

Orientadora: Prof. Dra. Gabriela Andrade


Fernandes.

VITÓRIA DA CONQUISTA – BA
2019.2
ANA CAROLINA PESSOA BRAZ DE OLIVEIRA

O NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO


SUDOESTE DA BAHIA E O PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado e aprovado em sua forma final pelo
Colegiado do Curso de Direito da UESB, em _____ de 2020.

Apresentado a Banca Examinadora composta pelos professores:

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________
Prof.ª. Drª. Gabriela Andrade Fernandes
Orientadora

_________________________________________
Prof.ª Ma. XXX

_________________________________________
Prof.ª Esp. XXX

VITÓRIA DA CONQUISTA – BA
2019.1
Dedico a ti, meu pai, este trabalho de que tanto me
orgulho, para que se orgulhe de mim também, onde quer
que o senhor esteja.
AGRADECIMENTOS

É interessante perceber o espaço que uma graduação tem nas nossas vidas: é uma
trajetória de, no mínimo, cinco anos, para os discentes de Direito, nos quais se convive com
certa intensidade com colegas e professores. Nessa construção, é impossível não haver discentes
e docentes aos quais agradecer, e este é o momento de lembrar aqueles que fizeram o meu
caminho mais bonito, sendo impossível não começar com Gustavo, Isabella, Jhonata e Julle:
não há agradecimento no mundo que supra a honra de ter vocês em minhas vidas e o quanto
vocês me ajudaram no meu momento mais difícil.

À minha maravilhosa orientadora Gabriela, a quem admirei desde a primeira aula que
ministrou e que me acompanhou desde o início da construção do presente trabalho: eu já fiz
muitas escolhas acertadas nessa vida, uma das mais certeiras foi tê-la pedido para me orientar
nesta jornada. Querida professora, com a senhora eu aprendi coisas que vão muito além da
pesquisa, nunca conseguirei agradecer o suficiente o carinho, apoio, dedicação e oração que
permearam todo o processo.

À todos os professores e funcionários do Núcleo de Prática Jurídica da UESB, que


abriram as portas, gavetas e armários para que eu pudesse executar o meu trabalho, me
oferecendo não só as ferramentas para que tudo isto fosse possível, mas a sorte de amizades
importantes. Um agradecimento especial à Ivana, José Carlos e Caroline, professores que me
deram todo o apoio moral e material disponível, Monica, Luiza, Mychelle, José Roberto e Maria
do Carmo, responsáveis pela manutenção das engrenagens sem as quais o Núcleo não seria
possível: vocês têm morada vitalícia no meu coração.

À minha família, por sempre acreditar em mim e por terem exercido as melhores
influências e oferecido as melhores referências que eu poderia ter. Por terem feito parte de quem
sou, apoiando o meu desejo de fazer a diferença e de querer mudar o mundo à minha volta.
Agradecimento especial à minha mãe, Maria de Fátima, que sempre cuidou de mim com tanto
afinco e dedicação e que sempre tornou a minha vida imensamente mais fácil, seja pelo carinho
do convívio tranquilo e pelos cuidados diários, seja pela parceria em acreditar fielmente nos
meus projetos e pela compreensão que tinha nos meus dias difíceis. Saiba que eu agradeço todos
os dias pela sorte de ser sua filha. Agradecimento especial também à minha irmã, Analyz,
aquela que faz meus olhos brilharem toda vez que menciono o nome, por ser tudo o que é, do
jeito que é. Você é a minha maior referência, irmã, é impossível imaginar uma vida sem você.

Por fim, mas certamente não menos importante, agradeço a Deus e ao meu pai, que
agora se encontra juntinho Dele. Queria muito que o senhor participasse em matéria dessa
conquista, mas sei que está vibrando por mim e nunca me deixará esquecer que a vida, já dizia
Gonzaguinha, “é bonita e é bonita”.
RESUMO

O presente trabalho objetiva investigar a aplicação do princípio da eficiência no Núcleo de


Prática Jurídica da UESB sob a perspectiva do assistido e do discente, analisando os reflexos
desta atuação no acesso à Justiça e no aprendizado e formação dos estagiários matriculados. A
pesquisa se orienta a partir de uma concepção reivindicatória/participatória, ou seja, contém
uma agenda de ação para a reforma que intenciona a mudança e melhoria. Trata-se de estudo
de caso consistente no levantamento de dados, havendo sido utilizada a estratégia
transformativa, com enfoque teórico no princípio da eficiência, a partir de diferentes métodos
para a coleta de dados e com vistas à obtenção de resultados e imprimir mudanças discutidas
neste estudo. Sobre o binômio pedagógico-social e, considerando as finalidades do Núcleo foi
possível identificar duas categorias analíticas (ensino e serviço de assistência jurídica) e as
respectivas subcategorias a elas correlacionadas, a saber: 1) quanto ao ensino: 1) capacidade de
atendimento às normas (regulamento); 2) fiscalização e avaliação; 3) Menor custo (tempo)
versus benefício (aprendizado); quanto ao serviço de assistência jurídica, destacamos as
seguintes categorias: 1) atendimento às normas (regulamento); 2) fiscalização e avaliação de
resultados; 3) Menor custo (tempo) versus benefício (resolução das demandas). A partir das
finalidades do Núcleo, os resultados apontaram que 85% das demandas atendidas são relativas
à Direito de Família, com predomínio de Ações de Alimentos, não sendo atendida a previsão
do Regulamento de Estágios no que tange a abrangência das áreas trabalhista e criminal além
da civil, o que gera reflexos tanto no ensino quanto no acesso à justiça. Também se verificou a
inexistência de uniformidade e clareza no método avaliativo e de controle eficaz das demandas,
que são acompanhadas por processos internos excessivamente analógicos e sem a adoção das
ferramentas tecnológicas ora existentes para a otimização do trabalho. Isto foi comprovado pelo
fato de que 76,4% das demandas analisadas não apresentarem andamento adequado. Extraiu-se
da pesquisa, ainda, que inexistia mecanismo de controle externo a possibilitar a avaliação dos
resultados. Contudo, através de pesquisa de satisfação realizada junto ao assistido, aferiu-se que
42,9% dos contatados classificavam o serviço como excelente, seguidos de 21,4% que
classificou como bom, 14,3% como péssimo, e somente 7,1% cada classificaram como regular,
ruim ou não quiseram opinar. Da pesquisa mencionada notou-se um padrão: deficiência na
comunicação entre o núcleo e os assistidos para que tivessem ciência do andamento de suas
demandas. Verificou-se também, a inexistência de meios produtivos para promover os
andamentos dos feitos estagnados no Judiciário. Assim, a partir do conjunto de dados colhidos
e da análise dos resultados, foram aplicados alguns instrumentos de mudança, posteriormente
reanalisados neste trabalho, a partir dos quais apresentamos as seguintes sugestões: 1) a
modernização dos processos internos de controle do Núcleo a partir da inserção de ferramentas
tecnológicas; 2) a reformulação da metodologia de ensino a partir da criação de uma agenda de
atividades específicas aos estagiários para o devido andamento das demandas somado à
exigência de relatórios parciais para acompanhar os progressos obtidos; e 3) a criação de
mecanismos de controle externo para aferição dos resultados.

Palavras-chave: Núcleo de Prática Jurídica; Princípio da eficiência; Aprendizado; Acesso à


justiça; Mecanismos de controle.
ABSTRACT

The present work aims to investigate the application of the principle of efficiency in the Legal
Practice Nucleus of UESB from the perspective of the assisted and the student, analyzing the
reflexes of this performance in the access to Justice and in the learning and training of registered
interns. The research is based on a claim / participatory conception, that is, it contains an action
agenda for reform that intends to change and improve. It is a case study consistent in data
collection, having been used the transformative strategy, with a theoretical focus on the
principle of efficiency, from different methods for data collection and with a view to obtaining
results and printing changes discussed in this study. Regarding the pedagogical-social binomial
and, considering the purposes of the Nucleus, it was possible to identify two analytical
categories (teaching and legal assistance service) and the respective subcategories correlated to
them, namely: 1) regarding teaching: 1) capacity to attend to standards (regulation); 2)
inspection and evaluation; 3) Lower cost (time) versus benefit (learning); regarding the legal
assistance service, we highlight the following categories: 1) compliance with the rules
(regulation); 2) inspection and evaluation of results; 3) Lower cost (time) versus benefit
(resolution of demands). Based on the purposes of the Nucleus, the results showed that 85% of
the demands met are related to Family Law, with a predominance of Food Actions, with the
provision of the Internship Regulation not being met regarding the scope of the labor and
criminal areas in addition civil society, which has repercussions both in teaching and in access
to justice. There was also a lack of uniformity and clarity in the evaluation method and effective
control of demands, which are accompanied by excessively analogous internal processes and
without the adoption of existing technological tools for the optimization of work. This was
confirmed by the fact that 76.4% of the analyzed demands did not present an adequate progress.
It was also extracted from the research that there was no external control mechanism to enable
the evaluation of the results. However, through a satisfaction survey conducted with the
beneficiary, it was found that 42.9% of those contacted rated the service as excellent, followed
by 21.4% who rated it as good, 14.3% as terrible, and only 7, 1% each classified as regular, bad
or did not want to give an opinion. From the research mentioned, a pattern was noted: deficiency
in the communication between the nucleus and those assisted so that they were aware of the
progress of their demands. There was also a lack of productive means to promote the progress
of stagnant deeds in the Judiciary. Thus, based on the set of data collected and the analysis of
the results, some instruments of change were applied, later re-analyzed in this work, from which
we present the following suggestions: 1) the modernization of the internal control processes of
the Nucleus from the insertion of technological tools; 2) the reformulation of the teaching
methodology based on the creation of an agenda of specific activities for the interns for the due
progress of the demands added to the requirement of partial reports to monitor the progress
achieved; and 3) the creation of external control mechanisms to measure the results.

Keywords: Legal Practice Centers; Principle of efficiency; Learning; Access to justice; Control
mechanisms.
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Quantidade de processos por competência ........................ ................................. 46


Gráfico 2 – Porcentagem de processos por ano do atendimento inicial ................................ 46
Gráfico 3 – Análise da zona de residência do atendido .......................................................... 49
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Sugestões dos estagiários para o aperfeiçoamento do aprendizado versus percentual


de alunos que apresentaram a respectiva sugestão .................................................................. 54
Quadro 2 – Incômodos dos estagiários/alunos a respeito do aprendizado ............................. 55
Quadro 3 – Análise da eficiência a partir dos dados internos obtidos com as pastas ............ 57
Quadro 4 – Análise da eficiência – Dados externos obtidos com pesquisa de satisfação...... 58
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Lapso temporal sem a atualização das pastas ....................................................... 47


Tabela 2 – Quantidade de pastas provisórias por ano do atendimento inicial ....................... 48
LISTA DE SIGLAS

BPM Business Project Management


CEE Conselho Estadual de Educação
CES Câmara de Educação Superior
CNE Conselho Nacional de Educação
CR Constituição da República
DCSA Departamento de Ciências Sociais Aplicadas
EC Emenda Constitucional
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MEC Ministério da Educação
NPJ Núcleo de Prática Jurídica
OAB Ordem dos Advogados do Brasil
PJE Processo Judicial Eletrônico
SAJU Serviço de Assistência Jurídica da UESB
SEC Secretaria da Educação
TCU Tribunal de Contas da União
UESB Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 16
1.1 Considerações gerais e o problema ............................................................................. 16
1.2 Percurso Teórico Metodológico ................................................................................... 17
1.2.1 Caracterização da pesquisa (ou Forma de abordagem da pesquisa/tipo de estudo) . 17
1.2.2 População e amostra ................................................................................................. 19
1.2.3 Instrumentos de coleta .............................................................................................. 19
1.2.4 Tratamento dos dados............................................................................................... 20
1.3 Estrutura da Monografia ............................................................................................. 21
2. O NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COMO FUNDAMENTO CURRICULAR NA
GRADUAÇÃO EM DIREITO ................................................................................................. 23
2.1 Da assistência judiciária gratuita e o acesso à justiça ............................................... 27
2.2 O projeto pedagógico do curso de direito da UESB e o regulamento do SAJU ...... 29
2.3. Do serviço de prática jurídica da UESB .................................................................... 32
3. O PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA ......................................................................................... 37
3.1 Sistema de gestão de processos .................................................................................... 41
3.2 Indicadores de desempenho ......................................................................................... 43
3.3 O princípio da eficiência e o NPJ da UESB ................................................................ 44
4. DOS RESULTADOS DA PESQUISA ................................................................................ 49
4.1 Pastas de processos ....................................................................................................... 49
4.2 Pastas provisórias ......................................................................................................... 52
4.3 Dos mecanismos implementados e das percepções .................................................... 55
4.4 Pesquisa de satisfação com serviço de assistência ...................................................... 57
4.5 Pesquisa de satisfação com o aprendizado.................................................................. 59
4.6 Síntese da análise dos resultados ................................................................................. 63
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 66
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 69
ANEXO A – Regulamento de Estágios constante do Projeto Pedagógico de 2011................. 73
ANEXO B - Ficha de Atendimento utilizada no início da pesquisa ........................................ 81
ANEXO C – Declaração de pobreza ........................................................................................ 82
ANEXO D – Procuração .......................................................................................................... 83
ANEXO E – Modelo de Relatório ............................................................................................ 84
ANEXO F - Nova ficha de atendimento .................................................................................. 86
ANEXO G - Cartão de informações ao assistido ..................................................................... 87
ANEXO H - Compilação de arquivos e informações úteis aos estagiários do SAJU.............. 88
ANEXO I - Captura de tela do Formulário do Google utilizado para inserção das demandas na
Lista de diligências .................................................................................................................. 89
16

1 INTRODUÇÃO

1.1 Considerações gerais e o problema

A perspectiva da sala de aula fornece ao aluno um distanciamento da realidade que


não deve perdurar até a conclusão do curso. Ainda que, porventura, o discente escolha uma
carreira que o permita advogar para um único cliente, ou até mesmo alguma carreira que não
envolva atendimento e contato direto com outras pessoas, os objetivos do curso de Direito
pressupõem a formação do aluno em todas as facetas possíveis enquanto operador do Direito.
Nesse sentido, é indiscutível o papel do estágio na formação do estudante.

Ademais, em que pese a existência de garantia constitucional de acesso à assistência


judiciária gratuita é notória a sobrecarga do Judiciário e, em consequência, a sobrecarga
suportada pelas Defensorias Públicas que não são capazes de atender a imensa demanda sem
auxílio dos Núcleos. Assim, além do caráter pedagógico, é inquestionável a função social
desempenhada por estes serviços que buscam garantir o direito de acesso à Justiça àqueles que
não tem condições de custear um advogado.

O trabalho de Assistência Jurídica feito no núcleo é um meio de garantia de acesso à


Justiça àqueles que não têm suficientes recursos para alcançá-la por outros meios. Logo,
estamos tratando de um serviço social de suma importância para o exercício da cidadania. Por
este motivo, é indispensável a prestação de um serviço de excelência. Ocorre que, em que pese
os inúmeros esforços dos professores, demais funcionários e, até mesmo, de alguns alunos,
consideradas a intensa demanda e a rotatividade de estagiários, muitas vezes desinteressados e
despreocupados, bem como deficiências estruturais, muitos assistidos acabam não obtendo o
acompanhamento adequado.

Deste modo, considerando a importância social e pedagógica do serviço em lupa, a


presente pesquisa busca construir referenciais para contribuir com a adequada atuação deste
Núcleo e, em consequência, atender ao princípio da eficiência, visando o aperfeiçoamento do
estágio curricular do curso de Direito, na medida em que analisará os resultados investigativos
do desempenho dos estagiários, indicando a implementação de mecanismos de melhoramento
que visam o desenvolvimento de atividades orientadas ao exercício da cidadania.
17

Para avaliar o grau de eficiência do SAJU é necessário considerar o seu duplo escopo,
aqui denominado de finalidade essencial e finalidade derivativa. Nesse sentido, buscou-se
analisar se o Serviço de Assistência Jurídica da UESB é eficiente: a) no que tange a sua
finalidade essencial de formação prática do graduando de Direito segundo as Diretrizes
curriculares do curso de graduação em Direito fixadas pela A Resolução 05/2018, emitida pela
Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CES/CNE- MEC); e b) no
que concerne a sua finalidade derivada de serviço público de assistência jurídica integral e
gratuita, garantidor do direito constitucional de acesso à justiça.

Por ser a UESB uma autarquia estadual, esta pesquisa objetiva analisar a aplicação do
princípio constitucional da eficiência na prestação do Serviço de Assistência Jurídica da UESB,
especialmente no que tange às normas e orientações do regulamento inserido no projeto
pedagógico do curso de Direito, assim como, identificar quais recursos disponíveis à
Universidade podem ser implantados na melhoria do binômio pedagógico-social.

Face ao problema de pesquisa, questionamos: o Núcleo de Prática Jurídica da UESB,


conhecido como SAJU, é eficiente na persecução das suas finalidades? Como resposta
suscitamos a seguinte hipótese: o SAJU tem baixo grau de eficiência, pois não tem assegurado
acesso à justiça aos assistidos que recorrem a este serviço com celeridade e transparência e não
tem assegurado aos estagiários o domínio da prática jurídica que os torne aptos ao mercado de
trabalho na multiplicidade que se propõe.

1.2 Percurso Teórico Metodológico

1.2.1 Abordagem da pesquisa

O desenvolvimento da metodologia se deu a partir da análise de textos legais e


doutrinários sobre os Núcleos no Brasil, sobre a prática jurídica, sobre as diretrizes do estágio
curricular e sobre o princípio constitucional da eficiência. Ainda, a partir do levantamento de
dados através de questionários e/ou observação participativa. Na análise quantitativa, verificou-
se a aplicação do princípio da eficiência na busca pelo cumprimento dos objetivos do Núcleo
18

de Prática Jurídica da UESB, para posterior aplicação dos mecanismos de melhoria encontrados
em uma mostra de indivíduos e posterior apresentação dos resultados.

A presente pesquisa se orienta a partir de uma concepção reivindicatória/participatória,


ou seja, contém uma agenda de ação para a reforma que intenciona a mudança e melhoria.
Trata-se, ainda, de estudo de caso consistente no levantamento de dados objetivando a análise
do princípio da eficiência no Serviço de Assistência Jurídica da UESB. Foi utilizada a estratégia
transformativa, com enfoque teórico no princípio da eficiência a partir da estruturação para
tópicos de interesse e utilização de diferentes métodos para a coleta de dados necessários para
a confirmação da hipótese e consequente implementação das mudanças e melhorias resultantes
do presente estudo.

Considerando que o problema de pesquisa (eficiência do Núcleo de Prática Jurídica da


UESB) depende tanto da identificação de fatores que influenciam o resultado quanto do
reconhecimento de variáveis importantes a serem analisadas, posto que desconhecidas, a
abordagem mista torna-se a mais adequada. Deste modo, enquanto pesquisadora, realizei uma
exploração geral a fim de identificar quais variáveis estudar. Em razão da grande quantidade de
alunos matriculados na disciplina e impossibilidade de acompanhamento de todos eles optou-
se por limitar a pesquisa a uma amostra de indivíduos.

A formação do corpus se desenvolveu em duas etapas: a primeira com o levantamento


de dados através do controle interno, consistente na análise documental de processos e registros,
e do controle externo, consistente na aplicação de pesquisas de satisfação realizadas por
questionários semiestruturados, além da observação participante.

Na segunda etapa dos resultados da pesquisa, os dados levantados foram analisados


segundo categorias analíticas para definir se o Serviço de Assistência Jurídica da UESB é
eficiente no seu duplo objetivo, já mencionado no tópico 1.1 do presente capítulo.

Desse modo, para se mensurar o grau de eficiência do Núcleo de Prática Jurídica da


UESB elencamos, a partir dos objetivos específicos deste trabalho, as seguintes categorias
analíticas: a) quanto ao ensino: 1) capacidade de atendimento às normas (regulamento); 2)
fiscalização e avaliação; 3) Menor custo (tempo) versus benefício (aprendizado) e; b) quanto
ao serviço de assistência jurídica, destacamos: 1) atendimento às normas (regulamento); 2)
fiscalização e avaliação de resultados; 3) Menor custo (tempo) versus benefício (resolução das
demandas).
19

1.2.2 População e amostra

O público-alvo da pesquisa são, diretamente, os discentes das disciplinas de SAJU e os


assistidos do Núcleo e, indiretamente, os professores e demais servidores que ali laboram, sendo
realizada in loco, no Núcleo de Prática Jurídica da UESB, localizado na Rua Genésio Porto, n.
760, Bairro Recreio, Vitória da Conquista/BA.

Em se tratando de pesquisa que se inicia através de exploração geral para levantamento


de variáveis, a estrutura do Núcleo, bem como a atuação de todos os sujeitos que compõem o
serviço, integram a amostra em um primeiro momento.

Em um segundo momento, a amostra é composta por 69 (sessenta e nove) pastas de


arquivos de processos e 198 (cento e noventa e oito) pastas de arquivos provisórios1, além de
14 (catorze) assistidos e 29 (vinte e nove) estagiários que foram submetidos a uma pesquisa de
satisfação.

1.2.3 Instrumentos de coleta

Inicialmente, a pesquisa de campo ocorreu por meio da análise das pastas dos
processos ativos de assistidos com a letra inicial “A” acompanhados pelo Núcleo de Prática
Jurídica da UESB até junho de 2019, bem como de todas as pastas provisórias até dezembro de
2019.

Posteriormente, a coleta dos dados foi realizada por meio de questionário criado na
plataforma Google Forms, na qual se respondeu, no caso dos processos ativos, aos campos: a)
número da pasta; b) nome e telefone do assistido; c) data do atendimento; d) número do
processo, tipo de ação e vara; e) data do último movimento processual e da última atualização
da pasta; e) se a pasta está devidamente atualizada; f) se houve tentativa de acordo; g) relatório
do processo; e h) diligência necessária.

No caso das pastas provisórias, nas quais só houve o atendimento inicial mas não foi
ajuizada a ação correspondente, foram respondidos os quesitos “a”, “b”, “c”, “d”, além de: e)
renda familiar declarada; f) bairro em que reside o assistido; g) informação de última tentativa

1
As pastas denominadas “Pastas de Processos” são aquelas nas quais o NPJ já atuou judicialmente e as provisórias
são aquelas nas quais só houve o atendimento inicial.
20

de contato; e h) orientação necessária, havendo nesse campo as opções “arquivar”,


“aguardar/contatar assistidos”, “ajuizar ação”, “arquivamento em potencial” e “cadastrar como
processo”.

Além disso, assistidos e estagiários foram submetidos a pesquisa de satisfação


realizada também por meio da ferramenta “Formulários Google”, respondendo, no primeiro
caso, às seguintes perguntas: a) “como você classifica o atendimento do Núcleo?”, havendo
como alternativas as opções “excelente”, “bom”, “regular”, “ruim”, “péssimo”, “não desejo
opinar”; b) “você indicaria o atendimento do Núcleo para outra pessoa?”, havendo como
alternativas as opções “sim”, “não”, “talvez”, “não desejo opinar”; e c) “você teria alguma
sugestão para aperfeiçoar o serviço?”, com o campo “não” e um campo aberto para respostas
em caso positivo.

No mesmo sentido, os estagiários submetidos ao questionário responderam as


seguintes questões: a) você tem alguma sugestão para aprimorar o aprendizado no SAJU?”,
com o campo “não” e um campo aberto para respostas em caso positivo; b) algo te incomodou
no SAJU? se sim, o que?”, com o campo “não” e um campo aberto para respostas em caso
positivo; c) atualmente você se encontra matriculado em qual SAJU?”, com as opções “I”, “II”,
“III”, “IV”, e “nenhum”; d) “como você classificaria o seu aprendizado na prática processual
nesse semestre?”, entre “excelente”, “bom”, “regular”, “ruim”, “péssimo” e “não estou
matriculado no SAJU nesse semestre”; e) “como você classificaria o seu aprendizado na prática
processual no geral?” entre “excelente”, “bom”, “regular”, “ruim”, “péssimo” e “não estou
matriculado no SAJU nesse semestre”; e f) “justifique a sua resposta anterior” com o campo
“não estou matriculado no SAJU nesse semestre” e um campo aberto para respostas.

1.2.4 Tratamento dos dados

Na análise dos resultados foram utilizados tanto métodos predeterminados quanto


emergentes, ou seja, questionários fechados e perguntas abertas, dados de desempenho e de
observação, interpretação estatística de temas e padrões na investigação da aplicação do
princípio da eficiência do Núcleo de Prática Jurídica da UESB.

A investigação da aplicação ocorreu tanto sob a perspectiva do assistido, o que reflete


na garantia do acesso à Justiça por pessoas hipossuficientes a partir do oferecimento de um
21

serviço de qualidade, quanto sob a perspectiva do discente, em garantir o cumprimento do que


dispõem as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Direito ora vigentes.

1.3 Estrutura da Monografia

A presente monografia é organizada em cinco capítulos a iniciar pela introdução, na


qual se apresentou o tema, bem como a relevância do seu estudo, os objetivos e problema de
pesquisa e a hipótese suscitada, além dos recursos metodológicos utilizados na sua construção.

O segundo capítulo, intitulado O Núcleo de Prática Jurídica como fundamento


curricular na graduação em direito, é composto pelo estudo da legislação a respeito do tema,
com a construção de uma retrospectiva histórico-legislativa que permite visualizar a evolução
do papel dos Núcleos na formação do graduando em Bacharelado de Direito, além de fixar
requisitos mínimos de sua existência e, assim, ter um referencial da adequada estruturação e
atuação. Ademais, se estudam neste capítulo o projeto pedagógico do curso de Direito da UESB
de 2011, que contém o Regulamento de Estágios a que se submete o SAJU, bem como o projeto
proposto em 2018. Ainda, se explana, brevemente, a atuação e existência do Núcleo em
confronto com o disposto nestas normas.

No terceiro capítulo, sob o título O princípio da eficiência, se estuda brevemente os


princípios constitucionais regentes da atuação da Administração Pública com enfoque para o
princípio da eficiência contextualizando a sua inserção no texto constitucional. Nesse sentido,
estudam-se também o sistema de gestão e indicadores de desempenho enquanto instrumentos
utilizados para a aferição da aplicação do mencionado princípio. Neste capítulo também é feito
um paralelo entre o princípio da eficiência e o NPJ ora estudado, afim de estabelecer as
categorias analíticas a que estarão submetidas a construção do presente trabalho.

O quarto capítulo, intitulado Dos resultados da pesquisa, é destinado à apresentação


dos resultados obtidos na segunda etapa da pesquisa, com apresentação, ao final, de quadro
sintético e discussão empírica dos resultados.

Nas Considerações Finais, presentes no capítulo cinco, é revisitada a justificativa do


presente trabalho, além de esclarecido se os objetivos, geral e específicos, foram atendidos e se
22

a hipótese foi confirmada. Por fim, são apresentadas as principais limitações da pesquisa e as
recomendações e sugestões envolvendo o problema em estudo.
23

2 O NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COMO FUNDAMENTO CURRICULAR NA


GRADUAÇÃO EM DIREITO

Os Núcleos de Prática Jurídica (NPJ) são estruturas criadas para a execução do estágio
supervisionado do curso de Bacharelado em Direito, obrigatório na grade curricular. A Lei
8.906/94, que dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB), previa que uma série de questões seria disciplinada por Regulamento Geral. Dentre os
itens disciplinados por regulamento encontra-se a criação e funcionamento dos Núcleos, em
caráter facultativo2, conforme redação do artigo 27, §1º.

A facultatividade dos NPJs foi alterada pela Portaria nº 1.886 de 30 de dezembro de


1994, que fixa as diretrizes curriculares e o conteúdo mínimo do curso jurídico, emitida pelo
Ministério da Educação e do Desporto. Assim, o estágio supervisionado passou a ser cobrado
em caráter obrigatório, devendo ser realizado em núcleo de prática coordenado por professores
do curso e formatado com “instalações adequadas para treinamento das atividades de advocacia,
magistratura, Ministério Público, demais profissões jurídicas e para atendimento ao público”3,
em conformidade com o caput do artigo 10 desta portaria e seu parágrafo primeiro.

O artigo 10, §2º da portaria também previu a possibilidade de “convênios com a


Defensoria Pública, outras entidades públicas judiciárias, empresariais, comunitárias e
sindicais”4 que permitissem a participação dos discentes “na prestação de serviços jurídicos e
em assistência jurídica, ou em juizados especiais que viessem a ser instalados em dependência
da própria instituição”5.

Nesse sentido, o art. 11 da portaria em comento restringiu as atividades do estágio


supervisionado, às estritamente práticas, e elencou diversos exemplos de atuação, como redação
de peças processuais, atuação em audiências, execução de técnicas de conciliação, etc,

2
BRASIL, Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia
e da OAB. Dispõe sobre o Regulamento Geral previsto na Lei nº 8.906, de 04 de julho de 1994. Sala das Sessões,
Brasília, 16 de outubro e 6 de novembro de 1994. Disponível em
<https://www.oab.org.br/content/pdf/legislacaooab/regulamentogeral.pdf>. Acesso em: 22 dez. 2019.
3
BRASIL. Ministro da Educação e do Desporto. Portaria nº 1.886. Fixa as diretrizes curriculares e o conteúdo
mínimo do curso jurídico. Murílio de Avellar Hingel. (30 de dez de 1994). Disponível em
<http://www.zumbidospalmares.edu.br/pdf/legislacao-ensino-juridico.pdf>. Acesso em: 06 jan. 2020.
4
Ibidem.
5
Ibidem.
24

indicando que as atividades deveriam ser executadas “sob o controle, orientação e avaliação do
núcleo de prática jurídica”6.

Além da resolução esmiuçada, importa apontar a Lei das Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996), que em seu inciso II do art. 43 estabelece
enquanto uma das finalidades da educação superior a formação de “diplomados nas diferentes
áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no
desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua” 7.

Sobre os estágios, há de se falar ainda, a respeito do Parecer CNE/CES n° 776, de 3


dezembro de 1997, que dispõe sobre a orientação para as diretrizes curriculares dos cursos de
graduação. Este Parecer salientava que a figura do currículo mínimo teve como objetivos
iniciais “garantir qualidade e uniformidade mínimas aos cursos que conduziam ao diploma
profissional”8, assegurando a “flexibilidade e a qualidade de formação oferecida aos
estudantes”9, e com observância, dentre outros princípios, àquele pertinente ao fortalecimento
da articulação da teoria com a prática, valorizando a pesquisa individual e coletiva, assim
como os estágios e a participação em atividades de extensão.

A Resolução 09/2004, emitida pela Câmara de Educação Superior do Conselho


Nacional de Educação (CES/CNE- MEC), instituiu as Diretrizes curriculares do curso de
graduação em Direito e, apesar de revogar a Portaria 1.866/94, no inciso IX, §1º do artigos 2º,
e §1º do artigo 7º reforçou o caráter impositivo dos Núcleos de Prática Jurídica 10, expressando
quão indispensável é este recurso para o ensino do Direito.

Esta resolução, por sua vez, foi revogada pela recente Resolução 05/2018 que, no que
tange a atuação dos Núcleos de Prática, revigorou a sua importância ressaltando a necessidade

6
Ibidem.
7
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, 20 de dezembro de 1996.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 20 jan. 2020.
8
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE nº 776/97. Orienta para as diretrizes curriculares dos
cursos de graduação. Brasília-DF, Sala das Sessões, 03 de dezembro de 1997. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf_legislacao/superior/legisla_superior_parecer77697.pdf>. Acesso
em: 14 jan. 2020.
9
Ibidem.
10
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação Câmara de Educação Superior. Resolução
CNE/CES n° 9. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Direito e dá outras
providências. Brasília, 29 de setembro de 2004. Disponível em: <
http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:FwAwmhHu6NMJ:portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/
rces09_04.pdf+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 06 fev. 2020.
25

de harmonizar teoria com a prática. Foi mantida parcialmente a redação do antigo inciso IX,
§1º, do art. 2º da resolução revogada, atual inciso X, §1º, do art. 2º, que estabelece a necessidade
de elaboração de um projeto pedagógico para a organização de Cursos de Graduação em Direito
por instituição de ensino superior, devendo este abranger, dentre outros quesitos, a concepção
e composição das atividades de prática jurídica “suas diferentes formas e condições de
realização, bem como a forma de implantação e a estrutura do Núcleo de Prática Jurídica”11,
com alteração da expressão “estágio curricular”, que passou a ser “prática jurídica”.

Desconsideradas alterações estruturais e terminológicas, foi mantido entendimento


anteriormente previsto na resolução revogada, qual seja, a previsão de que a prática é
“componente curricular obrigatório, indispensável à consolidação dos desempenhos
profissionais desejados, inerentes ao perfil do formando”12, conforme estabelecido no caput do
artigo 6º da Resolução 05/2018. Desse modo, extrai-se que o objetivo geral dos Núcleos de
Prática Jurídica, cuja existência é obrigatória (art. 6º, §1º da resolução 05/2018), é o de
formação do graduando em Direito, sendo que o §2º, do mesmo artigo, prevê que a estruturação
e operacionalização do estágio e do Núcleo de Prática Jurídica deverão ser definidos por
regulamentação própria de cada instituição13.

Nesse sentido, a finalidade específica dos Núcleos, se considerado o objetivo geral, é


determinada pelo Projeto Pedagógico do Curso de cada instituição de ensino, alinhada ao perfil
profissiográfico e ao regulamento nele constantes.

Vale nota o fato de ser possível a reprogramação/reorientação das atividades de prática


segundo os resultados apresentados pelo docente até a sua conclusão, devendo ser resguardados
“como padrão de qualidade, os domínios indispensáveis ao exercício das diversas carreiras
contempladas pela formação jurídica”14. É o que dispõe a regulamentação do Núcleo de
Prática Jurídica, vide art. 6º, §4º do diploma legal em comento, havendo de se considerar,
ainda, que as novas diretrizes do ensino privilegiam o domínio das novas tecnologias, a atuação
extrajudicial e, como já mencionado, a harmonização entre teoria e prática.

11
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação Câmara de Educação Superior. Resolução
CNE/CES n° 5. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Direito e dá outras
providências. Brasília, 18 de dezembro de 2018. Disponível em: <
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=104111-rces005-
18&category_slug=dezembro-2018-pdf&Itemid=30192>. Acesso em: 25 mar. 2020
12
Ibidem.
13
Ibidem.
14
Ibidem.
26

A resolução do Ministério da Educação prevê, também, não sendo esta uma novidade,
a possibilidade de que a prática seja exercida fora da Instituição de Ensino, desde que
coordenada pelo NPJ, nos moldes do art. 6º, §3º caput e incisos I, II e III.15

É notório que o Curso de Direito, apesar da densidade da carga dogmática, tem uma
finalidade prática, qual seja, a advocacia. Nesse sentido, o ambiente dos NPJs é essencial para
aliar a teoria ao empirismo. É a oportunidade ideal para aplicar os conhecimentos adquiridos
em sala de aula, o que pode se dar pela tentativa extrajudicial de resolução do conflito e,
também, pela via judicial, através dos peticionamentos e acompanhamento dos atos processuais
e de audiências. Em ambos os casos, o atendimento inicial ao assistido já se configura enquanto
ensinamento importante, uma vez que é necessário saber o que perguntar ao assistido bem como
explicar-lhe acerca do que acontecerá dali em diante.

É evidente o caráter educativo dos Núcleos de Prática Jurídica, uma vez que a extensa
e repetitiva legislação a respeito reforça esta finalidade originária. Inclusive, em muitas
ocasiões, são nestes recintos que ocorre o contato inicial do discente com questões práticas
durante a graduação do Bacharel em Direito. Contudo, não é tão evidente o caráter social dos
Núcleos que oferecem atendimento ao público, uma vez que, apesar de os atendimentos
normalmente se direcionarem à população mais necessitada, não há norma geral que aponte o
público alvo do atendimento. Em verdade, as atividades sequer precisam ser reais, podendo ser
simuladas e sem este tipo de atendimento, o que varia conforme o regulamento de cada
instituição.

Na UESB, por exemplo, o Regulamento de Estágios em seu §1º do art. 15 prevê que o
“atendimento no SAJU abrange as áreas cível, criminal e trabalhista e se destina à população
carente”. Isto, indiretamente, acaba por contribuir, também, para a formação dos discentes que,
a partir do acesso à realidade social vivenciada por pessoas hipossuficientes, agregam valores
humanos tanto à formação acadêmica quanto profissional do discente.

Assim, importa salientar, que o serviço oferecido pelos Núcleos de Prática Jurídica pode
ser o de assistência jurídica gratuita e, nesse sentido, é necessário relembrar que o acesso à
justiça é garantia constitucional àqueles dotados de insuficiência de recursos. Desse modo, o

15
Ibidem.
27

Núcleo de Prática Jurídica que presta este serviço pode ser entendido enquanto órgão revestido
de relevante função social na garantia do acesso à Justiça aos hipossuficientes.

2.1 Da assistência judiciária gratuita e o acesso à justiça

A esse respeito, é necessário distinguir os conceitos de “gratuidade de justiça”,


“assistência judiciária gratuita” e a “assistência jurídica integral e gratuita”: enquanto a
gratuidade da justiça se refere à isenção das custas do processo, taxas judiciárias e emolumentos
de cartório, que são os valores pagos ao Estado enquanto prestador da atividade jurisdicional,
a assistência judiciária gratuita pode ser entendida como o patrocínio de causa por um advogado
sem o pagamento de honorários pelo assistido 16.

A assistência jurídica integral e gratuita, por seu turno, é gênero do qual a espécie é a
assistência judiciária gratuita. Isto porque a assistência nesta modalidade abrange não somente
o patrocínio em processos, mas sim, para além da esfera judicial, o atendimento à demanda
apresentada da maneira mais célere e eficaz, garantindo, desse modo, o real acesso à justiça,
uma vez que a judicialização da demanda, em muitas ocasiões, não é a melhor opção, tendo em
vista a sobrecarga do Judiciário.

Ademais, não raras as oportunidades nas quais a população em geral involuntariamente


renuncia aos seus direitos simplesmente por desconhecê-los. Nesse sentido, tem-se nos Núcleos
de Prática Jurídica ferramentas/instrumentos democratizantes do ensino jurídico aptos a
orientar àqueles indivíduos que por eles sejam socorridos, sendo tal orientação abrangida pelo
conceito de assistência integral.

Os modelos de assistência jurídica reconhecidos são exercidos por meio de 1) advocacia


pro bono ou dativa; 2) Defensoria Pública; 3) convênios realizados entre a Defensoria e outras
instituições públicas e privadas; e 4) Faculdades e Universidades públicas ou privadas
conveniadas ou não à Defensoria Pública17, à exemplo da Universidade Estadual do Sudoeste

16
HUDLER, Daniel Jacomelli. A assistência jurídica em núcleos de prática jurídica e a possibilidade de
extensão de prerrogativas da defensoria pública. Imprenta: Belo Horizonte, Ciência Jurídica, 1987., pp.
Referência: v. 29, n. 185, p. 225–238, set/out 2015. Disponível em:
<https://www.lexml.gov.br/urn/urn:lex:br:rede.virtual.bibliotecas:artigo.revista:2015;1001069692>. Acesso em:
10 dez. 2019.
17
Ibidem.
28

da Bahia (SAJU), que atua autonomamente por meio de seu respectivo Núcleo de Prática
Jurídica.

No caso da advocacia pro bono, advogados particulares prestam assistência jurídica a


pessoas menos favorecidas, de forma voluntária, podendo ou não receber o pagamento de
honorários. Os advogados dativos, por sua vez, são aqueles nomeados pelo Judiciário para,
obrigatoriamente, fazê-lo, recebendo para tal uma contraprestação por parte do Estado.

Já a assistência exercida pela Defensoria Pública, órgão inserido pela Constituição da


República de 1988 (CR/88) com o objetivo finalístico de prestar assistência jurídica aos menos
favorecidos e erguida ao status de “instituição essencial à função jurisdicional do Estado”18,
conforme estabelecido no art. 134 do mesmo diploma, se dá através de servidores públicos
concursados que orientarão àqueles que comprovem insuficiência de recursos para custear este
serviço. Sobre este modelo estatal instituído no Brasil importa destacar o alto custo aos cofres
públicos para o aparelhamento da instituição e a insuficiência de recursos humanos que dificulta
o tratamento individualizado com maior qualidade, diante da desproporcional demanda.

A assistência pode se configurar também através de convênios entre a Defensoria


Pública e outras instituições, à exemplo do ocorrido entre a OAB do Estado de São Paulo e a
Defensoria Pública deste Estado. Antes da criação da defensoria de São Paulo, em 2005, a
assistência judiciária era fornecida por advogados dativos por meio de convênio entre a OAB-
SP e o Estado, que vigorou de 1997 até 2007, sendo que a partir deste ano o convênio passou a
ser entre a OAB e a Defensoria do Estado. 19

Um outro exemplo alude ao convênio realizado no ano de 2009 entre a Defensoria


Pública do Espírito Santo e o Tribunal de Justiça deste estado. No estado da Bahia, contudo,
não há notícias a respeito de convênios firmados entre Defensoria Pública e outras instituições,
apesar de a Seccional da OAB de Vitória da Conquista oferecer autonomamente atendimento
ao público hipossuficiente, sendo de conhecimento geral o encaminhamento informal de
demandas a esta assistência por parte da Defensoria do Estado nesta cidade.

18
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República,
[2016]. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 10 de
dez. de 2019.
19
Disponível em http://www.defensoria.ba.def.br/portal/index.php?site=1&modulo=eva_conteudo&co_cod=593
https://www.defensoria.sp.def.br/dpesp/Conteudos/Noticias/NoticiaMostra.aspx?idItem=2251&idModulo=5030.
Acesso em: 10 dez. 2019
29

Finalmente, há o exercício da assistência através de Faculdades públicas ou privadas


por meio dos seus respectivos Núcleos de Prática Jurídica, dado que as outras modalidades de
assistência não são capazes de suprir a colossal demanda.

Os Núcleos de Prática Jurídica de Faculdades ou Universidades podem ser conveniadas


com a Defensoria Pública sendo que, neste caso, há limitação da autonomia do Núcleo em
consonância com o contrato firmado entre essas instituições, uma vez que este somente atuará
segundo critérios e requisitos elencados pela Defensoria e mediante ofício de encaminhamento
desta instituição.

Neste sentido, cumpre mencionar que também não há notícias a respeito da existência
de convênios nesses moldes nas Universidades das quatro maiores cidades da Bahia e, assim
sendo, os usuários atendidos pelos Núcleos o são sem intermédio da Defensoria Pública que,
apenas informalmente, encaminha assistidos em alguns casos.

Conforme já mencionado, é indiscutível o caráter educativo dos Núcleos de Prática, que


aliado e como consequência do adequado ensino, viabiliza o acesso à justiça de
hipossuficientes, verdadeira missão constitucional, na qual estas células do Ensino Superior
figuram enquanto agentes ativos complementares às atividades desenvolvidas pela Defensoria
Pública. Até porque, um país que possui mais de 13 milhões de pessoas em situação de
miserabilidade, segundo os dados mais recentes do IBGE20, precisa da assistência dos NPJs
enquanto suporte para a Defensoria Pública, que não consegue atender a exorbitante demanda.

2.2 O projeto pedagógico do curso de direito da UESB e o regulamento do SAJU

O projeto pedagógico do curso de Direito da UESB, ainda vigente até hoje, data de 2011
e têm dentre as suas principais finalidades, em síntese, a formação acadêmica e sócio-cultural
de um profissional capacitado a atuar nas diversas áreas do direito de maneira atualizada, crítica,

20
IBGE – instituto brasileiro de geografia e estatística. Síntese de indicadores sociais: uma análise das
condições de vida da população brasileira: 2019 / IBGE, Coordenação de População e Indicadores Sociais. -
Rio de Janeiro: IBGE, 2019. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-
catalogo?view=detalhes&id=2101678>. Acesso em: 09 fev 2020.
30

humanizada, ética, interdisciplinar e criativamente resolutiva, com a previsão, inclusive, de


atuação voltada para o exercício da cidadania.21

A respeito da infraestrutura de estágio de estudantes de direito voltados à garantir esta


formação, foram elencadas no projeto as seguintes possibilidades: escritórios de Advocacia
existentes dotados de requisitos para absorver estagiários; Prefeituras Municipais e Câmaras de
Vereadores mediante convênio absorvem estudantes das últimas séries do curso; Serviço de
Assistência Judiciária da Ordem dos Advogados (diversas subseções) mantém estrutura para
estágio; Ministério Público, Defensorias Públicas trabalham com estagiários; convênio
estabelecendo estágio junto aos juizados especiais, justiça federal e do trabalho; adoção do
sistema de escritório modelo na Escola de Direito (Serviço de Assistência Jurídica), com
estagiários dirigidos e orientados por professores.

Importa apontar que, apesar de mencionada a existência de requisitos para a absorção


de estagiários, estes não são estabelecidos ou elencados no projeto pedagógico.

Consta do Projeto Pedagógico do curso de Direito da UESB que cada turma de aulas
teóricas é composta por quarenta alunos, sendo que nas atividades práticas, as turmas são
subdivididas, segundo os critérios definidos no Regulamento do Núcleo de Prática Jurídica,
contando o Estágio Supervisionado com carga horária de 300 horas e dez créditos. Nesse
sentido, consta do mencionado regulamento, no seu art. 15, §2º, que para fins de atendimento
no SAJU os alunos são divididos em no mínimo 3 e no máximo 5 estudantes. O regulamento
define, ainda, no §1º do mesmo artigo, que o atendimento no SAJU abrange as áreas cível,
criminal e trabalhista e se destina à população carente22.

Importa mencionar que o estágio supervisionado, tal como consta do projeto pedagógico
aprovado em 2011, inclui não somente as atividades exercidas no NPJ, mas também as visitas
orientadas e as atividades simuladas referentes ao laboratório de prática jurídica, conforme art.
12, caput, do Regulamento de Estágios23.

21
UESB. Regulamento de Estágios. Projeto Pedagógico do Curso de Direito. Vitória da Conquista: ano 2011.
Disponível em: <
https://drive.google.com/file/d/1bYt01bfTSPIjhWigSZ3CHvOmOj9W4RX4/view?usp=sharing>.
22
UESB. Regulamento de Estágios. Projeto Pedagógico do Curso de Direito. Vitória da Conquista: ano 2011.
Anexo A.
23
Ibibem.
31

Nesse sentido, se as atividades fossem coordenadas em unidade de esforços e com um


objetivo em comum, o ganho em aprendizado aos discentes seria imenso, pois conseguiriam
assimilar o ensino jurídico, com coerência e sob todos os ângulos: a teoria, no laboratório; a
prática jurídica de atendimento e acompanhamento processual no NPJ; e vivenciar as estruturas
dos órgãos do Judiciário a partir das visitas orientadas, atendendo assim, justamente o que
pregam as novas diretrizes do ensino jurídico constantes da Resolução 05/2018 CNE/CES.

Em 2018 foi apresentada uma nova proposta de projeto pedagógico para o curso de
Direito da UESB24, até então não aprovada, e no que tange o tema ora abordado não houve
muitas alterações, apenas algumas supressões. A finalidade do curso, nesta proposta,
permaneceu a mesma, destacando-se apenas o alargamento da abrangência em razão do
considerável aumento do campo de atuação da advocacia pública, por meio da criação de sedes
da Advocacia Geral da União e Defensoria Pública da União, do acréscimo de mais uma Vara
Federal da Subseção Judiciária de Vitória da Conquista, e da inauguração do novo Fórum
Sérgio Murilo Nápoli Lamego25.

A respeito do perfil profissiográfico buscado pelo curso de bacharelado em Direito, não


houve alterações ou acréscimos além da menção do Parecer nº 193/2011 SEC/CEE, que aponta
o Curso de Bacharel em Direito da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia enquanto um
Curso de boa qualidade, portanto, favorável à Renovação de Reconhecimento do Curso,
ressalvadas algumas recomendações dentre as quais a Instalação de espaços individuais para
atendimento nos dois Núcleos de Prática Jurídica; contratações dos professores substitutos e a
subsequente abertura de Concurso para Professores Efetivos26.

Além disso, consta da proposta de projeto a estrutura e composição do Núcleo de Prática


Jurídica, denominado SAJU, sem, contudo, indicações ou especificações a respeito da
(in)suficiência de recursos ou da (falta de) qualidade destes e o que poderia ser feito para suprir
tais defeitos. Em verdade, consta uma informação inverídica, pois à época da redação desta
proposta, inexistia sala de atendimento equipada com computadores como indicado no texto27.

24
UESB. Renovação de reconhecimento do curso de graduação em Direito. Vitória da Conquista: ano 2018.
Disponível em < https://drive.google.com/file/d/1ewU4VPu25aOTbIhJwwbqEDrxNhKQdlsF/view?usp=sharing
25
Ibidem.
26
Ibidem.
27
Ibidem.
32

No que tange ao regulamento do SAJU, na proposta de projeto pedagógico de 2018, vê-


se poucas alterações, dentre elas, cite-se o art. 11 da referida proposta, o qual prevê a exclusão,
da prática jurídica nos níveis de visitas orientadas e atividades simuladas das práticas
profissionais, remanescendo somente as atividades de atendimento desenvolvidas pelo SAJU.
Por consequência, foi suprimido o inciso I do art. 12, relacionado a função dos estagiários,
excluindo a realização destas atividades - de visitas e simuladas -, e ainda a integralidade do
art. 13 e do caput do art.14 que também se referem a essas atividades, sendo os §§1º e 2º deste
artigo, que se referem às atividades simuladas, realocados enquanto atividade a ser exercida no
SAJU, o que, a priori, não implica em ganhos para o discente do curso de Direito da UESB28.

2.3. Do serviço de prática jurídica da UESB

O Núcleo de Prática Jurídica da Universidade Estadual da Bahia, conhecido como SAJU


(Serviço de Assistência Judiciária), foi fundado em 2005 com a finalidade de desenvolver
atividade acadêmica de extensão voltada para o aperfeiçoamento da prática do Direito por parte
dos estudantes. Segundo a própria plataforma do serviço no endereço eletrônico da UESB29, a
proposta é oferecer o serviço gratuito de advocacia para aqueles que não têm condições de
contratar um advogado, sendo, desta forma, um elo entre a população carente e o Judiciário.

No curso de Direito da UESB, a partir do sétimo semestre até o décimo, os alunos


começam a estagiar realizando, na sede do NPJ, atendimentos às pessoas hipossuficientes que
necessitem de assistência jurídica.

Os assistidos são recebidos pelo recepcionista que os encaminha para atendimento com
um dos estagiários. No início da presente pesquisa, as informações relatadas pelo assistido eram
transcritas em uma ficha de atendimento impressa e, do mesmo modo, eram preenchidas
manualmente a procuração e a declaração de pobreza do assistido, conforme Anexos B, C e D.

Importa apontar que na ficha mencionada, inexistia espaço designado para a descrição
dos fatos relatados pela parte ou para a descrição dos contatos com ela feitos posteriormente ao
atendimento inicial. Concluído o atendimento, as informações e documentos fornecidos eram

28
UESB. Regulamento de Estágios. Renovação de reconhecimento do curso de graduação em Direito. Vitória da
Conquista: ano 2018. Anexo A.
29
Disponível em: <http://www2.uesb.br/departamentos/dcsa/nucleos-de-estudo/npj-nucleo-de-praticas-
juridicas/>. Acesso em: 21 nov 2019.
33

transformados em pastas individuais, que contavam com uma folha para que fosse relatado o
acompanhamento processual, mas que na prática, era utilizada com outras propostas, como, por
vezes, relatar os contatos feitos com o assistido.

Passada a fase de atendimento, havendo interesse, há a tentativa de solução via mediação


ou conciliação para dar celeridade a demanda no caso de se vislumbrar um acordo, já que a
mera homologação deste ocorre de maneira muito mais rápida do que o trâmite processual. Não
havendo acordo ou tentativa, o NPJ ajuizará a ação correspondente em favor daquele que
buscou o serviço, a ser acompanhada pelo estagiário que o atendeu e pelo professor a ele
vinculado.

O estagiário fica, então, responsável por acompanhar e relatar o andamento processual


ao assistido, contatá-lo para promover diligências necessárias e para informá-lo do que couber,
incumbindo a ele, também, acompanhar as audiências e peticionar quando necessário. Na
medida em que os discentes se graduam ou por qualquer outro motivo deixam de cursar as
disciplinas do SAJU, as pastas dos assistidos são redistribuídas para novos estagiários, os quais
passam a exercer as funções ora mencionadas.

Consta do regulamento que o atendimento no SAJU abrange as áreas cível, criminal e


trabalhista, mas na realidade os atendimentos se limitam à esfera cível, majoritariamente, direito
de família. Verifica-se essa situação, com base em dados colhidos a respeito das pastas
provisórias, – são aquelas em que não houve ajuizamento ou manifestação nos autos pelo NPJ
–, uma média de 81% das demandas atendidas pelo núcleo versa sobre direito de família.

No que tange à esfera trabalhista, há uma vedação ao NPJ de atuação nesta área
orientada pela OAB, e no que tange à esfera criminal, justifica-se em resguardar os discentes
de riscos.

Há de se questionar, contudo, a legitimidade da Ordem de Advogados para a orientação


a respeito da limitação ao atendimento trabalhista, tendo em vista que o Conselho Nacional de
Educação aponta para incabíveis interferências de quaisquer entes profissionais no que tange
ao conteúdo constante do projeto pedagógico de cada instituição.

É o que se extrai do Parecer nº 45/2006 do CNE/CES, que conclui pela “total


ilegalidade da interferência dos conselhos de classe no ambiente acadêmico, no que respeita
34

à emissão de normas, ao reconhecimento de certificados ou à fiscalização de cursos,”30 devendo


a atuação destas entidades limitar-se à “fiscalização e o acompanhamento do exercício
profissional que se inicia após a colação de grau e a diplomação ou certificação pós-
graduada de competência e habilitação”31, e, portanto, “após a formação acadêmica – e não
antes ou durante”32

No mesmo sentido, tem-se o Parecer 29/2007 do CNE/CES, que reafirma o


entendimento concluindo que os “Conselhos Profissionais fiscalizam e acompanham o
exercício profissional que se inicia após a formação acadêmica, não lhes cabendo qualquer
ingerência sobre os cursos regulados pelo sistema de ensino do País”33. Assim, não há de
prosperar o entendimento de que a reserva mercadológica se sobrepõe à adequada formação
jurídica dos futuros profissionais de direito.

Importa apontar, ainda, que demandas de Juizados Especiais também não são atendidas
pelo NPJ, devido à dificuldade do acompanhamento processual, posto que as movimentações
não são publicadas no Diário Oficial, sendo os advogados intimados dos atos processuais
individualmente via email, o que dificulta excessivamente o labor dos docentes, pois os
servidores da Secretaria não têm acesso a tais intimações.

No entanto, é impossível não notar, sendo o NPJ um ambiente educativo que se propõe
a garantir a formação do discente de direito sob as diversas facetas que este possui, que a
limitação dos atendimentos à área cível garante apenas um aprendizado prático nesta área e
deficiência nas demais.

30
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CES nº 45/2006. Consulta sobre delimitação da
Competência Funcional dos Conselhos de Classe e solicitação de declaração oficial em relação às normas emitidas
ilegalmente pelo Conselho Federal de Odontologia para os cursos de Pós-Graduação Lato Sensu. Brasília-DF, Sala
das Sessões, em 21 de fevereiro de 2006. Disponível em <
http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/pces045_06.pdf>. Acesso em: 21 abr. 2020.
31
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CES nº 45/2006. Consulta sobre delimitação da
Competência Funcional dos Conselhos de Classe e solicitação de declaração oficial em relação às normas emitidas
ilegalmente pelo Conselho Federal de Odontologia para os cursos de Pós-Graduação Lato Sensu. Brasília-DF, Sala
das Sessões, em 21 de fevereiro de 2006. Disponível em
<http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/pces045_06.pdf>. Acesso em: 19 abr. 2020.
32
Ibidem.
33
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE nº 29/2007. Consulta relativa às Diretrizes
Curriculares Nacionais e à duração mínima e máxima dos cursos de graduação. Brasília-DF, Sala das Sessões, em
1º de fevereiro de 2007. Disponível em <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/pces029_07.pdf>. Acesso em:
19 abr. 2020.
35

O Regulamento de Estágios limita a cinco a quantidade de discentes por turma, o que se


justifica em razão das múltiplas atividades do docente no NPJ, tais como, acompanhamento dos
atendimentos ao público e das tentativas de conciliação realizadas, correção das peças
elaboradas e seu protocolo e, ainda, resolução de dúvidas.

Ocorre que, na prática, em razão da evidente necessidade de abertura de concursos


públicos para preenchimento de vagas de professores, conforme disposto na proposta do projeto
pedagógico de 2018, as turmas são compostas por sete, oito e as vezes até nove alunos, sendo
alguns dispensados da disciplina, ainda que desejem cursar, por inexistência de vagas.

No que tange à estrutura física do NPJ, no início da presente pesquisa, este contava com
uma sala de aula com oito computadores, local em que os alunos se dirigiam ao chegar nas
instalações do NPJ e ali permaneciam até serem encaminhados para atendimento em uma outra
sala sem nenhum computador.

Assim, no atendimento, os estagiários realizavam as perguntas que acreditavam ser


pertinentes aos assistidos, sem nenhum roteiro a eles disponibilizado, e diante de alguma dúvida
ou informação que não soubessem esclarecer pediam licença ao assistido e se deslocavam para
a sala de aula, onde ficavam os computadores e o professor responsável pela turma, para sanar
a questão.

Além disso, o NPJ possui duas salas para conciliações, sendo que apenas uma delas é
composta por uma mesa grande e cadeiras, porém sem computador, e na outra sala há uma mesa
pequena aparelhada com um computador.

Para controle das demandas, as informações dos atendimentos e do acompanhamento


processual como um todo são inseridas em programa interno denominado “GAIA”. Importa
salientar que os idealizadores do programa já não trabalham mais na UESB e as ferramentas
são extremamente limitadas: não é possível, sequer, gerar relatório com base no tipo de processo
ou na data de atendimento. Some-se a isso, o fato de os computadores não contarem com
compartilhamento interno de dados, o que limita o acesso do estagiário aos arquivos salvos no
aparelho que estiver usando. Ou seja, a peça processual produzida em um aparelho não é
aproveitada pelo estagiário que estiver utilizando outro computador. Vale nota o fato de que
alguns computadores não contam sequer com o sistema Windows atualizado.
36

Considerando que são quatro disciplinas de SAJU, uma para cada semestre, isto é, do
sétimo ao décimo, o método avaliativo se dá por meio da confecção de um relatório de
desempenho a ser apresentado ao professor orientador no final do semestre. Nesse sentido,
observa-se que o relatório, a ser feito pelos discentes para fins de avaliação de disciplina prática,
era de modelo livre, ou seja, não havia um padrão a se seguir para tal avaliação. Patente,
portanto, a inexistência de clareza no que tange ao método avaliativo usado para apreciar os
resultados teórico-práticos gradualmente revelados pelo aluno para verificar a necessidade de
reprogramação/reorientação das atividades de Estágio conforme previsto na norma.
37

3 O PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA

A Administração Pública é composta pelo conjunto de órgãos e entidades que a integram


com as finalidades de prestação de serviços públicos, do exercício da polícia administrativa e
de atividades de fomento. Nessa esteira, Di Pietro define o serviço público como sendo
“toda atividade material que a lei atribui ao Estado para que a exerça diretamente ou por meio
de seus delegados, com o objetivo de satisfazer concretamente às necessidades coletivas, sob
regime jurídico total ou parcialmente público"34, tal atuação deve ocorrer com a observância
das leis e dos princípios a ela inerentes.

Os princípios são a base axiológica do conhecimento jurídico e, conforme Carmem


Lúcia Antunes Rocha apud Rosimeire Leite, neles repousam “a essência de uma ordem, seus
parâmetros fundamentais e direcionadores do sistema ordenado”35. Desse modo, os princípios
são um sistema de ideias que têm como funções fundamentar o ordenamento jurídico, auxiliar
a interpretação de normas e integrar o direito preenchendo “lacunas” deixadas pela atividade
legislativa.

Em que pese a sua origem jusnaturalista, passando pela normatização e inserção em


Códigos no positivismo, hoje os princípios norteadores da atividade administrativa têm status
constitucional e integram, seja implícita ou explicitamente, a Carta Magna, com destaque para
os previstos no art. 37, caput, de observância obrigatória, quais sejam: legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

Existe uma relação intrínseca entre os princípios e, por este motivo, é importante defini-
los ainda que de modo resumido, a iniciar pelo princípio da legalidade, que segundo Leite,
configura-se como base matriz dos demais princípios, podendo ser compreendido como a
imposição a atuação estatal restrita ao que é previsto expressamente na lei, não havendo que se
falar em autonomia da vontade na esfera pública36.

Por seu turno, o princípio da impessoalidade, sinônimo de princípio da finalidade,


conforme Meireles apud Leite, obriga o administrador público a praticar atos nos limites do seu

34
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 26ª Edição, São Paulo: Editora Atlas. 2013/
35
LEITE, Rosimeire Ventura. O princípio da eficiência na Administração Pública. Revista de Direito
Administrativo, Rio de Janeiro, v. 226, p. 251-264, out. 2001. ISSN 2238-5177.
36
Ibidem.
38

fim legal, sendo vedada atuação desprovida de interesse público ou de conveniência para a
Administração e que atenda meramente a interesses privados37.

Ainda conforme Leite, o princípio da moralidade indica o elemento ético que deve
existir na conduta do administrador, conforme os valores prevalentes na sociedade de cada
época, enquanto o princípio da publicidade pressupõe a ampla divulgação dos atos que
produzirão efeitos sobre terceiros, viabilizando o controle social, sendo este requisito de
eficácia do ato38. A seguir passaremos a estudar o princípio da eficiência.

Vale nota o fato de que o princípio da eficiência, foco do presente capítulo, foi inserido
no caput do artigo 37 pela Emenda Constitucional nº 19/1998, apesar de a maioria dos debates
doutrinários concluírem que já se tratava de um princípio presente implicitamente em outros
dispositivos, a título de exemplo citemos o art. 74, inciso II e seu parágrafo primeiro, ambos da
Constituição da República de 1988.

Referida Emenda foi aprovada no contexto da reforma administrativa e justificada pela


crise que sofria o Estado, inclusive no que tange ao serviço público, em razão do contexto
neoliberal que pleiteava a política de desestatização, bem como para atender aos anseios da
sociedade moderna que clamava pela redução dos gastos públicos, sendo, assim, o princípio da
eficiência foi inserido no texto constitucional com vistas a legitimar a atuação estatal.

A inserção do princípio da eficiência no caput do artigo 37 da CR/88 resulta da


implantação, a partir de 1995, do modelo de administração “gerencial” que substituiria, ainda
que parcialmente, a administração “burocrática” que tinha o foco essencialmente no princípio
da legalidade39. Tal modelo teria como referência a administração de empresas do setor privado
com a priorização dos resultados.

Nesse sentido, importa apontar, ainda, que a finalidade básica da Administração Pública
é a busca do bem comum, exercida através das atividades administrativa, legislativa e judiciária.
A primeira atividade engloba o governar, o gerir e o executar, sendo desempenhada, em regra,
pelo Executivo. Assim, a Emenda deu ênfase ao que era inerente à atividade administrativa,

37
Ibidem.
38
LEITE, Rosimeire Ventura. O princípio da eficiência na Administração Pública. Revista de Direito
Administrativo, Rio de Janeiro, v. 226, p. 251-264, out. 2001. ISSN 2238-5177.
39
ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado. 25ª edição. Editora
Gen: São Paulo, 2017.
39

uma vez que, considerada a finalidade a que está vinculada a Administração pressupõe-se que
esta deva ser eficiente.

Como mencionado, o princípio já tinha existência implícita através da previsão de


mecanismos de controle e avaliação, vejamos:

Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma integrada,


sistema de controle interno com a finalidade de:
I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual, a execução dos
programas de governo e dos orçamentos da União;
II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência, da
gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração
federal, bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado;
III - exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem como dos
direitos e haveres da União;
IV - apoiar o controle externo no exercício de sua missão institucional.
§ 1º Os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem conhecimento de qualquer
irregularidade ou ilegalidade, dela darão ciência ao Tribunal de Contas da União, sob
pena de responsabilidade solidária40.

Além disso, o Decreto Lei n. 200/67, que dispõe sobre a organização da Administração
Federal e estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa no Âmbito Federal, prevê a
avaliação de resultados da atuação do Poder Executivo e faz referências diretas à eficiência,
conforme salienta artigos do referido decreto, abaixo transcritos:

Art. 13 O contrôle das atividades da Administração Federal deverá exercer-se em


todos os níveis e em todos os órgãos, compreendendo, particularmente:
a) o contrôle, pela chefia competente, da execução dos programas e da observância
das normas que governam a atividade específica do órgão controlado;
b) o contrôle, pelos órgãos próprios de cada sistema, da observância das normas gerais
que regulam o exercício das atividades auxiliares;
c) o contrôle da aplicação dos dinheiros públicos e da guarda dos bens da União pelos
órgãos próprios do sistema de contabilidade e auditoria.
[...]
Art. 26. No que se refere à Administração Indireta, a supervisão ministerial visará a
assegurar, essencialmente:
[...]
III - A eficiência administrativa41.

40
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República,
[2016]. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 10
dez. 2019.
41
BRASIL. Decreto-lei nº 200 de 25 de fevereiro de 1967. Dispõe sôbre a organização da Administração Federal,
estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa e dá outras providências. Brasília, 25 de fevereiro de 1967.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0200.htm>. Acesso em: 02 mar. 2019.
40

Sobre os efeitos da Emenda Constitucional nº 19/1998 podemos destacar a concentração


no desempenho da Administração através da criação de novos mecanismos de fiscalização e de
controle dos resultados. Contudo, como bem abordado por Paulo Modesto, o administrador
nunca foi livre para ser ineficiente, visto que a ineficiência importa sempre em violação ou
descumprimento da lei, já que o conteúdo deste princípio é uma “decorrência necessária da
cláusula do Estado Social”42, pois o que justifica os recursos extraídos num Estado Democrático
Social Executor e Fomentador é justamente o êxito na busca pelo bem comum.

O princípio da legalidade dialoga diretamente com o princípio da eficiência na medida


que impera a aplicação das regras legais à atividade estatal com vistas à realização de objetivos
finalísticos. Assim, a junção destes princípios culmina no que a doutrina chama de legalidade
material, ou seja, a aplicação das regras contidas nas leis só se legitima enquanto constitui meio
adequado à realização dos seus objetivos, haja vista que a validade da norma está relacionada
com sua aptidão em atingir os propósitos para os quais foi criada.

Nesse sentido, a relação entre Estado e Administrados é de retroalimentação, uma vez


que os segundos conferem legitimidade a atuação do primeiro na medida que este atende aos
interesses sociais manifestos, em assim sendo, a atividade administrativa deve ser, – atendendo
ao princípio da eficiência –, imparcial, transparente, participativa, sem burocracias inúteis e
com redução de custos visando a melhor utilização dos recursos.

Segundo esse raciocínio, a eficiência na Administração Pública, conforme aduz


perfeitamente a professora Rosimeire Ventura Leite, “abrange o desempenho de um serviço
público em que o interesse coletivo prevaleça sobre a burocracia, visando-se sempre à busca da
celeridade, da economia de material e da obtenção dos melhores resultados”43.

É interessante ressaltar, ainda, duas características da eficiência: a instrumentalidade e


a pluridimensionalidade. A primeira indica que o princípio da eficiência não tem um valor em
si mesmo, não possuindo, deste modo, caráter absoluto, todavia, lança efeitos em quatro
dimensões, exercendo as seguintes funções: ordenadora, hermenêutica, limitativa e diretiva. A
segunda se refere ao fato que a eficiência não se ressume a uma relação quantitativa expressa
pela mera economia no uso dos recursos públicos, mas também a uma análise qualitativa a

42
MODESTO, Paulo. Notas para um debate sobre o princípio da eficiência. Revista do Serviço Público. Brasília,
v. 51, n. 2, p. p. 105-119, 24 fev. 2014.
43
LEITE, Rosimeire Ventura. O princípio da eficiência na Administração Pública. Revista de Direito
Administrativo, Rio de Janeiro, v. 226, p. 251-264, out. 2001.
41

respeito da racionalidade e otimização dos meios e recursos e a satisfatoriedade dos


resultados44.

Há de se considerar, por fim, que a efetivação do princípio da eficiência acarreta a


efetivação da cidadania lato sensu, que, por sua vez, é um dos fundamentos do Estado que deve
buscar, em todos os segmentos, moldar suas atividades para concretizá-la.

3.1 Sistema de gestão de processos

O modelo gerencial de administração, como já mencionado anteriormente, visa uma


aproximação com o modo de administrar das empresas privadas em busca da priorização dos
resultados. Segundo essa perspectiva, devemos abordar o sistema de gestão de processos ou
Business Process Management (BPM).

Sistema de planejamento e gestão pode ser entendido como a soma de procedimentos


técnicos realizados de forma sistemática, cíclica e repetitiva, que, segundo o Tribunal de Contas
da União se fundamenta em “princípios que objetivem a identificação e a prevenção de
problemas e o alcance da visão de longo prazo como estratégia para o desenvolvimento da
organização”45.

Assim, um sistema de planejamento e gestão deve abranger a definição de planos


estratégicos e de padrões de transparência, produtividade e qualidade no atendimento e na
prestação de serviços, além de ser amplamente disseminado, seja internamente, para que os
servidores estejam cientes dos processos internos, seja externamente para garantir o controle
social prescrito pelo princípio da eficiência.

Sobre o controle social, o princípio da eficiência faz concluir pela necessidade de


avaliações periódicas do grau de satisfação do cidadão, bem como a existência de mecanismos

44
MODESTO, Paulo Notas para um debate sobre o princípio da eficiência. Revista do Serviço Público, Brasília,
v. 51, n. 2, p. p. 105-119, 24 fev. 2014.
45
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Guia de Referência do Sistema de Planejamento e Gestão do
Tribunal de Contas da União – TCU. Brasília: TCU, SEPLAN, 2008. Disponível em: <
https://portal.tcu.gov.br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?fileId=8A8182A24F0A728E014F0ACD7CB21B66.>
. Acesso em: 20 mar. 2020.
42

para recebimento de reclamações ou sugestões. É o que se extrai do art. 37, §3º, caput e seus
incisos, todos da CR/88, senão vejamos:

Art. 37. [...]


§ 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na administração pública
direta e indireta, regulando especialmente: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1988).
I - as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos em geral, asseguradas a
manutenção de serviços de atendimento ao usuário e a avaliação periódica, externa e
interna, da qualidade dos serviços; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de
1998).
II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a informações sobre atos de
governo, observado o disposto no art. 5º, X e XXXIII; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998) (Vide Lei nº 12.527, de 2011).
III - a disciplina da representação contra o exercício negligente ou abusivo de cargo,
emprego ou função na administração pública. (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 19, de 1998)46.

A utilização de um sistema de gestão de processos pode ser dividida em duas etapas:


planejamento e controle. Nesse sentido, na primeira fase são definidos com clareza os objetivos
e os obstáculos e elaborado um plano para garantir que se atinjam os primeiros e sejam
superados os segundos. Na segunda etapa se impõe a criação de dispositivos de controle para
mensurar a melhoria dos processos internos e a repercussão com os atendidos.

É na fase de controle que são aferidos os resultados através de um sistema de


acompanhamento que pode ser entendido como:

“um processo no qual informações são tratadas e fornecidas de maneira periódica,


sistemática e permanente, com o intuito de integrar a atuação das várias unidades de
trabalho de uma organização em torno de objetivos comuns, comparando os
resultados alcançados com aqueles preestabelecidos na fase de planejamento”
(OLIVEIRA, 2008, pg. 64).

A partir das análises obtidas com o sistema de acompanhamento são adotados os


próximos passos, consistentes na manutenção ou alteração do planejamento inicial, para a
obtenção dos resultados pretendidos.

46
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República,
[2016]. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 10
dez. 2019.
43

Desse modo, se conclui que não há que se falar em princípio da eficiência desvinculada
da produtividade. Esta, por sua vez não pode sequer ser mensurada sem: 1) objetivo definido;
2) planejamento para alcançá-lo; 3) criação de dispositivos de controle a serem aplicados na
execução do planejamento; e 4) aferição dos resultados.

3.2 Indicadores de desempenho

Os indicadores de desempenho são “uma forma de representação quantificável que


compara um evento ou um fato a uma meta ou a um padrão preestabelecido”47 utilizados na
etapa de controle no sistema de gestão. São classificados em indicadores de processo e
indicadores de projeto.

Os indicadores de processo, também chamados de inputs, são designados para o


acompanhamento dos processos organizacionais internos fornecendo uma visão imediata de
controle através da identificação dos procedimentos com a finalidade de reforçar aqueles que
estão de acordo com os objetivos e ajustar/corrigir os desvios através da criação de diagnósticos
recorrentes, sendo subdivididos em indicadores de qualidade/eficácia, de
produtividade/eficiência e de capacidade48.

Os indicadores de qualidade/eficácia são obtidos a partir da visão do cliente/usuário do


serviço através de pesquisa de qualidade que mensure o grau de satisfação do cliente a partir de
uma amostra significativa do universo pesquisado49.

Os indicadores de produtividade/eficiência, por sua vez, indicam a visão interna do


processo evidenciando a relação custo-benefício, a fim de verificar o que pode ser melhorado
com a manutenção ou redução do custo a que está relacionado50. Tomando-se as atividades

47
OLIVEIRA, José Evandro do Nascimento. O sistema de avaliação de resultados organizacionais e o
princípio da eficiência no serviço público. 2009. 89 p. Trabalho final (especialização). Universidade do
Legislativo Brasileiro (Unilegis), Brasília, 2009.
48
OLIVEIRA, José Evandro do Nascimento. O sistema de avaliação de resultados organizacionais e o
princípio da eficiência no serviço público. 2009. 89 p. Trabalho final (especialização). Universidade do
Legislativo Brasileiro (Unilegis), Brasília, 2009.
49
Ibidem
50
SÃO PAULO. Ministério Público do Estado. Subprocuradoria-Geral de Justiça de Planejamento institucional.
Manual de indicadores de desempenho. 2017. Disponível em
<http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Centro_de_Gestao_Estrategica/ManualIndicadores.pdf> Acesso em:
21 abr. 2020.
44

desenvolvidas no NPJ da UESB citemos como exemplo de indicador de produtividade a


quantidade de pastas devidamente etiquetadas versus tempo despendido para fazê-lo.

Por fim, os indicadores de capacidade são usados “para aferir a capacidade de um


processo em produzir resultados durante determinado lapso temporal”51, citemos, a título de
ilustração, a capacidade de atendimentos em um mês de assistidos pelo SAJU.

Os indicadores de projeto, por sua vez, são utilizados para acompanhar a execução dos
projetos e seus resultados externos, sendo subdivididos em indicadores de efetividade/impacto
(outcome’s) e de atividades (output’s). Os primeiros ou outcome’s são utilizados para aferir
resultados de médio e longo prazo, após um período de execução, buscando avaliar o efeito
mediato da implementação do projeto, a título de exemplo, citemos o número de demandas
encerradas com mérito após dois anos pelo NPJ da UESB. Já os output’s são utilizados para
aferir resultados durante o período de execução, avaliando o efeito imediato, exemplificando
temos a aferição do número de demandas encerradas com mérito a cada semestre no Núcleo de
Prática Jurídica52.

Vale mencionar que existem características essenciais aos indicadores para que estes
sejam úteis na persecução aos resultados, dentre os quais destacam-se: a simplicidade
(facilidade de compreendê-los); a praticidade na operacionalização; rastreabilidade da origem
dos dados; e flexibilidade às mudanças.53 É necessário, ainda, que seja possível realizar uma
comparação sequencial dos dados coletados, limitados aos realmente relevantes, evitando o
excesso de informações.

3.3 O princípio da eficiência e o NPJ da UESB

Para se analisar a eficiência do Núcleo de Prática Jurídica da UESB há que se considerar


duas facetas complementares: 1) finalidade essencial – formação prática dos discentes em

51
OLIVEIRA, José Evandro do Nascimento. O sistema de avaliação de resultados organizacionais e o
princípio da eficiência no serviço público. 2009. 89 p. Trabalho final (especialização). Universidade do
Legislativo Brasileiro (Unilegis), Brasília, 2009.
52
Ibidem
53
SÃO PAULO. Ministério Público do Estado. Subprocuradoria-Geral de Justiça de Planejamento institucional.
Manual de indicadores de desempenho. 2017. Disponível em
<http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Centro_de_Gestao_Estrategica/ManualIndicadores.pdf> Acesso em:
21 abr. 2020.
45

Bacharelado de Direito; e 2) finalidade derivativa – serviço público de assistência jurídica


integral e gratuita, garantidor do direito constitucional de acesso à justiça.

Aludidas facetas se complementam, pois estão inseridas em um ciclo no qual a


qualidade do ensino afeta diretamente a qualidade do serviço que, se bem prestado, agrega
conhecimento prático à formação do discente, constituindo-se este em um profissional proativo
e criativo na resolução de demandas que futuros clientes por ventura lhe apresentem.

No que tange análise da eficiência do SAJU, e após discorrermos no tópico anterior


acerca de indicadores de desempenho, foi possível elencar categorias analíticas, considerando
suas finalidades. Quanto ao ensino temos: 1) capacidade de atendimento às normas
(regulamento); 2) fiscalização e avaliação; 3) Menor custo (tempo) versus benefício
(aprendizado). Quanto ao serviço de assistência jurídica, destacamos as seguintes categorias:
1) atendimento às normas (regulamento); 2) fiscalização e avaliação de resultados; 3) Menor
custo (tempo) versus benefício (resolução das demandas).

No que tange ao atendimento às normas, a sua inobservância gera reflexos tanto no


ensino quanto no serviço, uma vez que a restrição dos atendimentos à área cível, por exemplo,
contrária ao disposto no regulamento, traz prejuízos tanto ao aprendizado prático do discente,
que fica limitado, quanto ao serviço, pois o acesso à justiça fica restrito à demandas desta
categoria.

O mesmo ocorre com a quantidade de alunos em cada turma, vez que o regulamento
adstringe ao máximo de 5 (cinco) discentes, quando na realidade há turmas que contém quase
o dobro desta quantidade. A dificuldade natural de coordenar uma turma com essa quantidade
de alunos precariza o serviço, na medida em que, alguns discentes quedam ociosos já que
inexiste até mesmo estrutura física (computadores) para comportar esta quantidade de alunos e
os que estão em atividade não têm a assistência adequada.

Ademais, no que tange a utilização de normas, importa apontar a inexistência de ementa


nas quatro disciplinas de SAJU como elemento indicador de ineficiência do ensino prático,
posto que, a inexistência de um roteiro a ser seguido, embora possa trazer um ganho no tocante
a espontaneidade do ensino e da “micro experiência” de realidade proposta aos alunos, traz
também uma perda consistente na incerteza do que será experienciado. Leia-se: um aluno de 7º
46

semestre pode realizar um atendimento que versa sobre inventário, por exemplo, sem sequer ter
passado pela disciplina de Direito das Sucessões, que só é oferecida no 8º semestre.

No que tange a avaliação dos alunos quanto as atividades desenvolvidas, conforme já


mencionado, a inexistência de clareza de métodos avaliativos e quesitos a serem pontuados
produz uma certa insegurança: se não há critérios avaliativos claros como saberia o discente se
atende ao esperado ou não? No início da presente pesquisa, havia uma diversidade considerável
de modelos de relatório passíveis de apresentação com critérios e quesitos variados, a partir de
2019.2, após esta constatação, foram unificados em um modelo padrão, como se pode ver do
Anexo E.

Sobre o binômio custo-benefício na dinâmica tempo-aprendizado, há de se pontuar,


inicialmente, algumas questões a respeito do atendimento inicial e do acompanhamento das
pastas.

Como explicado no capítulo anterior, o registro dos dados do atendido, no primeiro


contato, era feito a partir da inserção manual destas informações na ficha de atendimento,
oportunidade na qual eram preenchidos a procuração e a declaração de pobreza que
possibilitavam o ajuizamento da demanda ou a defesa do assistido em um processo já existente.
Ocorre que, esse procedimento revelou-se improdutivo com grande dispêndio de tempo, seja
porque uma informação era inserida incorretamente e ensejava o preenchimento de uma nova
ficha, ou ainda, havia incerteza quanto aos dados preenchidos em razão da caligrafia não ser
totalmente legível, sem contar a quantidade de procurações/declarações assinadas sem sequer
estarem preenchidas, fatos estes que aconteciam reiteradamente.

A respeito do acompanhamento das pastas que, conforme explicado no capítulo anterior,


são abertas para cada cliente após o atendimento inicial, a conclusão lógica é que uma pasta
desorganizada demanda ao discente tempo para organizá-la e compreendê-la, sem que essa
tarefa importe, necessariamente, em aprendizado. Muitas vezes o estagiário responsável pela
pasta acessa os autos do processo para compreender a demanda sem registrar esta pesquisa,
fazendo com que o próximo estagiário que se encarregue daquela demanda tenha que refazer
essa pesquisa com os mesmos fins, o que é contraproducente. Não constava de quaisquer dos
modelos de relatórios avaliativos disponíveis para análise quesitos pertinentes à organização
das pastas.
47

Além disso, conforme mencionado no capítulo anterior, os computadores do NPJ não


contam com compartilhamento interno de dados, o que poderia facilitar o acesso a modelos de
petições elaboradas por outros estagiários e corrigidas pelos professores, em lugar de
recorrerem a modelos em variados sites, por vezes desatualizados. Em outras palavras: ainda
que exista alguma petição feita por um outro aluno que possa ser utilizada como modelo, os
estagiários deixam de fazê-lo por não encontrarem o arquivo no equipamento em que estão
trabalhando. Em que pese não ser de todo ruim esta busca, o trabalho seria em muito facilitado,
com menor custo de tempo, além de conferir maior segurança aos alunos caso houvesse uma
gama de modelos nos próprios aparelhos.

Quanto ao serviço de assistência jurídica, além da questão do atendimento às normas já


discutido anteriormente, há de se falar sobre a inexistência de fiscalização e controle interno da
qualidade dos resultados. O DCSA (Departamento de Ciências Sociais Aplicadas) solicita
relatório anual indicando apenas a quantidade de atendimentos realizada e de audiências sem,
contudo, realizar uma apreciação qualitativa ou exigir providências. Também, vale citar que
não há um meio de os clientes avaliarem a satisfação com o serviço prestado ou de poderem
oferecer sugestões para a melhoria.

Além disso, apesar do SAJU contar com alguns indicadores de desenvolvimento, não
há maneiras de gerar automaticamente relatórios de resultados que possam indicar quais
caminhos seguir em razão das limitações do sistema “GAIA” utilizado pelo NPJ, que, diante
das infinitas ferramentas tecnológicas hoje existentes, encontra-se ultrapassado.

Ainda sobre o SAJU, há de se avaliar a redução de custo (tempo) em duas esferas: no


que tange ao serviço antes da judicialização e depois da judicialização. Antes da judicialização,
é o momento de colheita das informações e documentos necessários à demanda. Não raro, o
assistido tem que retornar ao NPJ para fornecer mais informações ou deixar documentos
olvidados no atendimento inicial, tal fato deve-se à inexperiência dos estagiários e da
impossibilidade de os professores acompanharem todos os atendimentos.

Nesse sentido, seria de imensa valia se cada aluno tivesse acesso a um guia de prática
para que soubesse as perguntas a se fazer e o que solicitar. Assim, foi sugerido pela vice
coordenadora do NPJ a obra Prática no Processo Civil do autor Gediel Claudino de Araújo
Júnior, sendo uma edição deste livro adquirida e disponibilizada por ela para consulta aos
48

alunos. O ideal seria uma cópia para cada discente, já que os atendimentos ocorrem
simultaneamente.

Ademais, inexistia na ficha de atendimento campo a ser preenchido a respeito das


informações relatadas nesse atendimento inicial ou dos documentos necessários à demanda, e
não raras vezes, a pasta era redistribuída para um novo estagiário, sem qualquer andamento, e
este, por ausência de informações suficientes para a elaboração da petição tinha que submeter
o assistido novamente às perguntas iniciais, o que gera um desgaste ao atendido.

Quanto à ficha a ser preenchida pelo estagiário no atendimento inicial, cumpre destacar
a ausência de campo para inserção da comunicação com os clientes, seja pessoalmente ou por
via telefônica, quando houvesse necessidade de prestar ou obter informações, sendo tais
contatos registrados em fragmentos de papéis que, no mais, se perdiam e, em algumas ocasiões,
permaneciam com o conteúdo conhecido apenas pelo estagiário que não atualizava a pasta.

Além disso, por muitas vezes os assistidos entravam em contato com o NPJ em busca
de informações a respeito da sua demanda sem sequer recordar o nome do estagiário que o
atendeu, fato este que dificulta a prestação de informações pelos funcionários da recepção ou
Secretaria.

Em função de todo o exposto nos últimos três parágrafos, foi idealizada uma nova ficha
de atendimento considerando as necessidades elencadas, bem como, um cartão de informações
ao assistido (Anexos F e G).

No que tange ao andamento da demanda em si, judicialmente, importa apontar que, por
muitas vezes, o processo deixa de andar por falta de atuação do gabinete do juiz competente ou
de promoção de atos cartorários da Secretaria da Vara em que tramita. Nesse sentido se observa
a ineficácia de petições de prosseguimento do feito, que retiram o processo da ordem de
conclusão e acabam retardando a apreciação em lugar de acelerá-la. Sobre isso, propõe-se como
melhor custo benefício, a alimentação periódica de formulários através da ferramenta “Google
Formulários” com o objetivo de encaminhar diretamente à Vara correspondente para fins do
adequado prosseguimento (Anexo H).
49

4 DOS RESULTADOS DA PESQUISA

Na primeira fase da pesquisa, iniciada em 24 de junho de 2019 e finalizada em 09 de


setembro do mesmo ano, foi realizada uma análise por amostragem de 69 pastas de arquivos de
processos, extraídas de um universo de 483 arquivos de processos, cujo escopo era identificar
as principais demandas e obstáculos ao bom funcionamento do serviço.

Além disso, com o mesmo propósito, de 30 de setembro de 2019 a 30 janeiro de 2020


foram analisadas 198 pastas de arquivos provisórios (a totalidade destes). Nesta oportunidade
foram identificadas quais deveriam ser arquivadas, quais estavam prontas para o
ajuizamento/apresentação de defesa, quais ainda demandavam ação, seja por pendência de
informações, seja por pendência de documentos, e quais seriam potencialmente arquivadas, em
razão do lapso temporal do atendimento até aquela data somado à impossibilidade de contatar
o cliente.

O propósito inicial era analisar todas as pastas ativas, contudo, diante da grande
quantidade e da necessidade de atender aos prazos, foi preciso restringir o contingente de pastas
a serem analisadas. Ademais, se fizesse a análise de todas as pastas ativas retiraria dos discentes
a oportunidade de fazê-lo e de adquirir algum aprendizado com este processo.

4.1 Pastas de processos

As pastas denominadas “Pastas de Processos” são aquelas nas quais o NPJ já atuou
judicialmente. Aludidas pastas ensejam o acompanhamento da movimentação processual
através do acesso aos autos do processo.

Foram obtidos os seguintes resultados no que tange às pastas de processos: 75,4% se


tratam de demandas de competência da Vara de Família, com predomínio das Ações de
alimentos, que somam 52,2% da totalidade das demandas analisadas, seguida de Ações de
Investigação de Paternidade (10,1 %) e de Guarda/Regulamentação de visitas (8,7%). Leia-se
que a pesquisa foi feita considerando que uma ação pode abranger todas essas demandas.

A ausência de uniformidade no aprendizado prático dos diversos ramos do direito é um


ponto negativo, que denota ineficiência no que tange ao objetivo de formação dos discentes,
50

mais ainda quando considerada a existência de norma, o Regulamento de Estágios, que contém
previsão contrária, vez que dispõe a atuação do Núcleo nas áreas cível, criminal e trabalhista.

GRÁFICO 1 – Quantidade de processos por competência

Juizado Especial Cível 3


Vara Criminal
1
Vara da Justiça pela Paz em casa 2
Vara dos Feitos Relativos às Relações de… 11
Vara de família, sucessões, órfãos,… 52

0 10 20 30 40 50 60

Fonte: Dados colhidos no Serviço de Assistência Jurídica da UESB entre junho e setembro de 2019

Além disso, das 69 pastas analisadas, verificou-se que 44% eram de atendimentos feitos
antes de 2016, demonstrando, deste modo, o decurso de mais de 4 anos sem a obtenção da tutela
jurisdicional pretendida54, conforme se vê no gráfico abaixo:

GRÁFICO 2 – Porcentagem de processos por ano do atendimento inicial

3% 5% 4%
2%
6%
19% 3%

7%
15% 7%
7%
19%
3%

2006 2007 2008 2010 2011 2014


2015 2016 2017 2018 2019

Fonte: Dados colhidos no Serviço de Assistência Jurídica da UESB entre junho e setembro de 2019

As conciliações que logram êxito conferem celeridade à tutela do direito, uma vez que
a homologação do acordo alcançado é muito mais simples do que um processo em que se

54
Por tutela jurisdicional pretendida se quer dizer o direito buscado no Judiciário pelo assistido representado
judicialmente pelo Núcleo de Prática Jurídica.
51

compõem os polos ativo e passivo, com citação, intimação de cada ato, as devidas
manifestações e procedimentos comuns à litigância.

A este respeito, considerando que, pelo exposto, as tentativas de conciliação são


privilegiadas, em razão de conferirem celeridade à tutela jurisdicional, verificou-se que: em
13% dos casos foi celebrado acordo, em 7,3% dos casos a tentativa não logrou êxito, em 53%
não houve tentativa de acordo e em 26,1% não se pôde verificar a sua ocorrência por inexistir
qualquer anotação a respeito da tentativa, que indicasse o envio da carta convite à parte contrária
para o comparecimento ao Núcleo ou qualquer anotação a este respeito.

Tal fato demonstra que as informações contidas em mais de ¼ das pastas analisadas
estão incompletas, o que demonstra um grau leve de ineficiência, mas que precisar ser corrigido.
Pelo mesmo motivo, restou prejudicada a análise do grau de rotatividade de estagiários para
uma mesma pasta. Ademais, se verificou a existência de pastas desatualizadas desde 2013, sem
qualquer registro a respeito do andamento da demanda. Isso significa a existência de um número
expressivo de demandas sem o devido andamento conforme demonstrado na tabela abaixo:

TABELA 1 – Lapso temporal sem a atualização das pastas


Anos sem atualizar Quantidade de pastas atualizadas PERCENTUAL
6 ANOS (última atualização em 2013) 1 1,45%
5 ANOS (última atualização em 2014) 3 4,35%
3 ANOS (última atualização em 2016) 3 4,35%
2 ANOS (última atualização em 2017) 10 14,5%
1 ANO (última atualização em 2018) 28 40,57%
Atualizadas neste ano 24 34,78%
TOTAL 69 100%
Fonte: Dados colhidos no Serviço de Assistência Jurídica da UESB entre junho e setembro de 2019

Na tabela acima, do universo de 69 pastas, 65,22% delas não se encontravam


devidamente atualizadas. Além daquelas que sequer tinham atualizações a respeito das
movimentações processuais havia também pastas que apenas mencionavam a inexistência de
atualizações sem indicar providências para garantir o direito ou sem contatar o cliente para o
colocar a par da sua demanda.

Ademais, restou constatado que das pastas analisadas, 15,95% não tinham andamento
em razão de pendências de terceiros (3 pastas dependiam de atuação do cartório, 7 pastas do
gabinete e 1 pasta de parecer do Ministério Público); 59,41% necessitavam de atuação do
estagiário, seja para contatar o cliente em busca de informações, elaborar peças, organizar a
52

pasta, dentre outros); 10,14% deveriam ser arquivadas em razão da extinção do feito (por
sentença resolutória ou sem apreciação do mérito por desinteresse da parte), 4,35% eram
demandas de juizado, as quais não foi possível acesso aos autos por não conseguir localizá-las
no sistema eletrônico PROJUDI. Por fim, somente 10,14% das pastas analisadas estavam em
ordem, ou seja, sem pendências.

4.2 Pastas provisórias

As pastas provisórias são aquelas nas quais foi realizado o atendimento inicial e
coletados informações e documentos sem, contudo, o ajuizamento da demanda perante a Vara
competente.

Assim, quanto à estas foi registrado percentual relativamente semelhante à análise das
pastas de processo, sobretudo, no que tange ao tipo de ação e à predominância de ações de
competência da Vara de Família, ou seja, ações de alimentos lideram o ranking com 44,9% do
total, seguido por ações de divórcio (15,2%) e de guarda/regulamentação de direito de visita
(9,6%). Nesse sentido, 87,3% das demandas analisadas são de competência da Vara de Família.

Quanto ao lapso temporal desde o primeiro atendimento, constatou-se a existência de


pastas cujo primeiro atendimento foi feito há mais de dez anos, conforme pode se ver da tabela
abaixo, pela existência de pastas provisórias não arquivadas cujo atendimento inicial foi nos
anos de 2006 e 2008.

TABELA 2 – Quantidade de pastas provisórias por ano do atendimento inicial


Atendimento inicial Quantidade de pastas
2006 1
2008 1
2013 1
2014 3
2016 14
2017 29
2018 53
2019 94

Fonte: Dados colhidos no Serviço de Assistência Jurídica da UESB entre junho e setembro de 2019
53

Além disso, verificou-se alta incidência de não preenchimento de campos na ficha de


atendimento, sendo impossível aferir a renda declarada pelo atendido em 84,8% das pastas
analisadas. Daquelas que continham essa informação aferiu-se que 13,1% dos assistidos
declarou perceber até um salário mínimo e apenas 0,1% entre um e dois salários mínimos.
Condição essencial para se saber se o solicitante do serviço pode ou não ser assistido pelo
SAJU.

O campo designado bairro na ficha de atendimento, que indica o local em que reside
o atendido, também foi consideravelmente negligenciado, sendo verificado o seu não
preenchimento em 12,5% das pastas analisadas, fato este que impediu o mapeamento total da
abrangência da atuação do NPJ. Contudo, podemos inferir da análise dos dados que o maior
volume de assistidos do NPJ da UESB concentra-se na zona oeste da cidade de Vitória da
Conquista, conforme ilustra o gráfico abaixo:

GRÁFICO 3 – Análise da zona de residência do atendido

100
90 86
80
70
60
50 41
40 34
30 25
20 13
10
0
Oeste Leste Sul Fora do Campo não
perímetro preenchido
urbano

Fonte: Dados colhidos no Serviço de Assistência Jurídica da UESB de setembro/2019 a janeiro/2020

Quanto a atuação no que tange às pastas provisórias só existem duas possibilidades: o


ajuizamento da ação/apresentação de defesa ou seu arquivamento. Surpreendentemente, a
respeito do atendimento inicial, identificamos pastas ativas nos arquivos de pastas provisórias
referentes a atendimentos realizados há mais de 10 anos. No máximo, deve-se aguardar uma ou
duas semanas para que o cliente forneça mais informações e providencie os documentos
pendentes. Não há justificativa para a inércia de pastas provisórias, por anos a fio, sem qualquer
impulso processual. Tal fato, denota dupla falha no serviço prestado, visto que não garante a
tutela do direito buscado pelo assistido, nem o aprendizado do discente.
54

Nesse sentido, aproveitou-se para verificar a necessidade de contato com o atendido


para que fosse promovido o pertinente impulso processual da demanda. O contato era
dispensável quando evidente o desinteresse do atendido ou quando a demanda se encontrava
pronta para o ajuizamento, dependendo exclusivamente da atuação do estagiário com a
elaboração da peça correspondente. Por outro lado, era necessário contatar o atendido quando
as informações e/ou documentos constantes da pasta eram insuficientes ao ajuizamento da
demanda, ou ainda, por haver transcorrido muito tempo desde o atendimento inicial, o que
implicaria no desinteresse da parte em prosseguir com a demanda.

Desta análise, aferiu-se que não era necessário contatar o assistido em 27,3% das
demandas, isto porque, 4% das pastas eram processos já instaurados, embora estavam em local
inadequado; em 1,5% dos casos já havia sido evidenciado o desinteresse do cliente e 21,7% das
pastas, encontravam-se prontas para o ajuizamento, sendo que em algumas delas havia acordos
já assinados e não protocolados.

Nas pastas em que havia necessidade de contatar o assistido, seja por conta do lapso
temporal, seja pela necessidade de mais informações, foi observada a existência de registro
nesse sentido. Apesar disso, verificou-se que em 77 pastas, cerca de 39% do total, não continha
qualquer informação a respeito de contato com o assistido. Aprofundando a pesquisa, foi
realizado o contato com 45 destes assistidos, sendo que 35 manifestaram interesse e 10 disseram
que não tinham interesse em prosseguir com a demanda.

Entre os assistidos que manifestaram interesse em prosseguir com a demanda, 14 deles


se comprometeram a retornar ao NPJ para complementar as informações; 5 assistidos
manifestaram desejo de tentar a resolução por meio da conciliação e 1 supriu a informação
pendente via telefone. Por fim, constatou-se que 5 pastas tinham conteúdo suficiente para o
ajuizamento e 10 restantes dependiam da prestação de maiores informações, a serem colhidas
pelo estagiário responsável pela pasta, conforme orientado na folha de acompanhamento.

Dos assistidos que manifestaram desinteresse, constatou-se que em 5 pastas foi


informado que a demanda havia sido solucionada por outros meios e em 1 delas o assistido
informou que havia contratado advogado particular.

Em 34% das pastas, correspondente a 67, constavam informações de tentativas


infrutíferas de contato. Diante da impossibilidade de contato via telefone a postura que tem sido
55

adotada, analisadas as especificidades de cada caso, é de envio de carta via correios para
solicitar ao assistido que compareça ao NPJ para informar interesse e completar as informações
necessárias. Essas demandas, portanto, foram reservadas para este fim. Ao final da coleta destes
dados, constatou-se que mais da metade das pastas não deveria estar arquivada no espaço
reservado às pastas provisórias, pois, 4% eram processos, 21,7% foram consideradas prontas
para o ajuizamento; 31,3% foram arquivadas, 15,1% foram classificadas como “arquivamento
em potencial” e reservadas para o envio de cartas, e somente 27,9% dependiam de algum
contato com o assistido para prosseguir, devendo ser levado em consideração que, caso o
assistido não fornecesse as informações e documentos com brevidade a pasta deveria ser
arquivada pelos motivos já expostos em parágrafos anteriores.

Da análise dos dados acima, observou-se que inexiste no NPJ metodologia de


ensino/trabalho voltada para a verificação do andamento das pastas como um todo, o que se
expressa pela permanência de pastas em arquivo provisório por mais de 10 anos sem qualquer
providência.

4.3 Dos mecanismos implementados e das percepções

Conforme já mencionado no capítulo anterior, foram implementados alguns recursos


estruturais como a alteração dos computadores para a sala de atendimento, criação de um cartão
de informações ao atendido, criação de um modelo único de relatório de atividades, atualização
da ficha de atendimento com a criação de sua versão digital, criação dos formulários das listas
de diligências, criação de cartão de informações a ser entregue ao atendido no final do
atendimento inicial.

Além disso, pensando em uniformizar e automatizar a introdução do serviço aos alunos


de SAJU I e atualizar os de SAJU II, III e IV sobre as mudanças implementadas, foram
produzidos quatro vídeos: um de apresentação do serviço e de todas as mudanças55, o segundo

55
OLIVEIRA. Ana Carolina Pessoa Braz. Apresentando o SAJU. 2020. 1 vídeo. Publicado pelo canal Ana
Carolina Pessoa. Disponível em: <https://youtu.be/ZFM-pu4ar0k>. Acesso em: 20 jan 2020.
56

explicando como é feito o protocolo de petições nos Sistemas PJE e e-Saj56, o terceiro
apresentando as metas de 202057 e o quarto explicando como preencher a ficha eletrônica58.

Os vídeos foram apresentados e disponibilizados na primeira semana de aula para as


turmas matriculadas, reservado um tempo para a resolução de dúvidas, sendo disponibilizados
para consulta posterior. Além disso, foi disponibilizado aos discentes um documento com a
compilação de arquivos e informações que pudessem ser úteis aos estagiários no decorrer do
semestre (Anexo I), que incluía os arquivos usados nos atendimentos, bem como os links dos
formulários das listas de diligências, modelos de acordo e algumas orientações. Durante o mês
de março foi realizado o acompanhamento in loco das turmas por amostragem, para verificar
espontaneamente a utilização dos recursos implementados e sua efetividade.

Desta observação, foram constatados os seguintes pontos: a) alunos ociosos, ainda que
os vídeos esclarecessem sobre o que fazer no NPJ; b) dúvidas a respeito de como se organizar
para não perder o controle da demanda; c) não preenchimento do relatório com frequência
semanal; d) baixa adesão às listas de diligências; por fim, e) melhor execução de tarefas quando
designadas especificamente ao estagiário.

Desse acompanhamento, ficou claro que os estagiários tendem a responder muito


melhor às tarefas especificamente designadas. A falta de um roteiro específico de atividades
estimula a procrastinação. Além disso, o fato de o relatório ser entregue somente ao final do
semestre fomenta a desorganização e mina a produtividade, por consequência, o bom
desempenho do serviço.

Exemplo disso é a baixa quantidade de pastas de processos inseridas nas listas de


diligências. Pela coleta de dados se aferiu que em média 15% das pastas não tem andamento
em razão da necessidade de atuação de terceiros, assim, o esperado era de 100 a 150 pastas
inseridas nesses formulários, contudo, em dois meses, somente 21 pastas foram inseridas.

56
OLIVEIRA. Ana Carolina Pessoa Braz. PJE e e-Saj. 2020. 1 vídeo. Publicado pelo canal Carolina Pessoa.
Disponível em: <https://youtu.be/ZFM-pu4ar0k>. Acesso em: 29 jan 2020.
57
OLIVEIRA. Ana Carolina Pessoa Braz. Metas SAJU 2020. 2020. 1 vídeo. Publicado pelo canal Carolina
Pessoa. Disponível em:
<https://docs.google.com/document/d/1DKu4jDAlowX967NxHfqF3zMedjwUn24SBul0Z2-
XdJI/edit?usp=sharingar0k>. Acesso em: 9 dez 2020.
58
OLIVEIRA. Ana Carolina Pessoa Braz. Ficha de atendimento eletrônica. 2020. 1 vídeo. Publicado pelo canal
Carolina Pessoa. Disponível em:
<https://docs.google.com/document/d/1DKu4jDAlowX967NxHfqF3zMedjwUn24SBul0Z2-
XdJI/edit?usp=sharing>. Acesso em: 9 dez 2020.
57

Deste modo, restou evidente que ainda é necessário um melhoramento dos


mecanismos de controle, como, por exemplo a exigência de relatórios parciais. Assim, o método
avaliativo poderia ser semelhante ao das demais disciplinas, separados por unidades, sendo que
as duas primeiras seriam avaliadas a partir de relatório parcial e a última de relatório final, cada
unidade sendo avaliada em até 10 pontos e a nota final seria a média.

Além disso, verificamos que o cronograma apresentado não foi suficiente para garantir
a adequada realização das atividades. Isto poderia ser resolvido com a mudança da metodologia,
a partir da designação de atividades específicas por semana, a serem coordenadas pelo líder de
cada equipe. Ademais, seria interessante implementar a rotina de verificação geral periódica
para que se constate se o trabalho está sendo bem executado em todas as pastas.

4.4 Pesquisa de satisfação com serviço de assistência

Em março de 2020, foi realizada pesquisa de satisfação – por amostragem – com os


assistidos nos casos em que, ainda, não havia ocorrido o ajuizamento da demanda. O resultado
da pesquisa apontou que 42,9% classificou o atendimento do NPJ como excelente, seguidos de
21,4% que classificou como bom, 14,3% como péssimo e a cada 7,1% dos entrevistados
classificaram o serviço de assistência jurídica como regular, ruim ou não quiseram opinar.
Apesar de a análise das pastas expressar certo grau de ineficiência, a exemplo da existência de
demandas atendidas há mais de dez anos sem sequer o impulso inicial ou grande número de
pastas desatualizadas, 78,6% dos entrevistados disseram que indicariam o atendimento do NPJ
para outra pessoa.

Foi perguntado aos entrevistados se teriam sugestões para o aperfeiçoamento do


atendimento. Em que pese 42,9% terem respondido que não, o restante foi quase unânime no
que tange ao quesito comunicação: 6 dos 8 que deram sugestões afirmaram desejar que a
comunicação com o NPJ fosse melhorada para que pudessem ter notícias a respeito das
demandas. A assistida nº 14 informou que foi atendida em 2017 e, desde então, só recebeu uma
ligação. Importa salientar que a ligação apontada pela entrevistada foi feita por mim durante a
triagem dos arquivos provisórios, ou seja, ela não recebeu qualquer ligação do(s) estagiário(s)
vinculados a sua pasta nestes três anos.

Durante a realização da pesquisa de satisfação, observamos um fato que denota


violação ao direito de acesso à justiça, ou seja, a entrevistada nº 6 informou que fez um acordo
58

no NPJ com a sua filha para que a mesma pudesse visitar a neta, sendo este descumprido.
Relatou ainda que, diversas vezes, se dirigiu ao NPJ para ser orientada pela estagiária acerca
do que poderia ser feito, mas nunca obteve uma resposta, razão pela qual, se viu impossibilitada
de visitar sua neta.

O entrevistado nº 11 informou que compareceu diversas vezes ao NPJ, todavia não


obteve nenhum retorno a respeito da sua demanda, embora houvesse deixado os documentos
para o ajuizamento da ação desde 2017. Segundo ele, seu caso foi passado a outros estagiários
sem qualquer direcionamento. Nesse sentido sugeriu que “os formandos tivessem mais
empenho com os casos em que trabalham” (entrevistado nº 11, 2020) e os concluíssem antes da
redistribuição, instruindo o próximo estagiário sobre o que havida sido ou não feito. Informou,
ainda, que a sua pasta ficou retida por vários meses com um estagiário, motivo pelo qual, não
pôde sequer ter acesso aos documentos de que precisava para ingressar com a demanda em
outro local.

O entrevistado nº 12 também criticou o sistema de redistribuição, afirmando que o


assistido deveria ser informado quando a demanda fosse encaminhada à outro estagiário, pois
ele foi atendido em maio de 2018 e realizou um acordo de dissolução de união estável, contudo
o caso dele não havia tido andamento desde então, sendo que o mesmo não havia sido contatado
por mais de um ano. Nesse sentido, sugeriu que “o sistema de repasse das pastas fosse
melhorado pois, quando o aluno forma [gradua] o processo é engavetado e só depois passa para
outro” e ele “não foi informado disso, talvez se soubesse que seria engavetado poderia ter
procurado o Núcleo para ter providências” (ENTREVISTADO nº 12, 2020).

Outras duas entrevistadas, que tinham uma demanda de alimentos, também se


manifestaram no mesmo sentido: a entrevistada nº 14 foi atendida em 2017 e nunca obteve a
tutela do seu direito ou contato do NPJ e a entrevistada nº 10 gostaria que a demanda tivesse
sido resolvida com mais agilidade, pois havia sido marcada uma tentativa de conciliação que
não obteve êxito e depois isso nada mais aconteceu. Esta última também apontou a necessidade
de que as informações fossem prestadas com maior clareza, pois tinha muitas dúvidas não
resolvidas.

A entrevistada nº 8, que classificou o serviço como péssimo, afirmou que não obteve
nenhum resultado na demanda e acabou desistindo do direito que buscava por não ter “tempo
de comparecer ao Núcleo toda hora” (ENTREVISTADA nº 8, 2020).
59

Como se pode ver, predomina o entendimento que o SAJU presta um serviço de


qualidade, apesar de mais de 50% dos entrevistados apontarem que o serviço do SAJU é bom
ou excelente, as sugestões de melhoria apontadas pela minoria não podem ser ignorados, sob
pena de negação do direito constitucional a que se propõe garantir: o acesso à justiça. Por isso
mesmo, é indispensável a existência de avaliações periódicas do serviço, ou seja, de um
mecanismo de controle externo (social) e interno.

4.5 Pesquisa de satisfação com o aprendizado

Foi realizada também, entre os dias 22 a 29 de abril de 2020, pesquisa de satisfação


com os estagiários sendo obtidas 29 respostas, de um total de 140 alunos matriculados e 28
dispensados de cursar a disciplina. Do total de estagiários que responderam à pesquisa, 37,9%
cursando SAJU I, 31% SAJU II, 17,2% SAJU III, 3,4% SAJU IV, e 10,3% não se encontravam
matriculados em qualquer das disciplinas mencionadas.

Foi perguntado aos entrevistados se teriam sugestões para o aperfeiçoamento do


aprendizado e se algo os incomodava neste quesito. Apenas 5 estagiários, o equivalente a
17,2%, responderam “não” a ambos os questionamentos. Dos que se manifestaram
positivamente, destacaram-se, com a referente proporção, as seguintes sugestões:

QUADRO 1 – Sugestões dos estagiários para o aperfeiçoamento do aprendizado


versus percentual de alunos que apresentaram a respectiva sugestão
SUGESTÃO QUANTIDADE PERCENTUAL
Informatização/facilitação do acesso às pastas. 1 3,45%
Mais professores por horário/estagiário para
3 10,34%
auxiliar os alunos
Acompanhamento mais próximo/ individualizado
11 38%
do aluno
Criação de banco de dados com arquivo de
3 10,34%
referência (Ex.: fluxogramas e modelos de petição)
Atuação nas demais áreas do direito 4 13,8%
Atendimento do assistido em dupla 1 3,45%
Aperfeiçoamento do sistema de controle 1 3,45%
Cobrança de relatórios individuais das pastas dos
estagiários formandos ou dos que requererão 1 3,45%
dispensa
Fonte: Dados colhidos no Serviço de Assistência Jurídica da UESB em abril de 2020

Da análise do quadro acima, infere-se que a maior demanda dos alunos diz respeito ao
acompanhamento mais próximo/individualizado do aluno. De início, faz-se necessário
60

reconhecer a dificuldade dos docentes em atendê-la, visto a multiplicidade de tarefas a encargo


de um único professor em oposição à quantidade escassa de tempo. Contudo, isso não deve
servir de óbice para encontrar uma solução que abranja as dificuldades práticas, servindo como
exemplo inclusive o apontado por três dos alunos, qual seja “mais professores por horário ou
estagiários para auxiliar os professores”.

Ademais, destacam-se como demandas apontadas pelos estagiários: a atuação nas


demais áreas do direito, o que se alinha ao constatado na análise das pastas, referente à massiva
atuação nas demandas de competência da Vara de Família e, mais especificamente, das ações
de alimentos; e a criação de um banco de dados com arquivos de referência, também em sintonia
com o já outrora constatado no presente trabalho, no tópico 2.3.

Ainda, foram relatados os seguintes incômodos concernentes ao tema estudado no


presente trabalho:

QUADRO 2 – Incômodos dos estagiários/alunos a respeito do aprendizado


INCÔMODOS INCIDÊNCIA PERCENTUAL
Tempo de aula é insuficiente para a quantidade de
2 6,90%
atividades atribuídas
Desorganização das pastas 6 20, 69%
Falta de comprometimento/ausências dos alunos e
3 10,34%
professores
Orientações insuficientes/conflitantes por parte
7 24,14%
dos professores
Precariedade da estrutura (qualidade dos
4 13,79%
computadores e da internet)
Morosidade no andamento processual 4 13,79%
Fonte: Dados colhidos no Serviço de Assistência Jurídica da UESB em abril de 2020

Da análise do Quadro 2 se observa que os maiores incômodos dos estagiários são: a


insuficiência/conflito de orientações prestadas pelos professores e a desorganização das pastas,
seguidos da precariedade da estrutura, a exemplo da qualidade dos computadores e da internet,
e da morosidade no andamento processual. Dados estes que denotam ineficiência do SAJU no
que tange ao aprendizado.

Com base nos dados apurados, os 26 estagiários matriculados classificaram o


aprendizado no SAJU na seguinte proporção: 11,54% como excelente, 46,15% como bom,
26,9% como regular e 7,7% cada como ruim ou péssimo.
61

Quando perguntados a respeito de sua prática processual 30,77% dos estagiários


atribuíram seu aprendizado da prática processual a outros fatores tais como: estágios e aulas
das disciplinas de Processo Civil e LABO, afirmando que na modalidade de estágio
supervisionado (SAJU) não obtiveram grandes avanços.

Nesta perspectiva, vejamos alguns comentários dos entrevistados. O discente nº 6


afirmou que a sua fluência na prática processual foi obtida em escritório de advocacia, afinal
“se o SAJU fosse a [sua] primeira experiência prática de aprendizagem seria bastante
dificultosa, tendo em vista que a carga horária semanal é curta para aprender a manusear os
sistemas, analisar os processos recebidos e dá impulso, peticionar com auxílio do professor”
(ENTREVISTADO nº 6, 2020), ressaltando que a disciplina LABO I não havia sido ofertada
naquele semestre.

No mesmo sentido é o comentário do discente nº 12, que afirmou crer que o seu bom
desempenho decorria de atividade extracurricular, mas que acreditava “que para pessoas que
tenham o primeiro contato com a prática jurídica dentro do NPJ, o desempenho na prática pode
ser reduzido, vez que o SAJU não oferece tanto auxílio e tempo para alguém que nunca estagiou
aprimorar de fato sua prática jurídica” (ENTREVISTADO nº 12, 2020).

Interessantes também as considerações do discente nº 27, que elogiou o trabalho dos


funcionários do NPJ e reconheceu “os desafios existentes para o professor, por serem muitos
alunos supervisionados, em períodos de aula tão curtos” (ENTREVISTADO nº 27, 2020).
Questionou, contudo, a amplitude do diálogo “acerca dos rumos de uma petição no processo”
afirmando que deveria se favorecer “aos alunos um ambiente disponível para exporem suas
dúvidas e serem melhor esclarecidos” (ENTREVISTADO nº 27, 2020).

O discente nº 20 afirmou que o SAJU era o seu único meio de aprendizado processual
devido sua impossibilidade de realizar estágio extracurricular. Nesse sentido, critica o estágio,
pois “a maioria dos casos são de pensão alimentícia (que só fazemos P.I59.), divórcio ou algum
caso que o processo está em andamento e parado a mil anos” (ENTREVISTADO nº 20, 2020).
Demonstrou a sua insatisfação com o aprendizado no NPJ afirmando que:

59
P. I., para se referir à “petições iniciais”.
62

O SAJU não dá ânimo pra gente, um semestre dei o melhor que pude, peguei
várias pastas e trouxe processos pra casa, mas no outro percebi que tudo seguia
estagnado. Os professores não se importam e os colegas de sala chegam
atrasados, não fazem quase nada e saem cedo. Enfim, deveria ser um ambiente
instigante de aprendizado, mas a sensação que passa é de ser uma piada para
a maioria dos alunos e professores (ENTREVISTADO nº 20, 2020).

Já o discente nº 25 elogiou as aulas da disciplina de Processo Civil contrapondo às


poucas “oportunidades de colocar em prática o conhecimento adquirido, visto que até então o
SAJU não tem sido satisfatório nesse sentido” (ENTREVISTADO nº 25, 2020). Esclareceu
ainda que as pastas redistribuídas para ele se encontravam em etapas avançadas e que sentiu
“dificuldades para compreender o que estava acontecendo em cada situação”. Concluiu que,
em razão de não ter atendido nenhum assistido, não teve “ainda a oportunidade de começar uma
pasta do início” contudo, destacou enquanto ponto forte “a professora supervisora, sempre
disposta a tirar dúvidas e auxiliar quando necessário” (ENTREVISTADO nº 25, 2020).

Por fim, em que pese o comentário positivo do discente nº 11, que afirmou que o
“professor estar na sala de atendimento ajudou muito”, cumpre-se observar o quanto alertado
pelo discente nº 12, no que tange ao andamento processual, visto que, na sua perspectiva, “os
processos ficam travados. É "prosseguimento do feito" em cima de "prosseguimento do feito".
Após a petição inicial acabou o processo.” (ENTREVISTADO nº 11, 2020).

Deste modo, é evidente que, em que pese haver pontos positivos no serviço, tais como
o bom trabalho dos funcionários do Núcleo, bem como o reconhecimento dos desafios a ele
inerentes, há de se considerar a necessidade de adequação às demandas dos estagiários.

Pelo exposto, é possível construir um quadro geral das expectativas e incômodos dos
estagiários em relação ao Núcleo visto que estão profundamente relacionados entre si: os alunos
clamam por um atendimento mais individualizado dos professores, sendo que a sua
inocorrência se deve tanto à insuficiência do tempo de aula para a quantidade de atividades
atribuídas, quanto à inexistência de mais um professor/estagiário para auxiliar os alunos.

Do mesmo modo, relacionam-se entre si os seguintes incômodos/sugestões: a)


informatização/facilitação do acesso às pastas e criação de banco de dados com arquivo de
referência (Ex.: fluxogramas e modelos de petição), uma vez que ambos se tratam da criação
de mecanismos que importarão na melhoria da relação custo (tempo) benefício (aprendizado/
resolução da demanda); b) aperfeiçoamento do sistema de controle e cobrança de relatórios
63

individuais das pastas dos estagiários formandos ou dos que requererão dispensa em
contraponto à desorganização das pastas e falta de comprometimento/ausências dos alunos e
professores, uma vez que a partir da criação de mecanismos de controle, tais como a exigência
do relatório mencionado, inibirão os comportamentos incômodos.

4.6 Discussão Empírica dos Resultados

Em suma, a pesquisa foi realizada a partir da análise de dados internos, consistentes no


conteúdo das pastas, tanto provisórias quanto de processos, e de dados externos, consistentes
nas pesquisas de satisfação realizadas com o destinatário do serviço, os assistidos, e com os
estagiários que o integram.

Assim, para efeitos de análise dos graus de eficiência do serviço e do aprendizado, no


que tange aos dados internos obtidos com as pastas, destacam-se os seguintes pontos:

QUADRO 3 – Análise da eficiência a partir dos dados internos obtidos com as pastas de processos e
provisórias
DE PROCESSOS PROVISÓRIAS Grau de eficiência
Abrangência 75,4% demandas de 87,3% demandas de BAIXO no que tange ao
do competência da Vara de competência da Vara de quesito capacidade de
aprendizado Família, destas 52,2% Família, destas 44,9% são atendimento às normas
são ações de alimentos. ações de alimentos. (regulamento).
Lapso 44% dos atendimentos 24,7% de atendimentos BAIXO no que tange ao
temporal iniciais realizados antes realizados antes de 2017 e quesito menor custo
desde o de 2016 e sem sem movimentação das (tempo) versus benefício
atendimento movimentação das pastas, ou seja, 2 anos sem (resolução das demandas).
inicial pastas, ou seja, 4 anos ajuizamento da demanda.
sem a obtenção da tutela
jurisdicional pretendida
pelo assistido.
Adequado 26,1% das pastas não 84,8% sem preenchimento BAIXO no que tange ao
preenchimento contém qualquer do campo “Renda”; 12,5% quesito “fiscalização e
da ficha de informação a respeito da sem preenchimento do avaliação”.
atendimento tentativa de acordo campo “Bairro”.
extrajudicial.
Adequada 65,22% das pastas sem 31,3% foram arquivadas e BAIXO no que tange ao
atualização qualquer atualização há 15,1% classificadas como quesito “fiscalização e
das pastas mais de 2 anos. “arquivamento em avaliação”.
potencial”, demonstra a
ausência de atualização
adequada das pastas.
Fonte: Dados colhidos no Serviço de Assistência Jurídica da UESB entre junho de 2019 e abril de 2020

Conforme outrora mencionado, o Regulamento de Estágios prevê que a atuação do


SAJU abrange as áreas cível, criminal e trabalhista, não se configurando na prática tal realidade
64

e, em consequência, configura baixo grau de eficiência no quesito “capacidade de atendimento


às normas”.

Uma outra categoria analítica que se apresenta é o “menor custo (tempo) versus
benefício (resolução da demanda)”, e fica evidente que o grande lapso temporal entre o
ajuizamento da demanda e a sua resolução, bem como entre o atendimento inicial e o próprio
ajuizamento, demonstram que o grau de eficiência neste quesito é baixo.

Por sua vez, a existência de mais da metade das pastas de processos analisadas sem
qualquer atualização nos últimos dois anos, bem como de um terço das pastas provisórias que
deveriam ter sido arquivadas, além da alto número de campos sem preenchimento na ficha de
atendimento, demonstram que na categoria “fiscalização e avaliação” o grau de eficiência é,
também, baixo.

A partir da pesquisa de satisfação realizada com estagiários e usuários do serviço,


destacam-se os seguintes pontos quanto ao grau de eficiência:

QUADRO 4 – Análise da eficiência – Dados externos obtidos com pesquisa de satisfação


SERVIÇO APRENDIZADO Grau de eficiência
Classificação 42,9% dos entrevistados 11,54% dos entrevistados ALTO no que tange
classificaram como classificaram como ao quesito avaliação
“excelente”, 21,4% como “excelente”, 46,15% como de resultados.
“bom”, 7,1% como “regular”, “bom”, 26,9% como
7,1% como “ruim”, 14,3% “regular”, 7,7% como
como “péssimo” e 7,1% não “ruim” e 7,7% como
quiseram opinar. “péssimo”.
Críticas, Melhoria da comunicação Aperfeiçoamento do BAIXO no que
sugestões ou entre o Núcleo e o assistido sistema de controle e tange ao quesito
incômodos para que esse obtenha cobrança de relatórios fiscalização e
informações mais precisas a individuais das pastas dos avaliação.
respeito da sua demanda. estagiários formandos ou
dos que requererão
dispensa.
Críticas ao sistema de Informatização/facilitação BAIXO no que
redistribuição. do acesso às pastas e tange ao custo
criação de banco de dados (tempo) versus
com arquivo de referência. benefício
(aprendizado/
resolução da
demanda).
Fonte: Dados colhidos no Serviço de Assistência Jurídica da UESB entre junho de 2019 e abril de 2020

Como já mencionado em tópicos anteriores, predomina o entendimento de que o SAJU


não só presta um serviço de qualidade, como também um ensino de qualidade, considerando
65

que em ambas as pesquisas, mais da metade dos entrevistados classificaram o serviço e o


aprendizado como “bom” ou “excelente”, o que expressa um alto grau de eficiência no quesito
“avaliação de resultados”.

Contudo, foram observadas reiteradas críticas e sugestões sobre determinados aspectos


que não podem ser ignorados. Destacou-se o quesito “fiscalização e avaliação”, avaliado com
baixo grau de eficiência, em razão de ter sido apontada: a) pelos assistidos, a necessidade de
melhoria da comunicação entre o Núcleo e o usuário do serviço para que este possa obter
informações a respeito da sua demanda; e b) pelos estagiários, a necessidade de
aperfeiçoamento do sistema de controle e cobrança de relatórios individuais das pastas dos
estagiários formandos ou dos que requererão dispensa.

Destacou-se, ainda, o quesito “custo (tempo) benefício (aprendizado/ resolução da


demanda”, também avaliado com baixo grau de eficiência, sendo pontuados a) pelos assistidos,
críticas ao sistema de redistribuição, uma vez que as demandas são repassadas a outros
estagiários sem o conhecimento dos assistidos e sem o rigor de garantir que o conteúdo das
pastas esteja facilmente interpretável para o próximo discente que irá assumi-la, o que importa
em “re-trabalho” consistente na necessidade de novos contatos com os assistidos para preencher
informações ou apresentar documentos que já deveriam estar ali; e b) pelos estagiários, a
necessidade de informatização/facilitação do acesso às pastas e criação de banco de dados com
arquivo de referência, uma vez que tais processos otimizariam o fluxo do trabalho e gerariam
consequências diretas na categoria ora analisada.

Não pôde se verificar o impacto do quesito “capacidade de atendimento às normas


(regulamento)” no que tange ao serviço, uma vez que, não são computados ou registrados os
atendimentos nos quais o assistido buscou o Núcleo para tipos de demandas que não são
realizadas ali, a exemplo de demandas trabalhistas, criminais ou de competência dos Juizados.

Logo, a partir da análise destas categorias analíticas, conclui-se que o Núcleo de Prática
Jurídica da UESB pode ser avaliado com baixo grau de eficiência.
66

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme estudado no presente trabalho, a importância dos Núcleos de Prática Jurídica


é evidente dada a vasta legislação, tanto no que concerne à formação dos discentes quanto ao
seu status, ainda que análogo, de “instituição essencial à função jurisdicional do Estado”, uma
vez que, garantidores do acesso à justiça. Com a existência prevista desde os anos noventa,
hoje, sob a égide da Resolução 05/2018, é exigido dos Núcleos que formem profissionais aptos
ao mercado de trabalho a partir do domínio de novas tecnologias, atuação extrajudicial e da
harmonização entre a teoria e a prática.

Reconhecida a importância, objetivou-se responder o seguinte problema de pesquisa: o


Núcleo de Prática Jurídica da UESB, conhecido como SAJU, é eficiente na persecução das suas
finalidades? Para tal, buscou-se, em caráter geral, aferir o grau de eficiência do NPJ da
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e, em caráter específico, os graus de eficiência
quanto as categorias: 1) capacidade de atendimento às normas (regulamento); 2) fiscalização e
avaliação; 3) Menor custo (tempo) versus benefício (aprendizado ou resolução da demanda).
Ressalte-se que quanto as categorias, todas foram identificadas com baixo grau de eficiência
em contraponto com a boa avaliação dos resultados através do controle externo.

A pesquisa, de concepção reivindicatória/participatória, conteve uma agenda de ação


para a mudança e encontrou diversas limitações. O levantamento de dados, iniciado no período
de greve da Universidade, não se iniciou com o objetivo de transformá-los no presente trabalho.
Reconhecendo a grande demanda, contudo, bem como o afastamento dos estagiários em
decorrência da interrupção das atividades acadêmicas, tal levantamento, a priori, ocorreu
objetivando o saneamento do cartório do Núcleo visando, meramente, a melhoria do serviço e
do aprendizado. Durante este período, as pastas puderam ser analisadas sem interferências
externas. Com o retorno das aulas, e o intenso fluxo de discentes e assistidos no Núcleo,
somados à necessidade de acompanhamento destes para observação e análise das pastas
remanescentes, foi necessário realizar um recorte na observação da atuação das turmas, tendo
em vista a impossibilidade de acompanhamento de todas as turmas face à escassez de tempo e
energia.

Do mesmo modo, também em razão da multiplicidade da pesquisa, das diversas


variáveis a serem estudadas e da quantidade de documentos a serem processados, houve a
necessidade de limitar a quantidade de pastas analisadas. O objetivo inicial era de processar
67

todas as pastas ativas do Núcleo para obter informações mais precisas e gerais, contudo, tal
desígnio demonstrou-se inviável e, até mesmo, contraproducente, tendo em vista que tal análise
usurparia a atividade dos discentes que as acompanham e implicaria no seu aprendizado.

Depreende-se desta pesquisa alguns padrões: deficiência na comunicação entre o núcleo


e os assistidos para que tivessem ciência do andamento de suas demandas; elevado número de
fichas de atendimento sem o preenchimento adequado (quase a totalidade das fichas exibia
algum campo injustificadamente sem preencher) e de pastas sem as atualizações adequadas
(65,22% das pastas de processos analisadas e 46,4% das provisórias); elevado número de pastas
de processos (44% das analisadas) sem resolução há mais de quatro anos e de pastas provisórias
(24,7%) sem o impulso inicial há mais de dois.

Verificou-se também, a partir das pesquisas de satisfação, a urgência em sanar três


pontos principais: 1) aperfeiçoamento do sistema de controle e cobrança de relatórios
individuais das pastas dos estagiários formandos ou dos que requererão dispensa da disciplina;
2) melhoria do sistema de redistribuição de pastas; e 3) informatização/facilitação do acesso às
pastas e criação de banco de dados com arquivo de referência.

Assim, na segunda etapa da análise, a partir da definição das categorias analíticas,


concluiu-se que o NPJ da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia pode ser avaliado com
baixo grau de eficiência confirmando, assim, nossa hipótese inicial de que: o Serviço de
Assistência Jurídica da UESB tem baixo grau de eficiência, pois não tem assegurado acesso à
justiça aos assistidos que recorrem a este serviço com celeridade e transparência e não tem
assegurado aos estagiários o domínio da prática jurídica que os torne aptos ao mercado de
trabalho na multiplicidade que se propõe.

Considerando tal resultado, e em consonância com as pontuações feitas tanto por


assistidos, quanto por estagiários, sugerir-se-ia: 1) a modernização dos processos internos de
controle do Núcleo a partir da inserção de ferramentas tecnológicas; 2) a reformulação da
metodologia de ensino a partir da criação de uma agenda de atividades específicas aos discentes
para o devido andamento das demandas, somado à exigência de relatórios parciais para
acompanhar os progressos obtidos; e 3) a criação de mecanismos de controle externo para
aferição dos resultados.
68

É importante mencionar que, diante do contexto de pandemia e necessidade de


implementação de atividades remotas, imperou a urgência em efetivar o tópico 1 do parágrafo
anterior: foi iniciado o processo de transformação das pastas físicas para digitais e aberto um
canal de comunicação com o Núcleo via aplicativo de mensagens (WhatsApp).

Não obstante, em que pese ter sido possível verificar grandes avanços no decurso desta
pesquisa, muito em função da disposição dos professores e demais servidores do Núcleo em
torna-los possíveis, bem como os esforços de boa parte do corpo discente, ainda se vislumbram
muitas possibilidades de melhorias, já mencionadas no corpo deste trabalho e relembradas nesta
oportunidade.

Dentre as possibilidades destacam-se: a) a atualização do sistema de registro de pastas,


que seja hábil a gerar relatórios e otimizar o trabalho tanto dos funcionários quanto dos
estagiários; b) criação de cronograma com atividades especificas, uma vez que, como já
mencionado, atividades direcionadas são mais efetivas do que um cronograma geral; c) triagens
periódicas de andamento das pastas (controle interno), bem como realização de pesquisas de
satisfação periódicas com assistidos e estagiários (controle externo); d) criação de um banco de
dados para além da informatização das pastas com a disponibilização de modelos de petição e
estudos de jurisprudência; e e) cobrança de relatórios parciais por unidade para efetivar o
controle e garantir o acompanhamento da produtividade, bem como, reprogramar/reorientar as
atividades de prática segundo os resultados apresentados pelo docente, conforme definido na
regulamentação do Núcleo de Prática Jurídica, vide art. 6º, §4º.

Por certo, ainda existem um universo de mecanismos de mudança a serem


implementados, sempre em busca de mensurar a produtividade afim de garantir a eficiência,
através de: 1) objetivo definido; 2) planejamento para alcançá-lo; 3) criação de dispositivos de
controle a serem aplicados na execução do planejamento; e 4) aferição dos resultados.
69

REFERÊNCIAS

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edição. Editora gen: São Paulo, 2017.

BRASIL, Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. Regulamento Geral do


Estatuto da Advocacia e da OAB. Dispõe sobre o Regulamento Geral previsto na Lei nº
8.906, de 04 de julho de 1994. Sala das Sessões, Brasília, 16 de outubro e 6 de novembro de
1994. Disponível em
<https://www.oab.org.br/content/pdf/legislacaooab/regulamentogeral.pdf>. Acesso em: 22
dez. 2019.

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE nº 29/2007. Consulta relativa às


Diretrizes Curriculares Nacionais e à duração mínima e máxima dos cursos de graduação.
Brasília-DF, Sala das Sessões, em 1º de fevereiro de 2007. Disponível em
<http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/pces029_07.pdf>. Acesso em: 19 abr. 2020.

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE nº 776/97. Orienta para as diretrizes
curriculares dos cursos de graduação. Brasília-DF, Sala das Sessões, 03 de dezembro de 1997.
Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf_legislacao/superior/legisla_superior_parecer776
97.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2020.

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CES nº 45/2006. Consulta sobre


delimitação da Competência Funcional dos Conselhos de Classe e solicitação de declaração
oficial em relação às normas emitidas ilegalmente pelo Conselho Federal de Odontologia para
os cursos de Pós-Graduação Lato Sensu. Brasília-DF, Sala das Sessões, em 21 de fevereiro de
2006. Disponível em <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/pces045_06.pdf>. Acesso em:
19 abr. 2020.

BRASIL. Decreto-lei nº 200 de 25 de fevereiro de 1967. Dispõe sobre a organização da


Administração Federal, estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa e dá outras
providências. Brasília, 25 de fevereiro de 1967. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0200.htm>. Acesso em: 02 mar. 2019.
70

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação Câmara de Educação


Superior. Resolução CNE/CES n° 9. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de
Graduação em Direito e dá outras providências. Brasília, 29 de setembro de 2004. Disponível
em: <
http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:FwAwmhHu6NMJ:portal.mec.gov.b
r/cne/arquivos/pdf/rces09_04.pdf+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 06 fev.
2020.

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação Câmara de Educação


Superior. Resolução CNE/CES n° 5. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de
Graduação em Direito e dá outras providências. Brasília, 18 de dezembro de 2018. Disponível
em: <
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=104111-
rces005-18&category_slug=dezembro-2018-pdf&Itemid=30192>. Acesso em: 25 mar. 2020

BRASIL. Ministro da Educação e do Desporto. Portaria nº 1.886. Fixa as diretrizes


curriculares e o conteúdo mínimo do curso jurídico. Murílio de Avellar Hingel. (30 de dez de
1994). Disponível em <http://www.zumbidospalmares.edu.br/pdf/legislacao-ensino-
juridico.pdf>. Acesso em: 06 jan. 2020.

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº
9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
Brasília, 20 de dezembro de 1996. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 20 jan. 2020.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Guia de Referência do Sistema de Planejamento e


Gestão do Tribunal de Contas da União – TCU. Brasília: TCU, SEPLAN, 2008. Disponível
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https://portal.tcu.gov.br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?fileId=8A8182A24F0A728E014F
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DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 26ª Edição. São Paulo: Editora
Atlas. 2013

HUDLER, Daniel Jacomelli. A assistência jurídica em núcleos de prática jurídica e a


possibilidade de extensão de prerrogativas da defensoria pública. Imprenta: Belo
71

Horizonte, Ciência Jurídica, 1987., pp. Referência: v. 29, n. 185, p. 225–238, set/out 2015.
Disponível em:
<https://www.lexml.gov.br/urn/urn:lex:br:rede.virtual.bibliotecas:artigo.revista:2015;1001069
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IBGE – instituto brasileiro de geografia e estatística. Síntese de indicadores sociais: uma


análise das condições de vida da população brasileira: 2019 / IBGE, Coordenação de
População e Indicadores Sociais. - Rio de Janeiro: IBGE, 2019. Disponível em:
<https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=2101678>.
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LEITE, Rosimeire Ventura. O princípio da eficiência na Administração Pública. Revista de


Direito Administrativo, Rio de Janeiro, v. 226, p. 251-264, out. 2001. ISSN 2238-5177.

MODESTO, Paulo Notas para um debate sobre o princípio da eficiência. Revista do Serviço
Público, Brasília, v. 51, n. 2, p. p. 105-119, 24 fev. 2014.

OLIVEIRA, Ana Carolina Pessoa Braz. Apresentando o SAJU. 2020. 1 vídeo. Publicado pelo
canal Ana Carolina Pessoa. Disponível em: <https://youtu.be/ZFM-pu4ar0k>. Acesso em: 20
jan 2020.

OLIVEIRA, Ana Carolina Pessoa Braz. Ficha de atendimento eletrônica. 2020. 1 vídeo.
Publicado pelo canal Carolina Pessoa. Disponível em:
<https://docs.google.com/document/d/1DKu4jDAlowX967NxHfqF3zMedjwUn24SBul0Z2-
XdJI/edit?usp=sharing>. Acesso em: 9 dez 2020.

OLIVEIRA, Ana Carolina Pessoa Braz. Metas SAJU 2020. 2020. 1 vídeo. Publicado pelo
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OLIVEIRA, Ana Carolina Pessoa Braz. PJE e e-Saj. 2020. 1 vídeo. Publicado pelo canal
Carolina Pessoa. Disponível em: <https://youtu.be/ZFM-pu4ar0k>. Acesso em: 29 jan 2020.
72

OLIVEIRA, José Evandro do Nascimento. O sistema de avaliação de resultados


organizacionais e o princípio da eficiência no serviço público. 2009. 89 p. Trabalho final
(especialização) Universidade do Legislativo Brasileiro (Unilegis), Brasília, 2009.

SÃO PAULO. Ministério Público do Estado. Subprocuradoria-Geral de Justiça de


Planejamento institucional. Manual de indicadores de desempenho. 2017. Disponível em
<http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Centro_de_Gestao_Estrategica/ManualIndicador
es.pdf> Acesso em: 21 abr. 2020.

UESB. Projeto Pedagógico do Curso de Direito. Vitória da Conquista: ano 2011. Disponível
em:
<https://drive.google.com/file/d/1bYt01bfTSPIjhWigSZ3CHvOmOj9W4RX4/view?usp=shar
ing>. Acesso em: 10 dez. 2019.
73

ANEXO A – Regulamento de Estágios constante do Projeto Pedagógico de 2011

REGULAMENTO DOS ESTÁGIOS

I - DOS PRINCÍPIOS GERAIS

Art. 1 °. Este Regulamento rege as atividades do Núcleo de Prática Jurídica (NPJ), responsável
pelos estágios do Curso de Graduação em Direito da Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia (UESB), em especial o Estágio Supervisionado (curricular).

Art. 2°. As atividades de estágio são essencialmente práticas e devem proporcionar ao estudante
a participação em situações simuladas e reais de vida e trabalho, vinculadas à sua área de
formação, bem como a análise crítica das mesmas.

Art. 3°. As atividades de estágio devem buscar, em todas as suas variáveis, a articulação entre
ensino, pesquisa e extensão.

Art. 4°. O estudo da ética profissional e sua prática devem perpassar todas as atividades
vinculadas ao estágio.

II - DO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA

Art. 5°. O Núcleo de Prática Jurídica é o órgão encarregado de supervisionar as atividades de


estágio dos alunos do Curso de Graduação em Direito, sendo composto:
I - Pelo Coordenador de Estágios;
II - Pelos Professores de Estágios;
III - Pela Secretaria de Estágios;
IV - Pelo Serviço de Assistência Jurídica (SAJU).

III - DO COORDENADOR DE ESTÁGIOS

Art. 6°. O Coordenador de Estágios é indicado pelo Colegiado do Curso de Graduação em


Direito, dentre os professores com exercício mínimo de 02 (dois) anos de atividades efetivas
no Núcleo de Prática Jurídica.

§ 1°. O Coordenador de Estágios é indicado para um mandato de 02 (dois) anos, coincidente


com o mandato dos membros do Colegiado do Curso de Graduação em Direito.

§ 2°. A carga horária administrativa atribuída ao Coordenador de Estágios é de até 20 (vinte)


horas semanais.

§ 3°. Juntamente com o Coordenador é indicado um Vice-Coordenador de Estágios a quem


compete à substituição do Coordenador em seus afastamentos e impedimento ao qual é
atribuída a carga horária de duas horas administrativas.

Art. 7°. Compete ao professor Coordenador de Estágios:

I - coordenar o Núcleo de Prática Jurídica e implementar as decisões do Colegiado do Curso de


Graduação em Direito referentes a estágios;
74

II - elaborar, semestralmente, proposta de distribuição entre os Professores de Estágios das


diversas atividades atinentes ao Estágio Supervisionado encaminhando¬-a ao Colegiado do
Curso de Graduação em Direito;

III - aprovar a composição de equipes e escalas de horário dos estagiários junto ao SAJU, de
forma a manter uma distribuição equitativa de acadêmicos nos diversos horários de
funcionamento do mesmo;

IV - propor ao Colegiado do Curso de Graduação em Direito projetos de trabalho


interdisciplinar a serem desenvolvidos conjuntamente com outros Cursos da UESB junto ao
SAJU;

V - dar parecer sobre a viabilidade didática e prática dos projetos alternativos de estágio
encaminhados ao Colegiado do Curso de Graduação em Direito pelos Professores de Estágios;

VI - autorizar atividade externa de estágio em escritório de advocacia ou órgão, entidade ou


empresa conveniada com a UESB;

VII - autorizar a participação em programa alternativo de estágio devidamente aprovado;

VIII - avaliar o estágio externo desenvolvido em escritórios de advocacia, órgãos, entidades e


empresas conveniados;

IX - apresentar ao Colegiado do Curso de Graduação em Direito, semestralmente, relatório do


trabalho desenvolvido no exercício da Coordenadoria de Estágios;

X - tomar, em primeira instância, todas as decisões e medidas necessárias ao efetivo


cumprimento deste Regulamento.

IV - DOS PROFESSORES DE ESTÁGIOS

Art. 8º. São Professores de Estágios aqueles que exercem atividades no Núcleo de Prática
Jurídica, competindo-lhes principalmente:

I - orientar, supervisionar e avaliar as visitas e atividades simuladas e reais das equipes de


estagiários sob sua responsabilidade, atribuindo-lhes as respectivas notas;

II - efetuar o controle de freqüência, ao Estágio Supervisionado, dos estagiários pertencentes às


equipes pelas quais for responsável;

III - acompanhar a elaboração e corrigir as peças processuais assinando, juntamente com os


estagiários pertencentes às equipes pelas quais forem responsáveis, as petições encaminhadas
ao Poder Judiciário através do SAJU;

IV - avaliar a participação das equipes de estagiários pelas quais for responsável, nas audiências
dos processos encaminhados ao Poder Judiciário através do SAJU;

V - proceder à correição semestral, examinando todos os relatórios das audiências realizadas e


cópias das sentenças dos processos liquidados;
75

VI - desempenhar todas as demais atividades decorrentes da sua função.

§ 1°. Todas as atividades de orientação, supervisão, acompanhamento, avaliação e coordenação


atinentes ao Estágio Supervisionado são consideradas atividades docentes, sendo seu exercício
privativo dos membros do corpo docente vinculado ao Curso de Graduação em Direito da
UESB.

§ 2°. Para fins do Plano de Atividades do Curso de Graduação em Direito, cada conjunto de
equipes orientadas pelo mesmo Professor de Estágios, em um mesmo horário, é considerada
uma única turma.

§ 3°. A escala de trabalho dos Professores de Estágios junto ao SAJU é determinada pelo
Colegiado do Curso de Graduação em Direito, ouvido o Coordenador de Estágios, e deve buscar
manter no máximo 03 (três) equipes para cada professor em cada horário letivo, para orientação
e supervisão de suas atividades.

V - DA SECRETARIA DE ESTÁGIOS

Art. 9°. Compete à Secretaria de Estágios:

I - manter arquivos de toda a correspondência recebida e expedida, bem como de toda a


documentação e legislação referentes ao estágio;

II - expedir todas as declarações e certidões pertinentes ao estágio, respeitadas as competências


específicas das demais Secretarias existentes no âmbito do Curso de Graduação em Direito,
previstas na legislação vigente;

III - manter arquivo de controle de todos os convênios que a UESB possui para estágios na área
do Direito, bem como cópias dos termos de compromisso de todos os alunos que estiverem
realizando seus estágios com base nesses convênios;

IV - divulgar as ofertas de estágio extracurricular;

V - manter arquivo com cópias de todos os processos ajuizados através do SAJU, que devem
ser atualizados pelos estagiários;

VI - manter cadastro de clientes do SAJU, que deve ser atualizado com base nos dados
fornecidos pelos estagiários a cada novo atendimento ou ato processual;

VII - fazer a inscrição e encaminhamento das partes ao atendimento pelos estagiários,


respeitando a proporcionalidade por equipe;

VIII - manter uma agenda das audiências referentes aos processos ajuizados através do SAJU,
que deve ser atualizada pelos estagiários;

IX - acompanhar, juntamente com os estagiários, as publicações oficiais;

X - desempenhar as demais atividades de sua competência e as que lhe forem solicitadas pelo
professor Coordenador de Estágios na forma deste Regulamento.
76

VI - DAS MONITORIAS

Art. 10. Compete aos monitores das disciplinas do Estágio Supervisionado a tarefa de assessorar
os Professores de Estágios, bem como orientar os estagiários no desempenho de suas atividades.

Parágrafo único. Os monitores são selecionados na forma da legislação vigente,


preferencialmente dentre alunos que já tiverem cumprido pelo menos cinqüenta por cento
(50%) das atividades pertinentes ao Estágio Supervisionado.

VII - DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO (CURRICULAR)

Art. 11. As atividades do Estágio Supervisionado do Curso de Graduação em Direito obedecem


ao estipulado na legislação em vigor sobre estágios e ao previsto neste Regulamento e incluem
a prática jurídica, nos seguintes níveis:

I - as visitas orientadas;

II - as atividades simuladas das práticas profissionais dos diversos operadores jurídicos,


abrangendo as várias áreas do Direito;

III - as atividades reais desenvolvidas junto ao SAJU.

I - Dos Estagiários

Art. 12. São considerados estagiários, para fins do Estágio Supervisionado, todos os alunos
matriculados nas atividades Visitas Orientadas, Laboratório de Prática Jurídica e Serviço de
Assistência Jurídica, competindo-lhes principalmente:

I - realizar as visitas orientadas e atividades simuladas, pertencentes à matéria Estágio


Supervisionado;

II - cumprir seus plantões junto ao SAJU;

III - preencher fichas de atendimento de todos os clientes que forem atendidos no SAJU,
encaminhando-as à Secretaria de Estágios para cadastramento, na forma do roteiro de
atendimento;

IV - entregar periodicamente ao Professor de Estágios responsável pela equipe, relatório


detalhado de todas as atividades realizadas durante o período respectivo, acompanhado de auto-
avaliação de seu desempenho;

V - redigir as petições de todos os processos nos quais participaram ativamente, delas fazendo
constar a identificação da respectiva equipe, e assiná-las juntamente com o Professor de
Estágios;

VI - comparecer, ao menos um estagiário da equipe, aos atos processuais decorrentes dos


processos sob sua responsabilidade;

VII - acompanhar as publicações oficiais, juntamente com a secretaria, visando manter


atualizada a agenda de audiências e demais atos processuais;
77

VIII - informar à secretaria, com antecedência mínima de três (03) dias, as datas, horários e
locais das audiências de suas equipes;

IX - cumprir as intimações que forem efetuadas nos processos sob sua responsabilidade;

X - agir de acordo com a ética profissional e zelar pelo bom nome do SAJU da UESB;

XI - comparecer às audiências devidamente trajados;

XII - restaurar os processos sob sua responsabilidade, na eventualidade de perda ou extravio;

XIII - manter cópias de todas as peças processuais produzidas nos processos encaminhados ao
Poder Judiciário através do SAJU;

XIV - cumprir este Regulamento e as demais determinações legais referentes ao Estágio


Supervisionado.

§ 1°. No exercício de atividades vinculadas direta ou indiretamente ao SAJU, aplicam-se aos


estagiários do Curso de Graduação em Direito as normas do Código de Ética e disciplina da
Ordem dos Advogados do Brasil.

§ 2°. Quando da infrigência de qualquer norma do Código referido no parágrafo anterior, segue-
se o procedimento e aplicam-se as sanções previstas na legislação específica vigente no âmbito
da UESB, quando trata do regime disciplinar do corpo discente.

II - Das Visitas Orientadas

Art. 13. A carga horária das atividades curriculares denominadas “Visitas Orientadas" é
utilizada para o cumprimento da pauta de visitas definida pelo Colegiado do Curso de
Graduação em Direito e supervisionadas por Professor de Estágios.

§ 1º. A pauta de visitas orientadas deve abranger os diversos órgãos do Poder Judiciário,
Ministério Público, Procuradorias e outras instituições que desenvolvam atividades jurídicas
(judiciárias e não judiciárias), o sistema penitenciário, em todos os seus níveis, bem como a
assistência a audiências e sessões reais.

§ 2°. Das visitas orientadas devem ser redigidos relatórios circunstanciados.

III - Das Atividades Simuladas

Art. 14. A carga horária das atividades curriculares denominadas “Laboratório de Prática
Jurídica" é utilizada para a efetivação de atividades simuladas, incluindo as atividades
simuladas incluem as práticas processuais e não processuais referentes às disciplinas constantes
do currículo pleno do Curso de Graduação em Direito, bem como as atividades profissionais
dos principais operadores jurídicos.

§ 1 °. A pauta de atividades simuladas inclui necessariamente a atuação oral, a análise de autos


findos, as técnicas de conciliação, mediação, arbitragem e o processo administrativo.
78

§ 2°. Para fins de realização de atividades simuladas, os alunos do estágio supervisionado são
divididos em equipes de no mínimo 05 (cinco) e no máximo 25 (vinte e cinco) estudantes.

IV - Do Serviço de Assistência Jurídica (SAJU)

Art. 15. A carga horária das atividades curriculares denominadas “Serviço de Assistência
Jurídica" é utilizada para o atendimento de partes, pesquisa, elaboração de peças processuais e
acompanhamento dos respectivos processos através do SAJU.

§ 1 °. O atendimento no SAJU abrange as áreas cível, criminal e trabalhista e se destina à


população carente.

§ 2°. Para fins de atendimento junto ao SAJU os alunos do estágio supervisionado são divididos
em equipes de no mínimo 03 (três) e no máximo 05 (cinco) estudantes.

Art. 16. O SAJU funciona durante o ano letivo, com horário de atendimento ao público fixado
pelo Coordenador do Núcleo de Prática Jurídica homologado pelo Colegiado do Curso de
Graduação em Direito.

Parágrafo único. Nos períodos interescolares, pode haver plantão, em horário fixado de acordo
com os horários de funcionamento da UESB, com a finalidade de acompanhar os processos em
andamento.

V - Da Avaliação

Art. 17. A avaliação do Estágio Supervisionado desenvolvido nas atividades curriculares


"Visitas Orientadas" e "Laboratório de Prática Jurídica" é efetuada através de notas, de acordo
com a legislação vigente, em especial as normas fixadas pela UESB, atribuídas com base nos
relatórios das visitas orientadas e no desempenho nas atividades simuladas, bem como outros
indicadores e instrumentos que constem dos respectivos Planos de Ensino.

Art. 18. A avaliação do Estágio Supervisionado, desenvolvido nas atividades curriculares -


Serviço de Assistência Jurídica - é efetuada através de notas, de acordo a legislação vigente, em
especial as normas fixadas pela UESB, atribuídas com base nos relatórios semestrais e
individuais de estágio, na correição dos processos de cada equipe e no desempenho efetivo dos
estagiários no SAJU.

§ 1°. A recuperação das notas a que se referem este artigo somente pode ser concretizada através
de plantões, na forma do parágrafo único do artigo 16 deste Regulamento, tendo em vista tratar-
se de atividade eminentemente prática, não recuperável através de provas.

§ 2°. Reprovado na recuperação deve o aluno repetir o estágio no SAJU, em período letivo
regular.

Art. 19. A presença mínima a todas as atividades de estágio, para aprovação, é de 75% (setenta
e cinco por cento).

VIII - DOS ESTÁGIOS EXTRACURRICULARES


79

Art. 20. Para fins de cumprimento previsto no artigo 4° da Portaria nº, 1.886/94/MEC e
Resolução CNE nº. 09/2004 (art.7. § 1°.), nos limites fixados no currículo pleno do Curso de
Graduação em Direito da UESB, pode o aluno realizar estágio extracurricular:

I – em escritório de advocacia, órgão, entidade ou empresa pública ou privada, desde que


credenciado junto à UESB para receber estagiários em Direito e no limite permitido de metade
da carga horária a ser cumprida:

II - em projeto alternativo de estágio aprovado na forma prevista neste Regulamento.

§ 1°. O credenciamento, para fins de estágio externo, obedecidos os critérios e condições


estabelecidos pelo Colegiado do Curso de Graduação em Direito, ouvido o Coordenador do
Núcleo de Prática Jurídica, obedece ao disposto neste Regulamento e demais legislação vigente
sobre convênios para realização de estágios curriculares.

§ 2°. Em todos os casos, a supervisão do estágio, para efeito de avaliação, ficará a cargo do
Núcleo de Prática Jurídica – NPJ.

§ 3°. Os projetos alternativos de estágio funcionam sob a forma de atividades de extensão ou,
conjuntamente, de extensão e pesquisa e possuem necessariamente um professor responsável.

X - DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 21. O presente Regulamento só pode ser alterado através do voto da maioria absoluta dos
membros do Colegiado do Curso de Graduação em Direito, devendo ser submetido às demais
instâncias competentes para a sua análise no âmbito da UESB, na forma de seus regimentos.

Art. 22. Compete ao Colegiado do Curso de Graduação em Direito dirimir dúvidas referentes à
interpretação deste Regulamento, bem como suprir as suas lacunas, expedindo os atos
complementares que se fizerem necessários.

REGULAMENTO DAS ATIVIDADES COMPLEMENTARES

Art. 1o . As atividades complementares serão realizadas pelos alunos durante o Curso, em um


total de pelo menos 300 horas, dentro das seguintes categorias:
I – até 120 horas em pesquisa e iniciação científica: investigação teórica (bibliográfica,
jurisprudencial, etc.) ou empírica (questionários, estatísticas, entrevistas, etc.), e elaboração de
trabalhos científicos, diversos da Monografia de conclusão do curso, desde que acompanhado
de relatório do professor orientador que aprove o trabalho elaborado;
II – até 120 horas em monitoria em disciplinas pertencentes ao currículo pleno, desde que
acompanhado de relatório do professor da disciplina que indique aproveitamento adequado;
III – até 120 horas em cursos de extensão, como participante, oferecidos ou não pela UESB.
IV – até 120 horas em seminários, congressos, simpósios, palestras ou conferências, desde que
acompanhado de certificado de freqüência;
V – até 120 horas em trabalhos voluntários em ONG’s ou outras entidades da sociedade civil,
desde que acompanhados de relatório das atividades aprovado pelo responsável da entidade,
devidamente conveniada;
VI – até 60 horas em estágios extracurriculares, realizados em órgãos públicos, empresas de
economia mista ou da iniciativa privada, mediante convênio com a UESB;
80

VII – até 120 horas em apresentação de trabalhos científicos em Congressos, Seminários e


Palestras, devidamente certificados pela instituição promotora;
VIII – até 60 horas pela freqüência e aprovação em disciplinas de outros cursos da UESB ou
outra instituição de ensino superior, não constantes do currículo do Curso de Direito da UESB;
IX – até 60 horas em Cursos de línguas estrangeiras.
81

ANEXO B - Ficha de Atendimento utilizada no início da pesquisa


82

ANEXO C – Declaração de pobreza


83

ANEXO D – Procuração
84

ANEXO E – Modelo de Relatório


85
86

ANEXO F - Nova ficha de atendimento


87

ANEXO G - Cartão de informações ao assistido


88

ANEXO H – Captura de tela do Formulário do Google utilizado para inserção das demandas
na Lista de diligências
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ANEXO I - Compilação de arquivos e informações úteis aos estagiários do SAJU

(QUASE) TUDO O QUE VOCÊ PRECISA NO SAJU

• VÍDEO DE APRESENTAÇÃO DO SERVIÇO: https://youtu.be/dOBLY_Vrbww


• METAS DE 2020:
o Ajuizar ou arquivar todas as demandas de pastas provisórias
o Dar o andamento processual devido às pastas de processos
o Habilitar os advogados do Núcleo em todos os processos
• SISTEMAS E-SAJ E PJE: https://youtu.be/ZFM-pu4ar0k
• CRONOGRAMA SAJU 2019.2:
https://drive.google.com/open?id=1v0oLLKKkTSrZ9CYpBFL_NeoJyRGtfsqm
• FORMULÁRIOS:
o Mediações: https://forms.gle/qT5w7cvc7baDLd6P8
o Lista de diligências (família):
§ FEVEREIRO: https://forms.gle/ntcuYKgCQ8DRUDKt6
§ MARÇO: https://forms.gle/Sawmg5iVeMUWzdhT7
§ ABRIL https://forms.gle/6V2ABHimHM56CUK46
• Lista de diligências (geral): https://forms.gle/F2gzeqJWigYM8JDE8
• Habilitação dos advogados: https://forms.gle/Yc3vf9WzkNgkcE7w8
• DOCUMENTOS IMPORTANTES:
• Ficha de atendimento:
https://drive.google.com/open?id=1LjaoKmtYeKf5swDwoPRvcD9Ye6H
5Ykxr
• Procuração:
https://drive.google.com/open?id=1p7z75nMlPmAK5JNbwOpZA8NbPm
UELtWa
• Declaração de pobreza:
https://drive.google.com/open?id=1R6_XcG017lK5lCi3xHLiMOyaOvdr
GkMk
• Carta convite:
90

https://drive.google.com/open?id=1M8s6FPdK1xzLQGzvRz7cSBzoiGD
rRxp0
• Doc. em branco com o timbre do SAJU:
https://drive.google.com/file/d/1lQE6B7QnqaLHT7BlHm5JdvPWDRFxZ
aWm/view?usp=sharing
• Relatório:
https://drive.google.com/file/d/1wamZguT0OGYQacTVNAiIX_5uOBGr-
gsr/view?usp=sharing
• Termos de acordo (modelos do Balcão, os termos utilizados devem ser
adequados ao Núcleo/SAJU):
https://drive.google.com/open?id=1cvCQ9KEDr-D4iZsFPfu8_ahQqI85-SrW
• Livro Prática no Processo Civil (Gediel Claudino de Araujo Junior):
https://drive.google.com/file/d/1FVsH-
3N30xzprv87rS8oICkGARp2MLTM/view?usp=sharing
OBSERVAÇÕES GERAIS:
1) Como deve ser o atendimento inicial?
Auto apresentação, apresentação do serviço, preenchimento da ficha de atendimento
Observações: núcleo atende renda familiar até em média 2000 reais, observar ainda
endereço do assistido, se compatível com o que relata.
Telefone: sempre pedir mais de um número de telefone e informar que é indispensável
que o assistido informe ao núcleo caso troque de número pois é o meio que entramos
em contato para informá-lo sobre o andamento do processo.
Solicitar a assinatura do assistido na procuração e declaração de pobreza explicando
por que isso é necessário. Solicitar também documento de identificação com foto e
comprovante de residência para que seja copiado na recepção e anexado à pasta.
Havendo possibilidade de conciliação, será enviada à parte contrária carta-convite
para comparecer ao Núcleo em dia e horário compatível ao do estagiário que
acompanha a pasta. Verificar se há possibilidade de o próprio assistido entregar em
mãos, caso em que poderá ser marcada a tentativa de conciliação para a semana
seguinte (nesse caso, orientar o assistido para que diga a parte contrária que
compareça ao Núcleo portando documento com foto e comprovante de residência).
Não havendo esta possibilidade, a carta será enviada via correio (é necessário que o
endereço esteja correto e completo), assim, a tentativa de conciliação deverá ocorrer
no prazo de 15 dias.
Ao final do atendimento, fazer um resumo compreensível do que foi relatado pelo
assistido a quem não tenha acompanhado o atendimento e anexar à folha de
acompanhamento (digitado de preferência).

2) Como proceder a tentativa de conciliação e quando a dispensar? Inserção da figura


do mediador no núcleo.
91

Em quase todas as demandas de família é cabível a tentativa de conciliação, em


alguns casos, no entanto, é necessário verificar se o convite a uma tentativa de
conciliação no Núcleo será produtivo ou não.
Marcada a tentativa de conciliação, é importante que a minuta de acordo esteja
previamente confeccionada, apenas com espaços para inserir o que as partes
porventura acordarem. A pré-minuta é importante pois quanto mais rápido as partes
assinarem menores as chances de desistirem de transigir. Além disso é importante
para que nenhum tópico seja esquecido.
Desse modo, entendo ser importante que a tentativa de conciliação seja conduzida
por, no mínimo dois estagiários: um que se dirigirá diretamente às partes para
promover o acordo e o outro que colherá as informações técnicas (documentos,
endereço, inclusive as fotocópias destes). Ao fim, não havendo conciliação, dispensar
a parte contrária informando que, diante da inexistência de acordo o Núcleo seguirá
acompanhando o assistido que o procurou e ingressará judicialmente com a ação.
Havendo, pedir que as partes aguardem um pouco até a minuta do acordo ser
definitivamente concluída para assinarem (além da declaração de pobreza e
procuração de ambos, verificar a necessidade de demais docs, a exemplo da certidão
de casamento numa demanda de divórcio ou de nascimento do filho numa de
alimentos).
3) Petição inicial (o que é importante conter em todo caso e quais os documentos
indispensáveis)
Conferir o endereçamento e a qualificação das partes; requerer preliminarmente a
Gratuidade da justiça e Prazos em dobro (NCPC); relatar os fatos com clareza, se
pergunte sempre “uma pessoa que não atendeu a cliente vai compreender tudo?”;
fundamentação jurídica atualizada e em consonância com o tribunal de justiça deste
Estado; nos pedidos nunca esquecer da requerer a gratuidade da justiça, os prazos
em dobro, que a ação seja julgada PROCEDENTE, citação da parte contrária para
apresentar defesa, intimação dos advogados do Núcleo...; reiterar os pedidos
dispersos na petição, (observar se há necessidade de oitiva do MP); Valor da causa.
No caso do assistido ser réu, além de constarem os pontos acima descritos sob a
perspectiva do réu, na Contestação o estagiário deverá observar se existe alguma
preliminar (exemplo impugnação ao valor da causa, prescrição...).

4) Acompanhamento da pasta (NUNCA se limitar a pôr na folha de acompanhamento


apenas “sem movimentações”) e como torná-la mais acessível ao próximo estagiário:
Após o ajuizamento ou contestação e nos casos das pastas em curso é indispensável
um acompanhamento dedicado às demandas pois não é novidade a morosidade do
Judiciário e se dependermos exclusivamente da atuação do judiciário muitas vezes os
clientes não verão garantidos seus direitos.
É importante observar, também, que a rotatividade de estagiários não deve prejudicar
a qualidade do serviço e, por isso, é importante que as pastas estejam completas,
bem organizadas, e com a folha de acompanhamento de fácil compreensão.
92

Deste modo, entendo ser indispensável a presença de breves relatórios dos atos
processuais com indicação das folhas correspondentes e, ainda, do que foi relatado
pelo assistido no atendimento inicial.
Nas pastas já em andamento, isso deve ser feito a partir da peça inicial (um breve
relatório sobre o que versa a demanda com os pedidos), em seguida da contestação
e assim sucessivamente.
Se verificado o decurso de bastante tempo sem movimentações processuais, verificar
se há necessidade de o Núcleo promover alguma diligência ou fornecer alguma
informação e NUNCA pedir meramente o prosseguimento do feito sem indicar o que
deve ser feito a seguir. É importante ainda relatar os atos processuais até ali.
PRINCIPAIS “TRAVAS” AO ANDAMENTO DO FEITO E POSSÍVEIS SOLUÇÕES
• Impossibilidade de fornecer endereço do réu: muitas vezes a parte não conta
com informações corretas ou atualizadas a respeito do endereço do réu e isso
não deve constituir óbice ao acesso à Justiça. Assim, já é pacífica a
jurisprudência no que tange ao dever do Juiz de esgotar os meios para
encontrar o endereço da parte adversa. Se esgotados os meios
inexitosamente, requerer a suspensão do feito por 6 meses e informar tudo na
folha de acompanhamento, orientando ao próximo estagiário que contate
regularmente o assistido em busca de novas informações.
• Impossibilidade de contato com o assistido: requerer a intimação pessoal da
autora para manifestar interesse no prosseguimento sob pena de extinção e
aguardar. IMPORTANTE: caso a cliente apareça no Núcleo informando que
tem interesse, atualizar os telefones e endereços e pedir que sempre informe
em caso de alteração.
• Decurso de tempo sem movimentação por pendência do Cartório ou de
Despacho do gabinete: inserir na lista de diligências (link nos tópicos acima)

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