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Faculdade 

Estácio de Sá de Vila Velha (FESVV)
JÚLIO CESAR PONTES – RA: 2019.0413.4998

Teoria da Encampação
SÚMULA Nº. 628 STJ

A teoria da encampação é aplicada no mandado de segurança


quando presentes, cumulativamente, os seguintes requisitos:

a) existência de vínculo hierárquico entre a autoridade que prestou


informações e a que ordenou a prática do ato impugnado;

b) manifestação a respeito do mérito nas informações prestadas; e

c) ausência de modificação de competência estabelecida na


Constituição Federal.

A teoria da encampação é o ingresso da autoridade coatora correta


ou da pessoa jurídica a que ela pertença no feito para suprimir o
vício e, em decorrência permite o julgamento do mandado de
segurança.

Os conceitos de autoridade coatora e a aplicação da chamada


teoria da encampação, seguindo o entendimento firmado em
precedentes do Superior Tribunal de Justiça.

Como é sabido, no mandado de segurança desenvolveu-se a teoria


da encampação do ato impugnado pela autoridade coatora
inicialmente inadequada ou ilegítima, com o claro objetivo de
aproveitar o procedimento e evitar sua extinção ou mesmo
deslocamento de competência para outro órgão jurisdicional.

A questão maior a ser enfrentada, especialmente diante do texto


contido no Enunciado 628, de Súmula da Jurisprudência dominante
do Superior Tribunal de Justiça e da própria jurisprudência anterior
daquela Corte, é quais os requisitos para esse aproveitamento e
possibilidade de prosseguimento da demanda mesmo em caso de
erro na indicação da autoridade coatora, como se passa a
demonstrar.

Uma das características mais importantes do procedimento do


mandamus é a presença da autoridade coatora. Contudo, em qual
condição? Parte, litisconsorte ou terceiro interveniente? O erro na
indicação da autoridade coatora gera a extinção do processo?
Essas perguntas são relevantes para o desenvolvimento da teoria
da encampação.

Em verdade, devem ser interpretadas as normas fundamentais do


CPC/15 (como boa-fé, dever de cooperação, contraditório prévio)
em consonância com o procedimento do mandado de segurança.
Da mesma forma, a primazia de resolução de mérito (arts. 4º e 6º,
do CPC/15) deve ser vislumbrada com os olhos voltados ao
mandado de segurança.

Em que pese a existência de manifestações em sentido contrário,


acompanho o posicionamento de que a autoridade coatora não é ré
no procedimento mandamental, mas mera informante, não devendo
ser considerada a peça informativa como defesa, mas meio de
prova1. Sendo informante, exclui-se a alegação de que seria
litisconsorte passivo2, parte ou assistente litisconsorcial passivo3.

Em decorrência deste raciocínio, o erro na indicação da autoridade


não gera a extinção do processo por ilegitimidade (desde que não
seja alterada a pessoa jurídica indicada no polo passivo), sendo
possível, dependendo do caso concreto, a decretação de
incompetência absoluta do Órgão Jurisdicional a quem foi
distribuído o feito.

O próprio CPC permite a correção do polo passivo (arts. 338 e 339),


visando o atendimento aos princípios da efetividade, celeridade,
duração razoável do processo e primazia da resolução de mérito.

O Superior Tribunal de Justiça admite, com alguns regramentos, a


correção da autoridade coatora (AgInt no REsp 1505709/SC, Rel.
Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado em
23/06/2016, DJe 19/08/2016; AgRg no RMS 32184/PI, Rel. Ministro
HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em
22/05/2012, DJe 29/05/2012; AgRg no RMS 35638/MA, Rel.
Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
12/04/2012, DJe 24/04/2012) como forma de evitar a extinção do
processo sem resolução de mérito e atender, como consequência,
os princípios constitucionais indicados acima.

A questão ligada à correção da autoridade coatora pode ficar


superada, ao se entender que a parte passiva no mandado de
segurança é a pessoa jurídica. Aliás, alguns precedentes da Corte
da Cidadania permitem essa correção do aspecto procedimental,
desde que seja mantida a competência do Órgão Jurisdicional e
ambas as autoridades pertençam à mesma pessoa jurídica (STJ -
AgRg no AREsp 368.159/PE, Rel. Min. Humberto Martins,
Segunda Turma, julgado em 1º/10/2013)5.

Mesmo em caso de erro na indicação da autoridade coatora,


eventualmente poderá ocorrer a aplicação da chamada teoria da
encampação. Contudo, é necessário atender alguns requisitos para
a encampação, partindo de duas afirmações: a) a competência no
mandado de segurança é estabelecida pela autoridade apontada
como coatora pelo impetrante; b) o sujeito passivo é a pessoa
jurídica, ressalvados os posicionamentos anteriormente apontados.

O equívoco em relação à autoridade pode gerar a decretação de


incompetência absoluta do Órgão Jurisdicional originário, tendo em
vista que, dependendo do caso concreto, a alteração da autoridade
apontada como coatora, v.g, de uma que detém prerrogativa de foro
para o processamento em Tribunal (Local ou Superior) para outra
que não a possui, poderá gerar a modificação do órgão competente
para apreciação do mandamus. Neste caso, mesmo que tenha
adentrado no mérito, não há que se falar em possibilidade de
aplicação da encampação.

Os Tribunais pátrios (especialmente o Superior Tribunal) têm


enfrentado os requisitos para a aplicação da teoria, quando, apesar
de indicada incorretamente, a autoridade ultrapassa as preliminares
processuais e adentra no mérito do ato impugnado pelo impetrante,
não devendo ser extinto o processo por ilegitimidade .
Contudo, três indagações devem ser enfrentadas para o correto
aproveitamento processual do MS: a) qualquer autoridade pode
encampar o ato supostamente imputado a outra ou apenas aquela
com competência hierárquica superior? c) amplia-se a competência
funcional no caso de modificação da autoridade? c) a encampação
será na condição de parte ou de terceiro?

A aplicação da teoria pressupõe a atuação de autoridade


hierarquicamente superior. No RMS 28745/AM, a Corte Superior
entendeu inaplicável a teoria exatamente pelo fato de que a
autoridade era de hierarquia inferior e não poderia encampar ato
que deveria ser praticado pela superior: 

Trecho de acórdão  
“(...), cumpre ressaltar não ser possível a aplicação da Teoria da
Encampação. De acordo com a referida hipótese, ainda que haja
indicação equivocada da autoridade coatora, estando presentes
determinadas condições, a ilegitimidade passiva originária pode ser
suprimida, e o feito ter prosseguimento, em observância à
celeridade e à economia processual.
Nessa linha de entendimento, o Superior Tribunal de Justiça, mitiga
a indicação errônea da autoridade coatora em ação mandamental,
indicando ser possível apenas quando presentes os seguintes
requisitos: 1) existência de vínculo hierárquico entre a autoridade
que prestou informações e a que ordenou a prática do ato
impugnado; 2) manifestação a respeito do mérito nas informações
prestadas; e 3) ausência de modificação na competência
constitucionalmente estabelecida (AgRg no RMS 30.771/RJ, Rel.
Ministro DJe 30/11/2016; AgInt no RMS 42.563/MG, Rel. Ministra
REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, julgado em
23/05/2017, DJe 29/05/2017).
Assim, para se aplicar a Teoria da Encampação, a indicação
errônea da autoridade coatora em mandado de segurança não pode
resultar em modificação da competência legalmente estabelecida,
seja na Constituição Federal, seja em Constituição Estadual ou na
Lei Orgânica do Distrito Federal, sob pena de se violar o princípio
do juiz natural (art. 5º, incs. XXXVII e LIII, da Constituição
Federal).”Acórdão 1165469, 07226353520188070000, Relator:
SANDOVAL OLIVEIRA, 2ª Câmara Cível, data de julgamento:
8/4/2019, publicado no PJe: 17/4/2019.

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