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Aula 2 – Ementa: Tutela provisória de urgência antecipada e cautelar.

Tutela da
evidência

1. Da tutela antecipada (satisfativa) antecedente:

Adotando a nomenclatura do CPC/15, fala-se em tutela provisória de urgência com


procedimento de tutela antecipada em caráter antecedente. Está prevista nos arts. 303/304,
CPC/15. Nesse ponto, o que se quer é a antecipação provisória dos efeitos materiais de uma
tutela definitiva fundamentada na urgência e contemporânea à propositura da ação, havendo a
necessidade de demonstração do fumus boni iuris e periculum in mora.
Hartmann1 sustenta que a regra é a apresentação do pedido completo, mas caso a
urgência seja contemporânea a demanda é possível que se apresente um pedido simplificado,
com os requisitos específicos dos arts. 303/304, CPC/15. O referido jurista chama atenção ao
fato de que tal detalhe não é uma faculdade das partes, mas uma consequência da necessidade
do pedido. Um exemplo muito ilustrativo seriam as iniciais distribuídas em sede de plantão
judicial em que a urgência não pode esperar a petição inicial completa em sua causa de pedir e
pedidos.
Tal tutela provisória é satisfativa porque tem vínculo direto com o direito material
pretendido. Se faz em um único processo que tem início com um requerimento anterior à
tutela definitiva, de forma antecedente, através da petição inicial do art. 303, CPC/152,
inclusive com valor de causa (§4°) que pode se limitar ao requerimento da tutela antecipada3.
Posteriormente, dentro do mesmo processo, ocorre a oportunidade de formular pretensão
para tutela definitiva, nos termos do §1° do art. 303, em que o autor deverá aditar em 15 dias,
caso seja deferida, nos mesmos autos e sem outras custas processuais (§3°).4

1
HARTMANN, Rodolfo Kronemberg, Curso completo do novo processo civil, 4ªed.,
Impetus, 2017
2
Requisitos: contemporânea à propositura da ação, com pedido com exposição da lide, do
direito que se busca realizar e do perigo de dano ou do risco ao resultado útil do processo.
Tais requisitos estão no art. 303, caput, §4° e §5°, CPC/15.
3
A ideia da tutela provisória parte da premissa que basta ao autor a antecipação dos efeitos da
tutela para satisfazer sua pretensão, faltando-lhe interesse para prosseguir, portanto, cabe
indicar expressamente a limitação ao requerimento de tutela antecipada, como determina o §5°
do art. 303, CPC/15, e só assim é possível, caso contrário a tutela não poderia se estabilizar
(art. 304). Ele indica na inicial que quer apenas a tutela provisória e indica a tutela definitiva. A
decisão se torna estável. Caso ele diga que quer a tutela final, o processo segue e a decisão fica
impossibilitada de se estabilizar, seguindo para a prolação de sentença de mérito.
4
Caso a tutela não seja deferida, o Juízo determinará a emenda em 05 dias sob pena de
indeferimento e extinção sem análise de mérito, como aduz o §6° do art. 303, CPC/15. Aqui
vale relembrar que a decisão que indefere a tutela provisória de urgência antecipada é
interlocutória, cabendo até mesmo sustentação oral do recurso, segundo art. 937, VIII,
Mencione-se o §6° do art. 303, CPC/15, que aborda o indeferimento da tutela, mas
sem utilizar essa terminologia, preferindo a frase: “caso entenda que não há elementos para a
concessão da tutela, o juiz determinará a emenda da inicial em 05 dias”. Parte da doutrina
entende que o juiz não precisa indeferir expressamente a tutela. O caso é arriscado, pois a
omissão pode acarretar oposição do recurso de embargos de declaração, atrasando ainda mais
o processo. Nessa situação, o autor será intimado na figura de seu patrono para emendar a
inicial em 05 dias sob pena de indeferimento da inicial e consequente extinção sem resolução
de mérito (art. 485, I, CPC/15).
O §1° do art. 303, CPC/15 trata da hipótese de deferimento da medida, optando pela
frase: “concedida a tutela antecipada”. No deferimento, é importante observar o inciso I e §2°
do mesmo art. 303, em que se determina o aditamento em 15 dias para apresentar o pedido da
tutela definitiva e caso não o faça o processo será extinto sem análise de mérito.
O art. 304, caput torna a decisão do art. 303 estável se da decisão que a conceder não
se interpor respectivo recurso de Agravo de Instrumento – art. 1015, I, CPC/15. É um dos
temas mais debatidos. O CPC/15 nada aduz sobre o aditamento nesse ponto, apenas da
estabilidade pela falta de recurso.
Caso o autor/demandante não adite e o réu não recorra, a doutrina afirma que o
processo será extinto sem análise de mérito, mas a decisão continuará produzindo efeitos,
logo, estabilizando a tutela provisória!
É uma estabilização que não é coisa julgada, pois produz efeitos até que venha a ser
substituída por outra tutela, a definitiva! A regra é a primazia pela resolução do mérito, mas a
estabilização da tutela provisória é exceção.
Interessante anotar que o CPC/15 também fala em estabilidade ao abordar o
saneamento das demandas pelos magistrados, no art. 357, §1°, CPC/15. Rodolfo Hartmann,
data vênia, discorda do legislador no caso específico ao entender que aqui o que se busca é o
conteúdo das decisões de saneamento e não seus efeitos, ou seja, no caso do art. 357 a
nomenclatura correta seria PRECLUSÃO (que também se liga a ideia de imutabilidade de
decisões judiciais).
Aliás, o mesmo autor defende que caso a tutela antecipada seja deferida e a parte não
emendar a peça inicial o Juiz deve extinguir o feito e caçar a tutela, pois entende que não é
faculdade da parte a escolha pelo rito da peça inicial completa ou simplificada, mas apenas se a
urgência é contemporânea à propositura da ação.
Por fim, mencione-se a possibilidade acerca de sua aplicação nas demandas de
procedimento comum e especial do CPC/15, bem como nos procedimentos especiais

CPC/15. Caso não haja o aditamento no prazo convencionado o processo será extinto sem
análise de mérito, art. 303. §2°, CPC/15
previstos em leis extravagantes5 de nosso ordenamento, como é o caso das ações de despejo,
consignação em pagamento, demandas em Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais6 etc

2.1. Pressupostos para estabilização da tutela provisória:

i) O autor deve formular o pedido de tutela antecipada em caráter


antecedente e na forma de pedido simplificado, obedecendo os
requisitos específicos;
ii) O autor não pode manifestar sua intenção na tutela definitiva, deixando
clara sua intenção de apenas ter sucesso no pedido simplificado;
iii) Proferida a decisão concessiva da tutela antecipada, ela não
complementará os pedidos;
iv) Ausência de recurso de agravo de instrumento pelo Réu (art.304,
CPC/15).

O §2° do art. 304, CPC/15 prevê hipótese de ação autônoma com o intuito de rever,
reformar ou invalidar, sendo certo que a tutela conservará seus efeitos enquanto a ação não
for intentada (§3°). Essa decisão não faz coisa julgada, como o próprio §6° do art. 304 aduz.
A figura da estabilização ainda é muito debatida na doutrina, existindo quem defenda
que é hipótese de monitorização do processo, isto é, diante da inércia do Réu que concedeu a
tutela provisória, ela se estabiliza, extinguindo o feito sem análise de mérito, mas com seus
efeitos conservados no tempo, como nos mostra o art. 304 e parágrafos, CPC/15.
A coisa julgada tem a ver com o fenômeno da imutabilidade do conteúdo das
decisões. A preclusão também se refere à imutabilidade do conteúdo das decisões judiciais.
Entretanto, o CPC/15 traz um novo termo: estabilidade, que não se refere ao conteúdo da
decisão judicial, mas aos seus efeitos. Exemplo: Foi conferida a decisão para garantir uma
internação hospitalar via tutela antecipada pelo tempo necessário. Não se interpôs o agravo de
instrumento contra a decisão interlocutória concessória, consequentemente, o processo foi
extinto sem resolução de mérito. Não se fez coisa julgada, posto que as decisões dessa
natureza admitem revisão (atenção ao prazo prescricional), mas seus efeitos satisfazem a tutela
jurisdicional, mesmo e não se aprofundando os atos cognitivos.
Uma das críticas que se faz deste dispositivo é o estímulo ao recurso de agravo de
instrumento, pois em sua ausência a decisão interlocutória se estabiliza (em seus efeitos) e a
demanda é extinta sem análise de mérito! Neste caso, o Réu pode até concordar com a tutela
antecipada deferida, mas se quiser discutir o mérito da questão ele é obrigado a recorrer.

5
STJ, 5° e 6° Turmas, REsp 702.205/SP e REsp 754.619/SC.
6
Todavia, segundo os enunciados 163 do FONAJE e 178 do FONAJEF, a tutela de urgência
nos Juizados somente será admitida em sua forma incidental, especialmente em razão da
impossibilidade de sua estabilização e, consequentemente, ajuizamento da ação revocatória
prevista no CPC/15.
O referido instituto não se pauta pelo princípio da primazia da resolução do mérito,
o que é exceção.

2.2. A ação autônoma para rever, reformar ou invalidar a tutela provisória


antecipada estabilizada: art. 304, §2°, §4° e §5°, CPC/15. Ação revocatória:

Caso as partes (autor ou réu) queiram rever, invalidar ou reformar a tutela antecipada
estabilizada anteriormente deverão propor ação autônoma, chamada de revocatória7 (art. 304,
§2°, §4° e §5°, §6°) que seguirá o procedimento comum.
Ressalte-se que o §4° do art. 304 determina o desarquivamento dos autos principais
para instrução da petição inicial, prevento o Juízo que examinou a tutela antecipada
antecedente.
O §5° do supracitado artigo do CPC/15 estabelece o prazo de 02 anos para
ocorrência da extinção do direito de rever a tutela provisória estabilizada, ajuizando a ação
autônoma, contados da ciência da decisão que extinguiu o processo sem sua resolução de
mérito.
A doutrina, como o processualista paulista Daniel Amorim Assumpção Neves, tem
tratado do prazo seguinte aos 02 anos previstos para ajuizamento da ação autônoma,
defendendo uma interpretação extensiva computando-se mais 02 anos para propositura da
ação rescisória, mesmo não havendo coisa julgada, fundamentando o entendimento no art.
966, CPC/15.
Há posição da doutrina no sentido de não caber a ação revocatória em face das
tutelas provisórias estáveis nos Juizados Especiais, uma vez que as pessoas jurídicas ou
pessoas de direito público demandadas no JEC não tem legitimidade para figurar como
autores no rito sumariíssimo, além da ausência do recurso de agravo de instrumento. Não que
prejudique a prestação da tutela, pois basta ao autor se basear no microssistema dos Juizados,
que prevê a figura da liminar (Leis do JEF´s e JFP), solucionando a questão pelo critério
especial que se sobrepõe a lei geral do CPC/15.

3. Tutela provisória de urgência com procedimento de tutela cautelar requerida


em caráter antecedente (não satisfativa). Arts. 305/310, CPC/15:

Como bem define a doutrina, a tutela de natureza cautelar é aquela que se projeta no
futuro, no sentido de assegurar a efetividade do direito material ainda não decidido, em razão
do tempo/demora para sua concessão. É importante ter em mente que a tutela provisória
cautelar não concede o direito material (pedido principal), apenas assegura seu resultado útil,
por isso a doutrina a chama de não satisfativa.

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Nomenclatura adotada pelo processualista Leonardo Greco.
Antes da codificação processual de 2015, o CPC/73 (revogado) tratava das medidas
cautelares enquanto procedimento autônomo e próprio, o que não persistiu no CPC/15, que
liquidou a autonomia do processo cautelar, alocando-o no campo das tutelas provisórias.
Tradicionalmente, como o processo é considerado um instrumento, não um fim em
si mesmo, a tutela cautelar é igualmente considerada um instrumento, logo, também não é um
fim em si, classificada como o instrumento do instrumento8.
A pretensão poderá ser formulada de maneira antecedente, conforme art. 294,
parágrafo único, CPC/15. Nessa medida, a tutela cautelar admite requerimento inicial
simplificado, exigindo-se a formulação da pretensão principal na chamada instrumentalidade e
dependência da tutela principal, nos termos do art. 308, caput.
Pode também ser requerida em caráter incidental, isto é, em conjunto aos pedidos
principais, como uma petição inicial completa à luz do art. 308, §1°, CPC/15.
Os requisitos específicos da peça inicial simplificada estão presentes no art. 305,
CPC/15, sendo imperioso que se demonstre a lide e seu fundamento, o perigo da demora
(perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo) e a fumaça do bom direito (exposição
sumária do direito que se objetiva assegurar), sempre interpretado em conjunto aos requisitos
gerais da petição inicial do art. 319, CPC/15, inclusive o valor da causa, que deve considerar o
pedido da tutela final, em analogia ao art. 303, §4°, CPC/15.
Em atendimento ao princípio da fungibilidade, art. 305, parágrafo único, CPC, o
magistrado poderá converter o requerimento cautelar equivocado em pedido de tutela
antecipada ou vice-versa, se for hipótese mais adequada9. Alguns autores utilizam a
nomenclatura: fungibilidade progressiva10, existente no art. 322, §2°, CPC/15, dando
continuidade ao processo, nos termos do parágrafo único do art. 305, CPC/15.
Uma vez concedida a tutela cautelar antecedente (simplificada), a inicial deverá ser
aditada pelo autor em 30 dias, art. 308, CPC/15, nos mesmos autos, não dependendo do
recolhimento de novas custas, com o pedido principal, sob pena de perder a eficácia da tutela,
art. 309, I, CPC/15, formando um processo único.
Reza a lei processual civil que o Réu será intimado da decisão provisória requerida
em caráter antecedente e citado para, no prazo de 05 dias, contestar os argumentos da peça
inicial simplificada, assim como indicar provas que pretende produzir, sob pena dos efeitos da
revelia, caso em que o magistrado decidirá em 05 dias, art. 307, CPC/15, considerando o
prazo dobrado à Fazenda, MP, Defensoria Pública e litisconsórcio passivo em processo físico
com advogados distintos.
Sendo tempestivamente apresentada a contestação do art. 306, CPC/15, o
procedimento observado será o comum. (art. 306 e 307, parágrafo único), havendo nova
8
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Manual de Direito Processual Civil. 2ªed., Juspodium,
2020, pg 450/451.
9
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Manual de Direito Processual Civil. 2ªed., Juspodium,
2020, pg 454.
10
Contrário: Fungibilidade regressiva. Pedido de tutela provisória fundada em tutela
antecipada convertido para cautelar. Do mais, satisfativa, para o menos, não satisfativa.
contestação no futuro quanto ao pedido principal, pelo prazo convencional do art. 335,
CPC/15 à luz do art. 308, §4°, CPC/15.
Somente após a complementação do pedido principal (30 dias) será designada
audiência de conciliação e mediação, art. 308, §3°, CPC/15, sendo as partes intimadas por seus
advogados na forma do art. 334, §3°, CPC/15 seguindo-se o procedimento comum.
Dispõe o art. 309, CPC/15, que a tutela cautelar antecedente perde sua eficácia se: i)
o autor não deduzir o pedido principal no prazo legal de 30 dias, valendo menção a Súmula
482, STJ11; ii) não for efetivada dentro de 30 dias. Atenção, o quesito trata de hipótese em que
a parte não contribui com o cumprimento de diligências, como apresentação de documentos,
recolhimentos de custas etc, iii) o juiz julgar improcedente o pedido principal ou extinguir sem
análise de mérito.
Informação importante quanto ao tema está inserida no parágrafo único do art. 309,
CPC/15, que proíbe a renovação de pedido cautelar que perdeu a eficácia, salvo sob novo
fundamento/causa de pedir. É um dispositivo que dá ensejo à defesa da coisa julgada material
no âmbito da cautelar, uma vez que a ideia de novo fundamento significa nova causa de pedir.
O indeferimento da cautelar não impede que o autor apresente o pedido principal
(art. 310, CPC/15), nem influi em seu julgamento, mas existe um entendimento/estratégia que
defenda a extinção do feito pela não complementação, com posterior ajuizamento da ação
completa em seus pedidos.
Há na doutrina quem defenda a possibilidade de concessão de ofício da tutela
cautelar pelo magistrado. Todavia, não nos parece razoável tal entendimento, muito menos há
previsão expressa no CPC/15 para tal.

4. Da tutela da evidência (Satisfativa) e de suas hipóteses de cabimento. (Art.


311, CPC/15):

Da mesma maneira que a tutela de urgência, a tutela de evidência não pode ser
analisada de ofício. É cabível quando não for possível falar em julgamento antecipado do
mérito (arts. 355/356, CPC/15) e seja possível demonstrar/evidenciar a probabilidade e
existência do direito alegado pelo autor. Vale frisar que a tutela provisória é deferida (ou não)
por meio de decisão interlocutória, que não terá o condão de formar a coisa julgada material,
podendo ser atacada pelo recurso de agravo de instrumento.
A doutrina majoritária defende que a tutela de evidência não comporta a mesma
restrição da tutela de urgência no que toca a irreversibilidade dos efeitos da decisão, uma vez

11
STJ. Súmula 482 - A falta de ajuizamento da ação principal no prazo do art. 806 do CPC/73
acarreta a perda da eficácia da liminar deferida e a extinção do processo cautelar.
Obs: O art. 806, CPC/73 se referia ao processo cautelar autônomo, hoje extinto, em que
“cabe à parte propor a ação, no prazo de 30 (trinta) dias, contados da data da
efetivação da medida cautelar, quando esta for concedida em procedimento
preparatório.”
que visa apenas reprimir conduta indevida do réu ou analisar requerimento com grau muito
maior de probabilidade, sem a existência de julgamento definitivo quanto a matéria, podendo,
frise-se, ser modificada ou revogada a qualquer tempo.
Assim, quando no curso do processo, ocorrendo as hipóteses dos incisos I, II, III e
IV do art. 311, não há necessidade de aguardar até o final do processo para a satisfação da
pretensão material, sendo esta uma espécie de tutela provisória de natureza satisfativa.
Deve ser concedida independentemente da demonstração do periculum in mora e suas
hipóteses advém dos incisos I, II, III e IV do art. 311, CPC/15, cujo rol é taxativo12, muito
embora parte da doutrina indique que as hipóteses do art. 311 são tutelas da evidência típicas,
estando as atípicas esparsamente no CPC/1513, como é o caso da liminar nas ações
possessórias (art. 561), a liminar nos embargos de terceiros (art. 678), a liminar na ação
monitória (art. 700/701), todas com requisitos específicos capazes de distorcer o conceito
geral apresentado pelo legislador.
O fundamento aqui tratado não é a urgência, mas sim a evidência, ou seja, a prova
relativamente segura da veracidade dos fatos alegados pelo autor. In casu, evidencia-se o direito
apresentado pelo autor. O fumus boni iuris está presente e se cumula com as hipóteses dos
incisos do art. 311, CPC/15.
É vedado seu requerimento de forma antecedente, não podendo ser deferida
enquanto não formulado os pedidos principais completos, apenas na forma incidental,
portanto, formulado ou como tópico da petição inicial, ou em petição intercorrente
devidamente fundamentada juntada aos autos principais, não havendo preclusão temporal
para seu requerimento14.
Dada as circunstâncias, pode ser decidida liminarmente, como indica o parágrafo
único do art. 311, CPC/15.
A doutrina indica que o termo não deve ser interpretado de forma literal, pois a
situação denota casos em que o requerente apresenta direito mais “provável” que seu
adversário15. A tutela, por ser baseada na evidência, pressupõe o elemento da juridicidade do
direito, portanto, o caso do inciso I, por exemplo, deve ser conjugado com os elementos
genéricos do art. 311, CPC/15, isto é, a probabilidade do direito.
O inciso I é hipótese de tutela de evidência punitiva, podendo ser concedida em duas
hipóteses: i) Abuso de direito de defesa, ou, ii) Manifesto propósito protelatório, não
excluindo a necessidade de demonstração da probabilidade do direito da parte do autor para
sua concessão, pois este é um requisito genérico.

12
RIOS GONÇALVES, Marcus Vinicius. Novo curso de direito processual civil. Vol.02.
Saraiva. 9ª ed.. 2016, pg 349.
13
NEVES, Daniel Amorim Assumpção, Manual de direito processual civil, Volume único,
12ªed., Juspodium, 2020, pg 568.
14
NEVES, Daniel Amorim Assumpção, Manual de direito processual civil, Volume único,
12ªed., Juspodium, 2020, pg 567.
15
SCARPINELLA BUENO, Casio. Manual de direito processual civil, vol. Único. Saraiva.
2017:282.
Na hipótese do inciso I do art. 311 não há possibilidade de seu deferimento liminar,
partindo-se da premissa da necessidade uma análise mais robusta dos fatos e provas. Aqui,
inclusive, a hipótese aparece concretamente após a contestação do réu.
Hartmann defende que essa é hipótese de tutela antecipada da evidência que pode ser
deferida de ofício pelo Juiz. A punição é a antecipação provisória dos efeitos materiais de uma
futura tutela definitiva satisfativa.
Já os incisos II, III e IV, por seu turno, são hipóteses de tutela de evidência
documentada, senão vejamos.
O inciso II trata das alegações que podem ser comprovadas documentalmente e, ao
mesmo tempo, haver tese firmada em demandas repetitivas (art. 928, CPC/15) ou súmula
vinculante. É mais uma forma de caracterizar a força de um precedente.
Na hipótese do inciso III, em se falando de pedido reipersecutório16 (de devolução
ou entrega de coisa ou objeto), fundado em prova documental adequada do contrato de
depósito (art. 627, CC/02 – pelo contrato de depósito, recebe o depositário o objeto para
guardar, até que o depositante o reclame).
Existindo tal prova, permite-se ao juiz adotar as providências necessárias sem
maiores delongas. Também pode ser decidida liminarmente.
Por fim, a hipótese do inciso IV ocorre quando a peça inicial é instruída com prova
documental suficiente para provas os fatos constitutivos do direito autoral, a que o réu não
oponha prova capaz de gerar dúvida razoável.
Em decorrência da elevada probabilidade do direito autora, é permitido ao juiz
adotar as providências necessárias à satisfação da pretensão.
Aqui não é possível seu deferimento liminar, partindo-se da premissa de uma análise
mais robusta dos fatos e provas. Sua possibilidade de deferimento aparece após a contestação.
O referido inciso IV sofre críticas por parte da doutrina, que entende que o magistrado
deveria julgar o mérito de maneira antecipada (art. 355, CPC/15) ao invés de promover a
tutela provisória da evidência, uma vez que já se admite a prestação da tutela de forma
definitiva.

5. Referências bibliográficas:

➢ BERNARDINA DE PINHO, Humberto Dalla. Direito Processual Civil Contemporâneo. 5ªed.,


Saraiva, 2018
➢ DINAMARCO, Candido Rangel. A instrumentalidade do processo, Malheros. 13° ed., 2008.
➢ GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Manual de Direito Processual Civil. 2ªed., Juspodium, 2020.
➢ HARTMANN, Rodolfo Kronemberg, Curso completo do novo processo civil, 4ªed., Impetus,
2017.
➢ HARTMANN, Rodolfo Kronemberg, Código de Processo Civil Comentado, 3ªed., Impetus,
2018.

16
Termo jurídico que define uma ação em que o autor demanda o que é seu e está fora do seu
patrimônio, geralmente bens imóveis.
➢ NEVES, Daniel Amorim Assumpção, Manual de direito processual civil, Volume único, 12ªed.,
Juspodium, 2020.
➢ RIOS GONÇALVES, Marcus Vinicius. Novo curso de direito processual civil. Vol.03. Saraiva. 9ª
ed.. 2016.
➢ SILVA, Edward Carlyle. Direito processual civil. Niterói, Impetus, 2007.
➢ SCHREIBER, Anderson. Manual de Direito Civil Contemporâneo. Saraiva, 2018.
➢ SCARPINELLA BUENO, Casio. Manual de direito processual civil, vol. Único. Saraiva. 2016.

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