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MATERIAL DE APOIO

DIREITO PROCESSUAL CIVIL II


Atualizado pelo NCPC

5º SEMESTRE

PROFESSOR: MAURÍCIO ZANDONÁ


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FORMAÇÃO, SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DO PROCESSO

FORMAÇÃO DO PROCESSO

O processo se forma através de uma relação jurídica material estabelecida por um vínculo
entre pessoas, provocado por um fato que induz à modificação da situação material.

A relação jurídica processual se estabelece entre os sujeitos do processo: juiz, autor e réu.

São três as teorias que estabelece a relação jurídica processual, qual seja: a linear, a triangular
e a angular.

Teoria linear: os direitos e deveres do processo se estabelecem entre autor e réu.

-------------------------------------------------->

Autor Réu

-----------------------------------------------

Teoria triangular: o vínculo das partes para o exercício dos direitos e deveres é estabelecido
juntamente com os poderes do juiz.

Juiz

Autor Réu

Teoria angular: nesta relação processual, os direitos e deveres das partes estão voltados para
o juiz, ou seja, vinculados diretamente às decisões deste.

Juiz

Autor Réu
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O processo tem início com o requerimento da parte, mas se desenvolve mediante impulso
oficial. (art. 2º do CPC)

Considera-se proposta a ação quando a petição inicial for protocolada, contudo a produção
dos efeitos do art. 240 só serão produzidos com a citação válida. (art. 312 do CPC)

SUSPENSÃO DO PROCESSO

Ocorre a suspensão do processo por acontecimento voluntário ou alheio a vontade das partes,
que, temporariamente, causa a paralisação da marcha processual.

Depois de superada a crise, os prazos iniciados antes da suspensão reiniciam pelo restante do
tempo, mediante nova intimação.

As hipóteses de suspensão estão previstas no art. 313 do CPC, com as seguintes


observações:

Inciso I - No caso de direitos intransmissível, ocorrendo a morte da parte, a ação é extinta e


não suspensa.

Ex: ação e divórcio conjugal; ação de alimentos.

Inciso V – se trata de suspensão por questões prejudiciais anteriores ao mérito.

Ex: perícia a ser produzida em outro juízo por carta precatória.

Inciso VIII – outros casos previstos em lei

Ex: embargos de terceiro; embargos à execução com garantia de penhora.

Além disso, o NCPC disciplinou o procedimento da “ação de habilitação” (art. 687/692 CPC) a
fim de promover a substituição das partes (autor e réu) em razão de seu falecimento por seus
sucessores ou interessados, conforme prevê o §2º do art. 313 do CPC, quando então o
processo também deverá ser SUSPENSO até que se decida sobre a habilitação dos sujeitos
interessados.
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Ainda, o NCPC também regulamentou a necessidade do processo ser suspenso quando o


conhecimento do mérito depender de verificação de fato delituoso, cujo prazo de suspensão
variará entre 03 meses a 01 ano dependendo da existência de ação penal proposta contra o
réu. (art. 315 CPC)

EXTINÇÃO DO PROCESSO

A relação processual sempre será resolvida através de uma sentença judicial, mediante o
exercício da atividade jurisdicional do magistrado, situações que serão vistas ao final do
procedimento comum.
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DA TUTELA PROVISÓRIA

Conceito

Consiste na possibilidade de antecipação, total ou parcial, da própria tutela de direitos


pretendidos no pedido inicial e provavelmente alcançável pela sentença, de forma a satisfazer
provisoriamente a pretensão posta em juízo, bem como acautelar eventual direito tutelado pelo
Estado.

A técnica antecipatória tem justamente por função distribuir de forma isonômica o ÔNUS DO
TEMPO no processo. (MARINONI, 2015, p. 198)

Características gerais do instituto

Já se conhecia hipóteses específicas de antecipação para alguns procedimentos especiais


antes do advento do instituto

Ex: ações possessórias, alimentos, mandado de segurança, consumidor.

O instituto da tutela provisória autoriza a possibilidade generalizada de concessão de tutelas


antecipadas em todos os processos de conhecimento, e também possibilita a cautelaridade
nos processos (fase) de execução.

A tutela provisória é própria do processo de conhecimento e depende de requerimento da


parte, sem desconhecer-se sua aplicabilidade em procedimentos especiais e de execução.

A decisão judicial tem caráter provisório de cognição superficial, portanto, não exauriente.

FUMUS BONI IURIS – fumaça do bom direito – elemento para demonstrar a probabilidade do
direito que autoriza a antecipação da tutela ou a cautelaridade do direito.

PERICULUM IN MORA – perigo da demora – elemento para demonstrar a necessidade do


provimento provisório a fim de evitar danos ou prejuízos pela demora do provimento final
(sentença)

O legislador preferiu dividir a tutela provisória em URGÊNCIA e EVIDÊNCIA. (art. 294 CPC)

Também optou em dividir a modalidade de URGÊNCIA em cautelar (conservativa) ou


antecipada (satisfativa)
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A tutela provisória pode ser ANTECEDENTE, quando se necessita requerer antecipação de


tutela antes da petição inicial, ou INCIDENTAL, quando o requerimento da antecipação de
tutela é promovido dentro do processo principal (nessa situação não haverá preparo).

A tutela provisória pode ser revogada ou modificada a qualquer tempo. (art. 296 CPC)

Ela também pode ser requerida e concedida a qualquer tempo.

Ex: na sentença; por ocasião de novos fatos e motivo, etc...

O juiz está investido de poder geral de cautela para determinar quaisquer medidas que
considerar adequada para a efetivação de tutela provisória. (art. 297 e 301 CPC)

A decisão judicial que antecipa ou acautela a tutela de direitos deve ser sempre
fundamentada. (art. 298 CPC)

Incide o princípio da FUNGIBILIDADE das tutelas cautelar e antecipada, quando o autor, a


título de antecipação de tutela, requerer providência de natureza cautelar, ou vice e versa. (§
único do art. 305 CPC)

TUTELA DE URGÊNCIA

Na modalidade de urgência a tutela provisória será concedida quando houver probabilidade do


direito (FUMUS BONU IURIS) e o perigo de dano ou o risco ao resultado do processo
(PERICULUM IN MORA). (art. 300 CPC)

Pode ser concedida liminarmente (inaudita altera parte), sem ouvir a parte contrária, ou, após
justificação prévia (audiência para demonstrar os elementos para antecipação). (§2º do art. 300
CPC)

O juiz não deve conceder a tutela provisória de urgência quanto houver perigo de
irreversibilidade do provimento antecipado; (§3º do art. 300 CPC)

A tutela provisória de urgência pode ter natureza cautelar específica, nos termos do art. 301 do
CPC, ressaltando o poder geral de cautela do juiz.
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Tutela de urgência ANTECIPADA em caráter ANTECEDENTE

É possível o autor requerer a antecipação da tutela antes de elaborar a petição inicial principal,
quando então, a petição requerendo a antecipação pode se limitar e se concentrar somente no
pedido antecipatório. (art. 303 CPC)

Haverá dois caminhos a seguir:

1) Concedida a tutela antecipada, o autor irá ADITAR A PETIÇÃO INICIAL para complementar
a peça exordial, nos mesmos autos, prosseguindo-se o feito pelo procedimento comum,
conforme § 1º do art. 303 do CPC.

2) Negada a tutela antecipada, o autor deverá ADITAR A PETIÇÃO INICIAL no prazo de 05


dias, nos mesmos autos, para prosseguimento regular do feito, conforme § 6º do art. 303 do
CPC.

Não atendida a ordem de aditamento da petição inicial, o processo será extinto sem resolução
do mérito.

Concedida a tutela provisória de urgência antecipada em caráter antecedente, tal decisão se


TORNARÁ ESTÁVEL acaso o réu não interponha o respectivo recurso contra ela, cuja
situação acarretará extinção do processo com resolução do mérito.

Ver art. 304 do CPC

Tutela de urgência CAUTELAR em caráter ANTECEDENTE

O procedimento (AÇÃO) de tutela cautelar antecedente visa proteger, preservar, assegurar um


direito principal a ser tutelado, cuja função é preparatória para um pedido principal.

Também está calcada no perigo de demora e na probabilidade do direito a ser protegido.

Sua eficácia está condicionada à promoção do pedido principal da tutela satisfativa.

Trata-se de ação que tem procedimento próprio, com citação do réu, contestação, instrução,
sentença e demais atos processuais específicos disciplinados pelos art. 305 a 310 do CPC.

Ver os artigos
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TUTELA DE EVIDÊNCIA

Essa espécie de tutela provisória está diretamente ligada à ideia de defesa inconsistente do
réu, porquanto ela será concedida independentemente de demonstração de perigo de dano,
em razão de que resta evidente o direito em favor do autor.

Há duas situações bem estabelecidas:

1) Será concedida a tutela provisória quando ficar caracterizado abuso de defesa ou defesa
protelatória, verificada pelos argumentos da contestação ou outra manifestação qualquer;

2) As alegações do autor estão plenamente corroboradas por prova documental inequívoca de


seu direito, ou, por precedentes jurisprudenciais com força vinculante.

Ver art. 311 do CPC

Quadro exemplificativo
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PROCESSO DE CONHECIMENTO

PROCEDIMENTO COMUM

Conceito

O procedimento comum é o procedimento padrão para a tutela dos direitos – inexistindo


disposição especial, emprega-se o procedimento comum para prestação da tutela jurisdicional
e para colmatar eventuais lacunas legais na construção dos demais procedimentos.
(MARINONI, 2015, p. 141)

O procedimento comum contempla o maior número de atos processuais, servindo também


como subsidiário para todos os demais procedimentos especiais. (art. 318 CPC)

O procedimento ordinário está divido em quatro fases

Fase postulatória = são as manifestações de autor e réu para a formação do processo ou de


incidentes processuais;

Fase de saneamento = é a fase em o juiz aprecia os requerimentos de provas, delimita as


questões controvertidas, decide sobre questões preliminares, regulariza o processo para que
se tenha utilidade final;

Fase instrutória = essa fase ocorre por ocasião do momento em que as partes podem
produzir as provas postuladas na inicial e deferidas pelo juiz em saneamento;

Fase decisória = ocorre quando o juiz exerce a função jurisdicional de decidir acerca da
provocação do jurisdicionado.

PETIÇÃO INICIAL

É o instrumento pelo qual o autor propõe a ação. É o ato processual que dá início ao processo,
cuja forma, no procedimento comum, deve ser escrita, datada e assinada por quem detenha
capacidade postulatória.
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Requisitos da petição inicial

Art. 319. A petição inicial indicará:


I - o juízo a que é dirigida;
A indicação do juízo induz a análise da competência para julgar a causa;

II - os nomes, prenomes, estado civil, existência de união estável, profissão,


identificação cadastral, domicílio e residência do autor e do réu;
A qualificação plena do autor é exigida, enquanto que se possibilita a indicação de réus
desconhecidos ou incertos (ex: nas grandes invasões de terras)
A indicação do estado civil, profissão e domicílio tem relevante importância para determinadas
questões; (ex: necessidade de outorga do casado; deferimento de AJG; competência)

III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;


Elementos de grande importância na petição inicial;
A conjunção dos fatos (causa remota) e dos fundamentos jurídicos (causa próxima) formam a
CAUSA DE PEDIR, ou seja, a indicação do fato e a relação jurídica protetiva dele decorrente;
O que vincula o juiz é a descrição dos fatos e não os fundamentos jurídicos;
Fundamento jurídico ≠ fundamento legal

IV - o pedido, com as suas especificações;


Será visto adiante

V - o valor da causa;
Ver as regras próprias da seção (art. 291 a 293 do CPC)
Pode influenciar na competência (juizado especial), no procedimento, no preparo da ação ou
nos ônus de sucumbência, dentre outras questões;
O valor da causa deve corresponder ao conteúdo econômico da pretensão;
Pode ser declinado por sugestão (ex: danos morais)
Admite-se atribuição do valor de alçada;
A ausência de impugnação pelo réu induz a preclusão da matéria;
Pode ser modificado de ofício pelo magistrado quando o autor tentar desviar a competência ou
o rito processual adequado;

VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;
Tolera-se pedido generalizado das provas, já que o autor não tem como saber quais os fatos
que serão controvertidos antes da contestação;

VII – a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou mediação;

Do silêncio do autor, o juiz deve considerar como indicativo da vontade de que haja audiência
de conciliação ou mediação. (DIDIIER JR, 2015, p. 555)
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DOCUMENTOS INDISPENSÁVEIS PARA INSTRUIR A INICIAL

Prescreve o art. 320 do CPC que a petição inicial deverá ser instruída com os documentos
indispensáveis à propositura da ação.

Credenciais do autor pessoa física ou jurídica (ex: CPF, RG, declaração de empresário
individual ou contrato social, procuração, declarações de hipossuficiência financeira)

Guia de recolhimento das custas processuais; (salvo AJG)

Aqueles documentos indispensáveis para demonstração da relação jurídica declinada; (ex:


matrícula do imóvel; certidões de casamento, nascimento e óbito; contrato revisando)

EMENDA À INICIAL

Quando não estiverem preenchidos os requisitos da petição inicial ou não juntados os


documentos indispensáveis para a propositura da demanda, o juiz intimará o autor para
emendar ou complementar a petição inicial no prazo de 15 dias, sob pena de indeferimento.
(art. 321 do CPC)

Em razão do forte espírito de cooperação judicial no processo contemporâneo, não é


permitido ao juiz indeferir desde logo a inicial quando o defeito for sanável, antes que se dê
a oportunidade do autor corrigir o vício.

DO PEDIDO

Diz-se pedido imediato o que visa a providência jurisdicional = condenação, declaração,


constituição, expedição de ordem ou providências executivas;

Diz-se pedido mediato o que visa alcançar o resultado prático = o bem da vida pretendido;

O pedido dever ser “certo e determinado”, possibilitando a sua perfeita identificação, sendo
lícito ao autor, em exceção, formular pedido genérico: (§1º do art. 324 do CPC)

I - nas ações universais, se não puder o autor individuar na petição os bens demandados;

Ex: conjunto de bens do espólio; direitos e obrigações;

II - quando não for possível determinar, de modo definitivo, as consequências do ato ou do fato
ilícito;

Ex: indenização por DANO MORAL; danos materiais por lesão corporal;

III - quando a determinação do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado
pelo réu.

Ex: ação de prestação de contas.


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Pedido implícito

São aqueles que independem de requerimento expresso na petição inicial, porquanto,


consequência lógica dos efeitos da tutela pretendida. (§1º do art. 322 do CPC)

Ex: condenação ao pagamento de juros de mora; correção monetária; custas e despesas;


honorários advocatícios.

Ver súmulas 254 e 256 do STF

Cumulação de pedidos

Cumulação simples = possibilita o pedido de dois ou mais pedidos contra o mesmo réu, ainda
que não haja conexão entre eles, observados os requisitos de admissibilidade do art. 327 do
CPC; (ex: cobrança de um cheque e uma nota promissória; dano moral, material e estético)

O autor pretende o êxito de todos os pedidos, no entanto, o acolhimento de apenas um, induz
em procedência parcial. Haverá sucumbência recíproca;

Cumulação sucessiva = ocorre quando o segundo pedido depende do resultado do exame do


primeiro. Há uma relação de prejudicialidade. (ex: investigação de paternidade cumulado com
petição de herança; revisão contratual cumulada com repetição de indébito)

O autor busca êxito em todos os pedidos;

A improcedência do pedido primário acarretará sucumbência total do autor;

A procedência do pedido primário nem sempre acarretará acolhimento do segundo.

Cumulação alternativa = ocorre quando o autor formula dois ou mais pedidos, postulando o
acolhimento de apenas um deles, sem estabelecer uma ordem de preferência. (ex:
cumprimento específico da obrigação ou o pagamento do equivalente)

O acolhimento de um pedido exclui o outro, no entanto, acarretará a procedência total do


pedido; não haverá sucumbência para o autor;

Como se trata de liberalidade do autor caberá ao juiz a escolha de uma das pretensões, salvo
nas hipóteses em que a escolha caiba ao devedor. (art. 325 do CPC)

Cumulação subsidiária = ocorre quando o autor formula dos ou mais pedidos, esperando que
apenas um deles seja acolhido, estabelecendo uma ordem de preferência; (art. 326 do CPC)
(ex: ações previdenciárias de aposentadoria por invalidez ou auxílio-acidente ou auxílio-
doença)

O acolhimento do pedido antecedente exclui os pedidos subsequentes;

O juiz é obrigado a apreciar o pedido formulado como preferencial, na ordem estabelecida pelo
autor;

O acolhimento de qualquer pedido acarretará a procedência total da ação;


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Pedido consistente em prestações periódicas

As prestações devidas no decorrer da demanda presumem-se incluídas no pedido inicial,


independentemente de expresso requerimento do autor; (art. 323 do CPC) (ex: ação de
alimentos com verba fixada em liminar)

Pedido de obrigação indivisível

Qualquer um dos credores de obrigação indivisível poderá postular a obrigação por inteira,
preservando a quota dos demais credores. (art. 328 do CPC)

Segue as regras dos credores solidários do Código Civil.

Aditamento do pedido

É possível o autor solicitar o aditamento ou alteração do pedido e da causa de pedir; (art. 329
CPC)

Se ocorrer antes da citação do réu, independe de consentimento deste;

Se ocorrer depois da citação válida do réu e até o saneamento do processo, necessita-se de


seu consentimento, preservando-se, nesse caso, a devolução de prazo para o contraditório.
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INDEFERIMENTO DA INICIAL

O juiz deve proceder a um exame de admissibilidade da petição inicial, a fim de verificar vícios
existentes prejudiciais ao regular andamento e análise do processo.

Sendo sanáveis os vícios, deverá o juiz oportunizar a correção mediante emenda da inicial;

O indeferimento da inicial é uma sentença sem resolução de mérito (art. 485, I do CPC), salvo
quando ocorrer a decadência ou a prescrição;

O indeferimento da petição inicial somente ocorre no início do processo, antes de citado o réu;
após a citação do réu, o processo deverá ser extinto por outro motivo;

Essa distinção acarretará inúmeras consequências, como por exemplo, a não condenação do
autor ao pagamento de honorários advocatícios e o procedimento recursal adequado;

Hipóteses de indeferimento da inicial

Ver art. 330 do CPC

Juízo de retratação

O autor poderá apelar da sentença de indeferimento da inicial, podendo o juiz, no prazo de 05


dias, reformar sua decisão. (art. 331 do CPC)

Havendo juízo de retratação, o processo terá andamento com a citação do réu.

Mantendo-se a decisão de indeferimento, o réu será “citado” para responder ao recurso. (§1º
do art. 331 do CPC)

Se o tribunal reformar a decisão de indeferimento, o prazo para contestação fluirá da intimação


do retorno dos autos à Comarca de origem. (§2º do art. 331 do CPC)

Transitada em julgada a decisão de indeferimento, o réu deverá ser cientificado pelo escrivão,
a fim de que possa sustentar, se for o caso, a coisa julgada material. (§ 3º do art. 331 do CPC)
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JULGAMENTO LIMINAR DE IMPROCEDÊNCIA – ART. 332 DO CPC

A improcedência liminar do pedido é a decisão jurisdicional que, antes da citação do


demandado, julga improcedente o pedido formulado pelo demandante. É decisão de mérito,
definitiva, apta à coisa julgada e possível objeto de ação rescisória. (DIDIER JR, 2015, p. 593)

É um instrumento utilizado para resolução de demandas em massa (repetitivas)

É uma decisão proferida sem ouvir o demandado, mas em favor dele.

O julgamento liminar de improcedência pode recair sobre um ou mais pedidos do autor.

Requisitos para julgamento liminar de improcedência

a) A causa deve dispensar a fase instrutória.

A verificação da causa já está previamente configurada pelos documentos juntados na inicial.

b) o pedido deve contrariar precedentes dos Tribunais.

Nas situações elencadas nos incisos I a IV do art. 332 do CPC.

c) também terá cabimento quando o juiz verificar, desde logo, a prescrição ou a decadência.

(§ 1 do art. 332 do CPC)

Necessidade de fundamentação específica

Para que ele possa se valer do instituto, não basta que o juiz replique o caso paradigma;
deverá ele demonstrar que as razões de decidir (ratio decidendi) da decisão paradigma se
amoldam ao caso apresentado.

Juízo de retratação

O autor poderá apelar da sentença de improcedência, podendo o juiz, no prazo de 05 dias, se


retratar sobre a sua decisão inicial. (§ 2º e 3º do art. 332 do CPC)

Havendo juízo de retratação, o processo terá andamento com a citação do réu, ou, mantendo-
se a decisão de improcedência, o réu será “citado” para responder o recurso, e em seguida, os
autos serão remetidos ao tribunal competente; (§ 4º do art. 332 do CPC)
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DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU DE MEDIAÇÃO

É uma audiência preliminar que tem por objetivo a pacificação da controvérsia e a solução
imediata da lide.

Sua designação deverá ocorrer com o despacho inicial que recebe a petição inicial, não sendo
caso de indeferimento ou julgamento liminar de improcedência. (art. 334 CPC)

A audiência preliminar será de CONCILIAÇÃO, nos casos em que não houver vínculo anterior
entre as partes (§2º do art. 165 CPC), ou de MEDIAÇÃO, nos casos em que houver vínculo
anterior entre as partes (§3º do art. 165 CPC)

A citação do réu será feita com o objetivo de cientificá-lo da existência da demanda e chamá-
lo a comparecer à audiência preliminar de conciliação ou mediação.

A audiência preliminar será dirigida por conciliador ou mediador devidamente habilitado


junto ao órgão judiciário competente para julgar a lide. (§1º do art. 334 CPC)

Se necessário, poderá haver mais de uma sessão de conciliação ou mediação, respeitado o


intervalo de 02 meses entre elas. (§2º do art. 334 CPC)

O autor deverá ser intimado da data da audiência através de seu advogado. (§3º do art. 334
CPC)

São duas as hipóteses de não realização da audiência preliminar. (§4º do art. 334 CPC)

I – se ambas as partes manifestarem desinteresse na autocomposição;

O autor na petição inicial e o réu através de petição apresentada até 10 dias antes da
audiência.

II – quando a situação não admitir a autocomposição;

Não há de se confundir com direitos indisponíveis.


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As partes tem o dever de comparecer (pessoalmente ou através de preposto com poderes


para transigir) acompanhadas de seus advogados à audiência preliminar, sob pena de, o não
comparecimento ser considerado ato atentatório à dignidade da justiça, sancionada com
multa de até 2% do valor da causa. (§8º, 9º e 10º do art. 334 CPC)

O acordo obtido na audiência preliminar será reduzido a termo e homologada por sentença,
com resolução de mérito.

Inicio do prazo de contestação

O posicionamento do réu acerca da audiência preliminar determinará o termo inicial para a


abertura do prazo de contestação, conforme os incisos I e II do art. 335 do CPC.

Não comparecendo ou não ocorrendo autocomposição na audiência preliminar, o prazo de


contestação inicia da última sessão de conciliação ou mediação.

No caso do réu manifestar desinteresse na autocomposição, o prazo de contestação inicia


da data do protocolo da petição que informou seu desinteresse.
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RESPOSTA DO RÉU

Disposições gerais

Com as disposições do Novo Código de Processo Civil, esgotadas as possibilidades de


pacificação do conflito pela tentativa de conciliação (quando for o caso), o réu terá seu
momento processual para responder a pretensão da inicial, o que se faz no procedimento
comum em petição escrita, dirigida ao juiz da causa, ofertando contestação, reconvenção , e
se for o caso, arguição de suspeição ou impedimento do juiz.

CONTESTAÇÃO

É o ato processual que veicula a defesa do réu em contraposição ao pedido do autor, devendo
concentrar todas as manifestações à pretensão do autor, salvo aquelas para as quais haja
previsão de incidentes próprios.

O prazo para oferecer a contestação, no procedimento comum, é de 15 (quinze) dias,


contados na forma do art. 335 do CPC.

O réu deve trazer na contestação todas as matérias que possa invocar de sua defesa, mesmo
que elas não sejam compatíveis entre si, sob pena de preclusão;

Essa parte do dispositivo do art. 336 do CPC consagra o princípio da eventualidade, pelo
qual se permite ao réu valer-se de teses contraditórias em sua defesa, as quais deverão ser
apresentadas em ordem sucessiva e sempre ressalvadas;

O réu deverá expor na contestação as razões de fato e os fundamentos jurídicos com que
pretende repelir a pretensão do autor, especificando as provas que pretende produzir.

Compete ao réu juntar à contestação os documentos indispensáveis destinados a provar as


alegações de defesa.

Exceção: a jurisprudência tem admitido a juntada de documentos a qualquer momento, desde


que submetidos ao contraditório.
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O NCPC facultou ao autor a substituição do réu no prazo de 15 dias, quando for sustentado
em contestação a ilegitimidade do primeiro citado, arcando o autor com o pagamento das
custas processuais e honorários advocatícios reduzidos ao procurador da parte excluída do
polo.

Preliminares de mérito

Compete ao réu alegar antes de discutir o mérito, as matérias enumeradas no art. 337 do CPC.

O rol do art. 337 do CPC não é taxativo, porquanto se admite outras matérias que podem ser
arguidas em preliminar de mérito.

Ex: deserção, prescrição, decadência.

As preliminares de mérito podem levar à extinção do processo sem resolução de mérito (salvo
prescrição e decadência), como também, podem apenas promover a dilação do processo,
conforme cada hipótese.

Ver as matérias do art. 337do CPC.

Defesa de mérito

Ultrapassadas as teses preliminares (princípio da eventualidade), o réu apresentará defesa de


mérito ou substancial, que pode ser direta ou indireta.

Defesa direta é aquela em que o réu nega os fatos narrados na petição inicial;

Ex: em ação de cobrança o réu diz que não deve porque não contraiu a obrigação;

Defesa indireta é aquela em que o réu contrapõe aos fatos constitutivos do direito do autor.

Ex: em ação de cobrança o réu admite que deve, no entanto, argui o pagamento, a novação, a
transação ou até mesmo a prescrição do débito.

Ônus da impugnação específica

Cabe ao réu se manifestar precisamente sobre cada um dos fatos narrados na inicial, sob pena
de, não o fazendo, presumirem-se verdadeiros os fatos não impugnados. (art. 341 do CPC)

Nesse caso aparece a figura do FATO INCONTROVERSO, o qual não necessitará de


comprovação nos autos.

Não se considera a presunção de veracidade nos casos dos incisos I, II e III do art. 341;
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Não se aplica o ônus da impugnação específica quando a defesa for promovida por defensor
público, advogado dativo ou curador especial, casos em que a lei permite, como exceção a
regra geral, a apresentação de CONTESTAÇÃO GENÉRICA por negativa geral. (parágrafo
único do art. 341 do CPC)

RECONVENÇÃO (art. 343 CPC)

A reconvenção é contra-ataque do réu contra o autor, consistente em uma nova ação, com
pretensão totalmente independente que se ocupa do mesmo processo da ação.

A justificativa da permissão da reconvenção em nosso ordenamento jurídico se dá com base


no princípio da economia processual, e vale especificamente para o processo de
conhecimento.

Chama-se reconvinte o réu que postula em reconvenção e de reconvindo o autor da demanda


originária.

O NCPC inovou na forma de interposição da reconvenção, exigindo que esta seja feita na
própria contestação, em cláusula destacada, ou seja, a contestação e a reconvenção serão
feitas na mesma peça processual.

Acaso a reconvenção seja independente, ou seja, o réu deixe de opor contestação, ela virá em
peça exclusiva.

São requisitos gerais da reconvenção aqueles exigidos pelos art. 319 e 320 do CPC, visto se
tratar de nova demanda.

Elementos necessários para a admissibilidades da reconvenção: (art. 343 do CPC)

Conexidade entre duas demandas por identidade de pedido ou causa de pedir;

Ex: ação declaratória de inexigibilidade de título (ação) e condenação do autor ao pagamento


(reconvenção)
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Conexidade entre a reconvenção e os fundamentos da defesa;

Ex: a tese de defesa de pagamento embasa o pedido de improcedência na contestação e


serve para postular indenização por dívida já paga.

Competência do juízo da ação principal também julgar a reconvenção;

Compatibilidade de procedimento entre a ação e a reconvenção;

Procedimento

Ao receber a petição de reconvenção o juiz verificará os requisitos de admissibilidade,


determinando o seu processamento ou indeferindo a inicial da reconvenção, hipóteses em que
caberá agravo de instrumento.

Recebida a reconvenção, o autor reconvindo será “intimado”, na pessoa de seu procurador,


para contestá-la no prazo de 15 dias. (§1º do art. 343 do CPC)

“Embora a lei mencione intimação, a natureza do ato é verdadeira citação, já que o pedido
reconvencional é autônomo e constitui uma nova demanda.”... “Se o autor reconvindo não
contestar a reconvenção, nem por isso se presumirão verdadeiros os fatos alegados pelo réu
reconvinte.” (GONÇALVES, 2013, p. 380)

O §2º do art. 343 do CPC consagra a autonomia do pedido reconvencional no momento que
explicita que a desistência da ação não obsta o prosseguimento da reconvenção.

Todos os atos processuais a partir da contestação da reconvenção, inclusive a instrução


processual serão promovidos simultaneamente e de forma única.

O juiz proferirá uma única sentença para a ação e para a reconvenção, julgando ambos os
pedidos.
22

ARGUIÇÃO DE IMPEDIMENTO E SUSPEIÇÃO

A finalidade desse incidente é assegurar que o processo seja julgado por um juiz imparcial.

As hipóteses devem ser arguidas petição distinta da contestação (tanto pelo autor como pelo
réu) no prazo de 15 dias contados da ciência do fato que ocasionou a imparcialidade.

As causas de impedimento do juiz configuram maior gravidade e, por isso, a doutrina tem
entendido que ela não preclui, podendo ser, inclusive, causa de ação rescisória.

A suspeição é matéria que se torna preclusa para a parte se não alegada no momento
oportuno.

A petição é dirigida ao próprio juiz imputado como impedido ou suspeito, da qual deverá se
extrair os motivos da recusa (fatos e fundamentos), instruída com os documentos
comprobatórios das alegações e a indicação do rol de testemunhas. (art. 146 do CPC)

Ambas as partes têm legitimidade para opor as referidas exceções. Contudo, o legitimado
passivo será o próprio juiz, o qual assumirá a qualidade de excepto.

O juiz, reconhecendo o impedimento ou a suspeição, remeterá os autos ao seu substituto legal


para processamento do feito. Não se declarando impedido ou suspeito, o juiz oferecerá suas
razões, acompanhadas de documentos e de rol de testemunhas, caso em que, os autos serão
remetidos para o Tribunal imediatamente superior. (§1º do art. 146 do CPC)

Sendo reconhecido o impedimento ou a suspeição pelo Tribunal, o juiz arcará com as custas
processuais. (§5º do art. 146 do CPC)
23

REVELIA

Denomina-se revelia a ausência de resposta do réu. Revel é aquele que, citado, permanece
inerte, que não se contrapõe ao pedido formulado pelo autor. (GONÇALVES, 2013, p. 390)

Não se deve confundir REVELIA – que é a ausência de resposta do réu - com os EFEITOS DA
REVELIA – que são as consequências processuais que ela produz.

Efeitos da revelia

1 - Presunção de veracidade dos FATOS alegados pelo autor. (art. 344 do CPC)

Obs: essa presunção é relativa, porquanto pode o juiz entende-las como inverossímil,
improváveis ou contrárias aos fatos notórios.

2 – Desnecessidade de intimação dos atos e prazos processuais contra o revel que não tenha
patrono constituído nos autos. (art. 346 do CPC)

Obs: o revel poderá intervir no processo a qualquer momento.

Hipóteses que os efeitos da revelia não se operam (art. 345 do CPC)

1 – havendo pluralidade de réus, algum deles contestar, desde que o litisconsórcio seja unitário
ou, sendo simples, se um dos réus contestar fatos que sejam comuns aos demais;

2 – se o litígio versar sobre direito indisponível;

3 – acaso a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento público que a lei considere
indispensável à prova do ato;

4 – alegação inverossímil do autor ou contraditória com as provas constantes nos autos.


24

RÉPLICA

A réplica é um ato processual que visa oportunizar ao autor exercer as impugnações de fatos e
fundamentos alegados pelo réu, bem como contraditar os documentos juntados, tendo em vista
o princípio constitucional do contraditório, ou seja, a manifestação do autor sobre a
contestação.

A réplica tem lugar nas hipóteses dos arts. 350 e 351 do CPC e o prazo para apresentação é
de 15 dias;

No caso do art. 350 do CPC caberá a réplica quando o réu, reconhecendo o fato declinado na
inicial, trazer em sua defesa fatos impeditivos, modificativos ou extintivo do direito do autor.

Ex: na ação de cobrança, o réu reconhece a dívida, contudo, alega pagamento, novação,
transação, compensação, prescrição, dentre outros fatos.

No caso do art. 351 do CPC caberá a réplica quando o réu arguir qualquer uma das matérias
preliminares de mérito constantes no rol do art. 337 do CPC, o qual não é taxativo.

Ex: deserção ou prescrição, além das hipóteses do art. 337 do CPC.

Haverá casos de extinção do processo e outros de suprimento da irregularidade, desde que a


nulidade seja sanável.
25

JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO PROCESSO

Nesse momento processual, após verificar eventual revelia e seus efeitos, ou perceber que a
questão restou incontroversa em razão da contestação e réplica, o juiz poderá julgar o
processo conforme o seu estado, seguindo os seguintes caminhos:

a) Extinção do processo com o sem resolução de mérito; (será visto adiante)

b) Julgamento antecipado do mérito;

c) Julgamento antecipado parcial do mérito;

d) Decisão de saneamento e organização do processo.

JULGAMENTO ANTECIPADO DA MÉRITO

O juiz poderá julgar o pedido desde logo, sem a necessidade de produção de provas,
quando ocorrer algumas das duas hipóteses determinada pelo art. 355 do CPC.

a) quando não houver necessidade de produzir prova em audiência;

b) quando ocorrer os efeitos da revelia.

JULGAMENTO ANTECIPADO PARCIAL DO MÉRITO

O NCPC, em seu art. 356, determinou o “dever” do juiz em julgar parcialmente o mérito da
causa quando um ou mais pedidos:

a) mostrar-se incontroverso, ou seja, não foram impugnados especificamente ou foram


admitidos pela parte ré;

b) estiver em condições de imediato julgamento, porque as provas já são suficientes para o


convencimento do juiz ou a revelia produziu o efeito de presunção de veracidade.

Nessa hipótese, o processo será julgado definitivamente sobre a parcela dos pedidos, e no
restante tramitará normalmente com a devida instrução processual.

Por tratar-se de decisão interlocutória, caberá ao sucumbente interpor recurso de agravo de


instrumento, já que está decisão não põem fim ao processo de conhecimento.
26

A execução desta decisão se fará por autos suplementares, formando-se um novo


instrumento com cópias da decisão, do resultado do agravo de instrumento e do trânsito em
julgado desta parcela decidida antecipadamente.

DO SANEAMENTO E ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO

Trata-se de momento processual em que o juiz deverá se manifestar sobre a viabilidade ou não
do prosseguimento do feito mediante a instrução processual, visto as possibilidades de
extinção do processo ou julgamento antecipado do mérito eliminarem, de imediato, esta fase.

A fase de saneamento é uma decisão interlocutória do juiz em que se buscar declarar o


processo saneado (por afastar as questões prejudiciais) e também organizar e determinar o
prosseguimento do feito (com a produção de provas em audiência de instrução e julgamento).

No NCPC está fase processual requer manifestação obrigatória do juiz, principalmente para
enfrentar as questões preliminares, cuja decisão poderá ser sucinta, mas contudo,
devidamente fundamentada em todos os pontos abordados.

Na decisão de saneamento o juiz: (art. 357 CPC)

a) resolverá questões processuais pendentes;

b) delimitará as questões de fato objeto de instrução probatória, e os meios de provas


admitidas para o caso concreto;

c) definirá a distribuição do ônus da prova;

d) delimitará as questões de direito a serem debatidas;

e) designará, se for o caso, audiência de instrução e julgamento;

A decisão de saneamento se tornará estável se nenhuma das partes solicitar esclarecimento


no prazo de cinco dias. (§1º, art. 357 CPC)
27

A decisão de saneamento que deferir a prova testemunhal fixará o prazo não superior a 15
dias para que as partes apresentem o rol de testemunhas. (§4º, art. 357 CPC), limitadas ao
número de 10, mas no máximo, 03 para cada fato.

A decisão de saneamento que deferir a prova pericial deverá nomear o perito judicial,
determinando prazo para a entrega do laudo, bem como deferir às partes o direito de nomear
um assistente técnico e apresentar o rol de quesitos para serem respondidos pelo expert.

Considerando o princípio da cooperação judicial, o NCPC prevê que, nas causas complexas,
o juiz possa designar uma audiência de saneamento, a fim de que as partes possam
participar do ato para esclarecer e ajustar o processo, podendo para tanto, inclusive, valer-se
de testemunhas trazidas voluntariamente para o ato.
28

DAS PROVAS

Objeto da prova

O objeto da prova são exclusivamente os fatos alegados pelas partes, já que o direito
prescinde de qualquer comprovação, porquanto o juiz tem o dever de conhecer a lei.

Finalidade, destinatário e hierarquia da prova

A finalidade da prova é a formação da convicção do juiz em torno da veracidade dos fatos


trazidos pelos litigantes.

O destinatário da prova é juiz do processo, o qual deverá apreciá-la a fim de definir a solução
jurídica mais justa para o litígio estabelecido.

Princípio da verdade real = o juiz deve deixar a posição de inércia para determinar de ofício a
produção de provas que entender necessária para a descoberta da verdade. (art. 370 do CPC)

Não há hierarquia das provas, porquanto o juiz tem a liberdade de analisar livremente a prova
dando a cada uma o valor que lhe pareça apropriado, exigindo-se, sempre, a expressa
justificativa de sua escolha na decisão, o que se faz pelo princípio da persuasão racional ou
livre convencimento motivado. (art. 371 do CPC)

Ônus da prova

Como regra geral, o ônus da prova incumbe a quem alega.

Ao autor incumbe fazer prova das alegações de seu interesse (fatos constitutivos do seu
direito); o réu deve provar os fatos trazidos em sua resposta (fatos extintivos, impeditivos e
modificativos do direito do autor) (art. 373 do CPC)

Haverá a possibilidade de o juiz inverter o ônus da prova quando for impossível de ser
provada pela parte ou quando a prova se tornar excessivamente difícil, devendo tal decisão ser
devidamente fundamentada. (§1º, art. 373 CPC)

A prova de fato negativo também não necessita ser provada quando a impossibilidade é
absoluta,

ex: não assinatura de um contrato


29

É possível a prova de fato diverso que demonstre tal situação.

Ex: é possível provar o fato que a parte não estava em São Paulo em 10/08/2010, porque
nesta data, se encontrava na cidade de Frederico Westphalen.

Não dependem de prova os fatos notórios, os afirmados por uma parte e confessados pela
parte contrária, os admitidos como incontroversos e, aqueles revestidos de presunção legal de
existência ou veracidade. (art. 374 do CPC)

Tratando de análise de direito de lei municipal, estadual, estrangeira ou de costumes, o juiz


poderá exigir a prova do teor e de e sua vigência. (art. 376 do CPC)

Nenhum sujeito pode se negar a colaborar com o Poder Judiciário para o esclarecimento e
descobrimento da verdade, sob pena de penalização de multa ou outras medidas judiciais.
(art. 378 CPC)

A parte tem a obrigação de comparecer em juízo quando for chamada, de colaborar com o
juízo em diligências e de praticar os atos processuais pertinentes, preservando o direito de não
produzir provas contra si, nas hipóteses previstas em lei.

Da mesma forma, o terceiro (mesmo desinteressado) também deverá colaborar com o


juízo quando chamado a assim proceder. (art. 380 CPC)
30

FONTES E MEIO DE PROVA

Todos os meios de prova legais e “moralmente legítimos” são admitidos em nosso direito,
portanto, há outros que não elencados no Código. (art. 369 do CPC)

Provas ilícitas

O art. 5º, LVI considera inadmissíveis as provas obtidas de forma ilícita; trata-se do modo e do
meio empregado para a demonstração do fato.

Ex: interceptação telefônica, violação de sigilo bancário ou telefônico sem autorização judicial.

Teoria dos frutos da árvore contaminada = considera-se ineficazes e sem valor todas as provas
produzidas oriundas de prova obtida de forma ilícita.

Pela teoria da proporcionalidade concede-se eficácia jurídica à prova, se sua ilicitude causar
uma ofensa menor ao ordenamento jurídico que a que poderia advir da sua não produção.

Ex: interceptação telefônica ilegal que desvenda abuso sexual à criança.

Produção antecipada de provas

Admite-se a produção antecipada de provas para combater o risco de prejuízo à instrução do


processo e, também, nos casos em que o conhecimento do fato esclareça situação obscura
e possibilite a composição amigável do conflito, evitando assim, o ajuizamento de ação.
(art. 381 CPC)

Qualquer espécie de prova pode ser antecipada.

Ex: testemunhal, no caso de se ausentar, no caso de moléstia grave e outras;

Ex: pericial, no caso em que a verificação do fato possa ser impossível em momento posterior.

Se utilizada para o arrolamento de bens, esse procedimento somente será autorizado quando
se pretender apenas documentar a existência deles. Se pretender a apreensão dos bens, o
requerente deverá se valer de outras medidas judiciais.
31

Como regra geral a competência para processar a produção antecipada de provas é do juízo
competente para processar eventual ação principal, ou o juízo do domicílio do réu.

A petição inicial deverá conter todos os requisitos exigidos pelo art. 319, além de apresentar
as razões que justifiquem a necessidade de antecipação da prova, bem como precisar os fatos
que a prova merece recair.

O procedimento de antecipação de provas, em regra, requer a citação do réu para que


participe voluntariamente do incidente, ressalvadas a possibilidade de produção de provas
inaudita altera parts nos casos de demandam cautela e urgência.

Por ser não contencioso, o procedimento não admite defesa ou recurso, mas tão somente a
participação voluntária de ambas as partes.

O julgamento da produção de provas se limitará a analisar a admissibilidade da prova,


entregando os autos, depois do prazo de 01 mês de disponibilidade, ao requerente da medida.

Meios de provas

Ata notarial (art. 384)

Depoimento pessoal (arts. 385-388)


32

Confissão (arts. 389-395)

Exibição de documento ou coisa (arts. 396-404)

Prova documental (arts. 405-441)


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Prova testemunhal (arts. 442-463)

Prova pericial (arts. 464-480)


34

Inspeção judicial (arts. 481-484)


35

AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO (art. 358 a 368 CPC)

Audiência é o ato processual solene realizado na sede do juízo que se presta para o juiz colher
a prova oral e ouvir pessoalmente as partes e seus procuradores. (THEODORO JUNIOR)

Características

Como qualquer outro ato processual, a audiência é pública, como em regra, são todos os atos
processuais em nosso direito, ressalvadas as hipóteses de segredo de justiça, onde apenas as
partes e seus procuradores acompanham e têm acesso aos atos processuais. (art. 368 CPC)

A audiência é um ato processual uno e contínuo que visa a colheita da prova oral de forma
concentrada, de maneira que as circunstâncias nela ocorridas fiquem próximas entre si e não
se apaguem da memória do juiz, permitindo-se prorrogação para dia próximo em caso de não
conclusão dos trabalhos. (art. 365 CPC)

A audiência de instrução e julgamento não se confunde com a audiência preliminar – prevista


no art. 334 do CPC, a qual se presta para tentar conciliar ou mediar as partes, mediante o
emprego da técnica correspondente, não obstante o dever de tentativa de conciliação nessa
oportunidade. (art. 359 CPC)

Os atos que se praticam na audiência de instrução e julgamento presididos pelo juiz são:
pregão inicial, tentativa de conciliação, produção da prova oral, debates finais e sentença.

O pregão inicial é ato processual pelo qual um auxiliar do juiz deverá informar aos presentes,
em voz suficientemente alta, de que a audiência está iniciando, alertando as partes e seus
procuradores para que se apresentem. (art. 358 CPC)

A tentativa de conciliação será novamente realizada pelo juiz por ocasião do início da
audiência, cujo objetivo é compor de imediato a lide. Havendo acordo, as obrigações serão
registradas no termo de audiência, o qual, após assinado pelas partes e homologado pelo juiz
terá o valor de sentença. (art. 359 CPC)
36

Em seguida, será colhida a prova oral, devendo ser respeitada a ordem legal sob pena de
nulidade do ato na seguinte sequencia: 1) em primeiro lugar serão ouvidos o perito e os
assistentes técnicos, a fim de que prestem esclarecimentos sobre a questão pericial; 2) em
segundo lugar, o juiz tomará o depoimento pessoal das partes, primeiro do autor e depois do
réu; 3) finalmente, será promovida a oitiva das testemunhas, primeiro as arroladas pelo autor e
depois as arroladas pelo réu. (art. 361 CPC)

Ao final da colheita da prova oral, serão promovidos os debates finais, momento em que o juiz
passará a palavra para os advogados das partes fazerem suas alegações, os quais deverão
apontar as provas de fato e de direito que foram produzidas no processo que corroborem as
pretensões dos litigantes. Primeiro falará o advogado do autor e depois o do réu, sendo
possível a participação do promotor acaso figure com fiscal da lei. O juiz concederá um prazo
de 20 minutos, prorrogado por mais 10 minutos, para que cada parte promova suas alegações.
Sendo o caso complexo, o juiz poderá converter as alegações finais em memoriais escritos,
assinalando um determinado prazo para a entrega da peça. (art. 364 CPC)

Oportunizado os debates finais, o juiz proferirá sentença também na forma oral ou, acaso
convertido os debates orais em memoriais escritos, lançará sentença escrita no prazo de 30
dias. (art. 366 CPC)

Termo de audiência

Também conhecida com ata de audiência, é o documento que registra todos os


acontecimentos ocorridos em audiência, devendo ser consignado nela, todas as decisões
tomadas pelo juiz na direção dos trabalhos, como indeferimento de testemunhas, contraditas,
perguntas, dentre outras. (art. 367 CPC)

Obs: é direito do advogado da parte solicitar o registro de qualquer circunstância ocorrida na


audiência que entenda prejudicar o trabalho técnico. (art. 360, V, CPC)

Adiamento da audiência

A regra geral é que a audiência seja una e contínua, contudo, se possibilita o adiamento em
caso de convenção das partes ou pela impossibilidade de comparecimentos das partes ou
seus advogados, desde que por motivo justificado até o início da audiência. (art. 362 CPC)
37

SENTENÇA

Conceito

Conforme previsto no §1º do art. 203 do CPC, “ressalvadas as disposições expressas dos
procedimentos especiais, sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com
fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como
extingue a execução”, ou seja, é tanto o ato que extingue o processo sem resolução de mérito
quanto o que resolve mérito da causa no processo de conhecimento ou no processo de
execução.

Espécies de sentença

Terminativas = são aquelas que põem fim ao processo sem lhe resolver o mérito, cujas
situações estão previstas no art. 485 do CPC, porquanto não se prestam para se submeter a
tutela jurisdicional em virtude de que apresentam alguma circunstância impeditiva. Mesmo
depois de proferida uma sentença terminativa, o direito de ação permanece latente.

Ver as peculiaridades dessa espécie no NCPC (art. 485 e 486 CPC)

Definitivas = são aquelas sentenças que decidem o mérito da causa, no todo ou em parte,
cujas situações estão previstas no art. 487 do CPC, porquanto ela exaure a instância ou o
primeiro grau de jurisdição através de uma definição do juízo. Tem função de declarar o direito
aplicável à espécie sub judice.

Elementos essenciais (art. 489 do CPC)

Relatório = é o intróito da sentença onde o juiz faz uma espécie de histórico de toda a relação
processual, consignando, além dos nomes das partes, a suma do pedido e resposta, as
principais circunstâncias ocorridas no processo, bem como, serve para delimitar as questões
que serão decididas naquela relação jurídica.

Motivação = é a parte da sentença em que o juiz expõe os fundamentos de fato e de direito que
geraram sua convicção, valendo-se, para tanto, de todo o conjunto probatório produzido nos
autos. Vale lembrar que para ser considerada fundamentada, a sentença ou acórdão deve
observar as regras contidas no parágrafo 1º do referido artigo processual.
38

Dispositivo = é parte da sentença que contém a decisão da causa, na qual o juiz dirá se a
pretensão postulada pelo autor procede ou improcede, externando os efeitos jurídicos nela
produzidos.

Obs: a ausência de relatório (quando exigido) ou da motivação causa a nulidade da sentença,


podendo esta ser cassada em grau de recurso ou mediante ação rescisória. A ausência de
dispositivo induz a inexistência da própria sentença.

Nulidade da sentença extra petita, ultra petita ou citra petita

A sentença é extra petita quando soluciona causa diversa da que foi proposta através do
pedido.

Ex: o autor pede reajuste salarial e o juiz concede alguma verba adicional;

A sentença é ultra petita quando o juiz decide o pedido indo além, dando ao autor mais do que
fora pleiteado.

Ex: o autor pede a condenação do réu ao pagamento de R$ 1.000,00 e o juiz condena-o em R$


2.000,00;

A sentença é citra (infra) petita quando o juiz não examina todas as questões propostas pelas
partes, deixando de apreciar algum pedido elaborado pelo autor.

Ex: pedidos cumulados de reparação por danos material e moral onde o juiz condena o réu a
reparar apenas um deles, deixando de analisar o outro.

Classificação dos efeitos da sentença

A doutrina mais conservadora classifica os efeitos da sentença na tradicional divisão terciária,


ou seja: sentença declaratória, constitutiva e condenatória. Contudo, Pontes de Miranda
trabalhou a classificação quinária dos efeitos da sentença, agregando àquelas a sentença
mandamental e a executiva lato sensu.

Sentença declaratória = nela o juiz se limita a declarar a existência ou inexistência de uma


relação jurídica, tornando certa uma situação jurídica ainda não reconhecida judicialmente. A
sentença declaratória não impõe obrigação aos contentores, por isso não constitui título
executivo. Tem eficácia ex tunc, ou seja, retroativa.

Ex: sentença que declara a paternidade; sentença que declara abusiva cláusula contratual.
39

Sentença constitutiva = são mais complexas do que as declaratórias, porquanto, além de


declarar a existência ou não de uma relação jurídica, podem constituir, extinguir ou modificar
essa relação. A sentença constitutiva é caracterizada pela criação de um estado jurídico
distinto do anterior. Também não constitui título executivo e sua eficácia é ex nunc, ou seja,
não retroage, produzindo seus efeitos a partir do trânsito em julgado.

Ex: sentença que decreta o divórcio; sentença que rescinde contrato.

Sentença condenatória = é aquela que resulta na formação de um título executivo judicial em


favor do autor, impondo obrigações ao réu. Além de declarar o direito do autor, concede a
possibilidade deste valer-se da sanção executiva para satisfação de sua pretensão. A sentença
condenatória tem efeito ex tunc, retroagindo ao momento da propositura da ação.

Ex: sentença que condena o réu ao pagamento de R$ 1.000,00 a título de danos morais.

Sentença mandamental = é aquela em que o juiz emite uma ordem, um comando, que lhe
permite, sem necessidade de execução pela parte, tomar medidas concretas destinadas a
proporcionar ao vencedor a efetiva satisfação de seu direito. Não cumprida a obrigação caberá
fixação de multa (astreites)

Ex: sentença proferida em mandado de segurança; sentença nas ações dos arts. 461 e 461-A.

Sentença executiva lato sensu = é uma espécie de sentença condenatória que prescinde de
uma fase de execução promovida pelo interessado, porquanto, não cumprida voluntariamente
a obrigação, o próprio Estado, no lugar do réu, a cumprirá, através de expedição de um
mandado judicial.

Ex: sentença proferida em ações possessórias e de despejo.

DAS AÇÕES RELATIVAS ÀS PRESTAÇÕES DE FAZER, NÃO FAZER E ENTREGAR


COISA (art. 497 a 501 CPC)

Nessas espécies de ações, que visam uma obrigação de fazer, não fazer ou entregar coisa, a
sentença se preocupará em conceder a tutela específica, conforme o pedido do autor, ou a
tutela pelo resultado equivalente, quando a obrigação não puder ser cumprida na forma como
requerida pela parte autora.
40

COISA JULGADA

A coisa julgada é uma qualidade dos efeitos da sentença que se torna imutável quando contra
ela já não caiba mais recurso. (art. 502 CPC)

A razão jurídica da garantia constitucional da coisa julgada é a segurança das decisões, as


quais ficariam seriamente comprometidas acaso houvesse a possibilidade de rediscussão após
análise definitiva.

Deve-se entender coisa julgada como um fenômeno único, o qual poderá correspondem em
dois aspectos: um de cunho meramente processual e outro de cunho substancial (meritório).

Coisa julgada formal é um fenômeno intraprocessual, consistente na imutabilidade da sentença


contra a qual não caiba mais recurso dentro do processo em que foi proferida. Se revelam com
o trânsito em julgado das sentenças terminativas, as quais julgam o processo sem resolução
de mérito, possibilitando a renovação da demanda nos casos permitidos.

Coisa julgada material é um fenômeno próprio dos julgamentos de mérito, porquanto consiste
na imutabilidade não mais da sentença, mas também de seus efeitos. Projeta-se para fora do
processo em que ela foi proferida, impedindo que a pretensão seja novamente posta em juízo,
com os mesmos fundamentos.

Limites da coisa julgada

Somente o dispositivo da sentença está revestido da autoridade da coisa julgada material. Os


motivos e fundamentos não se tornam imutáveis, e podem ser rediscutidos em outro processo.
(art. 504 do CPC)

As questões prejudiciais não se revestem da coisa julgada, salvo quando resolvidas em


incidente de resolução. (art. 503 do CPC)

Relativização da coisa julgada

A autoridade da coisa julgada material pode ser elidida mediante desconstituição da sentença
transitada em julgada por meio de ação rescisória ou, em casos em que ela contrariar valore de
maior importância.

Ex: paternidade reconhecida em investigação com exame duvidoso (sem DNA).


41

ANEXO
MODELOS DE PEÇAS
PROCESSUAIS
42

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR (A) JUIZ(A) DE DIREITO DA VARA


CIVEL DA COMARCA DE PALMEIRA DAS MISSÕES – RS.

TERESA, brasileira, solteira, inscrita no CPF nº. 00000000 portadora da cédula de


identidade nº 100000006, residente e domiciliada na Localidade de Linha Scherer,
interior da cidade de Palmeira das Missões, RS, por intermédio de seus procuradores
signatários, vem, respeitosamente perante Vossa Excelência, propor

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER c/c INDENIZAÇÃO POR


DANOS MORAIS com pedido liminar de TUTELA
PROVISÓRIA

Em face de BANCO PAN S.A., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ n.
59.285.411/0001-13, com sede localizada na Avenida Paulista, 1374, 12º andar, Bairro
Bela Vista, na cidade de São Paulo - SP, CEP 01310-300, pelos fatos e fundamentos
jurídicos que seguem.

DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA

Nos termos dos artigos 98 e 99 do Novo Código de Processo Civil e, sob o pálio das garantias fundamentais
constantes no art. 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, a demandante postula a concessão dos
benefícios da ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA, tendo em vista ser pessoa pobre, cuja situação econômica não
lhe permite arcar com as custas processuais e honorários advocatícios, sem prejuízo próprio ou da família, nos termos
da declaração em anexo, situação que vem demonstrada pelos documentos que instruem esta inicial.

DOS FATOS E FUNDAMENTOS JURÍDICOS

A demandante firmou com a instituição financeira demandada um contrato de


empréstimo com garantia de alienação fiduciária sobre o veículo Fiat/Uno Way 1.0, placas IUJ-0000, ano/modelo
2013/2014, cor vermelha, cuja averbação do direito real foi efetivada no prontuário administrativo do referido veículo,
consoante certidão de registro em anexo.

O referido empréstimo se deu através do contrato nº 00005000000, cuja obrigação


correspondia ao pagamento de 60 (sessenta) parcelas mensais.

Diante de tal compromisso, em data de 28/09/2015, após poupar certa quantia, a


demandante resolveu quitar a totalidade do referido contrato, quando então, a empresa demandada emitiu um
único boleto para pagamento das parcelas restantes (28 a 60), cujo valor total importou na quantia de R$ 13.871,67
(treze mil, oitocentos e setenta e um reais e sessenta e sete centavos), obrigação que foi integralmente cumprida na
mesma data, conforme recibo bancário e extrato de conta em anexo, de maneira que se operou a propriedade plena
em seu favor.

Ocorre Excelência que ao tentar efetuar a venda do referido veículo a fim de suprir necessidade sua e
da família, a demandante se deparou com a ingrata surpresa da existência da restrição de alienação fiduciária
43

no prontuário do veículo junto ao Detran local, situação que ocasionou a total impossibilidade da venda
pretendida, porquanto o interessado comprador não aceitou receber o veículo com a referida restrição.

Diante de tal situação, a demandante se viu em situação constrangedora, porquanto carregava a certeza de
que a respectiva restrição de alienação fiduciária não mais existia, considerando que o pagamento se deu há
aproximadamente mais de 10 meses.

Devido à demora da baixa da restrição do veículo a demandante sofreu danos irreparáveis, pois pretendia
vender o bem para superar atual precária situação financeira da família, havendo inclusive candidato a compra,
sendo que o negócio deixou de ser realizado tudo em razão da restrição existente, de modo que tal situação importa
em conduta ilícita da demandada, já que mesmo após quitada sua dívida, a demandante continua com o bem restrito,
sem poder dispor livremente de sua propriedade.

Além disso, é preciso informar que a demandante tentou várias vezes solucionar
pacificamente o problema mediante constantes contatos com a instituição financeira demandada sem lograra êxito,
motivo pelo qual vem causando injusta preocupação e estresse à vida da requerente, sentimentos que foram muito
além de mero dissabor ou aborrecimento.

Com efeito, os artigos 8º e 9º da Resolução 320/2009 do Contran é clara em estabelecer a obrigação da


instituição financeira sobre o levantamento de gravames, prescrevendo, inclusive, a forma de baixa das restrições após
a quitação do contrato de financiamento veicular junto aos órgãos administrativos, consoante se vê da leitura dos
dispositivos regulamentadores.

Art. 8º Será da inteira e exclusiva responsabilidade das instituições credoras, a


veracidade das informações repassadas para registro do contrato, inclusão e liberação
do gravame de que trata esta Resolução, inexistindo qualquer obrigação ou exigência,
relacionada com os contratos de financiamento de veículo, para órgãos ou entidades
executivos de trânsito, competindo-lhes tão somente observar junto aos usuários o
cumprimento dos dispositivos legais pertinentes às questões de trânsito, do registro do
contrato e do gravame.

Art. 9º Após o cumprimento das obrigações por parte do devedor, a instituição


credora providenciará, automática e eletronicamente, a informação da baixa do
gravame junto ao órgão ou entidade executivo de trânsito no qual o veículo estiver
registrado e licenciado, no prazo máximo de 10 (dez) dias.

Desse modo, a instituição financeira tem a obrigação legal de providenciar a baixa da restrição de
alienação fiduciária no prazo máximo de 10 (dez) dias após a quitação do contrato, o que deveria ser feito mediante
informação automática e eletrônica perante o órgão de trânsito competente, o desde já postula a demandante.

Com efeito, pelo ato ilícito de total negligência e imprudência da empresa demandada ao manter uma
restrição totalmente indevida, a culpabilidade da instituição é manifesta e sua devida responsabilização é medida que
se impõe, uma vez que em harmonia com o ordenamento jurídico atual.

Nesse sentir, a previsão do artigo 186 do Código Civil:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.

No mesmo norte, em consonância com o artigo supramencionado, é o a prescrição


legal do artigo 927 do Código Civil:
44

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.

O ato ilícito da empresa demandada causou danos irreparáveis à demandante no momento em que mantém
a averbação de alienação fiduciária junto ao Detran mesmo depois de ultrapassados 10 meses após a quitação do
contrato, bem como pela situação vexatória que passou perante terceiros.

Nossa doutrina se posiciona da seguinte forma nesses casos:

É inquestionável que os padecimentos de natureza moral, como, por exemplo, a dor, a


angústia, a aflição física ou espiritual, a humilhação, e de forma ampla, os
padecimentos resultantes em situações análogas, constituem evento de natureza
danosa, ou seja, danos extrapatrimoniais. (REIS apud VENOSA, 2005, p. 280)1

Ademais, a relação jurídica estabelecida entre as partes restou configurada como uma
relação de consumo, devendo ser observados os preceitos do Código de Defesa do Consumidor, especialmente o que
estabelece a redação do seu artigo 14, o qual determina a reparação dos danos causados ao consumidor por defeitos
na prestação de serviços, o que se amolda no caso em tela, senão vejamos o dispositivo legal.

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de


culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à
prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre
sua fruição e riscos.

Também, o entendimento de nossa jurisprudência é no sentido de reconhecer os danos morais suportados


em razão da conduta ilícita de manutenção indevida da restrição de alienação fiduciária após a quitação total do
empréstimo, inclusive prescindindo de prova do dano, porquanto vige a presunção do dano moral na espécie.

Senão vejamos algumas decisões representativas do Tribunal de Justiça do Rio Grande do sul que apontam
para o dever de indenizar em casos análogos.

Ementa: RESPONSABILIDADE CIVIL. QUITAÇÃO DE DÍVIDA DE FINANCIAMENTO


DE VEÍCULO. DEMORA NA LIBERAÇÃO DO GRAVAME. INDEVIDA INSCRIÇÃO
EM CADASTROS RESTRITIVOS DE CRÉDITO. DESÍDIA DO RÉU. DEVER DE
INDENIZAR. DANO MORAL. O Banco réu, em precedente ação reintegratória de
posse, informou que a autora quitou a dívida contratual (financiamento de veículo). Até
a data do ajuizamento da presente ação, o veículo continuava com a restrição de
alienação à ré. A desídia do réu é evidente e incontroversa - passados 7 (sete) meses
do pedido de extinção da demanda reintegratória, inscreveu o nome da autora em
cadastros restritivos de crédito. Evidenciada a conduta ilícita do réu, presente está
o dever de indenizar, que decorre do próprio fato ilícito, bastando a tanto a
comprovação de haver a requerente suportado ato injusto atribuído à parte
requerida. As adversidades sofridas pela autora, a aflição e o desequilíbrio em
seu bem-estar, fugiram à normalidade e se constituíram em agressão à sua
dignidade. Fixação do montante indenizatório considerando o grave equívoco do réu,
o aborrecimento e o transtorno sofridos pela demandante, além do caráter punitivo-
compensatório da reparação. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. A verba honorária deve
ser fixada de modo que não avilte a profissão de advogado. APELAÇÃO
DESPROVIDA. RECURSO ADESIVO PROVIDO. (Apelação Cível Nº 70043253350,
Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Túlio de Oliveira Martins,
Julgado em 29/09/2011)
Portanto, em conformidade com o exposto até o presente momento, verifica-se a ação
culposa do requerido, bem como o nexo de causa e efeito entre a ação ilícita e o dano resultante, motivo pelo qual a
condenação a indenizar por danos morais é medida que se impõe.

1 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil:. responsabilidade civil. 5. ed. vol. 4. São Paulo. Atlas. 2005.
45

DO PEDIDO LIMINAR DE TUTELA PROVISÓRIA

Em razão dos fatos acima relatados, pretende a demandante se valer do instituto da


TUTELA PROVISÓRIA, na modalidade de urgência, em caráter incidental, para ver deferido pedido liminar para que a
empresa demandada providencia imediatamente a baixa da restrição de alienação fiduciária no prontuário do veículo
FIAT/UNO WAY 1.0, placas IUJ-3299, renavam nº. 53874697, sob pena de multa diária, tendo em vista o perigo de
dano irreparável ou de difícil reparação acaso se mantenha a averbação indevida.

A probabilidade do direito da demandante está consubstanciada nos documentos juntados em anexo, em


especial os comprovantes de pagamento e quitação total do débito, o boleto representativo da quitação emitido pela
própria empresa demandada, bem como da certidão da certidão de registro do referido veículo.

Do mesmo modo, se verifica o perigo de dano ou o risco do resultado útil do processo em caso de
demora do acertamento da tutela jurisdicional, tendo em vista que a demandante necessita efetivar a venda do referido
veículo à terceiro, o que não está possível em razão da existência da indevida restrição apontada.

Para a concessão da medida de urgência, estão caracterizados os requisitos PERICULUM IN MORA e


FUMUS BONI IURIS no caso em tela, pois os fatos narrados se amoldam na prescrição normativa que protege a
pretensão da requerente, com respaldo no Código de Defesa do Consumidor, bem como no artigo 300 e seguintes do
Código de Processo Civil.

DOS PEDIDOS

DIANTE AO EXPOSTO, a demandante requer:

1- O deferimento de medida liminar em tutela provisória na modalidade de urgência, para o fim de


determinar que a empresa demandada providencie imediatamente a baixa da restrição de alienação
fiduciária no prontuário do veículo FIAT/UNO WAY 1.0, placas IUJ-0000, renavam nº. 50000001, sob
pena de multa diária;

2- A citação da demandada para que, nos termos do art. 334 do CPC, querendo, compareça na audiência
de tentativa de conciliação a fim de compor o litígio ou contestar o pedido no prazo legal, sob pena de
incorrer nos efeitos da revelia;

3- A produção de todos os meios de provas moralmente admitidas em direito;

4- Ao final, sejam julgados procedentes os pedidos para o fim de:

a) Tornar definitiva a liminar pleiteada pela demandante;

b) Determinar que a empresa demandada efetue a baixa da restrição de alienação fiduciária no


prontuário do veículo FIAT/UNO WAY 1.0, placas IUJ-0000, renavam nº. 530000000;

c) Condenar a empresa demandada ao pagamento de indenização por danos morais no valor


sugerido de R$ 12.000,00 (doze mil reais);

5- O deferimento da GRATUIDADE DA JUSTIÇA, nos termos da declaração em anexo;

6- Seja aprazada data para realização de audiência preliminar de tentativa de conciliação, da qual o autor
manifesta expresso interesse em participar.

Dá-se a causa o valor de R$ 12.000,00

Nesses termos, pede deferimento.

Palmeira das Missões, 27 de julho de 2016.

__________________________________

Advogado
46

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA CÍVEL DA


COMARCA DE PALMEIRA DAS MISSÕES – RS.

Processo nº. 020/1.16.00000000

CLENIO, já qualificado nos autos da Ação de Reconhecimento e Dissolução de União


Estável identificada em epígrafe, que lhe move ELISÂNGELA, por intermédio de seus
procuradores signatários, vem respeitosamente perante Vossa Excelência, com
fundamento nos artigos 335 e seguintes do Código de Processo Civil, apresentar

CONTESTAÇÃO

A fim de efetivar sua defesa processual e postular seus direitos, o que faz pelos
argumentos de fato e fundamentação jurídica a seguir:

DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

Sob o pálio das garantias fundamentais constantes no art. 5º da Constituição da


República Federativa do Brasil, e do direito prescrito no art. 4º da lei n° 1.060/50, o demandado postula a concessão
dos benefícios da GRATUIDADE DA JUSTIÇA, tendo em vista tratar-se de pessoa pobre, cuja situação econômica não
lhe permite arcar com as custas processuais e honorários advocatícios sem prejuízos próprios ou da família, consoante
declaração e documentos em anexo.

DOS FATOS NARRADOS NA PETIÇÃO INICIAL

A demandante relata que manteve união conjugal estável com o demandado pelo período de 11 (onze) anos,
informando que “não há interesse na conciliação”.

Diz que da união do casal não resultou nascimento de filhos.

Informa a existência de alguns bens dito do casal e, ao final, postula o reconhecimento da união estável e
sua consequente dissolução, a partilha de tais bens e o pagamento de pensão alimentícia.

Esta é a íntegra da petição inicial.

Contudo Excelência, a pretensão da demandante não merece guarida jurisdicional, pois os fatos trazidos na
exordial não se passaram como os relatados, porquanto há fatos extintivos, impeditivos e modificativos do pretenso
direito postulado pela autora, conforme restará demonstrado ao final.

DAS TESES PRELIMINARES DE MÉRITO

Nos termos do artigo 337 do Código de Processo Civil, incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, sustentar
as matérias preliminares que impeçam ou dificultem o bom andamento e a solução justa do processo, o que faz a partir
desse momento.
47

Observa-se, inicialmente, a manifesta INÉPCIA DA INICIAL, porquanto não se vislumbra na petição inicial,
CAUSA DE PEDIR que ampare os pedidos finais de reconhecimento de união estável, partilha de bens e de
condenação de obrigação alimentar, de modo que o requisito necessário previsto no inciso III do art. 319 do Código de
Processo Civil não se encontra devidamente contemplado na peça portal.

Nesse diapasão, nossa melhor doutrina aborda com precisão a matéria para apontar a opção da legislação
processual pelo princípio da consubstanciação, pelo qual o direito de ação deve se fazer com base em um fato gerador
que possibilite a extração da conclusão dos pedidos finais, senão vejamos.

Todo direito subjetivo nasce de um fato, que deve coincidir com aquele que foi previsto,
abstratamente, pela lei como o idôneo a gerar faculdade de que o agente se mostra
titular. Daí que, ao postular a prestação jurisdicional, o autor tem de indicar o direito
subjetivo que pretende exercitar contra o réu e apontar o fato do qual ele provém,
incumbe-lhe, para tanto, descrever não só o fato material ocorrido como atribuir-
lhe um nexo jurídico capaz de justificar o pedido constante da inicial.2 (grifamos)

A inexistência de causa de pedir, no caso concreto, se justifica em razão de que em nenhum momento da
exordial a demandante sustenta que eventual relacionamento teve o objetivo de constituir família, limitando-se a afirmar
que “manteve uma união conjugal estável com o réu”, consoante se observa nos fatos declinados, de sorte que o
simples relacionamento não possibilita a postulação dos direitos relativos à união estável, dentre eles a partilha de
bens e a pensão alimentícia.

Além disso, a petição inicial não informa precisamente qual a data inicial e o término de eventual relação
conjugal da alegada união estável, limitando-se a apontar genericamente um período de 11 anos, situação que dificulta
a defesa processual em razão da obscuridade da informação, o que também acarreta ausência de causa de pedir em
relação a eventual patrimônio comungável.

Diante de tal quadro, a petição inicial merece ser, de plano, indeferida, nos termos do atual estatuto
processual, in verbis:

Art. 330. A petição inicial será indeferida quando:


I – for inepta;
§ 1º. Considera-se inepta a petição inicial quando:
I – lhe faltar pedido ou causa de pedir;

Dessa forma Excelência, a tese preliminar de mérito merece ser acolhida de plano para que a petição inicial
seja indeferida pela inépcia, extinguindo-se o processo sem resolução de mérito, evitando assim, o prosseguimento
indevido da demanda e o dispêndio de custas e da atividade jurisdicional.

DO MÉRITO

Pelo princípio da eventualidade, acaso ultrapassada a tese preliminar de inépcia da petição inicial, o
demandado adentra na discussão de mérito, a fim de mostrar e comprovar ao juízo a total improcedência dos pedidos
iniciais.

2 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: teoria geral do direito processual
civil, processo de conhecimento e procedimento comum. v 1. 56 ed. Rio de Janeiro. Forense. 2015, p.
752-753.
48

DA INEXISTÊNCIA DE UNIÃO ESTÁVEL

Ao contrário do que sustenta a demandante, o relacionamento noticiado na exordial não merece ser
considerado e reconhecido judicialmente como uma união estável, porquanto se tratou tão somente de
relacionamento amoroso esporádico e extraconjugal, configurando simples namoro, o qual durou entre os anos de
2006 e meados de 2014.

Nos termos da legislação vigente, para que um relacionamento em união estável seja reconhecido como
entidade familiar equiparada ao casamento, necessário se faz o preenchimento de vários requisitos, conforme
preconiza o art. 226, § 3º da Constituição Federal, matéria devidamente regulamentada pela Lei 9.278/96, que assim
dispõe:

Art. 1º. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a
mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida
com o objetivo de constituição de família.

No que pese o demandado reconhecer que teve um relacionamento amoroso com a demandante Elisângela
por certo período, o casal nunca se apresentou à sociedade como marido e mulher, porquanto sempre tiveram
reservadas suas intimidades.

Ainda, o dito relacionamento amoroso não se mostrou contínuo e duradouro, porquanto por várias vezes
durante o período de namoro a demandante Elisângela se afastava do demandado dizendo não ter mais interesse no
relacionamento, contudo, promovia a retomada do mesmo em momento posterior, o que, eventualmente, era aceito
pelo demandado.

Além disso, nunca houve qualquer pretensão do casal em constituir família e assim se apresentar à
sociedade em que conviveram, isso porque, não houve qualquer comunhão de esforços para aquisição de bens de
família, tampouco a intenção de contraírem núpcias ou de nascimento de filhos em comum, tanto é verdade que a
própria demandante revela na exordial a inexistência de filhos do casal.

Por todas essas situações Excelência, o demandado afirma categoricamente não existir a configuração dos
requisitos legais necessários para o reconhecimento da pretendida união estável.

Não bastasse isso, é preciso informar ao juízo que o demandado é casado pelo regime de comunhão
parcial de bens com Eliane desde 23 de fevereiro de 1990, cujo matrimônio resultou o nascimento da filha Karine,
consoante comprova as certidões de casamento e nascimento em anexo.

Tal situação tão somente comprova que nunca houve qualquer intenção do demandado em constituir nova
família com a demandante, porquanto o relacionamento com esta não se passava de mero concubinado.

Nesse sentido, a jurisprudência atual de nosso Tribunal de Justiça aponta para a inviabilidade da pretensão
de reconhecimento de união estável simultaneamente ao casamento de um dos envolvidos, visto a configuração do
concubinato.

Ementa: AÇÃO DE RECONHEDIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL.


CASAMENTO E RELAÇÃO EXTRACONJUGAL SIMULTÂNEAS. É inviável
o reconhecimento de união estável simultânea ao casamento. Prova dos autos que
demonstram que não houve a separação de fato do de cujus e a esposa.
Apelação provida. (Apelação Cível Nº 70069323285, Sétima Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Jorge Luís Dall'Agnol, Julgado em 27/07/2016)

No mesmo norte é o posicionamento pacífico do Superior Tribunal de Justiça, precedente representado pelo
julgado abaixo transcrito.
49

DIREITO DE FAMÍLIA E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE


RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL. HOMEM CASADO. OCORRÊNCIA DE
CONCUBINATO. SEPARAÇÃO DE FATO NÃO PROVADA. NECESSIDADE DE
REEXAME DE PROVA. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. A jurisprudência do STJ e do STF é sólida em não reconhecer como união estável a
relação concubinária não eventual, simultânea ao casamento, quando não estiver
provada a separação de fato ou de direito do parceiro casado.
2. O Tribunal de origem estabeleceu que o relacionamento entre a autora e o de cujus
configura concubinato, uma vez que, conforme consignado no v. acórdão recorrido, as
provas documental e testemunhal presentes nos autos não corroboram a versão de
que o falecido estava separado de fato no período do alegado relacionamento.
3. A inversão do entendimento firmado nas instâncias ordinárias, na forma pleiteada
pela agravante, demandaria o reexame de provas, o que é defeso em sede de recurso
especial, nos termos da Súmula 7/STJ.
4. Agravo regimental não provido.
(AgRg no AREsp 748.452/SC, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado
em 23/02/2016, DJe 07/03/2016)

Dessa forma, em razão da total inexistência dos requisitos configuradores de entidade familiar, o pedido
principal de reconhecimento e consequente dissolução de união estável merece ser julgado totalmente improcedente,
prejudicando os demais pedidos subsidiários de patilha e alimentos.

Todavia, acaso não seja essa a interpretação do caso concreto, o demandante, forte nos artigos 336 e 341
do Código de Processo Civil, passa a debater especificamente os pedidos declinados na exordial.

DA PRETENSÃO DE COMUNHÃO E PARTILHA DE BENS

Acerca da pretensão de comunhão e partilha de bens, o demandado entende que não há se falar em tal
hipótese em razão da inexistência união estável, o que será devidamente demonstrada ao final da instrução
processual.

Eventualmente, acaso reconhecida a união estável pelo juízo, há que se esclarecer que os bens declinados
na exordial não fazem parte de eventual comunhão, alguns em razão da própria inexistência e outros em razão da
titularidade da propriedade, conforme a seguir declinado e demonstrado.

Sobre o imóvel urbano localizado na Rua Panambi, bairro Vista Alegre, objeto da matrícula n. 10.000 do
RI local (fls. 08/34), trata-se de imóvel urbano adquirido em 03 de novembro de 2015 pelo demandado Clênio e seu
cônjuge, Sra. Eliane, consoante R75 (fls. 34) a fim de proporcionar moradia e residência à filha comum do casal Karine
próxima ao campus da UFSM, visto que a mesma é acadêmica do curso de Nutrição.

O referido imóvel foi adquirido em comum esforço pelo casal (Clênio e Eliane) ao final do ano de 2015,
quando então, o namoro (relacionamento extraconjugal) com a demandante já havia terminado, porquanto, naquela
ocasião, a mesma desistira do relacionamento.

Tal situação importa na exclusão do referido imóvel de eventual partilha, já que pertencente a família do
demandado e cuja aquisição se deu fora do período do relacionamento noticiado na exordial.

No que tange ao veículo VW/Saveiro 1.6, placas ILV-0000 (fls. 07), tal bem não merece fazer parte de
eventual partilha, haja vista que a mesma é de propriedade de BV FINANCEIRA em virtude de contrato de alienação
fiduciária firmado em junho de 2014, consoante se observa no documento de fls. 07 dos autos, de sorte que o
demandado detém tão somente os direito e ações sobre o referido veículo.

Acerca dos bens que guarnecem a residência, é preciso informar ao juízo que todos eles pertencem ao
demandado e a sua filha Karine, a qual aparelhou a residência com móveis usados trazidos da cidade de Constantina,
onde residia antes da compra do imóvel mencionado acima, razão pela qual não há se falar em partilha desses bens.
50

Quanto aos mencionados trator e retroescavadeira faz-se necessário esclarecer que os mesmos não
pertencem ao demandado, porquanto são de propriedade do irmão do mesmo e, portanto, não há se falar em partilha
de tais bens.

Ocorre Excelência que, em período em que o demandado não tinha emprego formal, acabou por trabalhar
informalmente com seu irmão em serviços de terraplanagens, razão pela qual há nítido equívoco da demandante em
apontar tal bem como sendo de propriedade do demandado. Naquela ocasião, a fim de divulgar os serviços que
prestara, o demandado divulgou cartão de visita com seu número de celular, a fim de facilitar o contato de eventuais
interessados no serviço, situação que justifica e esclarece a existência do documento de fls. 06 dos autos.

A respeito de eventual chácara localizada na cidade de Entre Ijuí, mais uma vez se equivoca a
demandante, porquanto tal bem não existe ou não é de propriedade do demandado, situação que vem plenamente
demonstrada pela certidão negativa de imóveis em anexo, expedida pelo Registro de Imóveis de Entre Ijuí, razão pela
qual não há se falar em tal bem.

Por fim, a respeito da existência de 47 mil reais declinados na exordial, necessário esclarecer ao juízo que
tais valores se trata de verbas rescisórias oriunda da relação empregatícia do demandado com empresa local, cujos
valores foram utilizados com pagamento de dívidas e despesas da família do demandado, incluindo nestas várias
despesas com a manutenção de saúde do pai do demandado, consoante comprovantes em anexo.

Contudo, Excelência, é preciso reforçar que a justificativa de incomunicabilidade de tais bem somente
merece ser debatida pela eventualidade, porquanto a inexistência de vínculo em união estável entre demandante e
demandado tem o condão de excluir qualquer tentativa de comunicação de bens, o que desde já se pede em caráter
eventual.

DO PEDIDO DE ALIMENTOS

A pretensão da demandante na condenação do demandado ao pagamento de verba alimentar não merece


prosperar, porquanto é sabido que a obrigação alimentar entre os conviventes (eventualmente reconhecida) decorre do
dever de mútua assistência (situação que não corresponde ao caso em tela), e ainda, desde que comprovada a
necessidade por parte de um deles, conforme prevê o art. 1.694 do Código Civil, in verbis:

Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os
alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição
social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.
§ 1o Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e
dos recursos da pessoa obrigada.
§ 2o Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação
de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia.

No presente caso, a demandante consta, nesta data, com 31 anos de idade, fato que se comprova pela
análise de seu documento de identificação juntado às fls. 05 dos autos, portanto, jovem e capaz de produzir seu próprio
sustento, o que, aliás, já ocorre normalmente através de vários serviços informais prestados pela mesma na condição
de doméstica.

Além disso, a demandante se encontra em plenas condições de saúde física e mental, porquanto em
nenhum momento a exordial refere situação que lhe coloque em situação de risco ou de dependência para com o
demandado.

Por outro lado Excelência, é preciso levar em conta que os recursos financeiros do demandado, o qual se
mostra precário, isso porque, além de possuir regular despesas com sua família constituída pelo regular casamento,
ainda, detém outro filho fora do casamento, Eduardo, consoante certidão de nascimento em anexo, com o qual mantém
51

obrigação alimentar, atualmente, na quantia de R$ 430,00 (quatrocentos e trinta reais), consoante comprovante de
depósito em anexo.

Assim, ainda pelo princípio da eventualidade, acaso este juízo entenda por reconhecer eventual união
estável, o pedido de condenação ao pagamento de verba alimentar em favor da demandante merece ser julgado
improcedente, porquanto ausente os requisitos exigidos pela legislação civilista.

DA IMPUGNAÇAO DOS DOCUMENTOS JUNTADOS PELO DEMANDANTE

O contestante impugna os documentos juntados pela demandante, já que nenhum deles conforta a
pretensão dos pedidos da inicial.

Impugna-se os documentos de fls. 06 dos autos, os quais por si só não demonstram com segurança e
fidelidade o conteúdo neles contido, porquanto a folha de pagamento constante aponta valores referentes à horas
extras de trabalho, as quais são eventuais e esporádicas, de modo que este juízo não deve levar em consideração os
valores apontados como remuneração, já que a verdadeira remuneração do demandado se mostra aproximadamente à
metade de tais valores.

Ainda, impugna-se especificamente a reprodução do cartão de visitas onde consta o nome do demandado,
visto que, como anteriormente esclarecido, tal documento não demonstra propriedade em nome de demandado, isso
porque, se tratou de um trabalho informal em período em que este se encontrava desempregado, situação que não
ocorre atualmente.

Por fim, impugna-se os documentos de fls. 07/34 dos autos em virtude de que os mesmos não apontam
para a propriedade exclusiva do demandado, o primeiro em razão da existência de alienação fiduciária em favor da
instituição financeira e o segundo, em razão de se tratar de bem adquirido em favor do matrimônio.

Assim, deste já, a fim de tornar controvertidos os conteúdos constantes nos documentos mencionados, o
demandado impugna de forma específica os documentos juntados pela demandante com a petição inicial.

DIANTE AO EXPOSTO, o demandado requer:

a) Seja a presente contestação recebida juntamente com os documentos que a instrui;

b) A produção de todas as provas moralmente admitidas em direito;

c) Em preliminar, seja acolhida a tese de inépcia da petição inicial, para consequentemente indeferir a petição
inicial e extinguir o feito sem resolução de mérito;

d) Eventualmente, no mérito, sejam julgados TOTALMENTE IMPROCEDENTES os pedidos formulados pela


demandante;

e) Subsidiariamente, sejam excluídos os bens pelos quais não haja comunicação por eventual reconhecimento
de união estável;

f) A condenação da demandante ao pagamento das custas processuais e aos honorários advocatícios


sucumbenciais, nos termos da legislação vigente;

g) O deferimento dos benefícios da Assistência Judiciária Gratuita ao demandado, nos termos das declarações
em anexo.

Nesses termos,

Pede deferimento.

Palmeira das Missões, 24 de agosto de 2016.

_____________________________

advogado
52

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA CÍVEL DA


COMARCA DE PALMEIRA DAS MISSÕES – RS.

Processo nº. 020/1.15.0000266-1

CAREN e GEOVANE, já qualificados nos autos da Ação de Cobrança identificada em


epígrafe, que lhe move SIDNEI, por intermédio de seus procuradores signatários, vêm
respeitosamente perante Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 335 e 343 do
Código de Processo Civil, apresentar

CONTESTAÇÃO/RECONVENÇÃO

A fim de efetivar sua defesa processual e postular seus direitos, o que faz pelos
argumentos de fato e fundamentação jurídica a seguir:

DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

Sob o pálio das garantias fundamentais constantes no art. 5º da Constituição da


República Federativa do Brasil, e do direito prescrito no art. 4º da lei n° 1.060/50, os demandados postulam a
concessão dos benefícios da GRATUIDADE DA JUSTIÇA, tendo em vista tratar-se de pessoa pobre, cuja situação
econômica não lhe permite arcar com as custas processuais e honorários advocatícios sem prejuízos próprios ou da
família, consoante declaração e documentos em anexo.

DOS FATOS NARRADOS NA PETIÇÃO INICIAL

O demandante relata que foi contratado pelo “casal” requerido para efetuar a construção de uma residência
pelo projeto e programa do governo federal denominado Minha Casa Minha Vida ao preço total de R$ 57.000,00
(cinquenta e sete mil reais), sendo que, na última fase de construção, a obra foi paralisada a pedido dos demandados.

Revela a inicial que a relação se deu mediante contrato verbal de empreitada, cujas condições,
supostamente, estariam ajustadas na forma como declina as alegações do demandante.

Avalia a peça portal que o trabalho realizado até a paralização da referida obra corresponde ao preço de R$
46.100,00 (quarenta e seis mil e cem reais), sendo que o demandante recebeu tão somente o valor de R$ 24.300,00,
razão pela qual, postula ao final, a condenação dos demandados no valor restante de R$ 21.800,00 (vinte e um mil e
oitocentos reais)

Esse é o breve relato da petição inicial.

Contudo Excelência, a pretensão do demandante não merece guarita, pois os fatos trazidos na exordial não
se passaram como relatados, porquanto há fatos extintivos e modificativos do pretenso direito postulado pelo autor,
conforme restará demonstrado ao final.
53

DAS TESES PRELIMINARES DE MÉRITO

Nos termos do artigo 337 do Código de Processo Civil, incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, sustentar
as matérias preliminares que impeçam ou dificultem o bom andamento e a solução justa do processo, o que faz a partir
desse momento.

DA ILEGITIMIDADE PASSIVA DO DEMANDADO GEOVANE

Compulsando os autos, bem como os documentos que instruem essa contestação, é manifesta a
ILEGITIMIDADE PASSIVA do ora contestante GIOVANE em virtude de que é clara a inexistência de relação jurídica
material entre este e o demandante, visto que em momento algum contratou os serviços e produtos relatados na
exordial.

Para tanto Excelência, veja que os relatos da exordial revelam que a contratação se deu tão somente com
a demandada Caren, a qual formalizou contrato verbal de prestação de serviços e fornecimento de materiais,
consoante se verifica nos documentos em anexo.

No mesmo norte é preciso observar que todos os documentos relativos à construção da residência
foram firmados exclusivamente pela demandada Caren, fato que se vislumbra no contrato de financiamento
habitacional, projeto arquitetônico, memoriais descritivos, notas e recibos de compra de mercadorias, dentre outros,
situação que demonstra satisfatoriamente a sustentada ilegitimidade passiva.

Além disso, caber dizer que a construção da casa objeto do contrato particular firmado entre as partes
não beneficia o demandado Geovane, tendo em vista que este tão somente mantém relação de namoro com a
demandada Caren, motivo pelo qual não merece responder judicialmente por eventual obrigação relativa à obra
mencionada.

Dessa forma Excelência, a tese preliminar de mérito merece ser acolhida de plano, extinguindo-se o
processo em relação ao demandado Geovane, evitando assim, o prosseguimento indevido da demanda e o dispêndio
de custas e de atividade jurisdicional.

DO MÉRITO

Inicialmente, é imperioso ressaltar que os fatos declinados na exordial não correspondem com a verdade,
porquanto, a rescisão do contrato de empreitada estabelecido entre as partes se deu por culpa exclusiva do
demandante, o qual não cumpriu com as condições estabelecidas no projeto técnico.

Ocorre Excelência, que a demandada Caren contratou os serviços do demandante a fim de que este
efetuasse a construção de uma residência de aproximadamente 66,95m², na Rua Datro Filho, 000, nesta cidade,
consistente no fornecimento dos materiais necessários, bem como da mão de obra para tanto, cujas condições foram
estabelecidas mediante a observância do memorial descritivo e das fases determinadas pelo cronograma oriundo do
financiamento habitacional requerido junto a Caixa Econômica Federal.

O acordado entre as partes era de que o demandante realizasse a construção total da casa com a
extrema observância nas técnicas de construção, o que não foi observado de um momento em diante.

Ocorre Excelência que o demandante trabalhou até, aproximadamente, meados da terceira fase, quando
então a demandada vislumbrou vários defeitos e problemas na execução da obra, motivo pelo qual rescindiu contrato
em razão do descumprimento contratual e não observância nas normas técnicas do projeto apontadas pelo memorial
descritivo e laudo habitacional.
54

Os motivos que levaram a demandada a rescindir legalmente o contrato com o demandante se deu em razão
de que apareceram VÁRIOS PROBLEMAS DE EXECUÇÃO DA OBRA E NA QUALIDADE DOS MATERIAIS, quais
sejam: a colocação de um pilar não previsto no projeto dividindo a janela de canto; instalação do PVC do forro
com pregos aparentes; tesouras do telhado feitas com reutilização das madeiras de concretagem; tubulação
elétrica solta no telhado; telhado com problemas de vazamento, reboco recém feitos que apresentavam
rachaduras e irregularidades, pintura com tinta de má-qualidade que soltava da parede, dentre outros.

Não bastasse isso, por várias vezes a demandada solicitou ao demandante o conserto dos problemas
sem que este atendesse seu pedido, motivo pelo qual sobreveio desentendimento e consequente rescisão do
contrato.

No que diz respeito aos valores postulados pelo autor, nota-se que o valor de R$ 24.300,00 (vinte e quatro
mil e trezentos reais), afirmados como recebidos na exordial e efetivamente pagos pela demandada, corresponde ao
pagamento de todos os serviços prestados até o momento da paralização da obra, visto que a Caixa Econômica
Federal liberava o pagamento dos valores conforme o cronograma de operações, de maneira que os valores
alcançados ao demandante cobrem satisfatoriamente os serviços prestados até o momento da rescisão, motivo pelo
qual, nada é devido ao demandante.

Cabe ressaltar que, inclusive, a demandada se viu obrigada a contratar outros pedreiros para refazer os
serviços realizados pelo demandante, bem como terminar de construir a obra, situação que acarretou despesas extras
e prejuízo à demandante, contudo, tal discussão será objeto de cláusula processual de reconvenção.

Ademais, a pretensão de condenação da demandada ao pagamento da quantia de R$ 21.800,00 (vinte e um


mil e oitocentos reais) não se justifica, porquanto não há qualquer indício que tais valores são devidos, porquanto o
demandante efetuou cálculo aleatório para chegar a tal conclusão.

Ao ler a exordial, percebe-se que a suposta avaliação - de que no momento em que a obra foi paralisada os
serviços prestados correspondiam ao valor de R$ 46.100,00 - não merece prosperar, já que feita de forma indutiva pelo
autor da ação, sem o uso de qualquer parâmetro ou prova quanto a isso.

Assim, considerando que a rescisão de contrato ocorreu por culpa exclusiva do demandante, já que
descumpriu as condições técnicas na realização da obra, dando assim motivo para o desfazimento do contrato, a
improcedência dos pedidos inicial é medida que se impõe.

DA IMPUGNAÇAO DOS DOCUMENTOS JUNTADOS PELO DEMANDANTE

A contestante impugna os documentos juntados pelo demandante, já que nenhum deles conforta a pretensão
dos pedidos da inicial.

Impugna-se os documentos de fls. 25/26 dos autos, os quais por si só não demonstram com segurança e
fidelidade o conteúdo neles contido, porquanto produzidos de forma unilateral pela parte demandante, o que poderá
levar este juízo a erro de interpretação, já que anotações feitas sem qualquer comprovação.

Ainda, as notas fiscais de fls. 27/29, 33/36, 38/39, 42/52 dos autos não se prestam para confortar as
alegações da inicial, já que não revelam a destinação específica dos produtos adquiridos pelo demandante como
sendo a obra da demandada, motivo pelo qual não merecem serem considerado para computar eventuais dispêndios
com gastos da mencionada obra.

Em especial, a contestante impugna o documento de fls. 15 dos autos, suposto contrato particular de
prestação de serviços, o qual, sequer, contém as assinaturas das partes envolvidas. Trata-se Excelência, de
documento elaborado unilateralmente pela parte autora, cujo conteúdo não teve qualquer anuência da demandada
Caren, portanto, não se presta para provar os fatos alegados na exordial.
55

Assim, deste já, a fim de tornar controvertidos os conteúdos constantes nos documentos mencionados, a
demandada impugna de forma específica os documentos juntados pelo autor com a petição inicial.

DA RECONVENÇÃO

Considerando as inovações no processo civil trazidas pela Lei nº. 13.105/15, intitulada como o Novo Código
de Processo Civil, em especial a norma contida em seu artigo 343 que autoriza o réu, na contestação “propor
reconvenção para manifestar pretensão própria, conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa”,
a demandada Caren vale-se do presente instituto para postular reparação de danos em face do demandado, visto
estar-se diante de uma hipótese de cabimento, senão vejamos:

Em razão da relação material estabelecida entre as partes, a reconvinte necessitou efetuar gastos não
previstos em virtude da má-execução da obra e da má-qualidade do material de construção empregada na obra pelo
reconvindo, isso porque Excelência, precisou contratar outros profissionais para refazer parte da obra efetuada pelo
reconvindo, bem como para concluí-la, já que, como relatado, a obra apresentou vários defeitos e irregularidades.

Nesse compasso, a reconvinte ajustou com a empresa JJJ CONSTRUÇÕES E REFORMAS, representada
pelo seu sócio administrador, a mão-de-obra para a reforma e o fornecimento de materiais para a reconstrução e
refazimento dos pontos da obra má-executada pelo reconvindo, de maneira a suportar tais danos perante a
mencionada empresa.

Entre os serviços prestados pela empresa, incluída a mão de obra e os materiais necessários necessitou-se
efetivar as seguintes atividades: destelhamento da casa; substituição do madeiramento do telhado; refazimento do
telhado; substituição do madeiramento do forro; retirada e recolocação do forro; construção da laje do banheiro;
refazimento das calçadas, demolição da frente da casa; refazimento de uma viga; retirada da janela e reconstrução da
frente da casa; além de todo o material de construção para os reparos necessários, tudo isso importando na quantia
final de R$ 30.240,00 (trinta mil, duzentos e quarenta reais), conforme orçamento em anexo, valor que deve ser
ressarcido à reconvinte em razão da má execução da obra realizada pelo reconvindo.

Ademais, a relação jurídica estabelecida entre as partes resta configurada como uma
relação de consumo, devendo ser observados os preceitos do Código de Defesa do Consumidor, especialmente o que
estabelece a redação do seu artigo 14, o qual determina a reparação dos danos causados ao consumidor por defeitos
na prestação de serviços, o que se amolda no caso em tela. Vejamos o dispositivo legal.

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de


culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à
prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre
sua fruição e riscos.

Também, o entendimento de nossa jurisprudência é no sentido de reconhecer o dever do fornecedor de


indenizar o consumidor lesado em razão de defeitos e má prestação dos serviços. Nesse sentido, vejamos julgado
representativo da controvérsia.

Ementa: COBRANÇA. CONSTRUÇÃO DE CASA. PARALISAÇÃO DA OBRA.


CONTROVÉRSIA ACERCA DO VALOR TOTAL AJUSTADO PARA A EXECUÇÃO
DOS SERVIÇOS E DO MONTANTE PAGO. DEFEITOS CONSTRUTIVOS.
REFAZIMENTO DO TELHADO POR OUTROS PROFISSIONAIS. AUSÊNCIA DE
DEMONSTRAÇÃO DOS FATOS CONSTITUTIVOS DO DIREITO DO AUTOR. I. Autor
que não logrou êxito em comprovar o valor ajustado para a execução integral do
contrato, à vista da divergência entre a narrativa inicial e da resposta, constando da
primeira que o preço fixado pelo trabalho realizado foi de R$ 25.000,00, enquanto o réu
afirma que a combinação foi de R$ 20.000,00. Prova testemunhal que não superou a
divergência, havendo testemunhos que confortam ambas as teses. II. Controvérsia
56

também quanto às somas pagas ao autor, em que a prova documental aponta para o
adimplemento de R$ 5.200,00, ao passo em que o requerido sustentou ter adimplido
mais R$ 5.000,00 em espécie. III. Comprovação, outrossim, da existência de vícios
construtivos no telhado da casa, tanto pela prova oral, como pelos documentos
anexados, inclusive laudo técnico e fotografias, fls. 41/49, dando conta que, além do
material, o réu despendeu R$ 10.850,00, a título de mão-de-obra, para desmanchar e
executar os serviços de construção do telhado, fl. 40. IV. Nesse contexto, não tendo
restado comprovado o valor ajustado para a execução dos serviços, e à vista da
realização parcialmente defeituosa do trabalho, não se descurou o autor de demonstrar
os fatos constitutivos de seu direito, a teor do que dispõe o artigo 333, I, do Código de
Processo Civil. Conjunto probatório, pois, que recomenda o julgamento de
improcedência do pedido. RECURSO IMPROVIDO. (Recurso Cível Nº 71002529915,
Segunda Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Fernanda Carravetta
Vilande, Julgado em 23/06/2010)

Dessa forma Excelência, considerando que a reconvinte suportou tais gastos, não computados para a
conclusão da obra, a condenação do reconvindo ao ressarcimento dos valores é medida que se impõe, pedido desde
já consignado nos autos.

DOS PEDIDOS FINAIS

DIANTE AO EXPOSTO, os demandados requerem:

a) Seja a presente contestação e reconvenção recebidas e julgadas concomitantemente, juntamente com os


documentos que as instruem;

b) A produção de todas as provas moralmente admitidas em direito;

c) Em preliminar, seja acolhida a tese de ilegitimidade passiva do contestante Geovane, e


consequentemente, extinguir sem resolução de mérito o processo em relação a este;

d) No mérito, sejam julgados TOTALMENTE IMPROCEDENTES os pedidos formulados pelo demandante;

e) Na reconvenção, seja intimado o demandante, na pessoa de seu procurador, para que, querendo, conteste o
pedido reconvencional;

f) Ao final, seja julgado PROCEDENTE o pedido da reconvinte Caren para o fim de condenar o reconvindo ao
pagamento da quantia de R$ 30.240,00 (trinta mil, duzentos e quarenta reais) a título de ressarcimento pelos
danos causados;

g) A condenação do demandante/reconvindo ao pagamento das custas processuais e aos honorários


advocatícios sucumbenciais, este últimos na proporção de cada demanda (ação e reconvenção);

h) O deferimento dos benefícios da Assistência Judiciária Gratuita aos demandados e à reconvinte Caren, nos
termos das declarações em anexo.

Dá-se à Reconvenção o valor da causa de R$ 30.240,00

Nesses termos,

Pede deferimento.

Palmeira das Missões, 20 de abril de 2016.

_______________________

advogado
57

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA CÍVEL DA


COMARCA DE PALMEIRA DAS MISSÕES – RS.

Processo nº. 020/1.15.00000000

BENHUR, já qualificado nos autos da Ação Declaratória identificada em epígrafe que


move em face de SANDRA, por intermédio de seus procuradores signatários, vem
respeitosamente perante Vossa Excelência, apresentar

RÉPLICA À CONTESTAÇÃO

Com fundamento no art. 350 do Código de Processo Civil, com base nos fatos e
fundamentação jurídica que passa a expor:

A tese de defesa não merece prosperar, haja vista que os argumentos lançados em contestação não são
suficientes para demonstrar fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito do autor.

Com efeito, a demandada nada trouxe aos autos para elidir os fatos narrados na inicial e demonstrados
através da prova documental. Ao contrário, traz apenas alegações desprovidas de qualquer prova que corrobore os
fatos alegados em defesa.

Da contestação, resta INCONTROVERSO a existência da união estável entre a demandada Sandra e


Manoel, fato expressamente confessado às fls. 187 dos autos.

Também se mostra INCONTROVERSO o fato de que a demandada Sandra tinha plena ciência de que os
proprietários registrais do imóvel objeto de usucapião eram os demandantes, já que em nenhum momento de
sua defesa processual há insurgência quanto ao fato, situação que demonstra o vício apontado na sentença que
declarou o domínio sobre o imóvel.

No que pese requerer perícia para apontar a situação alegada na exordial, a defesa processual não
impugna nenhum dos documentos juntados pelos demandantes, em especial, os mapas de fls. 112/114 dos
autos, os quais demonstram e esclarecem adequadamente a situação jurídica declinada na petição inicial.

Nesse aspecto, acaso Vossa Excelência não entenda incontroverso e confessado tais fatos, faz-se
necessário a produção de prova técnica pericial a fim de afastar a dúvida trazida pela defesa, já que nega a todo
momento que o imóvel objeto de usucapião diz respeito à fração do imóvel registrado sob a matrícula Nº. 5.666 do RI
local, momento em que restará comprovada a situação revelada na exordial.

No que tange aos documentos juntados pela defesa, os demandantes impugnam todos eles, especialmente a
matrícula de fls. 189/192 juntada aos autos, a qual não diz respeito a discussão travada neste processo.
58

Ademais, não havendo preliminares de mérito sustentadas pela parte demandada, os demandantes
reservam o direito de debater as alegações de mérito por ocasião das debates finais, quando então o feito estará
devidamente instruído.

DIANTE AO EXPOSTO, o demandante impugna as alegações de defesa e os documentos juntados pela


parte demandada, pugnando pelo regular prosseguimento do feito com a devida instrução processual.

Nesses termos,

Pede deferimento.

Palmeira das Missões, 05 de julho de 2016.

__________________________

advogado
59

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CÍVEL DA


COMARCA DE PALMEIRA DAS MISSÕES – RS.

Processo nº. 020/1.15.00000000

MARIA CLENI, já qualificada nos autos da Ação de Usucapião


identificada em epígrafe, por intermédio de seus procuradores
signatários, vem respeitosamente perante Vossa Excelência, dizer o
que segue:

Intimada a indicar as provas que pretende produzir, a fim de comprovar o tempo e a


continuidade da posse, bem como o ânimo de dono sobre o objeto de usucapião, a
demandante pugna pela produção de prova oral em audiência de instrução e julgamento,
consistente na oitiva das testemunhas abaixo arroladas, as quais comparecerão
independentemente de intimação.

1-João, residente e domiciliado na Rua Professor Pedro Santa Helena, 000, Bairro: Ouro
Verde, na cidade de Palmeira das Missões, RS;

2- Elma, residente e domiciliada na Rua Pinheiro Machado, 000, Bairro: Vila Velha, na cidade
de Palmeira das Missões, RS;

3- Vera, residente e domiciliada na Rua Silvio Bueno de Oliveira, 000, Bairro: Cohab, na cidade
de Palmeira das Missões, RS;

4- Leone, residente e domiciliado na Rua Miguel Rocha Sampaio, 000, Bairro Lutz, na cidade
de Palmeira das Missões, RS.

Nesses termos,

Pede deferimento.

Palmeira das Missões, 27 de julho de 2016.

_______________________

Advogado
60

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA CÍVEL DA


COMARCA DE PALMEIRA DAS MISSÕES – RS.

Processo nº. 020/1.15.0000000

VIVIANE, já qualificada na Ação Indenizatória identificada em epígrafe que move em


face de IPERGS – INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL, por intermédio de seus procuradores signatários, vem respeitosamente perante
Vossa Excelência, apresentar alegações finais na forma de

MEMORIAIS

Com fulcro no § 2º do artigo 364 do Código de Processo Civil, consoante os


argumentos a seguir:

O conjunto probatório produzido nos autos comprova satisfatoriamente as alegações trazidas na inicial de
maneira a confortar a pretensão da demandante, razão pela qual a procedência da presente demanda é medida que se
impõe, senão vejamos:

DAS PROVAS DOCUMENTAIS

Os documentos juntados aos autos corroboram exatamente os fatos declinados na peça exordial e dão
amparo a pretensão da demandante.

As declarações de fls. 14/15 dos autos revelam que o demandado FULANO colheu as assinaturas da
demandada nos documentos valendo-se de suas funções públicas, tanto isso é verdade que opôs o carimbo de
identificação utilizado como funcionário do IPE, para constranger a demandante a assinar documento cujo conteúdo
não diz respeito às atividades normais do Instituto de Previdência que representa.

Da mesma forma agiu o demandado FULANO ao subtrair a cópia da CNH da demandante (fls. 16) por
ocasião dos fatos relatados na exordial, também opondo sua assinatura e carimbo funcional.

Ainda Excelência, o próprio demandado FULANO declarou na Delegacia de Policial local (fls. 17) que agiu
em nome do Ipergs para exigir provas documentais para fins de recadastramento, fato que demonstra e corrobora o
fato declinado na exordial de que o mesmo compareceu na residência da demandante para buscar tal documento.

É de se notar às fls. 19/25 dos autos que o demandado FULANO promoveu denúncia junto a ouvidoria do
Ipergs na qual menciona por várias vezes o nome da demandada, aparentemente preocupado com situação pessoal
sua, porquanto relata fatos distintos ao interesse do Instituto.

Por sua vez, os diálogos efetivados através das redes sociais de fls. 31/51 dos autos demonstram total
descontrole do demandado FULANO com sua situação pessoal, em especial o descontentamento com o processo de
61

divórcio, no qual, supostamente, a demandante serviria como testemunha (basta ver as fls. 22 e 25), fato que gerou a
conduta relatada na inicial.

Assim, a prova documental é farta no sentido de comprovar os fatos alegados na exordial, em especial a
conduta ilícita do demandado ao adentrar na residência da demandante, valendo-se do seu cargo de coordenador do
IPERGS para, supostamente, requisitar documentos exigidos pela autarquia estadual.

DA PROVA ORAL

Da mesma forma, a prova testemunhal esclareceu objetivamente a situação relata na


inicial.

Veja Excelência que o próprio demandado FULANO confessa em seu depoimento


que realmente compareceu na residência da demandante para solicitar documentos exigidos pelo Ipergs. E
mais, afirma categoricamente que pegou a CNH da demandante para efetuar cópia, manifestando-se positivamente por
reconhecer suas assinaturas e oposição de carimbo nas declarações de fls. 14 e 15, bem como do documento de fls.
16 dos autos, situação que revela a veracidade dos fatos alegados na exordial.

Por sua vez, a testemunha Leomar afirma que presenciou a reclamação da


demandante em face a conduta do demandado, bem como as condições emocionais dos envolvidos, revelando o
comportamento nervoso e animoso ocorrido no dia dos fatos.

Além disso, a testemunha recordou do documento de fls. 16, revelando que foi
aquele documento que o demandado FULANO buscava na residência da demandante.

Contudo, a maior e mais importante revelação da testemunha foi afirmar que o


atendimento às partes no batalhão de polícia militar se deu no período da noite, situação que demonstra a conduta
ilícita apontada na exordial, porquanto, nada razoável um agente público buscar documentos para instruir processo
administrativo na residência do segurado e no período da noite, fora do horário de expediente.

Dessa forma Excelência pelo conjunto probatório produzido nos autos, é plenamente possível verificar a
veracidade das alegações trazidas na inicial, razão pela qual a procedência dos pedidos é medida que se impõe e a
responsabilização dos demandados se revela necessária, porquanto devidamente comprovado que o agente público
agiu em nome da IPERGS para praticar a conduta imputada ilícita e danosa.

DIANTE AO EXPOSTO, a demandante pugna pelo recebimento destes memoriais,


consignando desde já o pedido de procedência dos pedidos iniciais, porquanto as provas colacionadas aos autos
demonstram claramente o direito pleiteado pela parte autora.

Nesses termos,

Pede deferimento.

Palmeira das Missões, 29 de março de 2016.

______________________________

Advogado
62

COMARCA DE PALMEIRA DAS MISSÕES


2ª VARA JUDICIAL
Rua Hildebrando Westphalen, 553
_________________________________________________________________________
Processo nº: 020/1.15.0000000 (CNJ:.000000-40.2015.8.21.0020)
Natureza: Declaratória
Autor: Romilda
Réu: BV Financeira S.A.
Juiz Prolator: Juiz de Direito
Data: 05/04/2016

Vistos.
ROMILDA ajuizou demanda declaratória de inexistência de débito cumulada com indenizatória por
danos morais em face de BV FINANCEIRA S.A., ambos qualificados. Relatou que, surpreendeu-se com a informação
de que seu nome estava inscrito nos órgãos de proteção de crédito por ação da requerida, em face débito (de
R$138,10) que afirmou já ter quitado. Informou que contratou com a requerida um empréstimo no valor total de
R$4.350,98, que seria quitado em 60 parcelas mensais no valor de R$138,10 cada. Aduziu que os pagamentos foram
autorizados por consignação em seu benefício previdenciário. Assegurou que a última parcela foi devidamente
descontada, ainda assim teve seu nome inscrito nos órgãos de proteção de crédito. Indicou que a requerida deveria lhe
indenizar pelo ato ilícito em total negligência e imprudência da requerida. Citou precedentes. Por fim, requereu, em
sede liminar, a retirada de seu nome dos órgãos de proteção de crédito, sob pena de multa diária. Ao final, buscou a
declaração da inexistência da dívida no valor de R$138,10, além da condenação da requerida ao pagamento de
indenização por danos morais no valor de R$15.760,00. Pugnou ainda, pela concessão do benefício da AJG. Juntou
documentos (fls. 09/14).
O pedido liminar restou deferido, sendo ainda concedido o benefício da AJG ao demandante (fls.
15 e 28).
Citada, a requerida apresentou contestação (fls. 31/35). No mérito, defendeu que o INSS estornou
o valor da primeira parcela em processo chamado “glosa na conciliação”. Disse que, diante da inadimplência, houve o
acionamento da assessoria de cobrança. Assim, apontou a regularidade da inscrição conforme contratação. Citou
jurisprudências. Sustentou a inexistência de ilicitude e do seu dever de indenizar. Alegou que a parte autora vislumbrou
a possibilidade de ganhar “dinheiro fácil” fomentando prejuízos que não teve. Impugnou os cálculos apresentados pela
parte autora. Por fim, postulou a improcedência dos pedidos iniciais. Juntou documentos (fls. 36/44).
Houve réplica (fl. 45/46).
Instadas as partes acerca das provas que ainda pretendiam produzir, nada foi pleiteado nos autos.
Vieram-me os autos conclusos para sentença.

É o relatório. Passo à fundamentação.


De plano, consigno que cabível o julgamento antecipado da lide, forte no artigo 355, inciso I, do
CPC, haja vista que mesmo a matéria sendo de fato e de direito, as provas necessárias à solução do litígio já estão
contidas nos autos. Inexistindo preliminares passo à apreciação do mérito.

MÉRITO
Cuida-se de demanda declaratória de inexistência de débito cumulada com pedidos indenizatórios
por danos morais, sob a alegação da existência de inscrição de seu nome nos órgãos de proteção de crédito pela ré,
sobre dívida que afirmou ter quitado integralmente. Em contrapartida, a demandada defendeu a regularidade da
cobrança e consequentemente da inscrição, assegurando a inocorrência de danos morais.

DA INEXISTÊNCIA DE DÉBITO
Para a solução da lide, passo a analisar se as provas existentes no feito confirmam ou afastam
alegação de pagamento integral do débito. Com base nos documentos apresentados aos autos, denota-se que a parte
autora, realmente firmou com o requerida contrato cédula de crédito bancário com autorização para consignação em
folha de pagamento, ou seja, “empréstimo consignado”, no valor de R$4.350,98, para ser quitado em 60 parcelas de
R$138,10, tudo, conforme os documentos das folhas 41/42.
63

Entretanto, consoante comprovou a requerida não houve o repasse pelo INSS da verba referente
ao pagamento da sexta parcela, com previsão de vencimento em 07.06.2010 (valor de R$138,10), a qual foi relançada,
em 14.07.2010, para o mês de agosto, ou seja, a sexta parcela somente foi cobrada em 07.08.2010. A partir de então,
todas as parcelas apenas foram efetivamente recebidas pela requerida com um mês de diferença (de atraso). Todas
essas informações constam na listagem apresentada pela requerida à folha 94, a qual indica as datas de vencimentos
das parcelas e as respectivas datas de recebimento dos valores.
Observe-se que, levando em conta o equívoco no repasse (ausência de repasse), não houve
desconto no mês de junho de 2010 da folha de pagamento da parte autora, o que deixou em aberta uma das parcelas
do “empréstimo”. Ressalto que, dessa forma, não houve o pagamento integral da dívida como afirmou a parte autora.
Outrossim, saliento que o documento da folha 43, comprova que a sexta parcela do “empréstimo” teve que ser
relançada.
Portanto, tendo sido comprovado que foi inadimplida uma parcela do “empréstimo consignado”,
não há que se falar em inexistência de débito.
E, ao que parece, se responsabilidade houve, pelo inadimplemento, parece ter sido do INSS, e não
da ré.

DA RESPONSABILIDADE CIVIL
Para a análise do alegado dano moral sofrido, revela-se necessária a presença dos requisitos,
elementos ou pressupostos que configuram a responsabilidade civil, quais sejam: a conduta (ação ou omissão), o dano
efetivo, o nexo de causalidade entre o fato e o dano e fator de imputação (responsabilidade subjetiva ou objetiva).
Entendo que no caso em tela, não restou comprovado sequer a existência do dano (moral).
Considerando que há uma parcela do financiamento sem pagamento, plenamente possível a sua cobrança pela
requerida e, consequentemente a inscrição do nome do inadimplente em caso de não pagamento (é o que ocorreu no
caso dos autos!).
Pelo que se percebeu, levando em conta a ausência de repasse de uma das parcelas, a parcela de
n°59, que tinha previsão de vencimento originalmente em 07.11.2014 (fl. 44/v), foi cobrada mediante desconto em folha
de pagamento em 07.12.2014, mesma data de cobrança “avulsa” da parcela que estava em aberto (fls. 12 e 44v) por
boleto bancário (fl. 43).
Logo, a parte autora verificando que havia quitado as últimas parcelas previstas originalmente (fls.
13/14) acreditou equivocadamente que teria quitado integralmente o contrato. Assim, considerando que não
acompanhou os descontos mensais e deixou de quitar a última parcela por boleto bancário, evidenciada a sua culpa
concorrente pela inscrição de seu nome nos órgãos de proteção de crédito.
Note-se que não houve por parte da requerida nenhum ato ilícito, pois somente cobrou pela parcela
que ainda não tinha sido quitada e inscreveu a parte autora pela sua inadimplência. Nesse sentido, colaciono
jurisprudência sobre o caso:

(Recurso Cível Nº 71004995338, Quarta Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator:
Glaucia Dipp Dreher, Julgado em 18/12/2014) RECURSO INOMINADO. BANCO. AÇÃO
INDENIZATÓRIA. EMPRÉSTIMO EM CONSIGNAÇÃO. DESCONTO DIRETO DO BENEFÍCIO
PREVIDENCIÁRIO. SUPOSTA INSCRIÇÃO NOS ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO.
AUSÊNCIA DE REPASSE POR PARTE DO INSS. RECEBIMENTO DE NOTIFICAÇÃO ACERCA
DA INSCRIÇÃO. PAGAMENTO DO DÉBITO VIA BOLETO. AUTORA QUE NÃO PODE ALEGAR O
DESCONHECIMENTO DA DÍVIDA. INSCRIÇÃO QUE FICOU ATIVA POR 05 DIAS. DANOS
MORAIS INOCORRENTES. EXCEPCIONALIDADE DO CASO CONCRETO. AUTORA QUE SE
MANTEVE INADIMPLENTE POR MAIS DE UM MÊS. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA
MANTIDA. Caso em que a autora pretende ser indenizada por inscrição nos órgãos de
proteção ao crédito por débito gerado em razão de empréstimo em consignação cujas
mensalidades eram descontadas diretamente do benefício previdenciário. Ausência de
repasse do montante por parte do INSS. Inscrição que não é de todo indevida. Falha gerada
por culpa concorrente da demandante, que não cumpriu com seu dever de acompanhar os
descontos mensais e não tomou as devidas providências quando do recebimento da carta
de notificação da inscrição. Excepcionalidades do caso concreto que não geram dever de
indenizar. Registro que se manteve ativo por somente 05 dias. RECURSO IMPROVIDO. (grifei)

Destaco que toda a situação até poderia ter sido evitada se a requerida tivesse cobrado a parcela
em aberto no mês seguinte ao término do demais cobranças (em janeiro de 2015), no entanto, tal situação não implica
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em ato ilícito, uma vez que não é irregular a sua cobrança, especialmente por estar dentro do prazo pactuado, e ainda,
tendo em vista que já poderia ter sido exigida anteriormente. Relembro que no mês de junho de 2010, nada foi
recebido pela ré sobre o empréstimo em questão.
Ademais, ressalto que nenhum prejuízo foi sofrido pela parte autora, uma vez que embora a ré
nada tenha recebido no mês de junho de 2010 (6ª parcela), não aplicou juros e/ou correções sobre as demais parcelas,
cobrando somente os valores pactuados, adiando o recebimento das parcelas subsequentes até a data de previsão de
término da avença.
Logo, tal conduta, por si só, não justifica o pedido de indenização por dano moral, que exige
comprovação do efetivo prejuízo. Nesse sentido, incumbia à parte autora o ônus da prova quanto a fato constitutivo de
seu direito, nos termos do art. 373, inciso I, do CPC.
Dessarte, a improcedência da ação é a medida que se impõe.

Ante o exposto, revogo a medida liminar e forte no artigo 487, inciso I, do CPC, julgo
improcedentes os pedidos formulados por ROMILDA contra a BV FINANCEIRA S.A..
Sucumbente, condeno a parte autora ao pagamento das custas processuais e honorários
advocatícios, os quais, forte no artigo 85, do CPC, fixo em 15% do valor atualizado da causa, considerando o tempo de
tramitação da demanda e a importância da causa e o trabalho desenvolvido, que inclusive dispensou a produção de
prova em audiência. Suspensa a exibilidade, levando em conta que a autora litiga sob o pálio da assistência judiciária
gratuita.
Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Palmeira das Missões, 05 de abril de 2016.

Juiz de Direito

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