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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR

PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS GERAIS-MG

Processo nº.: 1.0000.14.050639-5/000

FERNANDA MÁRCIA NEIDES VIEIRA, já qualificada nos autos de mandado de


segurança de número em epígrafe, por meio de seu advogado, que ao final assina, conforme
procuração anexa, inconformada com a decisão denegatória, vem tempestivamente, interpor
RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA com fundamento no
artigo 105, II, b da Constituição Federal, no artigo 18 da Lei 12.016/09 e artigo 1.027, inciso
II, a, do Código de Processo Civil, em face da decisão que denegou o Mandado de Segurança
impetrado contra a SECRETÁRIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DE MINAS
GERAIS, também já qualificado, pelas razões que seguem.

Requer a intimação do Recorrido para apresentar suas contrarrazões e que o presente


recurso seja encaminhando ao Superior Tribunal de Justiça independentemente de juízo de
admissibilidade, na forma do artigo 1.028 do CPC.

Nestes termos, pede deferimento.

Salvador-Bahia, 25 de Agosto de 2023.


Noelton Alves
OAB/BA 78.445
EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA RAZÕES DO RECURSO
ORDINÁRIO
Recorrente: FERNANDA MÁRCIA NEIDES VIEIRA
Recorrido: SECRETÁRIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Órgão De Origem: TRIBUNAL DE JUSTIÇA MINAS GERAIS
Processo n. º: 1.0000.14.050639-5/000

Superior Tribunal de Justiça,


Colenda Turma,
Ínclitos julgadores.

DO CABIMENTO DO RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE


SEGURANÇA
Compete ao Superior Tribunal de Justiça - STJ julgar, em recurso ordinário, os
mandados de segurança decididos em única instância pelos tribunais dos Estados, quando
denegatória a decisão, o que se observa no caso em análise, considerando a denegatória da
segurança alegadas no parecer do ministério público e acolhido no acórdão objeto do presente
recurso, nos termos do art. 105, inciso II, alínea b, da CF/88, do Art. 18 da Lei nº 12.016/09,
Art. 1.027, inciso II, alínea a, do código de processo civil.

DA TEMPESTIVIDADE
O recurso é tempestivo, uma vez que foi interposto dentro do prazo de 15 dias úteis,
conforme estabelece o art. 1.003, caput e § 5º, do CPC. Há ainda, que o acórdão fora
publicado em 20.08.2023, tendo sido o recurso ordinário apresentado em 25.08.2023.

DO PREPARO

Em anexo vai a guia de recolhimento do preparo, na forma do artigo 1.007 do Código


de Processo Civil.
SÍNTESE DOS FATOS
A Impetrante foi aprovada no concurso público realizado pelo Estado de Minas
Gerais, no final do ano de 2012, para o cargo de Especialista em Supervisão de Educação
Básica – EEB/SE para o Município de Caratinga-MG, sendo classificada, em 1º (primeiro)
lugar.

Conforme previsto no Edital, ítem 14.6, a escolha da vaga é feita pelo candidato
de acordo com a ordem de classificação. Como a impetrante passou em 1º lugar, poderia
escolher a vaga que almejasse restringindo-se às vagas especificadas no município de
inscrição.

Todavia, a impetrante não teve direito de escolha, tendo em vista a não apresentação
por parte do Estado das vagas ocupadas por servidores investidos ilegalmente nessas vagas,
ou seja, os servidores efetivados pela Lei Complementar nº 100/2007.

Ressalta-se que a Impetrante fez o Concurso para a cidade de Ubaporanga-MG e a


Escola a qual foi obrigada a tomar posse é a Escola Estadual Cesarino Alves Pereira,
localizada em São José do Batatal, Zona Rural, Distrito de Ubaporanga-MG, ou seja, local
de difícil acesso e de estrada de chão.

Insta ressaltar ainda, que a impetrante reside na cidade de Ubaporanga-MG, ao lado


da Escola Estadual Dom Cavati, onde a mesma almejava escolher sua vaga. Contudo, a
impetrate teve que tomar posse em escola de difícil acesso, tendo, além de um desgaste físico,
um grande desgaste financeiro com o deslocamento.

Acontece que, antes mesmo do Estado abrir o concurso em 2011, a


Procuradoria-Geral da República (PGR) propôs Ação Direta de Inconstitucionalidade
(ADI) pedindo a derrubada da Lei Complementar nº 100 que igualou os antigos
designados, contratados com vínculos precários e lotados, em sua maioria, na área da
educação, aos efetivos, os quais ingressaram na administração pública no Estado sem a
realização de concurso público.

Por unanimidade os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) declararam


inconstitucional a Lei Complementar (LC) 100, que efetivou no ano de 2007, cerca de 98 mil
servidores do estado de Minas Gerais, conforme Ata publicada em 01/04/2014, determinando
a perda imediata dos cargos e consequentemente os cargos se tornarão vagos, tendo seu
Acórdão sido publicado em 27/06/2014.

No entendimento do Supremo, devem deixar o cargo imediatamente, todos aqueles


que não prestaram concurso público para a função que ocupam.

Ficou determinado, com a derrubada da referida Lei, que na situação em que já existe
concurso público realizado o chamamento deve ocorrer imediatamente, bem como a
substituição do servidor pelo concursado.

Agora, após comprovada a Inconstitucionalidade da referida Lei, as vagas existentes


próximas à Casa da Impetrante, às quais eram ocupadas ilegalmente, estão precariamente
ocupadas e os candidatos que passaram em classificação inferior a da impetrante poderão ser
beneficiados na escolha dessas vagas.

DAS RAZÕES DO RECURSO


Em situações flagrantemente inconstitucionais, como nos casos de admissão de
servidores efetivos sem concurso público ou ainda, quando houver declaração de
inconstitucionalidade de lei, conforme observado no caso que está sendo discutido, uma
vez que Procuradoria-Geral da República (PGR) propôs Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) pedindo a derrubada da Lei Complementar nº 100 que
igualou os antigos designados, contratados com vínculos precários e lotados, em sua maioria,
na área da educação, aos efetivos, os quais ingressaram na administração pública no Estado
sem a realização de concurso público, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) firmou o
entendimento de que não existe a perda do direito (decadência), a suscitada decadência
mandamental acolhida no acórdão, podendo a administração pública anular seus próprios
atos.

Nesse sentido, a jurisprudência do STJ tem se manifestado:

EMENTA Direito Constitucional. Repercussão geral. Direito


Administrativo. Anistia política. Revisão. Exercício de autotutela da
administração pública. Decadência. Não ocorrência. Procedimento
administrativo com devido processo legal. Ato flagrantemente
inconstitucional. Violação do art. 8º do ADCT. Não comprovação de
ato com motivação exclusivamente política. Inexistência de
inobservância do princípio da segurança jurídica. Recursos
extraordinários providos, com fixação de tese. 1. A Constituição
Federal de 1988, no art. 8º do ADCT, assim como os diplomas que
versam sobre a anistia, não contempla aqueles militares que não
foram vítimas de punição, demissão, afastamento de suas atividades
profissionais por atos de motivação política, a exemplo dos cabos da
Aeronáutica que foram licenciados com fundamento na legislação
disciplinar ordinária por alcançarem o tempo legal de serviço militar
(Portaria nº 1.104-GM3/64). 2. O decurso do lapso temporal de 5
(cinco) anos não é causa impeditiva bastante para inibir a
Administração Pública de revisar determinado ato, haja vista que a
ressalva da parte final da cabeça do art. 54 da Lei nº 9.784/99 autoriza
a anulação do ato a qualquer tempo, uma vez demonstrada, no âmbito
do procedimento administrativo, com observância do devido
processo legal, a má-fé do beneficiário. 3. As situações
flagrantemente inconstitucionais não devem ser consolidadas
pelo transcurso do prazo decadencial previsto no art. 54 da Lei
nº 9.784/99, sob pena de subversão dos princípios, das regras e
dos preceitos previstos na Constituição Federal de 1988.
Precedentes. 4. Recursos extraordinários providos. 5. Fixou-se a
seguinte tese: “No exercício de seu poder de autotutela, poderá a
Administração Pública rever os atos de concessão de anistia a cabos
da Aeronáutica relativos à Portaria nº 1.104, editada pelo Ministro de
Estado da Aeronáutica, em 12 de outubro de 1964 quando se
comprovar a ausência de ato com motivação exclusivamente política,
assegurando-se ao anistiado, em procedimento administrativo, o
devido processo legal e a não devolução das verbas já recebidas.”
(STF - RE: 817338 DF, Relator: DIAS TOFFOLI, Data de
Julgamento: 16/10/2019, Tribunal Pleno, Data de Publicação:
31/07/2020)

Conclui-se, que não é devida a denegação da segurança, assim como não merece
acolhimento a preliminar de decadência mandamental arguida pela defesa, por se tartar de
situação FLAGRANTEMENTE INCONSTITUCIONAL, não se sujeitando ao prazo
decadencial de 120 dias do mandado de segurança, conforme entendimento jurisprudencial
do Superior Tribunal de Justiça.

DOS PEDIDOS
Diante de todo o exposto, requer:
1. O conhecimento do presente Recurso Ordinário para reformar a decisão
denegatória da segurança e dar provimento para conceder a ordem de modo a
conferir a impetrante o direito de escolha previsto em edital, port udo que já foi
exposto;
2. Que o relator no STJ dê provimento ao recurso, pois a decisão recorrida é
contrária a Súmula do STF, conforme Art. 932, inciso V, alínea a, do CPC; e
3. Que seja o recorrido condenado ao ressarcimento das custas processuais.

Nestes termos, pede deferimento.

Salvador-Bahia, 25 de Agosto de 2023.


Noelton Alves
OAB/BA 78.445

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