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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

12ª CÂMARA CÍVEL

Autos nº. 0004871-40.2019.8.16.0017

Apelação Cível n° 0004871-40.2019.8.16.0017


1ª Vara Cível de Maringá
Apelante(s): VALDECYR MILTON POZZA
Apelado(s): Espólio de PROVINO POZZA e Iria Schenatto Pozza
Relator: Juiz Subst. 2ºGrau Luciano Carrasco Falavinha Souza

Apelação Cível. Inventário. Alvará. Possibilidade de análise do juízo de


conveniência e oportunidade.

1. “Sem escapar ao regramento que disciplina o nosso sistema processual, o


julgador não pode estar apegado ao formalismo exacerbado e desnecessário,
devendo-se esforçar ao máximo para encerrar a sua prestação jurisdicional
apresentando uma composição para a lide, cumprindo assim a atribuição que
lhe foi conferida” (STJ, REsp 707.997/PE, Rel. Ministro Francisco Falcão,
Primeira Turma, julgado em 14/03/2006, DJ 27/03/2006, p. 182).

2. Às vezes existe a necessidade de levantamento de importâncias em dinheiro


ou venda de algum bem, independentementedo inventário. Daí a praxe de
buscar o recebimento de pequenas quantias deixadas pelo falecido por meio
de alvará. Como a venda de bem do espólio depende de prévia autorização
judicial (CC 1793 § 3º), é comum o pedido de venda de algum bem do espólio
para atender as despesas do inventário e pagamento de tributos. O pedido de
venda antecipada pode ser levado a efeito por meio de procedimento
autônomo, quando não existam bens a inventariar. Também pode ser
pleiteado de forma incidental nos autos do inventário, quando justificada a
necessidade” (Manual das Sucessões, Ed. RT., 2008, pág. 517). A mera
oposição de um dos herdeiros não veda a venda de bem para realizar despesas
do espólio.

3. Necessidade de averiguação das despesas a serem pagas com a venda dos


bens e nova avaliação para aferição da conveniência e oportunidade da
alienação.
4. Precedentes desta Câmara: TJPR, 0032390-87.2015.8.16.0030, minha
relatoria, J. 22.03.2021; AI 1302327-1, minha relatoria, J. 18.11.2015)

5. Apelo provido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de apelação cível nº 0004871-40.2019.8.16.0017,


da 1ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Maringá, em
que é apelante Valdecyr Milton Pozza, são apelados Espólio de Provino Pozza e Iria
Schenatto Pozza e são interessados Provino Pozza Filho, Ramires Moacir Pozza e
Rozany Terezinha Pozza Ribeiro Aliceda.

1. Trata-se de apelação cível interposta contra a sentença proferida na demanda de alvará


judicial para alienação de bem imóvel urbano sob nº 0004871-40.2019.8.16.0017 a qual
julgou extinto o processo sem resolução do mérito, com base no art. 485, VI, do Código de
Processo Civil, em razão de falta de interesse processual. Segundo o juízo a quo, o
procedimento de alvará judicial não apresenta a forma útil a consecução da pretensão do
autor, diante da existência de litígio acerca do seu objetivo.

Diante da sucumbência, condenou o requerido ao pagamento das custas e despesas


processuais, bem como dos honorários advocatícios.

Em suas razões recursais, aduz o apelante que exerce as funções da inventariança dos bens
deixados por Provino Pozza e por Iria Schenatto Pozza, os quais tiveram inventário e
partilha distribuído o primeito no ano de 2008 e o segundo sob nº
0027555-64.2016.8.16.0017, encontrando-se ambos em trâmite perante a 1ª Vara Cível da
Comarca de Maringá.

Aduz que em ambos os feitos já foram apresentadas as primeiras declarações pelo


inventariante, com o arrolamento dos bens dos espólios estando em fase de quitação de
débitos em geral e preenchimento da declaração ITCM-WEB para recolhimento do tributo,
enquanto no inventário e partilha distribuído sob nº 0012480-60.2008.8.16.0017, já foram
apresentadas também as primeiras declarações pelo inventariante, inclusive com
arrolamento dos bens do espólio.

Argumenta que além das custas judiciais para a abertura do inventário e partilha, os
herdeiros terão de suportar outras despesas e custas, especialmente o pagamento de dívidas
dos espólios, impostos de transmissão causa mortis e honorários advocatícios, sendo esta a
razão que levou o apelante propor a ação de alvará judicial, pleiteando a autorização para
alienação de bens dos espólios, a fim de disponibilizar valores para suportar as referidas
despesas dos dois inventários.

Sustenta que o espólio de Iria Schenatto Pozza possui dívidas perante a Prefeitura de
Maringá que precisam ser quitadas, além de apontar que não será possível o pagamento
dos tributos da fase de preenchimento da Declaração ITCMD-WEB sem a venda de bens
imóveis do espólio.

Expõe que o art. 619 do Código de Processo Civil dispõe sobre os deveres do inventariante
e nestes encontram-se os deveres de alienar bens de qualquer espécie e pagar dívidas do
espólio, sustentando que apenas pretende realizar a alienação para cumprir com os deveres
do cargo que exerce, a fim de permitir a finalização dos dois inventários que somente de
dará com o pagamento dos impostos e dívidas perante órgãos públicos.

Reforça que a jurisprudência é favorável à autorização da venda de bens da forma


pleiteada pelo inventariante, informando que ainda que um dos herdeiros não tenha
concordado com a venda, não haveria sido comprovado motivo plausível para a alegada
discordância. Alega que o herdeiro Ramires pretende exclusivamente tumultuar o presente
alvará judicial pelas desavenças que possui com a família Schenatto-Pozza, não havendo
motivos reais suficientes para que a venda pretendida não seja realizadas.

Entende que pela ausência de elementos plausíveis que justifiquem a impossibilidade da


venda dos imóveis dos espólios de Iria Schenatto Poza e Provino Pozza, a fim de viabilizar
o prosseguimento e término dos inventários, com o pagamento das dívidas e despesas, o
apelante sustenta pela necessidade de provimento do apelo para reformar a sentença para
que o alvará judicial seja julgado totalmente procedente, com a autorização da venda dos
dois bens imóveis indicados na inicial.

Devidamente intimado, o interessado Ramires apresentou contrarrazões (eDoc.88.1 –


1ºgrau), pugnando pelo não provimento do recurso.

2. Conforme relatado,cinge-se a controvérsia na possibilidade ou não da venda de bens do


espólio para manutenção e pagamento das dívidas do espólio.
Sobre ação de inventário, Maria Berenice dias refere que:
“Às vezes existe a necessidade de levantamento de importâncias em dinheiro
ou venda de algum bem, independentementedo inventário. Daí a praxe de
buscar o recebimento de pequenas quantias deixadas pelo falecido por meio
de alvará. Como a venda de bem do espólio depende de prévia autorização
judicial (CC 1793 § 3º), é comum o pedido de venda de algum bem do espólio
para atender as despesas do inventário e pagamento de tributos. O pedido de
venda antecipada pode ser levado a efeito por meio de procedimento
autônomo, quando não existam bens a inventariar. Também pode ser
pleiteado de forma incidental nos autos do inventário, quando justificada a
necessidade” (Manual das Sucessões, Ed. RT., 2008, pág. 517).

Além disso, especificamente acerca do levantamento de valores e bens do de cujus por


intermédio de alvará, tem-se que:

“Havendo bens de outra natureza, sujeitos a inventário, o alvará para


levantamento de valores pelos sucessores (na falta de dependentes) terá de
ser requerido nos autos do correspondente processo. A dispensa de inventário
ou de arrolamento só alcança os valores monetários expressamente
discriminados na Lei n. 6.858/80 e no seu decreto regulamentador. Não são
abrangidos outros imóveis ou móveis, ainda que de reduzido valor, como, por
exemplo, móveis da residência, quadros, joias, automóveis, linha telefônica
etc., em que imprescindível a abertura do processo próprio”. (OLIVEIRA,
Euclides de; AMORIM, Sebastião. Inventário e partilha. 25. ed. São Paulo:
Saraiva, 2018, p. 470).

Mutatis mutandis, é de fácil percepção que a pretensão de expedição de alvará pode ser
concretizada, independente da concordância de todos os herdeiros.

Com efeito, existindo despesas do espólio, compete ao inventaria fazer frente a tais
despesas, nem que para isso necessite vender alguns bens do espólio.

Daí, então, mediante a descrição das despesas, pode-se pretender a venda de determinados
bens, sempre se louvando de avaliação prévia para que não exista prejuízo ao espólio,
existindo a devida prestação de contas.

Ao vislumbrar a existência de outros bens a justificativa para expedição de alvará acerca


de qualquer deles lá deve ser demonstrada –na ação de inventário - e, somente em caso
positivo, a pretensão perseguida poderá vir a se concretizar.

Nesse sentido:
Alvará. Procedimento de jurisdição voluntária. Venda de moto em nome do
de cujus em favor dos menores. Possibilidade. Do valor da venda devem ser
deduzidas todas as despesas, com a partilha igualitária do resultado. Apelo
provido em parte.
1. Nos procedimentos de jurisdição voluntária, é possível que surjam
controvérsias entre as partes que exijam do julgador o efetivo exercício da
função pública de compor litígios. A teor do art. 1.109 do CPC, não está o juiz
vinculado a critério de legalidade estrita, podendo aceitar a invocação de
nulidade na forma como feita pela parte. Constatadas nulidades na
arrematação, o julgador, no procedimento de alienação judicial em jurisdição
voluntária, pode utilizar-se da legislação aplicável ao processo executivo.
(STJ, REsp 1273104/PR, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 24/03/2015, DJe 31/03/2015)
2. É possível ao juiz, neste tipo de procedimento, determinar que o produto da
venda seja partilhado entre quem requer e o herdeiro que surja no decorrer do
processo, decorrente do reconhecimento de paternidade.
3. Devem ser deduzidas as despesas da coisa vendida para, depois, partilhar o
resultado igualitariamente entre as partes envolvidas.
4. Apelo provido em parte.
(TJPR - 12ª C.Cível - 0032390-87.2015.8.16.0030 - Foz do Iguaçu - minha
relatoria - J. 22.03.2021)

Agravo de Instrumento - Inventário e Partilha - Decisão singular que indefere


o pedido de expedição de alvará de levantamento - Importância pleiteada para
custear despesas atinentes à manutenção do bens do espólio - Dever do
inventariante (art.995, III, do CPC) - Possibilidade de acolhimento da
pretensão mesmo diante da insurgência de um dos herdeiros, porquanto se
tratar de medida sujeita a prestação de contas (art. 992, III, do CPC) -
Embargos de declaração prejudicados em razão o acolhimento da pretensão
agravante - Decisão reformada - Recurso conhecido e provido.1. (...) Cabível
o deferimento de expedição de alvará para levantamento de quantia
depositada em conta judicial, a fim de cobrir despesas de manutenção dos
bens objeto do inventário custeadas pela inventariante, pois que dívidas do
Espólio. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO. (Agravo de
Instrumento Nº 70034349399, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: José Conrado Kurtz de Souza, Julgado em 31/05/2010).2.
Agravo provido.
(TJPR - 12ª C.Cível - AI - 1302327-1 - Curitiba minha relatoria- Unânime -
J. 18.11.2015)

“Sem escapar ao regramento que disciplina o nosso sistema processual, o


julgador não pode estar apegado ao formalismo exacerbado e desnecessário,
devendo-se esforçar ao máximo para encerrar a sua prestação jurisdicional
apresentando uma composição para a lide, cumprindo assim a atribuição que
lhe foi conferida” (STJ, REsp 707.997/PE, Rel. Ministro FRANCISCO
FALCÃO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 14/03/2006, DJ 27/03/2006, p.
182).

Assim, sem a previa avaliação e a correta análise das despesas necessárias para finalização
do inventário, não há que se falar em extinção do feito.

3. Nesses termos, meu voto é pelo provimento do apelo, cassando-se a sentença na origem
e determinar o processamento do alvará, com a demonstração das despesas que serão
suportadas pela venda dos bens, renovando-se a avaliação já realizada para, à vista desses
elementos, verificar a viabilidade das vendas.

4.Ante o exposto, acordam os Desembargadores da 12ª Câmara Cível do TRIBUNAL DE


JUSTIÇA DO PARANÁ, por unanimidade de votos, em julgar CONHECIDO E
PROVIDO o recurso de VALDECYR MILTON POZZA.

O julgamento foi presidido pela Desembargadora Vilma Régia Ramos De Rezende, com
voto, e dele participaram Juiz Subst. 2ºgrau Luciano Carrasco Falavinha Souza (relator) e
Desembargadora Ivanise Maria Tratz Martins.

Curitiba, sessão virtual de 21 a 25 de junho de 2021.

Luciano Carrasco Falavinha Souza


Relator

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