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5. Apelo provido.
Em suas razões recursais, aduz o apelante que exerce as funções da inventariança dos bens
deixados por Provino Pozza e por Iria Schenatto Pozza, os quais tiveram inventário e
partilha distribuído o primeito no ano de 2008 e o segundo sob nº
0027555-64.2016.8.16.0017, encontrando-se ambos em trâmite perante a 1ª Vara Cível da
Comarca de Maringá.
Argumenta que além das custas judiciais para a abertura do inventário e partilha, os
herdeiros terão de suportar outras despesas e custas, especialmente o pagamento de dívidas
dos espólios, impostos de transmissão causa mortis e honorários advocatícios, sendo esta a
razão que levou o apelante propor a ação de alvará judicial, pleiteando a autorização para
alienação de bens dos espólios, a fim de disponibilizar valores para suportar as referidas
despesas dos dois inventários.
Sustenta que o espólio de Iria Schenatto Pozza possui dívidas perante a Prefeitura de
Maringá que precisam ser quitadas, além de apontar que não será possível o pagamento
dos tributos da fase de preenchimento da Declaração ITCMD-WEB sem a venda de bens
imóveis do espólio.
Expõe que o art. 619 do Código de Processo Civil dispõe sobre os deveres do inventariante
e nestes encontram-se os deveres de alienar bens de qualquer espécie e pagar dívidas do
espólio, sustentando que apenas pretende realizar a alienação para cumprir com os deveres
do cargo que exerce, a fim de permitir a finalização dos dois inventários que somente de
dará com o pagamento dos impostos e dívidas perante órgãos públicos.
Mutatis mutandis, é de fácil percepção que a pretensão de expedição de alvará pode ser
concretizada, independente da concordância de todos os herdeiros.
Com efeito, existindo despesas do espólio, compete ao inventaria fazer frente a tais
despesas, nem que para isso necessite vender alguns bens do espólio.
Daí, então, mediante a descrição das despesas, pode-se pretender a venda de determinados
bens, sempre se louvando de avaliação prévia para que não exista prejuízo ao espólio,
existindo a devida prestação de contas.
Nesse sentido:
Alvará. Procedimento de jurisdição voluntária. Venda de moto em nome do
de cujus em favor dos menores. Possibilidade. Do valor da venda devem ser
deduzidas todas as despesas, com a partilha igualitária do resultado. Apelo
provido em parte.
1. Nos procedimentos de jurisdição voluntária, é possível que surjam
controvérsias entre as partes que exijam do julgador o efetivo exercício da
função pública de compor litígios. A teor do art. 1.109 do CPC, não está o juiz
vinculado a critério de legalidade estrita, podendo aceitar a invocação de
nulidade na forma como feita pela parte. Constatadas nulidades na
arrematação, o julgador, no procedimento de alienação judicial em jurisdição
voluntária, pode utilizar-se da legislação aplicável ao processo executivo.
(STJ, REsp 1273104/PR, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 24/03/2015, DJe 31/03/2015)
2. É possível ao juiz, neste tipo de procedimento, determinar que o produto da
venda seja partilhado entre quem requer e o herdeiro que surja no decorrer do
processo, decorrente do reconhecimento de paternidade.
3. Devem ser deduzidas as despesas da coisa vendida para, depois, partilhar o
resultado igualitariamente entre as partes envolvidas.
4. Apelo provido em parte.
(TJPR - 12ª C.Cível - 0032390-87.2015.8.16.0030 - Foz do Iguaçu - minha
relatoria - J. 22.03.2021)
Assim, sem a previa avaliação e a correta análise das despesas necessárias para finalização
do inventário, não há que se falar em extinção do feito.
3. Nesses termos, meu voto é pelo provimento do apelo, cassando-se a sentença na origem
e determinar o processamento do alvará, com a demonstração das despesas que serão
suportadas pela venda dos bens, renovando-se a avaliação já realizada para, à vista desses
elementos, verificar a viabilidade das vendas.
O julgamento foi presidido pela Desembargadora Vilma Régia Ramos De Rezende, com
voto, e dele participaram Juiz Subst. 2ºgrau Luciano Carrasco Falavinha Souza (relator) e
Desembargadora Ivanise Maria Tratz Martins.