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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão 5ª Turma Cível

Processo N. AGRAVO DE INSTRUMENTO 0705810-79.2019.8.07.0000


AGRAVANTE(S) JM COMERCIO DE CONDUTORES ELETRICOS LTDA - ME
AGRAVADO(S) LUZIA MARIA MOTA
Relator Desembargador ANGELO PASSARELI

Acórdão Nº 1187756

EMENTA

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE


SENTENÇA. OFÍCIO À SEFAZ/DF. SOLICITAÇÃO DE INFORMAÇÕES SOBRE
EVENTUAIS DIREITOS POSSESSÓRIOS OU DE AQUISIÇÃO SOBRE IMÓVEL EM
CONDOMÍNIO IRREGULAR. POSSIBILIDADE. DECISÃO REFORMADA .

1 – A penhora sobre direitos dos quais o devedor é titular encontra guarida no artigo 835, inciso XIII,
do Código de Processo Civil e esta Corte de Justiça vem se manifestando reiteradamente quanto à
possibilidade de constrição de direitos sobre bens imóveis em condomínios irregulares por possuírem
relevante expressão econômica.

2 – É cabível a determinação de que o Juízo de origem providencie a expedição ofício à Secretaria de


Fazenda do Distrito Federal solicitando informações acerca de ser o Devedor contribuinte de Imposto
Sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana no Distrito Federal a fim de serem identificados
eventuais bens e possibilitada penhora de direitos possessórios ou de aquisição.

Agravo de Instrumento parcialmente provido.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 5ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios, ANGELO PASSARELI - Relator, JOSAPHÁ FRANCISCO DOS SANTOS
- 1º Vogal e ROBSON BARBOSA DE AZEVEDO - 2º Vogal, sob a Presidência do Senhor
Desembargador JOSAPHÁ FRANCISCO DOS SANTOS, em proferir a seguinte decisão:
CONHECER. DAR PARCIAL PROVIMENTO. UNÂNIME., de acordo com a ata do julgamento e
notas taquigráficas.
Brasília (DF), 17 de Julho de 2019

Desembargador ANGELO PASSARELI


Relator

RELATÓRIO

Trata-se de Agravo de Instrumento, com pedido de efeito suspensivo, interposto por JM


COMÉRCIO DE CONDUTORES ELÉTRICOS LTDA - ME contra decisão proferida pelo Juiz de
Direito da Primeira Vara Cível de Ceilândia que, nos autos da Ação de Conhecimento, em fase de
Cumprimento de Sentença, Feito nº 0708386-07.2017.8.07.0003, proposta pela Agravante em desfavor
de LUZIA MARIA MOTA, indeferiu o pedido da Credora, ora Agravante, de expedição de alvará
que permitisse a realização de diligências junto ao Distrito Federal no intuito de verificar se a
Devedora, ora Agravada, é contribuinte de IPTU relativo a imóvel irregular, cujos direitos aquisitivos
são penhoráveis segundo a jurisprudência.

A referida decisão foi exarada nos seguintes termos, in verbis:

“DECISÃO

Pretende a parte exequente decisão com força de alvará para diligenciar junto à Secretaria de
Fazenda do Distrito Federal, bem como no GDF para que informem a existência de eventuais bens
imóveis, não regularizados, em nome da parte devedora.

Correta é a premissa da parte exequente em requerer o auxílio deste juízo na obtenção dos dados
indicados, uma vez que a Administração Pública impôs a necessidade de atendimento de condições o
pleito.

Não obstante, o que pretende a parte em nada promoverá a solução da presente lide, porquanto os
bens imóveis não regularizados, tal como já é de ciência da parte, não possuem registro perante o
cartório de imóveis.

Tais bens, apesar de terem valor econômico, não são de propriedade de seus possuidores e,
geralmente, são ‘transferidos’ por procurações, substabelecimentos e cessões de direitos.

Desta forma, o ato de penhora não terá a publicidade necessária, podendo ser atingido bem que já
esteja na posse de outrem e/ou a transferência desta posse pelo devedor no curso da penhora,
tornando o ato de expropriação demasiadamente complexo em razão do envolvimento de terceiros
estranhos a lide.

Destaque-se, ainda, que o que se pretende alienar é a posse e/ou detenção de uma área, resultado em
insegurança jurídica e dificuldade na sua alienação em razão da baixa procura por tais áreas.

Desta forma, indefiro o pedido.

Assim, intime-se a parte exequente, no prazo de 5 dias, para indicar outros bens da parte devedora
passíveis de constrição, sob pena de arquivamento do feito.

Ceilândia-DF, 25 de março de 2019 14:12:38.” (Doc. Num. 8013235 - Pág. 2)


Relata a Agravante que realizou diversas tentativas de localização de bens penhoráveis da Agravada,
todas infrutíferas, o que também se observou das pesquisas realizadas via sistemas BACENJUD e
RENAJUD.

Acrescenta que o pedido indeferido por meio da decisão agravada objetiva a prolação de “decisão com
força de alvará permitindo que exequente por meio do PRÓPRIO advogado faça diligências na
SEFAZ-DF e GDF para obter informações e saber se a devedora agravada LUZIA MARIA MOTA,
inscrita no CPF n° 386.655.571-72 é contribuinte de IPTU e possui bem imóvel não registrado em
cartórios para que possa ser identificado o bem e após procedida a penhora de direitos possessórios
nos termos do artigo 835, XIII, CPC” (Doc. Num. 8013229 - Pág. 4 – destacado conforme o original).

Invoca o princípio da cooperação e assevera que, diversamente da conclusão obtida na decisão


agravada “é possível a penhora sobre os direitos possessórios de imóveis situados em condomínios
irregulares, por possuírem tais bens expressão econômica, sendo, assim, aptos à garantia dos
créditos em execução” (Doc. Num. 8013229 - Pág. 6).

Sustenta que não postulou a realização de diligência inútil ou protelatória, mas sim medida adequada à
busca da satisfação do crédito e que somente pode ser efetivada com a atuação do Poder Judiciário.

Afirma que estão presentes os requisitos para o deferimento do efeito suspensivo, uma vez que, “
segundo o artigo 921, III e §1º do CPC suspende-se a execução quando por 01 (um) ano quando o
executado não possuir bens penhoráveis, de modo que a execução ficará suspensa (arquivada
provisoriamente) e SOMENTE SERÁ DESARQUIVADA se forem encontrados bens penhoráveis e
após esse prazo a execução será arquivada e começara a correr a prescrição intercorrente” (Doc.
Num. 8013229 - Pág. 11).

Colaciona doutrina e jurisprudência que entende consentâneas com sua tese.

Requer a concessão de efeito suspensivo e, no mérito, postula o provimento do recurso para que seja
deferido “alvará permitindo que agravante por meio do PRÓPRIO advogado faça diligências na
SEFAZ-DF e GDF para obter informações e saber se a devedora LUZIA MARIA MOTA, inscrita
no CPF n° 386.655.571-72 é contribuinte de IPTU e possui bem imóvel não registrado em cartórios
para que possa ser identificado o bem e após procedida a penhora dos direitos possessórios nos
termos do artigo 835, XIII, CPC” (Doc. Num. 8013229 - Pág. 14 – destacado conforme o original).

Preparo regular (Doc. Num. 8102194).

Por meio da decisão de ID Num. 8122677, foi indeferido o efeito suspensivo vindicado.

Informações prestadas pelo Juiz a quo (Doc. Num. 9067257).

Em contraminuta (Doc. Num. 8456009), a Agravada propugnou o desprovimento do recurso.

É o relatório .

VOTOS
O Senhor Desembargador ANGELO PASSARELI - Relator

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

Como relatado, trata-se de Agravo de Instrumento, com pedido de efeito suspensivo, interposto contra
decisão proferida pelo Juiz de Direito da Primeira Vara Cível de Ceilândia que, nos autos da Ação de
Conhecimento, em fase de Cumprimento de Sentença, Feito nº 0708386-07.2017.8.07.0003, indeferiu
o pedido da Credora, ora Agravante, de expedição de alvará que permitisse a realização de diligências
junto ao Distrito Federal no intuito de verificar se a Devedora, ora Agravada, é contribuinte de IPTU
relativo a imóvel irregular, cujos direitos aquisitivos são penhoráveis segundo a jurisprudência.

A Agravante alega, em síntese, que diversamente da conclusão obtida na decisão agravada “é possível
a penhora sobre os direitos possessórios de imóveis situados em condomínios irregulares, por
possuírem tais bens expressão econômica, sendo, assim, aptos à garantia dos créditos em execução”
(Doc. Num. 8013229 - Pág. 6).

O exame atento dos elementos constantes dos autos em cotejo com a legislação e a jurisprudência que
disciplinam a matéria revela que a pretensão recursal encontra amparo em parte.

A penhora sobre direitos dos quais o devedor é titular encontra guarida no artigo 835, inciso XIII, do
Código de Processo Civil.

Esta Corte de Justiça vem se manifestando reiteradamente quanto à possibilidade de constrição de


direitos sobre bens imóveis em condomínios irregulares por possuírem relevante expressão
econômica, suficiente a atender à necessidade de expropriação para satisfazer o crédito perseguido.

Colaciono, a seguir, julgados que expressam tal compreensão acerca da matéria, in verbis:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. TAXAS CONDOMINIAIS.


PENHORA. DIREITOS POSSESSÓRIOS. IMÓVEL EM CONDOMÍNIO IRREGULAR. I - É
admitida a penhora dos direitos possessórios sobre imóvel situado em condomínio irregular, os
quais possuem expressão econômica e são aptos à satisfação da dívida exequenda, art. 835, inc.
XIII, do CPC. II - Agravo de instrumento provido.”

(Acórdão n.1169579, 07205845120188070000, Relator: VERA ANDRIGHI 6ª Turma Cível, Data de


Julgamento: 09/05/2019, Publicado no DJE: 20/05/2019. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

“DIREITO PROCESSUAL CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. CONDOMÍNIO


IRREGULAR. PENHORA DE DIREITOS POSSESSÓRIOS OU DE AQUISIÇÃO.
POSSIBILIDADE. CPC, ART. 835, XIII. I. O fato de o imóvel estar localizado em "condomínio
irregular" ou em área pública em princípio não obsta a penhora dos direitos que sobre ele tem o
ocupante, dada a sua notória densidade econômica. II. Qualquer direito, desde que tenha conteúdo
econômico, pode ser penhorado, conforme estabelece o artigo 835, inciso XIII, do Código de
Processo Civil. III. Recurso conhecido e provido.”

(Acórdão n.1160702, 07088682720188070000, Relator: JAMES EDUARDO OLIVEIRA 4ª Turma


Cível, Data de Julgamento: 27/03/2019, Publicado no DJE: 02/05/2019. Pág.: Sem Página
Cadastrada.)

“PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.


REPARAÇÃO DE DANOS AO ERÁRIO. PENHORA. DIREITOS POSSESSÓRIOS. IMÓVEL
EM CONDOMÍNIO IRREGULAR. POSSIBILIDADE. 1. A respeito da penhora, o direito
brasileiro adotou a técnica da execução por graus ou por ordem (art. 835 do Código de Processo
Civil), segundo a qual só se considera a penhorabilidade de bens de determinada classe para
constrição após exaurida a possibilidade de penhora sobre aqueles da classe imediatamente
precedente. 2. Em se tratando de débitos condominiais, a obrigação recai diretamente sobre a coisa,
já tendo sido consolidado pela jurisprudência desta Corte de Justiça o entendimento de que é
possível a penhora de direitos dotados de valor econômico, tal como os inerentes à posse.
Inteligência do art. 835, inciso XII, do CPC. 3. No caso de bem imóvel localizado em condomínio
irregular, sem consolidação da propriedade em nome do devedor, revela-se cabível a penhora dos
direitos possessórios sobre o bem. 4. Recurso provido.”

(Acórdão n.1158745, 07197479320188070000, Relator: MARIO-ZAM BELMIRO 8ª Turma Cível,


Data de Julgamento: 20/03/2019, Publicado no DJE: 02/04/2019. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

“PROCESSO CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. CONDOMÍNIO IRREGULAR.


REQUERIMENTO DE PENHORA. DIREITOS POSSESSÓRIOS. POSSIBILIDADE. 1. Os
direitos possessórios relativos a imóveis situados em condomínios suscetíveis de regularização
podem ser objeto de penhora, em face da sua expressão econômica. 2. Agravo provido.”

(Acórdão n.1060654, 07105098420178070000, Relator: FLAVIO ROSTIROLA 3ª Turma Cível, Data


de Julgamento: 16/11/2017, Publicado no DJE: 24/11/2017. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

A constrição pleiteada se dá sobre direitos pessoais do devedor, a posse sobre eventual imóvel
localizado em condomínio irregular, e não sobre o bem propriamente dito.

Tais direitos são sujeitos à alienação e conforme se verifica dos negócios realizados de modo
recorrente nesta capital, não é razoável impossibilitar a satisfação do crédito do Exequente com base
na afirmação de que eventual penhora poderia atingir bem que já esteja na posse de outrem e/ou que é
possível o advento de transferência desta posse pelo devedor no curso do processo.

Porém, é de se observar que o pedido de autorização judicial por escrito para realização de diligências
pessoalmente pelo procurador da parte não encontra amparo no ordenamento jurídico vigente, o que
se vislumbra é possibilidade de expedição de ofício à Secretaria de Fazenda do Distrito Federal
solicitando as informações pleiteadas pela parte acerca de ser a Ré/Agravada LUZIA MARIA MOTA,
inscrita no CPF n° 386.655.571-72, contribuinte de Imposto Sobre a Propriedade Predial e Territorial
Urbana no Distrito Federal a fim de serem identificados eventuais bens e possibilitada futura penhora
de direitos possessórios ou de aquisição.

Com essas considerações, dou parcial provimento ao Agravo de Instrumento para, reformando a
decisão agravada, determinar que o Juízo de origem providencie a expedição de ofício à Secretaria de
Fazenda do Distrito Federal solicitando informações acerca de ser a Ré/Agravada LUZIA MARIA
MOTA, inscrita no CPF n° 386.655.571-72, contribuinte de Imposto Sobre a Propriedade Predial e
Territorial Urbana no Distrito Federal.

É como voto .

O Senhor Desembargador JOSAPHÁ FRANCISCO DOS SANTOS - 1º Vogal


Com o relator
O Senhor Desembargador ROBSON BARBOSA DE AZEVEDO - 2º Vogal
Com o relator

DECISÃO

CONHECER. DAR PARCIAL PROVIMENTO. UNÂNIME.

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