Conceito e validade do direito. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
p. 3 a 23.
Uma das maiores e mais antigas discussões sobre direito se dá na relação entre o direito e a moral. Esse debate possui duas vertentes: a positivista e não positivista, que se contrapõem desde tempos antigos. A vertente positivista defende a tese da separação, que alega que o direito e a moral são termos que não possuem conexão entre si, afirmando que o direito é o que é e não o que a justiça exige que ele seja. Hans Kelsen é um exemplo de grande positivista, que resumiu a tese da separação dizendo que “todo e qualquer conteúdo pode ser direito”. Existem várias vertentes do positivismo jurídico, e todas elas surgem das diferentes interpretações que possuem dos elementos que definem o direito, no ponto de vista positivista: a legalidade conforme o ordenamento ou dotada de eficácia e a eficácia social. O não positivismo jurídico não exclui os dois elementos citados que definem o direito na ótica positivista, portanto, o que os diferenciam do positivismo é o pensamento de que o direito, além de ser definido da forma que é, também tem influência da moral. Mesmo com toda polêmica sobre o significado do direito, o autor afirma que na prática todo jurista possui um conceito do que é direito, e este é muitas vezes posto como inquestionável. Nos casos comuns da prática jurídica, mesmo quando a solução for contestável, não costuma fazer reflexões sobre o direito usado. Isso não acontece nos casos incomuns, que fazem necessário ponderar o direito que levou a solução do caso. Citando exemplos de decisões sobre casos “duvidosos”, o autor esclarece que a respeito dessas situações os positivistas e os não positivistas podem refletir de maneira semelhante. Nesses casos, para a tese do positivismo legal a decisão pode ser feita por meio de fatores extrajurídicos e, já para os não positivistas a decisão também pode ser determinada pelo direito, se a lei não a estipular de modo coercitivo. (pg 12) Quando a questão sobre o significado correto do termo direito vem à tona, o autor orienta que para responder esta pergunta é necessário relacionar os três elementos a seguir: a legalidade conforme o ordenamento, a eficácia social e a correção material. Através dessa tripartição é possível surgir diversos conceitos. O jusnaturalismo, por exemplo, surge quando a legalidade conforme o ordenamento e a eficácia social não possuem grande importância, mas, em contra partida, o elemento da correção material é fundamental. Oposto ao jusnaturalismo se encontra o positivismo, que não considera importante a correção material, mas se baseia na legalidade e na eficácia social. Ainda, entre esses dois sistemas é possível encontrar diversas formas de pensamentos intermediárias. O positivismo, como citado anteriormente, exclui o elemento da correção quanto ao conteúdo, mas, os elementos de legalidade e eficácia social podem ser interpretados de maneiras diversas dentro do próprio positivismo, surgindo as variantes do sistema. Os dois conceitos principais são: os conceitos de direito primariamente orientados para a eficácia e o dos conceitos de direito primariamente orientados para a normatização. É relevante ressaltar que o “primeiramente” utilizado na definição dos conceitos tem o intuito de mostrar que o tema não exclui nenhum elemento da definição de direito para os positivistas, mas há um elemento que é o principal. Em um primeiro momento, o autor analisará as expressões do positivismo jurídico e, posteriormente, seus conceitos serão criticados como insuficientes. O conceito de direito primariamente orientado para a eficácia é voltado para as teorias sociológicas e realistas do direito. Há duas distinções dentro dessa definição: o aspecto interno e o externo, que se referem ao funcionamento de uma norma ou de um sistema normativo. O aspecto externo diz respeito à regularidade do cumprimento de uma lei ou norma, e também à sanção quando há a não observância da mesma. Como cita Max Weber: “Um ordenamento se chamará: ... direito, quando for garantido externamente pela possibilidade de coação (física ou psíquica) por meio de uma ação, dirigida para a obtenção forçada da observância, ou para a punição da violação, de um grupo de pessoas especialmente preparado para tanto.” (pg. 18) Já o aspecto interno entende que a sociedade em conjunto reconhece as normas e regras que fazem parte do seu convívio, surgindo o direito. Assim, o aspecto interno é voltado para a motivação da observância ou aplicação de uma norma. O conceito de direito primariamente orientados para a normatização são encontrados nos campos da teoria do direito que se dedicam à analise lógica da prática jurídica. Nesse conceito, a perspectiva do participante se encontra em primeiro plano, especialmente a do juiz. Os pensadores dessa corrente, como John Austin definem o direito como vários comandos de um soberano que são reforçados por sanções. É importante ressaltar que o elemento da eficácia não é descartado no conceito de normatização. Hans Kelsen, um dos representantes do positivismo jurídico orientado para a normatização inclui em suas definições o elemento da eficácia: “Na norma fundamental, faz-se da normatização e da eficácia as condições de validade (...)” (pg. 22). Portanto, para o esse sistema, o direito tem sua validade baseada em uma norma fundamental pressuposta, sendo um “ordenamento normativo coativo”, conforme Kelsen. A respeito da temática tratada no texto, o positivismo jurídico é uma junção da filosofia positivista com o Direito, relacionando a justiça com a ideia de valores. É uma doutrina que define que o direito é o que é, não tolerando o uso de aspectos morais em suas decisões. Para essa doutrina, o mais importante é que a norma seja aplicada conforme sua forma e validade, e não em relação ao seu conteúdo.