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DEFICIÊNCIA: HISTÓRIA E
PERSPECTIVAS
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reservava espaço para questões dessa ordem, em razão da necessidade
de dar manutenção a um conceito de “sujeito universal” e da tentativa
de distanciar-se daquilo que considera ideológico, o campo intelectual
feminista nesse contexto integrou-se à parcela dessa matriz disciplinar
que se opunha ao modelo tradicional de Ciência, do mesmo modo que
as teorias feministas se aliavam na época ao pós-modernismo, ou seja,
criticamente.
Os estudos de gênero no Brasil estabeleceram alianças com
um campo da Psicologia que valoriza a cultura, o contexto social e a
dimensão ativa e subjetiva dos sujeitos. Foi a Psicologia Social Crítica,
especialmente aquela que se faz no Sudeste do país, o terreno no qual
tais questões puderam emergir nessa área do conhecimento, por seu
diálogo com as Ciências Sociais, bem como por sua interface com as
demandas dos movimentos sociais.
As questões de gênero na Psicologia Social brasileira foram intro-
duzidas concomitantemente à emergência de outras categorias-chave
desse campo. Os estudos de identidade e as pesquisas sobre sexuali-
dade, afetividade e emoções, por exemplo, também surgiram na Psi-
cologia nas décadas de 1970 a 1990. Nesse período, a Psicologia Social
brasileira convergia suas preocupações cada vez mais para os níveis
microestruturais, para os processos psicossociais e para as questões li-
gadas ao cotidiano. Isso se deu como resultado do fortalecimento do
compromisso desse campo com a transformação da realidade social e
com os processos sociais enfocados nos trabalhos de seus agentes. Dian-
te disso, a Psicologia Social teve de se adaptar às novas demandas sociais
emergentes na contemporaneidade, contemplando questões vindas do
movimento de trabalhadoras(es), do feminismo, do movimento negro.
Ao valorizarem temas de grande valor para os movimentos sociais,
psicólogas sociais feministas transformaram preocupações que trouxe-
ram do ativismo político ou da vida pessoal, em problemas científicos,
apoiando-se nos instrumentos da academia para produzirem saberes
que iam ao encontro dos interesses do feminismo. A Psicologia, assim,
a partir da década de 1990, passou a começar a acolher o campo de es-
tudos de gênero, embora muito ainda há que trabalhar para consolidar
esse processo.
Referências
MACHADO, A. M.; Veiga Neto, A.; Neves, M.; Silva, M. V.; Prieto,
R.; Ranña, W. (Org.). Psicologia e Direitos Humanos: Educação Inclusiva,
direitos humanos na escola. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.