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Psicologia e Questões Étnico-Raciais no Brasil:

Histórico de Racismo na Psicologia Brasileira:

o Historicamente, a Psicologia no Brasil contribuiu para o racismo,


legitimando estereótipos infundados através de teorias eurocêntricas.
Essas teorias não representavam a diversidade cultural brasileira.

Influência da Escola Nina Rodrigues:

o A Escola Nina Rodrigues, com figuras como Arthur Ramos na década de


1930, teve um papel significativo na estruturação do pensamento racial no
Brasil, influenciando os primeiros desenvolvimentos da Psicologia no
país. Ramos promoveu ideias racistas, considerando negros culturalmente
atrasados.

Psicologia e Serviços de Higiene Mental:

o O racismo esteve presente na formação dos primeiros Serviços de Higiene


Mental, Centros de Orientação Infantil e Juvenil, e Setores de Psicologia
Clínica no Brasil. A Psicologia focava na detecção de anormalidades
psíquicas, muitas vezes sob uma perspectiva racializada.

Conivência Atual com Desigualdades:

o A Psicologia contemporânea ainda é vista como conivente com


desigualdades como racismo e sexismo, muitas vezes silenciando-se
diante dessas questões em suas produções acadêmicas e práticas.

Influência do Movimento Negro e Psicólogas Negras:

o A partir dos anos 2000, o Movimento Negro, especialmente representado


por psicólogas negras, começou a influenciar a Psicologia no Brasil,
trazendo maior atenção às questões étnico-raciais.
Princípios Éticos na Psicologia:

o O Código de Ética do Conselho Federal de Psicologia destaca a


importância de promover saúde e qualidade de vida sem negligência ou
discriminação e atuar com responsabilidade social, considerando a
realidade política, econômica, social e cultural.

Desenvolvimento do Pensamento Psicológico Brasileiro em


Relações Étnico-Raciais:
Evolução Histórica:

 O texto descreve três fases principais do pensamento psicológico brasileiro sobre


relações étnico-raciais. A primeira fase, no final do século XIX e início do XX,
foi influenciada pela Escola Nina Rodrigues. A segunda, entre 1930 e 1950, viu o
surgimento de autores fundamentais na Psicologia Social brasileira, embora pouco
reconhecidos. A terceira fase começou nos anos 1990 e continua até hoje,
destacando-se pela publicação de estudos sobre branquitude.

Contribuições Iniciais:

 Pioneiros como Raul Carlos Briquet, Donald Pierson, Aniela Meyer Ginsberg,
Arthur Ramos de Araújo Pereira, Virgínia Leone Bicudo e Dante Moreira Leite
foram cruciais na formação dos primeiros cursos de Psicologia Social no Brasil e
na delimitação do campo.

Diferentes Perspectivas sobre Raça:

 Enquanto Ginsberg e Bicudo reconheceram a desigualdade política enfrentada


pela população negra, Arthur Ramos, ao focar na cultura em vez da raça,
perpetuou uma visão racista, ainda que de forma velada.

Escassez de Estudos sobre a Temática Negra:


 Ricardo Franklin Ferreira, em sua tese de doutorado publicada em 2000, constatou
que, de 4.911 trabalhos analisados em Psicologia, apenas três tratavam da temática
negra, com outros nove em processo de publicação, evidenciando a existência de
preconceitos e estereótipos.

Pesquisa na USP e Perspectivas Emergentes:

 Um estudo de 2015 na USP analisou teses e dissertações desde 1970 até 2012,
encontrando pesquisas sobre racismo que abordavam a esfera política, o âmbito
acadêmico, diferentes expressões de racismo e a dimensão identitária. No entanto,
havia poucos trabalhos dedicados à desconstrução sistemática do racismo e às
metodologias para o combate ao racismo na sociedade brasileira

Objetivo e Metodologia do Estudo:

 Em 2016, Airi Sacco, Maria Clara de Paula Couto e Sílvia Koller realizaram uma
revisão sistemática de estudos da Psicologia Brasileira sobre preconceito racial.
Utilizaram bases de dados como SciELO, LILACS, Index Psi, PePSIC e
PsycINFO, com os termos “racismo” ou “preconceito racial”.

Resultados Encontrados:

 Identificaram 77 artigos (35 teóricos e 42 empíricos) publicados entre 2001 e


agosto de 2014. Os artigos foram selecionados de revistas de Psicologia ou
multitemáticas, com a condição de que o primeiro autor fosse brasileiro e com
formação em Psicologia.

Principais Publicações e Temas:

 As revistas "Psicologia & Sociedade", "Psicologia: Ciência e Profissão" e


"Revista de Psicologia Política" foram as que mais publicaram sobre o tema. Os
estudos abordaram as origens e expressões do preconceito racial, suas
consequências para as vítimas e a influência de teorias raciais na Psicologia. Nos
artigos empíricos, o tema mais recorrente foi o das cotas raciais no ensino
superior.

Lacunas e Necessidades de Pesquisa:


 Os autores apontaram a necessidade de mais pesquisas sobre o desenvolvimento
do preconceito racial em crianças no Brasil, além de estudos focados em adultos
não universitários e grupos específicos discriminados.

Produção Acadêmica Recente:

 Entre agosto de 2014 e outubro de 2016, foram encontrados apenas 11 novos


artigos sobre o tema, com uma distribuição variada em revistas específicas da
Psicologia e multitemáticas.

Abordagem dos Artigos Recentes:

 A maioria dos novos artigos é baseada em pesquisa de campo. Eles abordam o


racismo e suas subjetivações, com alguns focando em políticas públicas, como
educação, políticas para adolescentes em conflito com a lei e para a população
quilombola.

Panorama Geral das Pesquisas:

 Foram identificadas 27 pesquisas acadêmicas desde 2013, majoritariamente na


área de Psicologia Social ou Política, com uma minoria em Psicologia Clínica. A
maioria das pesquisas é de mestrado (20), e sete são de doutorado, realizadas tanto
em universidades públicas quanto privadas, distribuídas por diversas regiões do
Brasil.

Distribuição Geográfica das Pesquisas:

 O Nordeste lidera em número de pesquisas, seguido pelo Sudeste e Sul. A Região


Norte apresenta apenas um estudo, destacando-se a falta de pesquisas sobre
populações quilombolas e negros no campo.

Temáticas Abordadas:

 As pesquisas abrangem uma variedade de temas relacionados ao racismo e


preconceito racial, com ênfase em políticas públicas como cotas raciais. No
entanto, há uma carência de estudos sobre negros idosos, imigrantes, quilombolas
e crimes de racismo na internet.
Conclusão:

 Os estudos denunciam o racismo e contribuem para a discussão sobre o tema na


Psicologia. No entanto, há uma escassez de produção sobre relações raciais entre
psicólogos, refletindo uma possível negação do tema na sociedade e na própria
Psicologia.

Aspectos essenciais para o desenvolvimento de novos estudos

Foco em Saúde Psíquica e Resistência:

 Algumas pesquisas na área da Psicologia não se limitam apenas a examinar os


danos causados pelo racismo, mas também exploram como as pessoas afetadas
pelo racismo lidam com essas adversidades.
 Estes estudos destacam temas como enfrentamento (como as pessoas reagem e
lidam com o racismo), superação (processos através dos quais indivíduos ou
grupos superam as barreiras impostas pelo racismo), resistência política (ações e
movimentos que desafiam o racismo institucional e estrutural), agência
(capacidade dos indivíduos de agir autonomamente) e resiliência (habilidade de
se recuperar de experiências traumáticas ou estressantes).
 Esses aspectos são importantes para entender não apenas os efeitos negativos do
racismo, mas também as formas de força e recuperação.

Contribuições Internacionais e Temas Emergentes:

 O texto menciona contribuições significativas de psicólogos africanos,


particularmente em relação a como as crianças lidam com traumas, como os da
guerra em Moçambique.
 Além disso, destaca-se a necessidade de mais pesquisas sobre questões de gênero,
especialmente focadas nas experiências de mulheres negras. Isso inclui entender
como o racismo e o sexismo se interseccionam e afetam essas mulheres, e como
elas têm historicamente assumido papéis de liderança e resistência em suas
comunidades.
Branquitude e Identidade Racial:

 O texto aponta para uma lacuna significativa nos estudos sobre a branquitude, ou
seja, como a identidade racial branca é construída e vivenciada.
 Esses estudos são importantes porque ajudam a entender como os privilégios
raciais brancos são mantidos e como a identidade branca contribui para a
perpetuação do racismo.
 A branquitude é frequentemente vista como a norma ou o padrão invisível, o que
pode reforçar desigualdades raciais. O texto sugere que compreender a
branquitude é crucial para desmantelar estruturas racistas e promover a igualdade
racial.

Desafios e Perspectivas para a Psicologia:

 O texto enfatiza a necessidade de a Psicologia se engajar mais ativamente no


combate ao racismo e na promoção da igualdade racial.
 Isso implica ir além de uma abordagem que trata as relações raciais como uma
especialidade ou subcampo e, em vez disso, integrar a compreensão das relações
raciais em todas as áreas da Psicologia. Inclui-se a prática clínica, a pesquisa, a
formação de psicólogos e a aplicação de teorias psicológicas.
 A ideia é que a Psicologia, como disciplina, deve reconhecer e abordar o impacto
do racismo em todos os aspectos da vida humana e contribuir para soluções que
promovam a saúde psíquica e o bem-estar de todas as raças e etnias.

Formação em Psicologia e Relações Raciais:

1. Importância da Temática Racial na Formação de Psicólogos:


o A formação em Psicologia é um período crucial para introduzir e
aprofundar o conhecimento sobre as relações raciais e seus impactos
psíquicos.
o Essa inclusão é essencial para preparar futuros psicólogos para lidar com
as realidades sociais e raciais.
2. Deficiência Curricular Atual:
o Atualmente, as grades curriculares dos cursos de Psicologia no Brasil
raramente abordam o racismo e as relações raciais de forma significativa.
o Essa lacuna precisa ser preenchida, considerando a importância da raça na
constituição e diferenciação social dos indivíduos.
3. Desafios e Necessidade de Sensibilização:
o Há um desafio em sensibilizar e formar psicólogos e professores para
incluir a temática racial de forma transversal nas disciplinas.
o Isso é necessário não apenas em Psicologia, mas também em outras áreas
da saúde e ciências sociais.
4. Propostas para Inclusão do Tema:
o Sugere-se a criação de disciplinas específicas sobre racismo e identidades
raciais, além da inserção transversal do tema nas formações, para que os
futuros profissionais compreendam os efeitos psicossociais do racismo em
pessoas brancas e negras.
5. Experiências Exitosas e Pesquisa Reveladora:
o Experiências como grupos de estudo, cinedebates e visitas a museus
mostraram-se eficazes na abordagem do tema.
o Uma pesquisa na Universidade de São Paulo indicou que os alunos veem
a raça como uma categoria importante na compreensão das desigualdades
e relevante para a prática profissional.
o Contudo, há resistência de alguns professores em abordar o assunto.
6. Importância do Debate sobre Cotas Raciais:
o A discussão sobre cotas raciais no ensino superior tem sido um catalisador
para conversas sobre racismo e relações étnico/raciais, embora ainda
exista polarização nos debates acadêmicos.

O texto enfatiza a importância de várias ações para combater o racismo em ambientes de


trabalho, tanto no setor público quanto no privado. Essas ações incluem o levantamento
do quesito raça/cor, o diagnóstico da discriminação racial e a formação de profissionais e
gestores em questões étnico-raciais. O objetivo é garantir que os serviços sejam
equânimes em sua composição e que todos os profissionais, independentemente de sua
posição, estejam engajados no debate sobre racismo, sexismo e classismo.

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