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A HORA DO JOGO DIAGNÓSTICA- RESUMO

CONCEITO: recurso ou instrumento técnico utilizado pelo psicólogo no processo de psicodiagnóstico com
a finalidade de conhecer a realidade da criança trazida à consulta.

➔ A atividade lúdica é sua forma de expressão própria


➔ É uma forma de instrumentalizaras possibilidades comunicacionais para depois conceituar a
realidade apresentada
➔ Ao oferecer à criança a possibilidade de brincar, cria-se um campo que será estruturado,
basicamente, em função das variáveis internas e externas

DIFERENÇA ENTRE A HDJD E A HORA DO JOGO TERAPÊUTICA:

➔ HDJD: processo que tem começo, desenvolvimento e fim em si mesma, operando como uma
unidade e interpretado como tal
➔ HDJT: elo mais amplo em um continuum, onde novos aspectos e modificações estruturais surgem
pela intervenção do terapeuta

DIFERENÇAS COM A ENTREVISTA DIAGNÓSTICA LIVRE DO ADULTO:

ENTREV. LIVRE ADULTOS HDJD


1. Fantasia mediada por verbalizações 1. O mediador é o brinquedo (expressa as
2. Fantasia depurada pela maior influência vivências da criança no momento)
do processo secundário 2. Comunicação do tipo espacial
3. Localização temporal da fantasia 3. Precedida por entrevistas com os pais
através da linguagem 4. Estabelecimento de vínculo
transferencial com objetivo de
compreender a criança

SALA DE JOGOS E MATERIAIS

➔ Quarto não muito pequeno, com mobiliário escasso para possibilitas a liberdade de movimentos à
criança
➔ Paredes e pisos preferencialmente laváveis
➔ Oferecer à criança, caso deseje, a possibilidade de brincar com água
➔ Elementos expostos sobre a mesa, ao lado da caixa aberta. Aleatoriamente distribuídos
➔ Evitar um panorama caótico

Observação: a apresentação dos brinquedos, fora da caixa, evita a ansiedade persecutória que pode
surgir no primeiro contato diante de um continente-caixa-desconhecido, fechado

Brinquedos a serem incluídos: depende do referencial teórico adotado

➔ Erick Ericson sugere brinquedos em função de respostas específicas que provocam: sensório-
motor, de integração cognitiva, do funcionamento, etc.
➔ É necessário pensar também sobre a funcionalidade do brinquedo (tamanhos, formas e texturas
diferentes)
➔ Materiais excessivos são distraem e confundem o entrevistado
➔ Bick (da escola inglesa), sugere material não estruturado
➔ Esse enfoque (Bick), antagônico ao anterior (Erickson), permite interpretar símbolos não
correspondentes ao que a criança realmente deseja transmitir
➔ Critério intermediário (proposto pela autora): materiais de diferentes tipos (estruturados e não
estruturados), possibilitando a expressão sem que a experiência se torne invasora (papel tamanho
carta, lápis pretos e de cor. Lápis de cera, tesoura sem ponta, massas de modelar coloridas,
borracha, cola, apontador, papel glacê, barbante, bonecos articulados, famílias de animais
selvagens e domésticos, carrinhos de tamanhos diferentes, aviõezinhos, xícaras com pires,
colherinhas, cubos de tamanho médio, trapinhos, giz e bola
➔ Evitar materiais de baixa qualidade ou perigosos, além disso, devem estar em bom estado

INSTRUÇÕES

➔ O psicólogo deve usar uma linguagem clara e objetiva ao definir os papéis, limitar o tempo e o
espaço, orientar sobre o material a ser utilizado e os objetivos
➔ Também explicitar, caso necessário e no momento indicado, os limites gerais de realização das
ações perigosas para a integridade física do entrevistador e do entrevistado, bem como da sala, do
mobiliário

PAPEL DO PSICÓLOGO

➔ Papel passivo (é o observador) e ativo (compreende e formula as hipóteses sobre a problemática


do entrevistado)
➔ Sinalização: explicitação de aspectos dissociados manifestos da conduta
➔ Não se deve incluir interpretações, pois apontam para o latente
➔ O psicólogo deve estabelecer limites no caso de tentativa de rompimento do enquadramento pelo
paciente

Objetivo da participação do psicólogo: criar ótimas condições para criança brinque


espontaneamente

Função específica: observar, compreender e cooperar com a criança

TRANSFERÊNCIA E CONTRATRANSFERÊNCIA

➔ Imagem mútua construída por ambas as partes a partir dos relatos dos pais, a qual condiciona
determinadas expectativas que precisam ser ajustadas na primeira entrevista por meio do vínculo
real e concreto com a criança

Transferência na HDJD: possui características particulares devido à brevidade do vínculo e ao meio


de comunicação −brinquedos−, que permitem a ampliação e diversificação da transferência para esses
objetos

➔ O psicólogo deve recuperar esse material e integrá-lo aos elementos verbais e pré-verbais na
totalidade do processo

Contratransferência: elemento que pode auxiliar na compreensão da criança desde que integrada de
modo consciente pelo psicólogo, que deve saber discriminar suas ações e impulsos

INDICADORES DA HDJD

➔ Não há uma padronização desse material


➔ Análise dos seguintes indicadores: escolha dos brinquedos e brincadeiras, modalidades de
brincadeiras, personificação, motricidade, criatividade, capacidade simbólica, tolerância à
frustração e adequação à realidade

ESCOLHA DE BRINQUEDOS E BRICADEIRAS

➔ De acordo com as características individuais, a modalidade abordagem dos brinquedos pode


assumir estas formas:
➔ Observar o tipo de brinquedo escolhido no primeiro contato a partir do movimento evolutivo e com
o conflito a ser veiculado
➔ Observar se o jogo escolhido tem princípio, meio e fim; se é coerente e se está de acordo com
estágio de desenvolvimento intelectual correspondente com a idade da criança
➔ Criança de 3 anos: esperam-se jogos egocêntricos
➔ De 4 a 7 anos: maior aproximação ao real, preocupação pela veracidade da imitação exata
➔ Aos 5 ou 6 anos: inclusão de intencionalidade
➔ De 7 a 11 anos: esboços de regras estabelecidos
➔ É importante observar também o uso que a criança faz da linguagem, sua ligação co a brincadeira
que desenvolve e com a idade

MODALIDADES DE BRINCADEIRAS

➔ Forma em que o ego manifesta a função simbólica


➔ Plasticidade: quando a criança apelar para uma certa riqueza de recursos egóicos a fim de
expressar diferentes situações com um critério econômico, pela via do menor esforço
➔ Rigidez: geralmente usada diante de ansiedades muito primitivas
➔ A criança adere a certos mediadores, de modo exclusivo e predominante, para expressar a mesma
fantasia
➔ Modalidade não adaptativa vista em crianças neuróticas
➔ Estereotipia e perseverança: uma das modalidades mais patológicas de funcionamento egóico
➔ Caracteriza-se pelo brincar repetido e sem sentido
➔ Manifesta desconexão com o mundo externo cuja única finalidade é a descarga
➔ Atitude típica de crianças psicóticas e com lesões orgânicas

PERSONIFICAÇÃO

➔ Capacidade de assumir e atribuir papéis de forma dramática


➔ A capacidade de personificação muda conforme o período evolutivo
➔ Crianças muito pequenas: realização do desejo é expressa de modo mais imediato e a
identificação introjetiva é utilizada como mecanismo fundamental
➔ Assume o papel do outro, fazendo seu próprio personagem temido ou desejado
➔ Na latência: a criança tende a dramatizar papéis definidos socialmente com menor expressão da
fantasia devido ao aumento da repressão
➔ Pré-púberes: inibição desta capacidade, pois a atuação real de suas fantasias torna-se possível
➔ Escolhe objetos mais afastados do meio familiar através de um deslocamento, que se expressa,
fundamentalmente, na área simbólica
➔ Adolescentes: personificação readquire importância e é usada como meio de expressão
➔ Personificação como elemento comum a todos os períodos evolutivos normais: possibilita a
elaboração de situações traumáticas, a aprendizagem de papéis sociais, a compreensão do papel
do outro e o ajuste da própria conduta em função disso
➔ Observação: a passagem de um período para o outro não é linear e implica progressões e
regressões
➔ Análise do conteúdo da personificação possibilita avaliar o equilíbrio entre o id, o superego e a
realidade (elemento fundamental na construção do prognóstico e do diagnóstico)
➔ O equilíbrio é alcançado quando o superego se torna mais permissivo e reflete com maior realidade
as figuras de autoridade real (= menor sadismo)
➔ Isso permite ao ego a satisfação de desejos e impulsos, sem entrar em conflito com a realidade
➔ Instruções incluem: explicitação de papéis de modo que a criança explique as características do
papel atribuído para que fique bem definido e responda às fantasias projetadas

MOTRICIDADE

➔ Indicador que permite averiguar se a idade evolutiva está adequada à motricidade da criança
➔ Problemas motores podem corresponder a fatores ambientais, neurológicos ou psicológicos, com
predominância de um ou a uma interrelação entre eles
➔ HDJD: permite ao psicólogo observar a falta de funcionalidade motora
➔ Instrumentos mais sensíveis são necessários para averiguar a qualidade, a intensidade e a origem
do problema
➔ É importante levar em consideração o estágio evolutivo da criança, bem como as recorrências que
podem ser encontradas dentro do processo psicodiagnóstico
➔ Manipulação adequada das possibilidades motoras: permite o domínio dos objetos do mundo
externo e a possibilidade de satisfação das necessidades com autonomia relativa
➔ Comunicação gestual e postural: enriquece a mensagem e pode mostrar aspectos dissociados
que manifestam discordância entre o que é dito e expresso corporalmente
➔ O bom uso do corpo produz prazer e resulta no fortalecimento egóico (permite o alcance de novos
ganhos, facilita a sublimação, quando a criança está preparada para isso)

Aspectos a serem observados neste indicador:

➔ A imaturidade ou a dificuldade em nível motor costumam responder a uma falta de estimulação


ambiental no momento da aquisição das funções, manifestada depois na falta de jeito nos
movimentos delicados (problemas na escrita)

CRIATIVIDADE

➔ Criar: unir ou relacionar elementos dispersos num elemento novo e diferente


➔ Exige um ego plástico capaz de abertura para novas experiências e tolerante à não estruturação
do campo
➔ Finalidade (deliberada): descobrir uma organização bem -sucedida, gratificante e enriquecedora,
produto de equilíbrio adequado entre o princípio do prazer e o princípio da realidade
➔ Dinâmica interna: expressa por meio do interjogo entre a projeção e a reintrojeção do projetado,
modificado e transformado em um produto qualitativamente diferente, promotor do crescimento e
da mudança estrutural que se transforma num incremento de capacidade de aprendizagem
➔ O que diferencia a criatividade da produção original do psicótico (que opera como descarga do id)
é o seu aspecto deliberado e a serviço do ego
➔ A alteração dessa função pode se dar em duas direções opostas:
1) Uma submissão extrema à realidade desagradável (= pobreza interna e falta de ganhos adequados
no mundo externo), indicadora de elementos destrutivos e masoquistas
2) Absoluta intolerância à frustração e o afeto concomitante que ela desperta (= ego imaturo que não
pode adiar desejos insatisfeitos), que leva a evacuar através da atuação ou uma desconexão com
o meio e a concomitante satisfação narcisista de necessidades (autoabastecimento)

TOLERÂNCIA À FRUSTRAÇÃO

➔ Durante a HDJD, é percebida pela possibilidade de aceitar instruções com as limitações que elas
impõem e pelo desenvolvimento da atividade lúdica
➔ É importante em nível diagnóstico, mas é fundamental quanto ao prognóstico
➔ É necessário averiguar onde está localizada a fonte de frustração: mundo interno (desenhar algo
além de suas capacidades) ou no mundo externo (desejar algo que não está presente), bem como
a reação ante ela (encontrar elementos substitutivos oi desorganizar-se
➔ Capacidade de tolerância à frustração: relaciona-se ao princípio do prazer e de realidade

CAPACIDADE SIMBÓLICA

➔ Brincar: forma de expressão da capacidade simbólica e via de acesso à fantasias inconscientes


➔ Uma quantidade adequada de angústia é a base necessária para a formação de símbolos
➔ Pelo brincar, a criança consegue a emergência das fantasias através de objetos suficientemente
afastados do conflito primitivo e que cumprem o papel de mediadores
➔ O símbolo deve estar suficientemente próximo do objeto primário simbolizado para permitir sua
expressão deformada
➔ Maior número de elementos utilizados para expressar o mundo interno equivale a maiores
possibilidades egóicas (reflexos da realidade em uma série de significados adquiridos mediante o
processo de capacitação para simbolizar)
➔ Valoriza-se a possibilidade de criar símbolos e analisa-se a dinâmica de seu significado
➔ Cada símbolo adquire sentido no contexto no qual se expressa
➔ Quanto mais a criança cresce, maior ´a distância entre o símbolo e o simbolizado
➔ Crianças pequenas: seguem as leis do processo primário, predominando na latência, o processo
secundário
➔ Quanto maior o deslocamento, menor a resistência que o ego põe
➔ Deve-se, também, levar em conta a relação entre o elemento mediador que expressa a fantasia e
a idade cronológica

Através da capacidade simbólica, pode-se avaliar:

1) A riqueza expressiva
2) A capacidade intelectual
3) A qualidade do conflito

ADEQUAÇÃO À REALIDADE

➔ Um dos primeiros a se levar em conta na hora da análise de uma hora de jogo


➔ Manifesta-se pela possibilidade de se desprender da mãe e atuar de acordo com a idade
cronológica, demonstrando compreensão e aceitação das instruções

Possibilidades egóicas relacionadas à adequação da realidade:

1) Aceitação ou não do enquadramento espaço-temporal com as limitações que isso implica


2) Possibilidade de colocar-se em seu papel e aceitar o papel do outro
➔ Não poder adequar-se implica em um déficit na discriminação do ego-não-ego

O BRINCAR DA CRIANÇA PSICÓTICA

➔ A dificuldade de brincar é o índice mais evidente das características psicóticas presentes numa
criança seriamente perturbada
➔ Brincar implica a possibilidade de simbolizar
➔ No psicótico, significante e significado são a mesma coisa (equação simbólica)
➔ No entanto, a criança pode apresentar partes da personalidade mais preservadas ou que
conseguiram uma organização não psicótica
➔ A possibilidade de expressão do conflito depende da quantidade e da qualidade da interrelação
destas partes (da inibição total ou parcial até a desorganização da conduta)
➔ Pseudobrincadeira: a criança aparenta brincar, mas há ausência total ou parcial da simbolização
(ela só descarrega uma fantasia)

A estrutura psicótica evidencia-se nos diversos indicadores:

➔ Não se adequa à realidade (se manipula com predomínio do processo primário, distorcendo a
percepção do mundo externo e, na situação diagnóstica, a relação ou o vínculo com o psicólogo)
➔ A capacidade simbólica fica relegada pela predominância de equações simbólicas
➔ Perseverança ou estereotipia na conduta verbal e pré-verbal (ainda que também ocorram em
quadros orgânicos ou em neuroses graves)
➔ Dificuldade de tolerância e aprendizagem
➔ Prognóstico: deve-se considerar, no desenvolvimento da HDJD, os elementos que impliquem uma
possibilidade de conexão com o psicólogo e/ou com o objeto intermediário

O BRINCAR DA CRIANÇA NEURÓTICA

➔ Capacidade simbólica desenvolvida


➔ Possibilidade de expressão de seus conflitos no “como se” da situação lúdica
➔ Capacidade de discriminar e evidenciar um melhor interjogo entre fantasia e realidade
➔ É necessário levar em consideração o grau e a qualidade da comunicação com o psicólogo e com
os brinquedos, manifestado através do deslocamento do seu mundo interno
➔ Dinâmica do conflito neurótico: ocorre entre os impulsos e sua relação com a realidade
➔ Utiliza-se de uma série de condutas defensivas (=empobrecimento egóico) cujas características
dependerão das áreas afetadas
➔ Quadro nosográfico: determinado pela predominância de certos tipos de defesa
➔ Adequação relativa à realidade, que depende dos termos do conflito
➔ Tentativa de satisfação do princípio do prazer que leva à culpa não tolerada pelo ego, que desloca
o impulso para objetos substitutivos afastados do original
➔ Deslocamento (a serviço da repressão) → círculo vicioso→ não consegue satisfação→ recorre a
novos deslocamentos→ deslocamentos (mais uma vez) evidenciam o conflito
➔ Resultado: capacidade de aprendizagem e possibilidades criativas limitadas, pois dependem de
uma síntese egóica
➔ Baixo limiar de tolerância à frustração ou a superadaptação em certas áreas (manifestações de
fraqueza egóica intimamente relacionadas às características severas de seu superego e os termos
do conflito)
➔ As crianças dramatizam personagens mais próximos aos modelos reais, com menos carga de
onipotência e maldade

O BRINCAR DA CRIANÇA NORMAL

➔ Conflito não é sinônimo de doença (cada período evolutivo possui situações conflitivas
➔ O equilíbrio estrutural permite à criança normal a superação dos conflitos e, por consequência, que
ela saia enriquecida
➔ Personificação no brincar: modelos atuais aproximam-se dos objetos reais representados
➔ A criança dá livre curso à fantasia (atribui e assume diferentes papéis na situação de vínculo com
o psicólogo, ampliando as possibilidades comunicativas)
➔ A HDJD pode apresentar momentos alternantes com diferentes qualidades ou características
➔ Da normalidade à psicose, passando pela neurose estabelece-se um continuum, dentro do qual
estes matizes determinam as diferenças quantitativas e qualitativas

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