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Curso de Psicologia
Psicodiagnóstico
PIRACICABA-SP
2020
UNIMEP – UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA
Curso de Psicologia
Psicodiagnósto
PIRACICABA – SP
2020
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
a. Objeto de estudo 03
b. Noção de sujeito 06
2. MÉTODO
a. O psicodiagnóstico clássico em Psicanálise 08
b. Testes projetivos 14
i. Teste de Rorschach 17
ii. Teste de apercepção infantil com figuras de animais –CAT-
A 17
3. CASO CLÍNICO
a. Sobre a dermatite atópica 19
b. Método 20
c. Resultados 21
d. Discussão 25
4. CONCLUSÃO
a. Limites e possibilidades 27
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 29
1. INTRODUÇÃO
Para falarmos o que é anormal, temos que ter um ideal de normalidade, determinado a partir
de padrões de comportamentos, pensamentos, estados mentais e condutas observáveis, que podem
ser medidos, testados e catalogados, de forma que indique o que é um estado de saúde e de doença
mental. Diferentes autores vão atribuir o que entendem como normalidade; portanto uma conduta
humana “saudável” geralmente é avaliada de acordo com parâmetros e dogmas pré-estabelecidos.
(DALGALARRONDO, 2008)
Alguns autores como Canguilhem (2009), compreenderá a patologia como uma variação
normativa da vida, relacionando-se a vida e não a saúde do indivíduo. Dito isso, vai promover um
corte epistemológico e estabelecer a anulação de uma norma, para que se afirme a existência de
saúde ou doença, transformando apenas esses conceitos em um tipo de ideal vago e que nunca
será alcançado, principalmente quando o sujeito é composto por suas subjetividades e
características únicas em sua integralidade. É possível perceber que em cada cultura ou época, irá
ter a sua perspectiva sobre o conceito saúde/doença. O autor afirma que:
Posto isto, o saber sobre o diagnóstico não pode estar somente associado a realidade do
indivíduo, pois o psicodiagnóstico deriva da junção entre a psicologia clínica e a tradição médica.
O início do psicodiagnóstico é atribuído a Galton, Cattell e Binet, que iniciaram os seus estudos
por volta do final século XIX. Tiveram trabalhos importantíssimos para sua época e que até hoje
são referências no campo da psicologia. Galton trouxe contribuições com o estudo das diferenças
individuais, Cattel, no que lhe diz respeito, trouxe os testes mentais e Binet com a utilização de
testes psicológicos. (FERNÁNDEZ-BALLESTEROS, 1986 apud CUNHA, 2003)
Com o passar do tempo e o avanço da ciência, autores contemporâneos impuseram uma
nova visão ao termo, passando assim a ter um olhar mais clínico, que entende o indivíduo como
ser subjetivo. A partir de agora, seu objetivo é identificar no paciente o seu modo de
funcionamento psicológico, contribuindo para uma nova visão de avaliação psicológica,
observando sempre a importância da subjetividade e a relação estabelecido entre terapeuta e
paciente. (RIGONI e SÁ, 2016) É de extrema importância ressaltar que a avaliação psicológica
pode ser realizada por profissionais de qualquer área da psicologia, mas somente o psicólogo
clínico pode realizar o psicodiagnóstico.
O Psicodiagnóstico é uma metodologia científica, limitado no tempo, que utiliza técnicas
e testes psicológicos, em nível individual ou não, seja para entender problemas à luz de
pressupostos teóricos, identificar e avaliar aspectos específicos, seja para classificar o caso e
prever seu curso possível, comunicando os resultados, na base dos quais são propostas soluções,
se for o caso. (Cunha, 2003) Na literatura atual, instrui como procedimentos os princípios teóricos,
métodos e técnicas de investigação como: entrevista, observação, testes psicológicos e técnicas
projetivas, entrevista devolutiva e a elaboração de laudos, pareceres, entre outros. A escolha das
estratégias e dos instrumentos que serão utilizados depende do referencial teórico, objetivo e
finalidade da avaliação. É importante salientar que o psicodiagnóstico é um processo assentado
em princípios científicos e, diferente da psicoterapia que pode se perpetuar por anos, o
psicodiagnóstico apresenta um tempo determinado de atuação do psicólogo clínico. (CUNHA,
2003)
No psicodiagnóstico também há um levantamento de hipóteses, que o caracterizam assim
como um processo científico, e será a partir dos dados iniciais que se poderá estabelecer um plano
de avaliação. Esse plano terá como base as perguntas e hipóteses iniciais, que irão nortear o
psicólogo de quais instrumentos ele lançará mão e quando e como utilizá-los, vinculados sempre
com a história clínica e pessoal do sujeito e tendo como base as hipóteses iniciais e orientadas
pelos objetivos do psicodiagnóstico. (CUNHA, 2003)
a. Objeto de estudo
“Mas devemos ainda compreender que a vida psíquica está imersa nomundo
dos outros, no mundo daqueles a quem estamos ligados pela linguagem, por
nossas fantasias e nossos afetos. Nosso psiquismo prolonga, necessariamente,
o psiquismo do outro com quem nos relacionamos. As fontes de nossas
excitações são os vestígios deixados em nós pelo impacto do desejo do outro,
daquele ou daqueles que nos têm por objeto de seu desejo”
O conceito de sujeito não foi exatamente definido por Freud, em sua busca pela
compreensão da existência do aparelho psíquico e de suas diferenciações internas e
atividades, “Constata-se a tentativa de explicar algo que ultrapassasse a noção de indivíduo
centrada na razão e tocasse a construção subjetiva, a partirdo descentramento trazido pela
descoberta do inconsciente (BARROSO, 2012, p. 150).”
Somos uma espécie que sequer temos condições de sobreviver por algunsdias sem
um outro, e por isso nós dependemos de um outro, nós não podemos fazer tudo que
desejamos porque precisamos respeitar os limites do outro, precisamos limitar os nossos
desejos, nossas paixões e o nosso prazer até um nível que não destrua com o outro, porque
como somos seres essencialmente sociais que precisamos de um outro, destruir com o
outro significa destruir com nós mesmos, nesse sentido Freud compreende que o ser
humano acaba precisando limitar os seus desejos e seu prazer para poder viver em
sociedade.
Portanto Sbardelotto (2016) o ser humano nasce como um corpo biológico e ainda
não é um sujeito, para que ele se torne é precioso se constituir, o bebê necessita de um
outro semelhante que lhe ajude na sobrevivência, garantindo a satisfação de suas
necessidades biológicas, e é nessa relação com o outro e por meio da linguagem que irá
surgir o sujeito.
2. MÉTODO
a. O psicodiagnóstico
Ocampo, Arzeno e Piccolo (1979/1986, apud BARBIERI, 2010, p.509) afirma que
o psicodiagnóstico se refere ao modelo mais difundido na América Latina. Esse modelo
é resultado de diversas modificações que ocorreram ao longo da história da psicologia.
No início, o psicodiagnóstico era voltado para o modelo médico, fazendo uso de testes
para encontrar sinais de patologias, visando também, em sua prática, a incorporação de
referencial psicanalítico.
“[...] essa incorporação deveria ser parcial, restrita à utilização de conceitos da
Psicanálise para a interpretação do material produzido pelo paciente.” Ocampo, Arzeno
e Piccolo (1979/1986 apud BARBIERI, 2010, p.509).
O deslocamento da prática do processo psicanalítico para a avaliação psicológica
era rejeitado veemente, pois isso indicaria aceitar atitudes do paciente que muitas vezes
são contrárias com a conduta necessária pararesponder aos instrumentos de exame, como
por exemplo atrasos, silêncios e produções espontâneas.
O cenário avaliativo e terapêutico fora diferenciados de forma clara, sendo que no
primeiro não havia intervenções.
Para Ocampo, Arzeno e Piccolo (2011, p.17) o processo psicodiagnóstico tem como
objetivo obter uma descrição e compreensão, sendo mais completa e mais profunda
possível, da personalidade do paciente ou do grupo familiar. Destaca-se também a
investigação de algum aspecto, segundo a sintomatologiae as características da indicação.
Engloba aspectos passados, presentes (diagnostico) e futuros (prognóstico) desta
personalidade, utilizando técnicas como: entrevista semidirigida, técnicas projetivas e
entrevista de devolução.
Cunha, Freitas e Raymundo (1986, apud BARBIERI, 2010, p.509)
definem o psicodiagnóstico como:
[...] um processo temporalmente limitado, que emprega métodos e técnicas
psicológicas para compreender os problemas, avaliar, classificar e prever o
curso do caso, culminando na comunicação dos resultados. Ele teria um caráter
científico porque parte de um levantamento prévio de hipóteses, a serem
confirmadas ou não por passos predeterminados, e seria estabelecido tão logo
as entrevistas permitissem levantá-las. Ele teria como objetivo conseguir uma
descrição e compreensão profunda e completa da personalidade do paciente,
visando explicar a dinâmica do caso no material recolhido,
integrando-o num quadro global para, a partir daí, formularrecomendações
terapêuticas.
Entrevista Inicial
A entrevista inicial é caracterizada como entrevista semidirigida, pois o paciente
tem a liberdade para expor seus problemas, havendo a intervenção do entrevistador
quando achar necessário, como em caso em que o entrevistado não sabe como começar
ou como continuar, para assinalar situações de bloqueio ou para indagar sobre aspectos
da conduta do entrevistado acerca de lacunas ou contradições nas informações do
paciente.
Ocampo, Arzeno e Piccolo (2011, p.23) recomendam começar com uma técnica
diretiva e em seguida trabalhar com a entrevista livre, possibilitando queo paciente se
expresse livremente o motivo de sua consulta. No último momento da entrevista deve
adotar uma técnica diretiva para preencher as lacunas. Esta sequência funciona como um
guia, cada psicólogo deverá saber qual o momentocerto para falar ou só escutar.
A entrevista semidirigida possibilita conhecer bem o paciente, extrair dados
necessários para a formulação da hipótese, planejar quais testes serão aplicados e
interpretar com maior precisão os dados dos testes e da entrevistafinal.
Ocampo, Arzeno e Piccolo (2011, p.25) afirmam que os testes projetivos, mesmo
sendo insubstituível, apresentam certas vantagens em relação a entrevista clínica. As
autoras salientam que a padronização dos testes permite ao diagnóstico uma maior
margem de segurança e exploração de condutas que não podem ser investigadas na
entrevista clínica (por exemplo, a conduta gráfica), sendo assim, os testes são
considerados instrumentos fundamentais.
Os critérios utilizados para a interpretação da entrevista inicial são os mesmos que
se utilizam para os testes. Sendo eles: o tipo de vínculo estabelecido pelo cliente com o
psicólogo, a transferência e a contratransferência, a classe de vínculo estabelecido com
outros, as ansiedades, as condutas defensivas, aspecto patológicos e adaptativos, o
diagnóstico e prognóstico.
Entrevista de devolução
Ocampo, Arzeno e Piccolo (2011, p.315) elaboraram critérios para realizar a
devolução. A devolução diagnóstica e prognostica deverá ser adaptada ao destinatário.
O objetivo básico da entrevista devolutiva é a transmissão de informaçãoque o
psicólogo faz. O segundo objetivo se refere à observação da respostaverbal e pré-
verbal do paciente e dos seus pais frente a recepção da mensagemdo psicólogo,
possibilitando emitir o diagnóstico e prognóstico com maiorexatidão, e também um
planejamento mais adequado da orientação terapêutica.Uma entrevista de devolução
tem alguns parâmetros a serem seguidos,
mas não é estático:
a) Do ponto de vista do paciente: Com a criança o ponto de vista fundamenta-seem não
privá-lo dessa informação, a comunicação deve ser circular, ou seja, deve ser direcionado
a todos os interessados e principalmente ao cliente. A devolução da informação aos pais
e ao filho deve ser feita separadamente, pois assim favorecerá a discriminação de
identidade dentro do grupo familiar. A devolução funciona como mecanismo de
reintrojeção, sobretudo de sua identidade latente. Caso não realizar a devolutiva ao
paciente, ele poderá sentir-se como um terceiro excluído de uma comunicação, a qual tem
direito por ser oprincipal interessado. O paciente se sentirá mais comprometido e disposto
a colaborar com o processo se ele souber que, no final, as informações lhe serão
fornecidas, assim permitirá que se veja com mais critério de realidade, caso contrário, a
criança verá o psicólogo, a princípio, como uma figura ameaçadora e intensificando a
fantasia de doença, gravidade, incurabilidade, etc.
Ocampo, Arzeno e Piccolo (2011, p. 318) afirma que todas as razões invocadas em
pacientes crianças são válidas em pacientes adolescente, devendo ter maior ênfase no que
se refere ao terceiro excluído quando não houver a devolução de informação.
Quando se trata de um adolescente, isto tem uma maior transcendência pela
reativação dos problemas ligados ao conflito edipiano, unida ao luto pela
identidade infantil perdida e à necessidadede assumir uma nova identidade.
(OCAMPO; ARZENO; PICCOLO, 2011, p. 318)
b) Do ponto de vista dos pais do paciente: A devolutiva aos pais é importante para a
reintegração da imagem do filho, deles e do grupo familiar, possibilitando tomar
consciência da real identidade do paciente, das mudanças que deverão aceitar no filho,
neles e no grupo familiar. (OCAMPO; ARZENO; PICCOLO, 2011,p. 318)
c) Do ponto de vista do Psicólogo: É importante para preservar a saúde mental do
psicólogo.
A entrevista de devolução permite um conhecimento a mais do caso,
possibilitando planejar uma terapia com maior sentido de realidade.
A devolutiva serve também para compreender o que ocorre, se a hipóteseque foi
elaborada anteriormente foi validada.
Ocampo, Arzeno e Piccolo (2011, p. 320) salientam que o psicólogo devediscriminar
o que deve ou não ser dito para o paciente, por um lado, e para os
pais, por outro, e deixam claro que a informação deve ser dosificada para evitarsituações
traumáticas.
b. Testes Projetivos
Segundo Pinto (2014) os métodos projetivos foram assim designados entre 1939-
1965 quando diversos testes utilizados foram reunidos sob um mesmo termo. De acordo
com Frank (1939 APUD PINTO, 2014, p.136) as técnicas projetivas oferecem “acesso ao
mundo dos sentidos, significados, padrões e sentimentos, revelando aquilo que o sujeito
não pode ou não quer dizer”, e com isso é possível compreender aspectos latentes ou
encobertos da personalidade.
Segundo a autora, os métodos projetivos são utilizados desde o início do século XX,
e sua invenção se deu por meio da confluência de duas grandes correntes teóricas: o
Gestaltismo e a Psicanálise (ANZIEU, 1988 APUD PINTO,2014).
Para Arzeno e Ocampo (2011), os testes projetivos são insubstituíveis e
imprescindíveis, pois apresentam certas vantagens no processo psicodiagnóstico, entre
elas:
Arzeno e Ocampo (2011), afirmam que após a bateria de testes ter sido planejada,
é necessário ter em vista que o processo diagnóstico deve ser amploo suficiente para a
compreensão do paciente e, ao mesmo tempo, não deve se exceder, pois isto implica na
alteração no vínculo psicólogo/paciente. Neste momento do psicodiagnóstico existem
mais desvios em relação a duração usual, porém, em termos gerais, o indicado é que os
testes ocupem entre duas e quatroentrevistas destinadas a examinar o paciente.
Segundo Arzeno e Ocampo (2011), quando um teste mobiliza uma conduta que
corresponde ao sintoma, este nunca deve ser aplicado primeiro, pois colocao paciente em
uma situação mais ansiógena ou deficitária, sem estabelecer uma relação adequada.
Portanto, estes devem ser aplicados em sessões posteriores,mas também não deve ocorrer
na última.
Testes gráficos são os mais adequados para o início de um exame psicológico por
terem aspectos mais dissociativos, menos sentidos como próprios e por serem econômicos
quanto ao tempo gasto em sua aplicação. A conduta gráfica se relaciona com os aspectos
infantis da personalidade e o tipo de vínculo que o paciente mantém com esses aspectos.
O material consiste empapel branco e lápis, tal simplicidade contribui para tranquilizar o
paciente. Entreestes tipos de teste é importante incluir diferentes conteúdos relacionados
ao tema solicitado, partindo do mais ambíguo para o mais específico, e serem aplicados
sucessivamente possibilitando a comparação entre eles. Através das sequências aplicadas
é possível verificar se o sujeito se organiza ou desorganizaao longo do tempo. Este tipo de
teste reflete os aspectos mais estáveis da personalidade e mais difíceis de serem
modificados. (ARZENO, OCAMPO, 2011).
Como foi mencionado, a bateria projetiva deve conter testes gráficos, verbais e
lúdicos, e em relação aos testes de inteligência, estes são colocados
no final da bateria, para evitar o risco de consequências desfavoráveis tanto para o
diagnóstico, quanto para a relação psicólogo/paciente. Estes apresentam material,
conteúdo, dinâmica, método e objetivo distinto dos projetivos, portanto,é preferível incluí-
los no final. Segundo Arzeno e Ocampo (2011, p.55), as técnicas e testes projetivos
i. Teste de Rorschach
O teste de Rorschach foi criado pelo psiquiatra Hermann Rorschach em 1921, em
Zurique – Suíça. Segundo Lilienfeld, Wood, Garb (2001 APUD ROITBERG;
RODRIGUES; SANTOS-SILVA, 2017), este método consiste em uma técnica de
avaliação utilizada em diversos países e é um dos mais importantes testes projetivos. Ele
consiste em o paciente dar respostas sobre o que é visto nas dez pranchas com machas de
tinta simétricas, e a partir das respostas, procura-se compreender a dinâmica do indivíduo.
O teste de Apercepção Infantil (CAT), foi criado por Leopold e Sonya Bellack em
1949, ao constarem que é mais fácil para as crianças pequenas se identificarem com
animais do que com pessoas. Esta técnica possui três formasdistintas do CAT, são elas:
É possível constatar que cada modelo do teste possui diferenças em sua forma e
objetivo, e será dado foco ao CAT-A, pois será utilizado no caso estudado adiante.
Segundo Roitberg, Rodrigues e Santos-Silva (2017, p.392), ele tem como objetivo
resgatar processos projetivos sob forma de histórias e estudar “a dinâmica das relações
interpessoais, a natureza e a força dos impulsos e tendências, assim como as defesas
organizadas contra eles”.
As relações entre pele e mente há muito têm sido objeto de várias pesquisas. Assim
como ocorre com outros órgãos do corpo humano, a pele também é vulnerável ao estresse
que o organismo sofre (Dias, 2007), assim como à influência dos estados emocionais
(Ludwing et al., 2008). De maneira que fica clara a mediação psíquica no adoecimento
da pele (Dias, 2007), sendo essa interdependência o objeto de estudo da interface entre a
Psicologia e a Medicina conhecida como Psicodermatologia (Ludwing et al., 2008).
Pesquisadores como Dias (2007) consideram a pele um dos órgãos da relação com o outro,
onde as vivências emocionais podem ser representadas, sendo umlocal de demonstração
de conflitos e emoções. À vista disso, estudos sugerem que fatores psicológicos e sociais
exercem um papel na patogênese e curso de muitas doenças dermatológicas (Dias, 2007;
Picardi&Pasquini, 2007). Outrossim, como apontam Ludwing et al. (2008), a via
contrária também é verdadeira, já que problemas de pele também causam problemas
psicossociais,uma vez que sendo um canal de comunicação não verbal está exposta ao
olhardo outro e ao constrangimento.
Segundo Ribeiro (2007), em casos de doença crônica, os padrões das famílias são
alterados para sempre, assim como os papéis e tarefas dos seus membros. Algumas se
tornarão mais próximas, a ponto de se tornarem aglutinadas, o que limita a independência
do familiar doente, outras poderão se afastar perante o estresse que a doença causa,
chegando a separação ou divorcio dos pais. Um exemplo desse tipo de doença é a
dermatite atópica, em um estudo realizado por Aziah, Rosnah, Mardziah e Norzila (2002)
tanto as famílias quanto as suas crianças com tal diagnóstico apresentavam dificuldades
psicológicas, sociais e funcionais.
b. Método
c. Resultados
Com base nesses encontros sabe-se que a paciente, a qual será chamadade Maria,
tem 12 anos de idade. É a primogênita da família, tendo apenas uma irmã sete anos mais
nova. Ao contrário dessa criança, caracterizada pela mãe como um exemplo de saúde, a
paciente tem problemas somáticos desde a primeira infância, incluindo problemas
respiratórios e alérgicos, sendo que dois anos antes do início do psicodiagnóstico
apareceram as lesões dermatológicas.O médico fez o encaminhamento para o tratamento
psicológico, quando confirmou em laudo o diagnóstico de dermatite atópica.
Sobre o relacionamento com a mãe, Maria disse que o relacionamento dasduas não
era o de mãe e filha, sendo mais próximo ao que ocorreria entre amigas, nas suas palavras
“(a mãe) é como se fosse uma amiga, a avó é que secomporta como mãe”. Este relato
indica que Madalena não preserva os papéis, sendo que a paciente só percebe a mãe
usando a função materna quando lhe dá bronca, já que diz que “ela é a mãe quando dá
bronca”. Maria exemplifica tal dinâmica familiar com o comportamento materno de
assistir, junto com a filha, filmes e séries que não são recomendados para adolescentes da
sua idade.
A adolescente tem conflitos frequentes com a única irmã de sete anos de idade. É
um relacionamento caracterizado pela ambivalência, já que reconhece que a menina
aprende as coisas consigo, sendo Maria um modelo, algo que valoriza, mas também
reclama de tal comportamento, dizendo que a criança a está imitando e que não gosta
disso. Outro ponto importante é o ciúme que temdela com relação ao pai, já que entende
que ele gosta apenas da filha mais nova,situação em que demonstra desejar o amor paterno.
Método de Rorschach
Para a aplicação foi necessária apenas uma entrevista de uma hora. O método de
interpretação usado foi o psicanalítico.
Tal aplicação também foi realizada em apenas uma entrevista de uma hora.Com base
nesse teste podemos dizer que a paciente tem fantasia de desamparo. Demonstra isso
quando contesta a capacidade da mãe em desempenhar a função materna, de forma que
precisa que a genitora compartilhe essa função com o pai e principalmente com a avó
materna. Isso ocorre provavelmente porque a adolescente sentiu que foi abandonada
muito cedo, possivelmente devido à percepção de falta de maternagem, já que teve uma
mãe deprimida, decorrente de uma gravidez muito complicada, quando a feminilidade da
mãe foi colocada em jogo, provocando medos e ansiedades nesta.
O tema da morte foi recorrente nas pranchas como aquilo que ocorre com aquele
que não consegue cuidar de si. Provavelmente isso está relacionado comas dificuldades da
saúde da paciente e com a percepção que tem dos pais, o paisendo ausente e a mãe sendo
uma mulher que não consegue cuidar da sua família.
Existe a possibilidade de a mãe ser cuidadosa, já que zela por ela, mas a adolescente
parece não sentir isso como forma de amparo, mesmo existindo uma relação muito forte
entre elas desde o momento da gestação, uma vez quesituações penosas aconteceram
nesse período.
Tal dificuldade de conceber essa relação como sendo cuidadosa também pode ser
relacionada com a negação muito presente no teste. Tal característica pode fazer com que
ela se isole das pessoas, já que tem um conceito muito particular de como elas a veem, a
ponto de entender que ninguém dá atenção ao que está lhe acontecendo, precisando
adoecer para ser percebida, ou seja, uma representação inconsciente que se ficar enferma
conseguirá atenção.Sendo o adoecimento, portanto, um ganho secundário, relacionado
também à percepção de que a figura de autoridade é rígida, mas pode ser acolhedora se a
paciente demonstrar muito sofrimento, sentindo, portanto, que tem que parecer sofrer
muito para ser perdoada pelo que fez de errado, ou seja, ela necessita ser redimida pela
culpa que sofre devido a sua agressividade para poder ter o carinho que deseja, de forma
que tal redenção viria por meio do sofrimento causado pela doença.
Versão brasileira da Toronto AlexithymiaScale
d. Discussão
Os afetos tendem a prejudicar o seu trabalho intelectual. O que pode levar a atitude
de descaso ao conteúdo interno, postura continuamente adotada pela paciente, ainda assim
consegue desempenhar as atividades intelectuais que lhesão incumbidas, mesmo as que
exigem criatividade e expressão artística, apesarda dificuldade que a sua afetividade pode
lhe dar. Como apontam Risso e Rodrigues (2004) em um estudo de caso, cabe aqui usar
o termo desafetação de McDogall (1991) já que Maria não sofre de uma incapacidade de
exprimir emoção, mas sim de uma dificuldade de conter o seu excesso, não podendo
assim refletir sobre as suas experiências. Não sendo, portanto, um caso de paciente
alexitímico, pois a adolescente apesar de não conseguir expressar os seus sentimentos
abertamente, sabe o que sente e tem um colorido na sua expressão. Mesmo que tais
capacidades não tenham sido identificadas nas escalas utilizadas nesse estudo.
Um dos passos, como já citado anteriormente, seria a entrevista inicial, que tem
como característica, uma entrevista semidirigida e por conta disso, esta entrevista
possibilitara um melhor conhecimento do paciente, extraindo dados pertinentes para que
seja possível formular hipóteses e com isso planejar quais os testes que melhor se
encaixam no perfil do cliente. Mas, dependendo dos objetivos que será atribuído ao
Psicodiagnóstico, a abordagem pode se tornar menos diretiva ou formal, já que buscará
compreender a pessoa juntamente comas circunstâncias e acontecimentos de sua vida
presente e passada. “Visa-se descrever o problema atual e colocá-lo numa perspectiva
histórica para apreender o seu significado dentro de um processo vital, num contexto
temporal,afetivo e social”. (BARBIERI, 2010, p.510).