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RCC – CA DE ESÔFAGO remanescente.

Os movimentos terciários (não


peristálticos) não são sincronizados, podendo ocorrer
DEGLUTIÇÃO espontaneamente ou após deglutição ou distensão
O aparelho de deglutição é composto pela língua, esofágica.
palato mole, faringe, laringe (glote), Esfíncter A deglutição promove o relaxamento fisiológico do
Esofagiano Superior (EES), corpo do esôfago e EEI, permitindo que o alimento passe livremente para
Esfíncter Esofagiano Inferior (EEI). o estômago, ao ser empurrado pela peristalse. Ao
A faringe, o esfíncter esofagiano superior (músculo término da deglutição (quando o alimento já alcançou
cricofaríngeo) e o terço superior do corpo do esôfago o estômago), o EEI contrai, impedindo o refluxo do
("esôfago cervical") são constituídos de musculatura material gástrico para o esôfago.
esquelética; A distensão gástrica também pode levar a um
Enquanto os 2/3 inferiores do corpo do esôfago relaxamento transitório do EEI, permitindo a
("esôfago torácico") e o Esfíncter Esofagiano Inferior eructação (arroto)...
(EEI) são constituídos de musculatura lisa. Podemos dizer que o esôfago possui três funções
FASE OROFARINGIANA básicas:

O processo de deglutição começa por uma fase - Conduzir o alimento da faringe ao estômago
voluntária (fase oral), na qual o bolo alimentar (peristalse, relaxamento dos esfíncteres);
(preparado pela mastigação e salivação) é lançado à - Evitar a deglutição de ar, ou aerofagia, durante a
faringe pela contração da musculatura da língua. respiração (tônus do EES);
A partir desse instante, uma série de movimentos - Evitar que o alimento retorne do estômago (tônus
musculares involuntários (o "reflexo da deglutição"), do EEI).
plenamente coordenados, se inicia, permitindo que
em menos de um segundo o bolo alimentar chegue ao A maioria dos distúrbios do esôfago se deve à
esôfago, sem penetrar no trato respiratório... Durante interferência nessas funções, frequentemente
esse curtíssimo tempo, a laringe se move para cima e resultando em sinais e sintomas:
para frente (fechando a epiglote e protegendo a via
- Disfagia: Dificuldade na deglutição.
aérea), enquanto a contração da faringe superior e do
palato mole empurram o alimento para baixo, - Odinofagia: Dor à deglutição.
iniciando o movimento peristáltico.
- Pirose: Sensação de queimação retroesternal.
O EES relaxa, permitindo o trânsito do bolo alimentar
até o corpo do esôfago. - Regurgitação: Retorno do alimento através do
esôfago até a boca.
Essa fase reflexa é controlada pelo SNC, utilizando
nervos cranianos bulbares: glossofaríngeo (IX par), - Cólica esofagiana: Dor retroesternal "em aperto".
que provêm a inervação sensitiva (aferência); e os - Hematêmese: Vômito de sangue (sangue vivo ou
nervos vago (X par) e hipoglosso (XII par), que provêm coagulado).
a inervação motora (eferência).
- Sialose: Hiper salivação.
FASE ESOFÁGICA
DISFAGIA
A musculatura lisa presente no corpo do esôfago e EEI
sofre influência dos interneurônios do plexo A "dificuldade de engolir alimentos" (disfagia) pode
mioentérico (rede neuronal do tubo digestivo) que, ocorrer no início da deglutição, ou seja, na
por sua vez, faz contato com o sistema nervoso transferência do alimento da boca para o esôfago
autônomo. (fase orofaríngea) ou na condução do bolo alimentar
até o estômago (fase esofágica).
O movimento peristáltico inclui uma fase inicial de
relaxamento (inibição), seguida de contração. Ele é Existem dois tipos básicos de disfagia, de acordo com
feito de forma sincronizada, sempre empurrando o o mecanismo: disfagia mecânica, quando existe um
alimento na direção do estômago. estreitamento anatômico do conduto (oral, faríngeo
ou esofágico) ou um volume de bolo alimentar
Existem dois tipos de peristalse esofágica: (1) desproporcionalmente grande; e disfagia motora,
primária – aquela em resposta ao reflexo da quando o problema está na coordenação da
deglutição; (2) secundária – em resposta à distensão motilidade do conduto (orofaríngeo ou esofágico).
mecânica do esôfago pelo bolo alimentar Ainda, de acordo com a sede do processo,
classificamos as disfagias mecânicas e motoras em três Se houver disfagia para sólidos e líquidos, devemos
grupos: pensar em uma obstrução mecânica muito severa, ou
então, mais comumente, se trata de um distúrbio
1-DISFAGIA OROFARÍNGEA (OU DE TRANSFERÊNCIA) motor do esôfago (seja neurológico ou muscular),
Na disfagia orofaríngea, o paciente tem dificuldade como: acalásia, espasmo esofagiano difuso,
em iniciar a deglutição, não conseguindo fazer com esclerodermia, etc.
que o alimento passe da boca para o esôfago. O Por outro lado, se houver disfagia APENAS para
paciente se engasga ao tentar deglutir, sólidos, provavelmente se trata de um distúrbio
experimentando regurgitação nasal e aspiração exclusivamente mecânico, em geral uma lesão
traqueal, seguida de tosse. Pode haver uma sensação anatômica obstrutiva (câncer, estenose péptica,
de desconforto na garganta ("disfagia cervical"). cáustica, compressão extrínseca, etc.).
Ocorre tanto para sólidos quanto para líquidos, e os Disfagia para sólidos progressivamente mais intensa
distúrbios que podem originá-la são aqueles que (semanas a meses) é um sinal muito sugestivo de
afetam os músculos esqueléticos ou a porção do câncer de esôfago!
sistema nervoso necessária para o controle
voluntário (fase oral) e involuntário (reflexo) da Disfagia para sólidos intermitente (meses a anos,
deglutição. intercalando-se períodos assintomáticos) sugere a
presença de membranas e anéis esofágicos.
A etiologia da disfagia orofaríngea é dividida em três
subgrupos: anatômica, neurológica e muscular. 3-PSEUDODISFAGIA (GLOBUS HYSTERICUS)
Outros sintomas comuns são a sialorreia (pela É uma sensação de "bolo na garganta", bastante
dificuldade de engolir a própria saliva) e disfonia (pelo comum na população. Está relacionada ao estresse
comprometimento concomitante do aparelho emocional e ocorre, pelo menos uma vez na vida, em
fonador). cerca de 45% das pessoas (53% das mulheres e 35%
dos homens).
O melhor exame para avaliar a disfagia de
transferência é a videofluoroscopia baritada O globus pode ser diferenciado da disfagia verdadeira
(videoesofagografia), testando a deglutição de "bolos" por duas características: (1) a sensação está presente
de variadas consistências. entre as refeições; e (2) quando o paciente engole
algum alimento, não sente seu "entalamento".
Disfunção Cricofaríngea
Os exames complementares (videofluoroscopia,
Este é um tipo especial de disfagia orofaríngea. A esofagografia, manometria, etc.) são todos normais. O
dificuldade desses pacientes é de impelir o alimento tratamento consiste em tranquilizar o paciente e
da faringe para o corpo esofágico, devido a uma indicar psicoterapia quando necessário.
constrição do EES, pela contratura do músculo
constritor inferior da faringe (cricofaríngeo). DISTÚRBIOS MOTORES PRIMÁRIOS DO ESÔFAGO
A "disfagia cervical" (sensação de bolo ou ACALÁSIA:
"entalamento" na garganta), associada à disfonia
intermitente é o quadro clínico mais comum. O ● Cardioespasmo
músculo cricofaríngeo auxilia o aparelho fonador, ao ● Aperistalse esofágica
distender as cordas vocais...
● Megaesôfago
Os sintomas do refluxo gastroesofágico estão
presentes em 30-90% dos indivíduos com esta A acalásia, termo que significa "não relaxamento"
entidade. ("calásia" = relaxamento), é o distúrbio motor
primário mais comum do esôfago, ocorrendo com
2-DISFAGIA ESOFAGIANA (OU DE CONDUÇÃO) - pct maior frequência em pacientes de 25 a 60 anos de
Na disfagia de condução, a dificuldade está no idade (especialmente antes dos 40 anos), sendo
transporte dos alimentos pelo esôfago até o caracterizado por:
estômago e, sendo assim, geralmente é relatada como ● Déficit de relaxamento fisiológico do Esfíncter
uma sensação de interrupção e estagnação do bolo Esofagiano Inferior (EEI) durante a deglutição
alimentar no tórax – o paciente se sente "entalado". (principal característica).
"É uma forma de disfagia que pode ser observada ● Graus variados de hipertonia do EEI (incluindo
tanto para sólidos quanto para líquidos, e pode ser tônus normal em alguns casos!!!).
intermitente ou progressiva".
● Substituição total (100%) da peristalse normal do - Quando devo suspeitar de acalásia?
corpo esofagiano por contrações anormais (as
peristalses anormais podem ser fracas, de pequena Sempre que houver disfagia e perda de peso ao longo
amplitude, na "acalásia clássica", ou extremamente de meses ou anos, associadas à regurgitação e tosse
vigorosas, na "acalásia vigorosa"). crônica (especialmente noturna).

Causa: Odinofagia não é um sintoma característico, mas pode


ocorrer principalmente nos estágios iniciais da
As alterações encontradas na acalásia são doença.
consequência da degeneração de neurônios do plexo
de Auerbach presente na parede esofagiana (seus A dor torácica (cólica esofagiana) é relatada apenas
corpos celulares são destruídos), o grande responsável por alguns pacientes, e resulta de contrações
pela coordenação motora do esôfago. vigorosas que tentam "vencer" o EEI ("acalásia
vigorosa").
Ocorre perda de interneurônios inibitórios, que
secretam óxido nítrico, e em casos avançados Tal fenômeno só costuma ser observado nas fases
também se observa a perda de neurônios iniciais da acalásia, quando a contratilidade do corpo
colinérgicos. esofagiano ainda não foi completamente perdida. À
medida que a doença progride, a cólica esofagiana
A disfunção do EEI e do corpo do esôfago obstrui a deixa de ser observada.
passagem do bolo alimentar, originando o principal
sintoma da acalásia: disfagia de condução, que ocorre A acalásia é uma lesão pré-maligna, sendo o
tanto para sólidos quanto para líquidos. A disfagia carcinoma escamoso o tipo histológico mais comum,
costuma surgir insidiosamente, desenvolvendo-se ao complicando tardiamente de 1 a 10% destes
longo de meses ou anos. pacientes, num tempo médio de 15 a 25 anos. O
mecanismo etiopatogênico é a irritação da mucosa
“Os pacientes com acalásia comem devagar, bebem promovida pelo material estagnado no corpo do
grandes quantidades de água para empurrar o esôfago, o que induz a formação de áreas de
alimento para o estômago e podem até contorcer o metaplasia e posterior neoplasia.
corpo (inclinando a parte superior do tronco, elevando
o queixo e estendendo o pescoço), para ajudar o CÂNCER DE ESÔFAGO
alimento a ‘descer’. Conforme mais água é deglutida,  Epidemiologia:
o peso da coluna líquida do esôfago aumenta, assim
como a sensação de plenitude retroesternal, até que o O câncer de esôfago está entre as dez neoplasias
EEI seja forçado a se abrir e um alívio repentino seja malignas mais incidentes no Brasil. É um câncer que
sentido à medida que o esôfago esvazia.” predomina no sexo masculino (escamoso = 3:1;
adenocarcinoma = 15:1), e geralmente se apresenta a
A obstrução à passagem do bolo alimentar faz com partir dos 40 anos de idade (a maior taxa de
que o esôfago retenha material não digerido, mortalidade é vista entre 60-70 anos). O tipo
podendo sobrevir graus variados de dilatação em seu escamoso é mais comum em negros, ao passo que o
corpo – o paciente geralmente desenvolve, em adenocarcinoma é raro neste grupo, sendo uma
associação às queixas de disfagia, sintomas de doença típica de brancos.
regurgitação e broncoaspiração desse material. A
maioria dos pacientes com acalásia em estágios Os países com maior incidência de CA de esôfago são
avançados desenvolve halitose. da Ásia e da África, como: China, Cingapura, Irã,
Rússia e África do Sul.
"A regurgitação de material alimentar não digerido
misturado com saliva ocorre em 1/3 dos pacientes e  Tipos histológicos:
pode resultar em crises de tosse e broncoespasmo –
Atualmente, se reconhecem dois tipos histológicos
que geralmente aparecem quando o paciente se deita
principais de câncer de esôfago:
– ou mesmo em episódios repetidos de pneumonia e
abscesso pulmonar, bem como na formação de (1) carcinoma escamoso (ou epidermoide); e
bronquiectasias, todos em função das
broncoaspirações." (2) adenocarcinoma.

A perda de peso é uma constante, mas geralmente é O carcinoma escamoso é derivado do epitélio
insidiosa, além de ser leve a moderada na maioria das estratificado não queratinizado, característico da
vezes – perda de peso importante e rápida deve mucosa normal do esôfago.
levantar a suspeita de câncer de esôfago! Nas últimas décadas tem sido observada uma queda
importante de sua incidência (motivo desconhecido),
com diminuição da diferença entre o carcinoma pacientes se aproxima a 95%, apresentando-se,
escamoso e o adenocarcinoma (que vem geralmente, após os 65 anos de idade.
aumentando!).
- Outros fatores: bulimia, infecções fúngicas crônicas,
A maioria dos fatores de risco para câncer de esôfago, HPV, exposição à radiação, história pessoal de câncer
que serão descritos adiante, são para este tipo no trato aerodigestivo (cabeça, pescoço e pulmão),
histológico! presença de divertículos no esôfago e doença celíaca.
O tumor se origina principalmente no terço médio do  Fatores de risco – adenocarcinoma:
órgão (em 50% dos casos).
O fator de risco mais importante é a presença do
O adenocarcinoma é derivado do epitélio de Barrett – epitélio de Barrett (metaplasia intestinal), secundário
metaplasia intestinal que complica alguns pacientes à forma erosiva da esofagite de refluxo.
com DRGE erosiva. Portanto, este tumor é localizado
no terço distal do esôfago e, eventualmente, se As células do epitélio de Barrett evoluem para câncer
confunde com o adenocarcinoma da cárdia (junção através de um processo de displasia progressiva (com
esofagogástrica). aneuploidia, mutações no gene p53, etc.).

Conforme dissemos ainda há pouco, esse tipo


histológico está aumentando em incidência... No
Brasil e em outros países pobres, o tipo mais comum
ainda é o escamoso.
Outros tipos histológicos são infrequentes:
leiomiossarcoma, melanoma (primário do esôfago),
linfoma e plasmocitoma.
Raramente, o esôfago também pode ser sede de
metástases de outros cânceres, em particular mama,
pulmão e melanoma primário da pele.
 Fatores de risco – carcinoma escamoso:
- Hábitos de vida: os principais fatores de risco para o Cerca de 10-15% dos pacientes com DRGE sintomática
CA escamoso, no Brasil e no mundo, são o etilismo e o desenvolvem esôfago de Barrett. Desses, cerca de 1 a
tabagismo. No Brasil, a grande maioria dos pacientes cada 200 pacientes-ano desenvolve adenocarcinoma
com CA escamoso do esôfago tem história de de esôfago (incidência de 0,5% ao ano).
tabagismo e etilismo pesado, este último geralmente
Recentemente, foi proposto que o tabagismo e a
de bebidas destiladas, como as aguardentes (o risco
obesidade também são fatores de risco para o
com cerveja e vinho é menor).
adenocarcinoma! O etilismo, por outro lado, NÃO está
Também é fator de risco a ingestão habitual de associado ao adeno (o consumo de vinho tinto,
bebidas muito quentes (em torno de 65°C), como o inclusive, parece reduzir a incidência de
chá consumido em algumas regiões do Irã e da Rússia. adenocarcinoma do esôfago)... Acredita-se também
que o uso de bisfosfonados orais (ex.: alendronato)
- Fatores dietéticos: (1) alimentos ricos em compostos esteja implicado no risco de câncer de esôfago (tanto
N-nitrosos, como os nitratos (metabolizados em escamoso quanto adenocarcinoma). O FDA
nitritos) e as nitrosaminas (ex.: produtos defumados); recomenda que esta classe de drogas seja
(2) contaminação com fungos produtores de toxina; e contraindicada nos portadores de esôfago de Barrett!
(3) deficiência de selênio, zinco, molibdênio e
vitaminas (principalmente vitamina A). REUSMINDO... Os fatores de risco mais importantes
para o carcinoma escamoso do esôfago são o
- Doenças esofágicas: (1) acalásia; (2) síndrome de tabagismo e o etilismo, enquanto o principal fator de
Plummer-Vinson; e (3) estenose cáustica - pacientes risco para o adenocarcinoma é a esofagite de refluxo
com história de ingestão de cáusticos – injúria – (com formação do epitélio de Barrett).
carcinoma
 Manifestações clínicas:
- Genética: a principal doença hereditária que
predispõe ao CA escamoso é a tilose palmar e plantar, Os sintomas iniciais podem ser inespecíficos, tais
um raro distúrbio genético autossômico dominante, como uma dor retroesternal mal definida ou queixas
caracterizado por hiperceratose na palma das mãos e de "indigestão".
planta dos pés. O risco de CA de esôfago nesses
No entanto, a principal manifestação clínica é a
disfagia, que geralmente se inicia para sólidos e, após
um período variável, evolui para líquidos.
A perda ponderal é um achado clássico, sendo
geralmente maior do que o esperado pelo grau de
disfagia e de evolução mais rápida, quando
comparada às condições benignas (ex.: acalásia).
Lesões mais avançadas apresentam-se com halitose e,
às vezes, tosse após ingestão de líquidos – a
dificuldade de ingestão de líquidos indica que o
lúmen já foi quase completamente comprometido ou,
menos comumente, indica a formação de uma fístula
esofagotraqueal ou esofagobrônquica.
A rouquidão por envolvimento do nervo laríngeo
recorrente e a hematêmese são sintomas menos
comuns.
Icterícia (infiltração hepática metastática) e dispneia
(infiltração pulmonar metastática) são manifestações
menos prevalentes, e indicam doença extremamente
avançada...
Para ter disfagia mecânica, o câncer já deve ter
envolvido grande parte da circunferência esofágica
(em geral > 2/3 do lúmen).
 Diagnóstico:
Em relação à localização do tumor, cerca de 50%
Os tumores de esôfago são mais bem diagnosticados encontram-se no terço médio, 25% no terço superior
pela análise conjunta da esofagografia baritada e 25% no terço inferior.
(preferencialmente com técnicas de duplo contraste) e
endoscopia digestiva alta (esofagoscopia) com Pelo aspecto endoscópico, o CA de esôfago pode ser
biópsia. classificado em três tipos:

No exame baritado, a diferenciação entre estenose (1) polipoide exofítico (60% dos casos);
péptica e câncer de esôfago não é difícil: neste último, (2) escavado ou ulcerado (25% dos casos); e
é nítida a irregularidade da mucosa e a súbita
transição entre o esôfago normal e a obstrução (3) plano ou infiltrativo (15% dos casos).
("sinal do degrau").
 Estadiamento:
A aparência radiológica da neoplasia de esôfago na
O câncer de esôfago se caracteriza por ter um
esofagografia é de uma súbita redução do lúmen
comportamento extremamente agressivo,
(aspecto de degrau de escada ou maçã mordida),
disseminando-se localmente e a distância.
diferente da observada em patologias benignas em
que o afunilamento é progressivo (ex.: aspecto em A rica rede linfática presente na lâmina própria e na
bico de pássaro na acalásia). submucosa (intramural) facilita a disseminação
linfonodal precoce mesmo para tumores superficiais e
pequenos. A ausência de serosa facilita a
disseminação do tumor para órgãos adjacentes (por
contiguidade)!!!
Os tumores do terço superior e médio invadem a
árvore traqueobrônquica, a aorta e o nervo laríngeo
recorrente, enquanto os tumores do terço distal
avançam sobre o diafragma, pericárdio e estômago.
Cerca de 75% dos pacientes diagnosticados com CA de
esôfago já apresentam invasão linfática no momento
do diagnóstico. Os tumores do terço superior ou ● Diagnóstico de CA de esôfago por biópsia
médio drenam para os linfonodos cervicais profundos endoscópica (precedida ou não pela realização de
(supraclaviculares), paraesofágicos, mediastínicos esofagografia);
posteriores e traqueobrônquicos.
● TC toracoabdominal para determinar a presença de
Os do terço distal, para os linfonodos paraesofágicos, metástases a distância – cuja existência já classifica o
celíacos e do hilo esplênico. doente no Estágio IV, independentemente de outros
fatores. O PET-scan tem sido cada vez mais utilizado
As metástases a distância mais importantes são: em associação à TC. Todavia, como se trata de exame
fígado e pulmão, ocorrendo também para ossos e menos específico (uma área de captação anormal
rins. pode corresponder, por exemplo, a uma infecção ou
O estadiamento do CA de esôfago se baseia na escala outro processo inflamatório), recomenda-se que
TNM (T = tumor, N = linfonodos, M = metástase a qualquer suspeita de metástase pelo PET seja
distância). Nos últimos anos constatou-se que o tipo confirmada por biópsia antes de se excluir o paciente
histológico também influencia o prognóstico e, por da possibilidade de tratamento cirúrgico;
este motivo, o AJCC (American Joint Committee on ● Na ausência de metástase a distância, um
Cancer) possui dois sistemas de estadiamento Ultrassom Endoscópico (USE) é realizado para avaliar
conforme o subtipo histológico. a penetração do tumor na parede esofagiana, bem
O chamado câncer de esôfago precoce é aquele que como avaliar a extensão da doença para os linfonodos
invade até a submucosa (T1 ou estágio I). locorregionais. Devido à excelente sensibilidade do
Infelizmente, esta é uma apresentação rara deste USE, a mediastinoscopia tem sido pouco indicada;
câncer.
Os exames utilizados para o estadiamento são:
● Ultrassom endoscópico atualmente é o melhor
exame para definir os componentes T e N do
estadiamento. Sempre que possível, o componente N
deve ser confirmado por meio da coleta de material
por PAAF (Punção Aspirativa com Agulha Fina).
● RX de tórax: alterado em 50% dos pacientes; pode
mostrar adenopatia mediastinal, derrame pleural e
metástases pulmonares.
● TC toracoabdominal: avalia o tamanho do tumor, os
linfonodos mediastinais e as metástases a distância ● A laparoscopia é considerada "opcional", sendo,
(ex.: fígado e linfonodos celíacos). contudo, fortemente recomendada em pacientes com
adenocarcinomas localizados na porção intra-
● Broncofibroscopia: mostra a invasão abdominal do esôfago ou próximos à junção
traqueobrônquica (fístula esofagotraqueal); indicada esofagogástrica, bem como nos pacientes com
especialmente nos cânceres do esôfago proximal e suspeita de disseminação intraperitoneal.
nos pacientes com tosse persistente.
 Prognóstico e tratamento:
● Mediastinoscopia e laparoscopia com biópsia:
avalia linfonodos e metástases a distância. Os A sobrevida em cinco anos do CA de esôfago, de
linfonodos celíacos são bem avaliados na laparoscopia acordo com o estadiamento final (clínico + cirúrgico) é
– o seu acometimento contraindica a cirurgia curativa a seguinte:
para a maioria dos autores. ● Estágio I: 60%;
● PET-scan: é mais sensível que a TC e o US ● Estágio II: 30%;
endoscópico para determinação de metástases a
distância. Apesar do alto custo, a tendência atual é ● Estágio III: 20%;
que se analisem conjuntamente os resultados da TC
● Estágio IV: 4%.
com o PET (PET-TC).
Em pacientes com razoável estado geral (nutridos,
A sequência de estadiamento que é seguida na grande
com albumina próximo ao normal) e sem
maioria dos casos, na prática, é a seguinte:
comorbidades preocupantes (cardiopatia,
pneumopatia, hepatopatia, nefropatia), a cirurgia
curativa pode ser tentada na ausência de metástases O estômago é dissecado (juntamente com seus vasos)
a distância (incluindo linfonodos a distância) e de um e "suspenso" para a cavidade torácica, para ser
T4 irressecável. anastomosado no espaço paravertebral do mediastino
posterior. A anastomose é realizada com grampeador.
Em pacientes com tumores T1 sem metástases (CA de
esôfago precoce), inclusive, pode-se optar pela Para evitar uma obstrução gástrica pós-vagotomia,
ressecção endoscópica da lesão. uma piloroplastia ou pilorotomia deve sempre ser
confeccionada.
Cerca de 40-50% dos pacientes com CA de esôfago
encontram-se no grupo "ressecável". Mesmo assim, a O principal risco desta cirurgia é a deiscência da
cura só é alcançada em 10-35% dos casos. anastomose intratorácica (abaixo da clavícula), que
leva à mediastinite grave, sepse e óbito em 50% dos
A estratégia cirúrgica curativa proposta pela maioria casos.
dos autores envolve a realização de esofagectomia +
linfadenectomia regional, com margens de segurança Muitos pacientes evoluem com problemas
de pelo menos 8 cm. pulmonares pós-operatórios, decorrentes da
toracotomia prolongada.
Vale ressaltar que a reconstrução do trânsito deve ser,
sempre que possível, com o estômago! Um estômago Outra complicação comum é a esofagite de refluxo (do
normal bem dissecado alcança prontamente o remanescente esofágico). A mortalidade operatória
pescoço em todos os pacientes. varia entre 7-20%.
A interposição do cólon tem a desvantagem de
requerer três anastomoses (coloesofagostomia,
colojejunostomia e colocolostomia), sendo uma
cirurgia de maior morbimortalidade. Só é indicada em
pacientes com gastrectomia total ou parcial prévia, ou
quando o tumor avança sobre o estômago.
Deve ser realizada rotineiramente uma jejunostomia
para alimentação enteral no pós-operatório.
No pré-operatório, em pacientes desnutridos por
disfagia, sempre que possível deve-se dilatar a
estenose com a implantação endoscópica de um stent
esofagiano, e inserir um cateter de Dobbhoff para
garantir aporte nutricional de pelo menos 2.000
kcal/dia, postergando a cirurgia até a melhora Esofagectomia com esofagogastrostomia. Veja em (A),
nutricional. Indivíduos com perda ponderal > 10% do a incisão da toracotomia lateral posterior direita. Em
peso habitual, bem como aqueles com níveis séricos (B), a parte do esôfago a ser ressecada (com o tumor).
de albumina < 3,4 g/dl, encontram-se com risco muito Em (C), a anastomose feita com o estômago. Observe
aumentado de complicações pós-cirúrgicas (ex.: a piloroplastia.
deiscência de anastomose). 2-Esofagectomia trans-hiatal: nesta cirurgia, não há
As duas técnicas mais utilizadas para esofagectomia incisão torácica: ela é executada através de uma
pelos cirurgiões torácicos são: incisão abdominal e outra cervical.

(1) esofagectomia transtorácica; e Pelo abdome, o estômago é mobilizado pela secção


dos vasos gastroepiploico esquerdo e gástrico
(2) esofagectomia trans-hiatal. esquerdo, preservando as arcadas gastroepiploica
direita e gástrica direita. A piloroplastia é realizada.
Cada uma possui vantagens e desvantagens sobre a
outra. O esôfago torácico inteiro (independentemente do
nível do tumor), desde as clavículas até a cárdia, é
1-Esofagectomia transtorácica: uma toracotomia dissecado pelo dedo do cirurgião, utilizando-se os
látero-posterior é realizada, bem como uma acessos cervical e trans-hiatal (pelo hiato
laparotomia mediana superior; o mediastino é diafragmático).
examinado quanto à presença de metástases
irressecáveis; se possível, o esôfago é ressecado com a A monitoração da pressão arterial deve ser cuidadosa
margem tumoral adequada, juntamente com os nesse momento, devido ao deslocamento cardíaco.
linfáticos periesofágicos, linfonodos paratraqueais,
pleura adjacente, veia ázigos e ducto torácico.
O estômago, então, é transposto para o mediastino A radioterapia não costuma ser feita de forma isolada
posterior e anastomosado com o esôfago cervical. na abordagem neoadjuvante (pré-operatória). Sua
principal utilidade é o controle local do tumor, mas
As vantagens deste procedimento são: por si só não confere aumento na sobrevida.
(1) evita-se uma toracotomia; A quimioterapia também não costuma ser feita de
(2) evita-se uma anastomose intratorácica, bem como forma isolada, e sua principal utilidade é o controle da
o risco de uma mediastinite – a deiscência da disseminação linfática do tumor.
anastomose cervical é de mais fácil controle; Já a radioquimioterapia neoadjuvante tem fornecido
(3) reduz bastante a chance de refluxo resultados mais favoráveis nos pacientes com CA de
gastroesofágico; e esôfago, sendo indicada principalmente nos estágios II
e III.
(4) mortalidade operatória de 4-8%.
A combinação de radio e quimioterapia tem o
As desvantagens da cirurgia são o risco de hemorragia potencial de aumentar o tempo de sobrevida! O tipo
mediastinal incontrolável no peroperatório e a de tumor que responde melhor à radioquimioterapia
incapacidade de realizar a dissecção completa dos é o carcinoma de células escamosas (escamoso).
linfonodos mediastínicos, para fins de estadiamento e
cura. Pacientes não candidatos à cirurgia, simplesmente
pelo alto risco cirúrgico, ou por possuírem doença
avançada, também podem se beneficiar da
radioquimioterapia.
O esquema é semelhante ao da "radioquimio"
neoadjuvante, contendo 5-fluorouracil + cisplatina +
paclitaxel, acompanhado de irradiação externa
durante seis a sete semanas, cinco dias por semana.
A principal diferença está na dose total de
radioterapia, que no tratamento neoadjuvante não
deve ultrapassar 4.500 cGy, enquanto no tratamento
definitivo vai até 6.000-6.400 cGy.
A dose total de radioterapia deve ser menor quando o
tratamento for neoadjuvante, de modo a reduzir a
incidência de complicações pós-operatórias num leito
tecidual previamente irradiado (ex.: maior taxa de
deiscência de anastomose).
A resposta clínica é observada em 30-70% dos casos, e
há relatos de sobrevida em cinco anos em 10% dos
Outros procedimentos preconizados por alguns casos.
cirurgiões são: esofagectomia en-bloc (retirar o  Terapia paliativa:
esôfago com todos os linfonodos de drenagem,
incluindo os celíacos e por vezes os cervicais, baço e Para os pacientes com tumor irressecável, devemos
diafragma adjacente, também chamada de prover conforto e qualidade de vida.
esofagectomia "tri-incisional", por realizar
O uso de dilatadores esofágicos ou stents permite a
toracotomia, laparotomia e cervicotomia) e a cirurgia
reconstituição do trânsito alimentar por um período
toracoscópica. A cirurgia en-bloc tem uma
curto.
morbimortalidade maior, embora alguns estudos
sugiram maior sobrevida em cinco anos. Também A terapia fotodinâmica utiliza uma substância
foram descritas técnicas de esofagectomia sensibilizadora por via venosa seguida pela aplicação
minimamente invasiva e esofagectomia com do laser. A obstrução é cedida após necrose do tumor,
preservação do nervo vago. com os fragmentos retirados na endoscopia.
Cada estratégia de esofagectomia possui vantagens e A radioterapia é um excelente método paliativo,
desvantagens e, na prática, o que acaba prevalecendo aliviando a disfagia em diversos pacientes durante
é a experiência e preferência pessoal do cirurgião. alguns meses.
 Terapia clínica e neoadjuvante:
A fístula esofagotraqueal ou esofagobrônquica
contraindica a radioterapia, e deve ser paliada com a
colocação de stents no esôfago e na árvore
traqueobrônquica (melhor do que colocar o stent em
apenas um local).
Nos casos mais difíceis ou refratários, uma
gastrostomia ou jejunostomia pode ser necessária.

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