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FISIOLOGIA VETERINÁRIA

SISTEMA DIGESTÓRIO
Fisiologia Veterinária
Motricidade gastrointestinal

Sistema digestório
(Motilidade do TGI)

Leonardo de Rago
Introdução
A motilidade do trato alimentar realiza o movimento e o processamento
mecânico do alimento, com o objetivo de misturar o conteúdo alimentar
com as enzimas digestivas e colocar os produtos finais em contato com as
superfícies de absorção nas mucosas.

A força que dá direção ao fluxo é fornecida pelas camadas musculares, sob


coordenação do sistema nervoso.
Preensão, mastigação, deglutição
PREENSÃO
Os métodos de preensão variam conforme espécie. Apesar disso, lábios,
língua e dentes são sempre as estruturas envolvidas.

CARNÍVOROS E ONÍVOROS. HERBÍVOROS.


Movimentos mastigatórios verticais, Movimento mastigatórios laterais,
produzindo ação de cisalhamento. produzindo ação de trituração do
alimento.
Preensão, mastigação, deglutição
MASTIGAÇÃO
Apesar de o principal objetivo da mastigação ser decompor o alimento, a
fim de fornecer maior área de contato para os sucos digestivos, uma
função importante da mastigação é misturar o alimento com a saliva.
Tal mistura assegura a lubrificação necessária para passagem
do alimento pelo esôfago.

DEGLUTIÇÃO
Inicia-se com eventos que isolam a nasofaringe e traqueia da cavidade
bucal por meio da epiglote, a fim de evitar entrada do alimento nas áreas.
Nesse estágio, a respiração fica inibida, enquanto que boca e faringe
formam uma câmara completamente fechada.
Posicionamento da epiglote durante a respiração
(acima) e durante a deglutição (abaixo).
Preensão, mastigação, deglutição
CENTRO DA DEGLUTIÇÃO é um conjunto de neurônios situados na região
do IV ventrículo cerebral, estimulado por impulsos aferentes originados de
receptores localizados na parte posterior da boca, faringe e epiglote.

A passagem do alimento da região posterior da boca para o esôfago inicia-


se com [1] aumento brusco da pressão intra-faríngea, seguido por [2]
súbito relaxamento do esfíncter esofágico superior.
[3] O bolo alimentar é contraído contra o esfíncter esofágico superior pela
musculatura da base da língua e pela musculatura faríngea superior.
[4] Imediatamente após a passagem do alimento, o esfíncter se fecha com
grande pressão, para que não ocorra refluxo do esôfago para a boca.
[5] Uma onda peristáltica inicia-se na extremidade cranial do esôfago, o
alimento desce pelo esôfago e o esfíncter retoma sua pressão de repouso.
Função motora | ESÔFAGO
Trata-se de um órgão tubular que se estende desde a faringe ao
estômago, passando pelo tórax posterior e perfurando o diafragma
= HIATO ESOFÁGICO.

Uma vez no esôfago, o alimento é propelido por meio de movimentos


pulsáteis conhecidos como PERISTALTISMO. A peristalse esofagiana inicia
desde a extremidade cranial do órgão, progredindo a sua extremidade
caudal (divisão com o estômago).

PERISTALTISMO consiste em um anel de constrição da musculatura circular


que se move na parede de um órgão tubular. Os anéis reduzem o lúmen
esofágico, empurrando o bolo alimentar adiante.
Função motora | ESÔFAGO
ONDA PERISTÁLTICA PRIMÁRIA

MÚSCULOS CIRCULARES fazem a constrição anular da parede


reduzindo o lúmen esofagiano.

MÚSCULOS LONGITUDINAIS se contraem adiante, aumentando o


tamanho do lúmen esofágico para acomodar o bolo alimentar que
avança.

IMPORTANTE: Em muitos animais, fibras musculares estriadas constituem a


cobertura muscular de todo o esôfago. Porém, em outros, uma proporção
variável do esôfago é composta por músculo liso.
Função motora | ESÔFAGO
Os diferentes tipos de musculatura esofagiana apresentam inervação
diferenciada: [1] MÚSCULO LISO = plexo mioentérico; [2] MÚSCULO
ESTRIADO = placas terminais motoras conectadas a fibras eferentes.

LEGENDA:
Pontilhado = músculo estriado.
Traço contínuo = músculo liso.
Se o esôfago não for esvaziado do material alimentar pela onda peristáltica
primária, são geradas ONDAS PERISTÁLTICAS SECUNDÁRIAS. Geralmente, uma ou
mais ondas peristálticas secundárias são suficientes para propulsionar o alimento
em direção ao estômago.
Função motora | ESÔFAGO
Obstrução esofágica (corpos estranhos)

Espasmos musculares
(ondas peristálticas secundárias)

Dificultam remoção do objeto

CIRURGIA
Função motora | ESÔFAGO
Na porção final do esôfago existe o esfíncter esofágico inferior, seu
fechamento correto impede que o esôfago sofra danos devido às
ações corrosivas dos conteúdos gástricos.

ESÔFAGO DE EQUINOS
O esfíncter esofágico inferior é muito desenvolvido nessa espécie, tornando
o refluxo gastro-esofágico muito raro.

Tanto que, em muitos casos, quando a pressão intra-


gástrica encontra-se patologicamente aumentada, o
estômago rompe-se antes que ocorra refluxo esofágico
ou vômito.
Função motora | ESTÔMAGO
Para os propósitos de função mecânica, o estômago pode ser dividido em
três regiões ou zonas:

[1] Porção dorsal ou fundo


[2] Corpo
[3] Antro.
Função motora | ESTÔMAGO
FUNDO GÁSTRICO

Parte do órgão envolvida com a recepção e estocagem de conteúdo,


realizando adaptação ao volume ingerido, de modo que não se desenvolva
pressão excessiva intraluminal (relaxamento receptivo).
Função motora | ESTÔMAGO
CORPO GÁSTRICO
Reservatório anatômico-funcional com a finalidade de
misturar saliva e suco gástrico ao alimento.

ANTRO GÁSTRICO

Trata-se da bomba muscular gástrica que regula a propulsão do alimento, a


fim de que ultrapasse o esfíncter pilórico para a luz duodenal.

As contrações antrais também servem para realizar a propulsão contrária,


trazendo o conteúdo de volta ao corpo gástrico e, dessa forma, misturando
a ingesta bem como retardando a passagem de partículas sólidas.
Função motora | ESTÔMAGO
CORPO GÁSTRICO
Reservatório anatômico-funcional com a finalidade de
misturar saliva e suco gástrico ao alimento.

ANTRO GÁSTRICO

Trata-se da bomba muscular gástrica que regula a propulsão do alimento, a


fim de que ultrapasse o esfíncter pilórico para a luz duodenal.

As contrações antrais também servem para realizar a propulsão contrária,


trazendo o conteúdo de volta ao corpo gástrico e, dessa forma, misturando
a ingesta bem como retardando a passagem de partículas sólidas.
Função motora | ESTÔMAGO
A resposta VAGAL à presença do alimento na luz gástrica inicia-se pelas
células intersticiais de Cajal na curvatura maior do estômago = MARCA-
PASSO.

A partir desse ponto o estímulo peristáltico dissemina-se circunferencial e


distalmente, movimentando-se como um anel ao longo do TGI.

Contrações peristálticas da parte distal do estômago misturam


suco gástrico ao alimento, trituram os sólidos e efetuam a
propulsão de todo o conteúdo pelo antro em direção ao piloro.
Função motora | ESTÔMAGO
MECANISMO DE DILUIÇÃO E REDUÇÃO DE PARTÍCULAS SÓLIDAS

Inicialmente, líquidos passam pelo piloro e os sólidos são retidos. Uma vez
retidos, sob a pressão elevada na região do antro, essas partículas são
trituradas, reduzidas de tamanho e forçadas de voltar para o corpo do
estômago.
Somente quando alcançam tamanho reduzido o suficiente para
ficarem suspensos no líquido resultante do processo digestivo,
os sólidos passam pelo piloro em direção ao duodeno.
Função motora | ESTÔMAGO
A velocidade do esvaziamento do conteúdo gástrico depende do volume
ingerido, o que significa que a distensão das paredes do estômago é o
estímulo primário para aumentar a motilidade gástrica.

Quando o estômago está distendido com o alimento, mecanorreceptores


locais são ativados, aumentando o tônus vagal para esse órgão com
promoção do pico de força e da frequência dos movimentos peristálticos.
Há diferenças consideráveis na velocidade de esvaziamento
gástrico dos sólidos e líquidos.

A velocidade com que o conteúdo fluido deixa o estômago também é


regulada (ou contra regulada) por receptores duodenais em resposta à
composição química da refeição.
Função motora | ESTÔMAGO
O controle inibitório do esvaziamento gástrico é mediado pelo reflexo
enterogástrico ou gastroentérico (mecanismo neural) e uma enterogastrona
(mecanismo endócrino).
Ambos inibem o esvaziamento do estômago quando há conteúdo
hipertônico ácido na luz duodenal, assim como excesso de carboidratos,
lipídeos e proteínas.

REFLEXOS SIMPÁTICOS. Receptores duodenais geram reflexos simpáticos


conforme composição química do conteúdo que deixa o estômago.

COLECISTOCININA (CCK). Receptores para CCK respondem primariamente a


presença de gordura na luz duodenal e do jejuno.
Função motora | INTESTINOS
Como o intestino delgado assume funções tanto digestivas quanto de
absorção, o fluxo do conteúdo é regulado para fornecer a mistura do
conteúdo luminal com enzimas pancreáticas e bile; a digestão luminal dos
carboidratos, gorduras e proteínas, bem como a máxima exposição dos
nutrientes à mucosa para digestão e absorção.

O sistema para o controle básico para a motilidade do


intestino delgado é a onda lenta, emitida a partir do
MARCA-PASSO PRIMÁRIO (células intersticiais de Cajal)
localizado no duodeno, próximo à entrada do ducto biliar.
Função motora | INTESTINOS
As despolarizações de membrana das células do músculo liso do TGI
ocorrem de modo coordenado, criando ondas que se propagam ao longo
dos segmentos da alça intestinal.

Essas células são conectadas ao marca-passo, gerando estímulos que se


propagam em ONDAS LENTAS, com velocidade de 17 a 18 incursões por
minuto em cães e gatos, 14 a 15 nos equinos.
Função motora | INTESTINOS
As ONDAS LENTAS são uma propriedade intrínseca do músculo liso do TGI
e das células intersticiais de Cajal (marca-passo) associadas.

Essas ondas peristálticas dependem somente das células intersticiais


de Cajal, e sua frequência é controlada pelo SNE.

As células do músculo liso se contraem em resposta a potenciais de ação.


Para que ocorra a contração, deve ocorrer uma despolarização completa.
Portanto, como nas ONDAS LENTAS ocorre uma despolarização parcial,
trata-se de um movimento necessário, mas não suficiente para que
ocorram contrações musculares efetivas.
Função motora | INTESTINOS

A ligação entre ONDAS LENTAS e contrações musculares fica sob controle


de diferentes fatores: nervosos, endócrinos e parácrinos, além daqueles
mediados pela presença do alimento.
Função motora | INTESTINOS
A motilidade intestinal ocorre em duas fases:
[1] durante o período DIGESTIVO (após ingestão do alimento),
[2] durante o período INTERDIGESTIVO (quando há pouco alimento no TGI).

O PERÍODO DIGESTIVO apresenta duplo padrão de


motilidade: PROPULSOR e SEGMENTAÇÃO.
Função motora | INTESTINOS
PROPULSOR, caracterizado por contrações peristálticas que passam por
curtos segmentos do intestino e finalizam subitamente. A ingesta é
deslocada por curta distância, e logo após tem-se o movimento de
segmentação.

Na SEGMENTAÇÃO são encontradas contrações localizadas no músculo


circular. Nesse tipo de motilidade digestiva, porções do intestino
delgado com 3 a 4cm se contraem fortemente, dividindo o segmento do
lúmen em constrito e dilatado. Segundos depois, as porções constritas
relaxam e novas áreas se contraem.

Durante a SEGMENTAÇÃO a mistura do conteúdo intestinal com sucos


digestivos coloca os nutrientes em contato com as superfícies absortivas.
Função motora | INTESTINOS
PERÍODO INTERDIGESTIVO. Durante esse período, poderosas ondas de
contrações peristálticas progridem por grande extensão do intestino
delgado (complexo motor migrante: CMM).

O CMM possui uma função de limpeza das alças e serve para promover o
material não digerível em direção ao cólon, também controlando a
população bacteriana no intestino superior.

ESFÍNCTER ÍLEOCECAL é a junção do intestino delgado com intestino


grosso. Trata-se de um anel muscular bem desenvolvido que impede que
os conteúdos do cólon retornem para o íleo.
Função motora | CÓLON
FUNÇÕES: fermentação da matéria orgânica proveniente da digestão ao
longo das porções anteriores do TGI, absorção de água e de eletrólitos,
armazenamento de fezes.
O tamanho do cólon varia conforme a necessidade
de fermentação para geração de energia em uma
dada espécie.

MOVIMENTO PERISTÁLTICO: movimento de mistura (segmentar) importante


para as funções absortiva e fermentativa.

MOVIMENTO DE RETROPULSÃO OU ANTIPERISTÁLTICO: armazenamento de


conteúdo no ceco de ruminantes e roedores, e no cólon maior de equinos.
Função motora | RETO
REFLEXO RETOESFINCTÉRICO. Entrada das fezes no reto acompanhada pelo
relaxamento do esfíncter anal interno, seguido por contrações peristálticas
no reto.
HUMANOS, CÃES E GATOS: constrição voluntária do
esfíncter anal externo – evita passagem das fezes e
anula a resposta reflexa.

A abertura anal possui 2 esfíncteres:


[1] ESFÍNCTER INTERNO, músculo liso com inervação parassimpática.
[2] ESFÍNCTER EXTERNO, músculo estriado inervado por fibras oriundas do
nervo pudendo.

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