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É o resultado da sucessão de episódios inflamatórios, de intensidade variável, que levam à fibrose do parênquima
pancreático, causando desarranjos estruturais e funcionais que se manifestam clinicamente por dor abdominal crônica e
insuficiência exócrina e endócrina do pâncreas = Perda da função do pâncreas.
Fisiopatologia
2 causas principais:
• Desnutrição: menor produção de agentes
antioxidantes → processo inflamatório mais
intenso do pâncreas.
• Consumo de álcool faz o suco pancreático rico
em proteínas e pobre em litostatina →
formações de plugs proteicos (rolhas proteicas
vistas na histologia) → deposição de cálcio
nessas rolhas que formam cálculos →
obstrução dos ductos pancreáticos → processo
inflamatório + aumento da pressão intraductal
= isquemia → ao longo do tempo → processo
inflamatório + isquemia + alteração de
morfologia + aumento de radicais livres (menor
produção de agentes antioxidantes) =
pancreatite crônica. Por causas genéticas ainda pode ocorrer produção de autoanticorpos.
Insuficiência pancreática
• Esteatorréia: queda da atividade lipolítica (redução da lipase dentro do suco pancreático = menor absorção da
gordura) → fezes espumosas que boiam (aspecto de graxa), amolecidas e de maior viscosidade que aderem a
parede do vaso.
• Sintomas associados à síndrome disabsortiva
• Aspecto de graxa, adere a parede do vaso
• Diabetes secundária: fase tardia da doença, geralmente insulinodependente (destruição do parênquima –
pâncreas não produze insulina ou glucagon). Esses pacientes tendem a fazer hipoglicemias graves ou
hiperglicemias. Controle da glicemia deve ser rígido, são de difícil controle e pode fazer hipo e hiperglicemias graves.
Exames laboratoriais
• Amilase/lipase: geralmente normais mas podem estar elevadas – não ajuda para o diagnóstico de pancreatite crônica,
ajuda nos casos de agudização da pancreatite crônica
• Se houver elevação das bilirrubinas e fosfatase alcalina pensar em obstrução ductal (dificuldade da saída do suco
pancreático)
• Análise indireta da redução da produção enzimática – dosagem tripsinogênio sérico, pesquisa gordura fecal e elastase
fecal (maior sensibilidade, antes era usado pesquisa de gordura fecal)
Elastase fecal: mede quantidade de elastase nas fezes e indiretamente indica se paciente tem ou não insuficiência
exócrina (deficiência na produção da elastase). Não é feito pelo SUS. Ajuda muito em diagnóstico de casos não
clássicos
• Teste da secretina e colecistoquinina – administração exógena do hormônio com dosagem de bicarbonato e lipase na
secreção ductal) – não é feito na prática clínica.
Exames de imagem
• Radiografia simples abdômen: calcificações em 30% Terapêutica (dilatação quando tem estenose de
dos casos – baixa sensibilidade ducto)
• Ultrassonografia abdominal: baixa sensibilidade. Invasiva
Presença de heterogenicidade e calcificações Complicações em 5 a 8% (pode causar uma
• Tomografia de abdômen (mais importante) pancreatite aguda), era muito usada antes da
Melhor sensibilidade e especificidade pancreatocolangiorressonância, hoje usada como
Atrofia: característica da pancreatite crônica terapêutica.
Massa inflamatória (agudização) Insucesso de canalização em 5 a 20%
Tumores > 1cm • Ecoendoscopia ou USG endoscópico
• RNM – pancreatocolangiorressonância Importante para afastar cálculo de vesícula biliar,
Método não invasivo microlítiase quando USG abdominal não
Estuda ductos (estreitamento e cálculos), consegue dar diagnóstico.
parênquima e estruturas peripancreáticas Diagnóstico e terapêutico (drenagem de
Superior a TC pseudocisto e neurólise de plexo celíaco)
• CPRE – Colangiopancreatografia endoscópica Fornece material para biópsia
retrograda Alto custo e examinador dependente.
Tratamento
Tratamento clínico
• Manejo das agudizações (tratamento igual ao da pancreatite aguda) – identificar a etiologia da pancreatite crônica
e retirar a causa.
• Tratamento do alcoolismo e tabagismo (aumentam o risco de agudizações)
• Tratamento da dor – relacionada a alimentação, pacientes evitam a alimentação para não ter dor = desnutrição,
catabolismo importante.
• Acompanhamento nutricional
• Suplementação enzimática – lipase + protease + amilase (pancrease) – controla a dor e faz a digestão, deixa o
pâncreas mais em repouso (deve ser feito mesmo em quadros leves)
Enzimas de boa qualidade: deve ser uma enzima não inativada pelo HCl no estômago e chegue na luz duodenal
ativa para sua atuação (conseguem pegar pelo SUS)
Dose: iniciar com dose mínima de 5 comprimidos ao dia (café da manhã, 2 almoço, 2 jantar) pode chegar até 6
comprimidos de 25000U; deve ser usada durante a refeição para evitar esforço pancreático.
• Triglicerídeos de cadeia média – se houver desnutrição grave, principalmente pacientes internados
• Reposição de vitaminas lipossolúveis, complexo B
• Tratamento de DM – pacientes de difícil controle, necessidade de acompanhamento associado ao endócrino – uso
de insulina + dieta com restrição de açúcar.
Tratamento endoscópico
• Esfincterotomia da papila de Vater Tratamento cirúrgico
• Dilatações dos ductos • Quando não tem acesso ou sucesso no tratamento
• Extração de cálculos endoscópico.
• Colocação de stents • Derivações: em caso de ductos dilatados
Alto custo, mão de obra altamente especializada. Não • Ressecções: doença localizada, suspeita de
consegue ser feito de rotina, indicado em pacientes com câncer.
dores refratárias.
Complicações
• Formação de pseudocistos
• Obstrução duodenal ou do ducto biliar – massas, pseudocistos ou processo inflamatório
• Ascite pancreática – diagnóstico diferencial importante da ascite de cirrose hepática pois são pacientes alcoolistas
crônicos. Dosar amilase do líquido ascítico
• Derrame pleural – processo inflamatório da pleura associado a ascite pancreática
• Trombose da veia esplênica
• Pseuso-aneurismas – podem romper causando sangramentos volumosos que podem levar o paciente a óbito por
choque hipovolêmico.
• Câncer pancreático
• Períodos de agudização do quadro – principalmente em pacientes alcoolistas que não cessam uso de álcool.
PANCREATITE AGUDA
Fisiopatologia
Processo inflamatório agudo do pâncreas de instalação rápida, de inúmeras etiologias.
Etiologia
• Cálculos biliares: Litíase/ coledocolitíase • Trauma <1% (principalmente fechado, cintos de
• Álcool (consumo por mais de 5 anos > 50g/dia) – carro)
geralmente causa crônica que agudiza. • Infecções (principalmente vírus)
• Hipertrigliceridemia > 1000mg/dL • Neoplasia pancreática – raro, desconfiar
• Drogas < 5% principalmente em paciente idosos onde não
• Autoimune (aguda e crônica - agudizações) encontra outras causas para pancreatite.
Diagnóstico
Presença de pelo menos 2 dos 3 critérios
• Dor abdominal característica
• Aumento amilase e/ou lipase 3x valor de referência
• Alterações características nos exames de imagem
Laboratório
• Hematócrito elevado – hemoconcentrado > 44% Imagem
• Elevação creatinina (lesão renal) • Derrame pleural
• Elevação de uréia • Infiltrado pulmonar
• Múltiplas ou extensas coleções extra pancreáticas
Complicações – mais comuns: necrose (estéril e infectada), coleções de líquido pancreático e pseudocistos.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
• Dor – 95 a 100%
Intensidade não tem relação com gravidade
Intensa, contínua, súbita
Localização: difusa, epigástrica, quadrantes
superiores direito ou esquerdo
Irradiação: dorso
Posição antálgica de prece maometana
• Náuseas e vômitos: 80%
• Distensão abdominal: parada de eliminação de gases e
fezes (íleo paralítico) 60%
• Sinal de Cullen (1 a 3%) *
• Sinal de Grey-Turner (1-3%) *
*Sinais de sangramento e necrose no subcutâneo com
extravasamento do suco pancreático para cavidade abdominal –
não é comum ser visto.
EXAMES LABORATORIAIS
A lipase é muito mais específica do que a amilase.
A amilase se normaliza muito mais rápido (72 horas) do que a
lipase que pode persistir por até 2 semanas elevada no soro.
Amilase e Lipase: não se correlacionam com gravidade da
doença. Só usadas para diagnóstico, não tem necessidade de
ficar seriando.
Outros:
• Hemograma, ureia, creatinina, TGO, TGP, FA, GGT, Bb total e frações, íons, gasometria arterial
• PCR > 150 define gravidade (fator de mal prognóstico)
EXAMES DE IMAGEM
• RX simples de abdômen: excluir outras causas de 90% sensibilidade/especificidade
abdômen agudo Indicação: diagnóstico indefinido, sem melhora
• RX tórax: alterado em 1/3 dos casos clínica ou piora clínica após 48-72 horas do
Derrame pleural tratamento clínico, avaliação complicações
Atelectasias basais • US endoscópico
• US abdominal: 35% dos casos não se observam Útil na pancreatite aguda recorrente de etiologia
alterações devido à distensão das alças não identificada (suspeita de colelitíase)
Pesquisa de colelitíase e coledocolitíase Padrão ouro para descartar colelitíase e
Não identifica necrose pancreática nem avalia coledocolitíase (visualização de microcálculos)
bem o parênquima pancreático. Avaliação/punção e drenagem de coleções
• TC abdômen/RNM (pesquisa de necrose pancreática e cistos
Avalia parênquima, presença de necrose e infectados)
coleções
OBS: para ter alterações (inflamação e lesão tecidual) decorrentes inflamação pancreática visíveis na TC e RNM – 48 a
72h. Exames de imagem solicitados antes desse tempo podem não visualizar as alterações causadas pela pancreatite.
TRATAMENTO
• Clínico (conservador) • Sequestro de líquido no 3º espaço – se comporta como
• Cirurgia hipovolêmico (processo inflamatório sistêmico)
• Endoscópico • Hipovolemia pode piorar a lesão pancreática e
ocasionar necrose tubular aguda (isquemia)
Avaliação nas primeiras 48h da internação (reversão do • Agressiva 250-500ml/h de cristaloides (ringer
quadro e das possíveis complicações) lactato) nas primeiras 12-24 horas
• Define local de tratamento (enfermaria x UTI) • Monitorização, principalmente em pacientes idosos
• Buscar sinais de gravidade para não ocorrer congestão
• Identificar complicações sistêmicas • Objetivos: diurese > 0,5 ml/kg/hora e redução da uréia
• Implementar suportes necessários
Dieta
Tratamento clínico • Retorno precoce e gradual
• Hidratação • Carência nutricional piora a cascata inflamatória
• Analgesia • Pancreatite aguda (PA) leve: nutrição oral pode ser
• Dieta restabelecida após melhora da dor abdominal,
náuseas ou vômitos.
Reposição volêmica
Dieta sólida ou liquida, ambas com baixa gordura
são equivalentes – gordura estimula a liberação
de suco pancreático.
• Pancreatite aguda grave: dieta enteral é a primeira
escolha
Dieta parenteral: quando há contra-indicação para
dieta enteral. Casos selecionados.
Antibióticoterapia
• Infecção é a principal causa de morbidade e
mortalidade no paciente
• Antibióticos de amplo espectro com boa penetração
pâncreas: carbapenêmicos (imipenem/meropenem)
• Uso terapêutico:
Infecções extra pancreáticas: colangite,
pneumonia, ITU, infecção associada ao cateter
Necrose infectada – piora clínica ou falha
tratamento clínico a partir do sétimo a décimo dia
internação
• Uso profilático: não se faz mais!
Tratamento endoscópico
• Colangiopancreatografia Endoscópica Retrograda
(CPRE) com enfincterotomia
Usado para terapêutica, não mais para
diagnóstico
Pancreatite biliar com evidência de obstrução
Presença de colangite associada
Precoce 24 horas: papiloma com retirada do
cálculo
Pode piorar a pancreatite aguda ou até mesmo
causar (manipulação do pâncreas ou colédoco -
comunicação com ductos pancreáticos)
OBS: RNM ou Ecoendoscopia é melhor do que CPRE para
diagnóstico de coledocolitíase.
Tratamento cirúrgico
• PA leve e litíase biliar: colecistectomia na mesma
internação (importante para evitar recorrência da
pancreatite que é comum após 1° episódio)
• PA grave e litíase biliar: colecistectomia deve ser
realizada após a atividade inflamatória e as coleções
se estabilizarem.
• Pseudocistos assintomáticos (regridem em 6 meses a
1 ano) e necrose pancreática e/ou extra pancreática
não tem garantia de melhora com cirurgia,
independentemente do tamanho, localização ou
extensão – pâncreas tem tecido muito friável e com
processo inflamatório é difícil de distinguir o tecido
viável ou não)
• Necrose infectada deve receber antibiótico e aguardar
formação do abscesso antes da drenagem (30 dias)