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Epidemiologia
• Doença crônica com sintomas recorrentes, com intensidade variável e de evolução benigna na maioria dos casos –
tranquilizar o paciente quanto a neoplasias.
• Presente em cerca de 20% da população ocidental
• Incidência no Brasil: 12% (20 milhões de indivíduos)
• Responsável por até 5% das consultas médicas da atenção primária de saúde
• Menor incidência nos países orientais: influência ambiental, alimentar, racial (multifatorial)
• Muito comum associado a outros sintomas:
Dispepsia funcional 69% das vezes possuem sintomas típicos de DRGE
Constipação crônica
SII
• Aumento da prevalência diretamente relacionado ao aumento da obesidade na população.
• Redução na qualidade de vida: frequentemente associada a alterações do sono, consequências negativas nas
atividades sociais e laborativas com resultante impacto financeiro.
Fisiopatologia
• Desequilíbrio entre fatores defensivos e agressores
• Fatores defensivos:
Barreira anti-refluxo: composta pelo esfíncter esofagiano inferior, ângulo de Hiss e ligamento frenoesofágico. Terço
distal do esôfago é intra-abdominal, que ajuda no efeito de válvula anti-refluxo.
Resistência tissular da mucosa do esôfago: células resistentes, epitélio escamoso estratificado, junções
intracelulares importantes e evitam lesões da mucosa.
Limpeza do ácido (clareamento esofágico): peristaltismo, secreção esofágica (muco), saliva – neutralizam o ácido.
• Fatores agressores
― Acidez gástrica: HCl produzido no estomago, pepsina
Relaxamentos transitórios do esfíncter esofágico inferior – mais importante
Diminuição do tônus do esfíncter esofágico inferior
Esvaziamento gástrico retardado
Clearance esofágico deficiente
Alterações na barreira anti-refluxo
Infecção por H. pylori não tem relação com DRGE → pacientes com DRGE com positividade na endoscopia para H.
Pylori = se assintomáticos não tem indicação de tratamento para H. pylori.
• Predisposição genética
• Hipersensibilidade visceral – pacientes sintomáticos x não sintomáticos quando expostos
• Fatores ambientais: obesidade, alergia alimentar, exposição ao cigarro, medicamentos (AINEs, anticolinérgicos, B2
agonistas, aminofiliina, nitrato, progesterona e estrógenos, bloqueador canal de cálcio)
Classificação
• Segundo a endoscopia: • Segundo Montreal
Doença do refluxo não erosiva (50 a 70%) – DRGE com sintomas esofagianos
mais prevalente na população DRGE com sintomas extra-esofagianos
Doença do refluxo erosiva
Sintomas presentes pelo menos 1 a 2 vezes por semana por mais de 4 semanas.
Quadro Clínico
Sintomas típicos
• Pirose (sensação de queimação retroesternal) – sensibilidade 75%, especificidade 83%
• Regurgitação (retorno de conteúdo ácido até a cavidade oral ou laringe) – sensibilidade 55% especificidade 63%
As manifestações clínicas não têm correlação com a gravidade das lesões esofágicas – alguns pacientes são muito
sintomáticos e de difícil resposta a tratamentos mas ao realizar endoscopia tem pouco ou nenhuma alteração. A clínica nem
sempre tem correlação com as esofágicas.
Sintomas atípicos (muitas vezes esses pacientes não têm os sintomas típicos de pirose e regurgitação)
• Disfagia
• Odinofagia
• Globus faríngeo: sensação de ter algo preso na garganta
• Náuseas
• Epigastralgia
• Sintomas da via aérea superior: laringite, faringite, rinite, otite, rouquidão, asma brônquica, dor torácica de origem
não cardíaca, tosse crônica
Excluir diagnósticos diferenciais nos sintomas atípicos!
• Tosse crônica, laringite crônica e asma são processos multifatoriais que podem ter o refluxo como fator potencial de
agravamento e, por isso, a DRGE pode não ser a única causa dessas manifestações (a DRGE só agrava os
sintomas dessas doenças, não é motivo delas)
• Presença de edema, eritema, nódulos e granulomas em prega vocal na laringoscopia não são específicas da DRGE.
• Dor torácica: Sempre afastar dor torácica de origem cardíaca apesar da DRGE ser a causa mais comum de dor torácica
(50%) de origem não cardíaca.
• Relação com apnéia obstrutiva do sono.
Tosse crônica
• Tabagismo e de irritantes ambientais • Tuberculose
• Asma ― Todos os pacientes com tosse crônica: radiografias de
• Secreção pós-nasal (Sinusopatia) tórax e seios da face dentro da normalidade
Diagnóstico
Anamnese
• Definir duração, intensidade e frequência dos sintomas, fatores de melhora ou piora.
• Hábitos alimentares
• Consumo de álcool, tabaco e drogas ilícitas.
• Verificar medicamentos em uso. Questionar uso regular de AINEs.
• Avaliar impacto na qualidade de vida dos pacientes.
Diagnóstico clínico: Sintomas típicos com frequência maior de 2 vezes na semana por mais de 4 semanas.
pHmetria de 24 horas
• Boa sensibilidade e especificidade.
• Exame solicitado pelo especialista. Pouco disponível no SUS
• Indicações:
Pré-operatório cirurgia anti-refluxo.
Avaliação de pacientes com sintomas típicos/atípicos com endoscopia normal e que são refratários ao tratamento
com IBP.
Impedâncio–pHmetria esofágica
• Melhor sensibilidade quando comparado à pHmetria – veio para substituir a pHmetria mas o acesso ainda é muito
restrito.
• Detecta a ocorrência de alterações na resistência à corrente elétrica através de eletrodos adjacentes posicionados no
interior do esôfago (de maneira sequencial) por meio de um dispositivo de sonsa.
• Avalia a natureza física (líquido, gasosa ou mista) e química (ácido, não ácido, levemente ácido) do refluxo.
• Diagnóstico de refluxo não ácido só consegue ser realizado pela Impedâncio-pHmetria: pacientes com pHmetria normal
e refratários ao tratamento com IBP.
Tratamento clínico
Objetivos: aliviar sintomas, cicatrizar as lesões da mucosa esofagiana e prevenir o desenvolvimento de complicações.
Envolve tratamento não farmacológico e farmacológico.
Tratamento farmacológico
Antiácidos, alginatos e sucralfato
• Neutraliza a secreção ácida gástrica, servindo apenas para controle imediato dos sintomas.
• Há escassez de evidências que suportem o seu uso e o ganho terapêutico é pequeno.
• Alívio sintomático passageiro para indivíduos com sintomas esporádicos.
Principais causas da DRGE refratária (não melhora metabolismo mais rápido do IBP – escape ácido
mesmo com a dose dobrada) mais rápido.
• Falta de aderência ao tratamento
• Dose inadequada de IBP (subdose) Tratamento com IBP é seguro?
• Erro de diagnóstico • Não aumenta risco de neoplasia gástrica
• Pirose funcional (hipersensibilidade) • Relação com pólipos de glândulas fúndicas – sem
• Refluxo gastroesofágico não ácido ou levemente risco aumentado de desenvolvimento de
ácido (só diagnosticado com a Impedâncio- neoplasia nesses pólipos.
pHmetria) • Relação com gastrite atrófica quando o H. pylori
• Esofagite eosinofílica está presente
• Esofagite por comprimidos • Aumento risco de fratura de bacia
• Diferenças no metabolismo do IBP (mais • Deficiência de magnésio, vitamina B12 e ferro
frequente em países do hemisfério norte): • Aumento de risco infecção por Clostridium
OBS: pacientes em uso crônico de IBP: dosar vitamina B12, avaliar ferro sérico e ferritina anualmente, avaliar risco de
fraturas e a presença de outros fatores de risco para osteoporose. Prescrição de IBP somente para pacientes com indicação.
Tratamento cirúrgico
• Descrita por Nissen (1956): confecção de uma válvula anti-refluxo gastroesofágica realizada com o fundo gástrico
(fundoplicatura).
• Fundoplicatura videolaparoscópica início da década de 90. Aumento significativo das indicações de cirurgia para o
tratamento da DRGE. Hoje em queda.
• Para indicação é necessário um diagnóstico confirmado da DRGE: clínica + exames complementares
• Avaliação risco cirúrgico
• Não indicado quando DRGE associado à obesidade. Alto índice de recidiva. Deve tratar obesidade
• Remissão dos sintomas em 3 anos: tratamento com IBP (93%) x cirurgia (90%)
• Recidiva dos sintomas num período variável entre 5 a 15 anos após a cirurgia
• Indicações:
Tratamento de manutenção em pacientes com menos de 40 anos
Pacientes que não toleram o tratamento medicamentoso ou com dificuldade financeira para comprar medicação
Pacientes com regurgitação persistente a despeito do uso de IBP
• Complicações tardias: disfagia (incidência 8%) por conta da fundoplicatura.
Complicações
Esofagite
• Classificação de Los Angeles: grau A, B, C e D.
• A gravidade da esofagite não mostra correlação com a intensidade dos sintomas.
• Pacientes grau A e B podem fazer tratamento nas UBS
• Grau C e D devem procurar o especialista.
Úlcera esofágica (5%); hemorragia digestiva alta (<2%); estenose esofágica (1 a 20% - geralmente em pacientes com
DRGE de longa data, acamados com sequelas neurológicas)
Esôfago de Barrett (10 a 15%)
• Substituição do epitélio escamoso esofágico, em sua posição distal, por epitélio colunar glandular contendo células
caliciformes.
• Maior prevalência em homens acima de 50 anos. EDA > 40 anos com sintomas crônicos.
Adenocarcinoma esofágico (<1%)
• Complicação mais grave
• Evolução do Barrett
Conclusões
• DRGE é um grande problema de saúde pública e afeta 12% da população brasileira
• Obesidade é um dos principais fatores de risco associado a DRGE
• A anamnese é fundamental para o diagnóstico da DRGE, com atenção especial aos sintomas típicos e atípicos
(duração, intensidade, frequência, fatores desencadeadores, evolução) e impacto na qualidade de vida.
• Investigação de sinais e sintomas de alarme sempre devem ser realizadas
• Na atenção primária o teste terapêutico com IBP na ausência de sinais de alarme pode ser utilizado para diagnóstico
sem necessidade de se realizar outros testes diagnósticos.
• O tratamento clínico é o tratamento de escolha para controle dos sintomas.