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PATOLOGIA ORAL

E MAXILOFACIAL
Neoplasia das
glândulas salivares
Lilian Maria Santos Silva de Lira

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Caracterizar as neoplasias de glândulas salivares.


> Reconhecer os principais aspectos das lesões neoplásicas de glândulas
salivares.
> Explicar a conduta indicada para as neoplasias de glândulas salivares.

Introdução
As células são as unidades básicas dos tecidos orgânicos e, junto com a matriz
extracelular, compõem diferentes tecidos que formam os órgãos do corpo.
Devido à capacidade de se dividirem, os tecidos podem ser renovados e células
mortas podem ser substituídas. Essa propriedade fisiológica também permite
que ocorra a cicatrização de lesões, além de contribuir para a manutenção das
funções necessárias ao bom funcionamento do organismo.
A capacidade e a intensidade da divisão celular variam entre os diferentes
tecidos humanos. Existem tecidos com alta atividade mitótica, como os epitélios
de revestimento, por exemplo, e tecidos com baixíssima taxa reprodutora,
como é o caso das células neuronais e musculares (MONTANARI, 2016). Essa
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renovação é coordenada, e as novas células que surgem todos os dias suprem


uma demanda fisiológica, estando o crescimento celular sob controle constante.
Entretanto, estímulos parafuncionais podem desencadear a proliferação de
células, levando ao aumento tecidual exacerbado. Esse crescimento atípico é
denominado tumor ou neoplasia (INCA, 2020).
Neste capítulo, vamos abordar os tumores das glândulas salivares com
maior prevalência e importância, detalhando as suas características clínicas e
histopatológicas. Além disso, será apresentada a melhor conduta terapêutica
para cada caso.

Tumores das glândulas salivares


O termo neoplasia deriva do grego neo, que significa novo, e plasis, que
significa formação (NEOPLASIA, c2022). Portanto, refere-se a uma nova for-
mação de células e é considerado sinônimo de tumor, que significa inchaço
ou aumento de volume (TUMOR, c2022).
Nas glândulas salivares, as alterações celulares podem ocorrer tanto nas
glândulas menores, que se localizam dispostas na mucosa de lábios, boche-
chas, palato e língua, quanto nas glândulas maiores, as glândulas parótidas,
submandibulares e sublinguais. Esses verdadeiros órgãos excretores são
os mais acometidos por tumores e, entre os três pares, a incidência é bem
maior nas parótidas. A Figura 1a mostra a localização das glândulas salivares
maiores e a Figura 1b ilustra a disposição das glândulas salivares menores
(AZEVEDO et al., 2016).
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Figura 1. (a) Glândulas salivares maiores: par de glândulas parótidas, localizadas abaixo e
à frente do meato acústico externo e à frente do processo mastoide do temporal; par de
glândulas submandibulares, localizadas na metade posterior da base da mandíbula; par de
glândulas sublinguais, localizadas no assoalho da boca. (b) Glândulas salivares menores,
localizadas na mucosa palatal.
Fonte: (a) Tambeli (2014, p. 64) e (b) Netter (2015, p. 64).
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Devido à grande variedade de tipos de tumores e aos diferentes aspectos


histopatológicos, a classificação dessas entidades normalmente sofre modi-
ficações. A atualização mais recente foi publicada em 2017 pela Organização
Mundial de Saúde (OMS), que acrescentou novas entidades e modificou a no-
menclatura de tipos existentes (Quadro 1) (EL-NAGGAR et al., 2017; INCA, 2020).

Quadro 1. Classificação das neoplasias das glândulas salivares segundo a


Organização Mundial da Saúde

Tipo de neoplasia Neoplasia

Tumores benignos „ Adenoma pleomórfico


„ Mioepitelioma
„ Adenoma de células basais
„ Tumor de Warthin
„ Oncocitoma
„ Linfadenoma
„ Cistadenoma
„ Sialadenoma papilífero
„ Papilomas ductais
„ Adenoma sebáceo
„ Adenoma canalicular e outros adenomas ductais

Tumores malignos „ Carcinoma mucoepidermoide


„ Carcinoma adenoide cístico
„ Carcinoma de células acinares
„ Adenocarcinoma polimorfo
„ Carcinoma de células claras
„ Adenocarcinoma de células basais
„ Carcinoma intraductal (cistadenocarcinoma)
„ Adenocarcinoma sem outra especificação
„ Carcinoma do ducto salivar
„ Carcinoma mioepitelial
„ Carcinoma epitelial-mioepitelial
„ Carcinoma ex-adenoma pleomórfico
„ Carcinoma secretório
„ Adenocarcinoma sebáceo
„ Carcinossarcoma
„ Carcinoma pobremente diferenciado (indiferenciado)
„ Carcinoma neuroendócrino de grandes células
„ Carcinoma neuroendócrino de pequenas células
„ Carcinoma linfoepitelial
„ Carcinoma de células escamosas
„ Carcinoma oncocítico
„ Sialoblastoma

Fonte: Adaptado de El-Naggar et al. (2017).


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Uma das dificuldades para padronizar os achados microscópicos


se deve aos diferentes constituintes celulares das glândulas, que
podem sofrer alterações. Como as glândulas salivares são classificadas como
exócrinas, ou seja, o seu produto é secretado para o exterior por meio de ductos,
esses órgãos têm células secretoras, responsáveis pela elaboração do fluido,
células que formam os ductos e o sistema canalicular, e células mioepiteliais,
que auxiliam na contração e na eliminação do produto (GARTNER; HIATT, 2007;
MONTANARI, 2016).

Conforme exibido no Quadro 1, as neoplasias podem ser classificadas em


benignas ou malignas. Adenoma é o nome dado às neoplasias benignas das
glândulas salivares, proveniente do grego aden, que significa glândula, e oma,
que significa tumor (ADENOMA, c2022). As células têm poucas alterações mor-
fológicas e funcionais, desenvolvimento lento, crescimento celular semelhante
às células de origem e aumento ordenado e localizado, com limites precisos
(ALMEIDA, 2016). Normalmente, adenomas são indolores, embora possam
causar sintomatologia dolorosa por consequência da compressão de vasos,
nervos e órgãos pelo aumento tecidual (INCA, 2020). Os tumores benignos
mais comuns são o adenoma pleomórfico e o tumor de Warthin (SILVA, 2019).
Já a malignidade de neoplasias está relacionada a um desenvolvimento
desordenado de novas células, com crescimento rápido e agressivo, compor-
tamento diferente das células de origem e limites imprecisos. Normalmente,
as lesões se apresentam como nódulos dolorosos e fixos. Se acometerem as
glândulas menores, podem apresentar-se ulceradas e com infiltração óssea
(BORAKS, 2013; SILVA, 2019). Nos casos de neoplasias malignas das glândulas
salivares, o crescimento das lesões pode ser lento e indolor em muitos casos,
de modo que se pode confundi-las com lesões benignas. Porém, as células
cancerígenas apresentam a capacidade de invadir tecidos e órgãos, produzindo
metástase. Ou seja, podem iniciar novo crescimento, em local diferente do sítio
de origem, após se moverem através da corrente sanguínea (BORAKS, 2013).
Dependendo da agressividade do tumor, essas células podem metastizar
rapidamente para outras partes do corpo e não responder aos tratamento
preconizados, mesmo os mais radicais, levando à morte (INCA, 2020). Os
tumores malignos mais prevalentes são o carcinoma mucoepidermoide e o
carcinoma adenoide cístico (SILVA, 2019).
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A saliva é o principal produto excretado pelas glândulas salivares,


e diversos fatores de natureza psíquica, biológica, química e física
podem influenciar a produção e a composição dessa secreção.
O fluxo salivar estimulado normal varia de 1 a 1,5 mL/min. Quando o paciente
apresenta valores inferiores, ocorre um quadro de hipossalivação, que causa
alteração do paladar, dificuldade para mastigar, deglutir e falar, e sensação de
boca seca ou xerostomia (BALDO et al., 2021). A manutenção do fluxo constante
também evita a contaminação retrógrada das glândulas por microrganismos
orais devido ao volume salivar em sentido contrário (BORAKS, 2013).

Aspectos clínicos e histopatológicos dos


principais tumores das glândulas salivares
A incidência global estimada para as neoplasias salivares é de 0,4 a 13,5 a cada
100.000 pessoas anualmente. Esse número representa de 3 a 6% de todos os
tumores de cabeça e pescoço, sendo que a maioria, cerca de 75%, consiste em
neoplasias benignas (ALMEIDA, 2016). A ocorrência é preferencial em glândula
parótida, representando a localização preferencial de 36,6 a 83% dos tumores
(BITTAR et al., 2016). Apenas cerca de 15% ocorrem em glândulas menores,
com predileção por palato seguido de lábio superior (BORAKS et al., 2011).
A seguir, são detalhadamente abordados os aspectos clínicos e histopa-
tológicos dos principais tumores das glândulas salivares.

Adenoma pleomórfico
O adenoma pleomórfico consiste na neoplasia benigna mais comum de glându-
las salivares, representando cerca de 40 a 80% de todos os tumores. Trata-se
de lesão nodular de crescimento lento e indolor, com ligeira predileção pelo
sexo feminino e ocorrência entre a terceira e a sexta décadas de vida (SILVA,
2019). Também chamado de tumor misto benigno, é bem circunscrito e en-
capsulado, mas a sua cápsula pode ser incompleta ou invadida por células
tumorais, especialmente em tumores das glândulas menores (ALMEIDA, 2016).
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O sítio preferencial é a glândula parótida (Figura 2a), acometida em 80% dos


casos. Geralmente, ocorre no polo inferior do lobo superficial, mas também
pode ocorrer no lobo profundo ou na parótida acessória (BITTAR et al., 2016). A
segunda localização mais comum é o palato nas glândulas menores (Figura 2b),
seguida do lábio superior e da mucosa jugal (COSTA; ROCHA, 2020). Quando
ocorre no palato, pode apresentar superfície ulcerada devido ao traumatismo
durante a mastigação (MAIA et al., 2019).

A B

Figura 2. (a) Aspecto clínico extraoral de adenoma pleomórfico em glândula parótida e


(b) em palato.
Fonte: Adaptada de Neville et al. (2016).

O adenoma pleomórfico apresenta aspecto histopatológico com grande


variedade entre tumores diferentes ou mesmo em regiões diferentes no
mesmo tumor. A depender da célula envolvida na proliferação, são encontrados
diferentes aspectos histopatológicos. A desproporção entre as células glandu-
lares e mioepiteliais e o material mucoide produz três padrões microscópicos
diferentes (Figura 3) (NEVILLE et al., 2016):

„ quando há maior proporção de células glandulares, pode-se notar um


padrão de formação de ductos ou cordões celulares;
„ quando há maior proporção de células mioepiteliais, observa-se imagem
microscópica plasmocitoide, pela semelhança dessas células tumorais
com os plasmócitos sanguíneos;
„ quando há maior proporção de material mucoide, a aparência é carti-
laginosa, devido à degeneração vacuolar das células e à semelhança
com condrócitos. Em alguns casos, também pode se evidenciar tecido
gorduroso ou osteoide.
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A B C

Figura 3. Diferentes padrões histopatológicos do adenoma pleomórfico: (a) formação de


ductos ou cordões celulares por consequência da proliferação de células glandulares; (b)
imagem plasmocitoide, decorrente da proliferação de células mioepiteliais; (c) padrão com
maior proporção de material mucoide e aspecto cartilaginoso.
Fonte: Adaptada de Neville et al. (2016).

O adenoma pleomórfico pode apresentar características clínicas seme-


lhantes a cistos de origem odontogênica ou não, tumores de tecido mole
ou outros tumores de glândulas salivares (MAIA et al., 2019). Dependendo
da localização da lesão, pode assemelhar-se a lesões benignas, como mu-
cocele, fibroma, lipoma e hiperplasia linfoide, ou a lesões malignas, como
carcinoma mucoepidermoide, adenocarcinoma, carcinoma adenomatoide
cístico, carcinoma de células acinosas e lipossarcoma (BARROS et al., 2021;
SANTOS et al., 2021).

O tratamento preconizado é a excisão cirúrgica e o prognóstico é


bastante favorável, com taxa de cura acima de 95%, sobretudo se o
tumor for removido completamente. Se não for removido, pode alcançar gran-
des proporções. Pode sofrer transformação maligna em 5% dos casos, achado
mais comum em recidivas, e evoluir para o carcinoma ex-adenoma pleomórfico
(ALMEIDA, 2016; BARROS et al., 2021; COSTA; ROCHA, 2020).

Tumor de Warthin
O tumor de Warthin é a segunda neoplasia benigna mais comum, repre-
sentando de 4 a 25% dos tumores de glândulas salivares, com ocorrência
quase exclusiva em glândula parótida, preferencialmente na região caudal
(Figura 4a) (EL-NAGGAR et al., 2017; QUER et al., 2021). Apresenta-se como uma
massa indolor, com consistência semissólida e crescimento lento. Devido ao
caráter multicêntrico, pode ocorrer em bilateralmente em 8% dos casos, mas
normalmente em momentos distintos, ou seja, metacrônico (ALMEIDA, 2016).
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Embora a patogênese ainda não esteja completamente esclarecida, estu-


dos apontam forte associação do tumor de Warthin ao tabagismo, com risco
oito vezes maior de desenvolvimento em tabagistas em relação à população
geral. Costuma acometer idosos entre 60 e 70 anos e tem predileção pelo sexo
masculino (acredita-se que pela maior porcentagem de homens tabagistas em
relação a mulheres) (COSTA; ROCHA, 2020). Clinicamente, pode ser confundido
com outro tumor, benigno ou maligno, mas é o único tumor benigno associado
ao tabagismo (SO et al., 2019).
Os achados histopatológicos evidenciam massa tumoral encapsulada
composta por epitélio ductal e estroma linfoide (Figura 4b). As células epiteliais
cuboidais formam uma dupla camada, com projeções papilares em direção a
espaços císticos preenchidos por secreção serosa ou mucosa (ALMEIDA, 2016).

A B

Figura 4. (a) Aspecto clínico do tumor em glândula parótida e (b) aspecto histológico mostrando
camadas epiteliais papilares em direção aos espaços císticos em menor e maior aumento.
Fonte: Adaptada de Neville et al. (2016).
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O diagnóstico dessa entidade é relativamente simples, pois as característi-


cas clínicas e imaginológicas associadas ao padrão histológico, caracterizado
pela presença de células epiteliais oncotíticas, com citoplasma abundante e
granular, circundadas por estroma linfoide, podem ser evidenciadas, confir-
mando o diagnóstico (QUER et al., 2021). Muitas vezes, é possível identificar
essa lesão por meio de uma biópsia pré-cirúrgica, seja por punção com agulha
fina, seja por core biópsia, demonstrando sensibilidade e especificidade para
o tumor de Warthin. No entanto, isso não dispensa a confirmação anatomo-
patológica posterior (SO et al., 2019).

Em um estudo canadense que analisou todos os pacientes com


diagnóstico de tumor de Warthin durante o período de 2006 a 2017,
a biópsia aspirativa foi compatível com o tumor em 95,8% dos casos. Porém, nos
dois casos em que houve inconsistência, foram confirmados, após a cirurgia,
carcinoma mucoepidermoide e carcinoma de células acinares (SO et al., 2019).

A remoção do tumor é o tratamento preconizado, mas não há consenso


entre ressecção total, com o mínimo de envolvimento do tecido circundante
possível, ou parotidectomia superficial para evitar o rompimento da cápsula
(QUER et al., 2021). A taxa de recorrência é de 6 a 12%, mas, pela natureza
multicêntrica do tumor de Warthin, essa porcentagem pode incluir sítios
secundários (NEVILLE et al., 2016). Apesar de rara, a malignização tem sido
relatada (COSTA; ROCHA, 2020).

Carcinoma mucoepidermoide
O carcinoma mucoepidermoide se trata da neoplasia maligna mais comum das
glândulas salivares. Ocorre com menos frequência na primeira década de vida,
mas é a mais habitual em crianças. Há associação entre radiação prévia na
região de cabeça e pescoço e a maior incidência dessa lesão. Ainda, apresenta
predileção por glândula parótida e aumento de volume assintomático (NEVILLE
et al., 2016). O segundo sítio mais frequente é região de palato. Quando há dor
ou paralisia do nervo facial, o tumor normalmente é mais agressivo ou de alto
grau. Também apresenta crescimento indolor quando ocorre em glândulas
menores e pode ter aspecto flutuante, assemelhando-se a mucocele.
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O carcinoma mucoepidermoide é a neoplasia maligna mais comum no


lábio inferior, no assoalho da boca, na língua e na região retromolar, mas
também pode se desenvolver nos ossos maxilares (COSTA; ROCHA, 2020).
Como sugere o nome, os achados histopatológicos evidenciam uma mistura
de células mucosas, derivadas do epitélio glandular, e células escamosas,
derivadas do epitélio de revestimento (Figura 5).

A B

Figura 5. (a) Aspecto clínico do carcinoma mucoepidermoide em língua e (b) aspecto histológico
mostrando células mucosas circundando espaços císticos.
Fonte: Adaptada de Neville et al. (2016).

Conduta terapêutica
Como já foi mencionado, aproximadamente 80% dos tumores de cabeça e
pescoço ocorrem em glândulas parótidas, e a segunda glândula salivar maior
afetada é a submandibular. Com relação ao comportamento, a maioria dos
tumores de parótida é benigna (adenoma pleomórfico). Já os tumores que
acometem as submandibulares e sublinguais normalmente são malignos
(BORAKS et al., 2011; RIBEIRO et al., 2021). Quando acometem as glândulas
salivares menores, podem ser benignos ou malignos, sem preferência de
comportamento. Porém, quando ocorrem no palato e no lábio superior, são
mais frequentes os tumores benignos; quando ocorrem no assoalho da boca
e no lábio inferior, são mais comuns as lesões malignas (BORAKS et al., 2011).
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A ausência de sintomatologia dolorosa e o aspecto flutuante não


necessariamente indicam benignidade da lesão. A neoplasia ma-
ligna mais comum de glândulas salivares, o carcinoma mucoepidermoide, pode
apresentar-se clinicamente semelhante a uma mucocele, ou seja, uma simples
lesão formada pelo extravasamento de saliva (COSTA; ROCHA, 2020).

De modo geral, a excisão total da glândula acometida é o tratamento


preconizado tanto para tumores benignos quanto para tumores benignos
malignos. Entretanto, o manejo cirúrgico deve ser orientado a partir da con-
firmação diagnóstica da natureza da lesão, especialmente porque os tumores
benignos e malignos de glândulas salivares podem apresentar-se semelhantes
no seu curso inicial (MAIA et al., 2019).
Portanto, colher informações minuciosas durante a anamnese acerca do
surgimento, do curso e dos sintomas relacionados à lesão consiste no primeiro
passo para a elaboração de uma hipótese diagnóstica, que deve ser seguida
pelo exame clínico e por exames complementares de imagem. Assim, será
formada uma coletânea de dados rumo à elucidação diagnóstica, confirmada
mediante exame histopatológico (AZEVEDO et al., 2021; PIGOZZI et al., 2017).
Pigozzi et al. (2017) relatam um caso de tumor maligno em glândula sub-
mandibular que foi confundido com enfartamento ganglionar e teve evolu-
ção de dois anos até a sua confirmação. Os autores reforçam que o rápido
diagnóstico tem impacto positivo no tratamento e alertam que a realização
de exames de imagens (como ultrassonografia, tomografia computadorizada
[TC] e ressonância magnética [RM]), além da biópsia pré-cirúrgica, consiste
em importante ferramenta para o cirurgião-dentista.

Por meio do exame de ultrassonografia, por exemplo, é possível


esclarecer se o aumento de volume é sólido ou não. Já a TC pode
oferecer informações precisas quanto ao tamanho e à localização da lesão.
Por fim, por meio da RM, é possível diferenciar lesões benignas de malignas
(BARROS et al., 2021).
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Atenção especial deve ser dada aos tumores da parótida pela sua relação
íntima com o nervo facial. Em tumores benignos, pode ser realizada a paroti-
dectomia superficial, dependendo da localização do tumor, com maior chance
de preservação do nervo e diminuição de recidivas. Porém, para o tratamento
de alguns tumores, é necessária a remoção completa da glândula e, apesar
da tentativa máxima de preservar o nervo facial, a ocorrência de lesões é um
achado comum. As alterações transitórias são relatadas em maior proporção
(30 a 65%), mas disfunções permanentes, como assimetria facial, dificuldade
de deglutição, hipossalivação e úlceras de córnea, ocorrem em 3 a 6% dos
casos (BITTAR et al., 2016). A paralisia facial em neoplasias da parótida parece
estar associada a fatores como malignidade, longo curso e profundidade da
lesão, mas o tamanho do tumor e uma segunda abordagem cirúrgica após
recidiva também influenciam fortemente a sua ocorrência (BITTAR et al., 2016).
No caso de tumores malignos, dependendo da gradação histopatológica
ou do estadiamento clínico, o planejamento de tratamento adjuvante, como
quimio e radioterapia, e a recessão dos linfonodos cervicais devem ser con-
siderados (BARROS et al., 2021).

Um efeito adverso comum do tratamento radioterápico em região de


cabeça e pescoço é a alteração permanente do fluxo e da composição
salivar, ainda que a lesão tratada não tenha ocorrido em glândulas salivares.
Isso ocorre devido à radiossensibilidade das células acinares, produtoras de
saliva, que podem sofrer apoptose (morte programada) e necrose, e à alteração
nos receptores celulares de sinalização do sistema nervoso autônomo, que
estimula a produção salivar. Além disso, pode ocorrer inflamação, edema e
outras alterações vasculares nas glândulas (BALDO et al., 2021).

Neste capítulo, os tumores das glândulas salivares mais prevalentes foram


explorados, sobretudo as suas características clínicas e histopatológicas. Por
fim, a fim de munir o profissional com as mais atuais melhores práticas na
área, foram apresentadas as condutas terapêuticas indicadas para cada caso.
14 Neoplasia das glândulas salivares

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