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E MAXILOFACIAL
Neoplasia das
glândulas salivares
Lilian Maria Santos Silva de Lira
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
As células são as unidades básicas dos tecidos orgânicos e, junto com a matriz
extracelular, compõem diferentes tecidos que formam os órgãos do corpo.
Devido à capacidade de se dividirem, os tecidos podem ser renovados e células
mortas podem ser substituídas. Essa propriedade fisiológica também permite
que ocorra a cicatrização de lesões, além de contribuir para a manutenção das
funções necessárias ao bom funcionamento do organismo.
A capacidade e a intensidade da divisão celular variam entre os diferentes
tecidos humanos. Existem tecidos com alta atividade mitótica, como os epitélios
de revestimento, por exemplo, e tecidos com baixíssima taxa reprodutora,
como é o caso das células neuronais e musculares (MONTANARI, 2016). Essa
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Figura 1. (a) Glândulas salivares maiores: par de glândulas parótidas, localizadas abaixo e
à frente do meato acústico externo e à frente do processo mastoide do temporal; par de
glândulas submandibulares, localizadas na metade posterior da base da mandíbula; par de
glândulas sublinguais, localizadas no assoalho da boca. (b) Glândulas salivares menores,
localizadas na mucosa palatal.
Fonte: (a) Tambeli (2014, p. 64) e (b) Netter (2015, p. 64).
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Adenoma pleomórfico
O adenoma pleomórfico consiste na neoplasia benigna mais comum de glându-
las salivares, representando cerca de 40 a 80% de todos os tumores. Trata-se
de lesão nodular de crescimento lento e indolor, com ligeira predileção pelo
sexo feminino e ocorrência entre a terceira e a sexta décadas de vida (SILVA,
2019). Também chamado de tumor misto benigno, é bem circunscrito e en-
capsulado, mas a sua cápsula pode ser incompleta ou invadida por células
tumorais, especialmente em tumores das glândulas menores (ALMEIDA, 2016).
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A B
A B C
Tumor de Warthin
O tumor de Warthin é a segunda neoplasia benigna mais comum, repre-
sentando de 4 a 25% dos tumores de glândulas salivares, com ocorrência
quase exclusiva em glândula parótida, preferencialmente na região caudal
(Figura 4a) (EL-NAGGAR et al., 2017; QUER et al., 2021). Apresenta-se como uma
massa indolor, com consistência semissólida e crescimento lento. Devido ao
caráter multicêntrico, pode ocorrer em bilateralmente em 8% dos casos, mas
normalmente em momentos distintos, ou seja, metacrônico (ALMEIDA, 2016).
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A B
Figura 4. (a) Aspecto clínico do tumor em glândula parótida e (b) aspecto histológico mostrando
camadas epiteliais papilares em direção aos espaços císticos em menor e maior aumento.
Fonte: Adaptada de Neville et al. (2016).
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Carcinoma mucoepidermoide
O carcinoma mucoepidermoide se trata da neoplasia maligna mais comum das
glândulas salivares. Ocorre com menos frequência na primeira década de vida,
mas é a mais habitual em crianças. Há associação entre radiação prévia na
região de cabeça e pescoço e a maior incidência dessa lesão. Ainda, apresenta
predileção por glândula parótida e aumento de volume assintomático (NEVILLE
et al., 2016). O segundo sítio mais frequente é região de palato. Quando há dor
ou paralisia do nervo facial, o tumor normalmente é mais agressivo ou de alto
grau. Também apresenta crescimento indolor quando ocorre em glândulas
menores e pode ter aspecto flutuante, assemelhando-se a mucocele.
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A B
Figura 5. (a) Aspecto clínico do carcinoma mucoepidermoide em língua e (b) aspecto histológico
mostrando células mucosas circundando espaços císticos.
Fonte: Adaptada de Neville et al. (2016).
Conduta terapêutica
Como já foi mencionado, aproximadamente 80% dos tumores de cabeça e
pescoço ocorrem em glândulas parótidas, e a segunda glândula salivar maior
afetada é a submandibular. Com relação ao comportamento, a maioria dos
tumores de parótida é benigna (adenoma pleomórfico). Já os tumores que
acometem as submandibulares e sublinguais normalmente são malignos
(BORAKS et al., 2011; RIBEIRO et al., 2021). Quando acometem as glândulas
salivares menores, podem ser benignos ou malignos, sem preferência de
comportamento. Porém, quando ocorrem no palato e no lábio superior, são
mais frequentes os tumores benignos; quando ocorrem no assoalho da boca
e no lábio inferior, são mais comuns as lesões malignas (BORAKS et al., 2011).
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Atenção especial deve ser dada aos tumores da parótida pela sua relação
íntima com o nervo facial. Em tumores benignos, pode ser realizada a paroti-
dectomia superficial, dependendo da localização do tumor, com maior chance
de preservação do nervo e diminuição de recidivas. Porém, para o tratamento
de alguns tumores, é necessária a remoção completa da glândula e, apesar
da tentativa máxima de preservar o nervo facial, a ocorrência de lesões é um
achado comum. As alterações transitórias são relatadas em maior proporção
(30 a 65%), mas disfunções permanentes, como assimetria facial, dificuldade
de deglutição, hipossalivação e úlceras de córnea, ocorrem em 3 a 6% dos
casos (BITTAR et al., 2016). A paralisia facial em neoplasias da parótida parece
estar associada a fatores como malignidade, longo curso e profundidade da
lesão, mas o tamanho do tumor e uma segunda abordagem cirúrgica após
recidiva também influenciam fortemente a sua ocorrência (BITTAR et al., 2016).
No caso de tumores malignos, dependendo da gradação histopatológica
ou do estadiamento clínico, o planejamento de tratamento adjuvante, como
quimio e radioterapia, e a recessão dos linfonodos cervicais devem ser con-
siderados (BARROS et al., 2021).
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