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E MAXILOFACIAL
Neoplasias
benignas orais
Juliana Amorim dos Santos
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
Neoplasia, do grego neo (“novo”) + plasia (“formação”), significa novo crescimento
e caracteriza uma proliferação anormal do tecido, que foge parcial ou totalmente
ao controle do organismo, tendendo à autonomia e à perpetuação (ALMEIDA,
2016; INCA, 2020; KUMAR; ABBAS; ASTER, 2018). O aumento da proliferação celular
ocorre a partir de alterações no ácido desoxirribonucleico (DNA) das células, que,
uma vez transformadas, conseguem superar a função regulatória do organismo,
programada para garantir o crescimento celular normal. Com essas alterações,
as principais falhas de sinalizações estão relacionadas à ativação contínua do
ciclo celular e à redução da apoptose. Entretanto, existem diferentes padrões
de desenvolvimento tumoral associados às alterações celulares, e esses fatores
auxiliam na diferenciação das neoplasias entre benignas e malignas.
Dificilmente as lesões benignas evoluem para o padrão de malignidade. En-
tretanto, a sua capacidade de expansão pode ser prejudicial e até mesmo letal,
comprimindo estruturas anexas e órgãos importantes para o funcionamento do
organismo (ALMEIDA, 2016; KUMAR; ABBAS; ASTER, 2018). Dessa forma, o diagnós-
tico correto dos tumores, de acordo com a subdivisão benignas e malignas, terá
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Diferenciação e anaplasia
Observada nas células parenquimatosas, a diferenciação se refere ao quanto
essas células se assemelham às células normais do tecido de origem, morfoló-
gica e funcionalmente. Os tumores benignos apresentam células semelhantes
ao tecido de origem, ou seja, são consideradas bem diferenciadas. Já a falta
de diferenciação, ou anaplasia, é considerada uma característica de malig-
nidade. Assim, as neoplasias malignas podem apresentar graus variados de
diferenciação celular e, quanto mais indiferenciadas, ou anaplásicas, menos
favorável é o prognóstico.
Entre as principais características de anaplasia encontradas, destacam-se:
Figura 1. Cortes histológicos para a demonstração de anaplasia. (a) Neoplasia maligna bem
diferenciada: carcinoma de células escamosas. As células neoplásicas são semelhantes às
células do tecido epitelial de origem. (b) Neoplasia maligna anaplásica: rabdossarcoma. As cé-
lulas apresentam alto grau de anaplasia, com pleomorfismos celulares e nucleares acentuados,
células gigantes e multinucleadas, hipercromatismo e relação núcleo–citoplasma alterada.
Fonte: Adaptada de Kumar, Abbas e Aster (2018).
Taxa de crescimento
A taxa de crescimento diz respeito ao grau de replicação e proliferação celular
em relação ao tempo. De modo geral, a taxa de crescimento é inversamente
proporcional ao grau de diferenciação, ou seja, tumores bem diferenciados
tendem a crescer mais lentamente, comparados aos mal diferenciados. Desse
modo, as neoplasias benignas apresentam crescimento lento, enquanto as
malignas expressam rápida expansão. Entretanto, alguns fatores, sobretudo
hormonais e de suprimento sanguíneo, podem afetar essa taxa ao alterar o
Neoplasias benignas orais 5
A B
Neoplasias epiteliais
Papiloma
Referente às células do epitélio escamoso, papiloma é uma classificação
genérica para designar proliferação benigna resultante do aumento de volume
papilar ou verruciforme, com pequena quantidade de conjuntivo tecido de
sustentação. Ocorrendo em igual frequência em pessoas do sexo feminino
e masculino, o papiloma escamoso oral é a lesão papilar mais comum da
mucosa oral e corresponde a aproximadamente 2,5 a 3% de todas as lesões
orais biopsiadas (NEVILLE et al., 2009; REGEZI; SCIUBBA; JORDAN, 2017).
Como principal etiologia, os papilomas têm sido associados com a infecção
pelo papilomavírus humano (HPV), que consiste em uma família de mais 100
tipos de vírus de DNA de fita dupla (NEVILLE et al., 2009; REGEZI; SCIUBBA;
JORDAN, 2017). Veja, no Quadro 2, as lesões papilares causadas por HPV.
Papiloma conjuntival 11
A B
Figura 3. Papiloma escamoso. (a) Características clínicas: nódulo lingual pedunculado com
numerosas projeções pontiagudas em formato de “couve-flor”. (b) Características histopa-
tológicas: proliferação epitelial pedunculada com múltiplas projeções papilares e ilhas de
tecido conjuntivo fibrovascular.
Fonte: Adaptada de Neville et al. (2009).
Neoplasias mesenquimais
Fibroma
Com predileção por mulheres, sobretudo na sexta década de vida, o fibroma
é considerado a neoplasia mais comum da cavidade oral. Embora com alta
prevalência, esse tumor é comumente confundido com lesões de natureza
inflamatória/reacional, de modo que se questiona se, na maioria dos casos,
ele realmente representa uma neoplasia verdadeira ou é caracterizado por
hiperplasia reacional do tecido conjuntivo fibroso. Como o próprio nome diz,
esse é um tumor de origem fibroblástica. Porém, a sua etiologia é desconhecida
(ALMEIDA, 2016; NEVILLE et al., 2009).
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A B
Figura 4. Fibroma. (a) Características clínicas: nódulo séssil de coloração rosa semelhante
à mucosa com regiões esbranquiçadas. (b) Características histopatológicas: presença de
colágeno denso abaixo da superfície epitelial.
Fonte: Adaptada de Neville et al. (2009).
Lipoma
Neoplasia benigna do tecido adiposo que, embora seja muito comum no tronco
e em porções proximais do corpo, tem prevalência bem menos frequente na
cavidade oral. Com patogênese incerta e metabolismo dissociado da gordura
corpórea normal, os lipomas parecem ser mais comuns em indivíduos obesos e
apresentam distribuição controversa na literatura, variando entre equilibrada
para os sexos feminino e masculino ou com predileção pelo último (ALMEIDA,
2016; NEVILLE et al., 2009; REGEZI; SCIUBBA; JORDAN, 2017).
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A B
Figura 5. Lipoma. (a) Características clínicas: nódulo séssil de coloração amarelada e consis-
tência macia, localizado no assoalho bucal. (b) Características histopatológicas: adipócitos
neoplásicos maduros e bem diferenciados, similares ao tecido adiposo normal.
Fonte: Adaptada de Neville et al. (2009).
Neurilemoma (Schwannoma)
De origem neural proveniente das células de Schwann, o neurilemoma tem
etiologia desconhecida e predileção pela região da cabeça e do pescoço (em-
bora, no geral, seja considerado uma lesão incomum). Mais comum em adultos
jovens e de meia idade, essa lesão pode acometer indivíduos de qualquer
idade sem predileção por sexo. Quando localizada bilateralmente no nervo
vestíbulo-auditivo, pode ser hereditariamente associada à neurofibromatose
tipo II (ALMEIDA, 2016; NEVILLE et al., 2009).
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A B
Figura 6. Neurilemoma. (a) Características clínicas: nódulo séssil de coloração entre branca
e rosa, semelhante à da mucosa, bem delimitado, de superfície lisa, localizado no ventre
da língua. (b) Características histopatológicas: arranjo em paliçada das células de Schwann,
dispostas em padrão do tipo Antoni A, ao redor dos corpos de Verocay.
Fonte: Adaptada de Neville et al. (2009).
Hemangioma
Muitas vezes, o termo “hemangioma” é utilizado para descrever tanto neo-
plasias quanto malformações vasculares. Entretanto, o progresso na classifi-
cação dessas lesões prevê o uso do termo para designar tumores endoteliais
benignos da infância que exibem três fases principais:
12 Neoplasias benignas orais
Ocorrendo em cerca de 10% das crianças com 1 ano de idade, com predi-
leção pelo sexo feminino, os hemangiomas da infância podem ser divididos
em (ALMEIDA, 2016; NEVILLE et al., 2009):
A B
Linfangioma
Os linfangiomas são neoplasias benignas provenientes dos vasos linfáticos
que aparecem mais comumente na região da cabeça e do pescoço, localiza-
ção de cerca de 50 a 75% de todos os casos. Desenvolvidas sobretudo entre
o nascimento e os primeiros dois anos de idade, essas lesões podem ser
divididas em três grupos variantes do mesmo processo patológico (ALMEIDA,
2016; NEVILLE et al., 2009):
A B
Leiomioma
Embora sejam mais frequentes no útero, no trato gastrointestinal e na pele,
os leiomiomas são raros na cavidade oral. Provenientes do músculo liso, essas
lesões podem ser divididas em três grupos:
leiomiomas sólidos;
leiomiomas vasculares;
leiomiomas epitelioides.
A B
Rabdomioma
Provenientes do músculo esquelético, os rabdomiomas são tumores benig-
nos extremamente raros, que têm predileção de aparecimento na região da
cabeça e do pescoço. Afetando desde crianças a idosos, essas lesões podem
ser classificadas em dois grupos:
rabdomiomas do adulto;
rabdomiomas fetais.
A B
Figura 10. Rabdomioma do adulto. (a) Características clínicas: aumento de volume nodular
localizado em região facial. (b) Características histopatológicas: células redondas com
vacuolização focal.
Fonte: Adaptada de Neville et al. (2009).
Neoplasias benignas orais 17
Neoplasias fibro-ósseas
Condroma
Os condromas são neoplasias benignas compostas de cartilagem hialina
madura, com incidência similar em ambos os sexos e predileção por indivíduos
com menos de 50 anos. A etiologia dessa lesão é desconhecida e os condromas
são raros nos ossos da região maxilofacial, principalmente quando comparados
com outros locais do esqueleto. Entretanto, o diagnóstico de condroma nos
ossos gnáticos, da face e da base do crânio exige atenção devido à recidiva
e à evolução maligna (NEVILLE et al., 2009; REGEZI; SCIUBBA; JORDAN, 2017).
Osteoma
Os osteomas são tumores benignos compostos de osso maduro compacto
ou esponjoso, quase restritos aos ossos do complexo maxilofacial. Quando
surgem na superfície óssea, são classificados como osteomas periosteais,
enquanto o desenvolvimento na região central dentro do osso classifica-os
como osteomas centrais endosteais ou solitários.
Embora fatores como trauma, infecções e anomalias genéticas sejam
sugeridas como possíveis causas para os osteomas, a etiologia dessas lesões
ainda é pouco conhecida. Apresentam predileção pelo sexo masculino e
costumam ser diagnosticados da segunda à quarta década de vida (NEVILLE
et al., 2009; REGEZI; SCIUBBA; JORDAN, 2017).
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A B
Figura 11. Osteoma. (a) Características clínicas: osteoma de tecido esponjoso próximo à
margem da crista alveolar. (b) Características histopatológicas: osteoma compacto de osso
denso com tecido medular mínimo.
Fonte: Adaptada de Neville et al. (2009).
Biópsia
A biópsia excisional consiste na remoção total da lesão e no envio da peça
para a análise anatomopatológica. Essa modalidade permite não apenas
o diagnóstico final de uma patologia, mas também indica características
importantes da sua natureza, como o grau de diferenciação, a capacidade
infiltrativa e o comprometimento de tecidos adjacentes, sendo essencial para
a classificação em lesão benigna e maligna.
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Excisão cirúrgica
Em casos que a involução não acontece, a cirurgia de excisão (FIgura 12a) é
indicada para hemangiomas de pequenas dimensões, em que seja possível
realizar a incisão em tecido sadio, evitando lesionar a massa vascularizada
(BORAKS, 2013).
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Esclerose química
O objetivo principal dessa modalidade terapêutica é irritar a parede vascular,
reduzindo, assim, a luz do vaso e a circulação sanguínea local. Para isso,
agentes esclerosantes são injetados no interior da lesão, mas somente após a
realização da punção para a confirmação da localização adequada (Figura 12b).
Essa manobra é importante para evitar necrose em tecidos adjacentes.
Esclerose física
Também denominada crioterapia, a esclerose física consiste na aplicação de
agentes físicos a fim de provocar o congelamento local da lesão. O agente
mais utilizado para essa modalidade terapêutica é o nitrogênio líquido (óxido
nitroso [N2O] em estado líquido), que entra em contato com a mucosa a uma
temperatura aproximada de –30°C. Geralmente, a necrose por crioterapia leva
uma semana para atingir resultados, podendo ser reaplicada com intervalos
de sete dias até a involução da lesão (BORAKS, 2013).
A B
Figura 12. Tratamentos de lesões benignas. (a) Biópsia excisional/excisão cirúrgica de lesão
sugestiva de lipoma. (b) Esclerose química com oleato de monoetanolamina em heman-
gioma oral. Observe que, antes de injetar a solução, é feita uma aspiração para confirmar a
localização intravascular.
Fonte: Adaptada de Boraks (2013) e Boraks et al. (2011).
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Prognóstico
Com relação ao prognóstico, os tumores benignos orais costumam apresentar
baixa taxa de recidiva e baixa gravidade. Por serem lesões de curso lento,
mas crescimento expansivo, podem acabar comprimindo regiões anatômicas
importantes para o funcionamento do organismo. Dessa forma, o diagnós-
tico correto, seguido da conduta adequada, é fundamental para garantir a
segurança dos pacientes. Além disso, algumas neoplasias orais podem ser
de difícil diferenciação para definir a natureza benigna ou maligna, como nos
casos de rabdomioma e rabdomiossarcoma. Ademais, outras podem recidivar
e evoluir para a sua variação maligna, como no caso do condroma, exigindo
acompanhamento frequente do cirurgião-dentista.
Sabendo que a cavidade oral é um dos locais onde mais aparecem tumo-
res e nódulos, sendo as lesões neoplásicas benignas comuns em diferentes
estruturas do complexo bucomaxilofacial, fica evidente a importância de
estudar a fundo sobre esse tema visando a realizar atendimentos clínicos
embasados em evidência científica e com maior segurança profissional. Por
meio deste capítulo, você teve acesso a conhecimentos fundamentais sobre
a natureza das neoplasias, sobretudo em relação a subsídios para diferenciar
as lesões benignas das malignas. Além disso, agora conhece a etiologia e as
características clínicas, radiográficas e histológicas das principais neopla-
sias benignas da cavidade oral. Esse aprendizado pode ser aplicado na sua
rotina clínica odontológica, sobretudo para diagnosticar as lesões orais de
prevalência mais alta.
Referências
ALMEIDA, O. P. Patologia oral. São Paulo: Artes Médicas, 2016. (ABENO: Odontologia
Essencial: Parte Básica).
ARRUDA, K. A. R. et al. Phenotypic dento-osseous characterization of a Brazilian family
with Familial Adenomatous Polyposis. Arch Oral Biol, v. 129, 2021.
BŁOCHOWIAK, K. et al. Benign tumours and tumour-like lesions in the oral cavity: a
retrospective analysis. Postepy Dermatol Alergol, v. 36, n. 6, p. 744-751, 2019.
BORAKS, S. Semiotécnica, diagnóstico e tratamento das doenças da boca. São Paulo:
Artes Médicas, 2013. (ABENO: Odontologia Essencial: Parte Clínica).
BORAKS, S. et al. Medicina bucal: tratamento clínico-cirúrgico das doenças bucoma-
xilofaciais. São Paulo: Artes Médicas, 2011.
INCA. ABC do câncer: abordagens básicas para o controle do câncer. 6. ed. Rio de
Janeiro: INCA, 2020.
KUMAR, V.; ABBAS, A.; ASTER, J. Robbins: patologia básica. 10. ed. Rio de Janeiro: Gua-
nabara Koogan, 2018.
Neoplasias benignas orais 23
NEVILLE, B. W. et al. Patologia oral e maxilofacial. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
REGEZI, J. A.; SCIUBBA, J. J.; JORDAN, R. C. K. Patologia oral: correlações clinicopatológicas.
7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.
Leituras recomendadas
CARACTERÍSTICAS gerais das neoplasias. Unicamp, 2022. Disponível em: https://w2.fop.
unicamp.br/ddo/patologia/downloads/db301_un5_Aula44CaracGerNeop.pdf. Acesso
em: 28 jan. 2022.
PATOLOGIA e estomatologia UFRGS. Odontologia da UFRGS, 2022. Disponível em: http://
patoestomatoufrgs.com.br/. Acesso em: 28 jan. 2022.
SILVA, L. A. B. et al. Oral benign neoplasms: a retrospective study of 790 patients over
a 14-year period. Acta Otorrinolaringol Esp, v. 70, n. 3, p. 158-164, 2019.
TUMORES benignos. Unicamp, 2022. Disponível em: https://w2.fop.unicamp.br/ddo/
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