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Microbiologia

Clínica
PROFESSORA
Me. Suelen Eloise Simoni

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LIVRO NA VERSÃO
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PRODUÇÃO DE MATERIAIS

Coordenador de Conteúdo Sidney Edson Mella Júnior Designer Educacional Vanessa Tiburcio Curadoria Katia Salvato
Revisão Textual Ariane Fabreti Editoração Adrian Marçareli, Nivaldo Vilela Ilustração Welington Vainer
Fotos Shutterstock.

FICHA CATALOGRÁFICA

U58 Universidade Cesumar - UniCesumar.


Microbiologia Clínica/ Suelen Eloise Simoni. - Indaial,
SC : Arqué, 2023.
288 p. : il.

ISBN papel xxxxxxxxxxxxxxx


ISBN digital xxxxxxxxxxxxxxx

“Graduação - EaD”.
1. Clinica 2. Infecções 3. Microbiológicos. 4. Suelen
Eloise Simoni 3. I. Título.

CDD - 579

Núcleo de Educação a Distância.

Bibliotecária: Leila Regina do Nascimento - CRB- 9/1722.

Ficha catalográfica elaborada de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a). Pró Reitoria de Ensino EAD Unicesumar
Diretoria de Design Educacional
Impresso por:

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360
02511419
Me. Suelen Eloise Simoni

Sou uma pessoa que ama basset hounds, que é fã de cinema, apaixo-
nada por musicais da Broadway e completamente fascinada por livros
de fantasia (Só para constar, minha casa em Hogwarts é a Lufa-Lufa).

A vida toda fui uma grande nerd, e mais atualmente, dedico aqueles
minutinhos antes de dormir a assistir alguns animes bem humorados.
Mas quem me conhece mesmo, sabe que a minha verdadeira paixão é a
dança. Já fiz inúmeros estilos, como balé clássico, jazz, country, dança de
salão, dança ucraniana e, hoje, libero todos os meus estresses em uma
aula maravilhosa de balé moderno. A dança me ensinou que treino e
constância são características importantes para a evolução, e, na medida
do possível, aplico toda a determinação e disciplina inspirados por ela
em minha vida pessoal.

Mesmo com toda esta inclinação artística, eu sou conhecida por ser uma
pessoa muito séria - a não ser pelos decibéis da minha gargalhada, nas
ocasiões em que a piada é realmente muito boa.

Por isso, se você me vir de cara fechada andando na rua, é só dar um


tchauzinho. Eu não estou brava, é só a minha cara mesmo. E, se pudesse
Aqui você pode deixar um conselho valioso daqui para frente, além das inúmeras indi-
conhecer um cações de filmes que virão, é que você encontre algo que lhe preencha
pouco mais sobre a alma - assim como eu encontrei a dança. Ao longo desta jornada de-
mim, além das safiadora que é a vida acadêmica, garanto que isso tornará o processo
informações do
muito mais gentil para aqueles momentos nem tão fáceis assim.
meu currículo.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/6363749591486302
REALIDADE AUMENTADA

Sempre que encontrar esse ícone, esteja conectado à internet e inicie o aplicativo
Unicesumar Experience. Aproxime seu dispositivo móvel da página indicada e veja os
recursos em Realidade Aumentada. Explore as ferramentas do App para saber das
possibilidades de interação de cada objeto.

RODA DE CONVERSA

Professores especialistas e convidados, ampliando as discussões sobre os temas.

PÍLULA DE APRENDIZAGEM

Uma dose extra de conhecimento é sempre bem-vinda. Posicionando seu leitor de QRCode
sobre o código, você terá acesso aos vídeos que complementam o assunto discutido

PENSANDO JUNTOS

Ao longo do livro, você será convidado(a) a refletir, questionar e transformar. Aproveite


este momento.

EXPLORANDO IDEIAS

Com este elemento, você terá a oportunidade de explorar termos e palavras-chave do


assunto discutido, de forma mais objetiva.

EU INDICO

Enquanto estuda, você pode acessar conteúdos online que ampliaram a discussão sobre
os assuntos de maneira interativa usando a tecnologia a seu favor.

Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo


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O download do aplicativo está disponível nas plataformas:
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MICROBIOLOGIA CLÍNICA

A microbiologia é conhecida como a área de estudo que aborda os pequenos organismos provindos dos demais
habitats, como solo, água e o próprio ser humano. Mas você, aluno(a), consegue mensurar o quão pequeno estamos
falando? Além disso, consegue imaginar outro habitat em que seria possível encontrar estes pequenos elementos?
E se eu lhe dissesse que já existiram estudiosos que relacionaram doenças de causas inexplicáveis às bactérias
de origem interplanetária, você acharia possível?
Pois este é exatamente o caso da doença de Morgellons, um distúrbio cutâneo, de causa desconhecida,
caracterizado por lesões de pele com aparência inchada e que, curiosamente, produzem e expelem filamentos
coloridos (vermelho, preto e azul). Ainda, os pacientes, de maneira recorrente, descrevem a sensação de terem
“parasitas ou insetos passando por dentro de suas peles”.
No entanto o processo de investigação para determinação de uma doença infecciosa necessita da definição
de algumas características essenciais, como: agente etiológico, transmissão, manifestações clínicas (também cha-
mados de sinais e sintomas), tratamento e diagnóstico, mesmo que as descobertas associadas a estes fatores
não sejam realizadas nesta ordem em particular.
Por isso, é comum que processos patológicos os quais podem ser potencialmente associados a micro-orga-
nismos sejam estudados de uma maneira mais sistematizada, de forma semelhante a como faremos neste livro.
Para que você tenha uma ideia deste processo, recomendo que realize uma pesquisa sobre a doença de
Morgellons e se atente ao rigor científico dos seus dados a serem consultados. Aqui vai um conselho: uma equipe
liderada pelo Doutor Randy Wymore, em Oklahoma, EUA, possui dados valiosos sobre esta patologia. Se eu fosse
você, começaria por eles. Pesquise, principalmente, a etiologia, os sintomas e o tipo de paciente acometido.
E então, você conseguiu identificar qual a principal linha de raciocínio deste grupo de estudos? É claro que, para
a condução de uma pesquisa médica de qualidade, existem diversos passos e muitas etapas a serem seguidos.
Por meio desta pequena visitação, ficou mais fácil entender como funciona a dinâmica de pesquisa clínica? Você
consegue imaginar-se atuando desta maneira?
Pela necessidade de entendermos os pontos-chaves dos processos infecciosos, as unidades de Microbiologia
Clínica estarão organizadas de maneira a identificarmos e definirmos os fatores fundamentais que envolvem a
história natural das doenças bacterianas e fúngicas, como as formas de transmissão, os vetores (quando presentes),
os sintomas, os sinais físicos e aas potenciais sequelas causadas pela ausência de tratamento.
Para isso, serão apresentados os conceitos acerca de características citológicas, histológicas e fisiológicas dos
sistemas humanos acometidos nestes processos patogênicos, desde a pele até o tecido nervoso, para que o apren-
dizado seja ainda mais enriquecedor. Além disso, entender como funcionam as células bacterianas e fúngicas e
quais os mecanismos utilizados por elas que permitem a sua invasão e disseminação no hospedeiro, é fundamental.
Além disso, será possível, no final destas unidades, compreender os métodos diagnósticos para as identificações
laboratoriais destes patógenos, incluindo os procedimentos manuais e automatizados, bem como os materiais
utilizados para sua aplicação analítica. Dentro deste assunto, você aprenderá sobre as maneiras de cultivo destes
micro-organismos, quais as exigências ambientais para seu crescimento, os métodos de inoculação e isolamento
e, também, você será colocado à frente de situações hipotéticas - mas não menos desafiadoras - que o ajudarão
a compreender como funciona o processo da pesquisa clínica e a rotina em um laboratório de microbiologia.
Ainda, você será apresentado aos tratamentos mais comuns para as infecções bacterianas e fúngicas, principalmen-
te aqueles que são mais acessíveis e administrados em hospitais. Esta disciplina ainda lhe apresentará curiosidades
sobre os micro-organismos, as indicações de filmes e os documentários relevantes para seu processo de aprendi-
zado e as oportunidades que vão além desse material escrito, que lhe ajudarão a se familiarizar com o conteúdo e
lhe convencerem de que a microbiologia é uma das mais interessantes áreas do arcabouço das ciências da saúde.
Por que você se dedicaria ao máximo para a microbiologia clínica? Posso lhe dizer, com toda certeza, que a
microbiologia vai muito além dos jalecos brancos e enigmas laboratoriais. No campo acadêmico, o conhecimento
profundo da microbiologia ajuda você a interpretar outras disciplinas clínicas, uma vez que a presença de infec-
ção altera não apenas ensaios microbiológicos, mas análises bioquímicas, citológicas e hematológicas também.
No campo profissional, primeiramente, permite que o profissional seja ferramenta para estabelecer a saúde dos
indivíduos, principalmente porque o diagnóstico de uma infecção bacteriana ou fúngica não interfere na vida de
apenas um indivíduo, mas consegue ir além, auxiliando órgãos sanitários no controle de endemias importantes.
Além disso, entender de microbiologia facilita a comunicação com os demais setores clínicos e capacita o profis-
sional a não trabalhar apenas na bancada analítica, mas expandir sua atuação para áreas de auditoria, controle de
qualidade, controle de infecções hospitalares, coordenação de setores laboratoriais e elaboração de procedimentos
imprescindíveis que garantem o bom funcionamento de um laboratório de análises clínicas.
Mas, como você pode conseguir tudo isso? Eu lhe garanto que ficar restrito à leitura do material escrito pode lhe
fornecer informações preciosas, mas a garantia de que seu aprendizado seja realmente eficaz vem com a prática.
Abuse dos espaços para anotações e mapas mentais, resolva as questões propostas com seriedade, participe,
ativamente, das propostas de atividades, consuma o conteúdo em áudio e vídeo disponibilizado, e, também, se
divirta com as indicações de entretenimento. O aprendizado é fruto da sinestesia, por isso, a combinação dos seus
registros escritos, do consumo dos filmes indicados (até acompanhado de pipoca, por que não?) e dos minutinhos
de conversa que teremos neste processo trarão mais leveza para a leitura deste material e serão fundamentais
para o aproveitamento integral do seu estudo.
Espero você nas próximas unidades!
1
13 2
49
INTRODUÇÃO À ASPECTOS MI-
MICROBIOLOGIA CROBIOLÓGICOS,
CLÍNICA CLÍNICOS E
LABORATORIAIS
DAS INFECÇÕES
DE TRATO
URINÁRIO

3
77 4
113
ASPECTOS MICROBIO- ASPECTOS
LÓGICOS, CLÍNICOS E MICROBIOLÓGICOS,
LABORATORIAIS DAS CLÍNICOS E
INFECÇÕES LABORATORIAIS DAS
DO TRATO INFECÇÕES
GASTROINTESTINAL SEXUALMENTE
TRANSMISSÍVEIS

5 141 6
173
ASPECTOS CLÍNICOS, ASPECTOS CLÍNICOS,
EPIDEMIOLÓGICOS E EPIDEMIOLÓGICOS E
LABORATORIAIS DE LABORATORIAIS DE
INFECÇÕES BACTE- INFECÇÕES
RIANAS DO TRATO BACTERIANAS DE
RESPIRATÓRIO SNC E SISTEMA
SANGUÍNEO.
7 8
201 219
ASPECTOS CLÍNICOS, ASPECTOS CLÍNICOS,
EPIDEMIOLÓGICOS E EPIDEMIOLÓGICOS E
LABORATORIAIS DE LABORATORIAIS DE
INFECÇÕES DE INFECÇÕES DAS
PELES E PARTES MICOSES SUPERFI-
MOLES CIAIS E CUTÂNEAS

9
245
ASPECTOS CLÍNICOS,
EPIDEMIOLÓGICOS E
LABORATORIAIS DE
INFECÇÕES DAS
MICOSES SISTÊMICAS
1
Introdução à
Microbiologia Clínica
Me. Suelen Eloise Simoni

Nesta unidade, convido você, aluno(a), a aprender as principais


formas de organização dos micro-organismos, as características
celulares essenciais dos procariontes e quais os fatores que in-
fluenciam o crescimento microbiano. Ainda nesta unidade, serão
apresentadas as principais técnicas de coloração de lâminas, os
fundamentos das análises microscópicas e, acredito, ainda, que você
dominará facilmente as denominação e destinação dos principais
meios de cultura utilizados em microbiologia. Se aceitar entrar nesta
jornada desafiadora, aprenderá, também, as etapas pré-analíticas,
que são técnicas de coleta, preservação e transporte de amostras
clínicas, as responsabilidades as quais envolvem a microbiologia
clínica bem como os pontos críticos que um profissional de saúde
deve considerar antes e durante a execução dos ensaios.
UNICESUMAR

A microbiologia é conhecida como a área de estudo que aborda os pequenos organismos e esconde um
conjunto de enigmas e desafios inerentes que não são apenas do tamanho desses elementos, mas envolvem,
também, a complexidade de seus metabolismos, processos de patogenicidade e fatores de virulência.
Tenho certeza que, com os seus conhecimentos prévios em microbiologia, você sabe que é de extrema
importância os profissionais de saúde estarem familiarizados com todos esses conceitos e, também,
com o risco associado de trabalhar com amostras clínicas. Sendo assim, o que poderia acontecer, caso
esse comprometimento não estivesse tão claro ou se os cuidados a serem tomados durante a coleta de
uma amostra não fossem executados em sua totalidade?
Considere o seguinte cenário: você é o(a) analista clínico(a) responsável pelo setor de microbiologia
de um laboratório hospitalar e recebe o questionamento do médico responsável pelo paciente Quentin
Tarantino, um homem de 60 anos que está há 15 dias sob o uso de antibióticos de amplo espectro, mas
cujo exame de urina continua apresentando alto crescimento bacteriano, mesmo sob aumento da dose
do medicamento. O médico quer saber se existe algum procedimento adotado pelo laboratório ou na
coleta que pode influenciar no resultado final. Qual seria a sua resposta?
Lembre-se de considerar não apenas o material obtido, mas também as medidas de cuidado pos-
síveis de serem aplicadas durante a coleta que assegurem que a amostra reflete, verdadeiramente, a
condição desse material. Além disso, o material de coleta pode ser contaminado, de alguma forma,
durante a coleta? O uso de Equipamentos de Proteção Individual é capaz de influenciar o resultado
final? Em relação à identificação dessa amostra, existe algum interferente com capacidade de a impactar,
diretamente, antes que ela chegue ao laboratório?
Inicialmente, o domínio dos conceitos pré-analíticos para processamento de amostras em laboratório
de microbiologia é um dos pontos mais críticos à obtenção de resultados fidedignos. Por isso, conhecer as
condições nas quais uma amostra é coletada, transportada e recebida nas instalações laboratoriais é de suma
importância para que profissionais analistas consigam avaliar criticamente os resultados obtidos, auxiliando,
dessa forma, nas discussões multiprofissionais que envolvem o bem-estar de pacientes hospitalares ou não.
De acordo com uma revisão sistemática realizada em 2012 (LOURENÇO, 2013), a ocorrência de erros
pré-analíticos de natureza de coleta envolvendo identificação das amostras, além de comum, pode levar
a erros de diagnóstico, implementação de terapias desnecessárias e impacto direto na vida do paciente.
Além disso, o cuidado com etapas pré-analíticas envolvendo tanto a escolha de frascos corretos
para coleta quanto os volumes adequados de amostras auxilia na tomada de decisão mais assertiva no
momento da análise, trazendo mais segurança ao analista e ao resultado.
Voltando ao paciente hospitalizado: se eu te dissesse que, no mesmo quarto onde o senhor Tarantino
estava internado, o paciente Martin Scorsese, apresentando dores pélvicas fortíssimas e sintomas de
infecção, também teve a urina coletada para exames, urina a qual apresentou-se negativa para bactérias,
a sua argumentação com o médico mudaria?
Para buscar por respostas, te proponho a seguinte atividade: faça a leitura do estudo “Erros pré-a-
nalíticos em Medicina Laboratorial: uma revisão sistemática”, disponível no QR Code, a seguir. Esse
passo é muito importante na construção do seu aprendizado.

14
UNIDADE 1

Agora, após a leitura e utilizando os seus conhecimentos da microbiologia


básica, tente listar, ao menos, três possibilidades pré-analíticas capazes
de influenciar o resultado questionado pelo médico.
Te convido a ir mais além e refletir: você acha que os resultados obtidos
nos exames dos dois pacientes possuem correlação? Existe alguma me-
dida que pode ser tomada na rotina laboratorial, a fim de prevenir erros
pré-analíticos? Use o Diário de Bordo disponível, a seguir, e registre a
sua busca.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

Como uma forma de refrescar o nosso conhecimento em microbiologia, é importante resgatar alguns
conceitos importantes os quais estão constantemente associados à pesquisa de patógenos e ao diag-
nóstico de doenças infecciosas.
Inicialmente, é importante lembrar que os seres humanos possuem, naturalmente, uma microbiota
normal, a qual, em condições fisiológicas usuais, não causa danos, sendo considerada ubiquitária no
organismo humano e animal (SOUZA; SCARCELLI, 2000).
Você, aluno(a), faz ideia da infinidade de micro-organismos que podem habitar, de forma harmo-
niosa e não prejudicial, o nosso corpo? Clique no ícone da Realidade Aumentada e explore as regiões
da fisiologia humana possuidoras de microbiota normal, familiarize-se com os gêneros e espécies a
serem citados ao longo desta e das demais unidades, futuramente.

REALIDADE
AUMENTADA

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UNICESUMAR

Quando o sistema imunológico se apresenta enfraquecido ou em ocasiões de nutrição insuficiente e


imunossupressão, no entanto os micro-organismos da flora microbiana são importantes contribuin-
tes às infecções transmitidas por via endógena, aproveitando essas fragilidades do organismo para se
colonizarem e multiplicarem, sendo denominados patógenos oportunistas (BRASIL, 2004).
Além disso, a via exógena, isto é, meio pelo qual micro-organismos invadem o organismo humano
através de procedimentos médicos pobremente higienizados, transmissão aérea por gotículas e perdi-
gotos e contato direto com mãos, por exemplo, caracteriza-se como a principal forma de transmissão
de doenças infecciosas. Isso porque essas bactérias, parasitas e fungos não precisam, necessariamente,
que o organismo se encontre em condições ruins, pois tais micro-organismos possuem mecanismos de
patogenicidade e fatores de virulência que permitem a invasão de células e sistemas, a fim de utilizarem
as nossas fontes de energia para se manterem vivos e replicantes (CARVALHO; MARQUES, 1999).
No quadro, a seguir, você observará alguns exemplos de bactérias e fungos importantes causadores
de infecções hospitalares e comunitárias.

Micro-organismos exógenos Sistemas afetados pelas infecções

Bactérias Gram negativas

Escherichia coli Trato urinário, sangue

Pseudomonas sp trato urinário, trato respiratório, queimaduras

Klebsiella sp trato urinário, trato respiratório

Proteus sp Trato urinário, trato respiratório

Serratia sp Trato urinário, trato respiratório

Bactérias Gram positivas

Staphylococcus aureus Pele, sangue

Streptococcus sp Trato urinário, trato respiratório

Staphylococcus epidermidis Pele, sangue

Fungos

Candida albicans Trato urinário, sangue

Quadro 1 - Micro-organismos causadores de infecções exógenas / Fonte: adaptado de Brasil (2004).

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UNIDADE 1

Mas de que forma esses elementos se orga-


nizam e funcionam, para serem capazes de
provocar doenças graves e, muitas vezes,
de difícil tratamento? A resposta a esta
pergunta é um tanto quanto controversa,
afinal, as células dos pequenos organismos
são relativamente simples quando compa-
radas à complexidade do funcionamento
do organismo humano.
Quanto aos fungos, é sabido que são
organismos eucariontes, por isso, têm
membrana nuclear unicelulares ou pluri-
celulares. Possuem membrana plasmática
constituída por uma grande quantidade de
lipídios e esteróis, responsáveis por ofere-
cer estabilidade à célula e suporte em casos
de estresse celular. Além de apresentarem
o núcleo protegido por um envelope nu-
clear, a organização do citoplasma tam-
bém é muito variada, contendo diversas
organelas, como: mitocôndrias, ribosso-
mos, retículo endoplasmático, Complexo
de Golgi e lisossomos (BLACK; BLACK,
2021). Em uma seção à parte, abordare-
mos melhor as células fúngicas, os seus
mecanismos de sobrevivência e como eles
influenciam a patogenicidade desses mi-
cro-organismos.

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UNICESUMAR

Já as bactérias são um grupo de organis-


mos unicelulares e procariontes que se repro-
duzem apenas por mitose e apresentam, de
modo geral, um único cromossomo, por con-
ta disso, possuem estrutura e apresentação
relativamente simples. As bactérias perten-
cem aos domínios Archaea e Bacteria e são
os menores de todos os organismos da terra:
medem entre 0,5 e 2,0 μm (micrômetros) de
diâmetro (de 4 a 15 vezes menores do que um
eritrócito humano) e apresentam variadas
formas, por exemplo, esféricas (denominadas
cocos) em bastão (chamadas, também, de
bacilos) e em espiral (TORTORA; FUNKE;
CASE, 2019).
Diferentemente das células eucarióticas,
as células bacterianas limitam-se a apresentar
quatro componentes estruturais elementa-
res: parede e membrana celulares, citoplasma
(contendo ribossomos e material genético) e,
também, estruturas celulares externas, como
flagelos e pili, por exemplo.

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UNIDADE 1

Observando a Figura 1, você consegue, aluno(a), identificar a presença dessas estruturas.

Figura 1 - Estrutura básica de uma célula bacteriana procarionte / Fonte: Khouri (2016, on-line).

Descrição da Imagem: a figura apresenta um desenho de uma estrutura oval alongada representando uma célula com formato de
bastão envolta por três camadas. A mais externa, de cor laranja, representa a estrutura chamada cápsula. A intermediária, de cor
bordô, é chamada de parede celular, enquanto a mais interna e de cor amarela é denominada membrana plasmática. Delimitado por
essas três camadas está o citoplasma, apresentado em cor bege e repleto de esferas na cor marrom, caracterizando os ribossomos.
Na parte central, encontra-se um emaranhado de traços na cor roxa que representa o material genético (DNA) da célula bacteriana.

Devido ao tamanho tão diminuto desses micro-organismos, ao longo do tempo, foi necessário
desenvolver técnicas de microscopia e coloração para que analistas pudessem os observar, carac-
terizar e catalogar. Dentre elas, a microscopia óptica foi um grande avanço para o diagnóstico e
triagem de doenças bacterianas, sendo desenvolvido para que, em meados de 1880, alcançasse a
leitura impressionante de 0,2 μm, limite o qual permanece até hoje aos microscópios de banca-
da (PIRES; ALMEIDA; COELHO, 2014). Além da microscopia óptica — que fornece junto às
técnicas de coloração a principal forma de caracterizar as bactérias isoladas no laboratório — a
microscopia de fundo escuro também pode ser útil àqueles micro-organismos que são distorcidos
pelas técnicas comuns (coloração de Gram) ou que perdem as suas propriedades características,
como a bactéria espiroqueta Treponema pallidum, causadora da sífilis.

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UNICESUMAR

Entre 1930 e 1940, surgiram, também, os primeiros equipamentos de microscopia eletrônica de


varredura, a qual, assim como diz o nome, promove uma varredura completa na superfície da amostra
analisada, explorando cada ponto e transmitindo o sinal para um detector de imagem e de raio-X, não
só identificando as estruturas, mas analisando quimicamente a sua composição (SOUZA et al., 2007).
Se olharmos novamente a Figura 1, quais estruturas conseguimos observar com o microscópio óptico
e quais seriam possíveis, apenas, através da microscopia eletrônica de varredura? E se voltarmos aos
nossos queridos pacientes Quentin Tarantino e Martin Scorsese, você acha que se o laboratório tivesse
um microscópio mais tecnológico e evoluído, conseguiria identificar informações mais relevantes?
Na rotina laboratorial, é extremamente incomum ter microscópios eletrônicos para pesquisa
da patógenos, isso porque, além do equipamento ser muito caro, ele necessita de instalações espe-
ciais e pessoal altamente treinado, o que faz os investimentos para a sua manutenção no dia a dia
serem muito elevados. Por essa razão, mesmo com algumas desvantagens em relação à resolução
das imagens, o microscópio óptico, além de apresentar custo mais baixo, quando associado a
outras técnicas de coloração, consegue fornecer resultados satisfatórios na microbiologia clínica.
Dessa forma, tendo conhecimento claro sobre as estruturas bacterianas, o seu papel fisiológico
e morfológico e como se comportam frente às tecnologias de pesquisa e identificação, você será
capaz de exercer, de modo mais fácil, o seu papel de analista.

A primeira estrutura a ser estudada é a parede celular, um envoltório externo à membrana


citoplasmática, formada de peptideoglicano ou mureína, os quais são constituídos de
moléculas de N-acetilglicosamina, ácido N-actilmurâmico e lisina ou ácido diaminopi-
mélico. Ela é suficientemente porosa, permitindo a passagem de nutrientes, água e sais
minerais para o citoplasma bacteriano e, também, é ela que possui diferenças importan-
tes e responsáveis por caracterizar as bactérias como Gram negativas, Gram positivas e
ácido-álcool resistentes (BLACK; BLACK, 2021).
As bactérias Gram positivas têm uma camada espessa de peptideoglicano fixada, de forma
firme, à membrana celular, combinada a moléculas de ácidos teicóicos, e é justamente à sua
espessura que está relacionada à capacidade de reter alguns tipos de corantes internamente
à célula. No caso de micro-organismos Gram negativos, a parede celular é constituída de
vários polissacarídeos, lipídios, proteínas e, também, de peptideoglicano, no entanto a sua
espessura não é suficiente para armazenar corantes, como o cristal-violeta, frente à ação de
agentes descolorantes. Os micro-organismos Gram negativos apresentam, ainda, a membra-
na externa, formada por lipoproteínas, responsáveis pela formação das porinas (importante
mecanismo de resistência das bactérias a ação de antibióticos) e lipopolissacarídeos (uma
combinação de lipídio A e polissacarídeos), os quais são responsáveis por se desprenderem
da célula bacteriana após a sua morte e desempenhar propriedades tóxicas que provocam
emergências médicas de moderadas a graves (BLACK; BLACK, 2021).

20
UNIDADE 1

Na Figura 2, é possível observar as diferenças estruturais entre Gram positivas e Gram negativas.

BACTÉRIA BACTÉRIA
GRAM NEGATIVA GRAM POSITIVA

Membrana externa
Espaço periplasmático Parede Peptideoglicano
Peptideoglicano celular
Espaço periplasmático Espaço periplasmático
Membrana plasmática Membrana plasmática
Citoplasma Citoplasma

Não retém o corante Fornece resultado positivo


cristal violeta na coloração de gram

Figura 2 - Diferenças entre membranas plasmáticas de bactérias Gram positivas e negativas e a sua influência na coloração de Gram

Descrição da Imagem: a figura apresenta dois desenhos, lado a lado. Na extremidade inferior, duas células distintas em forma de
bastonete possuem, na parte central, o citoplasma, o qual está repleto de esferas em azul-claro representando os ribossomos e um
emaranhado de linhas alaranjadas representando o material genético. As duas células são envoltas por uma membrana e as membra-
nas de ambas as células estão aumentadas e representadas na parte superior da imagem. Do lado esquerdo da imagem, existe uma
organização intitulada “Bactéria Gram negativa”, a qual caracteriza uma bactéria de mesmo nome. Ela tem seis camadas sobrepostas
e, na seguinte ordem, de baixo para cima: citosol na cor verde-escuro, membrana plasmática na cor amarela, espaço periplasmático
na cor azul claro, peptideoglicano na cor roxa e, novamente, o espaço periplasmático na coloração azul-claro, sendo a última camada, a
qual é, também, a mais superior, a membrana externa, na cor verde-claro. A membrana da direita tem o título “Bactéria Gram positiva”
e caracterizando uma bactéria de mesmo nome, a qual apresenta quatro camadas sobrepostas e, na seguinte ordem, de baixo para
cima: citosol na cor verde-escuro, membrana plasmática na cor amarela, espaço periplasmático na cor azul-claro e, como a última
camada e, também, a mais superior, o peptideoglicano na cor roxa.

No laboratório de microbiologia, são vários os corantes que podem ser empregados, mas, de longe, a
coloração mais utilizada é a coloração de Gram. Mesmo possuindo algumas limitações — inadequada
à caracterização de micoplasmas que não têm parede celular; espiroquetas devido ao seu tamanho
muito pequeno e clamídias por serem bactérias intracelulares obrigatórias — a coloração de Gram
consegue diferenciar a maioria das bactérias causadoras de patologias de importância médica.
Dependendo do tipo de amostra, técnicas de isolamento diversas costumam ser utilizadas, a fim
de obter colônias bem definidas para a confecção da lâmina de Gram. A técnica consiste em adicionar
uma colônia bacteriana com menos de 24 horas de incubação a uma lâmina limpa e, preferencialmente,
estéril, dispersando-a em uma pequena porção de solução salina estéril a 0,85%. Depois, a lâmina deve

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UNICESUMAR

ser fixada, isto é, submetida a alta temperatura, momentaneamente, para que o esfregaço fique preso
à lâmina durante toda a etapa de coloração.
A coloração é, de modo geral, composta de quatro passos, sendo o primeiro deles a adição de cristal
violeta (ou violeta genciana) em cima da lâmina por 60 segundos. Nesse momento, todas as bactérias
com parede celular são coradas, tendo os seus citoplasmas impregnados com o corante de cor roxa
intensa. Depois, uma solução a base de iodo (lugol), chamado, também, de “mordente”, é adicionada
à lâmina, a qual fica responsável por formar um complexo junto ao corante violeta, fazendo com que
ele fique fortemente ligado à parede celular de bactérias Gram positivas (OSANTE; RUIZ, 2016).
Na Figura 3, é possível observar como bactérias Gram positivas se comportam na lâmina microscópica.

Figura 3 - Cocos Gram positivos em lâmina microscópica

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia colorida de parte de uma lâmina microscópica corada. É possível visualizar
pequenas bolinhas roxas, as quais caracterizam os cocos Gram positivos. Elas estão dispostas em aglomerados, em duplas ou trios ou
em fileiras ao longo da imagem.

Por que a coloração de Gram deve ser realizada em colônias ou amostras com menos de 24 horas
de incubação? O dano fisiológico ou o envelhecimento podem tornar a parede celular de uma
célula Gram positiva mais permeável, provocando escapamento do corante roxo, caracterizando-a
erroneamente como Gram negativa.

22
UNIDADE 1

O ponto crítico da técnica é a etapa de descoloração, representada pela adição de uma mistura de álcool
e cetona, a qual fará a remoção do cristal violeta de todas as células Gram negativas. Para as revelar
no entanto, uma última etapa de coloração é realizada adicionando o corante safranina ou fucsina,
que fará a coloração do citoplasma tornar-se rosa, diferenciando as Gram negativas como na Figura 4.

Figura 4 - Bacilos Gram negativos em lâmina microscópica

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia colorida de parte de uma lâmina microscópica corada. É possível visualizar
pequenas bactérias em forma de bastão na cor rosa, as quais caracterizam bactérias Gram negativas. Elas estão dispostas em aglome-
rados, em duplas ou sozinhas ao longo da imagem.

As bactérias álcool-ácido resistentes, dentre as quais se destacam a Mycobacterium tuberculosis e a


Mycobacterium leprae, causadoras, respectivamente, da tuberculose e da hanseníase, têm espessura da
parede celular semelhante às Gram negativas, contudo a constituição do envoltório consiste em cerca
de 60% de lipídios e menos concentração de peptideoglicanos. Nesses micro-organismos, o processo
de divisão celular demanda muito gasto energético, devido à necessidade de produção de gorduras
para a parede celular, por isso, possuem tempo de proliferação mais alongado quando comparados a
outras bactérias. Também chamados de micobactérias, esses organismos fazem a retenção do corante
carbolfucsina no citoplasma, sendo resistentes à descoloração, inclusive a reagentes mais potentes, como
a mistura álcool-ácida, justificando, assim, a sua denominação (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).
A coloração de Ziehl-Neelsen, adequada à caracterização dessas bactérias, será abordada e
aprofundada na Unidade 5.

23
UNICESUMAR

Quer um macete para nunca confundir Gram positivo e Gram negativo em lâmina microscópica?
Sempre que a bactéria estiver roxa na lâmina, é só lembrar que roxo é purple em inglês, palavra
que começa com “P” de “positivo”. Dessa forma, todas as bactérias roxas serão Gram positivas.

A parede celular confere às bactérias uma característica única e importante, assim, fica difícil ima-
ginar que exista algo em comum entre as células dos patógenos e as dos seres humanos. Mas se eu te
contasse que, em termos de membrana citoplasmática, a composição química e organizacional das
bactérias é muito semelhante às nossas?
Assim como a membrana de animais, a das bactérias é constituída por um mosaico fluido de fos-
folipídios e proteínas. Essa bicamada fosfolipídica apresenta a extremidade externa altamente hidro-
fílica, o que permite a interação com o meio aquoso, enquanto as proteínas aderidas a ela conferem às
bactérias um perfil específico de identificação, funcionando como uma “impressão digital” da célula
bacteriana. Contudo, diferentemente das células eucarióticas, a membrana celular nas bactérias tem
funções adicionais à capacidade de troca de fluídos e nutrientes: ajuda na replicação do DNA, realiza
respiração celular por meio da captura de energia na forma de ATP e, ainda, secreta proteínas impor-
tantes para a defesa ou manutenção da célula no ambiente (BLACK; BLACK, 2021).
Para que a parede celular e a membrana tenham os componentes necessários e desempenhem a sua
função, as bactérias contam, ainda, com o citoplasma e com a sua composição a base de água, enzimas,
carboidratos, lipídeos, íons orgânicos e ribossomos. Os ribossomos — compostos por RNA e proteína
em longa cadeia — são os responsáveis pela síntese proteica bacteriana, semelhante à célula eucariótica,
além de se diferenciarem em sua estrutura espacial bem como no chamado Coeficiente de Sedimentação
(valor atribuído à capacidade de ribossomos decantarem-se em tubos no processo de centrifugação).
As células eucarióticas apresentam o valor de 80 unidades Svedber (S) em seus ribossomos, enquanto
as bactérias apresentam o coeficiente de 70S (divididos em duas subunidades contendo 30S e 50S). É
essa propriedade, inclusive, que torna as bactérias suscetíveis à ação de antimicrobianos como a eri-
tromicina, a qual tem capacidade de interagir juntamente com as subunidades ribossômicas da célula,
impedindo a produção de proteínas vitais à bactéria (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
Por não possuírem membrana nuclear, as bactérias apresentam, ainda, a chamada região nuclear
ou nucleoide, a qual se localiza no centro do citoplasma e onde, por sua vez, há uma concentração
de DNA em forma circular, composto por um ou dois cromossomos. Além do material genético
responsável pela reprodução celular, as bactérias podem conter os plasmídeos, moléculas circulares
e pequenas de DNA suplementares ao cromossomo principal e que são responsáveis pelas trocas ge-
néticas entre uma bactéria e outra, facilitando o desenvolvimento de mecanismos de resistência bem
como a sobrevivência em ambientes agressivos (BLACK; BLACK, 2021).

24
UNIDADE 1

Como a troca de plasmídeos influencia o metabolismo bacteriano? O plasmídeo é um DNA circular


extracromossômico possível de ser transferido de uma bactéria a outra por meio da conjugação ge-
nética (contato direto), o que foi descoberto em 1946, por Joshua Lederberg. Ele misturou duas cepas
diferentes de Escherichia coli que possuíam defeito em rotas metabólicas diferentes, característica que
impedia o crescimento das cepas em determinados meios de cultura não enriquecidos. Ao inocular
a mistura das cepas em um meio sem os compostos necessários para a proliferação, o pesquisador
observou que, mesmo com a deficiência de nutrientes, houve crescimento de ambas as cepas.
Você consegue imaginar o porquê? Ao compartilharem os seus plasmídeos, as cepas complementa-
ram as rotas metabólicas defeituosas uma da outra, e o mecanismo evolutivo permitiu ao ambiente,
antes inóspito, tornar-se favorável à sobrevivência.

A combinação desse maquinário bacteriano auxilia em todos os processos metabólicos elementares


para a manutenção da bactéria, quando associado aos compostos nutritivos presentes e retirados do
ambiente. A multiplicação bacteriana (Figura 5) ocorre por meio de sucessivos processos mitóticos
nos quais a síntese de DNA é primordial, de forma que a interrupção da duplicação cromossomal
impedirá, automaticamente, os outros processos de divisão de acontecer, pois a produção do pepti-
deoglicano está ligada, de forma direta, à divisão celular (PIRES; ALMEIDA; COELHO, 2014).

DNA / Material genético

Figura 5 - Bipartição ou divisão celular bacteriana

Descrição da Imagem: a figura apresenta cinco dese-


nhos representando a divisão celular bacteriana. Na
Plasmídeo primeira delas, uma bactéria em forma de bastonete
tem um envoltório em amarelo que representa a
parede celular e a membrana plasmática, e em seu
interior, está o citoplasma em azul-claro. Disperso
no citoplasma está o DNA, representado por um
emaranhado de traços na coloração roxa, na região
central da figura. O plasmídeo também está disper-
so no citoplasma na extremidade esquerda inferior,
representado por uma estrutura circular na cor lilás.
Uma flecha na cor verde indica que a célula inicial pro-
moveu a divisão do DNA, ao apontar para a segunda
bactéria, a qual apresenta o emaranhado de traços
roxos com o dobro de tamanho. Novamente, uma
flecha verde leva para a terceira figura, indicando que
a bactéria iniciou o processo de divisão celular, fato
marcado pela duplicação, também, de plasmídeos
(agora, existem duas estruturas circulares na cor lilás
e cada uma se localiza em uma bactéria diferente). O
envoltório amarelo inicia uma fissura, demonstrando
que a bactéria está prestes a se dividir. Por último,
duas flechas verdes e distintas indicam duas células
bacterianas completamente separadas e idênticas à
bactéria inicial e, assim, é revelado o processo final
da divisão celular.

25
UNICESUMAR

Deve ser garantido o conjunto de condições para garantir a proliferação das bactérias: atmosfera,
temperatura, pH e fornecimento de substratos. Em relação à atmosfera adequada, a presença de oxi-
gênio em altas ou baixas concentrações influencia, diretamente, as condições ótimas de crescimento.
A maior parte das bactérias são classificadas como anaeróbias facultativas (reproduzem-se in-
dependentemente da presença de oxigênio) por produzirem enzimas como a catalase e a desmutase,
as quais detoxificam o ambiente de peróxidos e superóxidos que são formados durante o consumo de
oxigênio. Bactérias como as do gênero Clostridium precisam de ambiente totalmente livre de oxigênio
para proliferar, sendo classificadas, assim, como anaeróbias obrigatórias, enquanto outras, como as
do gênero Mycobacterium, são aeróbias estritas, exigindo a presença de oxigênio às sobrevivência e
reprodução (PIRES; ALMEIDA; COELHO, 2014).
A presença de oxigênio ou não também influencia o tipo de metabolismo que o micro-organismo
utilizará para a degradação dos substratos e geração de energia. Através da respiração aeróbica ou
oxidação (realizada por bactérias aeróbias estritas ou aeróbias facultativas), as bactérias oxidam o
composto orgânico utilizando o oxigênio como aceptor externo de elétrons. Por outro lado, na res-
piração anaeróbica, o aceptor final serão moléculas de sulfato, nitrito ou carbonato. Ao passo que, na
fermentação, há utilização de moléculas orgânicas em vez de oxigênio.
Essa rota metabólica, inclusive, é muito utilizada pelos analistas nos testes bioquímicos bacte-
rianos, afinal, esse processo leva à geração de piruvato por meio da glicólise, o qual pode originar, no
meio de cultura, moléculas ácidas, como os ácidos acético, lático e butírico. O caráter ácido da reação
pode ser observado a olho nu, pela mudança de coloração do meio de cultura, caso seja adicionado
um indicador de pH com ponto de viragem abaixo de cinco (OSANTE; RUIZ, 2016).
Na Figura 6, há um exemplo de como os indicadores de pH ajudam na interpretação de um
resultado metabólico.
Figura 6 - Reação de fermentação de açúca-
res em meio ágar tríplice-ferro
Fonte: Barbosa (202 0, on-line).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma


fotografia e um desenho sobre a prova bioquímica
ágar tríplice ferro. Na esquerda, há uma fotogra-
fia colorida de dois tubos de ensaio, um deles é
vermelho e o outro amarelo com duas grandes
bolhas, uma no centro e outra na base do tubo,
caracterizando a forma real de como esse ensaio
seria visualizado. Na posição central, há o dese-
nho de um tubo de ensaio preenchido com um
composto na cor vermelha e, ao seu lado direito,
estão escritos os açúcares presentes nesse tubo,
respectivamente, de cima para baixo: lactose, saca-
rose e glicose. No lado direito da imagem, existem
três resultados possíveis para a prova bioquímica.
O da extremidade superior direita contém um tubo
preenchido com um composto vermelho e a le-
genda “K/K (não fermentador)”. O da extremidade
inferior direita é um tubo de ensaio preenchido
com um composto amarelo com a legenda “A/A
(fermenta os 3 carboidratos)”. O tubo entre esses
dois apresenta coloração vermelha até a meta-
de e, a partir daí até a base, apresenta coloração
amarela da metade. A legenda desse tubo é “K/A
(fermenta apenas glicose)”.

26
UNIDADE 1

O meio de cultura ágar tríplice-ferro tem em sua composição três açúcares


distintos (lactose, sacarose e glicose) que são separados naturalmente no
meio de cultura por conta de suas densidades, de forma que a glicose é o
carboidrato o qual permanece na base do tubo de ensaio, enquanto a sacarose
e lactose permanecem na região inclinada do tubo, chamada de “rampa”. A
partir do perfil de cor apresentado nesse meio após a incubação e provocado
pela ação da bactéria, é possível analisar se o micro-organismo utiliza esses
açúcares como fonte de carbono e se há produção de gás durante o processo.
Isso só é possível porque, além dos açúcares, o indicador de pH vermelho de
fenol é adicionado no meio de cultura, de forma que, ao utilizar os açúcares,
o organismo produzirá derivados ácidos, e o indicador sofrerá a viragem de
vermelho para amarelo. A produção de gás pode ser observada através da
visualização de bolhas no meio de cultura (BARBOSA, 2020, on-line).
As condições de temperatura e pH também são determinantes ao cresci-
mento bacteriano. As chamadas bactérias termorresistentes, como algumas
cepas de Escherichia coli, podem crescer em temperaturas que variam de 0 a
45oC; as psicotróficas conseguem se proliferar entre 0 e 20oC, como faz a
Yersinia enterocolitica. Mas, em se tratando de generalidades, a maior parte
das bactérias patogênicas é classificada como mesófila, pois apresentam
temperatura ótima de crescimento entre 20 e 40oC (OSANTE; RUIZ, 2016).
O fornecimento nutricional mínimo para o crescimento das bacté-
rias é água, uma fonte de carbono (por meio dos carboidratos), nitrogênio
(por meio dos aminoácidos), compostos iônicos, como: potássio, sódio e
magnésio, e cofatores ou componentes de enzimas, tais como: ferro, zinco,
manganês e cobre (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
A combinação de todos esses fatores auxilia pesquisadores, professores e
analistas a realizarem as melhores escolhas na hora de desenvolver ou colocar
em prática um método existente na rotina laboratorial. Conhecendo o mi-
cro-organismo procurado, sabendo quais as suas exigências nutricionais, as
melhores condições de incubação e os possíveis produtos metabólicos finais,
é possível optar por métodos de cultivo e meios de cultura que forneçam
dados suficientes para atestar a presença e, em alguns casos, a concentração
desses micro-organismos em amostras clínicas.
A escolha do meio de cultura para semeadura depende de alguns fatores
importantes selecionados de acordo com a sua finalidade. Por exemplo, se-
meaduras em tubos de vidro ou polipropileno contendo meio sólido (Figura
7) são comuns em testes bioquímicos ou em isolamento de colônias das quais
já se conhece o agente microbiano.

27
UNICESUMAR

Figura 7 - Meio de cultura sólido em tubo inclinado

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia colorida de um meio de cultura. É possível visualizar uma mão esquerda que
veste uma luva cirúrgica branca e segura dois tubos de plástico transparentes. No tubo do lado direito, na parte exterior, é possível
visualizar marcações que vão do número cinco na parte inferior até o número 45 na parte superior. No interior dos tubos, visualiza-se
um meio de cultura na cor bege. Na superfície do meio de cultura, observa-se o crescimento de uma colônia de aparência algodonosa
e de coloração branca.

Já as placas de Petri são mais utilizadas no isolamento de micro-organismos desconhecidos ou na


contagem do número de bactérias em métodos quantitativos. Frascos de vidro contendo meios de
cultura líquidos também podem ser utilizados no laboratório de microbiologia, principalmente para
concentração de bactérias em etapas intermediárias de triagem.
Na Figura 8, você consegue observar como esses meios são alocados em estufas bacteriológicas.

28
UNIDADE 1

Figura 8 - Organização de placas de Petri (à esquerda) e meios líquidos (à direita) em estufas bacteriológicas de cultivo

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia colorida do interior de uma estufa bacteriológica de incubação, estrutura
semelhante a um forno com o revestimento interno em material semelhante ao alumínio. Nesse interior, uma prateleira superior guarda
placas de Petri, as quais são recipientes em plástico e em forma circular com tampa. Aqui, elas contém um meio de cultura sólido na
cor bege (semelhante a uma gelatina de consistência bem endurecida). Na segunda prateleira inferior, do lado esquerdo, constam,
também, placas de Petri com meio de cultura e, à direita, frascos de vidro de, aproximadamente, 250 mL e com tampa azul contêm, em
seu interior, um meio de cultura líquido na coloração amarela que preenche cerca de ¼ do seu volume total.

Para conhecer ainda mais o assunto, observe o Quadro 2, onde estão relacionadas algumas caracte-
rísticas dos meios de cultura e as suas particularidades.

29
UNICESUMAR

Frasco/Recipiente de
Consistência Composição Utilidade
cultivo/semeadura

- Isolamento
- Estudo das caracte-
rísticas macroscópicas
Placa de Petri - Degradação de
substâncias (hemólise,
produção de halo)
Nutrientes, indica- - Estudo de fermenta-
Meio sólido dores de pH e ção de açúcares
ágar-ágar.
- Estudo de fermen-
tação de açúcares na
Tubo de vidro incli- parte anaeróbia
nado - Consumo e degrada-
ção de substâncias
- Isolamento

- Obtenção de biomas-
sa/inóculo
Frasco de vidro
- Etapas de enriqueci-
mento
Água, nutrientes
Meio líquido e indicadores de
pH. - Estudo da fermenta-
ção de
Tubo açúcares
- Estudo da descarbo-
xilação de aminoácidos

Nutrientes, indi- - Estudo da motilidade


Meio semissólido cadores de pH, Tubo - Degradação da gela-
gelatina. tina

Quadro 2 - Características e finalidades dos meios de cultura baseadas em sua consistência


Fonte: adaptado de Osante e Ruiz (2016).

Estudo de motilidade? Obtenção de biomassa? Etapas de enriquecimen-


to? Se junte a mim para dez minutinhos de vivência laboratorial. Venha
estudar e entender comigo o significado desses termos bem como a
utilidade deles no laboratório de microbiologia.

30
UNIDADE 1

A utilização e destinação corretas dos meios de cultura na rotina do laboratório influenciam,


diretamente, a tomada de decisões, porque a interpretação correta, o isolamento de qualidade
e a garantia de que os resultados obtidos se tratam, com toda certeza, da amostra analisada,
pautam as etapas de identificação no caso de amostras que contenham resultados positivos.
Os métodos de identificação são divididos em fenotípicos, moleculares ou proteômicos.
Os métodos moleculares baseiam-se na amplificação do DNA por meio da reação em
cadeia da polimerase. Este tipo de teste ficou muito conhecido após a popularização do
nome do método utilizado no teste diagnóstico para o Sars-Cov-2, vírus responsável pela
pandemia de Covid-19. O método deve ser considerado quando os testes bioquímicos de
identificação não estão bem descritos ou quando abordam de cepas de baixa frequência, assim
como bactérias de difícil cultivo ou crescimento lento (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).
Os métodos proteômicos, por sua vez, estudam o conjunto de proteínas produzidas a
partir do genoma bacteriano. A identificação, nestes casos, ocorre pelas reações de eletro-
forese, caracterizada pela migração diferencial de proteínas sob ação de um campo elétrico,
ou espectrometria de massas, nesta, após ionização, as proteínas são separadas de acordo
com o seu valor de massa e identificadas em um detector. A tecnologia Maldi-Tof (Matri-
x-Assisted Laser Desorption/Ionization-Time-of-Flight) vem sendo utilizada há quase dez
anos aplicando a espectrometria de massas para identificação bacteriana, comparando os
resultados proteicos com os perfis anexados em uma extensa base de dados.
Tanto os métodos moleculares quanto os proteômicos possuem alta sensibilidade e
especificidade, no entanto o custo dos equipamentos, reagentes e insumos costuma ser
muito elevado, dessa maneira, ambos só são aplicados em laboratórios de serviços altamente
especializados (OSANTE; RUIZ, 2016).
Para a rotina simples de um laboratório, os métodos fenotípicos costumam ser os
mais acessíveis financeiramente, sem perder sensibilidade e acurácia. Eles consistem em
testes bioquímicos que produzem alguma alteração visual de fácil observação, indicando,
na maioria dos casos, os gêneros e espécies dos quais se tratam a positivação de determi-
nada amostra. Esses testes envolvem desde técnicas simples, como a coloração de Gram, já
abordada nesta unidade, até as mais complexas, como as provas bioquímicas da DNAse e
a fermentação de açúcares (Figura 6) e, ainda, a descarboxilação de aminoácidos.
A forma como uma bactéria se comporta em um meio de cultura, isto é, se ela: produz
gás, muda de cor, produz halo de precipitação ou consumo, inibe o crescimento de outras
bactérias ou produz substâncias metabólicas incomuns (por exemplo, sulfeto de hidrogê-
nio) são algumas das características observadas nesses métodos. Chamados também de
“protocolos de identificação”, os testes bioquímicos demandam experiência considerável
do analista, além do conhecimento prévio das etapas de isolamento, assim como das con-
dições de recebimento de amostras, qual o sítio ou região de onde ela foi retirada, se possui
microbiota normal sujeita a interferir no resultado, inclusive, quais as condições da coleta
quando essas informações estão disponíveis (OSANTE; RUIZ, 2016).

31
UNICESUMAR

A Anvisa publica diversos vídeos que podem ajudar na sua formação


profissional. Te convido a assistir ao vídeo Teste fenotípico colorimétrico
para detecção de carbapenemases, com o intuito de fixar, ainda mais, o
seu conhecimento acerca dos testes bioquímicos bem como se familia-
rizar com essa poderosa ferramenta de conhecimento.

Mas todos esses perfis metabólicos e fenotípicos são expressos apenas nos meios de cultura ou podem
ser reproduzidos, também, nos seres humanos infectados pelas bactérias? Por exemplo, é sabido que o
Streptococcus pyogenes tem a habilidade de provocar hemólise no meio de cultura, mas isso significa
que um indivíduo infectado por ele é capaz de ter as suas hemácias degradadas, levando a processos
anêmicos ou hemorrágicos? É importante salientar que, diferentemente dos meios de cultura onde
os nutrientes são oferecidos, praticamente, em livre acesso, o organismo humano tem habilidades
imunológicas as quais, muitas vezes, reprimem a expressão tanto de proteínas quanto de enzimas
bacterianas. Ao mesmo tempo, os pequenos organismos possuem algumas alternativas para escapar
ou para enfraquecer o sistema imunológico, chamados fatores de virulência. Por isso, é hora de nos
familiarizarmos com os conceitos de interações entre os micróbios e os hospedeiros, história natural
da doença e mecanismos de patogenicidade (CARVALHO, 2010).
Inicialmente, precisamos diferenciar os termos “colonização” de “infecção”, os quais são cons-
tantemente confundidos, levando a conclusões errôneas sobre o processo patogênico. Enquanto a
colonização bacteriana não interfere nas funções normais do corpo, a infecção é resultante de uma
interação entre micro-organismo e hospedeiro que resulta em algum dano, seja ele produzido a partir
dos efeitos bacterianos, como ação de toxinas, seja do próprio processo imunológico, como a Síndro-
me Respiratória Aguda Grave, a SARS (TRABULSI; ALTERTHUM, 2008), tão discutida durante a
pandemia de Covid-19 e decorrente da exacerbação dos efeitos do sistema imune.

32
UNIDADE 1

Por isso, para que uma desordem orgânica seja considerada, de fato, uma doença, são definidas
fases pelas quais o indivíduo deve passar. À soma delas dá-se o nome de história natural da doença
(MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021). São elas:
1. Período de incubação: intervalo entre a entrada do micro-organismo no hospedeiro e o início
dos sintomas. É dependente do tipo de patógeno, do seu índice de crescimento, da carga bac-
teriana de invasão e de questões de resistência do indivíduo. Dentro do período de incubação,
podem ocorrer sintomas inespecíficos e incapazes de diferenciar uma doença da outra (por
exemplo, ocorrência de febre), o que classifica, também, a fase prodrômica.
2. Doença ativa: período mais severo da doença, com aparecimento dos sintomas característi-
cos e mais agressivos, incluindo o aparecimento das alterações imunológicas representativas
(aumento ou queda de segmentados, por exemplo). Nesta fase, o hospedeiro costuma servir
de reservatório das doenças transmissíveis direta ou indiretamente.
3. Período de declínio: os efeitos maléficos da infecção diminuem, de forma gradativa, ao passo
que o sistema imune consegue combater a doença com mais facilidade. Mesmo assim, o hos-
pedeiro ainda é passível de desenvolver problemas secundários.
4. Período de convalescência: o indivíduo é curado definitivamente, assim, ele recupera
o seu estado pré-infecção.

Em se tratando de desarranjos provocados por ação das bactérias, um dos fatores determinantes ao
seu sucesso de patogenicidade são, definitivamente, os fatores de virulência: um conjunto de subs-
tâncias, estruturas, enzimas ou mecanismos desenvolvidos pelos micro-organismos para suprimir ou
driblar as atividades imunológicas (TRABULSI; ALTERTHUM, 2008). No entanto a expressão dos
fatores de virulência depende das condições favoráveis no hospedeiro, fator que pode variar de um
indivíduo para outro, dependendo de alguns fatores de predisposição, por exemplo, idade, sexo, con-
dição imunológica, condições nutricionais, coexistência de doenças crônicas e uso de medicamentos
contínuos (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
Ademais, para que a doença, de fato, ocorra, além dos critérios citados anteriormente, os patógenos
precisam encontrar alternativas para entrar no sistema humano, a fim de alcançar tecidos mucosos,
onde encontrarão as melhores condições de sobrevivência. Os tratos respiratório, gastrintestinal, ge-
niturinário e conjuntivo são exemplos de tecidos e membranas mucosas presentes no corpo humano
por onde as bactérias costumam adentrar, de forma que os patógenos são capazes de atingir o tecido
-alvo através do ar, dos alimentos, da água, das superfícies contaminadas ou pelo contato sexual. A
pele também é um importante veículo de inoculação quando não se apresenta íntegra, isto é, quando
apresenta feridas preexistentes (BLACK; BLACK, 2021).
A via parenteral, isto é, o contato direto com a corrente sanguínea através de agulhas e instrumentos
de punção, pode ser uma fonte de infecção bem como é considerada uma das rotas mais críticas, afinal,
o sangue entra em contato com todos os tecidos do organismo, facilitando o acesso dos patógenos
aos locais-alvo. Picadas de insetos, cirurgias e punções venosas são algumas das condições as quais
facilitam a entrada de bactérias por essa via (BLACK; BLACK, 2021).

33
UNICESUMAR

O cuidado com a via parenteral deve ser bem estabelecido e estudado.


Para você, futuramente, tenha condições de instruir profissionais acerca
do assunto, sugiro que assista ao vídeo Principais Medidas de Prevenção
de Infecção da Corrente Sanguínea e assimile os conhecimentos adqui-
ridos até aqui.

Uma vez no organismo, os patógenos conseguem exibir os seus mecanismos de virulência, a fim de
permanecerem naquele tecido ou região. A primeira habilidade a ser analisada é a capacidade de
aderência ou de adesão das bactérias às células humanas, por meio de adesinas (flagelos, fímbrias,
pili ou glicocálix) que interagem com receptores presentes no organismo humano (normalmente
constituídos por carboidratos). Como exemplo, tem-se o Staphylococcus aureus, importante patógeno
causador de doenças epidérmicas. Ele produz adesinas que se ligam, de forma direta, às fibronectina
e laminina, proteínas presentes nas células da pele (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).
Outrossim, algumas espécies de bactérias também têm a capacidade de compor o biofilme (Figura
9), estrutura complexa formada por colônias bacterianas, matéria orgânica e adesinas que, além de
aderir, firmemente, ao tecido-alvo, ainda cria um ambiente rico nutricionalmente para a sobrevivên-
cia dessas colônias. Os biofilmes são importantes estruturas a serem estudadas, afinal, devido à sua
composição, são resistentes à ação de sanitizantes, tornando instrumentos, cateteres, superfícies e, até
mesmo os dentes, por meio das placas dentárias, sejam uma fonte ativa de micro-organismos. Além
disso, é uma forma eficaz que colônias bacterianas encontram para se defender contra fagócitos, uma
vez que macrófagos dificilmente conseguem transitar pelo material viscoso (ou polimérico) produzido
nessa estrutura (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).

34
UNIDADE 1

Estágios de formação
de biofilmes

Figura 9 - Estágios de formação de biofilmes

Descrição da Imagem: a figura apresenta cinco desenhos que ilustram os estágios da formação de biofilme, representados em círculos
esverdeados no sentido anti-horário, como se o observador estivesse olhando através de uma lupa. No estágio I, o círculo é preenchido
pelo desenho de bactérias em forma de bastonetes e envoltas de estruturas esbranquiçadas semelhantes a pelos, chamadas de fímbrias
e flagelos. No estágio II, as bactérias, as quais estavam livres no estágio I, começam a se empilhar, formando uma estrutura semelhante
a uma parede de tijolos. Nos estágios III e IV, a parede de bactérias está maior e, entre um bastonete e outro, há uma grossa camada
em cor bege, representando adesinas e matéria orgânica. No estágio V, a parede formada pelas bactérias começa a liberar alguns
bastonetes para o meio, os quais se agregarão em novos biofilmes, iniciando um novo ciclo a partir do estágio I.

A expressão de determinadas enzimas é um fator de virulência muito conhecido na bacteriologia,


pois elas são capazes de digerir materiais — por exemplo, o ácido hialurônico — por meio de hialuroni-
dases (destruindo, assim, as propriedades conectivas do revestimento epidérmico), produzir coágulos
de defesa, como no caso de algumas espécies do gênero Staphylococcus e suas coagulases (Figura 10) e,
até mesmo, destruir coágulos formados pelo próprio sistema imune, maneira como algumas espécies
de Streptococcus — as quais produzem fibrinolisina ou estreptoquinases — encontram para degradar
coágulos e invadir os tecidos. A produção de colagenases, principalmente em alguns anaeróbios,
também é um importante fator de virulência, pois, por meio dessa produção, a bactéria é capaz de
destruir o tecido conectivo de tecidos musculares (BLACK; BLACK, 2021).

35
UNICESUMAR

Figura 10 - Coágulo formado pela


presença de enzimas coagulases
produzidas por bactérias

Descrição da Imagem: a figura


apresenta uma fotografia colorida
do fundo metálico de um tubo de
ensaio transparente. Na base do
tubo, há uma estrutura opaca, de
formato esférico e aspecto gelati-
noso, a qual caracteriza o coágulo
formado pelas coagulases estafi-
locócicas na presença de plasma.

As bactérias são capazes, ainda, de utilizar nutrientes essenciais às células humanas, assim, adicionam
mais um agravante para o organismo e influenciam o sucesso de sua patogenicidade. A capacidade
de secretar sideróforos (proteínas capazes de extrair moléculas de ferro de transferrinas, ferritinas e
lactoferrinas humanas), além de remover íons de ferro da circulação do hospedeiro, auxilia na utilização
desse elemento no próprio metabolismo bacteriano (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).
Inúmeros micro-organismos podem produzir toxinas que contribuem para a expressão de sua
patogenicidade. As exotoxinas afetam diversas funções celulares, inclusive, dentro desse grupo es-
tão as conhecidas toxina diftérica, botulínica e tetânica, a Shiga toxina e a exotoxina A, responsável
por estender infecções pulmonares em pacientes que apresentam fibrose cística (PIRES; ALMEIDA;
COELHO, 2014). Os chamados superantígenos também são tipos de exotoxinas e são responsáveis
por causar resposta imune muito intensa, uma vez que se combinam a proteínas presentes nos ma-
crófagos, resultando em uma proliferação de células T. Como consequência, é gerada a liberação de
grande concentração de citocinas, o que desencadeia episódios de febre e desordens gastrintestinais,
nos casos mais graves, ocorrem choque e morte. A toxina estafilocócica é um exemplo de superantígeno
muito estudado, além de ter muita importância médica (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
Mesmo quando a defesa adaptativa do hospedeiro produz anticorpos, existem algumas bactérias
capazes de variar as suas sequências antigênicas, driblando, também, esse mecanismo de defesa,
por meio da alteração de seus antígenos superficiais. Isso ocorre na Neisseria gonorrhoeae, causadora
da gonorreia: ela produz inúmeras cópias de genes Opa em sua multiplicação, resultando na expres-
são de diferentes proteínas de superfície ao longo do tempo. Como citado anteriormente, a troca

36
UNIDADE 1

de plasmídeos, principalmente do tipo R, tem a possibilidade de influenciar o desenvolvimento de


resistência bacteriana frente a antibióticos ou à expressão de outros fatores de virulência, tais como
toxinas termorresistentes (TRABULSI; ALTERTHUM, 2008).
Então, querido(a) estudante, revisitando esses conceitos sobre a célula procariótica, as possíveis in-
terações entre ela e o organismo humano e como ela influencia o desenvolvimento da doença ativa, foi
possível entender por que é tão importante você, como profissional de saúde, ter domínio sobre o assunto?
Com toda essa bagagem teórica, agora, precisamos estudar os critérios essenciais a serem
seguidos após a confirmação de que a doença, realmente, está afetando a vida de um indivíduo
e como o nosso trabalho pode agir, de forma positiva, na melhora. Partiremos para o estudo da
etapa pré-analítica e da coleta, por meio da revisão dos já conhecidos conceitos de prevenção de
contaminações e como esses dois estágios interagem entre si.
É possível concluir o seguinte: pelo avanço dos processos tecnológicos de realização de ensaios
e identificação de micro-organismos, a maior parte dos erros que acontecem em análises labo-
ratoriais são voltadas às etapas pré-analíticas (GUDER; NARAYANAN; WISSER, 2001). A fase
pré-analítica é marcada pela sequência de tomada de decisões e ações mediadas por diferentes
profissionais das demais áreas da saúde que possuem interesses e focos muito específicos em
relação aos resultados dos exames, tornando, assim, ainda mais complexo todo o processo, além
de adicionar ainda mais pontos críticos (SBPC, 2014).
Vamos imaginar, juntos, um cenário de trabalho? Um paciente chega ao hospital com sintomas
característicos de infarto agudo do miocárdio, então, o plantonista vê a necessidade de pedir os
exames de enzimas CK-MB, troponinas I e mioglobinas. O médico, como requisitante principal,
precisa preocupar-se em descrever o exame como caráter de urgência, identificar esse paciente
corretamente, expressar, com clareza, quais os exames que devem ser realizados, o tempo máximo
que ele tem para receber os resultados e, ainda, correlacionar fatores (idade, peso, sexo e eventos
prévios) antes de tomar qualquer decisão sobre o caso.
Ao mesmo tempo, um profissional coletador (enfermeiro, técnico de enfermagem, biomédico,
farmacêutico) precisa atentar-se a: requisitos técnicos da coleta, riscos de contaminação biológica de
si mesmo e de contaminação cruzada da amostra, além de acondicionar, preservar e transportar a
amostra com todo cuidado, garantindo a integridade dela até a chegada ao laboratório. E você, analista
clínico(a) responsável, ao receber essa amostra no local de análise, deve atentar-se a: todos os critérios
de controle de qualidade, preservação da amostra para os ensaios bem como a calibração correta de
equipamentos. Somada a tudo isso, a agilidade na execução para obtenção rápida dos resultados.

Analisando todos esses passos, fica fácil de descobrir o porquê das


etapas pré-analíticas serem tão passíveis de erro. Volte ao exercício do
início desta unidade e reflita sobre os fatores que você incluiu como
possibilidades pré-analíticas que poderiam influenciar o resultado final
de ensaios. Considerou algumas dentre as citadas até aqui?

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UNICESUMAR

Analisando todos esses passos, fica fácil de descobrir o porquê das etapas pré-analíticas serem
tão passíveis de erro. Volte ao exercício do início desta unidade e reflita sobre os fatores que você
incluiu como possibilidades pré-analíticas que poderiam influenciar o resultado final de ensaios.
Considerou algumas dentre as citadas até aqui?
Em se tratando de análises de rotina, aquelas onde as amostras são coletadas em laboratórios não
hospitalares, ainda há um elemento a mais que pode ser fonte de questionamentos na obtenção de um
resultado: o próprio paciente. Isso porque, dando a ele a autonomia da coleta (como ocorrem em
coletas para espermograma e exames de urina, por exemplo), além de uma instrução de qualidade,
dada por profissional capacitado, resta ao analista confiar na compreensão do paciente e na transpa-
rência dele no que tange a não esconder informações relevantes.
Em algumas situações, inclusive, talvez seja necessária a recusa automática de amostras, como
no caso de materiais conservados em formalina, urinas colhidas com mais de 24 horas, amostras
provenientes de cateter de Foley, frascos danificados e swab único com requisição para várias análises
(BRASIL, 2000). Ademais, existem alguns materiais capazes de fornecer resultados questionáveis, as-
sim, os analistas, junto ao corpo médico, devem encontrar alternativas ou medidas ao processamento
dessas amostras.
Uma sugestão de manejo desses casos encontra-se no Quadro 3, a seguir.

Tipo de amostra Alternativa de análise

Swab de amostra de queimadura Processar biópsia ou aspirado

Swab de úlcera de decúbito Processar biópsia ou aspirado

Swab de abscesso perirretal Processar biópsia ou aspirado

Swab de lesão de gangrena Processar biópsia ou aspirado

Swab de lesão periodontal Processar biópsia ou aspirado

Swab de úlcera varicosa Processar biópsia ou aspirado

Vômito Não processar

Material de colostomia Não processar

Ponta de cateter de Foley Não processar

Aspirado gástrico de recém-nascido Não processar

Quadro 3 - Medidas para ensaios de amostras provenientes de fontes questionáveis / Fonte: adaptado de Brasil (2000).

38
UNIDADE 1

Frente a isso, discutiremos, agora, alguns


requisitos e critérios para coleta, trans-
porte e armazenagem das principais
amostras clínicas que podem ser recebi-
das no laboratório de microbiologia, uti-
lizando as recomendações descritas pela
Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/
Medicina Laboratorial (SBPC, 2014) e pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(BRASIL, 2000):
Preparações pré-coleta: recipientes
estéreis e impermeáveis devem ser utili-
zados para toda e qualquer coleta desti-
nada a análises microbiológicas, a fim de
evitar resultados falsos-positivos, seja qual
for a bactéria identificada. Para amostras
coletadas em ambiente hospitalar, é im-
portante ter, ao menos, a preparação dos
seguintes requisitos:
• Requisição médica com a descrição
do exame, quando aplicável.
• Frasco(s) de coleta identificado(s)
com o nome do paciente ou identifi-
cação interna única e legível.
• Para coleta hospitalares, identifica-
ções adicionais como número do
quarto e ala também podem ser úteis.
• Profissional de coleta ou recebimento
da amostra.
• Horário da coleta.
• Local anatômico da coleta.
• No caso de exames de urina, sinalizar
se a amostra é aleatória ou a primeira
urina da manhã.
• Volume de amostra coletado, se pos-
sível.
• Descrição do material coletado (san-
gue, urina, líquor).
• Descrição do uso ou não de antibió-
ticos, quando aplicável.

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UNICESUMAR

Preparações para coleta: é adequado que os procedimentos de cole-


ta, por sua vez, sejam extensivamente revisados, de forma periódica,
principalmente no caso de atualização das tecnologias de análise. Os
métodos devem ser desenvolvidos e treinados pelos coletadores; o uso
de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) — luvas e jalecos — é
praticamente imprescindível.
As condutas a serem seguidas dependerão da amostra biológica a
ser obtida, como veremos, a seguir.
Coleta de urina: de modo geral, os frascos de coleta direcio-
nados para urocultura são diferentes daqueles direcionados à uri-
nálise, no entanto é importante que ambos sejam estéreis e que as
recomendações de coleta sejam seguidas. Sumário de urina, exame
simples de urina, uroanálise, urinálise, urocultura e exame de urina
tipo I são alguns dos sinônimos utilizados para denominar esse
exame nas requisições médicas.
Para fins de urinálise (análise de presença de bactérias, sem identi-
ficação, mas associada a padrões bioquímicos), o tipo de amostra mais
comum é a primeira urina da manhã. Para fins de urocultura, a amostra
coletada pode ser aleatória ou obtida por procedimentos invasivos,
como a punção suprapúbica, no caso de crianças ou de pacientes sem
controle esfincteriano.

40
UNIDADE 1

A antissepsia é obrigatória antes da coleta, visto a existência de micro-


biota normal dos aparelhos genitais femininos e masculinos, dessa forma,
a instrução completa é imprescindível. Além disso, deve-se instruir o
paciente a coletar o jato médio (porção intermediária da extrusão de
urina), a fim de evitar contaminações derivadas da própria microbiota
ou a concentração excessiva de sedimentos urinários, como cristais, os
quais dificultam a visualização bacteriana em exames a fresco.
É importante que o tempo decorrido entre a coleta e a entrega do
material no laboratório seja inferior a duas horas, para evitar a prolife-
ração bacteriana bem como a superestimação de resultados quantita-
tivos. Quando as análises não forem realizadas nesse prazo, a amostra
deverá ser refrigerada e protegida da luz por até 12 horas e nunca deve
ser congelada.
A coleta pode ser obtida, também, via sonda vesical (Figura 11), a
qual deve ser higienizada, externamente, com álcool 70% e nunca devem
ser retiradas amostras contidas em bolsas coletoras. É importante que o
laboratório tenha uma política escrita detalhando as suas condições de
rejeição de amostras.

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UNICESUMAR

Cateter de Foley

Bolsa Coletora de Drenagem

Bolsa de Coleta Externa


Figura 11 - Coleta de sonda vesical

Descrição da Imagem: a figura apre-


senta o desenho de um paciente huma-
no com um cateter ligado diretamente
em sua uretra, chamado cateter de
Foley, ilustrado como um tubo de cali-
bre fino e cor branca. Na saída inferior
desse cateter, existe uma bolsa de co-
leta azul em posição vertical, chamada
bolsa coletora de drenagem, que está
presa à perna desse paciente por meio
de faixas brancas horizontais, seme-
lhantes a um esparadrapo. Na bolsa,
estão desenhados, na parte central,
pequenos riscos azuis que indicam o
volume de urina. Na saída inferior da
bolsa, há um tubo de calibre médio na
cor azul conectando-se, de forma di-
reta, à outra bolsa, chamada de bolsa
de coleta externa, ilustrada de forma
semelhante à bolsa coletora de drena-
gem, mas a de coleta externa apresen-
ta-se presa a uma estrutura externa em
formato da letra “L” de ponta-cabeça,
nessa estrutura é coletada a amostra
de urina para análise.

Coleta de líquor: as coletas de líquido cefalorraquidiano são indicadas aos diagnósticos de meningoen-
cefalites. O material deve ser estritamente coletado em ambiente hospitalar por profissionais médicos
treinados e seguindo protocolos rígidos de execução, devido à complexidade de sua obtenção. Antes da
coleta, deve ocorrer a antissepsia do local onde a punção lombar será realizada. O volume de amostra
varia entre 6 e 12 mL para adultos, 4 e 8 mL para crianças e 2 e 3 mL em lactentes e recém-nascidos.
Com o objetivo de conhecer melhor o procedimento, acompanhe-me na Figura 12.

42
UNIDADE 1

Posição para Agulha inserida no Coletando o líquido


punção lombar espaço subaracnóideo cefalorraquidiano para
testes laboratoriais
Figura 12 - Representação de uma coleta de líquor

Descrição da Imagem: a figura apresenta três desenhos que ilustram os procedimentos para coleta de líquor. No primeiro desenho,
localizado do lado esquerdo, há uma figura de um indivíduo deitado de lado. No segundo desenho, no centro, há a representação da
coluna vertebral na região lombar, de forma que, dentro da espinha dorsal, vê-se um canal na cor amarela em posição vertical, repre-
sentando a dura máter. Dentro dela, em azul, está o líquido cefalorraquidiano. A imagem de uma agulha atingindo a ponta na região
azul representa a punção realizada na região lombar para coleta do líquor. No terceiro desenho, localizado do lado direito, por fim, um
profissional aparece coletando o líquido que goteja da parte distal da agulha.

Na etapa número 1, o paciente é colocado em decúbito lateral (de lado). Depois, na segunda etapa, o profis-
sional médico insere a agulha na região do espaço subaracnóideo na coluna, na região lombar. Em seguida,
o profissional coleta o líquido cefalorraquidiano que começa a gotejar pela saída posterior da agulha.
É adequado que a amostra chegue em período inferior a duas horas após a coleta, principalmente
em casos de alta concentração de glicose no material, com o intuito de evitar a superestimação na
contagem bacteriana ou a degradação de analitos por ação dos micro-organismos, o que impactaria
as análises bioquímicas, as quais podem ser executadas no mesmo material.
Coleta para hemocultura: a decisão sobre o tempo de coleta entre amostras — porque dificilmente
o laboratório receberá apenas uma hemocultura por paciente — e os frascos adequados ficam sob a
responsabilidade do médico, pois é o profissional e não o laboratório quem tem acesso aos dados
epidemiológicos e fisiológicos do paciente.
A antissepsia do local da coleta bem como a utilização de materiais estéreis, além de proteger
o paciente, evitam a ocorrência de resultados falso-positivos por meio de contaminação da amos-
tra provinda da microbiota epidérmica (Corynebacterium spp., Micrococcus spp., Bacillus spp. e
Propionibacterium acnes). Ainda, se o processo analítico é realizado por sistemas automatizados
de monitoramento, o risco de contaminação está apenas relacionado à inoculação da amostra nos
frascos de cultura, enquanto os métodos tradicionais de execução são acrescidos da possibilidade de
contaminação durante o processamento da amostra.
O volume de amostra deve ser adequado, a fim de evitar resultados falsos-negativos, uma vez que
a sensibilidade dos exames depende da quantidade de amostra obtida. É recomendado coletar de 20
a 30 mL de sangue no adulto e de 1 a 5 mL ou até 1% de sua volemia em crianças, apesar de alguns
autores recomendarem até 4% da volemia.
Dependendo do micro-organismo de suspeita, diferentes tipos de frascos são direcionados à coleta,
afinal, a composição interna dos recipientes fornece suporte para a viabilidade deles (existem frascos
para isolamento de bactérias aeróbias, anaeróbias, fungos, micobactérias e, também, com resinas

43
UNICESUMAR

aniônicas e catiônicas para adsorção de antibióticos). Os coletores, normalmente, realizam o proce-


dimento com seringas comuns, depois, transferem o material aos frascos específicos de hemocultura,
como na Figura 13. Quanto ao procedimento laboratorial de diagnóstico, abordaremos melhor na
unidade de doenças sanguíneas.

Figura 13 - Processo de transferência de amostras para hemo-


cultura

Descrição da Imagem: a figura mostra uma fotografia co-


lorida de um profissional da saúde vestindo um jaleco azul
e calçando luvas cirúrgicas brancas. Em sua mão esquerda,
ele segura um frasco de paredes transparentes, semelhan-
te a uma pequena garrafa, que possui em seu gargalo um
envoltório de proteção na cor verde, ao qual o profissional
transfere o sangue coletado. O sangue provém de uma se-
ringa branca, segurada pelo profissional com a mão direita.
Também é possível observar, na extremidade inferior da ima-
gem, um frasco metálico preenchido com algodões brancos.

Amostras podem ser obtidas de dispositivos intravasculares — cateteres, portocaths — mas eles
são associados a maiores taxas de contaminação (até 10%). Em caso de frascos danificados, mal
identificados, com destinação incorreta (requisição do exame para anaeróbios e a coleta realizada
em frasco para aeróbios, por exemplo) e volume inadequado devem ser recusados pelo laboratório.
Coleta de escarro: normalmente, serão requisitadas e recebidas duas amostras de escarro para inves-
tigações de tuberculose. É comum que elas sejam obtidas, também, de ambiente hospitalar, assim como
a hemocultura e o líquor. O paciente deve lavar a boca abundantemente com bochechos a base de água,
depois, a tosse precisa ser forçada para obtenção do material; o escarro deve ocorrer diretamente no frasco
de coleta, sendo altamente não recomendável a transferência do material clínico em mais de um recipiente.
É recomendado que a amostra esteja livre ou contenha pouquíssimas quantidades de saliva, pois esse tipo
de material possui microbiota rica. Materiais provenientes de aspirado transtraqueal, lavado broncoalveolar
e secreção traqueal também podem ser obtidos, mas, neste caso, apenas por equipe médica especializada.
Ponta de cateter: envolve a realização de ensaios importantes que determinam a relação entre
colonização do cateter e ocorrência de sepse (infecção sanguínea ou generalizada). A rigorosa antis-
sepsia com álcool 70% deve ser realizada ao redor do cateter, seguida por solução de iodo a 1% ou
PVPI a 10%. Normalmente, é cortada a parte distal do cateter (cerca de 5cm), e o pedaço de cortado
é adicionado a um frasco estéril. De modo geral, a contagem acima de 15 UFC (unidades formadoras
de colônia) nesse tipo de material caracteriza o cateter como fonte da infecção sanguínea.
Secreção de orofaringe: assim como o caso do escarro, essa secreção é um material passível
de contaminação pela microbiota da saliva, por isso, o material é obtido via coleta laboratorial

44
UNIDADE 1

especializada. Esse tipo de amostra depende da experiência do coletador para a obtenção de resul-
tados fidedignos, afinal, o swab precisa passar em regiões onde exista a presença de pus e placas.
Ainda, é possível obter materiais como: líquidos pleural, ascítico e biliar via punção percutânea ou
cirúrgica com material estéril. Quanto maior o volume da amostra, maior a probabilidade de isola-
mento do agente etiológico.
Não menos importante: após a coleta e independentemente do material clínico, é imprescin-
dível que, na hora do transporte, o profissional confira se todos os frascos estão bem fechados
e identificados. O intervalo entre coleta e realização dos ensaios, via de regra, é de, no máximo,
duas horas, salvo os casos explicitamente determinados. Recomenda-se que, quando as amostras
forem coletadas em tubos, permaneçam na posição vertical. Se utilizadas caixas térmicas, elas
devem simbologia de risco biológico. A grande maioria das amostras pode ser transportada entre
22 e 25ºC, mas, caso seja identificada a necessidade de refrigeração, é mais adequado utilizar gelos
artificiais, como gelox, em vez de gelo natural.
Com toda a informação e conhecimento adquiridos até agora, você, aluno(a), seria capaz de explicar o
que aconteceu no caso dos pobres Tarantino e Scorsese, incluindo os seus atípicos resultados laboratoriais?
Quando o analista da microbiologia realizou a leitura das duas amostras e percebeu que ambas
vinham do mesmo quarto, mas não condiziam com o quadro clínico dos pacientes, a resposta do
laboratório foi apenas uma: é necessária uma recoleta, porque as amostras dos pacientes Tarantino
e Scorsese não foram devidamente identificadas, portanto, tornou-se muito provável a troca entre o
material biológico de um e de outro. Lógico, tal situação rendeu uma bronca memorável para o setor
de coletores, além de mais cuidado na obtenção de amostras clínicas.
Chegamos até aqui para fixar mais uma importante informação: a nossa habilidade laboratorial
pode ser primorosa, mas se o cuidado com a análise não for realizado desde o primeiro contato com
esse paciente, as etapas seguintes, certamente, serão impactadas.
As habilidades e o conhecimento envolvendo a coleta de materiais são mais do que essenciais ao
profissional da saúde aspirante ao trabalho em ambiente laboratorial. A decodificação correta de in-
formações, importantíssima para identificação de erros, quando associada ao conhecimento prévio de
todas as etapas de preparo e execução de coleta, conferem a você a segurança necessária para executar
e interpretar análises e, ainda, discutir tanto possibilidades quanto cenários se você estivesse frente a
uma situação como a do início da unidade, envolvendo a troca de amostras.
O conhecimento a fundo da célula bacteriana e de como ela se comporta no ambiente laboratorial
são habilidades essenciais para quem pretende atuar na bacteriologia. Por exemplo, sabendo que as
bactérias do gênero Streptococcus dificilmente crescem em meios de cultura pobres em nutrientes, você
jamais autorizará um resultado para Streptococcus pyogenes se os métodos utilizados ao isolamento
dela não envolverem técnicas com meios enriquecidos. Ao mesmo tempo, sabendo que o gênero
Clostridium é estritamente anaeróbio, você também teria a plena confiança de executar as análises
para a pesquisa desse patógeno com técnicas anaeróbicas de crescimento.
Por isso, é bastante recomendável que tratemos com gentileza os conteúdos introdutórios e de revisão,
sabendo que a aplicação deles servirá não só para aprofundarmos os nossos aprendizados nas unidades se-
guintes, mas com a certeza de que o domínio dos conceitos auxilia em uma execução laboratorial de qualidade.

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É hora de você relacionar, aqui, todos os conceitos importantes que aprendeu e revisou nesta uni-
dade. Os Mapas Mentais são importantes ferramentas que nos ajudam a lembrar rapidamente de
algumas coisinhas que podem ficar lá no fundo da memória, algumas vezes. Vamos lá!

INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA

Ausência de Procariontes Eucariontes Presença de


(Archea e Bacteria)

Parede celular Peptídeoglicano

Coloração de Gram
Material cromossômico Citoplasma
(DNA)
Proteômicos

Ribossomos e Testes bioquímicos


proteínas de identificação Moleculares

Fenotípicos

46
1. Em relação ao que você aprendeu até aqui sobre a estrutura e a organização das células pro-
carióticas e eucarióticas, assinale a alternativa correta:

a) Os procariontes são organismos unicelulares que possuem alta complexidade celular com
presença de membrana citoplasmática, membrana nuclear, ribossomos e complexo golgiense.
b) O plasmídeo é um tipo de DNA cromossômico utilizado pelas bactérias para os processos de
conjugação e que auxilia no desenvolvimento de resistência bacteriana.
c) o DNA bacteriano pode conter um ou dois cromossomos e fica localizado dentro do núcleo
dos procariontes.
d) Os eucariontes e procariontes diferenciam-se, principalmente, em relação à membrana cito-
plasmática. Enquanto os eucariontes as tem, os procariontes não.
e) As bactérias são classificadas como procariontes e não possuem membrana nuclear. No en-
tanto apresentam grande quantidade de ribossomos para produção de proteínas, membrana
citoplasmática e parede celular.

2. A respeito do conteúdo estudado nesta unidade, assinale a alternativa correta:

a) A coloração de Gram pode ser usada no laboratório para identificar bactérias em termos de
gênero e espécie.
b) Os métodos bioquímicos ou métodos de identificação genotípica diferenciam os micro-orga-
nismos em eucariontes e procariontes.
c) Micro-organismos aeróbios estritos só se reproduzem e se desenvolvem em ambiente com
presença de oxigênio.
d) O gênero Staphylococcus é um exemplo de anaeróbio estrito.
e) O melhor meio de cultura para isolamento de bactérias é o meio líquido, porque ele é capaz
de fornecer maior quantidade de água a bactérias e fungos.

47
3. Com base nos estudos realizados, leia as afirmações, a seguir:

I) Os métodos moleculares e proteômicos de identificação possuem alta sensibilidade e especi-


ficidade e costumam ser muito baratos, por isso, podem ser aplicados na rotina laboratorial.
II) Os métodos fenotípicos de identificação bacteriana são amplamente aplicados em laboratórios
e têm sensibilidade satisfatória.
III) Alguns métodos fenotípicos de identificação envolvem: fermentação de açúcares, produção
de gás e descarboxilação de aminoácidos.
IV) A adição de indicadores de pH não é indicada em métodos fenotípicos de identificação bac-
teriana, pois alteram a composição dos meios de cultura.

Está correto o que se afirma em:

a) III e IV, apenas.


b) II e III, apenas.
c) II e IV, apenas.
d) II, III e IV, apenas.
e) I, III e IV, apenas.

4. A respeito dos requisitos das etapas pré-analíticas na coleta de amostras, assinale a alternativa
correta:

a) Requisição médica para exames, identificação dos tubos de coleta.


b) Aguardar o paciente receber a antibioticoterapia, identificação de tubos de coleta.
c) Requisição da enfermaria para o exame, calibração de equipamentos.
d) Teste de equipamentos diagnósticos, diluição de amostras.
e) Preparo do material de transporte, coleta de sangue.

5. Em relação à coleta de amostras, assinale a alternativa correta:

a) Para coletas de urina, o procedimento de punção supra-púbica é o mais indicado porque não
envolve ambiente hospitalar.
b) Por não se tratarem de amostras estéreis, o sangue e a urina podem ser coletados em frascos
não esterilizados.
c) O volume ou quantidade de amostra coletada não influencia o resultado final em exames de
hemocultura.
d) A coleta de urina executada pelo paciente deve ser precedida de instruções específicas para
minimizar o risco de alterações pré-analíticas.
e) O laboratório pode executar mais de uma análise por swab, desde que o paciente autorize
os exames.

48
2
Aspectos
Microbiológicos,
Clínicos e Laboratoriais
das Infecções de Trato
Urinário
Oportunidades de
Aprendizagem
Me. Suelen Eloise Simoni

Esta unidade o ajudará a relembrar a estrutura funcional e organi-


zacional do sistema urinário humano, a resgatar seus conhecimen-
tos acerca do tratamento de amostras de urina e a solucionar os
problemas envolvendo a sua análise microbiológica. Aprenderá a
classificação das infecções urinárias, os principais agentes etiológi-
cos, seus mecanismos de patogenicidade e, principalmente, viven-
ciará a rotina da bacteriologia. Você se aperfeiçoará em relação aos
procedimentos laboratoriais utilizados, as técnicas de cultivo, seus
objetivos e se preparará para desenvolver e aplicar metodologias
de análise microbiológica em amostras de urina com facilidade e
confiança.
UNICESUMAR

Imagine que você está assumindo a escala matutina do laboratório de microbiologia. Realizou a
desinfecção das superfícies de trabalho, separou os materiais estéreis para serem utilizados naquele
dia, se planejou em relação ao recebimento de novas amostras e já está pronto para assumir as res-
ponsabilidades do turno anterior, afinal, na microbiologia, devido às necessidades específicas de
crescimento das bactérias, a rotina nunca para.
Você escolhe primeiro retirar as incubações do dia anterior da estufa bacteriológica a fim de reali-
zar as leituras nas placas de Petri, e ao abrir a incubadora se depara com um fato bem incomum: das
quatro placas incubadas, três delas apresentam o mesmo tipo de micro-organismo em crescimento.
As placas são de ágar CLED e as colônias apresentam-se esverdeadas, quase metálicas, mas não estão
completamente redondas, tendo um aspecto mais rugoso.
Ao perceber que todas tratam de amostras provenientes de pacientes e materiais biológicos
diferentes (uma amostra de urina, um aspirado brônquico, um swab de garganta e um líquor),
você fica atento à possibilidade de ter havido uma contaminação em massa, sem saber ao certo
de onde estaria vindo esta contaminação.

Baseado em seus conhecimentos prévios e ao estudo da unidade anterior, eu convido você a


pensar sobre isso. Você acha que as bactérias são mais propensas a crescerem em determinadas
amostras biológicas do que outras? Será possível uma única bactéria ser capaz de contaminar
tantas amostras em curto intervalo de tempo? E será que existe um micro-organismo tão potente
e resistente que possa de fato causar tanta confusão?

50
UNIDADE 2

Dentre as infecções que ocorrem em ampla faixa etária em indivíduos humanos, as que acometem o trato
urinário representam uma grande parcela, sendo responsáveis por 30 a 50% das infecções adquiridas em
hospitais gerais, e é provável que todas as mulheres em idade entre 15 a 55 anos terão ao menos um epi-
sódio de infecção urinária ao longo da vida. Além disso, o sistema urinário é o grande filtro da fisiologia
humana, e o cuidado com o seu estado é de grande importância, uma vez que infecções renais graves
podem evoluir para insuficiência do órgão e acarretar em consequências para todo o organismo. Ainda,
os patógenos que acometem o sistema urinário possuem muita relevância na saúde pública, uma vez
que estes mesmos organismos desenvolvem mecanismos de resistência seríssimos frente a antibióticos.
Sabendo agora que o estudo do sistema urinário e seus acometimentos infecciosos são de suma
importância para trabalhadores e pesquisadores em saúde, voltemos à situação anterior em que você
é responsável pelo laboratório de microbiologia do período da manhã.
Ainda intrigado com os resultados obtidos em sua placa de Petri, você decide contatar o seu colega
de trabalho do dia anterior, Indiana Jones, para entender melhor o que pode ter acontecido. Este seu
colega, sempre muito preocupado em desvendar mistérios e casos instigantes, descreve que processou
a amostra de líquor inicialmente, seguida da amostra de urina, e por último o swab e aspirado brôn-
quico, mas a incubação foi realizada em conjunto. Além disso, seu colega Jones se perdeu na rotina, e
acabou semeando as quatro amostras em ágar CLED, o qual é mais aplicável para análises em urina,
e não tão comum para os outros tipos de amostra. Por isso você decide investigar isso tudo melhor.
É hora de começar: acesse o Módulo IV do manual da Agência Nacional da Vigilância Sanitária
Descrição dos Meios de Cultura Empregados nos Exames Microbiológicos disponível no QR Code a
seguir e procure pelo ágar CLED (Cystine Lactose Electrolyte Deficient) no sumário.

Leia sobre este meio de cultura, anotando informações sobre sua descri-
ção, utilidade no laboratório de microbiologia e modos de interpretação.
Atente-se, principalmente, nas características de crescimento deste meio
de cultura e como essas informações podem respaldar a sua pesquisa
laboratorial.

Além de conhecer as bactérias, o que elas provocam e quais os seus sítios de ação no organismo
humano, é importante começarmos a assimilar a utilidade que os meios de cultura e seus nutrientes
fornecem e como podemos utilizar estas informações para complementar a nossa investigação labo-
ratorial. Utilizando sua pesquisa como suporte, neste momento convido você a refletir: baseado nos
dados que tem até agora, você é capaz de sugerir qual micro-organismo pode ter crescido nestas três
amostras? E como você chegou a essa conclusão, isto é, quais foram os dados coletados que ajudaram
você a escolher essa determinada bactéria como agente etiológico das três amostras? Não se esqueça
de utilizar seu Diário de Bordo para as anotações mais relevantes.

51
UNICESUMAR

Por mais que o laboratório de microbiologia seja capaz de atender a uma ampla gama de materiais
biológicos, processando-os com o mesmo cuidado e compromisso, é crucial que saibamos primeiro
que, independentemente do tipo de amostra recebida, sempre a trataremos de forma isolada, consi-
derando todos os fatores que possam envolver sua coleta, mas também, em relação às pré-disposições
deste material. Isso envolve como e de onde ele é retirado, se a amostra possui naturalmente nutrientes
para crescimento de um tipo específico de bactérias, se possui mecanismo inibidor para proliferação de
outras, se no local coletado há microbiota normal e se houver, qual a composição dessa massa biológica.
No caso das infecções do trato urinário, devemos associá-las também ao sistema genital, uma vez
que estão estritamente relacionados, desta forma, as infecções que ocorrem em um dos sistemas podem
facilmente disseminar ao outro. Para fixar melhor o conteúdo, vamos intensificar nosso estudo por hora,
apenas no trato urinário, tratando das infecções genitais e sexualmente transmissíveis na Unidade 4.
Inicialmente, precisamos relembrar como o sistema urinário atua fisiologicamente, para que
futuramente seja mais fácil associar esse funcionamento à ocorrência de colonização e infecção por
patógenos. O sistema urinário é representado pela Figura 1 e consiste em condições fisiológicas normais,
de dois rins, os quais são constituídos por milhões de néfrons e glomérulos. Estas unidades são res-
ponsáveis pela filtração ativa e seletiva do sangue, selecionando alguns íons e substâncias para serem
excluídos ou reabsorvidos no organismo, como sódio, potássio, cálcio, cloro, água, glicose e proteínas.

52
UNIDADE 2

O líquido restante desta filtração constitui a urina, a qual passa por ductos coletores e é direcionada
para o ureter. Ambos ureteres, direito e esquerdo, conduzem a urina até a bexiga que direciona a urina
produzida até a uretra, que é a estrutura responsável pela extrusão deste material. Considerando os
mamíferos, nas fêmeas, a uretra exterioriza a urina diretamente para o ambiente externo. Nos machos,
no entanto, o canal de passagem da urina e do líquido seminal é a mesma, e por essa razão, válvulas
fisiológicas estão presentes nos locais onde as uretras entram na bexiga, prevenindo o contrafluxo de
urina para os rins (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).

Figura 1: Esquema do sistema urinário. / Fonte: Black e Black (2021, p. 1640).

Descrição da Imagem: a imagem possui dois desenhos. O desenho à esquerda representa o sistema urinário feminino, desenhado
em corte frontal ou coronal, de forma que o sistema está compreendido na parte abdominal e pélvica. Os rins são representados em
formato de feijão e na cor marrom, estando logo abaixo da glândula suprarrenal (que possuem formato triangular e são rugosas) e
próximos e inferiores ao diafragma. A comunicação com o sistema circulatório acontece por meio da artéria aorta, estrutura em vermelho
e de calibre grande, que se ramifica em artérias renais, e da veia cava inferior, vaso de calibre também grande em azul, e ponto onde
desembocam as veias renais. De cada rim, saem estruturas em forma de pequenos cilindros verde-claros, chamados ureteres, os quais
terminam em uma única estrutura, a bexiga urinária. A bexiga, em sua parte mais inferior, forma uma estrutura em forma de cilindro
e de calibre bem reduzido, constituindo a uretra. A figura do lado direito representa um corte frontal dos rins, que é revestido por uma
fina camada chamada cápsula renal. Logo abaixo dela, tem-se o córtex renal, uma parte espessa que fica em torno da medula renal,
região onde se abrigam os glomérulos renais e onde ocorre a produção da urina. O líquido filtrado na região medular desemboca em
uma única região chamada de pelve renal, que após reunir todo o volume de urina produzido, a despeja para um único canal, o ureter.

As infecções do trato urinário, chamadas de ITUs, normalmente são iniciadas por uretrites e cis-
tites, inflamações da uretra e da bexiga, respectivamente. O tratamento ou cuidado destas infecções
deve ser considerado essencial, afinal, na insuficiência de medidas de controle, as infecções do trato
urinário inferior podem evoluir para pielonefrites, infecções renais de caráter praticamente sistêmico
e de difícil tratamento. Nos homens, tem tendência de evoluir para prostatites.
A entrada do micro-organismo no sistema urinário pode ser pela via hematogênica, via linfática ou
via ascendente. A via linfática é a mais rara de todas, contudo, o acesso à região renal por bactérias

53
UNICESUMAR

pode ocorrer por meio de vasos linfáticos que conectam os intestinos aos rins. A via hematogênica
(através do sangue) também é possível, afinal, a grande vascularização do rim pode favorecer o acesso
de agentes microbianos ao trato urinário, sendo a via mais comum nas infecções por bactérias como
Staphylococcus aureus e Mycobacterium tuberculosis (BRASIL, 2000), mas a forma mais recorrente de
contaminação costuma ser externa (via ascendente) de forma que, bactérias da microbiota normal da
região genital ou retal, por conta da proximidade com a uretra, são capazes de migrar para o sistema
urinário. Na abertura externa da uretra existe uma microbiota normal, que nas mulheres é composta
por bactérias do gênero Streptococcus sp., bactérias anaeróbias e alguns Gram-negativos. Para homens,
a presença de bactérias nos ductos urinários é mais rara, mas já se tem conhecimento de que alguns
organismos dos gêneros Propionibacterium sp. e Corynebacterium sp. podem habitar as vesículas
seminais e serem encontrados na urina mesmo na ausência de ITUs (BLACK; BLACK, 2021).
Desta maneira, não é incomum que a urina analisada em rotina laboratorial tenha naturalmente
alguns micro-organismos, no entanto, estes só são capazes de causar infecções ativas em caso de
oportunismo bacteriano ou vulnerabilidade do indivíduo (TORTORA; FUNKE; CASE, 2021).
A presença destas bactérias, entretanto, somadas às condições de umidade e calor apropriadas para o
crescimento bacteriano podem favorecer a proliferação e infecção por estes micro-organismos. Além
disso, a ocorrência das ITUs pode depender de fatores ligados ao sexo.
Volte à Figura 1 e observe o sistema genitourinário feminino e reflita: você consegue imaginar uma
razão para existirem diferenças na ocorrência de ITUs entre homens e mulheres? Nas mulheres, por
possuírem uretra de comprimento mais curto (cerca de 4 cm) e mais próxima da região perianal (que
é rica em microbiota Gram-negativa), a frequência de ITUs é bem maior do que nos homens (cerca
de 40 a 50 vezes mais), afinal, o acesso à entrada do sistema urinário é, portanto, mais facilitada nesse
grupo (BLACK; BLACK, 2021), contudo o organismo feminino possui a vantagem de manter o pH
das áreas genitais extremamente ácido, por meio da presença de ácido lático produzido por Lacto-
bacillus da microbiota normal, os quais, ainda, produzem peróxidos que inibem o crescimento de
outros gêneros bacterianos. Acompanhe a Figura 2 para conhecer melhor todos os mecanismos de
ação benéficos exercidos pelos Lactobacillus na saúde feminina:
1. Essas bactérias encontram-se dispersas na mucosa vaginal e a partir da produção de peróxidos
(compostos antimicrobianos) podem suprimir a proliferação de bactérias patógenas;
2. A presença desses bacilos no epitélio vaginal também impede a invasão de bactérias prejudiciais;
3. Os Lactobacillus ainda conseguem ativar mediadores de imunidade que combatem a presença
de patógenos;
4. Em detrimento da sua organização, essas bactérias conseguem isolar nutrientes e impedir que
bactérias maléficas se reproduzam;
5. Além de isolarem nutrientes, esses bacilos também são capazes de neutralizar micro-organis-
mos prejudiciais;
6. Por meio da produção de ácido lático, conseguem reduzir o pH da mucosa vaginal, tornando
o ambiente desfavorável para alguns patógenos.

54
UNIDADE 2

Figura 2: Mecanismos de defesa exibidos pelos Lactobacillus na mucosa vaginal / Fonte: adaptada de Nutergia (2020 ) .

Descrição da Imagem: na imagem há um desenho que representa a mucosa vaginal; células ovais com o centro roxo (núcleo) delimitam
o epitélio, e nelas, constam algumas bactérias azuis em formato de bastonete. Indicado por números, estão os mecanismos de ação dos
Lactobacillus; no número 1, as células azuis emitem peróxidos, representados aqui por espirais na cor preta, que atacam outra célula
em bastão, na cor vermelha que representa o patógeno. No número 2, os Lactobacillus estão aderidos às células ovais, protegendo-as.
Na etapa 3, os bastonetes azuis produzem mediadores de imunidade, desenhados aqui na forma de triângulos na cor cinza. No número
4, as bactérias láticas impedem que a bactéria patógena atinja nutrientes, desenhados na forma de esferas vermelhas. No número 5,
cinco Lactobacillus envolvem uma bactéria prejudicial, a impedindo de se espalhar pelo epitélio. Por fim, no número 6, um bastão azul
produz ácido lático bem em cima das células epiteliais, representado por quadrados na cor amarela.

A presença de Lactobacillus é tão importante para a saúde da mulher, que quando os níveis de estró-
geno diminuem por ocorrência da menopausa, há aumento na incidência de infecções urinárias,
afinal, a diminuição do hormônio também reduz a oferta de glicogênio pelas células genitais femininas,
diminuindo o substrato das bactérias para a produção de ácido lático. Além do mais, o próprio
fluxo unidirecional da urina também previne a ocorrência de infecções urinárias de forma efetiva em
ambos os sexos (BLACK; BLACK, 2021).
A apresentação clínica das ITUs inferiores normalmente envolvem disúria (dor e queimação ao
urinar) e emergência/frequência urinária. Cerca de um quarto destas infecções progride para cistites
crônicas, que envolvem dor pélvica muito mais intensa. O desconforto ao urinar contribui para o

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UNICESUMAR

esvaziamento incompleto da bexiga, fato que irá intensificar a infecção, pois a urina funciona como
reservatório para o crescimento bacteriano (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).

Você já ouviu dizer que "segurar o xixi" é prejudicial? A retenção de urina influencia fortemente na
ocorrência das ITUs. A urina contém grande concentração de sais e substratos para a proliferação
bacteriana e isso, combinado à temperatura corporal, favorece o crescimento e multiplicação de
bactérias no trato urinário.

Como já estudamos na unidade anterior, o processo de coleta e preservação de amostras também


é ponto crítico para análises em urina. Em casos de urocultura, é preferível que seja coletado o jato
médio da primeira urina do dia, após um processo de higienização com água e sabão das genitálias,
em ambos os sexos. A bactéria Mycobacterium smegmatis, que é um micro-organismo que vive na
parte externa da genitália de homens e mulheres, e que em caso de limpeza inadequada ou ineficiente,
pode ser erroneamente identificado na urina como agente patológico, podendo ser confundido com o
Mycobacterium tuberculosis, o causador ativo da tuberculose renal caso os processos de higienização
e limpeza pré-coleta não sejam realizados adequadamente (BLACK; BLACK, 2021).
Além disso, é preferível que estas amostras cheguem ao laboratório imediatamente ou ao menos
refrigeradas, porque por mais que o pH naturalmente ácido da urina consiga inibir levemente a pro-
liferação bacteriana, quando em temperatura ambiente, este mecanismo químico não é muito eficaz,
resultando em dois desfechos que interferem no resultado final:
1. A proliferação de bactérias promoverá um grande número de várias espécies de bactérias,
quando o mais comum em casos de ITU é ter grande quantidade de uma única espécie.
2. Alteração dos parâmetros bioquímicos no caso de coleta de urina para urinálise, isto é, consumo
de glicose pelas bactérias, podendo resultar em ensaio falso-negativo para glicose; aumento do
pH por degradação da ureia pelas enzimas bacterianas chamadas ureases; conversão de nitrato
em nitrito e alteração destes analitos nas amostras.

Isso ocorre pois, inclusive nos indivíduos mais saudáveis, na parte distal do trato urinário, próximo a
saída da uretra, é natural que se tenha uma colonização de bactérias (Escherichia coli e Lactobacillus
na maioria das vezes), e estas, mesmo em condições consideradas como “assépticas” (higienização as
genitálias antes da coleta do jato médio), durante a micção é possível que algumas sejam transferidas
para a urina (BLACK; BLACK, 2021).

56
UNIDADE 2

Você lembra que estudamos os métodos de coleta em crianças? Para exames microbiológicos de
urina neste grupo há uma grande dificuldade para aquelas que não possuem o controle esfinc-
teriano, sendo a sondagem vesical ou a punção suprapúbica indicadas nesses casos, no entanto,
pelos procedimentos serem invasivos, a coleta por meio de saco coletor pode ser uma alternativa,
mas possui uma alta taxa de resultados falso-positivos. Por conta disso, é importante que nestas
ocasiões, a bolsa de coleta seja trocada de 30 em 30 minutos. Para crianças maiores que já possuem
controle da micção, mesmo com a possibilidade de contaminação pela microbiota, a coleta da urina
por jato intermediário é mais aplicável.

A presença de bactérias na urina é chamada de bacteriúria, mas a contagem de micro-organismos não


indica necessariamente que uma doença esteja em evolução. Isto é, quando constatada a presença de
agentes microbianos na urina, o paciente pode ser classificado em dois grupos distintos: sintomáticos
e assintomáticos. Essa denominação influencia no prognóstico do paciente, isto porque, enquanto
sintomáticos necessitam de tratamento imediato, o grupo sem sintomas usualmente é curado espon-
taneamente em 25% dos casos (BRASIL, 2000).
Para entender melhor as infecções e mensurar o impacto delas na saúde do paciente, elas são clas-
sificadas como cistites, pielonefrites e glomerulonefrites. A cistite é a famosa “infecção de bexiga”, e o
diagnóstico não depende apenas da urocultura, mas também alguns sinais apresentados na urinálise,
como aumento de leucócitos e presença da esterase leucocitária, uma enzima produzida pelas
células de defesa que pode ser detectada na urina em caso de infecções. Na Figura 3, você pode obser-
var como os leucócitos se apresentam em amostras de urina, sendo estruturas esféricas, translúcidas e
com inúmeros grânulos em seu interior (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).

Figura 3: Lâmina em técnica “a fresco” de amostra de urina


apresentando leucócitos e hemácias.
Fonte: Shutterstock ([2023a], on-line).

Descrição da Imagem: na figura há uma foto de uma lâmina


em microscópio em formato circular, com molduras pretas.
O fundo da imagem é branco e em toda sua extensão há cír-
culos preenchidos com grânulos que podem ser observados,
caracterizando os leucócitos.

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UNICESUMAR

A pielonefrite, por sua vez, é considerada como uma evolução da cistite. Existem 25% de chance de
uma cistite evoluir para pielonefrite, resultando na inflamação dos rins, tanto isoladamente como em
ambos, nos casos mais complicados. Por se tratar de um problema um pouco mais grave, os pacientes
costumam apresentar sintomas clínicos sistêmicos como febre, e desfechos mais preocupantes como
bacteremia (presença de bactérias na corrente sanguínea). Além disso, em situações de fracasso no
tratamento, pode haver fibrose renal e consequente insuficiência do órgão (BLACK; BLACK, 2021).
Quanto à glomerulonefrite, diferente da pielonefrite, não se trata da evolução de uma infecção do
trato urinário, e sim, da deposição de imunocomplexos produzidos durante uma infecção estrep-
tocócica sistêmica. Também chamada de doença de Bright, o distúrbio pode ocorrer após a infecção
sanguínea por cepas nefrogênicas do Streptococcus pyogenes, que possuem componentes em seu
envoltório celular que mimetizam proteínas presentes nos glomérulos renais. Ao produzir anticorpos
contra o revestimento bacteriano, quando o complexo antígeno-anticorpo chega aos rins, os anticorpos
contra a bactéria passam a atacar também as células glomerulares devido a sua semelhança, provocando
inflamação e dano intenso aos glomérulos renais. Diferente dos distúrbios citados anteriormente, na
urocultura de um paciente com glomerulonefrite isolada, ou seja, sem a ocorrência paralela de pielo-
nefrite e cistite, não é comum de se encontrar o agente causador (Streptococcus pyogenes) na amostra
coletada. Uma representação deste fenômeno está ilustrada na Figura 4.

Figura 4: Deposição de imunocomplexos na glomerulonefrite / Fonte: adaptada de Leon (2018).

Descrição da Imagem: um glomérulo renal é representado na imagem por meio de um desenho. A estrutura é envolta por uma
membrana na cor verde, e em seu interior, constam sistemas de filtração, representados por células disformes na cor azul. Em volta
da membrana e aderidas a ela, pequenas estruturas em vermelho de bordas pontiagudas representam complexo imune que se liga
ao glomérulo configurando a glomerulonefrite.

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UNIDADE 2

A B
O que você acha de explorar melhor o seu co-
nhecimento nas doenças renais? O Atlas Digital
de Microscopia da Unicesumar possui um ban-
co de dados riquíssimo em imagens de lâminas
teciduais, desde órgãos em estado normal, até
visualizações histopatológicas de processos in-
flamatórios e infecciosos. Comece analisando o
tecido saudável
Agora, observe as diferenças dele para outro com processo de glomerulonefrite ativo:

A investigação de amigdalites estreptocócicas é sempre considerada, afinal, a habilidade deste


micro-organismo de produzir proteínas que mimetizam o envoltório de células humanas pode
gerar reação imunológica também nas células das válvulas cardíacas, dando origem à conhecida
febre reumática.

A leptospirose, doença de acometimento majoritariamente animal, pode também ser transmitida


a humanos causando sérios danos renais. Não se tem ainda elucidado o mecanismo pelo qual o
Leptospira interrogans, agente etiológico desta patologia, age frente às células renais humanas, mas
sabe-se que este micro-organismo vive nos túbulos renais de alguns animais como ratos e cachorros,
e por ser um local privilegiado em relação à fisiologia animal, a bactéria é capaz de se reproduzir e
permanecer longos períodos nos rins de seus hospedeiros, estando presente na urina do animal
por muito tempo. O contato direto de abrasões epidérmicas com a urina dos hospedeiros por meio
de rios, lagos, reservatórios, solo ou piscinas, ou mesmo seu consumo, leva a bactéria a se alojar na
mucosa superior do sistema digestório, adentrar ao sistema circulatório e, em uma a duas semanas,
sintomas como dores de cabeça, dores musculares, calafrios e febre aparecem, e por serem sintomas
altamente inespecíficos, o diagnóstico pode não ser concluído corretamente. Nos rins, podem ocorrer
danos tubulares, como nefrite intersticial e necrose com evolução para insuficiência, por formação
de imunocomplexos (BLACK; BLACK, 2021). Na Figura 5, é possível observar a morfologia incomum
desta bactéria, sendo ela em forma de espiral, lembrando fios de telefones antigos.

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UNICESUMAR

Figura 5: Leptospira interrogans em microscopia eletrônica de varredura.


Fonte: adaptada de Bharti et al. (2003).

Descrição da Imagem: na imagem existem duas fotos em preto e branco tiradas diretamente de microscópio óptico. À esquerda, a foto
identificada como “A” possui um fundo acinzentado e o micro-organismo Leptospira interrogans pode ser visto em formato de espiral,
semelhante a um abridor de tampa de cortiça, em coloração esbranquiçada. À direita, na foto identificada como “B”, há uma aproximação
desse micro-organismo, que possui sua membrana/revestimento levemente franzida e numa coloração branca mais pálida e opaca.

E quanto aos agentes etiológicos mais comuns têm-se as bactérias da família Enterobacteriaceae como
Klebsiella pneumoniae, Enterobacter cloacae e, principalmente, a Escherichia coli. Estas bactérias
Gram-negativas podem estar presentes na microbiota intestinal, e, muitas vezes, residentes nas regiões
perianais, e devido ao seu local de colonização, acabam tendo acesso mais facilitado à parte distal da
uretra (SOLBERG; AJIBOYE; RILEY, 2006).
Dentre elas, a Escherichia coli é a que mais merece atenção, afinal, ela possui uma série de fatores
de virulência que a auxiliam em sua atividade, mecanismos estes que já são conhecidos há mais de vinte
anos (SCHLAGER et al., 1995). A E. coli uropatogênica (UPEC) é capaz de gerar os chamados “com-
plexos intracelulares de comunidades bacterianas”, uma espécie de biofilme de resistência e proteção
a estes micro-organismos, uma vez que eles conseguem colonizar as células da bexiga. Essa capacidade
de agrupamento é devido à expressão de proteínas fimbriais e produção de adesinas, que além de
formarem os biofilmes, ainda possuem característica filamentosa de ligação às células do trato urinário
(SOLBERG; AJIBOYE; RILEY, 2006). Além do mais, a característica inerente desta bactéria ao apresen-
tar o Antígeno O em seu revestimento celular já a confere habilidades importantes também contra
o sistema imunológico humano, uma vez que essa estrutura promove uma barreira protetora contra
a deposição do sistema complemento durante a resposta imunológica (MIAJLOVIC; SMITH, 2004).
A Escherichia coli pode também produzir uma substância chamada aerobactina, um sideró-
foro (proteína sequestradora de ferro) formado por duas moléculas de lisina e uma de citrato, ca-
paz de extrair o ferro, no estado ferroso, das células humanas. Esta proteína, através de receptores
membranares específicos faz a internalização do ferro para o citosol da bactéria, tornando-o

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UNIDADE 2

disponível para auxiliar na multiplicação bacteriana, intensificando ainda mais a infecção inclusive
em ambientes pobres de ferro, como é o caso da urina (MABECK; ORSKOV; ORSKOV, 1971). Esta
espécie também produz hemolisina, proteína que provoca a lise de eritrócitos e outras linhagens
celulares, ativando a liberação de citocinas e apresentando propriedades pró-inflamatórias e causa-
doras de lesão tecidual (JOHNSON, 1991). Essa habilidade bacteriana está representada na Figura 6.

Figura 6: Placa de Ágar sangue com bactéria produtora de


hemolisina.
Fonte: Shutterstock ([2023b], on-line).

Descrição da Imagem: na imagem, há uma foto de Placa de


Petri circular, preenchida com uma estrutura gelatinosa em
vermelho, que representa o Ágar sangue. Disperso nele estão
bactérias circulares de coloração amarela e alaranjada. Ao redor
das bactérias há um envoltório incolor que contrasta com o
fundo vermelho da placa, indicando a hemólise das hemácias
presentes no ágar sangue.

O gênero Pseudomonas, também do grupo das Gram-negativas, são potenciais causadoras de ITU e
agregam um risco a mais aos pacientes: este gênero é altamente resistente à ação de antimicrobianos.
Os beta-lactâmicos, como penicilinas e suas variações, são amplamente aplicados nos tratamentos das
ITUs devido ao anel beta-lactâmico, estrutura formada por três carbonos e um nitrogênio, que inibe um
grupo de proteínas bacterianas chamadas PBPs (do inglês, penicillin binding-proteins). Estas proteínas
são responsáveis por realizar a ligação entre as cadeias de peptideoglicano da parede celular.

Ficou muito complicado? Na Unidade 1 estudamos a estrutura da parede celular, se ne-


cessário, acesse suas anotações acerca do assunto, não será a última vez que falaremos
da parede celular bacteriana, tudo bem?

Agora, observe a Figura 7, na qual encontramos a estrutura molecular da amoxicilina, um dos beta-
-lactâmicos mais utilizados no mundo, e tente descobrir qual parte é o famoso anel beta-lactâmico
responsável pelo mecanismo de ação deste medicamento.

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UNICESUMAR

Figura 7: Estrutura molecular da amoxicilina / Fonte: Shutterstock ([2023c], on-line).

Descrição da Imagem: na figura há a representação química espacial da amoxicilina. A parte responsável pelo mecanismo de ação
é o chamado anel beta-lactâmico, que na imagem é representado por um quadrado tendo em dois de seus vértices grupamentos de
carbono e hidrogênio (C-H) e nas outras duas pontas, de maneira colateral, uma molécula de nitrogênio e uma carbonila (Carbono
ligado ao oxigênio por uma ligação dupla).

Tenho certeza de que você não teve dificuldades para encontrar o anel beta-lactâmico responsável
pelo mecanismo de ação deste grupo farmacológico, certo? Então vamos pensar juntos: o desenvolvi-
mento de mecanismos de bloqueio a estes agentes seria uma importante fonte de resistência para
os agentes etiológicos, pois é justamente isso que as bactérias do gênero Pseudomonas são capazes
de fazer. A Pseudomonas aeruginosa é produtora de beta-lactamases, enzimas que clivam os anéis
beta-lactâmicos impedindo assim a sua ação, e estas enzimas são codificadas por genes presentes
em plasmídeos (está lembrado que discutimos sobre eles na unidade anterior?), sendo responsáveis
assim pela persistência das infecções causadas por este gênero. Estas bactérias, que possuem ainda
uma capacidade de formação de biofilmes incrível, podendo manterem-se aderidas a instrumentos
cirúrgicos, e após procedimentos pélvicos invasivos, podem colonizar e futuramente infectar as células
do sistema urinário (BLACK; BLACK, 2021).
No grupo das Gram-positivas, a bactéria coagulase negativa chamada Staphylococcus sa-
prophyticus é o agente etiológico mais comum das ITU na família dos estafilococos. A bactéria
pode ser um integrante da microbiota vaginal e é responsável por infecções do trato urinário
em mulheres jovens e adultas, pacientes os quais costumam responder rapidamente ao uso de
antimicrobianos, e por isso, as infecções têm curta duração, no entanto o índice de reincidência
não é pequeno (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021). Outra espécie, o Staphylococcus
epidermidis, também pode ser o causador de ITUs, principalmente em situações hospitalares
nas quais os pacientes utilizam cateteres de demora (BLACK; BLACK, 2021).

62
UNIDADE 2

Pela diversa possibilidade de agentes etiológicos, o tratamento das ITU pode ser desenvolvido de
forma estratégica. Segundo as diretrizes da Sociedade Americana de Doenças Infecciosas, o uso de
nitrofurantoína de 50 a 100mg/dia é o primeiro tratamento de escolha, devido a sua segurança e
alta eficácia, principalmente nos casos de cistite. Este medicamento age provocando danos no DNA
bacteriano e inibindo a síntese de proteínas. A administração de norfloxacino (de 200 a 400mg/dia)
também é uma opção como terapia alternativa, no entanto, as quinolonas são mais indicadas em caso
de pielonefrite. Seu mecanismo de ação envolve a inibição de enzimas da multiplicação e divisão
bacteriana, e o desenvolvimento de mecanismos de resistência frente a essa classe farmacológica é de
grande preocupação, e por essa razão é que são utilizadas com mais cautela (NICOLLE et al., 2005).
Voltemos a sua situação no laboratório de microbiologia e o mistério das placas de ágar CLED. Você
considerou algumas das bactérias que estudamos até aqui em sua pesquisa? Agora que você as conhece um
pouco melhor, teria condições de afirmar com mais confiança sobre a sua conclusão? Você já consegue citar
algum mecanismo de ação bacteriano que possa reafirmar a possibilidade de contaminação das amostras?
A partir desta unidade vamos tratar das análises laboratoriais de forma mais direta, considerando que
já estudamos e refletimos sobre os requisitos necessários para execução dos ensaios. Assim, vamos aceitar
que todos os fatores discutidos na Unidade 1 (requisição médica e suas especificações, condição de coleta
e transporte) foram cumpridas e que estamos aptos a executar as análises de forma segura e garantida.
São necessários dois procedimentos primordiais no laboratório de microbiologia quando tratamos
de urocultura: a contagem de bactérias na urina e a posterior identificação delas. Os métodos de
contagem são divididos em semiquantitativos e quantitativos.
Representando os métodos semiquantitativos, o laminocultivo é uma escolha importante por
facilitar a semeadura e transporte, além de possuir conservantes que permitem que a amostra per-
maneça estável por cerca de seis meses (BRASIL, 2000). Na Figura 8 você pode observar como esse
produto se apresenta comercialmente.

Figura 8: Recipientes para laminocultivo.


Fonte: adaptado de Laminocultivo DP (2016).

Descrição da Imagem: na imagem há uma foto


de três frascos de laminocultivo. Os tubos são
cônicos, transparentes e de tampas cinzas. Eles
encontram-se na horizontal, com a tampa do
tubo voltada para a esquerda. Internamente há
uma placa em formato retangular, contendo o
meio de cultura, no qual, há círculos vermelhos
e azuis, representando as colônias de bactérias.

63
UNICESUMAR

O laminocultivo consiste em um recipiente plástico, semelhante a um tubo de ensaio de cerca de 40


mL, que possui em seu interior um suporte plástico contendo meio de cultura em suas duas faces. A
urina pode ser diretamente despejada neste frasco, ou semeada por meio de swab embebido de urina
recentemente homogeneizada, e depois este material é incubado em atmosfera normal (isto é, com
presença de oxigênio) a 35° ± 2 °C, durante 18 a 48 horas. Ele é considerado como semiquantitativos,
pois a leitura do ensaio resultará em uma contagem estimada (BRASIL, 2000). Observe a Figura 9
para entender como funciona este processo.

102 103 104 105 106


Figura 9: Interpretação de resultados em laminocultivo. / Fonte: adaptada de Uribac (2020).

Descrição da Imagem: a figura possui o desenho de cinco retângulos verticais que representam a lâmina do laminocultivo. Em cada
retângulo estão desenhados círculos pretos, de forma que, quanto maior a quantidade de círculos, maior é presumida a contagem
na amostra testada. Começando do lado esquerdo, no primeiro retângulo, onde há quatro círculos pretos, abaixo do retângulo está o
número 10². Ao lado no segundo retângulo onde há vinte e um círculos pretos, abaixo está o número 10³. Ao lado no terceiro retângulo
onde há vários círculos pretos, abaixo está o número 10⁴. Ao lado no quarto retângulo onde há vários círculos pretos, abaixo está o
número 10⁵. E por último do lado direito no quinto retângulo onde há vários círculos pretos, preenchendo todo o retângulo, abaixo
está o número 10⁶.

Cada retângulo da imagem representa uma lâmina de laminocultivo, e os círculos pretos que se encontram
dispersos nas lâminas são representações das Unidades Formadoras de Colônia (UFC) encontradas na
amostra inoculada. Como não se sabe ao certo o volume de material adicionado, a contagem final de
micro-organismos será estimada de acordo com o estabelecido pelos fornecedores dos ensaios, de forma
que, quanto mais colônias aparecem nas faces das lâminas, maior será a sua contagem estimada. Usando
a Figura 9 como exemplo, caso uma amostra de urina apresentasse 20 colônias no laminocultivo, como
na segunda lâmina da figura, a contagem estimada para este material seria 10³ UFC/mL.
Este tipo de ensaio está disponível no mercado por diversos fornecedores, sendo de ampla utiliza-
ção em laboratórios de pesquisa e diagnóstico. A conveniência deste tipo de análise também se revela
quando observada a vastidão de meios de cultura que podem ser empregados, os quais possibilitam
muitas vezes a identificação direta dos micro-organismos mais comumente encontrados em amostras
de urina, facilitando ao médico a escolha da terapêutica mais indicada para aquele paciente, no entanto

64
UNIDADE 2

o método apresenta algumas desvantagens, principalmente porque dificulta a observação de culturas


mistas (mais de um tipo de micro-organismo) e por não fornecer contagem exata de micro-organis-
mos, apenas estimada (BLACK; BLACK, 2021).
Outro método indireto que é amplamente aplicado na rotina laboratorial é o chamado “Dipstick”
ou Fitas de urina (Figura 10). Estes testes são complementares à contagem e pesquisa de micro-or-
ganismos, estão disponíveis por diversas marcas e consistem em fitas impregnadas com reagentes
para reações específicas, e em se tratando de aplicação em microbiologia, estes instrumentos revelam
a presença de dois componentes importantes em urinas potencialmente contaminadas com patógenos:
esterases leucocitárias, liberadas pela alta concentração de leucócitos na urina indicando estados de
inflamação/infecção, e nitrito, produto de redução do nitrato por ação de enzimas bacterianas. Estes
testes são de fácil observação, uma vez que nas suas próprias embalagens vêm descritas as mudanças
visuais que ocorrem nas fitas reagentes na presença destes compostos, como mostrado na Figura 10.
Cada ensaio é identificado por uma cor e normalmente, quanto mais intensa a cor, maior a concen-
tração do composto correspondente (BRUNATI; PINI; COLZANI, 2010).

Figura 10: Fitas reagentes para ensaios químicos em urina.


Fonte: Shutterstock ([2023d], on-line).

Descrição da Imagem: na figura há uma foto com um


frasco de tiras reagentes à esquerda, cilíndrico na cor
preta e em seu rótulo, estão desenhados quadrados
coloridos, de forma que, cada quadrado representa a
revelação de um tipo de ensaio. À direita, há um frasco de
coleta em formato cilíndrico, transparente, sem tampa,
com mais da metade de seu volume preenchido com um
líquido amarelo, representando urina.

Quanto às técnicas quantitativas, para análise de urina elas podem ser por meio de semeadura
com alça microbiológica calibrada, ou por inoculação de um volume específico de material bioló-
gico. Nas técnicas de espalhamento por alça, primeiramente, é necessário que aprendamos esse
importante instrumento laboratorial. Como você pode observar na Figura 11, a alça bacterioló-
gica consiste em uma haste de metal na qual em sua ponta, há uma circunferência, normalmente
esterilizável e constituída de platina, que possui diâmetro compatível com volumes específicos.
Isto significa que, quando mergulhada em alguma amostra, a alíquota retirada será “aprisiona-
da” em toda a área formada por essa circunferência metálica, que possui volume fixo, e assim
as contagens microbianas realizadas nas placas serão convertidas em contagens por mililitros
ou microlitros de material biológico de acordo com esse determinado volume (BRASIL, 2000).

65
UNICESUMAR

Figura 11: Alça microbiológica utilizada em procedimentos em bacteriologia. / Fonte: Shutterstock ([2023e], on-line).

Descrição da Imagem:Na imagem de fundo branco é possível visualizar uma alça bacteriológica, que consiste em uma haste prateada
e em sua ponta há um círculo metálico responsável pela coleta de alíquotas de amostras.

Uma vez o material retirado de seu recipiente de coleta, ele pode ser semeado na superfície de meios
de cultura específicos para patógenos esperados na urina. É indicado que as alças possuam volume de
0,01 mL quando esperadas contagens superiores a 100 UFC/mL de amostra. Uma vez que a alíquota é
retirada, a alça bacteriológica deve ser pousada delicadamente sobre o meio de cultura e, inicialmente,
o analista faz uma linha reta bem no centro da placa de Petri, e depois por meio de sucessivas passagens
em ângulo de 90 graus através dessa linha original, movimentando a ponta da alça para cima e para
baixo, o material é espalhado. Após a incubação em estufa bacteriológica com condições de umidade
e temperatura adequados, o resultado final é semelhante à Figura 12.

66
UNIDADE 2

Figura 12: Placa de Petri com crescimento bacteriano após técnica de inoculação por esgotamento.
Fonte: Shutterstock ([2023f], on-line).

Descrição da Imagem: na imagem há uma foto de uma placa de Petri repleta de colônias coloridas (brancas, beges e vermelhas)
formando uma espécie de tapete de bactérias, resultantes de inoculação por esgotamento. Um indivíduo calçando luvas cirúrgicas
brancas segura a Placa de Petri com a mão esquerda.

Outro método amplamente utilizado para contagens microbianas é o método pour plate ou
inoculação por profundidade. Nele, uma alíquota de amostra homogênea pura ou diluída
é adicionada em volume conhecido diretamente sobre uma placa de Petri. O meio de cultura,
após fundido e ambientado entre 45 e 40 °C, é vertido sobre a amostra. O analista clínico deve
homogeneizar essa mistura por meio de movimentos delicados e circulares. Depois do meio
solidificado, ele pode ser incubado em condições de temperatura e umidade ótimas para pro-
mover o crescimento bacteriano. Este método possui uma pequena vantagem sobre o anterior
pelo melhor espalhamento e distanciamento das colônias, e a possibilidade de se diluir amostras
com altas contagens sem perda de sensibilidade do ensaio (BRASIL, 2000).

67
UNICESUMAR

Como conteúdo de fixação, assista e ouça ao vídeo elaborado pela


The University of British Columbia por meio do QR Code a seguir, para
ter uma leve ideia de como são realizadas as técnicas em pour plate
no laboratório. Aumente o volume, ative as legendas e aproveite para
aprender esta técnica.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

É importante que o laboratório tenha também um protocolo de identificação para os micro-organis-


mos encontrados. Essa identificação pode ser realizada paralela a contagem ou posterior a ela, tudo
depende do meio de cultura utilizado para os ensaios e qual o grau de especificidade que se procura.
Dentre os meios de cultura que podem ser aplicados, três deles chamam mais atenção para análises
de urina: o ágar MacConkey, o ágar EMB (do inglês eosin methilene blue) e, principalmente, o ágar
CLED (do inglês cystine lactose eletrolyte deficient). Tanto o ágar MacConkey quanto o EMB são di-
ferenciais para crescimento de micro-organismos Gram-negativos, uma vez que estes são os maiores
causadores de ITUs. No geral, estes meios possuem componentes inibidores de Gram-positivos,
uma fonte de carbono e energia (normalmente a lactose), um indicador de pH para revelar a fermen-
tação ou não do açúcar presente no meio, e uma fonte de nitrogênio proveniente de extratos de carne.
O ágar CLED, por sua vez, é mais amplamente utilizado. Primeiramente porque além de não inibir
o crescimento de Gram-positivos (como vimos anteriormente, mesmo que em menor incidência
ainda podem causar infecções urinárias), ainda possui menor concentração de eletrólitos, o que inibe
a proliferação exacerbada de bactérias do gênero Proteus. Este grupo de bactérias, quando crescem
em meios de cultura nutritivos, são responsáveis por um fenômeno chamado “swarming” (Figura
13), no qual, forma uma espécie de véu na superfície do meio de cultura, dificultando a contagem
de outras bactérias. O ágar CLED também permite o crescimento de leveduras do gênero Candida,
auxiliando também no diagnóstico de ITUs causadas por fungos (BRASIL, 2000).

68
UNIDADE 2

Figura 13: “Swarming” ou crescimento em véu de bacté-


rias do gênero Proteus em ágar chocolate.
Fonte: Shutterstock ([2023g], on-line).

Descrição da Imagem: na figura, há uma foto de uma


placa de Petri que tem semeada em sua superfície uma
bactéria, a qual forma uma película esbranquiçada na
superfície do meio de cultura, possuindo ainda um ponto
central semelhante a um alvo.

O ágar CLED, inclusive, foi o meio de cultura escolhido pelo seu colega Indiana Jones como meio de
cultivo para as amostras que você retirou da estufa. Você, aluno conseguiu perceber a importância de
se conhecer os meios de cultura e suas aplicações? Você acha que se o seu colega não tivesse usado o
meio CLED para semear amostras diferentes de urina, o mesmo fenômeno teria acontecido?
Também são possíveis as aplicações de meios de cultura cromogênicos (CHROMagar Orientation® e
CPS ID2® e CPS ID3®) que, ainda que possuam alto custo de aplicação na rotina, fornecem resultados mais
rápidos, por revelarem por meio da coloração das colônias a identificação presuntiva de espécies e agentes
(CIRAGIL et al., 2006). Você pode observar a variedade de micro-organismos identificáveis na Figura 14:
1. Colônia roxa, brilhante com o centro mais escuro corresponde a Escherichia coli;
2. Colônias beges e opacas indicam Staphylococcus aureus;
3. Colônias lilases e pequenas indicam Staphylococcus saprophyticus;
4. Colônias pequenas em azul turquesa correspondem ao gênero Enterococcus;
5. Colônias amareladas e com aspecto de véu, vocês já sabem, indicam presença de Proteus spp;
6. Colônias azuis escuras e de aparência metálicas podem indicar bactérias dos gêneros Klebsiella,
Enterobacter e Serratia.

69
UNICESUMAR

Figura 14: Diferenciação de bactérias em ágar CHROMagar Orientation®.


Fonte: adaptada de Plastlabor (2021).

Descrição da Imagem: na imagem é apresentada uma foto de uma placa de Petri contendo meio de cultura sólido na cor branca. Nele
estão semeadas seis colônias coloridas, e cada cor corresponde a um tipo de micro-organismo ou gênero bacteriano. As colônias estão
numeradas de um a seis e dispostas em sentido crescente e horário nas cores roxa escura, bege, lilás, azul turquesa, amarela e azul escura.

Para as etapas de identificação bioquímica, os métodos fenotípicos citados na Unidade 1 são os mais
amplamente aplicados, mas por serem numerosos e aplicáveis para uma infinidade de micro-orga-
nismos, existem protocolos já bem estabelecidos e estudados por órgãos Nacionais e Internacionais.
Falando de uma analista para outro analista, o estudo sobre estes testes bioquímicos será constante e
interminável, mas garantimos que não haverá arrependimentos quando você souber resolver qualquer
enigma microbiológico no seu laboratório com muita confiança. Pensando nisso, sempre buscamos
um manual de fácil acesso e recheado de informações sobre estes testes sempre quando precisamos.
Sugerimos no #EuIndico que você salve esse documento com carinho em suas bases de dados, e apro-
veite para ler e aprender mais sobre este assunto.

70
UNIDADE 2

Título: Microbiologia clínica para o controle de infecção relacionado à


assistência à saúde
Autor: Agência Nacional de Vigilância Sanitária
Editora: Agência Nacional de Vigilância Sanitária
Sinopse: Material desenvolvido para auxiliar laboratórios, analistas, gestores
e equipe multiprofissional no manejo de doenças infecciosas de origem
viral, bacteriana e fúngica. Contém dez módulos e, em cada um, pontos
relevantes da rotina laboratorial, ambulatorial e hospitalar são tratados
em seus parágrafos.

E mesmo estudando e conhecendo todos os procedimentos aplicados no laboratório, é sempre bom


lembrar que o resultado da urocultura deve ser associado a outros achados clínicos e resultados de
outros ensaios laboratoriais, como a presença de leucócitos na urina. Além disso, resultados mais
significativos são considerados quando a urocultura resulta no crescimento de um único tipo de mi-
cro-organismo, o que diminui as chances de um falso positivo. Ainda, no caso de urocultura positiva, a
conduta comum no laboratório é encaminhar esta amostra para testes de antibiograma, principalmente
nos casos de cistite/pielonefrite persistentes ou mau curadas (BRASIL, 2000).

Certamente conhecemos a sua preocupação em ser um profissional de


saúde de referência onde decidir atuar, por isso, temos certeza de que
você já conhece um pouco sobre os exames de antibiograma. Gostaria
de se aprofundar e conhecer melhor os antimicrobianos e as normati-
vas que envolvem a realização destes ensaios? Só precisamos de dez
minutos para apresentar estas análises nesta roda de conversa e con-
vencer você da importância de saber quando aplicá-la no laboratório
de microbiologia. É só dar o play!

71
UNICESUMAR

E quanto ao nosso mistério em relação às placas de ágar CLED, você conseguiu desvendar? Por mais
que seu colega se chame Indiana Jones, ele certamente não usou de muita astúcia e esperteza que possui
o personagem dos cinemas de mesmo nome. Futuramente, você aprenderá que cada amostra bioló-
gica pode ser tratada de uma maneira que facilite o crescimento de determinados micro-organismos
dependendo do material biológico que se recebe no laboratório. Além disso, saberá que nem sempre
a mesma técnica é indicada para todos os tipos de análises, justamente devido às especificidades do
material coletado, ou mesmo do micro-organismo e suas atividades quando presentes nesse material.
O caso do desatento Indiana Jones podia ser apenas uma história de Hollywood, no entanto, não foi.
Em alguns anos de laboratório já tivemos contato com histórias curiosas e surpreendentes em relação
ao mundo das bactérias, e essa é uma delas. O que ocorreu foi o seguinte: na história real, a amostra
de urina tinha uma contagem tão grande (grande mesmo) de Pseudomonas aeruginosa que por um
descuido (infelizmente não se descobriu qual) a placa de Petri que continha este micro-organismo
acabou por contaminar todas as outras placas. E pior! Após o ocorrido, praticamente a estufa inteira
ficou contaminada com a bactéria, provavelmente devido a sua resistência aos produtos de limpeza
usualmente utilizados, e a sua capacidade de formação de biofilme e fixação em superfícies. Por fim,
depois de quase dois dias passando a tabela periódica inteira dentro da incubadora a fim de eliminar
qualquer vestígio da bactéria, foi possível colocá-la novamente para uso na rotina com segurança,
no entanto, depois desse evento, todos os analistas do laboratório tiveram cuidado redobrado com
amostras de urina, e sempre que existia uma placa com suspeita de Pseudomonas aeruginosa no la-
boratório, ela era lacrada com fita aderente entre uma incubação e outra (procedimento que, confesso,
adoto inclusive nos dias de hoje).
Acreditamos que para você, que chegou até aqui, ficou evidente a importância de se conhecer as
análises em urina, independentemente do tipo de laboratório, seja ele hospitalar ou ambulatorial, que
você decidir atuar. As infecções urinárias podem acometer qualquer faixa etária, o que irá colocar você
em contato com todos os grupos de pacientes possíveis, sendo necessário que conheça os fatores de
risco para alguns indivíduos, como no caso das mulheres, ou no cuidado com as instruções de coleta,
como na ocasião de crianças e adultos.
Indo além do fator humano, conhecer os micro-organismos mais comuns, se fazem parte ou não da
microbiota normal e de seu comportamento dentro do laboratório, também ajudará você futuramente
a tomar decisões envolvendo a tomada de decisão na execução dos ensaios, em como tratar amostras
contaminadas e a evitar que seja mais um “Indiana Jones” no laboratório de microbiologia.
Por fim, por se tratar de um tipo de pesquisa muito comum na bacteriologia, os exames de urina
acabam sendo um tipo de análise que contribuiu financeiramente para o crescimento de um laboratório,
e ao mesmo tempo, que demandam muito conhecimento técnico e disposição de tempo. Assim, quanto
mais você conhecer sobre os procedimentos, os meios de cultura envolvidos e as técnicas aplicáveis,
poderá futuramente atuar como gestor de um laboratório (por que não?), sabendo exatamente onde
investir mais recursos e tomar as melhores decisões para o seu processo e para os pacientes envolvidos.

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Não foi tão difícil! Agora é hora da fixação do conteúdo! Logo a seguir está um Mapa Mental que
pode ajudá-lo a não somente anotar seus conhecimentos adquiridos, mas você pode organizá-lo,
complementá-lo e alimentá-lo da forma que achar melhor. Não se esqueça de revisar o texto mais
uma vez e tente utilizar palavras-chave que o ajudem a lembrar de cada detalhe importante.

Definição Sinais e Sintomas

INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO

Semi-quantitativo
Classificação
Diagnóstico

Agentes etiológicos Quantitativo

73
1. De acordo com seus conhecimentos sobre as infecções das vias urinárias e seu estudo acerca
do assunto, assinale a alternativa que contém o micro-organismo mais comumente encontrado
em amostras de urocultura em análises microbiológicas nos casos de infecção ativa:

a) Staphylococcus aureus.
b) Mycobacterium tuberculosis.
c) Mycobacterium leprae.
d) Escherichia coli.
e) Staphylococcus saprophyticus.

2. Em relação à epidemiologia das ITUs, é sabido que a ocorrência desta doença é mais comum
nas mulheres do que nos homens. Assinale a alternativa que contém a informação correta
acerca desta afirmação:

a) As infecções possuem maior prevalência em mulheres em decorrência da proximidade da


uretra com a região perianal, que é rica em microbiota Gram-negativa.
b) As mulheres não possuem mecanismos de defesa suficientes contra os agentes etiológicos
das ITUs quando comparadas aos homens.
c) Mulheres apresentam maior prevalência de ITUs porque são o público que mais faz reposição
hormonal.
d) O pH vaginal não é capaz de proteger a mulher contra ITUs, além disso, as mulheres não
possuem microbiota genitourinária normal eficaz contra patógenos.
e) As defesas femininas aumentam com o tempo, e não são dependentes das variações hormonais.

74
3. Considere uma cistite infecciosa e ativa. Os resultados esperados em exames de urinálise e
urocultura são:

a) Urocultura positiva, presença de nitrito e esterase leucocitária negativa.


b) Urocultura positiva, presença de nitrito, esterase leucocitária positiva e piúria.
c) Urocultura negativa, presença de nitrito e esterase leucocitária negativa.
d) Urocultura positiva, ausência de nitrito, esterase leucocitária negativa e piúria.
e) Urocultura positiva, presença de nitrito, esterase leucocitária positiva e presença de cristais
de fosfato.

4. Em relação aos testes de sensibilidade a antimicrobianos, assinale a alternativa correta:

a) É necessário que o laboratório disponha de meio de cultura MacConkey para a sua execução,
pois este meio de cultura é indicado pelos protocolos estabelecidos pela CLSI.
b) A escolha dos antimicrobianos testes não envolve o micro-organismo pesquisado, pois só são
testados antimicrobianos de amplo espectro.
c) Não existe teste de sensibilidade a antimicrobianos para micro-organismos super-resistentes.
d) Ampicilina, amoxicilina, bacitracina e cefalosporinas são antimicrobianos que podem ser
testados em antibiogramas.
e) O teste de sensibilidade a antimicrobianos é um ensaio obrigatório no laboratório de micro-
biologia.

75
76
3
Aspectos
Microbiológicos,
Clínicos e
Laboratoriais das
Infecções Do Trato
Gastrointestinal
Me. Suelen Eloise Simoni

O trato gastrointestinal é um dos sistemas mais interessantes e


ricos para o aprendizado da microbiologia. Seu funcionamento,
suas influências em outros sistemas e sua função primordial para
o organismo podem impactar diretamente nos microrganismos e
seus mecanismos de ação, ora dificultando seu crescimento e pro-
liferação, ora contribuindo para os mecanismos de patogenicidade
dessas bactérias. Nesta unidade, você terá o primeiro contato com
as bactérias causadoras de epidemias e pandemias, e, também,
saberá a importância de conhecer as toxinas bacterianas. Além de
conhecer as principais formas de contaminação e tratamento para
as enfermidades causadas pelas bactérias, você entrará em contato
com as técnicas usuais de diagnóstico microbiológico em amostras
de fezes, conseguindo aplicar seus conhecimentos adquiridos até
aqui com as novidades apresentadas nesta unidade.
UNICESUMAR

O que pode dar errado em um exame de colonoscopia? Esse tipo de exame é muito requisitado e exe-
cutado pelos médicos quando se deseja diagnosticar ou, até mesmo, tratar algum problema digestivo
envolvendo o reto, o cólon e o íleo distal, como a doença de Crohn e a Colite Ulcerativa. No entanto,
por se tratar de um exame invasivo, os procedimentos de colonoscopia carregam consigo complica-
ções passíveis de ocorrer, envolvendo as condições do equipamento de análise, o ambiente do exame,
a capacitação do profissional de execução e, também, as circunstâncias dos pacientes, como estado
de saúde, uso de medicações e preparo para o exame. Em uma das etapas do preparo, o paciente deve
tomar laxativos, a fim de manter o intestino livre de obstruções, o que facilita a observação da condição
gastrointestinal e a verificação da presença de pólipos (alterações celulares que levam à proliferação e
crescimento anormal de células intestinais formando estruturas proeminentes e observáveis apenas por
endoscopia ou colonoscopia). O laxativo de escolha, muitas vezes, é o manitol, um açúcar que quando
diluído na água e ingerido provoca a evacuação por diarreia osmótica, e que ao mesmo tempo, pode ser
utilizado como substrato para metabolismo bacteriano, uma vez em contato com os microrganismos
intestinais. Sabendo dessa informação, e certo de que seus conhecimentos adquiridos nas unidades
anteriores possam te ajudar, você consegue pensar em complicações gastrointestinais envolvendo
bactérias? Teriam seus fatores de virulência algum envolvimento? Os nutrientes que consomem e os
produtos metabólicos produzidos pelas bactérias poderiam, de alguma forma, interferir ou complicar
um exame de rotina como a colonoscopia?
Você, aluno, já deve ter notado que, tratando-se de microbiologia, nem o paciente, tampouco a sua
potencial doença devem ser enxergados unilateralmente. É mais do que imprescindível que se com-
bine os conhecimentos sobre as bactérias e seu comportamento com a experiência e vivência clínica
de sinais, sintomas e relatos dos pacientes, e, ainda, com a compreensão sobre os distúrbios de saúde
que envolvem a presença desses pequenos organismos. E mais do que isso, trabalhar com bactérias
exige que os profissionais possam, inclusive, prever situações perigosas ou de potencial dano à vida
dos profissionais e pacientes. Por exemplo: você acreditaria se eu contasse que, durante um exame
gastrointestinal, como a colonoscopia, é possível ocorrer uma explosão? E que ela pode ser associada
à presença de bactérias da microbiota do trato gastrintestinal?
Conhecer as exigências que envolvem os exames laboratoriais ou hospitalares, como vimos na
Unidade 1, ainda será necessário no nosso atual estudo. E no caso dos exames envolvendo a pesquisa
de patógenos em amostras fecais, o cuidado e a seriedade com que devem ser tratadas as análises
laboratoriais devem ser ainda mais intensificados para esses materiais. É importante frisar, também,
que a coleta e entrega de amostras fecais no laboratório podem gerar certo constrangimento e timidez
aos pacientes, e, por essa razão, o seu trabalho como profissional da saúde torna-se ainda mais indis-
pensável, porque conferir mais dignidade a uma pessoa que já está em condições de saúde debilitadas
não é uma tarefa fácil, mas não tenho dúvidas que você pode tirar isso de letra!
Voltando ao caso da colonoscopia, convido você a um exercício rápido, que enriquecerá ainda mais
os seus conhecimentos. Acesse o estudo publicado em 2017 por Kurachi e colaboradores, intitulado
“Explosão de cólon após uso de manitol para preparo de colonoscopia: Relato de caso”, por meio do
seu leitor de QR code, e leia com atenção o estudo de caso apresentado pelo pesquisador e sua equipe.

78
UNIDADE 3

01 02

Depois, leia o estudo publicado em 2020 por An-


drade e colaboradores (2020), intitulado "Explo-
são de cólon durante colonoscopia" por meio do
QR code a seguir, e colete todas as informações
envolvendo a ação dos microrganismos que você
achar pertinentes.

Para ajudar no exercício proposto, faça suas anotações. Pense e reflita: como a presença das bactérias no
trato gastrointestinal pode ter interferido no desfecho apresentado? E de acordo com os seus conheci-
mentos, qual a possível fonte do problema relatado? Teria alguma forma de esse fato ter sido evitado?
Use o espaço a seguir à vontade para criar suas teorias, testar suas hipóteses e fixar seu conhecimento.

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UNICESUMAR

O sistema gastrointestinal é um dos sistemas mais emblemáticos para a microbiologia devido não apenas
a sua complexidade, mas também porque a presença de microrganismos ao longo do tubo digestivo
não é um fato incomum. Desde a boca até o final do intestino, o sistema gástrico é composto de suas
partes essenciais, sendo a microbiota bacteriana uma parte muito importante e essencial para seu de-
vido funcionamento. O sistema gastrointestinal e seus componentes estão representados na Figura 1.

Boca
Glândulas salivares
Língua
Faringe
Epiglote

Esôfago

Fígado Estômago
Vesícula biliar
Pâncreas

Intestino grosso Intestino delgado

Reto
Apêndice Ânus

Figura 1 – Representação do sistema gastrointestinal / Fonte: Shutterstock ([2023a], on-line).

Descrição da Imagem: a imagem apresenta uma figura do corpo humano em corte frontal, mostrando as estruturas que compõem
o sistema gástrico. As seguintes partes são representadas partindo-se da boca em direção ao ânus: boca, língua, glândulas salivares,
faringe, epiglote, esôfago, fígado, estômago, vesícula biliar, pâncreas, intestino delgado, intestino grosso, apêndice, reto e ânus.

Como sabemos, o propósito do sistema gastrointestinal é realizar a digestão dos alimentos a fim de
fornecer nutrientes para uso em processos metabólicos essenciais, como também, caminho de de-
glutição de líquidos orais hidratantes. Basicamente, o alimento é levado à boca, e a digestão inicial
já começa nessa cavidade com o auxílio dos dentes (cortam, amassam, trituram), da língua, saliva e
enzimas digestivas, como a amilase salivar. Durante a deglutição, a epiglote faz o bloqueio do acesso
dos alimentos à traqueia, fazendo com que o material mastigado seja conduzido ao esôfago. Depois de
ser conduzido por esse tubo, o alimento chega até o estômago, onde sofrerá ação do ácido clorídrico

80
UNIDADE 3

estomacal, o que irá dar continuidade no processo digestivo. É nesse ponto que algumas bactérias que
possam estar presentes na água e nos alimentos sofrem a ação mais agressiva do organismo humano,
por conta do baixíssimo pH do estômago, tornando as condições muito ruins para sobrevivência
bacteriana (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
O bolo alimentar (quimo) é direcionado, então, ao intestino delgado em sua porção inicial, cha-
mada duodeno, na qual são liberados os fluidos pancreáticos e biliares, que são determinantes para
a digestão completa. Eles fornecem surfactantes e enzimas que digerem proteínas, amidos e lipídios.
No duodeno também é liberado o bicarbonato, que ajuda na neutralização do ácido proveniente do
estômago, e alguns aminoácidos e enzimas antibacterianas, como a lisozima (MURRAY; ROSENTHAL;
PFALLER, 2021). A absorção da maioria dos nutrientes ocorre nessa região, e esses componentes
são direcionados ao fígado por meio da veia, porta para processamento, metabolismo ou produções
necessárias. Nos lóbulos do fígado, uma rede de vasos e capilares chamados sinusoides (Figura 2) são
responsáveis ainda por remover células mortas, combater algumas bactérias e toxinas por meio das
células de Kupffer (BLACK; BLACK, 2021).

Figura 2 – Representação do lóbulo hepático e dos sinusoides. / Fonte: Shutterstock ([2023b], on-line).

Descrição da Imagem: a figura é composta por três imagens: a localizada na extremidade superior esquerda representa o fígado na
cor marrom e de estrutura semelhante a uma pirâmide com a sua base na diagonal. A figura central representa o tecido hepático,
o qual é desenhado em marrom e cada lóbulo aparece em formato hexagonal adjacente e justaposto, compondo visualmente uma
estrutura semelhante a um favo de mel. A terceira figura, esta na extremidade superior direita, representa a aproximação do lóbulo
hepático, e nela é possível observar os sinusoides, desenhados em linhas coloridas de vermelho, verde e amarelo, representando os
vasos sanguíneos e linfáticos que ficam em torno dessas estruturas.

O quimo segue pelo intestino delgado, onde ocorre a absorção de açúcares simples, aminoácidos
e gorduras por meio da comunicação das células presentes nas microvilosidades deste órgão e das
terminações sanguíneas e linfáticas. Nesse ponto, também são secretadas enzimas importantes para a
defesa do organismo frente aos potenciais patógenos, como vírus e bactérias. Além disso, as placas de

81
UNICESUMAR

Peyer (Figura 3), uma espécie de tecido linfoide, também contém grande concentração de linfócitos
e macrófagos que podem combater invasores indesejados. O bolo fecal segue para o intestino grosso,
onde bactérias que habitam naturalmente o sistema e fazem parte da microbiota intestinal concluem
a digestão, liberando importantes subprodutos, como tiamina, vitaminas K e B12 e riboflavina. Além
do mais, essas bactérias também competem por nutrientes com possíveis patógenos, dificultando a
proliferação dos microrganismos maléficos ao organismo. Por fim, as fezes são formadas e armazenadas
no reto, para depois serem evacuadas para o meio externo (BLACK; BLACK, 2021).

Figura 3 – Placas de Peyer na mucosa intestinal.

Descrição da Imagem: a imagem apresenta uma foto vista em microscópio óptico. Ela representa as Placas de Peyer na mucosa
intestinal. A estrutura possui um envoltório sinuoso, formado por células roxas, longas e em sentido vertical. As Placas de Peyer estão
dentro deste envoltório, em formato triangular e oval.

A microbiota normal pode variar de indivíduo para indivíduo, e pode ser devido a isso que a variedade
de gêneros e espécies que a compõem seja tão vasta. No Quadro 1 a seguir, você pode encontrar alguns
tipos, quantidades e curiosidades sobre a microbiota do sistema gastrointestinal e suas particularidades.

82
UNIDADE 3

Grupo de microrganismos Localização Particularidades

Fusobacterium sp., Strep-


Mais de 750 espécies co-
tococcus sp., Actinomyces
nhecidas, e cada mililitro de
sp., Propionibacterium sp., Boca
saliva pode conter milhões
Veillonella sp. e Staphylo-
de bactérias.
coccus sp,

O baixo pH estomacal tor-


Ausentes (em condições na praticamente impossível
Estômago e esôfago
normais) a manutenção de microbio-
ta bacteriana.

Bacteroides sp., Bifidobac- Cerca de 40% da massa


terium sp., Clostridium sp., fecal é constituída de bac-
Lactobacillus sp., Entero- térias.
coccus sp., Intestino delgado (após Elas são responsáveis
Eubacterium sp., Fusobac- o primeiro terço de sua também por metabolizar.
terium sp., porção) nutrientes que, na sua au-
Peptostreptococcus sp., sência, não seriam quebra-
Ruminococcus dos nem absorvidos, como
alguns polissacarídeos.

O alimento pode permane-


cer até 60 horas antes de
ser completamente digeri-
Bacteroides sp. (Enterótipos do, criando um ambiente
1,2 e 3), Intestino grosso adequado para a prolife-
Escherichia coli ração bacteriana. Estes
microrganismos conse-
guem digerir substâncias e
produzir vitaminas.

Quadro 1 – Composição da microbiota normal do sistema gastrointestinal


Fonte: adaptado de Murray; Rosenthal e Pfaller (2021); Black e Black (2021); Sommer e Bäckhed, (2013).

Tratando-se de infecções gastrointestinais, as doenças diarreicas são as mais representativas, sendo


que nos últimos vinte anos o conhecimento sobre os agentes patogênicos causadores desses distúrbios
aumentou de forma importante. A descoberta de episódios diarreicos causados pelos microrganismos
dos gêneros Isospora spp. e Cryptosporidium spp. em pacientes imunossuprimidos foi determinante
para a resolução de problemas envolvendo esse público e ajudando também a decidir o melhor manejo
para esses casos. Em crianças, os episódios diarreicos normalmente são causados por rotavírus, por
isso, apenas em casos negativos para o vírus é que se realiza a pesquisa de patógenos bacterianos em
amostras fecais. Em adultos, a causa mais comum é inflamatória, no entanto, a pesquisa de bactérias
em materiais fecais não é tão rara, e o maior desafio nesses casos é diferenciar o agente patogênico das
bactérias constituintes da microbiota normal (BLACK; BLACK, 2021).

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UNICESUMAR

Surtos associados à contaminação da rede de abastecimento público de água também podem ocorrer
em regiões de saneamento básico insuficiente, afinal, a falta de condições adequadas desses serviços
influencia em processos infecciosos pelo consumo de água e alimentos contaminados (BRASIL, 2004).
No Brasil, esses distúrbios são denominados Doenças Diarreicas Agudas e ocorrem cerca de 10 milhões
de casos por ano, e ainda que na maioria das vezes sejam autolimitadas, os distúrbios eletrolíticos,
desidratação e déficit nutricional acarretam piora no quadro, tanto em pacientes vulneráveis quanto
naqueles em estados normais de saúde (BRASIL, 2018).
Tratando-se de sistema gastrointestinal, nada mais lógico que começarmos pelos distúrbios
envolvendo a boca e seus órgãos anexos. Primeiramente, precisamos lembrar que o fluxo e com-
posição salivar varia de um indivíduo a outro, e, por esta razão, algumas pré-disposições à cárie
e à periodontite podem ser explicadas. Isso ocorre porque em pessoas com baixo fluxo salivar, a
probabilidade de grupos bacterianos se fixarem na superfície dental através de biofilmes é aumen-
tada. O microrganismo com maior potencial cariogênico é chamado Streptococcus mutans, o qual
é capaz de metabolizar uma grande variedade de carboidratos, sintetizar dextrano (um polissaca-
rídeo aderente que é capaz de aglomerar moléculas de glicose) e, ainda, é capaz de tolerar um alto
nível de acidez) (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019). Na Figura 4, à esquerda, você pode observar
a estrutura característica dessa bactéria em microscópio eletrônico de varredura, sendo possível
observar que as células bacterianas se apresentam agrupadas e em fila. Do lado direito, nas setas
vermelhas, é possível observar o dextrano ao redor dessas bactérias.

Figura 4 – Streptococcus migrans na cavidade bucal. / Fonte: Tortora, Funke e Case (2019, p. 750).

Descrição da Imagem: na imagem aparecem duas fotografias provenientes de microscópio eletrônico de varredura, em preto e branco.
A foto da esquerda possui em branco bactérias agrupadas, ligadas umas às outras em fileira. Do lado direito, a segunda foto apresenta
estruturas mais disformes em branco, e em duas delas há duas setas vermelhas.

A fisiopatologia da cárie envolve duas características importantes que se correlacionam entre si: a
capacidade de adesão dessas bactérias ao dente e a sua propensão de formar as placas bacterianas. Em
dentes limpos, é muito improvável que ocorra aderência de células bacterianas, no entanto, mesmo
após a escovação, em poucos segundos os aminoácidos presentes naturalmente na saliva criam um
ambiente propício para a adesão de bactérias na superfície dentária. Uma vez aderidos, os microrga-
nismos são capazes de metabolizar carboidratos e açúcares, produzindo ácido lático que, ao remover

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UNIDADE 3

o esmalte dentário, cria um ambiente favorável para a aderência de mais células bacterianas (BLACK;
BLACK, 2021). A degradação do esmalte dentário levará a desmineralização, erosão e corrosão dos
dentes (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).
O flúor, componente de diversos cremes dentais e antissépticos bucais, reduz o efeito do ácido lático
no esmalte dentário. Além disso, a natureza alcalina da saliva também pode neutralizar essa produção
de ácidos, no entanto, se a corrosão do esmalte não for tratada, a massa bacteriana será capaz de invadir
o tecido dentário interno. E nesse ponto, é importante observar que, após o agravamento de uma cárie
superficial, a população bacteriana, capaz de provocar abcessos dentários, é completamente diferente
daquela que iniciou a infecção (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019). A principal forma de se combater
ou evitar cáries é a escovação dentária, uso do fio dental e em casos mais extremos, uma redução no
consumo de açúcares e preenchimento da cavidade dental com resinas (materiais plásticos) ou com
amálgama (mistura de prata e outros metais) pode ser necessária (BLACK; BLACK, 2021).

Alimentos "sem açúcar" podem contribuir para o desenvolvimento das cáries? O sorbitol e o
xilitol não contribuem para a formação de cárie dental, porque a maioria das bactérias são
incapazes de metabolizá-los. E, mesmo que utilizem, o ácido liberado é facilmente neutralizado
pelos tampões da saliva.

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UNICESUMAR

Ainda na cavidade bucal, as cáries podem evoluir para doenças periodontais, como a gengivite,
que é caracterizada, principalmente, por sangramento da gengiva durante a escovação e o processo
é facilitado quando o hábito de escovação diminui, afinal, a deposição e acúmulo de bactérias é
facilitada nesses casos (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019). As doenças periodontais são a soma
da gengivite com a erosão dos chamados ligamentos periodontais que sustentam os dentes. Dessa
forma, formam-se sulcos entre os dentes e a gengiva, facilitando o desprendimento dos dentes.
Com relação aos agentes etiológicos, os grupos anaeróbios, estreptococos e actinomicetos são
os mais comuns de serem encontrados nessas condições, e as formas de tratamento envolvem
higiene bucal mínima, como escovação e uso contínuo do fio dental. No caso da evolução para
a gengivite ulcerativa necrosante aguda, pode haver a necessidade de aplicação de colutórios
contendo antimicrobianos e remoção física das placas e tártaros (BLACK; BLACK, 2021). Um
processo de gengivite e periodontite concomitantes podem ser observados na Figura 5.

Figura 5 – Processo infeccioso de gengivite e


periodontite.
Fonte: Shutterstock ([2023c], on-line).

Descrição da Imagem: na imagem há uma


foto de um indivíduo com seus dentes expos-
tos. Um profissional calçando luvas cirúrgicas
está afastando o lábio superior com um ins-
trumento metálico, revelando parte da arcada
dentária desse indivíduo, revelando processo
de gengivite, caracterizado pelo sangramento
da gengiva entre o dente canino e o primeiro
pré-molar. Além disso, há o aparecimento de
manchas amarelas nos dentes, na região pró-
xima à gengiva.

Mais uma vez, o Atlas de Microscopia Digital da Unicesumar pode te ajudar


a visualizar inúmeras opções, e nas infecções do trato gastrointestinal
não seria diferente. Você pode observar uma lâmina histológica de uma
infecção gengival. Aproveite para navegar pela plataforma e agregar ainda
mais conhecimento no seu processo de aprendizagem.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

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UNIDADE 3

Agora estudaremos mais sobre as infecções que afetam o trato gastrointestinal inferior, as quais, neste
capítulo são mais notórias e significativas para análise laboratorial. As doenças que acometem o estô-
mago e intestinos dependem de fatores internos, como imunidade, condição da microbiota intestinal,
condição fisiológica de peristaltismo, alergias alimentares e externas, envolvendo, principalmente, o
estado do alimento/água consumidos e as condições higiênico-sanitárias dos instrumentos utilizados
no preparo de alimentos, e ocorrem quando patógenos conseguem se multiplicar e driblar as defesas
naturais do indivíduo (Placas de Peyer).

Como diferenciar infecção de intoxicação alimentar? É importante lembrar que intoxicações ocorrem
de maneira repentina, com sintomas abruptos e, normalmente, em ausência de febre. Além disso,
intoxicações ocorrem pelo consumo da toxina, e não necessariamente estará envolvida em uma
infecção bacteriana.

Os agentes etiológicos, normalmente, envolvem microrganismos que não fazem parte da microbiota
normal, ou espécies produtoras de fatores de virulência e toxinas capazes de afetar o organismo hu-
mano e que, infelizmente, a presença em alimentos não é tão incomum.
Em abril de 2022, durante o famoso festival de música Coachella, em Los Angeles (LA), cerca de
40 pessoas da mesma empresa de ônibus foram levadas ao hospital com sintomas e sinais de intoxi-
cação alimentar, depois de três horas do jantar servido à equipe. Investigadores dos departamentos
de saúde pública e saúde ambiental do condado de Riverside, LA, realizaram mais de 200 entrevistas
e identificaram uma pessoa que ficou doente e levou parte da comida para casa. Após a realização
de exames com essa amostra, o laboratório detectou a presença de uma toxina, também chamada de
superantígeno, produzida por um microrganismo Gram positivo que, segundo o Centers for Disease
Control and Prevention, não costuma evoluir para condições graves de saúde, mas que exige cuidados
em relação à intensa desidratação dos pacientes (AR NEWS, 2022).

Sabendo disso, sugiro revisitar a Unidade 1, onde estudamos as genera-


lidades das bactérias, e procurar nos parágrafos em que discutimos os
fatores de virulência das bactérias, alguns candidatos microbiológicos que
podem produzir os chamados “superantígenos”. Você conseguiu encontrar
alguma bactéria que pudesse ser a produtora dessa toxina em especial?

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UNICESUMAR

Os superantígenos são proteínas e estruturas capazes de ativar o sistema linfocitário policlonal e


iniciarem uma intensa resposta imunológica, envolvendo não apenas intoxicações alimentares, mas,
também, doenças cutâneas e sanguíneas (SIVIERO; UTIYAMA, 2000).

Você deve ter visto que algumas espécies do gênero estafilococos são capazes de produzir toxinas, e,
dentre elas, o Staphylococcus aureus é muito significativo para doenças gastrointestinais. Além de
suportar condições de alto estresse (temperaturas elevadas, concentração de sal acentuadas, baixa
pressão osmótica), podem ser transferidos para alimentos através das mãos de manipuladores ou do
próprio consumidor final (RADDI; LEITE; MENDONÇA, 1988). Por isso, é hora de relembrar quem
é essa bactéria e por que ela tem tanta importância na investigação de doenças gastrointestinais.
Os estafilococos são bactérias Gram positivas que medem entre 0,5 e 1,5 micras de diâmetro, imóveis,
incapazes de formar esporos, e a maior parte das espécies são catalase positiva (Figura 6), enzima que
tem a capacidade de quebrar peróxido de hidrogênio em água e oxigênio, fazendo com que ambientes
ricos em peróxidos não sejam nocivos a essas bactérias (BLACK; BLACK, 2021).

Figura 6 – Prova da catalase negativa (esquerda) e


positiva (direita).
Fonte: Shutterstock ([2023d], on-line).

Descrição da Imagem: A imagem apresenta uma


foto de uma lâmina de vidro em um fundo preto,
contendo duas colônias bacterianas adicionadas
em um líquido transparente que é o peróxido de
hidrogênio. À esquerda, a colônia se assemelha a
um botão transparente, sem formação de bolhas e
geração de gás, caracterizando a ausência da enzima
catalase nessa bactéria. A colônia da direita está
turva e apresenta inúmeras bolhas de ar, caracteri-
zando a prova de catalase positiva.

O Staphylococcus aureus, especificamente, também possui em sua superfície a enzima coagulase, a


qual se liga ao fibrinogênio do plasma humano convertendo-o em fibrina, fato que, além de proteger
bactérias que ficam enclausuradas em coágulos, ainda provoca problemas ao hospedeiro (MURRAY;
ROSENTHAL; PFALLER, 2021). Na Figura 7, temos um breve resumo dos fatores de virulência do
Staphylococcus aureus, onde conseguimos observar (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021):

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UNIDADE 3

• Substâncias invasivas e de degradação, como a hialuronidase, auxiliam na fixação do micror-


ganismo nas células alvo e, ainda, favorecem a sua entrada e disseminação no organismo.
• A produção de enzimas, como a catalase e a coagulase, auxiliam nas manobras de sobrevivência
e proliferação bacteriana.
• As toxinas ajudam a aumentar a vulnerabilidade do indivíduo infectado.
• A presença de microcápsula está envolvida com uma menor sensibilização de neutrófilos e
neutralização de elementos do sistema complemento.
• A parede celular possui inúmeras proteínas e receptores que auxiliam na internalização de
nutrientes e trocas com o ambiente externo.
• Família de microbial surface components recognizing adhesive matrix molecules (MSCRAMM),
um conjunto de genes codificadores de adesinas bacterianas, que se ligam às células-alvo faci-
litando sua permanência nos tecidos.
• Presença do gene MecA, responsável por codificar proteínas que tornam a bactéria resistente
a antimicrobianos de amplo espectro, como a oxacilina.
• Presença de plasmídeo, que quando transferido de outras bactérias, também confere caracte-
rísticas de resistência microbiana.
Anticorpo

Invasinas
Ribossomos Proteína A

Enzimas

Toxinas Parede celular

Microcápsula

Figura 7 – Fatores de virulência do Staphylococcus aureus. / Fonte: Shutterstock ([2023e], on-line).

Descrição da Imagem: A imagem possui uma figura que representa a célula do Staphylococcus aureus através de uma estrutura
esférica, circundada inicialmente por um envoltório azul claro (microcápsula), seguido de um envoltório amarelo claro (parede celular).
Presos a esta esfera, estão representados os fatores de virulência. No lado esquerdo da imagem tem-se as invasinas, ilustradas como
estruturas azuis triangulares agudas; enzimas, desenhadas em forma de esferas pequenas e coloridas; toxinas, representadas por
estruturas disformes. Do lado direito, a proteína A e os MSCRAMM, que se assemelham a espículas coloridas aderidas na parede da
esfera. No centro da célula tem-se em branco o material genético da bactéria, estando preso a ela uma estrutura em forma de bastão,
na cor marrom, representando o gene MecA. Ainda o plasmídeo pode ser encontrado na figura, representado por um círculo amarelo.

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UNICESUMAR

A infecção pelo S. aureus envolve, principalmente, a invasão direta do tecido gastrointestinal devido as
suas adesinas e substâncias invasivas que rompem as barreiras do epitélio e comprometem as junções
de aderência, utilizando os fatores de virulência, observados na Figura 7, como principais mecanismos
para sua sobrevivência (SANTOS et al., 2007).
Ainda assim, a característica mais notória que o configura como potencial microrganismo causa-
dor de doenças gastrointestinais é a sua capacidade de produção de enterotoxinas. As enterotoxinas
estafilocócicas (EE) são termorresistentes e são produzidas e fixadas nos alimentos, dessa maneira,
mesmo após a remoção da bactéria pela cocção, é possível que a toxina permaneça no alimento
(HENNEKINNE; BUYSER; DRAGACCI, 2012). No Brasil, a pesquisa de enterotoxinas estafilocóci-
cas é exigida em produtos lácteos como leites fermentados, iogurtes, leite integral e queijos, devido a
ocorrências anteriores de toxinfecção causada por S. aureus nessas matrizes alimentares (SABIONI;
HIROOKA; SOUZA, 1988). Ainda, as tortas de creme e bolos de festa, os produtos à base de aves e
salada de batatas, são alimentos comumente envolvidos em intoxicações estafilocócicas, e essas toxinas
também não alteram características visuais e organolépticas desses alimentos (BLACK; BLACK, 2021).
São conhecidas mais de 20 classes de toxinas estafilocócicas, mas as mais comuns são as das
classes SEA, SEB, SEC, SED e SEE, sendo a SEA mais envolvida em intoxicações alimentares e a
SEB associada, inclusive, como arma biológica (WU et al., 2016). O mecanismo da intoxicação
ainda não é bem elucidado, sendo explicado principalmente pela sua capacidade de induzir uma
resposta inflamatória intensa, mas também por ações indiretas, afetando a expressão de citocinas
imunológicas e metabólitos produzidos pelos macrófagos, células T e monócitos (WU et al., 2016).
No entanto, o dano tecidual do trato gastrointestinal só ocorre após a toxina circular no sangue e
voltar ao intestino, sendo que dentro de uma a seis horas após o consumo do alimento contaminado,
o indivíduo pode desenvolver diarreia, dor abdominal, náuseas e vômitos e, geralmente, sem febre.
A velocidade de aparecimento dos sintomas é correlacionada com a quantidade de toxinas, por isso
um alimento carregado delas gerará sinais de intoxicação mais rapidamente. É importante lembrar
que intoxicações não conferem imunidade, por isso o cuidado com o preparo e manipulação de
alimentos deve ser constante e monitorado (BLACK; BLACK, 2021).
Ainda no grupo dos Gram positivos, três bactérias anaeróbias estritas merecem atenção: o Clos-
tridium botulinum, Clostridium perfringens e Clostridium difficile. O botulismo ocorre através da
ingestão das toxinas produzidas pelo Clostridium botulinum, as quais, ao invés de causarem trans-
tornos gastrintestinais, causam alterações preocupantes no sistema nervoso (TORTORA; FUNKE;
CASE, 2019) que serão discutidas futuramente na Unidade 6. A toxina produzida pelo Clostridium
perfringens por sua vez, além das intoxicações alimentares, também pode causar gangrena gasosa, no
caso de germinação da bactéria em feridas, ou inflamação do tecido conjuntivo. É importante saber
que essa toxina só é produzida em caso de esporulação do microrganismo, processo que ocorre no caso
de cozimento inadequado de carnes, caldos e molhos e que, ainda, são mantidos quentes por muito

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UNIDADE 3

tempo. O processo de esporulação pode ser observado na Figura 8, a qual também pode ocorrer em
ambientes pobres de nutrientes, afinal, esta morfologia bacteriana é assumida como forma de proteção
e preservação da célula (BLACK; BLACK, 2021).

Figura 8 – Processo de esporulação de um bacilo Gram positivo. / Fonte: adaptada de Black e Black (2021).

Descrição da Imagem: na imagem há a representação de dois ciclos de multiplicação e esporulação bacteriana. O ciclo da esquerda
possui em seu centro o nome “ciclo vegetativo” o qual ilustra o ciclo de multiplicação de um bastonete amarelo, posicionado na horizontal,
com o DNA representado em roxo. Na célula central desse ciclo, bem em cima de seu material genético, há a indicação da estrutura "Nu-
cleoide axial”, e esta célula inicia o ciclo ilustrado do lado direito. Este ciclo possui em seu centro a denominação “Ciclo de esporulação”.

O principal sintoma da doença causada pela toxina é a diarreia, mas diferente da intoxicação causada
pelo S. aureus, essa demora mais para apresentar sinais e sintomas e permanece mais tempo no or-
ganismo, gerando o desconforto (cerca de 24 horas). A principal forma de se evitar uma intoxicação
devido à presença de Clostridium perfringens é a manipulação correta e higiênica de alimentos, além
de cuidado nos processos de cozimento e conservação. O Clostridium difficile é o mais isolado em
amostras fecais de pacientes hospitalizados que desenvolvem diarreia após três dias, ou mais, da in-
ternação (BRASIL, 2000), e, assim como as outras bactérias pertencentes ao seu gênero, essa bactéria
é capaz de produzir toxinas que desencadeiam os sintomas gastrointestinais (BLACK; BLACK, 2021).
O Bacillus cereus, um bacilo Gram positivo e alongado, também é capaz de produzir toxinas que
induzem vômito no indivíduo, com os sintomas aparecendo rapidamente (cerca de 8 horas após o con-
sumo do alimento contaminado). Essa bactéria pode ser encontrada na água e no solo, e geralmente a
intoxicação por sua toxina está associada a alimentos servidos à base de arroz cozido no vapor e carne
mal preparada (BLACK; BLACK 2021).

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UNICESUMAR

Título: O Despertar de uma Paixão (The Painted Veil)


Ano: 2006
Sinopse: Neste filme, Kitty é integrante da alta sociedade e está farta do
controle de seus pais, e, aproveitando que o belo médico Walter Fane tem
seus belos olhos só voltados a ela, Kitty decide se casar, sem saber que
assumir esse compromisso sem amor pode ser pior que uma enterite. Ou
não? Ambientado em 1920, em uma cidade no interior da China, o filme
traz os dramas do casal em meio a uma epidemia mortal, fato que pode
mudar definitivamente a forma como eles enxergam um ao outro.
Comentário: Aproveite para assistir a esse romance e refletir sobre as condições do local onde
há a epidemia, as relações entre alimentação e infecção, medidas de profilaxia e maneiras de
tratamento em uma época em que a penicilina ainda não havia sido descoberta, e, na qual, os
profissionais da saúde trabalhavam em condições muito diferentes das de hoje.

Mas os distúrbios gastrointestinais não se limitam apenas aos Gram positivos. Os vibriões, grupo que
inclui os gêneros Vibrio e Aeromonas, são representantes de enterites de importância médica, sendo
essas bactérias de morfologia incomum. São bacilos curvos, em forma de vírgula, Gram negativos e
móveis, possuindo apenas um flagelo (Figura 9), chamado de flagelo polar. Essas bactérias crescem
em meios de cultura simples, em um intervalo amplo de temperatura (de 14°C a 40°C) e requerem
cloreto de sódio para cultivo adequado (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).

Figura 9 – Representação 3D do vibrião. / Fonte: Shutterstock ([2023f], on-line).

Descrição da Imagem: na imagem há uma figura em 3D do vibrião. Possui fundo preto, e a bactéria está desenhada em laranja, em
forma de bastonete curvo, com um flagelo saindo de sua extremidade posterior. O flagelo possui formato da letra “S”.

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UNIDADE 3

Os vibriões podem ser encontrados em águas de estuários, mas a principal forma de contaminação é
através de água e alimentos impregnados com a bactéria, caracterizando a contaminação fecal-oral.
Essas bactérias formam biofilmes que ficam aderidos em algas, plantas aquáticas e plâncton, e, ainda,
possuem a capacidade de ficarem “dormentes” em condições ambientais desfavoráveis. Por essa razão,
podem ficar viáveis por longo período de tempo. No entanto, para que causem os efeitos clínicos, devem
ser inoculados no indivíduo em grande concentração, uma vez que não possuem alta resistência aos
ácidos intestinais. (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021; TORTORA; FUNKE; CASE, 2019). Os
maiores representantes desses grupos são o Vibrio cholerae, Vibrio parahaemolyticus e Vibrio vulnificus.
Os principais fatores de virulência que envolvem esse grupo são a produção de toxinas, aderências
às células gastrointestinais e evasão do sistema imune pela apoptose de macrófagos. Para algumas
espécies (V. parahaemolyticus) ainda há a produção de hemolisinas, chamadas também de Kanagawa
positivas. O V. vulnificus pode, ainda, produzir substâncias neutralizantes ao ácido clorídrico estomacal
(MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
O Vibrio cholerae, principal causador daquela que conhecemos por cólera, é produtor da toxina
colérica, que quando liberada, promove a secreção exacerbada de água e eletrólitos pelas células gas-
trointestinais, causando uma diarreia massiva e rica em muco e células epiteliais (aspecto chamado
clinicamente de “água de arroz”). Pelo alto volume de fluidos perdidos (chegando de 12 a 20 litros de
perda hídrica por dia) pode causar choque hipovolêmico, afinal, a perda de líquidos torna o sangue
viscoso demais para ser bombeado pelo coração e disperso entre os órgãos (BLACK; BLACK, 2021).
O organismo humano produz anticorpos de memória contra essa bactéria, de forma transitória, pre-
venindo a recorrência apenas contra microrganismos do mesmo sorogrupo, caracterizados de acordo
com o tipo de lipopolissacarídeo O presente em sua superfície. O sorogrupo O1 é subdividido em
três sorotipos (Inaba, Ogawa e Hikojima) e dois biotipos (clássico e El Tor). Apesar da divisão, ela é
utilizada para fins acadêmicos, afinal, há a possibilidade de as cepas transacionarem entre os sorotipos
Inada e Ogawa, por exemplo (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
Devido ao seu poderoso mecanismo de patogenicidade, e a sua transmissão depender de condições
ruins de saneamento básico, essa bactéria foi responsável também por recorrentes pandemias gastrin-
testinais, sendo a primeira datada em 1817, iniciada na Índia, e a última chamada também de “sétima
pandemia de cólera”, em 1961. Nos anos 1960 o biotipo El Tor, localizado na Indonésia, ultrapassou os
limites territoriais da região, atingindo o litoral da América do Sul pelo Peru. Cerca de 30 anos depois,
a epidemia começou a ser disseminada no Brasil, começando pelo Nordeste e Norte do país e depois
se alastrando para os estados de Minas Gerais, Paraná e São Paulo (GEROLOMO; PENNA; 1999).
É importante destacar que o curso e a intensificação da doença acompanha as regiões mais
pobres. E, mesmo com a escassez de estudos científicos atuais que envolvam a sétima pandemia de
cólera (que, inclusive, dura até os dias de hoje), Gerolomo e Penna (1999) discutem brilhantemente os
dados epidemiológicos desta condição, relatando que o maior impacto sentido socialmente e finan-
ceiramente, até a publicação do estudo, foi nas Regiões Norte e Nordeste, enquanto as regiões mais
ricas em investimento e infraestrutura, como Sul e Sudeste são poupadas, afinal, os índices de acesso
à rede de esgoto e à água tratada, por exemplo, podem ser o dobro nessas localidades mais abastadas.

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UNICESUMAR

O Vibrio parahaemolyticus também pode produzir a doença colérica, mas costuma gerar um
distúrbio gastrointestinal mais brando e autolimitado, e sua incidência está mais associada a regiões
de alto consumo de crustáceos, frutos do mar e peixe cru. Essa bactéria também pode infectar feridas
superficiais através do contato do indivíduo com água contaminada. Já o Vibrio vulnificus produz
uma resposta muito mais agressiva, podendo gerar septicemia acompanhada de febre, calafrios, e
geração de feridas epidérmicas secundárias. Os surtos de cólera podem ser evitados com o estabele-
cimento correto de medidas de saneamento básico, e, ainda, a imposição de quarentena de pacientes
infectados junto à interrupção de embarques em cidades portuárias que pode ser uma boa escolha,
afinal, a maior parte dos casos não é relacionado a causas autóctones, e sim, a indivíduos que vêm de
localidades endêmicas para outras não endêmicas (BLACK, BLACK, 2021).
Outro gênero que acompanha os vibriões, que são bastonetes Gram negativos, anaeróbios faculta-
tivos e separados das enterobactérias devido a sua capacidade de causar reação positiva para oxidase, é
o gênero Aeromonas. Quase 50 espécies fazem parte desse grupo, sendo as espécies A. hydrophila, A.
caviae e A. veronii biotipo sóbria, as mais notórias. Assim como os vibriões, a forma de contaminação
também é oral-fecal, e essas bactérias também estão presentes em corpos de águas, e são capazes de
causar distúrbios diarreicos acompanhados de dor abdominal intensa e, adicionalmente, infecções
oportunistas sistêmicas em indivíduos imunossuprimidos (TRABULSI; ALTERTHUM, 2008).

Você sabe a diferença entre diarreia e disenteria? É dado o nome de diarreia ao amolecimento das
fezes acompanhado de grande quantidade de água, decorrentes de uma infecção do intestino del-
gado. No intestino grosso, a doença pode evoluir para a disenteria, ou seja, diarreia com presença
de muco, sangue e, até mesmo, pus.

Outro extenso e complexo grupo capaz de causar enterites é o grupo das enterobactérias. A família
Enterobacteriaceae é composta de bacilos Gram negativos, anaeróbios facultativos e que não possuem
a capacidade de formar esporos. Neste grupo incluem-se as bactérias que não produzem oxidase,
uma enzima que reduz espécimes à base de oxigênio, água ou peróxido de hidrogênio, e esta reação
pode ser revelada pelo uso de um corante impregnado em um papel filtro (Figura 10) (TORTORA;
FUNKE; CASE, 2019).

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UNIDADE 3

Figura 10 – Teste da oxidase.


Fonte: Shutterstock ([2023g], on-line).

Descrição da Imagem: Na imagem há uma foto


de uma placa de Petri dividida ao meio. Do lado
esquerdo, há um papel filtro retangular, posicio-
nado na vertical, com uma mancha roxa em sua
extremidade superior. Acima deste retângulo há
a escrita “Oxidase +” em verde. Do lado direito, há
também um papel filtro retangular de cor branca,
e na sua extremidade superior há uma mancha
amarela. Acima deste, existe a escrita “Oxidase - "
em vermelho. Na parte superior da placa de Petri,
ainda, tem a escrita “teste da oxidase” em vermelho.

As características visuais em meios de cultura desses microrganismos também são importantes para sua
identificação. Por exemplo, ao se semear uma colônia suspeita em ágar MacConkey, é possível separá-los
em “fermentadores da lactose” (colônias avermelhadas dos gêneros Escherichia, Klebsiella, Enterobacter,
Citrobacter e Serratia) e “fermentadores tardios de lactose” ou “não fermentadores de lactose” (colônias
incolores dos gêneros Salmonella, Shigella e Yersinia spp) (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).
No geral, o grupo das enterobactérias possui um conjunto de fatores de virulência que contribuem para
o seu crescimento e disseminação no organismo do hospedeiro. A presença das enzimas enterobactina e
aerobactina, responsáveis por sequestrar íons ferro de suas proteínas carreadoras, está presente na maioria
dos gêneros desta família. Além disso, a cápsula bacteriana é resistente à ação de fatores imunológicos
presentes no soro, e a maioria das enterobactérias apresentam mecanismos de resistência a antimicro-
bianos usualmente utilizados pela transferência de plasmídeos (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).
Para começar, vamos estudar sobre a bactéria que faz o cabelo de qualquer um ficar em pé quando
é encontrada em amostras clínicas: a Salmonela. Primeiramente, precisamos combinar algo muito
importante e que pode mudar muito a forma como você, aluno, lê artigos científicos e trabalhos
acadêmicos. A classificação taxonômica do gênero Salmonella causa muita confusão, no entanto, já
é sabido que as espécies causadoras de salmoneloses pertencem ao gênero e espécie Salmonella ente-
rica, grupo que possui mais de 2500 sorotipos diferentes, sendo os mais comuns os sorotipos Typhi,
Typhimurium e Enteritidis (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).

95
UNICESUMAR

Considerando que essa bactéria é es-


tudada há muito tempo, pode ser que
você tope com algum livro, trabalho ou
artigo que faça a citação dela isolada-
mente como espécie, mas é importan-
te lembrar que todas elas são soroti-
pos de Salmonella enterica, tudo bem?
Com isso esclarecido, partiremos para
o entendimento sobre fisiopatologia
das doenças causadas por esse grupo.

A salmonelose é uma enterite muito comum, de distribuição


mundial, e os sorotipos causadores mais comuns são a Salmo-
nella enterica sorovares Typhy, Choleraesuis e Enteritidis. Estes
bacilos Gram negativos, são móveis e possuem inúmeros flagelos,
e podem ser encontrados no trato gastrointestinal de aves, tar-
tarugas e roedores. Por essa razão, a superfície e interior de ovos
ou as fezes desses animais são potenciais fontes de contaminação
para o homem. Dessa forma, as principais formas de prevenção
às enterites causadas pelas salmonelas se inicia no cuidado com
os animais e sua saúde, cocção correta de carnes e ovos, cuidado
com a pasteurização do leite, indo até a aplicação de armadilhas
e ratoeiras em estabelecimentos e locais de manipulação de ali-
mentos (BLACK; BLACK, 2021).
Esse grupo também pode estar presente na água e, em forma
de biofilme, em superfícies, o que configura um risco a mais, uma
vez que os biofilmes podem resistir ao ácido do estômago, fa-
zendo com que uma alta carga bacteriana chegue aos intestinos.
As enterites em geral possuem a dor abdominal e diarreia como
sintomas característicos, podendo também o indivíduo apresen-
tar febre (devido, principalmente, às endotoxinas produzidas por
essas bactérias). O tempo de incubação (intervalo entre consumo
do alimento contaminado e o aparecimento dos sintomas) ocorre
entre 8h e 48h após a ingestão, e a doença costuma ser autolimitada.
O principal tratamento é a hidratação do indivíduo, e nos casos
graves ou ocorrência em crianças e idosos, é comum a prescrição
de antimicrobianos (BLACK; BLACK, 2021).
O principal agravante da salmonelose, no entanto, é o de-
senvolvimento de febres entéricas, que ocorrem em virtude da

96
UNIDADE 3

capacidade de invasão que as Salmonella spp possuem frente às células intestinais, penetrando-se
na corrente sanguínea. A febre tifoide, um dos tipos de febres entéricas, é causada pela Salmonella
enterica sorovar Typhi, e o seu mecanismo de invasão está exemplificado na Figura 11.

Salmonella Célula M

Enrugamento de membrana

Figura 11 – Invasão da Salmonela nas células intesti-


nais em direção à corrente sanguínea
Fonte: Tortora, Funke e Case (2019, p. 756).

Descrição da Imagem: a figura apresenta um de-


senho representando o processo de invasão da Sal-
monella no epitélio intestinal. Ela é composta de seis
desenhos separados por flechas pretas descenden-
tes, indicando uma sequência de eventos. As células
intestinais são ilustradas na forma de retângulos de
vértices arredondados, com estruturas alongadas
em sua extremidade superior, lembrando cílios, e
no seu interior, uma esfera na cor roxa pálida re-
presenta o núcleo. A bactéria é representada por
Linfonodo pequenos bastões na cor roxa escura, o linfonodo
se assemelha a uma bolsa em forma de feijão na cor
verde, contendo dois vasos na extremidade superior,
semelhante a canudos, e um vaso na extremidade
inferior. A corrente sanguínea é representada por
Corrente sanguínea uma figura parecida com um cano na horizontal na
cor vermelha.

A bactéria se liga aos enterócitos e ao invadi-los, utiliza a própria membrana plasmática da célula para
constituir um vacúolo protetor, que serve também de local e concentração bacteriana após a divisão. É
neste momento que o processo inflamatório causa os sintomas diarreicos. Eventualmente, ocorre
a extrusão das bactérias do enterócito para a corrente linfática, onde serão fagocitados pelos macrófa-
gos, irão novamente se multiplicar no interior destas células de defesa e atingir a corrente sanguínea.

97
UNICESUMAR

Dentro de 1 a 3 semanas, o indivíduo pode apresentar septicemia acompanhada de cefaleia e febre alta.
Um agravante importante desse distúrbio é a capacidade da bactéria em reinfectar o intestino, uma
vez que, ao infectar a vesícula biliar e se dividirem, as bactérias são enviadas ao intestino novamente
na digestão (TRABULSI; ALTERTHUM, 2008).
Por essa razão, os pacientes que sofrem dessa doença constantemente se queixam de distensão
e hipersensibilidade abdominal, podendo, ainda, desenvolver quadros de hemorragia e perfuração
do intestino. No entanto, se o tratamento for corretamente administrado (normalmente fluoroqui-
nolonas, como o ciprofloxacino) o indivíduo se recupera e ainda desenvolve imunidade contra esse
microrganismo. E mais uma informação muito importante: A Salmonella enterica sorovar Typhi
não é encontrada em fezes de animais, e, sim, nas fezes humanas, por isso a bactéria tem como
reservatório o próprio ser humano (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).
Os principais fatores de virulência dessa bactéria são três: a secreção de proteínas de invasão (cha-
madas Ssps), um sistema de secreção que injeta estas proteínas para dentro dos enterócitos e genes,
que codificam proteínas capazes de driblar as defesas imunológicas do hospedeiro. Com relação aos
mecanismos de patogenicidade, isto é, a forma como a bactéria é capaz de mobilizar o sistema imune e
causar danos ao indivíduo, envolvem a liberação de prostaglandinas e posteriores fatores inflamatórios
e citocinas (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).

Indivíduos saudáveis podem ser portadores assintomáticos do sorovar Typhi de Salmonella. O exem-
plo mais clássico é de uma cozinheira, Mary Mallon, apelidada de "Typhi Mary" ou "Maria tifoide".
Era uma mulher simples, imigrante irlandesa e funcionária de várias famílias da alta sociedade no
estado de Nova Iorque, e conhecida por seu famoso sorvete de pêssegos cortados à mão. Após
o adoecimento de vários membros de famílias diferentes, um engenheiro sanitário foi contratado
para investigar os casos e encontrou apenas um denominador comum em todos eles: Mary Mallon.
A trabalhadora foi examinada à força depois de muita resistência (ela inclusive atacou um policial
com um garfo!) encontrando-se a sorovar Typhi em suas fezes. Não se sabe se a condição de saúde
foi devidamente explicada à cozinheira, ou se instruções de cuidado de higiene foram dadas, mas é
estimado que ela tenha sido responsável pela contaminação de mais de 50 pessoas.
Fonte: BLACK; BLACK, 2021.

Outra enterite, denominada de desinteria bacilar, é mais um distúrbio gastrointestinal causado por
enterobactérias, dessa vez, pelos microrganismos do gênero Shigella. O único reservatório desta bactéria
é o intestino humano e o dos primatas, e as principais espécies são Shigella sonnei, S. dysenteriae, S.
flexneri e S. boydii. Os constituintes desse gênero são capazes de produzir a Shiga toxina, estrutura
que, ao adentrar nas células intestinais, bloqueia a produção de proteínas, levando à destruição celular
(TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).

98
UNIDADE 3

Shigella No intestino, essas bactérias se ligam às células en-


Célula M téricas por meio de adesinas (Figura 12), e, após a
secreção de proteínas, promovem o enrugamento
da membrana celular do enterócito, adentrando
em sua estrutura e promovendo a proliferação
bacteriana. Depois, as bactérias têm a capacida-
Enrugamento de membrana de de invadir as células adjacentes ao utilizarem
filamentos de actina, evitando a ação do sistema
imunológico. E o dano tecidual é proveniente
do abscesso causado pela destruição celular que
as bactérias provocam ao produzirem toxinas
(BLACK; BLACK, 2021).

Figura 12 – Mecanismo de invasão entérica da Shigella spp.


Fonte: Tortora, Funke e Case (2019, p. 755).

Descrição da Imagem: a figura apresenta um desenho repre-


sentando o processo de invasão da Shigella no epitélio intesti-
nal. Ela é composta de cinco desenhos separados por flechas
pretas descendentes, indicando uma sequência de eventos.
As células intestinais são ilustradas na forma de retângulos
de vértices arredondados, com estruturas alongadas em sua
extremidade superior, lembrando cílios, e no seu interior,
uma esfera na cor roxa pálida representa o núcleo. A bactéria
Abscesso mucoso é representada por pequenos bastões na cor roxa escura.

O dano tecidual gera os episódios diarreicos, com fezes mucosas, compostas de alta concentração de
neutrófilos e, eventualmente, presença de sangue. A dor abdominal também é presente, podendo levar
ao desenvolvimento de cãibras. A lise do enterócito, adicionalmente, atrai células polimorfonucleares
que intensificam o processo inflamatório, levando à febre. Os sintomas iniciam de 1 a 3 dias após a
contaminação oral, e o distúrbio costuma ser autolimitado, uma vez que a bactéria raramente atinge a
corrente sanguínea, sendo a administração de antimicrobianos muito rara, e as medidas de hidratação
são a forma mais comum de manejo para essa doença (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021). Pelo
fato de a contaminação ocorrer através do consumo de alimentos mal higienizados (a bactéria pode
persistir por quase 1 mês na superfície de alimentos), água não tratada (consumo, banho, lavagem de
roupas) e contato das mãos com a boca, medidas simples de higiene e boa cobertura de saneamento
básico são suficientes para se evitar essa infecção (BLACK; BLACK, 2021).

99
UNICESUMAR

Em casos especialmente graves, a doença pode evoluir para dano neurológico, devido à presença de
Shiga toxina, deficiência de proteínas (denominada kwashiokor), redução dos níveis de vitamina B12 e
eletrólitos, levando a casos de convulsões e até ao coma (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).

O gênero Shigella também possui enganos taxonômicos. As quatro espécies (S. dysenteriae, S.
flexneri, S. boydii e S. sonnei) tiveram seus DNAs analisados e descobriu-se que, na verdade, todas
são um biogrupo de espécies de E. coli, mas em nível de conhecimento e estudo, os livros preferem
tratá-las por seus nomes históricos.

E depois de conhecer essa variedade imensa de bactérias causadores de doenças gastrointestinais você,
como bom estudante e observador, me perguntaria: professora, passaremos esta unidade inteira sem falar
da Escherichia coli? Bem, querido(a) estudante, não será desta vez que nos veremos livre desse grupo
altamente patogênico. A E. coli é um importantíssimo membro da família das enterobactérias, por isso,
recomendo que você volte à Unidade anterior e revise os mecanismos de patogenicidade e fatores de
virulência que foram extensivamente tratados na Unidade 2, porque no trato gastrointestinal, ela é capaz
de utilizar dos mesmos mecanismos para promover a infecção. Para as infecções gastrointestinais, os
mais importantes, no entanto, são a expressão de adesinas em sua superfície e a produção de toxinas.
A E. coli é membro participante da microbiota intestinal, e para que cause doenças gastrointestinais,
o indivíduo deve entrar em contato com as cepas patogênicas através de contaminação fecal-oral, seja
por consumo de água ou alimentos contaminados, ou pelo contato direto da mãos e instrumentos
colonizados. Para estudarmos melhor, e, também, facilitar suas pesquisas posteriores de aprofunda-
mento de conteúdo, vamos tratar as unidades patogênicas divididas em grupos.
No grupo das E. coli enteropatogênicas (EPEC), bactérias responsáveis pela maior ocorrência de
diarreia em países desenvolvidos, os microrganismos são capazes de formar estruturas em pedestal
(Figura 13), a qual, além de ser um mecanismo de proteção à bactéria e facilitador de sua disseminação,
é capaz de eliminar as microvilosidades dos enterócitos, causando dano tecidual (que gera os episódios
diarreicos) e, ainda, prejudicando a absorção de nutrientes (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019). Eles
são gerados por expressão gênica de proteínas virulentas codificadas por regiões denominadas “locus
de apagamento de enterócitos” (LEE), possuindo mais de 40 genes responsáveis pela destruição celular
(MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).

100
UNIDADE 3

Figura 13 – Formação em pedestal em enterócitos provo-


cada por cepas de E. coli
Fonte: Tortora, Funke e Case (2019, p. 762).

Descrição da Imagem: na figura há uma imagem pro-


veniente de microscópio eletrônico, na qual, as bactérias
estão representadas em laranja, aderidas aos enterócitos,
ilustrados em verde. A bactéria aderida à superfície da
célula lembra uma estrutura de cálice. Na extremidade
inferior direita, há a sigla “SEM” (Scanning Electron Mi-
croscope), escrita em branco no interior de um quadro
vermelho, ao lado um traço na horizontal com a escrita
“1µm” abaixo, indicando o tamanho da bactéria.

No grupo das E. coli enteroinvasivas (EIEC), além de também serem capazes de formar a estrutura
em pedestal (Figura 13), é neste grupo que se incluem os biotipos de Shigella, sendo o mecanismo de
patogenicidade muito semelhante ao citado na Figura 12. Esse tipo é mais raro de ser identificado e as
cepas patogênicas estão mais associadas aos sorotipos O124, O143, e O164 (MURRAY; ROSENTHAL;
PFALLER, 2021). Esse grupo também possui em sua superfície a expressão de um antígeno, chamado
antígeno K, que possibilita a aderência das bactérias às células para desempenhar seu mecanismo de
patogenicidade (BLACK; BLACK, 2021).
No caso das E. coli enteroagregativas (EAEC), esse grupo está presente apenas em fezes huma-
nas, e a diarreia é provocada em razão da liberação de toxinas e liberação de citocinas inflamatórias e
agregação de células imunológicas (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021). São classificadas dessa
forma por se assemelharem a tijolos empilhados quando semeadas junto aos enterócitos (TRABULSI;
ALTERTHUM, 2008). Você pode observar esse fenômeno na Figura 14, indicado pela flecha branca.

Figura 14 – Morfologia da EAEC em “pilhas de tijolos”.


Fonte: Braga (2013, p. 60).

Descrição da Imagem: na imagem há a foto de uma


lâmina em microscópio ótico, aumento de 1000x de uma
amostra de células intestinais impregnadas com bactérias
do tipo EAEC. O fundo da imagem é levemente esverdea-
do, e as bactérias podem ser observadas em formato
de bacilo. No centro da imagem há uma flecha branca
indicando a formação de “tijolos empilhados”.

101
UNICESUMAR

As cepas de E. coli enterohemorrágica (EHEC), por sua vez, é muito conhecida dos médicos e
profissionais da saúde. Algumas bactérias desse grupo também possuem a capacidade de produção e
secreção da Shiga toxina, sendo chamadas, nesse caso, de E. coli produtora de Shiga toxina (STEC),
sendo mais comumente associados a elas o sorotipo O157:H7 (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019) A
toxina é capaz de desencadear episódios diarreicos severos, sendo as fezes ricas em material mucoso e
sangue, após 3 a 4 dias do contato com a bactéria. As toxinas podem ser do tipo STX1, que é semelhante
à produzida pela Shigella, e STX2, que promovem a inibição de proteínas celulares nos enterócitos,
levando à apoptose (TRABULSI; ALTERTHUM, 2008).

O nome dado ao sorotipo O157:H7 se refere à caracterização dos antígenos somáticos (O) e flagelar
(H) na cepa da E. coli. Esse sorotipo específico é capaz de produzir as toxinas Shiga 1 e 2, habilidade
que é obtida a partir de um plasmídeo por transferência lateral. Essa troca de plasmídeos pode
transformar uma cepa inócua em letal, e são necessárias apenas 100 células patogênicas para iniciar
uma infecção. A STEC já é a causa mais comum de insuficiência renal aguda em crianças nos EUA,
devido a sua toxina causar a síndrome urêmica aguda (BLACK; BLACK, 2021).

Um fato interessante e que desafia o tratamento contra este tipo específico de bactérias é o fato
de a administração de antibioticoterapia piorar o estado do paciente, uma vez que os an-
timicrobianos causarão a lise da bactérias, liberando essa toxina para o ambiente externo, e
piorando os sintomas desencadeados por ela. Animais bovinos são os reservatórios clássicos desse
grupo, podendo contaminar tanto as carcaças quanto o leite produzido pelas vacas. A liberação
dessa toxina, mais especificamente a STX2, pode ainda causar a síndrome urêmica hemorrágica,
causando trombocitopenia e anemia hemorrágica, e que posteriormente afeta o tecido renal por
causar a destruição do endotélio e deposição de trombina, o que gera distúrbios glomerulares, e
futura falência renal (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).

Você sabia que a E. coli é um microrganismo indicador? Uma vez que se encontre presente em água
contaminada com material fecal, pode indicar indiretamente a presença de outros microrganismos
patogênicos. No Brasil, a pesquisa dela em águas tratadas é análise mandatória de acordo com a
Portaria GM/MS nº 888, de 4 de maio de 2021.

102
UNIDADE 3

Com relação à E. coli enterotoxigênica (ETEC), o principal mecanismo de patogenicidade é a libe-


ração também de uma enterotoxina, codificada por um plasmídeo, e que permite a expressão de pilis
e fímbrias em sua superfície. A doença costuma acometer mais as crianças menores de 5 anos. Assim
como os demais grupos (com exceção da EIEC), ela também não promove a invasão de outros órgãos,
ficando confinada no lúmen intestinal, causando os sintomas diarreicos pela adesão e destruição
tecidual do epitélio intestinal, e pela produção de toxinas termotolerantes (BLACK; BLACK, 2021).
A E. coli é a principal bactéria encontrada em amostras que caracterizam a diarreia do viajante,
“barriga de Deli” ou “vingança de Montezuma” (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021) quando
analisadas, estando a ETEC em primeiro lugar, seguida da EAEC. A doença é mais grave em lactentes,
crianças e idosos, os quais estão sujeitos à grave desidratação. É particularmente perigosa aos lacten-
tes pelo fato de sua microbiota intestinal ainda não estar completamente formada, não contendo as
bactérias benéficas que competem por nutrientes com as patogênicas. Os migrantes costumam se
automedicar com antimicrobianos, mas essa conduta não é a mais indicada, uma vez que influencia
muito no desenvolvimento de resistência bacteriana. A doença pode ser causada também por rota-
vírus, protozoários, como a Giardia e Entamoeba, e outras bactérias como a Salmonella, Shigella e
Campylobacter (BLACK; BLACK, 2021).
E, para finalizar o grupo das enterobactérias, vamos concluir esta parte teórica com os últimos
integrantes deste grupo: os gêneros Campylobacter, Yersinia e Helicobacter. Algumas cepas de
Campylobacter das espécies jejuni e fetus podem ser detectadas em alimentos e, também, na água,
principalmente na superfície de aves cruas mantidas em água não clorada e leite cru, de forma que a
falta de pasteurização ou má cozimento destes alimentos pode gerar processos infecciosos. A doença
causada por essas bactérias geram diarreia, dores abdominais e febre, e o tratamento, assim como na
maioria das enterites, também é a reposição hidroeletrolítica do paciente (BLACK; BLACK, 2021).
A Yersinia enterocolitica é um microrganismo encontrado naturalmente em ambientes ma-
rinhos, mas sobrevive facilmente em alimentos como frutos do mar e leite por longo período de
tempo, devido a sua capacidade de crescer e se multiplicar em temperaturas de refrigeração. A
bactéria produz uma enterotoxina que é responsável pelo dano tecidual e sintomas, que envolvem
eventos diarréicos e dor abdominal acima do comum (BLACK; BLACK, 2021). Atualmente, a
análise de Yersinia enterocolitica não é muito comum em amostras de fezes, mas usual em aná-
lise de alimentos, uma vez que a pesquisa dessa bactéria tem importância principalmente em
produtos lácteos e destinados a pacientes hospitalizados.

Esta professora que vos fala analisa atualmente a presença de Yersinia em amostras de
dieta enteral, e fico feliz em dizer que em três anos, nunca identifiquei amostras positivas.
No entanto, a vivência no laboratório com essa bactéria é muito rica, visto que as provas
bioquímicas que envolvem a sua identificação são muito diferentes das usualmente utili-
zadas na rotina.

103
UNICESUMAR

A Helicobacter pylori (Figura 15), por sua vez, não está associada à ocorrência de enterites, mas ao
diagnóstico das úlceras pépticas. Além de ser um cofator para o câncer de estômago, essa bactéria tem
a capacidade de converter ureia em amônia, substância que neutraliza o suco gástrico, explicando a
razão desse microrganismo ser resistente em ambiente de pH ácido. A Helicobacter é capaz de infectar
as células epiteliais do estômago, gerando lesões que podem se estender até as regiões do esôfago e
duodeno, evoluindo para ulceração no caso de processos inflamatórios não tratados. A gastrite pode
ser tratada com inibidores da bomba de prótons (como o omeprazol) e a infecção, que não se tem
ainda elucidada a via de entrada e saída, pode ser combatida com a administração de antimicrobianos
como claritromicina e tetraciclina (TRABULSI; ALTERTHUM, 2008).

Figura 15 – Representação tridimensional da bactéria Helicobacter pylori.


Fonte: Shutterstock ([2023h], on-line).

Descrição da Imagem: na imagem na imagem há uma ilustração em 3D da bactéria H. pylori. O fundo da imagem é preto fosco, e a
bactéria é ilustrada na cor laranja, em bastão no formato semelhante a um parafuso grosso. Em sua superfície existem inúmeros pilis na
tonalidade laranja clara, e na extremidade posterior há a presença de flagelos, lembrando a estrutura de uma raiz, também em alaranjado.

104
UNIDADE 3

Como um/a bom/a aluno/a, e já preparando suas habilidades para seu


futuro analista, você deve ter reparado que nesta unidade não tratamos
das conhecidas parasitoses e viroses gastrointestinais. Sabendo que o
Brasil é um país ainda em desenvolvimento, e que é muito comum os
médicos solicitarem não apenas o bacteriológico de fezes, mas também
as análises parasitológicas e virais por conta de nossa estrutura epide-
miológica atual, te convido a ouvir alguns minutos sobre essas doenças
para aprender um pouco mais sobre elas e descobrir o porquê de serem
tão importantes no cenário brasileiro.

E como eu sou uma ótima amiga na hora do estudo, no Quadro 2 a seguir, eu resumi para você, alu-
no/a, as principais bactérias que vimos nesta Unidade e seus mecanismos de patogenicidade, antes de
entrarmos efetivamente nos métodos diagnósticos das infecções gastrointestinais.

Produção de Toxinas Invasão tecidual Mecanismos de aderência

Staphylococcus aureus Shigella spp


E. coli enterohemorrágica
Clostridium perfringens e (EHEC)
Salmonella spp
Clostridium botulinum

Bacillus cereus E. coli enteroinvasiva (EIEC)


E. coli enteroaderente (EAEC)
Aeromonas spp Yersinia enterocolitica

Vibrio cholerae e V. parahae-


Campylobacter jejuni
molyticus
E. coli enteropatogênica
E. coli enterotoxigênica (ETEC) (EPEC)
e. coli enterohemorrágica Helicobacter pylori
(EHEC)

Quadro 2 – Mecanismos de patogenicidade de enterites e gastroenterites


Fonte: adaptado de Murray; Rosenthal e Pfaller (2021); Black e Black (2021); Sommer e Bäckhed, (2013).

105
UNICESUMAR

Para estudarmos sobre a pesquisa e identificação destas bactérias em material clínico, nada mais
comum que começarmos pelos requisitos envolvendo a amostra. Todos os procedimentos citados a
partir daqui fazem parte do Manual de Procedimentos Básicos em Microbiologia para o Controle
de Infecção Hospitalar (BRASIL, 2000), mas é importante ressaltar que os laboratórios aderem a
metodologias diversas para o processamento de amostras, dependendo da demanda, dos materiais e
fornecedores disponíveis e do perfil epidemiológico de determinada região.
O material para a coprocultura deve ser coletado no início da fase aguda da doença, porque há
maiores chances de existirem altas concentrações dos microrganismos nas amostras. A coleta pode
ser realizada diretamente em frascos estéreis contendo meios de transporte, como o Cary Blair ou
solução salina tamponada (que contém constituintes para equilíbrio osmótico e controle de pH), e
esse é o primeiro ponto onde o profissional da saúde pode fazer a diferença.
Na hora de instruir os pacientes, é importante explicar que a coleta deve ser o mais simples pos-
sível, sem necessidade de grandes quantidades de amostra (normalmente, o volume que preencha
uma colher de sobremesa já é suficiente para a realização da coprocultura). Além disso, é importante
que o paciente feche bem o frasco, e que encaminhe imediatamente a amostra para o laboratório,
do contrário, a amostra deverá ser armazenada sob refrigeração (mecanismo não indicado porque
a variação de temperatura pode injuriar os microrganismos na amostra). No ambiente hospitalar, é
possível realizar a coleta de swab retal, utilizando material estéril após umedecê-lo em salina estéril, e
realizando a coleta diretamente no esfíncter retal.

Os meios de transporte não possuem nutrientes, pois a finalidade destes meios é apenas manter o
material clínico em condições adequadas para sua posterior análise. Por isso, apenas ativos como
cloreto de sódio, tampões e antioxidantes são adicionados as suas formulações.

Os médicos também podem solicitar contagem de leucócitos nessas amostras, e neste caso, apenas
fezes frescas e não processadas devem ser utilizadas. Essas análises costumam nortear os profissio-
nais em relação às enterites, uma vez que, em caso de suspeita de intoxicações isoladas, a presença de
leucócitos é incomum.
Dentre os materiais inadequados para análise incluem-se os materiais de trato digestivo transporta-
dos fora da refrigeração, swabs secos, amostras contaminadas com urina ou papel higiênico e amostras
em frascos não fornecidos pelo laboratório.
A técnica da coprocultura é relativamente simples, sendo sua execução modificada dependendo
do microrganismo que se deseja procurar. Como as enterobactérias são mais comumente encontradas

106
UNIDADE 3

como patogênicas em amostras de fezes, a prática mais comum envolve o uso de meios de cultura que
pretendam isolar esses microrganismos, sendo mais aplicado o seguinte procedimento:
1- Se o material for as fezes, semear diretamente uma alçada (utilizando a alça bacteriológica)
diretamente em meio de cultura MacConkey e ágar Salmonella/Shigella (SS). Se o material clínico
for proveniente de swab, ele pode ser diretamente semeado neste meio de cultura. Em caso de fezes
sólidas, o analista precisa preparar uma suspensão a 10% deste material (1g de amostra para 10mL
de salina estéril), e depois, realizar a semeadura. Se houver intenção de pesquisa da Campylobacter,
o material deve ser semeado também em meio Karmali (que é composto de antibióticos que inibem
outras enterobactérias e microrganismos da flora normal). Além disso, é importante realizar também a
transferência de material para um caldo de enriquecimento, como o caldo selenito, que possui consti-
tuintes que facilitam o crescimento de alguns organismos, como a Salmonella, Shigella, EPEC e EIEC.
2- As placas de MacConkey e SS são incubadas a 35ºC +/- 1ºC por 18 a 24 horas, as placas contendo
meio Karmani a 42ºC em ambiente com 5% de gás carbônico, e o caldo selenito por 12 a 18 horas a 35ºC.
3- Após o período de incubação, analisar a presença de colônias suspeitas:
Em ágar MacConkey, colônias lactose positiva e negativa devem ser selecionadas.
Em ágar SS, colônias pequenas e produtoras ou não de ácido sulfídrico (revelado pela coloração
preta da colônia, como na Figura 16) devem ser selecionadas.
4- As colônias selecionadas devem ser repicadas (ou seja, transferidas com auxílio de uma alça
bacteriológica) para os meios de cultura de identificação bioquímica. Paralelo a isso, semear uma
alçada proveniente do caldo selenito também em ágar SS e MacConkey e submetê-los à incubação em
tempo e temperatura citados no item 3. Esta etapa é importante porque o caldo pode recuperar
células injuriadas que não tiveram a capacidade de crescer diretamente em meio de cultura.
Depois da incubação, proceder com o cultivo de colônias suspeitas em meio de cultura para identi-
ficação bioquímica.

Figura 16 – Ágar SS com colônias pro-


dutoras de ácido sulfídrico.
Fonte: Shutterstock ([2023i], on-line).

Descrição da Imagem: na imagem


há uma foto de um analista, calçan-
do luvas cirúrgicas brancas, que
segura em sua mão esquerda uma
placa de ágar SS, fundo amarelo,
contendo colônias pretas em sua
superfície.

107
UNICESUMAR

Dependendo do perfil de resultados nos testes bioquímicos, a bactéria suspeita se enquadra em deter-
minados grupos de bactérias. Não trataremos da identificação bruta, afinal, existem diversos protocolos
de execução, e, ainda, testes miniaturizados (diversas reações bioquímicas que ocorrem paralelamente,
condicionadas em mesmas condições de temperatura e umidade) que fornecem resultados pautados
em bases de dados onde inúmeras bactérias estão registradas de acordo com seu perfil bioquímico.
Os ensaios bioquímicos mais comumente aplicados são a fermentação da glicose e lactose, prova da
motilidade, descarboxilação da lisina, produção de ácido sulfídrico e gás, prova da oxidase, produção
de indol e desaminação de aminoácidos, como a fenilalanina. Essas provas, geralmente, envolvem a
mudança de coloração ou aspecto do meio. Na Figura 17, você pode observar a prova bioquímica do
citrato, no qual o meio de cultura avalia a utilização de citrato como única fonte de carbono. O meio
possui citrato e indicador de pH (azul de bromotimol), e a metabolização do citrato aumenta o pH
do meio, alterando a coloração do meio de verde para azul (Figura 17).

Figura 17 – Reação em ágar Citrato de Simons.


Fonte: Shutterstock ([2023j], on-line).

Descrição da Imagem: A figura apresenta uma foto contendo três


tubos de ensaio. Os dois primeiros (da esquerda para a direita), tem
meio de cultura na sua base, na coloração verde escura e tampas
laranjas. O terceiro e último tubo, na extrema direita, possui tampa
laranja e meios de cultura na base do tubo na coloração azul.

É importante observar também que, algumas especificidades das amostras direcionam para a pesquisa
de determinados patógenos, como a existência de sangue e muco ser pré-requisito para pesquisa de
E. coli EHEC. A faixa etária do paciente e a requisição médica também são norteadores importantes
para a realização da coprocultura. Ademais, protocolos específicos para pesquisa de Bacillus cereus,
Staphylococcus aureus e Vibrio spp. também podem ser realizados, mas nesses casos, meios de culturas
específicos como o MYP (manitol, gema de ovo), Baird-Parker e TCBS (ágar tiossulfato, citrato, bile
e sacarose) devem ser utilizados, respectivamente.
Além disso, testes adicionais como pesquisa da toxina no soro, no caso de investigação de doen-
ças causadas por clostrídios e sorotipagem, no caso dos diversos tipos de E. coli, também devem ser
considerados. Para a E. coli EHEC já existem meios de cultura comercialmente disponíveis que iden-
tificam especificamente o sorotipo O157, como o Chromagar™ O157, que torna a colônia da E. coli
numa coloração rosa pálida (Figura 18). Métodos de detecção molecular (PCR) também podem ser
utilizados, em casos mais graves, para definição de terapia farmacológica adequada.

108
UNIDADE 3

Figura 18 – E. coli EHEC em Chromagar™ O157.


Fonte: Duran et al. (2019, p. 7341).

Descrição da Imagem: na imagem há uma foto do ágar cromogênico contendo inúmeras colônias brancas, azuis e rosas. Na placa há
uma escrita denominada “Coliformes” indicando serem estas as colônias azuis. Há também a escrita “Proteus” que indica as colônias
brancas e “E coli O157”, a escrita que indica as colônias rosas pálidas

Não é incomum que o corpo clínico decida pela análise de materiais de consumo suspeitos, como água
e alimentos, no caso de ocorrências mais graves ou que tenham importância epidemiológica. Estas
medidas também podem ser tomadas por órgãos regulamentadores, como a Anvisa, para monitora-
mento e controle de surtos. Nos dias de hoje, as regulamentações que cuidam do monitoramento da
água e alimentos, comercializados e distribuídos no território brasileiro, são a RDC nº 331, de 23 de
dezembro de 2019, que dispõe sobre os padrões microbiológicos para os alimentos e sua aplicação
(BRASIL, 2019a); a Instrução Normativa nº 60, de 23 de dezembro de 2019 (BRASIL, 2019b), que es-
tabelece as listas de padrões microbiológicos para alimentos; e a Portaria GM/MS nº 888, de 4 de maio
de 2021 (BRASIL, 2021), que dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade
da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade.
Chegando ao fim desta unidade, não é nada difícil dizer o porquê de ser tão importante o conhe-
cimento profundo e o interesse genuíno na área dos distúrbios gastrointestinais, não é mesmo? Fica
evidente a necessidade de mais profissionais que entendam o paciente integralmente, desde as suas
dores e medos, até as potenciais causas de suas enfermidades.
Se voltarmos ao caso estudado lá no início desta unidade sobre a explosão de cólon, podemos concluir,
primeiro, que o conhecimento sobre a microbiota normal de sistemas, como o digestório, pode ser algo
determinante na conduta médica de uma situação. Ou você pensou que saber que bactérias fermentam
açúcares no trato gastrointestinal não seria importante? Em ambos os artigos analisados foi concluído
que nos dois casos, a explosão de cólon foi devido ao acúmulo de gases na parte distal do intestino, ge-
rados pela fermentação do manitol, o qual é utilizado na preparação de pacientes que serão submetidos
à colonoscopia. Em posse desse conhecimento, você pode instruir pacientes e grupos clínicos quanto à
importância da preparação para realização de procedimentos, como a colonoscopia, prevenindo, assim,
acidentes ou desfechos indesejáveis que impactam diretamente na vida de outro indivíduo.

109
UNICESUMAR

Mais do que isso, conhecer sobre as bac-


térias e suas particularidades acrescenta
ainda maiores habilidades e segurança nas
análises clínicas, uma vez que intercorrên-
cias também podem acontecer na rotina
laboratorial. Por experiência própria, não
foram raras as vezes que eu tive de recolher
cacos de vidro espalhados pelo chão quando
tubos contendo amostras de Salmonella e
Escherichia coli simplesmente “explodiam”
em decorrência da produção de gás e me-
tabólitos a partir dos nutrientes dos meios
de cultura (um dos mantras do laborató-
rio, inclusive é “jamais incubar caldos de
enriquecimento completamente fechados.
Tubos completamente fechados explodem”).
Além disso, o compromisso com o ma-
nejo correto da amostra e o cuidado com
a rotina laboratorial vão muito além de
simplesmente liberar um resultado analí-
tico. Por exemplo, um papel importante de
laboratórios clínicos na comunidade é, in-
clusive, a detecção de surtos diarreicos, isso
porque, quando aplicável, esses casos po-
dem ser notificados às autoridades de Saúde
Pública, influenciando no desenvolvimento
de planos de contenção, investimento em
infraestrutura e saneamento básico, trans-
formando um relatório laboratorial numa
ferramenta poderosa de respaldo científico
para o aprimoramento da saúde em deter-
minadas populações e regiões.

110
Condição
da amostra

Contaminação Meios de cultura


Agente etiológico e Tratamento para Enterobactérias

Doenças da boca Diagnóstico Meios de cultura para


outros microrganismos

MICROBIOLOGIA DO TRATO
GASTROINTESTINAL

Invasão tecidual

Formas de contaminação Doenças do estômago e intestino

Mecanismos de aderência Produtores de toxinas

111
1. As enterites ou inflamações do intestino são distúrbios gastrointestinais de importância epi-
demiológica e de saúde pública. Assinale a alternativa que contenha um bacilo Gram positivo,
anaeróbio estrito, patogênico e causador de eventos diarreicos em ambientes hospitalares:

a) Lactobacillus spp.
b) Listeria monocytogenes.
c) Staphylococcus aureus.
d) Clostridium difficile.
e) Escherichia coli.

2. As doenças gastrointestinais podem ser associadas a epidemias e pandemias, devido ao seu


mecanismo de infecção e alta resistência dos microrganismos ou devido ao estado imunológi-
co do paciente. Assinale a alternativa que contenha o microrganismo da epidemia/pandemia
gastrintestinal citada, e o respectivo mecanismo de contaminação.

a) Epidemia/pandemia de peste negra, causada pela Yersinia pestis, e de contaminação oral fecal.
b) Epidemia/pandemia de cólera, causada pelo Vibrio cholerae, e de contaminação fecal-oral.
c) Epidemia de cólera, causada pelo Vibrio cholerae, e de contaminação aérea por perdigotos
e fluidos corporais.
d) Epidemia/pandemia de peste negra, causada pela Yersinia enterocolitica, e de contaminação
fecal-oral.
e) Epidemia/pandemia de cólera, causada pela Salmonella enterica subespécie Choleraesuis,
de contaminação fecal-oral.

3. Os ensaios croprocológicos exigem muita seriedade e habilidade técnica do analista labora-


torial. Com relação à coprocultura, assinale a alternativa correta:

a) Os ensaios de coprocultura excluem a necessidade de etapas de enriquecimento, uma vez


que a carga bacteriana em distúrbios diarreicos é sempre elevada.
b) Os ensaios de coprocultura costumam aplicar meios de cultura seletivos e diferenciais e,
normalmente, as etapas de enriquecimento auxiliam na recuperação de microrganismos
injuriados.
c) Os ensaios de coprocultura costumam aplicar meios de cultura seletivos e diferenciais e,
normalmente, as etapas de enriquecimento auxiliam na recuperação de microrganismos da
microflora intestinal.
d) Os ensaios de coprocultura necessitam de etapas de enriquecimento, mas o uso de meios
diferenciais e seletivos é opcional, uma vez que, em sua maioria, os distúrbios gastrintestinais
são causados por bactérias Gram positivas.
e) Os ensaios de coprocultura excluem a necessidade de etapas de enriquecimento, uma vez
que as condições amostrais das fezes garantem a preservação correta da amostra.

112
4
Aspectos
Microbiológicos,
Clínicos e
Laboratoriais Das
Infecções Sexualmente
Transmissíveis
Me. Suelen Eloise Simoni

Nesta unidade, revisitaremos os conceitos de infecções sexualmente trans-


missíveis, entendendo seus impactos no mundo todo ao longo do tempo.
Serão relembrados, também, a estrutura dos órgãos genitais masculinos e
femininos, os fatores que contribuem para o desenvolvimento de doenças
do aparelho genital, incluindo itens de pré-disponibilidade e comporta-
mentos de risco. Aprenderemos sobre os micro-organismos patogênicos
mais comuns, seus mecanismos de patogenicidade, fatores de virulência
e quais os sinais e sintomas gerados no curso de uma infecção sexual-
mente transmissível. Além disso, veremos os métodos diagnósticos e suas
peculiaridades e as exigências que devem ser seguidas na busca por bons
resultados analíticos. Por fim, sedimentaremos a missão primordial que o
analista de laboratório desempenha diante do combate dessas patologias,
assim como a sua influência positiva e direta na sociedade.
UNICESUMAR

Imagine que você está de


férias da microbiologia…
Você deixou seu laborató-
rio organizado, os controles
de qualidade estavam todos
conformes, e tudo que você
mais quer é se esquecer um
pouco das bactérias e relaxar
a cabeça. Assim, você pega
um avião para realizar aquilo
que é sonho para muita gen-
te: ir à Florença, na Itália! Em
seu primeiro passeio, você
escolhe conhecer a Piazza
della Signoria e encontra
esta estátua:

Figura 1 – Perseu com a cabeça de Medusa, Benvenuto Cellini, 1545 / Fonte: Shutterstock ([2023a], on-line).

Descrição da Imagem: na figura, há uma fotografia de uma escultura em bronze, com tons verdes escuros e acinzentados. A escultura
é de um homem atlético nu, em pé, de cabelos encaracolados e utilizando um elmo grego na cabeça, cuja perna direita está esticada e
a esquerda levemente dobrada. Em sua mão direita, ele segura uma faca de um gume longa, na horizontal, e, na mão esquerda, com
seu braço levantado, a cabeça de uma mulher decapitada, de cabelos longos. Em seu torso, a escultura possui uma faixa na diagonal,
com origem no ombro direito que termina próximo à cintura esquerda. Abaixo dela, há uma base retangular, posicionada na vertical,
e, em seus lados, constam estátuas menores de deuses e deusas gregos.

Se eu dissesse que a sua tentativa de se esquecer, complementarmente, da microbiologia pode fracassar


se você procurar a fundo a história dessa escultura? Você poderia imaginar que o estudo dos pequenos
organismos pudesse influenciar tanto a sociedade, a ponto de aparecer e dar significância até para
monumentos artísticos renascentistas como esse? Ao final desta unidade, além de desvendar a doença
que esse brilhante escultor teve, você irá se impressionar com o desfecho dessa história.

114
UNIDADE 4

O criador da escultura, Benvenuto Cellini, foi um artista que se envolveu em vários escândalos
sexuais e violentos, e conviveu com uma doença infecciosa desde os 29 anos de idade – mesmo que
haja uma correlação entre a evolução dela e os sintomas neurológicos, não temos dados suficientes
para afirmar que o seu comportamento era fruto de uma sequela. No entanto, é sabido que o artista
era profundamente resistente às medidas de controle de sua própria doença, o que conferiu, a sua vida,
alguns desdobramentos impressionantes – mas o que tudo isso tem a ver com a microbiologia? Até
o momento, estudamos infecções, por vezes, autolimitadas ou que não oferecem dano a longo prazo
para a vida em sociedade de forma tão pronunciada, porém, quando precisamos estudar as doenças
transmitidas sexualmente, muitos dos indivíduos que possuem essas patologias podem negligenciar a
própria saúde em detrimento de diversa causas, como vergonha, medo e desinformação ou indiferença,
como no caso do ilustre personagem citado nesta unidade.
Sugiro que continuemos nesse clima de contextualização histórica antes de entrarmos completa-
mente no mundo da microbiologia. Procure em bases de pesquisa (por exemplo, PubMed e MEDLINE)
dados sobre a primeira epidemia conhecida de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), associando
seus conhecimentos prévios acerca do assunto em relação à forma de contágio e como a realidade
descrita em suas pesquisas pode ter contribuído para a disseminação dessa condição.
Então, pelos seus achados, você já é capaz de dizer qual é a principal forma de combate às ISTs? Qual
o papel profissional e social que o analista de laboratório teria diante desse problema de saúde pública
e de qual maneira você poderia agir para auxiliar pacientes e outros profissionais que se deparam com
essa problemática? O espaço a seguir está inteiramente disponível para você registrar suas principais
conclusões e acessá-las sempre que necessário.

115
UNICESUMAR

Como vimos na Unidade 2, os sistemas genitais feminino e mas-


culino estão intimamente ligados com o sistema urinário e, por
isso, algumas infecções que acometem a parte distal da uretra podem
ser causadas por micro-organismos patogênicos da região ge-
nital. Com relação ao sistema feminino, essa proximidade oferece
mais riscos, motivo pelo qual começaremos por ele. Os ovários,
direito e esquerdo, possuem, em seu interior, os folículos ovarianos
responsáveis pela liberação dos óvulos durante o período fértil da
mulher. De cada ovário, sai uma tuba uterina, em que, normalmen-
te, em casos de gestação, ocorre a fertilização pelo espermatozoide.
As tubas uterinas convergem em uma estrutura muscular lisa e
mucosa, o útero, local de desenvolvimento do óvulo fertilizado,
quando fixado ao endométrio (em úteros não gestacionais, o en-
dométrio descama mensalmente, dando origem à menstruação).
Em seguida, tem-se a vagina, tecido mucoso que se estende até
o colo do útero, abertura distal e estreita que se comunica com a
área externa. Essa conformação anatômica permite a passagem do
fluxo menstrual e o recebimento de espermatozoides durante
o ato sexual (BLACK; BLACK, 2021).
Mais que isso, a estrutura celular de algumas regiões permite a pro-
dução de inúmeros nutrientes que influenciam o estabelecimento
de microbiota, importante e protetora. Você consegue responder qual
é o principal nutriente e qual gênero é mais importante para a defesa
do trato genital feminino? É claro que me refiro aos Lactobacillus,
nutridos pelos glicídios produzidos pelas células vaginais. Exter-
namente, o aparelho genital feminino é composto por clitóris, dois
pares de dobras de pele, denominadas de grandes e pequenos lábios,
e glândulas de Bartholin, estruturas responsáveis por secretar muco.
Já o aparelho genital masculino (Figura 2) é constituído pelos
testículos, que, além de produzirem espermatozoides (arma-
zenados no epidídimo), ainda liberam testosterona na corrente
sanguínea. As vesículas seminais e a próstata são responsáveis
pela liberação de substâncias que se misturam aos espermatozoides
pelos ductos ejaculatórios e deferentes, constituindo o sêmen,
responsável por lubrificar o sistema genital feminino e liberado
pelo pênis (a partir do óstio externo da uretra) durante a relação
sexual. Assim como o aparelho genital feminino, o masculino
possui alguns mecanismos de defesa, como a produção de liso-
zima e espermina, enzimas que destroem os patógenos invasores
(BLACK; BLACK, 2021).

116
UNIDADE 4

Sacro

Vesículas Bexiga urinária


seminal
Ducto (vaso)
Cóccix deferente
Reto Sínfise púbica
Ducto Próstata
ejaculatório
Diafragma urogenital

Uretra
Pênis

Ânus Glande do pênis


Glândula Epidídimo
Prepúcio
bulbouretral
(de Cowper) Testículo
Escroto Óstio externo da uretra
Figura 2 – Aparelho genital masculino. / Fonte: Black e Black (2021, p. 1.623).

Descrição da Imagem: a figura apresenta um desenho do aparelho genital masculino, observado a partir de um corte sagital, de
forma que os órgãos são vistos de lado. Do lado esquerdo, estão alguns itens anatômicos mais próximos das costas, como o sacro,
osso em forma de “C” que possui, em sua extremidade final, o cóccix, um osso em formato triangular invertido. Anterior a essa região,
corado de vermelho e também em formato curvo, há o fim do aparelho intestinal, caracterizado pelo reto e pelo esfíncter do ânus. Na
região central da imagem, há uma cavidade de paredes com vilosidades musculares, representando a bexiga. Entre o reto e a bexiga,
há a vesícula seminal. Abaixo da bexiga, entre a sínfise púbica (região óssea da púbis) e o reto, há a próstata. Um canal que atravessa
a próstata, que se comunica às vesículas seminais e, conforme assume caminho descendente, se une ao ureter e termina na uretra, a
qual fica central ao corpo esponjoso e cavernoso do pênis. Na extremidade peniana, há a glande e, recobrindo o órgão, o prepúcio, uma
camada de pele fina e elástica. Abaixo do pênis, há o escroto, uma bolsa que abriga o testículo, parte em formato oval, que possui, em
sua extremidade superior, o epidídimo, parte da gônada de calibre fino em formato curvado. Do epidídimo, parte um vaso de calibre
fino, que se comunica diretamente com as vesículas seminais. As partes ósseas da imagem são representadas em branco, os tecidos
musculares lisos, em vermelho, e os tecidos adiposos de preenchimento, em amarelo.

Você sabia que as glândulas mamárias, por nutrirem a prole, são consideradas parte do aparelho
genital feminino? A produção de leite ocorre dentro dessas glândulas mamárias durante a gestação,
que se desenvolvem durante a puberdade e constituem de células de gordura e ductos transpor-
tadores. Diferentemente dos outros materiais biológicos, exames de imagem ou teciduais (como
biópsia) são os mais adequados para identificação de distúrbios da glândula mamária (TRABULSI;
ALTERTHUM, 2008). No Brasil, o Ministério da Saúde e os órgãos municipais possuem um forte
programa de incentivo à prevenção de câncer de mama em mulheres, intensificado todos os anos
pelo chamado “Outubro Rosa”.

117
UNICESUMAR

Nem sempre a existência de uma doença genital está di-


retamente ligada à atividade sexual, sendo que os hábi-
tos de higiene influenciam diretamente na saúde desses
órgãos. Além disso, a utilização de medicamentos, como
antimicrobianos, pode afetar na microbiota, reduzindo,
naturalmente, as defesas do organismo. Na vaginite bac-
teriana, por exemplo, inúmeras bactérias oportunistas
podem colonizar e infectar as regiões externa e interna do
aparelho genital feminino, facilitadas por fatores prediti-
vos, como gravidez, uso de contraceptivos orais e diabetes
melito, condições que alteram os níveis hormonais de pro-
gesterona e estrógeno e que levam a modificações do pH
vaginal (BLACK; BLACK, 2021).
A Gardnerella vaginalis, uma bactéria pleomórfica
(ora bacilo, ora cocobacilo) e Gram variável, se prolifera
nas situações em que a concentração de Lactobacillus
diminui, reduzindo pH vaginal e auxiliando nas inte-
rações bióticas entre esta bactéria e os demais anaeróbios
(como Bacteroides e Peptostreptococcus), agravando a
vaginite (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).
O principal sintoma clínico do distúrbio é a presença
de corrimento turvo e espumoso e, entre as caracterís-
ticas importantes observadas em esfregaços de materiais
biológicos (normalmente coletados por swab), estão, prin-
cipalmente, o pH da amostra vaginal acima de 4,5 e o teste
de Whiff ou teste das aminas, que consiste em submeter
a amostra a uma gota de hidróxido de potássio a 10% e
observar a geração de odor característico de aminas (o
cheiro lembra muito o odor de peixe podre). Além dis-
so, microscopicamente, a presença das chamadas “clue
cells” também auxilia e direciona os analistas em direção
a essa triagem bacteriológica. Estas células perdem a sua
característica morfológica original, pela presença de alta
concentração de cocobacilos de G. vaginalis aderidas ao
seu redor, tornando-se de aspecto pontiagudo e granular
(Figura 3) (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019). A vaginose
bacteriana pode provocar partos prematuros e, por isso,
o tratamento deve ser realizado durante a gestação, por
meio do uso de antimicrobianos, como o metronidazol
(BLACK; BLACK, 2021).

118
UNIDADE 4

Clue cell

Bactéria
Gardnerella
vaginalis

Célula
epitelial vaginal

Núcleo da Célula normal


célula epitelial

Figura 3 – Lâmina contendo “clue cell”, característica de vaginose bacteriana. / Fonte: Tortora; Funke; Case (2019, p. 802).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia de um material vaginal em microscópio. No centro da imagem, há duas
células: a superior em formato quase quadrangular, de bordas indefinidas e textura quase granular, na qual não é possível enxergar
nenhuma estrutura nuclear, mas que contém quatro traços pretos, um com a descrição “Clue cell” e os outros três com “Gardnerella
vaginalis”; e a célula inferior é uma estrutura de bordas bem delimitadas, com presença de núcleo proeminente, em que, também, há
três traços pretos com as informações “Célula epitelial vaginal”, “Núcleo da célula epitelial” e “Célula normal”.

Explorando, especificamente,
as ISTs, uma das primeiras co-
nhecidas é a infecção causada
pela bactéria Chlamydia tra-
chomatis, um patógeno intra-
celular obrigatório que possui
duas conformações em seu ci-
clo, uma extracelular infectan-
te, chamada de corpúsculo
elementar, e uma intracelular
não infectante (mas metaboli-
camente ativa), denominada de
corpúsculo reticular. Como
exemplo, o ciclo da bactéria é
ilustrado na Figura 4.

119
UNICESUMAR

1 2
EB Ancoragem

Figura 4 – Ciclo metabólico da Chlamydia trachomatis.


Fonte: adaptada de Murray, Rosenthal e Pfaller
(2021, p. 355).
3 4
Descrição da Imagem: a figura apresenta um desenho
que indica o ciclo metabólico da Chlamydia tracho-
matis. A célula humana (hospedeira) é representada
por uma esfera de bordas pretas e centro amarelo,
contendo uma pequena esfera em seu interior na co-
loração castanho, representando o núcleo. A bactéria
é ilustrada no formato de uma esfera vermelha, in-
dicada pela sigla EB (sigla em inglês para corpúsculo
elementar). Cada etapa do ciclo está desenhada em um
retângulo de bordas pretas e centro rosa pálido, e cada
mudança de fase do ciclo é indicada por uma flecha
azul, tendo oito fases representadas. Na fase 1, a célula
bacteriana em sua forma de corpúsculo elementar se
5 6 liga à célula do hospedeiro, por meio das proteínas de
aderência presentes na membrana. Na fase 2, ocorre
uma penetração ativa dessa bactéria para o interior
da célula hospedeira. Na fase 3, essa internalização é
possível devido à formação de uma estrutura chamada
fagossoma, local no qual a bactéria fica armazenada,
quando no citoplasma da célula humana. Na fase 4,
a bactéria inicia a sua fase de replicação celular por
fissão binária (semelhante a outras bactérias). Na fase
5, o número de bactérias torna-se elevado, assim como
o seu tamanho, e elas transformam-se em corpúscu-
los reticulares, e este fato se dá pela capacidade de
a bactéria utilizar a adenosina trifosfato e algumas
proteínas da célula do hospedeiro, o que as classifica
7 8 como parasitas. Nas fases 6 e 7, a forma de corpúsculo
reticular é capaz de mobilizar lisossomas das células do
hospedeiro e, dessa maneira, estas estruturas voltam a
se reorganizar como corpúsculos elementares, forman-
do uma estrutura chamada inclusão, na qual, em seu
interior, há conformações elementares e reticulares
simultaneamente. Na fase 8, quando composta apenas
de corpúsculos elementares, a inclusão é extrusada da
célula do hospedeiro por exocitose, liberando unidades
infectantes disponíveis para parasitar mais células.

Alguns sorovares da C. trachomatis (L1, L2 e L3) podem causar o chamado linfogranuloma venéreo,
resultando no inchaço e no endurecimento de linfonodos infiltrados por esses micro-organismos,
que obstruem a circulação do sistema linfático, causando tumefação de órgãos genitais externos em
homens e estenose anal em mulheres (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021). Além disso, in-

120
UNIDADE 4

fecções recorrentes por essa bactéria podem estar ligadas diretamente ao risco de desenvolvimento
de câncer de colo de útero nas mulheres e, ainda, de inflamação das tubas uterinas, levando à
formação de cicatrizes e, consequentemente, à esterilidade (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019). Os
sorovares D, E, F, G, H, I, J e K são potenciais causadores de uretrite não gonocócica (UNG), uretrite
pós-gonocócica (UPG), cervicite, doença inflamatória pélvica (DIP), endometrite, paratracoma, con-
juntivite de inclusão e pneumonia do recém-nascido (BLACK; BLACK, 2021). As formas de tratamento
envolvem longos dias de administração antimicrobiana (cerca de 21 dias) para acometimentos graves,
enquanto tratamentos à base de azitromicina ou doxiciclina por 7 dias são suficientes para casos ge-
nitais e oculares (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
A gonorreia, por sua vez, gera manifestações clínicas ainda mais evidentes, que, também, podem ser
evitadas com o uso de métodos de proteção durante a relação sexual. A bactéria Neisseria gonorrhoeae
(Figura 5), um diplococo Gram-negativo, é o agente etiológico e seu principal fator de virulência é
a presença de pili de aderência, que se liga às células epiteliais genitais e urinárias mesmo diante do
fluxo unidirecional da urina (BLACK; BLACK, 2021).

Figura 5 – Lâmina de Gram contendo neutrófilos com unidades de Neisseria gonorrhoeae em seu interior.
Fonte: Shutterstock ([2023b], on-line).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia tirada de uma lâmina em microscópio. No fundo branco e disperso, há inúmeras
células disformes, cor rosa-claro, contendo três ou mais núcleos em seu interior, de cor rosa avermelhada. Em duas dessas células, é
possível ver inúmeras esferas pequenas e vermelhas, cerca de dez vezes menores que o núcleo da célula, representando os gonococos.

121
UNICESUMAR

Os gonococos (forma como também são conhecidos) são produtores de enzimas como
a protease celular clivadora de IgA (anticorpo presente em secreções e tipo produzido
contra as proteínas de membrana da bactéria como defesa), de endotoxinas, que agridem
as tubas uterinas, e de transferrinas, que sequestram o ferro das células do hospedeiro
para fornecer o metal para a bactéria (BLACK; BLACK, 2021). A presença das chamadas
proteínas Opa medeia a ligação entre a bactéria e as células epiteliais, e as proteínas Rmp,
que estimulam anticorpos que interferem com a atividade bactericida do soro do hospe-
deiro, facilitando a sobrevivência da bactéria (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
Os sintomas envolvem a produção e a liberação de um líquido purulento, atacando
os homens na parte distal da uretra e as mulheres, no cérvix, após 2 a 3 dias de período
de incubação. No entanto, a maioria dos portadores dessa bactéria pode permanecer
assintomática por até 15 anos, adicionando um risco ainda maior para aqueles com
altos valores de morbidade (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019). Ademais, em ambos os
sexos, um episódio de gonorreia não tratado pode evoluir para infecções sistêmicas,
como quadros de endocardite gonocócica e meningite, e atingir regiões como os olhos
(com destaque para a oftalmia neonatal), a faringe e as juntas (cerca de 1% das infecções
gonorreicas podem desencadear problemas articulares, pela proliferação de gonococos
no líquido sinovial) (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
Dessa forma, sabe-se que os principais facilitadores para os altos índices de gonorreia
são a existência de múltiplos parceiros(as) e a ocorrência da doença assintomática, que
dificulta a ida do indivíduo ao médico e a obtenção do diagnóstico – tudo isso somado à
atividade sexual desprotegida são fatores que atingem, principalmente, jovens na faixa
etária entre 15 e 24 anos. O tratamento das infecções gonocócicas pode ser realizado com
a administração de sulfonamidas e penicilinas, mas a capacidade de desenvolver resis-
tência aos antimicrobianos oferece risco iminente aos pacientes e desafia o corpo clínico
na escolha da terapia adequada (BLACK; BLACK, 2021).
São muitas informações, não é mesmo? Tanto que imagino que você já tenha se es-
quecido do pobre Benvenuto Cellini, criador da bela escultura de Perseus, que vimos no
início desta unidade. Aproveito para acrescentar mais uma informação ao enigma da
escultura: sabemos que o escultor tinha uma vida praticamente boêmia e, ainda muito
jovem, foi acometido por uma doença de característica praticamente crônica, mas e se
eu dissesse que, embora ele tenha contraído uma IST, foi justamente no período de con-
valescência e cura que o artista criou aquela obra, você se arriscaria a dizer se alguma das
que estudamos até agora seria a causadora?
Antes de considerarmos todas as alternativas para esse enigma, discutiremos, a
seguir, uma das doenças mais antigas do mundo e uma das ISTs mais conhecidas: a
sífilis. Também chamada de cancro duro, a sífilis é causada pela bactéria Treponema
pallidum (Figura 6), um espiroqueta móvel e muito exigente nutricionalmente,
tanto que seu isolamento em laboratório de microbiologia comum costuma ser muito
raro (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).

122
UNIDADE 4

Figura 6 – Representação gráfica tridimensional da bactéria Treponema pallidum.


Fonte: Shutterstock ([2023c], on-line).

Descrição da Imagem: a figura é uma representação tridimensional da bactéria Treponema pallidum, cujo formato é espiral, semelhante
a um fio de telefone antigo. A imagem é em preto e branco, de forma que a bactéria apresenta coloração acinzentada e mais escura,
repousando sobre uma superfície irregular em tonalidade cinza claro.

O T. pallidum é uma bactéria Gram-negativa fina, microaerófila ou anaeróbica, e móvel, de maneira


que sua estrutura em espiral facilita a sua entrada em tecidos e o seu transporte entre os líquidos do
corpo. Os primeiros casos de sífilis datam do século XVI, podendo a doença ser transmitida por relação
sexual desprotegida, pela saliva e, também, pelo canal do parto (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).
Entre os mecanismos de patogenicidade, estão a aderência à fibronectina (proteína adesiva que
tem uma forma solúvel que se dissemina pelo organismo) e presença de enzimas como hemolisina e
hialuronidase, que facilitam a infiltração perivascular (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
A história natural dessa doença já é bem estabelecida e contém, principalmente, quatro fases distintas:
• Primeira fase – incubação: varia entre 2 e 6 semanas, tempo em que o micro-organismo se
dissemina pelo organismo, devido a sucessivas divisões celulares.
• Segunda fase – estágio primário: formação de uma ferida (chamada de cancro) no local inicial
de contato, de bordas bem definidas, endurecida, indolor e que, sobre microscopia, apresenta
um número enorme de espiroquetas. Essas lesões podem aparecer em genitália, lábios e mãos.
Por serem indolores, podem ocorrer internamente (como lesões no colo do útero) sem serem
notadas, ou serem confundidas com outros processos infecciosos, como a herpes genital/bucal.
Os ferimentos desaparecem com o tempo (BLACK; BLACK, 2021).

123
UNICESUMAR

• Terceira fase – período secundário: a bactéria continua sua multiplicação, causando sintomas
gripais comuns e exantemas (feridas semelhantes a queimaduras pequenas), principalmente
na palma das mãos e na planta dos pés (Figura 7). Em exames vaginais de rotina, é possível
observar lesões no colo do útero em mulheres, compostas por placas mucosas dolorosas e
ricas em material microbiológico (por isso, nessa fase, é possível a infecção do bebê durante o
parto) (BLACK; BLACK, 2021). As feridas na boca também são comuns e constituem uma
importante fonte de transmissão do T. pallidum por meio do beijo. Essa condição pode durar
até 5 anos e, tanto no estágio primário quanto no secundário, as lesões são altamente infec-
ciosas (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).

Figura 7 – Lesões características de sífilis na fase secundária. / Fonte: Shutterstock ([2023d], on-line).

Descrição da Imagem: na figura, há uma fotografia de uma mão, com o polegar voltado para cima, repleta de feridas vermelho-acas-
tanhadas, de formato circular e que cobrem a palma da mão do indivíduo.

• Quarta fase – estágio terciário: fase que gera danos permanentes no coração – a ação da
bactéria promove deposição de cálcio, causando danos em válvulas cardíacas e vasos sanguí-
neos; e no sistema nervoso, pois há espessamento das meninges, evolução para ataxia, para-
lisia e, também, efeitos de ordem psiquiátrica. Lesões granulomatosas, chamadas de gomas,
também ocorrem internamente, destruindo tecido neural e atacando a epiderme (MURRAY;
ROSENTHAL; PFALLER, 2021).

124
UNIDADE 4

A disseminação por meio da placenta causa a denominada sífilis congênita, interferindo no


desenvolvimento neural e cognitivo do bebê (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021). O
tratamento, em qualquer fase da doença, é o uso de penicilina G bizantina (aquela que conhece-
mos por Benzetacil®), o qual revela ótimas taxas de cura, desde que seja realizado de modo correto.
Infelizmente, a infecção não produz imunidade permanente e, por isso, as principais medidas para
combater a disseminação da sífilis são o uso do preservativo e o tratamento de todos os doentes
(TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).
O Haemophilus ducreyi, por sua vez, é uma bactéria Gram-negativa, causadora do cancro
mole ou cancroide. As feridas, quando presentes, além de mucosas e dolorosas, afetam os órgãos
genitais e sangram com muita facilidade, porém, assim como as ISTs descritas anteriormente,
também possui uma forma inaparente, caracterizada apenas por uma ardência após a micção
(BLACK; BLACK, 2021). Cerca de 1 semana após a infecção, a lesão pode se espalhar para as re-
giões de virilha, levando ao aumento de linfonodos e vasos linfáticos (chamados de bubões), de
tal modo que o intumescimento pode irromper pela pele e descarregar grande concentração de
pus diretamente na pele (TRABULSI; ALTERTHUM, 2008).

A alta incidência das ISTs, combinada com a severidade de alguns de seus


sintomas e a possibilidade de ocorrência assintomática, tem motivado,
desde algum tempo, esforços contínuos dos órgãos públicos para que
medidas educativas sejam instauradas na sociedade, a fim de tentar cor-
tar esse mal pela raiz. Você consegue se lembrar de alguma campanha
pública que tenha abordado o assunto? Junte-se a mim para relembrar
algumas das propostas estabelecidas ao longo dos anos, para ajudar a
fixar ainda mais o conteúdo desta unidade.

As uretrites não gonocócicas (UNG), ISTs inespecíficas, podem ser causadas pela Chlamydia
trachomatis e pelos micoplasmas, micro-organismos curiosos, pois não possuem parede celular, de
forma que sua infecção se dá pela fusão de sua membrana citoplasmática (que, diferentemente das
outras bactérias, possuem esteróis na sua composição) com as células hospedeiras. As infecções
podem evoluir para quadros de doença inflamatória pélvica (infecção que acomete os componentes
superiores do aparelho genital, como útero, tubas uterinas e ovários), causando abortos espontâneos,
nascimentos prematuros e gravidez ectópica (BLACK; BLACK, 2021).
O Mycoplasma hominis faz parte da microbiota normal das mulheres e pode causar uretrite
em ambos os sexos. Já o Mycoplasma genitalium (Figura 8) é um micoplasma conhecidamente
patogênico e que, além da uretrite, está envolvido com casos de vaginite bacteriana. O diag-
nóstico de ambos só é clinicamente útil quando realizado por meio de testes moleculares, como
a reação em cadeia da polimerase (PCR), porque seu isolamento em meios de cultura é bem

125
UNICESUMAR

difícil, e os testes sorológicos existentes não possuem sensibilidade e especificidade satisfatória


(MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).

Figura 8 – Representação tridimensional do Mycoplasma genitalium.


Fonte: Shutterstock ([2023e], on-line).

Descrição da Imagem: : a figura tridimensional representa a estrutura morfológica do Mycoplasma genitalium. Na imagem, a bactéria
possui um formato semelhante a um pino de boliche, com a base mais larga e a extremidade mais fina, na cor vermelho intenso. O
fundo da imagem possui uma coloração azul-esverdeada

A candidíase vulvovaginal é a principal causa que leva as mulheres com queixas sobre a saúde genital
ao ginecologista. Não é uma infecção sexualmente transmissível, pois a Candida spp é membro da
microbiota feminina, principalmente após a menarca e, diferentemente das ISTs, o tratamento do
parceiro não diminui a sua incidência. A C. albicans e a C. glabrata são as espécies mais isoladas
nesses casos, possuindo conformação de esporo (colonização assintomática) e em brotamento
– esta última associada à invasão tissular e à geração de sintomas. A ocorrência desse distúrbio
está ligada a fatores predisponentes, como uso de contraceptivos, gestação, sistema imunológico
enfraquecido e hábitos de higiene inadequados. O diagnóstico pode ser realizado por exames a
fresco, isolamento em meios de cultura específicos para fungos, como o ágar Sabouraud, e exames
citopatológicos de Papanicolau (BRASIL, 2010).

126
UNIDADE 4

Como já mencionado anteriormente, as ISTs são condições que, por vezes, geram cons-
trangimento em alguns pacientes, seja pela localização das feridas ou pelo medo em
relação ao diagnóstico e ao tratamento. Sabe quem não tinha medo algum da própria
doença? Nosso querido amigo escultor Benvenuto Cellini, que, inclusive, com o curso da
IST, pela falta de antibióticos à época, foi instruído a utilizar pequenas doses de mercúrio.
Excêntrico como era, preferiu o tratamento alternativo para doenças pouco conhecidas
até então, que era a aplicação de sanguessugas para “expurgar” a doença. Como se fosse
pouco, Benvenuto, já enfraquecido pelos sintomas gerados pela doença instalada (feridas
que “apareciam” e “sumiam” com frequência e dores articulares), ainda foi acometido
pela malária. No entanto, a situação curiosamente reduziu os efeitos agressivos da IST
que possuía. Reunindo seus conhecimentos até esse ponto, você está mais confiante para
afirmar qual é a misteriosa doença dessa personalidade notável?
Antes de concluirmos esse mistério, entrando um pouco na área da parasitologia e
virologia, não existe possibilidade de tratarmos de doenças sexualmente transmissíveis
sem citarmos a tricomoníase e o vírus HIV. O Trichomonas vaginalis é um tipo de
protozoário não intestinal, infectante na forma de trofozoíto (Figura 9) e móvel, cuja
infecção gera sintomas genitais, como corrimentos bem líquidos, coceira, dor ao urinar
e sensação de queimação nas mulheres, enquanto homens costumam ser os reservatórios
assintomáticos (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).

Figura 9 – Trofozoíto do Trichomonas vaginalis. / Fonte: Murray, Rosenthal e Pfaller (2021, p. 723).

Descrição da Imagem: : na figura, há uma fotografia de um material clínico proveniente de swab vaginal. No centro
da imagem, em roxo, há a estrutura morfológica do Trichomonas vaginalis, em formato oval. Na sua extremidade
superior, há um único filamento, em rosa, que representa o axostilo, e, na extremidade inferior, existem cinco,
representando os flagelos. O fundo da figura é branco e existem células do sistema imunológico na cor roxa, em
formato esférico.

127
UNICESUMAR

Os vírus, por sua vez, são as estruturas mais simples no mundo da microbiologia e não possuem o
sistema metabólico suficiente para produção endógena de nutrientes. Assim, não são capazes de pro-
duzir proteínas nem replicar seu material genético sem o auxílio de uma célula hospedeira. O vírus
da imunodeficiência humana (HIV, sigla do inglês human immunodeficiency virus) (Figura 10),
constituinte notório do grupo dos retrovírus, é uma estrutura esférica, revestida por um envelope de
glicoproteínas, contendo duas fitas idênticas de RNA localizadas no nucleocapsídeo e envoltas por um
capsídeo bilipídico. O vírus possui as enzimas RNA polimerase, integrase e transcriptase reversa,
e, em sua superfície, possui glicoproteínas de adesão, chamadas de gp41 (MURRAY; ROSENTHAL;
PFALLER, 2021). A transmissão do vírus HIV se dá por relações sexuais desprotegidas, contato da
corrente circulatória com sangue ou fluídos contaminados com o vírus e, menos comumente, pelo
canal do parto. O leite materno e a saliva possuem carga viral muito baixa para serem considerados
vias principais de transmissão (BLACK; BLACK, 2021).

Glicoproteína Figura 10 – Representação gráfica da


estrutura morfológica do vírus HIV.
Nucleocapsídio Fonte: Módena, Arruda e Acrani
(2012, p. 28).
Envelope Capsídio

Descrição da Imagem: :a figura


apresenta um vírus circular, que pos-
sui nas bordas estruturas semelhan-
tes à letra “T” na cor preta, indicada
com um traço vermelho com a escrita
Enzima integrase “Glicoproteína”. A camada mais exter-
na dessa esfera tem coloração rósea
e está indicada por um traço verme-
lho com o nome “Envelope”. A cama-
Enzima protease da seguinte, de fora para dentro, é
de coloração vermelha escura e está
indicada com um traço vermelho e de
nome “Matriz”. O centro da figura é
Matriz verde e está preenchido com quatro
estruturas distintas: duas esferas
laranjas, que representam a enzima
protease; duas esferas roxas, que
Enzima representam a enzima transcriptase
reversa; dois bastões vermelhos, que
transcriptase
representam a enzima integrasse; e
reversa
duas estruturas em fita, em formato
senoidal na cor rosa, que represen-
Genoma (RNA) tam as duas fitas de RNA dessa uni-
dade viral.

Uma vez em contato com as células mucosas do aparelho genital, o vírus rapidamente chega ao
intestino e passa a infectar as células do tecido linfoide associado à mucosa (MALT) ali presentes.
Mediados por receptores CD4+ e receptores CCR5 para citocinas, presentes em monócitos, macró-
fagos e linfócitos, infectam, também, essas células que, ainda, se tornam reservatórios para os vírus.
Após um período, as glicoproteínas do tipo gp120 começam a ser expressas na cápsula do vírus,
estrutura que permite a infecção apenas de linfócitos da linhagem CD4+, que sofrem morte celular
programada (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).

128
UNIDADE 4

Entre abril e maio de 2022, foram confirmados mais de 250 casos da Monkeypox ou “varíola do
macaco”, deixando a Organização Mundial da Saúde (OMS) e vários órgãos de controle de saúde em
alerta. A doença é viral, classificada como zoonose e possui tempo de incubação de 1 a 5 dias, sendo
que, após esse período, o indivíduo infectado pode apresentar crises de febre e dores de cabeça
intensas, seguidas das características erupções cutâneas, localizadas na epiderme (principalmente
em face e extremidades) e também em tecidos mucosos, como boca, genitálias e conjuntivas. Ainda,
não é considerada uma IST, porém, o contato sexual com pessoas em fase ativa da doença pode
desencadear a infecção (SOUZA; SOUZA; FRONTEIRA, 2022).

Para conhecer melhor a forma como ele se replica dentro do linfócito


TCD4+, assista ao vídeo A Replicação do HIV, do canal Professor Ruela
Microbiologia, pelo QR Code . Observe as estruturas virais presentes no
vídeo e na Figura 10, e como elas se relacionam com o parasitismo viral
na célula hospedeira.

Nos estágios iniciais após o contágio, o indivíduo infectado pode nem apresentar sintomas ou expres-
sar apenas manifestações clássicas de gripe. Esse período é conhecido como “fase latente” e apresenta
baixa concentração de vírus na circulação sanguínea, porém, a replicação viral continua a acontecer
e a morte de linfócitos CD4+ torna-se tão intensa que o sistema imunológico enfraquece, levando
o paciente à imunodeficiência (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021). Com a síndrome da
imunodeficiência humana (aids ou SIDA) instalada, a infecção do hospedeiro, por micro-organis-
mos oportunistas, é facilitada e distúrbios neurológicos podem ocorrer pela infecção da “micró-
glia” (células de defesa presentes no sistema nervoso) e pela liberação de substâncias neurotóxicas
(MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
Felizmente, desde 1980, o número de tratamentos para os portadores do HIV sofreu um aumento
pronunciado, variando em mecanismos de ação e formas de administração, possibilitando quimio-
terapias praticamente personalizadas para esses indivíduos. Como exemplos, existem os inibidores
da transcriptase reversa, os inibidores de protease, os inibidores de ligação e fusão viral à célula do
hospedeiro e os inibidores da integrase viral (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019). As formas de diag-
nósticos envolvem ensaios de triagem, como sorológicos (aglutinação em látex, anticorpos orais),
indicativos (como hemogramas e contagens de linfócitos CD4+ e CD8+) e confirmatórios, sendo

129
UNICESUMAR

a eletroforese em gel ou Western Blot, que identifica proteínas virais, o mais utilizado. Este ensaio
consiste na migração diferencial das proteínas virais, presentes no soro do indivíduo, sob aplicação
de uma corrente elétrica. A migração das proteínas é revelada com um reagente fluorescente ou de
cor, de forma que, ao comparar a um padrão controle positivo característico, é possível saber se há ou
não a presença de vírus no organismo (BRASIL, 2018).

REALIDADE
AUMENTADA
Ficou curioso sobre como esse teste funciona? Tenho cer-
teza de que ele se tornará mais interessante quando você
assistir a essa técnica. Dica de amigo: essa análise é uma
das mais utilizadas em imunologia. Por isso, preste bas-
tante atenção, porque você pode combinar seus conheci-
mentos em microbiologia e imunologia em um só. Acesse

Western Blot/Eletroforese sorológico para HIV

Depois de estudar e anotar tudo até aqui, você já sabe do que sofria o escultor Benvenuto Cellini? Darei
uma última pista para a resolução desse enigma, antes de tratarmos sobre os métodos diagnósticos
para ISTs: a doença do escultor evoluiu para uma fase terciária, e, na época, se ouviam rumores de que
ele se encontrava em estado terminal de vida. Alguns compradores de arte se aproveitaram disso, e,
após algumas negociações, trataram de envenenar Benvenuto adicionando mercúrio na alimentação
dele, por acreditarem que o metal, na comida, não seria percebido, uma vez que o escultor já exibia
alguns sintomas neurológicos e comportamentais muito curiosos. Você já é capaz de afirmar qual IST
acometia Benvenuto com essa última dica?

130
UNIDADE 4

Título: Carta para além dos muros


Ano: 2019
Sinopse: o documentário apresenta uma linha cronológica sobre a des-
coberta do HIV, as consequências e sequelas da aids, os estigmas e os
preconceitos envolvidos, e o que médicos, vítimas e seus familiares têm a
dizer sobre a epidemia dessa infecção sexualmente transmissível, a qual
teve início no século XX e, infelizmente, persiste poderosa até os dias atuais.

Para os ensaios clínicos, uma variedade de amostras pode ser utilizada e, no Quadro 1, você pode obser-
var quais são os materiais coletados e indicados para cada tipo de pesquisa ou quantificação bacteriana:

Tipo de cultura/suspeita
Aparelho genital feminino Aparelho genital masculino
clínica

Vaginose bacteriana Fluido cervical e vaginal Não aplicável

Trichomonas vaginalis Fluido vaginal Fluido prostático

Neisseria gonorrhoeae Fluido cervical, anal Fluido uretra, anal

Chlamydia trachomatis Raspado cervical, uretral Raspado uretral

Treponema pallidum Lesões genitais Lesões genitais

Úlcera da área perianal/geni- Úlcera da área perianal/geni-


Haemophilus ducreyi
tal, nódulo inguinal tal, nódulo inguinal

Mycoplasma hominis Canal endocervical ou uretra Não aplicável

Quadro 1 – Amostras recomendadas de acordo com o tipo de micro-organismo pesquisado em trato genital masculino e feminino.
Fonte: adaptado de Brasil (2010).

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UNICESUMAR

Nos casos de vaginite bacteriana, a Gardnerella vaginallis pode ser positiva em 50% de mulheres
sadias e assintomáticas, ou seja, com micro-organismo confirmado, porém sem processo infeccioso
instalado. Por isso, a cultura de materiais vaginais dificilmente é indicada para diagnóstico nesses
casos (BRASIL, 2010). Os critérios mais utilizados para caracterização de vaginose bacteriana são:
• Presença de corrimento fluido.
• Teste de aminas (com hidróxido de potássio 10%) positivo no fluido vaginal.
• pH vaginal > 4,5.
• Presença de células epiteliais características “clue cell”.

No caso da pesquisa por Chlamydia trachomatis, como citado anteriormente, o cultivo em linhagens
celulares ainda é o método de referência para o diagnóstico, mas, além de caro, é menos prático e
dispendioso em tempo. O material mais indicado seria a coleta de raspados celulares da região do
endocérvix e, por isso, a identificação diagnóstica em mulheres, normalmente, pode ocorrer durante
os exames preventivos de rotina (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021). Ainda assim, a micros-
copia por método da imunofluorescência direta pode ser utilizada a partir de amostras coletadas
de swab ou escova endocervical, materiais que podem ser submetidos a análises sorológicas, além dos
métodos de detecção do micro-organismo por PCR (BRASIL, 2010).
As amostras obtidas para diagnóstico de gonorreia devem ser submetidas à cultura quase ime-
diatamente, pois o gonococo é muito sensível a condições ambientais e sofre lise rapidamente.
O material coletado pode ser submetido a cultivo direto (swab semeado diretamente em meio de
cultura) em meios específicos contendo cistina, aminoácidos, pirimidinas, vitaminas e amido, como
o Thayer-Martin (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021). No caso de visualização de culturas
de Neisseria gonorrhoeae de crescimento característico (colônias pequenas pigmentadas de branco/
creme), pode-se seguir o protocolo de testes bioquímicos, que envolve:
• Coloração de Gram.
• Prova da catalase.
• Teste da oxidase.
• Prova da degradação da glicose.
• Prova da degradação da maltose.
• Prova da degradação da lactose.

A Neisseria gonorrhoeae é um coco Gram-negativo, catalase positiva e oxidase positiva e degrada


apenas a glicose (BRASIL, 1997).
Quanto ao Treponema pallidum, é muito raro que o analista consiga observar sua estrutura mor-
fológica em técnicas bacterioscópicas tradicionais, como o Gram, devido à bactéria ser muito fina.
Por isso, preferencialmente, deve-se optar por técnicas de observação em campo escuro, utilizando
reagentes fluorescentes especiais. Materiais, como exsudatos, podem fornecer leituras satisfatórias, em
caso de amostras obtidas nas fases primária e secundária da doença ou em situações de sífilis congê-
nita. No entanto, a análise é possível somente a partir de materiais recém-coletados e imediatamente

132
UNIDADE 4

semeados na lâmina de observação. Além disso, é necessário um microscópio específico (com con-
densador de campo escuro) (Figura 11) e o analista deve passar por muito treinamento (WHO, 2016).

Figura 11 – Microscopia em campo escuro para identificação de Treponema pallidum./Fonte: Public Domain Files (2012, on-line).

Descrição da Imagem: a figura é uma fotografia tirada em microscópio de fundo escuro, na qual é possível observar as espiroquetas
dispersas, em branco, no campo de visão sobre um fundo preto e opaco. Existem oito espiroquetas no total.

Essa bactéria tem replicação celular dificultada em laboratório, porque as moléculas que fazem
parte do ciclo do ácido tricarboxílico (ciclo vital para a sobrevivência da bactéria) são retiradas da
célula do hospedeiro, sobretudo, purinas, pirimidinas e aminoácidos (MURRAY; ROSENTHAL;
PFALLER, 2021). Dessa maneira, o isolamento dessa bactéria, na microbiologia, é quase impraticável.
Técnicas de imunofluorescência direta (pesquisa de anticorpos que se ligam a antígenos marcados
com reagentes fluorescentes) também pode ser realizada, mas a sua execução se torna difícil, pela ne-
cessidade de insumos que, muitas vezes, se encontram indisponíveis (RATNAM, 2005). A coloração
de Warthin-Starry, baseada na fixação do micro-organismo pela prata, ainda que muito amplamente
apresentada, tem baixa sensibilidade e especificidade (THEEL; KATZ; PILLAY, 2020).
De maneira mais pronunciada, os testes imunológicos são os mais amplamente utilizados para
diagnóstico da sífilis. Os chamados testes treponêmicos consistem em identificar anticorpos do
tipo imunoglobulina M (IgM) no organismo do paciente, cerca de 10 dias após o aparecimento da

133
UNICESUMAR

lesão primária (WHO, 2016). Esse grupo de anticorpos é escolhido, pois, além de aparecerem durante
a fase primária, também estão presentes na fase secundária ou no período latente, fazendo com que o
diagnóstico para sífilis seja possível mesmo na ausência de sintomas (JANIER et al., 2020). O teste
de anticorpos treponêmicos fluorescentes com absorção (FTA-Abs) é um desses ensaios nos quais,
em uma lâmina fixada com T. pallidum, reagem com o soro do paciente e, em casos positivos, os
anticorpos da ordem IgM se ligam ao antígeno (complexo antígeno-anticorpo). Uma espécie de
imunoglobulina humana, a antigamaglobulina, marcada com um reagente fluorescente, se liga à
porção do anticorpo desse complexo formado, fato que é revelado quando observado em microscópio,
como na Figura 12.

Figura 12 – Resultado positivo para ensaio FTA-Abs na pesquisa de anticorpos contra Treponema pallidum.po escuro para iden-
tificação de Treponema pallidum./Fonte: Public Domain Files (2012, on-line).
Fonte: Scimedx Corporation (2022, on-line).

Descrição da Imagem: na figura, há uma fotografia tirada a partir do microscópio. Disperso no campo de observação, existem inúmeras
bactérias, em espiral, na cor verde. O fundo da imagem é preto e opaco.

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UNIDADE 4

Ensaios imunoenzimáticos e testes de hemaglutinação também podem ser realizados como testes
iniciais para o diagnóstico da sífilis. O primeiro consiste na reação de um complexo anticorpo-an-
tígeno, formado no local da reação junto a um substrato de cor, que, dependendo da coloração
revelada, indica se há a presença de anticorpos ou não. O teste de hemaglutinação consiste na
observação de ligação entre anticorpos, presentes no soro de paciente com hemácias que contêm,
em sua superfície, cepas de T. pallidum fixadas. O resultado dessa ligação é observável pela geração
de um coágulo, configurando teste positivo (LUO; XI; XIAO, 2021).
Na universidade em que me formei, contavam uma história sobre um professor que fazia uma
brincadeira durante as aulas práticas: após a aula sobre sífilis e seus diagnósticos, ele coletava material
da parte interna da bochecha de alguns alunos e realizava uma lâmina de observação direta em cam-
po escuro em um microscópio próprio para isso. Mesmo sabendo que a sífilis pode ser passada pelo
beijo, os alunos se voluntariavam para ter seus materiais clínicos coletados, confiantes de que nenhum
resultado incomum apareceria. No entanto, após alguns segundos trancado na sala escura de obser-
vação (microscópios de campo escuro exigem essas adaptações para funcionarem corretamente), os
alunos começavam a ouvir risadas contidas, mas sugestivas e em tom de chacota, vindas do professor.
Ele, então, preparava a lâmina para que todos dessem uma olhada, sendo que muitas lâminas se
apresentavam carregadas de espiroquetas. Antes que os pobres voluntários tivessem um ataque do
coração, o professor explicava que aquilo era completamente normal. Algumas bactérias da nossa
microbiota oral são espécies de espiroquetas, e não se diferenciam morfologicamente do Treponema
pallidum; dessa forma, eles podem ser facilmente confundidos com o causador da sífilis, por meio
da microscopia direta. Essa história serve apenas para alertar que não se faz diagnóstico de sífilis
por observação direta em amostras provindas de secreções orais! A possibilidade de um resultado
falso-positivo para esses casos é enorme.
Para o diagnóstico de neurossífilis ou o acompanhamento terapêutico de indivíduos em trata-
mento, o ensaio VDRL (do inglês Veneral disease research laboratory), um teste não treponêmico,
pode ser indicado. Ele acontece com a reação entre o soro do paciente e uma suspensão antigênica
padronizada da bactéria, e, em casos positivos, é possível observar a formação de grânulos (agluti-
nação) no fundo do meio de reação (WHO, 2016).
Como é possível perceber, tanto as técnicas diagnósticas quanto o conhecimento aprofundado
sobre a fisiopatogenia das doenças, assim como a condução de uma terapia adequada, podem forne-
cer dados esperançosos e otimistas àqueles acometidos pelas ISTs. No entanto, a disseminação dessas
doenças, de forma exponencial, é preocupante, devido ao desenvolvimento de resistência bacteriana
e à subnotificação de casos (pouca procura pelo consultório médico nos casos mais “assustadores”,
como feridas nos órgãos genitais), o que faz com que os acometidos espalhem a doença sem ao menos
conhecer a própria condição de saúde.

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UNICESUMAR

Por falar em condições de saúde, posso considerar como resolvido o mistério do escultor Ben-
venuto Cellini? Mesmo sem saber sobre resultados laboratoriais que, à época, também não existiam,
concluímos que o nosso protagonista tinha sífilis. Além de sobreviver à tentativa, por parte de seus
algozes, de assassiná-lo, a pequena concentração de mercúrio, adicionado a sua comida, ainda foi su-
ficiente para suprimir a atividade bacteriana e curá-lo de vez da IST que o acometia. Essa vitória sobre
as adversidades foi o que o motivou a criar a escultura de Perseus, que vimos no início desta unidade,
sendo um símbolo de sua glória sobre a doença (assim como Perseus derrotou Medusa).
O monitoramento laboratorial de ISTs é uma importante atividade, que não se restringe apenas
ao diagnóstico de um paciente. O papel profissional do analista vai mais além: fornecer dados
confiáveis aos índices epidemiológicos, que são importantes para traçar estratégias de combate
mais eficazes, porque, apoiados nas taxas de diagnóstico e testagem de ISTs, órgãos componen-
tes da saúde são respaldados na implementação de diversas medidas. O profissional de saúde,
presente no laboratório, também é essencial, porque o diagnóstico bem realizado auxilia serviços
sociais na investigação de casos de abuso sexual em populações expostas, tornando a missão
social do analista tão importante quanto a sua missão profissional na sociedade. É considerável
que esse processo ajuda tanto na proteção da vítima em casos confirmados quanto respalda
judicialmente a busca pelo responsável do ato e, assim, se fazer valer a justiça.
Por fim, não foi por acaso que, nesta unidade, em específico, eu optei por não trazer imagens
impactantes de órgãos genitais e outras regiões acometidas por ISTs. A forma como esta uni-
dade foi escrita, com a ausência de fotografias impressionantes, é justamente a maneira como a
sociedade está posicionada quanto às ISTs: sem o apelo visual, tem-se a falsa sensação de que
o problema não existe. É possível sentir, na própria pele, a dificuldade que a saúde tem, hoje,
para tratar do assunto com mais clareza. A subnotificação das ISTs não é um problema restrito
ao Brasil, e, ainda, contribui muito para desinformação, temor e preconceito em relação a essas
patologias. Nunca se esqueça de que: o que os olhos de médicos e profissionais da saúde não veem,
certamente, o coração, as articulações, as células neurais e os diversos órgãos vitais podem sentir.

136
Para finalizar, sugiro que você expresse todos os seus sentidos para se lembrar, com boas sensações, de
tudo que estudamos até aqui. Anote, desenhe e rabisque o quanto quiser o Mapa da Empatia a seguir. Deixei
algumas sugestões de reflexão, mas você não precisa se limitar em responder somente a elas. Seja criativo!

PENSAR VER
Como me sinto em relação aos Como enxergo o cenário das ISTs hoje e
conhecimentos adquiridos nessa unidade? como posso me ver no futuro atuando na
área de pesquisa dessas doenças?
Existe alguma maneira que eu posso
contribuir ainda mais ao lidar com
pacientes acometidos pelas ISTs?

OUVIR FAZER
O que você costuma ouvir sobre as ISTs Como você vai se dedicar a partir de hoje
antes de estudar essa unidade? O que se para aprimorar seus conhecimentos em
confirmou? O que foi refutado? microbiologia e ISTs?
O que você pode fazer diferente daquilo
que já conhece para ser um analista
laboratorial de excelência?

DORES GANHOS
Quais são os maiores obstáculos no diagnóstico das ISTs? Qual é o impacto positivo que eu posso deixar na
Qual a minha maior dificuldade em relação a esse assunto? sociedade ao ser um analista laboratorial de qualidade?

137
1. É de conhecimento geral que a microbiota bacteriana é importante para muitos sistemas
anatômicos no organismo humano. Observe a sentença a seguir:

“Os __________ são micro-organismos da microbiota vaginal que desempenham importante


função de __________ contra agentes causadores da vaginite bacteriana como a ______”.

Assinale a alternativa que contém os termos que preenchem corretamente a sentença:

a) Lactobacillus; proteção; Listeria monocytogenes.


b) Monobacillus; proteção; Gardnerella vaginalis.
c) Lactobacillus; proteção; Gardnerella vaginalis.
d) Monobacillus; nutrição, Gardnerella vaginalis.
e) Lactobacillus; nutrição; Listeria monocytogenes.

2. Assinale a alternativa que apresenta corretamente o agente etiológico do linfogranuloma


venéreo e do cancro mole:

a) Chlamydia trachomatis e Haemophilus ducreyi.


b) Chlamydia trachomatis e Haemophilus pneumoniae.
c) Haemophilus pneumoniae e Neisseria gonorrhoeae.
d) Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae.
e) Neisseria gonorrhoeae e Haemophilus ducreyi.

138
3. A gonorreia é uma infecção sexualmente transmissível, que acomete homens e mulheres.
Sobre o agente etiológico, assinale a alternativa correta:

a) O agente causador é a bactéria Neisseria gonorrhoeae, um bacilo Gram-negativo que possui


como principal fator de virulência a presença de pili em sua superfície.
b) O agente causador é a bactéria Neisseria gonorrhoeae, um bacilo Gram-negativo que possui
como principal fator de virulência a produção de hialuronidase.
c) O agente causador é a bactéria Neisseria gonorrhoeae, um diplococo Gram-positivo que possui
como principal fator de virulência a presença de pili em sua superfície.
d) O agente causador é a bactéria Staphylococcus agalactiae, um diplococo Gram-positivo que
possui como principal fator de virulência a presença de receptores de membrana específicos
para linfócitos CD4+.
e) O agente causador é a bactéria Staphylococcus agalactiae, um diplococo Gram-positivo que
possui como principal fator de virulência a produção de enzimas aderentes às células genitais.

4. O cultivo do Treponema pallidum é dificultado em laboratório de microbiologia, em decor-


rência de suas necessidades nutricionais complexas. Assinale a opção que contém métodos
diagnósticos alternativos às análises microbiológicas tradicionais:

a) Os ensaios que podem ser aplicados são a coloração de Warthin-Starry e o PCR, porque
possuem alta sensibilidade e especificidade.
b) Os ensaios podem ser do tipo treponêmicos, como o FTA-Abs e não treponêmicos, como o
VDRL.
c) Os ensaios podem ser apenas do do tipo treponêmicos, como o VDRL.
d) Os ensaios podem apenas do tipo não treponêmicos, como o FTA-Abs.
e) O ensaio que pode ser aplicado é o PCR, que possui baixa sensibilidade e especificidade.

139
140
5
Aspectos Clínicos,
Epidemiológicos
e Laboratoriais de
Infecções Bacterianas
do Trato Respiratório
Me. Suelen Eloise Simoni

Nesta unidade, visitaremos o sistema respiratório para conhecer os


componentes e as funções dele e as principais estruturas envolvidas
com os processos patológicos. Estudaremos as principais faringites
bacterianas, os agentes etiológicos e as virulências, assim como as
patologias do sistema respiratório inferior, assim, não nos restrin-
giremos, apenas, a doenças de alta incidência. Analisaremos os fa-
tores de risco, os modos de transmissão e os métodos diagnósticos
possíveis de execução na microbiologia. Esta unidade ajudará você
a intensificar os seus conhecimentos na rotina laboratorial, além de
sensibilizá-lo, ainda mais, para a profissão de analista laboratorial.
UNICESUMAR

Em julho de 1976, mais de dois mil veteranos de estavam de cabelos em pé em relação ao surto de
guerra se reuniram nas salas de reunião do Hotel pneumonia. Não só pela cobrança e pelo temor
Bellevue, na Filadélfia, para o Congresso da Legião da população para a resolução do mistério, mas,
Americana. Eram dias quentes, e os antigos solda- também, pelas preocupações em conter a doença
dos contavam, apenas, com o sistema de ar-con- e evitar uma grande catástrofe microbiológica.
dicionado, água fresca e roupas leves para o alívio A investigação de surtos, principalmente, de or-
do calor. Já nos primeiros dias de reunião, alguns dem respiratória, é imprescindível, devido ao
participantes do evento começaram a desenvol- potencial de contágio da maior parte das doenças
ver quadros febris e sintomas de pneumonia. Em transmitidas pelo ar.
pouco mais de uma semana de encontro, mais de Recentemente, tivemos a experiência com a
200 membros da legião estavam contaminados e, pandemia da Covid-19, na qual o desconheci-
dos internados, 34 deles vieram a óbito. Seria uma mento do vírus, associado ao alto poder de dis-
arma biológica? Uma nova epidemia? Quem seria seminação dele, um potencial causador de efeitos
o paciente zero e o que faria a doença se alastrar agudos e crônicos no organismo, deixou o mundo
tão rápido nessa comunidade? todo em alerta e em estado de intensa insegu-
Os membros do Centro de Controle e Preven- rança. Acreditamos que não precisamos refletir
ção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) já muito a respeito da função de um profissional da

142
UNIDADE 5

saúde frente às doenças respiratórias, uma vez que vivemos em uma realidade repleta de heróis des-
conhecidos que atuaram no diagnóstico, no tratamento direto de pacientes e no desenvolvimento de
vacinas para o combate direto, frente a esse problema de saúde pública seríssimo. Assim, convidamos
você a, realmente, imergir nesse universo da microbiologia respiratória e a se engajar ainda mais nesse
âmbito da área da saúde tão importante para a vida em comunidade.
Agora é com você: imagine que você é um componente do Centro de Controle e Prevenção de
Doenças (CDC), ou faz parte de um grupo de estudos epidemiológicos de algum órgão governamen-
tal. Então, são dadas, a você, as funções de investigar e de documentar as possíveis causas e origens
para essa misteriosa doença de ordem respiratória que acometeu os pobres veteranos de guerra. Você
deve apresentar um relatório com toda a sua pesquisa, a fim de demonstrar o que o levou a chegar em
determinada conclusão. Para isso, daremos uma pequena ajuda. Leia a revisão sistemática construída
por Silva-Filho e colaboradores em 2017, com o acesso do QR Code a seguir.

Por meio da leitura, você pode ter uma ideia das infecções respiratórias
que possuem mais incidência, prevalência e importância clínica. Associe
a sua pesquisa aos seus conhecimentos prévios e novos do assunto
para defender a sua tese. Use o espaço Diário de Bordo para registrar
os seus dados.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

Ao contemplar a revisão sistemática, ficou evidente que a maior parte das infecções respiratórias é de
origem viral, não é mesmo?! Quem nunca foi parar em um atendimento de pronto-socorro para ouvir,
do corpo clínico, que todos aqueles sintomas de coriza, febre, tosse produtiva e cansaço não eram,
“apenas, uma virose”, certo?! Assim, neste material, veremos que, nem sempre, as doenças respiratórias
são de origem viral. Assim como visto anteriormente, a participação das bactérias no desvendar dos
mistérios médicos é bem pronunciada nessas patologias.
Ao saber do que foi relatado, você acrescentaria mais alguma pesquisa para entregar o seu relatório
final, a respeito do inexplicável surto de pneumonia que ocorreu na Flórida? Para ajudar, tente elucidar
as seguintes questões:

• Teria algum fator de risco associado ao surto que ocorreu naquela situação?
• A maneira através da qual o agente etiológico se disseminou tem importância para a ocorrência
dele?
• Que mecanismos de patogenicidade que um microrganismo poderia apresentar para ser tão
agressivo?

143
UNICESUMAR

Você pode usar o espaço a seguir para registrar as suas conclusões e para contemplar os questionamentos
anteriores. Garantimos que, ao se iniciar este material com essa reflexão, não será nada complicado
estudar esse tema a partir de agora.

O trato respiratório superior é recoberto por células caliciformes, ou “goblet”, estruturas em


forma de cálice, ciliadas e secretoras de muco e lisozima (defesa natural). Esse conjunto previne
a entrada de partículas e patógenos e, ainda, mantém o epitélio respiratório, sempre, lubrificado.
Na Figura 1, você poderá observar a estrutura organizacional desse epitélio. As células em forma
de cálice, coradas, fortemente, em roxo, são as células caliciformes, e, no interior delas, há uma alta
concentração de muco a ser expelido. Na parte superior, essas células são revestidas pelos cílios
numerosos em formato de fio, que ficam em constante movimentação com a entrada e a saída de
ar, e nos quais ficam aderidas bactérias e partículas estranhas, o que impede que esses elementos
adentrem no sistema respiratório (BLACK; BLACK, 2021).

144
UNIDADE 5

Figura 1 – Células caliciformes do epitélio respiratório. / Fonte: Shutterstock ([2023a], on-line).

Descrição da Imagem: na figura, há uma foto de uma lâmina com um corte histológico do epitélio respiratório. Na foto, há uma ca-
mada de células na diagonal, em forma de cálice e coradas da cor roxa. Na superfície desses cálices, há inúmeros fios de cor castanha,
semelhantes a fios de lã, que ilustram a morfologia dos cílios. Abaixo dessas células, no sentido horizontal, há uma camada de peque-
nas esferas, também, coradas da cor roxa, que representam as fibras elásticas. Todas essas estruturas pousam sob uma superfície de
coloração rosa claro. O fundo da figura apresenta uma coloração branca.

A função primordial do sistema respiratório é o transporte de oxigênio até a corrente sanguínea,


para a distribuição dele em todos os órgãos do corpo, além de coletar o dióxido de carbono gerado
nos processos de respiração celular para expulsá-lo do organismo através dos pulmões.
Os componentes do sistema respiratório superior são: cavidade nasal, faringe, laringe,
traqueia e brônquios.
O ar entra pelas narinas, é transportado através da faringe (que possui conexão com a tuba au-
ditiva), e, depois, é encaminhado para a laringe (aqui, estão as cordas vocais), que possui a epiglote,
saliência de tecido que impede a passagem de um alimento para a traqueia (tubo de parede rígida
que compõe esse sistema). A traqueia se divide em dois brônquios primários (um esquerdo e um
direito), os quais dão origem aos bronquíolos.
Até a laringe, há uma variabilidade de microrganismos que são parte da microbiota do sistema respi-
ratório superior, como o Staphylococcus epidermidis, espécies de corinebactérias e Staphylococcus aureus.
Como defesa do organismo, além do muco e do movimento das células ciliadas, pelos que revestem
a superfície das cavidades nasais impedem a passagem de grandes partículas. O reflexo da tosse e
do espirro, também, remove bactérias e patógenos, além de, no caso de serem deglutidos, a maioria
sofre destruição no sistema gástrico (BLACK; BLACK, 2021).

145
UNICESUMAR

Com relação ao trato respiratório inferior, é composto pelos bronquíolos (que se dividem a
partir dos brônquios), com a constituição da árvore bronquial, localizada nos pulmões. É importante
se lembrar de que essas regiões são, completamente, estéreis em condições normais.
Os canais microscópicos presentes nos bronquíolos conduzem o ar até aos alvéolos pulmona-
res, estruturas semelhantes a nódulos, nas quais ocorre a troca gasosa, de forma que o oxigênio
se difunde para o sangue, enquanto o gás carbônico passa da corrente sanguínea para o alvéolo,
através de uma camada fina de epitélio. A pleura, membrana que reveste a superfície dos pulmões e
as cavidades deles, também, produz um líquido seroso responsável pela lubrificação dessas regiões
(BLACK; BLACK, 2021).
No trato respiratório inferior, estão dispersos, também, macrófagos alveolares que auxiliam no
combate a patógenos.
Os componentes do sistema respiratório e as localizações anatômicas deles poderão ser vistos na
Figura 2, a seguir:

Cavidade nasal
Faringe

Laringe

Traqueia

Brônquios Brônquios

Alvéolos pulmonares Bronquíolos

Pulmões
Pleura Pulmões

Diafragma

Figura 2 – Representação gráfica dos sistemas respiratórios superior e inferior. / Fonte: Enfermagem Florence (2019, on-line).

Descrição da Imagem: Ina figura, há um desenho do tórax de um indivíduo, nos planos coronal e sagital, da cor salmão. No plano
sagital, é possível observar as cavidades nasais, a faringe e a laringe, exatamente, nessa ordem. No plano coronal, estão representados
a traqueia, na forma de um tubo branco; os brônquios (ramificações da traqueia, uma do lado direito e outra do lado esquerdo); os
pulmões, que são semelhantes a um triângulo, na diagonal; os bronquíolos, que se dispersam pelo pulmão, em estruturas semelhantes
a raízes; e os alvéolos pulmonares, que possuem forma esférica e se parecem com nódulos. Ainda, ao revestir os pulmões, há uma fina
camada de pleura, da cor azul, e, abaixo deles, há o diafragma.

146
UNIDADE 5

As orelhas e as estruturas delas, também, possuem relevância para o sistema respiratório. Compos-
ta pelas orelhas externa, média e interna, a orelha, também, fica exposta ao ataque microbiano, e
infecções nas regiões média e externa podem refletir em complicações na faringe.
As otites, infecções associadas a episódios de febre e à presença de pus, dão-se pela transferência
de microrganismos da garganta para a região das orelhas, como o Streptococcus pneumoniae, S.
pyogenes e Haemophilus influenzae.
As Pseudomonas aeruginosa são comuns em infecções em nadadores, pela resistência desse micror-
ganismo ao cloro da piscina. O tratamento se dá pela administração tópica, ou oral, de antimicro-
bianos, e a principal sequela, principalmente, em crianças, é fruto de episódios de otite maltratados,
que prejudicam a audição e, consequentemente, a fala (BLACK; BLACK, 2021).

A transmissão de infecções bacterianas no trato respiratório superior costuma acontecer pela inalação
de gotículas provenientes de indivíduos infectados, principalmente, em épocas de frio e em locais
fechados e de pouca circulação de ar.

147
UNICESUMAR

Os padrões sorológicos são classificados


dentro do critério dos grupamentos Lancefield,
que vão de A até W.
Os padrões hemolíticos são obtidos pela
semeadura da bactéria em água-sangue, e, nela, é
observado o tipo de hemólise (quebra das hemá-
cias) no meio de cultura. Podem ser classificados
como hemólise total, ou beta; hemólise parcial,
ou alfa; e hemólise inexistente, ou, também,
Antes mesmo de entrarmos no universo das bacté- chamada de gama hemólise (Figura 3). Os beta
rias, o que você acha de aquecer os seus conheci- hemolíticos são classificados de acordo com os
mentos ao conhecer um pouco mais das doenças grupamentos de Lancefield, uma divisão criada
respiratórias virais? Nesses minutinhos de conversa, baseada nos antígenos de superfície específicos
devemos nos familiarizar com as principais famílias (carboidratos) de cada bactéria, e é essa caracte-
associadas ao sistema respiratório, com os meca- rística, inclusive, que permite que testes rápidos
nismos que esses agentes utilizam para infectar o
de imunoensaio possam ser aplicados, facilmente,
epitélio e os desdobramentos mais importantes que
na triagem de pacientes com faringite. Enquanto
envolvem as doenças de etiologia viral. É só clicar
isso, os gama e alfa hemolíticos são divididos de
no play!
acordo com as propriedades bioquímicas (MUR-
RAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
A começar pela faringe, a maior parte das farin-
gites é de origem viral, no entanto, a faringite
estreptocócica merece atenção. O Streptococcus
pyogenes, coco Gram positivo e beta hemolítico
do grupo A, é o causador da faringite estrepto-
cócica e pode ser adquirido a partir de indiví-
duos com doença ativa, portadores sadios, e até
cães e outros animais de estimação. A infecção
inicia com uma inflamação local, que pode
ser observada em exames de rotina feitos em
um consultório médico. Costuma evoluir para
a formação de lesões supurativas e inchaço dos
linfonodos do pescoço, e, comumente, causa
febre alta, calafrios e dificuldade de deglutição
(BLACK; BLACK, 2021).
O gênero dos Estreptococos é, amplamente,
estudado, e a especificação de todos os integran-
tes dele é separada por características bioquí-
micas, sorológicas e pelo padrão hemolítico.

148
UNIDADE 5

Figura 3 – Padrão de hemólise em ágar sangue.


Fonte: Portal Ped (2022, on-line).

Descrição da Imagem: na figura de fundo branco, há uma


foto de uma placa de Petri redonda, composta por ágar
sangue. A placa possui um fundo vermelho, e, nela, estão
semeadas três estrias de bactérias. A primeira, à esquerda,
é um estriamento contínuo, no qual, ao redor das bactérias,
existe um halo de hemólise de coloração amarela. Bem no
centro desse estriamento, há um quadro vermelho com a
Beta Alfa Gama escrita “beta” em letras brancas. No segundo estriamento,
ao centro, o halo de hemólise é esverdeado, e, no centro, há
um quadro vermelho com a escrita “alfa” em letras brancas.
O terceiro estriamento fica à direita da placa, e não apresenta
uma formação de halo, e, no centro, há um quadro vermelho
com a escrita “gama” em letras brancas.

O S. pyogenes é do grupo A de Lancefield, e pos-


sui, na membrana, dímeros de N-acetilglucosamina
e ramnose. A produção e a expressão da proteína
M é o que associa as cepas à patogenicidade e à
virulência dentro dessa espécie. Além dela, na superfície do S. pyogenes, existem a proteína F e os
ácidos lipoteicoicos, responsáveis por facilitar a ancoragem da bactéria ao se ligarem à fibronectina
das células do hospedeiro (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
A bactéria produz, ainda, toxinas termolábeis, que agem como superantígenos, a fim de sensibilizar
células do sistema imune, como macrófagos e neutrófilos, através da indução na liberação de citocinas
pró-inflamatórias. Enzimas bacterianas, como estreptolisina O e S clivam as células sanguíneas, os
leucócitos e as plaquetas. A liberação de estreptoquinase desfaz os coágulos sanguíneos e facilita a
disseminação da bactéria pelo organismo (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
O tratamento de faringites deve ser realizado assim que possível, uma vez que a proteína M possui
similaridades moleculares com células do tecido cardíaco, dessa forma, ao produzir anticorpos
contra a proteína bacteriana, o sistema imune pode, involuntariamente, atacar o próprio orga-
nismo. Além disso, a família de exotoxinas responsável pela manifestação da escarlatina pode estar
ligada a outras doenças estreptocócicas, como fasceíte necrosante e síndrome do choque tóxico
(TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).
Agora, faremos um exercício rápido de resgate de conhecimento: volte para a Unidade 2 e encontre
o distúrbio renal ligado a infecções estreptocócicas, e como se daria esse mecanismo de patogenicidade.
Se você buscou, corretamente, no seu material, encontrou que a glomerulonefrite pode ser causada
por infecções sistêmicas e prévias pelo S. pyogenes, o que é, completamente, possível no caso de
amigdalites ou faringites estreptocócicas não tratadas da forma correta.
O tratamento de faringites supurativas, mesmo em casos não confirmados para S. pyogenes,
costuma acontecer à base de amoxicilina, associada, ou não, a clavulanato de potássio, a depender
da gravidade dos sintomas. Pode ser administrada oralmente, ou através de injetáveis (TORTORA;
FUNKE; CASE, 2019).

149
UNICESUMAR

É importante se lembrar, também, de que a interferir na produção proteica da célula (TOR-


faringite viral é a mais comum de ocorrer, e, TORA; FUNKE; CASE, 2019).
dessa forma, o uso de antibacterianos não é eficaz A transmissão da bactéria, assim como na
no tratamento da patologia. maioria das doenças respiratórias, acontece via
Outra infecção importante, e de acometimen- aérea, por meio de gotículas provenientes de
to inicial, na faringe, é a difteria, doença causada indivíduos infectados, e possui, também, uma
por cepas toxigênicas da bactéria Corynebacte- forma cutânea, a partir da infecção de feridas já
rium diphtheriae. No Brasil, de 2010 a julho de existentes na pele. O tratamento, geralmente,
2022, foram contabilizados 83 casos conhecidos envolve a administração de antimicrobianos e
da doença, com a maioria deles concentrados inativadores da toxina, mas a forma mais eficaz
na região Nordeste (BRASIL, 2022). O principal é a vacinação. A vacina DTP (que previne, tam-
mecanismo de patogenicidade dessa bactéria é bém, o tétano e a coqueluche) contém o toxoide
a produção de uma exotoxina capaz de inibir a diftérico, uma forma atenuada da toxina capaz
produção de proteínas essenciais, o que leva, à de gerar uma reação fraca na produção de anti-
morte, as células do hospedeiro. A bactéria é um corpos, por isso, são necessárias doses de reforço
bastonete Gram positivo, de estrutura clavifor- a cada 10 anos (de acordo com o esquema vacinal
me (mais espessa em uma das extremidades), e brasileiro) (BLACK; BLACK, 2021).
pode fazer parte da microbiota normal do ser A coqueluche, doença bacteriana causada
humano. Está presente no nariz, na garganta, no pela Bordetella pertussis, apesar de ter uma
sistema urinário e na pele, no entanto, não é pro- baixa incidência, também, tem importância clí-
dutora de toxinas, portanto, não prejudica o nica. A patologia acomete, majoritariamente, as
indivíduo (BLACK; BLACK, 2021). crianças, sobretudo, as menores de um ano, e
A doença inicia com febre e inflamação, em concentra cerca de 61% dos casos confirmados no
detrimento da infecção das células epiteliais Brasil nessa faixa etária. Desde 2015, observou-se
da faringe, de forma que uma membrana fina e uma queda substancial de casos, com uma inci-
de aparência acinzentada se forma no fundo da dência de 0,1/100.000 habitantes em 2021. Em
garganta, rica em fibrina, com células de defesa 2022, foram confirmados, até o mês de julho, mais
mortas e carga bacteriana, o que impede, muitas de cem casos. É um distúrbio que inicia no trato
vezes, a passagem de ar para os pulmões (MUR- respiratório superior, mas que tem os sintomas
RAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021). mais pronunciados assim que a bactéria invade
Manifestações clínicas no tecido cardíaco e o sistema respiratório inferior (BRASIL, 2022).
no sistema nervoso podem ser observadas nos O agente etiológico é um bacilo Gram ne-
casos de difteria grave, em decorrência da ação da gativo, aeróbio obrigatório, geralmente, encap-
exotoxina. A toxina, também, chamada de tipo sulado, e que ataca, especificamente, as células
A-B (assim como as toxinas tetânica e botulíni- ciliadas presentes na traqueia (Figura 4), a fim
ca), possui duas subunidades: a subunidade B é de impedir o movimento ciliar delas e provocar
responsável por se ligar às células eucarióticas, a destruição celular através da toxina traqueal.
por intermédio de receptores do tipo EGRF (fa- A primeira fase da doença, chamada de fase
tor de crescimento epidermal); e a subunidade catarral, é caracterizada por sintomas inespe-
A possui uma região catalítica responsável por cíficos, como febre e coriza, que precedem um

150
UNIDADE 5

estágio mais sério, composto por crises e surtos de tosse seca intensa e frequente. O estágio seguinte,
a fase de tosse paroxística, é o mais característico da doença, e marcado por uma tosse incessante
(como forma de reflexo pelo acúmulo de muco), o que causa cansaço extremo e dores torácicas. En-
tre uma tosse e outra, o paciente costuma emitir um som de suspiro intenso, o que, também, ajuda o
médico a fazer o diagnóstico clínico da doença (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).

B. pertussis

Células
ciliadas

Figura 4 – Células de Bordetella pertussis aderidas às células ciliadas do epitélio respiratório.


Fonte: Tortora, Funke e Case (2019, p. 721)..

Descrição da Imagem:na figura, há uma representação gráfica tridimensional do epitélio respiratório, ilustrado através de células
ciliadas. Os cílios são alongamentos semelhantes a fios cilíndricos, e da cor branca. Aderidos a eles e entre eles, estão pequenos bacilos
da cor laranja, que representam a bactéria Bordetella pertussis.

O diagnóstico costuma ser clínico, mas os méto- terapêutica principal é o uso de antitussígenos
dos microbiológicos têm uma possível aplicação para a amenização da fase paroxística (TORTO-
a partir de amostras obtidas de swabs específicos RA; FUNKE; CASE, 2019). No entanto, a forma
(inseridos pelas narinas até a garganta, para cole- mais eficaz de combater a coqueluche é a ampla
tar o material enquanto o paciente tosse), semea- vacinação, de forma que, quanto maior a cober-
dos em meios de cultura. No entanto, a Bordetella tura vacinal, menor o índice do coeficiente de
pertussis é um microrganismo fastidioso, e que incidência (BRASIL, 2022).
requer condições muito específicas para o cultivo. A infecção nos seios nasais, ou sinusite, tem,
Por essa razão, o diagnóstico laboratorial costuma como agentes etiológicos principais, o S. pyoge-
ser realizado por meio de testes moleculares. nes, o Staphylococcus aureus e a Moraxella ca-
O tratamento com antimicrobianos costuma tarrhalis. O edema gerado nessas regiões impede
reduzir o potencial de contágio, mas a decisão a circulação e a drenagem dos líquidos sinusoides,

151
UNICESUMAR

a fim de acumular muco e promover uma proli- adere às células do trato respiratório por um
feração bacteriana. Ainda, nos casos agudo e crô- complexo de proteínas adesinas, as quais in-
nico, o uso de antimicrobianos, como penicilina, teragem com os cílios das células respiratórias,
pode ser administrado (BLACK; BLACK, 2021). estas que sofrem perda da característica móvel
Já as bronquites, infecções que acometem e destruição. Além disso, a liberação de citocinas
brônquios e bronquíolos, mas não alvéolos, pró-inflamatórias, do fator de necrose tumoral
estão ligadas a inúmeros fatores, como poluição alfa e de interleucinas IL-1 e IL-6 é estimulada, a
do ar, inalação de poeira de carvão, tabagismo e fim de levar mais fagócitos e células imunológicas
hereditariedade. Nesses casos, os indivíduos apre- ao local de infiltração microbiana (TORTORA;
sentam tosse com escarro de caráter mucoso, rica FUNKE; CASE, 2019).
em carga bacteriana e células imunológicas. Por se Com relação às infecções do trato respirató-
tratarem de infecções mais profundas, o manejo e o rio inferior, duas patologias merecem destaque:
cuidado delas podem ser mais complicados. Além as pneumonias e a tuberculose.
disso, alguns agentes etiológicos diferentes podem A tuberculose é uma velha conhecida de
aparecer (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019). todos, afinal, a doença abrange os contextos
As bronquites (assim como algumas científico, social e cultural, uma vez que já foi
pneumonias) podem ser causadas por considerada o “mal romântico” do século 19
micoplasmas, bactérias sem parede celular pelos poetas e escritores brasileiros da época
que promovem a infecção pela fusão da (GOMES, 2017). A doença, ainda, é um im-
membrana citoplasmática delas com as portante problema de saúde mundial, e tem,
células hospedeiras. como estimativa, cerca de dez mi-
O Mycoplasma pneu- lhões de casos espalhados pelo
moniae é um patógeno mundo a cada ano, com,
extracelular, o qual se aproximadamente, um
milhão de mortes
(WHO, 2020).

152
UNIDADE 5

O coeficiente de incidência da doença, no Brasil, é próximo dos 30 casos a cada 100 mil habitantes,
com um número de óbitos que ronda a faixa dos quatro mil, incluindo um índice de mortalidade de
2,2 óbitos por cem mil habitantes (BRASIL, 2021). Dentre os critérios sociais que envolvem o aco-
metimento, a população carcerária, assim como idosos e crianças, está entre os indivíduos mais
suscetíveis (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
O Mycobacterium tuberculosis é o agente etiológico, um bacilo fino e aeróbio obrigatório que não
é corado pelo Gram. Ainda, é utilizada uma técnica corante diferente para um ensaio bacterioscópico.
Pode ser chamado de Bacilos Álcool-Ácido Resistentes (BAAR), devido ao fato de a parede celular
ser rica em conteúdo lipídico, denominado de ácido micólico, característica que confere, à bactéria,
uma alta resistência a sanitizantes. Por fim, trata-se de um potente agente pró-inflamatório que auxilia
no mecanismo de patogenicidade desse microrganismo (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
A inalação do bacilo é a forma de transmissão, e, quando ele chega nos pulmões, é fagocitado pelos
macrófagos, ali, presentes. Em uma fase inicial, na qual o sistema imune falha ao combater a bactéria,
o bacilo se multiplica no interior dos macrófagos, por impedir a formação completa do fagossoma
(estrutura rica em lisossomos digestivos), com a geração de respostas quimiotáticas (transdução de
sinal no interior dos leucócitos, o que leva mais células imunes ao local da infecção) e de um agregado
de bactérias, células e tecido conjuntivo que se torna, futuramente, um tubérculo, uma espécie de
nódulo na região do pulmão (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021). Esses bacilos são capazes
de destruir espécies reativas de oxigênio (principal ação dos fagócitos) e de biossintetizar ácidos mi-
cólicos que conferem mais resistência à bactéria, e utilizam ácidos gordos (colesterol) como fonte de
energia, o que permite a adaptação em ambientes pobres em carboidratos (FORRELLAD et al., 2013).

" Eu acho que gostaria de morrer


de Tuberculose, por que as
mulheres me veriam e diriam:
"Olhem aquele pobre Byron. Quão
interessante ele parece morrendo."
"
Lord Byron
153
UNICESUMAR

Enquanto estão presentes no tubérculo, os bacilos possuem uma baixa capacidade de multiplica-
ção, por isso, podem permanecer por longos períodos de forma latente, inativados por calcificação,
em caso de cura, ou, finalmente, liberados em fases ativas da doença. Quando liberadas, as bactérias
atingem os sistemas linfático e circulatório, e se disseminam, por vezes, em outros órgãos (chamada
de tuberculose miliar), mas a atividade de multiplicação é muito maior nos pulmões. Assim que novos
macrófagos são infectados, uma resposta inflamatória intensa e aguda é gerada, a fim de liberar uma
grande quantidade de líquido no tecido pulmonar, o qual origina mais sintomas, como tosse prolon-
gada, dor no peito, febre e fadiga. Quando as lesões tuberculosas se rompem em regiões próximas a
vasos sanguíneos, é possível que o indivíduo evolua para um quadro de tosse, e acompanhada por
sangue, uma marca bem característica da doença (BLACK; BLACK, 2021).
Pacientes com o vírus HIV ativo são acometidos pela bactéria na forma de doença oportunista,
devido ao baixo número de linfócitos no sistema circulatório. Em fases avançadas da virose, os
testes usuais para tuberculose (testes tuberculínicos) se apresentam negativos, o que contribui
para a subnotificação da doença nesses indivíduos e o agravamento do quadro pulmonar. Ainda,
esses pacientes são reservatórios do bacilo, assim, tornam-se potenciais fontes de transmissão
(HAVLIR; BARNES, 2005).
A coloração, pela técnica de Ziehl-Neelsen, é a maneira encontrada para a realização da bacterios-
copia frente a uma suspeita de tuberculose. Nela, uma solução de fucsina é adicionada ao esfregaço
bacteriano na lâmina de vidro, e é deixada por cerca de cinco minutos para o aquecimento. Após esse
período, a lâmina é enxaguada e, nela, é pingada uma mistura de ácido clorídrico 30% e de álcool etí-
lico absoluto. Ainda, nessa etapa, todas as bactérias que não têm lipídios na própria parede celular são
descoradas, assim, sobram, apenas, as unidades de Mycobacterium spp da cor rosa, fixadas à lâmina.
Depois, o corante azul, de metileno, é adicionado para conferir um contraste visual à lâmina, o que
acaba colorindo células epiteliais e leucócitos de azul (OSANTE; RUIZ, 2016). O aspecto da lâmina
com teste positivo para micobactérias fica semelhante ao da Figura 5.

Figura 5 – Lâmina corada pela técnica de Ziehl-Neelsen para


bacterioscopia de Bacilos Álcool-Ácido Resistentes (BAAR).
Fonte: Shutterstock ([2023b], on-line).

Descrição da Imagem: na figura, há uma foto de uma lâmina


microbiológica vista em microscópio, com um aumento de
400x. Nela, existem células disformes e coradas da cor azul
escuro, dispostas por toda a lâmina, com a representação de
células epiteliais e leucócitos. Entre essas células, é possível
observar bacilos alongados e finos de coloração rosa, que
representam a bactéria Mycobacterium tuberculosis.

154
UNIDADE 5

O tratamento para a tuberculose costuma atingir níveis satisfatórios de controle, pois alcança até
85% de sucesso (BRASIL, 2021). Atualmente, a terapia dura, em média, seis meses, e é composta por
rifampicina, isoniazida, etambutol e pirazinamida, drogas de primeira linha. O tempo longo da
terapia é devido a uma possível presença de tubérculos dormentes, bactérias dentro de macrófagos;
e de granulomas em regiões anatômicas de difícil alcance (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).

DESTAQUE
A vacina BCG (“Bacilo de Calmette & Guérin”), criada em 1921, por Léon Calmette e Alphonse
Guérin, e produzida a partir de uma cultura de cepas não virulentas de Mycobacterium
bovis, voltada para a imunização contra as tuberculoses pulmonar e miliar, está no calen-
dário vacinal brasileiro, com uma aplicação de dose única indicada para crianças de até
quatro anos de idade, um fator primordial para o controle da doença no território nacional
(BRASIL, 2021).

Título: Osmose Jones - Uma Aventura Radical pelo Corpo Humano


Ano: 2001
Sinopse: Já imaginou se você pudesse ver, ainda mais de perto, como as
suas células corporais funcionam frente a um patógeno? O filme mostra a
rotina de um leucócito aventureiro que precisa lutar sem medir esforços
para combater um vírus muito perigoso e esperto.
Comentário: Você pensou que essa cinéfila que vos fala não indicaria
nada para esta unidade? Queridos alunos, este filme guarda um espaço
especial no meu coração. Quando eu era, ainda, pequena, e nem imaginava que entraria para a
área da saúde, esse já era um dos meus filmes favoritos. Entretanto, quando comecei a estudar
microbiologia e imunologia, a figura do Osmose Jones, sempre, vinha na minha memória e trazia
um pouco de leveza para os aprendizados. Espero que o mesmo efeito ocorra em você! Divirta-se!

155
UNICESUMAR

Já as pneumonias, marcadas pela inflamação O pneumococo, maneira através da qual o


do tecido pulmonar, podem ser causadas por Streptococcus pneumoniae, também, é conhe-
inúmeros microrganismos, como fungos, vírus cido, é um coco Gram positivo organizado em
e bactérias, com sintomas semelhantes, indepen- duplas (Figura 6), catalase negativa composta
dentemente do agente etiológico, os quais incluem por uma cápsula densa (responsável pela di-
tosse produtiva, dores agudas no peito e na região ferenciação sorológica), que torna o patógeno,
das costas, taquipneia (aumento da frequência altamente, resistente à fagocitose. A cápsula de
respiratória), febre e calafrios. De modo geral, os polissacarídeos, na forma purificada, também, é
microrganismos são capazes de atingir regiões o composto fundamental para a produção da
mais inferiores do sistema respiratório, através vacina contra o pneumococo.
da aspiração de secreções de orofaringe, inalação O S. pneumoniae é alfa hemolítica (hemólise
de aerossóis que contêm bactérias, ou dissemina- parcial), devido à produção de uma pneumolisina
ção via corrente sanguínea. Ainda, é importante que destrói as células sanguíneas, com a produção
se lembrar de que, para que uma infecção assim de um pigmento de coloração esverdeada. Por ser
ocorra, a carga bacteriana deve ser concentrada. um microrganismo de exigências nutricionais im-
A virulência do patógeno, geralmente, é alta, e portantes, costuma crescer em laboratório, apenas,
as defesas do hospedeiro, normalmente, encon- em meios de cultura suplementados com sangue
tram-se enfraquecidas (BRASIL, 2010). ou derivados (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).

Figura 6 – Representação tridimensional do pneumococo. / Fonte: Shutterstock ([2023c], on-line).

Descrição da Imagem: na figura, há um desenho tridimensional da bactéria Streptococcus pneumoniae. Ao fundo, há uma base da
cor rosa, que representa o epitélio respiratório. Várias esferas organizadas em pares e da cor roxa estão dispostas na figura, de forma
que, na parte em que se encontram, o envoltório se torna reto.

156
UNIDADE 5

A pneumonia pneumocócica costuma envolver Ainda, no grupo dos Gram positivos, o Sta-
brônquios e alvéolos, a fim de deixá-los reple- phylococcus aureus, resistente à meticilina,
tos de células sanguíneas e neutrófilos. Após também, denominado de MRSA, ainda, pode
colonizar a região da orofaringe, ao se aderir ao ser um agente etiológico de pneumonias, mesmo
epitélio através de adesinas, a bactéria é capaz de que raramente. Essa bactéria é resistente a uma
atingir pulmões, mas, também, a tecidos neurais, diversidade de beta-lactâmicos e induz a produ-
ao estimular a secreção de ativos causadores de ção de uma citocina, chamada de PVL (do inglês,
febre, a qual costuma iniciar de forma abrupta e Panton-Valentine Leukocidin), que desencadeia
elevada (39 °C a 41 °C). a destruição de leucócitos e ocasiona a necrose
A pneumolisina se liga ao colesterol da célula de tecidos. Por essa razão, pneumonias causadas
do hospedeiro, cria poros e destrói o epitélio ci- por esse agente etiológico costumam ter um prog-
liado do sistema respiratório. Ainda, a habilidade nóstico bem pessimista (ADLER et al., 2006).
de produzir peróxido de hidrogênio intensifica A pneumonia causada por Bacillus anthracis
ainda mais essa reação. A presença de fosforil- pode ocorrer pela inalação do microrganismo, a
colina na parede celular favorece a ligação dessas fim de gerar, tipicamente, hemorragias medias-
estruturas a fatores ativadores de plaquetas, o que tinais. Esse microrganismo esporulado e Gram
diminui a fagocitose. Ainda, a presença da bac- positivo faz a produção de três tipos de antígenos:
téria influencia na liberação de interleucinas e o antígeno protetor (PA), o fator de edema
o fator de necrose tumoral alfa desencadeiam os (EF) e o fator letal (LF). A proteína PA se liga
sintomas de pneumonia (MURRAY; ROSEN- às células do hospedeiro pelo receptor ATR (do
THAL; PFALLER, 2021). inglês, Anthrax Toxin Receptor), enquanto o EF
O tratamento costuma ser simples, no en- é responsável por interferir com mecanismos
tanto, uma grande parte dos sorotipos de S. intracelulares de células infectadas, ao impedir
pneumoniae é resistente a penicilinas, e já se a fagocitose desse microrganismo. O LF inativa
tem documentado, também, resistência frente membros da família MAPKK, um grupo de enzi-
à eritromicina, a tetraciclinas e a cefalosporinas. mas que regula processos oxidativos, o que leva à
Por essa razão, normalmente, a terapia é com- destruição de macrófagos. A frequência dele é
posta por uma associação de antimicrobianos, muito rara, mas costuma ser letal, devido à alta
principalmente, após o diagnóstico confirma- resistência do microrganismo a antimicrobianos
tório para pneumococo e com a realização de usuais (PILO; FREY, 2018).
testes de susceptibilidade bacteriana (MURRAY; O Haemophilus influenzae, também, é uma
ROSENTHAL; PFALLER, 2021). No entanto, a bactéria importante para o estudo das pneumo-
vacinação dos grupos de risco, os quais, no nias bacterianas, com as populações idosa e
Brasil, costumam ser os idosos e as crianças com infantil como principais grupos de risco. Tam-
menos de dez anos, é oferecida pela rede pública. bém, causador de meningites, o cocobacilo Gram
A PNCC 10 (Pneumocócica 10 valente) previne negativo, quando encapsulado, sobretudo, o tipo
a infecção por 10 sorotipos de S. pneumoniae, b (Hib), é um agente etiológico em emergên-
de proteção direta contra os sorotipos 1, 4, 5, 6B, cia nos países em desenvolvimento, ou naqueles
7F, 9V, 14, 18C, 19F e 23F, e, para o sorotipo 19A, nos quais a vacina para a bactéria, ainda, não é
com proteção do tipo cruzada (BRASIL, 2021). disponível (WHO, 2002).

157
UNICESUMAR

A bactéria coloniza o trato respiratório su- inalação, quando há o contato de humanos com
perior, ainda, nos primeiros meses de vida, e aves, em geral, ou o contato direto com um in-
pode se disseminar em sinus e orelha média. Os divíduo infectado. No processo, há a formação
principais fatores de virulência nos sorotipos de corpúsculos elementares que conferem uma
encapsulados são a liberação de endotoxinas alta resistência ao microrganismo. Os sintomas
e a produção do polissacarídeo antifagocítico, o costumam ser febre alta, tosse, e, em algumas si-
PRP (do inglês, polyribitol phosphate), estrutura tuações, delírios e desorientação, caso o sistema
contra a qual o sistema imune produz anticorpos, nervoso seja acometido. Já a pneumonia causada
de maneira que é aumentada a possibilidade de pela Chlamydophila pneumoniae possui uma
desenvolvimento de meningite e de epiglotite sintomatologia semelhante à da H. influenzae,
(infecção da epiglote e risco de anafilaxia) (MUR- mas, de forma mais branda, e após o período de
RAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021). convalescença, é observada a presença de anti-
corpos de memória contra o microrganismo
(MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
Não pense que eu me esqueci do nosso misté-
A Burkholderia pseudomallei, bacilo Gram
rio microbiológico da vez: os militares america-
negativo localizado dentro do gênero Pseu- nos apresentaram a enigmática doença respirató-
domonas, é a causadora da Melioidose, ria. Até o momento, estudamos bactérias com um
doença que, normalmente, apresenta-se alto potencial contagioso e com reservatório no
como uma pneumonia que pode evoluir homem e em animais. Entretanto, se descobrimos
para um quadro necrosante. Marcada por que bactérias que utilizam a água como reser-
febre alta, dor torácica intensa e mialgia vatório natural possuem potencial para causar
generalizada, costuma acometer mais os doenças respiratórias, como você justificaria o
lóbulos superiores do pulmão, e pode se contágio? Você acha que seria possível?
espalhar por todo o organismo, a fim de
Esse tipo de microrganismo, exatamente, foi
formar abscessos e sepse severa. Diferente
responsável pelo surto de pneumonia em 1976,
da maioria das pneumonias, a transmissão
na Flórida. Como relatei, o congresso dos vetera-
dela pode se dar por via respiratória, mas,
nos de guerra ocorreu em dias muito quentes de
também, pela ingestão da bactéria, ou pelo
contato dela com ferimentos epidérmicos
maio, e com, apenas, o ar-condicionado da sala
(TORTORA; FUNKE; CASE, 2019). de reuniões como alternativa frente a altas tempe-
raturas, o grupo de legionários jamais imaginaria
que, na água de circulação dos aparelhos refrige-
radores, habitava uma bactéria de alta letalidade.
O gênero Chlamydophila (mencionado em al- A protagonista do nosso estudo lá do início
gumas literaturas, também, como Chlamydia), desta unidade é a Legionella pneumophila, um
composto por agentes Gram negativos e intra- microrganismo Gram negativo (mesmo que se
celulares obrigatórios, também, é capaz de causar core, fracamente, pela técnica), oxidase positiva
pneumonias. A clamidiose, psitacose, ornitose, que realiza replicação celular dentro dos macró-
ou febre dos papagaios, é uma zoonose causa- fagos, e de forma facultativa, diferente de todos
da pela C. psittaci, e pode ser transmitida por os organismos que estudamos até agora. O mi-

158
UNIDADE 5

crorganismo é muito conhecido, também, na área parasitológica, por ter a capacidade de parasitar
em alguns protozoários e amebas (Figura 7). A doença é caracterizada por febre alta, normalmente,
acima de 40 °C, acompanhada por sintomas tradicionais das pneumonias, como tosse produtiva e dor no
peito. Chamada, também, de Doença dos Legionários, em função do surto relatado no estudo de caso,
ela é catalogada, comumente, na América do Norte e na Europa (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).

Figura 7 – Cadeias Legionella pneumophila em fase de multiplicação dentro de protozoários da espécie Tetrahymena
pyriformis. / Fonte: Public Domain Files (2012, on-line).

Descrição da Imagem: na figura, há uma foto de uma lâmina microscópica com um aumento de 400X. O fundo da figura é da cor rosa
claro, e, no centro, existem duas células arredondadas e unidas entre si, pelas extremidades laterais. A célula da esquerda é de colo-
ração rosa, bem escura, e possui quatro vacúolos no citoplasma, de coloração branca e pálida. Na extremidade inferior, há um núcleo
corado, fortemente, de azul. A célula da direita possui um vacúolo e um núcleo azul, também, na extremidade inferior. Dispersas no
citoplasma das duas células, estão correntes de bacilos Gram negativos, corados da cor rosa, que formam uma estrutura semelhante
a uma parede de tijolos. Na célula da esquerda, há uma flecha da cor vermelha, na extremidade superior da estrutura, que indica a
corrente de bactérias.

Estudos recentes indicam que a inalação de gotículas de água onde a bactéria está presente é a
forma através da qual atinge o organismo humano. O reservatório natural dela é aquático, como rios,
lagos e piscinas (devido a uma alta resistência ao cloro), e, ainda, na água presente em sistemas de
refrigeração de ar-condicionado, o que os torna locais de climatização artificial (hotéis, hospitais,
escolas) como foco de contaminação. Não existem, no entanto, muitos dados de epidemiologia na
América do Sul, mas, no Brasil, os poucos estudos que envolvem a bactéria revelam que trabalhadores
de unidade de terapia intensiva costumam apresentar resultados sorológicos positivos frente a esse pa-
tógeno (MAZIERI; GODOY, 1993). Laboratorialmente, deve-se suspeitar da pneumonia causada por

159
UNICESUMAR

L. pneumophila, sempre, que o esfregaço de material clínico tem uma grande quantidade de neutrófilos,
mas sem identificação da bactéria, e na situação de falha terapêutica de antimicrobianos, usualmente,
utilizados para tratar de pneumonias, como aminoglicosídeos e beta-lactâmicos (CHEDID, 2002).
Os fatores de virulência que envolvem a L. pneumophila são o lipopolissacarídeo da parede
celular, que age ao aderir, firmemente, às células do epitélio respiratório, assim como as proteínas
porinas, que, além de tornarem a célula do hospedeiro permeável, ligam-se a componentes do
sistema complemento. Genes codificadores (dos tipos Icm, mip e ompS) transcrevem proteínas
de resistência ao fagossoma do macrófago, incluindo fatores de secreção que estão envolvidos com a
infeção celular (STEINERT; HENTSCHEL; HACKER, 2002).

A legionelose é associada à Síndrome do Prédio Doente, doença reconhecida pela OMS em 1982, e
caracterizada por um conjunto de doenças causadas por patógenos e partículas químicas presentes
em prédios climatizados artificialmente, sem uma devida circulação de ar. No Brasil, a Resolução
nº 9, de 16 de janeiro de 2003, dispõe sobre os Padrões Referenciais de Qualidade do Ar Interior
em ambientes climatizados artificialmente, de usos público e coletivo, a fim de estabelecer valores
de referência para parâmetros físico-químicos (velocidade do ar, concentração de gás carbônico,
índices de umidade e temperatura) e microbiológicos que consistem na contagem total de fungos
e na identificação de fungos patogênicos. A aplicação da legislação é realizada por Planos de Manu-
tenção, Operação e Controle (PMOC) adotados por empresas, e que estabelecem os procedimentos
e a periodicidade de verificação da integridade e dos estados de limpeza e de conservação dos
sistemas de climatização (BRASIL, 2003).

Pneumonias, também, podem ser causadas por enterobactérias, sobretudo, pela Klebsiella pneumo-
niae, principalmente, em pacientes com imunidade prejudicada e em ambientes hospitalares. É um
microrganismo que, normalmente, coloniza o trato respiratório superior, e a infecção causada por
ele se inicia com tosse, dor torácica, febre e dispneia (falta de ar). Os principais fatores de virulência
dessa bactéria são a presença da cápsula polissacarídica, que dribla o sistema imune e a fagocitose;
de fímbrias na superfície celular, que favorecem a adesão às células do hospedeiro; resistência capsular
frente ao soro bactericida produzido pela via do sistema complemento; e produção de aerobactina,
responsável por quelar o ferro da célula infectada, um fato primordial para o crescimento (MURRAY;
ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
Alguns sorotipos são resistentes a antimicrobianos de amplo espectro, classificados, assim,
como KPCs (Klebsiella Pneumoniae produtora de carbapenemases). Essa habilidade é associada à
transferência de genes plasmidiais, e o tipo mais comum, no território brasileiro, é a KPC-2. Os
indivíduos mais suscetíveis incluem aqueles de idade avançada, em ventilação mecânica, em hos-
pitalização prolongada, com imunossupressão e sob o uso de dispositivos invasivos. A principal
linha terapêutica para indivíduos com infecções causadas por KPC é a polimixina B e E, ainda que

160
UNIDADE 5

com cautela, devido à alta nefrotoxicidade desses Não nos aprofundaremos nos métodos
agentes (OLIVEIRA, 2018). de tratamento e de diagnóstico da Covid-19
Então, querido (a) aluno (a), você sentiu falta porque você, certamente, estudará, com mais
de estudar a respeito de algum agente causador profundidade, o tema na disciplina de Imu-
de doenças respiratórias? Tenho a certeza de que nologia. No entanto, você pode recorrer, rapi-
você deve estar se perguntando o seguinte: em damente, ao seu material de microbiologia se
que momento seria abordado o vírus Sars-Cov-2, precisar entender questões da fisiopatologia
responsável pela pandemia da Covid-19? A doen- dessa doença, tudo bem?
ça, que foi, inicialmente, descrita em Wuhan, na Para o diagnóstico das doenças respiratórias,
China, ainda, não possui a origem elucidada, com o cuidado começa na coleta. Para a pesquisa de
o primeiro caso confirmado no Brasil em 26 de doenças que acometem o sistema respiratório
fevereiro de 2019. Depois disso, a contaminação superior, o material clínico costuma ser a secre-
foi exponencial, e o número de óbitos pela patolo- ção da orofaringe, coletada através de swabs. O
gia atingiu mais de 600 mil em território nacional profissional de coleta deve ser treinado e sensi-
(BRASIL, 2022). O vírus tem a capacidade de ligar bilizado, uma vez que a presença de saliva gera
a porção proteica S da estrutura aos receptores interpretações de resultado duvidosas, por con-
tipo ECA-2 presentes em pneumócitos tipo II ter uma flora bacteriana variada e numerosa. O
no pulmão humano, o que promove a entrada processo de coleta ocorre de acordo com a Figura
do vírus na estrutura celular e a futura replicação 8, seguidos os seguintes passos:
(GALLAGHER; BUCHMEIER, 2001). • O paciente deve abrir bem a boca, e, ao
A infecção das células pulmonares pode usar um abaixador de língua, o profissio-
causar uma síndrome gripal leve, mas a mani- nal de coleta realiza esfregaços na amídala
festação mais preocupante é a Síndrome Respi- e na faringe, sem tocar a ponta do swab
ratória Aguda Grave, que ocasiona a saturação estéril na língua, nos dentes ou em outras
de oxigênio a níveis inferiores a 93%, taquip- regiões da cavidade oral.
neia, linfopenia e edema alveolar (BAGGIO • O profissional deve passar o swab, prefe-
et al., 2021). Além disso, a doença pulmonar rencialmente, em regiões com hiperemia
pode gerar fibrose e a formação de microtrom- (vermelhidão), placas ou pus, a fim de re-
bos, incluindo sequelas de ordem cardíaca. A movê-los.
severidade da doença está ligada à infecção de • É ideal que sejam coletados menos de dois
células imunológicas e à liberação de altas con- swabs, que devem ser enviados, imediata-
centrações de substâncias pró-inflamatórias, mente, ao laboratório, para uma análise.
como interleucinas dos tipos 2, 7 e 10, como Ainda, previne-se a secagem do material.
fator de necrose tumoral, o que atrai mais célu- • Frente a um impedimento de envio ime-
las imunes para o local da infecção. A presença diato, meios de cultura de transporte po-
de leucócitos gera uma lesão inflamatória que dem ser utilizados para a preservação da
modifica a estrutura dos alvéolos, a fim de im- amostra por até 24 horas.
possibilitá-los de realizarem as trocas gasosas • Esses materiais são indicados para o diag-
necessárias para uma oxigenação satisfatória nóstico de faringite estreptocócica e de
(CARVALHO et al., 2021). infecções por Mycoplasma pneumoniae.

161
UNICESUMAR

Figura 8 – Coleta de material da orofaringe. / Fonte: Shutterstock ([2023d], on-line).

Descrição da Imagem: na figura, há um desenho de uma coleta de material proveniente da orofaringe. Um indivíduo, com a boca
aberta, está desenhado lateralmente, de forma que é possível enxergar a cavidade bucal dele em um plano sagital. Um profissional da
saúde, calçando luvas azuis, realiza a coleta. Com a mão esquerda, o profissional segura o abaixador de língua, um objeto em forma de
bastão e da cor branca. Com a mão direita, o profissional da saúde realiza a coleta, assim, utiliza um swab, um objeto semelhante a um
cotonete de hastes compridas. A ponta do swab atinge o fundo da garganta do indivíduo em um ponto paralelo ao queixo.

A coleta realizada na nasofaringe, isto é, um Para o diagnóstico de tuberculose, ou de pneu-


material coletado através do nariz, e por um sis- monias, os materiais clínicos podem ser diversos.
tema que atinge a região da garganta, é ideal para Para coletas de escarro, além de o profissional da
o diagnóstico de coqueluche, de doenças por saúde prestar atenção no tratamento da amostra,
micoplasmas, ou meningococo (trataremos deve, extensivamente, fazer a instrução ao pacien-
desse microrganismo nas infecções do sistema te, uma vez que, nesse caso, o indivíduo participa,
nervoso). Amostras obtidas de secreções nasais ativamente, da coleta. É ideal que o escarro esteja
costumam ser úteis para o diagnóstico de doenças livre de saliva (uma vez que esse tipo de material
respiratórias superiores causadas por MRSA, ou não representa o processo infeccioso), além de
como um indicativo indireto de pneumonias coletado no primeiro horário da manhã, com o
causadas por esse agente etiológico. Além disso, paciente, ainda, em jejum, após uma escovação
coletar materiais desses sítios anatômicos auxilia dentária sem o uso de cremes, ou pastas dentais.
o corpo médico a realizar uma pesquisa de porta- O paciente deve respirar profundamente e forçar
dores do microrganismo (BRASIL, 2010). a tosse, a fim de transferir o material, diretamente,

162
UNIDADE 5

para um frasco estéril e de boca larga. No caso de uma pesquisa de micobactérias, deve-se coletar uma
amostra por dia, durante três dias (BRASIL, 2000).
Materiais, como sangue, lavado brônquico, aspirado traqueal e líquido pleural, podem,
também, ser utilizados para pesquisas diretas de microrganismos, para a realização de testes
sorológicos e moleculares.
O aspirado transtraqueal, coleta realizada por médicos especializados, é o mais indicado para o
diagnóstico de pneumonias, uma vez que o procedimento evita a contaminação com o trato respira-
tório superior (BRASIL, 2000).
O lavado brônquico, ou lavado bronco-alveolar, é o material indicado para o diagnóstico de pneu-
monias em pacientes imunossuprimidos, ou submetidos à ventilação mecânica. Nesse material, a
contagem microbiana costuma ser alta, por isso, um valor de corte deve ser adotado para diferenciar
infecção de colonização (geralmente, superior a 10⁵ UFC/mL) (BRASIL, 2003).
Ainda, algumas observações que envolvem a rotina laboratorial podem ser importantes, como:

DESTAQUE
• A coleta e a cultura devem ser realizadas antes da instituição do tratamento anti-
microbiano.
• Culturas quantitativas e semiquantitativas podem ser utilizadas, ainda que a primeira
aumente a especificidade de diagnósticos nosocomiais.
• Resultados negativos para uma cultura de amostras provenientes do trato respi-
ratório inferior podem respaldar a descontinuação do tratamento antimicrobiano.

Materiais provenientes de orofaringe são os, mais comumente, recebidos no laboratório, para uma
pesquisa de patologias associadas ao trato respiratório superior. A rotina mais comum é a semeadu-
ra da amostra coletada em ágar chocolate e ágar MacConkey, incubados em uma atmosfera de, no
máximo, 5% de gás carbônico. A semeadura do swab é feita por estrias descontínuas, e as placas são
incubadas na temperatura de 35-37 ºC e avaliadas, inicialmente, após 18-24 horas. Caso não haja
crescimento, podem ser reincubadas, a fim de ser feita uma leitura final em 48 horas. Perante suspeitas
de faringites estreptocócicas, a cultura do microrganismo em ágar, ainda, é o padrão ouro (BRASIL,
2010). As amostras podem ser semeadas, diretamente, em ágar sangue, assim, as colônias se apresentam
redondas, brancas, com halo de beta hemólise ao redor (Figura 9).

163
UNICESUMAR

Figura 9 – Streptococcus pyogenes em placa com um meio de cultura ágar sangue. / Fonte: Shutterstock ([2023e], on-line).

Descrição da Imagem: na figura, a metade de uma placa de Petri é apresentada, e contém uma estrutura gelatinosa ao fundo, da cor
vermelha, que representa o ágar sangue. Dispersas nesse material, há colônias bacterianas redondas e brancas em estria contínua, e,
ao redor delas, é possível observar um galo translúcido que revela a hemólise.

Após o crescimento, testes bioquímicos tradi- identificado no teste rápido e satisfatória para o
cionais podem ser realizados para a identifica- crescimento no meio de cultura (BRASIL, 2010).
ção da bactéria. Cada laboratório costuma adotar Para os casos de suspeita de difteria, a iden-
uma metodologia, segundo parâmetros e bases tificação microbiológica direta da bactéria Cory-
de dados oficiais. Reações sorológicas por aglu- nebacterium diphtheriae é difícil, além disso, de-
tinação, com a utilização da antiestreptolisina vido ao calendário de vacinação incluir a vacina
O como antígeno, também, podem ser utilizadas DTP para a prevenção da patologia, é incomum
como teste, mas só são válidas para o diagnóstico que laboratórios de rotina disponham de mate-
e o suporte de glomerulonefrites difusas e febre rial específico para a detecção do microrganismo.
reumática, algo contraindicado para faringites Mesmo assim, meios de cultura, como o meio de
agudas. Testes rápidos para uma pesquisa direta Loeffler, que contém soro coagulado, podem
do patógeno, também, costumam ter sensibilida- ser utilizados para estimular o crescimento da
de reduzida, e é comum que resultados positivos bactéria e ajudar na revelação dos grânulos meta-
para a cultura sejam negativos para testes rápidos, cromáticos nos testes bacterioscópicos, como o da
uma vez que a quantidade de antígeno provenien- coloração de Albert-Laybourn, que revela, na
te da orofaringe pode ser insuficiente para ser extremidade mais grossa dos bacilos claviformes,

164
UNIDADE 5

os grânulos em vermelho, incluindo o restante do corpo da bactéria em verde, como na Figura 10. A
identificação final da bactéria pode ser realizada por testes enzimáticos, mas os mais indicados são os
testes moleculares, como MALDI-TOF, ou PCR (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).
Figura 10 – Corynebacterium diphtheriae corada pela
técnica de Albert-Laybourn. / Fonte: Trento (2018, p. 10).

Descrição da Imagem: na figura, há uma foto de uma


lâmina bacterioscópica em microscópio, com um au-
mento de 400X. Nela, inúmeras bactérias estão dis-
persas na lâmina, e todas contêm uma extremidade
arredondada e mais grossa, corada da cor vermelha,
bem escura, enquanto o corpo se apresenta bacilar,
fino e de coloração verde.

Além disso, testes toxigênicos devem ser


realizados com os isolados, para que possam
atestar a presença da toxina diftérica. Há imu-
noensaios, como o “Elek test”, que consiste na imunodifusão da toxina em um meio específico, a qual
entra em contato com uma antitoxina, e a reação gera uma formação em ponta de lança, que pode ser,
facilmente, observada a olho nu (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).
Para o diagnóstico laboratorial de doenças causadas por micoplasmas e clamídias (gênero Chlamy-
dophila), como é de se esperar, devido à complexidade desses agentes, costumam ser utilizadas técnicas
sorológicas para atestar a infecção por esses microrganismos, como imunoensaios, ou métodos de
fluorescência. A Bordetella pertussis, também, é, raramente, identificada em laboratórios, na rotina
comum, devido à dificuldade de se obterem amostras nasofaríngeas sem contaminação por outros
microrganismos, e em detrimento da aplicação da vacina com antígenos (BRASIL, 2000).
O Haemophilus influenzae, por sua vez, pode ser isolado a partir de materiais clínicos em ágar
chocolate. Cresce muito bem nesse meio, mas sem produzir o halo de hemólise. Entretanto, pela
alta frequência com a qual aparece colonizando o trato respiratório superior, não deve ser reportado
rotineiramente (BRASIL, 2010).
A semeadura de swabs de orofaringe ágar Macconkey (com ativos específicos para o crescimento
de bactérias Gram negativas) auxilia na triagem de microrganismos, como Klebsiella pneumonia,
mas, por ser uma colonizadora momentânea dessa região, é indicado que sejam reportados quando a
amostra é proveniente de pacientes imunocomprometidos, ou de solicitação médica (BRASIL, 2010).
Para a pesquisa de micobactérias, o laboratório deve estabelecer condições de biossegurança mais
robustas, como instalações classificadas com nível de Biossegurança 3, que envolvem Equipamentos
de Proteção Individual (EPIs), sala de análise e cabines de fluxo laminar, com a estrutura física do
local bem específica e robusta (BRASIL, 2000). Isso não fica só no papel. Lembro-me muito bem de
que, na época na qual eu, ainda, estava na graduação, meus professores de microbiologia solicitaram
que todos os alunos providenciassem máscaras PFF2 (peça facial filtrante tipo 2) para a realização das
aulas práticas de micobactérias. Justificavam que a eficácia de filtração de partículas nos protegeria
dos potenciais aerossóis gerados pela manipulação da amostra.

165
UNICESUMAR

A partir da amostra pura, é possível realizar uma coloração de Gram para que, inicialmente, seja feita a
avaliação da qualidade do material. O analista deve analisar 10 campos no microscópio e observar
a contagem de células epiteliais e o número de neutrófilos, a fim de classificar a amostra de acordo
com o Quadro 1. As amostras classificadas como Grupo 5 são satisfatórias para uma semeadura em
um meio de cultura e a continuação da análise.

Grupos Contagem de células epiteliais Contagem de Leucócitos


Grupo 1 ≥25 ≤10
Grupo 2 ≥25 10-25
Grupo 3 ≥25 ≥25
Grupo 4 10-25 ≥25
Grupo 5 <10 ≥25

Quadro 1 – Critérios para uma avaliação da qualidade do escarro. / Fonte: adaptada de Brasil (2010).

Na Figura 11, você poderá observar uma lâmina com coloração de Gram realizada com um material
adequado. Nela, as células epiteliais não serão observadas, com muco na amostra, com uma aparência
de teia de aranha e leucócitos segmentados, neutrófilos e bastonetes.

Figura 11 – Coloração de Gram em esfregaço a partir de escarro. / Fonte: Shutterstock ([2023f], on-line)..

Descrição da Imagem: na figura, há uma foto de uma lâmina de microscópio com um aumento de 100X. Nela, podem ser observados
filamentos mucosos da cor rosa, dispostos de forma que lembram os fios de uma teia de aranha. Inúmeros leucócitos estão dispersos
na figura, na forma de células circulares de coloração rosa, bem clara, e núcleo, fortemente, corado de rosa. Os neutrófilos possuem
dois núcleos, ou mais. Os linfócitos possuem um único núcleo arredondado. Por fim, os bastonetes têm um núcleo em forma de bastão.
É possível observar um linfócito na extremidade direita inferior da figura, e um bastonete na extremidade direita superior.

166
UNIDADE 5

Para o diagnóstico de tuberculoses, a amostra pode ser submetida à coloração de Ziehl-Neelsen. Ain-
da, o analista laboratorial realiza a contagem dos BAAR (Bacilos Álcool-Ácido Resistentes) existentes
na lâmina. A quantidade de campos a ser analisada depende, diretamente, da quantidade de BAAR
contados em cada observação. A interpretação dos resultados é feita a partir da metodologia aplicada
na rotina laboratorial, mas, no Quadro 2, será elencada uma sugestão (BRASIL, 2000):

Número de BAAR contados em objetiva de 100X Resultado

0 Negativo
1 a 2 BAAR em 30 campos Recomenda-se repetir a coloração
1-9 BAAR em 100 campos + (raros)
1-9 BAAR em 10 campos ++ (alguns)
1-9 BAAR por campo +++ (frequentes)
mais de 9 BAAR por campo ++++ (numersos)

Quadro 2 – Interpretação de resultados de pesquisa de BAAR em microscopia. / Fonte: adaptado de Brasil (2000).

A especificidade do método pode, porém, ser reduzida em função da possível presença de outros
microrganismos que se coram, também, durante o processo, como os gêneros Nocardia spp e Rhodo-
coccus spp. Além disso, é importante que se realizem um controle negativo (com a utilização de uma
cepa de Escherichia coli) e um controle positivo (com a utilização de uma cepa de Mycobacterium
tuberculosis) do processo. A semeadura em um meio de cultura sólido é importante para os passos
seguintes da identificação de micobactérias, de forma que a amostra preparada é semeada (0,5 a 1,0
mL) em ágar Lowenstein-Jensen, um meio de cultivo complexo, com a adição de glicerol, lipídeos e
ovos integrais (fontes de carbono e nitrogênio); composto verde malaquita, que é responsável por
inibir o crescimento; e bactéria Gram positivas. A amostra semeada é incubada, então, a 37°C, no
escuro, em uma atmosfera de 5-10% de gás carbônico, e a leitura deve ocorrer de sete em sete dias, a
fim de totalizar oito semanas de incubação. As colônias de M. tuberculosis possuem aspecto granular,
são ásperas, rugosas, e, levemente, amareladas, conforme Figura 12.

167
UNICESUMAR

Figura 12 – Semeadura de M. tuberculosis em ágar Lowenstein-Jensen. / Fonte: Shutterstock ([2023g], on-line).

Descrição da Imagem: na figura, há uma foto de um indivíduo calçando luvas de látex brancas e segurando, na mão esquerda dele, um
frasco de estrutura cilíndrica, transparente e de tampa dourada. No interior do frasco, há uma substância gelatinosa verde, clara, que
representa o ágar Lowenstein-Jensen. Dispersas na superfície do ágar, existem colônias arredondadas da cor amarela que representam
a bactéria Mycobacterium tuberculosis. No fundo da figura, é possível ver uma estante para tubos de ensaio, de metal e da cor branca,
com 18 tubos semelhantes ao descrito, dispostos em quatro fileiras.

Métodos automatizados, como o BD Bactec MTB/ RIF, tem sido aplicado, a fim de realizar
MGIT 960, utiliza meios líquidos de enriqueci- a detecção do microrganismo em um período
mento (caldo Middlebrook 7H9) em frascos es- inferior a duas horas (BRASIL, 2010).
pecíficos, incluindo um inóculo da amostra que é Para uma pesquisa de patógenos causadores
submetida à incubação direta no equipamento, e de pneumonia, é recomendado que a amostra
por cerca de seis semanas. Ao longo do tempo, o recebida seja semeada em ágar de especificidade
equipamento realiza leituras simultâneas, baseado e constituintes nutricionais variados. A depender
na produção de gases gerados pelo metabolismo da quantidade de material clínico recebido, as
bacteriano, e, em casos de presença da bactéria, o amostras devem ser semeadas em ágar sangue,
equipamento emite sinais que avisam, ao analista, ágar MacConkey, ágar chocolate, e, no caso
a condição da amostra. Análises moleculares de suspeita de pneumonia por Legionella pneu-
por PCR podem ser úteis e mais rápidas do que a mophila, a utilização de ágar específico, como o
pesquisa microbiológica tradicional. Um método ágar BCYE (do inglês, Buffered Charcoal Yeast
em um sistema fechado, denominado de Xpert Extract), é uma boa prática, ainda que métodos

168
UNIDADE 5

de imunofluorescência, com anticorpos mo- e bactéria causadora de um grande poder viru-


noclonais, sejam mais indicados para a detecção lento. Agora, pare e pense: existem mais situações
dos microrganismos causadores de pneumonias nas quais as mesmas condições podem ser ofe-
(BRASIL, 2010). recidas? Para isso, faça o seguinte exercício: liste
Apesar dos progressos que envolvem o en- as instituições da sua cidade que podem estar
tendimento de doenças, de diagnósticos e de associadas a serviços de saúde, ou não, as quais,
terapia, as doenças respiratórias, sobretudo, as eventualmente, combinam esses fatores de risco
pneumonias, ainda, são uma causa importante em, apenas, um local. Que lugares você incluiria?
e frequente de morte. Além disso, a grande parte Mais do que isso, que medidas de cuidado podem
de patologias que estudamos neste material pode ser aplicadas para prevenir doenças respiratórias
conferir consequências crônicas à saúde, a fim de nesses locais citados?
envolver órgãos vitais do corpo, como coração, Para responder questionamentos relevantes, o
rins e sistema nervoso, ao demonstrar que o conhecimento de infecções respiratórias vai além
conhecimento desse assunto é de suma impor- da sua função dentro do laboratório. Observar
tância para a atuação de um profissional de saúde as contribuições pertinentes do ambiente, uma
completo. situação tão elementar, já é essencial para uma
Como no caso da Doença dos Legionários, avaliação de risco frente a um patógeno. Por fim,
que estudamos anteriormente, podemos destacar o treinamento e as habilidades de manuseio e de
três desses fatores de risco: população vulnerável, análise da amostra conferem uma grande impor-
por se tratarem de idosos; reservatório potencial tância ao profissional analista quando os fatores
(água do ar-condicionado) sem o devido cuidado; de risco não podem ser tratados.

169
Chegou a hora de revisar! Use o Mapa Mental a seguir para as suas anotações. Utilize os campos como guia para
facilitar a sua revisão e anote tudo aquilo que achar importante para a memorização do conteúdo.

DIFTERIA:
Agente etiológico e
fatores de virulência

FARINGE LARINGITES E
ESTREPTOCÓCICA: BRONQUITES:
Agente etiológico e Agente etiológico e
fatores de virulência fatores de virulência

Trato respiratório superior

MICROBIOLOGIA DO
TRATO RESPIRATÓRIO

Tipos de amostras
Trato Respiratório Inferior para diagnóstico

TUBERCULOSE:
Agente etiológico e Fatores de risco
fatores de virulência associados

PNEUMONIAS:
Agente etiológico e
fatores de virulência

170
1. Os mecanismos de patogenicidade das faringites estreptocócicas são bem elucidados e difun-
didos no meio médico. Com relação às principais complicações sistêmicas associadas a essa
patologia, assinale a alternativa verdadeira:

a) As complicações neurais e oculares são comuns após infecções sistêmicas por Streptococcus
pyogenes.
b) A ocorrência de febre reumática e de glomerulonefrite são patologias associadas a faringites
estreptocócicas.
c) Doenças de ordem gastrointestinal são comuns após faringites estreptocócicas.
d) Pneumonia por Streptococcus pneumoniae é uma sequela comum após faringites estrepto-
cócicas.
e) Não existem doenças pós-faringite estreptocócica relatadas na literatura.

2. Assinale a alternativa que contém os causadores da difteria e da coqueluche, respectivamente:

a) Streptococcus pyogenes e Corynebacterium diphtheriae.


b) Bordetella pertussis e Corynebacterium diphtheriae.
c) Corynebacterium diphtheriae e Bordetella pertussis.
d) Bordetella pertussis e Streptococcus pyogenes.
e) Bordetella pertussis e Streptococcus pneumoniae.

3. Assinale a alternativa que contém os critérios corretos para diagnósticos, em microbiologia,


para o Mycobacterium tuberculosis:

a) Laboratório de nível de biossegurança 3 ou 4; uso de Equipamentos de Proteção Individual


(EPIs) mais robustos, como máscaras de alto potencial de filtração; treinamento dos analistas
quanto aos riscos de contaminação e de preparo da amostra; verificação da qualidade do
escarro fornecido como amostra; e disposição de meios de cultura, como ágar Lowenstein-
-Jensen, para incubações superiores a sete dias.
b) Laboratório de nível de biossegurança 3 ou 4; uso de Equipamentos de Proteção Individual
(EPIs) usuais, como máscaras duplas e descartáveis; treinamento dos analistas quanto aos
riscos de contaminação e de preparo da amostra; verificação da qualidade do escarro for-
necido como amostra; e disposição de meios de cultura, como ágar Bordet-Gengou, para
incubações superiores a sete dias.
c) Laboratório de nível de biossegurança 2 ou 4; uso de Equipamentos de Proteção Individual
(EPIs) mais robustos, como máscaras de alto potencial de filtração; treinamento dos analistas
quanto aos riscos de contaminação e de preparo da amostra; verificação da qualidade do
escarro fornecido como amostra; e disposição de meios de cultura pouco nutritivos para
períodos de incubação curtos.

171
d) Laboratório de nível de biossegurança 2 ou 3; uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs)
mais robustos, como máscaras de alto potencial de filtração; treinamento dos analistas quanto
aos riscos de contaminação e de preparo da amostra; e disposição de meios de cultura pouco
nutritivos para períodos de incubação curtos.
e) Laboratório de nível de biossegurança 2 ou 3; uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs)
usuais, como máscaras duplas e descartáveis; treinamento dos analistas quanto aos riscos de
contaminação e de preparo da amostra; e disposição de meios de cultura pouco nutritivos para
períodos de incubação longos.

172
6
Aspectos Clínicos,
Epidemiológicos
e Laboratoriais de
Infecções Bacterianas
de SNC e Sistema
Sanguíneo.
Me. Suelen Eloise Simoni

Neste capítulo, você terá a oportunidade de aprender mais a res-


peito dos tecidos cardíaco e neural e das relações deles com as
doenças bacterianas. Você será capaz de entender que meios os
microrganismos utilizam para acessar esses sistemas e as conse-
quências de doenças infecciosas em sítios anatômicos tão vitais.
Como futuro analista, você, também, estudará os principais métodos
de diagnóstico e as particularidades em relação ao material clínico
aplicado para a triagem de determinada patologia.
UNICESUMAR

Conhecida a estrutura procariótica das bactérias,


e sabido que, fundamentalmente, elas são despro- Por mais que um sistema, altamente, funcio-
vidas de um grande maquinário celular, acompa- nal, composto por inúmeras células, não seja, to-
nhe a frase a seguir, retirada de uma reportagem: talmente, desenvolvido em alguns organismos,
“Os pesquisadores concluíram que essa criatura, dezenas de habilidades são aprimoradas por eles,
apesar de não ter um sistema nervoso central, é os quais mimetizam essas propriedades especiais
capaz de “aprender” com experiências e mudar de sobrevivência que possuímos. Em diversas si-
de comportamento, de acordo com elas” (BLOB, tuações, como na da criatura descrita anterior-
2019, on-line). Se disséssemos que essa criatura, mente, isso é feito com sucesso, entretanto, nos
que é capaz de memorizar e de solucionar labi- casos nos quais essa adaptação não é possível,
rintos, é uma bactéria, faria sentido com tudo o vários microrganismos utilizam fatores de viru-
que você já aprendeu a respeito do tema? lência e o nosso maquinário vital para a própria
É, praticamente, impossível que tal função sobrevivência, com a presença do parasitismo
fosse desempenhada por uma bactéria, não é e de desdobramentos patológicos importantes.
mesmo?! No entanto, por mais que as diferen- Convidamos você, agora, para ler a respeito
ças entre seres humanos e microrganismos seja dessa misteriosa criatura, e entender como a na-
grande, a natureza, sempre, lança mão de alguns tureza é incrível e tem maneiras extraordinárias
truques que possam refutar essa condição. Isso de se sobressair frente a desafios que aparecem.
ocorre pois a presença de sistemas complexos, Leia a matéria completa do “Blob”, fungo curioso
como o nervoso e o cardíaco, contribui para a e protagonista desde o início do estudo, através
sobrevivência e a perpetuação da espécie huma- do QRCode. Depois, reflita: quais são os siste-
na, motivo que é, essencialmente, a razão para mas apresentados pela criatura que “imitam” a
que organismos evoluam de maneira semelhante. fisiologia humana?

174
UNIDADE 6

Depois da leitura, é possível que alguns questionamentos ocorram, prin-


cipalmente, aqueles relacionados ao potencial patogênico do Blob, pelo
fato de ele ser um fungo muito habilidoso, no entanto, não é preciso se
preocupar. Até o momento, é considerado, praticamente, uma ameba
de vida livre, que tem preferência por locais de alta umidade e ausência
de luz. No entanto, é sabido que algumas bactérias, mesmo sem ter a
organização fantástica do Blob, possuem capacidade de desencadear
processos clínicos notórios no organismo humano. Ao pensar nisso,
pense um pouco nas seguintes questões:

• Quais seriam os maiores pontos de vulnerabilidade nos sistemas complexos, como o nervoso
e o circulatório, relacionados à suscetibilidade deles aos patógenos?
• Quais seriam as principais habilidades importantes para que os procariontes afetem tais sistemas?

175
UNICESUMAR

Nesta unidade, dedicar-nos-emos ao estudo de dois sistemas vitais para a fisiologia humana: o circu-
latório e o nervoso.
Assim como qualquer organização do nosso corpo, os sistemas cardíaco e vascular dependem,
diretamente, do conjunto de células nervosas para desempenhar algumas funções, mas devemos
estudá-los separadamente, para facilitar o nosso processo de aprendizado.
Partiremos para o sistema circulatório, responsável pela distribuição de oxigênio e de nutrien-
tes para o organismo, principal meio de transporte para hormônios, enzimas, medicamentos, células
imunes e microrganismos.
Também, conhecido como sistema cardiovascular, o componente circulatório é formado por três
itens principais: o sangue, o coração e os vasos sanguíneos. Dentre as estruturas mais relevantes para
o estudo das infecções desse sistema, destacam-se as camadas cardíacas, como epicárdio, miocárdio
e endocárdio, localizadas dentro do saco pericárdico e dispostas nessa ordem, de fora para dentro.
Ainda, há o sangue, composto por plasma (água, sais e fatores de coagulação) e por uma parte sólida,
formada por hemácias, leucócitos e plaquetas (BLACK; BLACK, 2021).

É importantíssimo que você, aluno (a), atente-se às localizações das três camadas mais
internas do coração, afinal, as doenças bacterianas que o acometem são denominadas de
acordo com o local da infecção: endocardite e miocardite.

Já estudamos um tipo de miocardite, decorrente de uma infecção bacteriana de vias respiratórias


superiores, mas você se recorda dela? Trata-se da febre reumática, causada pelo ataque de com-
ponentes imunes do nosso próprio sistema às células do miocárdio, que possuem um revestimento
molecular muito semelhante ao da proteína M, presente na superfície do Streptococcus pyogenes.
Como você já observou, e muito, esse microrganismo anteriormente, não o analisaremos a fundo
neste material, mas recomendamos que você mantenha viva essa memória, ao adicioná-la ao Mapa
Mental, no fim do estudo.
O sistema cardiovascular não possui microbiota normal, por isso, é considerado estéril. Em uma
situação de invasões na corrente sanguínea, por bactérias, essa condição é chamada de bacteremia.
Se o sistema imune falha e não combate a presença desse microrganismo, a condição pode evoluir
para septicemia, o que ocasiona um verdadeiro envenenamento do sangue. A entrada de agentes
infecciosos pode acontecer através de ferimentos na pele e nos focos purulentos, como abcessos e
placas (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).
As septicemias podem ser causadas por uma variedade de microrganismos, como Staphylococcus au-
reus, Streptococcus pneumoniae, espécies de Pseudomonas, Klebsiella, Proteus, Enterobacter e Serratia.
A presença de bactérias na corrente sanguínea coloca o indivíduo em risco de choque séptico,
caracterizado pelo colapso dos vasos e pela baixa pressão arterial. O principal mecanismo de
patogenicidade exibido pelas bactérias, nesse caso, é a liberação de endotoxinas. Por essa razão, a
ocorrência de septicemias, seguidas por choque séptico, são muito associadas aos Gram negativos. Os

176
UNIDADE 6

sintomas costumam envolver febre alta, inflamação dos vasos linfáticos, ou linfangite, com a revelação
de manchas avermelhadas na pele (Figura 1). Por fim, há falência circulatória, condição que pode,
facilmente, levar o indivíduo a óbito (BLACK; BLACK, 2021).

Figura 1 – Paciente com apresentação típica de linfangite. / Fonte: Murray, Rosenthal e Pfaller (2021, p. 679).

Descrição da Imagem: na figura, há uma foto de um indivíduo na qual a câmera foca, apenas, no antebraço direito, com o cotovelo
indicado para baixo. Na parte interna do membro, em sentido horizontal, é possível observar um rash cutâneo e avermelhado em
formato de faixa, o que caracteriza a manifestação clínica típica de linfangite.

Sabe-se, também, que a bacteremia, seguida de sepse, normalmente, ocorre em pacientes hospita-
lizados, e o período de incubação dos microrganismos é muito menor, visto que a presença deles, na
corrente sanguínea, facilita o acesso a diversos tecidos e sistemas.
É comum que sintomas de sepse se iniciem após procedimentos médicos invasivos, o que indica uma
possível infecção hospitalar. É possível notar características epidemiológicas nacionais importantes em
relação à sepse, como a morte de até cinquenta mil pessoas por ano, uma distribuição de ocorrência
similar entre homens e mulheres, e a população idosa como a mais vulnerável (ALMEIDA et al., 2022).
Alguns quadros de sepse podem atingir crianças e neonatos, como no caso do desencadeado pela
presença do Streptococcus agalactiae, um estreptococo do grupo B, beta hemolítico, e que possui, na
membrana celular, uma proteína de superfície, chamada de antígeno C. O principal fator de virulência
da bactéria é a presença da cápsula polissacarídica, que dificulta a fagocitose. Ao mesmo tempo, essa
estrutura permite a produção de anticorpos de memória, fato que se relaciona, diretamente, a uma
maior predominância de sepse em bebês, uma vez que o sistema imune deles é imaturo (MURRAY;
ROSENTHAL; PFALLER, 2021).

177
UNICESUMAR

A bactéria faz parte da microbiota normal da catalase negativa, assim como o S. agalactiae, e
vagina, o que facilita a infecção do bebê previa- são associados a septicemias, devido à liberação
mente, ou durante o parto. A prática de profi- de exotoxinas, uma vez que atingem a corrente
laxia antimicrobiana, nesse caso, pode ser indi- sanguínea. Além disso, os componentes do grupo
cada, principalmente, se atestado que a gestante dos enterococos são conhecidos por exibir uma
possui colonização pelo S. agalactiae. O trata- grande resistência aos antimicrobianos usuais
mento imediato, à base de penicilinas, também, e aos de amplo espectro, como a vancomicina.
contribui para uma redução da mortalidade de Dessa maneira, pacientes imunossuprimidos são
recém-nascidos por sepse, uma vez que os sin- os indivíduos mais acometidos por esse grupo
tomas, como febre e desconforto respiratório, (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
são sinais de alerta ao corpo médico, assim, me- As infecções cardíacas, por sua vez, podem
didas farmacológicas e não farmacológicas de ser divididas em endocardite e miocardite.
contenção são tomadas rapidamente (MURRAY; A endocardite é a infecção da parede mais
ROSENTHAL; PFALLER, 2021). interna do coração, local atingido a partir da
O diagnóstico de doenças causadas pelo S. aga- corrente sanguínea, e a principal característica
lactiae envolve a detecção do antígeno de superfí- patológica tecidual dessa doença é a deposição
cie em exames genitais de gestantes; testes de reação de fibrina nas válvulas cardíacas (Figura 2), às
da polimerase nas mesmas amostras, e cultura em quais as bactérias se aderem, com a formação de
meios nutritivos, a partir do sangue de indivíduos uma grande massa (também, chamada de vege-
nos quais há a suspeita de doença causada pelo mi- tação), responsável por deformar as válvulas e
crorganismo (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019). diminuir a flexibilidade delas, a fim de tornar o
O Enterococcus faecium e o Enterococcus bombeamento entre átrios e ventrículos menos
faecalis, também, são cocos Gram positivos e eficiente (BLACK; BLACK, 2021).

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UNIDADE 6

Vegetações de fibrina-plaqueta

Aparência normal
Figura 2 – Coração com deposição de fibrina em válvulas cardíacas. / Fonte: Tortora, Funke e Case (2019, p. 681).

Descrição da Imagem: na figura, há uma foto de um coração humano real, visto internamente, com uma característica macroscópica
(coloração e textura) preservada. A parte doente do órgão está na válvula cardíaca, na parte central da figura, na qual os nódulos
disformes, de aspecto rugoso e corados de vermelho e amarelo, são indicados por três traços pretos e pela escrita “vegetações de
fibrina-plaqueta”, em inglês. A parte saudável é indicada por dois traços pretos e pela escrita “aparência” normal, em inglês, e, nesse
ponto, o tecido se apresenta avermelhado, liso e brilhante.

A insuficiência cardíaca congestiva é uma das lococcus aureus, que, se não combatido, pode
consequências mais comuns da endocardite, carac- levar o indivíduo acometido a óbito em poucos
terizada, clinicamente, pela redução dos batimen- dias (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019). Dentre
tos e pela força de contração cardíaca provoca- os fatores de virulência, a presença da cápsula,
da pelo acúmulo de fluidos ao redor do coração na bactéria, impede a fagocitose; a proteína A,
(BLACK; BLACK, 2021). A forma subaguda da de superfície, bloqueia a ligação de anticorpos
doença (com um desenvolvimento mais lento) pode à bactéria; e a produção de enzimas (coagulase,
ser causada por bactérias presentes na microbiota hialuronidase) interfere na coagulação sanguínea
normal, mas que invadem a corrente sanguínea, e realiza a hidrólise do tecido conectivo (MUR-
devido a feridas em procedimentos invasivos, como RAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
tratamentos dentários. Dentre elas, alguns estrep- O diagnóstico da doença é uma associação
tococos alfa hemolíticos, espécies de enterococos e dos sinais clínicos e laboratoriais encontra-
estafilococos podem estar envolvidos. dos em exames de hemoculturas, tratados, mais
Na forma aguda e mais agressiva, a patologia adiante, neste material. O tratamento dos pacien-
costuma ter, como agente etiológico, o Staphy- tes com endocardite consiste na administração

179
UNICESUMAR

de antimicrobianos apropriados e definidos após testes de sensibilidade microbiana. Além disso, não
é incomum que seja necessária a substituição de válvulas cardíacas naqueles indivíduos com a mani-
festação da doença mais severa (BLACK; BLACK; 2021).
A miocardite, por sua vez, é a inflamação do miocárdio, e, na maioria dos casos, o causador é o S.
aureus. Evolui, facilmente, para a pericardite (inflamação do pericárdio, a membrana que reveste o
coração). O índice de mortalidade para miocardites e pericardites é próximo de 100% em pacientes
não tratados, o que torna essas patologias de importância médica, principalmente, em ambiente
hospitalar. O diagnóstico, também, pode ser feito através de sinais laboratoriais, obtidos a partir
de hemocultura, e a escolha do tratamento se dá de forma semelhante à das endocardites (BLACK;
BLACK, 2021).
De forma indireta, bacteremias podem ser determinantes para a ocorrência de doenças que acome-
tem outros sistemas, como o respiratório, em situações nas quais amostras sanguíneas contaminadas
não são destinadas para um tratamento adequado, ou quando tecidos contaminados ficam expostos em
um ambiente. É o caso do Bacillus anthracis, o causador do antraz. O bacilo Gram positivo tem, na
forma respiratória, o maior potencial patogênico, o qual só é possível de acontecer quando esporos
do microrganismo ficam livres para ser inalados. Sabe-se que, quando presente na corrente sanguínea,
a bactéria não está na forma esporulada, no entanto, ela, rapidamente, esporula se exposta no ar-am-
biente, como no caso de carcaças de animais infectados que podem contaminar o solo. O grande
agravante é que os esporos do B. anthracis ficam viáveis por até 60 anos (BLACK; BLACK, 2021).
A peste bubônica, ou praga (também, chamada de peste negra, em decorrência de feridas escuras
na pele, característica visual chamativa dessa doença), é causada pelo bacilo Gram negativo Yersinia
pestis, produtora de enzimas que enfraquecem o sistema imune por evadir da resposta inflamatória,
escapar da fagocitose. A pandemia de peste bubônica atingiu todo o continente europeu entre 1347
e 1353, e apresentou, ao mundo, os perigos de uma doença bacteriana desconhecida e, quase sempre,
fatal (BLACK; BLACK, 2021).

A peste
conhecida
na Europa
como Black death 180
UNIDADE 6

É uma zoonose, e o homem e os ratos são os principais acometidos pela doença, que é transmitida pela
picada da pulga Xenopsylla cheopis infectada. O efeito patogênico, no inseto, dá-se pela multipli-
cação excessiva da bactéria, seguida pela formação de uma obstrução no trato digestório do inseto,
fato que faz com que ele tenha necessidade imediata de se alimentar. Através das picadas, ele faz uma
“refeição”. No entanto, regurgita, rapidamente, o conteúdo sanguíneo sugado, pois contém uma grande
concentração de Y.pestis na composição. Isso faz com que a bactéria tenha mais facilidade para invadir
a corrente sanguínea (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).
A bactéria se direciona, então, para o sistema linfático humano, no qual parasita células imunes e
se internaliza nos macrófagos. O período de incubação é de cerca de três dias, e os primeiros sinais da
doença são dores no corpo, cefaleia e cansaço. Entretanto, a resistência à destruição imunológica e a
produção de endotoxina, exibidas pela bactéria, tornam-na capaz de causar linfedema, febre e bubões
doloridos (lesões de grande inchaço), formados por uma massa de gânglios linfáticos e ricos em
conteúdo bacteriano. O enegrecimento de extremidades, como dedos das mãos e dos pés, também, é
uma característica marcante da doença (Figura 3). Ainda, fígado, rins, baço e sistema nervoso podem
ser acometidos, e se a doença não é identificada e tratada, a evolução dos sintomas é muito prejudicial,
a fim de comprometer múltiplos órgãos e poder ocasionar o choque tóxico. A doença, mais uma vez,
possui uma manifestação respiratória, chamada de forma pneumônica, a qual pode ser desenvolvida
a partir de septicemia, ou inalação da bactéria (BRASIL, 2008).

Figura 3 – Lesão de extremidade característica da


peste bubônica.
Fonte: Tortora, Funke e Case (2019, p. 687).

Descrição da Imagem: na figura, há a foto da mão


direita de um indivíduo, com a palma virada para
cima e com os dedos, levemente, dobrados, de forma
que a ponta dos dedos encontra o centro da palma
da mão. Há uma grande lesão, de aspecto endurecido
e de coloração preta e escura, que vai da região do
punho até a ponta dos dedos, e acomete, inclusive,
as unhas.

No Brasil, os principais focos das pes-


tes bubônicas animal e humana estão no
Nordeste, norte de Minas Gerais e Rio
de Janeiro. Essas regiões são passíveis de
transmissão, em detrimento das condições
ambientais, como temperatura, umidade,
vegetação e fauna.
O diagnóstico precoce é imprescindível,
pois auxilia no tratamento adequado do
paciente, mas, também, norteia as equipes epidemiológicas locais quanto a riscos de epidemias e a
condutas tomadas como medidas de contenção.

181
UNICESUMAR

O diagnóstico bacteriológico é possível ao se utilizar, principalmente, o exsudato, proveniente dos


bubões, realizada, com ele, uma bacterioscopia (utilização de uma coloração azul de metileno), uma
semeadura em ágar, sangue, com uma confirmação pelo teste do bacteriófago, que consiste em se
colocar a colônia suspeita em contato com o vírus. No caso de inibição de crescimento a partir de
uma incubação a 28°C, o teste é considerado positivo para Y. pestis. O diagnóstico, também, pode ser
feito a partir da hemocultura, e, quando verificada a bacteremia, o prognóstico da doença costuma
ser ruim (BRASIL, 2008).
Doenças bacterianas transmitidas por picadas de carrapatos, também, não são desconhecidas, de
maneira que os distúrbios causados por espécies de riquétsias foram descritos há muito tempo. Essas
bactérias são cocobacilos Gram negativos, muito pequenos, e intracelulares obrigatórios. Sobrevivem
no interior de macrófagos por destruir os fagossomas dessas células, por meio de fosfolipases, com
o impedimento da degradação. A causadora da febre maculosa das montanhas rochosas, Rickettsia
rickettsii (Figura 4), possui estruturas celulares que representam bem esse grupo (MURRAY; RO-
SENTHAL; PFALLER, 2021).

Figura 4 – Rickettsia spp com a infecção de uma célula humana. / Fonte: Murray, Rosenthal e Pfaller (2021, p. 345).

Descrição da Imagem: na figura, há uma foto de uma lâmina microscópica de fundo branco e em aumento de 400. No centro, há uma
célula arredondada, de núcleo roxo e citoplasma translúcido, delimitada com uma fina membrana. Dispersas na célula, são observadas
bactérias em forma de bastonetes e da cor rosa, de forma intracelular. No fundo, a imagem possui alguns borrões escuros que não
impedem a visualização da célula.

182
UNIDADE 6

Os principais fatores de virulência que en- também, da Leishmaniose). Tem, como principal
volvem esse gênero são a presença de proteína característica, a ocorrência de anemia hemolíti-
A na membrana, que é responsável por aderir ca em indivíduos imunocomprometidos infecta-
bactérias às células endoteliais; e a destruição do dos (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
fagossoma, o que permite a replicação bacteriana O diagnóstico de doenças causadas por riquét-
no interior da célula. A ação bacteriana ocasiona sias costuma ser clínico e através de testes sorológi-
lesão celular e perfuração do endotélio circu- cos, uma vez que o cultivo desses microrganismos,
latório, o que pode gerar hipovolemia e hipo- em um laboratório, é muito caro, com a necessida-
proteinemia pela perda sanguínea (MURRAY; de de ovos embrionados. Ainda, é, extremamente,
ROSENTHAL; PFALLER, 2021). perigoso, devido à alta patogenia de todas as espé-
Uma doença, denominada de tifo, é causada cies. O tratamento das patologias pode ser feito
por uma riquétsia que cresce, apenas, no cito- através da administração de antimicrobianos, como
plasma da célula, e inclui uma variedade de for- tetraciclina e cloranfenicol, no entanto, essas subs-
mas. Os tifos epidêmico e endêmico (murino) tâncias, apenas, inibem a proliferação das bactérias.
são os mais conhecidos. O tipo epidêmico, ou Por conta disso, a terapia costuma ser prolongada,
clássico, tem, como agente etiológico, a bactéria e por tempo indeterminado, ao menos, até o mo-
Rickettsia prowazekii, transmitida por piolhos. mento em que o corpo reúne forças para superar a
As fezes deles, através da abrasão, causada quan- infecção (BLACK, BLACK, 2021).
do o indivíduo se coça, permitem que a bactéria
tenha contato com o sistema sanguíneo, o que
desencadeia febre, cefaleia e exantema de tronco.
O tifo endêmico, causado pela Rickettsia typhi, A doença de Lyme, que tem, como agente
e transmitido pela picada de pulgas, tem uma etiológico, a espiroqueta Borrelia burgdorferi,
baixa mortalidade e é autolimitado, de manei- também, é uma zoonose de importância mé-
ra que os sintomas de febre, calafrios e cefaleia dica, transmitida pela picada de um carrapato.
finalizam em cerca de duas semanas (BLACK; Um traço epidemiológico interessante dessa
BLACK, 2021). patologia é que a incidência aumentou, devido

Semelhante ao tifo epidêmico, em relação à a modificações do ecossistema, isso porque os


cervos-de-cauda-branca, animais que são reser-
forma de transmissão, a febre das trincheiras,
vatórios da bactéria, deixaram de ser caçados
também, é uma doença causadora de bactere-
após a colonização inglesa do território norte-
mias, e tem, como agente etiológico, a bactéria
-americano, e, com o aumento dos reservató-
Bartonella spp, observada, pela primeira vez,
rios, a doença, naturalmente, teve a ocorrência
na Primeira Guerra Mundial, em soldados que aumentada entre os humanos. Em todos os
dividiam as mesmas roupas (impregnadas com casos, no local da picada, é possível observar
inúmeros piolhos). Os sintomas envolvem fe- um exantema em forma de olho de touro, mas
bres altas, dores intensas nas pernas e, até mesmo, os piores desdobramentos, certamente, são
confusão mental. O gênero, também, é respon- as ocorrências de artrite e perda de mielina,
sável por causar a bartonelose (especificamen- que reveste as células nervosas, com sintomas
te, a espécie B. bacilliformis), transmitida por semelhantes aos da doença de Alzheimer e da
flebotomíneos (um tipo de mosquito, causador, esclerose múltipla (BLACK; BLACK, 2021).

183
UNICESUMAR

A brucelose, ou febre ondulante, zoonose causada por espécies da bactéria Brucella spp, não é trans-
mitida pela mordedura de animais, no entanto, quando o indivíduo consome leite contaminado, ou
inspira bioaerossóis que contêm a bactéria, pode ter o sistema circulatório dele invadido.
A bacteremia ocasiona a formação de granulomas no sistema reticuloendotelial. Além disso,
ciclos diários de febre alta durante a tarde, e baixa durante a noite, podem ocorrer devido à liberação
da bactéria pelos granulomas. Ainda, por ser importante, é uma doença de sintomas inespecíficos, a
fim de acometer baço, fígado e linfonodos, contudo, é, potencialmente, passível de ser utilizada como
uma arma biológica, devido ao potencial patogênico (BLACK; BLACK, 2021).
As espécies B. abortus, B. melitensis, B. suis e B. canis são as mais conhecidas e de importâncias
veterinária e humana. Esse bacilo Gram negativo pode ser identificado em um ambiente microbiológi-
co, a partir de amostras de hemocultura, aspirado do fígado, do baço e do Líquido Céfalo Raquidiano
(LCR). É considerado fastidioso (de crescimento dificultado e com altas exigências nutricionais) e
se difere de outros microrganismos, como Bordetella spp, Acinetobacter spp e Moraxella spp, por
provas bioquímicas, como crescimento em ágar Mac Conkey e prova da motilidade com resultado
negativo. No entanto, a caracterização laboratorial desse microrganismo é dificultada, assim, necessita
de estrutura física e analistas muito treinados para essa atividade (BRASIL, 2013).
Como exemplo de doença que, também, é gerada por transtornos circulatórios, temos a gangrena,
situação na qual o fornecimento de sangue é interrompido (isquemia) em decorrência de alguma
lesão, ou ferida na pele. Esse processo pode ser acelerado por microrganismos anaeróbios, os quais
contribuem para a necrose e a morte tecidual. Dentre eles, destaca-se o Clostridium perfringens, que,
ao utilizar as substâncias presentes na lesão (como carboidratos), produz um gás que inflama ainda
mais o tecido. Ainda, o microrganismo produz toxinas que consomem as células do local e degradam
o colágeno, com a criação de um ambiente propício para a proliferação de mais bactérias. A dissemi-
nação bacteriana, fatalmente, influencia na invasão desses organismos na corrente sanguínea, a fim de
causar bacteremia e septicemia. O tratamento mais comum é a amputação, ou câmaras hiperbáricas,
principalmente, se a lesão está presente em locais de armazenamento, ou de proteção de órgãos vitais
(MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).

184
UNIDADE 6

É claro que existem mais condições cardíacas e vasculares causadas pelo vírus, como o Ebola, que
interrompe a cadeia de coagulação sanguínea; ou protozoários, como o Trypanosoma cruzi. São diag-
nosticadas, em sua maioria, por testes sorológicos e parasitológicos, mas elas serão, profundamente,
abordadas em disciplinas, como Imunologia e Parasitologia.

Fica evidente que, quando sistemas mais complexos são acometidos por infecções, o manejo do pa-
ciente e as decisões médicas devem ser mais urgentes, não é mesmo?! Ao se estudarem as infecções
do sistema nervoso central, essa afirmativa se torna, ainda mais, real, uma vez que o acometimento
desse componente fisiológico interfere em, praticamente, todo o organismo humano.

O Sistema Nervoso (SN) (Figura 5) é um conjunto de neurônios e células nervosas que trabalha em
sintonia para o controle de funções corporais, como respiração, digestão e batimento cardíaco. Ele é
composto pelo Sistema Nervoso Central (SNC) e pelo Sistema Nervoso Periférico (SNP). O SNC
é constituído por encéfalo e medula espinhal, os quais são protegidos pelas meninges (membranas
de tecido conjuntivo), as quais abrigam o LCR. O SNP é formado por nervos que se comunicam com
o SNC através de sinais elétricos, formados por fibras nervosas, organizadas em gânglios, os quais
são responsáveis pela transmissão sensorial (BLACK; BLACK, 2021).

Cérebro
Sistema nervoso
Medula espinhal central (SNC)

Sistema nervoso periférico (SNP)

Figura 5 – Sistemas nervosos central e periférico. / Fonte: Tortora, Funke e Case (2019, p. 646).

Descrição da Imagem: na figura, há um desenho de um corpo humano masculino em um plano coronal. É possível observar os ossos
da pelve e o início dos fêmures do indivíduo, tonalizados na cor branca e localizados na região pélvica. Da cor amarela, está repre-
sentado o cérebro, em formato oval, e localizado entre o topo da cabeça e o meio do nariz, o qual está interligado aos nervos do SNP,
representados como filamentos cilíndricos, na horizontal, na cor amarela, que iniciam na medula espinhal (localizada bem ao centro
do corpo, em linha vertical) e terminam nas extremidades visíveis.

185
UNICESUMAR

O SN é protegido, fisicamente, pelos ossos e pelas meninges (tecido conjuntivo organizado em três
camadas: dura-máter, pia-máter e aracnoide), incluindo o sistema cardiorrespiratório, que, também,
é estéril, de maneira que a invasão de qualquer microrganismo ocasiona sintomas importantes e,
muitas vezes, de ordem sistêmica.
A entrada de patógenos se dá por traumas e através do sangue que tem um contato íntimo com
a barreira hematoencefálica (Figura 6), conjunto de células endoteliais, pericitos e astrócitos, em
forma de membrana, que possui estrutura espessa, resistente e não porosa. A função é a de realizar a
seleção de oxigênio e de glicose para dentro do SN, além de bloquear a entrada de partículas maio-
res, como bactérias. O SN é protegido, também, pelos fagócitos do sistema imune, denominados de
células da micróglia.
BARREIRA
Bactérias, HEMATOENCEFÁLICA:
anticorpos e
compostos Células endoteliais
químicos
Pericitos
Astrócitos

Figura 6 – Estrutura organizacional da barreira hematoencefálica. / Fonte: Pesquisa FAPESP (2017, on-line).

Descrição da Imagem: a figura apresenta um desenho da barreira hematoencefálica, na qual todos os elementos celulares estão agru-
pados em um círculo de bordas da cor azul, bem escura. O círculo está dividido ao meio, e por um traço, com o côncavo voltado para a
esquerda. Do lado esquerdo, e de fundo rosa, há a escrita “vaso sanguíneo” com letras pretas, o que indica que se trata dessa estrutura.
Círculos das cores amarela, verde e azul estão dispersos nessa região, e a escrita “bactérias, anticorpos e compostos químicos”, com
letras pretas, indicam que se trata desses elementos. Ainda, pequenos círculos brancos representam o oxigênio e a glicose. No lado
convexo do traço, há um conjunto de células ovais da cor rosa, com núcleos roxos, organizadas em fila e na vertical, o que representa
as células endoteliais da barreira hematoencefálica. Logo atrás dessa estrutura, à direita, há um filamento da cor laranja que possui,
nas extremidades inferior e superior, núcleos pontiagudos da cor azul. No lado direito, e para finalizar a figura, há um espaço de fundo
cinza com a escrita “cérebro”, que indica que se trata desse órgão. Desenhadas em cima dele, há células em formato de boomerang,
e da cor azul escuro, os astrócitos.

As infecções no SNC, geralmente, causam episódios de muita dor e desconforto, isso porque a presença
das bactérias ativa nociceptores (receptores cerebrais de dor) durante o período da doença, fato que
ocorre, por exemplo, nas meningites. As meningites bacterianas são caracterizadas por inflamação
nas meninges, obstrução de vasos sanguíneos, aumento de pressão intracraniana, edema cerebral e

186
UNIDADE 6

bloqueio da circulação do LCR. Assim, os sintomas clássicos de cefaleia, febre e calafrios estão, sempre,
presentes (BLACK; BLACK, 2021). A transmissão, frequentemente, é endógena, ou seja, através da
passagem de microrganismos já presentes no indivíduo, os quais invadem a barreira hematoencefálica
após cirurgias medulares e traumas no SN (BLACK; BLACK, 2021).
O diagnóstico laboratorial é muito importante para a resolução dos casos de meningite, a fim
de ocorrer através do cultivo do LCR coletado em condições médicas muito específicas. Já vimos um
exemplo de como ocorre essa coleta, incluindo as condições para que ela seja feita da maneira correta.
Ainda, sugerimos que você se lembre delas e faça as suas anotações.
No momento da coleta, o líquido, em condições normais, é límpido, e quase desprovido de cor, mas,
em situações de infecção, apresenta-se turvo e espesso, devido à grande concentração de bactérias e
de células de defesa (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).
O meningococo (Figura 7), maneira através da qual o agente etiológico Neisseria meningitidis é
conhecido, dissemina-se a partir da nasofaringe para o sangue, e, em situações de fragilidade imune,
alcança o SN. Esse coco Gram negativo, normalmente, organiza-se em pares, é catalase positivo, e,
assim como o N. gonorrhoea, o maior fator de virulência é a presença da cápsula polissacarídica
(MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021). Além disso, a presença de pili, na superfície, é impor-
tante para a fixação em endotélios não ciliados e para o combate à fagocitose pelos leucócitos. As
proteínas porinas, na superfície, facilitam a absorção de nutrientes, e a produção de beta lactamases,
também, contribui para que a bactéria persista no organismo mesmo sob administração de medica-
mentos (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).

Figura 7 – Meningococo em lâmina microscópica. Material: líquido cefalorraquidiano / Fonte: Shutterstock ([2023a], on-line).

Descrição da Imagem: na figura, há uma foto de uma amostra em lâmina microscópica, vista com um aumento de 400 vezes. Nela,
existem inúmeros leucócitos; células de citoplasma da cor rosa, bem clara; e um núcleo segmentado da cor rosa, e escuro. No centro da
figura, há um leucócito com inclusões citoplasmáticas em forma esférica e na cor rosa, escuro. Essas inclusões representam a bactéria
Neisseria meningitidis. O conjunto de bactérias, ainda, pode ser observado em mais três células, localizadas à esquerda, à direita, e,
superiormente, na célula central.

187
UNICESUMAR

A infecção se dá pela internalização e pela proli- da incidência da doença (MENINGITE, 2023).


feração da bactéria nos macrófagos, a fim de pro- As meningites, nessa ocasião, foram geradas após
vocar a morte dessas células. A patologia, comu- infecções pulmonares, dos seios nasais, ou da
mente, inicia-se abruptamente, com dores de orelha, provocadas pelo microrganismo (BLACK;
cabeça intensas, febre alta e vômito, isso porque o BLACK, 2021).
N. meningitidis produz uma grande concentração A Listeria monocytogenes, um bacilo Gram
de endotoxinas, e a bactéria, ainda, consome a positivo e catalase positiva, pode ser transmiti-
glicose, enviada para o SN, para nutrir as células da aos seres humanos através do consumo de
nervosas e imunes. Em casos mais extremos, pode alimentos contaminados, como leite, carnes e
acontecer a síndrome de Waterhouse-Frideri- vegetais. A bactéria é capaz de atravessar a bar-
chsen (coagulação intravascular e hemorragia), reira hematoencefálica, através da interação en-
que leva o indivíduo infectado à morte (BLACK; tre as proteínas da superfície e a glicoproteína das
BLACK, 2021). células. Uma vez circulante no SN, parasita ma-
Crianças menores de um ano são mais pas- crófagos presentes na região. A listeriose deve ser
síveis de sofrer com as meningites meningocó- investigada, principalmente, em gestantes, sem-
cicas, uma vez que ocorrem em indivíduos que pre que os sintomas de meningite são evidentes,
não possuem anticorpos específicos contra o isso porque, além de ser um dos grupos afetados
polissacarídeo presente na cápsula da bactéria por essa patologia, a bactéria é capaz, também, de
(MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021). atravessar a placenta, a fim de causar um dano
Dessa maneira, a aplicação da vacina menin- fetal, ou aborto (BLACK; BLACK, 2021).
gocócica C é a principal forma de profilaxia, É curioso como o comportamento das bactérias
responsável pela diminuição do coeficiente de pode mudar, a depender da amostra na qual são
incidência da doença no Brasil, e é parte do calen- isoladas. Para LCR, a cultura de L. monocyto-
dário vacinal para crianças de três a cinco meses genes pode ser dificultada, devido ao reduzido
(MENINGITE, 2023). Em 2022, foi ampliada crescimento em meios sólidos e à necessidade de
para crianças de até 10 anos, para trabalhadores vários dias de incubação. Já quando isolada a partir
da saúde, e para adolescentes de 11 e 12 anos de de alimentos, ela é uma das mais interessantes em
idade. O governo brasileiro, ainda, fornece a va- um meio de cultura, como você poderá observar
cina ACWY, que protege contra os sorotipos A, na Figura 8. Do lado esquerdo, será semeada uma
C, W e Y (BRASIL, 2022). cultura de Listeria monocytogenes NCTC 13372
Para adultos e crianças acima de dois anos, a em ágar Oxford-Listeria (OXA), a fim de se per-
meningite mais incidente é a causada pelo pneu- mitir a visualização da bactéria em colônias da cor
mococo, o Streptococcus pneumoniae. No Bra- pálida, acompanhadas por um precipitado preto e
sil, entre 2007 e 2020, foram notificados cerca proveniente da degradação da bile-esculina do meio.
de 12 mil casos de meningite pneumocócica, Do lado direito, a bactéria será semeada em meio
dos quais 83% dos casos ocorreram em maiores Ágar Listeria de Ottaviani & Agosti (ALOA), e evi-
de cinco anos entre 2011 e 2020. Assim como denciada pela colônia azul-esverdeada, cor gerada
na meningite meningocócica, a introdução pelo composto cromogênico adicionado ao meio de
da vacina (neste caso, a vacina pneumocócica cultura, que revela a produção da enzima β -gluco-
10-pentavalente) foi determinante para a redução sidase, produzida em todas as espécies de Listeria.

188
UNIDADE 6

Figura 8 – Listeria monocytogenes NCTC 13372 semeada em ágar OXA e ALOA. / Fonte: a autora..

Descrição da Imagem: na figura, há uma foto de duas placas de Petri e das respectivas tampas delas, apoiadas em uma superfície plana
e metálica. A placa da esquerda possui uma superfície gelatinosa, na qual está semeada, por semeadura contínua, a colônia bacteriana
de cor esbranquiçada e pálida. No fundo dessa placa, é possível observar um precipitado preto. Na placa da direita, há uma superfície
gelatinosa de coloração amarela, na qual colônias azuis esverdeadas estão semeadas em uma semeadura contínua.

As encefalites, inflamação do encéfalo, podem, também, ser causadas por bactérias, por mais que a
maioria dos casos esteja associada a uma infecção viral. Dentre as bactérias causadoras, destacam-se
as dos gêneros Actinomyces sp, Brucella sp, Chlamydia sp, Listeria monocytogenes, Mycoplasma
pneumoniae, Treponema pallidum e Leptospira sp. (LEWIS; GLASER, 2005).
Com relação a doenças que, também, envolvem manifestações nervosas sistêmicas, talvez, o tétano
seja uma das mais conhecidas. Causada por um bastonete Gram positivo esporulado e anaeróbio
estrito, o Clostridium tetani, o tétano, é transmitido através da inoculação direta da forma esporulada
da bactéria (endósporo) (Figura 9) na corrente sanguínea, por ferimentos ou soluções de continui-
dade. Devido à alta resistência dessa bactéria em condições de baixa umidade e atividade desinfetante,
o manejo de objetos cortantes, e sem a devida proteção, confere um risco a mais aos indivíduos.
O C. tetani faz parte da microbiota de gado bovino. As fezes desses animais são a maneira através
da qual a bactéria habita no solo e chega até os meios de inoculação, o que dá origem à transmissão
acidental do tétano (BLACK; BLACK, 2021).

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UNICESUMAR

Figura 9 – Representação tridimensional do endósporo de Clostridium tetani. / Fonte: Shutterstock ([2023b], on-line).

Descrição da Imagem: na figura, há um desenho de representação tridimensional dos endósporos do C. tetani. Células semelhantes a
uma colher estão dispostas em um fundo branco. A célula é delimitada por uma membrana fina, e da coloração azul, bem escura, com
uma extremidade mais fina e outra mais grossa e em formato esférico. Na extremidade arredondada, há uma esfera com as colorações
laranja e vermelha, a qual representa o endósporo do microrganismo.

cerca de seiscentas pessoas vieram a óbito em


decorrência da patologia. Assim, por mais que
“O tétano só é transmitido pela lesão, por
os números não sejam tão expressivos quanto os
instrumentos enferrujados” é o maior da meningite, são dados preocupantes, uma vez
conto que você deve ouvir durante a sua que a doença possui medidas de profilaxia, como
vida. Pela doença ser transmitida pelo en- a vacinação e o soro antitetânico. A primeira
dósporo do C. tetani, um prego novinho e é aplicada a partir dos dois meses de idade, e, o
prateado pode muito bem conter esporos segundo, logo após a ocorrência de acidentes que
da bactéria em toda a superfície dele. Fique envolvem materiais perfurocortantes suspeitos
atento! (LIMA et al., 2021).
A grande preocupação em relação ao tétano
é que a toxicidade da bactéria é, praticamente,
Entre 2009 e 2019, foi notificado o total de 2.984 fatal quando ela não é detectada rapidamente.
casos de tétano no Brasil, concentrados, na sua A tetanospasmina (neurotoxina termolábil)
maior parte, nas regiões Nordeste e Sudeste. Os é produzida durante a fase estacionária do cres-
indivíduos do sexo masculino foram os mais aco- cimento bacteriano, acumulada nos períodos
metidos, independentemente da região analisa- de formação de esporos e liberada em grande
da. Além disso, no mesmo intervalo de tempo, concentração na lise da bactéria. Uma das su-

190
UNIDADE 6

bunidades da toxina se liga, irreversivelmente, às glicoproteínas de neurônios motores, e, quando


internalizada em endossomas, reduz a ação de proteínas inibidoras de neurotransmissores motores,
de maneira que uma atividade sináptica excitatória e intensa ocorre, o que ocasiona a paralisia
espástica (Figura 10). A contração é tão intensa que os ossos podem ser quebrados durante os espas-
mos, e a doença evolui para a paralisia de órgãos, como pulmão e coração, a fim de levar o indivíduo
à morte (BLACK; BLACK, 2021).

Figura 10 – Representação gráfica do opistótono, sintoma do tétano. / Fonte: Shutterstock ([2023c], on-line)..

Descrição da Imagem: na figura, há um desenho de um indivíduo em decúbito dorsal, com espasmo da coluna vertebral, de maneira
que braços e pernas estão contraídos. Forçam para que a coluna se curve e o indivíduo fique em posição de arco (abdômen em posição
mais alta e superior do que o restante do corpo), apoiado, apenas, pelos calcanhares e pelo topo da cabeça.

O tratamento é a aplicação do soro antitetânico após as primeiras horas de suspeita de contami-


nação, até porque esse é o único momento no qual o soro é indicado. Uma vez que a toxina atinge as
terminações nervosas, não existem muitas medidas terapêuticas a serem tomadas já que a ligação
entre toxina e células do hospedeiro é irreversível. Além disso, o soro não confere imunidade, assim,
é necessária e mais confiável a aplicação da vacina antitetânica, DTP, que previne, também, contra a
difteria e a coqueluche, como já vimos.
Ainda, com relação a agentes etiológicos anaeróbios e formadores de esporos, o Clostridium botu-
linum, causador do botulismo, também, é produtor de uma toxina neurotóxica, potencialmente, fatal.
O botulismo pode ser transmitido através de alimentos contaminados (sobretudo, embutidos)
e de ferimentos. A toxina botulínica é produzida por meio de um bacteriófago que carrega a infor-
mação genética necessária para a sintetização, e, quando infecta uma célula viável de C. botulinum,
confere, à bactéria, a capacidade de produção de até oito tipos de toxinas (MURRAY; ROSENTHAL;

191
UNICESUMAR

PFALLER, 2021). A toxina tem tropismo para as células nervosas na porção sináptica, e, por ser di-
ferente dos efeitos do tétano, o bloqueio da liberação de acetilcolina (neurotransmissor essencial
para a transmissão de impulsos nervosos), por ação da toxina, provoca paralisia flácida progressiva,
não apenas, na musculatura esquelética, mas, também, nos pulmões e no coração, o que ocasiona as
insuficiências respiratória e cardíaca (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).
O tratamento consiste em ser dado suporte cardiorrespiratório ao paciente, até que ocorra a
regeneração da porção sináptica dos nervos, uma vez que o uso de antimicrobianos não é eficaz
contra a toxina.
As infecções de tétano e de botulismo não conferem imunidade ao indivíduo, uma vez que a
quantidade de toxinas liberadas não é, suficientemente, alta para a produção de anticorpos. O diag-
nóstico para a doença é obtido pela análise de sintomas clínicos, história e achados laboratoriais
confirmados no soro, nas fezes ou em restos de alimentos (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).

Anteriormente, tivemos o nosso primeiro contato com um grupo de bactérias aeróbias


obrigatórias que se diferenciavam das Gram negativas e positivas por conta da constituição
da parede celular. Você se lembra desse grupo?

São as micobactérias, que possuem a parede celular constituída por ácidos micólicos, os quais
conferem, a essa estrutura, uma composição rica em gorduras, o que altera, assim, a maneira através
da qual o organismo interage com alguns itens diagnósticos e de triagem, como os corantes para
coloração de Gram. É necessário, então, que o laboratório disponha de outras técnicas de pesquisa.
Os denominados Bacilos Álcool-Ácido Resistentes (BAAR) são conhecidos, principalmente,
pelos acometimentos respiratórios, no entanto, o Mycobacterium leprae, ou bacilo de Hansen,
causador da lepra, ou da hanseníase, é um microrganismo que faz parte da história do mundo de
maneira pronunciada, e possui parte da fisiopatologia no SN. Por mais que, na atualidade, o número
de infectados seja, praticamente, inexpressivo, em 2020, foram reportados cerca de 130 mil casos à
Organização Mundial da Saúde (OMS), sendo que 15% deles correspondiam aos casos ocorridos na
América. O Brasil apareceu como responsável por 93,6% de todos os casos confirmados no continente,
e ocupou o segundo lugar entre os países com o maior número de casos (OMS, 2021). Pela relevância
epidemiológica, a doença foi incluída na Lista Nacional de Notificação Compulsória de Doenças,
Agravos e Eventos de Saúde Pública, assim, é obrigatório que os profissionais de saúde reportem os
casos do agravo (BRASIL, 2022).
A hanseníase é transmitida pelo contato direto, assim, o indivíduo pode se contaminar através
da inalação de aerossóis que contêm bactérias; e do contato da pele lesionada com feridas, ou com
fluidos respiratórios contaminados. Uma vez no organismo, a bactéria se aloja nos gânglios linfá-
ticos; sobrevive aos macrófagos e aos processos de fagocitose; e, através da circulação, atinge a pele
e as células de Schwann, que são as responsáveis pela fabricação da bainha de mielina – envol-
tórios dos axônios que aceleram o impulso nervoso. São observados o acúmulo de metabólitos e o

192
UNIDADE 6

desligamento mitocondrial nessa região, com a geração de lesão celular e de uma resposta nervosa
insuficiente (MEDEIROS et al., 2016). Esses bacilos de 1 a 8 μm de comprimento podem ser vistos
isoladamente, ou em aglomerados, denominados de globias, no citoplasma de macrófagos, o que
caracteriza as células de Virchow (YONEMOTO et al., 2022) (Figura 11).

Figura 11 – Corte histológico da pele com infiltração de bacilos M. leprae em um gânglio nervoso.
Fonte: Public Domain Files (2014, on-line).

Descrição da Imagem: na figura, há uma foto de uma lâmina microscópica corada pela técnica de Ziehl-Neelsen, vista a partir de um
aumento de 400 vezes. Por toda a extensão da lâmina, um esfregaço tecidual da cor azul é observado, e, disperso nele, existem inúmeras
células em forma de bastão, vermelhas e rosas, o que caracteriza o M. leprae.

Dentre os mecanismos de patogenia já analisados e estudados, destaca-se a liberação de interleucina


17, que aumenta a apoptose celular (AARÃO et al., 2016); de interleucina 10, que desencadeia uma
reação de hipersensibilidade do tipo III, que auxilia na sobrevivência (ANTUNES et al., 2019) e reduz
a atividade de macrófagos (DE SOUZA et al., 2017); e de interleucina 17, que aumenta a inflamação
e a desmielinização, ao ocasionar lesões neurais mais graves (DE SOUZA et al., 2017).
A bactéria é conhecida por ter um período de incubação longo (pode durar de dois a cinco anos).
Por essa razão, a pessoa infectada inicia a apresentação de sintomas após 20 ou 25 dias do contato
inicial, ou, mesmo, pode demorar anos para detectar os primeiros sinais. Ainda, a patologia pode gerar
manifestações clínicas distintas, pois possui duas formas principais que parecem ter relação com o
estado imunológico do paciente. A hanseníase tuberculosa (paucibacilar) é marcada, clinicamente,
por feridas indolores em indivíduos com uma boa resposta imune celular, e que não possuem uma alta
infectividade, apesar de gerarem perda sensorial em nervos periféricos. Já a hanseníase lepromatosa
(virchowana, multibacilar) é uma progressão da forma tuberculosa. Ocorre em indivíduos com uma
baixa resposta imune, e é composta por manchas avermelhadas papulares e nodulares e alta destruição
tecidual em cartilagens, ossos e orelhas, o que leva à desfiguração (BLACK; BLACK, 2021).

193
UNICESUMAR

Uma maneira tradicional de diferenciação dos dois tipos, além da análise dos sintomas e de exames
bacterioscópicos, é a aplicação da reação da lepromina, que consiste em se inocular uma suspensão
de bacilos de M. leprae, via intradérmica, em uma parte saudável do indivíduo com suspeita de
hanseníase. Assim, é preciso marcar presença uma observação após 24 horas. Se aparece, na região
da inoculação, um eritema de 10 a 20 mm com infiltração, a reação é considerada positiva. Nor-
malmente, a forma lepromatosa apresenta reação negativa para lepromina, e, a tuberculosa, positiva
(MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
O diagnóstico padrão consiste em exames de histologia, nos quais o material tecidual (princi-
palmente, gânglios) pode ser triturado, e por microscopia, mas o crescimento do M. leprae, no meio
de cultura, é muito improvável. Ensaios de PCR, também, podem ser realizados a partir de secreções.
No entanto, como, em algumas manifestações, a concentração bacteriana é pequena, e considerado
que o aparecimento de bacilos, em lesões epidérmicas, indica já um estado avançado da doença, o
diagnóstico costuma ser clínico (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019). A boa notícia é que o tratamen-
to disponível para a hanseníase leva à cura (infelizmente, sem a restauração dos tecidos perdidos) e
reduz as chances de o infectado transmitir a doença. Por fim, atualmente, a terapia é constituída por
antimicrobianos, como dapsona, rifampicina e clofazimina (BLACK; BLACK, 2021).

194
UNIDADE 6

Até aqui, estudamos patologias graves, causadas por microrganismos, e,


por isso, não fica difícil imaginá-los como grandes vilões da humanida-
de. No entanto, desde o século passado, muitas descobertas positivas
foram realizadas, pois determinaram algumas substâncias produzidas
e atividades executadas por bactérias e fungos que ajudaram (e muito)
o desenvolvimento mundial. Quer conhecer um pouco mais? Aperte o
play e, em cinco minutinhos, podemos conhecer diversos benefícios
microbiológicos.

Os diagnósticos para doenças que acometem os sistemas nervosos central e circulatório dependem
do material clínico e da rapidez de processamento em um laboratório.
O LCR é obtido a partir da punção lombar, em um ambiente hospitalar, e o volume de amostra
destinado à microbiologia é de 1 a 2 mL. O material pode ser centrifugado, e o sobrenadante é des-
tinado para provas de aglutinação em látex (quando aplicável). Com o sedimento, é realizada uma
bacterioscopia de Gram, incluindo Ziehl-Neelsen e tinta nanquim. Além disso, testes citológicos de
contagem de leucócitos e dosagem de glicose e proteínas são realizados, a fim de se encontrarem mais
sinais laboratoriais de infecção bacteriana (proliferação de segmentados; redução, na concentração,
de glicose; e aumento de proteínas) (BRASIL, 2013).
Para a cultura, o LCR é inoculado, diretamente, no meio de cultura, que costuma ser o ágar
chocolate, ou caldo tioglicolato (o último na suspeita de doenças causadas por anaeróbios). Depois,
é incubado em uma atmosfera, com 5-10% de gás carbônico e a 35-36ºC (BRASIL, 2013). Esse ágar
chocolate é uma variação do ágar sangue, e é indicado para a semeadura de amostras nas quais se pre-
tende identificar as bactérias de crescimento fácil, incluindo os organismos fastidiosos, como Neisseria
spp e Haemophilus spp. Já o caldo tioglicolato, além de ser um meio rico em nutrientes e íons, possui o
tioglicolato de sódio, um potente redutor que impede o acúmulo de peróxidos (OSANTE; RUIZ, 2016).
A primeira leitura ocorre com 24h de incubação, e, com a ausência de crescimento, o meio de
cultura permanece com as mesmas condições por até 72 horas, antes de ser atestado como negativo.
Em caso positivo, o solicitante do exame deve ser, imediatamente, avisado, e as colônias encontradas
precisam passar por ensaios de susceptibilidade a antimicrobianos. Além disso, é comum que, ao po-
sitivar uma amostra de LCR, o médico solicite a hemocultura para estabelecer uma relação, ou excluir
uma correlação de bacteremia.
A coleta de sangue, para uma hemocultura, por sua vez, é destinada à realização de testes que
visam identificar infecções localizadas no sistema circulatório e no coração. Ela deve ser realizada antes
de qualquer antibioticoterapia, para isso, exames laboratoriais que indicam um processo infeccioso
(hemograma com leucocitose e desvio à esquerda) e sinais clínicos, como febre alta, podem respaldar
a solicitação do ensaio microbiológico.
Geralmente, cada punção venosa é destinada a um frasco de coleta, o qual possui, no interior, inú-
meras substâncias nutritivas, recuperadoras de bactérias e tampões. Assim, é recomendado que, durante
o episódio infeccioso, sejam coletados, no mínimo, dois frascos de amostra (no máximo, quatro, com

195
UNICESUMAR

5-10mL de sangue em cada frasco), obtidos de locais de punção diferentes, isso porque a análise de
culturas positivas, em função do número de amostras coletadas, é útil para uma interpretação do signifi-
cado clínico (contaminantes costumam crescer em, apenas, uma amostra, enquanto agentes causadores
de bacteremias verdadeiras crescem em mais amostras) (BRASIL, 2013). A coleta é realizada através de
seringas, ou dispositivos a vácuo. Depois, é transferida para o frasco de hemocultura (Figura 12).

Figura 12 – Transferência de sangue coletado da punção para o frasco de hemocultura. / Fonte: Shutterstock ([2023d], on-line). .

Descrição da Imagem: na figura, há um indivíduo que calça luvas azuis e segura, na mão esquerda, um frasco cilíndrico e de paredes
transparentes. O frasco possui, ainda, uma tampa arredondada nas bordas e plana na extremidade externa. Uma borda é composta
por um material metálico da cor azul. Já o centro plano tem um material borrachoso e da cor acinzentada. Na borracha, está inoculada
uma agulha, de maneira que a parte pontiaguda está inserida no frasco. A outra extremidade está acomodada em um suporte, que
a comunica com um cano de calibre pequeno e paredes transparentes, dentro do qual é possível observar um líquido vermelho, que
representa o sangue.

Os métodos microbiológicos para hemocultura se dividem em manuais e automatizados, sendo


estes aplicados de acordo com a demanda de análises, recurso financeiro disponível e disposição de
analistas treinados. No entanto, por apresentar inúmeras restrições, sensibilidade baixa e especifici-
dade reduzida para bactérias dos gêneros Neisseria e Moraxella, o método manual é pouco aplicado
na rotina de grandes e pequenos laboratórios. Já os métodos automatizados consistem em sistemas
de monitorização contínua de frascos de hemocultura, de modo que o recipiente é incubado, dire-
tamente, no equipamento, e, além das condições de temperatura, a amostra é submetida à agitação
constante, a fim de alcançar altos níveis de homogeneização. Durante a incubação, o equipamento é
capaz de medir o nível de turvação do frasco de coleta, e, sempre que isso acontece, emite um sinal

196
UNIDADE 6

sonoro e/ou visual (Figura 13), pois indica um resultado positivo. A partir desse frasco, a semeadura,
em um meio de cultura, é possível, e a pesquisa dos patógenos se dá com mais segurança e menos
risco de contaminações cruzadas (BRASIL, 2013).

Figura 13 – Equipamento automatizado para a etapa inicial de hemocultura. / Fonte: Shutterstock ([2023e], on-line).

Descrição da Imagem: na figura, há a foto real de um equipamento de hemocultura automatizado, com quatro placas horizontais
com 18 cavidades circulares cada uma. Inseridos nessas cavidades, estão frascos de coleta de hemocultura com tampas azuis e rosas.
Nem todas as cavidades estão preenchidas. Acima dos frascos, há uma espécie de lâmpada, e em formato de meio círculo. As luzes
que estão verdes indicam o crescimento de microrganismos, e as vermelhas determinam um teste negativo. As apagadas indicam que
o teste, ainda, não foi concluído, ou iniciado.

197
UNICESUMAR

Título: Cells at Work


Ano: 2018
Sinopse: Como seria se todas as células do nosso corpo fossem antropo-
morfizadas? Isso tornaria o entendimento da fisiologia humana mais fácil?
Nesse anime, adaptado de um mangá de mesmo nome, os principais pro-
tagonistas são um glóbulo vermelho e um neutrófilo que, constantemente,
cruzam-se pela circulação sanguínea, a fim de enfrentar alguns vilões de
vez em quando.
Comentário: Chegou a hora que tanto gostamos de compartilhar com vocês. Esse anime é muito
leve e divertido, e acreditamos que a maioria das infecções que tratamos até o momento são
citadas de maneira interativa e gráfica. Uma dica: assista com o caderno nas mãos! A série aborda
os mecanismos de patogenicidade e fatores de virulência de inúmeros microrganismos. Aproveite!
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

Como você pode perceber, no início desta unidade, a complexidade de funcionamento orgânico, como
o sistema neural, não é, apenas, de exclusividade humana, uma vez que organismos, como o “Blob”,
desempenham funções análogas a esses sistemas e se adaptam bem à natureza. No entanto, o sistema
humano, mesmo que tenha mecanismos de proteção importantes, como as três camadas cardíacas,
ou as meninges, incluindo os ossos cranianos, ainda, está, extremamente, vulnerável às infecções, ao
apresentar algumas características muito benéficas a parasitas, como nutrientes disponíveis – o ferro
presente na corrente sanguínea pode ser sequestrado para agir em funções bacterianas –; estruturas
que favorecem o crescimento bacteriano, como a glicose presente no líquor circulante nas meninges
e na medula espinhal; e rotas funcionais automáticas, como as reações de hipersensibilidade, que
favorecem a sobrevivência dos bacilos de M. leprae.
Ao lidar, diretamente, com as doenças humanas que acometem sistemas vitais, como o nervoso e o
circulatório, é, automaticamente, conferido, ao profissional da saúde, a maior responsabilidade quando
se trata do processamento de amostras destinadas ao diagnóstico de uma miocardite, ou meningite, por
exemplo. Isso porque, como visto neste material, os métodos de triagem e de diagnóstico, para as patolo-
gias tratadas aqui, são um tanto desafiadores, e, ao mesmo tempo, a confirmação, ou a exclusão de uma
doença de ordem circulatória, ou nervosa, relaciona-se, diretamente, com a manutenção e a qualidade
de vida do paciente, uma vez que o risco de mortalidade dessas doenças acaba sendo muito maior.

198
Chegou a hora de finalizar mais uma parte do nosso estudo de microbiologia clínica. Quais são as
doenças que você achou mais interessantes? Quais são os microrganismos mais desafiadores e
patogênicos para os sistemas cardiovascular e nervoso? Utilize o seu mapa mental com sabedoria e
anote tudo aquilo que acha relevante para se lembrar desse conteúdo.

Agentes
etiológicos
Principais
consequências
da doença

Principais fatores Endocardite Miocardite


de virulência

Septicemias e
bacteremias

Agentes etiológicos SISTEMA CARDIOVASCULAR DIAGNÓSTICO POR HEMOGRAMA:


Particularidades da coleta e
processamento

MICROBIOLOGIA:
SISTEMA CARDIOVASCULAR
E SISTEMA NERVOSO

SISTEMA NERVOSO DIAGNÓSTICO POR LCR:


Particularidades da coleta
e processamento
Doenças que afetam o SNC Doenças que afetam o SNP

199
1. Assinale a alternativa que contém exemplos de zoonoses que podem afetar o sistema circulatório e os com-
ponentes dele:

a) Antraz, septicemia por Staphylococcus aureus, peste bubônica e febre das trincheiras.
b) Antraz, septicemia por Streptococcus agalactiae, peste bubônica e febre maculosa.
c) Septicemia por Enterococos, peste bubônica, febre das trincheiras e febre maculosa.
d) Septicemia por Staphylococcus aureus, brucelose, botulismo e tétano.
e) Peste bubônica, febre maculosa, febre das trincheiras e bartonelose.

2. Com relação às meningites bacterianas, assinale a alternativa CORRETA:

a) A Neisseria meningitidis, também, conhecida como meningococo, é um coco Gram positivo


que está, naturalmente, presente na flora bacteriana do sistema circulatório.
b) O Haemophilus influenzae é um microrganismo que tem potencial para causar meningites,
e, por não ter vacina, ainda, permanece como um dos principais agentes etiológicos dessa
patologia.
c) O Streptococcus pneumoniae, causador da pneumonia pneumocócica, é um importante
causador de meningites bacterianas, de maneira que a forma de contaminação costuma ser
endógena após doenças respiratórias provocadas pela mesma bactéria.
d) A Listeria monocytogenes é o agente etiológico da listeriose, e, por se tratar de um microrga-
nismo da microbiota normal, não tem importância médica em relação às meningites.
e) As cianobactérias são importantes causadoras de meningites, mas costumam provocar infec-
ções assintomáticas (doença do neurônio motor).

3. Com relação às doenças do SN, e causadas por anaeróbios, assinale a alternativa CORRETA:

a) O tétano, causado pelo Clostridium botulinum, é uma doença transmitida pela inoculação de
esporos da bactéria na corrente sanguínea. Provoca uma contração intensa nos músculos de
membros e tronco, mas tem um prognóstico otimista na maioria dos casos.
b) O tétano, causado pelo Clostridium tetani, é uma doença transmitida pela inoculação de es-
poros da bactéria na corrente sanguínea. Provoca uma contração intensa nos músculos de
membros e tronco, de difícil tratamento, e é comum que o indivíduo acometido venha a óbito.
c) O botulismo, causado pelo Clostridium tetani, é uma doença transmitida pela inoculação de
formas vegetativas da bactéria na corrente sanguínea. Provoca uma contração intensa nos
músculos de membros e tronco, mas tem um prognóstico otimista na maioria dos casos.
d) O botulismo, causado pelo Clostridium botulinum, é uma doença transmitida pela inoculação
de esporos da bactéria na corrente sanguínea. Provoca uma contração intensa nos músculos
de membros e tronco, mas tem um prognóstico otimista na maioria dos casos.
e) O botulismo, transmitido pelo Clostridium perfringens, é uma doença transmitida pela ingestão
de cistos da bactéria, ou inoculação dela na corrente sanguínea. A doença provoca contrações
e paralisia flácida, mas é autolimitada, até que haja regeneração de fendas sinápticas.

200
7
Aspectos Clínicos,
Epidemiológicos
e Laboratoriais de
Infecções de Peles e
Partes Moles
Me. Suelen Eloise Simoni

Nesta unidade, você, aluno(a), terá a oportunidade de concluir o


estudo das infecções bacterianas, conhecendo melhor as doenças
cutâneas. Para isso, serão apresentadas as principais camadas ce-
lulares da pele e seu esquema organizacional, além da microbiota
normal da pele, da relação dos organismos que a constituem e
das doenças de pele. Ainda, você conhecerá as principais infecções
bacterianas da derme e da epiderme, seus principais sintomas, os
agentes causadores e os métodos de diagnóstico utilizados para
sua pesquisa. Além disso, revisitaremos os micro-organismos já
citados em outras unidades, a fim de relembrarmos e fixarmos
os conceitos de mecanismo de patogenicidade e os fatores de vi-
rulência bacterianos que contribuem para o desenvolvimento de
infecções tegumentares.
UNICESUMAR

A Figura 1 apresenta um processo inflamatório, muitas vezes infeccioso, que acontece na pele, sistema
que iremos estudar nesta unidade. Observe atentamente:

Figura 1 – Processo inflamatório/infeccioso com formação de pus. / Fonte: Shutterstock ([2023a], on-line).

Descrição da Imagem: a figura apresenta cinco desenhos que representam a mesma localidade anatômica, mas em fases inflamatórias
e infecciosas diferentes. Todas possuem uma estrutura retangular e em formato de paralelepípedo, o qual tem, em sua superfície, uma
camada fina na cor laranja. No centro, há um orifício em forma de gota na coloração castanho escuro. Ao lado direito desse orifício,
há um filamento rosa e ascendente e, ao lado esquerdo, uma estrutura em verde, em formato de cacho. Na primeira imagem, à es-
querda do quadro, é apresentado um filamento preto saindo diretamente do orifício central, o qual perfura a superfície da estrutura.
Na segunda imagem, o filamento preto é cortado e está rente à superfície da estrutura maior. A terceira imagem é central e, no local
em que havia o filamento preto, há uma estrutura oval na coloração branca. Na quarta e na quinta imagens, esse novo componente
está maior e circundado por uma fina membrana avermelhada, que assume uma organização disforme e muito maior, irrompendo a
superfície laranjada.

Se eu dissesse que esse processo infeccioso é mais comum que o imaginado, você teria algum palpite
sobre qual distúrbio foi apresentado na imagem?
Muitas vezes, na nossa rotina analítica, não entraremos em contato com o paciente, porém é pri-
mordial compreendermos como se dá o processo infeccioso, para que consigamos relacionar corre-
tamente nossos achados laboratoriais com suas potenciais causas – logo, a análise microbiológica não
fica livre dessa análise crítica. Ao estudarmos a pele e os seus anexos, esse conhecimento é mais do
que válido, uma vez que o amplo domínio sobre os constituintes da microbiota dessa região garante
que resultados mais confiáveis sejam apresentados. Ademais, a pele é a primeira barreira do ser hu-
mano contra a invasão microbiana e, por isso, saber quais são seus componentes e como deve ser sua
estrutura íntegra tornam o analista um profissional muito mais capacitado.
Para que possamos nos aquecer para o conteúdo desta unidade, recomendo que você procure na
literatura três infecções bacterianas que podem acometer a pele, seus anexos e/ou tecidos adjacentes
(por exemplo, articulações e tecido adiposo). Nessa pesquisa, foque nos agentes etiológicos e busque,
em suas anotações, se esses micro-organismos são capazes de infectar apenas a pele, ou se possuem
virulência o suficiente para afetar outros órgãos. Anote seus resultados no diário de bordo a seguir.
Então, não foi muito difícil achar dados para sua pesquisa, não é mesmo? De fato, o estudo da pele
envolve mais do que as características microbianas. Você conseguiu identificar, ao menos, três agentes
etiológicos? Entre eles, algum possui mecanismos de patogenicidade que podem acometer outros
sistemas? Se sim, qual a principal forma de prevenir essa ação microbiana?

202
UNIDADE 7

Finalmente, chegamos ao maior órgão do corpo humano: a pele. Até o momento, vimos inúmeras
infecções que acometem os demais órgãos; em sua pesquisa inicial, você foi capaz de observar que a
integridade da pele é um critério bem importante para evitar que os outros sistemas sejam acometidos
pelas infecções bacterianas. Por isso, a pele e suas camadas são as primeiras formas de defesa do
corpo humano contra patologias localizadas ou sistêmicas. Além disso, é hora de familiarizar-se com
alguns termos que podem ser aplicados à pele, uma vez que ela pode ter várias denominações, como
tegumento, tecido cutâneo, tecido epidérmico e tecido de revestimento.
A pele (Figura 2) é formada por duas camadas principais: a epiderme e a derme. A epiderme,
porção mais externa e espessa, protege o organismo por meio de inúmeras camadas de células
epiteliais mortas, queratinizadas e justapostas. Além disso, não possui vasos sanguíneos e, por
isso, transfere nutrientes e água por difusão até a camada subjacente, a derme. As células presentes
na derme se multiplicam durante toda a vida do indivíduo e, à medida que sobem, tornam-se
constituintes da epiderme. Quando morrem, descamam e deixam espaço para células novas, cujo
processo de renovação celular é feito entre 2 e 4 semanas (BLACK; BLACK, 2021). A derme possui,
ainda, capilares sanguíneos, folículos pilosos, glândulas sebáceas, glândulas sudoríparas e ter-
minações nervosas. Uma camada mais interna, chamada de subcutânea, fica intimamente ligada
à derme e possui células de gordura e vasos sanguíneos mais calibrosos, como artérias e veias
(TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).

203
UNICESUMAR

Epiderme

Derme

Camada subcutânea

Figura 2 – Camadas da pele humana. / Fonte: Shutterstock ([2023b], on-line).

Descrição da Imagem: na figura, há um desenho que representa a pele humana. De baixo para cima, há uma primeira camada, for-
mada por células ovais e brancas, dispostas sobre uma estrutura amarela, de forma semelhante a uma parede de tijolos, que possui
uma flecha indicando para o termo “Camada subcutânea”. A segunda camada é intermediária, possui fundo rosa-claro, que contém
duas linhas ondulantes em vermelho e azul, na horizontal, além de uma fissura, em forma de gota, no meio dessa camada, formando
um ângulo de 90°, em marrom, de onde sai um filamento preto, representando o pelo, sendo observada, ao lado dessa camada, uma
flecha apontada para o termo “Derme”. A terceira e superior camada é de cor salmão e possui algumas linhas finas e acastanhadas
na horizontal em toda sua extensão; acima dessa camada, na parte central, há um pelo originado na derme e mais dois filamentos
semelhantes a ele nas posteriores direita e esquerda, além de, ao lado dessa camada, uma flecha indicando para o termo “Epiderme”.

A epiderme possui microbiota normal e conta Propionibacterium (BLACK; BLACK, 2021).


com mecanismos de defesas naturais, como áci- Por mais que a presença de bactérias tam-
dos orgânicos e lipídios, que funcionam como bém forneça algumas defesas ao ser humano,
hidratantes e mantêm o pH da superfície leve- por competirem nutricionalmente com outros
mente ácido, o que dificulta o crescimento de al- micro-organismos, a ocorrência de piodermi-
guns patógenos. Além disso, a presença de sal no tes e celulites não é rara. As piodermites são
suor inibe uma grande quantidade de micro-or- infecções que acometem a pele e seus anexos,
ganismos e funciona como item seletivo para as enquanto as celulites são processos que também
bactérias constituintes da microbiota. Talvez, os afetam os tecidos subcutâneos, e a principal
representantes mais lembrados da microbiota da diferença entre as duas é que, nas celulites, não
pele são os estafilococos, devido a sua habilidade é possível observar uma clara distinção entre o
em crescer em altas concentrações de sal permitir tecido infectado e o não infectado, enquanto,
que eles colonizem essa região com facilidade, nas piodermites, essa diferenciação é possível.
além de poderem ser encontradas as bactérias As celulites também podem ser conhecidas como
dos gêneros Micrococcus, Corynebacterium e infecções dos tecidos moles, podendo desenca-

204
UNIDADE 7

dear sintomas sistêmicos, como febre, calafrios e o aparecimento de abscessos. O famoso “furún-
bacteremia, resultando na destruição de tecidos culo” é um tipo de abscesso externo, repleto de
de revestimento (como a fáscia) e preenchimento, pus e leucócitos, que pode evoluir para uma lesão
como tecido adiposo (TSAO et al., 1999). maciça, denominada de carbúnculo, em situações
Geralmente, essas infecções se dão pela rup- em que infecções iniciais não tenham sido tratadas
tura ou pela perda da integridade da epider- (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).
me, tornando a invasão de bactérias facilitada
na derme e no tecido subcutâneo, levando à res-
posta rápida do sistema imunológico e à gera-
ção dos sintomas clássicos de infecções, como
vermelhidão, inchaço, dor e, por vezes, pus. Nem
sempre, no laboratório, será possível isolar bac-
térias a partir da lesão, indicando que a ação de
toxinas e citocinas é essencial para a instalação
do processo inflamatório. Além disso, manifes-
tações cutâneas podem ocorrer, também, por via
hematogênica, como nos casos dos patógenos
Streptococcus pneumoniae e Vibrio vulnificus
(TSAO et al., 1999).

Você já ouviu a expressão “rash cutâ-


neo”? Também chamado de exante-
ma, é o termo médico utilizado para
descrever manchas vermelhas, com
prurido e, por vezes, acompanhadas
de bolhas. Geralmente, é um surto
momentâneo, associado à dengue,
ao sarampo, à sífilis na fase secun-
dária e à escarlatina.

As infecções cutâneas por Staphylococcus aureus


são extremamente comuns, uma vez que o mi-
cro-organismo possui mecanismos que permitem
sua invasão em folículos pilosos (dando origem a
foliculites e pústulas) nos cílios, gerando o cha-
mado “terçol” e, em casos mais extremos, quando
a infecção é mais profunda, também pode ocorrer

205
UNICESUMAR

Por ser uma infecção passada de pessoa a pessoa pela pele, o hábito de lavar as mãos ajuda a pre-
venir a maioria dos casos, principalmente considerando profissionais da saúde que manipulam vários
pacientes em um mesmo dia. A parte mais complicada (ou assustadora) desses casos de infecções
superficiais é, pelo curso da infecção, tornar a região do abscesso encapsulada, mesmo sob uso de
antibióticos, o corpo médico, geralmente, opta por realizar a drenagem dessas lesões, sendo necessário
um ambiente altamente higienizado e profissionais treinados para a realização desse procedimento
(BLACK; BLACK, 2021).
Determinadas cepas de S. aureus, produtoras de exotoxinas, denominadas de esfoliatinas, são
capazes de causar a síndrome da pele escaldada. A doença é assim chamada porque as toxinas que
circulam pelo sangue atingem locais distantes da infecção inicial e desencadeiam um processo desca-
mativo da pele, de modo que as camadas de epiderme se desprendem da superfície, parecendo que a
lesão foi gerada por queimadura. O distúrbio é mais comum em crianças em idade de amamenta-
ção, mas também pode ocorrer em adultos como reação tardia à síndrome do choque tóxico. Esses
superantígenos são altamente antigênicos (ou seja, induzem a produção de anticorpos), evitando que
a doença tenha recidivas, porém, geralmente, a doença ocorre no estágio avançado da infecção, de
maneira que seu aparecimento pode preceder septicemia e óbito (BLACK; BLACK, 2021).

A síndrome do choque tóxico é caracterizada por um conjunto de manifestações inespecíficas, como


febre, comprometimento muscular, sintomas gastrointestinais e insuficiência renal aguda de rápida
progressão, causadas pela circulação de toxinas classificadas como superantígenos, produzidas
por cepas toxigênicas de Staphylococcus aureus e espécies de estreptococos. A toxina estimula a
proliferação e a ativação de linfócitos T, desencadeando a liberação de citocinas e levando ao au-
mento da permeabilidade dos capilares e à hipotensão. Pode ser originada pelo uso inadequado
de tampões menstruais, após procedimentos cirúrgicos, lesões de pele ou, mesmo, não possuir
um foco identificável da infecção. O diagnóstico costuma ser clínico e o tratamento é baseado em
metodologia empírica, utilizando-se, usualmente, betalactâmicos antiestafilocócicos, como a oxacilina,
ou inibidores de síntese proteica, como a clindamicina, visando a reduzir a produção da toxina e a
eliminação do micro-organismo causador (ALVAREZ; MIMICA, 2012).

Ainda, em se tratando de micro-organismos Gram-positivos, as infecções cutâneas, causadas por


estreptococos, envolvem a liberação de inúmeros fatores de virulência, e o Streptococcus pyogenes,
que vimos de modo extensivo anteriormente como causador de faringites. É integrante do grupo de
bactérias patogênicas à pele, gerando ferimentos, em geral, localizados. A erisipela, por exemplo, é uma
lesão de pele caracterizada por uma ferida avermelhada, dolorosa e de bordas aumentadas (Figura 3),
rica em material bacteriano, que, geralmente, se inicia pela boca e arredores, podendo evadir a resposta

206
UNIDADE 7

imunológica e permear-se para a corrente sanguínea, causando bacteremia e sepse. A colonização


da nasofaringe por esses estreptococos do grupo A (após quadros de rinite e sinusite, por exemplo)
contribui para que esse tipo de infecção ocorra (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).
Figura 3 – Lesão característica de erisipela.
Fonte: Tortora; Funke; Case (2019, p. 623).

Descrição da Imagem: na figura, há uma


foto apenas da região da boca, metade do
queixo, parte das bochechas e ponta do na-
riz de um indivíduo de meia idade, cauca-
siano. É possível observar que a pele desse
indivíduo está levemente avermelhada. Na
entrada das narinas, há uma lesão que se
estende até a linha lateral da boca. A lesão
possui uma superfície queratinizada, de
aparência endurecida e de coloração cas-
tanho-escura.

A bactéria também pode ser conhecida, no meio médico, como “bactéria comedora de carne”, por
ser o agente etiológico da fasciíte necrosante, uma destruição maciça de tecido epidérmico, adiposo,
muscular e da fáscia (membrana que reveste os músculos), em geral, associada à síndrome do choque
tóxico estreptocócica (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019). O S. pyogenes pode ser introduzido por
ferimentos provenientes de cortes e incisões, e, antes que a doença se instale, é possível observar
sinais de celulite comum (vermelhidão, dor e inchaço), mas, rapidamente, o paciente pode evoluir
para falência múltipla de órgãos e morte. Quando é possível controlá-la, o uso de antimicrobianos
não é suficiente, sendo necessário o desbridamento cirúrgico do local infeccioso ou a amputação
do membro envolvido (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
O impetigo, por sua vez, é uma infecção cutânea repleta de pus, causada por estafilococos (forma
bolhosa), estreptococos (forma não bolhosa) e algumas espécies de corinebactérias. Geralmente, o
líquido interno desses ferimentos contém grande quantidade de bactérias, fato que torna as lesões
altamente contagiosas (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
A escarlatina, doença estreptocócica que, comumente, se manifesta após uma amigdalite bac-
teriana, é caracterizada por rash cutâneo e é transmitida a partir do contato com gotículas de saliva e
secreções nasais de indivíduos infectados com o S. pyogenes. O exantema inicia na região de pescoço
e tronco, mas é mais intenso na virilha, nas axilas (regiões ricas em gânglios linfáticos) e na face. Uma
manifestação curiosa é o inchaço e a vermelhidão da língua, conferindo um aspecto de framboesa
ao órgão (em inglês, você também pode encontrar, na literatura, o termo strawberry tongue) (Figura 4).

207
UNICESUMAR

As manchas avermelhadas tornam-se escamosas no segundo ao quarto dia da doença, fazendo com
que possam ser confundidas, clinicamente, com outras doenças, como o sarampo (BONATTI; LEITE;
MOISÉS, 2017). Também denominada de febre escarlatina, acredita-se estar associada à liberação
de toxinas eritrogênicas e pirogênicas, principalmente a um tipo específico de toxina chamada de
exotoxina pirogênica B (TANDON, 2012).

Figura 4 – Paciente apresentando “Língua em framboesa”. / Fonte: Shutterstock ([2023c], on-line).

Descrição da Imagem: na figura, há uma fotografia de uma criança, de camiseta azul, com metade da língua projetada para fora. A
superfície da língua está com as papilas linguais arredondadas, demasiadas, proeminentes, com coloração avermelhada, e a disposição
das papilas gustativas, junto ao tom avermelhado, lembra a superfície de uma framboesa.

Muito ouvimos sobre os antimicrobianos de administração oral, mas e


quanto às doenças de pele? Seria necessário o uso de medicamentos
de ação sistêmica para distúrbios tegumentares locais? Aperte o play e,
em poucos minutos, apresentarei alguns dos antibióticos de uso tópico
e suas principais aplicações. Vamos lá?

Um tipo de piodermite bem conhecido (principalmente por quase todos os adolescentes do mundo
inteiro) é a acne. O surgimento das espinhas, geralmente, vem acompanhado da estimulação hormonal
excessiva de glândulas sebáceas, mas também pode estar relacionado com a presença de bactérias que
se alimentam do sebo nas glândulas e nos tecido inflamados. O Propionibacterium acnes, particular-
mente, costuma estar envolvido com a acne cística (forma mais acentuada da doença), causando grande

208
UNIDADE 7

inflamação e destruição tecidual (BLACK; BLACK, 2021). As indústrias cosmética e farmacêutica têm
focado muito em dermocosméticos e medicamentos destinados ao tratamento da acne, como ácidos
queratolíticos (por exemplo, o ácido glicólico), medicamentos orais (por exemplo, a isotretinoína),
associados a antimicrobianos tópicos (por exemplo, o peróxido de benzoíla), e antibióticos orais (por
exemplo, minociclina e doxiciclina) (MARUBAYASHI; SIMONI, FARIÑA, 2021).
Dentro do assunto de infecções de pele, ainda, é pertinente tratar dos processos infecciosos decorrentes
de causas indiretas, sobretudo as relacionadas a queimaduras, uma vez que a destruição do tecido
tegumentar, nesses casos, é massiva, e, por isso, cria condições quase perfeitas para a proliferação de
bactérias. De ocorrência majoritariamente hospitalar, os bacilos Gram-negativos são os principais agentes
etiológicos desses distúrbios, destacando-se as bactérias Pseudomonas aeruginosa, Serratia marcescens
e várias espécies do gênero Providencia (BLACK; BLACK 2021).
Já conhecemos um pouco sobre o gênero Pseudomonas e sabemos que são espécimes oxidase
positivas, produtoras de diversas exotoxinas e endotoxinas, além de terem habilidade especial para
composição de biofilmes, aderindo-se a diversas superfícies, incluindo as de instrumentos médicos e
cirúrgicos. Além disso, são altamente resistentes a sanitizantes e antimicrobianos, dificultando ainda
mais o tratamento de pacientes queimados.
P. aeruginosa costuma acometer mais pacientes com queimaduras de segundo e terceiro graus,
gerando lesões purulentas de coloração esverdeada, devido à produção do pigmento bacteriano
piocianina (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019). Essas bactérias se abrigam embaixo das escaras
(crosta espessa que se forma sobre a queimadura), local de concentração de nutrientes e ausência de
vasos sanguíneos, o que contribui para a proliferação das bactérias, além de uma área estratégica
para a evasão dos efeitos de antimicrobianos. Dessa maneira, atualmente, além do desbridamento
(raspagem cirúrgica), o tratamento atual para infecções do gênero costuma ser uma associação de
antimicrobianos orais, como betalactâmicos e quinolonas, com medicamentos de uso tópico, como
a sulfadiazina de prata (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019). Ademais, manter o paciente hidratado e
isolado é essencial, uma vez que a queimadura priva o indivíduo de uma resposta imunológica eficaz
e elimina muita água, por meio das feridas (BLACK; BLACK, 2021).

209
UNICESUMAR

Pseudomonas, ainda, podem causar tipos específicos de dermatites autolimitadas com duração de até
2 semanas, sendo a manifestação mais comum o rash cutâneo, um distúrbio que está relativamente
associado à exposição do indivíduo a piscinas compartilhadas e colonizadas pela P. aeruginosa
(MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).

Os olhos também compõem um sistema vital, que depende da integridade epitelial e do tecido
mucoso para se manter livre de infecções. Naturalmente, é uma região estéril, com presença de
substâncias antibacterianas, como a lisozima da lágrima. Além disso, a pálpebra e os cílios também
auxiliam o órgão contra a invasão microbiana. As infecções bacterianas que envolvem o globo ocular
são diversas, destacando-se a oftalmia neonatal (causada por Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia
trachomatis), a conjuntivite (S. aureus, S. pneumoniae e N. gonorrhoeae) e o tracoma (C. trachoma-
tis). Em geral, os tratamentos envolvem a aplicação de colírios contendo antimicrobianos (BLACK;
BLACK, 2021).

De maneira semelhante, clinicamente, à fasciíte necrosante, a gangrena gasosa também é um distúr-


bio de pele causado por bactérias, dessa vez, por Clostrídios, bacilos Gram-positivos, principalmente
o Clostridium perfringens. Os esporos destes anaeróbios podem se multiplicar em feridas que já
possuam tecido morto (grande quantidade de elementos orgânicos), criando as condições necessárias
para o crescimento desses organismos. Os principais mecanismos de patogenicidade, nesse caso, são:
a esporulação bacteriana, prolongando o tempo de permanência do micróbio na região; a produ-
ção de gás, que contém hidrogênio, distorcendo a camada epitelial, gerando bolhas e odor fétido; e a
liberação de toxinas (alfa e iota, responsáveis pela destruição e pela necrose tecidual), fazendo com
que o epitélio dos vasos sanguíneos seja degradado e impedindo que a região afetada seja irrigada com
sangue (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).
Esse efeito produz dois principais desfechos: falta de oxigenação no tecido, levando à morte celular
exponencial, e impedimento da ação de medicamentos ou de células imunes contra a bactéria,
uma vez que a falta de circulação na região também impede a chegada de fluidos. Isso provoca uma
mudança na coloração e no aspecto da pele, cuja lesão tende a se tornar demasiadamente escura
e visualmente “seca” (BLACK; BLACK, 2021) (Figura 5). O C. perfringens, ainda, é responsável por
infecções de tecidos moles, causando celulite, apresentada na forma de edema e eritema localizado
e com formação de gás, miosite supurativa (acúmulo de pus em músculos sem necrose) e também
mionecrose (altamente letal e dolorosa para o paciente e, ainda, concomitante e decorrente da gangre-
na gasosa). Em geral, a lesão ou o exsudato coletado estão cheios de bactérias do gênero e tem-se a
ausência de células de defesa (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021). O tratamento, comumente,
envolve a remoção do tecido morto, a administração de antimicrobianos (penicilina) ou mesmo a
amputação da extremidade afetada (BLACK; BLACK, 2021).

210
UNIDADE 7

Figura 5 – Gangrena em dedos do pé. / Fonte: Shutterstock ([2023d], on-line).

Descrição da Imagem: na figura, há uma fotografia real, apresentando o pé direito de um indivíduo, visto de frente, de maneira que é
possível observar a ponta dos dedos, metade do colo e da lateral do pé e um pouco da sola, levemente desfocada. São observadas as
falanges dos dedos, com exceção do hálux (“dedão do pé”), que está coberto por um tecido branco. As lesões gangrenosas iniciam nos
metatarsos proximais e se estendem até os metatarsos distais, de maneira que as extremidades dos dedos estão pretas e arroxeadas,
contrastando com o tom mais claro da pele saudável e das unhas, que possuem coloração bege.

As fístulas, comunicação entre tecidos profundos infectados com a superfície cutânea, podem ocorrer
devido a osteomielites, linfadenites, abscessos ou infecções cirúrgicas, principalmente aquelas associa-
das a cirurgias pélvicas ou prostéticas. Nesses casos, há grande produção de pus e esse material clínico
pode ser analisado laboratorialmente, porém organismos da porção cutânea podem ser confundidos
com aqueles que, de fato, causam a infecção profunda, necessitando que o resultado desse ensaio seja
criticamente analisado. As infecções de sítios cirúrgicos ocorrem sempre que a pele e o local de incisão
são contaminados por micro-organismos nos períodos pré ou perioperatório (imediatamente após
a cirurgia). Entre os agentes causadores, destacam-se estafilococos, Escherichia coli, Klebsiella spp,
Pseudomonas spp e Enterococcus spp. Geralmente, eles provêm da própria colonização normal do
paciente, localizadas em cavidade oral, narinas, trato genital, gastrointestinal ou pele. Essas infecções
dependem tanto das condições do paciente, como presença de comorbidades, quanto de fatores for-
necidos pelo procedimento médico, como tempo da operação, perfusão tecidual e presença de corpo
estranho (BRASIL, 2013).
As infecções de pele e tecidos moles também podem ser desencadeadas por mordeduras de animais,
insetos e, inclusive, pessoas! A doença de Fournier é uma forma de fasciíte necrotizante transmitida,
de maneira que acomete principalmente a região do períneo, levando ao enegrecimento da pele e da
descamação. Os agentes etiológicos envolvidos são de ordem anaeróbica, como o Clostridium spp e

211
UNICESUMAR

o Fusobacterium spp. Diferentemente dos clostrídios, o grupo do Fusobacterium spp (Figura 6) é


composto por bacilos Gram-negativos anaeróbios, que possuem a cápsula polissacarídica ao seu redor,
porém sem atividade de endotoxina. Os fatores de virulência envolvem a produção de enzimas, como
a superóxido-dismutase, que inativam radicais livres derivados do oxigênio, permitindo que, mesmo
expostos ao oxigênio, não sofram injúria tão facilmente. Essas bactérias podem ser transmitidas por
mordeduras, uma vez que são constituintes da microbiota normal da região oral do homem e de ani-
mais (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).

Figura 6 – Representação tridimensional do Fusobacterium spp. / Fonte: Shutterstock ([2023e], on-line).

Descrição da Imagem: na figura, há um desenho que representa o Fusobacterium a partir de uma perspectiva tridimensional. O fundo
da imagem é preto e as bactérias estão na cor branco-acinzentada. Estão ilustradas onze bactérias bacilares, dispostas nos sentidos
horizontais, as quais possuem extremidades cônicas.

Outras infecções associadas a mordeduras são causadas por bactérias dos gêneros e das espécies Pas-
teurella multocida (mordeduras de cães e gatos), Streptobacillus moniliformis (mordedura de rato),
Streptococcus viridans, S. aureus e Eikenella corrodens (mordedura humana). Normalmente, essas
lesões são clinicamente apresentadas como feridas inflamadas, com presença de pus ou não, em que a
cultura proveniente dessas regiões não é indicada, pela reduzida aplicação clínica. Em geral, as infec-
ções localizadas podem ser tratadas com pomadas e cremes bactericidas (MURRAY; ROSENTHAL;
PFALLER, 2021).
Como dito anteriormente, de forma clínica, algumas doenças bacterianas de pele podem ser
confundidas com distúrbios de origem viral. No Quadro 1, você pode acompanhar algumas destas
patologias virais e suas principais informações:

212
UNIDADE 7

Manifestações
Tratamento/profi-
Patologia Agente etiológico clínicas/conse- Transmissão
laxia
quências

Exantema torácico;
artrite, artralgia;ru-
Vírus do gênero Ru- Contato com secre-
béola congênita
Rubéola bivirus, da família ções nasais contami- Imunização
(anormalidades car-
Togaviridae nadas
díacas, auditivas e
hepáticas no bebê).
Febre, exantema em
testa, membros su- Contato das mu-
Sarampo Paramixovírus periores/inferiores cosas (nasal, bucal, Imunização
e tronco; encefalite ocular)
por sarampo.
Herpes-vírus huma-
Roséola Febre alta, exantema Transmissão salivar
no (HHV-6)
Lesões cutâneas, ini-
cialmente, rosadas,
que sofrem desidra-
tação e formação de
crosta nas fases se- Contato das muco- Hidratação, produtos
Varicela Vírus varicela-zóster guintes; porta de en- sas (nasal, bucal e para tratamento das le-
(catapora) (VZV) trada para infecções ocular). sões; imunização
cutâneas bacterianas
(S. aureus);
Pneumonia (casos
mais graves).
Lesões cutâneas do-
Vírus varicela-zóster Vírus latente de in-
Herpes-zóster loridas; dano em ter-
(VZV) fecções anteriores
minações nervosas.
Vesículas epidér-
Orthopoxvirus Mucosa bucal e na-
micas supurativas;
Varíola sal em contato com Imunização
febre, dor lombar e
fluído contaminado
cefaleia.

Quadro 1 – Doenças de pele de origem viral. / Fonte: adaptado de Black; Black (2021).

O diagnóstico das doenças virais que atingem a pele é pautado na realização do exame clínico, acom-
panhado de métodos imunológicos, como dosagem dos níveis de anticorpos de imunoglobulina M
(IgM) específicos contra os antígenos. Em geral, o tratamento é de suporte, sendo administrados
antitérmicos e analgésicos, uma vez que o uso de antivirais é realizado de maneira cautelosa. Ainda,
nos casos de herpes-zóster, devido ao alto risco de dores de ordem neurológica, há a indicação de
medicamentos neuropáticos, como a gabapentina (BLACK; BLACK, 2021).
Em problemas tegumentares bacterianos, as amostras provenientes de feridas (impetigo, erisipela)
podem ser cultivadas em ágar sangue após a lavagem da lesão com água e sabão. No entanto, testes
sorológicos apresentam menor índice de resultados errôneos, sobretudo com a dosagem do anticor-
po anti-DNAse B, no caso de pesquisa de anticorpos contra estreptococos (método mais eficiente
que a titulação de anticorpos contra estreptolisina O). Já as amostras de exsudatos, comumente, são

213
UNICESUMAR

coletadas por swabs e transportadas em meios específicos para conter a multiplicação celular, como
o meio de Amies, o qual possui sais de sódio e magnésio que melhoram a recuperação bacteriana e
favorecem a preservação de micro-organismos anaeróbios e fastidiosos (BRASIL, 2013).
Nesses casos, a avaliação da qualidade do material fornecido também é necessária (avaliação
parecida com a que vimos na Unidade 5, para escarro na pesquisa de micobactérias), realizando uma
coloração de Gram da amostra e observando a presença de células polimorfonucleares, células
epiteliais descamadas e micro-organismos. Se a amostra for considerada satisfatória, ela é semeada
em meio nutritivo, e o grande diferencial desses testes é que, geralmente, no relatório de ensaio, se
deve reportar tanto os micro-organismos suspeitos de causarem a infecção quanto a microbiota
observada (BLACK; BLACK, 2021; BRASIL, 2013).
Para materiais aspirados, como fístulas e feridas purulentas, um volume de 5 mL já é suficiente
para realização dos testes, sendo esta amostra, normalmente, transportada dentro da própria serin-
ga de punção e enviada imediatamente ao laboratório. A recomendação é o processamento dela,
no máximo, 1 hora após a coleta. Também é importante que qualquer material dessa natureza seja
semeado em meios nutritivos (como o ágar sangue), seletivos (como o ágar MacConkey) e, ainda,
meios e condições específicas para crescimento de micro-organismos anaeróbios, com a aplicação da
incubação em jarras de anaerobiose (Figura 7), nas quais um ativo que consome o gás oxigênio é
adicionado a um recipiente de fechamento firme, impedindo que o ar entre no local e preservando o
ambiente livre do gás (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).

Figura 7 – Jarra de anaerobiose para pesquisa de bactérias anaeróbicas. / Fonte: Shutterstock ([2023f], on-line).

Descrição da Imagem: na figura, há uma fotografia de duas jarras de anaerobiose, posicionadas atrás de uma fileira de seis placas
de Petri, posicionadas em três colunas, contendo duas placas em cada coluna. As placas de Petri contêm uma substância gelatinosa
amarela. As duas jarras são recipientes cilíndricos, de paredes transparentes, e, dentro deles, por estimativa, cabe o volume de 10
placas de Petri. A tampa do recipiente é arredondada, na cor amarela, e sua alça é composta por um instrumento que recobre o seu
diâmetro central e é fixo a ela por duas estruturas semelhantes a pregos, prateados.

214
UNIDADE 7

No caso do diagnóstico de infecção de queima- pode precisar de suporte medicamentoso maior,


duras, a execução e a interpretação dos resultados mais contínuo e, ainda, necessitar de isolamento.
é um pouco mais complicada. Sugere-se que a A compreensão da pele e de seus anexos não
quantidade mínima de unidades formadoras é algo sem relevância, principalmente quando
de colônia (UFC) por grama de tecido infectado/ estamos em uma realidade na qual a imagem
amostra seja superior a 100.000 UFC. Mesmo externa é uma das coisas mais importantes da
assim, é muito provável que haja confusão na in- vida social. Lembro-me de que, no auge da pan-
terpretação dos resultados, principalmente porque demia, assisti a uma palestra da Euromonitor
o tecido necrosado é um ambiente propício para International, um órgão especializado em pes-
o crescimento de inúmeras bactérias, não apenas quisa de mercado, que revelou que o Brasil é o
as patogênicas. Normalmente, o material forneci- quarto país com maior crescimento na indús-
do para a pesquisa microbiana são tecidos prove- tria cosmética no mundo todo. Por isso, ser um
nientes de biópsias (no mínimo, 0,5 g de tecido), profissional que conhece as particularidades e
que são homogeneizadas junto a um caldo (como os acometimentos epidérmicos fará de você um
caldo peptona), e a solução resultante deve ser analista fora do comum.
diluída e semeada em meios de cultura. Se houver Nessa busca constante de aprimorar a apa-
crescimento, os micro-organismos são identifica- rência, existe o aumento pela procura de proce-
dos e os testes de sensibilidade a antimicrobianos dimentos estéticos que envolvem alta exposição
também são empregados (BRASIL, 2013). da epiderme e uso de instrumentos cortantes e
Como foi possível observar, as infecções de perfurantes para tal, tornando a probabilidade
pele podem envolver desordens graves, como de infecções de pele por soluções de continui-
a gangrena e a fasciíte necrosante. Ao mesmo dade, inabilidade do profissional que executa o
tempo, processos infecciosos menos complica- procedimento ou más condições de higiene dos
dos (como o apresentado na Figura 1) também materiais ainda maiores. Não menos importante,
fazem parte desse grupo de infecções. as infecções que vimos nesta unidade acometem
Por falar nisso, você já consegue dizer qual é a populações vulneráveis, como crianças e recém-
complicação epidérmica da Figura 1? Tenho cer- -nascidos, fazendo com que a presença de um
teza de que, nesse ponto, você já consegue afirmar profissional bem treinado em análises laborato-
que se trata da formação de uma espinha, apre- riais possa fornecer mais confiança, resultados
sentação clássica de um episódio de acne. Por isso, robustos e diagnósticos rápidos para tomadas de
reforço a importância da observação dos sinais decisão na terapêutica desses indivíduos.
clínicos como conduta primordial na operação Além disso, os mecanismos de patogenici-
investigativa das doenças cutâneas. dade, exibidos por esses micro-organismos, po-
Além disso, tenho certeza de que você tam- dem, ainda, desencadear sintomas sistêmicos,
bém notou que associar as manifestações clíni- que poderão ser combinados a outras investiga-
cas aos testes laboratoriais torna a escolha da ções laboratoriais e pesquisas microbiológicas,
terapia mais adequada e assertiva. Ademais, exigindo que você, como profissional da saúde,
agora você sabe que o ambiente hospitalar, nos tenha a habilidade necessária para transitar en-
casos mais graves, é praticamente imprescindí- tre os assuntos tratados até esse momento com
vel, uma vez que, nessas situações, o indivíduo maturidade e conhecimento.

215
Nesta unidade, finalizamos o estudo das principais infecções bacterianas que afetam, direta ou
indiretamente, o organismo humano. Se você pudesse fazer um balanço de seu aprendizado, o que
mais consideraria importante? Ou, ainda, quais dos sistemas mais chamou a sua atenção? Convi-
do-o(a) a refletir sobre isso e registrar suas principais conclusões no Mapa da Empatia a seguir.
- Quais os principais assuntos que me convidaram a ouvir mais sobre as doenças bacterianas de
meus professores e colegas?
- Quais as principais reflexões que as unidades sobre infecções bacterianas me provocaram?
- O que penso diante desse assunto? Estas unidades me ajudaram a interessar-me mais pela mi-
crobiologia?
- Eu me vejo trabalhando futuramente com a análise microbiológica?
- Como enxergo a necessidade do mundo e da sociedade hoje e como seria meu trabalho para
melhorar esse sistema?
- Quais as melhores maneiras de me comunicar com profissionais da saúde e pacientes em relação
ao meu trabalho, caso eu seja um analista laboratorial?
- Qual seria a minha maior dificuldade na microbiologia?
- Quais os maiores obstáculos hoje para o trabalho em laboratório clínico?
- Quais dos assuntos estudados até agora preciso me aprimorar?
- Quanto tempo devo dedicar ao estudo das infecções bacterianas?

216
1. Assinale a alternativa que descreve corretamente os constituintes da microbiota normal da pele:

a) Bactérias dos gêneros Staphylococcus, Micrococcus, Corynebacterium e Propionibacterium.


b) Bactérias dos gêneros Micrococcus, Escherichia coli e Streptococcus pyogenes.
c) Bactérias dos gêneros Escherichia coli, Micrococcus, Corynebacterium e Propionibacterium.
d) Bactérias Gram-negativas dos gêneros Escherichia e Klebsiella.
e) Bactérias dos gêneros Staphylococcus, Streptococcus, Clostridium e Lactobacillus.

2. Assinale a alternativa que apresenta a sentença correta acerca das doenças de pele:

a) A principal diferença entre piodermites e celulites é que a primeira é causada por bactérias
patogênicas e a outra, apenas por bactérias da microbiota normal.
b) As infecções de pele dependem exclusivamente da perda de integridade da pele, uma vez
que a via hematogênica não é uma forma de acesso à derme.
c) As infecções cutâneas podem ser desencadeadas por micro-organismos da microbiota, como
o Clostridium perfringens, e por aqueles que não fazem parte, como o Staphylococcus aureus.
d) A camada mais externa da pele, a derme, é alvo dos acometimentos de pele conhecidos
como celulite.
e) As doenças de pele são causadas por uma ampla gama de micro-organismos, como Gram-
-positivos aeróbios e anaeróbios e, também, Gram-negativos.

3. A síndrome da pele escaldada é um distúrbio cutâneo, caracterizado, clinicamente, pelo avermelhamento e


pela descamação intensa da pele, que acomete, principalmente, crianças e neonatos. Assinale a alternativa
correta com relação a essa patologia:

a) Essa síndrome ocorre porque o agente causador, Streptococcus pyogenes, realiza a liberação
de endotoxinas, capazes de causar efeito esfoliativo na pele.
b) Essa síndrome ocorre porque o agente causador, Staphylococcus aureus, realiza a liberação
de endotoxinas, capazes de causar efeito esfoliativo na pele.
c) O agente etiológico, o Staphylococcus aureus, realiza a liberação de toxinas específicas, cha-
madas de esfoliatinas, que dão origem à manifestação clínica da doença, a qual pode ocorrer
como sequela da síndrome do choque tóxico.
d) O agente etiológico, o Staphylococcus aureus, realiza a liberação de toxinas específicas, cha-
madas de estreptoquinases, que dão origem à manifestação clínica da doença, a qual pode
ocorrer como sequela da síndrome do choque tóxico.
e) As lesões geradas são indolores, pois a infecção é causada por uma bactéria que não possui
fatores de virulência.

217
4. Assinale a alternativa que contém os agentes etiológicos do impetigo:

a) Gêneros Estreptococos, Estafilococos, Fusobacterium e Clostridium.


b) Gêneros Estreptococos, Estafilococos e Corynebacterium.
c) Gêneros Fusobacterium, Clostridium e Corynebacterium.
d) Gêneros Estreptococos, Estafilococos e Propionibacterium.
e) Gêneros Clostridium, Propionibacterium e Estafilococos.

5. Doença estreptocócica, caracterizada por exantema na região de pescoço, tronco, virilha e


axilas, que evoluem para lesões escamosas. Alguns pacientes podem desenvolver lesões na
língua, conhecidas como “língua em aspecto de framboesa”. Assinale a alternativa que contém
a patologia que apresenta essas manifestações clínicas:

a) Impetigo bolhoso.
b) Varíola.
c) Abscesso bacteriano.
d) Febre escarlatina.
e) Febre reumática.

218
8
Aspectos Clínicos,
Epidemiológicos
e Laboratoriais
de Infecções das
Micoses Superficiais e
Cutâneas
Me. Suelen Eloise Simoni

Nesta unidade, você, estudante, poderá relembrar dos conceitos


das células eucarióticas e as principais diferenças entre elas e os
procariotos. Também irá conhecer as estruturas fundamentais dos
fungos, aprofundando-se especificamente na classificação desses
organismos, suas principais características macro e microscópicas
e focar, principalmente, nas patologias de ordem cutânea e sub-
cutânea causadas por esses agentes.
UNICESUMAR

É mais um dia comum no laboratório de O domínio da rotina laboratorial não é para


microbiologia. O dia está relativamente tranqui- qualquer um, no entanto, quando feita com maes-
lo e você atende à seguinte ligação: “Ainda não tria, acaba sendo a principal rota na resolução de
recebi o resultado do meu exame de pele. Já faz problemas como o citado anteriormente. Saber
mais de dez dias e eu ainda não recebi o retorno das condições da amostra, as particularidades dos
do laboratório com o meu resultado!”. É o seu ensaios e os tipos de pesquisas a serem realizadas
paciente, e ele está muito aborrecido. facilitam (e muito!) a dinâmica profissional. Mas
Como você já é experiente e trabalha de forma dentre todos os patógenos que estudamos até ago-
organizada, prontamente consegue identificar a ra, ainda não nos aprofundamos em um Reino
amostra coletada e todos os dados necessários muito importante dos microrganismos, o qual
para descobrir o motivo do “atraso” no resultado. é responsável, inclusive, pelo aparente “atraso”
Rapidamente, você identifica o que está aconte- nos resultados do seu paciente. Você sabe de qual
cendo e fica tranquilo ao constatar que a demora Reino eu estou falando?
para o tipo de ensaio executado é normal. Para ajudá-lo(a), eu o(a) convido a ler o artigo
Reunindo todo o conhecimento que você Determinação da prevalência de contaminação
adquiriu até aqui, qual você imagina ser a prin- nos aloenxertos de pele do banco de tecidos, dis-
cipal causa no aparente atraso de resultado? ponível no QR code a seguir, e tentar, por si só,
Teria o tipo de microrganismo a ser pesquisado identificar quais agentes vamos estudar a seguir.
responsabilidade nisso tudo? Dentre os microrganismos descritos nesse artigo,
havia algum que não fosse bactéria?

220
UNIDADE 8

Quando parece que estamos finalmente concluindo algum assunto, sempre


surgem novas perguntas e conteúdos novos, não é mesmo? Essa é a rotina
de um profissional na microbiologia, que precisa constantemente dominar
tanto os conceitos fundamentais, como os que estudamos até aqui, quanto
os mais inovadores e ainda não desbravados. Quanto a isso, eu lhe pergunto:
qual foi o organismo diferente das bactérias que você identificou? Quais as
principais diferenças que você se recorda ou conhece dentre esses organis-
mos e os agentes bacterianos? Você pode utilizar o espaço a seguir para fazer suas anotações iniciais
e aquecer para o estudo desta unidade.

Desta unidade em diante, estudaremos um grupo fascinante de microrganismos (alguns nem tão
“micro” assim) responsáveis por diversas aplicações industriais, alimentícias, cosméticas e far-
macêuticas, mas que, por serem estranhos ao homem, também são causadores de infecções locais
e sistêmicas: os fungos. Por essa razão, precisamos nos desvincular da estrutura organizacional das
células bacterianas e nos familiarizarmos com a célula eucariótica, unidade fundamental de todos os
integrantes do Reino Fungi e motivo principal pelo qual os fungos não podem ser confundidos com as

221
UNICESUMAR

bactérias. É importante frisar que nesta unidade não discutiremos a fundo os aspectos bioquímicos e
moleculares acerca do funcionamento celular, uma vez que as disciplinas de bioquímica, citologia ou
histologia tratam desse assunto de maneira muito mais aprofundada e completa. Por isso, recomendo
a você, aluno(a), revisitar essas disciplinas fundamentais caso precise relembrar de alguns conceitos.

Ficou curioso para entender melhor a aplicabilidade dos fungos nas áreas
de produção industrial? Aproveite esses minutinhos para conhecer mais
sobre a utilização desses organismos para os processos de fabricação
e aumente ainda mais o seu repertório acerca desse Reino fantástico.

A célula eucariótica apresenta diâmetro acima de 10 μm, e assim como as células procariontes, também
possui a membrana plasmática fluida e em mosaico fosfolipídico. A alta concentração de lipídio,
na forma de esteróis, é a principal característica molecular que as difere das membranas bacterianas
(com exceção dos micoplasmas, que possuem a gordura em seu envoltório celular). No citoplasma,
há inúmeras organelas citoplasmáticas, cada uma com funções específicas:

• Mitocôndrias: responsáveis pelas reações oxidativas captando e armazenando ATP (adenosina


trifosfato), que funcionam como um “combustível” celular.
• Ribossomos: estruturas formadas de RNA e proteínas que possuem sítios específicos para
síntese de proteínas e são diretamente ligados ao retículo endoplasmático rugoso.
• Retículo endoplasmático rugoso: enquanto os ribossomos produzem proteínas para a so-
brevivência da própria célula, o retículo endoplasmático rugoso produz unidades proteicas
que serão secretadas.
• Retículo endoplasmático liso: sistema de membranas sintetizadoras de lipídios utilizados
principalmente na produção da membrana citoplasmática da própria célula.
• Complexo de Golgi: local no qual serão armazenadas as proteínas e gorduras fabricadas no
retículo endoplasmático e que posteriormente serão fundidas à membrana citoplasmática,
liberando os componentes para o exterior celular. Essa estrutura também fabrica a membrana
dos lisossomos.
• Lisossomos: contendo várias enzimas digestivas, essas organelas são responsáveis pela digestão
celular.
• Peroxissomos: contêm enzimas que convertem peróxido de hidrogênio em água, evitando
dano celular oxidativo.
• Vacúolos: organizações armazenadoras de energia na forma de amido/glicogênio/gordura.

222
UNIDADE 8

Mas o que realmente diferencia células eucarióticas e procarióticas é a presença do núcleo, locali-
zado no citoplasma e que abriga a informação genética principal da célula eucariótica. O núcleo é
uma estrutura geralmente central nas células eucariontes, contendo nucleoplasma (porção fluida),
nucléolos, cromossomos, e que possui também uma membrana dupla e semelhante à membrana
citoplasmática. A membrana nuclear é porosa, o que possibilita que moléculas de RNA transitem
entre o citoplasma e o nucleoplasma, permitindo a síntese proteica essencial para a célula. Cada
núcleo possui ainda dois ou mais reservatórios de RNA, o nucléolo e, ainda, cromossomos pareados
e constituídos de DNA e proteínas (histonas) (BLACK; BLACK, 2021). Você pode acompanhar na
Figura 1 a maioria dessas organelas e estruturas.

Citoesqueleto Núcleo
Mitocondria
Retículo
Ribosomas endoplasmático
Centríolo

Membrana
plasmática

Citoplasma

Peroxisoma
Aparato de Golgi Nucléolo

Figura 1 – Estrutura básica de uma célula eucarionte. / Fonte: Descomplica Blog (2022, on-line).

Descrição da Imagem: desenho representativo da célula eucarionte. A célula é esférica, mas possui um quarto de todo seu volume
seccionado em formato de “L” revelando todas as estruturas internas. A célula é cinza em seu exterior. A membrana plasmática é o
revestimento externo em cinza denominado “Membrana plasmática”. Interior à célula e recobrindo todo seu volume visível, em azul
claro, está indicado o “Citoplasma”. Na região esquerda e posterior, duas estruturas semelhantes a um grão de feijão partido ao meio,
na cor marrom, representam a “Mitocôndria”. Entre duas mitocôndrias, em formato de filamentos curtos, na horizontal e na cor verde,
está indicado o “Citoesqueleto”. Na região direita, há o núcleo celular, que possui em seu interior uma grande esfera cinza escura
representando o nucléolo. Ainda dentro do núcleo, é possível observar três estruturas em hélice dispersas, as quais representam o
DNA, mas essa informação não está descrita na imagem. Ao redor do núcleo, em uma organização semelhante a uma bolsa cheia de
interdigitações, na cor azul escura, está representado o retículo endoplasmático. Entre o núcleo e o citoesqueleto, há duas estruturas
semelhantes a um carretel, na cor laranja, que representam o centríolo. Na extrema direita da imagem, assim como na região esquerda
anterior, estão desenhadas duas esferas amarelas que ilustram o peroxissoma. No local mais anterior da figura há o aparato de Golgi,
em formato de bolsa e na cor castanha. Por todo o citoplasma ainda é possível observar inúmeras esferas pequenas na cor preta,
representando os ribossomos. Cada organela é indicada e denominada por uma seta e escritas em preto.

223
UNICESUMAR

A divisão celular também é um aspecto que desaparece, liberando os cromossomos no cito-


chama atenção quando analisamos células eu- plasma e induzindo-os a ligarem-se às fibras mi-
carióticas e procarióticas. Isso porque os fungos tóticas. Com isso, os cromossomos duplicados
possuem divisão celular mitótica, necessária são “puxados” cada um para um lado da célula
para seu crescimento e disseminação, e meiótica, por meio dessas fibras, de maneira que cada polo
que forma novos gametas. De maneira resumida, celular recebe exatamente a mesma quantidade
a mitose (Figura 2) começa com a replicação e de cromossomos, sinalizando para que a célula
condensação dos cromossomos em uma célula volte a reconstruir a membrana nuclear, de modo
diploide, além da duplicação dos centríolos cito- que cada cópia cromossômica receba um envol-
plasmáticos. Os centríolos migram para os polos tório, processo que é suficiente para que ocorra
da célula – para formar fibras chamadas “fuso a citocinese (divisão citoplasmática entre uma
mitótico” – enquanto o envoltório nuclear célula e outra) (BLACK; BLACK, 2021).

Figura 2 – Representação da mitose celular. / Fonte: Shutterstock ([2023a], on-line).

Descrição da Imagem: representação gráfica do processo da mitose, apresentando sete estruturas distintas que, se entende, tratarem
da mesma célula de origem, organizadas em duas fileiras horizontais. Na primeira fileira, a célula da extrema esquerda é ilustrada
por uma esfera azul clara, que no centro possui uma esfera menor em azul escuro, representando o núcleo. Depois, à direita desta, a
próxima célula apresenta, no lugar do núcleo, estruturas em forma de “X” representando os cromossomos, também na cor azul escura,
dispersos em diversas direções preenchendo todo o espaço celular. Na próxima célula, as estruturas em “X” apresentam-se mais or-
ganizadas, agora na vertical e centralizadas na esfera celular. A célula da extrema direita, por sua vez, demonstra as estruturas em “X”
ainda na vertical, mas dessa vez reunidas em dois grupos iguais, um em cada polo da célula, um grupo acima e outro abaixo. A próxima
estrutura, na fileira inferior e à esquerda, é uma célula em divisão que possui o formato do número “8”, e com seu conteúdo interno
preenchido pelos cromossomos agrupados no extremo superior e inferior dessa estrutura. A figura central, por sua vez, é semelhante
à anterior, mas possuindo as extremidades superiores e inferiores mais alongadas. No próximo estágio, duas células com a mesma
estrutura gráfica da primeira citada estão dispostas uma em cima da outra.

224
UNIDADE 8

A formação de gametas, por sua vez, envolve o a unidades com a variabilidade genética. Os
processo de meiose, no qual uma célula diploide esporos, por sua vez, dividem-se por mitose
dá origem a duas células haploides que estarão para dar origem a novos organismos, e podem
envolvidas no processo de reprodução sexua- ser produzidos por esporângios (como no caso
da. Nesse processo, após a replicação dos cro- do fungo Mucor spp.) ou liberados pelas hi-
mossomos, ao invés do par duplicado (chamado fas, denominadas, dessa maneira, de conídios,
também de díade) ser enviado para duas células produzidos ao fim de uma estrutura chamada
distintas, o par de duas díades são divididos em conidióforo, como o que ocorre com a proli-
quatro células distintas, cada uma ficando com feração dos fungos do gênero Penicillium spp.
apenas um cromossomo de cada par, tornan- (BLACK; BLACK, 2021). Ainda, podem se cha-
do-se, assim, uma célula haploide (MURRAY; mar artroconídios quando liberados a partir
ROSENTHAL; PFALLER, 2021). da fragmentação de uma hifa septada como
Os fungos se reproduzem de forma asse- no Coccidioides immitis, ou blastoconídio
xuada, por brotamento, no caso das levedu- e clamidoconídio como os encontrados nas
ras, ou sexuada, na qual núcleos de células leveduras como Cândida albicans (TORTORA;
haploides se multiplicam e se unem forman- FUNKE; CASE, 2019). Na Figura 3, você pode
do, primeiro, uma estrutura dicariótica, para observar alguns dos diversos tipos de esporos
depois se dividirem por meiose dando origem produzidos pelos fungos.

225
UNICESUMAR

Conídios Artroconídios

Conidióforo

Esporangióforos

Clamidoconídio

Esporangióforo

Figura 3 – Exemplos de esporos assexuados produzidos pelos fungos. / Fonte: Tortora, Funke e Case (2019, p. 354).

Descrição da Imagem:quatro fotos de microscopia eletrônica, organizadas em duas linhas, cada linha com duas figuras. Na primeira
delas, à esquerda superior, há ilustrado o conidióforo Aspergillus spp., contendo uma haste na vertical, de coloração roxa clara, de onde
saem inúmeros segmentos em formato de pino de boliche. Na extremidade de cada segmento é possível observar uma pequena esfera
que termina em uma grande estrutura arredondada que é formada. O conidióforo e os conídios são indicados por uma seta preta e com
a escrita desses termos em inglês. Na segunda foto, à direita superior, há representado o artroconídio do gênero Ceratocystis spp., e
nela estão apresentados muitos filamentos, de textura rugosa e na cor azul clara, posicionados na diagonal da esquerda para a direita,
nos quais existem estruturas bacilares e de textura semelhante na cor laranja. O artroconídio é indicado por duas setas pretas e pela
escrita do termo em inglês. Na terceira imagem, à esquerda inferior, há a representação dos clamidoconídios da Cândida albicans, os
quais são filamentos cilíndricos que possuem, em alguns pontos, o alargamento desse segmento, de maneira que o clamidoconídio está
indicado por uma seta preta e pela escrita do termo em inglês. Na última ilustração, à direita inferior, há o esporangióforo do gênero
Rhizopus, o qual é apresentado como um filamento na horizontal, na cor roxa clara, que dá origem a uma grande esfera de textura
rugosa que possui em toda sua superfície muitas esferas na cor azul clara, indicando os esporangióforos. Essas estruturas estão ambas
indicadas por setas pretas e pela escrita dos termos em inglês.

Assim como as bactérias, os fungos são heterotróficos, precisam de nutrientes e condições energé-
ticas específicas para seu crescimento e sobrevivência. Ainda, muitos constituintes do reino Fungi
são classificados como saprófitos, isto é, organismos que digerem matéria e resíduo orgânico morto.
Além disso, podem ser unicelulares, como no caso das leveduras, mas classificados também como
multicelulares quando na forma de bolores e cogumelos (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER,
2021). Microscopicamente, essas estruturas podem ser diferenciadas porque as partículas unicelulares
são facilmente identificáveis (Figura 4) de modo que as leveduras sempre têm uma forma ovalada e
coram-se facilmente pelos métodos de Gram, ficando na cor roxa intensa, semelhante aos organismos
Gram-positivos (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019.)

226
UNIDADE 8

Figura 4 – Levedura vista em microscópio em coloração de Gram. / Fonte: Shutterstock ([2023b], on-line).

Descrição da Imagem: foto real de uma lâmina microbiológica contendo leveduras. A lâmina possui o fundo branco e o microrganismo
tem inúmeras unidades apresentadas em formato esférico, levemente ovalado, e algumas unidades possuem uma de suas extremida-
des espiculadas, conferindo um formato de gota à estrutura. Também é possível observar filamentos na vertical, também na cor roxa,
que representam as pseudo-hifas.

O padrão heterotrófico dos fungos auxilia, inclusive, na vida humana. Você sabia que o gênero Sac-
charomyces spp. é uma levedura responsável pela fermentação de carboidratos, e por essa razão
é utilizada como fermento biológico e fermentador para produção de cervejas? Você conhece mais
algum fungo que produz metabólitos de uso industrial?

227
UNICESUMAR

Os bolores, também denominados fungos filamentosos, possuem uma anatomia básica, no entanto,
dependendo do gênero ou família na qual o organismo é enquadrado, ele pode apresentar estruturas
com denominações distintas, ou mesmo novas estruturas. Fundamentalmente, os fungos possuem o
corpo formado de hifas, filamentos compostos de unidades celulares fúngicas, de maneira que um
conjunto de hifas forma o que chamamos de micélio (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
Leveduras podem apresentar estruturas semelhantes às hifas, chamadas de pseudo-hifas, diferencia-
das das hifas pela observação clara de uma constrição entre uma célula e outra. Você pode observar
a diferença estrutural entre micélios e hifas na Figura 5, onde temos a configuração microscópica do
fungo Mucor spp. como exemplo.

Figura 5 – Diferença entre hifa e micélio dos fungos


filamentosos. / Fonte: Shutterstock ([2023c], on-line).
Esporângio

Descrição da Imagem: Idesenho do fungo Mucor.


Esporos Nele, há uma estrutura horizontal desenhada na for-
ma de diversos filamentos na cor verde acinzentada,
e sua organização lembra a configuração de uma
raiz, de maneira que há um filamento principal e,
Esporangióforo a partir dele, inúmeros filamentos secundários são
originados e voltados para diversas direções. A partir
dessa estrutura radicular, sete filamentos verticais
são originados, dos quais seis terminam com uma
esfera preta em sua extremidade superior. Um deles,
o posicionado mais à esquerda da imagem, possui
em sua extremidade superior uma estrutura esférica
Hifa com um de seus lados rompidos, liberando esferas
pretas menores para o ambiente. Na figura ainda há
Micélio setas pretas indicando o nome de cada estrutura pe-
los termos “sporangium”, “spores”, “sporangiophore”,
“hypha” e “mycelium”.

O micélio é composto por hifas vegetativas, região responsável por liberar enzimas digestivas para
consumo de nutrientes e destruição de matéria orgânica, além de serem responsáveis pela degradação
das superfícies que parasitam. A habilidade de degradação de matéria orgânica está ligada diretamente
com a função biológica dos fungos, uma vez que esses organismos decompositores fazem parte do
ciclo do nitrogênio, auxiliando no funcionamento de bactérias no solo e fornecimento de nutrientes para
outros biomas. As hifas são compostas por células uni ou binucleadas e podem apresentar ou não uma
divisão entre si, denominada septo. No entanto, o septo é poroso e permite a transição de nutrientes
e núcleos entre uma célula e outra. A porção responsável pela reprodução é denominada hifa aérea, a
qual é responsável pela liberação de esporos e conídios (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019).
A diferença entre hifa vegetativa e aérea pode ser analisada na Figura 6, na qual temos o fungo
Aspergillus niger como exemplo. Na figura da esquerda, temos a sua visão microscópica, na qual con-
seguimos constatar a presença de um esporângio (conidióforo) na extremidade da hifa em formato
esférico e na cor preta. Essa é a hifa aérea. Na figura da direita, temos o fungo semeado em placa de
Petri e podemos observar a sua estrutura macroscópica. De maneira análoga, a região onde podemos
ver o pigmento escuro configura o local onde há a maior concentração de hifas aéreas, enquanto a
região marginal não possui pigmento, apresentando-os à região das hifas vegetativas.

228
UNIDADE 8

Hifas aéreas Hifas vegetativas


Hifas aéreas (micélio)

Figura 6 – Diferença entre hifa vegetativa e hifa aérea em fungos filamentosos. / Fonte: Tortora, Funke e Case (2019, p. 352).

Descrição da Imagem: duas fotos. A foto da esquerda é referente a uma lâmina microscópica. Nela, é possível observar filamentos muito
finos, e em suas extremidades, há esferas espiculadas na cor preta. Na imagem, há, ainda, duas setas pretas indicando as estruturas com
a escrita “Aerial hyphae” em um quadro branco de letras pretas. Na foto da direita, há uma placa de Petri com um fungo arredondado,
de aspecto aveludado, que possui duas regiões distintas: a região central tem fundo branco e superfície com um pigmento, disposto de
maneira semelhante a respingos de tinta. Na parte marginal e externa, o fungo apresenta apenas a cor branca. Ainda, nessa imagem,
há duas setas pretas indicando com as escritas em branco “Aerial hyphae” e “Vegetative hyphae (mycelium)” as respectivas regiões.

Os fungos podem ser classificados em catego- e eles são facilmente disseminados no ambiente
rias, dependendo da natureza do seu estágio se- pela liberação de esporos, que podem partir da
xual ou ciclo de vida. No entanto, esse modo extremidade da hifa ou, ainda, serem produzi-
de observação e colocação pode gerar alguns dos sexuadamente (zigósporos). Além disso,
inconvenientes, principalmente em relação ao suas hifas são longas, cobrindo uma grande área
nome dado ao organismo, uma vez que ele pode do local contaminado (e é por isso que quan-
ser observado em diferentes estágios e, por isso, do o pão tem sinal de fungos não adianta cortar
ser chamado de diversos nomes. Por exemplo, o apenas a parte “contaminada”). O representante
fungo Trichophyton é o causador do pé de atle- mais notório desse grupo e potencial causador
ta, e denominado assim quando observado em de doenças oportunistas são as espécies dos gê-
sua forma assexuada. O mesmo fungo pode ser neros Rhizopus (Figura 7) e Mucor (MURRAY;
chamado de Arthroderma quando visto na sua ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
forma sexuada. Além disso, a maioria das espécies
apresentam dimorfismo de maneira natural, ou
seja, é possível assumirem a forma de leveduras
ou de maneira esporulada em temperaturas de 35
a 37 °C, e como bolores de 20 a 25 °C (BLACK;
BLACK, 2021). Mesmo assim, podemos alocar
os gêneros em grupos específicos para facilitar o
estudo desses organismos.
Os zigomicetos, Zygomycota, ou fungos de
conjugação ou Glomeromycota, são os conheci-
dos bolores do pão. Suas hifas não são septadas

229
UNICESUMAR

Figura 7 – Gênero Rhizopus na forma de bolor. / Fonte: Shutterstock ([2023d], on-line).

Descrição da Imagem: foto aproximada de uma fatia de pão contendo crescimento do fungo Rhizopus. O pão é de cor amarela, e é
possível observar a presença do fungo nas duas arestas visíveis do alimento na figura. O fungo está em contato com o pão por um
filamento hialino que possui em sua extremidade uma esfera muito pequena na cor preta.

No grupo dos Ascomicetos ou Ascomycota


(fungos em forma de saco) incluem-se
fungos filamentosos e, também, as leveduras.
As hifas, quando existentes, costumam ser
septadas, e os integrantes mais conhecidos
estão envolvidos com a indústria farmacêutica
e/ou alimentícia. Os fungos envolvidos com
processos patológicos clínicos que pertencem
a esse grupo são as leveduras Cândida albicans,
Blastomyces spp. e Histoplasma spp., e também
os filamentosos pertencente aos gêneros
Trichophyton spp. (Figura 8) e Aspergillus spp.
(BLACK; BLACK, 2021).

230
UNIDADE 8

Figura 8 – Fungo Trichophyton em ágar.


Fonte: Shutterstock ([2023e], on-line).

Descrição da Imagem:foto de uma placa de Petri contendo


um ágar castanho cobrindo todo o fundo da placa. Ocupando
a maior parte do centro da placa, há uma colônia de fungo
de aspecto algodonoso, na cor branca, e que possui em sua
superfície rugosidades em formatos de linhas escavadas nas
direções verticais, horizontais e diagonais que convergem
todas em um ponto central.

Os fungos claviformes ou basidiomicetos (Basi-


diomycota) incluem, além dos cogumelos, fungos
patogênicos para vegetais e plantas, como as fer-
rugens e fuligens. O Cryptococcus neoformans,
fungo oportunista que costuma provocar doenças
respiratórias que se estendem para o sistema ner-
voso central. É um dos organismos de importância
médica dentro desse grupo. E assim como as bactérias, existem alguns fungos que também são intra-
celulares obrigatórios, os quais estão no filo Microsporidia, unidades eucariontes isentas de algumas
organelas citoplasmáticas, como o peroxissomo. Destes, o de maior ocorrência hospitalar é o Entero-
cytozoon bieneusi (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
São muitas informações, não é mesmo? Por isso, você pode recorrer ao Quadro 1 a seguir para
resgatar seus conhecimentos:

Hifas e observação Microrganismos inte-


Grupo Importância
microscópica grantes

Zygomycota Ambiental e Hospitalar Não septadas Rhizopus spp e Mucor spp.


Cândida albicans, Blas-
Hospitalar, Indústria far- tomyces spp, Histoplasma
Ascomycota Septadas
macêutica e alimentícia spp., Trichophyton spp e
Aspergillus spp.
Ambiental (cogumelos) e
Basidiomycota Septadas Cryptococcus neoformans
hospitalar
Ambiental (doença em Fungo intracelular obri-
Microsporidia Enterocytozoon bieneusi
mamíferos) e hospitalar gatório

Quadro 1 – Classificação e características dos fungos. / Fonte: a autora.

É comum classificar os bolores e leveduras como patógenos oportunistas. No entanto, alguns gêneros
são capazes de causar infecções primárias nos seres humanos, devido principalmente aos seus meca-
nismos de patogenicidade. Estes envolvem as glicoproteínas de adesão que se ligam a macrófagos e
linfócitos T, modulando a resposta imunológica do hospedeiro; resistência dos conídios frente à fagoci-
tose; produção de urease que gera um pH alcalino que oferece resistência à hidrólise ácida; e liberação
de enzimas e proteinases que provocam destruição celular. Tais habilidades podem ser observadas nos

231
UNICESUMAR

chamados “patógenos fúngicos primários” como regiões do corpo e que, clinicamente, apresentam-
o Blastomyces dermatitidis, Coccidioides immi- -se em formato circular ou de anel (Figura 9).
tis, Histoplasma capsulatum e Paracoccidioides A Tinea capitis é a responsável pela micose do
brasiliensis (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019). couro cabeludo, e realiza o crescimento de suas
Por conta dessa grande gama de informações hifas dentro dos folículos capilares, produzindo
novas, trataremos das doenças fúngicas ou mico- padrões circulares de calvície. Semelhante a ela, a
ses de maneira estratificada, de modo que, neste Tinea pedis é a causadora da tínea de pé, a Tinea
momento, focaremos nos transtornos cutâneos cruris desencadeia lesões descamativas em virilha
e subcutâneos causados por esses organismos. e dobras de pele da região púbica, e a Tinea un-
É importante lembrar, antes de tudo, de que as guium causa a chamada onicomicose, a famosa
micoses são patologias de ordem praticamen- “micose de unha” que provoca endurecimento e
te crônica, devido ao potencial exibido pelos descoloração intensa das unhas de pés e mãos. Os
fungos nos processos de invasão celular e, ainda, fungos podem ser transmitidos de pessoa para
ao fato de os tratamentos voltados ao combate pessoa ou, ainda, através do contato com animais
deles afetarem também o indivíduo em terapia, como gatos e cães. Nenhum desses fungos citados
uma vez que há grandes similaridades molecula- provoca doença grave, mas geram lesões de apa-
res entre a célula fúngica e humana (TORTORA; rência desagradável e persistente, fazendo com
FUNKE; CASE, 2019). que a maior parte dos diagnósticos seja clínico,
Os dermatófitos, fungos que causam infec- por mais que raspados de pele também possam
ções superficiais e cutâneas, realizam a pro- ser coletados e observados. O tratamento envolve
dução e liberação da enzima queratinase. A remoção do tecido afetado e/ou aplicação de po-
queratina está presente em fios de cabelo, pele madas à base de antifúngicos, como o miconazol
e unhas, fazendo com que essas regiões sejam o (BLACK; BLACK, 2021).
principal sítio patológico desses organismos. A
transmissão e ocorrência da doença depende
principalmente de três fatores principais: a pro-
ximidade com os tecidos internos do hospedei-
ro, a capacidade de penetrar no organismo e a
tendência a digerir e absorver nutrientes das
células do indivíduo infectado (MURRAY; RO-
SENTHAL; PFALLER, 2021).
Com relação às lesões de pele sem complica-
ções, as tíneas talvez sejam as mais conhecidas,
mas é importante lembrar que fungos Trichophy-
ton mentagrophytes, T. rubrum, T. tonsurans,
Microsporum canis e Epidermophyton flocco-
sum também são potenciais agentes etiológicos
de dermatofitoses do corpo, couro cabeludo e pés.
As tíneas são micoses que ocorrem em diversas

232
UNIDADE 8

Figura 9 – Lesão circular característica de tínea. / Fonte: Tortora, Funke, Case (2019, p. 634).

Descrição da Imagem:foto real da pele de um indivíduo de maneira que não é possível distinguir de qual região epidérmica se trata.
O tom da pele é moreno, e bem no centro da figura há uma lesão de bordas arredondadas e proeminentes que delimitam bem o
local da infecção. A ferida tem aspecto rugoso, não possui líquido ou pus e a parte central dela está na mesma altura da pele normal.

Ainda, a conhecida tínea negra é causada pelo organismo Hortaea werneckii, um fungo que possui
hifas septadas e coloração naturalmente escura. Geralmente, o indivíduo contrai o fungo por soluções
de continuidade na pele, o qual provoca lesões enegrecidas e acastanhadas em palmas das mãos
e sola dos pés, e que podem ser confundidas com a condição clínica de melanoma. Por essa razão,
é comum que dermatologistas solicitem biópsia para esse diagnóstico. A piedra branca (Figura 10)
e piedra preta também são infecções superficiais e localizadas no couro cabeludo e fio do cabelo,
caracterizadas por nódulos em torno dos fios causadas respectivamente pelos fungos Trichophyton e
Piedraia hortae. Nesses casos, a condição pode ser evitada pelo corte dos fios acometidos e lavagens
do couro cabeludo de maneira periódica (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).

Figura 10 – Aspecto macroscópico da piedra branca


em fio de cabelo. / Fonte: Veasey et al. (2017, p. 414).

Descrição da Imagem:na imagem há uma foto de inúmeros


fios de cabelos castanhos em diversas direções. Neles, é pos-
sível observar pequenos pontos brancos e, ainda, em alguns
fios, há uma placa branca pequena envolvendo parte do fio,
configurando a presença do fungo.

A caspa também está entre as micoses super-


ficiais mais comuns, e é através dela que somos
apresentados ao gênero Malassezia, importan-
te grupo de causadores de micoses cutâneas. A
principal característica clínica da caspa é a des-

233
UNICESUMAR

camação do couro cabeludo de forma leve ou intensa, influenciada por um processo inflamatório
da levedura em questão, que desencadeia a morte das células que revestem a cabeça de maneira mais
rápida. O gênero dessas leveduras também é o causador da pitiríase versicolor (também denomina-
da tínea versicolor), um distúrbio epidérmico no qual ocorrem mudanças de pigmentação da pele
(Figura 11) devido à colonização da Malassezia furfur (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).

Figura 11 – Descoloração cutânea em decorrência da pitiríase versicolor. / Fonte: Shutterstock ([2023f], on-line).

Descrição da Imagem: foto de um indivíduo de costas, de maneira que é possível observar o corpo acima da linha da cintura, braço
esquerdo e início do pescoço. É possível observar que, na altura dos ombros, a tonalidade da pele normal (morena) sofre uma despig-
mentação que é revelada por uma mancha branca que recobre toda a linha do pescoço e que se irradia em forma de pequenos círculos
brancos por toda a extensão das costas do indivíduo.

Os fungos produzem inúmeras substâncias que possuem aplicabilidade na indústria farmacêutica.


Além da conhecida penicilina, antimicrobiano produzido por espécies de Penicillium, os fungos da
espécie Claviceps purpurea também produzem moléculas importantes. Esse organismo, também
conhecido como esporão-do-centeio, é um parasita do centeio que sintetiza a ergotina ou ergo-
tamina, um alcaloide vasoconstritor que, em baixas concentrações, produz efeito analgésico em
indivíduos com enxaqueca, além de ser indicado também para indução de contrações uterinas.
O fungo também é produtor de substâncias alucinógenas que são utilizadas em drogas de uso
recreativo, como o LSD. Por terem característica altamente lipofílica, essas substâncias avançam
para o sistema nervoso central, podendo causar também efeitos nocivos como náuseas e vômitos
e, em excesso de dose, possuem efeitos letais (BLACK; BLACK, 2021).

234
UNIDADE 8

À medida que as infecções vão se aprofundando no tecido superficial, as manifestações clínicas, assim
como os tratamentos, costumam ser de tendência mais complicada. A esporotricose, que penetra
no corpo do indivíduo a partir de musgos, espinhos de roseiras e animais, é uma micose subcutânea
causada pelo Sporothrix schenckii. É caracterizada por uma lesão inicialmente nodular e dolorosa,
que depois evolui para uma ulceração granulomatosa a purulenta, que pode se disseminar pelos tecidos
linfáticos e atingir outras regiões, como os pulmões. O tratamento envolve aplicação de substâncias
tópicas, como o iodeto de potássio, e em casos mais graves é indicada a administração da anfotericina
B. O diagnóstico envolve a cultura do pus proveniente da lesão e testes bioquímicos de identificação
(MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
O S. schenckii é um fungo dimórfico, e sua característica macroscópica no meio de cultura é
relativamente padronizada, com formação de uma superfície enrugada que gradualmente se torna
escura, na cor marrom ou preta. Suas hifas septadas produzem inúmeros conídios ovais e microsco-
picamente, a morfologia de sua fase filamentosa lembra pétalas de margarida (Figura 12) (MURRAY;
ROSENTHAL; PFALLER, 2021).

Figura 12 – Fase filamentosa do fungo Sporothrix schenkii. / Fonte: Murray, Rosenthal e Pfaller (2021, p. 624).

Descrição da Imagem: foto em microscópio de uma lâmina contendo o fungo S. schenckii na cor azul contra um fundo branco. Do lado
esquerdo da imagem, há uma emaranhado de células e hifas indistinguíveis. Da parte central, em direção ao lado direito, é possível
observar filamentos finos com pequenos grânulos azuis em seu interior, nos sentidos verticais e horizontais. Na ponta desses filamentos
há um grupo de estruturas ovais em formato oval, lembrando pétalas, formando uma estrutura semelhante a uma flor.

No formato de lesões macroscópicas pronunciadas, a cromoblastomicose e blastomicose também são


doenças fúngicas que acometem o tecido subcutâneo, gerando lesões nodulares de crescimento bem lento
e persistente. Os gêneros envolvidos nas cromoblastomicoses são, principalmente, o Fonsecaea, Clados-
porium, Cladophialophora, Rhinocladiella e Phialophora, os quais são naturalmente pigmentados e
que produzem diferentes tipos de conídios (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021). O fungo Blas-
tomyces dermatitidis, causador da blastomicose (dermatite blastomicética), costuma gerar respostas in-

235
UNICESUMAR

flamatórias mais intensas, desencadeando sintomas Com relação às infecções fúngicas oportunistas,
mais sérios que envolvem lesões desfigurantes, de por mais que não possam ser caracterizadas como
caráter granulomatoso e que pode levar à formação infecções cutâneas ou subcutâneas, a colonização
de múltiplos abscessos (Figura 13). Ainda, o indi- superficial por essa levedura pode desencadear
víduo pode desenvolver blastomicose pulmonar processos inflamatórios e infecciosos impor-
ao inalar diretamente os esporos desse organismo tantes. Quando coloniza a superfície dos lábios
(ORTEGA-LOAYZA; NGUYEN, 2013). Ambas as e cavidade bucal, a Cândida albicans causa o
doenças podem ser diagnosticadas pelo caráter clí- conhecido “sapinho”, no qual é possível obser-
nico, mas também por achados histopatológicos das var placas leitosas sobre essas mucosas, princi-
lesões coletadas e cultura da amostra (TORTORA; palmente em lactentes, diabéticos ou indivíduos
FUNKE; CASE, 2019). em uso de antibioticoterapia prolongada. Ain-
da, a levedura pode causar a candidíase vaginal
quando se prolifera demasiadamente, devido à
grande quantidade de carboidratos das secreções
vaginais. Essa condição ocorre especialmente em
gestantes, mulheres em uso de anticoncepcional
ou sob o uso de roupa íntima rica em materiais
sintéticos. Nesses casos, o prurido é intenso, as-
sim como a liberação de secreção (MURRAY;
ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
Como já brevemente citado, os medicamen-
tos utilizados para tratar infecções fúngicas su-
perficiais consistem em cremes e pomadas à
base de princípios ativos específicos, e nos casos
mais graves, pode haver a necessidade da admi-
nistração de terapia oral ou injetável. Dentre
os mais conhecidos, temos a anfotericina B, a
nistatina e os azólicos. A Anfotericina B e a
nistatina são medicamentos de uso sistêmico e
local, respectivamente, que atuam no ergoste-
Figura 13 – Lesão de blastomicose.
rol da membrana fúngica, alterando a permea-
Fonte: Ortega-Loayza e Nguyen (2013, p. 288) bilidade e fazendo com que a célula perca seus
constituintes citoplasmáticos. Já a classe dos azó-
Descrição da Imagem: Ifoto de um homem de pele morena
onde é possível enxergar a linha do maxilar, parte inferior
licos (miconazol, fluconazol, cetoconazol) agem
a bochecha e canto direito da boca. Na linha da maxila, há bloqueando as enzimas fúngicas do citocromo
uma lesão de bordas elevadas e grossas, de centro ulcera-
tivo, de maneira que a mucosa possui aspecto úmido e cor P450, impedindo a produção inicial do ergosterol
avermelhada.
e atingindo também a composição da membrana

236
UNIDADE 8

fúngica. Devido aos mecanismos de ação citados,


por vezes, essas substâncias, principalmente a an-
fotericina B, podem agir contra o colesterol das
membranas de células humanas, conferindo
efeitos adversos importantes e pronunciados no
hospedeiro, como hepatotoxicidade e hipersensi-
bilidade. Por essa razão, os tratamentos antifún-
gicos costumam ser longos, de intervalos entre
um e seis meses, e em doses baixas e seguras, a fim
de não prejudicar o indivíduo e, mesmo assim,
combater a infecção (MARTINEZ, 2006).
Com relação aos diagnósticos de infecções
fúngicas, a origem da amostra é um dado rele-
vante que norteia o profissional do laboratório
em como proceder para a análise. Amostras pro-
vindas de cabelos, unhas e pele, geralmente, são Figura 14 – Cândida spp. em lâmina com coloração de Gram.
Fonte: Shutterstock ([2023g], on-line).
clarificadas com solução de hidróxido de potássio
a 20%, enquanto secreções obtidas de ferimentos Descrição da Imagem:foto de uma lâmina corada com a
técnica de Gram. A lâmina possui fundo rosado, com alguns
devem passar por centrifugação para que haja pontos disformes em rosa escuro, os quais representam os
concentração do material (BRASIL, 2010). leucócitos. Em roxo, na imagem, há uma estrutura composta
por filamentos grossos, ilustrando as pseudo-hifas de Cândida
O relato de sintomas e sinais também são da- spp. Nas extremidades de cada filamento, é possível observar
uma estrutura de mesma cor, mas de formato bacilar repre-
dos importantes, principalmente quando a identi- sentando o brotamento da levedura.

ficação clínica do distúrbio é possível. No caso de


mulheres, a descrição de sintomas como coceira Ainda tratando-se de microscopia direta, o
na região íntima combinada à alta produção de diagnóstico de infecções fúngicas depende da
secreções é um indicativo de candidíase vaginal. identificação das estruturas como hifas (sep-
Nesses casos, o médico pode sugerir a coleta de tadas, não septadas), pseudo-hifas, tipo de coní-
material vaginal com swab e processamento desse dio presente e se há presença de estruturas em
material em laboratório. Como o primeiro passo especial, como o brotamento. Além disso, o ana-
dentro da área da microbiologia é a realização da lista deve ser treinado para diferenciar estruturas
bacterioscopia, é muito comum que diagnóstico fúngicas de artefatos, como fibras de colágeno que
de candidíase seja realizado apenas pela obser- podem se assemelhar a hifas, ou leucócitos lisa-
vação em lâmina de estruturas características da dos que podem lembrar visualmente alguns tipos
levedura, como seu brotamento e a formação de de levedura quando corados com tinta nanquim
pseudo-hifas (BRASIL, 2000) (Figura 14). (OSANTE; RUIZ, 2016).

237
UNICESUMAR

Nas ocasiões em que há necessidade de cultivo, os métodos existentes para isolamento de fungos
centram-se em fornecer condições para seu crescimento, combinados a condições específicas
de temperatura e tempo. É importante lembrar também que a pele possui microbiota normal, por
isso é imprescindível que a coleta seja realizada de modo a reduzir as chances de falsos positivos ou
contaminação pela flora habitual.
O ágar Sabouraud é um tipo de meio de cultura extensivamente utilizado no laboratório de mico-
logia, devido, principalmente, a sua composição química (o pH ácido do meio favorece o crescimento
de fungos e inibe o de bactérias), além de poder ser associado com antimicrobianos (cloranfenicol,
cicloheximida), o que auxilia na redução da carga microbiana, como é o meio aplicado para cultivo de
Sporotrix schenckii (BRASIL, 2010). O ágar batata é outro meio de cultura bem conhecido e aplicado
em laboratório, por permitir que as hifas se desenvolvam, a esporulação aconteça e que os conídios
sejam produzidos e liberados em grande quantidade (OSANTE; RUIZ, 2016).
As temperaturas de incubação costumam ser controladas (entre 25 e 30 °C) e os tempos de incuba-
ção são relativamente longos, sendo necessárias de 24 a 72 horas para desenvolvimento do micélio
e estrutura macroscópica. Uma vez que crescem nos meios de cultivo, os fungos devem ser observados
pelo analista a fim de que sejam reconhecidas características que facilitem a sua identificação, como
textura da colônia (algodonosa, seca, mucosa, plana, rugosa), pigmentação superficial, pigmentação
do reverso (parte inferior da placa de Petri) e bordas (OSANTE; RUIZ, 2016).
Faça um pequeno exercício e observe a Figura 15, que contém colônias do Penicillium expansum.
Como você realizaria a descrição macroscópica dessa amostra?

Figura 15 – Colônias de Penicillium expansum em placa de Petri. / Fonte: Shutterstock ([2023h], on-line).

Descrição da Imagem: foto de um indivíduo calçando luvas azuis, contendo em sua palma direita uma placa de Petri. Na placa, colônias
arredondadas, do tamanho de uma moeda, estão dispersas no meio de cultura sólido, o qual é transparente. As colônias são verdes,
de aspecto arenoso, possuem alguns traços que convergem todos em um ponto central e possuem bordas esbranquiçadas.

238
UNIDADE 8

Você sabia que placas de Petri para cultivo de fungos devem ser incubadas com a tampa para cima?
Esse processo evita que esporos se acumulem na tampa, protegendo o analista e garantindo um
melhor padrão de espalhamento no meio de cultura.

A identificação de fungos, no entanto, bate Para identificação de leveduras, sobretudo da


de frente com a relativa “simplicidade” da ob- Cândida albicans, a prova do tubo germinativa
servação microscópica. Isso se dá devido ao di- é muito aplicada, na qual, após misturar a colônia
morfismo desses organismos e a necessidade de suspeita a 0,5mL de soro (humano, bovino ou de
extenso treinamento dos analistas envolvidos. coelho), após incubação de 3 horas a 37 °C, é pos-
O ideal é que a identificação ocorra no âmbito sível observar um pequeno filamento brotando do
de gênero e espécie, e, para isso, muitas vezes blastoconídio sem formar nenhum tipo de cons-
é necessário que o laboratório utilize meios de trição entre o tubo e a célula-mãe (BRASIL, 2010).
detecção molecular para tal. Na Figura 16, você pode observar esse fenômeno.

Figura 16 – Formação de tubo germinativo. / Fonte: Shutterstock ([2023i], on-line).

Descrição da Imagem: foto de uma lâmina vista no microscópio. O fundo da lâmina é acastanhado e nele é possível observar algumas
sombras disformes, desfocadas em coloração mais escura. No campo em foco, na região central, é possível observar um conjunto de
esferas de bordas grossas (semelhantes a anéis). Na região inferior, à direita, há uma esfera que possui, em sua extremidade esquerda,
um filamento, configurando o tubo germinativo.

239
UNICESUMAR

Para fungos filamentosos, a técnica comumente


utilizada é a do microcultivo, no qual, sobre uma
lâmina de vidro, o analista coloca um pequeno
cubo de ágar Sabouraud ou ágar batata e, em cada
lado do cubo, o fungo detectado na amostra é
semeado com o auxílio de uma alça. Após isso,
uma lamínula é colocada para cobrir o ágar e,
submetendo esse sistema a uma atmosfera úmida
(por meio de um algodão estéril embebido em 2
mL de água), a amostra é incubada de 7 a 10 dias.
Depois da adição de 1 mL de formaldeído, o fun-
go é inativado, o ágar é descartado e, com auxílio
de uma gota de corante (azul de lactofenol-al-
Figura 17 – Aspergillus brasiliensis em lâmina com corante
godão, geralmente) sobre a lâmina e a lamínula de azul de lactofenol-algodão. / Fonte: a autora.

que foram submetidas a esse processo, é possível


Descrição da Imagem: foto de uma lâmina microscópica,
observar estruturas microscópicas que auxiliam na qual é possível observar dois conidióforos de Aspergillus
brasiliensis e suas hifas. O conidióforo é uma estrutura cir-
na identificação final (BRASIL, 2010). É por essa cular, que possui uma esfera central, e dela saem inúmeros
filamentos que possuem esferas menores em suas extre-
razão que exames destinados à identificação de midades. O conidióforo tem coloração azul esverdeada e o
fungos demandam bastante tempo. Na Figura 17, fundo da lâmina é branco. Em desfoque, é possível observar
estruturas arredondadas e acastanhadas.
você pode ter uma ideia de como fica o aspecto do
fungo (Aspergillus brasiliensis) na lâmina quando
essa metodologia é aplicada. Seguindo o exemplo do início desse capítulo, no
qual seu paciente reclamou da “demora” em seu
resultado, se você soubesse desde o começo que se
tratava de uma amostra de pele com o objetivo de
pesquisar fungos filamentosos, ficaria tranquilo ao
perceber que nada estava fora do planejado? Pense
bem, seriam de três a cinco dias para incubação
do meio cultivado, e depois mais sete a dez dias
para o período do microcultivo. São praticamente
duas semanas apenas para crescimento do
organismo! Isso sem contar o tempo necessário
para que o profissional realize a leitura ou que
sejam realizados mais testes adicionais.
Mas isso não é motivo para desanimar! Eu
mesma no laboratório gosto muito quando tenho
de realizar identificação de fungos, porque é uma
oportunidade única de observar na prática o di-

240
UNIDADE 8

morfismo da célula, as diferentes morfologias macroscópicas e cores das colônias, a chance de relem-
brar todas as partes anatômicas e, principalmente, atestar com confiança um resultado de qualidade.

Título: Fungos Fantásticos


Ano: 2021
Sinopse: na forma de documentário, esse filme impressionante demonstra,
por meio da visão dos micologistas, a importância dos fungos em sustentar
e perpetuar a regeneração da vida por bilhões de anos.
Comentário: “Você não pode nos ver, mas nós florescemos ao seu redor,
por todo lugar, em tudo, até mesmo dentro de você”. Essa frase citada nesse
documentário resume bem o que tratamos aqui nesta unidade, por isso,
essa é uma boa oportunidade de entender ainda melhor (e com muito mais recursos gráficos) a
influência dos fungos na nossa vida.

Como você pôde perceber, conhecer e estudar contaminar placas contendo amostras. E nem
os fungos é muito válido, porque é um vasto preciso dizer o trabalho que dá para removê-lo!
grupo de microrganismos completamente di- Por isso, conhecer sobre esse interessante grupo
ferente das bactérias, mas que ainda possuem de microrganismos vai ajudar você não apenas a
relevância ambiental e clínica. No laboratório diagnosticar problemas de saúde, mas também a to-
de microbiologia clínica, o conhecimento sobre mar decisões importantes na sua rotina de trabalho.
as estruturas macroscópicas dos fungos não é
aplicável apenas para o diagnóstico de doenças,
mas também auxilia os profissionais do labora-
tório a detectarem processos de contaminação
cruzada, visto que a quantidade de esporos e a
frequência de liberação deles faz com que esse
grupo de organismos seja o principal contami-
nante ambiental de locais de manipulação.
Eu, particularmente, tenho pesadelos sempre
que o Rhizopus stolonifer cresce em amostras
ambientais com as quais trabalho. Esse agente
costuma estar presente naturalmente no ambien-
te, no entanto, devido a sua extensa liberação de
esporos, em qualquer situação de descuido, esse
fungo esperto costuma colonizar incubadoras e

241
É hora de registrar todas as novas informações que vimos nesta unidade. Aqui vai uma sugestão de organização
para que seu estudo fique mais dinâmico e acessível sempre que você precisar! Complete o mapa mental adicio-
nando alguns conhecimentos adquiridos e curiosidades conhecidas nesta unidade.

Sintomas Piedra branca e preta Sintomas

Agentes etiológicos Tíneas


SUPERFICIAIS
Pitríase versicolor Agentes etiológicos

INFECÇÕES FÚNGICAS
MÉTODOS
DIAGNÓSTICOS

Sintomas SUBCUTÂNEAS TRATAMENTOS

Esporotricose

Blastomicose

Sintomas

242
1. Assinale a alternativa que relacione corretamente o fungo à classe à qual ele pertence:

a) Mucor spp pertence aos ascomicetos.


b) Rhizopus spp pertence aos zigomicetos.
c) Aspergillus spp pertence aos zigomicetos.
d) Cândida albicans pertence a classe dos patógenos fúngicos primários.
e) Aspergillus spp pertence aos basidiomicetos.

2. Selecione a alternativa que apresente uma patologia de origem fúngica que acomete a região cutânea e sub-
cutânea, respectivamente:

a) Blastomicose e pé de atleta.
b) Pé de atleta e pitiríase versicolor.
c) Piedra branca e Blastomicose
d) Blastomicose e pitiríase versicolor.
e) Piedra branca e piedra preta.

3. Dentre as opções, assinale a que corresponde corretamente à micose superficial e seu agente etiológico:

a) Tínea negra, causada pelo Trichophyton spp.


b) Piedra branca, causada pelo Trichophyton spp.
c) Pitiríase versicolor, causada por Malassezia furfur.
d) Blastomicose, causada por espécies de dermatófitos.
e) Criptococose, causada pelo Cryptococcus neoformans.

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9
Aspectos Clínicos,
Epidemiológicos
e Laboratoriais de
Infecções das Micoses
Sistêmicas
Me. Suelen Eloise Simoni

Nesta unidade, você, estudante, terá a possibilidade de executar


atividades diretamente ligadas ao ambiente laboratorial. Associado
a isso, se aprofundará nas infecções fúngicas, focado(a) principal-
mente nas manifestações sistêmicas destas doenças e quais os
principais agentes etiológicos envolvidos nestes processos. Além
disso, conhecerá os métodos práticos de diagnóstico e relembrar
conceitos visuais e bioquímicos em relação aos fungos e suas apre-
sentações morfológicas.
UNICESUMAR

Imagine-se em seu primeiro dia no laboratório de optou por focar-se mais nas infecções bacterianas,
microbiologia. Você se sente preparado para os dando uma singela atenção às infecções fúngicas.
desafios que estão por vir porque conhece como Qual procedimento você estabeleceria para dar
as bactérias se comportam e sabe muito bem continuidade à análise? Quais os conhecimentos
quais os principais pontos a serem observados básicos que você já tem sobre os bolores e as le-
na sua rotina. Depois de vestir o seu jaleco e se veduras que podem ajudá-lo nesse tipo de ensaio
paramentar corretamente, encontra um bilhete clínico? Existe a possibilidade de exames a fresco
escrito e deixado pelo colega do turno anterior. ou técnicas de coloração que pudessem adiantar
Nele está escrito: “Por favor, realize a leitura do o resultado?
auxanograma e zimograma cultivados a partir É comum que a maior parte dos procedimen-
da amostra de líquor! Precisamos liberar o resul- tos laboratoriais estejam voltados à identificação
tado com urgência!”. e cultivo de bactérias, mas é importante lem-
Você encontra os registros da amostra e, ba- brarmos que a presença dos fungos em amostras
seado neles, descobre que os materiais referentes clínicas não é tão rara assim, além disso, exige
a esse determinado cultivo estão incubados na muito treinamento e talvez, até um pouco mais
estufa de 25 °C. Ao abrir o equipamento, se de- de dedicação. Além disso, as infecções fúngicas
para com inúmeros tubos de ensaio e placas de costumam ser combatidas por longos períodos de
Petri devidamente identificados com a codifica- tempo, exigindo que o laboratório trabalhe pron-
ção compatível com a amostra, mas não faz ideia tamente para o diagnóstico ou acompanhamento
de que se trata um zimograma ou auxanograma, dos pacientes, fornecendo resultados confiáveis
porque, com a quantidade enorme de micro-or- e seguros, auxiliando mesmo que indiretamente
ganismos que tinha para estudar na graduação, na melhora do indivíduo acometido.

252
UNIDADE 9

Sendo assim, é hora de trabalhar! Utilize todos os recursos possíveis a que


você tem acesso – artigos científicos, biblioteca física e/ou on-line disponibi-
lizada pelo seu curso, profissionais de saúde que tenham vivência laboratorial,
seus professores – para entender o significado de “auxanograma” e “zimogra-
ma”, descrevendo o conceito destas técnicas e destacando quais os principais
pontos a serem observados para sua execução, que envolvem: os equipamentos
necessários, o modo de processamento da amostras e a maneira de interpre-
tação dos resultados. Dica: o material Detecção e Identificação dos Fungos de Importância Médica
disponível no QRcode a seguir é uma boa fonte de pesquisa e pode ajudar você a realizar este trabalho.
Essa é uma pequena prática que, eu garanto, se tornará constante em sua rotina! É muito comum
que, ao assumir a posição de analista, você se sinta despreparado para atuar em determinadas análises,
porque existe uma falsa sensação de “falta de bagagem”, mas não se preocupe, além de estar em cons-
tante evolução, a microbiologia é uma área de muito interesse hospitalar, acadêmico e comercial, no
entanto, o que você precisa sempre prezar é a boa informação! Geralmente, documentos provenientes
de órgãos oficiais, como a Anvisa, fornecem informações valiosas e aplicáveis na rotina, como é o
caso do desafio apresentado no início desta unidade. Por isso, use o espaço a seguir para anotar todas
as informações importantes acerca deste mistério. Durante esta unidade, algumas pistas ainda serão
deixadas para que você solucione esse problema e elas também podem ser registradas aqui para que
você não perca nenhum detalhe.

253
UNICESUMAR

Os fungos, assim como as bactérias, também possuem mecanismos de patogenicidade que podem
interferir no sistema humano de maneira sistêmica. Por essa razão, vamos estudar mais um pouco
desses organismos e seus impactos na saúde do homem e os principais desdobramentos derivados
destas patologias. Como você já sabe, os fungos são organismos uni ou multicelulares constituídos
por células eucarióticas, e por essa razão, possuem todas as organelas necessárias para o seu funcio-
namento especializado. Além disso, sabemos também que inúmeras espécies fúngicas assumem a
característica dimórfica, existindo como bolor em temperaturas até 25 °C e em forma de leveduras ou
esporulados nas temperaturas de 37 °C (Figura 1). Em relação aos acometimentos sistêmicos, a maior
parte dos fungos que serão tratados nesta unidade são considerados patógenos fúngicos primários,
em detrimento de suas habilidades em provocar doenças em estados normais ou imunossuprimidos
do indivíduo (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).

Figura 1: Representação gráfica do dimorfismo estrutural


dos organismos Histoplasma capsulatum (A), Blastomyces
dermatitidis (B), Paracoccidioides brasiliensis (C), Coccidioides
immitis (D) e Talaromyces marneffei (E).
Fonte: Murray, Rosenthal e Pfaller (2021, p. 634).

Descrição da Imagem: Ina imagem, há o total de dez dese-


nhos, dispostos em duas colunas e separados por cinco linhas
com dois desenhos em cada, que representam a ilustração
de estruturas filamentosas e leveduriformes dos fungos. A
primeira coluna é intitulada em letras pretas como “Filamen-
toso” a 25 °C. A primeira figura desta coluna apresenta um
filamento na horizontal em azul claro que dá origem a quatro
estruturas semelhantes a flores, de maneira que o miolo é
central (em roxo) e as pétalas (em azul escuro), dispostas ao
redor dele. A figura abaixo desta é um filamento na horizontal
em azul que, a partir dele, dá origem a segmentos menores
que possuem pequenas esferas roxas em suas extremidades.
A próxima figura é semelhante à anterior, com a adição de
um filamento no formato de “S” transversal ao segmento da
horizontal. A quarta figura apresenta um segmento formado
por pequenas esferas ovais em roxo claro, em formato senoi-
dal e ligadas entre si por pequenos ligamentos quadriculados
em azul claro. A última figura desta coluna apresenta um
filamento na vertical e em azul claro que dá origem a outros
quatro segmentos mais finos e em tonalidade arroxeada.
Estes, por sua vez, dão origem a pequenas esferas ovais em
suas extremidades. A segunda coluna, intitulada “Levedurifor-
mes a 35 °C” apresenta na primeira figura pequenas esferas
ovais em azul escuro. A figura abaixo apresenta, por sua vez,
estruturas semelhantes a pinos de boliche, circundadas por
uma membrana fina em azul claro, e preenchidas em seu
centro por uma coloração arroxeada. A terceira imagem desta
coluna apresenta uma estrutura redonda, com centro esfé-
rico em roxo, circundada por pequenas espículas ovais em
tonalidade azul clara. A quarta imagem é uma esfera preen-
chida de inúmeras esferas menores, de maneira que estas
preenchem complementarmente o centro em uma coloração
roxa. Na última figura estão ilustradas estruturas semelhantes
a grãos de feijão, com uma segmentação na horizontal em
seu centro marcada por uma listra preta. Ao lado das cinco
linhas, à esquerda, há uma sequência alfabética de letras de
A a E indicando qual estrutura corresponde ao organismo
descrito no título da figura.

254
UNIDADE 9

A blastomicose, doença que pode ocorrer em tecidos cutâneos e subcutâneos, possui também uma
forma de acometimento pulmonar. O Blastomyces dermatitidis é o agente etiológico e a forma
de transmissão é por meio da inalação dos esporos destes micro-organismos que se dispersam no
ambiente por meio de solo e plantas. A doença não possui grupo de risco uma vez que indivíduos
de todas as faixas etárias podem ser acometidos, assim como homens e mulheres na mesma pro-
porção (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021). No Brasil, não é considerada endêmica e, por
essa razão, não possui índices pronunciados de notificação, dificultando a sua triagem no território
nacional (BRASIL, 2022a).
Em culturas de tecido a 37 °C, os fungos podem crescer no formato de colônias brancas, as
quais, microscopicamente, possuem morfologia bem distinta no formato esférico, hialino, geralmente
multinucleada e com uma parede celular grossa e distinguível do restante da célula (Figura 2). O
conhecimento de sua morfologia leveduriforme é importante para diagnósticos por métodos diretos
como a coloração com hematoxilina-eosina, impregnação pela prata ou corante ácido de Schiff
(MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).

Figura 2: Morfologia leveduriforme do B. dermatitidis. / Fonte: Murray, Rosenthal e Pfaller (2021, p. 636).

Descrição da Imagem: na figura, há uma foto obtida por microscópio. No fundo da imagem, desfocado, é possível observar borrões
de coloração rosa, roxa e castanho. No foco principal da foto há quatro esferas circundadas por uma membrana de contorno roxo
escuro e centro roxo claro. No centro das esferas são observados precipitados em roxo escuro, dispersos em um citoplasma claro de
aspecto acinzentado. É possível observar ainda que as duas esferas superiores ao campo de visão ainda estão ligadas entre si em suas
extremidades, gerando uma estrutura semelhante a um pino de boliche.

Assim como a maioria das doenças infecciosas, o curso da patologia depende da carga fúngica,
extensão da exposição e também, das condições de saúde do indivíduo. Quando instalado, o
fungo, inicialmente, provoca uma manifestação pulmonar, com sintomas semelhantes aos da

255
UNICESUMAR

pneumonia bacteriana, como febre alta, infil- Outra doença de manifestação inicialmente
trados pulmonares, e tosse. Ainda, uma forma pulmonar é a coccidioidomicose, uma doença
subaguda desta patologia pode gerar sinais causada pelo Coccidioides immitis, um fun-
radiológicos semelhantes aos da tuberculose go dimórfico que possui conídios em forma de
(MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021), barril. Também chamada de febre do vale, assim
no entanto, a maior parte das blastomicoses é como a blastomicose, esta doença é transmitida
de seguimento assintomático. Mesmo assim, a a partir da inalação dos artroconídios destes
infecção pode extrapolar o sistema respirató- fungos dispersos no ar, os quais têm preferência
rio acometendo outros órgãos, como ossos, pele, pelo tecido pulmonar formando estruturas de-
fígado, baço e sistema nervoso central (TORTO- nominadas esférulas. O C. immitis é altamente
RA; FUNKE; CASE, 2019). virulento, e a carga fúngica necessária para ins-
Uma forma crônica de blastomicose pode ser talação da doença não é grande, e o curso da pa-
observada no tecido cutâneo devido a uma disse- tologia pode seguir dois caminhos. Uma forma
minação hematogênica da morfologia leveduri- primária da doença pode ser assintomática, ou
forme deste fungo, e mesmo que a via de entrada produzir sintomas gripais como febre e tosse,
tenha sido a pulmonar, a esta forma é associada a mas com produção de anticorpos potentes contra
manifestações cutâneas que podem ocorrer mesmo as reinfecções. A forma secundária ocorre prin-
em casos nos quais as manifestações respiratórias cipalmente em pacientes sintomáticos com mais
estejam ausentes. As lesões costumam ser indolo- de seis semanas de sintomas, com formação de
res, mas de aspecto nodular, verrucoso ou mesmo nódulos e risco de doença cavitária pulmonar,
pustular, dessa maneira, podem ser confundidos podendo disseminar-se sistemicamente em 1%
com carcinoma de pele, e por esta razão, este tipo dos casos, nos quais há envolvimento de camadas
de blastomicose costuma ser detectado por meio subcutâneas (gerando exantema) e inclusive, do
de biópsias (BLACK; BLACK, 2021). O diagnós- sistema nervoso central na forma de meningites
tico das formas pulmonares ou sistêmicas se dá (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
pela identificação microscópica do fungo em te- No Brasil, atividades como desentocar tatus do
cidos ou fluidos corporais, como escarro, lavagem seu habitat, agitando o solo e suspendendo par-
broncopulmonar e líquido céfalo-raquidiano, ainda tículas de poeira junto aos conídios deste fungo,
que, neste último material, possa ser confundida resultam em diagnósticos de casos de coccidioi-
com outros fungos como os coccidioides (BRASIL, domicose (BRASIL, 2022b), e como o bolor se de-
2010). A cultura em busca de micélios em meios senvolve bem em regiões mais quentes, há relatos
não seletivos requer um tempo longo de incu- de ocorrência também no México e região costei-
bação, e mesmo após a observação macroscópica, ra dos Estados Unidos (BLACK; BLACK, 2021).
testes adicionais devem ser realizados, como provas O tratamento varia de acordo com a gravidade
moleculares. O tratamento também costuma ser da doença, de maneira que formas pulmonares
dependente da forma clínica e severidade dos sin- são manejadas com uso de itraconazol, e para
tomas, podendo ser administrada a Anfotericina B formas disseminadas (nervosas), o uso de flu-
em casos mais graves, ou o itraconazol e fluconazol conazol parenteral é indicado (BRASIL, 2022b).
nos casos mais brandos (MURRAY; ROSENTHAL; A forma leveduriforme pode ser encontrada em
PFALLER, 2021). amostras como escarro, líquido cefalorraquidiano

256
UNIDADE 9

ou em tecidos submetidos a estudo histopatológico. Amostras clínicas também podem ser submetidas
a cultura em ágar não específico, no qual é possível observar uma colônia esbranquiçada e algodonosa
após três a seis dias de incubação. Testes sorológicos também podem ser utilizados para confirmação
do micro-organismo ou mesmo para avaliação de prognóstico, mas o índice de falsos-positivos é
relativamente alto (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
Ainda se tratando de doenças que acometem o sistema respiratório inferior, o fungo Histoplasma
capsulatum também merece notoriedade, uma vez que é o agente etiológico de uma doença endêmica
de regiões tropicais e temperadas, mais especificamente região Centro-Oeste dos Estado Unidos, e
que também possui casos descritos em países sul-americanos como Colômbia, Venezuela e Argentina
(BRASIL, 2022c). No Brasil, as microepidemias de histoplasmose geralmente estão associadas a in-
divíduos que moram ou trabalham em locais contaminados pelo fungo, como galinheiros e grutas
onde habitam morcegos e pombas. Isso ocorre porque os esporos do H. capsulatum estão dispersos
no ambiente (solo e plantas) mas também podem ser encontrados nos excrementos desses animais,
ficando disponíveis para serem inalados pelo ser humano (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
O H. capsulatum também é um fungo dimórfico de maneira que sua forma filamentosa gera
colônias brancas ou acastanhadas, mas que demoram de 15 a 8 semanas para se desenvolverem
completamente, e no microscópio, suas hifas terminam em conidióforos repletos de espículas, o que
configura suas estruturas características e chamadas macroconídios tuberculados (Figura 3). En-
quanto isso, a forma leveduriforme é oval e de parede fina que pode medir de 2 a 15 µm. Uma vez
os conídios inalados, o micro-organismo atinge os pulmões e germina como levedura, permanecendo
localizado ou disseminando-se via hematogênica. As lesões pulmonares podem ser observadas em
exames de imagem, e por esta razão, a histoplasmose deve ser diferenciada clínica e laboratorialmente
da tuberculose (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019). Os sintomas pulmonares se assemelham aos de
uma síndrome gripal (dor de cabeça, febre, calafrios) e medidas paliativas costumam eliminar
rapidamente o agente, no entanto, dependendo do estado imunológico do hospedeiro e da inten-
sidade da exposição, é possível observar estresse respiratório intenso acompanhado de obstrução
bronquiolar, linfadenopatia e fibrose mediastinal, incluindo coração e vasos sanguíneos (MURRAY;
ROSENTHAL; PFALLER, 2021).

257
UNICESUMAR

Figura 3: macroconídios tuberculados de H. capsulatum. / Fonte: Tortora, Funke e Case (2019, p. 738).

Descrição da Imagem: na figura, há uma foto obtida de microscópio, de fundo bege, e no campo em foco é possível observar oito
macroconídios de H. capsulatum. Estas estruturas possuem centro esférico preenchidos pela coloração azul clara, circundado por
dois círculos pretos separados entre si por um espaço. Nas bordas da esfera é possível observar pequenas espículas em preto que
preenchem toda a circunferência da estrutura. Duas setas pretas indicam as estruturas “Macroconídios” e “Microconídios” descritas
respectivamente por seus termos correspondentes em inglês.

A forma disseminada é relativamente rara (um a cada dois mil adultos contaminados), classificada
como aguda, subaguda e crônica. É chamada de subaguda quando envolve perda de peso, mal-estar
constante e lesões orofaríngeas, enquanto a forma crônica associa-se também a febres e fadiga
intensa. O acometimento de medula óssea pode ainda interferir com a produção de células san-
guíneas levando à anemia e leucopenia, e manifestações no sistema nervoso central podem resultar
em óbito. A forma aguda costuma atingir principalmente indivíduos imunocomprometidos,
sendo um processo infeccioso fulminante que pode resultar em choque séptico – febre, hipotensão,
sangramento gastrointestinal e endocardite – podendo ser fatal em poucas semanas (MURRAY;
ROSENTHAL; PFALLER, 2021).

Você sabia que a variação de espécies num mesmo gênero pode provocar manifestações clínicas
diferentes? A histoplasmose africana (agente etiológico Histoplasma duboisii) não gera lesões pul-
monares, sendo mais caracterizada como quadro de linfadenopatia associadas a lesões cutâneas
– papulares e nodulares – e lesões ósseas (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).

258
UNIDADE 9

O diagnóstico da histoplasmose é muito impor- Em se tratando de infecções fúngicas sistê-


tante em formas pulmonares da doença, uma vez micas, é inevitável não estudarmos a paracocci-
que a identificação das leveduras diferencia esta dioidomicose, afinal, o agente etiológico desta
doença da tuberculose. Essa diferenciação pode patologia foi primeiramente isolado pelo médico
ocorrer em exames de escarro, os quais são sub- brasileiro Adolfo Lutz, em 1908, após analisar
metidos a exames microscópicos (Gram, Ziehl- amostras coletadas de pacientes na cidade de São
-Neelsen e colorações panóticas), dando especial Paulo (ANDRADE, 2006). Ela é causada pelo
atenção a amostras provenientes de pacientes com fungo Paracoccidioides brasiliensis e P. lutzii,
HIV ativo, transplantados ou imunocomprometi- fungo termodimórfico (Figura 4) que, na sua for-
dos. As formas disseminadas podem ser detecta- ma filamentosa, apresenta-se como uma colônia
das em biópsias nodulares, como em espécimes glabrosa, enrugada de coloração esbranquiçada
hepáticos, líquido cefalorraquidiano – diagnósti- à castanha. Mesmo possuindo características
co de meningites e encefalomielites –, punção de macroscópicas importantes, para o diagnóstico
medula óssea e sangue (BRASIL, 2010). final, é necessário que seja observada em amos-
Nas hemoculturas podem ser semeados san- tras clínicas a sua forma leveduriforme, descrita
gue ou aspirado de medula, e quando houver como oval, multinucleada e possuindo junto a
sinal de crescimento e no caso de suspeita de in- sua parede celular pequenos brotamentos espicu-
fecção pelo fungo, o material deve ser submetido lados, justificando a sua aparência ser chamada
a análise microscópica – na qual a forma leve- de “roda de leme” (MURRAY; ROSENTHAL;
duriformes será observada por vezes dentro dos PFALLER, 2021).
macrófagos. Ainda a amostra deve ser semeada
em meio não seletivo, como o ágar Sabouraud, e
incubada por 15 a 30 dias a 25 °C para observação
da fase filamentosa. Uma vez o fungo isolado,
o diagnóstico confirmatório pode ser feito por
testagem sorológica, associando pesquisa de antí-
genos e anticorpos ao mesmo tempo a fim de au-
mentar a sensibilidade do teste. No tratamento de
pacientes confirmados para histoplasmose, é ad-
ministrado o itraconazol para as formas crônicas,
enquanto para os acometimentos disseminados
ou agudos, a anfotericina B costuma gerar recu-
peração satisfatória (MURRAY; ROSENTHAL;
PFALLER, 2021).

Adolfo Lutz

259
UNICESUMAR

Figura 4: Colônia filamentosa a 25 °C (A) e leveduriforme a 37 °C (B) de Paracoccidioides brasiliensis em meio Fava-Netto sólido.
Fonte: Hahn et al. (2014, p. 395).

Descrição da Imagem: na imagem, há duas fotos reais separadas por um traço branco. A foto da esquerda possui em sua extremi-
dade superior esquerda a letra “A” em branco. Nesta figura é possível observar uma placa de Petri no centro, contra um fundo preto,
que possui um meio sólido cobrindo todo o seu fundo. No centro da placa há uma colônia de fungo filamentoso circular, com centro
possuindo aspecto cerebroide, levemente algodonoso, de coloração castanha e de bordas brancas bem definidas. A foto da direita
apresenta em sua extremidade superior esquerda a letra “B” em branco. No centro desta figura há uma placa de Petri, contrastada por
um fundo preto, toda preenchida por um meio sólido, e no centro dela há uma colônia de fungo. Esta colônia é circular, de aspecto
cremoso e cerebroide e na cor creme.

Segundo o apresentado no II Consenso Brasileiro de Paracoccidioidomicose, dados sobre a epide-


miologia no Brasil são imprecisos, uma vez que esta doença não é de notificação compulsória, mas
acredita-se que sua incidência seja de um a três novos casos por ano a cada mil habitantes, estes
concentrados nas regiões de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e Rondônia (regiões de alta
umidade, temperaturas moderadas e solo ácido) (SHIKANAI-YASUDA et al., 2017). Até 1995 foram
registradas mais de três mil ocorrências e a doença é considerada a oitava causa de mortalidade por
doença infecciosa de caráter crônico desde 2017. O fungo entra no organismo por meio da inalação
dos seus esporos, ou, ainda, da inoculação nos tecidos por meio de traumas como cortes e feri-
mentos. A doença é comum em crianças e jovens (até 19 anos) e homens de 30 a 50 anos, relacionada
principalmente à atividade laboral destes grupos etários, uma vez que o habitat natural do fungo é
o solo (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).

Você sabe o que é blastomicose da América do Sul? É a maneira como a paracoccidioidose também
é descrita, devido às lesões cutâneas desta patologia serem muito semelhantes à blastomicose
clássica. Apesar disso, elas ainda são diferenciadas para fins de avaliação de prognóstico, escolha
de tratamento e dados epidemiológicos (SHIKANAI-YASUDA et al., 2017).

260
UNIDADE 9

A patogênese da doença ainda é pouco descrita, dos e biópsia, nos quais é possível realizar o
mas sabe-se que a soma de fatores de virulência exame direto com solução de KOH a 20% e re-
auxilia o fungo em sua disseminação e perpetua- velação da estrutura leveduriforme clássica.
ção no sistema humano. A produção de algumas Ainda, os esfregaços podem ser corados com
enzimas – como elastase, colagenases e hialu- colorações específicas, como Giemsa ou im-
ronidase – realizam hidrólise da fibronectina pregnação pela prata, apresentando também
e laminina presentes na membrana celular do a levedura globosa, de paredes celulares dupla e
hospedeiro, gerando lesões fibróticas e nodu- múltiplos brotamentos (Figura 5), característi-
lares. Em indivíduos saudáveis, a presença do cas que são importantes para diferenciação do
micro-organismo não é aparente e assim, não complexo Paracoccidioides spp dos gêneros
provoca sintomas, mas ele pode ficar latente e Cryptococcus e Blastomyces. Os materiais cole-
armazenado nestas lesões e desencadearem ma- tados também podem ser destinados à cultura
nifestações clínicas futuramente por meio de uma para verificação de estruturas filamentosas em
reativação endógena. meios sólidos, de maneira que a incubação deve
A apresentação clínica da paracoccidioide ser superior a sete dias e a temperatura rondan-
pode ser classificada de quatro maneiras: aguda do próximo a 25 °C (BRASIL, 2010).
ou subaguda, crônica e residual. A forma agu-
da, subaguda ou de tipo juvenil é considerada
grave e promove aumento de células de defesa
e rompimento de linfonodos, levando o fungo
a disseminar-se em outros sistemas como pele,
ossos, fígado, baço e medula óssea. A forma crô-
nica acomete mais os adultos e é responsável pela
maior morbidade, de manifestação mais lenta,
com sintomas durante até seis meses que estão
relacionados, principalmente, com comprome-
timento pulmonar e pele. A forma residual é
caracterizada por alterações anatômicas causadas
por cicatrizes geradas pelas lesões, as quais po-
Figura 5: Morfologia leveduriforme do Paracoccidioides
dem ser observadas em pulmões, pele, laringe, sis- brasiliensis. / Fonte: Cruz et al. (2012, p. 440).
tema nervoso central e sistema linfático (BRASIL,
2022e). Existe ainda a possibilidade de o indivíduo Descrição da Imagem: a imagem é uma foto obtida por mi-
croscópio, na qual é possível observar uma estrutura em
não apresentar nenhum sintoma, mas ainda testar verde, formada por uma esfera central que possui parede
positivo para os testes diagnósticos intradérmicos, celular refringente que se liga a oito estruturas em forma de
gota de mesma cor.
indicando que em algum momento da vida houve
contato com o fungo (BRASIL, 2010).
O procedimento laboratorial para diagnós- Diagnósticos sorológicos em busca de anti-
tico da paracoccidioidomicose pode ocorrer corpos podem ser utilizados, além da histopa-
pela análise de materiais clínicos como raspa- tologia e exames diferenciais, como testagem
do de lesões, escarro, aspirado de linfono- para tuberculose, hanseníase, leishmaniose,

261
UNICESUMAR

sarcoidose e neoplasias (BRASIL, 2022a). O tratamento depende da forma clínica atestada, mas
na maioria dos casos dura mais de seis meses. A anfotericina B é destinada aos casos mais graves
e refratários, enquanto para apresentações moderadas é administrado itraconazol e sulfonamidas
(MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).

Os fungos também estão envolvidos indiretamente com algumas patologias, como é o caso do
envenenamento por alcaloides de ergot. Essa substância tóxica é produzida pelo fungo Claviceps
purpurea de maneira que, quando ingerida, tem a capacidade de restringir a circulação sanguínea
em pequenos vasos e desta maneira, influenciar na formação de processos gangrenosos. Além dis-
so, as micotoxinas, produzidas sobretudo pelo Aspergillus flavus, podem ser encontradas em grãos
como o amendoim e estão associadas ao desenvolvimento de câncer hepático (TORTORA; FUNKE;
CASE, 2019). No Brasil, o limite permitido para micotoxinas está regulamentado pelos Anexos I e II
da Resolução nº 7, de 18 de fevereiro de 2011, varia entre 0,5 µg/kg (aflatoxina tipo M1) a 20 µg/kg
(aflatoxinas tipos B1, B2, G1 e G2). Ainda nesta resolução são incluídas as micotoxinas Ocratoxina
A, Desoxinivalenol, fumosina, zearalenona e patulina associadas também aos gêneros Penicillium
e Fusarium (BRASIL, 2011).

Dentre as infecções de acometimento respiratório, as causadas por fungos oportunistas também


merecem atenção. A aspergilose, causada por espécies do gênero Aspergillus, ocorre após inalação
de esporos que se desprendem a partir de vegetação em decomposição e solo. Pode ser invasiva ou
semi-invasiva, formas marcadas pela destruição dos pulmões e invasão para outros órgãos, ou bron-
copulmonar, que é mais comum em indivíduos com fibrose cística. Esta é caracterizada por sintomas
inespecíficos, como febre, tosse persistente e dificuldade ao respirar, podendo evoluir para a formação
de aspergiloma (massa fúngica no pulmão) em indivíduos com outras doenças pulmonares presentes,
como tuberculose. A fusariose (desencadeada por espécies do gênero Fusarium) e mucormicose
(causada pelos gêneros Mucor e Rhizopus) também possuem relevância, pois fazem parte da Vigi-
lância e Controle das Micoses Endêmicas Oportunistas realizadas no Brasil (BRASIL, 2022a), desta
maneira, refletem também em problemas de saúde pública no país. Todas essas patologias podem ser
diagnosticadas pelo exame direto ou microcultivo de amostras obtidas de fluidos pulmonares, lesões,
sangue ou swabs (BRASIL, 2009).

262
UNIDADE 9

Seria nosso mistério inicial desta unidade uma infecção oportunista? Para determinar isso, precisa-
mos descobrir se o fungo em questão possui características particulares, como as citadas até aqui,
como perfil característico em lâmina microscópica e aspecto fenotípico em meio de cultura. E é
exatamente esse o próximo passo que você decide realizar. Buscando os cultivos anteriores da dita
amostra, você encontra uma placa de ágar Sabouraud com a identificação dela e percebe colônias
arredondadas, levemente brilhantes, de aspecto cremoso e coloração branca. Realiza a coloração de
Gram e observa estruturas ovais e esféricas, coradas fortemente de roxo, e sem nenhuma estrutura
morfológica característica, como espículas na membrana, presença de brotamentos ou parede celu-
lar espessa. Você conclui que se trata de uma levedura e descarta, definitivamente, a possibilidade
do material estar contaminado por bactérias. Realiza também colorações adicionais e atesta que é
muito improvável que o micro-organismo seja alguma espécie de Blastomyces ou Paracoccidioides,
afinal, além da ausência de marcadores morfológicos, a sua região não é endêmica paraesse tipo
de patologia. Quais são as opções que restam para que você direcione melhor essa resolução?

263
UNICESUMAR

Antes de concluirmos, precisamos tratar das in- laboratoriais e eliminação de outras potenciais
fecções oportunistas de maior notoriedade no am- causas. A hemocultura é capaz de definir a
biente médico e hospitalar e de grande importân- ocorrência de candidemia quando duas ou mais
cia clínica, aquelas causadas pelo gênero Candida. culturas testam positivo para a levedura em
Estas leveduras produzem blastoconídios de pa- amostras preferencialmente obtidas ao mesmo
redes grossas e, dentre as espécies mais frequentes tempo, mas em localidades anatômicas distin-
destacam-se a C. albicans e a C. glabrata. Nas tas. Se o isolamento do fungo ocorrer a partir de
culturas em meio sólido, a Candida spp cresce materiais esperadamente estéreis que entram
como uma colônia circular, branca e cremosa, em contato direto com o paciente, a situação tam-
mas pela capacidade de realizar “switching” feno- bém deve ser considerada quando associada ao
típico, a colônia pode transformar-se em outras aparecimento de sintomas, no entanto a sensi-
morfologias. A fonte principal de transmissão da bilidade para identificação de Candida spp é
levedura para o organismo é a partir de muco- relativamente baixa, além do mais, se bactérias
sas nas quais a flora comensal é composta pelo forem detectadas na amostra, a probabilidade de
fungo (infecção endógena), mas a utilização de recuperação da levedura também pode ser remo-
soluções de irrigação e fluidos parenterais também ta (BRASIL, 2010).
são importantes vias de contágio, principalmen-
te no ambiente hospitalar. O fungo pode atingir
qualquer órgão do corpo quando disseminado
via hematológica, como fígado, coração, rins e
cérebro, atingindo níveis de mortalidade de até
50% em tratamentos sem sucesso (MURRAY;
ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
Os sintomas geralmente são inespecíficos e
marcados pela ocorrência de febre, fadiga, con-
fusão mental (quando atinge o sistema nervoso
central) e hipotensão, mas mesmo sem os sinais
clínicos bem especificados, o diagnóstico precoce
é de grande importância. Os fatores de virulência
que permitem a sobrevivência e facilitam a fisiopa-
tologia da doença são, principalmente, a variabi-
lidade fenotípica, a produção de toxinas como as
toxicoglicoproteínas, a formação de biofilmes, a
produção de exoenzimas (proteases e fosfolipases)
e expressão de adesinas que facilitam a ligação aos
tecidos do hospedeiro (SANTANA et al., 2013).
A febre é a manifestação clínica mais comum
na candidíase, principalmente na candidemia (le-
vedura presente no sangue), mas o diagnóstico
definitivo é por meio da realização de ensaios

264
UNIDADE 9

Mesmo a C. albicans sendo a principal levedura causadora de micoses sistêmicas, outras espécies
desse gênero apresentam-se emergentes no cenário médico trazendo ainda um inconveniente
importante para os pacientes acometidos: a resistência a antifúngicos. A C. krusei, marcada morfo-
logicamente como uma colônia branca e cremosa em meios são seletivos, também é responsável
por infecções em pacientes imunocomprometidos, principalmente naqueles em que o uso de azóis
é prolongado. Isso porque a resistência intrínseca desse fungo dimórfico frente aos antifúngicos
mais comuns, como fluconazol, influencia no desenvolvimento de resistência frente a outros me-
dicamentos da mesma classe, fazendo com que ao mesmo tempo a administração de antifúngicos
seja insuficiente, e dificultando ainda mais a escolha da droga para manejo da terapia. A levedura
atua, principalmente, reduzindo a concentração dos fármacos no interior da célula hospedeira e
alterando a expressão dos receptores farmacológicos presentes em seu envoltório celular destinados
à ligação com os medicamentos (JAMIU et al., 2021).

Assim, amostras positivas devem ser isoladas parasilosis em branco (3) C. auris em azul cla-
em meio sólido, e nestas ocasiões é importante ro (4), C. albicans em verde (5) e C. tropicalis
que testes bacterioscópicos diretos, como a co- em azul escuro (6). Estes meios costumam ser
loração de Gram, sejam realizados para com- mais custosos para o laboratório e por isso não é
provação das estruturas leveduriformes. Para sempre que estão disponíveis para uso rotineiro.
confirmação da espécie, testes de identificação
de fungos podem ser executados, sobretudo, o
teste do tubo germinativo para investigação
de Candida albicans e assimilação de carboidra-
tos para as demais leveduras e espécies. Alguns
métodos rápidos já existem no mercado, como
o API AUX (BioMerieux) e Candifast (Interna-
tional Microbio), e metodologia semiautomati-
zada, como os cartões de identificação de fungos
Vitek (BioMerieux). Ainda, pode ser aplicado
o isolamento do fungo em meios diferenciais
como o Chromagar Candida®, no qual é possí-
vel distinguir até cinco espécies diferentes, de
maneira que cada uma apresenta-se morfologi-
camente diferenciada principalmente pela cor.
Na Figura 6, você pode observar C. krusei na
cor roxa clara (1), C. glabrata em rosa (2), C.

265
UNICESUMAR

Figura 6: Aspecto morfológico de colônias de Candida spp


em meio cromogênico Chromagar Candida ®.
Fonte: CHROMagar ([2022], on-line).

Descrição da Imagem: na imagem, há uma foto de uma


placa de Petri posicionada contra um fundo azul. O ágar
de preenchimento da placa é branco, e ele está dividido
em seis partes, cada uma apresentando uma semeadura
contínua com cores diferentes. Cada semeadura está
indicada por um número sendo o número 1 uma colônia
redonda, roxa e pálida, de textura rugosa; número dois
colônias rosas, arredondadas e de consistência cremosa;
número três colônias redondas, brancas e cremosas; nú-
mero quatro colônias redondas e brancas, possuindo em
seu entorno um precipitado turvo na coloração azul clara;
número cinco apresentando colônias redondas, verdes e
turvas; e número seis, colônias azuis arroxeadas, arredon-
dadas e com um leve precipitado roxo em seu entorno. Os
números estão escritos sobre as colônias em cor preta.

E se você pudesse realizar identificações fúngicas complexas apenas


pela tela do celular? Você acha isso possível? Vamos conhecer um
pouco de um protótipo de aplicativo criado por um grupo de pesqui-
sas da Universidade Estadual de Montes Claros, que teve a brilhante
ideia de unir a composição genômica dos fungos a um aplicativo
extremamente funcional.

Quando estudamos micoses oportunistas, além da candidíase, a criptococose é uma patologia de


importantes desdobramentos e que exige grande habilidade de manejo do corpo clínico no caso de
pacientes contaminados pelo fungo. O responsável pela doença é a levedura Cryptococcus neoformans
ou o C. gatti, que, assim como outros fungos oportunistas, se aproveita do imunocomprometimento
do organismo para colonizar e infectar indivíduos vulneráveis. Este basidiomiceto encapsulado pode ser
encontrado no solo, especialmente em localidades de grande concentração de pombos, uma vez que
ele também pode estar presente nos excrementos das aves. Sua estrutura microscópica é arredondada
e de tamanho variável, mas a cápsula composta de várias proteínas, como a melanina, é um marcador
importante para a pesquisa dele em materiais clínicos (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2021).
A doença possui, sobretudo, uma forma pulmonar (marcada clinicamente pelo aparecimento de
febre, dores torácicas, perda de peso e tosse), e uma forma neural, que acomete o sistema nervosos
central gerando confusão mental, rigidez de nuca, alterações visuais, dor de cabeça, febre e episódios
de vômito, muito semelhante às meningites. Ainda, podem ser encontrados casos de criptococose
cutânea fazendo com que o paciente apresente lesões avermelhadas e purulentas que podem evoluir
para ulcerações mais graves semelhantes visualmente à tumores. O fungo ainda pode se disseminar e
causar infecções em olhos e ossos (BRASIL, 2022d). O seu alto nível de patogenicidade está relacionado
a alguns fatores de virulência, como a presença de cápsula polissacarídica e melanina que protegem

266
UNIDADE 9

a levedura em situações de estresse, a liberação de urease e fosfolipase B que degradam células, auxi-
liando na invasão tecidual e disseminação para sistema nervoso, e a capacidade de crescerem em 37
°C (ALMEIDA; WOLF; CASADEVALL, 2015).
A Secretaria de Vigilância em Saúde em companhia do Sistema Único de Saúde fornece gratuita-
mente um complexo medicamentoso composto de itraconazol e anfotericina B para o tratamento da
doença pelo tempo estabelecido pela prescrição médica após a constatação do diagnóstico (BRASIL,
2022d). Para determinação da criptococose no sistema nervoso, o melhor método de detecção é a
aglutinação em látex utilizando o líquor coletado do indivíduo (TORTORA; FUNKE; CASE, 2019),
mas a identificação em lâmina não costuma ser rara no laboratório de microbiologia.
As amostras são obtidas a partir do líquor, secreções do sistema respiratório, lesões de pele e até
acompanhadas de amostra de urina (uma vez que o micro-organismo pode utilizar a próstata como
órgão de reserva). A bacterioscopia direta é realizada adicionando tinta nanquim para visualiza-
ção da levedura, uma vez que esse corante consegue demonstrar com sucesso a cápsula presente no
micro-organismo contra o fundo escuro da lâmina, como na Figura 7.

Cápsula

Figura 7: Cryptococcus neoformans corado com tinta nanquim em bacterioscopia direta.


Fonte: Tortora, Funke e Case (2019, p. 665).

Descrição da Imagem:a imagem é uma foto obtida de microscópio. O fundo apresenta-se acastanhado e nele estão dispersas diversas
esferas refringentes. Essas esferas possuem em sua porção central uma esfera menor, circundada por uma membrana preta e de centro
amarelo claro. No entorno da membrana interna, há uma região redonda e clara que marca a presença da cápsula do micro-organismo.
Na porção direita superior ainda há uma escrita em preto e em inglês (Capsule) acompanhada de uma flecha em formato de “T” na
horizontal que indica a extensão da cápsula da levedura.

Para o cultivo em meio de cultura, as amostras podem ser semeadas em ágar Sabouraud isento de
cicloheximida e submetidas a uma incubação superior a sete dias, em temperaturas entre 25 e 37 °C.
Colônias mucoides e brancas são observadas, as quais assemelham-se a colônias leveduriformes

267
UNICESUMAR

comuns. Pensando nisso, é ideal que a pesquisa de qualquer levedura em laboratório possa ser
conduzida a fim de realizar testes bioquímicos específicos. O teste da urease pode auxiliar na
confirmação de espécies de Cryptococcus spp, mas a realização do auxanograma e zimogramas
completos é o que realmente pode ajudar analistas e corpo clínico a desvendar o micro-organismo
cultivado (BRASIL, 2010).
Chegamos, finalmente, à etapa final do nosso mistério microbiológico. Neste ponto, você descobriu,
por meio da pesquisa inicial estabelecida no início desta unidade, que o auxanograma consiste em
provas bioquímicas de assimilação de fontes de carbono resultando em combinações específicas de
reações positivas e negativas que caracterizam o agente cultivado. Para sua realização, a levedura é cul-
tivada por pour plate (meios Yeast Nitrogen Base e Yeast Carbon Base), e depois é adicionado sobre a
superfície do meio diversas fontes de carbono (como maltose, sacarose, inositol) seguida de incubação
a 25 °C. Após sete dias a levedura irá assimilar as alíquotas adicionadas, crescendo (revelado em forma
de turvação) em torno apenas daqueles carboidratos geralmente consumidos por elas na natureza.
Procedimento semelhante é aplicado ao zimograma, no qual a levedura é cultivada em meios
líquidos contendo fontes de carbono para fermentação (como trealose, lactose e rafinose) e a reação
positiva é marcada pela viragem do indicador de pH adicionado, o qual apresenta a coloração referente
e pH ácido, gerado pelo processo de fermentação (BRASIL, 2010).

Agora que você já sabe como interpretar os resultados, é chegada a hora de sabermos
definitivamente qual é a levedura encontrada na amostra de líquor descrita no início do
capítulo. Sabendo que é essencial que a prova do tubo germinativo e a reação da urease
sejam realizados, você tomou a iniciativa e os executou, notando que ambas foram negativas.
Já conhecendo o modo correto de interpretação dos testes de auxanograma e zimograma
o resultado obtido é o seguinte: assimilação negativa para todos os carboidratos do auxa-
nograma, e fermentação positiva apenas para a glicose no zimograma.

268
UNIDADE 9

Consulte o Quadro 1 para descobrir de vez que micro-organismo é esse, e atuando ativamente não
só como analista, mas como promotor da saúde, ao ser o protagonista desse diagnóstico:

Assimilação Fermentação
Leveduras Tg Ur
Sa Ma La Ce Tr Ra X I NO2 Gl La Ma La Ra Tr

C. albicans + - + + - - + + + - - + - + - - V
C. tropicalis - - + + - V + + + - - + V + - - +
C. krusei - - - - - - - - - - - + - - - - -
C. glabrata - - - - - - + - - - - + - - - - +
C.
- + + + - V + V + + - - - - - - -
neoformans
Geotrichum - - - - - - - - + - - V - - - - -

Trichosporon - V + + + + V V + V - - - - - - -

Tg=tubo germinativo; Ur=ureia; Sa=sacarose; Ma=maltose; La=lactose; Ce=celobiose; Tr=trealose; Ra=rafinose; X=xilose; I=ino-
sitol; NO2=nitrato; Gl=glicose; += positivo; -= negativo

Quadro 1: Resultados de zimograma e auxonograma para identificação de fungos. / Fonte: adaptado de Brasil (2010).

Reunindo todos os dados macroscópicos (colônias brancas cremosas em ágar não seletivo), caracte-
rísticas microscópicas (célula leveduriforme e roxa em coloração de Gram) e bioquímicas anteriores,
você é capaz de identificar que o micro-organismo causador é a levedura Candida krusei, tratada
anteriormente nessa unidade, e responsável por infecções sistêmicas de difícil tratamento uma vez
que são resistentes a diversos antifúngicos. Deu para perceber a importância do pensamento lógico
na microbiologia? E dessa maneira, ficou claro como o seu trabalho dentro do laboratório pode in-
fluenciar diretamente na vida de inúmeras pessoas?
Acredito que sobram evidências quanto o profissional da saúde tanto o analista é fundamental para
a vida de um indivíduo e na tomada de decisões do corpo clínico. Em se tratando de infecções fúngicas
e bacterianas, fica clara a importância de um profissional bem treinado, instruído, mas principalmente
comprometido com o fornecimento de resultados confiáveis, de maneira que, mesmo que haja falta
de vivência laboratorial, existem meios acessíveis para a resolução de problemas visando sempre o
cuidado máximo com o ser humano que forneceu a amostra clínica.
É claro que se fosse seu primeiro dia de trabalho, como na situação hipotética descrita, além de
encontrar meios de aprender e se aprimorar com a situação, você encontraria ainda mais formas de
confirmar a sua conclusão, uma vez que o ambiente laboratorial deve ser altamente colaborativo, mas
a sua proatividade, nesta e em diversas outras situações, determina não apenas o seu próprio curso
profissional, mas também impacta positivamente na história e vivência de outro indivíduo.

269
É hora de fazer o balanço final dos assuntos tratados neste capítulo. O que mais chamou sua
atenção? Quais os pontos positivos e negativos? No que você pode melhorar? Aproveite o espaço a
seguir para refletir e registrar.

• Quadro “O QUE PENSA E SENTE?”


• Qual é o principal sentimento que me desperta quando eu penso nas infecções fúngicas e seu
impacto na saúde das pessoas?
• Quadro “O QUE VÊ?”
• Como enxergo o cenário nacional e internacional frente a estas infecções?
• Há necessidade de eu expandir minha visão para outras realidades quando se trata de infecções
fúngicas?
• Quadro “O QUE FALA E FAZ?”
• Quais as principais formas de tratar desse assunto no ambiente acadêmico e profissional? Por
meio de grupos de estudo ou estudo prático?
• Quadro “O QUE OUVE”
• Quais as principais formas que as informações sobre o cenário das infecções fúngicas chegam
até a mim?
• Quadro “MAIORES DORES”
• Qual minha maior dificuldade frente a esse assunto?
• Quadro “QUAIS SÃO AS NECESSIDADES?”
• Quais outras maneiras de estudo posso atribuir na rotina que me ajudem a me aprimorar nesse
assunto?

270
1. Assinale a alternativa que contenha a melhor definição de fungo dimórfico:

a) Fungos que apresentam duas morfologias que mudam de acordo com as manifestações
clínicas que geram ao infectar um indivíduo.
b) Fungos que possuem mecanismos neurais que nos possibilitam escolher a maneira morfo-
lógica com que se apresentam nos meios de cultura.
c) Fungos que possuem forma leveduriforme ou filamentosa, alternando essas morfologias
dependendo das condições ambientais oferecidas.
d) Fungos que apresentam duas morfologias que mudam de acordo com os meios em que são
observados. Leveduras só são observadas em amostras de meio de cultura sólido, enquanto
bolores só aparecem desta maneira em amostras clínicas.
e) Fungos dimórficos são aqueles que se apresentam em duas morfologias diferentes depen-
dendo do tipo de doença que causam.

2. Observe a descrição feita a partir de uma observação de microscopia de uma amostra clínica:

“Fungo leveduriforme encontrado em escarro de paciente com suspeita de doença pulmonar. A levedura é
levemente esférica e apresenta brotamentos que lembrar a estrutura de uma roda de leme”.

Marque a alternativa que contém o agente etiológico que possui característica microscópica compatível com a descrição:

a) Streptococcus pyogenes.
b) Paracoccidioides brasiliensis.
c) Blastocystis dermatitidis.
d) Candida albicans.
e) Cryptococcus neoformans.

3. As doenças fúngicas sistêmicas são de grande interesse médico devido à necessidade de serem
prontamente diagnosticadas e por não possuírem medidas profiláticas como vacinas, sendo
necessário que medidas de cuidado sejam tratadas em relação aos riscos de transmissão.
Assinale a alternativa que contenha medidas de contenção para micoses sistêmicas:

a) Aplicação de terapia profilática com anfotericina B e itraconazol, visto que são medicamentos
de grande segurança terapêutica.
b) Isolamento de doentes, uma vez que a principal forma de transmissão é entre indivíduos.
c) Sacrifício de animais contaminados, uma vez que os animais doentes são a principal fonte
de contaminação.
d) Uso de EPIs por trabalhadores do campo, limpeza de filtros de ar-condicionado, realização de
exames ginecológicos com frequência e monitoramento de pacientes imunocomprometidos,
como transplantados e portadores do vírus HIV, devido às transmissões serem mais frequentes
por esporos dispersos na natureza ou contaminação endógena.
e) Realização de hemoculturas em todos os pacientes hospitalizados uma vez que a principal
forma de transmissão ocorre no ambiente hospitalar.

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282
UNIDADE 1

1. E. As bactérias são classificadas como procariontes e não possuem membrana nuclear. No entanto
apresentam grande quantidade de ribossomos para produção de proteínas, membrana citoplasmática
e parede celular. Como é sabido, as bactérias fazem parte do grande domínio Bacteria, constituído
de organismos procariontes, ou seja, sem membrana nuclear, e a principal organela citoplasmática
desses seres são os ribossomos.

2. C. Micro-organismos aeróbios estritos só se reproduzem e se desenvolvem em ambiente com presença


de oxigênio. Aeróbios estritos são denominados dessa maneira porque não possuem condições de
crescimento em ambientes com pouco oxigênio, como: anaerobiose ou presença de grande concen-
tração de gás carbônico.

3. B. Apenas as afirmações II e III são verdadeiras.

I. Os métodos fenotípicos de identificação bacteriana são amplamente aplicados em laboratórios e


possuem sensibilidade satisfatória. São os métodos mais amplamente utilizados na rotina labo-
ratorial, pois, além de sensíveis, não têm custo elevado e podem ser interpretados sem o uso de
equipamentos.

II. Alguns métodos fenotípicos de identificação envolvem: fermentação de açúcares, produção de gás
e descarboxilação de aminoácidos. Todos esses testes podem ser observados na rotina laboratorial
e têm muita significância para identificação correta de bactérias em amostras clínicas.

4. A. Requisição médica para exames e identificação de tubos de coleta. De todas as alternativas, apenas
esta é configurada como etapa pré-analítica à coleta de amostras clínicas.

5. D. A coleta de urina executada pelo paciente deve ser precedida de instruções específicas, a fim de
minimizar o risco de alterações pré-analíticas. Dentre as alternativas, esta é a única que apresenta
informações verdadeiras que podem ser confirmadas com o conteúdo da unidade.

UNIDADE 2

1. D. A Escherichia coli está presente na microbiota normal do sistema gastrintestinal, e por isso, quando
presente na região perianal, tem acesso mais facilitado à parte distal e externa da uretra, fazendo com
que este micro-organismo esteja em maior quantidade nas ITUs diagnosticadas em ambiente ambu-
latorial e hospitalar. Além disso, possui fatores de virulência como adesinas, proteínas e enzimas que
favorecem seus mecanismos de patogenicidade.

2. A. A desvantagem anatômica na mulher confere a este público a maior prevalência das ITUs quando
comparadas aos homens. A proximidade da uretra com o fim do trato gastrintestinal favorece a colo-
nização e infecção das vias urinárias por bactérias da microbiota gastrintestinal normal.

283
3. B. Para que uma ITU seja constatada, seja como cistite ou pielonefrite, é necessário que haja cres-
cimento nos cultivos de urocultura, que haja reação positiva para esterase leucocitária e nitrito nos
testes de fita reagente, e que haja presença de leucócitos (piúria) nos ensaios de urinálise. Além disso,
o médico pode fechar o diagnóstico da doença na avaliação clínica do paciente ao observar a presença
de sintomas característicos para as ITUs.

4. D. Dentre os antimicrobianos citados, todos podem ter seu espectro de ação avaliado frente a micro-
or-ganismos Gram-positivos e negativos nos testes de antibiograma.

UNIDADE 3

1. D. O Clostridium difficile é um bacilo Gram positivo, anaeróbio estrito que causa eventos diarreicos em
pacientes hospitalizados. A Listeria monocytogenes também é um Bacilo Gram positivo, no entanto, não
é um anaeróbio estrito. O Staphylococcus aureus é um coco Gram positivo, a Escherichia coli é um bacilo
Gram negativo e os Lactobacillus spp são microrganismos da microflora intestinal e não patogênicos.

2. B. Epidemia/pandemia de cólera, causada pelo Vibrio cholerae, e de contaminação fecal-oral. A pan-


demia de peste negra é causada pela Yersinia pestis, no entanto, não é caracterizada como infecção
gastrointestinal e a forma de contaminação é a picada de pulgas contaminadas pelo microrganismo.
A Salmonella enterica, por sua vez, não foi responsável pela epidemia/pandemia de cólera.

3. B. As etapas de enriquecimento são importantes para a recuperação e seleção de microrganismos inju-


riados, e dessa forma, aumentam a probabilidade desses microrganismos aparecerem nos ensaios de
coprocultura, atenuando os riscos de resultados falsos-negativos. O uso de meios de cultura seletivos e
diferenciais também auxiliam na redução de aparecimento de microrganismos da microbiota intestinal
normal e na separação de potenciais causadores (Gram positivos e Gram negativos, por exemplo).

UNIDADE 4

1. C. Os Lactobacillus são conhecidamente os principais micro-organismos da microbiota vaginal, sendo


essenciais para a saúde genital da mulher, e possuem diversos mecanismos de defesa contra patógenos
como a Gardnerella vaginalis, causadora da vaginite bacteriana.

2. A. O linfogranuloma venéreo é causado pela Chlamydia trachomatis, e o cancro mole é causado pelo
Haemophilus ducreyi.

3. C. O agente etiológico da gonorreia é a Neisseria gonorrhoeae e o principal mecanismo de virulência é


a presença de fímbrias ou pili em sua superfície celular para aderência às células epiteliais.

4. B. Para a avaliação da presença de anticorpos, é coletado o sangue do paciente, e, a partir do soro,


são realizados os testes imunológicos treponêmicos e não treponêmicos. Por isso, os métodos que
podem ser utilizados são o VDRL, um método de aglutinação, ou FTA-Abs, que combina a fixação de
anticorpos com a observação em microscópio com emissão de luz ultravioleta.

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UNIDADE 5

1. B. A proteína M, produzida pelo S. pyogenes, possui semelhanças estruturais com células cardíacas, e
anticorpos produzidos contra a proteína estreptocócica atacam as células do hospedeiro a partir de
uma reação autoimune. Além disso, após uma infecção estreptocócica, imunocomplexos podem ser
depositados nos glomérulos renais, o que causa glomerulonefrite.

2. C. O causador da difteria é a bactéria Corynebacterium diphtheriae, e o da coqueluche é a Bordetella


pertussis. O agente etiológico da pneumonia pneumocócica é o Streptococcus pneumoniae, e o Strep-
tococcus pyogenes é causador de inúmeras doenças, como a faringite, a síndrome do choque
tóxico e a escarlatina.

3. A. Pelo alto potencial infectante do M. tuberculosis, os laboratórios analíticos devem adotar um nível de
biossegurança 3 ou 4, que envolve o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) mais robustos
(máscaras PFF2) e o intensivo treinamento dos analistas. Para uma melhor obtenção de resultados,
é adequado que o analista realize a verificação da qualidade do escarro fornecido como amostra,
incluindo a aplicação de meios de cultura específicos e enriquecidos para o crescimento da bactéria
(como o ágar Lowenstein-Jensen), com uma incubação superior a sete dias.

UNIDADE 6

1. C. O antraz é transmitido pelo ar, enquanto as septicemias podem ser, ou não, devidas às zoonoses.
No entanto, a peste bubônica, a febre maculosa, a febre das trincheiras e a bartonelose são zoonoses
transmitidas, respectivamente, pelas picadas de pulgas, carrapatos e mosquitos.

2. E. A Neisseria meningitidis é um coco Gram negativo. As doenças respiratórias e neurológicas causadas


pelo Haemophilus influenzae podem ser evitadas pela administração da vacina contra a bactéria. A
Listeria monocytogenes é um patógeno externo, não integrante da microbiota normal dos seres huma-
nos. As cianobactérias são causadoras da doença do nervo motor. O Streptococcus pneumoniae pode
provocar meningites após pneumonias, ou doenças respiratórias geradas por esse microrganismo
em qualquer etapa da vida.

3. B. O tétano é causado pelo Clostridium tetani, e a doença é de alta mortalidade, pois causa contrações
fortes e um dano motor irreversível. O botulismo é causado pelo Clostridium botulinum, e a doença é
caracterizada pela paralisia flácida do tecido muscular. Ambos são devidos a ações de toxinas antigê-
nicas, e a transmissão ocorre pela inoculação de microrganismos esporulados na corrente sanguínea
(ou, no caso do botulismo, a transmissão pode ocorrer, também, através da ingestão).

UNIDADE 7

1. A. O gênero Streptococcus, geralmente, está presente na microbiota da nasofaringe. Bactérias Gram-ne-


gativas são constituintes da microbiota normal do sistema gastrointestinal, enquanto os Lactobacillus
são da microbiota normal do sistema genital feminino.

2. E. As piodermites e as celulites podem ser causadas por micro-organismos patogênicos para o sítio
epidérmico, assim como bactérias constituintes da microbiota, e diferenciam-se, principalmente, devido
ao local de acometimento. As celulites envolvem a camada mais interna (derme) e as piodermites, a
externa (epiderme). A via hematogênica, por mais que seja mais rara, pode ser uma fonte de infecção

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de pele, uma vez que a derme possui irrigação de capilares e vasos sanguíneos, e isso pode favorecer
infecções superficiais em indivíduos em bacteremia. O Clostridium perfringens é um micro-organismo
patogênico para a pele e não faz parte da microbiota, diferentemente do Staphylococcus aureus, que
é uma bactéria normal da epiderme humana, mas que ainda possui mecanismos de patogenia que
podem levar a infecções cutâneas. Os causadores das doenças de pele são de gêneros e espécies
diversas, envolvendo bactérias Gram-negativas, Gram-positivas, organismos aeróbios e anaeróbios.

3. C. A síndrome da pele escaldada é causada pelas cepas toxigênicas de Staphylococcus aureus, produ-
toras de esfoliatinas, tipos de exotoxinas. Os Streptococcus pyogenes não produzem a esfoliatina, por
mais que desencadeiem, também, doenças cutâneas descamativas.

4. B. O impetigo bolhoso é causado por ação do Staphylococcus aureus; o impetigo não bolhoso, por
sua vez, pode ser desencadeado por ação bacteriana de estreptococos e corinebactérias. Os gêneros
Fusobacterium e Clostridium estão associados à gangrena, enquanto o Propionibacterium é conhecido
como a bactéria da acne.

5. D. A febre escarlatina é uma doença causada pelo S. pyogenes, que apresenta, como manifestação
clínica inicial, lesões avermelhadas, que evoluem para ferimentos descamativos. A “língua em aspecto
de framboesa”, que, geralmente, acontece em crianças, é um sinal clínico que pode ajudar a diferen-
ciar a doença de outros acometimentos bacterianos. O micro-organismo ainda é o causador da febre
reumática, que não se trata de um acometimento cutâneo. O impetigo não bolhoso também é uma
doença decorrente da ação dos estreptococos, diferentemente da varíola, que é uma doença viral, e
do abscesso bacteriano, que não se trata de uma lesão descamativa.

UNIDADE 8

1. B. Os gêneros Rhizopus e Mucor spp estão dentro da classe dos zigomicetos. O Aspergillus spp e a
Cândida albicans, por sua vez, pertencem ao grupo dos ascomicetos.

2. D. As doenças cutâneas envolvem distúrbios como pé de atleta, pitiríase versicolor, piedra branca e
preta, enquanto dentre as patologias subcutâneas, a blastomicose merece destaque.

3. C. O Trichophyton spp. está geralmente associado ao pé de atleta, enquanto a blastomicose não é


causada por dermatófitos, e sim pelo Blastomyces dermatitidis, e a criptococose não se trata de uma
doença cutânea. A pitiríase versicolor é uma micose cutânea que tem como agente etiológico da
Malassezia furfur.

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UNIDADE 9

1. C. O dimorfismo fúngico é uma condição adaptativa destes organismos que permite que eles transi-
tem entre a morfologia filamentosa e leveduriforme em resposta a estímulos ambientais, como por
exemplo, a temperatura na qual são incubados.

2. B. O Paracoccidioides brasiliensis possui morfologia particular quando visto em ensaios microscópicos,


sendo esse aspecto descrito em diversas literaturas como “roda de leme”.

3. D. A inalação de esporos dos fungos é a principal maneira de contrair uma doença sistêmica fúngica.
Além disso, mulheres apresentam leveduras como parte de sua microbiota normal, estando assim
expostas e vulneráveis a contaminações endógenas em caso de imunocomprometimento, por isso
maneiras eficazes de evitar doenças fúngicas sistêmicas seriam proteger os indivíduos que trabalham
com o solo (local onde há grande deposição de esporos) e realizar exames de prevenção em mulheres.

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