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Avaliação

Nutricional
PROFESSORA
Dra. Lorena dos Santos Castro

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PRODUÇÃO DE MATERIAIS

Coordenador de Conteúdo Renato Castro da Silva Designer Educacional Aguinaldo Jose Lorca Ventura Curadoria Ana
Carolina Caputi Goncalves de Azevedo Revisão Textual Cindy Mayumi Okamoto Luca Editoração Lucas Pinna Silveira
Lima Ilustração Bruno Cesar Pardinho; Eduardo Alves; Geison Odlevati Ferreira Realidade Aumentada Maicon Douglas
Curriel; Matheus Alexander de Oliveira Guandalini Fotos Shutterstock.

FICHA CATALOGRÁFICA

U58 Universidade Cesumar - UniCesumar.

Avaliação Nutricional / Lorena dos Santos Castro. - Indaial, SC :


Arqué, 2022. Reimpresso em 2023.

352 p. : il.

ISBN papel 978-65-5615-952-2


ISBN digital 978-65-5615-870-9

“Graduação - EaD”.

1. Avaliação 2. Nutricional 3. Avaliação Antropométrica 4. Lorena dos


Santos Castro. I. Título.

CDD - 613.2

Núcleo de Educação a Distância.

Bibliotecária: Leila Regina do Nascimento - CRB- 9/1722.

Ficha catalográfica elaborada de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).


Pró Reitoria de Ensino EAD Unicesumar
Impresso por: Diretoria de Design Educacional

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


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www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360
02511182
Lorena dos Santos Castro

Olá, estudante! Eu sou a professora Lorena Castro. Sou formada em


nutrição e amo a minha profissão! Eu sonhava em ser nutricionista
ainda quando brincava com bonecas! Naquela época, nossa profissão
não era visionada assim como é hoje. Durante a graduação, decidi que
gostaria de fazer um mestrado e um doutorado para enriquecer o meu
conhecimento na área.
A partir disso, estudei incansavelmente para as provas e consegui
realizar o meu sonho. Durante o mestrado, trabalhei com um tema ainda
novo para mim, mas muito pertinente para a nutrição. Minha dissertação
teve, como tema, o estudo dos efeitos de um antioxidante sintético, cha-
mado BHT, no metabolismo hepático de ratos. Foi muito interessante!
Na sequência, ao longo do doutorado, continuei na mesma linha de
pesquisa, acrescentando alguns temas pertinentes. Finalizei o meu douto-
rado com uma tese que englobava o estudo de 16 diferentes antioxidantes
nas mitocôndrias de ratos e a ação do resveratrol na artrite deles. Foi um
desafio enorme e amei conquistá-lo. Contudo, sempre amei a nutrição
clínica e, mesmo estando em um ambiente acadêmico, associava o meu
tempo à realização de cursos na área e à participação em congressos.
Além disso, conquistei um título de cineantropometrista pela ISAK, ou
Aqui você pode seja, estudei a fundo a área de análise da composição corporal de adul-
conhecer um
tos. Os desafios não pararam. Ingressei no ramo da docência em 2019
pouco mais sobre
e, hoje, estou com a sua professora. Talvez, olhando o meu perfil, você
mim, além das
informações do imagine uma pessoa séria, mas sou totalmente o inverso: amo eventos
meu currículo. sociais, confraternizações entre amigos e dar boas risadas.
Também fujo da imagem da nutricionista que muitos veem como
perfeita! Adoro uma boa pizza, hambúrguer com fritas e um bom doce!
No entanto, a velha história do equilíbrio entra em ação: também sou
amante da academia. Além de ajudar a queimar várias calorias, é uma
das minhas melhores terapias, visto que é o momento de descansar a
mente, cansar o corpo e ouvir uma boa música.
Durante a elaboração da nossa disciplina, estive entre Paraná e Bahia.
Fui paranaense, mas, no momento, estou me familiarizando com a vida
baiana e estou amando! Espero que você aproveite o máximo desta
disciplina! Preparei-a com muito amor.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/3117603404377350
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Professores especialistas e convidados, ampliando as discussões sobre os temas.

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Uma dose extra de conhecimento é sempre bem-vinda. Posicionando seu leitor de QRCode
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PENSANDO JUNTOS

Ao longo do livro, você será convidado(a) a refletir, questionar e transformar. Aproveite


este momento.

EXPLORANDO IDEIAS

Com este elemento, você terá a oportunidade de explorar termos e palavras-chave do


assunto discutido, de forma mais objetiva.

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AVALIAÇÃO NUTRICIONAL

Sabe-se que o processo de transição nutricional no Brasil é uma realidade gritante, em decorrência dos altos índices
de excesso de peso entre a população, desde as fases mais tenras até as mais avançadas. Imagine que você está
atuando na abordagem de um escolar ou de adultos com excesso de peso. Quais métodos adotar para compor
a avaliação nutricional? Elas precisam ser, ao mesmo tempo, eficazes e não podem constranger os pacientes em
relação às composições corpóreas atuais.
Durante a observação dos exames físicos que devem compor a avaliação de um paciente enfermo, quais são
os pontos anatômicos de observação de depleção (perda) de músculo, gordura e de carências de vitaminas e
minerais? Como eles devem se apresentar quando estão em normalidade e quando estão alterados?
Podemos ir além: imagine-se atendendo a um esportista. Quais métodos de avaliação corporal poderia aplicar?
Quais fórmulas usar para calcular as necessidades energéticas, por exemplo? A avaliação nutricional trará um
norte a essas e outras indagações que você pode ter. Além disso, auxiliará no processo de escolha dos métodos
para compor a avaliação nutricional em todo o ciclo vital, incluindo pacientes em estados fisiológicos específicos,
como a gestante e os enfermos, e casos especiais, apontando os métodos mais assertivos em cada caso.
Também explicaremos o manuseio de cada método até a fase de fechamento do diagnóstico nutricional con-
clusivo do paciente por meio da análise do conjunto de testes de avaliação nutricional utilizados. Vamos juntos!
Do ponto de vista da análise da composição corporal, a obesidade é caracterizada por uma elevada quanti-
dade de massa gorda e de água total extracelular. Embora a medida da massa corporal total e o Índice de Massa
Corporal (IMC) sejam índices conhecidos e utilizados na avaliação nutricional, a maioria das pesquisas concorda
que eles são bastante imprecisos.
A classificação de gordura de acordo com o IMC superestima a gordura corporal em indivíduos ativos e su-
bestima a gordura corporal em indivíduos sedentários, obesos, idosos e em certas condições clínicas. Logo, há a
necessidade de métodos mais específicos. A avaliação da composição corporal em obesos pode ser dificultada
devido às limitações dos equipamentos utilizados e das características dos métodos. Dessa forma, essa sessão
temática demanda muito cuidado e você descobrirá como aplicá-la de modo correto.
Analisar o estado nutricional de pacientes hospitalizados é importante, principalmente para evitar quadros
de desnutrição, que estão totalmente relacionados aos grandes índices de morbidade dos pacientes. O estado
nutricional de pacientes hospitalizados influi na evolução clínica deles. A avaliação nutricional é exigida como
parte do cuidado integral do paciente. Contudo, muitas vezes, é descuidada, por isso, é exigida tamanha atenção.
Ademais, um excelente recurso para a avaliação dos pacientes críticos e de idosos se dá a partir do uso da
avaliação subjetiva global, utilizada para classificar o grau de desnutrição e o risco nutricional, que prescinde
de exames antropométricos e laboratoriais objetivos, tornando a avaliação mais rápida e com menor custo.
Muito interessante, não é mesmo?
Estudaremos esses conteúdos com detalhes ao longo deste material. Também realizaremos uma análise de-
talhada das diversas maneiras de se fazer a avaliação corporal de atletas. Para tanto, convido a você a descobrir,
a partir desta disciplina, o mundo fantástico da avaliação nutricional. Bons estudos!
Considerando os fatores expostos, convido você a refletir sobre o modo como poderia aplicar os métodos da
avaliação em pacientes idosos ou em pacientes hospitalizados. Suponha que foi solicitado a você uma avaliação
nutricional de um paciente idoso para verificar se ele está desnutrido. Ele se encontra acamado, com diagnóstico de
Acidente Vascular Cerebral (AVC) e pneumonia. Foi informado que ele não consegue ficar em pé e que a avaliação
nutricional deverá ser realizada no próprio leito. Sabendo que é necessário, primeiramente, verificar o Índice de
Massa Corporal (IMC) do idoso, como você aferiria o peso e a altura do paciente?
Muitos, ao pensarem na avaliação nutricional, podem imaginar um exame de adipometria em atletas ou uma
bioimpedância em uma clínica de estética. No entanto, analisar o lado oposto também é interessante e de suma
importância. É por isso que você tem, em sua grade curricular, esta disciplina. A avaliação nutricional é necessária
em todas as etapas da vida. Entretanto, sabemos que cada fase tem particularidades. Dessa forma, uma criança
não será avaliada levando em consideração os mesmos parâmetros de um idoso.
Você, como futuro(a) nutricionista, precisa saber que a nutrição tem papel importante no processo do envelheci-
mento, pois é possível realizar diversas modulações, adequações e atuar na análise da etiologia de doenças, no declínio
funcional e no surgimento de deficiências inerentes da idade. A avaliação e o monitoramento nutricional em todas
as etapas da vida são necessários para uma assistência adequada e para o planejamento de ações de promoção da
saúde. A sua atenção durante o atendimento fará total diferença no quadro, inclusive, de um paciente hospitalizado.
A avaliação nutricional, de modo geral, representa a interpretação de informações obtidas a partir de dados
socioeconômicos, dietéticos, bioquímicos, antropométricos e clínicos. Ela pode ser aplicada desde crianças até
idosos. Essas informações servem como base para um diagnóstico adequado, a identificação de indivíduos em
risco, a vigilância nutricional e o estabelecimento e a avaliação de políticas e programas. Em outras palavras, atua
tanto no campo específico quanto no geral. Questões relacionadas ao perfil epidemiológico, aos valores simbólicos
associados à comida, ao processo de envelhecimento, às alterações nos modos de vida e às preocupações da
vida moderna, incluindo a demanda por um corpo jovem e belo, exemplificam a complexidade do tema. O ajuste
de indicadores do estado nutricional adequados às diversas modalidades de cuidado também são aspectos que
merecem atenção, especialmente porque o enfoque central é promover a identificação de risco e a intervenção
precoce, a fim de reduzir o impacto da perda de funcionalidade.
O caráter dinâmico e abrangente que envolve o desafio da longevidade no contexto atual, associado aos dados
do Relatório Mundial sobre envelhecimento e Saúde da Organização Mundial da Saúde, expressa que o número
de pessoas com mais de 60 anos no Brasil deverá crescer muito mais rápido que a média mundial. Isso significa
que as pessoas estão vivendo mais. Há quem diga que, para viver, não basta somente estar vivo, é necessário ter
o que chamamos de qualidade de vida. A nutrição é uma ciência que contribui significamente para isso durante
todas as etapas da vida.
Para crianças e adolescentes, o acompanhamento e a avaliação nutricional são importantes para garantir o
crescimento adequado, visto que são fases em que as demandas energéticas mudam com bastante frequência.
Além disso, podem ser complementares aos tratamentos de doenças. Nos adultos, ambos continuam sendo im-
portantes para as doenças, mas também promovem vários benefícios, como maior qualidade de vida, melhoria
no desempenho esportivo e aumento da autoestima.
No idoso, o cuidado nutricional não se concentra apenas no manejo da doença ou da terapia nutricional
aplicada, mas está aliado ao estilo de vida saudável e à prevenção de doenças. Sem o aumento da ênfase em
melhores dietas alimentares e mais atividades físicas para todas as idades, os gastos relativos aos cuidados com a
saúde aumentarão exorbitantemente no decorrer do envelhecimento da população. Ademais, muitos idosos têm
necessidades nutricionais especiais, porque o envelhecimento afeta a absorção, o uso e a excreção de nutrientes.
Dessa forma, é de suma importância uma adequada avaliação nutricional e ajustes na alimentação e nutrição, haja
vista que eles contribuem para a qualidade de vida social, fisiológica e psicológica.
Diante disso, podemos concluir que, para alguns, o envelhecimento pode significar encontro com novos proje-
tos de vida, busca da ressignificação para uma nova existência, liberdade e um viver com intensidade e felicidade.
Todavia, o que, de fato, observamos é que a nutrição pode fazer diferença desde o começo até o fim da vida.
Você, futuro(a) profissional, deve ser habilitado(a) a realizar a avaliação nutricional de forma crítica e integrada
em equipe. Precisa compreender que nenhum indicador isolado satisfará às necessidades de todas as dimensões
envolvidas e saber que o sujeito deve ser olhado de forma singular, levando em consideração a heterogeneidade.
Considerando os temas apresentados, convido você a mergulhar em nossa disciplina e descobrir o quão en-
riquecedora ela será para a sua prática profissional.
1
13 2
47
INTRODUÇÃO AO ESTUDO INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS
DA AVALIAÇÃO DO DOS PROTOCOLOS DE
ESTADO NUTRICIONAL AVALIAÇÃO NUTRICIONAL E
E BIOÉTICA DO DE CONSUMO ALIMENTAR
NUTRICIONISTA DOS INDIVÍDUOS

3
85 4
113
AVALIAÇÃO DE INTRODUÇÃO
EXAMES LABO- À AVALIAÇÃO
RATORIAIS NA ANTROPOMÉTRICA
NUTRIÇÃO

5 155 6
185
ANÁLISE DA AVALIAÇÃO
COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL
CORPORAL NA DE GESTANTES E
AVALIAÇÃO LACTENTES
NUTRICIONAL
7 8
227 257
AVALIAÇÃO AVALIAÇÃO
NUTRICIONAL NUTRICIONAL DE
DE CRIANÇAS E PRATICANTES DE
ADOLESCENTES ATIVIDADES FÍSICAS
E ATLETAS

9
291
AVALIAÇÃO
NUTRICIONAL
DE PACIENTES
HOSPITALIZADOS E
IDOSOS
1
Introdução ao Estudo
da Avaliação do Estado
Nutricional e Bioética
do Nutricionista
Dra. Lorena dos Santos Castro

Nesta unidade, você terá a oportunidade de conhecer os fatores


que estão envoltos na avaliação do estado nutricional de indiví-
duos e coletividades. Também entenderá o desequilíbrio do estado
nutricional e o cuidado nutricional. A semiologia nutricional será
abrangida, a partir da intepretação dos conceitos e da identificação
dos fatores que interferem na temática. Por fim, você terá a possi-
bilidade de conhecer os principais aspectos relacionados à bioética
profissional do nutricionista.
UNICESUMAR

Olá, caro(a) aluno(a)! Digamos que você atenda uma paciente


adulta do sexo feminino que agendou uma consulta buscando
mudanças nos hábitos alimentares. O intuito é melhorar os sinto-
mas de dores estomacais. A paciente relata praticar atividade física
(caminhada) três vezes na semana, não é tabagista e não ingere
bebidas alcoólicas. A partir dessas informações iniciais, como você
conduziria a sua consulta, tendo em vista a utilização dos métodos
de avaliação do estado nutricional para descobrir os hábitos que
a paciente deveria modificar para melhorar os sintomas?
Você, como nutricionista, terá uma ferramenta de suma impor-
tância para auxiliar em sua prática clínica, a chamada avaliação
nutricional, mais especificamente, avaliação do estado nutricional.
Essa área da nutrição tem, como função, identificar os pacientes
com grande risco de apresentar complicações no estado nutri-
cional, para que seja possível oferecer uma terapia nutricional
adequada e monitorar a eficácia da intervenção dietoterápica.
No caso da paciente hipotética, inicialmente, é necessário
realizar uma anamnese nutricional dela, a fim de avaliar alguns
aspectos, como:

• História clínica.
• Variação de peso em consequência das queixas gastrin-
testinais.
• Alteração do padrão alimentar.
• Se a paciente possui outros sintomas gástricos associados.
• Antecedentes médicos (verificar outra complicação de
saúde e o diagnóstico médico).
• Medicamentos que faz uso (diversos medicamentos podem
ser irritativos à mucosa estomacal).
• História social (compreender os fatores que estão relacio-
nados à doença).
• História dietética (quais são os padrões de ingestão ali-
mentar).

Depois do levantamento, poderá ser feita uma análise minucio-


sa dos hábitos alimentares da paciente que estão relacionados à
queixa inicial. Além disso, aliado às questões realizadas, você po-
derá realizar um exame físico para detectar possíveis deficiências
nutricionais por meio da avaliação subjetiva global, da análise dos
exames laboratoriais e da antropometria, com o objetivo de avaliar

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UNIDADE 1

o tamanho, a proporção e a composição do corpo da paciente.


Você percebeu que a avaliação do estado nutricional abrange
diversos fatores? Dominar esse tema é de suma importância e é
ele que estudaremos.
Proponho a você a realização de uma pesquisa sobre os hábitos
alimentares das pessoas as quais você convive e/ ou estão em seu
meio social. Para tanto, utilize as seguintes perguntas:

1. Como é seu estilo de vida?


2. O que você não deixa de comer diariamente?
3. Como é o seu café da manhã?
4. Quais foram os tamanhos das porções consumidas em
sua última refeição?
5. Quanto de água você bebe por dia?

Nesse experimento você não avaliará qualitativamente ou quan-


titativamente os inquéritos realizados, mas realizará uma ati-
vidade em que poderá observar, na prática, como poderão ser
alguns questionamentos realizados durante o seu atendimento
nutricional. Você também analisará a sua postura ao fazer os
questionamentos, como reagirá a cada resposta e como você se
sentirá ao ter um vínculo entre profissional e paciente. Sugiro a
você anotar as perguntas e registrar as respostas em papel ou em
algum meio eletrônico.
No experimento, foi demarcada uma possível maneira de ana-
lisar alguns hábitos alimentares das pessoas por meio do uso de
um pequeno inquérito alimentar. Também associamos o uso desse
inquérito àqueles que você poderá realizar em sua paciente, visto
que, aplicando os seus conhecimentos relativos à avaliação do es-
tado nutricional, você indicará as possíveis causas e modificações
que a paciente poderá realizar para aliviar a queixa dela.
Ao avaliar o estado nutricional de um paciente, é preciso
correlacionar diversos fatores. Não é recomendado realizar um
diagnóstico utilizando uma técnica de forma isolada, pois não é
um método padrão-ouro para diagnosticar uma desordem nu-
tricional. Sendo assim, a escolha do melhor método dependerá
dos objetivos do tratamento dietético, podendo englobar a antro-
pometria, a avaliação clínica e os exames laboratoriais. Anote, em
seu diário de bordo, a sua experiência com essa atividade: como
foi questionar indivíduos sobre os hábitos alimentares?

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UNICESUMAR

Para iniciar o estudo da avaliação nutricional, é necessário conhecer o histórico e alguns conceitos
básicos do estado nutricional, começando pelo significado de avaliação, de estado nutricional e,
por fim, de avaliação do estado nutricional. De acordo com o dicionário de Aurélio, “avaliar” significa
“julgar”; “fazer apreciação”. O significado de “avaliação nutricional” é comparar resultados com referên-
cias, parâmetros e valores cientificamente, tecnicamente ou politicamente aceitos no meio acadêmico.
Para um melhor entendimento, como base de uma avaliação nutricional, tem-se o estado nutri-
cional, que reflete o grau em que as necessidades fisiológicas de um indivíduo estão satisfeitas. O que
seria essa satisfação? Ela é dada pelo equilíbrio entre o consumo de nutrientes e os requerimentos
nutricionais que resultam nesse estado nutricional. O estado nutricional incorpora duas dimensões:

• A dimensão biológica: resultante da manifestação biológica sobre o corpo e dada pela


relação entre o consumo e as necessidades nutricionais.
• A dimensão social: está relacionada à manifestação biológica das relações que operam
sobre o corpo no interior de uma sociedade.

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UNIDADE 1

De forma mais ampla, o estado nutricional está envolto no conceito da síntese orgânica das rela-
ções entre o homem, a natureza e o alimento, as quais se estabelecem no interior de uma socieda-
de. Considere que a avaliação do estado nutricional de um paciente ou de grupo populacional é
essencial para que pesquisadores e profissionais da saúde pública promovam o avanço na saúde
pública, especialmente aos grupos populacionais que apresentam altas taxas de prevalência de
doenças. A partir da utilização de métodos de coleta e de procedimentos diagnósticos, é possível
determinar as causas prováveis que deram origem aos problemas nutricionais, para que medidas
de intervenção sejam planejadas, executadas e monitoradas nos âmbitos individual e coletivo.
Ao fazer uso das técnicas de avaliação adequadas, você, como profissional, pode detectar uma
deficiência nutricional nos primeiros estágios de desenvolvimento, permitindo que a ingestão
dietética seja melhorada por meio do apoio e de aconselhamentos nutricionais, antes que se
desenvolva uma situação mais grave em seu paciente. Logo, a avaliação nutricional tem como
objetivo identificar distúrbios, riscos nutricionais, e a gravidade deles, para, então, traçar condutas
que possibilitem a recuperação ou a manutenção adequada do estado de saúde.
É necessário que, em sua conduta profissional, seja realizado um adequado monitoramento
do paciente por meio da avaliação nutricional. Também é importante o acompanhamento das
respostas do seu paciente às suas intervenções nutricionais. São diversos os usos da avaliação
nutricional, tendo grande relevância na vigilância alimentar e nutricional nos diferentes ciclos
da vida; no diagnóstico da magnitude e da distribuição geográfica dos problemas nutricionais;
na tomada de decisões para a intervenção nutricional no âmbito das políticas e dos programas
públicos de combate aos problemas nutricionais mais relevantes e considerados de saúde pública;
e no monitoramento dos efeitos da intervenção nutricional nos âmbitos individual e coletivo.
Para exemplificar o uso da avaliação nutricional no âmbito das coletividades, há o levanta-
mento de dados para elaboração de políticas públicas. Diversos são os estudos e os meios de
acompanhar e avaliar as ações de alimentação e nutrição no Brasil e no mundo. Um exemplo
dessa aplicação é a elaboração da cartilha Situação Alimentar e Nutricional no Brasil: excesso
de peso e obesidade da população adulta na Atenção Primária à Saúde, redigida pelo Minis-
tério da Saúde. Nela, há a inferência da má alimentação liderando o ranking dos fatores de risco
relacionados à carga global de doenças no mundo.
No estudo, pode-se verificar que o excesso de peso e as doenças relacionadas serão respon-
sáveis pela redução da expectativa de vida em três anos dos brasileiros e impactam a redução
de 5% no Produto Interno Bruto (PIB) do país (BRASIL, 2020). Além disso, o custo financeiro
da obesidade com hospitalizações e gastos ambulatoriais em 2011 foi estimado em R$ 488
milhões. Em 2018, esse mesmo custo aumentou 37%, totalizando R$ 669 milhões (BRASIL,
2020). Percebeu a importância das técnicas da avaliação nutricional? Essa é apenas uma das
várias aplicações possíveis. Na Figura 1, temos uma ilustração dos fatores que estão envoltos no
contexto da situação alimentar e nutricional no Brasil.

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UNICESUMAR

CONTEXTO BRASILEIRO

Carências
nutricionais
Transição
alimenta, Múltipla carga de Desnutrição
nutricional e má nutrição
epidemiológica
Excesso
de peso

Doenças A elevada
crônicas não prevalência de
transmissíveis (DCNT) são obesidade é fator
consideradas um dos maiores de risco para o
problemas de saúde pública. desenvolvimento de DCNT
e também associada à perda
No Brasil, o percentual de de qualidade de vida
mortes prematuras por e maiores custos
DCNT corresponde ao sistema de
a 74% saúde.

Figura 1 - Contexto brasileiro sobre a situação alimentar / Fonte: Brasil (2020, p. 1).

Descrição da Imagem: trata-se de um fluxograma que tem início por um retângulo, representado por uma caixa de texto referente
às transições alimentar, nutricional e epidemiológica. Essa caixa de texto faz conexão com uma seta à direita de outra caixa de texto
retangular e que se refere às múltiplas cargas de má nutrição. Dessa caixa de texto, saem três setas, as quais indicam as carências
nutricionais, a desnutrição e o excesso de peso. Além disso, a caixa de texto faz referência especial a outra caixa de texto em formato
redondo, à esquerda, que relata que as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são consideradas um dos maiores problemas
de saúde pública. No Brasil, o percentual de mortes prematuras por DCNT corresponde a 74%. Por fim, ao lado da caixa de texto em
formato redondo e embaixo das caixas de texto que estão unidas pelas setas, há uma última caixa de texto redonda a qual relata que
a elevada prevalência de obesidade é o fator de risco para o desenvolvimento de DCNT e é associada à perda de qualidade de vida e
maiores custos ao sistema de saúde.

O Ministério da Saúde realizou um estudo que infere que a valorização dos fatores de risco relacio-
nados à alimentação reduz mais os anos de vida com qualidade do que o fumo, o álcool, a poluição
e as drogas. Assim, uma melhoria nas condições de alimentação da população poderia prevenir
uma em cada cinco mortes no mundo.
Fonte: adaptado de Brasil (2020).

A partir de boas técnicas de análise da saúde e da alimentação da população, é possível obter avanços
em diversos indicadores e criação de políticas públicas. Essas técnicas podem ser estendidas àquelas
que têm impactos nas taxas de mortalidade infantil, a fim de promover a expansão e a cobertura dos
serviços de saúde, em especial, da atenção básica e do saneamento. Também é possível implementar
programas de assistência alimentar e de transferência de renda, repercutindo de forma positiva nos
indicadores de saúde nacionais.

18
UNIDADE 1

A avaliação nutricional também pode ser usada em inquéritos, estudos e evidências científicas que
associam a dieta ao estado de saúde dos indivíduos. A aplicabilidade dela foi de extrema importância
e levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a estabelecer limites para o consumo de nutrientes
(gorduras (10% a 30% do Valor Energético Total – VET), ácidos graxos saturados (10% do VET), açú-
car livre (10% do VET), colesterol (300 mg/dia) e sal (5g/dia)) e a estimar o consumo de carboidratos
complexos (45% a 65% do VET) e de frutas, legumes e verduras (400 g/dia) (WHO, 2003).
É possível usar referências de diversos autores para o estudo e a avaliação do estado nutricional. Para
Martins (2009), o estado nutricional reflete o equilíbrio entre a ingestão e a demanda (necessidade) de
nutrientes de um indivíduo, assim como podemos observar na Figura 2. Para entendermos melhor, a
manutenção do equilíbrio depende de vários fatores. A ingestão de nutrientes depende tanto de fatores
associados aos alimentos quanto daqueles relacionados à digestão e à absorção.
Nesse contexto, a demanda de nutrientes deve suprir as necessidades básicas do corpo, mesmo em
períodos de crescimento e de desenvolvimento, como infância, adolescência e gestação. As situações
especiais, como estresse fisiológico, febre, infecção e doenças, podem alterar significativamente a neces-
sidade de nutrientes de um indivíduo. Você concorda que não existem dúvidas de que a piora do estado
nutricional de um indivíduo pode trazer consequências desastrosas? O maior número e tempo de hos-
pitalização está relacionado a essa piora. No âmbito da economia, o estado nutricional alterado, direta ou
indiretamente, conduz à pouca produtividade e gera gastos elevados para o indivíduo e para sociedade.

Fatores Desenvolvimento
Fatores e crescimento
emocionais econômicos

Fatores sociais Manutenção das Condições especiais


Fatores físicos e culturais necessidades (ex. doença, febre,
(ex. doenças, corporais estresse)
má-absorção)

Ingestão de Necessidade
nutrientes de nutrientes

Figura 2 - Estado nutricional adequado: equilíbrio entre a ingestão e a necessidade de nutrientes / Fonte: adaptada de Martins (2009).

Descrição da Imagem: a figura possui uma base representada por um triângulo. Em cima da base, há uma base reta que remete a
uma gangorra. Cada extremidade tem um círculo. O círculo da esquerda tem uma caixa de texto que menciona a ingestão de nutrien-
tes. Ao lado, estão dispostas quatro setas: a primeira tem uma caixa de texto que se refere aos fatores físicos (exemplos: doenças e
má-absorção); a segunda trata dos fatores emocionais; a terceiro, dos fatores econômicos; e a última, dos fatores sociais e culturais. Ao
lado direito, há um círculo que se refere às necessidades de nutrientes. Há três setas ao redor dele: a primeira se refere à manutenção
das necessidades corporais; a segunda trata do desenvolvimento e do crescimento; a terceira e última abarca as condições especiais
(doença, febre e estresse).

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UNICESUMAR

Outros autores que nos auxiliam a compreender foco no desequilíbrio nutricional, os estados de
o conceito de avaliação nutricional são Sam- deficiência ou excesso ocorrem quando a ingestão
paio et al. (2012). Eles explicam que o estado de nutrientes não corresponde aos requerimentos
nutricional está envolto na concepção de um para a saúde ideal do indivíduo.
modelo multicausal de determinação dos pro- Avaliamos, até o momento, o modo como a
blemas nutricionais. Esses problemas aumen- ingestão de nutrientes afeta o estado de saúde de
tam a complexidade à medida que incorporam um indivíduo. Agora, entenderemos o desequilí-
uma hierarquização no processo de causalidade. brio do estado nutricional. Nos casos em que há
Em outras palavras, esse modelo parte de causas consumo insuficiente, pode ocorrer, como conse-
básicas/estruturais que expressam os processos quência, doenças carenciais, como uma desnutri-
econômicos, políticos e ideológicos da orga- ção proteica, anemia ferropriva, hipovitaminose
nização social, do desenvolvimento das forças A, bócio, cárie dental e outras. Por outro lado, caso
produtivas e das relações de produção. haja o excesso de consumo, tem-se a obesidade,
Sampaio et al. (2012) utilizam uma metodologia o excesso de algumas vitaminas e minerais, as
que segue um nível de determinação mediato e ime- dislipidemias e algumas doenças crônicas não
diato. Logo, o modelo mediato se relaciona com as transmissíveis, como a hipertensão, a diabetes e
relações de organização de produção e de consumo alguns tipos de câncer.
de cada classe social. Posteriormente, foca em um Dentro da faixa segura de ingestão alimentar,
nível mais individual. Em contrapartida, a deter- os mecanismos homeostáticos permitem que o
minação imediata se relaciona com a influência de corpo utilize os nutrientes de modo igualmente
fatores biológicos, ambientais, econômicos, sociais, eficiente, sem qualquer vantagem detectável adqui-
culturais e ideológicos e com a forma como se orga- rida por um consumo específico. Por outro lado,
nizam a produção e o consumo familiar individual. quando são desenvolvidas deficiências ou excessos,
Entendamos melhor o modelo imediato. promovem-se adaptações para alcançar um novo
Em última instância, é no desequilíbrio entre o estado estável, sem nenhuma perda importante na
consumo alimentar e o gasto energético que se função fisiológica. Logo, à medida que a ingestão se
observam as alterações no estado nutricional ao torna deficiente, o organismo se acomoda perante
nível do corpo biológico. Em consequência disso, às alterações na oferta de nutrientes, reduzindo a
a nutrição é um fator importante na causa e no função, o tamanho ou o estado dos compartimen-
manejo de vários motivos relevantes de morte e tos afetados pelo corpo.
incapacidade na sociedade contemporânea. As Podemos inferir que o estado nutricional de
doenças cardíacas, os acidentes vasculares ence- um indivíduo pode ser identificado a partir do
fálicos, a diabetes e diversos cânceres são influen- sucesso ou do fracasso das adaptações citadas.
ciados pelo tipo e pela quantidade de alimento Por exemplo, antes que a anemia ferropriva seja
consumido. A nutrição é de extrema importância diagnosticada pelas medidas de hematócrito, he-
em diversas doenças, como a obesidade, a anemia moglobina e sinais clínicos, é possível diagnos-
e a osteoporose. As modificações na dieta podem ticar uma diminuição gradual nos depósitos de
auxiliar na prevenção de doenças, especialmen- ferro em detrimento do aumento na absorção de
te em indivíduos com sobrepeso e obesos. Com ferro e da redução das concentrações de ferritina

20
UNIDADE 1

sérica. Quando as reservas nutricionais estão depletadas ou a ingestão é inadequada para satisfazer às
necessidades metabólicas diárias, desenvolve- se um estado de desnutrição.
Considere a desnutrição como um desequilíbrio nutricional. Esse quadro pode resultar da inges-
tão inadequada, da digestão ou da absorção deficiente, das alterações metabólicas ou do aumento da
excreção de nutrientes essenciais. Logo, os lactentes, as crianças, as gestantes, os indivíduos de baixa
renda, os indivíduos hospitalizados e os idosos têm maior risco de serem desnutridos. Isso compro-
mete o crescimento e o desenvolvimento, diminui a resistência às infecções, prejudica a cicatrização,
promove o desfecho clínico ruim da doença ou do trauma, desenvolve doenças crônicas e aumenta a
morbidade e a mortalidade (SAMPAIO et al., 2012).
Partindo de uma visão paralela, Martins (2009) contextualiza a desnutrição de forma não uniforme,
ou seja, a má nutrição é algo global e resultante do desequilíbrio entre as necessidades do corpo e a
ingestão de nutrientes, assim como é visível na Figura 3. Com isso, a consequência é a deficiência, a
toxicidade ou a obesidade. Já a desnutrição ou a subnutrição representa um distúrbio do estado nutri-
cional decorrente da deficiência nas reservas corporais de calorias, proteínas, vitaminas e/ ou minerais.
Os motivos que podem levar à desnutrição podem ser a deficiência na ingestão e a modificação no
metabolismo (exemplos: alteração na utilização ou na síntese; desequilíbrio na excreção).

21
UNICESUMAR

Morte

Morbidade Individuo
(enfermidade) obeso

Funções metabólicas
alteradas

Acúmulo de gordura
no corpo

Individuo bem
Ingestão excessiva nutrido
de calorias e lipídios

Ingestão igual a
necessidade de nutrientes

Ingestão insuficiente
e/ou absorção
diminuída e/ou
perdas aumentadas
de nutrientes

Depleção de reservas
corporais
ndividuo em
risco nutricional
Funções celulares
alteradas

Sinais e sintomas
clínico
Individuo
desnutrido
Morbidade
(enfermidade)

Morte

Figura 3 - Evolução da má-nutrição / Fonte: adaptada de Martins (2009).

Descrição da Imagem: trata-se de um fluxograma com caixas de texto no formato oval e retangular. As caixas ovais se encontram no
canto esquerdo da figura e as retangulares do direito. Todas estão no sentido vertical. Em relação às caixas ovais, temos uma caixa
central, representada pela ingestão insuficiente e/ou absorção diminuída e/ou perdas aumentadas de nutrientes. Saem, dessa caixa,
seis caixas acima e cinco abaixo. Todas são orientadas por setas para cima e para baixo. No que diz respeito às seis caixas ovais que
estão acima da central, todas estão conectadas por setas de baixo para cima: a primeira é referente à ingestão equivalente à neces-
sidade de nutrientes; a segunda trata da ingestão excessiva de calorias e lipídios; a terceira abarca o acúmulo de gordura no corpo; a
quarta trata das funções metabólicas alteradas; a quinta diz respeito à morbidade (enfermidade); e a sexta trata da morte. Ao lado das
caixas quatro e cinco, encontra-se uma linha reta que as conectam à caixa de texto retangular da direita, referente ao indivíduo obeso.
Em relação às caixas de texto ovais que estão embaixo da caixa central, a primeira diz respeito à depleção das reservas corporais. A
segunda trata das funções celulares alteradas; a terceira abarca os sinais e os sintomas clínicos; a quarta diz respeito à morbidade; e a
quinta trata da morte. As caixas um e dois dessa sequência têm conexão com a caixa retangular da direita por meio de uma linha reta
referente ao indivíduo em risco nutricional. Saindo dessa caixa, há outra linha reta que faz conexão com a caixa que trata do indivíduo
nutrido, que também se conecta pela mesma linha com a caixa de texto que diz respeito ao indivíduo obeso. As caixas de texto ovais
três e quatro se unem à caixa da direita por uma linha reta, que faz menção ao indivíduo desnutrido.

22
UNIDADE 1

De acordo com Btaiche et al. (2010), há uma relação entre a desnutrição e a doença. Os estudiosos
explicam que os pacientes criticamente enfermos e que apresentam ferimentos graves e estresse podem
depletar rapidamente os próprios estoques corporais de proteína e energia. Nesses casos, a desnutrição
e o consumo proteico podem afetar negativamente a evolução do paciente. Em conjunto, a desnutrição
hospitalar é um grande problema há anos, de acordo Waitzberg, Caiaffa e Correia ([2022]).
Durante os últimos vinte anos, diversos estudos têm demonstrado, em todo o mundo, as conse-
quências da desnutrição em pacientes hospitalizados. Waitzberg, Caiaffa e Correia ([2022]) realizaram
um estudo em parceria com a Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE) em 12
estados brasileiros e no Distrito Federal. Foram envolvidos 4.000 pacientes internados. A pesquisa re-
velou que quase metade (48,1%) dos pacientes internados na rede pública do Brasil apresentam algum
grau de desnutrição. Entre esses pacientes, 12,6% eram desnutridos graves e 35,5% eram desnutridos
moderados (WAITZBERG; CAIAFFA; CORREIA, [2022]). Elevada porcentagem, não é mesmo?
Por outro lado, Martins (2012) entende a desnutrição como um desequilíbrio devido ao consumo
alimentar excessivo, mas insuficiente para atender às necessidades nutricionais. Logo, diversos proble-
mas se manifestam a partir desse quadro, como obesidade, diabetes, doenças cardíacas ateroscleróticas,
hipertensão arterial e síndrome metabólica. Essas condições podem resultar em desfechos clínicos ruins.
O excesso de peso e a obesidade podem estar associados a uma inflamação de baixo grau, às altas con-
centrações de marcadores inflamatórios (como a proteína C-reativa) e às citocinas pró-inflamatórias.
A obesidade atingiu proporções epidêmicas no Brasil. Segundo a Pesquisa de Vigilância de Fatores
de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, que foi feita pelo Ministério da
Saúde em 2018, a obesidade apresenta maior taxa de crescimento entre adultos de 25 a 34 anos (84,
2%) e de 35 a 44 anos (81,1%) (BRASIL, 2020). Entre 2015 e 2017, 55,7% da população brasileira estava
com excesso de peso. Estima-se que, em 2025, 2,3 bilhões de adultos ao redor do mundo estejam acima
do peso, sendo 700 milhões com obesidade (BRASIL, 2020).
Em relação à avaliação nutricional de um paciente obeso doente, você, como profissional, terá um
grande desafio, porque as ferramentas de rastreio afirmam que um indivíduo está em risco somente
quando está subnutrido. Portanto, elas podem classificar o paciente obeso doente como de baixo ris-
co. Há pouca probabilidade de ele ser identificado como alguém com maior potencial de morbidade.
Sendo assim, são necessárias ferramentas mais apropriadas para avaliar precisamente essa população.
Unindo todos esses fatores, é essencial entender os conceitos de bem-estar nutricional e de saúde nu-
tricional, considerando a melhor estratégia baseada na alimentação, a fim de promover a saúde ideal
e reduzir o risco de doenças crônicas. O objetivo é escolher uma grande variedade de alimentos ricos
em nutrientes e utilizar os suplementos necessários.
É preciso ter muita atenção com o cuidado nutricional. Durante a avaliação nutricional do pa-
ciente, o cuidado nutricional é de extrema importância, sendo um método sistemático de resolução
de problemas usado para analisar o paciente de forma crítica e para a tomada de decisões. O intuito
do cuidado nutricional é fornecer um cuidado seguro e efetivo a partir de alguns processos que estão
inter-relacionados e conectados, como:

23
UNICESUMAR

• Triagem do risco nutricional.


• Avaliação das necessidades nutricionais.
• Diagnóstico nutricional.
• Intervenção nutricional.
• Monitoramento e avaliação dos resultados.

Como nutricionista, você deve trabalhar detalhadamente com os passos da triagem do diagnóstico
nutricional, os quais determinam o monitoramento e a avaliação de resultados do paciente. Também
precisa fazer uma adequada intervenção nutricional, o que exige um contexto amplo de discussões
sobre o caso, e identificar os riscos nutricionais apresentados pelo paciente, a fim de fornecer uma in-
tervenção custo-efetiva e que auxilie a conter custos no sistema de saúde no cuidado nutricional. São
diversas as situações que, mesmo com o diagnóstico nutricional não definido claramente, é possível
utilizar métodos de avaliação que predizem a intervenção que será necessária.
Com base na predição, você deverá observar os fatores que classificam, ou não, o seu paciente em
risco nutricional, de acordo com Martins (2009):

• Perda ou ganho de peso não-intencional ≥ 10% do usual dentro de seis meses.


• Perda de peso não intencional ≥ 5% do usual em um mês.
• Peso atual 20% acima ou abaixo do ideal.
• Presença de doença crônica.
• Requerimentos metabólicos aumentados.
• Ingestão alimentar insuficiente por mais de sete dias, incluindo alteração da capacidade de
ingerir ou de absorver os alimentos de maneira adequada.

Assim, existem métodos a serem utilizados na avaliação do estado nutricional. Eles têm relação com
a identificação das manifestações orgânicas dos problemas nutricionais ao nível do corpo. Além dis-
so, podem ser diretos ou indiretos e são classificados de acordo com o tipo de abordagem. Ao fazer
uso dos métodos diretos, você trabalhará com uma abordagem objetiva (abordagem quantitativa)
e subjetiva (abordagem qualitativa). A abordagem objetiva compreende os exames antropométri-
cos (peso, altura, dobra cutânea etc.), os exames laboratoriais (glicemia, hemograma etc.), o exame
clínico nutricional (sinais e sintomas clínicos nutricionais), a densitometria e a bioimpedância, por
exemplo. Por outro lado, a abordagem subjetiva é pautada na semiologia nutricional, na avaliação
subjetiva global e na avaliação muscular subjetiva.
Ao fazer uso dos métodos indiretos, por sua vez, você buscará identificar os fatores associados
ao processo de determinação do estado nutricional, ou seja, aqueles que explicam a ocorrência do
problema nutricional, além de identificar indivíduos ou grupos em risco nutricional. Integrando es-
ses fatores, encontram-se os fatores demográficos (sexo, idade, faixa etária, morbidade, mortalidade
etc.), socioeconômicos (salário, ocupação, escolaridade, acesso ao serviço de saúde etc.), culturais
(tabus alimentares, características locais específicas), estilo de vida (atividade física, hábito de fumar

24
UNIDADE 1

e consumir bebidas alcoólicas etc.) e de inquéritos do consumo alimentar (recordatório alimentar de


24 horas, frequência alimentar, pesada direta etc.).
Com o objetivo de melhorar a acurácia e a precisão do seu diagnóstico, a associação de todos os
métodos é imprescindível. Mesmo que com apoio de ambos, podem ser construídos os indicadores
do estado nutricional. Também é possível direcionar e ampliar as informações a serem obtidas, rela-
cionando a queixa do paciente e os fatores ambientais à influência no acesso ao alimento, à genética
(hereditariedade, predisposição ao desenvolvimento de doenças etc.) e aos fatores psicológicos (ano-
rexia, bulimia, ansiedade etc.).

Para compreender a diversidade dos métodos envoltos no cuidado nutri-


cional, sugiro a leitura do Manual de Sistematização do Cuidado de Nutri-
ção, que foi elaborado pela Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN).
A partir dessa leitura, você entenderá como é realizada a sistematização
do trabalho do nutricionista visando ao paciente que mais necessita de
atenção dietética. Boa leitura!

É de extrema importância que, durante seu atendimento nutricional, você esteja atento a todas as
condições citadas, visando potencializar a eficácia da sua intervenção nutricional. Aliás, consideran-
do a variabilidade dos métodos para avaliação do estado nutricional, é necessário saber escolhê-los.
Contudo, como fazer a escolha correta? Para a escolha adequada perante a determinada situação, é
importante se apropriar de alguns conhecimentos, como distinguir a avaliação que você utilizará
para coletividade e para avaliação nutricional individual, visto que, apesar de terem o mesmo objetivo
(correção ou manutenção do estado nutricional), há métodos que podem ser desenvolvidos em uma
avaliação individual, mas que não se aplicam em populações e coletividades.
Além disso, a epidemiologia do problema que você investigará, as manifestações dos problemas
nutricionais e a validade dos métodos em termos de sensibilidade e especificidade para o diagnóstico
do problema nutricional se dão de maneiras distintas. Portanto, a escolha do método a ser utilizado
por você dependerá, inicialmente, do objetivo da avaliação e dos problemas a serem investigados.
Em outra situação, você, como nutricionista, visando à avaliação nutricional de populações e cole-
tividades, precisará ter um olhar mais abrangente, trabalhando com maior ênfase na dimensão social.
Isso possibilita o diagnóstico e a explicação dos fatores de determinação para um dado grupo ou popu-
lação. A condução das ações de promoção e prevenção são para coletividade, e não para o indivíduo.
Diante de tudo o que foi discutido até o momento, ao correlacionar a desnutrição calórico-proteica ao
uso da avaliação nutricional para o desenvolvimento de pesquisas no âmbito nutricional, apresento

25
UNICESUMAR

outro exemplo de aplicabilidade do uso das ferramentas e a


importância delas.
Em um estudo realizado pela Rede Brasileira de Pesqui-
sa em Soberania e Segurança Alimentar (PENSSAN) em
2020, foi feito um inquérito populacional com o intuito de
analisar a insegurança alimentar no Brasil defronte à pan-
demia deflagrada pela covid-19. Para a realização do estudo,
houve a aplicação de inquéritos rápidos com abrangência
nacional por intermédio da Escala Brasileira de Insegurança
Alimentar (EBIA). Desde 2004, ela foi adotada pelo governo
brasileiro nos inquéritos nacionais para medir a ingestão
alimentar na população.
O uso da EBIA possibilita a comparação da insegurança
alimentar aferida pela pesquisa de 2020 com os dados dos
inquéritos nacionais conduzidos pelo IBGE entre 2004 e 2018.
Os resultados do inquérito mostram que, do total de 211,7
milhões de brasileiros(as), 116,8 milhões conviviam com
algum grau de insegurança alimentar. Desses, 43,4 milhões
não tinham alimentos em quantidade suficiente e 19 milhões
enfrentam a fome. Percebeu como é de suma importância o
tema que estamos estudando?
Hoje, o profissional nutricionista precisa estar bem prepa-
rado, atualizado e ter segurança tanto na utilização quanto na
interpretação dos inúmeros métodos de avaliação nutricional,
já que estará diante de uma sociedade detentora de um amplo
conhecimento referente à alimentação e ciente dos inúme-
ros malefícios e benefícios acarretados por certos alimentos.
Somam-se, ainda, a realidade de transição nutricional e as
mudanças nos padrões alimentares.
Para simplificar todo o processo de cuidado nutricional,
observe a Figura 4, que ilustra toda a inter-relação dos ele-
mentos. Há a triagem nutricional, que é definida como um
método de identificação das características conhecidas por
desenvolverem os problemas nutricionais. O foco é identificar
os indivíduos que estão em risco ou desnutridos. A partir da
identificação de uma pessoa ou população em risco nutri-
cional, você deverá realizar uma avaliação mais profunda e
completa, visto que, inicialmente, esse processo pode ser exe-
cutado por qualquer membro de uma equipe de saúde, como
técnicos em nutrição, nutricionistas, enfermeiros ou médicos.

26
UNIDADE 1

História Exame
alimentar físico Figura 4 - Componentes da avaliação do estado nutri-
cional / Fonte: adaptada de Martins (2009).

Descrição da Imagem: trata-se de uma figura repre-


Medidas Exames sentada por um círculo dividido em quatro partes. A
primeira, presente no canto esquerdo, refere-se à his-
corporais laboratoriais tória alimentar; a segunda, presente no canto direito,
diz respeito ao exame físico; a terceira, presente no
canto esquerdo, mas na parte inferior, refere-se às
medidas corporais; a quarta, presente do lado direito
e na parte inferior, abarca os exames laboratoriais.

Por fim, será necessário realizar o diagnóstico nutricional. Ele é o responsável por dar uma resposta
à avaliação realizada. No final do processo de avaliação, os dados que você reuniu serão analisados e
sintetizados, configurando uma identidade (rotulagem) que pode descrever um problema relacionado
à nutrição. O diagnóstico nutricional visa descrever alterações nutricionais do indivíduo ou de um
dado grupo. Assim, é classificado um problema e/ou situação na qual o paciente se encontra. É possível
relacionar a problemática a outras condições, pois é importante não somente dar o diagnóstico, mas
também identificar a causa do problema. Além disso, importante atenção deve ser dada aos diferentes
tipos de diagnóstico, assim como podemos observar na Figura 5.

Sem risco?
Manutenção do
Triagem nutricional acompanhamento do
paciente

Com risco?

Avaliação do estado Avaliação das Desenvolvimento do


nutricional e diagnóstico necessidades plano de cuidado
nutricional nutricionais nutricional

Figura 5 - Processo do cuidado nutricional / Fonte: adaptada de Martins (2009).

Descrição da Imagem: trata-se de uma figura composta por cinco caixas de texto no formato retangular. A caixa central se refere à
triagem nutricional, que se liga a outra caixa de texto, à direita, por meio de uma linha reta. Sobre essa linha, há uma seta com sinal
à direita e com a pergunta: “Sem risco?”. Logo, a caixa de texto se refere à manutenção do acompanhamento do paciente. Saindo da
caixa central, há outra linha reta que segue para a região inferior. Ao lado, há uma seta que também segue para a região inferior com a
pergunta: “Com risco?”. Essa linha faz conexão com a caixa de texto que trata da avaliação do estado nutricional e diagnóstico nutricional,
que também se conecta a outra caixa de texto à direita por meio de uma linha reta, fazendo menção à avaliação das necessidades nu-
tricionais. Por fim, essa caixa se conecta à outra caixa de texto à direita, que abarca o desenvolvimento do plano de cuidado nutricional.

27
UNICESUMAR

É imensamente importante diferenciar o seu diagnóstico de diagnóstico dos demais profissionais,


ou seja, o diagnóstico nutricional é diferente do diagnóstico médico. O médico objetiva identificar
uma enfermidade de órgãos específicos ou de sistemas corporais, podendo ser uma condição tratada
ou prevenida. Em contrapartida, o diagnóstico nutricional se modifica de acordo com a resposta do
paciente ou do grupo populacional. Por exemplo: um paciente pode ter um diagnóstico médico de
diabetes mellitus tipo 2 e o diagnóstico nutricional ser de obesidade e/ou ingestão excessiva de car-
boidratos. Compreendeu a diferença?
Mencionamos que, nos métodos de avaliação nutricional, é de extrema importância a semiologia
nutricional. A semiologia é uma ciência que estuda a organização dos sistemas significantes. Logo, o
campo da nutrição compreende o estudo dos sinais e dos sintomas do indivíduo a partir da inspeção,
da palpação e da ausculta. Os sintomas do paciente são sensações subjetivas, isto é, sentidas por ele, e
não visualizadas por você. Para uma adequada avaliação dessas alterações e das manifestações semio-
lógicas dos problemas nutricionais, você dispõe da anamnese nutricional, que permite identificar os
sintomas clínicos nutricionais. Você também contará com o exame físico, o qual avalia as alterações
orgânicas expressas nos tecidos externos do paciente ou a evolução das patologias já existentes no
organismo (SAMPAIO et al., 2012).
A ciência da semiologia nutricional busca determinar as condições nutricionais do paciente e iden-
tificar os sinais e os sintomas da carência ou do excesso de nutrientes para relacioná-los aos hábitos
alimentares. A semiologia é um indicador subjetivo a ser utilizado, pois a avaliação não resulta em um
valor específico, e sim nas impressões individuais do avaliador e do avaliado. Você deve realizar essa
avaliação minuciosamente, priorizando, no momento do exame, os sinais referentes aos problemas
de maior prevalência nas diferentes faixas etárias e considerando as informações obtidas a partir da
avaliação da anamnese e do consumo alimentar. Entretanto, o uso da semiologia apresenta limitações,
como o fato de que as manifestações clínicas são determinadas apenas nos estados mais avançados de
excesso e/ou de carência nutricional, visto que, para uma adequada identificação, é necessário treina-
mento ou um longo tempo de técnica profissional para melhorar a habilidade de reconhecer os sinais
clínicos nutricionais (SAMPAIO et al., 2012).
A anamnese nutricional é muito utilizada na prática clínica e envolve a recordação dos eventos
relacionados à saúde. Também visa identificar determinados sintomas e sinais que o paciente apre-
senta, com o intuito de entender precisamente a história dos motivos que levam o paciente à consulta.
Cada profissional pode fazer o uso de uma em específico ou da vasta gama de modelos existentes. A
anamnese tem grande relevância para reconhecer e entender todas as dimensões que estão envoltas
no diagnóstico nutricional, sendo eles: o paciente, a doença e as circunstâncias associadas.
Uma boa anamnese é indispensável para o alcance de uma boa relação entre o paciente e o profis-
sional. Lembre-se de que ela não se trata de um roteiro de pesquisa, mas de questionamentos devida-
mente selecionados, a fim de que verificar a importância do relato do paciente. Isso proporciona um
importante relacionamento, já que, por meio da anamnese, é possível determinar o grau de confiança
que o paciente depositará, a qualidade das informações que serão transmitidas e a colaboração que o
paciente oferecerá em relação à adesão da conduta terapêutica.

28
UNIDADE 1

Convido você a ouvir o podcast desta unidade. Nele, você conhece-


rá os principais modelos de anamnese nutricional e a importância de
cada questionamento. Durante a sua avaliação nutricional, o sucesso
da conduta será, em maior parte, dependente das diversas mudanças
nos hábitos alimentares. Isso representa um desafio e é imprescindível
estabelecer uma relação harmônica entre o paciente e o nutricionista.

Outro aspecto de extrema importância durante a avaliação nutricional é a investigação clínica do


paciente, que deve identificar a situação nutricional dele e os fatores de determinação associados. Em
outras palavras, o paciente precisa ser interrogado sobre os fatores que podem interferir no estado
nutricional direta ou indiretamente, incluindo a perda ou o ganho de peso recente, os sinais de doenças
gastrointestinais (náuseas, vômitos e diarreia), o uso de medicamentos que interferem na absorção e
na utilização dos nutrientes, principalmente se o paciente tem alguma carência específica, a presença
de fatores limitantes na ingestão alimentar adequada, como anorexia, lesões bucais e dificuldades de
mastigação, a presença de doenças crônicas ou intervenções cirúrgicas, o etilismo e o tabagismo. Tam-
bém são incluídos os fatores psíquicos que podem interferir na ingestão alimentar. Essa investigação
é a base para conhecer a história alimentar do paciente.
Embora a história alimentar seja de extrema importância, ela não deve ser usada isoladamente,
visto que a capacidade desse método depende de diversas variáveis, como condição clínica e tipo de
informante (em geral, o paciente ou o acompanhante) e de entrevistador (no caso, você, nutricionis-
ta), pois todas as informações devem ser apresentadas de maneira positiva para não comprometer
a eficácia da anamnese. Em sua grande maioria, as dificuldades existentes estão na deficiência de
comunicação entre você e o paciente. A seguir, são listadas diversas situações que poderão influenciar
a comunicação decorrentes do paciente:

• Deficiência na fala ou na audição.


• Diferenças de linguagem, sotaque ou idioma.
• Depressão do estado de consciência.
• Distúrbios mentais.
• Crianças com falta de objetividade-incoerência.
• Deficiência de memória e de observação.
• Concepções errôneas sobre a doença.
• Falta de confiança na nutrição e/ou no profissional.
• Inibição e/ou distração causadas pela presença de outras pessoas.

Para completar as histórias clínica, alimentar e nutricional, a realização do exame físico, tanto geral
quanto específico, proporciona elementos capazes de apoiar hipóteses relativas ao diagnóstico nutri-

29
UNICESUMAR

cional. O exame geral pode avaliar determinados dados do paciente, incluindo os antropométricos
e os sinais clínicos. O exame físico engloba diversas observações de tecidos, os quais podem refletir
problemas nutricionais e sinais corporais (cardiovascular, respiratório, neurológico e gastrointesti-
nal) dos tecidos adiposo e muscular e da condição hídrica do paciente, buscando sempre investigar a
presença de alterações específicas.
Você conhece alguém que relatou queda de cabelo ou unhas fracas e teve uma associação com o
déficit de consumo de proteínas, por exemplo? Esse é um dos diversos exames físicos que você, como
profissional nutricionista, pode avaliar no exame físico. Para tanto, é necessário registrar a impressão
sobre o estado geral do paciente por meio de uma observação e levando em consideração o que lhe é
relatado. Devem ser investigados o ânimo, a depressão, a fraqueza, o tipo físico, o estado de consciência,
o discurso e os movimentos corporais.
O exame físico deve ser realizado de forma sistemática e progressiva, ou seja, a partir da cabeça até
a região dos pés. Dessa forma, inicia-se pelo cabelo, seguido dos olhos, nariz, face, boca (lábios, dentes
e língua), pescoço (tireoide), tórax (abdome), membros superiores (unhas, região palmar) e inferiores
(quadríceps, joelho, tornozelo, região plantar), pele e sistemas (cardiovascular, neurológico, respiratório
e gastrointestinal), assim como podemos observar no Quadro 1.

Região/ situação Característica(s) a ser(em) Características em condições


examinada avaliada(s) normais

Brilhantes, firmes e difíceis de


Coloração, brilho, quantida- arrancar, aparência normal e
Cabelo de, espessura, hidratação, espessa, crescimento normal,
ocorrência de alopecia. macios ao tato e coloração ade-
quada.

Estado geral, condição física.


Presença de edema ou de-
pleção (sinal de chave – ex-
posição do arco zigomático).
Apresentação de: palidez,
atrofia unilateral ou bitem- Bom estado geral, sem sinais de
Face
poral. Fácies agudo: exausto, depleção ou edema.
cansado, não consegue man-
ter os olhos abertos por mui-
to tempo; Fácies crônicas:
aparência deprimida, triste,
pouco diálogo.

30
UNIDADE 1

Região/ situação Característica(s) a ser(em) Características em condições


examinada avaliada(s) normais

Aspecto, cor das mucosas


e membranas, sinais de ex-
cesso de nutrientes – xante-
lasma, arco córneo lipídico, Brilhantes, membranas róseas
Olhos sinais de deficiência de nu- e úmidas, sem manchas e boa
trientes: desnutrição – olhos adaptação visual no escuro.
escavados, escuros e flacidez
ao redor, hipovitaminoses –
xeroftalmia, nictalopia, etc.

Coloração da mucosa, pre-


Lábios macios e sem
Lábios sença de lesões decorrentes
inflamações.
de hipovitaminoses.

Língua vermelha, sem edema,


Coloração, integridade papi-
Língua com superfície normal e paladar
lar, edema, espessamento.
preservado.

Edema, porosidade e Ausência de sangramentos e


Gengivas
sangramento. edema.

Presença de cáries, ausência


Arcada dentária íntegra, sem
de peças dentárias, uso de
ausência de peças dentárias ou
prótese (bem adaptada ou
Peças dentárias uso de prótese bem adaptada –
não), alterações em função
não ocasiona comprometimento
de excesso ou escassez de
da mastigação.
nutrientes.

Cor, pigmentação, integrida-


de, turgor, presença de ede- Cor uniforme, lisa, aparência
ma, brilho e temperatura, saudável, turgor preservados
Pele
manifestações decorrentes ou compatíveis com a idade (no
de deficiência ou excesso de caso de idosos).
nutrientes.

Forma, ângulo, coloração,


Uniformes, arredondadas, lisas
Unhas contorno, rigidez e presença
e firmes.
de micoses.

31
UNICESUMAR

Região/ situação Característica(s) a ser(em) Características em condições


examinada avaliada(s) normais

Quanto à rigidez: flácido ou


tenso; quanto ao volume:
distendido, plano, globoso
Ausência das alterações
Abdome ou escavado; quanto à pre-
referidas.
sença de gases: poucos ga-
zes (normal), maciez (quando
há tumor) ou timpânico.

Excesso de tecido adiposo,


ou déficit de tecido subcutâ-
neo – flacidez; presença de
Ausência das alterações
Tecido subcutâneo edema (O edema de causa
referidas.
nutricional deve ser: frio,
mole, indolor, geralmente
não forma cacifo e é bilateral).

Tecido muscular Ausência das alterações


Retração ou atrofia.
esquelético referidas.

Perdas do controle na con- Ausência das alterações


Sistema nervoso
tração ou parestesias, referidas.

Ausência das alterações


Condição hídrica Desidratação e edema.
referidas.

Quadro 1 - Regiões do corpo a serem examinadas e características específicas a serem avaliadas


Fonte: adaptado de Sampaio et al. (2012).

A seguir, você pode conferir as técnicas que podem ser utilizadas para a realização do exame físico em
sua prática clínica, segundo Sampaio et al. (2012):

• Palpação: é composta por uma avaliação tátil, visando sentir pulsações e vibrações. Com o
uso dessa técnica, você, nutricionista, pode avaliar as estruturas corporais, incluindo textura,
tamanho, temperatura, consistência e mobilidade. Também pode analisar o turgor, a elasticidade
da pele, a integridade da derme, o tamanho de órgãos, edema periférico, massas abdominais,
ascite, perda de peso etc.

• Inspeção: você usa a visão, o olfato e a audição na avaliação do paciente. Pode verificar a presença
de obesidade, caquexia, condição hídrica, integridade da pele, cicatrização de ferida, icterícia,
ascite, capacidade funcional, estado mental etc.

32
UNIDADE 1

• Percussão: consiste na avaliação de determinados “sons” para determinar o contorno, o formato


e a posição deles. Permite avaliar se o órgão está sólido ou se há a presença de líquido ou gases.
Essa técnica não é sempre necessária no exame clínico nutricional.

• Ausculta: são avaliados os sons corpóreos que podem ser ouvidos com ou sem estetoscópio,
como sons do coração, dos pulmões (presença de líquidos), intestinais (ruídos hidroaéreos) e
dos vasos sanguíneos.

Muitas vezes, o exame físico não tem ampla aplicabilidade, embora seja específico em determinadas
situações, como raquitismo (vitamina D), bócio endêmico (iodo), mancha de Bitot (vitamina A) e exces-
so de tecido adiposo (obesidade). No Quadro 2, é possível observar outras alterações mais específicas.

Região anatômica Achado clínico Doença/ Nutriente

Perda de brilho natural/ seco Kwashiorkor/ baixa proteína


Fino, esparso/despigmentado,
Cabelo Menos comum no marasmo
quebradiço
Fácil de arrancar sem dor Kwashiorkor
Palidez conjuntival Anemia/ baixo ferro
Arco córneo Riboflavina
Mancha de Bitot/ (xeroftalmia) Vitamina A
Xerose conjuntival Vitamina A
Olhos Xerose da córnea Vitamina A
Dificuldade a adaptação ao escuro Vitamina A e Zinco
Queratomalacia Vitamina A e Zinco
Baixa riboflavina/baixa
Vermelhidão e fissura nos epicantos
piridoxina
Dermatite seborreica nasolabial Riboflavina
Face Face edemaciada Kwashiorkor/baixa proteína
Face senil Marasmo
Estomatite angular Baixa riboflavina
Lábios Escaras de ângulo Baixa riboflavina
Queilose Baixa riboflavina

33
UNICESUMAR

Região anatômica Achado clínico Doença/ Nutriente

Língua magenta Baixa riboflavina


Língua escarlate/inflamada Baixo ácido nicotínico
Língua Edematosa Baixa niacina
Baixo ácido fólico/baixa
Papila filiforme, hipertrofia
vitamina C
Esmalte manchado Baixo ferro, baixa vitamina B12
Dentes Cáries Alto açúcar
Falta de dentes Alto açúcar
Esponjosas/sangramento Baixa vitamina C
Gengivas
Gengivas vazantes/edema Baixa vitamina C
Aumento da tireoide/bócio Baixo iodo
Pescoço
Aumento da paratireoide Inanição
Xerose Baixa vitamina A e zinco
Hiperqueratose folicular Baixa vitamina A
Dificuldades de cicatrização Baixo zinco
Baixo ácido ascórbico e
Petéquias
vitamina K
Dermatose pelagrosa Baixo ácido nicotínico
Pele
Equimoses/sangramento Baixa vitamina K
Baixo zinco, ácidos graxos
Dermatite generalizada
essenciais, ácido pantotênico
Xantomas Hiperlipidemias
Palidez acentuada Anemia ferropriva
Descamação fina da pele Biotina
Ascite, visceromegalia Baixa proteína
Abdome Alta quantidade de gorduras/
Alto tecido adiposo
hiperglicemia
Unhas Quebradiças, rugosas Baixo ferro
Diminuído Baixo tecido adiposo/ muscular
Aumentado Alto tecido adiposo/muscular
Tecido subcutâneo
Baixa proteína/Kwashiorkor/
Edema
beribéri

34
UNIDADE 1

Região anatômica Achado clínico Doença/ Nutriente

Rosário torácico Baixa vitamina D e cálcio


Hipercalcemia Alta quantidade de cálcio
Osteoporose Baixa quantidade de cálcio

Sistema músculo Osteomalácia, tetania Baixa vitamina D


esquelético Fraturas constantes (adulto) Osteomalácia
Retardo no crescimento Baixa proteína e zinco
Fratura em idosos Baixa vitamina D
Arqueamento das pernas Baixa vitamina D
Alterações psicomotoras (apatia) Kwashiorkor
Baixa niacina, tiamina,
Confusão mental/ depressão
piridoxina e vitamina B12
Sistema nervoso
Fraqueza motora, perda de
Baixa vitamina B12 e tiamina
sensibilidade
Formigamento de pés e mãos Baixa vitamina B1
Hepatomegalia Baixa proteína
Constipação intestinal Baixa vitamina B1
Sistema
gastrointestinal Baixa vitamina C (interfere na
Cálculo de oxalato de cálcio
absorção de vitamina B12)
Diarreia Baixo zinco
Aumento do coração (cardiomegalia, Baixa vitamina B1, beribéri
insuficiência cardíaca cardíaco
Sistema
cardiovascular Taquicardia, hipertensão arterial) Alto consumo de sódio
Sopro Baixo ferro

Quadro 2 - Sinais físicos indicativos ou sugestivos de problemas nutricionais / Fonte: adaptado de Sampaio et al. (2012).

A seguir, conheça as principais considerações acerca do exame físico:

• A postura e a forma de vestir não devem ser agressivas. Em relação à vestimenta, você deve se
apresentar com roupa composta. É preciso evitar decotes, roupa colantes, transparentes e com
o comprimento inadequado. Dar preferência ao uso de jalecos. Os sapatos devem ser, sempre
que possível, fechados. A vestimenta adequada evita a exposição ao risco de contaminação do
doente e de você. As unhas devem estar sempre cortadas e limpas (lavar sempre as mãos antes
e depois do exame). Evite que os cabelos, se longos, caiam sobre o rosto.

35
UNICESUMAR

• Expresse sempre interesse e respeito pelo problema do paciente, por uma questão humanista e
pela contribuição que pode dar ao estabelecimento do diagnóstico.

• Nunca manifeste tristeza ou formule julgamentos a respeito do relato da história do seu paciente.
Lembre-se: você não é juiz. Além disso, esse comportamento induz a omissão ou a exacerbação
das respostas.

• Tente se assemelhar ao seu paciente. Essa atitude contribui para um maior entendimento do
processo vivenciado pelo paciente e aguça o sentimento de humanização.

• O diálogo deve ser claro, inteligível e audível para o paciente. Evite o diálogo em voz alta, prin-
cipalmente na presença de acompanhantes.

• Focalize o interesse na queixa do seu paciente, ou seja, no motivo que o fez procurar a sua
consulta nutricional.

• Você deve sempre olhar para o paciente de forma franca e cordial durante o relato. Esse mo-
mento também pode ser aproveitado para a realização de uma inspeção clínica sobre o estado
geral do paciente, principalmente sobre o estado psíquico, a higiene e a locomoção-primeira,
talvez, sendo considerada a etapa do exame físico.

• Atenda ao paciente como gostaria que você ou qualquer pessoa que você ame fosse atendida.
Evite o excesso de gentilezas, que pode ser entendido como insegurança.

• Cuidado com o exame físico do seu paciente, pois é preciso evitar o constrangimento. Possibilite,
sempre que possível, a vestimenta apropriada, expondo apenas as partes do corpo que devem
ser examinadas. Caso necessário, você deve se retirar do ambiente para que o paciente possa
se preparar. O toque deve ser realizado apenas nos locais necessários ao exame, não devendo
iniciá-los em locais ou com perguntas que possam constrangê-lo.

• No caso do indivíduo hospitalizado, deve-se respeitar o horário das necessidades vitais e das
ações da enfermagem, como higiene e medicação.

• O ambiente deve ser o mais silencioso possível. Alguns autores sugerem posicionar a cadeira
ao lado, e não na frente do paciente.

Agora, conheceremos os métodos que você poderá utilizar para realizar a avaliação nutricional no seu
atendimento. São diversos e criteriosos os métodos usados na avaliação nutricional. Essa área evoluiu
de avaliações de modificações de peso e da ingesta alimentar para investigações mais profundas e in-
terligadas a outras, como testes laboratoriais sofisticados e análises complexas da composição corporal

36
UNIDADE 1

do paciente. De modo geral, um único método de avaliação não reflete de maneira precisa o estado
nutricional de um paciente. Assim, são necessários vários métodos subjetivos e objetivos, incluindo
história alimentar do paciente, exame físico e medidas corporais e laboratoriais.
Um dos métodos de avaliação do estado nutricional é baseado na entrevista, também conhecida
como anamnese. Nela, é possível obter informações sobre as condições atuais e passadas. Ela é usada
para detectar sintomas de alteração no estado nutricional e no aspecto global envolto no problema.
Com o uso da história alimentar, é possível ter um levantamento de dados sobre a quantidade e a quali-
dade dos nutrientes ingeridos pelo paciente ou pelo grupo populacional. Além disso, as coletas podem
abranger um período de tempo, tais como dias, semanas, meses e horários específicos. Assim, os dados
coletados da ingestão de alimentos e de nutrientes devem ser comparados ao que seria recomendado
ao indivíduo ou à população, considerando alguns fatores, como idade, o sexo e condição fisiológica.
Um método muito famoso, o uso das medidas corporais, é indispensável em sua prática profissional,
visto que, com ele, é possível observar as medidas da composição corporal do paciente, incluindo a
antropometria e a avaliação da composição corporal. Exemplos de antropometria são: peso, estatura
e as relações dela, dobras cutâneas e circunferência cefálica. As medidas da composição corporal
abrangem dados da antropometria, da bioimpedância e da densitometria. Os resultados encontrados
são comparados aos valores de referência, dado que as referências são diversas e cabe ao profissional
optar pela que melhor se encaixa ao perfil do paciente.
Os exames laboratoriais são aliados à avaliação do estado nutricional e, nos últimos tempos, têm
ganhado muita visibilidade no ramo nutricional. Com eles, é possível identificar a medida de um nu-
triente ou do metabólito dele no sangue, nas fezes ou na urina. Estão incluídas as medidas de outros
componentes envoltos ao estado nutricional no sangue e demais tecidos. Desse modo, auxiliam no
tratamento que o paciente já está fazendo e permitem observar os detalhes que apenas o exame físico,
por exemplo, não consegue mensurar. Por exemplo, os níveis de albumina ou de proteína no sangue
são considerados indicadores do estado proteico corporal; os níveis de hemoglobina no sangue po-
dem refletir uma condição de anemia; os níveis de colesterol podem refletir o risco para uma doença
cardiovascular (quando são influenciados pela alimentação); entre outros.
Ainda em relação aos métodos de avaliação do estado nutricional, encontram-se os métodos clínico
e epidemiológico. O método clínico é um procedimento de diagnóstico nutricional. Com ele, você
pode identificar os processos biológicos referentes ao paciente no ambiente ambulatorial e hospitalar.
Lembre-se de que, em sua prática profissional, você poderá trabalhar em diversos ambientes. Em suma,
esse método identifica as manifestações ocasionadas pelo problema nutricional. Entretanto, algumas
vezes, a causa não pode ser identificada.
Por outro lado, o método epidemiológico se assemelha ao método clínico, porém é direcionado à
investigação nutricional de populações ou de coletividades. Esse método tem foco na avaliação dos
processos sociais e biológicos coletivos, como as condições econômica e sanitária, a moradia, a família,
os vizinhos e a área geográfica, sendo de suma importância reconhecê-los e mensurar a correlação deles
com a alimentação. A partir da utilização desse método, há a possibilidade de identificar as causas dos
problemas nutricionais, facilitando a intervenção.

37
UNICESUMAR

A partir das considerações acerca da avaliação nu-


tricional, faremos um link com a importância da atua-
ção do nutricionista no campo da saúde. Espera-se
que você, futuro(a) profissional, tenha profissionalis-
mo e uma conduta pautada na bioética profissional.
A profissão nutricionista assumiu uma posição de
imenso destaque na área da saúde nos últimos anos
e estabeleceu uma conexão entre o campo da alimen-
tação e da nutrição e as demais ciências.
Você poderá realizar o diagnóstico nutricional
por meio da avaliação nutricional e do tratamento
de doenças em todas as faixas etárias, civilizações e
culturas em âmbito hospitalar e/ou clínico. Além de
refletir o padrão que orienta a prática social das di-
ferentes culturas, o ato de se alimentar ou a impossi-
bilidade de consumar o ato da alimentação delimita
a dinâmica de distribuição dos recursos destinados à
alimentação e revela as desigualdades entre quem se
apropria desses recursos e quem deles é retirado, como
é o caso da porcentagem imensa de pessoas que estão
em insegurança alimentar.
As necessidades alimentares, mais que o respirar
ou o beber, determinam os limites que separam o que
é considerado algo de sobrevivência daquilo que é
percebido como vida. A quantidade e a qualidade dos
alimentos ingeridos constituem os limites que sus-
tentam essa separação de percepção, fato que merece
muita atenção tanto por parte das políticas públicas
voltadas a esse tema quanto por você, nutricionista.
Isso nos leva a refletir sobre os desafios que você
enfrentará no cotidiano de sua prática. Por isso, a
formação requer o desenvolvimento de competên-
cias técnicas, éticas e humanísticas a serem expressas
na capacidade de agir com reflexão crítica e de res-
peitar os valores, as culturas e a individualidade de
cada paciente, e não apenas saber realizar cálculos
e inferir diagnósticos. Hoje, a ética profissional me-
rece muita atenção e trilha os caminhos da bioética,
já que, como disciplina, envolve os conhecimentos

38
UNIDADE 1

biológico e técnico associados aos conhecimentos


dos sistemas de valores humanos.
Assim, é necessário que a prática do exercício pro-
fissional seja conduzida em conexão com os valores
humanos vigentes. É necessário conhecer o Código de
Ética do Nutricionista, que não se trata de apenas um
livro que ficará em sua gaveta, nem de um padrão de
referência que obrigatoriamente deva ser seguido, mas
um documento que fornecerá um caminho para a sua
reflexão profissional. Cada situação que você vivenciará
durante os seus atendimentos terá características pró-
prias e envolvidas em um contexto social.
Pautando-se na individualidade, as relações pessoais
se estabelecem. Isso gera a necessidade de admitir o pa-
ciente como um sujeito único, respeitando a autonomia
e aceitando, sem discriminação, a diversidade dele. Con-
viver com a diversidade consiste em reconhecer que o
contrário de igualdade é desigualdade, e não a diferença,
o que deve ser o norte para respeitar cada paciente.
Os valores citados constituem os pilares da bioética
e proporcionam o prevalecimento do bem (princí-
pio da beneficência), e não o mal (princípio da não
maleficência). Você, como profissional, deve admitir
a liberdade na diversidade e na diferença (princípio
da autonomia), e respeitar parâmetros de igualdade e
equidade (princípio da justiça social) durante os seus
atendimentos. Esses princípios são de extrema impor-
tância na atualidade, pois a relação do profissional da
saúde é uma relação privada, mas que está intimamen-
te vinculada ao público, porque exige o exercício da li-
berdade e da tolerância às diversidades dos indivíduos
e, principalmente, a recusa da desigualdade.
Você, como profissional nutricionista, terá uma
responsabilidade e uma oportunidade para avaliar
os tópicos éticos do diagnóstico e do tratamento de
doenças, como a obesidade. O Código de Ética do Nu-
tricionista pode proporcionar diretrizes e reflexões
para te auxiliar em seu trabalho e nas condutas a serem
adotadas, sendo útil à avaliação crítica dos tratamentos
atuais de várias comorbidades.

39
UNICESUMAR

É crescente a preocupação com a bioética na obesidade em nível mundial. De acordo com Bricarello e
Castro (2011), 250 milhões de pessoas no mundo são consideradas obesas, o que caracteriza a obesidade
como epidemia. Portanto, a obesidade deve ser pauta de muitos debates tanto no meio estético quando
da saúde. Em sua relação entre paciente e nutricionista, é fundamental refletir sobre os aspectos ligados
aos campos das comunicações verbal e não verbal e ao da bioética, com destaque para a humanização
tanto no processo diagnóstico quanto no tratamento, como um meio de garantir a adesão do paciente ao
tratamento. Logo, a humanização se torna um tema de extrema importância, pois engloba um conjunto
de valores, técnicas, comportamentos e ações, com foco em construir um princípio para que seja possível
promover a qualidade das relações entre os profissionais da saúde e os pacientes.
Esse tema está muito envolvido na avaliação nutricional, pois exige a observância de alguns crité-
rios que permitam o envolvimento do paciente ao programa de educação alimentar que será guiado
por você. Dentre eles, salienta-se o estabelecimento de um vínculo com o paciente, com o objetivo de
ajudá-lo no processo de conscientização das “forças internas”, da independência e da capacidade dele
em superar até mesmo crenças, mitos sobre a alimentação e a adotar um novo estilo de vida.
Os pilares da bioética pressupõem a prevalência do bem (beneficência), e não do mal (não malefi-
cência). Admite a liberdade na diversidade e na diferença (autonomia). Estimula o debate de questões
bioéticas. Respeita os parâmetros de igualdade, equidade e justiça. Desse modo, representam uma
importante ferramenta para o aprimoramento da qualidade da sua relação com o paciente.
O seu paciente precisa ter autonomia, ou seja, deve assumir uma condição ativa, tendo cons-
ciência dos próprios direitos e deveres, e participando de questões decisórias íntimas e coletivas. A
autonomia é um princípio que se opõe ao abuso do poder, o que impõe um desafio para a ética, pois
o livre-arbítrio só é estabelecido quando o poder não é usado como instrumento de controle e subor-
dinação, mas de cuidado e proteção.
Contudo, caro(a) aluno(a), não pense que, dessa maneira, você abdicará os seus deveres como pro-
fissional, mas estará informando ao seu paciente os procedimentos e as intervenções a serem realizados.
Também conversará sobre os temores, respeitando a cultura dele. Isso possibilita recusas, que devem
ser respeitadas. Assim, você precisa elaborar estratégias que possibilitem uma intervenção adequada,
associada aos anseios do seu paciente. Devemos admitir que, em nosso meio profissional, temos uma
vasta gama de estratégias, não é mesmo?
Em resumo, você deve garantir autonomia ao seu paciente. Não o deixe sozinho na tomada das
próprias decisões, pois isso é isenção de responsabilidade, configurando uma relação de abandono, e
não de liberdade, e não é o que queremos. Esse assunto ainda enfrenta muitos paradigmas da relação
profissional com a saúde do seu paciente, mas é sempre importante considerar o respeito à autonomia
e à privacidade. Além disso, os seus questionamentos durante a consulta nutricional devem ser feitos
da forma mais aberta e interativa possível (olhando para o indivíduo), para que o seu paciente se sinta
à vontade para falar da vida e das particularidades dele. É difícil se sentir confortável para falar sobre
algo que você busca mudar e muito te afeta, concorda?
Portanto, você pode fazer uso das técnicas de sua preferência para a realização de questionamentos
e inquéritos. Geralmente, as perguntas podem ser formuladas durante a conversa, a partir dos relatos
das condições de vida, das atividades de trabalho e/ou cotidianas e da alimentação habitual do paciente.

40
UNIDADE 1

A aplicabilidade do atendimento humanizado também deve respeitar os hábitos regionais, culturais


e religiosos dos pacientes.
Pensani (2016) defende que são diversas as filosofias de vida que nos deparamos em nossos atendi-
mentos. Cada paciente possui um estilo de alimentação peculiar, muitas vezes, pautado em recomen-
dações religiosas e que não influenciam apenas os tipos de alimentos que serão consumidos, como
também no modo de preparo. Pensando nisso, você, como profissional, deve estar atento(a) a todos
esses aspectos durante a sua prescrição dietética.
Ao usar a abordagem expressa em sua consulta, você poderá obter informações e nortear a sua
avaliação nutricional. A história psicossocial, os hábitos alimentares, a história clínica individual e
familiar e os dados clínicos, laborais e antropométricos devem ser identificados por meio de uma con-
sulta acolhedora e humanizada. Apesar de existir uma gama de recursos e informações acerca do tema,
como inquéritos presentes em softwares e em livros, estudos científicos e programas de saúde, você
poderá fazer uso do seu próprio inquérito, o gera uma consulta ainda mais individual e personalizada.
Nunca esqueça que o seu paciente está inserido em um contexto pessoal, familiar e social complexo.
A assistência nutricional deve realizar uma leitura das necessidades pessoais e sociais. Logo, você deve
sempre conduzir a consulta ao campo ético, preocupando-se com as consequências que a sua conduta
tem sobre o outro. Além disso, para a assistência humanizada, é preciso perceber o outro e, se possível,
seguir as seguintes ações:

• Você deve ter competência e conhecimento técnico em constante atualização, para que o seu
trabalho tenha alta dose de resolutividade.
• Você deve ter maturidade emocional e pessoal para lidar com serenidade e firmeza em casos de
vida ou morte, visto que esses temas acarretam fortes emoções e estão intimamente relacionados
aos hábitos alimentares.
• Você deve dispor de um forte código de ética pessoal, que oriente a sua maneira de agir, tendo
em mente sempre o respeito ao seu paciente.
• Você deve entender o todo que envolve a doença, os tratamentos e que ela possui e as implica-
ções socioeconômicas e efetivas.

A bioética profissional, no campo da nutrição, deve ser entendida como uma visão abrangente do
atendimento ao paciente. O intuito é colocar você, profissional, no lugar dos pacientes. A sua con-
sulta não toma o lugar de uma consulta psicológica, mas é preciso estabelecer uma interação muito
cuidadosa. Com base na anamnese que você fará, é possível construir, em conjunto ao paciente, um
plano de ação (independentemente se o plano alimentar será entregue, ou não, durante a consulta).
Nele, serão apontados os aspectos que podem ser valorizados e estimulados, por já fazerem parte do
cotidiano alimentar e de vida do paciente. Também podem ser abrangidos os aspectos que precisarão
ser transformados, escolhendo estratégias viáveis a serem incorporadas pelo paciente e a família dele
no dia a dia, de acordo com o diagnóstico clínico-nutricional.
Vale ressaltar que, durante o acompanhamento do seu paciente, também é necessário avaliar cons-
tantemente o processo e o progresso dele, identificando dificuldades e pensando em novas estratégias.

41
UNICESUMAR

O atendimento nutricional precisa ser fundamentado na promoção de uma alimentação saudável na


busca do prazer, do autoconhecimento, da autoestima e do lazer. Tendo em vista o reconhecimento dos
diferentes saberes e lugares ocupados por você, nutricionista, e pelo seu paciente, é importante propor
um plano alimentar flexível e compatível com as necessidades individuais de cada um.
Durante uma discussão voltada às metas, devem ser valorizados os pequenos progressos nas modifi-
cações alimentares, pensando em curto e médio prazo, no objetivo da consulta e nos riscos associados à
saúde, caso o seu paciente apresente comorbidades. As metas de emagrecimento que você estabelecerá
deverão ser acordadas, não cedendo à pressão por uma dieta rigorosa para a busca do emagrecimento
rápido, caso não seja o recomendado no momento.
O ideal é trabalhar com a reeducação alimentar, para que novos hábitos sejam incorporados ao
cotidiano do paciente e da família dele. É comum que o paciente traga dietas com efeitos mágicos,
orientadas por amigos ou expostas pela mídia. Logo, esteja aberto a ouvir e a apontar as desvantagens
dessas dietas e esteja atualizado em relação aos novos estudos realizados nessa área, a fim de ter res-
paldo científico e prático para diversificar os seus protocolos e orientações dentro de uma vasta gama
de condições clínicas. Acredito que o seu paciente te agradecerá pelo seu profissionalismo.
Chegamos ao fim desta unidade. Durante o seu trabalho junto ao paciente, sempre tente prevalecer
o bem-estar e a saúde dele. Respeite a autonomia dele, seja justo(a) e não discrimine ou estigmatize o
debate das questões bioéticas, buscando a obtenção de diferentes visões sociais de outras áreas do co-
nhecimento, a fim de fortalecer a sua atividade como nutricionista, a prática da interdisciplinaridade e
da humanização no atendimento e a consciência de que a ética e a cidadania são valores indissociáveis
em todas as relações profissionais.

42
UNIDADE 1

Nesta unidade, correlacionamos o estado nutricional à saúde de um indivíduo. Explicamos como


se deu o histórico da avaliação do estado nutricional de um indivíduo. Lembre-se de que as doenças
infecciosas causavam as maiores mortes no mundo, muitas vezes, relacionadas à deficiência de nutrien-
tes. Com o passar dos anos e o avanço da ciência, houve a melhoria das condições sanitárias (apesar
de ainda existirem populações sem água tratada e rede de esgoto) e o desenvolvimento de vacinas, o
que proporcionou imunização em massa.
Também observamos um maior cuidado com a saúde e a distribuição de alimentos (apesar de muitas
pessoas ainda passarem fome). Assim, as doenças infecciosas deixaram de ser as maiores causas de morte.
A partir desse conjunto de melhorias, as deficiências de nutrientes são menos comuns na atualidade,
apesar de serem muito presentes. Embora o desenvolvimento de doenças dependa de vários fatores, a
alimentação contribui de maneira substancial. Com a aplicação dos métodos de avaliação nutricional,
podemos identificar se o paciente está em risco nutricional, como desnutrição ou obesidade.
Considerando a presença contínua de doenças relacionadas à nutrição, é importante que nós,
profissionais, estejamos capacitados para avaliar as condições nutricionais dos nossos pacientes e
usar técnicas de avaliação do estado nutricional, que identificam os indivíduos que necessitam de
intervenção e evidenciam aquela que será a mais apropriada. Espero que você tenha se apaixonado
pela avaliação nutricional, assim como eu. Conte comigo!

43
Caro(a) aluno(a), encerramos a nossa unidade. Todavia, antes, gostaria de convidá-lo(a) a realizar
uma verificação crítica dos conhecimentos realizados até então. Para tanto, sugiro que realize uma
avaliação, uma espécie de checklist sobre as questões que estão no mapa da empatia a seguir.

Quais são as NECESSIDADES?


Quais são as DORES?

Descrição da Imagem: a figura é composta por um retângulo dividido por algumas formas. Logo, tem-se um retângulo com
quatro pirâmides. As pontas delas de unem por uma figura que pisca e sorri. Em cada uma das pirâmides, encontram-se
perguntas, tais como: o que ouve? O que pensa e sente? O que vê e o que faz e fala? Na base do retângulo, existem outras
duas formas em formato de retângulo. Elas estão nas cores rosa-claro e roxo-claro, e têm as seguintes perguntas: quais são
as dores? Quais são as necessidades?

44
1. Leia o excerto a seguir:

“O estado nutricional reflete o grau em que as necessidades nutricionais fisiológicas de um


indivíduo estão satisfeitas. O equilíbrio entre o consumo de nutrientes e os requerimentos
nutricionais resulta neste estado nutricional. Quando se consomem os nutrientes adequados
para satisfazer às necessidades diárias do corpo, incluindo qualquer demanda metabólica
aumentada, o indivíduo se aproxima de um estado nutricional ideal”.

MAHAN, L. K.; ESCOTT-STUMP, S.; RAYMOND, J. L. Krause: alimentos, nutrição e dietoterapia. 13. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2012.

Considerando a avaliação do estado nutricional, assinale a alternativa correta:

a) O estado nutricional utiliza, em casos muito específicos, adaptações fisiológicas, para que o
organismo não perca nenhuma das funções.
b) O estado nutricional de um paciente com deficiência de nutrientes pode ser detectado nos
estágios iniciais com o uso da avaliação nutricional.
c) O estado nutricional de um paciente desnutrido se relaciona à homeostase nas adaptações
fisiológicas e depleção severa das reservas energéticas.
d) O estado nutricional debilitado de pacientes hospitalizados pode ocasionar uma desnutrição
e grande risco para infecções e até a morte, independentemente da homeostase e das adap-
tações fisiológicas do organismo.
e) O estado nutricional adequado se dá quando o paciente consome os nutrientes adequados
para satisfazer às necessidades diárias. O desequilíbrio nesse sistema pouco independe das
adaptações fisiológicas.

2. Leia o trecho a seguir:

“Diante da diversidade dos métodos para avaliação do estado nutricional, é necessário saber
escolhê-los. A escolha dependerá do objetivo, isto é, o motivo pelo qual se está avaliando nutri-
cionalmente determinado indivíduo (ou grupo), da fase da vida em que se encontra (gestação,
envelhecimento, infância, etc.), da disponibilidade de recursos físicos e humanos, do tempo e
dos instrumentos e locais disponíveis. Não existe um modo único de avaliar nutricionalmente
um indivíduo ou uma coletividade. Mas, em geral, se utilizam métodos classificados como
diretos e indiretos a fim de facilitar a compreensão dos diferentes parâmetros utilizados para
se obter um diagnóstico nutricional”.

FERREIRA, A. A.; BARROS, D. C.; BAGNI, U. V. Avaliação nutricional na atenção básica: reflexões sobre práti-
cas e saberes. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2018.

Sobre os métodos indiretos e diretos na avaliação do estado nutricional, assinale a alternativa


correta:

45
a) Os métodos diretos expressam o estado nutricional de um paciente com base nas abordagens
qualitativas e quantitativas.
b) Os métodos indiretos identificam as diversas causas dos problemas nutricionais em conso-
nância com a avaliação do consumo alimentar de forma qualitativa e quantitativa.
c) Os métodos indiretos priorizam a interpretação dos exames físicos e bioquímicos para ex-
pressar o estado nutricional do paciente. São pautados na semiologia nutricional.
d) Os métodos diretos determinam os problemas nutricionais e alimentares de indivíduos e
coletividades, identificando os sinais e os sintomas de uma carência, sem correlação com os
hábitos alimentares.
e) Os métodos diretos são imprescindíveis para os métodos indiretos, e vice-versa. A combina-
ção entre os dois possibilita um diagnóstico preciso. Ambos estão envolvidos diretamente na
semiologia nutricional.

3. Leia o fragmento a seguir:

“Muitos fatores ajudam a medir se um indivíduo está em risco nutricional. Os fatores a serem
considerados incluem os padrões de ingestão de alimentos e nutrientes, fatores psicossociais,
história médica e de saúde, condições físicas associadas a estados de doença e distúrbios
específicos, peso e gordura corporais, exame físico, alterações bioquímicas, uso de fármacos
e uso de produtos botânicos e fitoterápicos”.

MAHAN, L. K.; ESCOTT-STUMP, S.; RAYMOND, J. L. Krause: alimentos, nutrição e dietoterapia. 13. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2012.

Em relação ao exame físico, algumas técnicas podem ser utilizadas para guiar o atendimento,
incluindo a palpação, a inspeção, a percussão e a ausculta. Considerando as técnicas, explique
cada uma delas e evidencia a importância delas perante a identificação de um risco nutricional.

46
2
Introdução aos Estudos
dos Protocolos de
Avaliação Nutricional e
de Consumo Alimentar
dos Indivíduos
Dra. Lorena dos Santos Castro

Nesta unidade, você conhecerá os aspectos relacionados à avaliação


do consumo alimentar de um indivíduo. Para tanto, serão englo-
bados os principais métodos para avaliar os padrões alimentares
com base nas abordagens holística e reducionista. Além disso, você
conhecerá os fatores envolvidos na forma de estimar a ingestão ali-
mentar, compreendendo os modos de realização de uma adequada
análise da história alimentar do paciente e os mais diversos tipos
de inquéritos e registros alimentares.
UNICESUMAR

Olá, estudante, gostaria de convidá-lo a imaginar a seguinte hipótese: você atenderá um paciente do sexo
masculino com 71 anos. Ao observar a história médica do paciente a partir do prontuário do encaminha-
mento, percebeu que ele tem uma Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), osteoporose e faz uso
de prótese dentária e aparelhos auditivos. Tendo em mente essas informações iniciais, como você realizará
uma avaliação adequada da história alimentar do paciente? Como avaliará o consumo alimentar dele?
Aluno(a), durante a sua prática profissional enquanto nutricionista, você atenderá pacientes de
diversas faixas etárias (a depender do nicho que escolherá), culturas e religiões, fatores que refletem
de modo direto no padrão alimentar de cada um. Sendo assim, uma prescrição dietética pautada na
individualidade demanda um conhecimento sobre todos esses fatores. Acredito que você deva estar
se perguntando: como conhecer a prescrição dietética para cada situação? Ao longo de sua jornada
como estudante, você terá todo o respaldo para essa demanda. Posso te ajudar, neste momento, a
responder à pergunta que realizei.
Temos um paciente idoso, certo? Acredito que, em seu convívio pessoal, você já deva ter passado
por experiências em que presenciou como um idoso se alimenta. Em sua maioria, ficam mais seletivo
à alimentos específicos e têm uma identidade alimentar bem enraizada. Muitos não têm abertura para
o início de novos hábitos alimentares. Estou certa? Vamos mais além: o nosso paciente tem algumas
limitações fisiológicas, como o uso de prótese dentária, o que demanda cuidados para a mastigação.
Sendo assim, você deverá se atentar para que a sua prescrição dietética tenha alimentos que favo-
recem o caso do paciente. Além disso, o paciente faz uso de aparelho auditivo, fato que exige atenção
durante a conversa e os questionamentos. Em relação aos questionamentos ao paciente idoso, há di-
versas limitações, visto que questionários retrospectivos, ou seja, que demandam o uso da memória,
muitas vezes, devem ser evitados, assim como aqueles que têm muitos critérios, a exemplo do registro
alimentar fotográfico e da conversa intuitiva. O questionário de frequência alimentar também pode
ser restrito, caso o paciente idoso seja analfabeto.
Nesse caso, devemos contar com o auxílio de uma terceira pessoa, que poderá auxiliar as ferramentas
de avaliação. Dessa forma, recomenda-se o uso do registro alimentar, assim como o questionário de
frequência alimentar, visto que, neles, podem ser anotadas todas as refeições realizadas pelo paciente.
Em dias alternados, é possível realizar a coleta de informações sobre o preparo dos alimentos e, de
modo especial, descobrir, de forma clara, os grupos de alimentos consumidos e correlacioná-los com
algumas comorbidades, como a osteoporose e a Doença Obstrutiva Pulmonar Crônica (DPOC).
Deixamos de fora o recordatório 24 horas, pois o método, além de demandar o uso da memória
pregressa do paciente, não coleta de maneira exemplar a história dietética do paciente idoso. Muitas
vezes, os alimentos alimentares do idoso variam muito, a depender do paladar, do uso de medicações,
do humor do dia, entre outros. Está curioso(a) para compreender mais o uso dessas ferramentas em
outros grupos populacionais? Quais são os métodos envolvidos na avaliação do consumo alimentar
de um paciente? Convido você a descobrir tudo isso e muito mais nesta unidade. Vamos lá!
Proponho que você coloque em prática a realização de um Questionário de Frequência Alimentar
(QFA) com indivíduos idosos com os quais você convive e/ou conhece. Para te auxiliar na realização
dessa atividade, a seguir, é exibido um modelo de QFA que você poderá fazer uso.

48
UNIDADE 2

Menos 2a4 2 vezes


1 vez por 1 vez ao
Alimentos Nunca de 1 vez vezes na ou mais
semana dia
por mês semana ao dia

Arroz branco

Arroz integral

Macarrão

Biscoitos/
Bolachas

Pão francês

Pão integral

Mandioca/
macaxeira/
Aipim

Bolo

Pipoca

Batata doce

Batata inglesa

Cuscuz

Inhame

Alface

Repolho

Cenoura

Couve

Pepino

Chuchu

49
UNICESUMAR

Menos 2a4 2 vezes


1 vez por 1 vez ao
Alimentos Nunca de 1 vez vezes na ou mais
semana dia
por mês semana ao dia

Ovos

Carne bovina

Carne suína

Frango

Queijos

Leite e
derivados

Presunto

Bebidas
alcoólicas

Sucos naturais

Fonte: a autora.

Neste experimento, você aplicará, nos indivíduos idosos, um singelo modelo de questionário de fre-
quência alimentar de um pequeno grupo de alimentos por determinado período de tempo. A partir
da aplicação, você conseguirá analisar, na prática, como esse público reagirá com as suas respostas,
incluindo as principais limitações encontradas.
É visível a aplicabilidade do QFA em uma população de idosos. É de conhecimento que essa ferra-
menta proporciona uma melhor aproximação entre a ingestão alimentar usual a longo prazo e o públi-
co-alvo. Trata-se de uma ferramenta que permite mensurar o consumo alimentar de vários alimentos.
No QFA em questão, foram adicionados alimentos de suma importância, tendo em vista as prin-
cipais deficiências nutricionais de idosos. É claro que, para um completo diagnóstico, são necessários
diversos métodos de triagem. Contudo, conhecer e comparar esse consumo aos padrões alimentares
relacionados à doença são atitudes muito interessantes.
Por exemplo, em idosos, há uma forte correlação entre a deficiência de vitamina B12 e determinadas
comorbidades, como a baixa absorção de vitamina D e baixo consumo de aminoácidos essenciais. Logo,
ao longo de sua jornada acadêmica na nutrição, você conhecerá todas essas correlações e saberá como
fazer a sua intervenção. Anote, em seu diário de bordo, a sua experiência com a atividade proposta. Você
teve alguma dificuldade em avaliar o consumo alimentar dos idosos? Como foram as suas respostas?

50
UNIDADE 2

Iniciaremos esta unidade com um tema muito importante no âmbito da avaliação nutricional de um
paciente: a avaliação dos aspectos que estão relacionados ao consumo alimentar. Ao analisar esse item
durante o seu atendimento, você terá um maior conhecimento sobre a alimentação do seu paciente e
saberá qual abordagem utilizar.
É importante considerar que o consumo alimentar é um dos principais determinantes da saúde de
um indivíduo. Diversos estudos demonstram que melhorar essa ingestão acarreta em diminuição da
morbidade e da mortalidade. Os estudos consideram que a ingestão alimentar é um comportamento
muito complexo e que não pode ser limitado ao consumo de um único tipo de alimento e/ou nutriente.
Sendo assim, durante o seu atendimento, deverá ter em vista que a variedade de alimentos, nutrientes
e as interações entre eles complicam consideravelmente a análise das associações entre os alimentos
e a saúde dos indivíduos.
Realizando uma análise histórica, há, frequentemente, relatos relacionados ao papel do nutriente, que
influencia, de forma individual, a saúde dos indivíduos. Todavia, nem todos os compostos nutricionais
dos alimentos foram totalmente estudados, fato que limita em partes algumas correlações. Qual é a
melhor forma de fazer a análise? A composição nutricional dos alimentos varia consideravelmente,
havendo, provavelmente, interações sinérgicas entre os componentes nutricionais de qualquer alimento
consumido, tema que tem sido cada vez mais comentado.

51
UNICESUMAR

A biodisponibilidade alimentar está muito em evi-


dência e pode nos auxiliar em diversos tratamentos de
saúde. Um exemplo é o consumo de frutas cítricas e a
incidência de escorbuto em marinheiros do século 18.
Walter Haworth e Albert von Szent-Gyorgyi receberam o
Prêmio Nobel de 1937, ao publicarem um estudo em que
identificaram a vitamina C em determinados alimentos
e correlacionaram com a prevenção do escorbuto.
Você já deve conhecer a importância do consumo
de vitamina C, não é mesmo? Agora, sabemos que essa
descoberta foi realizada há muitos anos e que, a partir
das orientações alimentares que atendem às doses diá-
rias recomendadas de nutrientes, os alimentos que são
fontes de vitamina C foram considerados os principais
agentes na prevenção do escorbuto. Desse modo, a
vitamina C passou a ser usada como suplemento de
forma popular (JACOBS; TAPSELL, 2007).
A partir de estudos como esses, foram realizados
muitos relatos sobre a dificuldade em descobrir as
interações entre saúde e alimentação, fato que reflete
em nosso conhecimento atual sobre os padrões ali-
mentares que os indivíduos comumente possuem.
No entanto, os padrões alimentares da população
devem ser incluídos no desenvolvimento e na im-
plementação de diretrizes nutricionais, o que pode
nos auxiliar na melhoria da prevenção de doenças
crônicas não transmissíveis.
Atualmente, trabalhamos com diretrizes dietéticas
que fornecem declarações baseadas em evidências so-
bre as escolhas alimentares, com o intuito de atender às
necessidades nutricionais e entender como é possível
reduzir o risco de doenças crônicas prevalentes. Elas
são muito importantes e envolvem uma quantidade
considerável de pesquisas. A implementação delas tem
consequências importantes para a saúde dos pacientes.
É importante ressaltar que a dieta alimentar, en-
quanto componente do estilo de vida do paciente,
exerce efeitos sobre a saúde dele de forma sinérgica
ou em conjunto com outros fatores do estilo de vida.
Entretanto, ela não refletirá no exame individual de

52
UNIDADE 2

cada fator, ou seja, a saúde relacionada ao estilo de vida


demanda a observação de diversos fatores. Nós, como
nutricionistas, necessitamos desses conhecimentos para
realizarmos um diagnóstico nutricional específico.
Para fazer a interação dos fatores exibidos, o pes-
quisador e/ou profissional precisa investigar os fa-
tores da vida de maneira individual. Também deve
selecionar o método estatístico ideal, como modelos
de regressão linear e logística. Quanto melhor for a
metodologia usada para verificar a interação, melhor
será a credibilidade dela.
Como exemplo, há o estudo realizado por Hankin-
son et al. (2013), em que foi comparada a composição
da dieta aos diversos tipos de obesidade. Foi constata-
do que a composição da dieta (relatada pela ingestão
de grupos de alimentos e de macro e micronutrientes)
e o comportamento perante às atividades de rotina,
como o tempo assistindo à televisão, as atividades
sedentárias e os níveis de atividade física, foram se-
melhantes aos diferentes tipos de obesidade, ao Índice
de Massa Corpórea (IMC), à ingestão energética e às
características sociodemográficas dos pacientes.
Em outras palavras, diversos fatores foram de-
limitados e associados à obesidade. Hankinson et
al. (2013) ressaltaram que a prevalência de doenças
crônicas pode aumentar à medida que os países se
desenvolvem e se tornam mais industrializados, in-
ferindo que essa associação seja importante do ponto
de vista nutricional. Você percebeu como a avaliação
nutricional demanda uma análise crítica de muitos
fatores? Entendamos ainda mais.
Por vezes, em nossos atendimentos, vamos nos
deparar com o consumo alimentar de um paciente
que é pautado em padrões alimentares, os quais de-
sempenham um papel importante na saúde e, por-
tanto, na prevenção de doenças crônicas. Portanto,
conhecê-los é fundamental. Os padrões dietéticos
podem nos guiar de forma mais clara e precisa sobre
os diversos comportamentos alimentares. Contudo,
como identificar esses padrões?

53
UNICESUMAR

Hoje, há modelos de padrões alimentares específicos e que carregam a interação de todas as esco-
lhas alimentares que formam um padrão alimentar completo, influenciado pelo clima, demografia,
religião, cultura e outros elementos. Além disso, com a análise do padrão alimentar, podemos sanar
as preocupações sobre as interações de alimentos e nutrientes e obter uma imagem mais nítida do
comportamento alimentar de um indivíduo, auxiliando na identificação de combinações específicas
que são protetoras ou deletérias e promovendo mais pesquisas sobre alimentos individuais e diretrizes
dietéticas. Fascinante, não concorda?
A World Health Organization (WHO, 2017) considera que a alimentação tem um papel muito
importante na prevenção de doenças crônicas e é um dos mais importantes fatores do estilo de vida.
Essa consideração é de grande mérito para o reconhecimento de nossa profissão, além de ressaltar a
importância de se compreender a complexidade da relação entre as doenças crônicas e a alimentação.
Além da alimentação pouco saudável, a Organização Mundial da Saúde (OMS) identificou outros
fatores comportamentais importantes, tais como sedentarismo, tabagismo e aumento do consumo
de álcool, tidos como fatores de risco comuns para o surgimento e/ou aumento das doenças crônicas.
Em suma, a alimentação, assim como comportamento do indivíduo, o qual pode ser modificável,
pode ajudar a reduzir o risco cardiovascular e prevenir doenças crônicas. Portanto, você, como pro-
fissional nutricionista, pode realizar uma avaliação do consumo alimentar geral da população e estar
envolto nesse fascinante processo. Estamos no caminho certo. Vamos lá!
Durante o atendimento, é de extrema importância investigar o padrão de estilo de vida do paciente
como um todo, a fim compreender de maneira mais clara as implicações dele na saúde e na doença. A
etiologia das doenças crônicas é complexa e está relacionada à exposição a muitos fatores ambientais,
tornando delicada a investigação durante o atendimento. Diversos estudos epidemiológicos prospectivos
e randomizados mostraram que os fatores ambientais estão envolvidos na prevenção e/ou manejo de
doenças crônicas. Porém, os fatores do estilo de vida, na maioria das vezes, exercem efeitos de forma
sinérgica, fato que não seria evidenciado ao estudar cada fator individualmente. Assim, a adequada
análise dos padrões alimentares se dá de forma sinérgica.
Estudos recentes relatam que, se comparada aos métodos clássicos utilizados na epidemiologia nu-
tricional tradicional, a abordagem do padrão do estilo de vida confere uma representação holística na
investigação dos fatores que predispõem o surgimento de doenças crônicas não transmissíveis. Hoffmann
(2003) menciona que a abordagem reducionista foi e é, até hoje, a abordagem dominante na pesquisa no
campo da nutrição. Isso significa que são estudadas as partes da dieta, ao contrário da totalidade, ou são
estudados os componentes individuais dos alimentos, ao contrário dos hábitos alimentares como um todo.
Hoffmann (2003, on-line, tradução nossa) também levanta a seguinte questão: “resumir o conhe-
cimento detalhado sobre os constituintes individuais da dieta reflete o efeito geral da dieta?”. Para
responder à pergunta, Harman e Parnell (1998) realizaram uma investigação em dietas vegetarianas e
descobriram que investigar o efeito dos nutrientes únicos, especialmente daqueles propensos à defi-
ciência (como a vitamina B12), levou a uma perspectiva diferente das dietas vegetarianas, ao contrário
de investigar o efeito da dieta como um todo. Em outras palavras, de fato, investigar individualmente
os componentes da dieta pode ser extremamente eficaz. Imagine como seria difícil tratar a deficiência
de nutrientes de um paciente sem saber o alimento que está relacionado a esse déficit?

54
UNIDADE 2

Agora, conheceremos as abordagens que podem ser utilizadas nas pesquisas nutricionais, visando
auxiliar no entendimento dos padrões expostos. Dentre elas, temos a abordagem tradicional, que é
pautada no reducionismo, ou seja, aborda as questões sobre como é o conhecimento do tema, como ele
é obtido e o que o torna conhecimento. Correlacionando o uso dela à dieta e à saúde, do ponto de vista
reducionista, o objetivo da ciência é reconstruir a realidade por partes. Em outras palavras, ao investigar a
alimentação do paciente, você, nutricionista, reconstruirá a realidade alimentar a partir de pequenos relatos.
Nesse contexto, a dieta, como um todo, é entendida como a seleção alimentar ou o padrão alimentar
de uma pessoa ou população. Geralmente, é reduzida a grupos de alimentos, itens alimentares e/ou
constituintes alimentares, Como forma ilustrativa desse pensamento, há a Figura 1. A saúde mencionada
até então se refere à saúde como um todo, sendo entendida como saúde física. Isso pode ser reduzido
a vários sistemas, componentes e marcadores biológicos.

Dieta Saúde

Grupos
Sistemas
alimentares
(ex: cardiovascular)
(ex: frutas)

Itens
Componentes
alimentares
(ex: artérias coronárias)
(ex: maçãs)

Marcadores
Constituintes
biológicos
(ex: Fibras dietéticas)
(ex: perfil lipídico)

Figura 1 - Contextos de relação entre a dieta e a saúde / Fonte: adaptada de Hoffman (2003).

Descrição da Imagem: a figura é composta por duas caixas de texto com formato oval, uma à direita, outra à esquerda. No meio, há
uma linha com setas indicando para os dois lados. A caixa oval da esquerda faz menção à dieta e a da dieta à saúde. Embaixo da caixa
oval da esquerda, há uma seta indicando para baixo e se conectando a outra caixa de texto retangular que faz menção aos grupos ali-
mentares, como exemplo, as frutas. Logo abaixo, há outra seta para baixo. Ela se conecta a outra caixa de texto retangular e faz menção
aos itens alimentares, por exemplo, maçãs. Por fim, há outra seta para baixo e se conectando a uma caixa de texto retangular que se
destina aos constituintes alimentares, por exemplo, as fibras dietéticas. A caixa de texto oval à direita, referente à saúde, possui uma seta
indicando a parte inferior e se conectando a uma caixa de texto com menção aos sistemas, por exemplo, o cardiovascular. Na sequência,
outra seta para baixo se conecta à outra caixa retangular, fazendo menção aos componentes, por exemplo, as artérias coronárias. Por
fim, outra seta para baixo une a última caixa retangular com menção aos marcadores biológicos, por exemplo, o perfil lipídico. Uma
linha reta com uma seta nas duas extremidades conecta a caixa de texto dos itens alimentares à dos marcadores biológicos. Outra
liga as caixas componentes aos constituintes alimentares. Por fim, outra liga os constituintes alimentares aos marcadores biológicos.

55
UNICESUMAR

A abordagem reducionista é muito usada e são diversas as razões pelas quais as questões alimentares e
de saúde vão além do alcance com essa abordagem. Um dos motivos é que a dieta e a saúde apresentam
características complexas. Isso se justifica pela dieta ser composta por um grande número de componentes,
não ser completamente redutível às partes e exibir interações não lineares entre os componentes. Desse
modo, a dieta é um emaranhado de nutrientes, os quais fazem diversas interações com o organismo.
A complexidade da dieta pode ser exemplificada pela composição dela. Trata-se de uma mistura
de alimentos que são feitos por uma infinidade de compostos químicos. A partir disso, surgem efeitos
que se assemelham, como interações, antagonismos e sinergismos, que explicam uma proporção do
todo não sendo englobada pelo exame de partes isoladas. Logo, o estudo das partes com a abordagem
reducionista permite a descrição da interação de um único nutriente com um único resultado e é
essencial para explorar, posteriormente, o efeito do todo.
No entanto, apenas investigar o efeito das partes pode levar a avaliações científicas formalmente
precisas, sendo necessária uma visão geral das partes. Entretanto, ainda assim, é fornecida uma visão
muito restrita e enviesada da realidade. Portanto, a abordagem reducionista falha em descrever adequa-
damente a multiplicidade dos efeitos metabólicos em todo o organismo, pois foca apenas na descrição
de um único nutriente. Diante disso, entendamos como pode ser feita outra análise do padrão alimentar.
Há a compreensão de que o todo é mais do que a soma das partes. Reconhecendo que a aplicabi-
lidade da abordagem reducionista é limitada, conheceremos outra abordagem usada nas pesquisas
nutricionais: o holismo. O holismo é uma abordagem epistemológica, retrata a complexidade e objetiva
superar as limitações do conceito mecanicista da natureza. Em outras palavras, ao contrário de se con-
centrar nas partes e nas relações de causa e efeito, o holismo se concentra no todo e nas causalidades
que podem envolver essas relações. Além do mais, o todo não é visto como a soma das partes ou algo
adicional às partes. Primeiramente, ele é considerado a interação dinâmica das partes. Isso significa
que um sistema como um todo tem características não encontradas em nenhuma das partes.
Explicando de forma mais clara, para englobar a dieta como um todo, vários pré-requisitos preci-
sam ser atendidos, ou seja, aqueles que você deverá preencher durante o seu atendimento. A seguir,
conheceremos detalhadamente cada um:

• É necessário conhecer as partes para compreender o todo. É preciso investigar a relação entre
a dieta e a saúde a partir dos constituintes da dieta do seu paciente.

• Devem ser incluídas em seus atendimentos pesquisas sobre alimentos e grupos de alimentos
e abrangido um exame relativo aos padrões dietéticos ou diferentes dietas alimentares. Isso
resultará em uma compreensão mais abrangente da relação entre a dieta e saúde.

• É preciso reunir informações detalhadas e realizar uma avaliação dos fatores que estão in-
fluenciando a relação entre a dieta e a saúde, especialmente as avaliações dietéticas e os vastos
métodos estatísticos.

56
UNIDADE 2

• É preciso desenvolver modelos mais com-


plexos e que permitam a combinação de
informações e a compreensão da comple-
xidade das interações. Por vezes, os estudos
não conseguem coletar de maneira com-
pleta as informações, sendo necessários
ajustes para melhor compreensão.

• É necessário integrar as ciências da nutri-


ção para que haja um conceito multidisci-
plinar, aumentando as pesquisas básicas e
aplicadas em várias áreas da saúde.

Aprendemos que examinar um único fator (die-


ta, atividade física, fumo, consumo de álcool ou
sono) e a associação dele com a saúde ou a doen-
ça gera maiores níveis de compreensão sobre a
relação entre a dieta e a saúde. A abordagem ho-
lística estuda todo o padrão de estilo de vida e as
inter-relações que podem existir, muito diferente
da abordagem tradicional.
Em suma, o padrão de estilo de vida é enten-
dido como uma interação dinâmica entre inúme-
ros fatores, ao contrário de enfatizar cada fator
individualmente. Assim, ao avaliar os efeitos de
um padrão de estilo de vida na saúde, há uma
melhor compreensão, se comparada à interpreta-
ção dos componentes de forma individual (dieta,
atividade física, álcool, fumo ou sono), e possi-
bilita detectar mais associações e implicações
na vida real de um paciente. A partir de agora,
compreenderemos os padrões alimentares e de
estilo de vida, os quais são de suma importância
para o melhor planejamento de estratégias de
intervenção e educação no âmbito nutricional.
Pense em sua alimentação e me responda: fa-
tores emocionais, sociais e até o estresse que pode
ocorrer no campo afetivo influenciam a sua inges-
tão alimentar? Acredito que, em algum momento

57
UNICESUMAR

de sua vida, isso pode ter acontecido, não é mesmo? São inúmeros os fatores relacionados ao consumo
alimentar, logo, é de extrema importância realizar uma adequada avaliação da ingestão alimentar
durante o seu atendimento nutricional.
A avaliação do consumo alimentar é um método subjetivo que avaliará a ingestão nutricional de seu
paciente. Para a sua prática profissional, existem diversos recursos disponíveis, como: recordatório 24
horas (R24h), registro alimentar, histórico alimentar e questionário de frequência alimentar (QFA). Vamos
aprender os principais métodos que você poderá utilizar em sua prática clínica ao longo desta unidade,
assim como os que os estudos sugerem para melhor compreensão do consumo alimentar do paciente.
Caro(a) aluno(a), é importante tem em mente que, durante a sua prática como nutricionista, você
escolherá a melhor ferramenta de trabalho, a qual conseguirá realizar de maneira eficaz a avaliação.
Os estudos demonstram que o QFA tem sido o mais utilizado em pesquisas epidemiológicas e nas
anamneses nutricionais, dado que têm ótima aplicabilidade e é de fácil utilização para o pesquisador
e para o profissional. Ele é composto por dois componentes: um qualitativo, que investiga a frequência
do consumo de um determinado alimento, e um quantitativo, que estima a quantidade de alimento.
Além disso, você poderá utilizar outros recursos, como um atlas fotográfico, ou itens que ilustram
medidas caseiras e até molduras. Grandner et al. (2013) relatam que os pacientes que fazem uso do
QFA respondem melhor a respeito da frequência e da quantidade de alimentos que consumiram em
um determinado período de tempo. É possível focar na ingestão de nutrientes específicos, na exposi-
ção a um determinado grupo de alimentos (que pode ter correlação a uma doença específica) ou na

58
UNIDADE 2

avaliação das inter-relações entre os nutrientes e os alimentos (como o padrão alimentar) e nos efeitos
delas no estado de saúde e no risco de doenças. Muito útil, concorda?
Além do QFA, outros fatores que estão adquirindo muita importância além da investigação nu-
tricional são os marcadores bioquímicos específicos. Eles estão sendo usados para medir a ingestão
dietética de nutrientes ou de alimentos específicos na prática profissional. Com o uso deles, é possível
ter estimativas objetivas sobre o consumo alimentar nas avaliações antropométrica e clínica de um
paciente, enquanto o recordatório 24 horas, o registro alimentar e o QFA são estimativas subjetivas.
Entretanto, tendo em vista uma melhor estratégia para avaliar o estado nutricional do paciente, a as-
sociação de vários fatores ajuda a ter um melhor diagnóstico nutricional.
Por outro lado, essa estratégia pode não ser tão interessante, visto que alguns biomarcadores podem
ser afetados por doenças e regulação homeostática. Além disso, informações sobre a ingestão alimentar
absoluta do paciente não são fornecidas. De certa forma, coletam-se dados de maneira incompleta.
Ademais, as recomendações dietéticas destinadas a mudar os hábitos alimentares de um sujeito não
podem ser feitas apenas pelo uso de biomarcadores. Assim, a avaliação direta da ingestão alimentar por
meio dos inquéritos alimentares pode, às vezes, ser mais informativa, se comparada aos biomarcadores.
O QFA é um método que coleta os dados do paciente de forma confiável e apresenta baixo custo,
permitindo a identificação e a avaliação dos padrões alimentares em estudos epidemiológicos. Apesar
de os padrões alimentares envolvidos no recordatório 24 horas não avaliarem com precisão os padrões
alimentares habituais de um paciente, ele é um método muito aceito para avaliar o paciente em nível
individual ou um grupo populacional.

59
UNICESUMAR

Em sua prática profissional, você precisará realizar diversas observações sobre o comportamento
alimentar do paciente, visto que a análise do padrão alimentar é de suma importância por levar em
consideração as correlações que podem existir entre determinados alimentos e muitos nutrientes, repre-
sentando um quadro mais amplo de ingestão alimentar e analisando os efeitos da dieta como um todo.
A análise do padrão alimentar é uma importante abordagem alternativa e de suporte para analisar
a relação entre a nutrição e o risco de doenças crônicas, sendo mais preditiva para o risco de doenças,
em comparação à análise de alimentos ou de nutrientes individuais, assim como já mencionamos nesta
unidade. Isso já ficou claro, certo? Partindo do princípio da realização da análise, existem diferentes
abordagens estatísticas que têm sido utilizadas para observar os padrões alimentares tanto no âmbito
das pesquisas científicas quanto na prática clínica. A seguir, analisaremos alguns detalhes de cada uma.
Temos duas abordagens: a teórica e a priori. A priori tem, como foco, a definição de determinados
escores ou índices de qualidade da dieta com base em recomendações nutricionais. Ela é aplicada tanto
em diferentes populações ou indivíduos, ou seja, é realizada uma análise a partir de comparações de
dados que já foram estabelecidos. Os métodos a priori usam variáveis nutricionais que são quantificadas
de forma que possam fornecer uma avaliação global da parte qualitativa da dieta, sendo importante
para a definição do estado de saúde do paciente.
As abordagens a priori baseadas em escores são construídas de acordo com determinadas diretrizes
dietéticas e incluem nutrientes e/ou alimentos e/ou grupos de alimentos selecionados segundo as re-
comendações nutricionais, estabelecendo, dessa forma, um determinado escore, o qual atua como uma
pontuação. Para analisar o escore, os dados são agrupados, medindo a qualidade da dieta. Eles foram
os primeiros métodos utilizados na epidemiologia no âmbito nutricional, visando avaliar o efeito que
uma combinação de nutrientes ou alimentos (não apenas um único nutriente) pode exercer sobre a
saúde de um paciente. Evidentemente, para fazer a avaliação, foi necessária uma base de dados, a fim
de que os dados fossem analisados de maneira fidedigna.
Além do escore, outra pontuação simples está relacionada ao método a priori, que se baseia em
uma pontuação a partir da diversidade alimentar, considerando o número de porções consumidas
pelos grupos de alimentares (laticínios, carnes, cereais, frutas e vegetais) ou os alimentos consumidos
frequentemente pelo paciente. Essa pontuação também possui uma referência como base. De maneira
geral, ambas as formas (por escore e por pontuação da diversidade alimentar) exigem uma base de dados
para avaliação. Atualmente, há um grande número de índices de qualidade da dieta. A maioria deles é
elaborado, definido ou adaptado, visando expressar as necessidades nutricionais de diferentes grupos
populacionais, com o intuito de evidenciar o cumprimento de padrões alimentares específicos, fato
que nos auxilia na prática profissional. Sendo assim, existem três categorias principais de indicadores:

• Indicadores baseados em nutrientes: precisam ser transformados de quantidade (peso do ali-


mento) em qualidade (teor de nutrientes) e, posteriormente, comparados aos requisitos-padrão,
ou seja, a uma base de dados, muitas vezes, usando, como base, medidas caseiras, imagens e
ilustrações como ponto de referência para mencionar o consumo.

60
UNIDADE 2

• Em adição, encontram-se os alimentos/indicadores baseados em grupos de alimentos que usam


guias alimentares para avaliar porções, frequência ou grupos de alimentos. É um dos principais
indicadores utilizados pelos nutricionistas.

• Por fim, um excelente indicador está baseado na combinação de indicadores, ou seja, abrange
a variedade da dieta dentro e entre grupos de alimentos, a ingestão adequada de nutrientes ou
de grupos de alimentos (quantidade ou porções), a frequência de consumo do alimento e o
equilíbrio geral de macronutrientes consumidos. Essa combinação de indicadores, talvez, seja
o protocolo mais utilizado, visto que é a mais completa e engloba uma gama de informações.

Você compreendeu que o profissional nutricionista precisa escolher a forma de abordagem e o próprio
critério avaliativo? São muitas as opções, fato muito positivo, tendo em vista a diversidade populacio-
nal que temos para atender. Basta apenas conhecer muito bem cada uma delas e delimitar aquela que
melhor se encaixa em seu atendimento.
Finalizamos os conceitos envolvidos na abordagem a priori. Agora, conheceremos a posteriori e
entenderemos as diferenças dela. Ela pode ser definida pelo uso de métodos baseados em dados explo-
ratórios, ou seja, são analisados os padrões dietéticos baseados em variações na ingestão de alimentos
de um paciente. Para tanto, são utilizadas análises comportamentais ou de grupos, o que é realizado
com o uso de inquéritos alimentares. Esse método também permite determinar padrões alimentares
baseados em uma combinação de dados exploratórios. Assim, você conhece a etiologia e os mecanismos
patológicos da doença e, a partir disso, analisa se o paciente possui um padrão alimentar propenso a
desenvolver ou tem determinada doença.
O conhecimento das duas abordagens poderá te auxiliar a interpretar os estudos científicos sobre
o tema, além de facilitar a escolha do método que você utilizará em sua prática profissional. Embora
ambas abordagens sejam baseadas em métodos diferentes, elas podem ajudar a identificar padrões
alimentares saudáveis, ou não, e podem ser a base ao desenvolvimento e à implementação de dire-
trizes nutricionais, ou seja, podem auxiliar a desenvolver políticas públicas sobre temas e populações
específicas. Isso é fascinante!
As análises da relação entre os hábitos alimentares e a saúde começaram pelo estudo dos papeis
que os nutrientes específicos podem desempenhar no desenvolvimento de determinadas doenças.
Por exemplo, a deficiência de folato (vitamina B9) foi associada a um maior risco de defeitos no tubo
neural. Você conhecia essa associação? Entretanto, nem todas deficiências nutricionais são facilmente
relacionadas às doenças. Em certas patologias, a complexidade das relações entre a ingestão alimentar
e a doença não pode ser atribuída a um único nutriente, mas a vários nutrientes e alimentos. Em sua
prática profissional, você deve analisar a exposição correta para compreender a relação, e não apenas os
nutrientes. Trata-se de um processo complexo, mas que garante o sucesso em sua prescrição nutricional.

61
UNICESUMAR

Antes de modificar a rotina alimentar de um paciente, é importante conhecer a história daquele


padrão alimentar e entender as ligações culturais, políticas e econômicas existentes. Os hábitos
alimentares dos indivíduos de todas as partes do mundo sofrem diversas influências e variam de
país para país e de região para região. Portanto, atenção e cuidado ao realizar o planejamento e as
modificações alimentares de um paciente.

Caro(a) estudante(a), levando em consideração o ponto de vista epidemiológico e tudo o que estuda-
mos até então, a dieta se dá por meio de uma complexa combinação de exposições. Todavia, os estudos
epidemiológicos experimentais, muitas vezes, falham em certificar os efeitos observados para todos
os componentes da dieta, visto a complexidade em analisar os diversos tipos de padrões alimentares
e os métodos que são usados para essa finalidade.
Você, como nutricionista, deve inovar os seus conhecimentos e técnicas para melhorar a sua abor-
dagem nutricional. Isso pode ser feito por meio de boas leituras, escolhas de estudos com metodologias
científicas apropriadas e senso crítico aguçado. Em relação às abordagens, a abordagem convencional
adotada nas investigações de consumo alimentar está focada na avaliação da ingestão de energia, nu-
trientes ou alimentos de forma independente, o que não leva em consideração o efeito da dieta como
um todo, ou seja, os fatores de risco associados à doença e as interações que podem ocorrer entre
diferentes componentes dietéticos.
A dieta é o principal determinante modificável da maioria das doenças crônicas. Portanto, ter em
mente que as escolhas alimentares são fortemente influenciadas por diversos fatores é fundamental.
Além disso, identificar os determinantes de consumo alimentar é essencial para examinar a contri-
buição da prevalência da doença em um dado paciente.
Estudamos os fatores que podem estar relacionados ao consumo alimentar e a forma como po-
demos analisá-los e pesquisá-los. Contudo, existem outros fatores que estão associados aos padrões
alimentares e entendê-los é de suma importância para o seu diagnóstico enquanto nutricionista. São
diversos os fatores individuais que estão associados aos padrões alimentares, tanto os saudáveis
quanto os não saudáveis, os quais podem variar de acordo com o status socioeconômico, o sexo, a
etnia e cultura, por exemplo.
A seguir, são exibidos alguns estudos e associações de padrões alimentares e fatores relacionados. Um
exemplo é o trabalho de Arruda et al. (2014), que defendem que é comum as mulheres apresentaram
escores mais altos para o padrão considerado saudável e escores mais baixos para o padrão considerado
não saudável, enquanto os homens estão associados aos padrões não saudáveis e são caracterizados
pelo alto consumo de gordura, carne ou fast food. Você imaginava que isso era possível?
Além disso, Kiefte-de Jong et al. (2013) explicam que as características sociodemográficas e o es-
tilo de vida familiar estão relacionados aos padrões alimentares da criança ao estado nutricional dela.
Durante a infância e a adolescência, a avaliação e o monitoramento da ingestão alimentar e de outros

62
UNIDADE 2

comportamentos são muito importantes, já que a infância é uma etapa decisiva para a formação de
hábitos alimentares e a manutenção da vida adulta.
Temos outras associações interessantes e preocupantes, de certa forma, como diversas variáveis
(educação, renda, tipo de emprego e algumas características das áreas específicas em que as populações
habitam) que caracterizam o status socioeconômico de diferentes populações e que estão intimamente
vinculadas à qualidade da dieta. Kant (2004) identificou interações complexas entre a educação, o
nível de renda, o baixo nível de escolaridade ou a baixa posição profissional e o padrão alimentar não
saudável e a dieta de baixa qualidade. Como seria a dieta de baixa qualidade? Ela é caracterizada por
uma menor ingestão de fibras, minerais e vitaminas.
Além disso, a maior escolaridade e a melhor posição profissional foram associadas a um padrão
alimentar saudável. Souza et al. (2021) enfatizam a crise mundial da saúde relacionada à Covid-19,
somada à crise econômica, acarretando aumento de desemprego, desigualdade social e risco de crise
alimentar. Um relatório do Comitê Mundial de Segurança Alimentar inferiu que a disponibilidade de
alimentos está sendo prejudicada pelos mais pobres, o que é ocasionado pela recessão. Nesse estudo,
também há uma demonstração de que houve aumento no consumo de hortaliças, frutas e feijão no
período da pandemia. Não só, mas também houve um aumento no consumo de alimentos ultrapro-
cessados nas regiões Norte e Nordeste e entre pessoas de menor escolaridade.
Em conjunto, embora as hortaliças continuem acessíveis para compra durante a quarentena, um
consumo maior é observado entre indivíduos com maior poder aquisitivo e situados nas regiões Sul
e Sudeste. Com esses estudos, podemos ter uma pequena ideia de como existem muitos fatores que
influenciam o consumo alimentar. Assim, o diagnóstico nutricional e o planejamento dietético neces-
sitam de boas avaliações.
Você já deve ter assistido a reportagens que inferem as relações entre a qualidade da dieta e o status
socioeconômico, não é? Muitas pesquisas abrangem essa temática e são importantes critérios para a
avaliação da qualidade da dieta. Com estudos, sabemos que a dieta pode ser influenciada por outros
fatores, como população-alvo, desemprego, ocupação de diferentes membros da família, acesso a
alimentos e urbanização. Também acredito que você deva ter escutado ou lido textos que tratam da
relação entre o tabagismo e os malefícios à saúde.
Existem diversas relações entre a ingestão de nutrientes e o tabagismo, o que está associado a com-
portamentos alimentares menos saudáveis, independentemente da cultura, etnia e região. O ato de fumar
também está vinculado à redução da ingestão de compostos antioxidantes e à absorção de micronutrientes
a nível intestinal, além de afetar seletivamente o consumo de alimentos específicos, dado que determina-
dos pacientes podem não ter adesão às recomendações dietéticas e sofrer comprometimento do paladar
devido às mudanças sensoriais causadas pelo tabaco, que altera as papilas gustativas.
Assim, de fato, o hábito de fumar é um fator a ser avaliado durante a avaliação nutricional. Além de
uma diminuição na capacidade olfativa, os fumantes podem selecionar os alimentos com sabores mais
fortes/salgados e os não saudáveis. Se comparados aos não fumantes, eles têm grande probabilidade
de adotar um padrão alimentar não saudável, o que, de fato, merece atenção. A partir do exposto, ao
realizar a anamnese, atente-se em questionar o hábito de fumar ao seu paciente.

63
UNICESUMAR

Em relação ao consumo de álcool, o consumo ele-


vado foi associado ao risco de hipertensão, acidente
vascular encefálico e outras doenças cardiovasculares.
Ao realizar consumo de bebidas alcoólicas, por vezes,
o indivíduo tende a ter comportamentos não saudá-
veis, alimentação de baixa qualidade e pouca atividade
física, além de não saber como manter uma rotina
saudável no meio social. Por outro lado, indivíduos
que consomem vinho com moderação, geralmente,
têm um estilo de vida mais saudáveis que outros tipos
de consumidores, pois fumam menos e praticam mais
atividade física, além de fazerem um maior consumo
de frutas e vegetais e em oposição à ingestão de carne
vermelha e frituras. É interessante compreender que
os hábitos alimentares não são estáticos, mas sofrem
influências de uma vasta gama de fatores. Conhecê-
-los é fundamental para a sua prescrição dietética,
que deve ser uma prescrição individualizada, e para
a promoção e a prevenção da saúde de coletividades.
Temos outros fatores a serem analisados. Dentre
eles, encontra-se o sedentarismo, que está associado
a uma baixa adesão ao padrão de consumo de frutas
e verduras. Além disso, tende a estar associado a um
padrão alimentar não saudável, rico em produtos in-
dustrializados, excesso de gorduras e doces. Os padrões
alimentares têm extrema relação com comportamentos
sedentários, muitas vezes, influenciados por motivações
e emoções, incluindo o uso de telas e pouca atividade
física. Esses comportamentos, por sua vez, estão relacio-
nados ao alto consumo de bebidas açucaradas, produ-
tos prontos, fast foods e excesso de álcool. Associado ao
sedentarismo, muitos pacientes com obesidade podem
subestimar a ingestão de alimentos que consideram
causar a obesidade de modo geral.
Além do sedentarismo, temos o famoso Índice de
Massa Corporal, o IMC, e várias são as influências dele
sobre os hábitos alimentares. Marques-Vidal (2018)
et al. publicaram a correlação do aumento do IMC
aos padrões alimentares não saudáveis, visto que um
melhor IMC está associado ao consumo adequado

64
UNIDADE 2

de frutas e vegetais, respeitando as restrições quanto


à quantidade de alimentos consumidos e, pelo menos,
a prática de atividade física moderada.
A última correlação é referente aos distúrbios do
sono, que são reconhecidos como fatores de risco aos
resultados negativos de um estilo de vida pouco sau-
dável. De fato, o sono é um modulador extremamente
importante para um bom funcionamento metabólico,
incluindo o metabolismo energético, a regulação dos
níveis de glicose sanguínea e o apetite de um pacien-
te. A curta duração do sono em um indivíduo está
associada ao consumo de uma menor variedade de
alimentos e, portanto, uma menor ingestão de proteí-
nas, carboidratos, fibras e gorduras, em comparação
aos indivíduos que têm uma duração normal do sono
(GRANDNER et al., 2013).
O sono exerce importante influência no consumo
alimentar. Você tem cuidado da qualidade do sono?
Uma curiosidade sobre o tema: as concentrações sé-
ricas totais de carotenoides foram associadas a uma
maior probabilidade de curta duração do sono (5 a
6 horas por noite), se comparadas à duração normal
do sono (7 a 8 horas por noite). Você conhece os ali-
mentos que são ricos em carotenoides? O sono tem
impacto na dieta, logo, a curta duração do sono está
vinculada ao ganho de peso por meio de efeitos no
apetite, atividade física e/ou termorregulação. Desse
modo, não esqueça de avaliar a qualidade de sono dos
seus pacientes durante a avaliação nutricional!
Caro(a) estudante, analisamos as complexas co-
nexões entre os nutrientes, os alimentos e os padrões
dietéticos. Também entendemos o modo como elas
interferem no padrão de consumo alimentar. Consta-
tamos que nenhum componente individual da dieta
pode fornecer diretamente os efeitos favoráveis e des-
favoráveis da dieta na saúde de um paciente. A seguir, é
indicado um estudo que demonstra como é feita uma
revisão sistemática de determinado tema. É notório
que o estilo de vida é um componente importante da
dieta alimentar. Além disso, é perceptível que o padrão

65
UNICESUMAR

alimentar exerce efeitos sobre a saúde de forma sinérgica ou em conjunto com outros fatores ambientais
do estilo de vida. Assim, podemos reconhecer o papel de um padrão de estilo de vida saudável e ter
em mente as formas de avaliar esse padrão durante um atendimento nutricional.

Para complementar os seus conhecimentos sobre a associação entre


os padrões alimentares e a saúde de um indivíduo, sugiro a leitura do
artigo de revisão intitulado Padrão alimentar de risco para as doenças
crônicas não transmissíveis e sua associação com a gordura corporal.
A partir dessa leitura, você conseguirá compreender a importância de
diversas medidas de intervenção aplicadas às mudanças em determinado
padrão alimentar.

Agora, conheceremos os aspectos vinculados à análise do consumo alimentar de pacientes e a forma de


analisar o estado nutricional. Para tanto, daremos início ao entendimento dos aspectos introdutórios
do estudo da avaliação nutricional.

Você, como nutricionista, conduzirá a sua avaliação de forma ampla e


pautada na avaliação nutricional, com o objetivo de conhecer as histó-
rias médicas, de saúde, dietética, social e medicamentosa do paciente.
Também fará um exame físico adequado e terá um bom treinamento
para realizar as medidas antropométricas e interpretar os exames la-
boratoriais. Aliás, envolto a esse tema, é de suma importância conhecer
o protocolo mínimo de avaliação nutricional com base no Conselho Re-
gional de Nutrição (CRN). Escute o nosso segundo podcast. Te espero lá!

Com o uso da avaliação nutricional, você poderá interpretar os dados da triagem nutricional e in-
corporá-los às diversas informações adicionais. Desse modo, conhecemos os métodos de triagem na
Unidade 1 e entendemos que eles são muito usados em diagnósticos e tratamento de pacientes que estão
em risco nutricional. Para complementar o tema, temos a Figura 2, que exibe a categoria de risco de
desnutrição, a presença de obesidade e/ou necessidade de dietas especiais, segundo Mahan e Raymond
(2018). A aplicabilidade do uso dessas categorias pode ser tanto a nível ambulatorial quanto hospitalar.

66
UNIDADE 2

Pontuação IMC Pontuação da perda de peso Pontuação do efeito


(perda de peso não nos últimos da doença aguda
3 a 6 meses)

IMC > 20,0 Kg/m2 Perda de peso > 5% = 0 Adicionar 2 pontos se houver ou
(>30 Kg/m2 obesos) = 0 Perda planejada de peso 5%-10% = 1 há possibilidade de ausência de
IMC 18,5 -20,0 Kg/m2 = 2 Perda de peso >10% = 2 ingestão nutricional por > 5 dias

Some todos os pontos

Risco geral de desnutrição e diretrizes de manejo

0 - Baixo risco 1 - Risco médio 2 - Alto risco


Atendimento médico de rotina Observar Tratar

- Repetir triagem; Hospital Registre a ingestão dietética de 3 - Consulte um nutricionista, equipe


semanalmente e atendimento dias para pacientes internados ou de terapia nutricional
domiciliar: mensalmente. sob cuidados familiares; - Melhorar e aumentar a ingestão
- Repetir triagem; hospital dietética total
semanalmente e atendimento - Monitorar e rever o plano de
domiciliar: mensalmente. cuidados.

Figura 2 - Instrumento universal de triagem de desnutrição para adultos / Fonte: adaptada de Mahan e Raymond (2018).

Descrição da Imagem: a figura é composta por um fluxograma. Na parte superior, há três caixas de texto retangulares. A primeira (da
direita para esquerda) é referente à pontuação do IMC, partindo do princípio que o IMC > 20,0 kg/m² (>30 kg/m² obesos) = 0, IMC 18,5-
20,0 kg/m² = 1 e IMC < 18,5 kg/m²= 2. A caixa 2, ao lado, cita a pontuação da perda de peso (perda de peso nos últimos 3 a 6 meses),
em que a perda de peso > 5% = 0, a perda planejada de peso 5%-10%= 1 e a perda de peso > 10%= 2. Por fim, a terceira caixa de texto
menciona a pontuação do efeito da doença aguda, sugerindo “Adicionar 2 pontos se houver” ou há a possibilidade de ausência de
ingestão nutricional por > 5 dias. Todas as caixas de texto possuem uma linha reta com uma seta na direção para baixo, ligando a uma
outra caixa de texto retangular. Dentro dessa caixa, há outras três caixas de texto e uma caixa acima com menção ao título: “Risco geral
de desnutrição e diretrizes de manejo”. Ao lado das setas, há uma caixa de texto com a seguinte frase: “Some todos os pontos”. Voltando
às três caixas de texto inseridas na maior, a primeira se refere à pontuação zero de baixo risco, sugerindo, nesses casos, o atendimento
médico de rotina e, se necessário, repetir triagem; hospital: semanalmente e atendimento domiciliar: mensalmente. A segunda caixa se
refere à pontuação um de risco médio, com os dizeres: “Observar. Registre a ingestão dietética de 3 dias para pacientes internados ou
sob cuidados familiares. Repetir triagem; hospital semanalmente e atendimento domiciliar mensalmente”. Por fim, a última se refere
à pontuação dois de alto risco, com os dizeres: “Tratar. Consulte um nutricionista, equipe de terapia nutricional. Melhorar e aumentar
a ingestão dietética total. Monitorar e rever o plano de cuidados”.

De modo geral, para um melhor entendimento, o objetivo da avaliação nutricional é auxiliar você,
nutricionista, a reunir as informações suficientes para realizar um bom diagnóstico nutricional. Lem-
bre-se de que os passos iniciais de uma adequada avaliação estão pautados no processo dos cuidados
nutricionais. Ao fazê-los, você coletará informações que dependerão de alguns fatores, como grau de
instrução, estado de saúde do paciente ou do grupo populacional, o modo como os dados coletados estão
relacionados a um resultado em particular, se a avaliação realizada é inicial ou de acompanhamento
e as práticas que serão recomendadas a partir de então. Quanto maior for o número de informações
coletadas, mais fácil será compreender o estado clínico do paciente e realizar o futuro diagnóstico.

67
UNICESUMAR

Ao fazer o processo de avaliação, você deverá estabelecer um diagnóstico nutricional e desen-


volver um plano de cuidados ao seu paciente. Dentro do plano que você elaborará, será necessário
selecionar intervenções, as quais precisam ser adaptadas à realidade do atendimento no hospital,
na clínica, nas instituições de cuidados especiais, nos asilos, no domicílio ou na Unidade de Terapia
Intensiva (UTI). Inúmeras possibilidades, não é?
Para um adequado estudo da avaliação nutricional, você deve conhecer os principais objetivos
de uso e aplicá-los de maneira correta tanto no âmbito da individualidade quanto da coletividade.
Dentre os principais objetivos, estão: verificar os pacientes que precisam de terapia nutricional agres-
siva, analisar as maneiras de recuperar ou de manter o estado nutricional do paciente e delimitar o
tratamento nutricional adequado, identificando pacientes com doenças agudas ou crônicas em risco
para o desenvolvimento de um quadro de desnutrição. Lembre-se de que a desnutrição é comum em
indivíduos obesos, idosos, caquéticos ou que passaram por um trauma. Ela também é frequente em
casos em que a intervenção nutricional foi negligenciada, o que demanda muita atenção e cuidado.
Por falar em cuidado, conheceremos as principais etapas do cuidado nutricional, um excelente guia
ao processo de avaliação dos pacientes.
Você, inicialmente, precisa definir um propósito básico, ou seja, obter informações adequadas para
identificar os problemas relacionados à nutrição do paciente, a partir de um encaminhamento ou de
uma triagem para avaliar os fatores de risco nutricional. Isso, porque a avaliação nutricional é um
processo muito sistemático que visa à verificação e à interpretação de vários dados para auxiliar em
uma tomada de decisão relacionada ao problema do paciente. Os dados coletados variam, dependendo
dos locais nos quais você trabalhará. Além disso, dependem do estado de saúde atual do paciente ou
do grupo que estará atendendo, do referencial que você utilizará como parâmetro para diagnóstico e
se a avaliação é inicial ou uma reavaliação.
Uma dica é estabelecer comparações entre as informações coletadas e padrões de referência de con-
fiança. Na definição do seu propósito na avaliação do paciente, também é importante ter em mente que
o processo é contínuo e dinâmico, visto que, além de envolver a coleta de dados iniciais, compreende
uma reavaliação, a qual é composta por uma base sólida para realizar um adequado diagnóstico nu-
tricional e para as próximas etapas de cuidado nutricional. Vamos para o segundo critério?
Na sequência, você precisa estabelecer a fonte de dados que utilizará e o método de avaliação,
itens muito importantes para identificar os fatores que levaram o paciente até o atendimento ou
o motivo de um possível encaminhamento e interpretar os registros interdisciplinares, visto que,
muitas vezes, o paciente está passando por um atendimento com uma ampla equipe de saúde, com-
posta por diferentes profissionais. Você necessita estabelecer como será a sua entrevista, como fará
o levantamento de dados, como realizará um adequado relatório e como mensurará e comparará os
dados aos estudos epidemiológicos. Nessa etapa, será necessária a tomada de decisões, mas é claro
que você terá o auxílio de diversas ferramentas.
Além da fonte de dados, definir os dados que serão coletados é essencial, ou seja, como você coletará
a história dietética do seu paciente, como fará a análise da ingestão detalhada dos nutrientes, como
mensurará o estado de saúde, quais medidas antropométricas e bioquímicas utilizará, como conhe-
cerá as condições físicas e clínicas e como estará o estado fisiológico do paciente. É necessário definir

68
UNIDADE 2

o método que você utilizará para descobrir e acompanhar o estado funcional e comportamental do
paciente, que busca analisar as funções social e cognitiva, os fatores psicológicos e emocionais, a qua-
lidade de vida e a abertura para possíveis mudanças no comportamento alimentar. Coletar dados vai
muito além de apenas preencher um inquérito: é o momento em que você conseguirá as informações
necessárias para elaborar a história nutricional e clínica do indivíduo!
Ainda nessa primeira etapa de avaliação nutricional, você deverá verificar os componentes nutricio-
nais, ou seja, é preciso realizar uma adequada revisão da ingestão dietética do paciente, analisando os
fatores que podem afetar as condições de saúde e o risco nutricional que o paciente tem, avaliando as
consequências atreladas à condição de saúde e à doença. Quando o assunto abrange os componentes
nutricionais, não pode faltar a avaliação de alguns fatores, como os psicológicos, os funcionais e até os
comportamentais, que estão atrelados ao preparo dos alimentos, incluindo o acesso e a seleção. Ava-
liar esses fatores dá margem para a avaliação da condição de saúde que o paciente tem para aprender,
conhecer e verificar o quão disposto está para as mudanças de comportamento alimentar. Cabe a você
identificar as possíveis áreas de problemas para a realização do diagnóstico nutricional.
Também é necessário, em sua prática como nutricionista, ter bom senso crítico. Sendo assim, esteja
sempre atento(a) aos sinais verbais e não verbais para melhor orientar e melhorar a eficácia dos méto-
dos de entrevista, para determinar os dados apropriados a serem coletados e para selecionar o melhor
procedimento de avaliação, adequando os métodos de avaliação para cada situação, distinguindo os
dados relevantes e irrelevantes e estando apto(a) a validar os dados coletados, a fim de determinar o
quanto um problema exige uma consulta ou encaminhamento a outro profissional.
Além disso, é necessário realizar uma definição da documentação da avaliação, visto que a qualidade da
documentação da avaliação nutricional tem muita relevância oportuna e precisa, incluindo informações
que delinearão a qualidade da avaliação. A documentação também deve estar pautada na observação das
percepções e dos valores do paciente perante aos problemas apresentados. Caso seja necessário, realize
uma mudança no nível de entendimento e comportamento perante os seus hábitos alimentares.
Por fim, o último fator envolto na primeira etapa se refere à conduta para a continuidade dos
cuidados, ou seja, se depois da conclusão da avaliação inicial ou da reavaliação for constatado que o
problema não pode ser alterado pelos cuidados nutricionais, esteja ciente em dar alta ou interromper
os cuidados nutricionais. Finalizamos a análise de alguns fatores que estão envolvidos no processo de
cuidado nutricional. Conhecemos os princípios de cada etapa, que poderão te auxiliar no caminho da
avaliação nutricional. Evidentemente, você poderá realizar essa etapa a partir de sua identidade como
profissional. Entretanto, esse guia será um excelente direcionamento para a prática.
Dando sequência aos princípios da avaliação nutricional, apresento a você uma importante fer-
ramenta, que é pautada em como investigar a história dos pacientes. Vamos conhecê-la? Por diversas
vezes, as informações coletadas sobre os pacientes ou as populações estão na forma de histórias de
saúde, medicamentosa, social e dietética. Sem dúvidas, conhecer a história alimentar pode ser a atitude
mais importante dentro da área da nutrição. Quanto maior for o número de dados coletados, mais
completa será a avaliação nutricional.
Conhecer a história de saúde do paciente envolve conhecer as queixas de saúde, a história atual ou
pregressa, o histórico familiar de doenças e os dados psicossociais. Ao conhecer a história, é possível

69
UNICESUMAR

ter uma visão ampla dos problemas relacionados


à nutrição do indivíduo. Também é interessante
conhecer alguns fatores podem estar relaciona-
dos a um quadro de desnutrição, como o uso de
drogas, o consumo de álcool ou algum fator que
acarrete aumento das necessidades metabólicas
ou perdas nutricionais. Também é válido verificar
a presença de algumas doenças crônicas, verificar
se o paciente descobriu alguma doença recente-
mente ou se passou por alguma cirurgia de gran-
de porte, principalmente no trato gastrointestinal,
e que causou perda de peso ou dificuldade de
absorção de nutrientes.
Para todas as faixas etárias, os questionamen-
tos exibidos são de suma importância. Entretanto,
em pacientes idosos, a atenção deve ser redobrada.
Ao avaliar a história médica do paciente idoso,
atente-se à análise da deterioração mental, dos
quadros de constipação ou de incontinência uri-
nária, se ele tem alguma deficiência visual ou au-
ditiva, se o sistema locomotor apresenta reações
lentas, se existem doenças em órgãos vitais e/ou
outras doenças físicas. Por vezes, necessitamos
adaptar os nossos questionamentos para desco-
brir a história médica do paciente, visto que, mui-
tas vezes, não temos em mãos os prontuários dele.
Alguma vez você já ouviu algum questiona-
mento sobre qual melhor horário para tomar
determinada medicação? Ou se poderia con-
sumir determinado remédio em conjunto com
algum alimento? Eu imagino que sim! De fato,
é de extrema importância conhecer a história
medicamentosa do paciente, justamente por-
que a alimentação e os medicamentos podem
interagir de várias maneiras e influenciar o esta-
do nutricional, além de interferir na eficácia do
tratamento. Portanto, conhecer a história medi-
camentosa é uma parte importante da avaliação
nutricional. Determinados grupos de pacientes
requerem maior atenção, como os idosos, os por-

70
UNIDADE 2

tadores de doenças crônicas e aqueles que estão


passando por um tratamento medicamentoso
por um período prolongado e estão suscetíveis
a deficiências nutricionais induzidas por deter-
minadas medicações.
A história social de um paciente é um fator
que influencia muito a alimentação. Logo, a con-
dição financeira, a capacidade de aquisição de
alimentos, as pessoas com as quais convive, se é
portador de alguma deficiência física ou mental,
as condições do local em que mora e a extrema
pobreza são fatores que devem ser observados,
pois podem influenciar a ingestão nutricional.
Relacionadas à história social, encontram-se al-
gumas identidades culturais, já que você poderá
conhecer pacientes de várias culturas e deverá
atender às necessidades dessa diversidade. Tam-
bém conhecerá os fatores que estão envolvidos
em crenças religiosas, rituais e simbologias, as lin-
guagens, os diversos estilos de comunicação e as
opiniões sobre saúde. Sendo assim, é interessante
estabelecer conexões com pacientes de diferentes
culturas para obter resultados positivos.
De forma primordial, também é necessário
conhecer a história nutricional ou dietética do
paciente. Uma alimentação inadequada, pautada
em uma ingestão baixa de nutrientes, pode se
originar devido uma anorexia, disfunções com
ageusia, disgeusia, perda de olfato, alto consumo
de álcool, disfunções em próteses dentárias, uso
de dietas sem respaldo científico, disfunções de
mastigação ou deglutição, realização de muitas
refeições fora de casa, se possui intolerâncias
alimentares, se faz uso de medicamentos que
afetam a absorção de nutrientes, se tem alguma
restrição alimentar, se faz uso de medicações que
afetam a absorção de nutrientes, se existe alguma
restrição oriunda de especificações culturais ou
religiosas ou por uma incapacidade de comer
que perdure por vários dias.

71
UNICESUMAR

Nessa história, também é importante conhecer os hábitos alimentares de idosos, a fim de verificar as
dificuldades que os impedem de realizar uma ingestão alimentar adequada, como problemas dentários,
alterações de olfato e paladar, longos períodos de má nutrição e baixo conhecimento sobre hábitos ali-
mentares saudáveis. Nos casos em que diversos fatores podem causar a má nutrição, é preciso suplementar
aminoácidos e fazer o uso de terapias nutricionais alternativas que estimulem o consumo de altas doses
de vitaminas e minerais, além do consumo de fitoterápicos e pré e probióticos, visto que essas medidas
têm um efeito sobre os cuidados de saúde e nutricionais globais do paciente. Finalizamos a etapa em que
identificamos as principais histórias que podemos nos deparar em nossa prática profissional.
Para obter informações acerca da ingestão alimentar de um paciente, uma adequada análise da
história dietética dele é fundamental, visto que ela fornece informações sobre os padrões alimentares
e as variáveis que influenciam a escolha de alimentos que, de certa forma, ditam a ingestão alimentar.
Chemin e Mura (2011) afirmam que, para a escolha do melhor método que avalie a ingestão alimentar,
é preciso observar a situação em que você o aplicará: será de forma individual ou em grupo? Qual
é o tipo de população? Qual tipo de informação você pretende obter (grupos de alimentos, padrão
dietético, avaliar nutrientes ou energia)? Não obstante, é preciso considerar os recursos disponíveis,
incluindo tempo e custo. Observe o Quadro 1: nele, constam os tipos de informações que podem ser
coletadas em uma história nutricional.

Categoria Informações da história dietética

• Alimentos evitados e motivos.


Alergias, intolerâncias ou alimentos
• Há quanto tempo os evita.
evitados
• Descrição dos problemas causados por alimentos.

• Bom, ruim, qualquer alteração.


Apetite • Fatores que afetam o apetite.
• Alterações no paladar ou na percepção de cheiros.

• Desinteresse em alimentos.
Atitude em relação aos alimentos e • Ideias irracionais sobre alimentos, alimentação ou
à alimentação peso corporal.
• Interesse dos pais na alimentação da criança.

• Tratamento.
• Duração do tempo de tratamento.
Doença crônica • Modificação na dieta: autoimposta ou prescrita por
médico, data da modificação.
• Nutrição prévia e educação nutricional, adesão à dieta.

72
UNIDADE 2

Categoria Informações da história dietética

• Influência da cultura nos hábitos alimentares.


• Práticas religiosas, rituais em feriados.
Cultura e antecedentes étnicos
• Experiência educacional.
• Crenças de saúde.

• Problemas com a mastigação.


• Alimentos que não podem ser ingeridos.
Saúde dental e oral
• Problemas de deglutição, salivação, asfixia, engasga-
mento.

• Renda: frequência e estabilidade de emprego.


• Quanto dinheiro gasta com a alimentação a cada se-
mana ou mês.
Fatores econômicos • Percepção individual da adequação financeira às ne-
cessidades alimentares.
• Elegibilidade para o vale-refeição e custo dos vales.
• Estado de assistência de auxílio público.

• Problemas com azia, flatulência, gases.


• Problemas com diarreia, vômitos, constipação, dis-
tensão.
Fatores gastrointestinais
• Frequência dos problemas.
• Remédios caseiros.
• Antiácidos, laxantes ou outros fármacos.

• Número de pessoas na casa (comem juntos).


• Pessoa que faz as compras.
• Instalações para armazenar alimentos e cozinhar
Vida domiciliar e padrões (exemplos: geladeira, fogão).
alimentares • Tipo de habitação (exemplos: casa, apartamento,
quarto).
• Capacidade de fazer compras e preparar alimentos,
deficiências.

• -Suplementos de vitaminas e minerais: frequência de


administração, tipo, quantidade.
Fármacos, suplementos, remédios
• Medicamentos: tipo, quantidade, frequência de admi-
e fitoterápicos
nistração, tempo de uso da medicação.
• Remédios fitoterápicos: tipo, quantidade e propósito.

73
UNICESUMAR

Categoria Informações da história dietética

• Problemas percebidos pelo paciente e pela família.


Problemas nutricionais • Encaminhamento de médico, enfermeiro ou outros
profissionais da saúde.

• Ocupação: tipo, horas por semana, alteração, gasto


energético.
Atividade física • Exercício: tipo, quantidade, frequência.
• Sono: horas/ dia.
• Deficiências.

• Perda ou ganho: quantos quilos e em qual período


de tempo.
Padrão e histórico de peso • Intencional ou não intencional.
• Porcentagem do peso usual; peso saudável; peso de-
sejável.

Quadro 1 - Informações coletadas de uma história dietética / Fonte: adaptado de Mahan e Raymond (2018).

Como avaliar a história alimentar do paciente? Como realizar um questionamento adequado? Visando
facilitar a avaliação do consumo alimentar, existe o questionário de frequência alimentar (QFA),
que é composto por uma revisão retrospectiva do consumo. Contudo, ele organiza a avaliação dos
alimentos em grupos com nutrientes específicos e as informações são coletadas de modo geral, ou seja,
não especificadas para determinados nutrientes. Trata-se de listas de alimentos ou grupos de alimentos.
Nelas, há a anotação da frequência em que os alimentos são consumidos em um dado período de tempo.
As perguntas que você fará podem ser abertas (por exemplo: com qual frequência você consome
maçã?) ou fechadas (por exemplo: assinale a frequência com que você consome maçã). Para aplicação, é
importante verificar em qual situação o paciente está. Durante uma doença, os padrões de alimentação
podem ser afetados, dependendo do estágio da enfermidade. Portanto, é recomendado preencher os
questionários de frequência alimentar antes de uma possível internação e de uma doença, para que,
assim, seja obtido um histórico preciso e completo. Entretanto, quantificar o histórico alimentar de
um paciente é muito complexo. Por isso, é necessário utilizar questionários, que são muito úteis para a
investigação da relação entre a saúde e a dieta, podendo avaliar grupos populacionais que estão em risco
nutricional, selecionar os programas adequados para uma possível intervenção e monitorar os casos.
Chemin e Mura (2011) afirmam que a validade, isto é, a precisão do método em relação ao que se
quer medir, de um determinado inquérito alimentar é dada por meio da comparação dela com algum
outro mecanismo de coleta de dados aceito como confiável. Então, uma adequada análise só pode
ser tida como confiável se for pautada em uma comparação fidedigna. Qual é o melhor método para

74
UNIDADE 2

essa avaliação? O recurso mais utilizado para estabelecer a medida de validade é a comparação do
método com outro método, de certa forma, com validade concorrente. São várias as metodologias. A
grande maioria está na forma de inquéritos alimentares, que são usados para obter dados da ingestão
alimentar de um paciente. Entretanto, ainda não se tem um método considerado “padrão-ouro” que
reflita, de maneira fidedigna, a alimentação real de um indivíduo.
No Quadro 2, há a representação de um estilo de questionário de frequência alimentar. É impor-
tante ter em mente que, para determinar a frequência de consumo de alimentos, o estilo da pergunta
que será mostrado pode ser útil. Contudo, pode ser necessário modificar as perguntas com base em
informações do recordatório 24 horas que veremos adiante. Por exemplo, se um homem afirma que
bebeu um copo de leite no dia anterior, não pergunte: “Você bebe leite?”, mas: “Qual é a quantidade
de leite você bebe?”. Registre as respostas com base em um intervalo de tempo adequado (exemplos:
1 vez ao dia, 1 vez por semana, 3 vezes ao mês) ou com a maior precisão possível. A frequência pode
ser registrada como “ocasionalmente” ou “raramente”, se o paciente não conseguir ser mais específico.

Frequência Geral da Alimentação

1. Você bebe leite? Em caso afirmativo, em que quantidade? Que tipo? Integral? Desnatado? Com
baixo teor de gordura?

2. Você usa gordura? Em caso afirmativo, de que tipo? Em que quantidade?

3. Com que frequência você come carne? Ovos? Queijo? Leguminosas?

4. Você ingere lanches rápidos? Faz uso de aplicativos de refeições? Em caso afirmativo, de que
tipo? Com que frequência? Em que quantidade?

5. Quais hortaliças (de cada grupo) você ingere? Com que frequência?
a. Brócolis, pimentão verde, verduras cozidas, cenoura, batata doce.
b. Tomate, Repolho cru, pepino.
c. Beterraba, couve-flor, milho, repolho cozido, aipo, ervilha, alface.

6. Quais frutas você consome? Com que frequência?


a. Maçãs ou suco de maçã, damascos, bananas, frutas vermelhas, uva ou suco de uva, pês-
sego, peras, abacaxi, ameixas, ameixas seca, uvas passas.
b. Laranja, suco de laranja, acerola, maracujá, limonada, manga, abacate.

75
UNICESUMAR

Frequência Geral da Alimentação

7. Pão e produtos de cereais:


a. Qual é a quantidade de pão que você costuma comer em cada refeição? Qual é a quan-
tidade entre as refeições?
b. Você come cereais? Diariamente? Semanalmente? Que tipo? Cozidos ou secos?
c. Com que frequência você ingere alimentos, como macarrão, espaguete, macarrão instan-
tâneo e similares?
d. Você come pães e cereais de grãos integrais? Com que frequência?

8. Você usa sal? Você salga a comida antes de saboreá-la? Você cozinha com sal? Você sente
necessidade de ingerir sal ou alimentos salgados?

9. Quantas colheres de chá de açúcar você utiliza diariamente? Faz uso de bebidas como café e
chá adoçados?

10. Você costuma comer sobremesa? Com que frequência?

11. Você bebe bebidas contendo açúcar, como refrigerantes ou sucos adoçados? Com que fre-
quência? Em que quantidade?

12. Com que frequência você utiliza doces ou biscoitos?

13. Você bebe água? Com que frequência durante o dia? Em que quantidade por vez? Qual é a
quantidade de água você bebe por dia?

14. Você usa substitutos do açúcar em forma granulada ou líquida? Que tipo você usa? Com que
frequência?

15. Você ingere álcool? Que tipo: cerveja, vinho, vodka, gin, licor? Com que frequência? Em que
quantidade?

16. Você ingere bebidas com cafeína? Com que frequência? Em que quantidade por dia?

Quadro 2 - Exemplo de questionário de frequência alimentar / Fonte: adaptado de Mahan e Raymond (2018).

Outro método para avaliar a história alimentar do paciente pode ser o recordatório de 24 horas
(R24h). Ele é conhecido por ser um método rápido, fácil de ser administrado e de baixo custo. Além
disso, exige que os indivíduos recordem de maneira específica dos alimentos e das quantidades con-
sumidas nas últimas 24 horas. A partir disso, você poderá realizar uma análise e calcular as calorias

76
UNIDADE 2

ou interpretar os dados relatados perante sua metodologia de trabalho. No entanto, como toda ferra-
menta, existem problemas na aplicação. Os mais associados são a capacidade de o paciente recordar
com exatidão das quantidades dos alimentos ingeridos e a dificuldade em definir o dia do relato do
consumo ou o hábito típico. Também há a tendência de o paciente superestimar ou subestimar o
consumo alimentar. Outros fatores podem influenciar as informações obtidas, como a idade, o nível
educacional e o sexo. Considere um paciente idoso ou que tenha déficit cognitivo: o uso do R24h pode
ser uma ferramenta limitante.
Além dos fatores citados, o R24h não reflete a alimentação usual ou as diferenças entre a ingestão
nos dias da semana e nos finais de semana de um paciente. Isso apenas é possível, caso seja realizada
uma série de anotações. Em consequência disso, é interessante associar o uso de ferramentas para
melhorar a precisão das estimativas de ingestão, como a utilização concomitante de questionários de
frequência alimentar e R24h.
Em relação ao QFA, ele pode ser utilizado para estimular a ingestão de nutrientes de diversos grupos,
mas não de indivíduos. Ele é sensível para a identificação de culturas diferentes, pois permite a descrição
de infinitos alimentos. Sugere-se evitar perguntas relativas aos alimentos específicos e não demonstrar
surpresa perante alguma resposta ou aprovação e/ou desagrado diante dos relatos. Atente-se para iden-
tificar a maneira de preparo dos alimentos da forma mais detalhada possível, sem induzir, e a questionar
a ingestão de bebidas alcóolicas e os alimentos consumidos de forma “extra” ao longo do dia. Não se
esqueça dos suplementos nutricionais. Seguindo esses passos, você terá realizado um excelente inquérito!
Você pode se deparar com pacientes que podem alterar consciente ou inconscientemente a própria
ingestão alimentar. Também há aqueles que podem simplificar a ingestão para te impressionar, dimi-
nuindo, dessa forma, a validade das informações. Portanto, devemos observar e fazer diversas análises
para saber se, de fato, os dados são confiáveis. Diversos são os fatores que influenciam a qualidade dos
dados obtidos nos inquéritos. Assim, é possível ter um registro incorreto das respostas, omissão de
respostas e o paciente pode descrever a própria história de maneira incompleta
Também é possível existir erros em conversão de medidas. Por exemplo: o paciente relata o con-
sumo em medidas caseiras e há a necessidade de transformá-las em gramas ou a medida caseira é
muito diferente daquela que você possa imaginar como a real. O ambiente da entrevista também pode
causar distrações. O entrevistado pode não entender as perguntas, quando sub ou superestimar a in-
gestão, ou ao omitir alguma informação por falha de memória. Logo, a confiabilidade e a validade dos
métodos são questões importantes. Por exemplo, a validade das informações da frequência alimentar
de pacientes obesos, muitas vezes, é questionável, pois eles tendem a relatar uma ingestão alimentar
subestimada. Essa subestimativa do consumo alimentar também pode ocorrer com crianças, pacientes
com transtornos alimentares, hospitalizados, gravemente enfermos, que fazem uso indiscriminado de
álcool e drogas, que estão confusos ou que não compreendem a fala.
Em suma, você pode usar o Quadro 3, que te auxiliará a entender as vantagens e as desvantagens
dos diversos métodos utilizados como ferramentas para obter a ingestão dietética de maneira precisa.
Verifique cada uma delas.

77
UNICESUMAR

Método Vantagens Desvantagens

• Não leva em conta uma pos-


• Permite a observação real sível variação no tamanho da
Análise de ingestão de
dos alimentos em regimes porção.
nutrientes
de internação. • Não reflete a ingestão do in-
divíduo de vida livre.

• Depende do grau de instru-


ção do participante.
• Fornece o registro diário dos
• Requer capacidade de medir
alimentos consumidos.
ou determinar o tamanho da
Registro alimentar • Pode fornecer informações porção.
diário ou diário sobre a quantidade de ali-
• Ingestão real de alimentos é
alimentar mentos, como o alimento
possivelmente influenciada
é preparado e horários das
pelo processo de registro.
refeições e lanches.
• A confiabilidade dos regis-
tros é questionável.

• Requer capacidade de ler e


• Facilmente padronizado.
escrever.
• Pode ser benéfico quando
Questionário de • Não fornece dados sobre o
considerado em associação
frequência alimentar padrão das refeições.
com os métodos de análise
• Requer o conhecimento do
da ingestão usual.
tamanho das porções.

• Depende da memória.
• Requer o conhecimento do
• Fornece um panorama geral tamanho das porções.
Recordatório de 24
do que é ingerido. • Pode não representar o con-
horas
• Rápido e fácil de ser aplicado. sumo usual.
• Requer habilidades de en-
trevista.

Quadro 3 - Métodos de obtenção de dados de ingestão dietética / Fonte: adaptado de Mahan e Raymond (2018).

Outra ferramenta presente no campo da avaliação nutricional é a análise da ingestão de nutrientes


ou de contagem de calorias. Ela pode ser usada em casos de pacientes internados, com o intuito de
identificar carências nutricionais antes que se desenvolvam as deficiências. Como isso é feito na prá-
tica? É necessário coletar informações sobre os hábitos alimentares atuais. Essa coleta pode ser feita
por meio da observação direta (observando o paciente se alimentar ou pelo relato feito pelo paciente)
ou por intermédio de um guia alimentar, observando imagens ou o prato consumido pelo paciente.
Além disso, é possível registrar a alimentação de quem faz o uso de sondas de alimentação ou outros
produtos intravenosos, como a nutrição enteral e parenteral.

78
UNIDADE 2

De modo criterioso, a análise da ingestão de nutrientes necessita da coleta de dados de, ao menos,
72 horas, porque é possível capturar as variações na ingestão que podem ocorrer ao longo dos dias.
Caso os registros sejam coletados de forma adequada, geralmente, refletirão exatamente a ingestão
média de um indivíduo. Em casos em que o registro é incompleto, é possível aumentar a duração da
coleta dos dados para mais de 72 horas, tendo em vista que os relatos do consumo alimentar aos finais
de semana podem ser diferentes. Nem toda técnica é perfeita!
Após a coleta, os dados podem ser analisados pelo conteúdo de macro e micronutrientes. Em relação
aos macronutrientes, avaliam-se a ingestão de calorias totais, a % de carboidratos, as fibras, as proteínas
e as gorduras totais. No que diz respeito aos micronutrientes, são analisadas as vitaminas e os minerais
para garantir o bom funcionamento do organismo. Também é interessante avaliar o consumo de outros
conteúdos, como a quantidade de água, fitoterápicos e prebióticos, e associar o consumo geral deles a
alguma intervenção dietoterápica.
Por exemplo, é possível associar o consumo de determinados compostos presentes em frutas (como
o resveratrol) e verduras (como a quercetina) à diminuição de espécies reativas de oxigênio. Lembre-se
de que uma dieta adequada pode fornecer compostos que exercem efeitos na diminuição do estresse
oxidativo e, consequentemente, de diversas doenças crônicas e degenerativas.
Além dos métodos citados, você pode fazer uso de outros, como o registro alimentar. Com ele,
o paciente registrará os alimentos consumidos no devido momento em dias. O mais comum é o uso
do registro por três dias, sendo dois dias da semana de forma alternada, devendo registrar, ao menos,
um dia do fim de semana. Dentre as vantagens do uso do registro alimentar, é possível citar o fato
de o paciente não depender do uso da memória, proporcionando melhor precisão ao transmitir as
informações relativas à ingestão alimentar, englobando o tipo de alimento, a quantidade e o horário
das refeições. Basta o inquérito ser bem completo.
Todavia, como desvantagem, o método pode influenciar o padrão alimentar usual, levando a um
sub-relato do registro. Portanto, pode ser tendencioso nos dias da coleta de dados. É interessante orientar
o seu paciente a anotar a ingestão após as refeições. O uso desse método necessita de uma participação
efetiva do paciente, que precisa saber ler e escrever, ou contar com a ajuda de um terceiro (principal-
mente em casos de pacientes idosos ou com comorbidades). Além disso, o método demanda tempo e
é de extrema importância realizar uma adequada anotação sobretudo das medidas caseiras (quando
usadas) e da forma de preparo das refeições. Quanto maiores forem os dias de registro, há declínio.
De forma mais específica, durante o registro alimentar, é possível realizar o registro do alimento
pesado, o que exige que os alimentos sejam pesados antes do consumo. Isso auxilia você na obtenção
de informações mais precisas dos alimentos consumidos, e não das estimativas da ingestão. Salles,
Speridião e Fagundes Neto (2004) explicam que o método da pesagem direta é um método de maior
exatidão e preconizado pela Organização da Saúde. Contudo, exige tempo e recursos suficientes, além
do bom entendimento daquilo que deve ser realizado.
Outro método inserido no registro alimentar é o registro por imagem, que é realizado com o
uso de uma câmera de celular ou fotográfica. Por meio desse método, o indivíduo gasta menos tempo
registrando a alimentação, sendo mais prático e há a possibilidade de envio da foto em tempo real.

79
UNICESUMAR

Entretanto, é necessário um equipamento eletrônico e habilidades para fotografar, o que, muitas vezes,
pode ser limitante para grupos populacionais e pacientes com idade avançada.
Além disso, podem surgir dúvidas, como: como o alimento foi preparado? Quais temperos foram
utilizados? A preparação empanada é de frango ou de carne bovina? Houve adição de açúcar? Diante
disso, algumas outras informações, talvez, sejam pertinentes, além do registro fotográfico. Dessa forma,
informe bem o paciente e deixe um campo extra para as anotações.
Conhecemos os métodos prospectivos. Além deles, temos os métodos retrospectivos, que dependem
em partes da memória do paciente, o que pode afetar a qualidade das informações. Nesse método, há a
entrevista cognitiva. Nela, você aplicará uma técnica de memória guiada, ou seja, o paciente é estimu-
lado a lembrar da própria ingestão alimentar e até da prática de atividade física. Por meio dessa técnica,
é possível verbalizar pensamentos, sentimentos e interpretar algum tipo de ideia que o paciente relate,
podendo reduzir o risco de erros na resposta. Algumas dicas pertinentes no momento da realização é pedir
para que o paciente verbalize os pensamentos enquanto você o questiona sobre os hábitos alimentares.
Além disso, realize quantas perguntas forem necessárias para esclarecer dúvidas durante a entrevista.
Verificaremos a eficácia dessa técnica, já que não é muito difundida e, de certa forma, demanda
mais cuidado e atenção durante o atendimento. Johnson-Kozlow, Matt e Rock (2006) usaram a técnica
de entrevista cognitiva durante os atendimentos. Neles, os pacientes deveriam relatar o que pensavam
enquanto respondiam ao QFA. Todas as declarações foram registradas e o Quadro 4 as resume.

Categoria (% de declarações) Estratégia de lembrança

Associação de consumo a regras (“eu sempre”) ou rotina (“eu


Regras e rotinas (22%)
usualmente”) consumo o alimento.

Categorização dos alimentos em “saudáveis” ou “não saudá-


veis”, gasto com o alimento, mudança para dieta mais saudável,
Avaliativa (18%)
sentimento de culpa, preferência ou aversão pelo alimento,
sensação física ou mal-estar e esforço para o preparo.

Detalhes específicos (por exemplo, cremoso ou com pedaços),


associação com outros alimentos, itens “beliscados”, alimentos
Que alimento (16%)
tradicionais ou culturais, novo alimento, dieta especial (vegeta-
rianismo), visualização do alimento.

Cocção ou preparo do alimento, alimento consumido como


parte de uma refeição, alimento que dá sabor, identificado
Cocção e preparo (11%)
como principal ou guarnição, combinação de alimentos (por
exemplo, carne com batata).

Local onde foi consumido ou comprado, consumo no trabalho


Onde (9%)
ou em casa.

80
UNIDADE 2

Categoria (% de declarações) Estratégia de lembrança

Estimativa global de frequência de consumo (“eu consumo com


Avaliação global (6%)
pouca frequência’’).

Fim de semana versus dia de semana, última vez que o alimento


foi consumido, alimento sazonal (por exemplo, oleaginosas no
Quando (6%)
natal), padrão intermitente de consumo, cálculo de frequência
média de consumo.

Associação do alimento a outros (amigos, família), atividades


Influências externas (5%) comuns (por exemplo, ida ao cinema) ou raras (por exemplo,
feriados).

Quadro 4 - Estratégias utilizadas para relembrar o consumo alimentar / Fonte: adaptado de Chemin e Mura (2011).

Além da entrevista cognitiva, você poderá usar outra ferramenta para analisar o consumo alimentar, o
que é dado pela estimativa do tamanho das porções. Esse, talvez, seja o maior dos desafios na coleta
de dados dietéticos: descobrir, interpretar e desvendar a ingestão alimentar de maneira adequada. Sendo
assim, podem ser utilizados modelos de medidas ou de alimentos, alguns modelos tridimensionais e até
registros fotográficos. Com os avanços tecnológicos que existem na área, está cada vez mais fácil obter
os recursos ilustrativos. Para tanto, podem ser usados catálogos com figuras, preparações e modelos
de utensílios, a fim de facilitar a coleta de dados em medidas caseiras. Há, também, aplicativos. Com
eles, é possível acompanhar a alimentação em tempo real com o paciente por meio dos registros foto-
gráficos. A tecnologia está a nosso favor: temos uma imensidão de recursos que podem ser utilizados.
Basta escolher aquele que melhor se ajusta aos seus critérios.
Nesta unidade, percebemos que temos possibilidades para a realização de uma adequada avaliação
nutricional de um paciente. Você tem a missão de ajudar as pessoas a adotarem melhores hábitos ali-
mentares, de acordo com as necessidades e a realidade delas. Trata-se de um relacionamento baseado na
confiança e que impõe muitos desafios. O fato é que equilibrar a relação entre nutricionista e cliente pode
não ser nada fácil. Afinal, no acompanhamento em nutrição, estão envolvidos diferentes fatores físicos,
psicológicos, emocionais e financeiros que podem ser determinantes para o sucesso do atendimento.
Sempre ofereça um clima receptivo. Deixe o paciente à vontade. Procure entender o perfil do paciente,
tendo em vista a ampla variedade de perfis existentes. Não julgue a situação do paciente, pois muitos
se encontram em uma situação delicada, como anorexia, diabetes, hipertensão e, talvez, não teriam
chegado a esse ponto, se tivessem adotado outros hábitos. Trate o paciente com respeito e empatia.
É importante salientar que todos os métodos tradicionais para a obtenção de informações relativas à
história dietética do paciente se baseiam em uma informação relatada por ele mesmo, que pode ser pros-
pectivo ou retrospectivo e gerar informações qualitativas e quantitativas. Cabe a você a escolha do melhor
método perante à população/paciente a ser estudado, tendo em vista as características, o tamanho, a faixa
etária e o objetivo final. Gostou dos conhecimentos vistos até aqui? Garanto que teremos muito conteúdo de
qualidade para ser visto ao longo de nossas próximas unidades. Vamos caminhar juntos! Conto com você!

81
Caro(a) aluno(a), encerramos a nossa unidade. Contudo, antes, gostaria de convidá-lo a realizar uma
verificação crítica dos conhecimentos realizados até então. Sugiro que realize uma avaliação, uma
espécie de checklist sobre as questões que estão inseridas no mapa mental a seguir.

Revisão
retrospectiva Realidade como um todo

Nutrientes QFA
específicos

Inquéritos Análise da história Abordagens


alimentares alimentar

Visão geral dos


alimentos Reducionista
CONSUMO ALIMENTAR Realidade por
R24 hrs partes

Padrão de estilo de vida Abordagem a priori


Recordar quantidades
consumidas Escores
Registro

Nutrientes
específicos
Quantidade dos alimentos Informações sobre
preparo dos alimentos Análise de padrões
dietéticos Análise comportamental

Descrição da Imagem: trata-se de um mapa mental em formato de fluxograma. Ao centro, está o consumo alimentar. Dele,
saem três ações: abordagem, análise da história alimentar e padrão do estilo de vida. Cada um desses tópicos se divide em
subtópicos. Do padrão de estilo de vida, saem a abordagem a priori e uma caixa de texto em branco. Da a priori, saem os
escores e, dos escores, os nutrientes específicos; da caixa de texto em branco, sai a análise de padrões dietéticos e, dela, a
análise comportamental. Da abordagem, saem os tópicos: holística e a reducionista. Uma caixa de texto em branco sai do
subtópico da realidade como um todo e, da reducionista, a realidade por partes. Por fim, a análise da história alimentar possui
um subtópico dos inquéritos alimentares que se subdivide em questionário de frequência alimentar, recordatório 24 horas e
registro. O registro se subdivide em informações sobre o preparo dos alimentos e quantidade dos alimentos. A “Visão geral dos
alimentos” e “Recordar quantidades consumidas” se conectam ao “R24h” e o QFA se conecta a uma caixa de texto em branco.

82
1. Leia o trecho a seguir:

“A ciência moderna da nutrição se desenvolveu sobre os pilares reducionistas, o que foi de-
nominado nutricionismo. Por outro lado, este paradigma favoreceu a lógica da fortificação
de alimentos e da produção de ultraprocessados. Entretanto, tem se mostrado insuficiente
para lidar com os desafios do século XXI, muitos dos quais se inter-relacionam e apresentam
determinantes sociais comuns, como ocorre com as diferentes formas de má-nutrição. Um
novo paradigma se faz cada vez mais necessário, e o caminho do holismo, tem se mostrado
o mais promissor”.

NUNES-GALBES, N. M. O paradigma holístico da ciência da nutrição. Diálogos Socioambientais na Macro-


metrópole Paulista, v. 4, n. 10, p. 23-26, 2021.

Considerando as abordagens holística e reducionista, explique as principais diferenças entre


elas perante à avaliação do consumo alimentar de um paciente.

2. Leia o fragmento a seguir:

“O questionário de frequência alimentar (QFA) é composto por uma lista de alimentos e be-
bidas cuja frequência de consumo é perguntada ao indivíduo. Esse QFA pode se tornar mais
sofisticado, fornecendo também uma estimativa quantitativa do consumo alimentar, incluin-
do informações sobre a porção diária consumida ou, por aproximação, comparando-a com
uma porção alimentar de referência. A obtenção dessas informações pode ser facilitada pela
utilização isolada ou combinada de fotos ou modelos alimentares”.

HOLANDA, L. B.; BARROS FILHO, A. de A. Métodos aplicados em inquéritos alimentares. Revista Paulista de
Pediatria, v. 24, n. 1, 2006.

Considerando os seus conhecimentos sobre o QFA, como você o utilizaria? Como o descreve-
ria, já que é uma útil ferramenta de avaliação do consumo alimentar de um paciente? Quais
seriam as diferentes maneiras de questionar o paciente?

83
3. Leia o trecho a seguir:

“O recordatório 24 horas (R24h) é um dos métodos mais utilizados para estimar o consumo
alimentar de indivíduos e grupos populacionais. A qualidade da informação coletada por este
método depende da memória, cooperação e motivação do entrevistado, mas especialmente do
preparo e da atuação do entrevistador. Pode ser aplicado nos diversos segmentos socioculturais
da população e o nível de escolaridade do respondente pouco influi na qualidade do dado”.

FISBERG, R. M. et al. Inquéritos alimentares: métodos e bases científicas. São Paulo: Manole, 2005.

Considerando a avaliação do consumo alimentar pelo método do R24h, assinale a alternativa


correta.

a) O R24h tem um perfil de inquérito que causa sub-relato por parte dos pacientes, que indicam
menos alimentos consumidos em menores porções.
b) O R24h, devido à ampla aplicabilidade, permite um uso irrestrito em pacientes adultos e ado-
lescentes, salvo o grupo de idosos que podem apresentar lembrança limitada.
c) O R24h, diferentemente dos outros métodos, não reflete a ingestão usual ou as diferenças
entre a ingestão de dias de semana e finais de semana de indivíduos e grupos populacionais.
d) O R24h, em associação ao QFA, é capaz de estimar a ingestão média de nutrientes de grupos
populacionais. Ambos são úteis para a identificação de diferenças culturais perante à descri-
ção infinita de alimentos.
e) O R24h permite que o paciente forneça informações detalhadas sobre quando comeu/be-
beu; o que comeu/bebeu; como foi preparado o alimento/bebida; quanto comeu/bebeu. São
acrescidos os dados da frequência do relato.

84
3
Avaliação de Exames
Laboratoriais na
Nutrição
Dra. Lorena dos Santos Castro

Nesta unidade, você conhecerá as leis vigentes no Brasil que estão


envolvidas com a regulamentação da prática clínica do nutricionista
na prescrição de exames bioquímicos. Além disso, saberá como e
quais exames poderá solicitar. Por fim, entenderá a metodologia de
alguns exames e descobrirá os índices de referência deles.
UNICESUMAR

Olá, caro(a) estudante! Digamos que você atenda a uma paciente do sexo feminino, 40 anos, solteira,
trabalha como contadora e mora no estado de São Paulo. Durante o atendimento, a paciente se queixou
de fraqueza, palpitações, bradicardia, hipotermia, irregularidade menstrual e perda de peso ponderal de
9 kg nos últimos 5 meses (IMC= 11,8 kg/m²). A paciente relata uso abusivo de laxativos e diuréticos, e
realiza exercícios físicos em excesso. A partir dessas informações iniciais, como você conduziria a sua
consulta, tendo em vista a utilização de exames laboratoriais para te auxiliar no diagnóstico nutricional?
Você, como nutricionista, terá uma excelente ferramenta complementar para te auxiliar no diag-
nóstico nutricional. Os exames bioquímicos, além de mostrarem o perfil atual de um paciente, podem
ser um método para acompanhar a evolução dele. Sendo assim, saber fazer bom uso é fundamental.
No caso de nossa paciente, é possível observar que ela se encontra em quadro de desnutrição, já que
faz uso de métodos laxativos e diuréticos que acarretam em grande perda de nutrientes.
O trabalho da paciente também proporciona um grande nível de estresse, o que pode comprometer
o consumo alimentar. As queixas relatadas estão diretamente relacionadas ao quadro de desnutrição.
Portanto, ao realizar a avaliação nutricional da paciente, é importante solicitar exames bioquímicos.
Dessa forma, podem ser solicitados exames, como o hemograma, visando verificar uma possível anemia
a partir dos valores de hemoglobina e conhecer as taxas de transferrina, e o leucograma, com o objetivo
de constatar como está a imunidade da paciente. Para complementar, você pode analisar as dosagens

86
UNIDADE 3

de vitamina B12, vitamina D e ferritina. Existem outros exames que podem ser solicitados, mas, ini-
cialmente, analisaremos o estado nutricional da paciente a partir dos exames mencionados. Dominar
esse tema é de suma importância. Por isso, aprenderemos detalhadamente ao longo desta unidade.
Proponho a realização de um levantamento em livros e artigos científicos sobre os principais sin-
tomas e deficiências nutricionais correlacionadas. Com essa atividade, você poderá observar a relação
de diversas deficiências, os sintomas e os respectivos sistemas. A partir desse conhecimento, poderá
identificar com mais facilidade algumas queixas relatadas por seus futuros pacientes e saberá direcionar
de forma correta a prescrição de um exame bioquímico.
A partir da realização do levantamento, acredito que você tenha tido contato com as principais
carências nutricionais e delimitou os sistemas que são afetados. Ao longo de sua graduação, você
aprenderá especificamente cada caso. Observemos um exemplo: um determinado paciente apresenta
palidez cutânea, conjuntiva, dos lábios, da língua, palmas das mãos, dificuldade de deglutição e perda de
apetite. Esses podem ser sinais e sintomas que identificam uma anemia. Para tanto, realizar um pedido
de exame para identificar a carência é interessante. Em nossa unidade, você descobrirá os principais
exames que podem ser solicitados. Sugiro que anote em seu diário de bordo como foi a experiência
com essa atividade e quais dificuldades encontrou.

87
UNICESUMAR

Para que um paciente tenha uma alimentação saudável, o organismo dele necessita realizar uma in-
teração entre diversos processos gastrointestinais complexos, dentre eles, uma adequada mastigação
e salivação, associada à secreção de enzimas e de hormônios. Também é preciso fazer uma digestão
intraluminal dos nutrientes, que são absorvidos e liberados nas correntes sanguínea e linfática.
Em seguida, esses nutrientes serão encaminhados para o espaço intravenular, a fim de participar
de diversas vias metabólicas, tendo em vista a síntese, a degradação e a detoxificação de inúmeros
substratos. Processo complexo, não é?
Façamos uma reflexão: você acredita que, para que esses processos ocorram de maneira correta, é
preciso ter uma adequada regulação dos mecanismos citados? Acredito que a sua resposta foi afirmativa.
Você está correto(a)! É necessário garantir uma adequada função dos órgãos e sistemas, visto que, caso
ocorram insuficiências nesses órgãos e sistemas, pode haver uma inadequada oferta de nutrientes, o
que resultará em diversos comprometimentos, podendo causar até um quadro de desnutrição. Você se
recorda de quando discutimos os fatores que estão envolvidos no desenvolvimento da má-nutrição?
Como garantir que o organismo de um paciente esteja funcionando adequadamente? Como descobrir
o que há de errado, para que haja uma possível intervenção?
A resposta para as questões exibidas está em uma ferramenta muito importante no campo da nu-
trição. Ela é a solicitação de exames bioquímicos, uma ferramenta objetiva para a avaliação do estado
nutricional de indivíduos. Você sabia que podemos solicitar exames enquanto nutricionistas? Eles são de
suma importância para que possamos avaliar de forma eficaz o estado nutricional de um paciente e são
imprescindíveis ao longo de todo o acompanhamento dietoterápico. Nesse contexto, é necessário garantir
uma correta solicitação e interpretação de exames laboratoriais, a fim de detectar insuficiências orgânicas
e modificações nas concentrações de nutrientes e dos metabólitos (CALIXTO-LIMA; REIS, 2012).
É de conhecimento que a prática da nutrição clínica exige uma detalhada avaliação do estado nutricio-
nal de um paciente, incluindo a correta solicitação e interpretação de exames laboratoriais. Dessa forma,
é possível garantir um cuidado nutricional eficaz, uma intervenção individual, um adequado diagnóstico
e um acompanhamento nutricional. Tendo em vista que os exames precisam ser usados apenas para
acompanhamento, e não para diagnóstico, é de suma importância que você saiba interpretá-los.
Como solicitar os exames durante a prática clínica? Para que a sua solicitação seja aprovada, você
deve preparar um receituário composto pelos seguintes itens:

• O seu nome completo.


• O número do seu Conselho Regional de Nutrição.
• Os seus dados (telefone, endereço e e-mail).
• O nome completo do paciente.
• A lista de todos os exames.
• O carimbo.
• A assinatura

88
UNIDADE 3

Confira se todos os dados estão corretos. Caso contrário, o pedido não será aceito. Suponhamos que
todos os seus dados estão corretos e a sua solicitação foi enviada. No entanto, o plano de saúde não
quer aceitá-lo. Como proceder?
É importante conhecer os regulamentos do plano de saúde de cada paciente, assim como é conside-
rável que o seu paciente conheça os direitos dele em relação à solicitação de exames. Isso, porque, por
lei, o nutricionista está apto a solicitar exames laboratoriais e, via de regra, com cobertura de pagamento
pelos planos de saúde. Essa decisão assegura que todas as operadoras de planos de saúde devem cobrir
os exames necessários para um adequado acompanhamento nutricional.
Conheçamos as leis que estão envolvidas nesse tema. A solicitação de exames laboratoriais neces-
sários ao acompanhamento dietoterápico e atividade foi estabelecida pela Lei Federal n° 8.234, no Art.
4°, inciso VIII. “Atribuem-se, também, aos nutricionistas as seguintes atividades, desde que relacionadas
com alimentação e nutrição humanas: [...] solicitação de exames laboratoriais necessários ao acompa-
nhamento dietoterápico” (BRASIL, 1991, on-line).
Além disso, há a Resolução do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) n° 306/2003, que dis-
põe sobre critérios para a solicitação de exames laboratoriais (mas não lista os exames). Também há
a Resolução CFN n° 380/2005, que dispõe sobre a definição das áreas de atuação do nutricionista e
as atribuições. A área da nutrição clínica é definida como atividade complementar e há a exposição
da solicitação de exames laboratoriais necessários à avaliação nutricional, à prescrição dietética e à
evolução nutricional do cliente/paciente. Por fim, há a Resolução CFN n° 417/2008, que dispõe sobre
o procedimento nutricional dos nutricionistas.
Entretanto, a Lei Federal n° 9.656/1998, que dispõe sobre planos de seguros de assistência à saúde,
no Art. 12, facilita a oferta, a contratação e a vigência dos produtos definidos no plano-referência com
a exigência de que a cobertura de serviços de apoio diagnóstico, tratamento e demais procedimentos
ambulatoriais seja solicitada pelo médico assistente. É pertinente salientar que a exigência estabelecida
vale para todos os profissionais de saúde, inclusive, para o médico, que também depende da autorização
do médico auditor do plano de saúde, o qual autoriza, ou não, os procedimentos.
O Conselho Regional de Nutricionistas da 8° Região utilizou a Lei n° 8234, de 17 de setembro de 1991,
para mencionar que, quanto ao profissional nutricionista, a solicitação dos exames laboratoriais neces-
sários ao acompanhamento dietoterápico é um requisito essencial, inclusive, para a prescrição dietética.
Dessa forma, os exames integram a rotina das consultas nutricionais quando ainda não estão disponíveis
no prontuário e não são diagnóstico de tratamento ou procedimento, pois são ferramentas de ajuste die-
toterápico essenciais ao atendimento do paciente/cliente. Uma grande conquista para a nossa profissão!
A nota do CRN-8 ainda menciona que a solicitação de exames para diagnóstico é de uso privativo
do médico. A divergência estabelecida entre as empresas operadoras dos planos e seguros de assistência,
os prestadores de serviço (no caso o nutricionista) e o consumidor da assistência suplementar reside
no fato de que as empresas não querem pagar os exames laboratoriais necessários ao bom atendimento
do consumidor. No caso das empresas de autogestão dos planos de saúde, elas já cobrem o pagamento
desses exames à longa data. Portanto, o nutricionista deve se apropriar das características de operacio-
nalização de cada empresa. Atente-se às regras pertinentes a cada plano, sempre que possível.

89
UNICESUMAR

O conselho ainda recomenda aos nutricionistas que, no início do atendimento nutricional, escla-
reçam aos pacientes quanto ao seguimento, considerando as diretrizes de utilização para o número
de consultas estabelecidas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) como cobertura obri-
gatória dos planos de saúde com a patologia ou a situação nutricional do indivíduo. Também cabe ao
paciente exercer à cidadania, procurando a garantia dos direitos em conjunto aos órgãos de defesa do
consumidor, ao Ministério Público (promotores de justiça), nas representações regionais da Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS) ou delimitando defensores para judicialização.
O Conselho Regional de Nutricionistas da 3° Região, utilizando a Lei Federal nº 8.234/1991,
no Art. 4º, inciso VIII, a Resolução CFN nº 306/2003, a Resolução CFN nº 600/2018 e a Resolução
CFN nº 417/2008, afirma que a Justiça Federal julgou procedente o pedido do Conselho Federal
de Nutrição feito na Ação Civil Pública, para que a ANS atualize o Rol de Procedimentos e Eventos
em Saúde, a fim de que conste que o nutricionista pode solicitar exames laboratoriais necessários
ao acompanhamento dietoterápico, com a consequente cobertura de pagamento pelos planos de
saúde. Essa decisão assegura que todas as operadoras de planos de saúde devem cobrir os exames
laboratoriais necessários ao acompanhamento dietoterápico prescrito por nutricionistas. Essa deci-
são, contudo, ainda está pendente de julgamento final. Além disso, é defendido que cabe ao paciente
exercer à cidadania, procurando a garantia dos direitos dele.
Em contrapartida, o Conselho Regional de Nutrição da 6° Região relata que a publicação da Lei n°
11.935, de 4 de maio de 2021, estabelece a obrigatoriedade da aceitação, por parte de planos de saúde,
da prescrição de exames laboratoriais por nutricionistas. O pedido dos exames laboratoriais é impor-
tante para embasar a avaliação nutricional e o acompanhamento do paciente. Todo o embasamento
técnico para a homologação da lei foi feito pelo CRN- 6. A lei é de autoria de um deputado estadual
da Paraíba e, de acordo com o dispositivo, as operadoras de planos de saúde são obrigadas a cobrir os
exames laboratoriais necessários ao acompanhamento dietoterápico prescrito por nutricionistas, com
justificativa técnica fundamentada.
O que podemos observar com todas as regulamentações expostas é que cada CRN está lutando para
que os profissionais consigam conquistar direitos e obter o melhor para os atendimentos. Digamos
que você prescreveu um exame e chegou o momento de analisá-lo: como você poderá realizar essa
atividade? Recomenda-se que você conheça as limitações pertinentes a cada exame prescrito. Observe
cada interação que possa ocorrer, tanto alimentar quanto medicamentosa, até as interações entre os
próprios exames. Você tem a responsabilidade de interpretar todos os resultados. Assim, será necessário
um conhecimento prévio sobre o assunto. Sempre tenha em mente: o diagnóstico deve ser feito pelo
médico. O nosso trabalho é apenas avaliar os exames aliado ao diagnóstico nutricional!
A partir das legislações sobre o tema, segue uma lista de exames que você poderá solicitar:

• Avaliação nutricional: hemograma completo, proteínas totais, proteína ligadora do retinol,


Índice de Creatina-Altura (ICA) e anemia: ferro, transferrina, ferritina, capacidade total de
ligação do ferro.
• Doenças cardiovasculares: triglicérides, colesterol total, HDL, LDL, VLDL, apolipoproteína
A e apolipoproteína B.

90
UNIDADE 3

• Tireoide: TSH, T4 (total e livre), T3 e Globulina Ligadora de Tiroxina (TGB).


• Doença endócrina: glicemia, teste oral de tolerância à glicose, insulina, peptídeo C e hemo-
globina glicada.
• Doenças renais: gasometria, ureia, creatinina, sódio, cálcio (total e iônico), potássio sérico,
fósforo sérico, magnésio sérico, ácido úrico, citrato, proteína e filtração glomerular.
• Doenças hepáticas: Alanina Aminotransferase (ALT), Aspartato aminotransferase (AST),
Gama GT (GGT) e bilirrubina.
• Cirurgia bariátrica e desordens: ácido fólico, cálcio total, cálcio iônico, ferro, zinco, sódio,
fósforo, selênio, cloro e vitaminas B12, A, C, E, K, B6, B2 e D3.
• Outros exames: Hormônio Adrenocorticotrófico (ACTH), Hormônio Antidiurético (ADH),
calcitonina, cortisol, Hormônio Folículo Estimulante (FSH), Hormônio do Crescimento (GH),
progesterona, prolactina, testosterona, amilase amônia, beta HCG, ceruloplasmina, frutosamina,
gastrina, leptina, oxalato e tempo de protrombina.

Convido você a ouvir o podcast desta unidade. Nele, complementaremos


o nosso conteúdo explicando a importância da avaliação da hemoglobina
glicada e a aplicabilidade dela na nutrição clínica. A hemoglobina glicada é
considerada o exame laboratorial de rotina aplicado a todos os pacientes
diagnosticados com diabetes mellitus, fundamental para documentar o
controle glicêmico. Dê o play e faça parte da nossa sala de bate papo .

Para conhecimento, a avaliação laboratorial é um processo muito controlado e envolve um sistema de


comparação de amostras-controle com algumas substâncias predeterminadas ou de concentrações
de alíquotas com amostra do paciente. Ao final, há um resultado que será comparado aos valores pré-
-determinados, haja vista que os dados laboratoriais são os únicos dados objetivos utilizados em uma
avaliação nutricional que são controlados. Os testes nutricionais em laboratório são essenciais para
a avaliação da deficiência de nutrientes, estimando a disponibilidade deles em líquidos e em tecidos
biológicos (MAHAN; ESCOTT-STUMP; RAYMOND, 2012).
Normalmente, a amostra avaliada reflete o conteúdo corporal total de nutrientes que será avaliado.
A seguir, conheceremos as amostras mais comuns para a análise de nutrientes, de acordo com Mahan,
Escott- Stump e Raymond (2012):

• Sangue total: contém glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas.


• Soro: corresponde a um líquido com remoção do coágulo e das células sanguíneas.
• Plasma: líquido composto por água, proteínas sanguíneas, eletrólitos e fatores de coagulação.
• Células sanguíneas: visa medir o conteúdo celular de algum composto.

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UNICESUMAR

• Eritrócitos: visa identificar os glóbulos vermelhos.


• Leucócitos: visa identificar os glóbulos brancos e as frações de leucócitos.
• Manchas de sangue: composto pelo sangue total seco coletado a partir da perfusão do dedo
ou do calcanhar.
• Urina: visa observar os metabólitos secretados.
• Fezes: importante na análise nutricional quando os nutrientes não são absorvidos e estão pre-
sentes no material fecal.

Não poderemos conhecer detalhadamente cada um dos exames. Portanto, nos aprofundaremos nos
principais exames que temos conhecimento. Um dos exames mais solicitados na prática clínica, prin-
cipalmente, na médica, é o hemograma, também conhecido como “exame de sangue”. Para compreen-
dê-lo, é preciso conhecer alguns conceitos de hematologia, ou seja, é necessário conhecer um pouco
mais as células sanguíneas. Vamos lá!
Nosso sangue periférico é formado por diferentes tipos celulares, que são compostos pelos gló-
bulos vermelhos, eritrócitos ou hemácias; glóbulos brancos ou leucócitos; plaquetas ou trombócitos.
Logo, a partir do hemograma e do coagulograma, é possível analisar todas as linhagens celulares
citadas, tanto em número quanto em funcionalidade (CALIXTO-LIMA; REIS, 2012). Inseridos no
hemograma, encontram-se:

• Contagem de hemácias.
• Dosagem de hemoglobina.
• Determinação de hematócrito.
• Índices hematimétricos.
• Leucometria global e específica.
• Exame microscópico do esfregaço de sangue corado.

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UNIDADE 3

Vamos conhecer cada um? Já afirmamos que o coagulograma faz parte do hemograma. Você sabe
o que esse exame representa? Ele compreende os exames de tempo de sangramento, coagulação, de
protrombina, tromboplastina parcial e contagem de plaquetas. O eritrograma, por sua vez, é o respon-
sável por avaliar o eritrônio, ou seja, envolve de 25 a 30 trilhões de eritrócitos circulantes e até o tecido
eritroblástico da medula óssea. Qual seria a função do eritrônio? Ele é responsável pelo transporte de
oxigênio do pulmão para os tecidos, a partir do conteúdo hemoglobínico da massa eritróide. Logo, caso
ocorra uma patologia, ela será essencialmente quantitativa. Se, porventura, um eritrônio trabalhar de
maneira insuficiente, acarretará em uma anemia, a partir da diminuição da hemoglobina sanguínea,
o que por, muitas vezes, pode vir acompanhada por uma baixa contagem de eritrócitos. Portanto, o
eritrograma pode ser útil para quantificar e ajudar no diagnóstico de quadros de anemia e poliglobu-
linas (alteração na parte circulante do eritrônio) (FAILACE; FERNANDES, 2009).
O hemograma é conhecido como a semiologia das células do sangue, ou seja, é o primeiro passo
que muitos profissionais da saúde utilizam para examinar um paciente, fazendo parte de praticamente
todas as revisões de saúde. O uso dele é muito difundido, pois, além de ser parte integrante da triagem
de saúde, auxilia no diagnóstico de doenças infecciosas, emergências médicas, doenças crônicas, pré-
-cirúrgicos e no acompanhamento de pacientes que estão em quimioterapia e radioterapia, ou seja, o
hemograma se faz presente em diversas patologias (FAILACE; FERNANDES, 2009).
Sobre as células envoltas, encontram-se os glóbulos vermelhos, conhecidos como eritrócitos ou
hemácias. Eles têm formato bicôncavo e anucleados e um centro mais profundo em relação às bordas.
Têm, como função, auxiliar no transporte de gases. O formato bicôncavo gera uma maior proximidade
da membrana da célula à hemoglobina. O que seria a hemoglobina? Ela é considerada uma proteína
que gera cor vermelha nos eritrócitos e carrega oxigênio por todo organismo. Portanto, a cor vermelha
de nosso sangue é proveniente da hemoglobina.

93
UNICESUMAR

Os glóbulos brancos, por sua vez, são conhecidos


como leucócitos e têm, como função, a proteção do
organismo contra diversas patologias. Os leucóci-
tos estão subdivididos em algumas classes, como os
granulócitos (neutrófilos, basófilos e eosinófilos) e
os agranulócitos (linfócitos e monócitos). Todos são
fundamentais o para nosso sistema imunológico. Por
fim, as plaquetas podem ser consideradas fragmentos
do citoplasma, que é o responsável pelo bloqueio de
diversas lesões em vasos sanguíneos. Elas atuam no
bloqueio da formação de coágulos de sangue. Con-
fira, na Figura 1, uma lista dos elementos básicos do
hemograma com alguns comentários explicativos.
Já conhecemos um pouco mais cada célula. Agora,
como vamos avaliá-las? Para avaliar as células sanguí-
neas de um paciente, você solicitará o hemograma.
Nele, serão estudadas as células vermelhas do sangue
por meio do eritrograma, em que estarão inclusos os
parâmetros gerais relacionados aos eritrócitos e a do-
sagem de hemoglobina. Mais detalhadamente, temos:

• Contagem global de eritrócitos.


• Hematócrito (HTC): representa a relação em
% entre os eritrócitos e o plasma.
• Índices hematimétricos.
• Volume Corpuscular Médio (VCM): re-
presenta o volume médio da população
de eritrócitos,
• Concentração de Hemoglobina Corpus-
cular Média (CHCM): representa a média
da concentração interna de hemoglobina
em uma dada população de eritrócitos.
• Amplitude de Distribuição dos Eritrócitos
(RDW): representa a determinação quan-
titativa da variação dos eritrócitos.

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UNIDADE 3

Glóbulos Apresentam-se menor em pacientes com hemorragias,


vermelhos hemólise, aberrações genéticas, falência da medula óssea ou
doença renal e naquelas que estão fazendo uso de determina-
dos medicamentos.

Hemoglobina Apresenta-se menor em pacientes com hemorragia, hemólise,


aberrações genéticas, falência de medula óssea ou doença
renal e naqueles que estão fazendo uso de determinados
medicamentos.

VCM Apresenta-se reduzido na presença de deficiência de ferro,


traço talassêmico e insuficiência renal crônica e anemia.
Apresenta-se elevado na presença de deficiência vitamina B12
e defeitos na síntese de DNA.

CHCM Reduzida nos pacientes com deficiência de ferro e traço


talassêmico; não é sensível às deficiências marginais de
nutrientes.

Glóbulos Elevados (leucocitose) nos pacientes com infecção, neoplasia e


brancos estresse, reduzido (leucopenia) nos pacientes com doença
pulmonar crônica, doenças autoimunes ou infecções graves e
naqueles que estão passando por quimioterapia ou radioterapia.

Figura 1 - Alguns componentes do hemograma e o significado deles / Fonte: adaptada de Mahan, Escott-Stump e Raymond (2012).

Descrição da Imagem: há algumas caixas de texto em formato oval que representam os componentes do hemograma. Todos são
ligados a linhas retas que conectam a caixas de texto retangulares que explicam o significado de cada componente. A primeira caixa
de texto oval, com cor verde, se refere aos glóbulos vermelhos e o significado menciona: “Apresentam-se maior em pacientes com
hemorragias, hemólise, aberrações genéticas, falência da medula óssea ou doença renal e naqueles que estão fazendo uso de determi-
nados medicamentos”. Embaixo, a segunda caixa de texto oval se refere à hemoglobina. Ela tem cor laranja e se conecta por meio de
uma linha reta a uma caixa de texto retangular com a nota: “Apresenta-se maior em pacientes com hemorragia, hemólise, aberrações
genéticas, falência da medula óssea ou doença renal e naqueles que estão fazendo uso de determinados medicamentos”. Embaixo, há
outra caixa de texto sobre o VCM. Ela tem coloração lilás e se conecta a uma caixa de texto retangular por meio de uma linha reta que
tem o seguinte conteúdo: “Apresenta-se reduzido na presença de deficiência de ferro, traço talassêmico e insuficiência renal crônica
e anemia. Apresenta- se elevado na presença de deficiência vitamina B12 e defeitos na síntese de DNA”. Embaixo, há outra caixa de
texto oval na cor rosa. Ela se refere ao CHCM e se conecta por meio de uma linha reta a uma caixa de texto retangular com o seguinte
conteúdo: “Reduzida nos pacientes com deficiência de ferro e traço talassêmico; não é sensível às deficiências marginais de nutrientes”.
Por fim, embaixo, há a última caixa de texto oval, na cor amarelo. Ela se conecta por meio de uma linha reta à outra caixa retangular com
o seguinte conteúdo: “Elevados (leucocitose) nos pacientes com infecção, neoplasia e estresse reduzido (leucopenia) nos pacientes com
doença pulmonar crônica, doenças autoimunes ou infecções graves e naqueles que estão passando por quimioterapia ou radioterapia”.

Dentro do hemograma, há o leucograma, responsável pelo estudo dos glóbulos brancos, englobando
a contagem de leucócitos, linfócitos, monócitos, eosinófilos, basófilos e neutrófilos. Para finalizar, o
hemograma também abrange o estudo das plaquetas. Nelas, são exploradas a quantidade e o tama-
nho, observando:

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UNICESUMAR

• Volume Plaquetário Médio (VPM).


• Plaquetócrito (PCT): representa o volume total de plaquetas em determinado volume de sangue.
• Amplitude de Variação do Tamanho das Plaquetas (PDW): representa o tamanho das plaquetas
que estão uniformes.
• Percentual de Plaquetas Grandes (PLC- R): representa a porcentagem de plaquetas com volume
acima de 12 fL.

Temos uma infinidade de exames presentes no hemograma. Todavia, como eles são apresentados em
um exame? Observe o Quadro 1.

Hemograma:

Eritrograma:

Eritrócitos* Milhões/uL

Hemoglobina g/dL

Hematócrito %

VCM fL

HCM pg

CHCM % (ou g/dL)

RDW %

Leucograma:

Leucócitos /uL

Neutrófilos % /uL

Linfócitos % /uL

Monócitos % /uL

Eosinófilos % /uL

Basófilos % /uL

Plaquetas /uL

VPM fL

Quadro 1 - Um dos layouts mais recomendados de hemograma / Fonte: adaptado de Failace e Fernandes (2009).

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UNIDADE 3

Depois de entendermos o layout, vamos conhecer os valores de referência dele? Um estudo realizado
pela Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) descreveu os valores de referência para exames laboratoriais
de hemograma da população brasileira, diferenciando-os por sexo, idade e cor da pele. Esse estudo é
de suma importância, pois os valores de referência são adaptados para cada perfil, tornando-se mais
individual, o que auxilia os profissionais da saúde na interpretação dos resultados de maneira eficiente
e proporciona um melhor atendimento, cuidado, diagnóstico e tratamento de doenças. Entretanto,
por vezes, as origens desses valores não são exibidas pelos laboratórios e são utilizados sem identificar
a população a qual se destina. Então, os resultados sempre foram analisados de forma errada? Não.
Contudo, identificar os resultados perante a individualidade de cada paciente pode ser um diferencial.
Associado a isso, o estudo infere que os valores de referência, por vezes, podem ser influenciados
por diversos fatores. Esse fato deve ser levado em consideração, incluindo os fatores individuais,
populacionais e ecológicos, além da idade, sexo, raça, nível socioeconômico, fatores de risco, estado
fisiológico e exposição à agentes externos. Outro aspecto importante se deve ao fato de os valores de
referência utilizados no Brasil serem de outros países. Sendo assim, seguem os valores de referência
dos marcadores hematológicos da série vermelha segundo sexo, de acordo com a PNS inseridos na
Tabela 1 (ROSENFELD et al., 2019).

Masculino Feminino

Limite Limite Limite Limite


Exames Média Média
Inferior Superior Inferior Superior

Glóbulos vermelhos
5,0 4,3 5,8 4,5 3,9 5,1
(milhões/mm3)

Hemoglobina
14,9 13,0 16,9 13,2 11,5 14,9
(g/dL)

Hematócrito (%) 45,8 39,7 52,0 40,7 35,3 46,1

Volume corpuscular
91,2 81,8 100,6 90,6 81,0 100,2
médio (fL)

Hemoglobina
corpuscular média 29,8 26,9 32,6 29,4 26,3 32,4
(pg)

Concentração
de hemoglobina
32,6 30,6 34,6 32,4 30,5 34,3
corpuscular média
(g/dL)

Amplitude de
distribuição dos 13,6 12,0 15,3 13,7 11,9 15,5
eritrócitos (RDW) (%)

Tabela 1 - Valores de referência de marcadores hematológicos da série vermelha segundo sexo


Fonte: adaptada de Rosenfeld et al. (2019).

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UNICESUMAR

Como método comparativo, temos os valores hematológicos de referência para adultos considerando
o sexo, de acordo com Bain, Battes e Laffan (2017). Veja a Tabela 2.

Homens Mulheres

Hemácias x1012/L 5,00 ± 0,5 4,3 ± 0,5

Hemoglobina g/dL 15,0 ± 2,0 13,5 ± 1,5

Hematócrito (%) 45 ± 5 41 ± 5

Leucócitos x109 /L 7,0 ± 3,0

VGM fL 92 ± 9

HGM pg 29,5 ± 2,5

CHGM g/dL 33 ± 1,5

RDW (%) 12,8 ± 1,2

Plaquetas x 109/L 150 - 400

Tabela 2 - Valores hematológicos de referência em adultos / Fonte: adaptada de Bain, Battes e Laffan (2017).

Assim como pudemos observar, existem diferenças entre ambas as referências, porém não há tantas
divergências. De modo mais específico, os parâmetros hematológicos que são mais recomendados
na avaliação do estado nutricional de um paciente são o hematócrito e a hemoglobina. Referente ao
aspecto metabólico, a hemoglobina é uma proteína que tem lento metabolismo, portanto, a dimi-
nuição dela ocorre mais lentamente durante uma depleção proteica. O uso da hemoglobina, mesmo
sendo sensível, tem pouca especificidade para desnutrição. O hematócrito, por sua vez, está voltado
à verificação de anemias, visto que o valor dele pode estar reduzido nessas condições. Pensando em
um quadro de classificação da desnutrição, encontram-se os valores apresentados nas tabelas 3 e 4
(SAMPAIO et al., 2012).

Desnutrição
Desnutrição Leve Desnutrição Grave
Moderada

Hemoglobina (g/100 mL)

Homens > 12,0 mg/dl 12,0-10 mg/dl <10,0 mg/dl

Mulheres > 10,0 mg/dl 10,0- 8 mg/dl <8,0 mg/dl

Tabela 3 - Classificação da desnutrição de acordo com os valores de hemoglobina


Fonte: adaptada de Sauberlich, Skala e Dowdy (1974).

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UNIDADE 3

Desnutrição
Desnutrição Leve Desnutrição Grave
Moderada

Hematócrito (%)

Homens >36 36-31 <310

Mulheres >31 31-24 <24

Tabela 4 - Classificação da desnutrição de acordo com valores de hematócrito


Fonte: adaptada de Sauberlich, Skala e Dowdy (1974).

Complementando a lista de exames, podemos utilizar os indicadores proteicos viscerais (plasmáti-


cos). É importante observar esse parâmetro, uma vez que, em situações em que o paciente se encontra
em uma restrição alimentar prolongada e/ou em situações de injúria, pode ocorrer um comprometi-
mento na integridade de alguns sistemas viscerais. Sendo assim, determinados tecidos podem sofrer
alterações devido ao acometimento de patologias, como a desnutrição. Desse modo, a dosagem de
proteínas sintetizadas por tecidos, como o fígado, é de suma importância, assim como a associação
dela a outros parâmetros, visando avaliar o comprometimento dos órgãos e garantir um adequado
diagnóstico nutricional (SAMPAIO et al., 2012). Quais exames estão envolvidos nesses indicadores?
Um dos exames envoltos na análise das proteínas viscerais é o das proteínas totais. Nele, há
a soma de todas as proteínas presentes no plasma. Dentre as mais importantes, estão: albumina,
transferrina, pré-albumina e proteína transportadora do retinol, sendo de suma importância como
marcadores do estado nutricional proteico. Aliás, o exame é considerado confiável, visto que a síntese
das proteínas hepáticas depende de aminoácidos disponíveis. Logo, um paciente com desnutrição
se encontrará com a deficiência. Esse método carrega outra vantagem, considerando a comparação
dele com outros métodos de avaliação da alteração do estado proteico-calórico: a mensuração é
mais precisa, rápida e barata (SAMPAIO et al., 2012).
Agora, conheceremos uma das proteínas presentes no plasma, a albumina. Ela é considerada uma
das proteínas circulantes no plasma e nos líquidos extracelulares com maior abundância. A função dela
reside no transporte e na ligação de inúmeras substâncias. Ela também é a responsável pela manutenção
da pressão coloidosmótica do plasma, visando adequada distribuição da água nos compartimentos
corporais. Na Figura 2, há a representação de alguns princípios relacionados à avaliação da albumina
sérica. Ao avaliar as taxas de albumina, é necessário cuidado, pois ela tem baixa sensibilidade para
avaliar a desnutrição aguda, porque possui meia vida longa (18 a 20 dias). Logo, a concentração de
albumina plasmática se eleva nos pacientes que estão em recuperação de um estresse metabólico e/ou
desnutrição energético- proteica (KAMIMURA et al., 2002). O uso dela como indicador nutricional
pode apresentar algumas limitações, incluindo:

99
UNICESUMAR

• Situações de estresse metabólico (trauma, sepse, queimaduras, infecções/inflamações).


• Edema.
• Má absorção intestinal.
• Doenças hepáticas.
• Síndrome nefrótica.
• Insuficiência renal crônica.
• Insuficiência cardíaca congestiva.
• Hiper-hidratação.
• Câncer.
• Eclampsia.
• Idosos.
• Carência de zinco.

Transporta os principais Representa 60% das proteínas


componentes do sangue séricas totais
Mantem a pressão
coloidosmótica do plasma

Hormônios, enzimas,
medicamentos, minerais, ALBUMINA
íons, ácidos graxos,
aminoácidos e metabólitos
Baixas concentrações de
albumina podem formar um
edema

Valores de albumina não refletem


a ingestão atual de proteínas
Casos de hipoalbuminemia pode ocorrer
por problemas renais, alterações
intestinais, desnutrição e inflamações

Figura 2 - Representação dos princípios relacionados à albumina sérica / Fonte: adaptada de Mahan, Escott-Stump e Raymond (2012).

Descrição da Imagem: trata-se de um mapa mental. No centro, há uma caixa de texto retangular na cor verde-água que se refere à
albumina. Dessa caixa de texto, saem diversas caixas na cor verde-claro. A primeira menciona que a albumina representa 60% das
proteínas séricas totais. A segunda sustenta que ela mantém a pressão coloidosmótica do plasma. A terceira defende que, em baixas
concentrações de albumina, é possível formar um edema. A quarta afirma que casos de hipoalbuminemia podem ocorrer por problemas
renais, alterações intestinais, desnutrição e inflamação. Já a quinta menciona que os valores de albumina não refletem a ingestão atual
de proteínas. Por fim, a sexta expressa que a albumina transporta os principais componentes do sangue, subdividindo-se em outra caixa
de texto verde-claro, a qual se refere aos hormônios, enzimas, medicamentos, minerais, íons, ácidos graxos, aminoácidos e metabólitos.

Quais são os valores de referência? Observe a Tabela 5.

100
UNIDADE 3

Normal >3,5 g/dl

Depleção leve 3,0 a 3,5 g/dl

Depleção moderada 2,4 a 2,9 g/dl

Depleção grave <2,4 g/dl

Tabela 5 - Valores de referência para a albumina sérica Fonte: adaptada de Blackburn e Thornton (1979).

Outro indicador proteico visceral plasmático é a transferrina, que corresponde a uma globulina
transportadora de ferro sérico no plasma. Ela tem meia-vida mais curta que a albumina, porém ainda
não corresponde de forma rápida em situações de desnutrição. Além disso, é um pouco mais útil que
tal como marcador do estado proteico-calórico, mas não é um índice de avaliação ideal quando a
anemia por deficiência de ferro e a desnutrição energética-proteica estão presentes. Avalie os valores
de referência na Tabela 6.

Normal 200 a 400 mg/dl

Depleção leve 150 a 200 mg/ dl

Depleção moderada 100 a 150 mg/dl

Depleção grave < 100 mg/dl

Tabela 6 - Valores de referência para transferrina / Fonte: adaptada de Lima et al. (2001).

Também podemos contar com a proteína transportadora do retinol, que tem, como função, trans-
portar a vitamina A (retinol) no plasma. Logo, a meia-vida dela é curta e pode ser a mais sensível
perante às mudanças nutricionais, se comparada à pré-albumina, à transferrina e à albumina. Observe
os valores de referência na Tabela 7.

Normal 3 a 5 mEq/dl

Depleção <3 mEq/dl

Tabela 7 - Valores de referência para a proteína transportadora do retinol / Fonte: adaptada de Rosa et al. (2008).

Para um melhor entendimento, é preciso saber que as proteínas plasmáticas têm forte correlação com
o estado nutricional e os quadros de inflamação que um paciente pode apresentar. Diante disso, em
situações de estresse metabólico, como trauma, sepse, determinadas cirurgias, quadros de queimadura,
infecções e inflamações, pode haver a liberação de citocinas, interleucinas e fator de necrose tumoral. O
que isso significa? Eles reorientam a síntese hepática de proteínas plasmáticas, o que, consequentemente,
pode acarretar em um aumento da degradação de proteínas musculares, visto a elevada demanda de
energia durante uma resposta inflamatória.

101
UNICESUMAR

Por outro lado, a síntese hepática de algumas proteínas plasmáticas tende a diminuir durante uma
resposta inflamatória, como a albumina, a transferrina, a pré-albumina e a proteína transportadora do
retinol. Desse modo, as proteínas são chamadas de proteínas negativas de fase aguda. Contudo, há um
aumento de outras proteínas da fase aguda no fígado, como a famosa proteína C reativa. Já conhece?
Os valores normais da proteína C reativa devem estar em < 0,9 mg/dl e estão relacionados ao grau e
à intensidade da resposta metabólica. Portanto, quanto maior for a injúria que um paciente apresentar,
maiores serão os valores apresentados perante à resposta metabólica. Caso o paciente apresente valores
elevados de proteína C reativa ainda mais persistente, é um indicativo de que determinada resposta
metabólica está descontrolada, podendo estar relacionada à morbimortalidade de pacientes. Ao final
da fase aguda de uma inflamação, os valores retornam ao normal de forma espontânea. Portanto, é con-
siderada útil para monitorar reações de estresse e realizar intervenções nutricionais de forma pontual.
Agora, entenderemos o estado nutricional e a avaliação da competência imunológica. Ao avaliar o
estado nutricional de um paciente, é importante considerar que ele está relacionado à resposta imu-
nológica do indivíduo. Entretanto, essa correlação pode ser bem complexa, pois a carência de alguns
nutrientes específicos (aminoácidos, vitaminas, zinco, ferro, entre outros) pode vir acompanhada de
alterações no sistema imunológico. O principal teste imunológico usado é a Contagem Total de
Linfócitos (CTL), que mede as reservas imunológicas momentâneas. Trata-se de um bom indicativo
para as condições dos mecanismos de defesa celular do organismo e é uma maneira indireta de avaliar
a capacidade dos sistemas imune humoral e celular. Como calcular?
A CTL pode ser calculada a partir do leucograma, utilizando o percentual de linfócitos e contagem
de leucócitos. Verifique, na Tabela 8, a interpretação dos valores.

CTL= % linfócitos x leucócitos/ 100

Depleção leve 1.200 a 2.000/ mm3

Depleção moderada 800 a 1.199/ mm3

Depleção grave <800/ mm3

Tabela 8 - Interpretação dos valores de Contagem Total de Linfócitos / Fonte: adaptada de Blackburn e Thornton (1979).

Você percebeu que temos um grande número de exames para realizar um adequado acompanhamento
nutricional? Continuemos os nossos estudos! Também podemos avaliar um paciente por meio do
Balanço Nitrogenado (BN), que permite avaliar o grau de equilíbrio nitrogenado a partir de uma
boa verificação da eficácia nutricional. No entanto, ele não é um indicador do estado nutricional. O
uso dele tem boa aplicabilidade para monitorar a ingestão dos pacientes com nutrição parenteral ou
sonda enteral, além dos pacientes que recebem suporte nutricional de curta duração.
Como realizar o cálculo desse balanço? Aproximadamente 16% da massa proteica é nitrogênio e
pode ocorrer uma perda pelo suor, fezes, somado o nitrogênio não proteico de aproximadamente 4g/dia.
São dispostas as tabelas 9 e 10, que nos auxiliam na interpretação e na classificação dos valores do BN.

102
UNIDADE 3

BN= Nitrogênio ingerido – Nitrogênio excretado

Quadro 2 - Cálculo do balanço nitrogenado / Fonte: adaptado de Oliveira (2007)

Sendo que:
Nitrogênio ingerido= Proteína dieta (g)/ 6,25
Nitrogênio excretado= Concentração de nitrogênio uréico urinário (g/dia) + 4 g (fecal + suor +
N2 não proteico)

Classificação Valores de Balanço Nitrogenado

Normal 0 ou +

Depleção leve -5 a -10

Depleção Moderada -10 a -15

Depleção Grave >-15 (ex: sepse)

Tabela 9 - Interpretação dos valores do balanço nitrogenado / Fonte: adaptada de Sampaio et al. (2012).

BN negativo Ingestão < Excreção Catabolismo

BN positivo Ingestão > Excreção Anabolismo

BN equilíbrio Ingestão = Excreção --------

Tabela 10 - Classificação do balanço nitrogenado / Fonte: adaptada de Sampaio et al. (2012).

Entretanto, o balanço nitrogenado tem limitações de uso, assim como podemos visualizar no Quadro 3.

Dieta

Análises: estado de hidratação; doenças renais; perdas anormais de nitrogênio em decorrência de


diarréia, queimaduras extensas, fístulas gastrointestinais etc.

Imprecisão da coleta das amostras, como perda de urina, erros nos tempos de coleta e coleta de
fezes incompleta.

Dificuldade em estimar a ingestão de proteínas, principalmente daqueles indivíduos que consomem


dieta via oral. Estimativa inadequada da ingestão e perdas de nitrogênio.

Quadro 3 - Limitações do uso do balanço nutricional como marcador nutricional / Fonte: adaptado de Sampaio et al. (2012).

103
UNICESUMAR

Agora, avaliaremos um dos exames mais conhecidos e pedidos pelos profissionais de saúde, o qual
visa descobrir o estado nutricional e os lipídeos corporais. Analisar o perfil lipídico de um paciente é
explorar uma combinação de testes laboratoriais sanguíneos, o que inclui o colesterol total, as lipopro-
teínas de alta densidade (HDL), as lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e os triglicerídeos. Apesar
de o exame ser usado para estimar o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, analisar
o perfil lipídico pode dar abertura para o estudo de uma associação à desnutrição.
Exploremos o colesterol total e as frações dele. Ao realizar o exame dos níveis plasmáticos, é possível
ter o reflexo da ingestão, da absorção da alimentação, de uma possível síntese endógena e até da capaci-
dade de excreção. Um ponto especial se deve aos idosos, visto que o exame vem sendo usado como um
método de prognóstico, ou seja, reflete uma relação com o aumento da mortalidade e da permanência
hospitalar. Os teores de colesterol estão relacionados à desnutrição, mas a redução do colesterol sérico
pode se manifestar tardiamente, sendo uma limitação do uso para uma avaliação nutricional. Na Tabela
11, há a interpretação dos valores de colesterol total, segundo a faixa etária (SAMPAIO et al., 2012).

O risco de desenvolver uma doença cardiovascular pode estar mais relacionado ao número de par-
tículas de lipoproteínas aterogênicas no soro do que ao volume total de colesterol. As lipoproteínas
séricas e as concentrações de colesterol implicam diretamente no desenvolvimento da aterosclerose
e são afetadas por fatores modificáveis, como a dieta.

Pontos de Corte Menos de 20 anos (mg/dl) Acima de 20 anos (mg/dl)

Elevado Acima de 200 Acima de 240

Limítrofe 170 a 199 200 a 239

Desejável Inferior a 170 Inferior a 200

Baixos (indicadores de
- Abaixo de 150
desnutrição)

Tabela 11 - Interpretação dos valores de colesterol total, segundo a faixa etária / Fonte: adaptada de Kamimura et al. (2002).

Entretanto, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) alterou, em 2017, os índices de colesterol


total, visando diminuir alguns parâmetros para aqueles pacientes que estão em risco cardíaco. Agora,
os valores desejáveis são abaixo de 190 mg/dl.

104
UNIDADE 3

Por fim, também é possível realizar uma avaliação laboratorial dos micronutrientes de um pa-
ciente, informando a quantidade e a qualidade de alguns nutrientes e as respectivas funções que podem
estar comprometidas por deficiências ou excessos. Portanto, avaliar as vitaminas e os minerais pode
colaborar com um adequado diagnóstico do estado nutricional. Além disso, a prescrição do exame é
muito importante para avaliar a correção de algumas patologias que carregam a deficiência de algum
micronutriente em específico ou o excesso de tal.
Um tema muito discutido se refere à associação do consumo de alguns micronutrientes à prevenção
de doenças. Diversas doenças, como as cardiovasculares, o Alzheimer, o Parkinson, a doença intestinal
inflamatória, o câncer e até o envelhecimento, podem ser iniciadas devido a um elevado estresse oxi-
dativo perante à oxidação de lipídios, ácidos nucléicos ou proteínas pelos radicais livres. Esse estresse
pode ser provocado em virtude de um aumento na geração de oxidantes, na redução da proteção por
parte dos antioxidantes e por uma falha em recuperar o dano oxidativo. Observe a Figura 3, que exibe
os passos para manter o equilíbrio entre pró-oxidantes e os antioxidantes. Uma forma de avaliar o
nível de estresse oxidativo se dá pela quantificação das concentrações dos compostos antioxidantes nos
líquidos corporais. Segundo Mahan, Escott-Stump e Raymond (2012), há relação com a concentração
dos seguintes compostos:

• Vitaminas antioxidantes.
• Fitoquímicos dietéticos com propriedades antioxidantes.
• Minerais com papéis antioxidantes.
• Compostos e enzimas antioxidantes endógenas, como a superóxido a dismutase e a glutationa
peroxidase.

105
UNICESUMAR

Equilíbrio do estresse oxidativo

+ -

Pró-oxidantes Antioxidantes
Marcadores do equilíbrio do
estresse oxidativo
- Lipídios;
- Proteínas;
- Ácidos nucleicos;
- Carboidratos.

Figura 3 - Passos para manter o equilíbrio entre pró-oxidantes e antioxidantes


Fonte: adaptada de Mahan, Escott-Stump e Raymond (2012).

Descrição da Imagem: trata-se de um fluxograma que contém uma caixa de texto oval no centro superior, referindo-se ao equilíbrio
do estresse oxidativo. Dessa caixa, saem duas setas, uma para a direita e outra para a esquerda. A da esquerda se conecta à outra
caixa de texto, que se refere aos pró-oxidantes. A da direita, refere-se aos antioxidantes. De ambas, saem uma seta que se destina
ao centro da figura, a qual se caracteriza por uma caixa de texto oval. No topo, ela está acoplada a outra caixa de texto no formato
retangular, que se refere aos marcadores do equilíbrio do estresse oxidativo. A caixa oval ndiz respeito aos lipídios, às proteínas, aos
ácidos nucléicos e aos carboidratos.

Nas tabelas 12 e 13, são expostos os valores, os indicativos de deficiência de vitaminas e os valores
séricos aceitáveis.

Aceitável Deficiência

Ácido ascórbico (mg /dl) ≥ 0,2 < 0,1

Vitamina A plasmática (μg /dl) >20 < 10

Caroteno plasmático (μ /dl) ≥ 40 < 20

Vitamina E plasmática (mg / dl) ≥ 0,6 < 0,2

Folacina plasmática (ng / dl) ≥6 <2

Vitamina B12 (mg / dl) ≥ 100 < 100

Tabela 12 - Valores de referência para vitaminas / Fonte: adaptada de Sampaio et al. (2012).

106
UNIDADE 3

Uma em cada três pessoas no mundo é afetada pela deficiência de vita-


mina A, ferro e iodo. As manifestações clínicas dessas carências afetam a
população mundial em larga escala. Sendo assim, conhecer esse tema é
fundamental antes de prescrever um exame laboratorial. Sugiro a leitura
do manual indicado a seguir, com o intuito de entender as deficiências
para realizar o diagnóstico e a forma de prevenção.

Ferro (μg /dl) Zinco (μg /dl) Cobre (mg /dl) Selênio (ng /dl)

0 a 6 meses 40-100 70-150 20-70 95-165

6 anos 50-120 - 90-190

12 anos 50-120 - 80-160

Adulto 50-170 - 70-155

Tabela 13 - Valores séricos aceitáveis para ferro, zinco, cobre e selênio / Fonte: adaptada de Sampaio et al. (2012).

Em sua prática profissional, você se deparará com muitos relatos de pacientes que buscam melho-
rar os seus teores de ferro, com o intuito de reverter algum quadro de anemia. A partir de alguns
exames laboratoriais, podemos realizar o diagnóstico da deficiência de ferro com base no teor de
hemoglobina, ferro sérico e ferritina. Todavia, um fato deve ser levado em consideração: ao utilizar
a hemoglobina para definir um quadro de anemia isoladamente, pode-se ter uma análise inade-
quada. Isso, porque ela é afetada tardiamente pela doença e, dessa forma, não será possível distinguir
a deficiência de ferro de outras anemias. Entretanto, mesmo considerando a baixa sensibilidade,
podemos caracterizar como um quadro de anemia os valores de hemoglobina sanguínea menores
que o limite de normalidade para a idade e o sexo (SAMPAIO et al., 2012). Observe a Tabela 14 e
verifique os intervalos de referência para a hemoglobina.

Idade Hemoglobina (g /dl)

Até 1 dia 13,5 a 19,5

2 a 3 dias 14,5 a 22,5

4 a 7 dias 13,5 a 21,5

107
UNICESUMAR

Idade Hemoglobina (g /dl)

8 a 14 dias 12,5 a 20,5

15 a 30 dias 10 a 18

31 a 90 dias 9 a 14

3 a 6 meses 9,5 a 13,5

7 meses a 2 anos 10,5 a 13,5

3 a 6 anos 11,5 a 13,5

7 a 13 anos 11,5 a 15,5

Acima de 13 anos

Sexo feminino 11 a 18

Sexo masculino 13 a 20

Tabela 14 - Intervalos de referência para hemoglobina / Fonte: adaptada de Andriolo (2005).

A dosagem de ferro sérico também pode ser utilizada na avaliação de anemias, porém não pode ser
usada como um parâmetro isolado. Visualize a Tabela 15, que apresenta os valores de referência para
o ferro sérico. É possível encontrar níveis baixos de ferro sérico em:

• Perdas sanguíneas.
• Dieta inadequada.
• Doenças inflamatórias crônicas.
• Neoplasias.
• Síndrome nefrótica.
• Desnutrição.

0 a 6 meses 6 anos 12 anos Adulto

Ferro (μg /dl) 40-100 50-120 50-120 50-170

Tabela 15 - Valores de referência para ferro sérico / Fonte: Sampaio et al. (2012, p. 70).

Por fim, temos a ferritina, que é a principal proteína intracelular. Ela tem, como função, a reserva
de ferro no organismo. O nível circulante de ferritina tem relação direta com a quantidade de ferro
armazenado. No que diz respeito à análise, a ferritina é diminuída em quadros de anemia ferropriva
e pode ser reduzida antes mesmo de um quadro anêmico se instalar. Um fato merece atenção, pois
analisar a ferritina sérica de um paciente pode ser considerado o parâmetro mais sensível para verificar

108
UNIDADE 3

uma possível depleção de ferro, porém não é uma proteína específica para diagnosticar um quadro de
anemia ferropriva, porque a ferritina pode estar elevada em alguns quadros de doenças, causando um
certo aumento da síntese hepática (SAMPAIO et al., 2012).
Lee e Eunmi (2019) publicaram um estudo em que analisaram a associação entre o nível de ferritina
sérica e vários tipos de adiposidade. Os estudiosos afirmam que o Índice de Massa Corporal (IMC)
e a relação cintura-quadril se mostraram fortes preditores do nível de ferritina sérica. Além disso, a
circunferência da cintura-quadril esteve relacionada aos níveis de ferritina sérica em pacientes obesos
com síndrome metabólica e em pacientes americanos e chineses, sugerindo uma estreita relação entre
a obesidade como síndrome metabólica e a concentração de armazenamento de ferro.
Na Tabela 16, podemos observar os valores de referência de ferritina para diagnóstico de defi-
ciência de ferro.

Idade Ferritina (ng /dl)

Recém-nascidos 25-200

1 mês 200-600

6 meses 50-200

Crianças 7-140

Adultos (masculinos) 15-200

Adultos (femininos) 12-150

Tabela 16 - Valores de referência de ferritina para diagnóstico de deficiência de ferro / Fonte: Sampaio et al. (2012, p. 71).

Ao longo desta unidade, constatamos que os exames bioquímicos, na nutrição, possibilitam a aná-
lise da individualidade bioquímica de cada paciente, levando em consideração os sinais clínicos e a
avaliação dietética. A utilização deles durante a prática clínica permite detectar diversas carências e
excessos, assim como o risco de doenças, como um risco cardiovascular, controle glicêmico, alteração
no balanço proteico e outras situações que você, como nutricionista, poderá intervir durante o seu
acompanhamento nutricional.
Os indicadores bioquímicos, na nutrição, visam fornecer meios de avaliar as alterações orgânicas
e do estado nutricional do paciente, com o intuito de identificar os possíveis problemas nutricionais
antes mesmo de um sinal e/ou sintoma clínico de deficiência e/ou excesso. O objetivo também é
monitorar o acompanhamento dietoterápico do paciente. Espero que esta unidade tenha possibilita-
do a compreensão da importância da avaliação bioquímica de um paciente, visando uma adequada
avaliação nutricional.

109
Caro(a) aluno(a), encerramos esta unidade. Contudo, antes, gostaria de convidá-lo a realizar uma
verificação crítica dos conhecimentos realizados até então a partir do mapa de empatia a seguir.

Quais são as NECESSIDADES?


Quais são as DORES?

Descrição da Imagem: a figura é composta por um retângulo dividido por algumas formas. Logo, tem-se um retângulo com
quatro pirâmides. As pontas delas se unem por uma figura que pisca e sorri. Em cada uma das pirâmides, encontram-se
perguntas, como: o que ouve? O que pensa e sente? O que vê e o que faz e fala? Na base do retângulo, existem outras duas
formas em formato de retângulo. Elas têm as seguintes perguntas: quais são as dores? Quais são as necessidades?

110
1. Leia o fragmento a seguir:

“A ferritina existe principalmente em órgãos como fígado, baço, medula óssea e rim como
fonte de reserva principal de ferro, apresentando função protetora contra o efeito tóxico de
seu excesso, além de ser capaz de manter uma reserva disponível principalmente a eritro-
poiese, tendo em vista que a produção de eritrócitos depende da disponibilidade da molécula
de hemoglobina”.

SALDANHA, V. Ferritina: intervalos de referência para adultos no Estado do Rio Grande do Norte. 2009. Dis-
sertação (Mestrado em Ciências Farmacêuticas) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2009.

Considerando os seus conhecimentos sobre a ferritina e as funções dela, assinale a alternativa


correta:

a) A ferritina sintetizada a nível hepático se encontra diminuída em situações de injúria.


b) A ferritina circulante reflete especificamente um quadro anêmico associado ao aumento da
síntese hepática.
c) A ferritina é uma proteína circulante específica para diagnosticar um quadro de anemia devido
à alta sensibilidade.
d) A ferritina é diminuída em casos de anemia, visto que é uma proteína específica que detecta
a reserva de ferro no organismo.
e) A ferritina circulante reflete a reserva de ferro no organismo, não sendo específica para
diagnóstico de anemia ferropriva.

2. Leia o fragmento a seguir:

“O balanço nitrogenado é definido como a diferença entre a quantidade ingerida e perdida


pelo organismo, com o objetivo de avaliar o catabolismo proteico. No balanço positivo de
leve a moderado a ingestão de nitrogênio ultrapassa a excreção, onde parte da proteína está
sendo utilizada para sintetizar novos tecidos. Na condição de balanço nitrogenado negativo,
mais nitrogênio é excretado do que ingerido”.

COSTA, C. E. S. Análise do consumo alimentar e do balanço nitrogenado de atletas corredores de rua


em Cuité- PB. 2019. Monografia (Graduação em Nutrição) – Universidade Federal de Campina Grande, Cuité,
2019.

Considerando os seus conhecimentos sobre o balanço nitrogenado, assinale a alternativa


correta:

a) O balanço nitrogenado reflete o estado nutricional de um paciente e a eficácia da terapia


nutricional.
b) O balanço nitrogenado reflete a estimativa da ingestão de proteínas e as perdas de nitrogênio,
como a perda de urina e fezes.
c) O balanço nitrogenado se baseia em uma porcentagem de massa proteica e na perda oca-
sionada por suor, fezes e nitrogênio não proteico.

111
d) O balanço nitrogenado, por ser considerado um bom indicador do estado nutricional, monitora
pacientes que recebem nutrição parenteral e sonda enteral.
e) O balanço nitrogenado é considerado um marcador nutricional de prescrições dietéticas,
estimativas de ingestão proteica e um adequado estado de hidratação.

3. Leia o trecho a seguir:

“A proteína C reativa (PCR) é uma das proteínas de fase aguda; tais proteínas são aquelas cuja
concentração sérica aumenta ou diminui pelo menos 25% durante estados inflamatórios. A
indicação da dosagem de PCR pode ter efeito determinante na saúde e na evolução de diversos
casos clínicos, auxiliando a evitar erros interpretativos e intervenções intempestivas”.

AGUIAR, F. J. B. et al. Proteína C reativa: aplicações clínicas e propostas para utilização racional. Revista da
Associação Médica Brasileira, v. 59, n. 1, p. 85-92, 2013.

Considerando as funções da proteína C reativa, assinale a alternativa correta:

a) A proteína C reativa reflete qualquer tipo de inflamação devido à alta especificidade.


b) A proteína C reativa é considerada um biomarcador inflamatório específico para medir quadros
de aterosclerose e doenças crônicas.
c) A proteína C reativa monitora reações de estresse a partir de situações de período anabólico
da resposta inflamatória e do hipometabolismo.
d) A proteína C reativa reflete qualquer tipo de inflamação, predizendo um quadro específico de
hipometabolismo e catabolismo da reação inflamatória.
e) A proteína C reativa é útil para predizer quando um período hipermetabólico diminui, sendo
diretamente relacionada a um período anabólico da resposta inflamatória.

112
4
Introdução à Avaliação
Antropométrica
Dra. Lorena dos Santos Castro

Nesta unidade, você terá a oportunidade de se aventurar no mundo


da antropometria. Para tanto, aprenderá a realizar os procedimen-
tos para a obtenção das medidas dimensionais anatômicas de um
paciente, incluindo comprimento, diâmetros, perímetros e dobras
cutâneas, além do uso de equipamentos específicos e dos métodos
de campo e laboratoriais.
UNICESUMAR

Olá, estudante! Considere uma paciente de 27 anos e


do sexo feminino a qual procurou atendimento nu-
tricional em busca de uma avaliação antropométrica
e melhoria nos hábitos alimentares. Ela relatou que,
ao iniciar a prática de atividades físicas, o professor
da academia sugeriu a avaliação, com o intuito de
descobrir o índice de massa corporal e aferir algumas
circunferências corporais, visto que, posteriormente
gostaria de comparar os resultados. Além disso, rea-
lizou um exame de antropometria para descobrir a
composição corporal. A paciente gostaria de desco-
brir todas as classificações que estariam relacionadas
às aferições realizadas. Considerando a paciente em
questão e os recursos disponíveis para o atendimento
em seu consultório, como você realizaria a avaliação?
O profissional nutricionista tem uma excelente
ferramenta na avaliação nutricional dos pacientes: a
avaliação antropométrica. São diversas as formas pos-
síveis de descobrir o estado nutricional do paciente, a
partir do uso de medidas, de índices e de indicadores
antropométricos. Vamos entender como você poderia
conduzir a avaliação da paciente em questão?
Inicialmente, você deve analisar a solicitação dela,
que é conhecer o Índice de Massa Corporal (IMC)
e a classificação na qual se encontra, mesmo pro-
cedimento que será realizado a partir da aferição
de algumas circunferências, como a da cintura e do
quadril. Antes da consulta, alerte a paciente, para
que alguns procedimentos sejam realizados com o
intuito de obter uma correta avaliação. Logo, caso ela
esteja em período menstrual, adie o procedimento.
Certifique-se de que não houve consumo de álcool
e de alimentos ricos em cafeína nas últimas 24 ho-
ras, que não há quadro de febre e que o estado de
hidratação está adequado. Não se esqueça de que
não podem ser realizadas atividades físicas quatro
horas antes da avaliação.
Considerando todos os itens anteriores, oriente a
paciente para que, no momento da avaliação, esteja

114
UNIDADE 4

fazendo uso de roupas de banho. Em relação à sua


conduta, garanta um ambiente agradável, seguro e hi-
gienizado para avaliação. Conte com uma balança, um
estadiômetro e uma fita métrica inelástica.
Suponha que você seguiu todos os protocolos para
a aferição da estatura da paciente. Ela tem 1,70 m, pesa
62 kg, tem uma circunferência de cintura (CC) de 74,6
cm e circunferência de quadril (CQ) de 103,6 cm. O
próximo passo é encontrar a classificação na qual a
paciente se encontra, já que o IMC dela foi de 21,4 kg/
m². Em outras palavras, a paciente está em eutrofia, de
acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2008).
Além disso, segundo os índices recomendados para
mulheres, o CC de 76,6 e a relação cintura-quadril
(RCQ) de 0,72 são considerados normais e não clas-
sificam a paciente em risco para DCNT’s. Durante a
avaliação de bioimpedância, foi possível verificar que
a paciente apresenta %GC de 23,1%, sendo caracteri-
zada como média. É de suma importância associar os
métodos para uma boa avaliação.
Para esta unidade, proponho que você estude o
modo adequado de aferir a circunferência da cintura
e do quadril. Em seguida, procure voluntários para trei-
nar essas aferições, anotando-as e calculando a RCQ.
Ao final de cada cálculo, analise os resultados perante
os valores de referência.
Com a realização da experimentação proposta, você
entendeu, na prática, como são aferidos os principais
perímetros inseridos na avaliação antropométrica. É
fundamental que você (avaliador) esteja treinado(a)
para essa função e saiba exatamente em qual ponto
colocar a trena, como segurá-la e como observar o
resultado. Por isso, treine as aferições sempre que pos-
sível. Além disso, calcule os índices de cada técnica.
Com essas práticas, você poderá sanar dúvidas como
aluno(a) e aprimorará a sua técnica, a fim de ser um(a)
excelente profissional. Sugiro que anote em seu diário
de bordo as dificuldades encontradas durante a reali-
zação dessa atividade e os maiores aprendizados.

115
UNICESUMAR

Nesta unidade, estudaremos a antropometria como método objetivo de avaliação nutricional. O


objetivo desta unidade é facilitar a compreensão da avaliação antropométrica de um paciente, ao en-
globarmos equações, tabelas e classificações utilizadas em medidas convencionais e não convencionais.
Para iniciar o nosso trabalho, conheceremos o termo “antropometria”. Ele tem origem grega e se refere
às medidas das variações das dimensões físicas e corporais. Segundo Stewart (2011), a antropometria
trata do conjunto de procedimentos e processos científicos para a obtenção de medidas dimensionais
anatômicas de superfície, incluindo comprimentos, diâmetros, perímetros e dobras cutâneas do corpo
humano por meio de equipamentos especializados.
A partir do estudo dos indicadores antropométricos, você poderá estudar e acompanhar várias fases
do paciente, como o processo de crescimento e desenvolvimento a partir da faixa etária, sexo e etnia.
Também será possível avaliar a massa corporal total, verificar como está distribuída a gordura corporal,
e entender como está a composição corporal do paciente. Fascinante! Portanto, uma adequada avaliação
antropométrica permite identificar diversos problemas de saúde e risco de doenças (SAMPAIO et al.,
2012). Além dos fatores citados, o estudo da antropometria permite o desenvolvimento de diversos
estudos e pesquisas epidemiológicas no campo da nutrição, sendo fundamental para o aprimoramento
e desenvolvimento desta área. Vamos conhecer essa área da nutrição juntos?
A utilização da antropometria como ferramenta de avaliação nutricional, segundo Sampaio et al.
(2012), tem uma série de vantagens e desvantagens. Como vantagens, encontram-se:

116
UNIDADE 4

• Utilização de equipamentos de baixo custo.


• Uso de técnicas não invasivas.
• Obtenção rápida dos resultados.
• Várias metodologias usadas são de grande acurácia e fidedignidade.
• É possível monitorar os efeitos das intervenções dietéticas.
• Você pode analisar a influência dos fatores ambientais no estado nutricional de indivíduos e
coletividades.

Por outro lado, enquanto desvantagens, encontram-se:

• Não é possível detectar possíveis alterações recentes na composição e na distribuição corporal


a partir de algumas técnicas.
• O estado de hidratação pode influenciar o resultado, como em casos em que há retenção de
fluidos (edema, ascite e anasarca) ou em casos de desidratação.
• O aumento anormal de órgãos (organomegalias) pode ser capaz de mascarar o peso e a perda
de tecido gorduroso e/ou muscular.
• Há a necessidade de profissionais treinados.
• Pode haver uma capacidade limitada dos instrumentos para mensuração.

Conhecendo as vantagens e as desvantagens, o que é necessário para realizar a avaliação antropomé-


trica? É preciso que as medidas que você realizará sejam associadas a um referencial, a partir de parâ-
metros, como sexo e idade, para que, dessa forma, os dados sejam analisados de acordo com padrões
de referência e pontos de corte adequados, sem generalizações.
Ao longo desta unidade, constataremos que um dos maiores problemas encontrados na avaliação
nutricional se refere à escassez de padrões de referência adequados. Como avaliar se um padrão é
adequado ou não? Um padrão de referência fidedigno precisa ser específico para a população a qual
ele se destina, um fato que não é levado em consideração, mas que exige muita atenção. Uma das con-
sequências das várias metodologias antropométricas tem sido a falta de padronização na identificação
correta das medições e nas técnicas usadas, dificultando muito a comparação de aferições.
Em suma, a antropometria envolve a obtenção de medidas físicas de um paciente, para que, a partir
disso, elas sejam relacionadas aos padrões que refletirão no crescimento e no desenvolvimento do
paciente. Aliás, as medidas físicas podem ser úteis para avaliar quadros de sub e de supernutrição e
monitorar os efeitos das intervenções nutricionais. Realizar a medição de um paciente requer adequado
treinamento e conhecimento de cada técnica com base na individualidade do paciente, com o objetivo
de garantir medidas precisas e comparações adequadas ao longo do acompanhamento nutricional.
Para a avaliação antropométrica, usamos medidas, índices e indicadores. Você sabe quais são
as diferenças entre índices e indicadores? Os índices são uma combinação de uma ou mais medidas
associadas ao sexo e/ou à idade. Os indicadores, por sua vez, são o resultado da avaliação do índice e
de medidas por meio do uso de referências e/ou padrões de normalidade. Compreendeu a diferença?
Observe o Quadro 1 e conheça os indicadores mais utilizados na área da nutrição. Eles estão divididos

117
UNICESUMAR

em grupos que avaliam vários fatores, como o crescimento, o desenvolvimento, a massa corporal total,
a composição corporal e a distribuição de gordura corporal (SAMPAIO et al., 2012).

O que avaliam Índices

Peso/idade, altura/idade, peso/altura, circunferência de


1. Crescimento e desenvolvimento
braço/idade, perímetro cefálico/perímetro torácico.

2. Composição corporal

Circunferência muscular do braço, área muscular do


2.1 Tecido muscular braço, área muscular do braço corrigida, circunferência
de panturrilha.

Área de gordura do braço, soma das 4 dobras (dobra


2.2 Tecido adiposo cutânea do tríceps, dobra cutânea do bíceps, dobra
cutânea subescapular, dobra cutânea supra-ilíaca).

3. Massa corporal IMC/idade, IMC

Razão cintura estatura, cintura coxa, circunferência de


4. Distribuição de gordura corporal cintura, relação cintura quadril, índice de conicidade,
diâmetro abdominal sagital.

Quadro 1 - Indicadores antropométricos e as funções deles / Fonte: adaptado de Sampaio et al. (2012).

Os padrões antropométricos são formulados a partir de uma população específica e são utilizados
universalmente. Por que isso acontece? Em grande parte, pode acontecer em decorrência de um há-
bito em utilizar referências preconizadas universalmente, pela escassez de estudos ou, muitas vezes,
pela falta de conhecimento adequado. Entretanto, ao se aplicar uma referência e/ou equação a uma
mesma população, podem ser observadas divergências nos resultados, já que são especificas a uma
dada população. Portanto, em alguns casos, não representam uma população em especifico, o que gera
consideráveis erros em comparações. Por isso, sugiro sempre estar atento(a) à referência da metodologia
utilizada e à população a qual ela se destina antes de aplicá-la em um paciente.
Em relação à parte prática, entenderemos os componentes necessários para a prática antropomé-
trica. Segundo Mahan, Escott-Stump e Raymond (2012), o peso é uma medida essencial na avaliação
antropométrica. Corresponde a soma de todos componentes corpóreos, podendo ser aferido em ba-
lanças ou estimado a partir de equações. Ele reflete uma estimativa grosseira de estoques de músculo
e gordura, não sendo considerado um método útil para muitos casos de obesidade e edema, dado que
o peso sozinho dificulta a avaliação do estado nutricional geral.
O significado da avaliação do peso pode sofrer variação de acordo com o contexto em que será
utilizado. Analisemos esses significados de acordo com Sampaio et al. (2012):

118
UNIDADE 4

• O peso atual é aferido no momento que é realizada a avaliação.


• O peso usual é mencionado pelo paciente e corresponde ao peso que normalmente é encontrado.
• O peso ideal ou desejável é considerado a partir das características do indivíduo, visando a um
adequado estado de saúde, ajustado às particularidades do indivíduo.
• A adequação do peso remete à porcentagem do peso acima ou abaixo do ideal.
• O peso ajustado corresponde à correção do peso ideal para determinar as necessidades ener-
géticas e de nutrientes de um indivíduo, quando a adequação do peso for inferior a 95% ou
superior a 115%.
• O peso ideal de pacientes amputados é calculado a partir do peso ideal corrigido, subtraindo a
porcentagem de peso relativa ao membro que foi amputado.
• A mudança de peso pode ser utilizada para avaliar o percentual de perda de peso.

Entendeu todas as diferenças? Você deve ficar atento(a) ao uso do peso isolado para inferir a com-
posição corporal do paciente. O peso pode sofrer mudanças relevantes e ser extremamente influen-
ciado pelo estado de hidratação do paciente, assim como acontece em casos de injúrias, por exemplo,
visceromegalias, edema, carcinoma e ascite. Sendo assim, as mudanças poderão influenciar o peso e
comprometer o diagnóstico nutricional. Não obstante, uma possível perda de peso pode refletir um
quadro de desidratação, a incapacidade de atingir as necessidades nutricionais requeridas e propor-
cionar a identificação de pacientes que estão em risco nutricional.
Em paralelo ao peso, a avaliação do estado nutricional de um paciente requer uma adequada
análise da estatura, compondo o Índice de Massa Corporal (IMC). Para aferir o indicador antro-
pométrico, é necessário utilizar o estadiômetro ou estimativas feitas por intermédio de fórmulas,
com o uso de métodos indiretos, tais como as medidas de altura do joelho, da envergadura dos
braços ou da altura recumbente. Também é necessário o uso de uma fita inelástica ou uma régua
antropométrica (MAHAN; ESCOTT-STUMP; RAYMOND, 2012; SAMPAIO et al., 2012). Observe
um exemplo de estadiômetro na Figura 1.

119
UNICESUMAR

Figura 1 - Modelo de estadiômetro

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma pessoa em pé e, ao lado esquerdo, há um estadiômetro na cor verde.

Outro método que você pode utilizar para determinar o estado nutricional é conhecido como Índice de
Massa Corporal (IMC), o qual analisa se o peso de um paciente é apropriado para a altura por meio do
Índice de Quetelet (P/A²). Ele é considerado um indicador simples, rápido e fácil de ser aplicado. Entre-
tanto, os resultados podem indicar supernutrição ou subnutrição. Vamos entender o motivo dessa análise?
O cálculo do IMC permite, em sua prática profissional, a verificação das diferenças na composição
corporal por meio da definição do nível de adiposidade e pela correlação à altura, fato que elimina a
dependência do tamanho da estrutura corporal do paciente. Portanto, o IMC tem menor correlação
com a altura corporal e maior correlação com as medidas independentes da gordura corporal em
adultos. Contudo, não mede a gordura corporal diretamente, mesmo se relacionando a elas. Em suma,
esse índice não avalia separadamente os compartimentos corporais. O uso dele pode ser limitado na
avaliação de indivíduos atletas, os quais podem apresentar excesso de peso em consequência da massa
muscular hipertrofiada (MAHAN; ESCOTT-STUMP; RAYMOND, 2012; SAMPAIO et al., 2012).
Acredito que você já observou diversos dados que correlacionam o IMC à morbimortalidade,
não é mesmo? Estudos inferem que os valores de IMC abaixo da normalidade estão relacionados ao
surgimento de patologias, como a desnutrição, ao passo que valores elevados podem estar associados

120
UNIDADE 4

à obesidade e diversas doenças crônicas não transmissíveis (DCNT’s). Observe, a seguir, a fórmula
utilizada para o cálculo e classificação segundo Ministério da Saúde (BRASIL, 2008):

IMC : Peso  kg  / Altura  m  ²

Como exemplo, temos uma paciente do sexo feminino que pesa 63 kg e tem uma estatura de 1,62 m.
Calculemos o IMC dela:

IMC = peso / estatura 2


IMC = 63 / 1, 622
IMC = 24kg / m 2

A classificação desse indicador é determinada a partir do valor bruto encontrado no cálculo de IMC,
sendo a unidade de medida o kg/m². O IMC pode ser utilizado em diversas idades, porém muda de
acordo com ela, isto é, há uma classificação de IMC para crianças a partir de 5 anos e adolescentes
até 19 anos. Por outro lado, há outra classificação para adultos com 20 anos ou mais e menores de
60 anos, e outra para idosos a partir de 61 anos. Você pode encontrar essas classificações facilmente.
Neste momento, trabalharemos a classificação do Ministério da Saúde (BRASIL, 2008) para adultos.

Valores de IMC Classificação

<18,5 kg/m² Adulto com baixo peso

≥18,5 e <25 kg/m² Eutrófico

≥ 25 e < 30 kg/m² Sobrepeso

≥30 kg/m² Obesidade

Quadro 2 - Classificação do Índice de Massa Corporal para adultos / Fonte: adaptado de Brasil (2008).

Considerando que o IMC não é um padrão-ouro para avaliar os compartimentos corporais de todos
os perfis antropométricos, como avaliaremos a diversidade de perfis que encontraremos na prática
clínica? Outro método muito importante e utilizado na antropometria para a análise do estado nutri-
cional de um paciente é o estudo da composição corporal. O uso dele associado a outros fatores de
avaliação é útil para fornecer uma descrição precisa da saúde do paciente.
Segundo Petroski (1995), a análise da composição corporal se refere à quantificação dos componen-
tes estruturais do corpo. É necessário considerar as diferenças de tamanho do esqueleto, assim como a
proporção de massa magra (MM), pois elas podem influenciar as variações de peso corporal entre os
indivíduos que têm a mesma altura, por exemplo. O tamanho e a forma corporal são determinados pela
carga genética e formam a base na qual o paciente está disposto. A seguir, são apresentados alguns exemplos.

121
UNICESUMAR

Atletas que têm hipertrofia acentuada podem ser classificados como sobrepeso devido ao excesso
de massa muscular, e não de massa gorda. Por outro lado, idosos podem portar uma densidade óssea
menor e uma massa magra diminuída. Desse modo, podem pesar menos que adultos jovens que têm
a mesma altura. Portanto, a variação corporal é um evento comum e pode ocorrer tanto em diferen-
tes grupos populacionais quanto em um mesmo grupo populacional (MAHAN; ESCOTT-STUMP;
RAYMOND, 2012).

Peso: 105 Kg Peso: 105 Kg


Estatura: 1,72m Estatura: 1,72m
IMC: 35,49 Kg/m2 IMC: 35,49 Kg/m2

Figura 2 - Representação da diferença da composição corporal

Descrição da Imagem: há dois homens. Há um do lado esquerdo, que representa uma pessoa obesa, e outro do lado direito, que
simboliza uma pessoa musculosa. Ao lado de cada imagem, há uma caixa de texto com as informações: “Peso: 105 kg; Estatura: 1,72
m; IMC: 30,52 kg/m²”.

Já sabemos que o corpo humano apresenta proporções variadas. Os três maiores componentes que o
formam são os ossos, os músculos e a gordura. Eles são os maiores causadores da variação da massa
corporal de um indivíduo. Concorda? Apesar de o corpo humano ser composto por outros elementos,
para fins didáticos, foi proposto um modelo para o fracionamento do corpo, o que se dá em massa
gorda (MG) e massa magra (MM) (PETROSKI, 1995).
Muito se fala sobre a massa gorda, que é temida por muitos e requisitada em diversos estudos. Ela
também é trabalhada por alguns com receio e desagrado. A massa gorda é composta pelo tecido adiposo
e pelos lipídios essenciais para o funcionamento do organismo, presentes nas membranas, nos tecidos
nervosos e nos tecidos que envolvem os órgãos. Já a massa magra abrange todos os componentes do
corpo, excluindo a massa gorda.

122
UNIDADE 4

Depois de conhecermos os dois elementos,


podemos mensurá-los de forma direta e indi-
reta. A forma direta foi muito utilizada pelos
pesquisadores durante a Idade Média, deriva-
da da análise química de cadáveres humanos.
Entretanto, foi necessário desenvolver técnicas
para determinar a composição corporal em pes-
soas vivas, utilizando, dessa forma, os métodos
indiretos (PETROSKI, 1995). Os métodos indi-
retos podem ser realizados tanto em laboratório
quanto em campo, incluindo:

• Densitometria.
• Contagem de potássio corporal total.
• Análise de bioimpedância elétrica.
• Análise radiográfica.
• Tomografia computadorizada.
• Excreção de creatinina.
• Absorciometria de energia dupla de raios x.
• Imagens de ressonância magnética.
• Análise de ativação de nêutrons.
• Condutibilidade elétrica total do corpo.
• Pletismograma de deslocamento de ar.
• Pesagem debaixo da água.

123
UNICESUMAR

São várias as opções existentes. A utilização de vários métodos laboratoriais apresenta algumas limita-
ções, dado que é gasto muito tempo em uma única determinação. Alguns equipamentos apresentam
alto custo e precisam de técnicos especializados para utilização. Em consequência disso, a utilização
dos métodos de campo para estimar a densidade corporal (D), o percentual de gordura (%G) e a massa
magra (MM) foram desenvolvidos e são muito utilizados (PETROSKI, 1995).
A técnica antropométrica utilizada nos métodos de campo engloba a mensuração de dobras cutâ-
neas (DC), circunferências e diâmetros ósseos (DO) por vários segmentos corporais. O uso dela possui
diversas vantagens, pois há uma boa relação com as medidas antropométricas e a densidade corporal.
Além do mais, os equipamentos utilizados são de baixo custo, é possível coletar dados de forma fácil
e rápida e não são métodos invasivos (PETROSKI, 1995).
Nesta unidade, daremos um direcionamento mais especifico ao aprendizado das técnicas de campo.
Todavia, não deixaremos os métodos laboratoriais de lado. Para ambas as análises, podemos considerar
que avaliar a composição de um sistema tão complexo como o nosso corpo não é tarefa fácil, não é? A
antropometria envolve o uso de diversas medidas, em conjunto ou isoladas, a partir de equações que
estudam a composição corporal, visando estimar a densidade corporal. Entretanto, todas as equações
utilizadas podem ser aplicadas em toda a população?
Se aplicadas todas as equações em uma mesma população, encontraremos inúmeras divergências nos
resultados, porque cada equação é específica a uma dada população. Dessa maneira, quando aplicada em
amostras não representativas da população, é possível causar consideráveis erros na estimativa da densi-
dade corporal e na porcentagem de gordura (PETROSKI, 1995). Você já havia refletido sobre esse tema?
Aliás, a densidade corporal de um paciente pode exibir um resultado específico perante às diferentes
fórmulas utilizadas. Isso gera os seguintes questionamentos: qual equação utilizar em meu paciente?
Qual é a melhor técnica? O que posso fazer para amenizar esse problema durante a minha avaliação?

O profissional nutricionista, ao realizar uma medição antropométrica, deve saber que as medidas
são extremamente úteis na avaliação de um paciente. Entretanto, a avaliação deve ser feita com
um cuidado crítico, pois as alterações na composição e nos fluidos corporais podem apresentar
resultados variados. Diante disso, é necessária uma aderência rígida aos protocolos estabelecidos,
com o intuito de gerar resultados precisos.

Em 1985, Guedes procurou superar algumas dessas limitações e desenvolveu uma equação específica
para homens e mulheres. Com o estudo de Guedes (1985), houve um grande avanço no trabalho vol-
tado à composição corporal no Brasil. Entretanto, as equações ainda apresentaram limitações para o
uso da população brasileira, visto que o público-alvo é uma população jovem. Desse modo, a amostra
usada foi pequena e a equação não foi validada para outras populações. Jackson, Pollock e Ward (1980)

124
UNIDADE 4

também formularam equações com essas bases. Na próxima unidade, veremos com detalhes as histórias
de várias fórmulas e aprenderemos a fazer uso delas em diversas situações.
Segue, a seguir, um exemplo da aplicação da fórmula de Jackson, Pollock e Ward (1980) para uma
paciente do sexo feminino, de 45 anos e com peso de 59,2 kg.

DCTriceps,
DC  1, 24374  0, 03162(log x  DCCoxa,
10
 0, 00066 x(idade)
DCCristilíaca)
DC  1, 24374  0, 03162(30  45  35)  0, 00066 x 45
DC  1, 21212 x100  0, 0066 x 45
DC  1, 21212 x 2, 041  0, 027
DC  2, 47l 9  0, 027
DC  2, 44
%GC  495  450 / 2, 44
%GC  18, 44kg / m²

Diversos autores preferem utilizar a média da soma dos escores de dobras cutâneas para caracterizar
a adiposidade. A validade depende grandemente da precisão da técnica no momento da medida e da
repetição da medida ao longo da avaliação. Logo, o uso das dobras cutâneas carrega boa correlação
com o tecido adiposo subcutâneo, sendo um bom método a ser utilizado para estimar as reservas
corporais (MAHAN; ESCOTT-STUMP; RAYMOND, 2012; SAMPAIO et al., 2012).
São várias as dobras que podem ser aferidas. As mais utilizadas são:

• Tricipital (DCT).
• Bicipital (DCB).
• Subescapular (DCSE).
• Supra-Ilíaca (DCSI).
• Panturrilha (DCP).
• Coxa média (DCCX).
• Abdominal (DCA).

Como foram escolhidas essas dobras? Esses pontos anatômicos foram escolhidos devido a vários
estudos que inferem a aplicabilidade deles. Não só, mas por serem de fácil localização e apresentarem
menor quantidade de tecido fibroso, o que facilita o desprendimento deles. Eles também têm uma
elevada relação com o tecido adiposo total (SAMPAIO et al., 2012).
Portanto, a avaliação por intermédio do uso das dobras pode ser realizada a partir do uso indivi-
dual de cada dobra ou a soma de várias. No entanto, para estimar a gordura corporal de maneira mais
fidedigna, recomenda-se a utilização de equações com mais de uma dobra subcutânea (SAMPAIO et
al., 2012). A seguir, segue a fórmula da soma das dobras segundo Holway (2011):

125
UNICESUMAR

 ( DCTriceps, DCSubescapular DCSupraespinhal / DCSS: 17 DCAbdômem, DCCoxa, DCPanturrila )

Como exemplo, temos uma paciente de 27 anos que pesa 62 kg, tem estatura de 1,60 m e apresenta
DCT de 17, DCSE de 16, DCAB de 22, DCCX de 25 e DCP de 24. Segue o cálculo de sua %G por meio
do somatório de dobras.

  (17  16  17  22  25  24)
  121

De acordo com a classificação proposta por Holway (2011), a paciente apresenta um somatório elevado.
A avaliação da gordura corporal se apresenta como um bom método para estimar a %G. Contudo,
cabe ressaltar algumas limitações, segundo Sampaio et al. (2012):

• Em determinados casos de pacientes obesos, não é possível realizar uma adequada aferição das
dobras cutâneas devido à dificuldade em desprender o tecido e à insuficiência na amplitude
do plicômetro.
• Em casos de pacientes com edema ou com quadro de hidratação apresentado, as técnicas podem
ser imprecisas.

Portanto, conhecer o paciente e a técnica escolhida para avaliação é fundamental. Ademais, nas uni-
dades posteriores, descobriremos quais serão as classificações de %GCT pertinentes à cada grupo
populacional e as fórmulas que são as indicadas.
Em relação à análise da massa muscular de um paciente, você poderá estimá-la utilizando a cir-
cunferência muscular do braço (CMB), a área muscular do braço (AMB) e a área muscular do
braço corrigida (AMBc). Vamos conhecer o que cada uma dessas circunferências representa? A CMB
considera que todos os tecidos do braço são circulares e concêntricos. Por outro lado, a AMB considera
o formato irregular dos tecidos do braço e, por fim, a AMBc se difere das outras por descontar a área
óssea, sendo a mais precisa (SAMPAIO et al., 2012). O uso dela é de suma importância, considerando
a análise da depleção de proteínas somáticas, ao realizar o estudo da força de um indivíduo (capaci-
dade de trabalho), ao acompanhar a progressão das doenças que causam catabolismo e ao verificar a
eficácia da intervenção nutricional:

[CB  ( xDCT / 10)]²


AMB( cm )² 
4 x
[CB  ( xDCT / 10)]²
AMBc( cm )²   10( sexomasculino)
4 x

[CB  ( xDCT / 10)]²


AMBc( cm )²   6, 5( sexofe min ino)
4 x

126
UNIDADE 4

Acredito que você já teve contato com alguma informação que relacionou a distribuição da gordura
corporal à alguma doença crônica não transmissível (DCNT), não é mesmo? Será que essa correlação
é verdadeira? Sampaio et al. (2012) confirmam esses relatos, ao sustentarem que a concentração de
gordura abdominal, independentemente do %G, está propensa a ser um fator de risco para doenças
metabólicas e cardiovasculares. Qual seria o motivo dessa correlação?
Existem vários motivos, mas o principal tem sido o fato de o adipócito presente na região abdominal
ser o maior e ter menos receptores de insulina. Dessa forma, ele se torna mais sensível à estimulação
da lipólise por meio das catecolaminas. Na Figura 3, podemos visualizar como a gordura corporal
pode ser classificada.

Composta pela gordura


Acumulada na região abdominal
subcutânea e visceral

Andróide, abdominal,
Intermediária
superior ou central
Relacionada com as DCNT’s

Não há concentração de
gordura de forma desigual GORDURA CORPORAL
Acumulada na
região dos glúteos e
quadris

Gordura está bem distribuída Associada ao risco


Ginecóide, inferior, periférica ou de doenças
glúteo-femural vasculares e
periféricas

Figura 3 - Classificação da distribuição da gordura corporal / Fonte: adaptada de Sampaio et al. (2012).

Descrição da Imagem: trata-se de um fluxograma composto por várias caixas de texto conectadas umas às outras, no formato re-
tangular, distribuídas em diversas cores. Ao centro, há uma caixa de texto maior, com menção à “gordura corporal”, apresentando cor
roxa. Dela, partem três caixas de texto principais na cor verde-água, sendo elas referentes à gordura ginecoide, inferior, periférica ou
glúteo-femural; intermediária; e por fim, a androide, abdominal, superior ou central. A caixa de texto referente à gordura ginecoide está
conectada à outra caixa de texto na cor laranja, com o texto: “Acumulado na região dos glúteos e quadris”. Ela novamente se conecta à
outra caixa de texto na cor lilás, com o texto: “Associada ao risco de doenças vasculares e periféricas”. A caixa de texto com menção à
gordura intermediária se conecta a uma caixa de texto laranja, com o seguinte conteúdo: “Não há concentração de gordura de forma
desigual”, que está conectada a outra caixa de texto lilás com o conteúdo: “Gordura está bem distribuída”. A caixa de texto sobre a
gordura androide se conecta à outra na cor laranja, com o conteúdo: “Acumulada na região abdominal”, que se conecta à outra caixa
de texto lilás, com o texto: “Composta por gordura subcutânea e visceral”. Ela, por fim, conecta-se com outra caixa de texto na cor
vermelha, com o conteúdo: “Relacionada às DCNT’s”.

Depois de entendermos como a gordura corporal é classificada, conheceremos os indicadores de


distribuição da gordura corporal. São eles:

127
UNICESUMAR

• Razão cintura-quadril (RCQ).


• Razão abdome-glúteo (RAG).
• Circunferência da cintura (CC).
• Índice de conicidade (IC).
• Razão cintura-estatura (RCEst).
• Diâmetro abdominal sagital.

Lima et al. (2011) explicam que a relação entre os padrões de distribuição da gordura corporal ginecoide
e androide e a prevalência de doenças crônicas foi descrita pela primeira vez em um estudo de 1956.
Em 1984, novos estudos surgiram e atestaram que a distribuição central da gordura corporal prediz
melhor o risco cardiovascular que o excesso de peso em si. Além disso, os estudiosos utilizaram a RCQ
para predizer o risco cardiovascular. Após 10 anos, outros estudos foram publicados e confirmaram o
que outros estudos já demonstravam: a CC representa um risco para doença crônica.

Você já ouviu alguém falar em somatótipo? Ele é um método de classi-


ficação corporal criado em 1940 por Willian Sheldon. Para tanto, divide
os indivíduos em três categorias: ectomorfo, mesomorfo e endomorfo.
Convido você a ouvir o nosso podcast para conhecer detalhadamente
cada um dos somatótipos e a aplicabilidade deles na prática clínica.

Além das medidas citadas, há as medidas da compleição, usadas na avaliação do peso ideal dos in-
divíduos. Ela pode ser considerada uma estimativa acurada da estrutura física (tamanho ósseo) ou
compleição. As medidas são utilizadas com base na ideia de que o peso das pessoas varia não somente
de acordo com o sexo e a idade, mas também em relação ao tamanho da estrutura óssea.
Medir as estruturas esqueléticas fornece dados sobre a estrutura óssea e, por meio dessa identificação,
é possível distinguir um indivíduo que está na variação máxima do peso ideal devido à massa óssea
grande, e não em virtude do excesso de gordura. O método ideal para estimar a compleição precisa ser
simples de usar e não pode ser influenciado pela gordura corporal. A avaliação clínica para classificar
a estrutura por meio da visualização não é apropriada, logo, são recomendadas as seguintes medidas:

• Ombro (largura biacromial), que é a distância entre as extremidades dos processos biacromiais
e o topo dos ombros.
• O quadril, que é a distância entre as projeções mais laterais do maior trocanter dos fêmures.
• Largura do tórax, baseada em raios x.
• Razão da estatura para a circunferência do pulso.

128
UNIDADE 4

• Largura do joelho e do pulso.

Analisemos com detalhes a razão entre a altura e a circunferência do pulso (valor de “R”), considerado
um indicador confiável do tamanho da estatura. O cálculo tem correlação com a gordura corporal. A
fórmula é apresentada a seguir, segundo Martins (2009):

Altura(cm)
R=
Circunferênciadopulso (cm)

Seguem os procedimentos necessários para a avaliação. Observe os valores de compleição no Quadro 3.

• Escolher o pulso direito.


• Flexionar o braço do avaliando ao cotovelo.
• Posicionar a palma da mão voltada para cima, com os músculos das mãos relaxados.
• Colocar a fita métrica ao redor do pulso, entre os vincos, dentre os processos estiloide do rádio
e da ulna. A fita métrica não pode ter largura maior que 0,7 cm, para que possa se encaixar nas
depressões entre os processos estiloides e das mãos.
• Manter a fita perpendicular ao eixo longo do antebraço. A fita deve tocar a pele, mas comprimir
as partes moles.
• Realizar o registro, que deve estar próximo de 0,1 cm.
• Dividir a altura (cm) pela circunferência do pulso (cm) e encontrar o “R”. De acordo com o
valor, encontrar a compleição.

Compleição corporal

Pequena Média Grande

Homens R<10,4 R=10,4- 9,6 R<9,6


Mulheres R>11,0 R=11,0- 10,1 R<10,1

Quadro 3 - Compleição corporal a partir da razão entre a altura e a circunferência do pulso / Fonte: adaptado de Martins (2009).

Um indicador que vem sendo muito utilizado na avaliação do risco associado às DCNT’s é a CC. Ela
pode ser considerada um indicador de fácil metodologia e importante para inferir uma obesidade
central e risco para doenças crônicas. Por isso, demonstra ser útil ao diagnóstico de síndrome meta-
bólica. Dentre as vantagens de uso, é de fácil aplicação e tem um custo acessível (LIMA et al., 2011;
SAMPAIO et al., 2012).
Em relação aos valores desse indicador, analisaremos algumas referências de renome. De acordo
com o Centers for Disease Control (2009), uma medida maior que 102 cm para homens e maior que
88 cm para mulheres pode ser considerada fator de risco para doença. O National Institutes of Health
(2002) estabeleceu que a CC maior que 88 cm para mulheres e 102 cm para homens está relacionada
a quadros de síndrome metabólica.

129
UNICESUMAR

Entretanto, de acordo com Lima et al. (2011), os padrões de referência mais utilizados para avalia-
ção da CC classificaram a adiposidade abdominal de acordo com o risco de desenvolver as doenças
relacionadas à obesidade a partir da CC, de acordo com os pontos de corte adotados por Lean, Han
e Morrison (1995).

Risco aumentado Risco muito aumentado

Homens > 94 cm > 102 cm


Mulheres > 80 cm > 88 cm

Quadro 4 - Pontos de corte para circunferência de cintura em adultos / Fonte: adaptado de Lima et al. (2011).

Segundo Sampaio et al. (2012), o uso da CC é vantajoso, porque é uma técnica simples e se relaciona
ao IMC e à gordura intra-abdominal. Contudo, o uso demanda cautela, já que pode ser decorrente
de diferentes técnicas de aferição, necessitando que o avaliador (você) realize a medida com precisão.
Além disso, em pacientes muito obesos, pode haver dificuldades em reconhecer os pontos anatômicos
necessários para a realização da medida, o que é ocasionado pelo acúmulo de gordura na região, não
sendo possível realizar a avaliação por meio das dobras cutâneas.
Caso os itens citados sejam levados em consideração, a CC é um ótimo indicador a ser utilizado em
sua prática clínica. Aliás, o uso dela pode ser recomendado em associação à RCQ, porque, em virtude
das limitações do indicador, não é possível detectar mudanças, uma vez que a medida da cintura varia
em relação à medida do quadril, mantendo a RCQ constante, caso ocorra a redução de peso de um
paciente. Além do mais, a RCQ não considera variações na estrutura óssea.
Pereira, Sichieri e Marins (1999) realizaram um estudo que infere que, em relação à localização da
gordura corpórea, os homens tendem a ter maior proporção de gordura abdominal, conferindo-lhes
um padrão de distribuição de gordura corporal androide. As mulheres, por sua vez, tendem a ter maior
quantidade de gordura na região glútea e, por isso, têm maiores perímetros nos quadris, apresentando
um padrão feminino ou ginecoide de gordura corporal.
É possível realizar uma avaliação por meio da RCQ, obtida pela divisão das medidas dos períme-
tros da cintura e do quadril. Não existe um consenso sobre a definição do que seja uma RCQ elevada.
Os pontos de corte mais utilizados para os homens são de (> 1,0 m) e (>0,80 m) para as mulheres,
sugeridos como base em estudos epidemiológicos na Suécia. Nos Estados Unidos, são usados pontos
de corte de (0,95 m) para homens e (0,80 m) para mulheres.
Observe os pontos de corte da RCQ, de acordo com a World Health Organization (WHO, 1998),
presentes no Quadro 5, e a fórmula para cálculo:

RCQ = circunferênciac int ura / circunferênciaquadril

130
UNIDADE 4

Sexo Favorável Desfavorável

Homem < 1,0 ≥ 1,0


Mulher <0,85 ≥ 0,85

Quadro 5 - Pontos de corte para RCQ em homens e mulheres adultos segundo a WHO / Fonte: adaptado de WHO (1998).

Além dos indicadores que citamos, temos também o Índice de Conicidade (IC), que é determinado
por meio das medidas de peso, estatura e CC. Segundo Sampaio et al. (2012), esse índice tem como
base a ideia de que indivíduos que acumulam massa gorda na região central do corpo tendem a apre-
sentá-la na forma de dois cones, um disposto sobre o outro, por meio da mesma base. Não obstante,
os pacientes que têm menor quantidade de tecido adiposo na região abdominal são dotados de uma
aparência semelhante a um cilindro. Por isso, o valor representa quantas vezes a CC é superior à que
ele teria se tivesse uma concentração de tecido adiposo abdominal, ou seja, se a forma do corpo fosse
semelhante a um cilindro.
Em conjunto, temos a relação cintura-estatura (RCEst), outro indicador que possui associação com
a obesidade abdominal e o risco de doenças cardiovasculares. Logo, a CC do paciente não deve ser
superior à metade da estatura dele. Apesar de estudos inferirem o uso na prática clínica e laboratorial,
ainda não há pontos de corte específicos para cada grupo etário e sexo. Portanto, são necessárias mais
pesquisas sobre esse indicador, visando estabelecer pontos de corte específicos (SAMPAIO et al., 2012).
Caro(a) estudante, estudamos, até o momento, alguns indicadores antropométricos e a relação deles
com DCNT’s feitas a partir do uso de métodos de campo. Daremos sequência conhecendo os méto-
dos para avaliar a composição corporal, como o pletismograma de deslocamento de ar, a análise da
bioimpedância elétrica, a absorciometria de energia dupla de raios x, a análise da ativação de nêutrons
e de potássio corporal total e a pesagem debaixo d’água.
O pletismograma de deslocamento de ar é uma medida da densidade corporal para estimar a
gordura corporal e as massas sem gordura. É considerada uma técnica de densitometria que é precisa
para medir a composição corporal (MAHAN; ESCOTT-STUMP; RAYMOND, 2012). Já a bioimpe-
dância elétrica (BIA) é uma técnica que analisa a composição corporal com base no princípio que,
em relação à água, o tecido magro possui uma condutividade elétrica maior e uma impedância menor
que o tecido gorduroso, devido ao teor de eletrólitos.
É importante considerar que o tecido adiposo é pobre em água e não a conduz bem, diferentemente
do músculo. Entretanto, não é a corrente elétrica que gera o resultado, e sim uma equação de predição,
sendo considerado um ponto negativo. A BIA é uma medida confiável para analisar a composição
corporal, se comparada ao IMC ou até mesmo às medidas de altura e peso. Essa técnica envolve a
colocação de eletrodos ser nas mãos, no punho, no tornozelo ou no pé direito de um paciente.
Atualmente, diversos aparelhos de BIA são encontrados no mercado, facilitando o uso dela na prática
clínica. Alguns requisitos são necessários para o resultado ter precisão: o paciente não deve ter se exer-

131
UNICESUMAR

citado nas últimas quatro ou seis horas antes da


avaliação e não deve ter consumido álcool e cafeína
nas últimas 24 horas. Caso o paciente esteja muito
desidratado, será medida uma porcentagem menor
de gordura corporal do que a que realmente existe.
O paciente não deve estar em período menstrual e
em quadro de febre. O desiquilíbrio de eletrólitos
e a obesidade extrema podem afetar a confiabili-
dade das medidas (MAHAN; ESCOTT-STUMP;
RAYMOND, 2012).
A absorciometria de energia dupla de raio
x, também considerada como DEXA, é capaz de
avaliar a densidade mineral óssea do paciente,
ao medir a gordura e a massa magra sem osso. A
avaliação é composta por um tubo de raio x que
contém um feixe da energia. Logo, a quantidade de
perda de energia depende do tipo de tecido pelo
qual o feixe passa. Por conseguinte, é possível me-
dir compartimentos de minerais, gordura e tecido
magro. Essa técnica emite baixos níveis de radiação,
não causando danos iminentes ao paciente (MAH-
AN; ESCOTT-STUMP; RAYMOND, 2012).
Também há a pesagem debaixo d’água, uma
medida direta para determinar a densidade do cor-
po como um todo. A avaliação parte do princípio
de Arquimedes, o qual sustenta que o volume de
um objeto submerso em água equivale ao volu-
me de água que o objeto desloca. Tendo em vista
que o volume e a massa são conhecidos, é possível
calcular a densidade deles. Entretanto, não é um
método prático, já que envolve bom treinamento
do avaliador e cooperação do paciente (MAHAN;
ESCOTT-STUMP; RAYMOND, 2012).
Por fim, a ultrassom e a ressonância mag-
nética podem ser utilizadas para medir o tama-
nho dos órgãos viscerais, esqueleto e distribuição
de gordura intra-abdominal, não sendo conside-
rados métodos invasivos. Ambos não envolvem
radiação ionizante, mas têm alto custo (MAHAN,
ESCOTT-STUMP E RAYMOND, 2012).

132
UNIDADE 4

Agora, entenderemos como realizar as avalia-


ções. Como padrão de medidas, será utilizada a
edição de 2011 dos Padrões Internacionais para
Avaliação Antropométrica da ISAK, que é um
grupo de profissionais que estudam a Cineantro-
pometria, uma disciplina acadêmica que envolve
o uso de medidas antropométricas relacionadas a
outros parâmetros científicos e/ou áreas temáti-
cas, como o movimento humano, a fisiologia ou as
ciências aplicadas à saúde. Logo, desenvolvem uma
abordagem de “melhores práticas” para a medição
antropométrica e mantêm um padrão reconhecido
mundialmente (STEWART et al., 2011).
Inicialmente, é importante saber como pode
ser realizada a medição do paciente, reconhecen-
do que existem diferentes hábitos e procedimen-
tos que podem ser aplicados em diferentes par-
tes do mundo e em diferentes momentos. Diante
disso, não devem ser realizadas medições sem
o consentimento informado do paciente. Como
seria esse consentimento?
Você pode fazer um consentimento informa-
do verbal e escrito, utilizando uma linguagem
simples, obtido tanto pelo sujeito, quanto pelo
familiar ou responsável legal, em casos em que
o paciente é menor de idade ou é incapaz de to-
mar ou comunicar uma decisão. É recomendado
utilizar um documento com as informações que
explicam os procedimentos da avaliação antropo-
métrica, incluindo o que o paciente deverá vestir,
quais medições serão realizadas, quem realizará e
o tempo de duração que terão as medições. Assim,
o termo de consentimento poderá conter:

• Explicação clara que o paciente é livre para


desistir dos procedimentos de medição em
qualquer momento.
• Esclarecer que os dados coletados nas me-
dições não revelarão identidade sem con-
sentimento.

133
UNICESUMAR

• Fornecer detalhes da pessoa e da instituição


responsável pela análise antropométrica.
• Espaço para o nome e a assinatura do paciente
e da pessoa que realiza as medições.
• É necessário guardar uma cópia desse termo e
a outra deverá ser entregue ao paciente.

Em relação à medição, todos os procedimentos de


medição utilizados para uma determinada pesqui-
sa deverão ser aprovados pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da instituição responsável. Seguem algumas
recomendações mais utilizadas para a técnica:

• O equipamento e as mãos do avaliador devem


estar limpos antes da medição do paciente.
• A medição deve ser realizada em uma sala pri-
vada ou em um espaço reservado.
• A sala utilizada deve fornecer tanto privacida-
de quanto um clima agradável para o paciente.
• É importante deixar claro que todos os pacien-
tes podem levar um amigo ou familiar para
acompanhar a medição, principalmente ao
medir crianças.
• Você, como avaliador(a), deve considerar que
todos pacientes têm alguma área do corpo tida
como “espaço pessoal”. Logo, se invadida a área,
pode ser gerado desconforto. Qual seria essa
área? Ela pode ser a parte frontal de uma pes-
soa, embora alguns pacientes possam sentir
desconforto quando o avaliador está atrás ou
fora do campo de visão.
• É recomendado realizar a medição ao lado do
paciente, embora algumas medições devam ser
realizadas diretamente na frente ou atrás dele. É
importante ter noção de espaço pessoal e sensi-
bilidades culturais durante a técnica de medição.
• Por vezes, os pacientes podem se sentir descon-
fortáveis durante as medições, sobretudo se o
avaliador for do sexo aposto. Dessa forma, ofere-

134
UNIDADE 4

ça a oportunidade, caso seja necessário, de serem


medidos por um avaliador do mesmo sexo.
• Esteja sempre atento(a) às crenças e às tradi-
ções culturais do paciente. Isso poderá influen-
ciar a vestimenta no momento da aferição.
• Os protocolos de medição inferem que as me-
dições sejam realizadas de forma rápida e efi-
ciente. Logo, os pacientes devem ser orientados
a se apresentar com roupas mínimas.
• Pacientes devem estar fazendo uso de trajes de
“banho”, sendo recomendadas duas peças para
mulheres e shorts de banho para homens, a fim
de facilitar o acesso às áreas de medição.
• Não são recomendadas roupas íntimas durante
as medições.
• A roupa deverá ter espessura mínima e seguir
os contornos naturais do corpo. Também pre-
cisam permitir fácil acesso às áreas em que se-
rão medidas as dobras cutâneas, por exemplo.
• Algumas situações podem causar descon-
forto ao bem-estar físico ou emocional do
paciente, assim como é em casos em que as
medições são muito grandes, quando há pele
extremamente firme ou em casos de adipo-
sidade extrema. Nesses casos, não realize as
medições ou solicite a realização de outra
técnica pertinente ao caso.
• É recomendado que o avaliador se movimente
com facilidade em torno do paciente, manu-
seando os equipamentos sem impedimentos.
É necessário um espaço adequado para os pro-
cedimentos de medição.
• Garanta que a sala de medição esteja livre de
objetivos que possam comprometer a seguran-
ça e oferecer riscos, como tropeço ou quedas.
• Realize as medições e as anotações dos resulta-
dos com atenção. Sempre existe a possibilidade
de ocorrerem erros no registro dos dados.

135
UNICESUMAR

• Sempre que possível, realize as medições uma, duas ou até três vezes. Quando feitas duas me-
dições, a média é usada. Quando são feitas três medições, usa-se a mediana.

Vamos conhecer os equipamentos que podem ser utilizados durante as avaliações antropométricas,
visto que, dependendo da especificidade das medidas, equipamentos específicos são necessários. Inicia-
remos pelo estadiômetro, que é utilizado para medir a estatura e a estatura na posição sentada. Você já
deve ter visto estadiômetros fixados em paredes, em que o sujeito fica alinhado verticalmente, correto?
O estadiômetro deve ter uma faixa de medição de, no mínimo, 60 cm a 220 cm, com precisão exigida
de 0,1 cm. Dentre as recomendações de uso, usa-se uma barra móvel com, pelo menos, 6 cm de largura,
sendo deslizada até o vértice do crânio. Recomenda-se que essa barra móvel inclua um dispositivo
de travamento para melhor visualização. Além disso, o piso deve ser nivelado e sem rodapé, evitando
erros nas aferições. Os estadiômetros variam de simples e relativamente baratos até complexos e muito
caros. Em casos em que não há um estâdiometro disponível, uma trena métrica fixada em uma parede,
com a possibilidade de controlar a verticalidade e a altura, poderá ser utilizada. Observe a Figura 4,
que exibe um exemplo da aferição da estatura seguindo as orientações expressas.

Parte superior da cabeça

Ombros

Nádegas

Panturrilhas

Calcanhares

Figura 4 - Técnica de aferição da altura segundo Plano de Frankfurt / Fonte: Brasil (2011, p. 37).

Descrição da Imagem: trata-se de uma ilustração, em preto em braço, com algumas setas em vermelho, as quais indicam os pontos
em que o corpo deve encostar na parede. Há uma parede e uma figura de um homem em pé, encostado na parede. Ela olha para frente
e tem os braços estendidos ao longo do corpo. Na região da cabeça, uma seta indica, mediante a uma caixa de texto, a parte posterior
da cabeça. Isso se repete nos ombros, nas nádegas, nas panturrilhas e nos calcanhares.

136
UNIDADE 4

As balanças, que podem ser mecânicas ou eletrônicas, precisam sempre estar calibradas. Também
devem ser certificadas por um departamento governamental de pesos e medidas, totalizando, no mí-
nimo, 150 kg. A trena antropométrica, usada para a aferição das circunferências e das medidas de
perímetros, é necessária para localizar com precisão os locais em que existem sobras cutâneas e marcar
distâncias a partir de pontos ósseos. Ela não deve ser extensível e precisa ter, no máximo, 7 mm de
largura e uma extremidade sem graduação (área em branco) de, pelo menos, 4 cm antes da linha zero.
É recomendado o uso de uma trena métrica de aço flexível de, pelo menos, 1,5 m de comprimento e
estar contida em um invólucro com retração automática.
Grandes aliados para a aferição das dobras cutâneas, os plicômetros são uma peça fundamental
na antropometria. O uso deles requer acurácia e precisão. Eles exigem uma pressão de fechamento
adequada e precisam ser calibrados regularmente. No mercado, existem modelos metálicos e de plás-
tico, visto que todos carecem de um mecanismo, a fim de manter a mesma pressão em toda faixa de
movimentos. Além disso, são uma boa opção para obter medidas comparativas ao longo do tempo.
O antropômetro é outro instrumento utilizado para medir altura e comprimento, direta ou indi-
retamente, assim como é útil para medir comprimentos de segmentos corporais diretamente, grandes
diâmetros ósseos e não ósseos, e estatura em pé e sentado. O uso dele permite estimativas de com-
primentos de segmentos. Entretanto, são recomendadas as medidas diretas dos comprimentos dos
segmentos usando um antropômetro como um paquímetro grande.
O paquímetro pode ser o segmento superior do antropômetro ou um item especialmente produzido.
Ele é composto por duas hastes retas que permitem medições de diâmetros ósseos grandes. As hastes são
fixadas a uma escala rígida devido ao fato de que uma pressão considerável é exercida quando as dimensões
ósseas são medidas. Antes de realizar uma medição, verifique a distância entre as hastes, visando assegurar
que o paquímetro foi montado corretamente. Também existe o paquímetro de pequenos diâmetros. As
hastes mais longas permitem englobar maiores distâncias (STEWART et al., 2011).
Conheceremos os pontos de referência usados com marcações para realizar as medidas antropo-
métricas. O que seriam esses pontos? Os pontos de referência são identificáveis no esqueleto e estão
próximos da superfície corporal. Eles se tornam os “marcadores” que identificam a localização exata de
um local de medição ou a partir de um local de tecido especifico, como a dobra cutânea subescapular
e o perímetro do braço (STEWART et al., 2011).
Esses pontos de referência devem ser encontrados por meio de um exame de palpação ou medição.
Diante disso, você deve realizar uma palpação em pontos corporais de referência, ação que requer uma
habilidade considerável, o que demanda treino e esforço para o aprendizado. É necessário cuidado
para manter um ângulo de 90° C entre o seu dedo e a superfície da pele do paciente, a fim de detectar
apenas as superfícies ósseas, sem que a pele seja afastada da posição normal. Recomenda-se, para a
precisão e o conforto do paciente, que as suas unhas estejam sempre aparadas (STEWART et al., 2011).
Os pontos ósseos são identificados com o dedo polegar ou o indicador. Ao encontrar o ponto, su-
gere-se marcar com uma caneta de ponta fina ou um lápis dermográfico. Como realizar a marcação?
O local deve ser marcado diretamente sobre o ponto antropométrico encontrado com um ponto ou
uma linha curta (0,5 cm). Caso você utilize uma trena para fazer as marcas, elas devem ser feitas na
margem superior da trena, enquanto você a segura em um ângulo reto em relação ao eixo do membro.

137
UNICESUMAR

É recomendado que os pontos de dobras cutâneas sejam


marcados com uma cruz, sendo o eixo longitudinal o res-
ponsável por definir a direção da dobra cutânea, enquanto
o eixo curto define o alinhamento entre o seu dedo indica-
dor e o polegar (STEWART et al., 2011). Vamos aprender
a identificar os pontos mais utilizados nas medições?
Temos o ponto acrômial, situado na margem superior
da parte mais lateral do acrômio. Para aferição, o paciente
precisa estar em uma posição relaxada, com os braços
pendentes ao longo do tronco. Você deve se posicionar
atrás e do lado direito do paciente, e apalpar ao longo da
espinha da escápula até a convexidade do acrômio. Esse
ponto está no início da margem lateral que, normalmente,
estende-se anteriormente, ligeiramente superior e medial.
Recomenda-se aplicar a ponta do lápis para confirmar a
localização da parte mais lateral e superior. Você verificará
que o acrômio, nessa parte, tem uma espessura óssea bas-
tante proeminente. Diante disso, apalpe a parte superior
do acrômio, de forma que se localize o ponto mais lateral
(STEWART et al., 2011).
O ponto radial, por sua vez, é o ponto situado na mar-
gem proximal e lateral da cabeça do rádio. Para localização,
o paciente precisa estar em posição relaxada, com os braços
pendentes ao longo do tronco e com as mãos em semi-pro-
nação. É necessário que você apalpe, de cima para baixo, a
região lateral do cotovelo direito, sentindo o espaço entre o
capítulo do úmero e a cabeça do rádio. Em seguida, mova
o polegar no sentido distal na parte mais lateral e proximal
da cabeça do rádio, marcando uma linha perpendicular ao
eixo longitudinal do antebraço. Para garantir a localização
correta, peça para que o paciente realize uma leve rotação
do antebraço, com o intuito de provocar a rotação da cabeça
do rádio (STEWART et al., 2011).
Na adição, há o ponto acrômio-radial médio, que
corresponde ao ponto médio da linha reta que une os
pontos acromial e radial. Para medição, o paciente precisa
ficar em posição relaxada com os braços pendentes ao
longo do tronco, com o cotovelo estendido ao longo do
tronco. Para medir o segmento utilizando uma trena, você
deve segurá-la de forma a medir a distância perpendicular

138
UNIDADE 4

139
UNICESUMAR

entre os dois pontos, ao contrário de seguir a curvatura da pele. Sugiro que faça uma pequena marca
no nível do ponto médio entre esses dois pontos, projetando a marca como uma linha horizontal ao
redor das faces braquiais posterior e anterior, tendo em vista que será útil para localizar as dobras
cutâneas do tríceps e do bíceps (STEWART et al., 2011).
O ponto da dobra do tríceps corresponde ao ponto na face posterior do braço, na linha média e
no nível do ponto acrômio-radial médio já marcado. Para realização, o paciente deve ficar em posição
relaxada, em pé, com os braços pendentes ao longo do tronco e o antebraço em semipronação, ou seja,
com os polegares apontados à frente. Dessa maneira, esse ponto é localizado a partir da projeção do local
acrômio-radial médio perpendicular ao eixo longitudinal do braço ao redor da face posterior do braço
e cruzando a linha projetada com a linha vertical da face posterior do braço (STEWART et al., 2011).
Próximo ao local da dobra do tríceps, há o local da dobra do bíceps, que corresponde ao ponto na face
anterior do braço, no nível do ponto de referência acrômio-radial médio, no meio do ventre muscular do
bíceps braquial. Para adequada marcação, o paciente deve ficar em posição relaxada, em pé, com os braços
pendentes ao longo do tronco e o antebraço em semipronação, ou seja, com os polegares apontando à
frente. Esse ponto pode ser localizado projetando o local acrômio-radial médio perpendicularmente ao
eixo longitudinal do braço em torno da face anterior do braço e cruzando a linha projetada com uma
linha vertical no meio do ventre do músculo bíceps braquial (STEWART et al., 2011).
Ademais, temos o ponto situado imediatamente abaixo do ângulo inferior da escápula, denominado
ponto subescapular. Para realização, o paciente deve ficar em posição relaxada, em pé, com os braços
pendentes ao longo do tronco. Você precisa palpar o ângulo inferior da escápula com o polegar esquer-
do. Se houver dificuldade para localizar o ângulo inferior, faça o sujeito lentamente alcançar a região
lombar com o braço direito. O ângulo inferior da escápula deverá, então, ser sentido continuamente,
enquanto a mão é novamente posicionada ao lado do corpo, visto que a marcação deve ser feita com
os braços do paciente relaxados na posição inicial.
O local da dobra subescapular deve ser marcado 2 cm abaixo do ponto subescapular, ao longo
de uma linha que se estende lateral e obliquamente em um ângulo de 45°, com o sujeito em posição
relaxada, em pé e com os braços pendentes ao longo do tronco. Para marcação, desenhe uma linha a
partir do ponto subescapular lateralmente e para baixo, formando um ângulo de 45°. Ao longo de 2
cm do ponto subescapular, desenhe uma segunda linha perpendicular à primeira, visando indicar o
alinhamento dos dedos indicador e polegar ao segurar a dobra (STEWART et al., 2011).
O ponto Ilíocristal corresponde ao ponto mais superior da crista ilíaca, em que uma linha é tra-
çada a partir da linha axilar média (médio da axila), no eixo longitudinal do corpo, onde se encontra
o ílio. Para medição, o sujeito precisa estar em posição relaxada, com o braço direito cruzado (cotovelo
flexionado) sobre o tórax. Use a sua mão esquerda para estabilizar o corpo, oferecendo resistência no
lado esquerdo da pelve, localizando a crista ilíaca com a palma e os dedos da mão direita. Assim que
essa região for localizada, encontre o ponto mais superior da crista por meio da palpação horizontal
com as pontas dos dedos. Identificado, desenhe um ponto ou uma linha horizontal curta ao nível da
crista que coincide com a linha axilar média.
O local da dobra da crista ilíaca corresponde ao centro da dobra cutânea que se forma imedia-
tamente acima da marcação do ponto ilíocristal. É necessário que o paciente continue com o braço

140
UNIDADE 4

direito cruzado (cotovelo flexionado) sobre o peito. A dobra se forma imediatamente acima do ponto
ilíocristal. É preciso posicionar a ponta do polegar esquerdo no local de marcação e destacar a dobra
acima da marca, entre o polegar e o indicador esquerdos. A dobra se orienta ligeiramente para baixo
e para frente, seguindo a orientação da dobra natural da pele (STEWART et al., 2011).
O ponto ilíoespinal se situa no local mais inferior da espinha ilíaca anterossuperior. É necessário
realizar a marcação com o paciente em posição relaxada, com o braço direito cruzado (cotovelo fle-
xionado) sobre o peito. Você deve apalpar o aspecto superior do ílio, seguindo o contorno da crista
ilíaca até a espinha ilíaca anterossuperior. O ponto ilíoespinal deve ser marcado com uma ponta na
borda mais inferior dessa espinha ilíaca, a partir de uma rotação externa da articulação do quadril, a
fim de facilitar o processo da localização do ponto.
Em conexão, o local da dobra supraespinal se dá em um ponto resultante da intersecção de duas linhas:

1. A linha desde o local de marcação do ilíoespinal até a margem axilar anterior.


2. A linha horizontal no nível do local de marcação do ilíocristal.

Recomenda-se que o paciente esteja em posição relaxada, em pé, com os braços pendentes ao longo do
tronco. O braço direito pode estar em abdução após a identificação da margem axilar anterior. Você deve
estender uma trena desde a margem axilar anterior até o local de marcação do ilíoespinal. Trace uma
linha curta ao longo da trena, aproximadamente, ao nível do ilíocristal. Posteriormente, estenda a trena
horizontalmente em torno do local de marcação do ilíocristal para que cruze com a primeira linha. Loca-
lizado o ponto de intersecção, desenhe outra cruz na intersecção, a fim de identificar a orientação correta
da dobra cutânea, ou seja, alinhada com o sentido da dobra natural da pele (STEWART et al., 2011).
Também podemos realizar a dobra abdominal. O ponto está localizado 5 cm horizontal à direita
do ponto médio do umbigo. Para realização, recomenda-se que o paciente fique em posição relaxada,
em pé, com os braços pendentes ao longo do tronco, visto que a identificação do local se dá por meio
de uma medida horizontal de 5 cm à direita do paciente, a partir do ponto médio do umbigo. A dobra
cutânea obtida nesse local é uma dobra vertical. O uso da distância de 5 cm pressupõe a altura de um
adulto. Entretanto, quando a estatura for muito diferente, como em crianças pequenas, a distância deve
ser corrigida em função da altura. Portanto, se a estatura for 120 cm, a distância será 5 x 120/170= 3,5
cm (STEWART et al., 2011).
A dobra da panturrilha está localizada na face mais medial da panturrilha no nível do perímetro
máximo, sendo determinado por tentativa e erro. Ela é identificada a partir do uso dos dedos médios
para manipular a posição da trena em uma série de medições para cima e para baixo. Recomenda-se
que o paciente esteja em posição relaxada, em pé, sobre um banco, com os braços pendentes ao longo do
tronco. Logo, os pés do paciente devem ficar separados e o peso deve ser igualmente distribuído. Durante
a medição, quando você localizar o nível máximo, é necessário realizar uma marcação por meio de uma
linha horizontal curta sobre a parte medial da panturrilha. A partir de então, uma linha vertical é marcada
na parte medial da panturrilha para indicar o local da dobra cutânea (STEWART et al., 2011).
O ponto de marcação da patela se situa no ponto médio da margem superior posterior da patela.
Recomenda-se que o paciente se sente na borda do banco com o joelho direito estendido e os calca-

141
UNICESUMAR

nhares no chão. Você apalpará a patela desde as porções lateral e medial até
chegar à margem superior. A face posterior é apalpada por meio do tendão
patelar. Para a localização do ponto, você colocará a unha do polegar na
margem superior posterior e realizará a marcação do ponto quando o pa-
ciente flexionar o joelho até 90°. Em seguida, poderá ser encontrado o local
da dobra da coxa anterior, situado no ponto médio de uma linha entre os
pontos patelar e inguinal.
O paciente deve estar em posição sentada sobre a borda do banco com o
tronco ereto e os braços pendentes lateralmente. O joelho direito deve estar
em um ângulo reto. Você precisa estar posicionado lateralmente à coxa direita
do paciente. Posicione uma extremidade do equipamento de medição sobre
o ponto patelar e a outro sobre o ponto inguinal. Meça a distância entre eles
e faça uma pequena marca horizontal no nível do ponto médio. Em seguida,
marque uma linha perpendicular que cruze a linha horizontal. Essa linha é
localizada na linha média da coxa. Com o uso da trena métrica, evite que ela
siga a curvatura da superfície da pele (STEWART et al., 2011).
De modo geral, avaliar as medidas antropométricas com precisão pode ser
difícil, sendo necessário extremo cuidado. Sempre que houver atenção insu-
ficiente em uma técnica precisa de medição, a reprodutibilidade apropriada
não será obtida. Como vimos, nas descrições dos procedimentos de medi-
ções, é essencial ter um alto grau de habilidade técnica para obter resultados
consistentes. Ao longo de sua prática profissional, você desenvolverá uma
técnica apropriada, reduzindo o nível de erro em medidas repetidas. Além
disso, sugere-se usar o lado direito do corpo do paciente para as medições ou
o lado dominante. No entanto, quando for impraticável usar o lado direito,
o lado esquerdo pode ser utilizado. Um ponto importante: as medições não
devem ser realizadas após treino ou competições, sauna, natação ou banho,
uma vez que os exercícios, a água quente e o calor podem causar desidratação
e/ou hiperemia, o que afeta a massa corporal, as dobras cutâneas e as medidas
de perímetros (STEWART et al., 2011).
Explicaremos como se dão algumas medidas básicas, como a identifica-
ção da massa corporal (peso). Ela é uma medida registrada, estimada ou
calculada. Inicialmente, pesa-se previamente o paciente com o uso de roupas
mínimas, a fim de garantir a melhor precisão. O paciente deve estar de pé,
no centro da balança, sem apoio e com o peso igualmente distribuído em
ambos os pés. Os valores mais estáveis são aqueles obtidos rotineiramente
pela manhã, em jejum de 12 horas, e após a evacuação. Entretanto, como nem
sempre é possível padronizar o tempo de medição, é importante registrar o
horário do dia em que as medições são realizadas (STEWART et al., 2011).
Na Figura 5, você pode conferir o uso de uma balança digital de modo correto.

142
UNIDADE 4

Figura 5 - Medida de peso em balança digital de plataforma / Fonte: Sanches, Bresan e Del Ré (2020, p. 19).

Descrição da Imagem: trata-se de uma ilustração, em preto em braço, com algumas setas em vermelho, as quais indicam os pontos
em que o corpo deve encostar na parede. Há uma parede e uma figura de um homem em pé, encostado na parede. Ela olha para frente
e tem os braços estendidos ao longo do corpo. Na região da cabeça, uma seta indica, mediante a uma caixa de texto, a parte posterior
da cabeça. Isso se repete nos ombros, nas nádegas, nas panturrilhas e nos calcanhares.

143
UNICESUMAR

A estatura, por sua vez, é aferida a partir do uso de um antropômetro. A avaliação com extensão
exige que o paciente fique em pé, com os calcanhares unidos. Os calcanhares, os glúteos e a parte su-
perior das costas devem estar em contato com a escala. A cabeça precisa estar posicionada no plano
de Frankfort. Existem quatro técnicas gerais para medir a estatura: posição em pé, estatura contra a
parede, estatura com extensão e comprimento medido na posição deitada. O método de comprimento
medido na posição deitada pode ser aplicado em crianças ou em adultos incapazes de se manter em
pé. É importante lembrar que há variações de estatura ao longo do dia. Geralmente, os pacientes são
mais altos de manhã e mais baixos à noite. Logo, é comum uma perda de cerca de 1% da estatura total
ao longo do dia (STEWART et al., 2011).
Antes de entendermos como são realizadas as medições das dobras cutâneas, precisamos tecer
alguns apontamentos sobre a técnica em si, visto que, dentre todas as medidas antropométricas, as
dobras cutâneas são aquelas que oferecem a menor exatidão e precisão. Portanto, é necessário cuidado
ao realizar as medições. Envolta nesse cuidado temos a identificação, utilizando, como base, os pontos
de referência, já que a localização incorreta dos locais das dobras foi apontada como uma das maiores
fontes de erro analítico.
Além disso, a dobra cutânea deve ser destacada no local da marcação. As pontas do polegar e do
indicador devem estar alinhadas com a linha mais curta do ponto de referência, perpendicularmente à
orientação da dobra. O dorso da mão deve estar voltado a você e a dobra deve ser segurada e destacada
(elevada) de forma que uma dupla camada de pele e de tecido adiposo subcutâneo seja mantida entre
o polegar e o indicador esquerdos. Lembre-se de que o tamanho da dobra que se forma deve ser o
mínimo necessário para assegurar que as duas superfícies de pele da dobra fiquem paralelas. Cuidado
para não adicionar tecido muscular ao segurar a dobra (STEWART et al., 2011).
Ademais, as extremidades das áreas de contato do plicômetro devem ser colocadas a 1 cm de
distância do polegar e do indicador. Se ele for colocado em uma posição muito profunda ou muito
superficial, podem ser obtidos valores errados. É necessário ter prática para garantir que se destaque
sempre a mesma espessura de dobra, na mesma localização, em medidas repetidas. Você deve segurar a
dobra durante todo o tempo em que o plicômetro estiver em contato com a pele, soltando apenas após
a leitura da medida. Libere totalmente o gatilho do plicômetro durante a leitura da medida, permitindo
que a pressão máxima do plicômetro seja aplicada sobre a dobra cutânea (STEWART et al., 2011).
Conheceremos as principais dobras utilizadas na prática clínica para avaliação nutricional. Temos
a dobra cutânea do tríceps, que é uma medida obtida paralelamente ao eixo longitudinal do braço
no local da dobra do tríceps. O paciente precisa estar em posição relaxada, em pé, com o braço direito
pendente ao longo do tronco e a mão em posição de semipronação. Você realizará apalpação do local
onde a linha média da face posterior do braço encontra a linha do acrômio- radial médio projetada
perpendicularmente ao eixo longitudinal do braço (STEWART et al., 2011).
A dobra cutânea subescapular é uma medida da dobra obtida obliquamente de cima pra baixo
no local da dobra subescapular, necessitando que o paciente fique em posição relaxada, em pé, com os
braços pendentes ao longo do tronco. A linha da dobra é determinada pelas linhas das dobras naturais
na pele (STEWART et al., 2011).

144
UNIDADE 4

A dobra cutânea do bíceps é uma medida obtida paralelamente ao eixo longitudinal do braço,
no local da dobra do bíceps. O paciente deve ficar em posição relaxada, em pé, com o braço direito
pendente ao longo do tronco e com a mão em posição de semipronação. Você precisa realizar a pal-
pação desse local em uma linha vertical na metade do ventre do músculo, quando se vê pela frente,
encontrada a linha do acrômio-rádio medial projetada (STEWART et al., 2011).
A dobra cutânea da crista ilíaca é a medida da dobra obtida quase horizontalmente no local da
dobra da crista ilíaca. Ela é realizada com o paciente em posição relaxada, em pé, com o braço direito
em abdução ou cruzado sobre o tronco. A linha da dobra, geralmente, estende-se ligeiramente de cima
para baixo, em orientação posterior-anterior, seguindo a orientação das linhas das dobras naturais da
pele (STEWART et al., 2011).
A dobra cutânea supraespinal corresponde à medida da dobra obtida oblíqua e medialmente, de
cima para baixo, no local da dobra supraespinal. O paciente deve ficar em posição relaxada, em pé, com
os braços pendentes ao longo do tronco, sendo que a dobra se estende medialmente, de cima para baixo e
anteriormente a um ângulo de cerca de 45°, definido pela dobra natural da pele (STEWART et al., 2011).
A dobra cutânea abdominal é uma medida obtida verticalmente, no local da dobra abdominal.
Para realização, o paciente deve ficar em posição relaxada, em pé, com os braços pendentes ao longo
do tronco. É importante que você verifique se a dobra segurada inicialmente é firme e ampla, pois,
frequentemente, a musculatura subjacente não é bem desenvolvida, podendo resultar em uma medida
subestimada da espessura da camada subcutânea de tecido (STEWART et al., 2011).
A dobra cutânea da coxa anterior é medida a partir da dobra obtida paralelamente ao eixo
longitudinal do local da dobra da coxa anterior. O paciente deve ficar sentado na borda de um banco,
com o tronco ereto. Os braços precisam apoiar os insquiostibiais, o joelho precisa ficar estendido e o
calcanhar no chão. Devido às dificuldades com essa dobra, dois métodos são recomendados:

1. Com o joelho estendido, o paciente apoia os isquiostibiais, elevando a região femoral


posterior.
2. Você fica em pé, de frente e do lado direito do paciente, lateralmente em relação à coxa.
A dobra é elevada no local marcado e a medição é realizada (STEWART et al., 2011).

A dobra cutânea da panturrilha é obtida verticalmente no local da dobra da panturrilha. Lembre-se


de que o ponto é localizado e marcado com o peso corporal igualmente distribuído nas duas pernas
e a medida da dobra é realizada com o joelho flexionado em 90° para reduzir a tensão muscular, fa-
cilitando a medição da dobra. Portanto, o paciente fica em posição relaxada, em pé, com o pé direito
posicionado sobre um banco. O joelho direito é flexionado em um ângulo de cerca de 90° e a dobra
aferida é paralela ao eixo longitudinal da perna (STEWART et al., 2011).
Associada à avaliação antropométrica, a medição de perímetros é fundamental. A técnica de
cruzamento das pontas da trena é usada para medir todos os perímetros e a leitura é realizada a partir
da trena. Para uma visualização facilitada, o zero é colocado sobre o sujeito mais lateral do que medial-
mente. A trena deve ser mantida em ângulos retos em relação ao membro ou ao segmento corporal

145
UNICESUMAR

a ser medido. A tensão da trena deve ser constante.


Para tanto, a trena não deve comprimir a pele, sendo
recomendado o uso de trenas que te permitam con-
trolar a tensão, com o objetivo de minimizar o espaço
entre a trena e a pele, diminuindo as depressões da
pele sempre que possível (STEWART et al., 2011).

Por vezes, há menção ao uso do plano de


Frankfurt durante as medições antropomé-
tricas. Ele está inserido, com o intuito de
promover uma correta avaliação da posição
natural da cabeça, fato que influenciará di-
retamente no diagnóstico e na avaliação da
morfologia facial. Sugiro a leitura do artigo
a seguir, com o objetivo de entender a apli-
cabilidade e a importância clínica em vários
segmentos da área da saúde.

Para posicionar a trena, segure o invólucro com a mão


direita e a extremidade da trena com a mão esquerda,
de frente para a parte do corpo a ser medida. Passe
a ponta da trena por trás do membro ou do tronco e
leve-a até a mão direita, que deve segurar o invólucro
e a ponta da trena ao mesmo tempo, com suficiente
tensão para mantê-la em posição.
A mão esquerda é, então, liberada para manipular
a trena até o nível correto. Quando atingido, a mão

146
UNIDADE 4

esquerda agarra por baixo o invólucro da trena. Dessa


forma, a trena é corretamente posicionada em torno
da parte a ser medida, com os dedos médios livres
para finalizar a inserção da trena na posição exata,
com atenção para leitura da trena. Os seus olhos de-
vem estar no mesmo nível da trena e diretamente em
frente ao zero, para evitar qualquer erro de paralaxe
(STEWART et al., 2011).
Também há o perímetro da cabeça, correspon-
dendo à circunferência da cabeça imediatamente acima
do ponto médio entre as sobrancelhas e perpendicular
ao eixo longitudinal da cabeça. O paciente deve estar
em posição relaxada, sentado ou em pé, com os braços
pendentes ao longo do tronco e a cabeça no plano de
Frankfurt. Você precisa puxar a trena firmemente para
comprimir o cabelo, usando os dedos médios nos lados
da cabeça, com o intuito de evitar que a trena deslize
à frente. Não inclua as orelhas e assegure que não haja
grampos, presilhas ou itens semelhantes sob a trena
durante a medição (STEWART et al., 2011).
O perímetro do braço relaxado corresponde à
circunferência do braço no nível do local do acrômio-
-radial médio, perpendicular ao eixo longitudinal do
braço. É recomendado que o paciente esteja em posição
relaxada, em pé, com os braços pendentes ao longo do
tronco. O braço direito deve estar em leve abdução para
permitir a colocação da trena em torno do braço. Logo,
assim que a posição da trena cruzada é atingida, a tre-
na deve ser alinhada para que o ponto acrômio-radial
médio fique situado de maneira central entre as duas
partes da trena (STEWART et al., 2011).
Em somatória, há o perímetro do braço flexionado
e tensionado, correspondendo à circunferência do bra-
ço perpendicular ao eixo longitudinal do braço no nível
do maior volume do bíceps braquial contraído, quando o
braço está elevado anteriormente e na horizontal. O pa-
ciente deve estar em pé, com o braço esquerdo pendente
ao longo do tronco, e o direito elevado anteriormente
para a horizontal, com o antebraço em supinação e o
cotovelo flexionado em 90° em relação ao braço.

147
UNICESUMAR

Você deve segurar o invólucro da trena com a mão direita e passar a ponta da trena por cima do
braço até embaixo. A mão esquerda alcança a trena distalmente para retomar o controle da extremidade
da trena e a move na posição da trena cruzada. Assim, o paciente é solicitado a contrair parcialmente
o bíceps, para que você possa identificar o volume máximo do músculo totalmente contraído. Quan-
do estiver pronto para fazer a leitura, você pede para que o paciente contraia o bíceps ao máximo e
mantenha a contração enquanto a medição é realizada no nível do ponto mais alto do bíceps. Caso
não haja uma zona de maior volume evidente, esse perímetro poderá ser medido no nível do ponto
acrômio-radial médio (STEWART et al., 2011).
O perímetro da cintura corresponde à circunferência do abdome em seu ponto mais estreito
entre a margem costal inferior (10a costela) e a parte superior da crista ilíaca, perpendicular ao eixo
longitudinal do tronco. É necessário que o paciente esteja em posição relaxada, em pé, com os braços
cruzados sobre o tórax. Você deve estar à frente ou ao lado do sujeito, que deve abduzir levemente os
braços, permitindo a colocação da trena em torno do abdome. É necessário que você segure com a
mão direita a ponta da trena métrica e o invólucro dela. Use a mão esquerda para ajustar a posição da
trena nas costas do sujeito, no nível de mais estreito determinado.
Em seguida, retome o controle da trena com a mão esquerda e, utilizando a técnica de trena
cruzada, posicione a trena no nível desejado. Peça para que o paciente respire normalmente e a
medição é realizada ao final de uma expiração normal. Caso não seja possível visualizar uma zona
mais estreita, a medição pode ser obtida no ponto médio entre a margem costal inferior (10a costela)
e a crista ilíaca (STEWART et al., 2011).
O perímetro do quadril, por sua vez, corresponde à circunferência dos glúteos no nível da maior
protuberância posterior, perpendicular ao eixo longitudinal do tronco. Para aferição, o paciente deve
estar em posição relaxada, em pé, com os braços cruzados sobre o tórax. Os pés precisam estar unidos
e os músculos glúteos relaxados. Você deve estar ao lado do paciente, passando a trena em torno dos
quadris. Para tanto, segure, com a mão direita, a ponta da trena métrica e o invólucro dela. Com a mão
esquerda, ajuste a posição da trena ao nível de maior protuberância dos glúteos do paciente. Em segui-
da, retome o controle da trena com a mão esquerda e, usando a técnica de trena cruzada, posicione a
trena lateralmente, verificando se ela está no plano horizontal e no nível desejado, antes de realizar a
leitura da medida (STEWART et al., 2011).
O perímetro da coxa média é medida no nível entre o ponto mais superior do trocânter maior
do fêmur e o ponto mais superior do côndilo lateral da tíbia, perpendicular ao eixo longitudinal. O
paciente deve estar em posição relaxada, em pé, com os braços cruzados sobre o tórax. Os pés devem
estar separados, com o peso do corpo igualmente distribuído. Para facilitar a medição, o paciente poderá
ficar em pé sobre um banco. Você passará a ponta da trena em torno da parte inferior da coxa e, então,
deslizará a trena para cima, até o plano correto. Você deve segurar com a mão direita a extremidade da
trena e o invólucro dela, enquanto usa a mão esquerda para ajustar o nível da trena no ponto desejado.
Em seguida, retome o controle da trena com a mão esquerda e, usando a técnica de trena cruzada,

148
UNIDADE 4

posicione a trena, para que seja mantida em um plano perpendicular. Logo, a trena é reajustada de
acordo com o necessário para evitar que deslize e pressione a pele (STEWART et al., 2011).
Por fim, o perímetro da panturrilha é definido pela circunferência da perna no nível do local da
dobra da panturrilha, perpendicular ao eixo longitudinal da coxa. O paciente deve estar em posição
relaxada, em pé, com os braços pendentes ao longo do tronco. Além disso, os pés do paciente devem
estar separados, com o peso do corpo igualmente distribuído. Pelo lado, você passará a trena em torno
da panturrilha e, então, a deslizará até o plano correto.
Você deverá segurar, com a mão direita, a extremidade da trena no ponto desejado. Depois, retome o
controle da trena com a mão esquerda e, usando a técnica de trena cruzada, posicione a trena para que
ela seja mantida em um plano perpendicular ao eixo da perna. Por fim, a trena é reajustada de acordo
com necessário para evitar que deslize e pressione a pele. É interessante que o paciente fique em pé, em
uma superfície elevada, para facilitar o alinhamento dos seus olhos com a trena (STEWART et al., 2011).
Analise a Figura 6, que é uma espécie de guia de todos os perímetros mencionados.

Perímetro cefálico

Perímetro Braço
relaxado

Perímetro da Perímetro do
cintura braço flexionado
e tensionado
Perímetro
do quadril
Perímetro da
coxa média
Perímetro da
panturrilha

Figura 6 - Diagrama esquemático dos pontos anatômicos para aferição das circunferências e dos perímetros corpóreos

Descrição da Imagem: a figura é composta por dois homens, um representando um homem obeso e o outro simbolizando um homem
musculoso. No homem obeso, há algumas caixas de texto, que são correspondentes ao perímetro do braço relaxado, ao perímetro do
quadril e ao perímetro da coxa média. No homem musculoso, há caixas de texto correspondentes ao perímetro cefálico, ao perímetro
da cintura, ao perímetro do braço flexionado ou tensionado e ao perímetro da panturrilha.

149
UNICESUMAR

Nesta unidade, compreendemos que afe-


rir medidas, interpretar cálculos e equa-
ções, analisar a composição corporal do
paciente e utilizar aparelhos na antropo-
metria são tarefas que requerem um bom
treinamento por parte do avaliador. Essas
ações apresentam muitas vantagens, já
que são métodos de boa operacionali-
zação e acurácia. Entretanto, carregam
algumas limitações. De modo geral, a
antropometria é um campo rico em
opções, podendo ser considerada uma
grande aliada do nutricionista. Todavia,
ela não deve ser usada de forma isolada
no diagnóstico nutricional. É necessária
a contribuição de outros indicadores,
como os exames bioquímico e físico. Es-
teja sempre estudando o tema: leia artigos
relacionados, busque conhecer os avan-
ços tecnológicos na área e certifique-se
de utilizar a metodologia que se encaixa
especificamente ao perfil de seu paciente.

150
Caro(a) aluno(a), encerramos esta unidade. Contudo, antes, gostaria de convidá-lo a realizar uma
verificação crítica dos seus conhecimentos sobre a análise da composição corporal a partir do mapa
mental a seguir.

Suprailíaca Subescapular
Tríceps
Métodos de campo
Dobras cutâneas

Coxa anterior

ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO CORPORAL

Pletismograma de deslocamento de ar
Absorciometria de energia dupla de raio X

Métodos laboratoriais

Ultrassom e ressonância magnética

Descrição da Imagem: trata-se de um mapa mental. Ele é composto por várias caixas de texto no formato retangular e dis-
postas em várias cores. A caixa de texto central é maior que as demais. Ela carrega o seguinte texto: “Análise da composição
corporal”. Dela, saem duas caixas de texto. Uma se refere aos métodos de campo e a outra sobre os métodos laboratoriais.
Da última, saem cinco caixas de texto às quais se referem à absorciometria de energia dupla de raio x, à pletismograma de
deslocamento de ar, ao ultrassom e à ressonância magnética. As outras duas estão sem texto. Acima, a caixa de texto referente
aos métodos de campo se conecta a uma caixa de texto, referente às dobras cutâneas, a qual está conectada a outras sete
caixas de texto. São elas: suprailíaca, coxa anterior, subescapular e tríceps. As restantes estão sem texto.

151
1. Leia o fragmento a seguir:

“Uma das características desenvolvidas ao longo da evolução humana foi a capacidade de


estocar energia na forma de gordura, uma característica que permite condições extremas de
sobrevivência. Com a evolução das espécies esta característica se tornou um ponto negativo,
porque nas últimas décadas o homem vem desenvolvendo tecnologias para ajudá-lo a preser-
var energia, transformando-os em indivíduo obeso e hipocinético. A Organização Mundial da
Saúde classifica a obesidade como uma epidemia do século XXI, diagnosticando este problema
a partir de avaliações da composição corporal, ferramentas que buscam quantificar os compo-
nentes do organismo humano, permitindo assim, o acompanhamento de diversas variáveis”.

NEVES, E. B. et al. Comparação do percentual de gordura obtido por bioimpedância, ultrassom e dobras
cutâneas em adultos jovens. Curitiba: Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2013.

Devido à relevância da composição corporal, avalie as medidas aferidas no paciente em questão


e calcule a densidade corporal e %GC por meio da equação de Guedes. Paciente V. G. P., sexo
masculino, 28 anos, 78,8 kg, DCT= 15,9 mm, DCSI= 21,7 mm e DCA= 24,6 mm.

2. Após a realização das medidas antropométricas, os valores devem ser analisados a partir de
índices para obtenção dos indicadores antropométricos, ou seja, interpretação dos resultados
e posterior definição do diagnóstico. A escolha da técnica, do índice e dos critérios de classifi-
cação deve ser feita com cautela, além de atender às características da população investigada.

SANCHES, P. M. A.; BRESAN, D.; DEL RÉ, P. V. Guia prático de antropometria para adultos: técnicas, índices
e indicadores. Campo Grande: UFMS, 2020.

Em relação aos índices antropométricos e àquilo que avaliam, assinale a alternativa correta:

a) Por meio do IMC/idade, do diâmetro abdominal sagital e da dobra cutânea suprailíaca, é


possível avaliar o tecido muscular de adultos.
b) Por meio do índice de conicidade, da área muscular do braço e do braço/idade, é possível
avaliar o crescimento e o desenvolvimento de adolescentes.
c) Por meio da área muscular do braço, da circunferência de panturrilha e do perímetro torácico,
é possível avaliar o crescimento e o desenvolvimento de uma criança.
d) Por meio da circunferência muscular do braço, da dobra cutânea do tríceps e do diâmetro
abdominal sagital, é possível conhecer a distribuição da gordura corporal de adultos.
e) Por meio da circunferência da panturrilha, da dobra cutânea subescapular e da área muscular
do braço, é possível conhecer alguns índices sobre o tecido muscular e adiposo em adultos.

152
3. Os indicadores antropométricos empregados nas rotinas de avaliação da composição corporal
têm sido usados na predição do risco de doenças vasculares devido à praticidade, baixo custo
e boa confiabilidade, sendo amplamente empregados tanto na clínica quanto em estudos
epidemiológicos.

LOUREIRO, N. S. L. et al. Relação dos indicadores antropométricos com fatores de risco para doença cardio-
vascular em adultos e idosos de Rio Branco, Acre. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 54, 2020.

Considerando as medições antropométricas e as respectivas funções e aplicabilidades, assinale


a alternativa correta:

a) A antropometria tem como objetivo refletir as alterações do estado nutricional de um paciente


em curtos intervalos de tempo.
b) A antropometria utiliza o IMC para indicar uma variação de massa magra e gordura corporal,
refletindo diretamente o estado nutricional do paciente.
c) A antropometria não pode ser considerada um método rápido e indolor. No entanto, não é
invasivo, apresenta baixo custo e garante medições fidedignas.
d) A antropometria utiliza a perda de peso imediata e o IMC como importantes índices para
avaliar a composição corporal e o estado nutricional do paciente.
e) A antropometria visa à captura de medidas sensíveis, as correlaciona aos indicadores de saúde,
sendo um bom parâmetro para análise da condição física e de desenvolvimento e crescimento.

153
154
5
Análise da Composição
Corporal na Avaliação
Nutricional
Dra. Lorena dos Santos Castro

Olá, estudante! Nesta unidade, você terá a oportunidade de apren-


der a antropometria e a cineantropometria na composição corporal.
Também ampliará o seu conhecimento sobre as metodologias que
regem os métodos diretos, indiretos e duplamente indiretos. Além
disso, conhecerá as diversas maneiras de descobrir a porcentagem
de gordura corporal de um paciente, saberá encontrar os valores
em kg das massas gorda e magra, e entenderá as classificações
perante aos órgãos regulamentares.
UNICESUMAR

Olá, caro(a) aluno(a), gostaria de apresentar a evolução de uma paciente. Trata-se de uma mulher de
23 anos que pesa 50 kg. Ela iniciou tratamento nutricional visando ganho de massa magra e redução
do percentual de gordura. Durante a avaliação nutricional da paciente, foi escolhida a análise da com-
posição corporal pelo método de bioimpedância elétrica, apresentando 10 kg de gordura, 40 kg de
massa magra e 20% de gordura corporal.
Após seis meses de acompanhamento nutricional com dieta hipercalórica e treino com sobrecarga, a
paciente retornou. Agora, apresenta peso de 55 kg, com 45 kg de massa magra, 10 kg de gordura e % de
gordura corporal de 18%. Considerando a análise da composição corporal da paciente a partir de dois
componentes, é possível fazer qual análise da evolução da paciente? Essa análise pode ser a mais indicada?
Interpretar adequadamente a % de gordura corporal de um paciente é uma tarefa fundamental do
nutricionista. Entretanto, essa análise pode estar sujeita a erros e carrega muitas limitações. Esse fato
pode ocorrer, pois cada modelo de análise da composição corporal inclui mais de uma medida, assim
como há certa tendência de se referir aos resultados por meio de análises de modelos fisiológicos ou
celulares, expondo a composição corporal de diferentes formas, devido aos distintos tipos de análise
de determinação dos tecidos.

156
UNIDADE 5

No caso da paciente do caso clínico, foi possível observar que houve uma redução de 2% de gordura
corporal e um aumento de 5 kg de massa muscular. Logo, a análise foi realizada a partir de dois com-
ponentes: massa de gordura e massa magra, o que classificou a paciente com %GC (gordura corporal
total) abaixo da média. Ao realizar a análise, optou-se pelo uso de dois componentes, o que é útil para
classificar os pacientes visando à manutenção da saúde ou de práticas esportivas, já que é possível
monitorar as mudanças a partir de treinamentos e intervenções nutricionais. É uma forma prática e
eficaz de aplicar em seus futuros atendimentos nutricionais, por exemplo.
Para a experimentação desta unidade, sugiro que realize uma atividade prática muito ilustrativa
sobre um dos principais temas abordados. Considerando que você ainda não tem um aparelho de
análise da composição corporal, como uma bioimpedância ou plicômetro, proponho uma análise
diferente. Para tanto, pratique a aferição do peso e da estatura em indivíduos adultos com faixa etária
semelhante (sugiro adultos e idosos). Depois, calcule o IMC de todos. Caso não tenha equipamentos
para aferição, questione ao indivíduo quais foram o último peso e a estatura encontrados. Depois do
cálculo do IMC, levante o seguinte questionamento: você encontrou indivíduos com IMC próximos
ou semelhantes? Se sim, os respectivos apresentavam a mesma forma física?
Após a realização da experimentação, acredito que foram encontrados vários índices de massa cor-
poral, não é mesmo? Quanto maior for o número de pessoas recrutadas, maiores serão as diferenças
encontradas. Assim, ficou claro que não é possível inferir a composição corporal de nenhum indivíduo
apenas pelo IMC, mas é possível notar que ela pode exercer influência direta sobre o peso do paciente.
Analisemos alguns casos:

Caso 1 = Modelo do sexo feminino. Peso de 31 kg, estatura de 165 cm e IMC de 11,39 kg.m2.

Caso 2 = Modelo do sexo feminino. Peso de 54,4 kg, estatura de 177 cm e IMC de 17,36 kg.m2.

Caso 3 = Atleta Arthur Zannetty. Peso de 63 kg, estatura de 155 cm e IMC de 26,22 kg.m2.

Caso 4 = Jogador de rugby Sébastien Chabal. Peso de 110 kg, estatura de 190 cm e IMC de 30,47 kg.m2.

Caso 5 = Fisiculturista Phil Heath. Peso de 120 kg, estatura de 175 cm e IMC de 39, 18 kg.m2.

Caso 6 = Lutador de sumô Wakanohana Masaru. Peso de 134 kg, estatura de 180 cm e IMC de 41,36 kg.m2.

A partir da apresentação dos seis casos, foi possível observar que o IMC é uma medida grosseira que
ignora mais da metade das pessoas com excesso de peso corporal. Além disso, generaliza quadros por
não ter uma boa relação com a gordura corporal, não diferenciando o tecido adiposo de muscular.
Você percebeu isso em suas aferições? Anote aquilo que observou em seu diário de bordo.

157
UNICESUMAR

Olá, caro(a) estudante! Iniciaremos a nossa unidade entendendo como foram


originados os métodos de análise da composição corporal. Você tem alguma
curiosidade sobre esse tema? Já sabemos que a antropometria e a cineantro-
pometria norteiam o estudo da composição corporal dos indivíduos. Para
tanto, a antropometria mensura o conjunto dos processos do corpo humano e
das partes dele, sendo uma peça importante ao estudo da cineantropometria,
porque é capaz de proporcionar informações específicas sobre a análise do
biótipo físico, como a forma, a composição corporal e a proporcionalidade.
Essa pauta se iniciou durante o processo evolutivo das espécies, principal-
mente da espécie humana, o que, aliás, foi muito significativo para analisar
a modificação de muitas estruturas corporais, resultando em modificações
na história filogênica, motivadas tanto pela genética quanto pelo fenótipo.
Em outras palavras, a partir da evolução humana, surgiram as semelhanças
e as diferenças provenientes da herança genética, que pode ser influenciada
pelo meio ambiente. Como consequência, foram originadas uma variedade
de formas, proporções e funções (MICHELS, 2000).

158
UNIDADE 5

Nosso tema esteve envolto aos aspectos históricos. Diversos critérios estéticos
sofreram influência sobre o desenvolvimento das identidades pessoal e social
durante décadas. O corpo humano sempre esteve relacionado a vários mitos,
os quais, por sua vez, caracterizam um determinado estado físico padrão, com
imagens, muitas vezes, subjetivas, que podem, ou não, ter relação com a estética.
Um grande exemplo sobre o tema foram as mudanças nos padrões da moda:
a definição do belo e saudável já foi considerado o que, hoje, é obesidade. Hoje, o
“belo” representa a magreza e os corpos musculosos, não é mesmo? Isso nos re-
mete à noção de que, desde muito cedo, o homem teve a necessidade de estudar
e classificar o corpo humano e os aspectos morfológicos dele.
Portanto, a antropometria e a cineantropometria possuem antecedentes histó-
ricos, os quais objetivaram o avanço da medicina e se preocuparam com a forma,
a proporção e a composição do corpo humano. Aliás, essa proporção foi muito
visionada e associada à conquista do homem em realizar qualquer trabalho ou
exercício físico, o que se vincula à quantidade e à proporção que existiam entre os
tecidos do organismo. A partir dessa percepção, foi iniciada a transformação dos
fenômenos biológicos em uma fórmula matemática (MICHELS, 2000).
Além da importância histórica, explorar a composição corporal de um paciente
ajuda a melhorar o desempenho motor, a capacidade de trabalho e a saúde dele,
afetando diretamente a qualidade de vida dele. Aliás, para que um desempenho
motor seja executado corretamente, é necessário que o paciente apresente certa
desenvoltura perante a algumas capacidades motoras coordenativas. É, portanto,
necessário estudar o paciente de forma estática e dinâmica, com base no estudo da
cineantropometria (CEZAR, 2000).
Logo, a cineantropometria pode ser considerada o estudo de pensamento em
direção ao ser humano e os movimentos que ele realiza. Ela está relacionada às
medidas e às avaliações de diferentes aspectos do paciente em movimento, assim
como as características físicas dele, visando ao estudo das variações inter-humanas.
O que seriam essas relações inter-humanas?
A cineantropometria não se interessa exclusivamente nas características e nas
qualidades de um indivíduo, mas também de grupos, nas variações que são encon-
tradas dentro de uma população e nas diferenças que ocorrem entre populações
no decorrer do tempo (BEUNEN; BORMS, 1990; CEZAR, 2000). Portanto, de
forma sintetizada e subjetiva, a palavra cineantropometria significa medida do
homem em movimento.
Devido às correlações da análise da composição corporal à qualidade de vida dos
indivíduos, esse campo se tornou de grande interesse para pesquisa em áreas esporti-
vas e no campo da nutrição. Assim, são diversas as maneiras de análise da composição
corporal. Há uma série de metodologias, com limitações e vantagens (CEZAR, 2000).
Observe a Figura 1, que exibe a classificação de algumas metodologias.

159
UNICESUMAR

Figura 1 - Classificação das metodologias de análise da composição corporal / Fonte: adaptada de Cezar (2000).

Descrição da Imagem: trata-se de um fluxograma. Inicialmente, há, na parte superior uma caixa de texto na cor rosa, com a seguinte
descrição: “Direto”. Embaixo, há uma seta indicando a região inferior e se conectando a outra caixa de texto azul com o conteúdo: “Dis-
secção de cadáveres”. Embaixo, há outra caixa de texto na cor rosa com o conteúdo: “Indireto”. Dela, saem três setas, uma para direita,
outra esquerda e outra para baixo. A da esquerda remete a uma caixa de texto azul com o conteúdo: “Físico-químicos”. Embaixo, há outra
caixa de texto verde com o texto: “Ativação de nêutrons, excreção de creatinina, potássio 40, deutério marcado, nitrogênio, carbono”. Da
seta do centro, há conexão com outra caixa de texto na cor azul com o conteúdo: “Imagem”. Logo embaixo há uma caixa de texto na cor
verde com o texto: “Radiologia clássica, DEXA ou densitometria óssea, ultra-sonografia, ressonância nuclear magnética e tomografia”. A
seta à direita se conecta a uma caixa de texto com a menção: “Densimetria”. Embaixo, há uma caixa de texto na cor verde com o conteúdo:
“Pesagem hidrostática, água corporal total, hidrometria, pletismografia”. Ao centro e embaixo das caixas de texto citadas, há outra caixa de
texto no centro na cor rosa, com o conteúdo: “Duplamente indireto”. Dela, saem outras três setas, uma para esquerda, uma para o centro
e outra para a direita. A seta da esquerda se conecta a uma caixa de texto azul com o conteúdo: “Impedância bioelétrica”. A seta do centro
se conecta a outra caixa de texto na cor azul com a menção: “Interactância de raios infravermelhos”. Por fim, a seta da direita se conecta
a outra caixa de texto azul com a menção: “Dobras cutâneas, perímetros, diâmetros ósseos, peso e estatura”.

Em relação à classificação das metodologias de análise de composição corporal, temos os métodos


diretos, indiretos e duplamente indiretos. Os métodos diretos avaliam os componentes teciduais
diretamente, em separado, por autópsia ou dissecação de cadáveres. Os indiretos, por sua vez, por
não oferecerem essa oportunidade de manipulação, são considerados métodos in vivo, validados a

160
UNIDADE 5

partir do método direto, porém elaborados com base em métodos químicos e físicos, por imagem ou
densitometria. Portanto, por meio de equações matemáticas, é possível inferir a densidade corporal
de um indivíduo. Como avaliar essa densidade?
O cálculo da densidade é obtido por intermédio de uma equação que estima a quantidade de
gordura corporal. Consequentemente, conhecendo a gordura corporal, é possível estimar a massa
magra, tanto a absoluta quanto a percentual. Por fim, temos os métodos duplamente indiretos, que
também são técnicas para análise in vivo e foram validados e correlacionados a partir de resultados
dos métodos indiretos (CEZAR, 2000).
Devido às diferentes técnicas e métodos de análise da composição corporal, os resultados encon-
trados oferecem valores de gordura diferentes e, muitas vezes, são verificados em uma metodologia e
referenciados em outras. Um grande problema! Isso pode acontecer devido ao fato de que cada modelo
de análise da composição corporal inclui mais de uma medida, assim como há certa tendência de os
profissionais se referirem ao resultado como se ele fosse analisado por meio de modelos fisiológicos
ou celulares. Portanto, a composição corporal pode ser exposta de diferentes formas, devido aos dis-
tintos tipos de análise ou determinação dos variados tecidos (CEZAR, 2000). Contudo, como avaliar
os distintos métodos de análise? Vamos observar o que alguns estudos nos relatam.
Wang, Pierson e Heymsfield (1992) realizaram um estudo que sugere uma abordagem interessante
para organizar a pesquisa da composição corporal. Vamos conhecê-la? Ela divide a análise da compo-
sição corporal em três áreas, todas interligadas:

1. Os níveis de composição corporal e as regras organizacionais.


2. As técnicas de medição.
3. Os fatores biológicos.

161
UNICESUMAR

No que diz respeito a essas áreas, Wang, Pierson e Heymsfield (1992) propõem cinco níveis de comple-
xidade crescente: o atômico, o molecular, o celular, o sistema de tecidos e o corpo inteiro. Isso, dado que,
embora cada nível e os múltiplos compartimentos sejam distintos, há conexões bioquímicas e fisiológicas,
de modo que o modelo funcione como um todo. Observe a Figura 2, que ilustra o tema (CEZAR, 2000).

Figura 2 - Modelo clássico de dois componentes e de multicomponentes proposto por Wang, Pierson e Heymsfield
Fonte: adaptada de Cezar (2000).

Descrição da Imagem: a figura é composta por seis colunas, uma ao lado da outra. Cada uma está subdividida e, embaixo de cada uma,
existe outra caixa de texto. A primeira coluna tem tom roxo e está dividida em duas partes: a gordura está no topo da coluna e representa
uma pequena porção da coluna e parte maior pela massa corporal magra. Embaixo da primeira coluna, há uma caixa de texto na cor cinza
com a menção: “Modelo básico 2C”. A segunda coluna está representada em tons de azul e dividida em quatro partes: na primeira, no
topo da coluna, há menção: “N, K, Ca, Na”. A segunda porção tem a menção: “Carbono”. Por sua vez, a terceira tem o seguinte conteúdo:
“Hidrogênio”. Por fim, com a maior porção da coluna, há: “Oxigênio”. Embaixo da coluna, há uma caixa de texto na cor cinza com a menção:
“Nível atômico”. A coluna três tem tons de verde e é dividida em quatro partes: a do topo se destina aos minerais. A de baixo, às proteínas
e, embaixo, aos lipídeos. Correspondendo à maior parte da coluna, encontra-se a água. Embaixo da coluna, há uma caixa de texto com
o conteúdo: “Nível molecular”. A quarta caixa de texto tem tons alaranjados e é dividida em quatro partes. A do topo corresponde aos
lipídeos; a de baixo ao sólido extracelular; a de baixo, ao fluído extracelular; a de baixo, correspondendo à maior porção da coluna, à
massa celular. Por fim, embaixo dessa coluna, há uma caixa de texto com a menção: “Nível celular”. A quinta coluna tem tons de cinza e
é dividida em cinco porções: a primeira faz menção aos outros; a outra ao sangue; a outra aos ossos; a outra ao tecido adiposo; e, por
fim, correspondendo à porção maior da coluna, há a menção ao músculo esquelético. Embaixo dessa coluna, há uma caixa de texto com
a menção: nível tecidual. Por fim, a última coluna tem cor vermelha, sem divisões, com apenas uma menção: “Corpo em sua totalidade”.
Embaixo, há uma caixa de texto com a menção: “Nível corporal”.

Wang, Pierson e Heymsfield (1992) mencionam que a análise da massa corporal também pode ser
dividida em compartimentos, com o intuito de definir a operacionalização dos diferentes pressupos-
tos teóricos e conceituais de metodologias da análise da composição corporal. Vamos compreender
esses diferentes modelos?

162
UNIDADE 5

Inicialmente, temos o modelo clássico, que é composto por dois componentes que dividem o cor-
po em duas partes: uma consiste em gordura corporal e a outra em todos os tecidos remanescentes,
conhecidos como massa livre de gordura (MLG). Quais métodos podem ser utilizados para analisar
esses dois componentes? Podem ser utilizados aqueles que identificam a densidade corporal total,
como a pesagem hidrostática.
Em contrapartida, há o modelo de três componentes, incluindo a água corporal total aos resultados
pela pesagem hidrostática. Desse modo, a MLG é dividida em duas partes: o conteúdo de água (líquido)
e de proteínas e minerais (sólidos remanescentes). Por fim, o modelo dos quatro componentes define a
massa livre de gordura a partir de três compartimentos básicos ou fisiológicos: a massa corporal total
(MC), a água ou fluído extracelular (FE) e os sólidos extracelulares (SE) (CEZAR, 2000).
Ellis (2000) relata que, para o método citado, os valores de densidade da água, gordura e sólidos
corporais podem ser aplicados em adultos saudáveis, idosos e crianças. No entanto, não podem ser
aplicados em pacientes com massa proteica, óssea ou corporal depletadas, visto que os valores da den-
sidade dos compartimentos sólidos resultariam em uma incorreta estimativa de massa gorda.
Pensando na definição de cada compartimento e na aplicabilidade deles, é possível definir a massa
livre de gordura pela fórmula a seguir:

MLG  MC  FE  SE

Já a massa de gordura total pode se dar pela fórmula:

MGT  MLG  peso

Além disso, Wang, Pierson e Heymsfield (1992) ressaltam que, quando apenas um método é utilizado,
as limitações técnicas geram maior imprecisão, associada ao método em questão. Os estudiosos também
sustentam que é importante conhecer os termos relacionados, utilizando-os corretamente em cada
situação. Portanto, conheceremos esses termos e os conteúdos que os compõem.
Inicialmente, temos o peso corporal, que é caracterizado pela soma do peso dos ossos, músculos,
órgãos, fluidos corporais e tecido adiposo. Eles podem sofrer alterações normais ao longo do tempo
como um reflexo do crescimento, do estado reprodutivo, da variação na atividade física e dos efeitos
de envelhecimento. Por vezes, o peso corporal foi descrito a partir da composição, tradicionalmente,
pela composição corporal, que é dada pela divisão do corpo em massa adiposa, correspondendo à
gordura corporal de todas as fontes, em massa livre de gordura (MLG), a qual inclui proteínas, água
e componentes minerais, e em massa corporal magra (MCM), composta por músculos (MAHAN;
ESCOTT-STUMP; RAYMOND, 2012).
A gordura corporal mencionada é a combinação das gorduras “essenciais” e de “armazenamento”,
normalmente, expressa como uma porcentagem do peso corporal total de um indivíduo, visto que
os músculos e a massa esquelética se ajustam para suportar o peso do tecido adiposo. Contudo, não

163
UNICESUMAR

pense que a gordura corporal é totalmente nociva ao corpo humano. Ela pode se apresentar de dife-
rentes formas, como a gordura essencial, necessária para o funcionamento fisiológico normal, a qual
é armazenada em pequenas quantidades na medula óssea, no coração, no pulmão, no fígado, no baço,
nos rins, nos músculos e no sistema nervoso.
Por outro lado, há a gordura de armazenamento, caracterizada por ser uma reserva de energia, princi-
palmente na forma de triglicerídeos no tecido adiposo, acumulando-se sob a pele e ao redor dos órgãos
internos para protegê-los de traumas. Os estoques podem variar extensamente, permitindo a evolução
das necessidades de crescimento, reprodução, envelhecimento, condições ambientais e fisiológicas,
disponibilidade de alimentos e da atividade física (MAHAN; ESCOTT-STUMP; RAYMOND, 2012).
Vamos compreender como avaliar a proporção de gordura corporal para garantir uma boa
condição de saúde? Em sua análise, podem ser utilizadas várias técnicas. O uso da técnica de dobras
cutâneas é conhecido há muitos anos, mas somente a partir dos anos 60 esteve mais difundido e houve
um número crescente de equações desenvolvidas para determinar duas variáveis principais: a densi-
dade corporal (D) e a porcentagem de gordura corporal (%GC). A maioria dos modelos determina,
primeiramente, o valor da densidade a partir da predição da %GC, mas existem outras maneiras,
principalmente com o objetivo de superar as limitações dessa técnica.
Nesse contexto, pode ser utilizado diretamente o somatório da espessura das dobras cutâneas em
valores absolutos (milímetros), considerada uma boa alternativa para avaliar com precisão a adiposi-
dade corporal, sem a transformação em %GC, descartando as equações de predição e os respectivos
questionamentos. Segue, a seguir, a fórmula em questão. Também é exibido o Quadro 1, com a classi-
ficação do somatório de dobras de acordo com Holway (2011).

∑ ( DCTríceps, DCSubescapular , DCSupraespinal , DCAbdômen, DCCoxa, DCPanturrilha)

Classificação Homens Mulheres

Muito baixo < 33,6 < 61,9

Baixo 33,7 -47,1 62 -69,5

Normal 47,2 -84,2 69,6 -112,6

Elevado 84,3 -94,3 112,7 -121,6

Muito elevado > 94,3 > 121,6

Quadro 1 - Classificação da composição corporal de acordo com o somatório de dobras cutâneas / Fonte: adaptado de Holway (2011).

Para exemplificar a classificação, considere a paciente I. R. C, de 45 anos e com peso de 57,5 kg. Ela apre-
sentou as seguintes aferições de dobras: DCTríceps: 25, DCsupraespinal: 20, DCAbdômen:40, DCCoxa:

164
UNIDADE 5

38, DCPanturrilha: 23. Logo, ao realizar a somatória das dobras pelo método de Holway, chegou-se ao
valor de 146, classificando a paciente com um somatório de dobras muito elevado. Segue o cálculo:

∑( DCTríceps, DCSubescapular , DCSupraespinal , DCAbdômen, DCCoxa, DCPanturrilha )


∑(25 + 20 + 40 + 38 + 23)
∑ =146

Como sabemos que há grande uso da análise da composição corporal por equações de predição, conhece-
remos a classificação. Ressaltamos que a proporção de gordura corporal (%GC) pode ser classificada como
adequada (saudável), excessiva (quadro de obesidade) ou reduzida (abaixo do necessário/desnutrição),
por meio da porcentagem avaliada no organismo (CEZAR, 2000). A recomendação do percentual de
gordura corporal em relação ao peso absoluto (massa em kg) é apresentada na literatura com diferentes
valores, próximos aos exibidos por Lohman, Roche e Martorell (1988), apresentados no Quadro 2.

Níveis de Gordura Corporal Homens Mulheres

Alto risco ≥ 25% ≥ 30%

Acima da média 17-24% 27-29%

Média 14,5 a 16% 22 a 27%

Abaixo da média 6-14% 12-22%

Alto risco ≤ 5% ≤ 12%

Quadro 2 - Porcentagem de gordura corporal para homens e mulheres / Fonte: adaptado de Lohman, Roche e Martorell (1988).

Imaginemos uma situação-problema. Suponha que você atenda a um paciente do sexo masculino
com 28 anos e 80 kg. Você realizou a aferição das dobras cutâneas e encontrou DCTríceps de 24 mm,
DCBíceps de 13 mm, DCSubescapular de 16 mm, DCSupraíliaca de 18 mm. Sabendo da importância
da avaliação da gordura corporal de forma individual e assertiva, calcule a densidade corporal e a
%GC do paciente e, em seguida, classifique a %GC de acordo com Lohman, Roche e Martorell (1988).
Durnin e Worsley (1974):

165
UNICESUMAR

Siri (1961):

%GC= 495-450 / DC
%GC= 495-450 / 1,0388
%GC= 43,3%

Considerando a %GC encontrada de 43,3% o % de gordura corporal do paciente está acima


da média.
Avaliando os problemas relacionados aos quadros de elevada porcentagem de gordura
corporal, a obesidade proporciona sérios riscos à saúde, podendo potencializar o aumento
na concentração plasmática de lipoproteínas de baixa densidade, com redução na concentra-
ção sanguínea das lipoproteínas de alta densidade, quadro que pode ocasionar a formação
de uma placa de ateroma nos vasos sanguíneos.
Por outro lado, baixos níveis de gordura corporal também potencializam alguns danos
consideráveis, visto que o organismo necessita de lipídios em quantidades mínimas (20 a
25% do valor calórico total da dieta) para desenvolver funções fisiológicas essenciais. Como
exemplo, é possível considerar a formação de membranas celulares, o fornecimento energé-
tico, o estoque de vitaminas lipossolúveis, o funcionamento adequado do sistema nervoso, o
sistema reprodutor, o ciclo menstrual e o crescimento e a maturação sexual (CEZAR, 2000).
Você já se perguntou como estará o quadro de doenças no futuro? Será que, apesar
de tantas informações e estudos sobre a obesidade e as doenças relacionadas, haverá um
aumento exponencial dos casos ao longo dos anos? Mathers e Loncar (2006) relatam que,
durante a maior parte da evolução da humanidade, pouco se soube sobre as principais
causas de doenças em diferentes países e as doenças que matavam a maioria das pessoas.
Entretanto, os estudiosos ressaltam a importância de os órgãos de saúde pública co-
nhecerem o tema, com o intuito de entender o perfil de saúde da população e saberem
como os padrões de doença (morbidade) e morte (mortalidade) podem mudar, para que
possam planejar políticas públicas para o futuro. Mathers e Loncar (2006) ainda realizaram
uma projeção que forneceu uma tendência de saúde da população, ao criarem modelos
de mortalidade e doenças. Em uma projeção para 2030, doenças do coração relacionadas
à obesidade estão entre as três principais causas de doenças. Portanto, cuidados especiais
nesses quadros e no controle da gordura corporal dos indivíduos são fundamentais.
Observe o Quadro 3, que exibe o ranking proposto por Mathers e Loncar (2006), com
as principais doenças em 2002 e as propensões para o ano de 2030.

166
UNIDADE 5

2002- Doença ou lesão % Ranking % 2030- Doença ou lesão

Doença cardíaca isquêmica 12,6% 1 13,1% Doença cardíaca isquêmica

Doença cerebrovascular 9,7% 2 10,3% Doença cerebrovascular

Infecções respiratórias 6,9% 3 8,7% HIV/AIDS

HIV/AIDS 4,8% 4 7,9% DPOC

DPOC 4,8% 5 3,5% Doenças respiratórias

Afecções perinatais 4,3% 6 3,1% Diabetes Melittus

Doenças diarreicas 3,3% 7 3,0% Câncer

Quadro 3 - Ranking das principais doenças em 2002 e as prospecções para 2030 / Fonte: adaptado de Mathers e Loncar (2006).

Alguns pacientes podem apresentar baixo percentual de gordura corporal, o que proporciona muitas
desordens alimentares, como a desnutrição. Fazendo parte desse grupo, encontram-se algumas con-
dições específicas, como bailarinos(as), modelos fotográficos(as) ou de passarelas e atletas de algumas
modalidades esportivas, como os esportistas olímpicos. Estudos citam que bailarinas profissionais
podem ter um menor percentual de gordura devido aos maiores regimes de treinamento e a uma
maior satisfação com o próprio corpo. Não obstante, o uso de anticoncepcionais também pode ser um
determinante na composição corporal desse grupo, mediante o aumento da massa gorda, tendo em
vista que alguns contraceptivos geram aumento na ingestão alimentar devido ao impacto hormonal.
Por outro lado, alguns anticoncepcionais têm efeitos colaterais para o ganho de peso (HOCH et al.,
2011; HIRSCHBERG, 2012).
Por vezes, o baixo percentual de gordura está associado aos distúrbios alimentares, que ocorrem mais
frequentemente no sexo feminino, representando mais de 90% dos casos. Eles costumam ter, como fator
desencadeante, algum evento significativo, tais como perdas, separações, mudanças, doenças orgânicas,
distúrbios de imagem corporal, depressão, ansiedade e traumas da infância, como abuso sexual. Um
dos principais distúrbios alimentares é a anorexia, caracterizada por uma restrição alimentar imposta
pelo próprio indivíduo com sequelas graves. A instalação da doença de forma crônica provoca quadros
de desnutrição e desidratação. Pacientes com anorexia, apresar de negarem a fome, podem se queixar
de fadiga, fraqueza, tonturas e visão turva. Eles podem ter complicações graves para conquistar cada
vez mais a perda de peso. O tratamento da anorexia sofreu avanços nas últimas décadas. Os melhores
resultados são alcançados por meio de equipes multiprofissionais, trabalhando tanto a prevenção
quanto a identificação de pacientes em risco (FIATES; SALLES, 2001).
Você, enquanto profissional, pode identificar os pacientes com risco de desnutrição a partir dos
seguintes sintomas:

167
UNICESUMAR

• Pacientes que apresentam perda de massa 15% abaixo do esperado.


• Pacientes que apresentam medo mórbido de engordar mesmo estando abaixo do peso.
• Perturbação.
• Negação do baixo peso.
• IMC ≤ 17,5 Kg.m².
• Perda de peso auto induzida.
• Distúrbios endócrinos.
• Vômitos induzidos.
• Métodos purgativos.
• Uso de inibidores de apetite.
• Amenorreia por três ciclos consecutivos.

Um quadro muito comum na atualidade é a perda da função menstrual (amenorreia) em decorrência


da perda de peso, visto que os ciclos menstruais são diretamente relacionados ao quadro nutricional
da paciente, perante à gordura corporal. As meninas precisam de um peso mínimo para iniciar ou
restaurar os ciclos menstruais devido à desnutrição. É preciso fazer uma boa observação da %GC,
porque um mínimo de energia é necessário para a ovulação e os ciclos menstruais. Visualize o Quadro
4 para conhecer a massa corporal mínima para a desnutrição.

Menarca Menstruação

Estatura (cm) Kg.min P10 Kg.max P50 Kg.min P10 Kg.min P50

155 39,0 45,0 43,7 50,2

161 41,7 48,1 46,7 53,6

165 43,4 50,1 48,7 55,8

171 46,1 53,2 51,6 59,3

Quadro 4 - Massa corporal mínima para menstruação Fonte: adaptado de Frisch e McArthur (1974).

Aos atletas, uma adequada avaliação da composição corporal pode ajudar a otimizar o desempenho
competitivo e monitorar o regime de treinamento. Em decorrência do déficit energético, podem ocorrer
alterações metabólicas e reprodutivas, como amenorreia em mulheres atletas, fato que está associado
às marcantes reduções no consumo de energia e de lipídios. Portanto, as exigências relativas à imagem
corporal e ao controle de peso parecem desempenhar um papel relevante no comportamento alimentar
e no padrão alimentar de vários grupos atléticos (CEZAR, 2000; PANZA et al., 2007; RODRIGUEZ;
DI MARCO; LANGLEY, 2009).

168
UNIDADE 5

Nesse sentido, os indivíduos que necessitam manter os valores de gordura corporal extremamente
baixos, relacionados à prática profissional, devem ser orientados a não permanecer nessa condição
por períodos prolongados, para que, assim, seja evitado o desenvolvimento de anemias, desnutrição,
anorexia ou outros danos bioquímicos e fisiológicos ao organismo (CEZAR, 2000).
Quais índices corporais podem ser usados para estimar uma condição de saúde? Dentre os diversos
índices corporais, o Índice de Massa Corporal (IMC), de Quetelet, é o mais utilizado. Todavia, esse índice
não leva em consideração a exata composição corporal, sendo inadequado para inferir com precisão o
percentual de gordura do paciente. Entretanto, o IMC pode ser usado como um indicador de estado de
saúde, avaliando a desnutrição e a obesidade. Além disso, a aplicabilidade dele é viável quando faltam
melhores recursos, técnicos e financeiros (CEZAR, 2000; MUST; DALLAL; DIETZ, 1991).
Além do IMC, existe o peso ideal, que, segundo Sampaio (2012), pode ser calculado da seguinte forma:

Pesoideal : IMCmédiox(altura ) 2

Peso ideal = (altura)² x IMC médio


IMC médio para homens = 22,5 kg/m²
IMC médio para mulheres = 21,5 kg/m²
IMC médio para ambos os sexos = 22,0 kg/m²

Como exemplo de aplicabilidade da fórmula, considere uma paciente do sexo feminino de 28 anos
que apresenta peso de 63,4 kg e tem estatura de 1,63 m. Qual seria o peso ideal?

Pesoideal = IMCmédiox(altura )²
Pesoideal = 21,5 x(1, 63)²
Pesoideal = 57,12kg

Contudo, um aspecto negativo do uso do peso ideal se deve à observação equivocada de um valor
constante, principalmente em alguns quadros específicos, como em mulheres, haja vista a enorme
influência da retenção hídrica pertinente ao ciclo menstrual. Como exemplo, há a sugestão de peso
ideal em casos de envelhecimento, o que pode ser negativo, pois esse quadro proporciona acúmulo
fisiológico de gordura corporal.
Caso o indivíduo consiga se manter no mesmo peso (massa) de décadas atrás, isso não significa que
a proporção dos componentes corporais seja a mesma. Logo, o processo de envelhecimento, quando
não há realização de exercícios físicos regulares, proporciona redução fisiológica de massa muscular
óssea, comprometendo a fidedignidade do uso do peso ideal (CEZAR, 2000). Em suma, há a Figura 3,
que representa os índices mais utilizados na avaliação da composição corporal.

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UNICESUMAR

Figura 3 - Índices mais utilizados na avaliação da composição corporal / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: No centro, há uma caixa de texto com a menção: “Composição corporal”. Dela, saem cinco caixas de texto,
sendo elas: a porcentagem de gordura corporal (%GC), o peso ideal, o somatório de dobras cutâneas, o Índice de Massa Corporal
(IMC) e a densidade corporal.

A partir dos dados expostos, independentemente da metodologia utilizada, para que o re-
sultado da análise da composição corporal do paciente seja adequado, válido e confiável, é
necessário observar alguns aspectos básicos. De acordo com Cezar (2000), dentre eles, estão:

• Levar em consideração a idade, a etnia, o sexo, a estimativa da gordura corporal e o


nível de condicionamento de análise da composição corporal do paciente.
• Definir o método adequado de avaliação da composição corporal, conhecendo os
custos, as limitações e as dificuldades de cada metodologia.
• Decidir o método que você será utilizado. Treine-o e esteja proficiente do ponto de
vista conceitual, teórico e prático, visando diminuir erros metodológicos.
• Definir as equações que serão utilizadas, tendo conhecimento específico sobre
cada uma, a fim de proporcionar maior precisão na avaliação da composição
corporal do paciente.
• Analisar atentamente a anamnese e o histórico do paciente, para que o resultado
da avaliação não o frustre. Por exemplo, embora um paciente apresente alto per-
centual de gordura corporal, o resultado atual está significativamente menor em
relação à avaliação anterior. Nesse caso não desmotive o paciente, pelo contrário,
o parabenize pelas conquistas.
• Oferecer informações precisas sobre a composição corporal do paciente. Para tanto,
é necessário ter uma perspectiva de referência, que precisa ser baseada em normas,
como subgrupos claramente definidos (homens, mulheres, faixa etária, condição de
treinamento, modalidade esportiva etc.). Os resultados baseados em normas podem
também ser valores de um grupo especifico ou predeterminados.

170
UNIDADE 5

Estamos conhecendo o mundo da análise da composição corporal, a


fim de capacitar você, futuro(a) profissional da nutrição, a utilizar as
mais diferentes formas de cálculos, equações, predições e diagnósticos
clínicos. Você saberia explicar a um paciente o motivo da perda de %GC
ou de ganho de massa magra? Qual seria o reflexo disso na balança?
Aliás, você sabe o motivo pelo qual, muitas vezes, uma mudança na
composição corporal não é expressa na balança? Tudo se relaciona ao
fato de que um quilo de gordura ocupa mais espaço que um quilo de
músculo. Isso faz toda a diferença. Convido a você a escutar este podcast
e entender mais o tema!

A análise da composição em adultos obesos é um tema amplamente discutido, uma vez que, nesses
indivíduos, a avaliação se torna dificultada, devido às limitações dos equipamentos e às características
dos métodos utilizados. Do ponto de vista da composição corporal, o quadro de obesidade pode ser
caracterizado por uma elevada quantidade de massa gorda e de água total extracelular.
A classificação de gordura de acordo com o IMC superestima a gordura corporal em pacientes ativos
e subestima a gordura corporal em pacientes obesos e sedentários. Além disso, a avaliação da composi-
ção corporal nos pacientes obesos necessita de atenção. A técnica de avaliação do percentual de gordura
por dobras cutâneas não é aconselhável às pessoas obesas, já que a gordura subcutânea não é facilmente
separada do músculo e há a limitação máxima de abertura do adipômetro. Esses fatos comprometem
a exatidão da medida e subestimam o total de gordura corporal (CEZAR, 2000; SOUZA et al., 2014).

Você já pensou que o excesso de peso pode não ser sempre maléfico para a saúde? É de se admitir
que o maior acúmulo de gordura corporal, normalmente, induz a um aumento nas medidas do peso
corporal e nos valores de IMC. Entretanto, talvez, o peso corporal excessivo não reflita a condição
de maior acúmulo de gordura, partindo do pressuposto de que ela pode ser ocasionada em con-
sequência da elevada massa isenta de gordura, e não pela gordura corporal. Dessa forma, possivel-
mente, o excesso de gordura corporal induz o sobrepeso, mas o inverso pode não ser verdadeiro.

Foi realizado um estudo que avaliou o efeito da metodologia de análise da composição corporal
de obesos a partir de seis métodos: o Índice de Massa Corporal (IMC), a absorciometria de raio x
de dupla energia (DEXA), a pesagem hidrostática, a água corporal total, a impedância bioelétrica
(BIA) e a espessura de dobras cutâneas. Qual seria a melhor metodologia encontrada para o quadro
de obesidade? Os autores observaram que as estimativas de gordura corporal medidas pela DEXA

171
UNICESUMAR

e pela água corporal total não foram diferentes entre si, porém foram maiores que as estimativas de
gordura corporal medidas pela BIA, dobras cutâneas e IMC, e maiores que a estimativa de gordura
pela pesagem hidrostática.
Foi evidenciada uma precisão inferior em relação à pesagem hidrostática e atribuída uma variação
do teor de água e da densidade mineral óssea. Além disso, foi exibida uma subestimação do percentual
de gordura pelas dobras cutâneas devido à habilidade do avaliador e ao tamanho das dobras cutâneas.
O estudo ainda infere que, apesar da medida da espessura das dobras cutâneas e da BIA serem técnicas
muito utilizadas, elas subestimaram, nesse estudo, em 12% a massa adiposa total, quando comparadas
à DEXA (CEZAR, 2000; ELDER et al., 2012).
Não distante, a utilização da equação para predizer a %GC de indivíduos também possui limitações
em alguns casos e em determinadas populações, como em obesos. Durante o uso, é possível encontrar
inconsistência entre os resultados que comparam o percentual de gordura corporal avaliado por meio
de dobras cutâneas e DEXA. Um estudo realizado com pacientes com sobrepeso e obesidade observou
que a BIA, associada à circunferência de cintura, tem melhor associação com a gordura corporal avaliada
pela técnica de DEXA do que pelo IMC. O mesmo estudo também avaliou as metodologias relativas à
avaliação das modificações da composição corporal e destacou que a BIA apresentou resultados mais
fidedignos, se comparada à DEXA (DI RENZO et al., 2013; SOUZA et al., 2014).

A bioimpedância elétrica tem sido uma alternativa atraente na avaliação


da composição corporal, já que há a possibilidade de trabalhar com um
equipamento não invasivo, portátil, de fácil manuseio, com boa reprodu-
tibilidade e viável à prática clínica e aos estudos epidemiológicos. Sugiro
a leitura do artigo em questão para conhecer o panorama geral do uso
dessa técnica e a comparação entre o uso dela e outros métodos de
avaliação da composição corporal.

Muito se fala sobre as diferentes precisões observadas em resultados utilizando a BIA, tanto em indi-
víduos obesos quanto na população em geral. Algumas das justificativas estão relacionadas à prática
das comparações com diversas referências, às diferentes características das populações avaliadas e até
às diferentes taxas de hidratação observadas em obesos. Como a hidratação pode apresentar tantas
variações? Elas podem ser justificadas pela influência dietética, consumo de álcool, nível de atividade
física e até fatores ambientais, como umidade e temperatura. Ademais, a ingestão de cafeína e álcool
podem causar desidratação e subestimar os valores de massa muscular. Confira o Quadro 5 e analise
as características, vantagens e limitações de diversos métodos de avaliação da composição corporal.

172
UNIDADE 5

Princípio e
Técnicas compartimentos Vantagens Desvantagens
mensurados

Baixa precisão pela variação


da medida inter e intra-ava-
liadores; limitação máxima
Medida da espes- de abertura do adipômetro;
Rápida, não invasiva,
sura de gordura subestimação da gordura
baixo custo e facilida-
Dobras cutâneas representativa da corporal total. Os resultados
de de transporte de
camada de gordura precisam ser inseridos em
equipamentos.
subcutânea. fórmulas preditoras, não
adequadas para todas as
faixas etárias e condições
clínicas.

Demorada, requer adap-


tação no meio líquido,
Densidade corporal
desconfortável para obe-
Pesagem a partir da razão
Elevada precisão sos, precisão afetada por
hidrostática peso no ar/peso na
estágio do ciclo menstrual,
água.
horário do dia, atividade físi-
ca e uso de medicamentos.

Superestima o volume de
gás torácico em casos de
Volume corporal a Relativamente rápida, sobrepeso/obesidade; erro
Pletismografia partir do desloca- capacidade de ao determinar densidade
mento do ar. 250 kg. da MLG em obesos; elevado
custo. Não fornece dados
de segmentos corporais.

173
UNICESUMAR

Princípio e
Técnicas compartimentos Vantagens Desvantagens
mensurados

Precisão afetada pelo equipa-


mento utilizado, alimentação,
hidratação, água extracelular,
Passagem de uma
atividade física, temperatura,
corrente elétrica
ciclo menstrual e consumo
pelo corpo. A im-
Impedância de álcool. Dados pouco pre-
pedância pode ser Rápida, não invasiva.
bioelétrica cisos para obesos graves, os
calculada medindo-
resultados precisam ser inse-
-se a corrente e a
ridos em fórmulas preditoras,
voltagem.
não adequadas para todas
as faixas etárias e condições
clínicas.

Segura, relativamente
rápida, requer míni-
Limite de 204 kg, tamanho
ma cooperação, sofre
do scanner, não é indicada
menor influência da
para gestantes, lactantes,
Divisão do corpo quantidade de água
portadores de implantes
Absorciometria em três níveis: corporal do que a pe-
metálicos, marcapasso, nem
radiológica de mineral-ósseo, MLG sagem hidrostática,
para indivíduos submetidos
feixe duplo e MG por meio de padrão de referência
a procedimentos com iodo,
raios-X. para avaliação da
bário ou isótopos em um
composição corporal
período de sete dias ante-
de obesos, rápida,
riores. Imagens em 2D.
baixa emissão de
radiação.

A partir atenuação
Boa correlação entre
dos raios-X nos
a circunferência da Exposição à radiação, alto
diferentes tecidos,
Tomografia cintura e o tecido custo do equipamento e
fornece imagem
computadorizada adiposo abdominal necessidade de técnicos
bidimensional em
profundo, imagens especializados.
corte transversal do
3D.
corpo

174
UNIDADE 5

Princípio e
Técnicas compartimentos Vantagens Desvantagens
mensurados

A partir da frequên-
cia de rádio, é reali-
Apresenta boa corre-
zada a medição do
lação com a pesagem
Ressonância número de núcleos Custo elevado, dificuldade
hidrostática, não
magnética de hidrogênio do técnica.
utiliza radiação iônica,
tecido. Quantifica a
imagens 3D
MG total e subcutâ-
nea.

Conversão de
energia elétrica em
Boa correlação com o
ondas sonoras, que
método de pesagem
passam através dos Elevado custo e dificuldades
Ultrassonografia hidrostática e absor-
tecidos, quantifican- técnicas.
ciometria radiológica
do a espessura dos
de feixe duplo.
tecidos muscular e
adiposo.

Supõe que as medi-


das de interactância
Acurácia modificada pelos
podem estimar a
instrumentos utilizados,
composição cor-
prática do avaliador e distri-
poral a partir da
Interactância buição da gordura corporal
densidade óptica,
de raios Rápida e não invasiva. do avaliado. Não deve ser
que é inversamen-
infravermelhos utilizada de forma isolada
te proporcional
para avaliar a composição
ao percentual de
corporal em pacientes
gordura corporal.
obesos.
Modelo de múltiplos
compartimentos

Quadro 5 - Características, vantagens e limitações de diversos métodos de avaliação da composição corporal em obesos
Fonte: adaptado de Souza et al. (2014).

175
UNICESUMAR

A partir de todas as informações expostas, entenderemos as principais formas de estimar a % de GC


para cada população, faixa etária e sexo. Observe o Quadro 6.

Faixa
Fórmula População
etária

Siri (1961)

=%G [(4,95 / DC ) − 4,50]x100 Homens e 16 a 72


mulheres anos
ou
%=
G 495 − 450 / DC

Brozek (1963)

=%G [(4,57 / DC ) − 4,142]x100


- -
ou
%=G 457 − 414, 2 / DC

Durnim & Womersley (1974)

DCTriceps, DCBiceps, Homens


17-72
anos
DC 1,1765 − 0, 0744 x log (∑ DCsubescapular ,
= 10

DCCristailíaca )

DCTriceps, DCBiceps,
18-68
DC 1,1567 − 0, 0717 x log (∑ DCSubescapular ,
= 10
Mulheres
anos
DCCristailíaca

176
UNIDADE 5

Faixa
Fórmula População
etária

Jackson, Pollock e Ward (1980)

DCTriceps,
DCAbdomêm,
DC 1, 24374 − 0, 03162(log x ∑
= 10

DCCoxa, Sem grupo 18-55


DCCristailíaca ) − 0, 00066 x( perímetroquadril ) específico anos
ou
DCTriceps,
1, 24374 − 0, 03162(log10 x ∑ DCCoxa,
DC = − 0, 00066 x(idade)
DCCristilíaca )

Edio Luiz Petroski (1995)

DC = 1,10726863 − 0, 00081201x( DCTriceps +


DCSubescapular +
18-66
DCCristailíaca + Homens
anos
DCPanturrilha ) + 0, 00000212 x
( DCtriceps + DCSubescapular +
DCCristailíaca + DCPanturrilha ) 2 − 0, 00041761x(idade)

DC =1, 02902361 − 0, 000067159 x( DCSubescapular +


DCTriceps +
DCCristailíaca + 18-51
Mulheres
anos
DCPanturrilha ) 2 − 0, 00026073x(idade)
−0, 00056009 x( pesocorporal ) + 0, 00054649(estatura )

177
UNICESUMAR

Faixa
Fórmula População
etária

Thorland et al. (1984)

1,1091 − 0, 0051x( DCTriceps +


DC =
DCSubescapular +
DCAxilar + DCCristailíaca 17-43
Homem
anos
+ DCAbdômem +
DCPanturrilha ) + 0, 00000032 x( DCTriceps
+ DCSubescapular + DCAbdomêm
+ DCCoxa + DCPanturrilha ) 2

DC 1, 0987 − 0, 00122 x( DCTriceps


=
+ DCSubescapular + 16-51
Mulher
DCCristailíaca ) + 0, 00000263 x( DCTriceps anos

+ DCSubescapular + DCCristaíliaca )

Wettman et al. (1987,1988)


Homens 24-68
%G 0,31457[(circunferênciac int ura + obesos anos
circunferênciaabdômem) / 2] − 0,10969 + 10,8336

%G 0,11077[(circuferênciadec int ura +


circunferênciadeabdômem) / 2] − Mulheres 20-60
obesas anos
0,17666(estatura ) + 0,143554 + 51, 03301

Faulkner (1968)
Atletas mas- 18- 25
DCTriceps + DCSubescapular culinos anos
%G 5, 783 + 0,153 x(∑
=
+ DCCristailíaca + DCAbdômem)

178
UNIDADE 5

Faixa
Fórmula População
etária

Yuhasz (1974)

DCTriceps,
DCSubescapular , Estudantes
-
Masculinos
%G = 0,1051x(∑ DCSupraespinal ,
DCabdômem, DCCoxa +
DCPanturrilha ) + 2,585

%G = 0,1548 x(∑ DCTriceps, DCSubescapular ,


Estudantes
DCSuprailíaca, DCAbdomêm, Femininos
-
DCCoxa, DCPanturrilha ) + 3,50

Slaughter et al. (1988)


Meninos 8 a 17
negros anos
%G 0, 735(∑ DCTriceps, DCPanturrilha ) + 1

%G 0, 610(∑ DCTriceps, DCPanturrilha ) + 5,1 Meninas ne- 8 a 17


gras anos

Heath- Carter (1967)- Perímetro corrigido:

=PB Braçorelaxado(cm) − DCTriceps


PC Circunferênciadacoxa (cm) − DCCoxa
PP Circunferênciadapanturrilha (cm) − DCPanturrilha

179
UNICESUMAR

Faixa
Fórmula População
etária

Lee et al. (2000)- Massa muscular em kg:

MM estatura (m) x(0, 00744 xpbraçorelaxadocorrigido 2 ) +


Homens e 20-81
(0, 00088 xpcoxamédiacorrigida 2 ) + mulheres anos
(0, 00441xppanturrilhacorrigida 2 ) +
2, 4 xsexo − 0, 048 xidade + raça + 7,8

Guedes (1985):
17- 27
Universitários
=D 1,17136 − 0, 06706 x log x(∑ DCTriceps, DCSuprailíaca, DCAbdômem)
10 anos

Quadro 6 - Algumas formas de estimar a porcentagem de gordura corporal e densidade calórica em determinadas populações
e faixas etárias / Fonte: adaptado de Petroski (1995).

Diante de tudo o que estudamos nesta unidade, qual poderia ser uma logística de trabalho em uma
clínica de nutrição? É possível usar a seguinte sugestão:

1. Estimar a densidade corporal do paciente.


2. Estimar a %GC do paciente;
3. Calcular a gordura corporal em kg, podendo utilizar a seguinte fórmula:

G = %GCxMassacorporal (kg ) /100

4. Calcular a porcentagem de massa magra:

% MM
= 100 − %G

5. Calcular massa em kg:

MM (kg ) massatotal − massagorda


=

Vamos treinar esse cálculo? Considere que você atendeu o paciente L. N. V. Ele tem 28 anos, apresenta
densidade corporal de 2,040 g.ml-1 , %GC de 18,75% e massa corporal= 80kg. Qual seria a gordura
corporal dele em kg? Em seguida, calcule a % de massa magra e o valor em kg.

180
UNIDADE 5

G = %GCxmassacorporal /100
G = 18, 75 x80 /100
G = 15kg

% MM
= 100 − 18, 75%
% MM = 81, 25%

MM (kg ) = 80 − 15 = 65kg

A partir disso, confira todas as classificações pertinentes, alie aos dados de sua
avaliação nutricional e realize a prescrição nutricional indicada. Em suma, a
avaliação antropométrica pode ser considerada um método de fácil execução
e de boa aplicabilidade, apesar dos mais variados modelos. Além disso, pode
ser considerada um bom indicador de doenças relacionadas ao excesso de
peso e adiposidade. Pode ser utilizada em grupos de pessoas saudáveis ou
doentes. Logo, as medidas antropométricas podem ser consideradas indica-
dores sensíveis de saúde, visando à detecção prévia de doenças relacionadas
à obesidade e às doenças cardiovasculares.
Compreendemos que a avaliação da composição corporal é de extrema
importância para o diagnóstico do estado nutricional, tanto a nível indivi-
dual quanto populacional, assim como para o estabelecimento de adequadas
condutas clínicas. Durante a sua prática profissional, você poderá atender
pacientes que apresentem excesso de gordura corporal ou aqueles que este-
jam com gordura corporal abaixo do normal, quadros que poderão causar
diversos comprometimentos no estado de saúde. Desse modo, é sua função
avaliar cada quadro em específico visando a um excelente diagnóstico e
prescrição alimentar.
Aliado à avaliação, você pode contar com uma grande disponibilidade
de métodos que permitem estimar a composição corporal. Conheça cada
um de maneira adequada e o aplique de maneira específica, conhecendo as
limitações e validade, objetivando sempre boas estimativas, o que proporciona
confiáveis analises e interpretações. Lembre-se: só é experiente quem treina,
estuda e aplica a antropometria. A precisão, a exatidão e a técnica só são con-
quistadas com investimento e domínio do tema. Estude e terá uma incrível
ferramenta de trabalho. Aliás, se você analisar a avaliação da composição
corporal além da estimativa da porcentagem de gordura corporal terá uma
outra ferramenta incrível para explorar, aplicar e se diferenciar a cada dia.

181
Caro(a) aluno(a), encerramos a nossa unidade! Todavia, antes, gostaria de convidá-lo a realizar uma
verificação crítica dos conhecimentos realizados até então por meio do mapa de empatia a seguir.

Descrição da Imagem: a figura é composta por um retângulo colorido, dividido por algumas formas. Logo, há um retângulo
com quatro pirâmides, cujas pontas de unem por meio de uma figura de um rosto que pisca e sorri no centro. As pirâmides
têm as seguintes cores: verde-claro, rosa-claro, azul-claro e salmão. Em cada uma das pirâmides, encontram-se perguntas:
o que ouve? O que pensa e sente? O que vê e o que fala e faz? Na base do retângulo, há outras duas formas em formato de
retângulo nas cores rosa-claro e roxo-claro. Elas têm as seguintes perguntas: quais são as dores? Quais são as necessidades?

182
1. Leia o fragmento a seguir:

“Uma das características desenvolvidas ao longo da evolução humana foi a capacidade de


estocar energia na forma de gordura, uma característica que ocorre desde os nossos an-
cestrais que encaravam condições extremas de sobrevivência. Com a evolução das espécies
esta característica se tornou um ponto negativo, porque nas últimas décadas o homem vem
desenvolvendo tecnologias para ajudá-lo a preservar energia e fazer menos esforços, trans-
formando-o em um indivíduo obeso e hipocinético. Comumente é mostrada pela literatura
a existência de inúmeros problemas relacionados ao excesso de peso, acúmulo ou perda ex-
cessiva de gordura. A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica a obesidade como uma
epidemia do século XXI, destacando que existem 300 milhões de pessoas nesta situação. Estes
problemas podem ser diagnosticados, por exemplo, pela avaliação da composição corporal
(CC), que ao longo dos tempos tem-se mostrado como potencial fonte de estudos por tratar-
-se de ferramenta que busca quantificar os componentes do organismo humano, permitindo
assim o acompanhamento em diversas variáveis da aptidão física relacionada com a saúde,
doença e qualidade de vida das pessoas”.
NEVES, E. B. et al. Comparação do percentual de gordura obtido por bioimpedância, ultrassom e dobras cutâ-
neas em adultos jovens. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 19, n. 5, 2013.

Considerando os seus conhecimentos sobre os malefícios do percentual de gordura abaixo


do normal, indique esses malefícios e as suas justificativas.

2. Leia o trecho a seguir:

“A avaliação da composição corporal é de extrema importância para o diagnóstico do estado


nutricional individual e populacional e para o estabelecimento de condutas clínicas nutricionais
adequadas. O excesso de gordura corporal está, frequentemente, associado a alterações meta-
bólicas importantes e às doenças crônicas, como diabetes, hipertensão arterial e dislipidemias.
É fundamental a disponibilidade de métodos que permitam estimar a composição corporal,
sendo importante conhecer a limitação de cada um e a sua validade para que as estimativas
obtidas sejam confiáveis e interpretadas corretamente”.

REZENDE, F. A. C. et al. Critical revision of the available methods for evaluate the body composition in popula-
tion- bases and clinical studies. Archivos Latinoamericanos de Nutrición, v. 57, n. 4, 2007.

Sabendo da importância da avaliação da gordura corporal de forma individual e assertiva,


calcule a DC e %GC da paciente a seguir pela fórmula de Siri (1961) e Durnin (1974) e, em
seguida, classifique a %GC por Lohman (1988).

Paciente do sexo feminino, 26 anos. Apresentou DCTríceps= 25,5mm, DCBíceps= 12,2mm,


DCSubescapular=17,6mm, DCSuprailíaca= 18,7mm.

183
3. Suponha que você atenda a uma paciente do sexo feminino. Ela tem 30 anos, peso corporal
de 49 kg, estatura de 160 cm, DCtríceps= 18mm; DCSubescapular= 13mm, DCBíceps= 11 mm;
DCCrista ilíaca= 17 mm, DCSupraespinal= 13, DCAbdominal= 17mm, DCCoxa= 27mm, DCPan-
turrilha= 16mm. Proponho a realização dos seguintes cálculos:

1. Calcule a densidade corporal por Durnin (1974).


2. Calcule a porcentagem de gordura corporal por Siri (1961).
3. Calcule a gordura corporal em kg.
4. Calcule a % de massa magra.
5. Calcule a massa magra em kg.

184
6
Avaliação Nutricional
de Gestantes e
Lactentes
Dra. Lorena dos Santos Castro

Nesta unidade, você entenderá as etapas da avaliação nutricional de


gestantes e recém-nascidos. Também conhecerá as condutas a serem
realizadas em cada etapa, as terminologias da área e as adaptações
que ocorrem no corpo materno. Aprenderá a realizar uma adequada
avaliação dietética, clínica e antropométrica, a calcular a idade gesta-
cional e a data provável do parto, a classificar o estado nutricional, a
verificar o ganho de peso em cada período, as recomendações para
as gestações gemelares, a calcular o gasto energético e a fazer as
curvas para acompanhamento do estado nutricional.
UNICESUMAR

Caro(a) aluno(a), suponha que você está trabalhando


como nutricionista especialista em nutrição materno-
-infantil. Você acredita que, com alguns dados antropo-
métricos coletados, como peso, altura e data da última
menstruação, você pode inferir o estado nutricional da
gestante? Imaginemos a seguinte situação: uma paciente
de 22 anos acaba de descobrir que está grávida e agenda
uma consulta com você para cuidar da alimentação du-
rante o período gestacional. Ela relata que é a primeira
gestação e que ela foi planejada.
A paciente compareceu na primeira consulta no dia
27/01/2021 e afirma que a data da última menstruação
foi dia 30/11/2020. Você realizou a primeira avaliação
antropométrica e encontrou o peso de 62 kg e a estatura
de 1,66 m. A paciente relata que se lembra de ter aferido
peso há mais ou menos quatro semanas e que estava
com 61 kg. A partir dos dados coletados, você pode-
ria calcular a idade gestacional e supor a data provável
do parto? Além disso, poderia descobrir qual é o IMC
pré-gestacional e o estado nutricional da paciente? Se
sim, fazendo o uso do IMC pré-gestacional, qual seria a
estimativa de ganho de peso da paciente?
Com os relatos da consulta, foi possível descobrir se hou-
ve algum ganho de peso até então. Como ele se enquadraria
no ganho de peso para o período gestacional? A próxima
etapa seria descobrir quantos quilos a paciente poderá ga-
nhar até o final da gestação. Vamos acrescentar mais dados
em nosso caso clínico? Suponha que a paciente retornou
às posteriores consultas com você. Ela relatou estar muito
ansiosa, mas feliz com a chegada do bebê. Você realizou
as medições antropométricas e obteve os seguintes dados:

• 2° consulta dia 29/02/2021: peso de 62,5 kg e IG


de 13 semanas.
• 3° consulta dia 25/03/2021: peso de 63 kg e IG de
16 semanas e 4 dias.
• 4° consulta dia 27/05/2021: peso de 65 kg e IG de
25 semanas e 4 dias.
• 5° consulta dia 30/08/2021: peso de 69 kg e IG de
35 semanas e 4 dias.

186
UNIDADE 6

Com os dados exibidos, é possível calcular o IMC e veri-


ficar se há a necessidade de arredondar a IG? Além disso,
é possível inserir os pontos na curva de IMC segundo
a IG? Desde a primeira consulta, é possível avaliar a
curva de ganho de peso gestacional a partir do traçado
apresentado de acordo com as consultas realizadas? Se
sim, qual é a sua interpretação?
Sabemos que a saúde é um produto de vários fato-
res relacionados à qualidade de vida, fato que inclui um
adequado padrão alimentar e de habitação, saneamento,
renda e de oportunidades de educação ao longo da vida.
O acompanhamento da nutrição de gestantes e lacten-
tes é um instrumento essencial para garantir a evolução
da condição de vida da população em geral, pois exer-
ce influência decisiva no estado nutricional deles, o que
influencia diretamente os ricos de morbimortalidade e
crescimento do bebê.
Portanto, as alterações biológicas e fisiológicas ocorri-
das no organismo da gestante e do feto demandam uma
dieta balanceada para uma gestação adequada e posterior
desenvolvimento fetal e do recém-nascido. Portanto, cabe
aos profissionais da saúde, em especial, você, futuro(a)
nutricionista, a identificação do estado nutricional dessa
área, para que haja uma intervenção apropriada, visando
sempre à qualidade e à quantidade da alimentação.
Ao analisarmos a paciente em questão, constatamos
que ela está com 7 semanas e 5 dias de gestação. No en-
tanto, consideremos 8 semanas. O IMC pré-gestacional
da paciente é de 22, 18 kg/m², sendo classificado como
adequado. Ela poderá ganhar entre 11,5 a 16 kg durante
toda a gestação. Além disso, foi possível constatar que
a paciente ganhou 1 kg até o momento da consulta de
acordo com o peso pré-gestacional referido. O ganho de
peso estimado até a 13° semana de gestação é de 1,6 kg.
A paciente está com 7 semanas e já ganhou 1 kg. Em
consequência disso, deve ser orientada a manter o estilo
de vida saudável e ativo, com a prática de atividade física
regular e a realização consciente das escolhas alimentares,
a fim de não exceder o ganho de peso esperado até a 13°
semana de gestação. A paciente ainda poderá ganhar 15 kg.

187
UNICESUMAR

Em relação aos cálculos das semanas gestacionais e do IMC, na segunda consulta, a paciente apresentou
IG de 13 semanas e IMC de 22,73 kg/m². Na terceira consulta, apresentou IG arredondada de 17 semanas
e IMC de 22,9 kg/m²; na quarta consulta, a paciente apresentou IG arredondada de 26 semanas e IMC
de 23, 64 kg/m². Por fim, na quinta consulta, apresentou IG arredondada de 36 semanas e IMC de 25,09
kg/m². De acordo com a curva de ganho de peso, a paciente se apresentou ascendente e está na faixa do
estado nutricional adequado. O que achou desse caso clínico? Acompanhe esta unidade para aprender
a realizar os cálculos e a conhecer mais o universo da análise antropométrica de gestantes! É fascinante!
Sugiro que você faça a seguinte experimentação: selecione algumas gestantes e realize os seguintes
questionamentos:

• Qual era o seu peso antes da gestação?


• Qual é a sua estatura?
• Qual é o seu peso atual?
• Qual foi a data da última menstruação?

A partir dos dados obtidos, calcule o IMC pré-gestacional e o classifique. Em seguida, classifique o
estado nutricional e calcule a semana gestacional da paciente. Posteriormente, avalie o ganho de peso
dela por meio da curva de ganho de peso gestacional.
Com a experimentação proposta, será possível treinar o cálculo do IMC pré-gestacional e se fami-
liarizar com a classificação e o cálculo da idade gestacional. Além disso, será possível compreender a
classificação do ganho de peso da gestante perante à curva de classificação. Depois da realização da
atividade, anote, em seu diário de bordo, como foi a sua experiência.

188
UNIDADE 6

A influência da nutrição na saúde do paciente pode ser analisada por intermédio


da avaliação do estado nutricional, que tem como objetivo identificar distúrbios
nutricionais, possibilitando uma intervenção adequada a partir da utilização de
métodos e procedimentos diagnósticos, com a finalidade de avaliar e examinar
as manifestações orgânicas decorrentes da influência das relações que ocorrem
entre o homem, o ambiente e o alimento.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP, 2009), a identificação do risco
nutricional e o monitoramento contínuo do bebê e da gestante fazem da avaliação
nutricional um instrumento essencial para que os profissionais da área conheçam
as condições de saúde dos indivíduos (FONTES; MELLO; SAMPAIO, 2012).
Há uma íntima relação entre o estado nutricional materno e o resultado
da gestação. Uma inadequação no estado nutricional materno pode gerar
um grande impacto nas condições do recém-nascido, porque o período ges-
tacional é representado por uma fase na qual as exigências nutricionais são
aumentadas, em comparação ao período pré-gestacional, exigências que
garantem os ajustes fisiológicos no organismo materno e o desenvolvimento
fetal. Os recém-nascidos em boas condições de nutrição na vida intrauterina
têm maior chance de iniciar as vidas em melhores condições de saúde física
e mental (ACCIOLY et al., 2009; BARROS; SAUNDERS; LEAL, 2008).
Você, como futuro(a) profissional da área, deve considerar que a nutrição,
o peso pré-gestacional e o ganho de peso materno durante a gravidez são as-
pectos muito importantes e estão relacionados diretamente ao peso e à saúde
do recém-nascido, influenciando adversamente no crescimento e no desen-
volvimento durante os primeiros anos de vida. Na década de 60, profissionais
da área realizavam uma associação entre o ganho de peso materno e o peso ao
nascer. Posteriormente, estudos reafirmaram os efeitos positivos do ganho de
peso adequado durante a gestação, visando a um melhor resultado para ambos.
Aliás, tanto o ganho de peso excessivo quanto o inverso podem ocasio-
nar complicações, como Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) e Doença
Hipertensiva Específica da Gestação (DHEG). Portanto, o que se sabe é que
mudanças comportamentais influenciam a saúde materna. É recomendado
que você esteja sempre atento(a) para analisar o uso de álcool, drogas ilícitas,
alimentos industrializados e alimentação rica em fast foods, porque os hábitos
de consumo vêm sendo identificados como fatores os quais podem repercutir
na saúde da gestante e do recém-nascido.
A avaliação nutricional se torna muito importante nesses casos, visto que a
identificação precoce da inadequação do estado nutricional das gestantes pode
contribuir para que haja uma intervenção oportuna, resultando em um impacto
positivo nas condições de nascimento do bebê, reduzindo as taxas de mortalidade
peri e neonatal (ACCIOLY et al., 2009; BARROS; SAUNDERS; LEAL, 2008).

189
UNICESUMAR

Durante esta unidade, faremos uso de diversas terminologias relacionadas ao mundo materno-in-
fantil. Entenda algumas terminologias que norteiam esse campo no Quadro 1.

Terminologia Conceito

Período compreendido entre a concepção e o momento do


Período pré-natal
parto.

Período compreendido entre a concepção e as 22 primeiras


Período fetal precoce
semanas completas de gestação.

Período compreendido a partir das 22 semanas completas


Período fetal tardio
de gestação até o termo.

Período pós-natal Referente ao período após o nascimento.

Período neonatal Período referente aos 28 primeiros dias após o nascimento.

Período compreendido após o 7° até o 28°dia após o nasci-


Período neonatal tardio
mento.

Período após os 28 primeiros dias de vida pós natal e antes


Período pós-neonatal
de completar um ano de vida.

Período compreendido entre o período fetal tardio e o perío-


Período perinatal
do neonatal.

Óbito da mulher durante a gravidez até completar 42 dias de


Mortalidade materna
puerpério.

Peso ao nascer Primeiro peso obtido após o nascimento.

RN baixo peso Recém- nascido com peso ao nascer inferior a 2500g.

Macrossomia fetal Recém- nascido com peso ao nascer maior ou igual a 4000g.

Duração da gestação a partir do primeiro dia do último perío-


Idade gestacional
do menstrual.

Retardo de crescimento intra- Peso do feto abaixo do percentil 10 do peso esperado para a
uterino idade gestacional.

Gestação pré-termo Gestação com menos de 37 semanas completas.

Gestação compreendida entre a 37° semana até 41° sema-


Gestação a termo
nas e 6 dias.

Gestação pós- termo Corresponde a 42 semanas completas ou mais.

Quadro 1 - Terminologias empregadas em saúde materno-infantil / Fonte: adaptado de Accioly et al. (2009).

190
UNIDADE 6

É interessante pontuar que, na gestação, ocorrem diversas adaptações no corpo da mulher, visando à
geração de uma nova vida. Dentre essas alterações, encontram-se as alterações hormonais, o aumento
da taxa metabólica basal por volta do terceiro mês (15 a 20% para suprir as necessidades fetais), o me-
tabolismo de nutrientes e a modificação dos sistemas respiratório, urinário, circulatório e digestório.
Aliás, o gasto energético elevado ocorre devido ao aumento das funções cardíacas e renais. Na Figura
1, você pode conferir as principais modificações metabólicas que acontecem durante a gestação.

Figura 1 - Modificações metabólicas e bioquímicas no organismo materno durante a gestação


Fonte: adaptada de Souza e Sirota (2020).

Descrição da Imagem: trata-se de um fluxograma. No centro, há uma caixa de texto com o seguinte conteúdo: “Modificações no or-
ganismo materno”. Dela saem oito caixas de texto. Trata-se dos: “Sistema respiratório”, “Sistema urinário”, “Modificações psicológicas”,
“Sistema circulatório”, “Metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídios”, “Taxa metabólica basal”, “Modificações posturais” e “Sistema
digestório”. Por fim, há uma caixa de texto com o conteúdo: “Maior consumo de nutrientes”.

Depois de pontuarmos as modificações no organismo materno, compreenderemos os papéis dos hor-


mônios durante a gestação. Portanto, conheceremos a ação dos principais hormônios envolvidos. Você
conhecer o exame de sangue que detecta a gravidez. O hormônio envolvido é chamado de Gonadotrofina
Coriônica Humana (hCG), produzido pela placenta e pelas células do trofoblasto. Ele é capaz de esti-
mular a produção de progesterona, impedir uma rejeição imunológica do embrião e estimular a produção
de relaxina pelo ovário. Em conjunto com a progesterona inibe a contratilidade espontânea do útero.
A progesterona, por sua vez, também é produzida pela placenta (entre 8 a 9 semanas de gestação) e
exerce um papel fundamental para que a placenta se desenvolva de maneira eficaz. Logo, esse hormônio
reduz a motilidade do trato gastrointestinal e proporciona uma facilidade de deposição de gordura na
gestante. Além disso, aumenta a excreção renal de sódio, interfere no metabolismo do ácido fólico e é
responsável por estimular o apetite na primeira semana de gestação.

191
UNICESUMAR

Não obstante, o estrogênio também é um hor-


mônio produzido pela placenta. Dentre as funções, é
capaz de contribuir para a redução da proteína sérica
e favorecer o crescimento uterino. Ele pode afetar a
função da tireoide e diminuir o apetite da gestante
na segunda metade da gestação. Além do mais, pode
interferir no metabolismo do ácido fólico e alterar o
metabolismo glicídico e o tecido conjuntivo e vascu-
lar. Ele é o responsável por promover o desenvolvi-
mento do tecido glandular mamário. Em associação à
progesterona, diminui a secreção da prolactina e, em
consequência, a secreção do leite durante a gestação
(SOUZA; SIROTA, 2020).
Ainda em relação aos hormônios, encontra-se o
Lactogênio Placentário Humano (hPL), também
conhecido como Somatomamotropina Coriôni-
ca Humana (hCS). Ele é produzido pela placenta,
responsável por promover o aumento da glicemia
materna, e pela glicogenólise, que promove a lipólise
e a elevação dos níveis sanguíneos de ácidos graxos
livres. Fica bloqueada a captura de glicose circulante
pela célula e pela gliconeogênese. Logo, favorece a
geração de glicose e de aminoácidos para o feto.
Em contraste, o Hormônio do Crescimento
(hCT) é produzido pela hipófise e atua na elevação da
glicemia, estimulando o crescimento dos ossos longos
e a retenção de nitrogênio. A tiroxina é um hormônio
tireoidiano que regula a oxidação celular, ou seja, está
diretamente relacionado ao controle da taxa metabólica
basal. A calcitonina também é produzida pela tireoide
e atua inibindo a reabsorção óssea de cálcio. A insulina
é produzida pelas células beta do pâncreas e atua na
diminuição da glicemia, visando à produção de energia
e à síntese de gordura. Em associação, há o glucagon,
também produzido pelo pâncreas, porém pelas células-
-alfa. Tem, como função, atuar no aumento da glicemia
devido à glicogenólise (SOUZA; SIROTA, 2020).
Durante a gestação, ocorrem diversas alterações
nos sistemas circulatório, urinário, respiratório e di-
gestivo. Vamos entender cada uma dessas alterações?

192
UNIDADE 6

193
UNICESUMAR

No que diz respeito ao sistema circulatório, o débito cardíaco da gestante aumenta cerca de 30-40%
no primeiro trimestre. Também pode ocorrer uma pequena queda da pressão arterial, devido à vasodi-
latação periférica. O volume sanguíneo aumenta cerca de 45 a 50% acima dos valores não gestacionais
no início do primeiro trimestre, aliás, pode ocorrer uma anemia fisiológica resultante do aumento do
volume globular e de menores taxas de hematócrito e de hemoglobina.
O sistema respiratório também sofre alterações. Acredito que você já tenha ouvido alguma gestante
reclamar de dificuldades para respirar, não é mesmo? Isso ocorre devido a um aumento da ventilação
pulmonar em cerca de 50%. Entretanto, o útero comprime o diafragma e a frequência respiratória fica
maior para manter a ventilação. Uma das maiores alterações se encontra no sistema digestório da
gestante: relatos de quadros de azia, queimação e enjoos são muito frequentes. Eles estão envoltos em
uma redução da secreção gástrica de ácidos no primeiro e segundo trimestres.
No primeiro e terceiro trimestres, quadros de pirose podem acometer as gestantes, devido ao rela-
xamento do esfíncter esofagiano, à pressão do abdômen pelo útero e ao aumento do tempo de esva-
ziamento gástrico. Muitas grávidas reclamam de intestino preso, quadro que ocorre em decorrência
de uma hipotonia do sistema gastrointestinal, acarretando, também, flatulência e hemorroidas devido
à diminuição da motilidade intestinal, ação da progesterona e da pressão do útero.
Todavia, o quadro de hipotonia aumenta o tempo de contato dos nutrientes com a mucosa, o que propor-
ciona uma maior absorção de nutrientes e água, visando ao anabolismo da gestante. Por fim, as alterações
hormonais promovem uma alteração no paladar e no olfato, ocasionando perda da sensibilidade ao paladar
salgado e podendo ocasionar, dessa forma, aumento do consumo de sal. Em relação ao olfato, é possível
ocorrer náuseas, vômitos e hiperemese, devido à maior capacidade olfativa (SOUZA; SIROTA, 2020).
Não pense que as modificações que ocorrem são apenas as citadas. O metabolismo da gestante
também sofre alterações nos macronutrientes. Iniciaremos o tema com os carboidratos: as gestantes
podem sofrer uma leve hipoglicemia em jejum, uma hiperglicemia pós-prandial e aumento nos níveis
de insulina. Por outro lado, a glicemia materna pode diminuir em 10 a 20%, logo, as reservas maternas
são mobilizadas de acordo com as demandas fetais, resultante da glicogeólise hepática.
Ademais, a partir da segunda metade da gestação, a sensibilidade periférica à insulina sofre
prejuízos e os níveis de glicemia podem aumentar, ficando mais disponíveis para o feto. Em relação
aos lipídios, a gestação acarreta um aumento de colesterol em até 50%. Os valores de triglicerídeos
podem triplicar, o LDL atinge maior concentração plasmática por volta das 36 semanas, o HDL
tem o nível máximo por volta das 25 semanas, podendo diminuir até as 32 semanas. A partir disso,
mantém-se constante até o parto.
Por fim, o metabolismo das proteínas também é alterado, uma vez que a insulina estimula a síntese
proteica, por facilitar o transporte de aminoácidos para o interior das células. Para tanto, durante a
gestação, os níveis de aminoácidos no sangue são menores, dado que a hemodiluição pode provocar
a diminuição das proteínas plasmáticas, chamando a atenção da diminuição da albumina, que facilita
a formação de edema (SOUZA; SIROTA, 2020).
A gestante pode apresentar diversas intercorrências durante a gestação e compreendê-las é fundamental
para o estudo da avaliação nutricional. Para tanto, as alterações fisiológicas são responsáveis por inúmeras
ocorrências, como as náuseas, os enjoos, a constipação, a diabetes e as anemias, por exemplo. Os enjoos

194
UNIDADE 6

e as náuseas ocorrem, normalmente, no início da gestação, mas, em muitos casos, podem perdurar até
o final. Ambos têm maior prevalência no período da manhã. Quais podem ser as causas? Eles estão rela-
cionados à predisposição genética, à hipersensibilidade olfativa, ao estado físico e emocional da paciente,
aos hormônios da tireoide, ao hormônio hCG e ao estrogênio. A alimentação pode auxiliar nesses qua-
dros? Sim! Sabe-se que longos períodos com o estômago vazio podem piorar os sintomas. O excesso de
carboidratos refinados, molhos, gorduras, a resistência à insulina, a presença de fungos no intestino e/ou
maior sensibilidade à suplementação utilizada de maneira inadequada também promovem esses quadros.
A constipação, por sua vez, acontece, tendo em vista que o peso do útero atua sobre o reto. Além
disso, o efeito da progesterona causa menor motilidade intestinal e alguns suplementos alimentares,
como o carbonato de cálcio, o fumarato, o sulfato ferroso e o óxido de zinco, podem causar constipa-
ção. Uma das intercorrências que preocupam muitas gestantes é a Diabetes Mellitus Gestacional,
caracterizada por qualquer grau de intolerância à glicose, relacionada à resistência insulínica fisiológica
da gestação. São vários os fatores de risco associados, como a idade materna avançada, o sobrepeso, a
obesidade, o ganho de peso excessivo, o excesso de gordura corporal, o histórico familiar de diabetes,
o feto com crescimento excessivo, o excesso de líquido amniótico, a hipertensão ou pré-eclampsia na
gravidez, o aborto de repetição, as malformações, a morte fetal ou neonatal, a macrossomia, a síndrome
do ovário policístico e até gestante com baixa estatura.
A anemia, considerada um grande problema de saúde pública no Brasil, pode atingir, em espe-
cial, gestantes e crianças menores de dois anos de idade. Dentre os principais sintomas, as pacientes
podem sentir tonturas, dores de cabeça, falta de concentração, irritabilidade, confusão mental, além
de fraqueza muscular, falta de oxigênio nos músculos, falta de energia, palidez nas mucosas, língua
vermelha lisa e colorida, dificuldade de deglutição, diminuição do apetite, intestino preso e inchaço
dos membros inferiores (SOUZA; SIROTA, 2020). Alguns aspectos configuram um diagnóstico de
anemia em gestantes. Confira:

• Hemoglobina menor que 11 g/dl (1° e 3° trimestre).


• Hemoglobina menor que 10,5 g/dl ou hematócrito menor que 32% no segundo trimestre.
• Ferritina inferior a 15 mg/L.

O organismo de uma gestante normal e bem-nutrida experimenta uma série de adaptações fisioló-
gicas que garantem o crescimento e o desenvolvimento do feto. Além disso, asseguram as reservas
biológicas necessárias ao parto, à recuperação pós-parto e à lactação. Estudos demonstram que,
quando a gestação se desenvolve sob condições de privação alimentar, o corpo materno é mais
poupado que o fetal. Isso parece estranho, não é? No entanto, essa adaptação garante a possibilidade
de que a lactação é mais importante ao longo prazo da criança que o desenvolvimento uterino. O
que você pensa a respeito?

195
UNICESUMAR

Conhecidas as principais alterações fisiológicas que ocorrem na gestação, os macronutrientes mais


importantes e algumas intercorrências comuns na gestação, compreenderemos as etapas da avaliação
nutricional da gestante e as possíveis condutas a serem realizadas durante o atendimento nutricional.
Para tanto, para fazer a avaliação do estado nutricional da gestante, é necessário identificar como
ela ocorre, qual é a natureza/etiologia e a magnitude das alterações nutricionais.
Sugere-se seguir as seguintes etapas para conduzir a avaliação:

1. Conhecer a história nutricional global.


2. Conhecer o método dietético.
3. Realizar um bom exame clínico.
4. Indicar um bom exame bioquímico.
5. Fazer um adequado exame antropométrico.

Apenas tenha em mente que o acompanhamento nutricional é muito importante na gestação, uma
vez que existem inúmeros estudos que associam o estado nutricional e o ganho de peso da gestante a
uma possível ocorrência de diabetes, anemia, hipertensão e infecções, e ao estado nutricional do bebê
(SOUZA; SIROTA, 2020).
Iniciaremos pela história nutricional global, com o objetivo de compreender informações im-
portantes sobre a gestante, a história pregressa de saúde, os sintomas que estão presentes e as condições
socioeconômicas e emocionais, por exemplo. É importante conhecer o motivo da consulta e as principais
queixas nutricionais relacionadas à nutrição. Aliás, é extremamente válido conhecer a história pregressa
e atual da paciente, se ela possui algum diagnóstico e tratamento médico ou condições clínicas que
possam estar influenciando o gasto energético.
A história nutricional global também exige o conhecimento de doenças ou condições clínicas que
envolvem o sistema digestório da gestante, haja vista que inúmeras queixas estão relacionadas a esse
sistema. Além disso, nessa etapa, é importante questionar os possíveis traumas ou doenças crônicas e/
ou agudas e as medicações. É muito importante conhecer o tipo, o motivo de uso, o tempo do trata-
mento, além de verificar se a medicação está gerando efeitos colaterais. Não se esqueça de perguntar
acerca do uso de suplementos nutricionais e fitoterápicos/nutracêuticos (SOUZA; SIROTA, 2020).
Durante o seu atendimento, questione a história mórbida familiar, como foram as gestações das mulhe-
res da família, se alguma já apresentou quadro de diabetes, hipertensão, câncer, doença celíaca, trombofilia,
acidente vascular encefálico, obesidade e anemias. Também é imprescindível observar como foi a história
obstétrica da gestante, ou seja, como foi o parto, em qual semana de gestação o parto ocorreu, com qual
peso o bebê nasceu, se houve alguma intercorrência e como foi a gestação da mãe dessa gestante, se ela
foi amamentada com leite materno e qual foi o tipo de parto. Realizadas as perguntas, procure conhecer
a história obstétrica atual, incluindo a idade da menarca, o ganho de peso, os sintomas que ela está apre-
sentando, se houve alguma intercorrência, como está a saúde emocional, como está a saúde do bebê, se
ela pretende amamentar e se já teve alguma perda gestacional (SOUZA; SIROTA, 2020).

196
UNIDADE 6

Questione a saúde oral da gestante, como estão os sintomas gastrointestinais, se possui alergias
alimentares, como está o apetite, se houve alguma mudança recente na capacidade funcional, quais
atividades realiza além de um possível trabalho, se realiza atividades físicas (se sim, qual?), se possui
alguma limitação física, quais atividades realiza em momentos de lazer e distrações. Além disso, não
deixe de saber se a paciente faz uso de álcool, drogas e cigarros ou se é ex-fumante. Se sim, pergunte
há quanto tempo parou de fumar.
Em sua anamnese, não deixe de acrescentar algumas perguntas sobre a condição socioeconômica
da paciente, observar se ela trabalha e possui alguma renda, qual é a ocupação diária e qual é a carga
horária trabalhada. Compreenda a rotina diária dessa paciente, qual é a estabilidade familiar. Questione
com quem mora, se é casada, se tem outros filhos, se a gestação foi planejada e, se sim, há quanto tempo
estava tentando engravidar. Não esqueça de perguntar se já houve algum acompanhamento anterior
com outros nutricionistas: esse fato te guia para um melhor atendimento.
Questione também as condições psicológicas e emocionais, como está o nível de ansiedade, se está
cansada fisicamente ou mentalmente, se a paciente se apresenta agitada, irritada e o que pode estar
contribuindo para essa situação. Pergunte como ela avalia a própria qualidade de vida, observe sinais
de depressão, tristeza e/ou de distúrbios alimentares. Não se esqueça: muitas dessas observações serão
feitas a partir de sinais no comportamento e na fala (SOUZA; SIROTA, 2020).
A avaliação dietética da gestante deve ser extremamente detalhada, visando à identificação dos
hábitos alimentares, do modo como realiza as compras e quem as realiza, como é o preparo dos ali-
mentos e quem os realiza, como é o armazenamento dos alimentos, como está o consumo alimentar,
englobando qual número de refeições realizadas, os hábitos e os padrões atuais e passados. Também
é necessário abarcar o que a paciente gosta de comer, de cozinhar e de comprar; se consome lanches,
alimentos gordurosos e ricos em açúcar com grande frequência; se ingere substâncias não alimentares
(casos de picamalácia) ou se segue dietas da moda.
Identifique o local em que a paciente realiza a aquisição de alimentos e onde realiza as refeições.
Quais instrumentos poderão ser utilizados para realizar a avaliação dietética da paciente? Você pode
usar os métodos que aprendemos nas unidades anteriores, como o R24hrs, útil para analisar a mudança
na prática alimentar após a intervenção nutricional; o inquérito de frequência alimentar, que identifica
a frequência alimentar da gestante e os registros alimentares, dado que os alimentos serão anotados à
medida que serão consumidos (SOUZA; SIROTA, 2020).
A avaliação clínica da gestante, quando bem realizada, é capaz de identificar as principais quei-
xas e sintomas, como relatos de dores de cabeça, fadiga, cansaço, alergias, intolerâncias, como está o
hábito intestinal, a hidratação, se existem intercorrências gestacionais e até se a gestante adoece com
frequência. Em resumo, a avaliação clínica é capaz de identificar a presença de sinais e sintomas físicos
e evidencia possíveis carências nutricionais (SOUZA; SIROTA, 2020). Para tanto, é necessária uma
adequada avaliação física, ao observar os elementos presentes no Quadro 2.

197
UNICESUMAR

Pontos observados Sugestivos de:

Olhos:

Palidez da mucosa conjuntival Anemia

Carência de riboflavina (vitamina B2) e piridoxina


Vermelhidão e fissuras nos epicantos
(vitamina B6)

Bolsas amarelas ao redor dos olhos Hiperlipidemias

Face:

Seborreia nasolabial Carência de riboflavina (vitamina B2)

Lábios e língua:

Estomatite angular Carência de riboflavina (vitamina B2)

Língua magenta Carência de riboflavina (vitamina B2)

Glândulas:

Bócio Carência de iodo

Outros:

Palidez cutânea Anemia ferropriva

Fraqueza Anemia ferropriva

Fadiga ao menor esforço físico Anemia ferropriva

Susceptibilidade aumentada em processos in-


Anemia ferropriva
feciosos

Gengivas esponjosas Carência de vitamina C

Gengivas sangrando Carência de vitamina C

Pequenas hemorragias cutâneas Carência de vitamina C

Quadro 2 - Sinais clínicos de carências nutricionais em gestantes / Fonte: adaptado de Souza e Sirota (2020).

Além dos sintomas citados no Quadro 2, é importante questionar os sinais do sistema urinário da pa-
ciente, como o volume, a cor, o odor e a turbidez da urina. Eles são fundamentais para avaliar a maior
necessidade de ingestão de líquidos e água. Para auxiliar nessa identificação, analise a Figura 2 com a
colorimetria que pode auxiliar a investigar o hábito urinário.

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UNIDADE 6

Figura 2 - Colorimetria para avaliação do hábito urinário / Fonte: Souza e Sirota (2020, p. 30).

Descrição da Imagem: trata-se de uma ilustração composta por sete colunas, dispostas uma ao lado da outra. Inicialmente, da esquerda
para a direita, a coluna número 1 está na cor branca; a 2 na cor bege; a 3 na cor amarelo; a 4 na cor laranja-claro; a 5 na cor laranja-médio;
a 6 na cor laranja-escuro e a 7 tem um tom mais escuro de todas as colunas, ficando entre o laranja e o marrom.

Além dos aspectos urinários, é de extrema importância conhecer os sintomas digestivos, como os
enjoos, as náuseas, a aparência das fezes e os horários e a frequência dos vômitos, da sensação de azia,
do refluxo, dos gases, da evacuação, da diarreia, do intestino preso (constipação). Na Figura 3, há uma
escala de Bristol, que identifica o trânsito intestinal e pode auxiliar durante o seu atendimento.

Figura 3 - Escala de Bristol / Fonte: Souza e Sirota (2020, p. 30).

Descrição da Imagem: a figura é composta por sete quadros. O quadro 1 tem uma imagem com fezes arredondadas e, ao lado, a
menção: “Pedaços separados duros como amendoim”. O quadro 2 possui uma imagem de fezes compactas, com a menção: “Forma de
salsicha, mas segmentada”. O terceiro apresenta a imagem de fezes com aspecto mais uniforme, com a menção: “Forma de salsicha,
mas com fendas na superfície”. O quadro 4 possui uma imagem de fezes semelhante ao quadro 3, porém mais fina, com a menção:
“Forma de salsicha ou cobra, lisa e mole”. O quadro 5 tem imagem de fezes separadas, porém um pouco mais moles, se comparadas ao
quadro 1, com a menção: “Pedações moles, mas contornos nítidos”. O quadro 6 possui uma imagem de fezes com muita quantidade,
porém, não segmentadas, com a menção: “Pedaços aerados com contornos esgarçados”. Por fim, o quadro 7 apresenta uma figura de
fezes aquosa, com a seguinte menção: “Aquosa, sem peças sólidas”.

199
UNICESUMAR

Em relação à avaliação bioquímica, a solicitação de exames laboratoriais é de suma importância


para o acompanhamento dietoterápico e, na gestação, é primordial para um plano alimentar indivi-
dualizado. Para tanto, recomenda-se solicitar exames bioquímicos conforme a necessidade, como um
hemograma, perfil de vitaminas e minerais, urina, avaliação do nível de proteínas, avaliação da curva
glicêmica, ferro sérico, análise da função hepática e exames que analisem o sistema imunológico, o
perfil lipídico e as alergias alimentares. Em suma, podem ser realizadas as seguintes solicitações com
respaldo clínico (SOUZA; SIROTA, 2020):

• Hemograma.
• Tipagem sanguínea e fator Rh.
• Glicemia em jejum.
• Teste rápido de triagem para sífilis.
• Teste rápido de triagem para diagnóstico anti-HIV.
• Toxoplasmose IgM e IgG.
• Sorologia para hepatite B.
• Exame de urina.
• Citopatológico de colo de útero (se necessário).
• Exame de secreção vaginal.
• Parasitológico de fezes.
• Eletroforese de hemoglobina.

A avaliação antropométrica, por sua vez, é essencial durante o pré-natal, visando ao acompanha-
mento do estado nutricional da gestante, reduzindo os riscos de retardo intra-uterino, o baixo peso ao
nascer, o bebê prematuro e outras complicações maternas e do feto. Durante a prática clínica, você deve
analisar com cautela o estado nutricional antropométrico materno e o peso ao nascer do bebê. É sua
responsabilidade detectar gestantes com desvio ponderal pré-gestacional (baixo peso ou sobrepeso e
obesas) por meio do Índice de Massa Corporal (IMC) ou com o ganho de peso gestacional abaixo ou
cima do recomendado, tendo em vista que essas situações têm impacto no peso ao nascimento e na
idade gestacional ao nascer (ACCIOLY et al., 2009).
Todavia, há uma diversidade de métodos avaliativos que, por vezes, pode limitar adequadas estimati-
vas e direcionamentos de ações de saúde. Por exemplo, na América Latina, existem sete instrumentos de
classificação em peso, estatura e idade gestacional que podem ser aplicados à prática pré-natal, como o
método de Rosso (1985), o método do Centro Latino-Americano de Perinatologia, descrito por Fescina
(1983), o método do Institute of Medicine (IOM, 1992), o nomograma de Atalah et al. (1997), o nomo-
grama de Mardones e Rosso (1997), o nomograma de Mardones et al. (1999) e o método do IOM (2009).
Os instrumentos de avaliação relatados foram elaborados e testados em populações específicas,
com escassez de estudos de validação adequados, o que pode propiciar questionamentos sobre a vali-
dade e até os métodos de comparação com contextos epidemiológicos distintos. Existem indícios de
que a antropometria tende a superestimar as prevalências de baixo peso e de subestimar sobrepeso e
obesidade gestacionais. Um estudo realizado por Melo et al. (2011) no Nordeste brasileiro há mais de

200
UNIDADE 6

dez anos inferiu as diferenças entre as frequências de baixo peso, sobrepeso e obesidade, realizando
comparações com a classificação de Rosso (1985), Atalah et al. (1997) e a OMS.
O que se deve ter mente é que todo método avaliativo têm especificidades, muitas vezes, atribuídas à
heterogeneidade entre os métodos. Você deve saber lidar com as disparidades encontradas, ao delimitar
o melhor método a ser usado em dado indivíduo ou população (SILVA et al., 2017). De modo geral,
para a avaliação antropométrica, existem alguns passos importantes a serem seguidos:

• Realizar a obtenção do peso pré-gestacional (quando possível).


• Obter o peso inicial (até a 13° semana de gestação).
• Aferição do peso atual (no momento da consulta).
• Aferição da altura materna.
• Cálculo da idade gestacional (IG).

É frequente as gestantes relatarem a data de gestação por semana ou meses, não é mesmo? Como é
feito esse cálculo? Inicialmente, para compreensão do cálculo da idade gestacional, é necessário
levar em consideração o número de semanas desde o primeiro dia da última menstruação da mulher,
o que é expresso em semanas e em dias completos. Também é possível registrar a idade gestacional
com base em outros métodos de aferição, como o exame físico ou ultrassonografia, porém são métodos
com validades distintas. A ultrassonografia é realizada no intervalo de 10 a 13 semanas e seis dias de
gestação. É considerada um método preciso para estimar a idade gestacional. Por outro lado, a data da
última menstruação é um método recomendado pela Organização Mundial de Saúde por ser acessível
e de baixo custo, logo, é o mais aplicado (SOUZA; SIROTA, 2020).
É possível calcular a data da última menstruação de várias formas:

1. A gestante que apresentou ciclos menstruais regulares e que não fez uso de métodos contra-
ceptivos hormonais pode calcular da maneira descrita.
2. Caso não seja conhecida a data da última menstruação, mas se sabe o período do mês, é con-
siderada a data da última menstruação o dia 5 para o início do mês, dia 15 para o meio do mês
e dia 25 para final do mês, contado até a dia da consulta.
3. Quando a data e o período da última menstruação são desconhecidos, a data da última mens-
truação e a data provável do parto serão determinados por aproximação, utilizando como base
a medida da altura do fundo do útero, o toque vaginal e informações sobre a data de início dos
movimentos fetais, que, de modo geral, ocorrem entre 18 a 20 semanas. Aliás, a idade gestacio-
nal pode ser arredondada caso, seja necessário, logo, 1, 2, 3 dias, deve-se considerar o número
de semanas completas e para 4, 5, 6 dias, considera-se a semana seguinte. Por exemplo, uma
gestante com 10 semanas e 2 dias = 10 semanas. Por outro lado, uma gestante com 10 semanas
e 5 dias = 11 semanas (SOUZA; SIROTA, 2020). Também há a contagem do famoso trimestre.
Para tanto, o primeiro trimestre é de 0 a 13 semanas e 6 dias. O segundo trimestre é de 14 a 27
semanas e 6 dias, enquanto o terceiro trimestre é de 28 a 40 semanas.

201
UNICESUMAR

Há o cálculo da data provável do parto, que pode ser realizado de três formas: a primeira é pautada
no calendário, contando 40 semanas a partir da data da última menstruação ou 280 dias, que cor-
responde à duração média da gestação. A segunda é calculada mediante o gestograma (vide Figura
4). Dessa maneira, coloca-se uma seta sobre o dia e o mês correspondentes ao primeiro dia e mês da
última menstruação, e são observadas a seta e a data (dia e mês) indicada com a data provável do parto.
Por fim, na terceira forma, são somados sete dias ao primeiro dia da última menstruação e subtraídos
três meses a partir do mês em que aconteceu a última menstruação (ou adicionados nove meses, se
corresponderem aos meses de janeiro a março).
Uma observação importante: caso seja encontrado um número de dias maior que o número de dias
do mês, é necessário passar os dias excedentes para o mês seguinte, adicionando o número 1 ao final
do cálculo do mês (SOUZA; SIROTA, 2020). Observe os exemplos:

• Paciente 1: data da última menstruação dia 13/09/2020. Qual é a data provável do parto? Ela
seria dia 20/06/2021, porque (13+7= 20 e 9-3= 6).
• Paciente 2: data da última menstruação dia 10/02/2020. Qual é a data provável do parto? Ela
seria dia 17/11/2021, porque (10+7= 17 e 2+9= 11).
• Paciente 3: data da última menstruação dia 27/01/2020. Qual é a data provável do parto? Ela
seria 03/11/2020, porque (27+7= 34, 34-31= 03, 01+09+01= 11).

202
UNIDADE 6

Figura 4 - Modelo de gestograma / Fonte: adaptada de Souza e Sirota (2020).

Descrição da Imagem: a figura é composta por um círculo em tons de rosa e roxo, envolto por diversas divisões. A primeira, do exte-
rior da figura para dentro, expressa os meses do ano de janeiro a dezembro. Na sequência, os números de dias perante a cada faixa
do mês, sendo eles: 5, 15, 20, 25 e 30. Na sequência, encontram-se os números de semanas, indo de 1 a 42. Embaixo, há uma linha
com os meses que correspondem à cada semana e, embaixo, quase no centro do círculo, há uma faixa correspondente à cada mês, o
número de contrações uterinas por hora.

É recomendado que a gestante realize a primeira consulta com o nutricionista no primeiro trimestre
e que, ao realizar o cálculo do IMC, ele seja obtido a partir da medição realizada até a 13° semana de
gestação ou a partir do IMC pré-gestacional referido. A programação do ganho de peso, preferencial-
mente, deve ocorrer no primeiro trimestre. É importante mencionar que o peso da gestante deve ser

203
UNICESUMAR

aferido em todas as consultas. A estatura, em gestantes adultas, deve ser medida apenas na primeira
consulta. Em casos de pacientes adolescentes, aferir a altura em cada trimestre. Observe o cálculo do
IMC pré-gestacional:

Peso(kg )
Cálculo do IMC pré-gestacional: IMC =
Altura(m2)

É necessário realizar o diagnóstico nutricional. Para tanto, durante o seu atendimento, você deve obser-
var a semana gestacional e identificar a classificação do estado nutricional da gestante, inicialmente,
a partir do IMC calculado. Observe a Tabela 1.

Semana Baixo Peso Adequado Sobrepeso Obesidade


Gestacional (IMC≤) (IMC entre) (IMC entre) (IMC entre)

6 19,9 20,0 – 24,9 25,0 – 30,0 30,1

7 20,0 20,1 – 25,0 25,1 – 30,1 30,2

8 20,1 20,2 – 25,5 25,1 – 30,1 30,2

9 20,2 20,3 – 25,1 25,2 – 30,2 30,3

10 20,2 20,3 – 25,2 25,3 – 30,2 30,3

11 20,3 20,4 – 25,3 25,4 – 30,3 30,4

12 20,4 20,5 – 25,5 25,5 - 30,3 30,4

13 20,6 20,7 – 25,6 25,7 – 30,4 30,5

14 21,1 21,2 – 26,0 25,8 – 30,5 30,6

15 20,8 20,9 – 25,8 25,9 – 30,6 30,7

16 21,0 21,1 – 25,9 26,0 – 30,7 30,8

17 21,1 21,2 – 26,0 26,1 – 30,8 30,9

18 21,2 21,3 – 26,1 26,2 – 30,9 31,0

19 21,4 21,5 – 26,2 26,3 – 30,9 31,0

20 21,5 21,6 – 26,3 26,4 – 31,0 31,1

204
UNIDADE 6

Semana Baixo Peso Adequado Sobrepeso Obesidade


Gestacional (IMC≤) (IMC entre) (IMC entre) (IMC entre)

21 21,7 21,8- 26,4 26,5 – 31,0 31,1

22 21,8 21,9 – 26,6 26,7 – 31,2 31,5

23 22,0 22,1 – 26,8 26,9 – 31,3 31,4

24 22,2 22,3 – 26,9 27,0 – 31,5 31,6

25 22,4 22,5 – 27,0 27,1 – 31,6 31,7

26 22,6 22,7 – 27,2 27,3 – 31,7 31,8

27 22,7 22,8 – 27,3 27,4 – 31,8 31,9

28 22,9 23,0 – 27,5 27,6 – 31,9 32,0

29 23,1 23,2 – 27,6 27,7-32,0 32,1

30 23,3 23,4 – 27,81 27,9 – 32,1 32,2

31 23,4 23,5 – 27,9 28,0 – 32,2 32,3

32 23,6 23,7 – 28,0 28,1 – 32,3 32,4

33 23,8 23,9 – 28,1 28,2 – 32,4 32,5

34 23,9 24,0 – 28,3 28,4 – 22,5 32,6

35 24,1 24,2 – 28,4 28,5 – 32,6 32,7

36 24,2 24,3 – 28,5 28,6 – 32,7 32,8

37 24,3 24,5 – 28,7 28,8 – 32,8 32,9

38 24,5 24,6 - 28,8 28,9 – 32,9 33,0

39 24,7 24,8 – 28,9 29,0 – 33,0 33,1

40 24,9 25,0 – 29,1 29,2 – 33,1 33,2

41 25,0 25,1 – 29,2 29,3 – 33,2 33,3

42 25,0 25,1 – 29,2 29,3 – 33,2 33,3

Tabela 1 - Avaliação do estado nutricional da gestante segundo IMC por semana gestacional
Fonte: adaptada de Souza e Sirota (2020)

205
UNICESUMAR

Você também deverá recomendar o ganho de peso para a gestante. Essa recomendação deve ser
pautada no peso pré-gestacional, ou seja, no IMC pré-gestacional. Portanto, é preciso estimar o ganho
de peso total recomendado até o final da gestação. De acordo com a situação nutricional do início da
gestação, você conduzirá uma faixa de peso recomendada. Atente-se ao seguinte: no primeiro trimestre,
o ganho de peso será para todo o período. No entanto, para o segundo e terceiro trimestres, o ganho será
previsto por semana. Sendo assim, na primeira consulta, você estimará o peso que a paciente gestante
precisa ganhar no primeiro trimestre e o ganho por semana até o final da gestação (SILVA et al., 2017).
O ganho de peso gestacional tem sido alvo de inúmeros estudos e os padrões recomendados sofreram
diversas mudanças a partir de 1940. Antes, acreditava-se que o ganho de peso gestacional total deveria
estar na faixa de 4 a 6 kg, fato que proporcionou um aumento do número de casos de baixo peso ao
nascer e morte durante o primeiro ano de vida. Anos posteriores, a recomendação de ganho de peso
gestacional total passou a ser de, no mínimo, 11 kg e foi observada uma maior associação com algumas
comorbidades, como dificuldade no parto, macrossomia fetal, obesidade pós-parto, dentre outros.
Em 1990, o Institute of Medicine lançou uma proposta para o ganho de peso gravídico, que variava
de 7 a 18 kg, segundo o IMC materno pré-gestacional, objetivando a redução do risco do baixo peso
ao nascer, do retardo do crescimento intra-uterino e da prematuridade (ACCIOLY et al., 2009).

Ganho de
Ganho de peso
Estado peso até a Ganho de Ganho mínimo
(kg) semanal
nutricional inicial 13° semana peso total na de peso (kg/
médio no 2° e
(IMC) (kg total do 1° gestação mês)
3° trimestres
trimestre)

Baixo peso Não


2,3 0,5 12,5 – 18,0
(IMC <18,5) determinado

Adequado
1,6 0,4 11,5- 16,0 1,0
(IMC 18,5 - 24,9)

Sobrepeso Não
0,9 0,3 7,0- 11,5
(IMC 25,0-29,9) determinado

Obesidade
- 0,3 7,0 0,5
(IMC >30)

Quadro 3 - Avaliação do estado nutricional inicial da gestante adulta e recomendações de ganho de peso (kg) segundo o esta-
do nutricional inicial / Fonte: adaptado de Souza e Sirota (2020).

É importante conhecer os fatores que podem contribuir com o ganho de peso. São vários os elementos
que podem influenciar o ganho de peso gestacional, incluindo o feto, o líquido amniótico, a placenta
e o aumento dos tecidos maternos. Confira-os detalhadamente no Quadro 4.

206
UNIDADE 6

Componentes Ganho no 1° Ganho no 2° Ganho no 3°


fisiológicos trimestre trimestre trimestre

Feto Desprezível 1,0 2,4


Placenta Desprezível 0,3 0,6
Líquido amniótico Desprezível 0,4 1,0
Subtotal ovular Desprezível 1,7 4,0
Útero 0,3 0,8 1,0
Mamas 0,1 0,3 0,5
Volume sanguíneo 0,3 1,3 1,5
Subtotal materno 0,7 2,4 3,0

Total 0,7 4,1 7,0

Quadro 4 - Componentes fisiológicos do ganho de peso na gestação / Fonte: adaptado de Souza e Sirota (2020).

Em relação à gestação gemelar, como se dá a avaliação? É recomendável seguir os mesmos protocolos


de avaliação. Contudo, atente-se às diferentes classificações. É proposta a seguinte classificação de IMC:

• Baixo peso: < 18,5 kg/m²: não há dados suficientes para se fazer recomendação.
• Eutrófico/normal: 18,5 a 24,9 kg/m²: aumento de 16,8 a 24,5 kg do peso corporal inicial da
gestante.
• Sobrepeso: 25,0 a 29,9 kg/m²: aumento de 14,1 a 22,7 kg.
• Obesa: 30,0 kg/m²: aumento de 11,4 a 19,1 kg.

No Quadro 5, é exibida a determinação de ganho de peso para gestantes gemelares. Todavia, caso a
avaliação inicial seja feita com base no IMC gestacional, consulte a Tabela 1.

Ganho de peso
Ganho de peso Ganho de peso
Estado nutricio- semanal (g) de Ganho de peso
semanal (g) até semanal (g) 20-
nal inicial (IMC) 28 semanas até total (kg)
28 semanas 28 semanas
o parto

Baixo peso 560-790 680-790 560 22,5 – 27,9

Adequado 450- 680 560- 790 450 18- 24,3

Sobrepeso 450- 560 450 - 680 450 17,1 – 21,2

Obesidade 340-450 340 - 560 340 13 – 17,1

Quadro 5 - Determinação do ganho de peso para gestantes gemelares / Fonte: adaptado de Souza e Sirota (2020).

207
UNICESUMAR

Para calcularmos as necessidades energéticas da gestante, é necessária uma avaliação nutricional in-
dividualizada. Obtido o IMC pré-gestacional, é preciso calcular o valor energético total (VET) diário,
baseado na taxa metabólica basal (TMB) e no fator atividade (FA), somando a energia extra conven-
cionada em 300 kcal/dia a partir do segundo trimestre de gestação. O IOM (2009) recomenda um
acréscimo de 250 kcal/dia para todo período gestacional. Esses acréscimos de calorias se baseiam nos
custos energéticos do estoque de energia do feto, útero e tecidos mamários, no depósito de gordura
materno e no gasto energético adicional, somado ao metabolismo basal dos novos tecidos que estão
sendo sintetizados (FREITAS et al., 2010; NRC, 1989).
Temos:

VET  TMBxFA  300 Kcal (2° e 3° trimestres)

TMB(10  18anos )  12, 2 xpeso(kg )  746


TMB(18  30anos )  14, 7 xpeso(kg )  496
TMB(30  60anos )  8, 7 xpeso(kg )  829

• Fator atividade = 1,56, se houver atividade leve (trabalho em escritório, professora).


• Fator atividade = 1,64, se houver atividade moderada (estudantes, lojista, dona de casa sem
aparelhos domésticos, industriária).
• Fator atividade = 1,84, se existirem atividade intensas (atletas, dançarinos, trabalho no campo,
construção civil).

Para gestantes com peso adequado (eutróficos), o peso adotado no cálculo anterior deve ser o pré-ges-
tacional. Para as gestantes de baixo peso, adota-se o peso desejável, utilizando um IMC de 20,8 kg/m²
para o cálculo. Para as gestantes com sobrepeso ou obesas, o ideal é ser utilizado o peso pré-gestacional
para evitar a perda ponderal durante a gestação. Há um método prático para calcular o VET reco-
mendado à gestante adulta, o qual é baseado na indicação de 36 kcal/kg de peso ideal pré-gestacional
(FREITAS et al., 2010; NRC, 1989).
Temos:

Pesoidealprégestacional = altura ² x 22

A altura é em metros (m) e 22 é a sugestão de valor mediano de IMC.


Para o segundo e terceiro trimestres, pode ser utilizado:

VET  ( pesoidealpré  gestacionalx36kcal )  300kcal

Em relação às gestantes gemelares, ainda não há um consenso nas recomendações energéticas, mas
alguns autores indicam um acréscimo de 450 kcal/dia a partir do segundo trimestre de gestação.

208
UNIDADE 6

O IOM (2009) recomenda, ainda, um cálculo de requerimento energético (EER), em que há acréscimo
de energia de acordo com a idade gestacional (IG). Para gestantes entre 19 e 50 anos, recomenda-se:

EER  EERprégestacional  (8kcal  IG )  180kcal

Em que:

ERRpré  gestacional  354  (6, 91xidade)  PAx(10 xpeso)  (934 xaltura )  25kcal

Sendo:
Idade em anos, peso em quilos, altura em metros e PA:
PA 1,0 = Sedentária.
PA 1,16 = Pouco ativa.
PA 1,31 = Ativa.
PA 1,65 = Muito ativa.

Accioly et al. (2009) explicam que a nutrição da futura mãe tem grande relação com o resultado obs-
tétrico, haja vista que o ganho de peso gestacional influencia o peso ao nascer e o índice ponderal do
concepto. A correlação entre a gestante, o ganho de peso insuficiente e o crescimento restrito do feto,
é real. Desse modo, para obter o valor energético total (VET) da gestante, os estudiosos afirmam que
é preciso avaliar, inicialmente, o estado nutricional da gestante antes da gravidez ou logo no início da
gestação, a partir do uso do cálculo do IMC.
De acordo com o estado nutricional da gestante, é necessário determinar o ganho de peso gestacio-
nal, recomendado até a quadragésima semana. Assim, o GET pode ser calculado da seguinte forma:

GET = TMBxNAF

Sendo:
TMB = a taxa metabólica basal.
NAF = o nível de atividade física.
A TMB pode ser calculada da seguinte forma:
Pacientes de 18 a 30 anos:

TMB  14, 818 xpeso  486

Pacientes de 30 a 60 anos:

TMB  8,126 xpeso  845, 6

209
UNICESUMAR

Considerando:
NAF (1,40- 1,69) = sedentário ou leve.
NAF (1,70- 1,99) = ativo ou moderado.
NAF (2,0- 2,40) = vigoroso ou moderadamente vigoroso.
A partir do exposto, podemos calcular o VET:

VET  GET  adicionalenergéticogestacional

1° trimestre (idade gestacional menor que 14 semanas) = 85 kcal/dia.


2° trimestre (idade gestacional ≥14 e < 28 semanas) = 285 kcal/dia.
3° trimestre (idade gestacional ≥28 semanas) = 475 kcal/dia.

A mulher que amamenta necessita de adequações nutricionais especí-


ficas, decorrentes do processo de lactação e do ganho de peso gesta-
cional. Explicaremos as recomendações nutricionais da lactante neste
podcast. Aperte o play para aprender a calcular as necessidades ener-
géticas das grávidas.

210
UNIDADE 6

Outra etapa de suma importância é o acompanhamento do estado nutricional nas consultas subsequentes.
Desse modo, é possível fazer o acompanhamento da evolução do ganho de peso durante a gestação e
observar se esse ganho está de acordo com o recomendado para o estado nutricional inicial da paciente.
Esse acompanhamento poderá ser realizado por meio de duas etapas, de acordo com Souza e Sirota (2020).

• Etapa 1: mediante o Quadro 2, que expressa a faixa de ganho de peso recomendada de acordo
com o estado nutricional inicial.

• Etapa 2: pelo gráfico de Atalah et al. (1997), que acompanha a curva de IMC segundo a idade
gestacional, identificando a inclinação do traçado, se ele é ascendente, horizontal ou descen-
dente. Na Figura 5, há a representação de um gráfico. O eixo horizontal representa os valores
da idade gestacional e, no eixo vertical, são dispostos os valores de IMC. São apresentadas três
inclinações possíveis, as quais definem as quatro categorias do estado nutricional: baixo peso
(BP), adequado (A), sobrepeso (S) e obesidade (O). Assim, a inclinação para o traçado da curva
pode variar de acordo com o estado nutricional da gestante, conforme a Figura 6.

Figura 5 - IMC segundo a idade gestacional


Fonte: adaptada de Souza e Sirota (2020).

Descrição da Imagem: trata-se de uma


ilustração que apresenta um gráfico. Nas
laterais à direita e à esquerda, encontram-se
os valores de IMC para a idade gestacional.
Embaixo, estão os valores da semana gesta-
cional. O gráfico é dividido em quatro seto-
res, todos dispostos em uma curva inclinada
ascendente. O primeiro setor está na parte
debaixo da figura, na cor verde e, ao lado
direito, tem as letras BP. Em cima da primei-
ra curva, há um setor na cor branca, com
uma letra ao lado direito correspondendo
ao A. Em cima, há outra curva divisória e,
em seguida, outro setor na cor cinza. Ao lado
direito, há a letra S e, por fim, outra curva
divide mais um setor, sendo o último na cor
verde-claro com a letra O ao lado direito.

211
UNICESUMAR

Figura 6 - Avaliação do traçado da curva de acompanhamento do estado nutricional da gestante, segundo o gráfico de IMC por
semana gestacional / Fonte: adaptada de Souza e Sirota (2020).

Descrição da Imagem: trata-se de uma tabela que apresenta três colunas e cinco linhas. A primeira linha da primeira coluna tem o se-
guinte conteúdo: “Estado nutricional da gestante”. A primeira linha da segunda coluna tem o seguinte conteúdo: “Inclinação da curva no
gráfico de IMC por semana gestacional”. Por fim, a primeira linha da terceira coluna tem o seguinte conteúdo: “Exemplo”. Na sequência, a
segunda linha da primeira coluna tem o seguinte conteúdo: “Baixo peso (BP)”. A segunda linha da segunda coluna tem o seguinte conteú-
do: “A curva de ganho de peso deve apresentar inclinação ascendente maior que a curva que delimita a parte superior da faixa de estado
nutricional baixo peso”. A segunda linha da terceira coluna apresenta um gráfico que expressa como identificar o estado nutricional da
gestante em baixo peso. A terceira linha da primeira coluna tem o seguinte conteúdo: “Adequado (A)”. A terceira linha da segunda coluna
tem o seguinte conteúdo: “Curva deve apresentar inclinação ascendente paralela às curvas que delimitam a área de estado nutricional
adequado no gráfico”. A terceira linha da terceira coluna carrega um gráfico que demonstra a classificação do estado nutricional. A quarta
linha da primeira coluna tem o seguinte conteúdo: “Sobrepeso (S)”. A quarta linha da segunda coluna tem o seguinte conteúdo: “A inclinação
deve ser ascendente, semelhante às curvas que delimitam a de sobrepeso, dependendo do estado nutricional inicial. Exemplo: gestante
de sobrepeso que inicia gestação com IMC próximo ao limite inferior dessa faixa, sua curva de ganho de peso deve ter inclinação ascen-
dente semelhante à curva que delimita a parte inferior dessa faixa do gráfico”. A quarta linha da terceira coluna apresenta um gráfico que
ilustra essa classificação. A quinta linha da primeira coluna tem o seguinte conteúdo: “Obesidade”. A quinta linha da segunda coluna tem
o seguinte conteúdo: “A curva deve apresentar inclinação semelhante ou inferior (desde que ascendente) à curva que delimita a parte
inferior da faixa de obesidade”. A quinta linha da terceira coluna possui um gráfico que ilustra a classificação.

212
UNIDADE 6

Como analisar os gráficos? Na primeira consulta, você precisa marcar um ponto na interseção dos
valores de IMC e da semana gestacional. Depois, você realizará a classificação do estado nutricional
da gestante segundo o IMC por semana gestacional. Nas consultas posteriores, será possível ligar os
pontos obtidos e analisar o traçado encontrado, o que permite a construção do traçado da curva por
semana gestacional. Ademais, o resultado da gestação pode ser avaliado a partir de alguns índices, como
a morbidade materna, peso ao nascer e mortalidade perinatal, associados a alguns fatores. Atente-se
à compreensão desses fatores, dado que, em seu atendimento, você poderá questioná-los e realizar
associações, ações que auxiliarão em seu diagnóstico nutricional.

Fatores Associação com

Tamanho placentário, peso ao nascer, índi-


ces de morbidade neonatal. Peso excessivo
pré-gestacional está associado com a neces-
sidade de cesárea e com recém-nascidos
Estatura e peso materno pré-gestacional com peso maior em comparação com os
de mães com peso pré-gestacional normal.
Baixa estatura (<150 cm) está associada com
desproporção céfalo-pélvica, cesárea e baixo
peso ao nascer.

Ganho de peso insuficiente está associado


com baixo peso ao nascer, parto prematu-
ro e maiores índices de morbimortalidade
Ganho de peso gestacional
neonatal. Ganho de peso excessivo está as-
sociado com macrossomia fetal e diabetes
gestacional.

Gestação nos extremos de idade reprodu-


tiva: em adolescentes (idade <19 anos) está
associado com baixo peso ao nascer, des-
proporção céfalo-pélvica, prematuridade,
cesárea e distúrbios hipertensivos da ges-
Idade materna
tação. Em gestantes, com idade > 35 anos
está associado com anomalias congênitas,
distúrbios hipertensivos da gestação, diabe-
tes gestacional e altos índices de morbidade
perinatal.

213
UNICESUMAR

Fatores Associação com

Intervalo inadequado associado com esgota-


Intervalos entre partos e multiparidade mento das reservas maternas de nutrientes;
associados ao baixo peso ao nascer.

Infecções-comprometimento do estado nu-


tricional materno, aumento do risco de parto
prematuro, mortalidade perinatal. Anemia-
Infecções e anemias redução da capacidade de trabalho, menor
desempenho mental, menor resistência às
infecções, menor tolerância às hemorragias,
parto prematuro e baixo peso ao nascer.

Desgaste excessivo das reservas corporais


Trabalho excessivo durante a gestação maternas, menor ganho de peso gestacional
e aumento das taxas de mortalidade materna.

Anomalias congênitas, distúrbios hipertensi-


vos da gestação, infecção, parto prematuro,
Diabetes prévia à gestação ou gestacional
macrossomia, sofrimento fetal, hipoglicemia
neonatal, dentre outras.

Comprometimento do fluxo sanguíneo mãe-


feto, causando retardo do crescimento intra-
Síndromes hipertensivas da gravidez
-uterino, baixo peso ao nascer, sofrimento
fetal e altos índices de mortalidade perinatal.

Baixa escolaridade, baixa renda familiar, con-


dições inadequadas de saneamento, falta
Condições sócio-econômicas de assistência pré-natal de qualidade estão
associados com resultado da gestação in-
desejável.

Crescimento intra-uterino retardado por


Cigarro menor perfusão placentária devido a ação
vasoconstritora da nicotina.

214
UNIDADE 6

Fatores Associação com

Efeito tóxico para o feto, anomalias fetais,


Álcool retardo do crescimento intra-uterino e sín-
drome fetal alcóolica.

Consumo excessivo associado com baixo


Cafeína
peso ao nascer, má- formação congênita.

Quadro 6 - Fatores que interferem no resultado da gestação / Fonte: adaptado de Accioly et al. (2009).

Abordaremos, agora, as questões relacionadas ao lactente, um período que compreende o 29° dia de vida
até os dois anos de idade. O estado nutricional de uma criança ao nascer pode se dar de diversas formas,
todas relacionadas às condições de vida intra-uterina as quais esteve submetida. Portanto, a adequação
nutricional do feto pode influenciar de forma ímpar a morbidade e a mortalidade do recém-nascido.
Especialmente o prematuro ou o doente tem grande chance de desenvolver deficiências nutricio-
nais, fato que está relacionado à enorme velocidade de crescimento, imaturidade de diversos órgãos e
pela dificuldade de se promover uma nutrição adequada. O crescimento fetal pode ser influenciado
por diversos fatores, logo, o somatório de todos eles promove bem-estar ao feto, refletindo em uma
adequada velocidade de crescimento, haja vista que, em poucas semanas de vida intra-uterina, ele chega
a aumentar de peso em até sete vezes (FEFERBAN; FALCÃO, 2005).
A composição do feto se modifica no decorrer da gestação. Progressivamente, ocorre a diminuição
da água total e extracelular e dos íons de sódio e cloro, perante ao aumento de água intracelular dos
íons de cálcio e magnésio, de proteínas, das gorduras e do glicogênio. De modo tradicional, é comum
a avaliação do estado nutricional do recém-nascido com base em curvas-padrão que levam em con-
sideração diversos fatores. Para tanto, de acordo com a adequação do crescimento intra-uterino, os
recém-nascidos podem ser classificados em: adequados, pequenos e grandes para a idade gestacional.
Como seria um possível roteiro para avaliação neonatal? Inicialmente, é necessário fazer uma
anamnese, com ênfase nos dados maternos, questionando a mãe a data de nascimento, se o bebê
nasceu a termo, se a criança nasceu de um nascimento múltiplo, se é o primeiro filho, se a mãe teve
outros filhos depois dele, como se dá a amamentação, se outros alimentos líquidos foram apresenta-
dos. Registe a idade em que os dados foram apresentados. Na sequência, realize um exame físico, que
é uma avaliação sumária da nutrição intra-uterina, da massa muscular e da gordura subcutânea. Na
sequência, estabeleça a classificação do recém-nascido, a análise antropométrica e a avaliação da
oferta nutricional, basicamente por meio do balanço de nutrientes, água, proteínas e pela composição
corporal (FEFERBAN; FALCÃO, 2005).
O primeiro ano de vida do lactente pode ser caracterizado por diversas evoluções fisiológicas
importantes. Essas evoluções são rápidas e marcadas por vários setores de desenvolvimento. Uma ca-
racterística muito importante a ser pontuada é a capacidade gástrica do recém-nascido. Inicialmente,

215
UNICESUMAR

o bebê é capaz de ingerir em torno de 7 ml, aumentando gradativamente, chegando a 70 mL ao final


da segunda semana de vida, seguido de 170 ml a 200 ml até completar um ano de idade.
É possível que, em média, após os seis meses de idade, o bebê possa consumir 25 ml/kg a 30 ml/kg
de peso. Como será a função gástrica do recém-nascido? Nas primeiras 24 horas de vida, o pH gás-
trico é considerado elevado, cerca de 5,5 a 7, fato muito importante, considerando a possibilidade de
proteínas, como imunoglobulinas, enzimas e hormônios, atravessarem a barreira gástrica, mantendo
a funcionalidade. Aliás, o pH elevado favorece a ação de lipases, melhorando a digestão de gorduras.
Por outro lado, entre 4 a 6 meses, o bebê passa por um estágio de maturidade fisiológica e neurológica.
Há o reflexo de protusão da língua para facilitar a ingestão de alimentos semissólidos e, a partir dos 6
meses, as enzimas digestivas são produzidas em quantidade suficiente, fato que o possibilita de receber
outro alimento além do leite materno. A mastigação, por sua vez, é iniciada a partir do quinto mês de
vida, momento em que o bebê consegue abrir e fechar os lábios, e reter o alimento para mordê-lo. Em
sequência, a partir dos sete meses, é iniciada a lateralização do alimento, na direção dos dentes, em
ambos os lados da boca. Ao completar 10 meses, os movimentos se tornam mais complexos, chegando
à mastigação rotatória (SOUZA; SIROTA, 2020).
O crescimento também representa um fator muito importante para o desenvolvimento do bebê.
Portanto, é essencial avaliar os fatores intrínsecos e extrínsecos. Você pode realizar o monitoramento
do crescimento em toda consulta, aferindo o peso, o comprimento e o índice de massa corporal. A
Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde recomendam que sejam utilizadas
curvas de crescimento, com valores de referência atualizados para o diagnostico nutricional.
Curvas de crescimento e de peso estão anexadas no Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricio-
nal (SISVAN), que utiliza, como parâmetros de avaliação do crescimento, os seguintes gráficos: peso
para idade, comprimento para idade e IMC para idade. Sugere-se que o comprimento por idade seja
o melhor indicador de crescimento da criança, dado que, no primeiro semestre de vida, o ganho de
peso mensal é a medida de maior importância para avaliar o estado nutricional. Assim, a velocidade
de crescimento no primeiro ano de vida pode representar uma média de ganho de peso de 25 g/dia
a 40 g/dia e um crescimento de 3 cm/mês no primeiro trimestre, seguido de 20 g/dia e 2 cm/mês no
segundo trimestre, 15 g/dia e 1 cm/mês no terceiro trimestre e, por fim, 10g/dia e 1 cm/ mês no quarto
trimestre (SOUZA; SIROTA, 2020).

A avaliação nutricional do recém-nascido é importante tanto para a classifi-


cação e diagnóstico de alterações do crescimento intra-uterino quanto para
posterior acompanhamento nutricional e de crescimento. Tendo em vista a
importância do tema, sugiro a leitura do artigo a seguir como forma de revisar
a literatura sobre as abordagens na avaliação nutricional do recém-nascido.

216
UNIDADE 6

Já sabemos que a Taxa Metabólica Basal (TMB) de um indivíduo é determinada principalmente pelo
tamanho corpóreo, composição corporal, sexo, idade e nível de atividade física. O gasto energético
para o crescimento inclui a energia despendida para o funcionamento do tecido e a energia gasta para
sintetizar novos tecidos. É válido considerar a ingestão de energia na fase de lactente, pois é largamente
utilizada no processo de crescimento (FONTES; MELLO; SAMPAIO, 2012).
Considere o Quadro 7 para analisar o requerimento de energia por idade e, a seguir, o cálculo do VET:

VET = Peso(kg ) x Re comendaçãoenergética(kcal / kg / dia )

Idade (meses) Kcal/Kg/dia

0-3 116

3-6 99

6-9 95

9-12 101

Quadro 7 - Taxas calóricas (em Kcal/Kg/dia) para crianças até 1 ano / Fonte: adaptado de Fontes, Mello e Sampaio (2012).

A classificação do recém-nascido pode se dar pelo peso do nascimento e pela idade gestacional.
Pelo peso ao nascer, considera-se:

• PN <2500g: RN de baixo peso.


• PN < 1500g: RN de muito baixo peso.
• PN < 1000g: RN de muitíssimo baixo peso.

Já na classificação perante à idade gestacional:

• IG materna, segundo a regra de Naegele, que determina a gestação normal em 280 dias, de
acordo com a data da última menstruação.
• IG avaliada por método ultra-sonográfico, realizado até a 12° semana de gestação.
• Cálculo pós-natal da IG, utilizando-se a avaliação clínica, com dados antropométricos, exame
físico e neuroavaliação.

A classificação do RN por peso ao nascer e IG é realizada por meio da curva de crescimento fetal, de
acordo com as diferentes idades gestacionais, usando o critério de percentis. São eles:

• Adequado para IG: entre os percentis 10 e 90.


• Pequeno para IG: abaixo do percentil 10.
• Grande para IG: acima do percentil 90.

217
UNICESUMAR

O peso é um parâmetro antropométrico muito utilizado para monitorar o estado nutricional do pa-
ciente pediátrico, visto que o peso do nascimento varia de acordo com a idade gestacional e os estados
nutricional e hidroeletrolítico materno do RN. Um crescimento adequado deve ser de 20 a 40g/dia
segundo a curva de crescimento intra-uterino, vide Figura 7.

Figura 7 - Gráfico de crescimento intra-uterino (peso x idade gestacional) / Fonte: Feferbaum e Falcão (2005, p. 82).

Descrição da Imagem: trata-se de um gráfico. O eixo y é composto por valores de peso, que começam em 800 g e aumentam 200g por
linha, finalizando em 4400 g. O eixo x é composto pela idade gestacional, que começa com 29 semanas e aumenta uma semana até finalizar
em 42 semanas. A outra abcissa corresponde aos valores dos percentis, sendo eles: 10, 50 e 90. No gráfico, existem curvas que delimitam
cada um desses percentis, tanto em linhas tracejadas quanto em linhas tradicionais.

218
UNIDADE 6

A medida de comprimento, por sua vez, reflete o potencial genético do crescimento e sofre menor
influência entre uma nutrição fetal inadequada, além de não se alterar com o estado de hidratação.
Deve ser realizada ao nascimento e, posteriormente, uma vez por semana, esperando o crescimento
de 1 centímentro por semana, conforme a comparação com as curvas de crescimento intra-uterino.

Figura 8 - Gráfico de crescimento intra- uterino (comprimento x idade gestacional) / Fonte: Feferbaum e Falcão (2005, p. 83).

Descrição da Imagem: trata-se de um gráfico. O eixo y é composto por valores de centímetro, iniciando-se em 28,0 cm indo até 54, o
cm. O eixo x corresponde à idade gestacional, indo de 28 a 42 cm. A outra abcissa corresponde aos valores dos percentis, sendo eles: 10,
50 e 90. No gráfico, existem curvas que delimitam cada um desses percentis, tanto em linhas tracejadas quanto em linhas tradicionais.

A medida do perímetro cefálico pode ser usada até os seis meses de idade e tem relação direta com o
tamanho do encéfalo. O aumento proporcional indica crescimento adequado e melhor prognóstico
neurológico. Trata-se de uma medida antropométrica que não se afeta grandemente por uma alimen-
tação inadequada. Entretanto, é a primeira que cresce ao se atingir uma oferta proteico-calórica ideal.
Recomenda-se crescimento de 1 cm por semana, de acordo com a Figura 9.

219
UNICESUMAR

Figura 9 - Gráfico de crescimento intra-uterino


(perímetro cefálico x idade gestacional)
Fonte: Feferbaum e Falcão (2005, p. 83).

Descrição da Imagem: trata-se de um


gráfico. O eixo y (indo de 23,0 a 38 cm) é
composto por valores do perímetro cefálico,
enquanto o eixo x é composto pela idade
gestacional (indo de 23,0 a 38 cm). A outra
abcissa corresponde aos valores dos percen-
tis, sendo eles: 10, 50 e 90. No gráfico, exis-
tem curvas que delimitam cada um desses
percentis, tanto em linhas tracejadas quanto
em linhas tradicionais.

O perímetro braquial, por sua vez, corresponde a uma aferição antropométrica que avalia a massa
muscular e a quantidade de gordura do braço. É uma técnica fácil de ser realizada, com relação direta
com o momento nutricional do RN. É possível relacionar os dados obtidos ao peso e à idade gesta-
cional, confirmando a relação direta com a idade gestacional. RN pré-termo representa uma medida
mais acurada que o peso e comprimento.

Figura 10 - Correlação entre o perímetro bra-


quial (cm) e a idade gestacional
Fonte: Feferbaum e Falcão (2005, p. 84).

Descrição da Imagem: a figura é composta


por um gráfico. Nele, o eixo y corresponde ao
perímetro braquial (indo de 0 a 14) e o eixo x
corresponde às semanas gestacionais (indo
de 27 a 40 semanas). No gráfico, há curvas
ascendentes que ilustram cada percentil:
10, 50 e 90.

Outrora, o perímetro braquial e cefálico é uma fração que fornece informações sobre a proporcio-
nalidade do crescimento e tem uma relação linear com a idade gestacional. A análise ao nascimento
representa a nutrição fetal, portanto, tem relação com a morbidade perinatal, principalmente frente
ao retardo de crescimento intra-uterino. De acordo com a curva-padrão da relação entre perímetro
braquial e o perímetro cefálico, os valores da razão crescem com a idade gestacional e recém-nascidos
com desnutrição intra-uterina apresentariam valores abaixo do percentil 5.

220
UNIDADE 6

Figura 11 - Correlação entre perímetro braquial/


perímetro cefálico e idade gestacional (sema-
nas) / Fonte: Feferbaum e Falcão (2005, p. 84).

Descrição da Imagem: trata-se de um gráfi-


co. O eixo y corresponde à relação do PB/PC
(indo de 0 a 0,35), enquanto o eixo x corres-
ponde às semanas gestacionais (exibindo as
semanas 27, 33 e 40). No gráfico, há curvas
ascendentes que ilustram cada percentil:
10, 50 e 90.

Em suma, na prática clínica, as principais medidas antropométricas utilizadas são o peso, o comprimento
e o perímetro cefálico. Para alguns fins específicos, também podem ser usados: a dobra cutânea adiposa
tricipital, a circunferência braquial e o cálculo da massa muscular do braço. Toda medida antropométrica
só terá valor para diagnóstico e propósito quando for realizada corretamente, via de regra, pelo mesmo
observador, repetidas várias vezes e em um dado intervalo de tempo. Por exemplo, recomenda-se aferir
o peso de uma a duas vezes por semana, transportando os dados aos gráficos antropométricos de idade
gestacional, para que sejam feitas as devidas comparações (FEFERBAUM; FALCÃO, 2005). Segue um
resumo sobre os roteiros de avaliação nutricional que podem ser realizados no período neonatal.

221
UNICESUMAR

Figura 12 - Roteiro de avaliação nutricional no período neonatal / Fonte: adaptada de Feferbaum e Falcão (2005).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma caixa de texto retangular que ocupa o topo da figura, na cor roxa, com a menção: “Roteiro
de avaliação nutricional”. Embaixo, encontram-se duas caixas de texto, uma ao lado da outra, na cor verde claro. A da esquerda tem a
seguinte menção: “Ao nascimento: classificação pelo peso, classificação pela idade gestacional, adequação nutricional, índice ponderal”.
Já a caixa de texto da direita tem a seguinte menção: “Período neonatal: peso: diariamente, comprimento: 1 vez por semana, perímetro
cefálico: 1 vez por semana, perímetro braquial: 1 vez por semana e relação perímetro braquial/ perímetro cefálico: 1 vez por semana”.

Nesta unidade, constatamos que as análises do estado nutricional da gestante e do recém-nascido


são de suma importância. Compreendemos conteúdos imprescindíveis ao cuidado e ao manejo das
gestantes, visando a um bom desenvolvimento da gravidez. A assistência às mulheres que queiram
engravidar merece ser acompanhada de profissionais capacitados, como você, futuro(a) nutricionista.
Logo, um pré-natal bem monitorado, respeitando todas as recomendações nutricionais e uma adequada
avaliação nutricional proporcionam um incentivo à mãe e ao bebê, com ações preventivas contra a
morbimortalidade infantil e materna, melhorando a qualidade de vida.

222
Caro(a) aluno(a), encerramos esta unidade. Contudo, antes, gostaria de convidá-lo a realizar uma
verificação crítica dos conhecimentos realizados até então a partir do mapa de empatia a seguir.

Descrição da Imagem: a figura é composta por um retângulo colorido, dividido por algumas formas. Logo, há um retângulo
com quatro pirâmides, cujas pontas de unem por meio de uma figura de um rosto que pisca e sorri no centro. As pirâmides
têm as seguintes cores: verde-claro, rosa-claro, azul-claro e salmão. Em cada uma das pirâmides, encontram-se perguntas:
o que ouve? O que pensa e sente? O que vê e o que fala e faz? Na base do retângulo, há outras duas formas em formato de
retângulo nas cores rosa-claro e roxo-claro. Elas têm as seguintes perguntas: quais são as dores? Quais são as necessidades?

223
1. Leia o fragmento a seguir:

“Um estado nutricional pré- gestacional inadequado ou durante a gestação, podem influenciar
a saúde do recém-nascido e da mãe no pós- parto, pois aumenta o risco de desenvolvimento
de intercorrências gestacionais. O monitoramento ponderal no pré-natal tem grande utilidade
para identificar desvios nutricionais e estabelecer um plano de ação eficaz a fim de resolvê-los;
um aporte inadequado de nutrientes nesse período, tanto insuficiente quanto excessivo, pode
alterar o desenvolvimento intrauterino fetal, e como consequência, têm- se recém-nascidos
com peso de nascimento inadequados”.
TOURINHO, A. B.; REIS, L. B. S. M. Peso ao nascer: uma abordagem nutricional. Comunicação em Ciências
da Saúde, v. 22, n. 4, 2013.

Considerando os seus conhecimentos sobre o crescimento do recém-nascido, solucione o


caso clínico a seguir:

Paciente recém-nascido de 39 semanas, sexo feminino, parto por cesárea, apresentou peso
ao nascer de 3,25 g e comprimento de 49 cm. Em consulta de rotina, com a idade de 1 ano e
8 meses, a paciente apresentou os seguintes dados de aferição:

• 7 meses e 10 dias= 6,5 kg.


• 11 meses e 3 dias= 8,22 kg.
• 12 meses e 1 dia= 8,3 kg.
• 1 ano e 1 mês= 9,105 kg.
• 1 ano e 6 meses= 10,24 kg.
• 1 ano e 8 meses= 11, 47 kg.

Você verificou os dados obtidos de comprimento na carteira de saúde e observou que, entre
os 9 aos 12 meses, o paciente cresceu 0,8 cm/mês. Perante o exposto, responda: a idade
gestacional permite que a paciente seja considerada recém-nascida a termo ou pré-termo? O
peso ao nascer foi adequado? A evolução do peso foi adequada?

2. Leia o trecho a seguir:

“No período gestacional ocorrem intensas modificações no organismo materno, que acometem
principalmente a adaptação fisiológica de complexo materno-fetal e também como preparo
para o parto. Entre as alterações, há um aumento significativo na demanda metabólica pelo
ferro, em razão a uma hematopoiese aumentada, fato que pode contribuir para o risco neste
grupo de aparecimento de anemia ferropriva. Alguns estudos têm identificado a anemia com
um dos principais fatores de risco na gravidez, relacionada com uma série de efeitos deletérios
para o binômio mãe- filho, sendo associada a maior taxa de mortalidade materna e perinatal”.

OLIVEIRA, A. C. M.; BARROS, A. M. R. FERREIRA, R. C. Fatores associados à anemia em gestantes da rede públi-
ca de saúde de um capital do nordeste do Brasil. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, v. 37, n.
11, 2015.

224
Considerando os seus conhecimentos sobre o tema, analise o caso clínico a seguir:

Paciente de 27 anos. Vive a primeira gestação, com idade gestacional de 28 semanas. Relata
na consulta estar apresentado muito cansaço, irritabilidade, fraqueza muscular, palidez nas
mucosas e falta de apetite. Você realizou as avaliações antropométrica, clínica e bioquímica, e
os exames indicaram hemoglobina de 10 g/dl, ferritina de 11 mg/ml e VCM e HCM diminuídos.
Os resultados e os sintomas são sugestivos de qual situação/intercorrência? Justifique.

3. Leia o fragmento a seguir:

“A gestação é um período de maior demanda nutricional do ciclo de vida da mulher, uma vez
que envolve rápida divisão celular e desenvolvimento de novos tecidos e órgãos. Os complexos
processos que ocorrem no organismo durante a gestação demandam uma oferta maior de
energia, proteínas, vitaminas e minerais para suprir as necessidades básicas, e formar reservas
energéticas para mãe e feto”.

FREITAS, E. S. F. et al. Recomendações nutricionais na gestação. Revista Destaques Acadêmicos, v. 2, n. 3,


2010.

Considerando os seus conhecimentos sobre o tema, analise o caso clínico a seguir:

Paciente de 29 anos. Apresenta idade gestacional de 8 semanas, altura de 1,72m, peso pré-
-gestacional de 75 kg, peso atual de 76,3 kg. Realiza caminhadas de moderadas a intensas de
cinco a seis vezes por semana, com tempo aproximado de 1h30 min. Além das caminhadas,
costuma percorrer 2 km diariamente até o trabalho. Conhecendo a história clínica e antropo-
métrica da paciente, responda as seguintes questões:

a) Defina o IMC pré-gestacional da paciente e a classificação do estado nutricional.


b) Determine o ganho de peso gestacional recomendado até a quarta semana.
c) Calcule o gasto energético da paciente e o valor energético total (VET), segundo Accioly et al.
(2009).

225
226
7
Avaliação Nutricional
de Crianças e
Adolescentes
Dra. Lorena dos Santos Castro

Esta unidade explicitará a avaliação nutricional de crianças e


adolescentes, ao apresentar os protocolos de atendimento e as
diversas maneiras de avaliar o crescimento infanto-juvenil. Será
ensinado a fazer uso das principais medidas antropométricas, das
curvas de crescimento e dos guias de interpretação. Além disso,
será expressa a avaliação da maturação sexual a partir de Tanner
e evidenciado o cálculo da necessidade energética de ambos os
grupos mediante várias fórmulas.
UNICESUMAR

Caro(a) aluno(a), suponha que você esteja realizando aten-


dimentos em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) em
que há uma grande prevalência de anemia e desnutrição
infanto-juvenil. Durante os seus atendimentos, chegou
até você uma paciente de 2 anos e 2 meses e, ao realizar a
anamnese, você descobriu que a paciente mora com o pai,
a mãe e mais dois irmãos.
A mãe apresenta situação de conflito com o pai, haja
vista que ela não consegue trabalhar, pois cuida de três fi-
lhos, enquanto o pai sustenta a casa sozinho. Há relatos de
abuso de álcool pelo pai. A mãe relatou que as condições de
vida são precárias, muitas vezes, faltam alimentos dentro de
casa. Durante a anamnese, você descobriu que a paciente
tem boa sucção ao seio materno e está em aleitamento em
livre demanda, complementando com mingau à base de
leite em pó e bolacha maisena. Ela nega outros alimentos.
A mãe relatou que a criança apresenta diarreia com
frequência e, ao realizar o exame físico, encontrou peso
de 8530g, comprimento de 81 cm e perímetro cefálico
de 45,5 cm. A partir dos dados coletados, qual é o estado
nutricional da criança?
É interessante avaliar o crescimento infanto-juvenil, pois
não são encontradas mudanças apenas em relação ao peso
e à altura das crianças, mas também de outras dimensões
corporais. O número de células também aumenta e todos
processos influenciados por fatores genéticos, psicológicos e
ambientais. Por si só, o crescimento apresenta uma história
interessante sobre o paciente, assim como é o caso da nossa
paciente, que possui vários aspectos comportamentais que
estão influenciando o estado nutricional dela.
A importância do crescimento também se deve aos im-
pactos que ele exerce sobre os aspectos do desenvolvimento
de uma criança, inclusive, o comportamento social, a per-
sonalidade e a cognição. Durante o seu atendimento, você
deverá fazer uso de diversos indicadores para analisar o
estado nutricional de um paciente. Nesse caso, utilizando
os dados encontrados na anamnese, é possível classificar a
paciente como em risco para baixo peso, segundo a classi-
ficação do Índice de Massa Corporal (IMC) de acordo com

186
UNIDADE 7

os percentis da Organização Mundial da Saúde (OMS), pois


se encontra abaixo do percentil 15.
Caro(a) aluno(a), coloquemos em prática o uso das cur-
vas de crescimento. Sugiro que selecione algumas crianças e
realize a aferição das medidas antropométricas (peso e com-
primento ou estatura), anotando as informações nos gráficos
de P/I, A/I e P/A (verifique os gráficos em nosso QRCODE).
Observe que, no eixo horizontal do gráfico, está localizada
a idade da criança. As linhas mais escuras representam os
anos completos e as linhas mais claras expressam os meses.
No eixo vertical, encontra-se a estatura ou o peso. Para
classificar a criança, siga pelo eixo horizontal até a idade
(ano ou mês) e assinale. Depois, siga pelo eixo vertical até
o peso aferido na criança ou altura (estatura) e assinale.
Marque o ponto no gráfico onde as linhas se cruzam. Você
ainda observará, nos gráficos, que há a representação de
faixas de diferentes tonalidades para sinalizar a adequação
ou a inadequação de crescimento ou ganho de peso. A cor
mais escura representa peso/crescimento muito abaixo do
ideal; a faixa branca significa risco baixo para peso/altura;
o cinza mais claro simboliza o peso/crescimento ideal e o
cinza intermediário demonstra peso cima do ideal.
A partir dessa experimentação, você poderá praticar tanto
a aferição das medidas quanto a aplicação dos dados antro-
pométricos nas curvas de crescimento. Com a análise de
várias medições do mesmo paciente, você poderá explorar a
inclinação da reta, pois o crescimento individual das crianças
pode ter uma grande variação. Várias medidas do crescimen-
to colocadas como ponto do gráfico ao longo do tempo e
unidas entre si formam uma linha. Essa linha representa o
crescimento da criança e demonstra se está adequado, ou não.
As inclinações ascendentes denotam se houve ganho de
peso. A reta (platô) demonstra que não teve ganho de peso
e é necessário investigar qual é o fator que está limitando
o ganho de peso. As curvas descendentes demonstram
se houve perda ponderal acentuada. Acredito que, com
essa experimentação, você conseguiu entender o uso das
curvas. Anote, em seu diário de bordo, as dificuldades
encontradas durante a utilização.

187
UNICESUMAR

É de conhecimento que o acompanhamento da situação de um indivíduo é fundamental para a ava-


liação nutricional. Logo, o acompanhamento da situação nutricional das crianças e dos adolescentes
constitui um instrumento muito importante para a aferição das condições de vida da população em
geral, haja vista que a saúde é o produto de uma relação de diversos fatores relacionados à qualidade de
vida, incluindo um padrão adequado de nutrição e alimentação, de habitação e saneamento, de renda
e de oportunidades ao longo da vida.
A avaliação nutricional é uma ferramenta fundamental em consequência da influência decisiva que
o estado nutricional exerce sobre os riscos de morbidade, o crescimento e o desenvolvimento infantil.
Devido aos processos fisiológicos intensos observados na primeira infância, período compreendido
entre 0 e 3 anos de idade, é essencial que a boa alimentação seja priorizada como forma de garantir
o bom desenvolvimento físico e psicológico e afastar os riscos inerentes à má-alimentação. Portanto,
esteja atento(a) e verifique com cuidado o estado nutricional desses grupos (FONTES et al., 2012).
São várias as modificações encontradas nessas faixas etárias, tanto biológicas quanto fisiológicas, o
que demanda uma dieta balanceada para crianças e adolescentes, visando a um adequado crescimento
e desenvolvimento sistêmico desses grupos. Dessa forma, você necessita realizar uma intervenção
adequada, dando prioridade à qualidade e à quantidade da alimentação, influenciando as escolhas e
identificando possíveis mudanças em hábitos alimentares.

188
UNIDADE 7

Aliás, é preciso conhecer o perfil epidemiológico da saúde de crianças e adolescentes, e os deter-


minantes dele, fato que pode auxiliar a optar por decisões que englobem os problemas mais comuns
e relacionados à alimentação, o que promove intervenções pontuais e contribui para o crescimento e
desenvolvimento. O estabelecimento de hábitos alimentares saudáveis deve ser estimulado na infância,
visto que esse período é marcado pela consolidação do padrão alimentar na vida adulta.
Sabe-se que os problemas nutricionais nos primeiros anos apresentam forte correlação com doenças
crônicas nos anos subsequentes, tais como diabetes, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares e
obesidade (FONTES et al., 2012).

O consumo alimentar infantil tem sido responsabilizado por diversos setores, incluindo escola,
família, comunidade e mídia. Há diversas inquietações sobre as consequências do estilo de vida
infanto-juvenil. Contudo, qual é a rede/núcleo que pode exercer maior influência sobre os hábitos
alimentares desses grupos?

Tendo em vista os frequentes debates acerca da transição nutricional que se vivencia nas últimas décadas,
é observável a redução dos índices de desnutrição ao mesmo tempo em que são assistidas prevalências
crescentes de obesidade, inclusive, no período infantil. Isso demarca o aumento concomitante do interesse
em elaborar e implementar ações voltadas à adoção de práticas alimentares saudáveis nessa fase da vida.
Estudar epidemiologia é atuar na produção de conhecimentos, visando à tomada de decisões e
à formulação de políticas públicas. Também são buscadas adequadas intervenções e a solução de
problemas específicos nos serviços de saúde com foco no público infanto-juvenil. No que diz res-
peito a esses problemas, a prevalência do sobrepeso e da obesidade cresce de maneira exponencial
em países em desenvolvimento, sendo considerada uma epidemia global, inclusive, cada vez mais
precoces na infância e na adolescência. Assim, a avaliação nutricional é fundamental, uma vez que
influencia diretamente a saúde de um indivíduo, objetivando a identificação de distúrbios nutri-
cionais. Isso promove uma intervenção adequada, auxiliando na recuperação e na manutenção do
quadro de saúde (FONTES et al., 2012).
É imprescindível que a atenção nutricional no início da vida seja enquadrada como intervenção
prioritária, configurando-se como estratégia de ação preventiva na incidência de agravos decorrentes
da alimentação inadequada. Diante do reconhecimento de que a alimentação abrange mais que apenas
as necessidades biológicas e é afetada por aspectos simbólicos e culturais que envolvem as decisões
maternas, é preciso considerar como parte integrante e essencial do atendimento nutricional o uso de
técnicas de linguagem e aconselhamento que favoreçam o estabelecimento de uma relação de confiança
entre você e a mãe/cuidadora da criança.

189
UNICESUMAR

Você pode fazer uso de diversos métodos e procedimentos diagnósticos, visando avaliar/examinar
as mais diversas manifestações orgânicas com alvo na saúde infantil e adolescente. É possível explorar
o quadro de crescimento e afastar um padrão dietético e/ou de condições correlacionadas que sejam
desfavoráveis, ou seja, diagnosticar a magnitude dos problemas nutricionais, a partir do estabelecimento
de adequadas medidas de intervenção (FONTES et al., 2012).
O protocolo de atendimento representa um conjunto de regras e procedimentos que respeita a
coleta de informações específicas, capacitando os profissionais na realização das funções com base
em conhecimentos científicos e práticos do trabalho em saúde, respeitando cada realidade. Lacerda e
Accyoli (2009) descreveram o atendimento nutricional pediátrico em três etapas, incluindo diversas
informações que poderão guiar o diagnóstico, seguido pela conduta mais adequada em cada caso. Ini-
cialmente, há a fase exploratória, a qual inclui a anamnese e a avaliação antropométrica, com a coleta
de informações clínicas e nutricionais atuais e pregressas, além dos exames físico, bioquímicos e dados
complementares de suma importância para a determinação do diagnóstico nutricional.
Em seguida, há a impressão diagnóstica, que é um resumo da avaliação global da criança. Por fim,
encontra-se a conduta nutricional, que engloba a dieta prescrita, as correções de erros dietéticos e as
condutas específicas perante às intercorrências ou às situações relevantes que são encontradas (FON-
TES et al., 2012). Vamos estudar cada uma dessas fases?

190
UNIDADE 7

A primeira etapa, considerada fase exploratória, é subdividida em várias outras etapas. Inicial-
mente, há a anamnese, realizada a partir de uma relação de respeito e confiança entre o profissional,
a criança e a mãe/cuidador. É necessário abordar diversas questões que permitem organizar a história
do paciente e coletar o máximo de informações possíveis para a adoção da conduta mais correta, con-
templando diversos tópicos. Um deles é a queixa principal, que é presente no momento da consulta,
independentemente de ser origem nutricional ou não.
Você pode fazer perguntas abertas e que te levarão a respostas completas e esclarecedoras. Por
exemplo: qual foi o motivo principal que o/a levou a procurar o atendimento nutricional para a criança?
Logo, no momento do relato, é importante que você utilize uma comunicação não verbal, incentivando
a mãe/cuidador a continuar a falar. Como seria essa comunicação não verbal? Você pode fazer uso de
algumas expressões, como sorrir, acenar com a cabeça e remover as barreiras que podem prejudicar o
contato visual (FONTES et al., 2012).
Outros tópicos presentes na anamnese são a dinâmica familiar e os dados socioeconômicos.
As questões são pautadas na rotina da criança e da família, nas condições de moradia, na renda
familiar e no saneamento básico. É necessário perguntar a escolaridade e a profissão dos pais ou
dos responsáveis, a renda familiar, as condições de moradia e de infraestrutura básica e o acesso
ao auxílio-alimentação. Esses questionamentos baseiam o conhecimento da realidade pessoal para
auxiliar no futuro planejamento dietético.

191
UNICESUMAR

Ademais, é necessário recrutar informações sobre as pessoas responsáveis pelos cuidados gerais
e de alimentação da criança. Outros tópicos que merecem atenção são a história clínica/familiar,
objetivando a investigação da incidência de enfermidades na família, o que pode ser um indicativo de
predisposição da criança e de condição semelhante, e a avaliação do histórico clínico atual e pre-
gresso da criança, incluindo os tratamentos nutricionais e médicos realizados, as alterações recentes
de peso, as patologias, as alterações gastrointestinais e medicamentos em uso. Também é importante
questionar outros fatores, tais como a idade gestacional, o peso e o comprimento ao nascer, os exames
bioquímicos e a caderneta de vacinação da criança (FONTES et al., 2012).
Há a avaliação de hábitos e histórico alimentar, complementando uma investigação minuciosa
da alimentação pregressa e atual. Contudo, atente-se na forma de conduzir essa avaliação, visto que ela
deverá ser adaptada perante à idade atual da criança, uma vez que, ao longo da primeira infância, podem
ocorrer inúmeras mudanças no padrão alimentar infantil. Logo, caso a criança tenha uma idade inferior a
seis meses, é necessário investigar se o aleitamento materno exclusivo está sendo realizado, questionando
a mãe sobre o número de vezes que amamenta ao dia, a duração das mamadas, se há esvaziamento e
revezamento das mamadas, e possíveis dificuldades. Em caso de desmame precoce, pergunte as razões
para a conduta e se o lactente recebe fórmula infantil. É fundamental questionar a diluição, a oferta hí-
drica, o modo de armazenamento da lata e a possível adição de outros preparados (FONTES et al., 2012).
É importante salientar que não devem haver “distâncias” entre a mãe e você durante ao atendimento,
já que isso dificultará o relacionamento de confiança, podendo acarretar em um desmame precoce.
Por isso, é necessário demonstrar empatia perante às dificuldades da mãe, aceitando e respeitando o
que ela fala, pensa e sente, visando ao aumento da confiança. Dê apoio e facilite o vínculo com o pro-
fissional. Nas consultas de crianças com mais de 6 meses, as pautas sobre a duração e as características
do aleitamento materno exclusivo ainda merecem ser investigadas, haja vista que a introdução da
alimentação complementar precoce pode proporcionar danos à saúde infantil, levantando suspeitas
sobre possíveis alterações nutricionais. Ao perguntar a história alimentar atual, englobe o número de
refeições, horários, alimentos consumidos (quantidade e frequência), consistência, consumo alimentar
entre as refeições e os cuidados que ofereceu à criança (FONTES et al., 2012).
Alguns fatos devem ser levados em consideração, como a impaciência perante a uma recusa ali-
mentar, o uso de chantagens, a premiação ou o castigo. Também é preciso verificar a autonomia da
criança ao se alimentar, questionando as crenças e os tabus da família. Para tanto, utilize inquéritos
alimentares, pois são instrumentos de grande importância na avaliação do consumo alimentar em todas
as fases de vida. Aliás, você deve dedicar tempo durante essa etapa da anamnese, pois esse cuidado é de
grande valia para a mãe/cuidador, ao analisar a sua disponibilidade em ouvir, estimulando-os a falar
com detalhes sobre a situação-problema.
Uma dica é deixar predominar a comunicação não verbal. Evite interromper a mãe/cuidador, pois
isso pode inibir ou coibir relatos mais esclarecedores. Esteja atento(a) ao comportamento não verbal
da mãe/cuidador, observando os gestos pontuais, os movimentos do corpo, as expressões faciais, o
tom de voz e o silêncio, fatores que permitem avaliar o estado emocional em relação à alimentação da
criança, favorecendo a conduta mais adequada (FONTES et al., 2012).

192
UNIDADE 7

A identificação do risco nutricional da criança e do adolescente é a garantia do monitoramento e


do crescimento, confirmando que a avaliação nutricional é um instrumento primordial para conhecer
as condições de saúde. O embasamento dessa avaliação pode se dar por diferentes métodos diretos e
indiretos, assim como é observado na Figura 1.

A obesidade é causada pela interação entre fatores genéticos, metabóli-


cos, psicológicos e comportamentais. Os números da obesidade no Brasil
são crescentes, sobretudo, no público infanto-juvenil. Sugiro a leitura do
artigo Intervenção nutricional em adolescentes com obesidade grave: relato
de caso para conhecer formas de intervenções práticas e compreender
como a assistência nutricional pode ser eficaz.

193
UNICESUMAR

Figura 1 - Métodos tradicionais de avalição do estado nutricional de coletividades / Fonte: adaptada de Vasconcelos (1995).

Descrição da Imagem: trata-se de um fluxograma. No centro, há uma caixa de texto na cor laranja, com o conteúdo: “Métodos de
avaliação nutricional de coletividades”. Dela, saem outras duas caixas de texto retangulares na cor rosa, com os conteúdos: “Métodos
diretos” (lado esquerdo) e “Métodos indiretos” (lado direito). Dos métodos diretos, saem outras três caixas de texto na cor amarela,
com os conteúdos: “Exames clínicos”, “Exames antropométricos” e “Exames laboratoriais”. Dos exames clínicos, sai uma caixa de texto
na cor rosa com a menção: “Sinais clínicos”. Dos exames laboratoriais, sai uma caixa de texto com o conteúdo: “Hemograma, glicemia,
perfil lipídico, etc”. Do exame antropométrico, sai uma caixa de texto com o conteúdo: “Peso, altura, pregas cutâneas, perímetro bra-
quial, cefálico, torácico, peso ao nascer, IMC etc.”. Dos métodos indiretos, saem outras três caixas de texto, na cor amarela. São elas:
“Inquéritos socioeconômicos e culturais”, “Estudos demográficos” e “Inquéritos de consumo alimentar”. Deles, saem uma caixa de
texto na cor rosa com a menção: “Salário, renda, família, ocupação, escolaridades etc.”. Dos estudos demográficos, sai a seguinte caixa
de texto: “População por sexo, faixa etária, morbidade etc.” e, dos inquéritos de consumo alimentar, “Ingestão, gasto, necessidades
nutricionais, inquéritos dietéticos etc.”.

Aplicando a antropometria na avaliação nutricional de crianças e adolescentes, é possível medir


as variações nas dimensões físicas e composições corporais, ao avaliar os distintos graus de nutrição.
Esse método avaliativo possui fácil aplicação, baixo custo e pode ser considerado pouco invasivo. O
exame físico é de extrema importância, revelando possíveis carências nutricionais a partir dos sinais
clínicos presentes na boca, cabelos, olhos, pele e nas unhas. Além disso, um exame físico minucioso
gera importantes dados relacionados à principal queixa encontrada na anamnese e aos possíveis dis-
túrbios nutricionais associados.
Durante a avaliação antropométrica e o exame físico, esteja seguro(a) de seus conhecimentos
técnicos e de suas habilidades para tocar a criança e/ou adolescente de forma adequada. O toque ade-
quado é uma importante habilidade de comunicação não verbal, haja vista que pode proporcionar um
ambiente agradável, com o intuito de que tanto a mãe/cuidador quanto a criança se sintam bem. Os
gestos firmes e delicados podem revelar um profissional tranquilo e acolhedor, visto que a atividade
das mãos pode contribuir para o conforto físico e mental da criança e, consequentemente, da mãe/
cuidador (FONTES et al., 2012).

194
UNIDADE 7

A avaliação do crescimento pode ser considerada uma medida que melhor define o estado
nutricional desse público, já que permite avaliar o potencial de desenvolvimento físico alcançado.
Interferências na saúde nutricional afetam diretamente o crescimento infantil. Os parâmetros antro-
pométricos usados para identificar a condição nutricional de crianças e adolescentes são o peso e a
estatura, consideradas medidas de alta sensibilidade. Não obstante, as medidas de perímetros cefálicos,
torácico, braquial e abdominal podem ser utilizadas na avaliação. Esses índices permitem acompanhar
sistematicamente o crescimento e o desenvolvimento infantil. Eles são importantes para o monitora-
mento das condições de saúde e nutrição da criança e do adolescente. Além disso, fornecem subsídios
adequados para o direcionamento de sua conduta nutricional (FONTES et al., 2012).

Medidas Faixa Etária Interpretação

É o parâmetro mais sensível aos


agravos nutricionais por ser o primeiro
Peso Para todas as faixas etárias
a modificar-se, apresentando maior
velocidade de mudança.

Reflete processo de desnutrição mais


Comprimento De zero a dois anos de idade
prolongada (crônica)

Para maiores de Reflete processo de desnutrição mais


Altura
dois anos de idade prolongada (crônica)

Devido à crescente prevalência da


Circunferência obesidade infanto-juvenil, a CA pode
-
Abdominal (CA) ser utilizada para avaliar a concentra-
ção de gordura abdominal.

Quadro 1 - Medidas antropométricas / Fonte: adaptado de Ribeiro e Hugo (2000).

Com o uso do peso e da altura, é possível calcular alguns índices antropométricos, como o peso/idade,
estatura/idade, peso/estatura e o IMC/idade. O peso/idade é capaz de expressar a massa corporal em
relação à idade cronológica, mas não é capaz de diferenciar o comprometimento nutricional atual
(agudo) dos pregressos (crônicos). Para tanto, é necessário realizar a adição dessa avaliação com outro
índice antropométrico. A estatura/idade, por sua vez, expressa o crescimento linear da criança perante
a uma idade específica, demonstrando o efeito cumulativo de diversas situações sobre o crescimento
da criança e do adolescente. É considerado, portanto, o indicador mais sensível para aferir a qualidade
de vida dessa população (FONTES et al., 2012).
O peso/estatura objetiva demostrar a harmonia entre as dimensões de massa corporal e estatura,
correspondendo à adequação do processo de crescimento. Ele é sensível para identificar tanto o ema-
grecimento quanto o excesso de peso da criança. No entanto, necessita de medidas complementares

195
UNICESUMAR

para o diagnóstico de sobrepeso e obesidade, já que não diferencia a massa magra da massa gorda e
muito menos a distribuição da gordura corporal.
Por fim, o índice de massa corporal/idade infere a relação entre o peso da criança/adolescente
e o quadrado da estatura. É utilizado para avaliar principalmente o déficit nutricional e o excesso de
peso entre crianças e adolescentes, além de ser considerado um indicador de gordura corporal total
em percentis superiores. Por outro lado, não é capaz de fornecer a composição corporal. É recomen-
dado o uso dele associado a outros indicadores, como o somatório de dobras cutâneas, utilizando a
tricipital, a subescapular e a área muscular do braço (AMB) (FONTES et al., 2012). Observe a Figura
2 para verificar os índices antropométricos por faixa etária.

Figura 2 - Índices antropométricos por faixa etária / Fonte: adaptada da Sociedade Brasileira de Pediatria (2009).

Descrição da Imagem: trata-se de um fluxograma. No centro, há uma caixa de texto vermelha com a menção: “Índices antropométricos/
faixa etária”. Dela, saem três caixas de texto na cor verde-claro com os conteúdos: “Crianças de 0 a 5 anos incompletos”, “Crianças de 5
a 10 anos incompletos” e “Adolescentes de 10 a 19 anos”. Dessa última, saem outras duas caixas de texto na cor roxa, com o conteúdo:
“E/I” e “IMC/I”. Da anterior, “IMC/I” e “E/I” e, da última, “IMC/I”, “E/I”, “P/I” e “P/E”.

A maneira de expressar os indicadores (P/I, A/I e P/A) pode se


dar por intermédio de três parâmetros: o escore-Z, o percentil
e o valor da mediana. O escore-Z representa o número de des-
vios-padrão relativos ao afastamento da mediana de referência.
Já o percentil se refere à posição do indivíduo em uma dada dis-
tribuição de referência, todas visualizações possíveis em curvas
de crescimento. Verifique os gráficos em nosso QRCODE 1.
Esses indicadores antropométricos não são úteis apenas no nível
individual (clínico), pois permitem detectar comprimentos de
crescimento ou de bem-estar nutricional no nível populacional.

196
UNIDADE 7

Para tanto, é importante saber como as variáveis se comportam em um grande número de crianças.
Com os dados, podemos compreender os fatores determinantes e as consequências de quadros de
desnutrição ou de obesidade, por exemplo (RODRIGUES, 2016).
Os percentis dividem a distribuição de dados ordenados do menor para o maior valor em 100
partes iguais, de modo que o primeiro percentil indica o 1% menor dos dados e assim por diante. Os
percentis nos dizem com que frequência ocorre determinado peso ou estado fisiológico. Por exemplo,
uma criança cuja altura esteja no P5 de estatura para idade tem o mesmo tamanho que apenas 5% das
crianças da mesma faixa etária. Se ela está no P50, está dentro da normalidade e infere que 50% da
população têm àquela altura para a idade. Se está no P85, significa que 85% das crianças pesam menos
e 15% pesam mais que a criança avaliada. Entre os 100 percentis, alguns se estabelecem como valores
críticos, o que chamamos de pontos de corte. Esses pontos de corte são disponibilizados em tabelas
ou na forma de curvas de crescimento.
Como os ritmos de crescimento de meninos e meninas são diferentes, é recomendável usar per-
centis específicos não somente para as faixas etárias, mas também para o sexo na avaliação nutricional
de crianças e adolescentes. O uso dos escores-Z são considerados melhores para o acompanhamento
clínico de pacientes cuja classificação antropométrica ultrapassa os limites mensuráveis dos percentis.
É o caso das crianças desnutridas e obesas, ambas nos extremos da distribuição. Dependendo do que
se deseja, você pode usar os dois sistemas: percentis para uso clínico, escores-Z para a saúde pública
ou as pesquisas científicas (RODRIGUES, 2016).
As curvas de crescimento permitem uma avaliação seriada do peso e da estatura ao longo do tempo.
A partir disso, podemos observar se uma criança está em risco nutricional, o que pode ser encontrado
em, pelo menos três, mensurações de peso e estatura, haja vista a necessidade de intervalos compatíveis
com a velocidade de crescimento em função da idade. Elas são consideradas padrões, ou seja, eviden-
ciam como as crianças precisam crescer, em média, em todos os países, quando recebem cuidados e
alimentação adequados. Servem para crianças de qualquer grupo étnico, status socioeconômico e modo
de alimentação (RODRIGUES, 2016). Os valores de classificação estão inseridos no Quadro 2, com a
avaliação antropométrica de crianças de 0 a 10 anos incompletos, segundo índices antropométricos.

Índices antropométricos

Valores críticos Crianças de 0 a 5 anos incompletos Crianças de 5 a 10 anos incompletos

P/I P/E E/I IMC/I E/I IMC/I

Estatura Estatura
Peso muito
<Percentil Magreza muito Magreza muito Magreza
<Escore z-3 baixo para
0,1 acentuada baixa para acentuada baixa para acentuada
idade
a idade a idade

>Percentil >Escore z-3 Baixo peso Baixa esta- Baixa esta-


0,1 e <per- e <escore para a Magreza tura para a Magreza tura para a Magreza
centil 3 z-2 idade idade idade

197
UNICESUMAR

Índices antropométricos

Valores críticos Crianças de 0 a 5 anos incompletos Crianças de 5 a 10 anos incompletos

P/I P/E E/I IMC/I E/I IMC/I

>Percentil >Escore z-2


3 e <per- e <escore
centil 15 z-1
Eutrofia Eutrofia Eutrofia
Peso
>Percentil >Escore z-1
adequado
15 e <per- e <escore
para a
centil 85 z+1
idade

>Percentil >Escore z+1 Estatura Estatura


Risco de adequada Risco de adequada
85 e <per- e <escore Sobrepeso
sobrepeso para a sobrepeso para a
centil 97 z+2
idade idade
>Percen-
>Escore z+2
til 97 e
e <escore Sobrepeso Sobrepeso Obesidade
<percentil Peso ele-
z+3
99,9 vado para
a idade
>Percentil Obesidade
>Escore z+3 Obesidade Obesidade
99,9 grave

Quadro 2 - Avaliação antropométrica de crianças (0 a 10 anos incompletos)


Fonte: adaptado de Organización Mundial de La Salud (2006).

O uso das curvas de crescimento merece atenção em alguns casos, visto que existem tipos morfológicos
que reconhecemos com base nas relações entre os percentis de peso e altura. Essas relações podem ser
harmônicas ou desarmônicas. Caso o percentil de peso se apresente baixo, ele pode ser confundido
com um estado de carência nutricional. Determinados casos são chamados de normossomia. Neles,
o peso e a altura são normais e compõem uma constituição corporal harmônica. Já na hipossomia, o
peso e a altura ficam abaixo do normal, mas ainda existe harmonia.
Já as desarmonias entre peso e altura são observadas nos tipos longilíneos e brevilíneos. São encon-
tradas limitações para o uso dos percentis perante à falta de correspondência entre as faixas de valores
absolutos para medidas diferentes. Além do mais, não é possível quantificar mudanças nos valores
dos percentis próximos dos extremos da distribuição utilizada como referência (RODRIGUES, 2016).
A infância e a adolescência são períodos de intenso desenvolvimento e crescimento. Ambos são
pautados em grandes mudanças na composição corporal. Desse modo, você, como futuro(a) nutri-
cionista, necessita estar apto(a) para realizar essa importante avaliação. Na atualidade, os métodos
que avaliam a composição corporal e a distribuição de gordura são diversos, caracterizando não só a
composição corporal de modo global, como também de modo especifico.
Para tanto, você deve optar pelo melhor método. Dessa forma, ao avaliar a composição corporal,
é possível utilizar métodos de medição, a partir de algumas circunferências, como a braquial e a ab-
dominal, e as dobras cutâneas, como a subescapular e a tricipital. É importante frisar que é preferível

198
UNIDADE 7

associar os índices antropométricos a outros métodos para


auxiliar o diagnóstico nutricional (FONTES et al., 2012).
As circunferências, por sua vez, não demonstram me-
didas específicas de composição corporal. Entretanto, são
úteis para a quantificação das diferenças entre os indiví-
duos de uma população, podendo identificar aqueles que
apresentam maior risco de desnutrição ou obesidade. A
circunferência abdominal (CA) é uma medida muito
difundida entre os adultos para avaliação do risco cardio-
vascular. Contudo, o público-alvo pode ser o infanto-juvenil,
haja vista a crescente prevalência de obesidade nesse grupo,
aliado ao fato de que essa ferramenta pode ser utilizada para
avaliar a concentração de gordura abdominal.
As crianças com percentual de gordura superior a 33%
e circunferência abdominal superior a 71 cm estão mais
propensas a um risco cardiovascular. Por outro lado, nas
crianças com menos de 20% de gordura e menos de 61 cm
de circunferência abdominal, o risco pode ser considerado
mínimo. Logo, sugere-se que seja observada a evolução da
medida encontrada, ao contrário da utilização de um ponto
de corte especifico. Outrora, em consequência da escassez
de estudos associados à variação do crescimento físico em
cada faixa etária, não há um ponto de corte especifico para
crianças e adolescentes. Logo, muitos estudos utilizam os
valores de Freedman et al. (1999).
A circunferência de braço representa a soma das áreas
compostas pelos tecidos ósseo, muscular e gorduroso. É
considerada uma medida complementar, mas também
pode ser usada isoladamente como método de triagem ou
para diagnosticar o estado nutricional da criança, em casos
em que outro método não pode ser utilizado (paciente
acamado ou quando peso está superestimado).
Em relação à classificação da circunferência do braço, é
usada a tabela por percentil proposta por Frisancho (1990).
Portanto, valores inferiores ao percentil 5 (P5) são indica-
dores de risco de doenças ou de distúrbios ocasionados pela
desnutrição. Por outro lado, valores superiores ao percentil
95 (P95) representam risco de doenças relacionadas ao ex-
cesso de peso, vide nosso QRCODE 1, Tabela 2 e Quadro 3
com um guia para interpretação dos valores.

199
UNICESUMAR

Percentil Tecido Adiposo Tecido Muscular

<5 Depleção/Baixa reserva Hipotrofia/baixa reserva


5- 15 Abaixo da média/risco de déficit Abaixo da média/risco de déficit
15-85 Média/Adequado Adequado
85-90 Excesso Acima da média/Adequado
≥90 Obesidade Acima da média/Adequado

Quadro 3 - Guia para interpretação da CB/AMB/ AMBc/ AGB/ DCT + DCSE (crianças e adolescentes)
Fonte: adaptado de Frisancho (1990).

A circunferência muscular do braço (CMB) é uma medida


derivada da circunferência do braço em conjunto com a dobra
cutânea tricipital. É considerada um bom indicador de reserva
de tecido muscular, haja vista que não é capaz de corrigir a área
óssea. A classificação dela também segue os estudos de Frisancho
(1990). Para observação, analise o QRCODE e visualize a tabela 3.
Os valores inferiores ao P5 são indicadores de risco de doenças e
distúrbios associados à desnutrição. Já os valores superiores ao P95,
diferentemente do que ocorre com outras medidas, não pode ser
indicativa de excesso de gordura corporal, já que se trata de uma
medida indireta de massa muscular, vide o guia de interpretação
no Quadro 4. Segue a fórmula para cálculo (FONTES et al., 2012).

CMB( cm )  CB  ( xDCT / 10)

Considerando π = 3,14
DCT = Dobra cutânea tricipital

A área muscular do braço (AMB)/área muscular do braço corrigida


(AMBc) é uma medida derivada da circunferência do braço e da
dobra cutânea tricipital. No entanto, avalia a massa muscular a
partir de uma correção da massa óssea, tornando a avaliação mais
adequada. A área muscular do braço é recomendada para pacientes
de até 18 anos e a AMBc/idade para pacientes partir dos 19 anos,
utilizando fórmulas específicas para cada sexo, como você poderá
ver a seguir. Os valores de referência podem ser visualizados na
Tabela 4, presente em nosso QRCODE e a classificação está pre-
sente no Quadro 4 (FONTES et al., 2012).

200
UNIDADE 7

[CB  ( xDCT / 10)]²


AMB( cm )² 
4 x
[CB  ( xDCT / 10)]²
AMBc( cm )²   10( sexomasculino)
4 x

[CB  ( xDCT / 10)]²


AMBc( cm )²   6, 5( sexofe min ino)
4 x

As dobras cutâneas também podem ser utilizadas na avaliação de crianças e adolescentes, visando à
aferição de adiposidade, com base na noção de que essa medida remete às duas camadas de pele em
conjunto com a gordura subcutânea de um dado ponto especifico. Dentre as mais utilizadas, estão
a dobra cutânea tricipital (DCT) e a subescapular (DCSE), inferindo valores de referência em tabela
por percentil isolado ou na soma das duas pregas, vide Tabela 4 em nosso QRCODE 1, e os valores de
referência no Quadro 4. Atenção especial aos valores de P5- P15, pois são faixas de risco para desnu-
trição e obesidade (FONTES et al., 2012).

A crescente alteração nos hábitos alimentares de crianças e adolescen-


tes, a qual se relaciona ao período de transição nutricional encontrada
mundialmente, pode ser caracterizada pelo aumento considerável da
prevalência de sobrepeso e obesidade e da diminuição da desnutrição.
Ouça o podcast e conheça algumas formas de avaliar o consumo ali-
mentar e de realizar a percepção de hábitos alimentares saudáveis entre
crianças e adolescentes. Vamos lá?

A avaliação nutricional dos adolescentes tem características específicas. É importante ter conheci-
mento que a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a adolescência a partir da segunda década
de vida, ou seja, dos 10 aos 19 anos, correspondendo a um período fundamental do desenvolvimento
humano. Nesse período, a puberdade é a característica predominante, já que ocorrem grandes trans-
formações anatômicas e fisiológicas, como o crescimento, o desenvolvimento e a maturação sexual.
A puberdade é acompanhada de eventos que guiam o desenvolvimento das características sexuais
primárias e secundárias, com consequente modificação na composição corporal, fase de grandes ações
hormonais que acarretam grandes alterações metabólicas e um grande salto do crescimento estrutural,
acompanhando do crescimento ósseo.
Durante a sua prática clínica, deve oferecer uma conduta específica para esse grupo, haja vista que a ali-
mentação e a nutrição adequadas são de extrema importância para que ocorra suprimento das necessidades

201
UNICESUMAR

nutricionais. Uma ingestão insuficiente em nutrientes pode retardar o


início do desenvolvimento puberal, em decorrência da inibição da se-
creção dos hormônios gonadais, o que promove um comprometimento
do ganho de estatura. Utilizar a maturação óssea e sexual como reflexo
da idade biológica é mais útil que a maturação cronológica, podendo
ser avaliada por uma sequência dos caracteres sexuais secundários, a
partir de uma sistematização feita por Tanner (1962).
O estudo de Tanner (1962) considerou o desenvolvimento mamário
do sexo feminino e o desenvolvimento da genitália externa do sexo
masculino. Por fim, explorou o desenvolvimento dos pelos pubianos em ambos os sexos. Observe o de-
senvolvimento dessa maturação na Figura 1 presente em nosso QRCODE. Existem algumas variáveis para
avaliação do desenvolvimento mamário do sexo feminino e da genitália externa masculina, as quais são
classificadas em cinco estágios desde a situação pré-puberal, considerado estágio 1, até a situação adulta,
considerado estágio 5. O desenvolvimento da pilosidade, por sua vez, é classificado em seis estágios para
ambos os sexos. Observe o Quadro 4 (FONTES et al., 2012).

Estágio Pelos pubianos Mamas Genitália


maturacional (ambos os sexos) (feminino) (masculino)

M1: Sem modificação G1: Características in-


Estágio 1 P1: Ausentes
da fase infantil. fantis sem alteração.

P2: Aparecimento de
pelos longos e finos,
M2: Brotos mamá-
levemente pigmen- G2: Aumento do
rios: elevação da
tados, lisos ou pouco pênis ou aumento
Estágio 2 aréola e papilas for-
encaracolados, prin- inicial do volume
mando uma pequena
cipalmente na base testicular.
saliência.
do pênis ou ao longo
dos grandes lábios.

P3: Maior quantidade


G3: Crescimento
de pelos, agora mais M3: Maior aumento
peniano em compri-
grossos, escuros e en- da mama e da aréola,
Estágio 3 mento, maior cresci-
caracolados, espalhan- mas sem separação
mento dos testículos
do-se esparsamente dos contornos.
e do escroto.
pela sínfise púbica.

P4: Pelos do tipo


adulto, cobrindo mais M4: Maior aumento
G4: Crescimento pe-
densamente a região da mama e da aréola
Estágio 4 niano, principalmente
púbica, mas ainda sendo que há sepa-
no diâmetro.
sem atingir a face ração dos contornos.
interna das coxas.

202
UNIDADE 7

Estágio Pelos pubianos Mamas Genitália


maturacional (ambos os sexos) (feminino) (masculino)

M5: Mamas com


P5: Pilosidade pubia- aspecto adulto; o
G5: Desenvolvimento
na igual à do adulto, contorno areolar é
Estágio 5 completo da genitá-
invadindo a parte incorporado nova-
lia.
interna das coxas. mente ao contorno
da mama.

P6: Extensão dos


Estágio 6 pelos para cima da - -
região púbica.

Quadro 4 - Classificação do adolescente do sexo feminino e o estágio de maturação sexual de Tanner (1662)
Fonte: adaptado de Tanner (1962).

Para a identificação do grau de maturação sexual, você necessita apresentar os estágios mencionados.
Parte-se do princípio de que é necessário que o adolescente verifique e identifique em qual estágio
maturacional ele se encontra. Em decorrência disso, toda avaliação nutricional desse grupo deve ser
feita em conjunto com o estágio puberal, haja vista que a verificação da puberdade é uma medida de
suma importância para a caracterização do grau de maturação do adolescente.
A caracterização auxilia a compreensão e o manejo dos problemas clínicos comuns, o que é indis-
pensável na interpretação dos indicadores antropométricos e na prescrição do plano alimentar pautado
na fase da pubescência. Verifique o Quadro 5 com os indicadores das fases da pubescência, de acordo
com o estágio de maturação sexual para ambos os sexos (FONTES et al., 2012).

Sexo Estágio de maturação sexual Fases da pubescência

G3 – início do estirão Pubescência

Masculino G4 – pico da velocidade de crescimento Pubescência

G5 – timbre de voz Pós-pubescência

M2 – início do estirão Pubescência

Feminino M3 – PVC Pubescência

M4 – menarca Pós-pubescência

Quadro 5 - Fases da pubescência / Fonte: adaptado de Vitolo (2008).

A taxa metabólica basal (TMB) de um paciente é determinada pelo tamanho e pela composição
corpórea, sexo, idade e nível de atividade física. Para estimar as necessidades energéticas, é importante
considerar o gasto energético basal e total. O gasto energético basal (GEB) e a TMB consideram a

203
UNICESUMAR

energia necessária para a manutenção dos processos vitais, como a respiração, o metabolismo celular,
a circulação, a atividade glandular e a conservação da temperatura corpórea.
Por outro lado, o gasto energético total (GET) diz respeito ao adicional energético das atividades
diárias ao basal, ou seja, refere-se ao gasto energético para o crescimento, à energia gasta para o fun-
cionamento e à síntese de novos tecidos. Durante a sua conduta, é necessário conhecer os diferentes
métodos que estimam as necessidades energéticas de crianças e adolescentes, porque, dependendo do
método utilizado, é possível encontrar valores bem diferentes. Portanto, é importante fazer a escolha
do método que atenderá às peculiaridades de cada paciente (FONTES et al., 2012).

Sexo Idade (anos) TMB

03 – 10 22,7 x P + 495

Masculino 10 – 18 17,5 x P + 651

18 – 30 15,3 x P + 679

03 – 10 22,5 x P + 499

Feminino 10 – 18 12,2 x P + 746

18 – 30 14,7 x P + 496

Quadro 6 - Cálculo da taxa metabólica basal (TMB) / Fonte: adaptado de Fontes et al. (2012).

Fator atividade
Idade (anos)
Masculino Feminino

10 1,76 1,65

11 1,73 1,63

12 1,69 1,60

13 1,67 1,58

14 1,65 1,57

15 1,62 1,54

16 1,60 1,53

17 1,60 1,52

Quadro 7 - Fator atividade para o cálculo das necessidades energéticas de adolescentes de 10 a 17 anos
Fonte: adaptado de Fontes et al. (2012).

204
UNIDADE 7

Na infância, é importante a ingestão de energia na alimentação, devido à utilização dela nos processos
de crescimento e na quantidade de energia por quilo de peso corporal. É importante considerar que
as crianças de baixo peso ou com retardo de crescimento necessitam de mais energia e proteínas para
o desenvolvimento e crescimento. Os adolescentes, por sua vez, necessitam de um cálculo das neces-
sidades energéticas de modo mais complexo, porque o pico máximo de ingestão energética coincide
com o pico da velocidade máxima de crescimento.
É observado aumento do apetite e as necessidades são influenciadas pelos eventos normais da
puberdade e pelo estágio da maturação sexual. Outrora, não existem fórmulas para o cálculo das
necessidades energéticas que levem em consideração os diferentes estágios de puberdade elaborados
por Tanner (1962). Dessa forma, para atender às demandas energéticas com base no crescimento dos
indivíduos, são propostas algumas fórmulas para o cálculo das necessidades energéticas, com base
na energia por centímetro de altura, dado que o aumento da estatura é intenso, refletindo melhor o
período de crescimento. É necessário escolher o método que melhor se adapte às características do
paciente adolescente (FONTES et al., 2012).
Outro ponto a ser considerado é a intervenção nutricional em casos de sobrepeso e obesidade.
Muitos estudos são inconclusivos, porém as recomendações atuais estão baseadas no controle do
ponderal de peso e das comorbidades eventualmente encontradas. Portanto, o tratamento dietético
deve contemplar a adequação da ingestão calórica e o suprimento das necessidades nutricionais,
além do aumento do gasto energético, da modificação comportamental e do envolvimento familiar
no processo de mudança dos hábitos alimentares (FONTES et al., 2012; SOCIEDADE BRASILEIRA
DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLISMO, 2005).
De modo geral, os adolescentes que apresentam uma dieta variada são capazes de manter o balanço
energético e obter os nutrientes necessários para o crescimento e desenvolvimento. Portanto, durante
o seu atendimento, estabeleça objetivos bem definidos com base na individualidade de cada paciente,
visando ao atendimento das demandas nutricionais e à prevenção de doenças por excesso ou carência
nutricional. Observe a Tabela 1, que exibe um método prático para o cálculo das necessidades energéticas
das crianças. A Tabela 2 expressa as taxas calóricas para crianças de até 10 anos e a Tabela 3 explicita as
taxas calóricas para as crianças de até 10 anos, segundo o sexo. Por fim, a Tabela 4 demonstra a necessi-
dade de energia para o sexo masculino, levando em consideração o custo energético para o crescimento.

Idade (meses) Kcal/Kg/dia

0–3 116

3–6 99

6–9 95

9 – 12 101

Tabela 1 - Taxas calóricas (em kcal/kg/dia) para crianças de até 12 anos / Fonte: adaptado de FAO (2001).

205
UNICESUMAR

Kcal/Kg/dia
Idade (anos)
Masculino Feminino Média

5–7 90 85 88

7 – 10 78 67 72

Tabela 2 - Valores das taxas calóricas (em Kcal/Kg/dia) para crianças até 10 anos / Fonte: adaptado de FAO (2001).

Idade (anos) Energia (Kcal/kg/dia)

Pré-escolar Masculino Feminino

1–2 104 108

2–3 104 102

3–4 99 95

4–5 95 92

5–6 92 88

Escolar

6–7 88 83

7–8 83 76

8–9 77 69

9 – 10 72 62

Tabela 3 - Taxas calóricas (em Kcal/Kg/dia) para crianças até 10 anos, segundo sexo / Fonte: adaptado de FAO (2001).

Atividade física
Idade (anos) Leve Moderada Intensa
Kcal/kg/dia Kcal/kg/dia Kcal/kg/dia

2 - 84 -

3 - 80 -

4 - 77 -

5 - 74 -

6 62 73 84

7 60 71 81

206
UNIDADE 7

Atividade física
Idade (anos) Leve Moderada Intensa
Kcal/kg/dia Kcal/kg/dia Kcal/kg/dia

8 59 69 79

9 56 67 76

10 55 65 74

11 53 62 72

12 51 60 69

13 49 58 66

14 48 56 65

15 45 53 62

16 44 52 59

17 43 50 57

>18 TMB (1985) x fator ou nível de atividade física

Tabela 4 – Necessidade de energia para o sexo masculino (custo energético para o crescimento – 2 kcal/g de ganho de peso)
Fonte: adaptado de FAO (2001).

207
UNICESUMAR

O nível de atividade física varia de acordo com as diferenças dos hábitos culturais e as condições so-
cioeconômicas. Portanto, de acordo com a FAO (2001), pode-se considerar:

• Leve: gastam várias horas na escola ou em ocupações sedentárias. Não praticam atividade física
de forma regular. A base de locomoção é o automóvel e gastam mais tempo em atividades de
lazer que demandam pouco esforço físico.

• Moderado: englobam as atividades mais extenuantes que os exemplos anteriores (sedentário).


Contudo, ainda não se adequam aos exemplos de estilo de vida intenso.

• Intenso: pacientes que caminham longas distâncias ou usam bicicleta como forma de transporte.
Realizam atividades que demandam energia durante várias horas do dia e praticam esportes ou
exercícios que requerem elevado nível de esforço físico por várias horas.

De acordo com a Dietary Reference Intakes for Energy, Carbohydrate, Fiber, Fat, Fatty Acids, Choles-
terol, Protein, and Amino Acids, há as seguintes estimativas de requerimento energético (EER):

EstimatedEnergy Re quirement ( EER ) 


TotalEnergyExpenditure(TEE )  Deposiçãodeenergia ( DE ) 
EER  TEE  DE
EER( kcal / dia )  A  Bxidade( anos )  AFx( DxPeso( kg )  ExAltura( m )  DE( kcal )

Considerando que:
A: Constante.
B: Coeficiente de idade.
AF: Coeficiente de atividade física.
D: Coeficiente do peso.
E: Coeficiente de altura.
DE: Deposição de energia para a formação de novos tecidos ou produção de leite.

Utilizando a fórmula exibida como guia, a temos especificamente para cada grupo etário:

1. Para crianças de 0 a 36 meses:

EER  TEE  DE

0 a 3 meses: (89 xP  100)  175 (Kcal para DE)


4 a 6 meses: (89 xP  100)  56 (Kcal para DE)
7 a 12 meses: (89 xP  100)  22 (Kcal para DE)
12 a 35 meses: (89 xP  100)  20 (Kcal para DE)

208
UNIDADE 7

2. Para crianças de 3 a 8 anos de idade:

EER  TEE  DE

Sexo masculino:

EER  88, 5  (61, 9 xI )  AFx(26, 7 xP  903 xA)  20( DE )

Sexo feminino:

EER  135, 3  (30, 8 xI )  AFx(10, 0 xP  934 xA)  20( DE )

Observação: I: considerar idade em anos e A: considerar altura em metros

3. Para crianças de 9 a 18 anos de idade:

EER  TEE  DE

Sexo masculino:

EER  88, 5  (61, 9 xI )  AFx(26, 7 xP  903 xA)  25( DE )

Sexo feminino:

EER  135, 3  (30, 8 xI )  AFx(10, 0 xP  934 xA)  25( DE )

Em relação ao coeficiente de atividade física de crianças de 3 a 18 anos de idade, considere o Quadro 8.

Sexo Masculino Sexo Feminino AF

AF= 1,0 AF= 1,0 (Sedentário)

AF= 1,13 AF= 1,16 (Pouco ativo)

AF= 1,26 AF= 1,31 (Ativo)

AF= 1,42 AF= 1,56 (Muito ativo)

Quadro 8 - Coeficiente de Atividade Física (CAF) para crianças de 3 a 18 anos de idade / Fonte: adaptado de Fontes et al. (2012).

Já no que diz respeito ao Gasto Energético Basal (BEE) para crianças de 3 a 18 anos de idade com
sobrepeso e obesidade, considere:

209
UNICESUMAR

Sexo masculino:

BEE (kcal / dia )  420  33, 5 xI  418 xA  16, 7 xPeso(kg )

Sexo feminino:

BEE (kcal / dia )  516  26, 8 xI  347 xA  12, 4 xPeso(kg )

Para encontrar TEE para manutenção do peso em crianças de 3 a 18 anos de idade com sobrepeso
e obesidade, verifique o Quadro 9, que exibe o coeficiente de atividade física para crianças de 3 a 18
anos de idade com sobrepeso e obesidade.

Sexo masculino:

EER  114  (50, 9 xI )  AFx(19, 5 xPeso( kg )  1161, 4 xA)

Sexo feminino:

EER  389  (41, 2 xI )  AFx(15, 0 xPeso( kg )  701, 6 xA)

Sexo Masculino Sexo Feminino AF

AF= 1,0 AF= 1,0 (Sedentário)

AF= 1,12 AF= 1,18 (Pouco ativo)

AF= 1,24 AF= 1,35 (Ativo)

AF= 1,45 AF= 1,60 (Muito ativo)

Quadro 9 - Coeficiente de atividade física para crianças de 3 a 18 anos de idade com sobrepeso e obesidade
Fonte: adaptado de Fontes et al. (2012).

Todos os aspectos citados estão envoltos na primeira etapa, a fase exploratória. A próxima etapa engloba
a impressão diagnóstica, que será realizada a partir do resumo da avaliação global da criança, por
intermédio da condição nutricional antropométrica, dietética e bioquímica e das situações julgadoras
de relevância. Depois da análise, será necessário traçar a conduta nutricional mais pertinente ao qua-
dro. A terceira e última etapa se refere à conduta nutricional registrada no prontuário do paciente
de modo claro para fins de reavaliação nas consultas posteriores.
Caso seja realizado o cálculo da dieta, descreva o teor energético, os tipos de alimentos prescritos,
as fórmulas utilizadas e os ingredientes prescritos. Um aspecto importante é que as informações
por você selecionadas sejam entregues em material escrito e em linguagem apropriada, tendo em

210
UNIDADE 7

vista que alguns termos técnicos podem não ser bem


compreendidos (FONTES et al., 2012).
Durante a apresentação de sua conduta nutricio-
REALIDADE
nal, você precisa criar um ambiente favorável para
AUMENTADA
a construção de possíveis estratégias que favoreçam
o desenvolvimento de ações pela mãe/cuidador da
criança. Recomendo que seja sensível o suficiente para
perceber a necessidade que têm e que reconheça a
principal queixa da consulta. Com esse reconheci-
mento, são feitas sugestões adequadas, o que facilita
o entendimento e a participação da mãe/cuidador na
elaboração de mudanças.
Você deve fazer uso de habilidades para aumentar a
confiança e dar apoio à conduta nutricional. Os mitos
e as crenças identificados na anamnese devem ser cor-
rigidos de maneira suave, sem que as correções soem
Caro(a) estudante, verifique a reali-
como críticas. Não se esqueça de reconhecer e elogiar o dade aumentada que preparei para
que a mãe/cuidador está fazendo corretamente, o que é que você entenda mais sobre a nossa
disciplina, vamos lá?
uma maneira de fortalecer o relacionamento de ambos,
aumentando a confiança, encorajando a manter práticas
saudáveis, além de facilitar a aceitação de sugestões.
Por fim, durante o seu atendimento, entenda que cabe a mãe/cuidador decidir o que é melhor para a
criança e a família. Dessa forma, dê sugestões, e não ordens, visto que as ordens podem diminuir a auto-
confiança e desviar a tomada de decisões. Não se esqueça de criar estratégias necessárias para enfrentar os
problemas levantados durante a consulta, as quais deverão ser realizadas em conjunto com mãe/cuidador
da criança (FONTES et al., 2012).
O processo da alimentação infantil e de adolescentes constitui em um enorme processo de aprendizagem
tanto para as crianças quanto para a família. Logo, a forma como esse processo se conduzirá determinará,
em grande parte, o hábito alimentar dos pacientes. Aliás, caso não haja informação e apoio emocional
adequados, poderão ser cometidos inúmeros erros alimentares que repercutirão em prejuízos à criança.
A alimentação desses grupos é fortemente influenciada por diversos fatores, como sociais, biológi-
cos, culturais e psicológicos. É necessária atenção às subjetividades e aos aspectos individuais ligados
ao comportamento alimentar deles e da família deles. Para tanto, é necessário que você reconheça
não somente os procedimentos técnicos da nutrição, como também as questões psicológicas que
estão diretamente envolvidas na prática do aconselhamento e na avaliação nutricional. A associação
dessas técnicas permite que você seja muito mais que um(a) mero(a) fornecedor(a) de informação,
mas também um(a) facilitador(a) do fortalecimento da capacidade e da autonomia da mãe/cuidador
na tomada de decisão quanto à alimentação de crianças e adolescentes.

211
Caro(a) aluno(a), gostaria de convidá-lo a realizar uma verificação crítica dos conhecimentos realiza-
dos até então a partir das questões que estão inseridas no mapa de empatia a seguir.

Descrição da Imagem: a figura é composta por um retângulo colorido, dividido por algumas formas. Logo, há um retângulo
com quatro pirâmides, cujas pontas de unem por meio de uma figura de um rosto que pisca e sorri no centro. As pirâmides
têm as seguintes cores: verde-claro, rosa-claro, azul-claro e salmão. Em cada uma das pirâmides, encontram-se perguntas:
o que ouve? O que pensa e sente? O que vê e o que fala e faz? Na base do retângulo, há outras duas formas em formato de
retângulo nas cores rosa-claro e roxo-claro. Elas têm as seguintes perguntas: quais são as dores? Quais são as necessidades?

212
1. Os escolares vivem um período em que se tornam cada vez mais separados e independentes
dos pais. A adolescência é marcada por grandes mudanças na aparência física, caracterizando a
puberdade, com mudanças que constituem um fenômeno universal: as mesmas modificações
biológicas acontecem em todas as crianças e as levam à maturidade física e sexual.

RODRIGUES, V. B. (org.). Nutrição e desenvolvimento humano. São Paulo: Pearson, 2016.

Suponha que você está atendendo a um paciente de 14 anos, do sexo masculino, que está
passando pelo período de maturação sexual. Ele vai até você para iniciar mudanças nos hábitos
alimentares e gostaria de saber o estado nutricional dele. Durante a avaliação antropométrica,
você aferiu peso de 57 kg e estatura de 1,70m. Como você classificaria esse paciente?

2. O uso dos escores-z se dão por vários motivos. Eles são calculados a partir de uma medida de
tendência central (média) e uma medida de dispersão (o desvio padrão) da distribuição dos
dados de uma população de referência. Também há uma padronização das medidas, o que
torna os escores comparáveis entre diferentes idades e sexos. Logo, os valores de escore-Z
podem quantificar o crescimento de crianças que ficam fora das faixas de percentis.

DEZENBERG, C. V. et al. Predicting body composition from anthropometry in pre-adolescent children. Inter-
national Journal of Obesity and Related Metabolic Disorders, v. 23, n. 3, 1999.

Suponha que você atenda a uma paciente do sexo feminino, com 3 anos de idade e 19 kg. Utili-
zando a classificação do estado nutricional a partir do uso do escore-z, como você a classificaria?

3. O índice de estatura para a idade pode ser expresso na forma de percentil e deve ser utilizado
para o acompanhamento do crescimento linear da criança e identificação das deficiências de
estatura. Pode, ainda, ser relacionado ao peso (peso/estatura), tornando-se um índice para
avaliar desnutrição aguda e sobrepeso.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretária de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da
criança: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2002.

Suponha que você atenda a uma criança do sexo feminino, com 4 anos e 2 meses. Durante a
sua avaliação antropométrica, você aferiu peso de 16,5 kg. Como você classificaria o estado
nutricional da paciente a partir do uso da curva peso/estatura expressa em percentil?

213
214
8
Avaliação Nutricional
de Praticantes de
Atividades Físicas e
Atletas
Dra. Lorena dos Santos Castro

Nesta unidade, você entenderá a avaliação nutricional de praticantes


de atividades físicas e atletas, as maneiras de avaliar a composi-
ção corporal e como essa composição pode estar relacionada ao
desempenho do atleta ao esporte. Compreenderá a importância
da determinação das características antropométricas, conhecerá
alguns valores médios da gordura corporal relativa encontrada em
atletas e saberá a importância da hidratação e de alguns recursos
tecnológicos. Assimilará como o esporte pode interferir no sistema
imunológico e nas reservas de ferro corporal, entenderá a impor-
tância da anamnese e do exame físico, e se familiarizará com as
principais equações propostas para o cálculo da porcentagem de
gordura corporal e das necessidades energéticas.
UNICESUMAR

A adequação nutricional é cada vez mais vista corporal, descobrir as aptidões físicas e conhecer
como um fator determinante para o sucesso de os diferentes métodos a serem utilizados para de-
esportistas. Considerando as especificidades de finir tanto o gasto calórico quanto descobrir as
cada modalidade esportiva, percebe-se que as recomendações energéticas. Você acredita que
necessidades diferenciadas devem ser atendidas é possível descobrir tudo isso durante uma con-
perante aos fatores socioeconômicos e culturais. sulta nutricional? Será que, com uma análise da
No meio esportivo, a avaliação nutricional é um gordura corporal, da massa magra e do biótipo,
importante instrumento para adequar a dieta ao é possível interferir na modalidade esportiva que
gasto energético do atleta, o que afeta diretamen- um paciente pode vir a praticar?
te a performance, dando ênfase à importância da Saber a importância da avaliação nutricional e
avaliação nutricional para a nutrição esportiva. o ponto de partida do trabalho com atletas é um
É essencial que esportistas profissionais, atletas fator muito relevante para performance desejada.
de alta performance e praticantes de exercício Diferentes métodos são utilizados para definir
físico tenham orientação e acompanhamento de uma avaliação física para uma dada modalidade
profissionais da nutrição, que podem traçar um e para testes de aptidão e avaliação da composição
planejamento alimentar considerando o tipo de corporal. Esses métodos são de extrema necessi-
treino realizado, a intensidade dos exercícios, a dade, afinal, o trabalho com atletas exige resulta-
frequência e o objetivo do atleta. Para que os fato- dos e uma performance sempre alta.
res citados sejam correspondidos, é necessário dar Por isso, a avaliação da composição corporal
a devida importância à avaliação da composição se torna um fator importante, podendo mostrar

258
UNIDADE 8

uma maior concentração de gordura corporal, as- pecífico e treinamento pontual. Portanto, avaliar
simetrias musculares e uma redução na qualidade a composição corporal de modo correto propor-
muscular. Por exemplo, considere um nadador ciona um diferencial.
que, depois das férias, realiza toda bateria de ava- Além da compreensão dos parâmetros que
liações, menos a da composição corporal. Todo o mencionamos, é de suma importância realizar
trabalho é planejado com base nos resultados até uma adequada anamnese em esportistas, para
então obtidos, mas sem os dados da composição que, assim, a sua prescrição nutricional seja eficaz
corporal a avaliação dele não está completa. Isso e pontual. Vamos considerar um caso hipotético
acarreta em uma melhoria discreta da performan- para compreender como realizar os cálculos de
ce e pode ser prejudicial a longo prazo. necessidades energéticas? Suponha que você aten-
Agora, suponha que o mesmo atleta tenha da a um paciente do sexo masculino, com 21 anos.
passado pela avaliação da composição corporal É praticante de natação e compete em provas de
por DEXA, a fim de escanear todos os segmentos 100 metros livre. Ele buscou atendimento nutri-
corporais. Com essa avaliação, é possível anali- cional objetivando aumento de massa muscular
sar a gordura, o tecido muscular e a qualidade e melhora na performance durante os treinos.
da musculatura. Nessa avaliação em específico, Durante a investigação, o paciente mencio-
suponhamos que o atleta constata que está com nou que teve perda de peso recente, haja vista que
uma assimetria muscular, cuja musculatura do não estava conseguindo consumir todo o volume
braço direito está mais hipertrofiada que a do alimentar prescrito na dieta, somado ao fato de
braço esquerdo. Esse fato requer tratamento es- ter aumentando a carga de treinos. Relatou que

259
UNICESUMAR

começou a usar suplementação por conta própria, com base no que o treinador e amigos sugeriram.
De acordo com avaliação antropométrica, o paciente apresentou peso de 70 kg, altura de 1,84 m. Você
realizou aferição de dobra cutâneas e encontrou: DCtríceps de 9 mm, DCSubescapular de 11 mm,
DCBíceps de 6 mm, DCCristaíliaca de 10 mm, DCCoxa de 12 mm e DC da panturrilha de 10 mm. A
partir dos dados encontrados, qual seria a %GC do paciente? Qual seria o IMC? Em qual classificação
o paciente se encontra? Qual seria a necessidade energética dele a partir das equações propostas?
Nesta unidade, você estudará as diferentes formas de avaliar a gordura corporal de atletas e a im-
portância de cada metodologia. No paciente em questão, é possível calcular a densidade corporal por
Durnin (1974); a porcentagem de gordura corporal por Siri (1961); e, posteriormente, TMR por Scho-
field (1985), visando ao público-alvo de 18 a 30 anos. Inicialmente, calcularemos a densidade corporal:

DC  1,1765  0, 0744 x log( DCTríceps  DCBíceps  DCSubescapular  DCCristailíaca )


DC  1,1765  0, 0744 x log(9  6  11  10)
DC  1,1765  0, 07744 x log 36
DC  1,1765  0, 0744 x1, 55630
DC  1,1021x1, 55630
DC  1,175 g .ml 1

Após encontrar a DC, vamos calcular a %GC, já que necessitamos do valor para o cálculo:

%GC  495  450 / DC


%GC  495  450 / 1,175
%GC  45 / 1,175
%GC  38, 46

De acordo com Lohman, Roche e Martorell (1988), o %GC do paciente está acima da média. Bom, por
fim, vamos calcular sua TMR segundo Schofield (1985):

TMR  (0, 063 xpeso  2, 89) x 239


TMR  4, 41  2, 89 x 239
TMR  1744, 7 kcal

Finalizamos o nosso caso clínico considerando que são diversos os recursos que podem ser utilizados
para analisar o estado nutricional e o quadro clínico do paciente. Verifique sempre o caso individual-
mente e conheça os recursos que podem ser utilizados em cada caso. Anote em seu diário de bordo as
dificuldades ou as dúvidas encontradas ao longo da experimentação.

260
UNIDADE 8

O estudo da composição corporal tem sido realizado em diversas áreas e, na área esportiva não seria
diferente. Na ciência dos esportes, o perfil antropométrico ideal, principalmente em relação à compo-
sição corporal de atletas de elite, e a definição de padrões corporais a serem seguidos por aspirantes
são temas abordados constantemente. Analisar o perfil antropométrico de um paciente pode refletir
os dotes genéticos para uma determinada modalidade esportiva e determinar um nível de treinamento
necessário para a evolução da aptidão individual (TIPAPEGUI et al., 2012).
Nos estudos que buscam estabelecer uma relação entre o perfil corporal e o rendimento esportivo,
os parâmetros antropométricos mais utilizados são:

• Peso corporal.
• Estatura.
• Índice de Massa Corpórea (IMC).
• Comprimento de membros.
• Envergadura.
• Medidas de circunferência.
• Composição corporal.

261
UNICESUMAR

Alguns desses parâmetros são considerados pré-re-


quisitos para o desempenho de elite em esportes
específicos. É o caso da massa corporal em esportes
que são disputados por categorias de peso, e da esta-
tura em alguns esportes, como o basquete e o vôlei.
Em relação à composição corporal, tanto a gordura
corporal quanto a massa magra podem influenciar o
desempenho esportivo, embora não exista nenhuma
conclusão definitiva sobre essa questão.
Aliás, considerando que os diferentes tecidos do
organismo, como o adiposo, o muscular e o ósseo, po-
dem sofrer alterações induzidas pelos exercícios físicos,
a avaliação da composição corporal do atleta tem
como objetivo avaliar a influência no desempenho es-
portivo e monitorar o estado de saúde do paciente. Por
exemplo, na literatura, há a descrição da importância de
algumas variáveis morfológicas em atletas masculinos
de handebol. A estatura é a mais comentada. Ela é im-
portante para o êxito do atleta de handebol, pois pro-
porciona vantagem ofensiva e defensiva, ao arremessar
a bola de forma mais efetiva sobre o bloqueio defensivo.
Logo, a composição corporal é de suma importância
para a investigação do desempenho desportivo (DEL-
LAGRANA et al., 2010; TIRAPEGUI et al., 2012).
A avaliação e a determinação das características
antropométricas (estatura, massa corporal e com-
posição corporal) são essenciais não apenas durante
o jogo, mas durante toda a temporada, visto que essas
informações podem ser utilizadas pelo treinador para
mudar a função do jogador ou alterar a forma tática de
toda a equipe, com o objetivo de maximizar o desempe-
nho, uma vez que cada posição apresenta características
peculiares. O futebol, por exemplo, devido à duração,
pode ser considerado um esporte de endurance, dado
que promove um gasto calórico alto, tanto em dias de
jogos quanto em treinamentos.
É importante ressaltar que a função específica de
cada atleta interfere nas necessidades energéticas diá-
rias, fato que demanda atenção para que seja realiza-
da uma ingestão alimentar adequada, com o objetivo

262
UNIDADE 8

de fornecer aos jogadores as quantidades corretas de


carboidratos, gorduras e proteínas. Isso favorece um
balanço energético ideal e proporciona o início de jo-
gos com ótimos níveis de glicogênio muscular, o que é
fundamental para melhorar o desempenho atlético e
retardar a fadiga (PRADO et al., 2006).
Não obstante, a caracterização antropométrica de
um atleta reflete a forma, a proporção e a composição
corporal. Ela constitui variáveis que desempenham um
papel determinante no potencial de sucesso no esporte.
Sugere-se rever os dados dos melhores desempenhos de
nível internacional para determinação de um “modelo”
para seleção esportiva. Outrora, a identificação dos tra-
ços morfológicos, por exemplo, os quais caracterizam os
atletas de nível elevado e a variabilidade constitucional
de acordo com a especificidade, tornou-se um tema de
grande importância no âmbito da investigação científica.
Um estudo feito na Itália com atletas do sexo fe-
minino abrange a importância da somatotipologia, ao
demonstrar a homogeneidade do somatotipo no nível
de qualificação. Foi observado que, no grupo, o soma-
totipo se difere de acordo com a posição no jogo. Em
suma, os dados inferem que é necessária a observação
das variáveis antropométricas, tais como estatura, altura
de membros, somatotipo e composição corporal, e das
qualidades físicas básicas, com o intuito de diagnosticar
as características antropométricas as quais distinguem
os grupos de qualificação esportiva e estabelecer com-
parações com outras equipes (BENEDET; SILVA, 2014).
Outra modalidade que demonstra a importância
da avaliação da composição corporal é o crossfit. Acre-
dita-se que o tipo físico do atleta pode influenciar a
performance atlética. O somatotipo é uma ferramenta
importante para identificar esse parâmetro. Diante do
número de praticantes dessa modalidade e das exi-
gências físicas impostas nas sessões de treinamento
e da possível influência da composição corporal no
desempenho dos praticantes, é fundamental analisar
as informações envolvidas.

263
UNICESUMAR

Evidências recentes demonstram que a prática de modalidades em que há o predomínio de exercícios


da alta intensidade, como o crossfit, tem ocasionado expressivas modificações na composição corporal
dos praticantes. Isso demonstra que a identificação das características antropométricas é importante,
considerando a cautela que deve ser tomada na prescrição do treinamento, principalmente em relação
aos componentes “volume” e “intensidade” (CHACAO et al., 2019).
Tradicionalmente, a massa corporal e a estatura são as variáveis antropométricas básicas para quan-
tificar o corpo humano. A estatura é a principal variável, porque todas as demais estão relacionadas a
ela. Por exemplo, a quantidade da massa corporal em relação à estatura do paciente apresentará uma
proporção maior ou menor de gasto energético para o deslocamento. Esse mesmo raciocínio pode
ser aplicado às outras variáveis antropométricas, como envergadura, segmentos corporais, diâmetros
ósseos, perímetros e dobras cutâneas. Na relação envergadura/estatura, o fato de o atleta possuir uma
envergadura maior que o padrão para a estatura proporciona vantagens no desempenho da modali-
dade, assim como ocorre nos esportes de combate (FERREIRA et al., 2021).
Nos esportes de combate, as categorias são determinadas tendo como base o peso corporal do atleta, não
considerando a altura ou envergadura. A proporcionalidade corporal do atleta desencadeará a preferência
pelo uso de técnicas que sejam mais confortáveis de serem executadas de acordo com as características
físicas. Isso proporciona um menor gasto energético na realização do movimento, uma eficácia maior
na execução e a preservação de estruturas osteomioarticulares, com a prevenção de possíveis lesões em
alavancas desfavoráveis na execução de determinadas técnicas. Nesse sentido, é necessário conhecer as
características antropométricas dos atletas para que elas sejam parâmetro para um planejamento e acom-
panhamento mais adequado do treinamento, potencializando a performance (FERREIRA et al., 2021).
Você percebeu a importância da avaliação nutricional de praticantes de atividades físicas das mais
diversas categorias? Estudos demostram que atletas e indivíduos fisicamente ativos apresentam maiores
massa muscular, conteúdo mineral e densidade óssea. Eles também têm menor percentual de gordura
corporal que os indivíduos sedentários. Dependendo do tipo, da intensidade, da frequência e da du-
ração do exercício físico, as alterações na composição corporal podem ocorrer em diferentes níveis,
fatos que só podem ser identificados com uma adequada avaliação antropométrica.
O baixo percentual de gordura corporal, de certa forma, é desejável para o bom desempenho em
quase todas as modalidades esportivas, ressaltando àquelas em que o atleta se movimenta no espaço,
tanto verticalmente (esportes com saltos) quanto horizontalmente (corridas). Caso o esporte demande
apoio do peso corporal, o excedente de massa gorda ou da massa corporal inativa aumentará o gasto
energético da atividade física. Por outro lado, o menor percentual de gordura corporal não pode ser
considerado um pré-requisito para a obtenção de bons resultados esportivos.
Considere que um corredor que alcançou o recorde americano de corrida de média distância
apresentava percentual de gordura de 17%, enquanto, normalmente, é observável que os melhores
corredores apresentam percentual de gordura de 12%. Seria imprudente afirmar que a redução da
gordura corporal de um corredor para valores abaixo de 12% poderia ter algum efeito positivo no
desempenho esportivo futuro, sendo recomendado tratar cada atleta como um indivíduo, e não como
um membro de um grupo esportivo, no qual todos são encorajados a alcançar o mesmo percentual de

264
UNIDADE 8

gordura corporal. O excedente de massa gorda não parece ter muita importância para determinadas
modalidades esportivas, como o sumô e halterofilismo (TIRAPEGUI et al., 2012).
Observe o Quadro 1, que exibe os valores médios da gordura corporal relativa encontrados em
atletas do sexo masculino e feminino de alguns esportes.

Valores médios da gordura corporal em atletas

% de gordura corporal % de gordura corporal em mu-


Esporte
em homens lheres

Basquete 6-12 10-16

Fisiculturismo 5-8 6-12

Ciclismo 5-11 8-15

Futebol 6-18 -

Golfe 10-16 12-20

Ginástica 5-12 8-16

Hipismo 6-12 10-16

Hockey 8-16 12-18

Esqui 7-15 10-18

Natação 6-12 10-18

Nado sincronizado - 10-18

Tênis 6-14 10-20

Corrida (em eventos) 5-12 8-15

Voleibol 7-15 10-18

Levantamento de peso 5-12 10-18

Luta 5- 16 -

Quadro 1 - Valores médios da gordura corporal relativa encontrados em atletas do sexo masculino e feminino de alguns
esportes / Fonte: adaptada de Wilmore e Costill (1994).

Perante às evidências de que uma composição corporal favorável, ao apresentar maior proporção de
massa magra em relação à gordura corporal, pode influenciar positivamente o desempenho atlético
em determinados esportes, alguns treinadores, técnicos e os próprios atletas adotam a filosofia de que,
quanto menor o percentual de gordura corporal, melhor o rendimento esportivo.

265
UNICESUMAR

Ademais, muitos atletas são pressionados a alcançar o peso “ideal” e o menor percentual de gordura
para se enquadrar em determinadas categorias ou para aperfeiçoar o rendimento em alguns esportes.
Alguns estudos inferem que um percentual muito baixo de gordura corporal pode acarretar prejuízos à
saúde do atleta e, consequentemente, ao desempenho esportivo. Contudo, não há consenso em relação
aos limites mínimos de gordura corporal que homens e mulheres podem apresentar e que não estejam
associados a prejuízos (TIRAPEGUI et al., 2012).
Apesar de não existirem relações de senso comum para o fato citado, em uma das estimativas
existentes, propõe-se que valores iguais ou menores que 5% para homens e 8% para mulheres podem
comprometer algumas funções fisiológicas e metabólicas dos organismos. Uma síndrome chamada
“tríade da mulher atleta” é caracterizada pela presença de amenorreia (disfunção menstrual), osteo-
porose prematura e transtornos alimentares. Essa tríade pode acometer jovens atletas que participam
de esportes nos quais o baixo peso e a gordura corpórea são considerados vantajosos.
Além disso, bailarinas, ginastas e corredoras de longa distância são consideradas as mais susceptíveis
à tríade da mulher atleta, que é uma consequência da combinação de diversos fatores, como nutrição
inadequada, emagrecimento e supertreinamento. Observe o Quadro 2, que expõe os padrões percen-
tuais de gordura em homens e mulheres (TIRAPEGUI et al., 2012).

Percentuais de gordura corporal em homens e mulheres

Risco Abaixo da média Média Acima da média

Homens ≤5 6-14 15 16-24

Mulheres ≤8 9-22 23 24-31

Quadro 2 - Padrões percentuais de gordura em homens e mulheres / Fonte: adaptada de Lohman, Roche e Martorell (1988).

Considerando a importância da massa muscular, é interessante observar a distribuição dela. Sabe-se


que o desenvolvimento regional muscular de um indivíduo pode ser um reflexo da herança genética
ou de um treinamento muscular isolado, podendo exercer importante influência na habilidade dos
indivíduos em executar determinadas tarefas, como a prática de algum esporte.
Desse modo, o maior desenvolvimento muscular de regiões corporais específicas pode contribuir
para o melhor rendimento do atleta em um determinado esporte. Aliás, essa distribuição muscular
pode apresentar diferenças perante à modalidade esportiva praticada, como os jogadores de voleibol,
os quais são adaptados a um jogo relativamente estacionário. Assim, não apresentam desenvolvimento
muscular corporal muito grande, com exceção dos membros superiores. Por outro lado, em outros
esportes, como o basquetebol e o handebol, que demandam mais movimento em comparação ao vo-
leibol, o desenvolvimento muscular dos jogadores é maior e abrange praticamente todas as partes do
corpo (TIRAPEGUI et al., 2012).
Um fato que merece atenção no que diz respeito ao desenvolvimento muscular regional é o de
que ele não influencia a redução da gordura subcutânea local. Por exemplo, em jogadores de tênis, a

266
UNIDADE 8

quantidade de tecido adiposo subcutâneo presente nos dois antebraços (determinada pela medida de
dobras cutâneas) é a mesma, apesar do maior desenvolvimento muscular do antebraço dominante
(determinada pela medida da circunferência). O efeito do exercício físico na mobilização da gordura
corporal resulta da liberação de hormônios, os quais são carreados pelo sangue, para que possam agir
nas reservas de gorduras em todo corpo, principalmente no tecido visceral (TIRAPEGUI et al., 2012).
Falamos muito sobre a massa muscular e a distribuição dela, mas é importante compreender do que
esse termo trata, pois são geradas muitas confusões. Os termos massa magra (MM) e massa livre de
gordura (MLG) são frequentemente utilizados para identificar o mesmo componente corporal, porém
alguns estudos usam esses termos para representar dois compartimentos distintos. A massa magra é
composta por todos os tecidos corporais, como o ósseo, o muscular esquelético e o visceral, menos o
tecido adiposo. Nesse modelo, leva-se em consideração o conteúdo de lipídeos essenciais (fosfolipídios,
esfingolipídios e colesterol) presentes nos tecidos formadores de massa magra. Isto é:

MM= massa corporal total (+lipídeos essenciais) – tecido adiposo

No tecido adiposo, há uma pequena quantidade de lipídios essenciais, proteínas e água, os quais de-
sempenham funções importantes nos adipócitos. A massa livre de gordura, por sua vez, é constituída
por todos os tecidos corporais, menos o tecido adiposo, desconsiderando os lipídeos essenciais no
primeiro componente. Isto é:

MM= massa corporal total (- lipídeos essenciais) – tecido adiposo

Considerando os conceitos apresentados, gera-se uma confusão em relação ao conceito de gordura ou


de lipídeos como componentes da composição corporal. Ao considerar que esses termos representam
um grupo de compostos químicos (triacilgliceróis, fosfolipídios, esfingolipídios, colesterol e outros
lipídeos) e que podem ser encontrados em diferentes quantidades nos tecidos corporais, como no
tecido muscular esquelético e no adiposo, o uso de ambos pode não ser o mais adequado.
Logo, o desentendimento em relação ao conceito de lipídeos como componentes corporais também
ocorre no nível molecular. No modelo químico de classificação da composição corporal, que divide o
corpo em cinco componentes (gordura, proteína, água mineral e glicogênio), não é claro se a gordura
representa os triacilgliceróis ou os lipídeos totais. Portanto, nota-se que, nas avaliações da composição
corporal, os lipídeos essenciais são negligenciados como componente corporal. Por outro lado, ao
considerar que os métodos atuais de medida indireta da composição corporal não fazem nenhuma
estimativa da quantidade de lipídios essenciais presentes nos compartimentos não gordurosos, alguns
autores propõem que o termo “massa livre de gordura” inclua os lipídios essenciais como componentes.
Em um modelo molecular alternativo de classificação da composição corporal, a massa livre de
gordura é representada pelo mesmo compartimento denominado de massa magra, enquanto os tria-
cilgliceróis são representados pela gordura corporal (TIRAPEGUI et al., 2012). Observe a Figura 1,
que ilustra o modelo molecular corrente da composição corporal (peso) e o modelo alternativo.

267
UNICESUMAR

Figura 1 - Modelo molecular corrente da composição corporal e do modelo alternativo / Fonte: adaptada de Tirapegui et al. (2012).

Descrição da Imagem: trata-se de um fluxograma. No centro, há uma caixa de texto na cor vermelha representando a composição
corporal. Dela, saem três caixas de texto na cor rosa: o peso corporal, a massa livre de lipídeos e a massa livre de gordura ou massa
magra. Deste último, saem algumas caixas de texto na cor azul, como a água, a proteína, o glicogênio, os minerais e os não-triglicerí-
deos. Da massa livre de lipídeos, saem a água, os minerais, a proteína e o glicogênio. Do peso corporal, saem o glicogênio, os minerais,
a proteína, a água e a gordura.

Um ponto de reflexão está no fato de que a composição corporal do atleta não está baseada apenas nas
taxas de massa muscular ou massa gorda. Outro fator importante que atua na performance dos atletas é a
hidratação, já que a desidratação pode trazer consequências desagradáveis, como a diminuição da força
muscular, o aumento do risco de câimbras, a hipertermia e, consequentemente, a queda no desempenho.
O esforço físico, associado ao estresse térmico, aumenta a produção de suor e o fluxo sanguíneo
cutâneo. Se há uma produção de calor maior que a capacidade de dissipá-lo, há um aumento da tem-
peratura corporal (hipertermia). Logo, a sudorese corresponde à principal via de dissipação de calor do
organismo humano durante exercícios vigorosos em condições ambientais desfavoráveis. Além da água,
o suor contém eletrólitos que são perdidos. Caso eles não sejam repostos adequadamente, é possível
gerar desequilíbrios hidroeletrolíticos que têm impacto adverso no desempenho e na saúde dos atletas.
O total de perdas de eletrólitos no suor depende diretamente da taxa de sudorese e da concentração no
suor, sendo o sódio e o potássio os dois eletrólitos mais presentes na composição. Dessa forma, para uma
composição corporal adequada, é preciso uma alimentação balanceada e nutritiva, além de um aporte

268
UNIDADE 8

hídrico adequado para melhorar o desempenho dos atletas e evitar a perda liquida por meio da sudorese,
o que pode acarretar um estado de desidratação (FERIGOLLO; TRENTIN; CONFORTIN, 2012).
Em relação à avaliação da composição corporal do atleta, estão disponíveis diversos recursos
tecnológicos. Eles podem atender em maior ou menor grau os diversos tipos de avaliação a que são
destinados. Alguns recursos, como a pesagem hidrostática, a hidrometria e a absortometria radiológica
de dupla energia (DEXA), são utilizados para a obtenção de medidas de referência da composição
corporal e para o desenvolvimento da equação de predição em que os métodos de campo, como an-
tropometria e bioimpedância, são validados.
No entanto, esses métodos de referência não podem ser considerados, individualmente “padrão-ouro”,
para a avaliação da composição corporal, visto que existem controvérsias sobre qual deles seria a melhor
referência da composição corporal, a fim de alcançar resultados mais fidedignos (TIRAPEGUI et al., 2012).
Durante uma avaliação específica da composição corporal de atletas, há grande interesse em técni-
cas que, além de avaliarem a proporção da massa gorda e da massa magra, são capazes de monitorar,
em curto prazo, os efeitos de um determinado treinamento e/ou estratégia alimentar e de fazer essa
avaliação em segmentos isolados do corpo, o que torna possível o monitoramento do desenvolvimento
muscular regional, por exemplo, dos membros inferiores.

269
UNICESUMAR

Logo, existem métodos, como a ressonância magnética, a tomo-


grafia computadorizada e o DEXA, que podem atender aos propó-
sitos específicos da avaliação de um atleta. Todavia, os recursos mais
utilizados em consultórios, devido, principalmente, ao baixo custo e
à facilidade de deslocamento, são a antropometria e a bioimpedância
elétrica (TIRAPEGUI et al., 2012).
Iniciaremos as análises de cada um desses métodos, iniciando
pela pesagem hidrostática, também chamada de hidrodensito-
metria. Ela utiliza o princípio de Arquimedes. Portanto, um corpo
totalmente submerso em água sofre a ação da força de empuxo,
que é evidenciada pela perda de peso proporcional ao peso líquido
deslocado. Dessa forma, quando um indivíduo é submerso em um
tanque com água, o volume corporal é calculado pela diferença entre
o peso corporal fora e dentro da água, corrigindo-se a diferença de
pesos pela densidade da água.
Também há a necessidade de corrigir a diferença dos volumes
de ar presentes nos pulmões e dos gases encontrados no trato gas-
trointestinal, visto que podem interferir na estimativa do volume
corporal. Assim, a partir da divisão do peso pelo volume corporal, é
determinado o valor da densidade corporal, o qual pode ser subse-
quentemente convertido em percentual de gordura corporal.
Há as equações de Siri e Brozek (baseada no modelo de dois
compartimentos) que são as mais utilizadas para estimar a gordura
corporal por meio da densidade. Essas equações utilizam um padrão
de referência corporal em que as variações na densidade em relação
a esse padrão são tidas como maior ou menor conteúdo de gordura
(TIRAPEGUI et al., 2012). Observe-as:

Siri %  %Gorduracorporal  (4, 95 / densidade  4, 50) x100


Brozek  %Gorduracorporal  (4, 57 / densidade  4,142) x100

Para compreendermos melhor as fórmulas, é importante considerar


que a equação de Siri assume que a densidade da gordura (0,901 g/ml)
e a densidade da massa magra (1,10 g/ml) são constantes para todos
os indivíduos. Contudo, a densidade do compartimento magro não é
constante para todos os indivíduos, variando de acordo com a idade,
o nível de gordura corporal, a atividade física e étnica. Por exemplo, a
densidade da massa magra de indivíduos negros pode ser maior que
1,10 g/ml em razão do maior conteúdo mineral e da densidade óssea.

270
UNIDADE 8

Dessa forma, o percentual de gordura corporal, mensurada por meio


da pesagem hidrostática, pode ser subestimado nesses indivíduos.
Essa situação pode ser observada em alguns grupos de atletas
altamente treinados, nos quais o exercício físico provoca o aumento
da massa mineral óssea, da massa muscular e do volume do líquido
extracelular. Assim, a densidade da massa magra desses indivíduos
seria maior do que o valor de referência, causando subestimação
da gordura corporal. A pesagem hidrostática foi considerada o “pa-
drão-ouro” na determinação da composição corporal. Todavia esse
método apresenta algumas limitações que prejudicam o uso dele
como método de referência. Podem ser citados os seguintes aspectos:

• Pode haver a existência de erro durante o procedimento, pois


requer operadores experientes.
• Pode haver flutuações no peso corporal devido aos fatores
que afetam o estado de hidratação, como estágio do ciclo
menstrual, horário do dia, prática de exercício físico, presença
de patologias e uso de medicamentos.
• Pode haver diferenciação no volume residual pulmonar oca-
sionada por alguns fatores, tais como idade, altura, peso e
cavidade vital.
• Pode haver a impossibilidade de ser usado em pessoas que
apresentam algum tipo de aversão ao processo de imersão
em água.
• Pode haver diferença na densidade dos componentes magros
entre os indivíduos. Isso pode ocasionar erros na conversão
da densidade em gordura corporal.

Considerando todos os fatores envolvidos na estimativa da densi-


dade corporal, durante as últimas décadas, diversos estudos foram
realizados para o desenvolvimento de um método que estimasse a
densidade corporal a partir da mensuração do volume pelo desloca-
mento de ar. A pletismografia pelo deslocamento de ar era feita
inicialmente em uma espécie de câmara ou quarto, onde os indiví-
duos ficavam confinados durante todo o procedimento de medida
(Figura 2). Entretanto, o uso desse tipo de equipamento não se tornou
uma rotina, fato que estava envolto em problemas técnicos associados
à baixa reprodutibilidade e à validade dos resultados.
Outro grande problema apresentado nos primeiros modelos de
pletismográfo estava relacionado aos designs deles, considerados

271
UNICESUMAR

inadequados para o uso rotineiro em análises da composição corporal. Atualmente, há um novo modelo
de câmara pletismográfica, que apresenta um novo sistema de deslocamento de ar mais sofisticado. Ele
não apresenta vários problemas encontrados nos primeiros equipamentos. Além disso, tem algumas
vantagens em relação à pesagem hidrostática, incluindo:

• Maior precisão.
• Requer mínima cooperação do avaliado.
• Pode ser empregado na avaliação de crianças, idosos, obesos e enfermos.
• Simplicidade e rapidez de operação, já que exige, aproximadamente, um minuto de análise.
• Design mais apropriado (compacto), podendo ser transportado.

Figura 2 - Exemplo de um adulto realizando um exame de pletismografia de deslocamento de ar


Fonte: Procedimentos... ([2022], p. 8).

Descrição da Imagem: na figura, há duas fotos: à esquerda, há um homem sentado em um pletismografo aberto. Na da direta, o
pletismografo está fechado. O pletismografo é uma cápsula branca com espaço interior para comportar uma pessoa adulta sentada.

272
UNIDADE 8

A hidrometria é uma determinação da composição corporal a partir da suposição de que, conhecen-


do-se a quantidade de água no organismo, é possível estimar a massa magra de um indivíduo, dado
que a fração de hidratação é relativamente a mesma (0,73 para indivíduos saudáveis). Logo, para a
determinação da água corporal de um indivíduo, são administradas, por via oral ou intravenosa,
substâncias marcadoras, incluindo a água marcada com isótopos de hidrogênio e de oxigênio, sendo
o último o marcador o mais utilizado.
A concentração dos isótopos em fluídos fisiológicos (saliva, plasma ou urina) é mensurada após o
equilíbrio entre os vários compartimentos do organismo. Nesses fluídos, a concentração da substância
marcadora é menor em relação à concentração da solução administrada, visto que a substância foi
diluída entre os compartimentos corporais. Essa diferença pode ser utilizada para estimar a quantidade
de água corporal total e massa magra, que pode ser determinada da seguinte forma:

Massamagra = águacorporaltotal / 0, 73

Além disso, a hidrometria é considerada limitada para obtenção de medidas de referência da compo-
sição corporal, uma vez que a constante de hidratação dos tecidos magros pode ser diferente entre os
indicadores. A absortometria de raios x de dupla energia (DEXA) é considerada uma tecnologia
que vem ganhando reconhecimento no estudo da composição corporal. O princípio dela é caracteri-
zado pelo nível de absorção diferencial de fótons emitidos de duas energias.
A emissão de fótons ocorre de maneira rápida e intensa. Desse modo, o indivíduo é exposto a uma
pequena radiação e, durante esse processo, um scanner passa sobre o corpo e os dados são analisados.
Como o cálculo da gordura corporal e da massa magra se baseiam em constantes, há sempre o questio-
namento da validade desses pressupostos. No caso das constantes citadas, não são relatados problemas
com a gordura corporal. Por outro lado, há questionamentos sobre a constante da massa magra, em
razão da variação do nível de hidratação desse tecido, que pode diferir dos 0,73 ml/g assumidos na
equação, especialmente em pacientes hospitalizados e idosos (TIRAPEGUI et al., 2012).
Outro fator que deve ser analisado são as diferenças entre o peso corporal medido pela balança
antropométrica e o peso resultante da soma dos componentes da composição corporal indicados pelo
(DEXA). Alguns estudos têm demonstrado diferenças importantes e sugerem que a discrepância entre
os valores não deve ser superior a 1 kg, para evitar erros de medida na composição corporal. Apesar
disso, o uso da tecnologia tende a se ampliar e já são encontrados estudos internacionais com valores
de referência da composição corporal da população com base nesse método (TIRAPEGUI et al., 2012).
Também há a tomografia computadorizada e a ressonância magnética. A tomografia compu-
tadorizada é considerada um método radiológico usado, geralmente, com propósitos diagnósticos
em hospitais. Nesse método, um feixe de raio x passa através dos tecidos com densidades diferentes,
produzindo imagens radiográficas bidimensionais em corte transversal de diferentes segmentos cor-
porais. No método de imagem por ressonância magnética, a radiação eletromagnética, que simboliza a
presença de um campo magnético, excita os núcleos de átomos de hidrogênio, os quais são abundantes
nos tecidos biológicos.

273
UNICESUMAR

Os núcleos são detectados por um sinal, que é para derivar a gordura corporal. Assim, a estima-
reorganizado por meio de um software apropriado tiva da quantidade de gordura corporal pode ser
de computador para produzir imagens de vários realizada pelo somatório de diversas dobras e,
tecidos corporais. Algumas vantagens da tomogra- dependendo da equação selecionada, adotam-se
fia computadorizada e da ressonância magnética regiões anatômicas específicas para realização das
estão na medida regional e total da distribuição do medidas (TIRAPEGUI et al., 2012).
tecido adiposo e na quantificação da massa magra Em relação à fidedignidade, a medida da do-
e dos principais constituintes dela (músculos, ossos bra cutânea pode ser afetada por alguns fatores,
e órgãos). Em comparação à tomografia compu- como a escolha da equação de predição, o tipo de
tadorizada, a ressonância magnética é preferível, instrumento utilizado, o grau de habilidade do ava-
em decorrência da ausência de radiação ionizante e liador, a variabilidade de resultados encontrados por
por não apresentar problemas quanto à realização diferentes avaliadores e os aspectos relacionados
de diversas medidas. Porém, para a obtenção de ao indivíduo avaliado. Esses erros são causados, na
uma imagem mais precisa da gordura visceral, a maioria das vezes, em decorrência da localização
tomografia computadorizada é considerada su- imprópria dos pontos anatômicos, provavelmente,
perior (TIRAPEGUI et al., 2012). pela falta de padronização dos locais de medida ou
As medidas de espessura das dobras cutâneas até mesmo pela falta de prática do avaliador.
constituem um procedimento antropométrico am- A variabilidade das medidas entre os indivíduos
plamente utilizado para avaliação da composição avaliados pode ocorrer pela diferença na espessu-
corporal em pesquisas epidemiológicas em uso ra da pele, pelo nível de hidratação, pelo grau de
clínico. Em comparação aos métodos mais moder- compressão do tecido adiposo, além da diferença
nos, apresentam algumas vantagens, como baixo de gordura subcutânea local. Inúmeras equações de
custo, não são invasivas, têm rapidez na execução predição utilizando as medidas de dobras cutâneas
das medidas e facilidade de transporte. Baseiam-se têm sido propostas para a avaliação da composição
no fato de que grande proporção de gordura total corporal de grupos populacionais generalizados
é representada pelo tecido adiposo subcutâneo. ou específicos. As equações generalizadas são ba-
Como a gordura subcutânea não é distribuída seadas em amostras representativas da população
de maneira uniforme pelo corpo, as medidas das heterógena, com amplas faixas quanto à idade e ao
dobras cutâneas podem ser realizadas em vários nível de gordura corporal.
locais, justamente para prever a quantidade de gor- Por outro lado, assume-se que as equações
dura e a distribuição corporal dela. específicas são válidas para populações relativa-
Basicamente, existem duas maneiras de ana- mente homogêneas, considerando característi-
lisar as medidas das dobras cutâneas. Em uma cas similares, como idade, sexo, diferença étnica,
delas, é utilizado o valor das medidas de espessura quantidade de gordura corporal e atividade física.
das dobras cutâneas de diferentes locais anatômi- De qualquer forma, na avaliação de uma equação
cos para se obter dados isolados do tecido adipo- de predição, é importante observar a validade dela
so. Outra maneira é a combinação com equações em relação aos integrantes da população que será
matemáticas, estimando-se a densidade corporal avaliada (TIRAPEGUI et al., 2012).

274
UNIDADE 8

Inúmeras são as fórmulas matemáticas utilizadas para predição da composição corporal e inúmeras
foram as marcas dos plicômetros utilizados para a elaboração e a validação delas. Independente-
mente da equação, é preciso cuidado com as características específicas de cada instrumento. Um
estudo conduzido por Schimidt et al. (1990) concluiu que diferentes marcas de adipômetros exercem
diferentes pressões nos tecidos, de acordo com a amplitude das hastes. A marca Harpenden®, por
exemplo, apresentou valores de força compressa inferiores à marca Lange®, em 50-100%.

A bioimpedância elétrica (BIA) é um dos métodos mais utilizados para avaliação da composição
corporal em atletas e esportistas, sendo também empregado para determinação do estado de hidratação
desses indivíduos. A escolha da BIA pode ser explicada pelo fato de atender a alguns pré-requisitos
essenciais, tais como: ser segura, rápida, não invasiva e relativamente econômica.
A impedância (oposição oferecida por um circuito elétrico a uma corrente alternada) compreende a
resistência (R) e a reactância (X) e, na teoria, é calculada como a raiz quadrada de R2+X2. No entanto, sob
condições usuais para determinação da composição corporal, a contribuição da reactância na oposição da
corrente elétrica é pequena e, consequentemente, a resistência é usada como um substituto da impedância.
Logo, a BIA, quando empregada na avaliação da composição corporal, prediz informações quanto à
impedância (resistência) que o corpo humano oferece à condução de uma corrente elétrica. A impedância
ao fluxo de corrente elétrica é baixa em tecidos que apresentam grande quantidade de fluidos corporais
e eletrólitos. Entretanto, é alta em tecidos secos, como os tecidos adiposo e ósseo (TIRAPEGUI et al.,
2012). Observe a Figura 3, que exibe um esquema experimental de como ocorre a passagem elétrica.

275
UNICESUMAR

Figura 3 - Esquema do arranjo experimental para medida de bioimpedância / Fonte: Silva, Carvalho e Freitas (2019, p. 5).

Descrição da Imagem: trata-se de um desenho de um corpo humano. Nele, estão representadas algumas resistências geradas pela
BIA, na cor azul, com um ponto vermelho na mão e no pé esquerdos do corpo. Ao lado da figura, há um esquema que representa de
como se dá a passagem da resistência.

Na prática, uma pequena e constante corrente elétrica é passada


entre os eletrodos espalhados pelo corpo e a queda da voltagem é
mensurada. A partir de um conjunto que inclui o valor obtido da
resistência da corrente elétrica, a estatura do analisado e a equação
de predição apropriada, estima-se a massa magra. A massa gorda
é calculada pela diferença existente entre o peso corporal total e a
massa magra. Nesse método, a conversão dos dados obtidos pela
BIA para alguma medida de composição corporal pode ser realiza-
da com equações matemáticas de populações específicas ou gerais.
Equações específicas têm sido desenvolvidas para subgrupos ho-
mogêneos quanto à idade, ao sexo, ao percentual de gordura corporal
e à etnia. Contudo, a maioria dessas equações foi extraída a partir
de estudos com indivíduos brancos, o que pode implicar em erros
de medida quando esse método for empregado em indivíduos com
diferentes características raciais (TIRAPEGUI et al., 2012).

276
UNIDADE 8

A avaliação da composição corporal é de grande importância para que os


profissionais da área da saúde possam obter informações individuais de
qualidade e propor as melhores estratégias para a obtenção dos objeti-
vos. Para tanto, é importante conhecer o método a ser utilizado. Sugiro
a leitura do artigo Comparação da composição corporal utilizando dobras
cutâneas e bioimpedância em adultos jovens, que compara a mensuração
da composição corporal por intermédio de distintos protocolos.

Para ilustrar o efeito dos fatores mencionados, a validação da BIA


para estimativa da composição corporal em atletas foi verificada
em um estudo que confrontou os resultados obtidos com esse mé-
todo e os conquistados com a pesagem hidrostática. Esse estudo foi
realizado com 104 atletas de ambos os sexos e praticantes de dife-
rentes modalidades esportivas, com a formação de um grupo não
controlado (sem controle da hidratação, exercícios e dieta) e de um
grupo com indivíduos em condições controladas (medida tomada
após um período sem a realização de exercícios físicos e duas horas
após uma refeição leve).
Observe o Quadro 3. Os resultados indicam a necessidade de
controle das condições de medidas para obtenção de estimativas
válidas da composição corporal utilizando a BIA. Logo, algumas
recomendações devem ser feitas para o avaliado antes da reali-
zação da medida da BIA, objetivando a qualidade dos resultados
(TIRAPEGUI et al., 2012). Observe-as:

• Não usar medicamentos diuréticos nos últimos 7 dias.


• Não ingerir bebidas alcóolicas nas últimas 48 horas.
• Não praticar atividades físicas intensas nas últimas 24 horas.
• Jejuar pelo menos por 4 horas.
• Urinar pelo menos 30 minutos antes da medida.
• Ficar em repouso (decúbito dorsal), pelo menos, de 5 a 10
minutos antes da realização da medida.

Em suma, as propriedades relativas à acurácia e à medida da gordu-


ra regional dos métodos descritos estão apresentadas no Quadro 4.

277
UNICESUMAR

Pesagem hidrostática Bioimpedância

Não controlados Controlados Não controlados Controlados

Massa corporal 73,0±2,1 75,3±2,3 73,0±2,1 75,3±2,5

Massa magra 61,2±1,6 62,5±1,5 63,4±1,4 62,7±1,4

Massa gorda 11,8±0,3 12,8±0,4 9,6±0,3 12,6±0,4

Gordura
16,2±0,5 16,9±0,4 13,2±0,4 16,7±0,5
corporal %

Quadro 3 - Comparação dos valores da composição corporal determinados pela pesagem hidrostática e pela BIA
Fonte: adaptado de Tirapegui et al. (2012).

Método Acurácia Medida da gordura regional

Dobras cutâneas Baixa Sim


BIA Alta Sim
Pesagem hidrostática Alta Não
Pletismografia Alta Não
Hidrometria Alta Não
DEXA Alta Sim
Tomografia computadorizada Alta Sim
Ressonância magnética Alta Sim

Quadro 4 - Métodos para a estimativa da gordura corporal e algumas propriedades / Fonte: adaptado de Pi-Sunyer (2000).

Envolto na avaliação do estado nutricional adequado, é importante garantir o bom rendimento em di-
versos eventos esportivos. Entretanto, muitos atletas, visando melhora no rendimento esportivo, passam
por processos inapropriados de redução de peso corporal, quadro que pode colocar em risco a saúde e
o desempenho. Um estado nutricional prejudicado presente nesses indivíduos não pode ser comparado
com o encontrado em pacientes com desnutrição proteico- calórica severa e naqueles que sofrem de
anorexia nervosa, uma vez que ocorre de forma subclínica e não diagnosticada pelo exame físico.
Perante ao exposto, alguns pesquisadores passaram a incluir na avaliação de atletas (habitualmente
composta pela observação de parâmetros antropométricos e de consumo alimentar) alguns parâmetros
laboratoriais indicativos do estado nutricional. Dentre eles, os mais investigados são os relacionados
ao sistema imunológico e ao estado nutricional relativo ao ferro (TIRAPEGUI et al., 2012).
A deficiência nutricional ocasionada pela limitação da ingestão de substratos proteicos, energéticos
e de alguns micronutrientes (Zn, Fe, Se e vitaminas A, B6 e E) é considerada determinante da redução
da imunocompetência, condição que pode resultar no aumento do risco para infecções. Por outro lado,
o exercício físico de alta intensidade e de longa duração tem sido associado à redução das funções de

278
UNIDADE 8

alguns elementos do sistema imune, o que pode sistema inato responde aos estímulos de modo
estar relacionado ao maior risco de infecções no não específico. Já o sistema imune adaptativo
sistema respiratório superior de atletas de elite. responde ao antígeno de modo específico, apre-
As infecções, de modo geral, podem afetar de sentando memória. O primeiro é composto por
forma negativa o desempenho do atleta, princi- células (neutrófilos, eosinófilos, basófilos, monó-
palmente na interação com outros fatores, como citos e células natural killer) e por fatores solúveis
a ingestão inadequada de nutrientes e o estresse (sistema complemento, proteínas de fase aguda e
psicológico, que pode ser observado em atletas de enzimas). O segundo é composto por células do
elite. Existe uma pequena implicação clínica que tipo linfócitos T e B e por fatores humorais, as
um treinamento esportivo pode exercer sobre o imunoglobulinas (como o anticorpo)
sistema imunológico de um atleta. Logo, avaliar Essa é uma visão didática de como um ele-
as imunocompetências pode servir para diag- mento do sistema inato pode agir como efetor
nosticar condições subclínicas que podem estar ao sistema adaptativo. Apesar de o exercício ser,
envolvidas com o aumento de risco de infecções, de certa forma, classificado como um estímulo
principalmente naqueles que seguem uma dieta estressante, ele pode ser dividido em resposta
hipocalórica (TIRAPEGUI et al., 2012). aguda e adaptação crônica. A resposta aguda
Durante o último século, a população dos paí- é a reação transitória ao estresse, enquanto o
ses desenvolvidos e em desenvolvimento se tor- estímulo crônico gera a resposta de adaptação
nou menos ativa fisicamente, seja pela mudança crônica ao exercício, que habilita o organismo
do tipo de trabalho, seja pela adoção de novos a tolerar de maneira mais adequada o estresse
hábitos cada vez mais sedentários. Essa mudan- (ROSA; VAISBERG, 2002).
ça tem levado a um aumento na incidência de Sendo assim, a prática regular de exercício
doenças crônicas, como as doenças cardiovas- físico pode ser benéfica para saúde, porém, pa-
culares e a diabetes do tipo 2. Além do mais, tem râmetros, como volume e intensidade, devem
promovido um aumento da obesidade, desordens ser observados na prescrição, para que dele se
musculoesqueléticas, doenças pulmonares, certos obtenha melhores resultados. De modo geral,
tipos de câncer e patologias neurológicas. o exercício de intensidade moderada promove
Como vimos, as respostas promovidas pelo proteção contra infecções causadas por micror-
exercício afetam distintos componentes do sis- ganismos intracelulares, pois direciona a res-
tema imune. O exercício de intensidade mode- posta imune para a predominância de celular
rada pode estimular parâmetros relacionados Th1 (T- helper tipo 1- um tipo específico de
à imunidade celular e, assim, diminuir o risco linfócitos). Por outro lado, atividades de alta in-
de infecção, enquanto o exercício de alta inten- tensidade geram aumento das concentrações de
sidade pode promover um decréscimo desses citocinas anti-inflamatórias Th2 (T helper tipo
parâmetros, aumentando o risco de doenças 2), visando à diminuição dos danos no tecido
infecciosas (TERRA et al., 2012). muscular resultantes da inflamação, embora isso
Para compreendermos um pouco mais essa possa resultar no aumento da susceptibilidade
relação, o sistema imunológico é dividido em dois às infecções (TERRA et al., 2012).
grandes ramos: o sistema inato e o adaptativo. O

279
UNICESUMAR

Estamos observando a importância de uma adequada avaliação nu-


tricional em pacientes que praticam atividades físicas e/ou atletas. Ao
longo de sua jornada profissional, você atenderá inúmeros pacientes
que estão com o olhar voltado à pratica de exercícios físicos e caberá a
você elaborar uma estratégia nutricional perante às necessidades e às
expectativas de seu paciente.
Além disso, trabalhará com encaminhamentos, muitas vezes, realizados
por educadores físicos, haja vista que a associação de um bom treina-
mento e uma boa dieta geram resultados fantásticos. Assim, em nosso
podcast, teremos a participação de um educador físico, a fim de enrique-
cer o nosso bate-papo sobre a importância do trabalho em conjunto do
nutricionista e do profissional de educação física. Acompanhe a nossa
conversa! Ela será muito enriquecedora.

Os atletas apresentam uma rotina de treinamento que precede as competições, geralmente, muito
desgastante. Essa rotina tem, como intuito, o aumento do desempenho do indivíduo, partindo do
pressuposto de que o treinamento exaustivo proporciona uma série de adaptações fisiológicas positi-
vas que maximizam o rendimento do atleta. Logo, a capacidade das vias metabólicas em manter um
ritmo satisfatório de síntese energética (ATP), de acordo com a demanda dos músculos ativos, não
depende apenas da concentração do substrato energético, mas também de uma ingestão adequada de
micronutrientes. Eles são fundamentais para a síntese de enzimas e cofatores enzimáticos capazes de
efetuar, em uma velocidade apropriada, as transformações químicas necessárias para a eficaz extração
de energia a partir da estrutura molecular dos substratos (ARAÚJO et al., 2011).
Dentre os vários micronutrientes necessários à biossíntese de compostos essenciais envolvidos nos
inúmeros processos bioquímicos e fisiológicos do organismo, o ferro merece destaque, não apenas em
razão das consequências atribuídas à baixa concentração desse mineral sobre o metabolismo energético,
mas também pela susceptibilidade do organismo à carência do metal. Atletas do sexo feminino cons-
tituem a população mais afetada por esse tipo de deficiência, já que o ferro é um dos micronutrientes
mais comumente relatados como insuficientes da dieta.
Sustentando a omissão férrica dietética, existem vários fatores agregados que não estão apenas vin-
culados à dieta, mas também somados a ela. Eles podem interferir no balanço negativo desse mineral.
Envoltos aos fatores etiológicos que contribuem para a depleção do ferro orgânico no esporte, há: a
hemorragia gastrointestinal, a hemólise por impacto, a hemólise por radicais livres, as perdas férricas
por meio da transpiração e as perdas fisiológicas apresentadas por atletas do sexo feminino, a partir
do ciclo menstrual. Portanto, é crucial fazer um acompanhamento mais detalhado para realizar um
diagnóstico preciso da deficiência de ferro (ARAÚJO et al., 2011).
Organizar a coleta de informações importantes durante a entrevista realizada na consulta é in-
dispensável para o fechamento do diagnóstico. Logo, a anamnese nutricional do atleta é composta
pelos seguintes tópicos:

280
UNIDADE 8

• Dados pessoais: data de avaliação, nome, data de nascimento, idade, escolaridade, profissão,
endereço, telefone, e-mail.
• Dados gerais: indicação, objetivos, modalidade esportiva, informações sobre o treino, atividades
diárias de rotina (estudo, trabalho, horas e qualidade do sono).
• Dados clínicos: história mórbida atual, história mórbida pregressa, história familiar, uso de
medicamentos, cirurgias prévias, etilismo, tabagismo.
• Exame físico.
• Sinais e sintomas.
• Avaliação do consumo alimentar: quem prepara a refeição, em que local faz as refeições durante
a semana e fim de semana, apetite, preferências alimentares, aversões alimentares, intolerâncias
e/ou alergias alimentares, mastigação, função intestinal, ingestão hídrica.
• Avaliação bioquímica.
• Avaliação da composição corporal.
• Diagnóstico nutricional.
• Prescrição nutricional.

Além da anamnese, é de suma importância realizar um adequado exame físico, que serve de comple-
mento aos dados clínicos e à avaliação do consumo alimentar. Esse exame deve ser realizado de forma
organizada e sequencial, com início pela observação da aparência geral, a qual inclui: estado geral do
indivíduo, ânimo, depressão, fraqueza, tipo físico, discursos e movimentos corporais, sistemas corpo-
rais (cardiovascular, respiratório, neurológico e gastrointestinal) e estado de hidratação do indivíduo.
Para análise corporal, sugere-se uma sequência progressiva, começando pela cabeça até chegar aos
membros inferiores e aos sistemas. A avaliação do consumo alimentar também é um item imprescin-
dível e complementar aos elementos envolvidos na avaliação do estado nutricional do praticamente
de atividade física e do atleta. A avaliação dietética tem por objetivo analisar o consumo alimentar em
determinado período de tempo pré-estabelecido (dia, mês ou ano) e direcionar a prescrição dietética,
que pode ser interpretada de forma quantitativa e qualitativa. É importante o uso dos inquéritos ali-
mentares que avaliam de forma retrospectiva (informações sobre o que já foi consumido no passado
recente ou tardio) e daqueles que avaliam de forma prospectiva (informações recentes) (FARIAS, 2020).
Para cálculo da porcentagem de gordura corporal de atletas, são utilizados alguns protocolos, como
o protocolo de Jackson e Pollock (1985), que realiza o cálculo da %GC utilizando o somatório de
quatro dobras (tricipital, abdominal, suprailíaca e coxa). O protocolo Jackson e Pollock (1978) utiliza
uma fórmula generalizada para o cálculo da densidade corporal (DC) em homens de 18 a 61 anos,
utilizando o somatório de sete dobras (subescapular, tricipital, abdominal, suprailíaca, coxa, peitoral
e axilar média). O resultado da DC possibilita o cálculo do percentual de gordura, a partir do uso da
fórmula de Siri (1961).
Também é utilizado o protocolo de Faulkner (1968), que calcula a %GC utilizando a soma de quatro
dobras (subescapular, tricipital, abdominal e suprailiaca), podendo ser utilizada em homens jovens
treinados, exceto em mulheres, idosos e crianças. Por fim, há o protocolo de Guedes e Sampedro (1985),
que utiliza o somatório de três dobras (tricipital, abdominal, suprailiaca) e, para cálculo da densidade

281
UNICESUMAR

corporal, basta aplicar a fórmula de Siri (1961). É importante frisar que não há, na literatura, valores de
referência específicos para avaliação do estado nutricional de atletas. Logo, são adotados critérios de
identificação do estado nutricional da população adulta não atleta (FAGUNDES; BOSCAINI, 2014).
Observe o Quadro 5, que expressa as principais equações propostas.

Equação Dobras cutâneas

Jackson e Pollock (1985)


Tríceps, abdominal, supraíliaca, coxa.
%GC  0, 29288( 4)²  0,15845 xidade  5, 76377

Jackson e Pollock (1978)


Subescapular, tricipital, abdominal,
DC  1,112  0, 00043499( 7)  suprailíaca, coxa, peitoral e axilar
0, 00000055( 7)²  0, 00028826(idade) média).

Faulkner (1968) Subescapular, tricipital, abdominal e


%G   DCx0,153  5, 783 suprailíaca.

Guedes e Sampedro (1985)


-
DC  1,1714  0, 0671 log 10( 3)

Siri (1961)
-
%GC  [(4, 95 / DC )  4, 50]x100

Quadro 5 - Síntese das equações / Fonte: adaptado de Fagundes e Boscaini (2014).

A determinação do requerimento calórico de um praticante de atividade física ou atleta é impor-


tante para adequação e manutenção da composição corporal, além de impactar positivamente no
rendimento e na performance durante o exercício físico. Quando o paciente tem uma composição
corporal adequada, é preciso priorizar o equilíbrio energético, ou seja, a ingestão calórica deve ser
proporcional ao gasto energético.
O desequilíbrio negativo no balanço energético pode contribuir com a perda de massa muscular,
ocorrendo maior predisposição às lesões musculares, disfunções hormonais e comprometimento da
imunidade. Dessa forma, para determinar a necessidade energética, é preciso mensurar o gasto energé-
tico do esportista. O gasto energético total (GET) é formado pelo gasto energético basal (GEB), também
conhecido como taxa metabólica basal pelo efeito térmico dos alimentos (ETA) e pela termogênese
da atividade física. A taxa metabólica basal (TMB) corresponde ao gasto energético do organismo
fisicamente e mentalmente em repouso em um ambiente termoneutro (FARIAS, 2020).

282
UNIDADE 8

Já a taxa metabólica em repouso (TMR) é 10 a 20% superior à TMB, uma vez que inclui o gasto
energético necessário para a manutenção das funções vitais, tais como: batimentos cardíacos, circula-
ção, respiração, tônus nervoso, metabolismo celular, atividade glandular e manutenção da temperatura
corporal. A TMR é responsável por 60 a 75% do GET e pode ser medida por equações que levam em
consideração a massa corporal, a estatura, o gênero e a idade.
O efeito térmico dos alimentos, por sua vez, corresponde ao gasto energético do organismo para
digestão, absorção, metabolismo e armazenamento dos nutrientes, e representa aproximadamente 10%
do GET. A termogênese por atividade física é o componente com maior variabilidade do GET, corres-
pondendo de 15 a 30% do valor diário. Além disso, o GET varia de acordo com a idade, a composição
corporal, as condições climáticas, o estresse e os hormônios (FARIAS, 2020).
Semelhante à análise da composição corporal, a determinação do requerimento calórico pode
ser realizada por métodos diretos ou indiretos. Muitas vezes, a utilização de alguns métodos é de di-
fícil realização, desse modo, pode ser viável o uso de equações para estimar a TMB e TMR. Existem
várias opções de equações estimativas para TMB ou TMR, porém é preciso se atentar para a escolha
adequada, considerando que as equações desenvolvidas para o público não atleta pode estimar ou
superestimar a TMB ou TMR.
Sendo assim, a equação de Cunningham (1991) é uma boa opção, uma vez que leva em considera-
ção a quantidade de massa livre de gordura do indivíduo, adequando-se melhor ao público não atleta.
Também há a equação do Institute of Medicine (IOM), que foi desenvolvida a partir da mensuração
de gasto energético de 24 horas, obtido pelo método de água duplamente marcada e de acordo com
o estágio de vida, gênero e classificação do IMC. No Quadro 6, estão algumas opções de equações
preditivas da necessidade energética que podem ser utilizadas para praticantes de atividade física e/
ou atletas (FARIAS, 2020).

Gênero
Faixa
Referência
etária
Feminino Masculino

NEE  135  (30, 8 xidade[anos ]) NEE  88, 5  (61, 9 xidade[anos ] 


9 a 18 anos

Institute
 AFx{(10, 0 xpeso[kg ])  AFx{(26, 7 xpeso[kg ])  of Medici-
ne (2001)
(934 xaltura[m])}  25 (903 xaltura[m]  25
10 a 17 anos

TMR  (7, 4 xpeso[kg ])  TMR  (16, 6 xpeso[kg ]  FAO/


OMS/UNU
(482 xaltura[m])  217 (77 xaltura[m])  572 (1985)
10 a 18 anos

TMR  (8, 365 xpeso[kg ])  TMR  (16, 25 xpeso[kg ])  Schofield


(4, 65 xestatura[cm])  200 (1, 372 xestatura[cm])  515, 5 (1985)

283
UNICESUMAR

Gênero
Faixa
Referência
etária
Feminino Masculino
18 a 20 anos

TMR  (13, 3 xpeso[kg ])  TMR  (15, 4 xpeso[kg ])  FAO/


OMS/UNU
(334 xaltura[m])  35 (27 xaltura[m])  717 (1985)

TMR  (0, 062 xpeso[kg ]  2, 036) TMR  (0, 063 xpeso[kg ]  2, 896)
18 a 30

Schofield
anos

(1985)
x 239 x 239

TMR  (8, 7 xpeso[kg ])  TMR  (11, 3 xpeso[kg ])  FAO/


30 a 59
anos

OMS/UNU
(25 xaltura[m])  865 (16 xaltura[m])  901 (1985)

TMR  (0, 034 xpeso[kg ]  3, 538) TMR  (0, 048 xpeso[kg ]  3, 653)
30 a 60

Schofield
anos

(1985)
x 239 x 239

TMR  (9, 2 xpeso[kg ])  TMR  (8, 8 xpeso[kg ])  FAO/


OMS/UNU
(637 xaltura[m])  302 (1128 xaltura[m])  1071 (1985)
≥ 60 anos

TMR  (0, 038 xpeso[kg ]  2, 755) TMR  (0, 049 xpeso[kg ]  2, 459) Schofield
(1985)
x 239 x 239

284
UNIDADE 8

Gênero
Faixa
Referência
etária
Feminino Masculino

TMR  204  (4 xidade[anos ])


Institute
TMR  255  (2, 35 xidade[anos ])  (450 xaltura[m])  of Medici-
ne (2001)
(361, 6 xaltura[m])  (9, 39 xpeso[kg ]) (11, 69 xpeso[kg ])

TMR  655,1  (9, 56 xpeso[kg ])  TMR  66, 47  (13, 75 xpeso[kg ])


Harris e
(1, 85 xestatura[cm])  (5, 00 xestatura[cm])  Benedict
(1991)
(4, 68 xidade[aanos]) (6, 76 xidade[anos ])
Adultos

TMR  (10 xpeso[kg ])  TMR  (10 xpeso[kg ])  (6, 25 xaltura[cm]) Mifflin et


(6, 25 xaltura[cm])  (5 xidade)  161 (5 xidade)  5 al. (1990)

NEE  354  (6, 91xidade[anos ])  NEE  662  (9, 53 xidade[anos ])  Institute


AFx{(9, 36 xpeso[kg ])  (726 xaltura[m])} AFx{(15, 91xpeso[kg ]) of Medici-
ne (2001)
(539, 6 xaltura[m])}

Cun-
TMR  370  (21, 6 xMLG ) TMR  370  (21, 6 xMLG ) ningham
(1991)

Quadro 6 - Equações preditivas de necessidade energética / Fonte: adaptado de Farias (2020).

285
UNICESUMAR

Em relação ao fator atividade, após a definição do valor da TMB/TMR, o próximo passo para obtenção
do GET é multiplicar o valor da TMB/TMR pelo fator atividade. Para determinação, é possível utilizar os
coeficientes de atividade propostos por Energy... (1985), RDA (1989), IOM (2001) e Samour et al. (2005).
O nível de atividade física (NAF) é proposto pelo IOM (2001) e utilizado na equação para adultos do IOM
(2005), obtido pela razão entre o GET e o GEB. Ele é proveniente de pesquisas com água duplamente
marcada, realiza o monitoramento da frequência cardíaca e descreve as atividades físicas diárias.
Esse fator é classificado em quatro categorias de acordo com o respectivo fator atividade:

• NAF ≥1,0 e <1,4: sedentário e atividades diárias como caminhar.


• NAF ≥1,4 e <1,6: pouco ativo: atividade física moderada > 60 minutos/dia.
• NAF estimado ≥1,9 e <2,5: muito ativo: 60 minutos/dia de atividade física intensa ou 120 mi-
nutos/dia de atividade física moderada.

A intensidade dos exercícios pode ser identificada pelos valores do consumo calórico e do oxigênio.
Nesse contexto, surgiu o equivalente metabólico (MET), que estabelece que 1 MET corresponde ao
consumo médio de oxigênio de um adulto na posição sentada, em repouso, que é aproximadamente
250 ml de O2/min. Considerando os equivalentes calóricos do oxigênio (1L de O2= 5 Kcal), esse valor
corresponde à cerca de 1 kcal/kg/hora ou 3,5 mL O2/kg/min.
Portanto, um exercício físico que gaste 3 METs gasta três vezes mais energia que quando se está
sentado, ou seja, requer 750 mL de oxigênio por minuto. Existem duas formas de calcular o gasto ca-
lórico do exercício pelo MET. Na primeira forma, é necessário definir o valor de kcal que o indivíduo
gasta por hora sem nenhuma atividade. Para obter esse valor, basta dividir a TMB/TMR por 24 horas
e, então, multiplicar o valor de TMB/hora pelo valor do MET e pela duração da atividade em horas.
Quando não houver acesso ao valor de TMB/TMR, basta multiplicar a massa corporal em kg pelo
valor do MET e pela duração da atividade em horas.
O Quadro 7 lista as principais atividades do cotidiano e o valor do MET correspondente.

Atividade METs

Sono 0,9

Deitado 1,0

Atividades leve/ sentado 1,5

Caminhar com o cachorro 3,0

Passas aspirador de pó 3,5

286
UNIDADE 8

Atividade METs

Tarefas domésticas 3,5

Dança de salão 2,9

Caminhada: 4,8 km/h 3,3

Caminhada: 6,4 km/h 4,5

Andar de bicicleta (lazer) 3,5

Trote: 8 km/h 8,0

Pular corda ou atividades intensas 12,0

Musculação 4,5

Quadro 7 - Valor MET para atividades cotidianas / Fonte: adaptado de Farias (2020).

Considere que há um paciente do sexo masculino. Ele tem


25 anos de idade, pratica natação e objetiva participar de um
triathlon. Além disso, compete em provas de 100 metros livre.
Atualmente, ele treina duas vezes ao dia (3 horas pela manhã e 2
horas pela tarde), 6 vezes na semana, totalizando 10.000 m/dia.
A partir da avaliação nutricional, você encontrou os seguintes
dados antropométricos: peso: 93 kg, estatura 1,75 e percentual
REALIDADE
de gordura de 12%. Dessa forma, qual seria o valor de MET?
AUMENTADA
Como poderia ser realizado o cálculo de TMR de acordo com
Harris Benedict (1991)?

PesoatualxMET
= 93=x12 1116kcal / 60 min : 18, 6kcal / min

5 horas de treino ao dia: 300 minutos

MET 18
= =, 6 x300 5.580kcal

TMR  66, 47  (13 xpeso)  (5, 0 xestatura )  (6, 76 xidade)


TMR  66, 47  (113 x93)  (5, 0 x175)  (6, 76 x 25anos )
TMR  66, 47  1.209  875  169 Caro(a) estudante clique aqui e
TMR  1.981, 47 Kcal verifique a realidade aumentada que
preparei para você!

287
UNICESUMAR

Atualmente, estão disponíveis inúmeros recursos tecnológicos para a análise da composição corporal.
Eles podem atender em maior ou menor grau os diversos tipos de avaliação a que são destinados. Es-
pecificamente na composição corporal de atletas, tem aumentado o interesse no desenvolvimento de
métodos de campo que atendam aos requisitos para uma avaliação mais direcionada, que possa refletir
os efeitos de um determinado treinamento e/ou de uma determinada estratégia alimentar.
Diversos estudos que avaliam o estado nutricional de atletas sugerem que essa investigação precisa
ser composta pela avaliação corporal, pela ingestão de nutrientes e pelos marcadores bioquímicos do
estado nutricional. Vale-se do princípio de que o bom atleta não deve apenas monitorar o rendimento
esportivo, mas também o estado de saúde.

288
Caro(a) aluno(a), gostaria de convidá-lo a realizar uma verificação crítica dos conhecimentos realiza-
dos até então a partir das questões que estão inseridas no mapa de empatia a seguir.

Descrição da Imagem: a figura é composta por um retângulo colorido, dividido por algumas formas. Logo, há um retângulo
com quatro pirâmides, cujas pontas de unem por meio de uma figura de um rosto que pisca e sorri no centro. As pirâmides
têm as seguintes cores: verde-claro, rosa-claro, azul-claro e salmão. Em cada uma das pirâmides, encontram-se perguntas:
o que ouve? O que pensa e sente? O que vê e o que fala e faz? Na base do retângulo, há outras duas formas em formato de
retângulo nas cores rosa-claro e roxo-claro. Elas têm as seguintes perguntas: quais são as dores? Quais são as necessidades?

289
1. A unidade MET pode ser utilizada como método para indicar e comparar a intensidade abso-
luta e o gasto energético de diferentes atividades físicas. Nesse contexto, o conceito de MET
é aplicado nas orientações gerais à população em relação ao gasto energético das atividades.
É considerado uma medida de intensidade de esforço. Logo, quando se exprime o gasto de
energia em METs, observa-se o número de vezes pelo qual o metabolismo de repouso foi
multiplicado durante uma atividade física.

COLEHO-RAVAGNANI, C. F. et al. Estimativa do equivalente metabólico (MET) de um protocolo de exercícios


físicos baseada na calorimetria indireta. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 19, n. 2, 2013.

Considerando os seus conhecimentos sobre o cálculo do MET, estudaremos o caso de um


paciente chamado J. C. Ele é sexo masculino, tem 28 anos de idade, realiza ciclismo para fins
competitivos, compete em provas de 40 a 50 km e o treino atual compreende 3 horas pela
manhã. Ele pedala cerca de 16 km/hora 6x na semana, totalizando 48 km ao dia. Em relação
aos dados antropométricos, o paciente apresenta peso de 93 kg e estatura de 1,79m. Logo,
qual seria o consumo calórico dele, considerando o cálculo do MET?

2. Paciente L. V, sexo masculino, 24 anos de idade, agendou um horário com você, pois não sabe
como proceder em relação ao plano alimentar. Tem o objetivo de aumentar a performance,
pois não tem conseguido finalizar o treino diário, com perda de força e potência. O paciente
realiza natação para fins competitivos (velocista) e compete em provas de 100 metros livre. O
treino atual é feito 2 vezes ao dia (2 horas pela manhã + 2 horas pela tarde), 6 vezes na sema-
na, totalizando 10.000 metros/dia. Você encontrou os seguintes dados antropométricos: peso
atual de 92 kg, estatura de 1,77 metros e % de gordura corporal de 11%. A partir dos dados
encontrados, calcule o MET do treino e TMR segundo Harris Benedict (1991).

3. Paciente L. B. N, sexo masculino, 19 anos, pratica futebol aos sábados e domingos durante
1 hora. Também faz musculação de segunda à sexta durante 1h30min. Durante a avaliação
antropométrica, foram encontrados os seguintes dados: peso 69,8 kg, altura de 1,82m, IMC de
21,07 kg/m², DCTríceps de 8,5 mm, DCSubescapular:10,75 mm, DCBíceps: 6 mm, DCaxilar média:
10mm, DCcristailíaca:10mm, DCtorácica: 8,75mm, DCabdominal: 7,5mm, DCcoxa:11,25mm,
DCpanturrilha: 10mm. A partir dos dados encontrados, calcule a %GC do paciente a partir do
cálculo da densidade corporal de Durnin (1974) e %GC de Siri (1961). Em seguida, calcule a
TMR do paciente segundo Energy... (1985) e a faixa etária correspondente.

290
9
Avaliação Nutricional
de Pacientes
Hospitalizados e Idosos
Dra. Lorena dos Santos Castro

Nesta unidade, estudaremos a avaliação nutricional de pacientes


hospitalizados. Aprenderemos a identificar o risco nutricional, a fa-
zer a relação entre a desnutrição e a hospitalização, os aspectos en-
volvidos no processo de triagem nutricional, a realizar uma avaliação
subjetiva global. Também conheceremos os parâmetros utilizados
para classificar o estado nutricional de pacientes hospitalizados, os
métodos antropométricos aplicados e a avaliação laboratorial. Por
fim, analisaremos os fatores que estão relacionados às alterações
da composição corporal e a antropometria aplicada.
UNICESUMAR

A avaliação do estado nutricional do paciente internado no hospital é a medida fundamental para a dimi-
nuição dos riscos nutricionais, logo, a falta ou a desordem nutricional pode levar o paciente a apresentar
carências nutricionais ou doenças não transmissíveis. O quadro clínico do paciente, o tempo de internação
e a resposta ao tratamento são fatores diretamente influenciados pelo estado nutricional. A triagem nutri-
cional é de extrema importância para a prevenção da desnutrição hospitalar e as consequências clínicas.
Com a identificação dos grupos de risco e a oferta de um diagnóstico adequado, é possível fazer uma
intervenção precoce, que auxilia na diminuição da morbidade e da mortalidade hospitalar. Apesar de
frequente, a desnutrição ainda hoje não é reconhecida como fator preponderante no tratamento dos
doentes por alguns profissionais de saúde e, dessa forma, pode não ser tratada. É de grande importância
identificar o risco nutricional do paciente hospitalizado e os fatores de risco da desnutrição.
Partindo desse princípio, como você acredita ser possível utilizar os instrumentos de avaliação nutri-
cional para detecção do estado nutricional dos pacientes hospitalizados, visando otimizar os resultados
do tratamento e minimizar os riscos decorrentes da fragilidade relacionada à condição do paciente?
Durante a prática clínica, é possível identificar os indivíduos desnutridos ou com risco de desnutri-
ção para que haja uma intervenção precoce e, consequentemente, sejam diminuídos os riscos à saúde.
Para tanto, existem alguns tipos de ferramentas para a realização da triagem nutricional validadas e
disponíveis na literatura. Sabe-se que os motivos da desnutrição hospitalar podem estar relacionados
à ingestão calórica inadequada, perda de peso, diarreias, queda de apetite e entre outros.
É preciso monitorar essas variáveis, a fim de diminuir os riscos nutricionais. Para tanto, as institui-
ções podem adotar normas para a realização da triagem nutricional, pois a prevenção e o tratamento
precoce da desnutrição propiciarão mais um elemento importante no cuidado e na saúde do paciente.
Quanto mais cedo for diagnosticada a desnutrição, menor serão os riscos de morbidade e mortali-
dade, melhorando a qualidade de vida. Você pode realizar o exame físico em conjunto a outro elemento
da avaliação nutricional, sendo possível identificar deficiências nutricionais ou a piora da capacidade
nutricional do paciente. Você terá como aliada a semiologia nutricional, que, quando realizada de forma
bem estruturada, determina as condições nutricionais do indivíduo hospitalizado.
Tendo em vista a importância da avaliação nutricional em pacientes hospitalizados, vamos praticar
a análise de um quadro clínico para aprender a classificar o estado nutricional? Suponha que você
atenda a um paciente idoso do sexo masculino. Ele está internado, apresenta diarreia, vômitos, dispneia
e teve perda de peso ponderal de 12 kg no período de 2 meses anteriores à internação. Você observou,
na história médica, que o paciente evoluiu com piora da hiporexia, manteve os episódios de diarreia
e precisou ser alimentado via enteral.
Durante o exame físico, o paciente se apresentou hipocorado, hidratado. Não apresenta esforço
respiratório, afebril, tem abdômen plano, edema em membros inferiores, valores de creatinina em 1,1
mg/dL, albumina 3,3 g/dL e leucócitos em 5,6 x 10³. Além disso, você encontrou IMC de 15,9 kg/m²
e circunferência de panturrilha de 18 cm. A partir dos dados apresentados, como você classificaria o
estado nutricional do paciente?
É possível observar que os valores de albumina estão abaixo do normal. Moraes (2021) sustenta que
a albumina sérica menor que 3,5 g/dL é, geralmente, indicativa de desnutrição. Esse é um parâmetro que
merece destaque, apesar da limitação decorrente da meia-vida prolongada, a qual interfere na detecção de

292
UNIDADE 9

alterações agudas do estado nutricional e sofre alterações por diversas razões não nutricionais. Os níveis
séricos de albumina são fortemente relacionados aos aumentos na morbidade (tempo de internação pro-
longado, cicatrização deficiente de feridas). Por isso, é uma das variáveis frequentemente utilizadas para
compor índices prognósticos, sendo considerada o melhor índice isolado de predição de complicações.
Além da albumina, foi possível observar que as outras taxas estavam dentro da normalidade. Por
outro lado, o IMC encontrado classifica o paciente em magreza (< 18, 5 kg/m²) e a circunferência de
panturrilha indica que está em desnutrição (medidas menores do que 31 cm são indicativas de redu-
ção da massa muscular). Esses fatos merecem atenção para o diagnóstico nutricional, haja visa que
idosos desnutridos apresentam características próprias e demandam ações preventivas para reduzir
complicações e perdas funcionais. Além disso, o diagnóstico precoce e tratamentos para idosos podem
evitar hospitalizações, em muitos casos.
Finalizamos nosso quadro clinico verificando a importância de uma boa análise nutricional do
paciente internado. Acompanhe esta unidade para conhecer os diversos tipos de análises que podem
ser aplicadas nesses pacientes. Anote em seu diário de bordo as dúvidas encontradas.

293
UNICESUMAR

A ideia de que a saúde é um


bem cuja manutenção de-
pende, sobretudo, do com-
portamento e do empenho
de cada um é cada vez mais
disseminada. Ao nutrir o cor-
po, você está cooperando para
a sua longevidade. Contudo, a
compreensão desse princípio
não é uma condição suficien-
te para que o paciente assuma
a cota de responsabilidade na
defesa da própria saúde.
Para manter a homeosta-
se do corpo, são necessários
nutrientes indispensáveis à
saúde, uma vez que a saúde
requer uma série de gastos
energéticos, que são primor-
diais. A energia fornecida pela
dieta alimentar diversificada
e em quantidades que devem
ser continuamente reguladas
garantem o desempenho e o
funcionamento da estrutura
corporal. Além disso, promo-
vem a diferenciação e os mecanismos de defesa tecidual, cooperando para a saúde como um todo.
O conhecimento do processo entre saúde e doença está associado às concepções que explicam os
valores, os costumes, o mundo e as crenças da sociedade em que ele é gerado, refletindo o pensamento
dominante em dado momento histórico. Essa concepção de hegemonia pode coexistir com outras
formas de explicar e lidar com o processo entre saúde e doença em cada contexto. Em outras palavras,
a educação e o cuidado nutricional devem estar envolvidos em todo o processo de prescrição nutri-
cional, já que diversos fatores estão envoltos na alimentação (BEHRMANN; LIMA, 2019).
O atendimento nutricional é complexo, pois envolve a avaliação nutricional em toda a abrangência,
com o objetivo de obter o diagnóstico nutricional global, que deve ser pautado na individualidade
do paciente. Alcançar essa etapa pode demorar e exige do profissional várias investigações adicionais
além daquelas já estabelecidas no protocolo inicial, com uma enorme avaliação do contexto ao qual
o atendimento se destina.
Enfatiza-se que o diagnóstico nutricional não se limita apenas a um parâmetro antropométrico,
dietético ou laboratorial, mas envolve a articulação de todo esse conjunto. Na avaliação nutricional

294
UNIDADE 9

no meio hospitalar, isso não poderia ser diferente. Um dos pontos principais é o diagnóstico precoce
da desnutrição, por intermédio do monitoramento mais efetivo do estado nutricional, com o intuito
de minimizar o agravamento da depleção nutricional e as possíveis complicações clínicas decorrentes
da desnutrição (BEHRMANN; LIMA, 2019).
O estado nutricional de pacientes hospitalizados tem influência direta na evolução clínica. Portanto,
a avaliação nutricional é exigida como parte do cuidado integral do paciente. Estima-se que cerca de
30% dos pacientes são desnutridos, haja vista que a desnutrição proteica é um problema prevalente nos
hospitais, afetando entre 30 a 60% dos pacientes. Cerca de 40% são desnutridos quando ingressam ao
hospital e que 75% desses pacientes perdem peso quando permanecem internados por mais de uma
semana. A taxa de mortalidade é maior do que aquela esperada em pacientes adequadamente nutridos.
Os pacientes em risco nutricional permanecem hospitalizados durante um período de tempo 50%
maior que os pacientes saudáveis, gerando aumento nos custos hospitalares. A desnutrição e os desvios
nutricionais ocasionam a redução de feridas e da imunidade, aumentando, portanto, o risco de infecções,
hipoproteinemia e edema. Além disso, a alta prevalência de pacientes hospitalizados que não se alimentam
suficientemente para atender às necessidades calórico-proteicas se deve a diversos fatores, como a doen-
ça de base, a incapacidade funcional, dor, náuseas, vômitos, inapetência, disfagia, ansiedade, depressão,
tratamentos agressivos com a quimioterapia e o fato de estarem em um ambiente hospitalar, que envolve
momentos de dor, angústia, medo e insegurança (BEHRMANN; LIMA, 2019; FONTOURA et al., 2006).

295
UNICESUMAR

A hospitalização não é um momento fácil na vida do paciente. Além dos aspectos emocionais, a impos-
sibilidade de fornecer nutrientes necessários para atender às exigências corporais é uma preocupação
séria em pacientes hospitalizados, principalmente com doenças crônicas, ferimentos traumáticos, idosos
e pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), que são especialmente vulneráveis às
complicações decorrentes da desnutrição, pois eles podem apresentar limitação da ingesta hídrica, ins-
tabilidade hemodinâmica e diminuição da absorção de drogas e nutrientes.
Além desses fatores, a pouca atenção dos profissionais de saúde na avaliação e a monitoração ineficaz
da aceitação da dieta podem contribuir para alterações no estado nutricional. Em decorrência disso, é de
suma importância entender cada ponto de investigação e realizar uma análise minuciosa do compor-
tamento do paciente perante à doença, a fim de obter uma boa prescrição dietética. Todos esses fatores
refletem na ausência de rastreamento e na triagem nutricional dos pacientes em ambiente hospitalar.
A interação entre os fatores relacionados ao estado nutricional e aqueles relacionados à própria doença
e o tratamento dela representam uma combinação que pode influenciar diretamente a qualidade de vida
do paciente. Essa qualidade de vida pode ser dada pela percepção do indivíduo sobre a própria posição na
vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais vive, e em relação aos próprios objetivos,
expectativas, padrões e preocupações (BEHRMANN; LIMA, 2019).
No Brasil, o Inquérito Brasileiro de Avaliação Hospitalar (IBRANUTRI) realizado em 1996 pela
Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE) concretizou uma pesquisa multicêntrica
em 12 estados brasileiros, mais o Distrito Federal, em hospitais da rede pública do país. Ela envolveu
4.000 pacientes internados e foi encontrada uma taxa de 48% de pacientes desnutridos.
O distúrbio nutricional está diretamente vinculado à evolução clínica dos pacientes hospitalizados,
determinando maior susceptibilidade às infecções e às complicações, elevando significativamente as
taxas de morbimortalidade. É sabível que a desnutrição está vinculada aos piores prognósticos e que
a instalação dela ou a piora do estado nutricional pode ser ocasionada pelo tempo prolongado de
internação hospitalar, seja no período pré-diagnóstico, seja no tratamento (MONTEIRO et al., 2009).
A má nutrição é um problema comum, especialmente em pacientes em ventilação mecânica (VM),
e é uma das causas da falência orgânica, já que contribui para a diminuição da regeneração do epitélio
respiratório e a permanência hospitalar. A hiperalimentação também pode prolongar o tempo de VM
com o aumento da produção de dióxido de carbono. Ressalta-se que a avaliação nutricional identifica
pacientes em risco nutricional e, a partir dessa avaliação, determina as prioridades da assistência nu-
tricional como escolha da via de alimentação.
O interesse na avaliação do estado nutricional do paciente hospitalizado tem aumentado com a
constatação da grande incidência de desnutrição entre os pacientes internados na maioria dos hospitais.
Por intermédio dessa avaliação, é possível observar a associação entre a desnutrição proteico-calórica
e a evolução clínica do paciente, o tempo de internação e o número de complicações. São diversos os
fatores envolvidos nessa avaliação, assim como entenderemos (FONTOURA et al., 2006).
Aliás, o principal aspecto no cuidado do paciente hospitalizado é prevenir ou tratar os quadros de
desnutrição. No entanto, a definição de desnutrição ainda é um assunto de debate, com várias socie-
dades profissionais propondo diferentes critérios, possivelmente, explicando parte da variabilidade
nas taxas de prevalência relatadas na literatura. De modo geral, a perda de peso não intencional de

296
UNIDADE 9

> 5% em um curto período de tempo e a diminuição


da ingestão de alimentos estão associados a uma
deterioração do estado nutricional.
Desse modo, a terapia nutricional objetiva preve-
nir e tratar a desnutrição, preparar o paciente para o
procedimento cirúrgico e clínico, melhorar a resposta
imunológica e cicatricial, modular a resposta orgânica
ao tratamento clínico e cirúrgico, prevenir e tratar as
complicações infecciosas e não infecciosas decorren-
tes do tratamento e da doença, melhorar a qualidade
de vida do paciente, reduzir o tempo de internação
hospitalar, reduzir a mortalidade e, consequentemen-
te, reduzir os custos hospitalares. Estudos realizados
apontam que parte dos indivíduos não se alimenta
corretamente no período da internação hospitalar, o
que leva à desnutrição, ao aumento das complicações
e, consequentemente, ao aumento dos custos de inter-
nação para o Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL,
2016; CORREIA et al., 2017).
Os critérios para detectar o risco nutricional na
admissão e durante a permanência no hospital são de
muita importância e devem ser implementados nos
procedimentos de rotina hospitalar, uma vez que a de-
pleção nutricional pode ocorrer durante a intervenção.
O processo mais coerente da abordagem nutricional do
indivíduo tem início na triagem nutricional, que deve
ser de acordo com a rotina de cada estabelecimento
de serviço ambulatorial ou hospitalar. Ela tem como
principal objetivo identificar fatores de risco para des-
nutrição, possibilitando uma intervenção nutricional
precoce e melhor alocação de recursos.
A European Society of Parenteral and Enteral (ES-
PEN) recomenda que todos os indivíduos admitidos
na unidade hospitalar sejam submetidos à triagem nu-
tricional. Caso seja identificado o risco, deve ser feita
avaliação nutricional mais detalhada e medidas devem
ser tomadas para monitorar, organizar e implementar a
terapia nutricional. Caso o paciente não apresente risco
nutricional, devem ser feitas novas triagens durante a
fase de tratamento do paciente. Em relação às variá-

297
UNICESUMAR

veis dos instrumentos recomendados pelas ESPEN,


algumas considerações são importantes. Em ambos
os instrumentos, é necessária a quantificação da perda
de peso (total ou percentual) e existem dificuldades na
obtenção de dados relacionados ao peso na internação
hospitalar (BRASIL, 2016).
Dessa forma, no atendimento nutricional, exis-
tem procedimentos de rotina que auxiliam no acom-
panhamento da evolução nutricional de paciente e,
consequentemente, podem melhorar o atendimento
em âmbito hospitalar. Essas rotinas são chamadas de
acompanhamento nutricional e precisam ser executa-
das pelo nutricionista, desde que ele esteja treinado e
entenda a importância de cada atividade. Para avaliar
o estado nutricional, são usados vários métodos sub-
jetivos e objetivos, desde os mais simples, os quais to-
dos da equipe precisam saber aplicar e interpretar, até
os mais complexos, utilizados em centros de pesquisa.
Diversos métodos podem ser utilizados para avaliar
o estado nutricional, como antropometria, parâmetros
bioquímicos, consumo alimentar, exame físico e ava-
liação subjetiva global. Dentre eles, a antropometria é a
mais utilizada para verificar as alterações nutricionais
que ocorrem frequentemente em pacientes hospitaliza-
dos. A triagem nutricional simboliza um inquérito sim-
ples e rápido, o qual é executado pela equipe de saúde
que realiza a admissão hospitalar. Ele pode ser aplicado
ao paciente ou aos familiares dele, em busca de detectar
a presença de risco de desnutrição e, assim, verificar se
é necessária uma avaliação nutricional adicional.
Por outro lado, a avaliação nutricional determina o
estado nutricional resultante dos processos de ingestão,
absorção, utilização e excreção de nutrientes do pacien-
te de forma minuciosa e prolongada. Nesse sentido,
variáveis objetivas e subjetivas são examinadas, o que
exige mais recursos (NOZAKI et al., 2013).
Além de detectar a desnutrição, a avaliação nu-
tricional também classifica a desnutrição pelo grau e
permite a coleta de dados que favoreçam a correção
dela. Existem diversos instrumentos de terapia nutri-

298
UNIDADE 9

cional validados e disponíveis na atualidade, cada qual


com as vantagens e limitações. Em uma comparação
entre eles, importantes aspectos devem ser considera-
dos. É necessário definir um senso crítico sobre qual é
o instrumento mais adequado ao ambiente hospitalar.
Lembre-se de que os aspectos sociais, culturais e eco-
nômicos interferem no desempenho do instrumento.
De acordo com a Triagem de Risco Nutricional, é
possível fazer a triagem de risco nutricional a partir
de um instrumento de análise que usa dois fatores
retrospectivos (perda de peso e ingestão alimentar),
as características antropométricas (IMC) e a gravi-
dade da doença. Aliás, a idade acima de 70 anos é
considerada um fator de risco adicional, sendo ne-
cessário cuidado diferenciado para esse grupo. Além
disso, é possível dividir a triagem em duas partes: na
primeira, o estado nutricional é avaliado em quatro
etapas (NOZAKI et al., 2013):

1. Mensurar altura e peso para obter o escore


do IMC.
2. Anotar o percentual de perda de peso.
3. Analisar o consumo alimentar recente do pa-
ciente.
4. Estabelecer a gravidade da doença.

Na segunda etapa, que só será aplicada se for identi-


ficado critério de risco nutricional na primeira etapa,
os pacientes terão a gravidade da desnutrição e da
doença classificados em:

a) Ausente.
b) Leve.
c) Moderado.
d) Grave.

Com uma pontuação variável entre os valores de 0 e 6,


os pacientes são classificados em risco quando obtêm
mais de 3 pontos. O risco nutricional aumenta com a
idade, sendo o escore final acrescido de 1 ponto para

299
UNICESUMAR

pacientes com idade superior a 70 anos. Sendo assim, a segunda parte se divide em: somar os escores
das etapas (estado nutricional e gravidade da doença) para obter o escore total; somar 1 ao escore total
quando o paciente tiver idade igual ou superior a 70 anos; analisar o risco nutricional se ele é igual ou
superior a 3 e iniciar o suporte nutricional.
Observe, na Figura 1, a triagem utilizada para o rastreamento de risco nutricional, segundo a NRS
(NOZAKI et al., 2013).

Figura 1 - Rastreamento de risco nutricional (NRS) / Fonte: Nozaki et al. (2013, p. 9).

Descrição da Imagem: a figura apresenta um inquérito com perguntas objetivas e pontuações perante à análise da triagem nutricional.
No topo da figura, há espaços para a inserção dos seguintes dados: nome do paciente, data da consulta, dados sobre a internação,
idade do paciente, peso habitual e usual, e diagnóstico clínico. Em seguida, há dados requeridos da triagem inicial, com perguntas
de sim ou não para “IMC menor que 20 mg/altura/²”, “Perda de peso nos últimos meses”, “Redução na ingestão na última semana” e
“Saúde gravemente comprometida”. Em seguida há perguntas da triagem final, com pontuações específicas, como pontuação de 0 para
ausente, de 1 para leve, 2 para moderada, e 3 para grave. Dentre as perguntas, estão: estado nutricional normal, perda de peso maior
ou menor que 5% nos últimos meses, requerimentos nutricionais normais, fraturas, cirurgias e transplantes. No final, a figura tem o
diagnóstico, com seleção de escore maior ou menor que 3.

300
UNIDADE 9

A incorporação de parâmetros na ava-


liação nutricional dos pacientes hos-
pitalizados tem se mostrado uma boa
opção em razão da facilidade de exe-
cução, tornando-se, dessa forma, um
método clínico de avaliação do estado
nutricional que considera não apenas
as alterações da composição corporal,
mas também alterações funcionais
do paciente. Diante disso, a avaliação
subjetiva global (ASG) tem como
objetivo identificar o estado nutricio-
nal e consiste em um questionário que
pode ser aplicado em uma entrevista à
beira do leito com o paciente.
Esse método não verifica a pré-obe-
sidade e a obesidade, pois a finalidade
dele é analisar a desnutrição. A ASG já
é rotineira na maioria dos hospitais e
deve ser aplicada pelo profissional até
48 horas após a internação, com o pro-
pósito de diagnosticar o mais precoce-
mente possível o estado nutricional do
paciente. É um instrumento que possi-
bilita a participação de todos os mem-
bros da equipe multidisciplinar, sendo
indispensável, para boa replicação, o
treinamento adequado do observador,
já que a precisão do método depende
da capacidade de detectar alterações
nutricionais significativas por meio da
avaliação subjetiva.
Esse método vem se configurando
como um método de escolha em di-
versas situações clínicas, seja na forma
original, seja na forma adaptada, tor-
nando-se mais específico às diversas
circunstâncias. Observe a Figura 2, que
exibe a avaliação (NOZAKI et al., 2013).

301
UNICESUMAR

Figura 2 - Modelo de avaliação subjetiva global (ASG) / Fonte: Nozaki et al. (2013, p. 11).

Descrição da Imagem: a figura apresenta um inquérito com perguntas objetivas e campos para selecionar opções. Ele é dividido em
sete temas. No topo da figura, há o campo para inserir o nome do paciente e a data da consulta. Em seguida, encontram-se questões
sobre a história, como alterações de peso nos últimos 6 meses e 2 semanas; alterações na ingestão alimentar, se houve alterações e
o tipo da dieta utilizada; os sintomas gastrointestinais presentes há mais de 2 semanas; a capacidade funcional; a doença principal e
a correlação dela com as necessidades nutricionais; o exame físico e pontuações especificas para cada quadro e, por fim, a avaliação
subjetiva, se o paciente está bem nutrido e os estados correlatos.

302
UNIDADE 9

Logo, a ASG (Figura 2) é dividida em três partes (NOZAKI et al., 2013):

1. História clínica: visa uma análise da redução de peso nos últimos seis meses e alterações no
peso nas últimas duas semanas; assim como alterações na ingestão dietética (mudança não
intencional e sua intensidade);

2. Exame físico: visa especificar cada categoria como normal, leve, moderada ou grave; analisa
a perda de gordura subcutânea: bíceps, tríceps e tórax; faz uma análise da perda de massa
muscular: têmporas, ombros, clavícula, escápula, costelas, musculo interósseo do dorso da
mão, joelho, panturrilha e quadríceps; e por fim, verifica-se a presença de edema de tornozelo
e sacral e ascite resultante da desnutrição.

3. Resultado: nesta etapa o avaliador deve selecionar uma das opções de acordo com os resultados
da avaliação anterior: bem nutrido, moderadamente desnutrido ou sob suspeita de desnutrição,
gravemente desnutrido.

Estudos sobre a desnutrição no ambiente hospitalar mostraram que a


prevalência dela tem aumentado, variando entre 19 e 80% em pacientes
clínicos e cirúrgicos, com maior índice em idosos. Um fator que inter-
fere no estado nutricional do paciente internado é a disfagia, que é um
distúrbio da deglutição considerado um processo fisiológico completo
e agravado pelo envelhecimento. Quer saber mais sobre esse tema e a
importância de uma terapia nutricional aplicada? Ouça o nosso podcast
e confira tudo sobre o tema.

Alguns autores sugerem a utilização de escores específicos para cada item analisado, de maneira
que, no fim da avaliação, os resultados são obtidos pelo somatório dos pontos. Contudo, não existe
uma forma de pontuação validada. Mesmo na avaliação puramente subjetiva, alguns aspectos de
maior relevância podem guiar a classificação em uma das três graduações de estado nutricional.
Observe esses dados no Quadro 1.

303
UNICESUMAR

Desnutrição mo-
Classificação do es- Desnutrição Grave
Bem nutrido (A) derada ou risco de
tado nutricional (C)
desnutrição (B)

Perda de peso
Perda não signifi-
Perda de peso poten- significativa: > 10%,
cativa: < 5% (ou <
cialmente significa- redução importante,
10% nos últimos seis
Alteração de peso tivo: 5% a 10%, mas rápida e constante
meses), porém com
com evidência de no mês anterior,
ganho de peso no
recuperação. sem sinais de
último mês.
recuperação.

Redução moderada
da ingestão, sem Redução grave da
Mudanças na inges- Alimentação por via melhora aparente. ingestão. Jejum ou
tão alimentar oral normal. Consumo de die- ingestão de líquidos
ta exclusivamente hipocalóricos.
líquida.

Assintomático a curto Sintomas persisten-


Sintomas gastrointes- Sintomas persisten-
prazo (menos de tes, mas de gravidade
tinais tes e graves.
duas semanas). moderada.

Atividade restrita por Grande deterioração


Sem limitações. causa de fadiga e da atividade física (no
debilidade. leito).
Doença e a sua rela-
ção com as necessi-
Grande perda de
dades nutricionais Sem perda de gor- Sinais de perda em
gordura e de massa
dura subcutânea e a algumas regiões, mas
muscular nos braços,
massa muscular. não em todas.
nas pernas, etc.

Quadro 1 - Parâmetros de referência para classificação do estado nutricional conforme avaliação subjetiva global
Fonte: adaptado de Nozaki et al. (2013).

A antropometria representa um dos indicadores diretos do estado nutricional e tem a vantagem de


não ser invasiva. Ela tem fácil execução, baixo custo e alta confiabilidade. Entretanto, sofre interfe-
rência em relação à acurácia em situações limítrofes do estado nutricional, tais como na presença de
ascite ou edema. Além disso, exige a padronização dos procedimentos e a manutenção periódica dos
equipamentos (SANTOS; CAMARGO; PAULO, 2012).
O peso é a medida antropométrica mais simples e habitualmente aferida. Trata-se da soma de todos
os componentes corpóreos e reflete o equilíbrio proteico-energético do paciente. Em indivíduos capa-
zes de deambular, o peso corporal atual pode ser medido com a utilização de balança de plataforma
mecânica ou digital. Recomenda-se que o peso seja aferido pela manhã, com o paciente em jejum, após
esvaziamento vesical, em pé, descalço e usando roupas leves.

304
UNIDADE 9

O paciente deve ser orientado a se despojar de objetos pesados que possam interferir no peso total,
como cintos, chaves, óculos e telefone celular. Pode ser calculado o peso ideal, também conhecido
como peso desejável, recomendável, peso saudável e peso ótimo. O modo mais prático e usual para
o cálculo do peso ideal se baseia na utilização do Índice de Massa Corporal (IMC) médio desejado,
tornando-se como padrão, para homens, o valor de 22 kg/altura²(m). Para mulheres, o valor é de 20,8
kg/altura²(m), segundo a seguinte fórmula (NOZAKI et al., 2013):

Pesoideal (kg ) = IMCdesejadoxaltura ²(m)

O peso desejável pode sofrer variação nos casos em que o IMC médio desejável determina um
valor de peso ideal distante do peso atual. Nesses casos, como base para o cálculo, é possível utilizar
o IMC mínimo de normalidade (18,5 kg/altura²[m]), por exemplo, em pacientes desnutridos, e o
IMC máximo de normalidade (24,9 kg/altura² [m]) em pacientes com sobrepeso ou obesidade.
Outro modo de se estimar o peso ideal dos pacientes é baseado na ossatura. Esse método usa a
mensuração da circunferência do pulso, a qual é medida com fita métrica inelástica. O resultado
obtido será aplicado na fórmula mostrada a seguir, para, então, ser classificada a ossatura do paciente
como pequena, média ou grande (vide Quadro 2). Logo, o peso do paciente poderá ser estimado de
acordo com os quadros 3 e 4 (NOZAKI et al., 2013).

altura(cm)
Índicedeossatura (r ) =
circunferênciadopulso (cm)

Homens Mulheres

r>10,4 pequena r>11 pequena

r= 9,6 a 10 média r=10,1 a 11 média

r<9,5 grande r<10,1 grande

Quadro 2 - Representação dos índices para determinação do tipo de ossatura / Fonte: adaptado de Nozaki et al. (2013).

Peso (kg)/ ossatura


Altura (cm)
Pequena Média Grande
155 50 53,6 58,2
156 50,7 54,3 58,8
157 51,4 55 59,5
158 51,8 55,5 60
159 52,2 56 60,5
160 52,7 56,4 60,9

305
UNICESUMAR

Peso (kg)/ ossatura


Altura (cm)
Pequena Média Grande
161 53,2 56,8 61,5
162 53,7 57,2 62,1
163 54,1 57,7 62,7
164 55 58,5 63,4
165 55,9 59,5 64,1
166 56,5 60,1 64,8
167 57,1 60,7 65,6
168 57,7 61,4 66,4
169 58,6 62,3 67,5
170 59,5 63,2 68,6
171 60,1 63,8 69,2
172 60,7 64 69,8
173 61,4 65 70,5
174 62,3 65,9 71,4
175 63,2 66,8 72,3
176 63,8 67,5 72,9
177 64,4 68,2 73,5
178 65 69 74,1
179 65,9 69,9 75,3
180 66,8 70,9 76,4
181 67,4 71,7 77,1
182 68 72,5 77,8
183 68,6 73,2 78,6
184 69,8 74,1 79,8
185 70,9 75 80,9
186 71,5 75,8 81,7
187 72,1 76,8 82,5
188 72,7 77,3 83,2
189 73,3 78 83,8
190 73,9 78,7 84,4
191 74,5 79,5 85

Quadro 3 - Representação dos diferentes pesos e tipos de ossatura para o gênero masculino / Fonte: adaptado de Nozaki et al. (2013).

306
UNIDADE 9

Peso (kg)/ ossatura


Altura (cm)
Pequena Média Grande

142 41,8 45 49,5


143 42,3 45,3 49,8
144 42,8 45,6 50,1
145 43,2 45,9 50,5
146 43,7 46,6 51,2
147 44,1 47,3 51,8
148 44,6 47,7 52,3
149 45,1 48,1 52,8
150 45,5 48,6 53,2
151 46,2 49,3 54
152 46,8 50 54,5
153 47,3 50,5 55
154 47,8 51 55,5
155 48,2 51,4 55,9
156 48,9 52,3 56,8
157 49,5 53,2 57,7
158 50 53,6 58,3
159 50,5 54 58,9
160 50,9 54,5 59,5
161 51,5 55,3 60,1
162 52,1 56,1 60,7
163 52,7 56,1 61,4
164 53,6 56,8 62,3
165 54,5 57,7 63,2
166 55,1 58,6 63,8
167 55,7 59,2 64,4
168 56,4 59,8 65
169 57,3 60,5 65,9
170 58,2 61,4 66,8
171 58,8 62,2 67,4
172 59,4 62,8 68

307
UNICESUMAR

Peso (kg)/ ossatura


Altura (cm)
Pequena Média Grande
173 60 63,4 68,6
174 60,9 64,1 69,8
175 61,8 65 70,9
176 62,4 65,9 71,7
177 63 66,5 72,5
178 63,6 67,1 73,2
179 64,5 68,6 74,1
180 65,5 69,5 75
181 66,1 70,1 75,6
182 66,7 70,7 76,2
183 67,3 71,4 76,8

Quadro 4 - Representação dos diferentes pesos e tipos de ossatura para o gênero feminino / Fonte: adaptado de Nozaki et al. (2013).

O peso usual ou habitual é utilizado como referência na avaliação de mudanças recentes de peso e
em casos em que há a impossibilidade de aferir o peso atual. A classificação do estado nutricional de
acordo com a adequação do peso atual em relação ao peso desejável é calculada com base na fórmula:

Pesoatualx100
Adequaçãodepeso(%) =
Pesoideal
Segundo o percentual de adequação encontrado, o paciente será classificado de acordo com os valores
encontrados no Quadro 5.

Valores encontrados (%) Classificação

>120 Obesidade

110 a 120 Sobrepeso

90,1 a 110 Normal

80,1 a 90 Desnutrição leve

70,1 a 80 Desnutrição moderada

<70 Desnutrição grave

Quadro 5 - Classificação do estado nutricional conforme a adequação do peso atual / Fonte: adaptado de Nozaki et al. (2013).

308
UNIDADE 9

O peso ajustado, por sua vez, é o peso corrigido para a determinação das necessidades energéticas e
de nutrientes quando a adequação do peso atual for inferior a 95% ou superior a 115%. Ele pode ser
obtido por meio da seguinte equação:

Pesoajustado  ( Pesoideal  pesoatual ) x0, 25  pesoatual

Em suma, quando não for possível aferir a medida do peso corporal atual, tais como nos pacientes
acamados, é possível estimá-la por meio de equações preditivas. Nesse caso, é necessária a obtenção
de medidas específicas. São usadas algumas fórmulas preditivas. Para a aplicação da fórmula desen-
volvida por Chumlea, Guo e Steinbaugh (1988), é preciso medir a circunferência da panturrilha (CP),
a altura do joelho (AJ), a circunferência do braço (CB) e a dobra subescapular (DCSE). Essa equação
foi elaborada para a população idosa, mas tem sido usada em adultos.
Já para aplicar a fórmula de Rabito et al. (2006), é preciso medir as circunferências do braço, do
abdome e da panturrilha (Quadro 7). Todas essas medidas devem ser realizadas no lado não dominante
do corpo. Quando não for possível obter alguma medida (por amputação/edema), deve-se aferi-la no
membro correspondente do outro lado do corpo (NOZAKI et al., 2013).

Gênero Equação

Feminino peso  {(1, 27 xCP[cm])  (0, 87 xAJ [cm])  (0, 98 xCB[cm])  (0, 4 xDCSE )  62, 35}

Masculino peso  {(0, 98 xCP[cm])  (1,16 xAJ [cm])  (1, 73 xCB[cm])  (0, 37 xDCSE )  81, 69}

Quadro 6 - Fórmulas para cálculo do peso para adultos e idosos, segundo o gênero, utilizando, como referência, Chumlea, Guo
e Steinbaugh (1988) / Fonte: adaptado de Nozaki et al. (2013).

Gênero Equação

Feminino peso  0, 5759 xCB(cm)  0, 5263 xCA(cm)  1, 2452 xCP (cm)  4, 8689 x 2  32, 9241

Masculino peso  0, 5759 xCB(cm)  0, 5263 xCA(cm)  1, 2452 xCP (cm)  4, 8689 x1  32, 9241

Quadro 7 - Fórmulas para cálculo do peso para adultos e idosos, segundo o gênero, utilizando, como referência, Rabito et al.
(2008) / Fonte: adaptado de Nozaki et al. (2013).

As fórmulas para estimativa de peso desenvolvidas por Chumlea, Guo e Steinbaugh (1988) foram as
primeiras a serem elaboradas a partir das medidas corporais consideradas indicadores da composição
corporal, como circunferências e dobras cutâneas. Até então, a estimativa de peso era feita com base
apenas no sexo, na altura e na idade, limitando, dessa forma, a avaliação da variação do peso, uma vez
que esses dados não contemplam as mudanças na composição corporal.

309
UNICESUMAR

Outra desvantagem das fórmulas preditivas era


a dependência de aferição da altura, medida que
pode ser realizada por meio de métodos diretos
e com altura recumbente, mas nem sempre pode
ser feita adequadamente em indivíduos amputados
ou com deformidades ósseas. Estudos semelhantes
utilizando a população latino-americana são escas-
sos. Rabito et al. (2008) desenvolveram equações
para população brasileira maior que 18 anos. Elas
foram validadas em um grupo de 100 pacientes de
ambos os sexos com idade média de 48 anos. Logo,
observou-se alta concordância entre as equações
na obtenção de peso (MONTEIRO et al., 2009).
A altura é bastante utilizada para o cálculo do
Índice de Massa Corporal (IMC), das necessidades
energéticas e de alguns métodos de determinação
da composição corporal. Assim, por meio do peso e
da altura, é possível obter o IMC, que é o indicador
mais simples do estado nutricional, sendo essencial
para o diagnóstico nutricional do paciente, a esco-
lha de medidas terapêuticas e a serem utilizadas, e
para a monitoração do estado de saúde de indiví-
duos, principalmente dos hospitalizados.
No entanto, algumas situações podem neces-
sitar de métodos de avaliação nutricional alter-
nativos, pela impossibilidade de mensuração do
peso ou da altura, como em casos de pacientes
acamados que não deambulam (devido aos pro-
cedimentos cirúrgicos de grande extensão ou a
algumas patologias), indivíduos amputados e po-
litraumatismo. Dessa forma, algumas fórmulas de
estimativa são propostas pela literatura, para que
se possa obter o peso e a altura desses pacientes
(SANTOS; CAMARGO; PAULO, 2012).
Em relação às equações para estimativa de
altura, foram encontrados nove trabalhos reali-
zados a partir da população americana em um
trabalho da Organização Mundial da Saúde (OMS,
1999), o qual, apesar de não citar a população es-
tudada, foi incluído por ser muito empregado na

310
UNIDADE 9

prática clínica. No Quadro 8, são exibidas as equações e as características das respectivas populações
(como hispânicos e porto riquenhos), incluindo o tamanho da amostra, o sexo, a idade, a nacionalidade
e a etnia (MONTEIRO et al., 2009).

Autores Fórmulas para estimativa de altura

Chumlea Mulheres : A  cm   84, 88  1, 83 x AJ  cm    0, 24 x I  anos  


et al.
(1995) Homens : A  cm   60, 65   2, 04 x AJ  cm  

Mulheres brancas : A  cm   75  1, 91 x AJ  cm    0,17 x I  anos  


Chumlea Homens brancos : A  cm   59, 01   2, 08 x AJ  cm  
et al.
(1992) Mulheres negras : A  cm   58, 72  1, 96 x AJ  cm  

Homens negros : A  cm   95, 79  1, 37 x AJ  cm  

Mulheres brancas : A  cm   70, 25  1, 87 x AJ  cm    0, 06 x I  anos  

Chumlea Mulheres negras : A  cm   68,1  1, 86 x AJ  cm    [0, 06 x I  anos 


et al.
(1994) Homens brancos : A  cm   71, 85  1, 88 x AJ  cm  

Homens negros : A  cm   73, 42  1, 79 x AJ  cm  

Silveira Homens : A  cm   72, 803  1, 830 AJ  cm  


e Silva
(1994) Mulheres : A  cm   51, 875  2,184 AJ  cm ]

Homens : A  cm   59, 678   2, 279 x AJ  cm  


Hernán- Homens : A  cm   64, 048   2, 257 x AJ  cm    0, 07455 x I  anos  
dez et al.
(1995) Mulheres : A  cm   65, 591   2, 059 x AJ  cm  

Mulheres : A  cm   70, 005   2, 071 x AJ  cm    0,112 x I  anos  

311
UNICESUMAR

Autores Fórmulas para estimativa de altura

Homens brancos : A  cm   78, 31  1, 94 x AJ  cm    0,14 x I  anos  

Homens negros : A  cm   79, 69  1, 85 x AJ  cm     0,14 x I  anos ].

Chumlea Homens mexicanos : A  cm   82, 77  1, 83 x AJ  cm    0,16 x I  anos  


et al.
(1998) Mulheres brancas : A  cm   82, 21  1, 85 x AJ  cm    0, 21 x I  anos  

Mulheres negras : A  cm   89, 58  1, 61 x AJ  cm    0,17 x I  anos   .

Mulheres mexicanas : A  cm   84, 25  1, 82 x AJ  cm    0, 26 x I  anos  

Organi-
zação
Mundial
de Saú- A  m   0, 73 x  2 x E / 2  m    0, 43
de- OMS
(1999)

Povos hispânicos:

Homens : A  cm   70, 28  1, 81 x AJ  cm  

Homens : A  cm   76, 02  1, 79 x AJ  cm    0, 07 x I  anos  

Mulheres : A  cm   59, 29  1, 92 x AJ  cm  

Mulheres : A  cm   68, 68  1, 90 x AJ  cm    0,123 x I  anos  


Bermú-
dez et al.
(1999) Povos de Porto Rico:

Homens : A  cm   53, 42   2,13 x AJ  cm  

Homens : A  cm   52, 95   2,13 x AJ  cm    0, 006 x I  anos  

Mulheres : A  cm   55, 98  1, 99 x AJ  cm  

Mulheres : A  cm   66, 80  1, 94 x AJ  cm    0,123 x I  anos  

312
UNIDADE 9

Autores Fórmulas para estimativa de altura

Mulheres : A  cm   106, 0251  1,1914 x AJ  cm   9 x I  anos  


0,1539

Palloni e Mulheres : A  cm   94, 0667  1, 2110 x AJ  cm  


Guend
(2005) Homens : A  cm   105, 9638  1, 2867 x AJ  cm   0,1030 x I  anos  

Homens : A  cm   98,1691  1, 2948 x AJ  cm  

Rabito et
58, 045  2, 965 x  sexo  *  0, 07309 x I  anos   0, 5999 x Cu
uB  1, 094 x E / 2
al. (5006)
63, 525  3, 237 x  sexo  *  0, 06904 x I  1, 293 x E / 2

Quadro 8 - Fórmulas para estimativa de altura corporal obtidas a partir da população americana
Fonte: adaptado de Monteiro et al. (2009).

A = altura, AJ = altura do joelho, I = idade, CuB = cumprimento do braço

Além da altura do joelho, outras medidas são usadas para estimar a altura. No Brasil, foram realizados
estudos por Rabito et al. (2008) para obtenção e validação de equações de estimativa de altura espe-
cíficas para a população brasileira maior que 18 anos, utilizando como segmentos corporais a meia
envergadura e o comprimento do braço (MONTEIRO et al., 2009).
As medidas antropométricas são de grande importância para a avaliação do estado nutricional dos
pacientes. É possível obter a composição dos dois compartimentos da massa corporal: a massa magra
e o tecido adiposo. As informações obtidas refletem o passado da história nutricional do indivíduo.
As medidas antropométricas, geralmente, mais usadas para avaliação da desnutrição, incluem: IMC,
espessura de dobras cutâneas, circunferência do braço (CB), circunferência muscular do braço (CMB),
peso corporal e estatura (E).
O IMC, em pacientes críticos, pode estar significativamente modificado, pois o peso sofre severas
influências e há depleção de volume ou de sobrecarga, como resultado de grandes alterações do balan-
ço hídrico em um curto período de tempo. Desse modo, o IMC dos pacientes estará superestimado.
A relação entre o peso corporal e a mortalidade em pacientes críticos não é clara. Poucos estudos do
IMC em pacientes críticos estão disponíveis. Entretanto, alguns estudos sugerem que a inclusão do
IMC em escores preditores de mortalidade deveria ser considerada.
Na França, um estudo prospectivo multicêntrico foi feito com 1698 pacientes adultos. Ele foi con-
duzido durante dois anos em UTI médico-cirúrgicas, com o objetivo de analisar a associação entre o
IMC e a mortalidade em pacientes críticos. Os pacientes foram divididos em quatro grupos. Por inter-
médio de análises estatísticas, verificou-se que um baixo IMC (< 18, 5 kg/m²) está associado à maior
mortalidade e um alto IMC está vinculado à menor mortalidade. Os dados do estudo sugerem que o
IMC pode ser um componente útil no desenvolvimento de futuros escores preditores de mortalidade.

313
UNICESUMAR

Diante disso, já que o IMC está ausente na maioria dos escores utilizados, mais estudos são necessários
para determinar se incluir o IMC melhoraria a efetividade deles ou não (FONTOURA et al., 2006).
Estudos sobre a estimativa de IMC são escassos na literatura. Foi encontrado apenas um trabalho
realizado por Fogaça e Oliveira (2003), que realiza uma avalição a partir do uso de uma escala de nove
figuras como ferramentas para a estimativa do IMC dos pacientes. Os autores também avaliaram as
relações entre as medidas de largura do ombro e os diâmetros da cintura e do quadril e o IMC, por serem
medidas que poderiam ser viabilizadas em pacientes acamados. Além disso, propuseram uma fórmula
preditiva por meio dos dados analisados, conforme apresentado a seguir (MONTEIRO et al., 2009):

IMC   7, 527  0, 628 x diâmetro da cintura  cm    0, 387 x diâmetro do quadril  cm  

Um estudo feito por Ravasco et al. (2002) identificou possíveis parâmetros nutricionais em um cuidado
intensivo para avaliação do estado nutricional e estimar a prática. O estudo incluiu pacientes adultos
com tempo de permanência maior que 48 horas, insuficiência respiratória e dependentes, ou não, de
ventilação mecânica. Foram utilizados dados laboratoriais e medidas antropométricas. De acordo
com o protocolo da unidade, foram usados escores que classificam o grau de gravidade da doença. Os
resultados evidenciam que o edema esteve relacionado ao aumento do percentual de peso ideal e o
IMC influenciou a classificação de maior número de pacientes bem nutridos e com sobrepeso.
Na análise da CB e CMB, foi observada depleção muscular e mostrado que 50% dos pacientes
analisados eram desnutridos. As proteínas totais estavam reduzidas em 52% dos pacientes, enquanto a
albumina foi de 3,5 mg/dL em 86% dos pacientes. Em 82% dos pacientes, a contagem total de linfócitos
(CTL) foi de 1500 cels/mm³. A análise da massa muscular mostrou que o maior número de pacientes
apresentou depleção de moderada (55%) a grave (38%), tendo maior prevalência em idosos (> 65 anos).
A má nutrição, classificada pela CMB P5, foi associada às altas taxas de mortalidade. Nenhum outro
parâmetro antropométrico isolado ou em grupo foi associado à mortalidade (FONTOURA et al., 2006).

314
UNIDADE 9

Envolto na avaliação nutricional de pacientes hospitalizados, há a avaliação laboratorial,


visto que a utilização das proteínas séricas como instrumento de avaliação de desnutrição
em pacientes gravemente enfermos tem sido relatada na literatura como um importante
e confiável método. A grande limitação dos exames laboratoriais é a suscetibilidade às
alterações por diversas condições clínicas, como inflamação crônica ou aguda, infecções,
traumas, oscilações no estado de hidratação e na função hepática e/ou renal.
Dessa forma, dados laboratoriais podem não refletir necessariamente o estado nu-
tricional do paciente hospitalizado. É imprescindível, portanto, que sejam interpretados,
junto à avaliação clínica, a história medica pregressa e o uso de medicamentos de maneira
contextualizada. Os marcadores laboratoriais devem ser encarados como complemen-
tares à investigação nutricional, que depende preponderamente da história pregressa e
do exame físico (FONTOURA et al., 2006; MORAES, 2021).
É sabível que a síntese das proteínas hepáticas depende de aminoácidos disponíveis. O
paciente com desnutrição terá essa deficiência no organismo. Frente às diversas respos-
tas sistêmicas à doença ou à injuria, há um aumento ou redução da produção de certas
proteínas hepáticas, que podem ser classificadas como proteínas de fase aguda, pelo fato
de serem responsivas à resposta sistêmica ao estresse.
As principais proteínas hepáticas pertinentes à avaliação nutricional podem ser
agrupadas em proteínas de fase aguda negativas e positivas. Em condições clínicas in-
flamatórias, a resposta aguda é responsável por reduzir a produção de diversas proteínas
que, por essa razão, são chamadas de proteínas de fase aguda negativa. Por exemplo, há
a albumina, a pré-albumina, a transferrina, a transcortina e a proteína ligada ao retinol
(FONTOURA et al., 2006; MORAES, 2021).
A albumina sérica é o indicador bioquímico de desnutrição mais utilizado, sendo
também considerado um bom preditor de mortalidade e morbidade. Dados laboratoriais
alterados, como hipoalbuminemia, não podem ser considerados isoladamente indica-
dores de desnutrição. Na presença de lesão, a albumina, uma proteína negativa de fase
aguda, tende a diminuir a concentração, devido à inibição da síntese pelas citocinas e ao
aumento da permeabilidade vascular com extravasamento para o espaço extracelular.
Explica-se, dessa forma, o fato de a albumina ser um fraco índice para avaliar o estado
nutricional, mas um bom indicador de lesão e do estresse metabólico. Em pacientes
críticos, é mais comumente um indicador da resposta inflamatória.
Trata-se de uma proteína plasmática com meia-vida de 14 a 20 dias, responsável pelo
transporte de diversos minerais, vitaminas, hormônios e ácidos graxos. Também é a prin-
cipal responsável por manter a pressão osmótica dos capilares sanguíneos. Diariamente,

315
UNICESUMAR

apenas 5% da albumina total do corpo é produzida


pelo fígado, enquanto mais de 50% está localizada no
meio extravascular. O consumo de proteína impacta
de maneira significante as concentrações séricas de
albumina. No entanto, as condições inflamatórias e
o uso de medicamentos, principalmente quando in-
fluenciam a função hepática, são capazes de reduzir
drasticamente a quantidade de albumina. Além disso,
a albumina sérica tende a reduzir nos casos em que
há síndrome nefrótica e perdas gastrointestinais por
enteropatias perdedoras de proteínas (FONTOURA
et al., 2006; MORAES, 2021).
A albumina sérica menor que 3,5 g/dL é, normal-
mente, considerada um indicativo de desnutrição. A
pré-albumina tem sido entendida por muitos autores
como o melhor indicador de desnutrição proteica.
Devido à meia-vida curta e ao pequeno tamanho, ela
é capaz de refletir modificações no estudo nutricional
de pacientes graves em um curto espaço de tempo, o
que não ocorre com a albumina. A pré-albumina,
com metabolismo similar ao da albumina, apresen-
ta tempo de meia-vida de, aproximadamente, dois
a três dias. Trata-se de uma proteína de fase aguda
negativa produzida pelo fígado e, por isso, pode estar
reduzida em casos de doença hepática. Por serem as
responsáveis pelo transporte de tiroxina, as molécu-
las de pré-albumina são mais baixas que o normal
nessas condições. As concentrações de pré-albumina
também são reduzidas em condições inflamatórias e
aumentadas quando há perda da função renal e desi-
dratação (FONTOURA et al., 2006; MORAES, 2021).
Existem potenciais benefícios da inclusão da pré-
-albumina na avaliação laboratorial dos pacientes,
como: a identificação precoce da desnutrição proteica
e de riscos nutricionais; a determinação precoce de su-
porte nutricional; em longo prazo, melhora-se a con-
dição de vida; é possível contribuir para a redução da
mortalidade; há a redução do tempo de permanência
hospitalar, com a diminuição dos custos hospitalares.
Logo, a avaliação da pré-albumina é recomendada

316
UNIDADE 9

para alguns pacientes, em especial, aqueles com idade


maior que 65 anos, com dificuldade para ingerir ou
engolir por mais de cinco dias, com um histórico de
perda de peso maior que 20% que o peso usual, por-
tadores de AIDS, com nível muito baixo de albumina
sérica e que utilizam nutrição enteral ou parenteral
(FONTOURA et al., 2006; MORAES, 2021).
A transferrina e a proteína ligada ao retinol são utili-
zadas como medidores da capacidade de armazenamen-
to de ferro. Existem poucas pesquisas sobre a utilização
delas na avaliação nutricional de pacientes graves. A
proteína ligada ao retinol tem meia-vida mais curta,
mas a utilização dela ainda é restrita e a literatura não
tem muitas informações sobre a eficácia. Desse modo,
a transferrina é a principal proteína responsável pelo
transporte de ferro, com meia-vida de 10 dias. Ela é
reduzida em quadros inflamatórios e em hepatopatias,
e aumentada em casos de deficiência de ferro, com o
intuito de acompanhar o aumento da capacidade de
absorção intestinal de ferro. Portanto, concentrações
séricas de transferrina também são afetadas pela per-
da de função renal e pelo uso de contraceptivos orais
(FONTOURA et al., 2006; MORAES, 2021).
Estudos relatam que a albumina sérica e a proteí-
na ligada ao retinol são os melhores indicadores das
proteínas viscerais no trauma. Contudo, ressaltam
que os níveis de pré-albumina e de transferrina são
questionáveis em situações semelhantes. Por fim, há
a proteína ligadora do retinol (PLR), responsável
pelo transporte do retinol, um precursor inativo para
a produção de diversas formas ativas da vitamina A.
Ela circula no plasma sanguíneo em conjunto com a
pré-albumina, possui meia-vida de 12 horas e é orgi-
nalmente sintetizada pelo fígado.
As condições inflamatórias e as doenças hepáticas
podem reduzir as concentrações séricas de PLR e pro-
porcionar a deficiência de vitamina A e zinco. A PLR
pode estar aumentada em casos de insuficiência renal
(FONTOURA et al., 2006; MORAES, 2021). Observe
esses dados no Quadro 9.

317
UNICESUMAR

Proteína Meia- vida Fatores que influenciam

Estado de hidratação do paciente, doenças renais e he-


Albumina 20 dias páticas, trauma, procedimento cirúrgico, sepse, edema, e
proteína dietética.

Gravidez, hepatite aguda, utilização de contraceptivos orais,


Transferrina 8 dias doenças hepáticas terminais, neoplasias, altas doses de an-
tibióticos e proteína dietética.

Doença crônica renal, estado nutricional em relação à vita-


Proteína 10 horas
mina A e proteína dietética.

Estresse, hipertireoidismo, doenças crônicas inflamatórias,


Pré-albumina 48 horas
utilização de esteroides e proteína dietética.

Quadro 9 - Proteínas séricas utilizadas na avaliação nutricional / Fonte: adaptado de Fontoura et al. (2006).

A proteína de fase aguda com maior aplicabilidade clínica é a proteína c- reativa (PCR), com meia-
-vida de 19 horas. Ela é utilizada como marcador de inflamação e infecção. Em processos inflamatórios
agudos, o aumento acima de valores normais é detectado a partir de seis horas de insulto inicial e
atinge um pico em 48 horas. Os valores basais aumentados de PCR podem indicar risco aumentado de
diabetes, hipertensão e doença cardiovascular. Infecções virais tendem a aumentar a PCR de maneira
menos intensa que infecções bacterianas com o uso de fármacos, como anti-inflamatórios e estatinas.
A inflamação aguda é uma resposta fisiológica às infecções ou às injúrias, responsável por organizar
a mobilização de uma série de células e moléculas de defesa da circulação para eliminar patógenos e
toxinas, além de resolver as consequências do processo de lesão (tecido e células necrosadas). Uma
reação inflamatória geralmente tem início com um agente patógeno infiltrado ou uma lesão em tecido
extravascular, evento prontamente identificado por células e moléculas de defesa do hospedeiro, como
os leucócitos (células brancas).
Os níveis circulantes de leucócitos aumentam durante a resposta inflamatória, principalmente em
infecções e alguns tipos de câncer, como leucemia. A reação inflamatória é eventualmente controlada
e encerrada, e o processo inflamatório se sustenta de maneira crônica. Exemplos de condições clínicas
com perfil inflamatório crônico incluem câncer, obesidade, doença pulmonar, insuficiência cardíaca
e doença cardiovascular. O grau de inflamação é refletido na dosagem de PCR: condições agudas e
graves são associadas aos valores muito altos de PCR, enquanto as condições de inflamação crônica
se associam aos valores levemente elevados (MORAES, 2021).
A contagem total de linfócitos (CTL) pode variar de acordo com o grau de desnutrição; níveis
inferiores a 1500/mm³ e 900/mm³ estão associados à desnutrição e à desnutrição grave, respectiva-
mente. Uma metanálise que incluiu estudos avaliando o estado nutricional de pacientes idosos após

318
UNIDADE 9

cirurgia para reparo de fraturas no quadril demonstrou que valores reduzidos de contagem total de
linfócitos foi capaz de predizer mortalidade em pacientes desnutridos, com aumento no risco de morte
em 2,65 vezes em comparação aqueles como CTL dentro da normalidade. No entanto, a literatura é
inconsistente quando à capacidade de CTL refletir estado nutricional em pacientes idosos, uma vez que
o parâmetro pode estar reduzido pelo avanço da idade, comorbidades, medicamentos e quimioterapia.
Situação de doença ou injúria aguda tendem também a reduzir drasticamente os valores de CTL pelo
intenso processo inflamatório; de maneira geral, a CTL não é considerada parâmetro específico para
determinação do estado nutricional, apesar de apresentar algum valor prognóstico clínico em situação
pontuais, como evidenciado pela metanálise de população especifica de idosos (MORAES, 2021).
Ademais, a hipocolesterolemia, caracterizada por valores de colesterol total sérico abaixo de 160
mg/dL, apesar de frequentemente associada à desnutrição, não parece apresentar grande utilidade
diagnóstica ou prognóstica de maneira isolada. Em geral, valores muito reduzidos de colesterol total
devido à depleção nutricional são vistos apenas em estágios avançados de desnutrição. Concentrações
de colesterol podem estar reduzidas devido à resposta inflamatória, condições clínicas específicas
(com doença hepática grave, síndrome de má- absorção e câncer) ou medicamentos hipolipemian-
tes, como estatinas. Além disso, a ingestão alimentar por si só impacta a maneira muito modesta no
colesterol sérico (MORAES, 2021).
Indivíduos identificados em alto risco nutricional e desnutridos podem apresentar concentrações
séricas de hemoglobina significativamente menores que pacientes bem nutridos. Uma metanálise
demostrou hemoglobina como marcador de desnutrição, com ponto de corte de 13 g/dL, por se tratar de
uma proteína com meia- vida de 3 meses, é um parâmetro laboratorial pouco suscetível a alterações por
processos inflamatórios agudos. No entanto, é possível que variações no nível de hidratação influenciem
nos valores laboratoriais de hemoglobina e hematócrito: quanto menor o volume intravascular, maior
é a hemoconcentração e, consequentemente, maiores serão os valores de hemoglobina e hematócrito.
Em suma, o papel dos exames laboratoriais na avaliação nutricional de pacientes hospitalizados é ad-
juvante à avaliação global, complementando o entendimento do contexto clínico. Logo, é fundamental
que a equipe multidisciplinar se aproprie do significado e da aplicabilidade de cada exame laboratorial,
evitando condutas improprias e otimizando o cuidado assistencial (MORAES, 2021).
O conceito de balanço nitrogenado (BN) representa a diferença entre a ingestão e a excreção de
nitrogênio, teoricamente refletindo o ganho (saldo positivo) ou a perda (saldo negativo) de proteína
corporal total. Pacientes que recebem mais proteína do que perdem podem ser considerados em
balanço nitrogenado positivo. Caso contrário, são considerados em balanço nitrogenado negativo. A
equação apresentada a seguir é a mais utilizada para estimar o balanço nitrogenado (MORAES, 2021):

BN  (ingestãodenitrogênio)  (excreçãodenitrogênio)

Ingestãodeproteína ( g ) ureiaurináriade 24horas ( g )


BN  ( )  (( )  4)
6, 25 2,14

319
UNICESUMAR

Na estimativa do BN, a ingestão total de proteína é dividida por 6,25, pois


parte-se do pressuposto de que cada grama de proteína seja composta por,
aproximadamente, 16x de nitrogênio (derivado do cálculo 1 / 6,25 – 0,16).
Por sua vez, inclui-se o valor de 4 gramas de ureia na excreção de uma esti-
mativa que reflete as perdas insensíveis: 2g excretados pela urina em forma
de amônia, ácido úrico, creatinina e aminoácidos, e 2g equivalentes às perdas
gastrointestinais e dérmicas.
Embora os saldos negativos e positivos, usualmente, sejam interpretados
como estado catabólico e anabólico, respectivamente, esses termos não são
particularmente apropriados para a descrição do saldo de massa muscular,
uma vez que o balanço nitrogenado positivo, por si só, não é capaz de indicar
o acúmulo de proteína corporal total. Por exemplo, a ingestão de nitrogênio
pode exceder a excreção por alterações na função hepática ou renal. Nesses
casos, o paciente pode estar apenas eliminando menos nitrogênio por outras
condições clínicas, levando a uma falsa impressão de anabolismo.
A redistribuição de proteínas e aminoácidos entre diferentes comparti-
mentos (massa muscular, intestino e fígado, por exemplo) pode ser drastica-
mente afetada por alterações em diversos processos fisiológicos e metabólicos
decorrentes de inflamações ou de condições clinicas específicas. No paciente
crítico, por exemplo, mesmo em balanço nitrogenado positivo, o perfil hor-
monal e inflamatório característico do estado hipercatabólico leva à redução
da síntese proteica muscular (MORAES, 2021).
Sendo assim, pela possibilidade de o paciente se encontrar em catabo-
lismo muscular mesmo em balanço nitrogenado positivo, o saldo entre a
ingestão e a excreção de nitrogênio não reflete, por si só, o estado de ana-
bolismo ou de catabolismo. Em contraste, o balanço nitrogenado pode ser
um parâmetro adequado para monitorar a adequação da terapia nutricional,
ao contrário de definir grau de catabolismo e depleção nutricional. Por
exemplo, um paciente com balanço nitrogenado de -20g/dia sem receber
uma terapia nutricional plena (a oferta energético-proteica é inferior ao alvo
nutricional sugerido pelas recomendações), provavelmente, beneficiou-se
da maior oferta nutricional, caso não haja contraindicação. Acompanhando
o balanço nitrogenado do paciente após o aumento da oferta proteica, é
possível observar uma redução do saldo negativo do balanço nitrogenado,
que passou de -20g/dia para -5g/dia (MORAES, 2021).
Há, também, a creatinina, que corresponde ao produto final do metabolis-
mo da creatina, proteína produzida pelo fígado e captada por diversos tecidos,
principalmente pelo músculo esquelético, que comporta 98% do conteúdo
total de creatinina. A taxa de aparecimento da creatinina na corrente sanguínea
é reflexo do turnover proteico de massa muscular esquelética.

320
UNIDADE 9

Considerando o balanço nitrogenado e a taxa de creatinina, inserimos o


contexto do turnover proteico: você sabe o que ele significa? O turnover
abrange a renovação ou a substituição de uma substância biológica e a
troca entre diferentes “compartimentos”. Em relação à proteína, ele se
refere a um termo geral para descrever tanto a síntese quanto a degra-
dação dela. É de suma importância conhecer esse mecanismo fisiológico.
Assim, sugiro a leitura do artigo Mecanismos fisiológicos e bioquímicos
envolvidos no turnover proteico: deposição e degradação de proteína muscular.

Por consequência, é esperado que indivíduos com maior quantidade


de massa muscular apresentem maior produção e excreção urinária
de creatinina em 24 horas. Tanto a taxa de excreção urinária quanto a
taxa de produção permanecem constantes em circunstâncias normais
de função renal. A excreção de 24 horas de creatinina, por essa razão,
pode ser usada como um indicador de quantidade total de creatinina
corporal e, consequentemente, de massa muscular corporal. Como
regra, é possível estimar que, para homens, o padrão de excreção
teórica de creatinina é de 23 mg/kg de peso ideal e, para mulheres,
18 mg/ kg de peso ideal.
A seguir, é apresentada a equação para o cálculo do índice creati-
nina-altura (ICA):

excreçãodecreatininaurináriaem 24horas (mg )


ICA = x100
excreçãoteóricadecreatininaurináriaem 24horas (mg )

Por exemplo, para um homem de 1,78 metros de altura e 42 anos, espe-


ra-se uma excreção urinária de creatinina de 1491 mg por dia. Após a
coleta de urina de 24 horas, a quantidade total excretada de creatinina foi
de 1200 mg. De acordo com a equação demostrada: (1200 / 1491x100)
, o paciente apresenta ICA superior a 80%, o que não indica depleção
da massa muscular. Verifique o Quadro 10, que sumariza os exames
laboratoriais comumente utilizados na prática clínica, a aplicabilidade,
limitações e valores de referência.

321
UNICESUMAR

Limitações para
Marcador Aplicabilidade Faixa de normalidade
avaliação nutricional

Parte da avaliação da Não reflete reservas fi-


Mulheres: 12 a 15,5 g/dL
Hemoglobina anemia e outros dis- siológicas ou ingestão
Homens: 13,5 a 17,5 g/dL
túrbios hematológicos alimentar

Suscetível a altera-
ções por inflamação,
disfunção renal e he-
pática, e estado de
Pré-albumina 16 a 35 mg/dL
hidratação; insensível
Níveis reduzidos po- e inespecífica para
dem indicar indireta- detectar mudanças
mente presença de na ingestão alimentar
inflamação e/ou in-
fecção.

Compartilha das limita-


ções da pré- albumina,
Albumina 3,5 a 5,0 g/dL
além de ter longa meia-
vida (14 a 20 dias).

O parâmetro não au-


xilia no diagnóstico
Em altos níveis, pode Média de valor normal é do estado nutricional;
indicar redução da 0,8 mg/dL, mas há grande é possível que haja
Proteína eficácia da terapia variação entre indivíduos; importante grau de
C-reativa nutricional, maior ca- valores abaixo de <10 mg/ inflamação mesmo na
tabolismo e sugestão dL não sugerem inflamação ausência de elevação
de pior prognóstico. importante. da PCR; pode ter ex-
pressão atenuada em
hepatopatias.

Indica se a perda de Redução da excreção


-Neutro: pouca variação em
proteína é superior por disfunção hepáti-
torno do zero, com amplitu-
ou inferior à ingestão ca e renal; saldo em si
Balanço de de -3 a +3d/dia.
proteica. Pode auxiliar não reflete a dinâmica
nitrogenado - Negativo: saldo constante-
no monitoramento da de processos anabóli-
mente positivo; > +2 a +3g/
adequação da terapia cos e catabólicos nos
dia ou maior.
nutricional. diferentes tecidos.

322
UNIDADE 9

Não é um parâmetro
Marcador do sistema que reflete alterações
ICA (índice
imune, aumentado nutricionais, mas que
creatinina0 4 a 11 x 109/ L
na presença de infec- frequentemente, por
altura)
ções. sua vez, impactam no
estado nutricional.

É um parâmetro
Associação com des- pouco sensível a al-
Hipocolestero- nutrição em estágios terações do estado
lemia (baixos graves; é preditor de nutricional e ingestão
<160 mg/dL
níveis de coles- mortalidade junto a alimentar; suscetível a
terol sérico) níveis baixos de he- alterações por disfun-
moglobina. ção e uso de hipolipe-
miantes.

Quadro 10 - Parâmetros laboratoriais, aplicabilidade, limitações e valores de referência / Fonte: adaptado de Moraes (2021).

Há, também, a bioimpedância (BIA), um método que permite a avaliação da composição corporal
por meio da estimativa da água corpórea total (ACT) e, a partir dela, da massa livre de gordura (MLG)
e da porcentagem de gordura corpórea. Esse método se baseia na relação entre o volume do condutor
(corpo), o comprimento (altura) e a impedância dele. Evidências literárias sugerem que a BIA pode ser
usada para avaliar mudanças na composição e no volume de água corpórea em indivíduos saudáveis.
Ela foi muito estudada em pacientes críticos.
Alguns estudos concluem que a mudança na impedância proporciona mudanças no volume da água
corpórea total e, talvez, na compartimentalização. Outros estudos sugerem que a BIA não parece ser
uma técnica útil para medir mudanças na composição corporal dos pacientes críticos, pelo menos, na
forma presente do método do estudo, que utiliza o modelo de dois componentes. Aceitar que a relação
entre a água corporal total e a massa corporal magra é estável é, normalmente, inválida nos pacientes
críticos, mas é inerente a todos os modelos de dois compartimentos nos quais os componentes corpo-
rais são derivados secundariamente a partir de medidas da água corporal (FONTOURA et al., 2006).
O fato mencionado é uma das razões pela qual a BIA teria sérias limitações como uma ferramenta
para avaliar mudanças nos tecidos corporais. Contudo, os autores entendem que a simplicidade e a
natureza não-invasiva das medidas desse método são grandes vantagens operacionais e que, com uma
melhor apreciação das implicações nas mudanças e na reatância em uma parte do corpo ou em toda
a extensão, o entendimento dos efeitos da má-nutrição, infecção, choque ou trauma superpostos no
paciente poderá melhorar a aplicabilidade.

323
UNICESUMAR

Estudos comparam resultados da análise da bioimpedância com a atividade metabólica em indivíduos


saudáveis e em pacientes críticos, partindo da hipótese de que a BIA determina com acurácia a composição
corporal dos pacientes críticos e saudáveis. Em suma, a análise infere que estudar a composição corporal
por meio da bioimpedância é válida tanto em pacientes críticos quanto em indivíduos saudáveis.
Em pacientes críticos, a massa celular corpórea é mais apropriada que a massa livre de gordura,
como um índice da massa de tecido metabolicamente ativo. A massa livre de gordura inclui a água
extracelular que frequentemente sofre flutuação no paciente critico, enquanto a massa celular corpórea
inclui apenas a água intracelular. Em suma, a real aplicabilidade do uso da BIA em pacientes críticos
é relativamente controversa (FONTOURA et al., 2006).

A identificação do risco nutricional em pacientes críticos é um desafio para os profissionais de


saúde, pois cada ferramenta de triagem nutricional tem limitações e características especificas.
Isso promove a inexistência de um consenso internacional que estabeleça a melhor ferramenta
para avaliação do risco nutricional perante à política de trabalho do hospital e das necessidades
do paciente. Dessa forma, o profissional nutricionista necessita estar em constante atualização e
trabalhar em conjunto com os demais profissionais.

324
UNIDADE 9

Atenção na determinação das necessidades energéticas deve estar incluída entre os primeiros cuidados
ao paciente hospitalizado, uma vez que as alterações metabólicas provocadas pela doença tornam a
avaliação nutricional um difícil exercício clínico. Muitos pacientes são caracterizados por um aumen-
to no gasto energético de repouso e pelo balanço nitrogenado negativo, situações correlacionadas à
gravidade da doença ou à extensão do trauma.
Historicamente, observa-se que pacientes febris e gravemente enfermos têm catabolismo proteico
aumentado. Esse conceito foi a base do fornecimento alimentar superestimado aos pacientes graves nas
décadas de 70 e 80, particularmente por meio da terapia nutricional parenteral. Logo, a determinação
apropriada das reais necessidades energéticas do paciente em estado crítico deve ser realizada a partir
do uso de alguns recursos antropométricos, como a mensuração do gasto energético total ou real.
Algumas fórmulas presuntivas são rotineiramente usadas para o cálculo do gasto energético, tais
como as tradicionais equações de Harris Benedict, que podem subestimar ou superestimar o gasto
energético real em até 10%, dependendo do paciente e do tipo da doença (COLETTO et al., 2003). Logo,
há fórmulas utilizadas habitualmente em pacientes internados ou em acompanhamento ambulatorial
e que apresentam doenças crônicas. Observe o Quadro 11.

Sexo Fórmula

Homens TMB  66  13.7 x P    5.0 x A   6.8 x I 

Mulheres TMB  655   9.6 x P   1.8 x A   4.7 x I 


*P: peso em kg; A: altura em cm; I: idade em anos.

Quadro 11 - Fórmulas para cálculo da TMB em pacientes hospitalizados / Fonte: adaptado de Coletto et al. (2003).

Após o cálculo da TMB, é calculado o gasto energético total por intermédio da multiplicação da TMB
pelos fatores de correção. Para todos os pacientes que estão acamados e sépticos, é utilizado o fator de
correção para atividade de 1,2. Contudo, para análise detalhada, é necessário considerar o fator injuria,
o fator térmico e o fator atividade. Observe os quadros 12, 13 e 14.

Fator atividade Condição

1,2 Paciente confinado ao leito

1,25 Paciente acamado, porém móvel

1,3 Paciente que deambula

Quadro 12 - Fator atividade para cálculo do gasto energético total / Fonte: adaptado de Medeiros, Medeiros e Serrão (2018).

325
UNICESUMAR

Temperatura
Sem febre 38ºC 39ºC 40ºC 41ºC
corporal

Fator térmico 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4

Quadro 13 - Fator térmico para cálculo do gasto energético total / Fonte: adaptado de Medeiros, Medeiros e Serrão (2018).

Fator Injúria Condição

1,20 Cirurgia

1,35 Trauma

1,6 Sepse

2,10 Queimadura grave

Quadro 14 - Fator injúria para cálculo do gasto energético total / Fonte: adaptado de Medeiros, Medeiros e Serrão (2018).

Considerando todos os fatores mencionados, é possível calcular o gasto energético total (GET) da
seguinte forma:

GET = TMBxFAxFIXFT

A correção do peso corpóreo de amputados é realizada subtraindo o peso da extremidade amputada


do peso ideal calculado. É importante ressaltar que, para amputações bilaterais, as porcentagens do-
bram o valor. Logo, é possível calcular o peso corrigido, o IMC, o peso atual corrigido e o peso ideal
corrigido a partir das seguintes fórmulas:

Peso Corrigido  100%  % segmento amputado  x Peso Ideal /100

IMC Amputados  peso corrigido  kg  / altura  m2  1  % amputação 

Peso Atual corrigido  Peso antes da amputação  % da amputação

Peso Ideal corrigido  Peso ideal calculado  % da amputação

Aliás, é possível estimar a proteína somática e o tecido adiposo a partir da adequação da circunferência
do braço (CB). Verifique a fórmula a seguir e o Quadro 15.

Adequação da CB  %   CB obtida  mm  x 100 / PCT  p50 

326
UNIDADE 9

Desnutrição Desnutrição Desnutrição


Eutrofia Sobrepeso Obesidade
Grave Moderada Leve

CB < 70% 70 - 80% 80 – 90% 90-110% 110-120% > 120%

Quadro 15 - Classificação da desnutrição segundo a adequação da CB / Fonte: adaptado de Medeiros, Medeiros e Serrão (2018).

A circunferência do braço, por sua vez, avalia a reserva de tecido muscular sem correção da área óssea.
Logo:

CMB  cm   CB  cm   x  PCT  mm  / 10  (considerando π como sendo 3,14)

Adequação da CMB  %   CMB obtida  cm  x 100 / CMB  p50 

Desnutrição
Desnutrição Grave Desnutrição Leve Eutrofia
Moderada

CMB < 70% 70 - 80% 80 – 90% 90-110%

Quadro 16 - Classificação da desnutrição segundo a circunferência muscular do braço


Fonte: adaptado de Medeiros, Medeiros e Serrão (2018).

Por fim, é possível realizar a mesma análise a partir da dobra cutânea tricipital. Para tanto:

Adequação da DCT  %   DCT obtida  mm  x 100 / DCT  p50 

Desnutrição Desnutrição Desnutrição


Eutrofia Sobrepeso Obesidade
Grave Moderada Leve

DCT < 70% 70 - 80% 80 – 90% 90-110% 110-120% > 120%

Quadro 17 - Classificação da desnutrição segundo a dobra cutânea do tríceps


Fonte: adaptado de Medeiros, Medeiros e Serrão (2018).

Um outro aspecto que chama atenção é o fato de o adequado estado nutricional ao longo da vida
estar relacionado à longevidade bem-sucedida. O processo de envelhecimento é associado a diversas
alterações fisiológicas que podem ter importantes implicações sobre o estado nutricional. Quando
se fala em avaliação geriátrica, a avaliação do estado nutricional é um dos itens primordiais, uma
vez que a detecção precoce de desnutrição tem relação estreita com a morbimortalidade. Logo, a
avaliação do idoso apresenta características particulares que as diferencia da avaliação nutricional
dos demais grupos populacionais.

327
UNICESUMAR

O idoso (60 anos ou mais anos) apresenta peculiaridades relacionadas ao progresso de envelhe-
cimento, incluindo: a redução progressiva da altura, que se dá de um a dois centímetros por década;
o ganho de peso progressivo e de IMC até próximo de 65 a 70 anos, diminuindo a partir de então;
as alterações da composição corporal, que diminuem a nível periférico e aumentam no interior do
abdome; e a redução da massa magra.
Alguns autores consideram que a desnutrição pode ser de difícil distinção das alterações resultan-
tes do processo natural do envelhecimento. Contudo, se não for detectada, pode gerar agravamento
das condições clínicas e aumento da mortalidade. A população idosa é particularmente propensa aos
problemas nutricionais devido aos fatores relacionados às modificações fisiológicas e sociais, à ocor-
rência de doença crônica, ao uso de medicações, aos problemas na alimentação (comprometendo a
mastigação e a deglutição), à depressão e às alterações da mobilidade, o que gera dependência funcional
(ACUÑA; CRUZ, 2004; SOUZA et al., 2013).
A perda de peso involuntária, a redução do apetite e a caquexia são comuns na população geriátrica.
A anorexia é a principal causa de desnutrição no idoso. Ela tem etiologia multifatorial, o que engloba
doença sistêmica, iatrogenia e fatores psicossociais. Os receptores gustativos e olfativos têm função
diminuída com o envelhecimento, comprometendo a qualidade estimulante do apetite contida nos
alimentos. Também se observa lentificação do esvaziamento gástrico, com o aumento da saciedade
(estado que se segue a partir de uma refeição na qual a fome se encontra inibida) e da saciação (processo
de regulação que ocorre durante a alimentação, que inibe a ingestão de mais alimento). Essas alterações
decorrentes do processo fisiológico de envelhecimento comprometem a ingestão de nutrientes, o que
pode levar à desnutrição (ACUÑA; CRUZ, 2004).
Diversos pesquisadores tentaram desenvolver instrumentos válidos para identificar os idosos desnu-
tridos ou em risco aumentado de complicações relacionadas ao estado nutricional. Contudo, observa-se,
na literatura pertinente, uma falta de consenso em relação aos critérios diagnósticos de desnutrição,
inexistindo um padrão-ouro. Além disso, aspectos peculiares relacionados ao envelhecimento obrigam
a realização de uma avaliação mais profunda, com a análise de fatores de risco. Portanto, a saúde bucal
deve ser observada, pois a perda dos dentes e outras afecções da cavidade oral, o que proporciona dor e
dificuldade para deglutir, estão associadas à desnutrição. Essa avaliação se reveste de importância, dado
que medidas preventivas e procedimentos odontológicos simples podem resolver o problema. Além
do mais, a habilidade de mastigar a comida eficientemente não influencia a capacidade de digestão
com as dietas modernas (ACUÑA; CRUZ, 2004).
A antropometria de idosos apresenta peculiaridades. Inclui-se:

a) Possibilidade de estimar o peso utilizando fórmulas que aplicam variáveis antropométricas


quando ele não pode ser medido (Figura 3). Observe as fórmulas a seguir:

Peso(hom ens )  (0, 98 xCP )  (1,16 xalturadojoelho)  (1, 73 xCB )  (0, 37 xDCSE )  81, 69
Peso(mulheres )  (1, 27 xCP)  (0, 87 xalturadojoelho)  (0, 98 xCB)  (0, 4 xDCSE )

328
UNIDADE 9

b) Possibilidade de estimar a altura utilizando a medida da altura do joelho, que é aplicada em


fórmulas, e a altura em posição sentada.

c) A circunferência da panturrilha (CP) é considerada a medida mais sensível de massa muscular


no idoso, sendo superior à circunferência do braço (CB). A medida do perímetro da panturrilha é
um bom parâmetro de avaliação nutricional da massa muscular do idoso. Logo, medidas menores
que 31 cm são indicativas de redução da massa muscular (sarcopenia) e estão associadas ao maior
risco de quedas, diminuição da força muscular e dependência funcional. Os valores ≥ a 31 cm
são considerados normais (ACUÑA; CRUZ, 2004; MEDEIROS; MEDEIROS; SERRÃO, 2018).

1 2

3 4 5

Figura 3 - Exemplos dos pontos de medição para alguns cálculos de estimativa de peso

Descrição da Imagem: são mostradas quatro situações diferentes. Na primeira, há a medida da circunferência de braço; na segunda,
há a aferição da dobra cutânea subescapular; na terceira, há uma fita envolta na cintura de um corpo e a aferição da circunferência
de panturrilha; na quarta, há uma senhora sentada em uma cadeira; por fim, na última, há a demonstração do local onde é realizada
a aferição da altura do joelho.

É possível calcular o peso ideal em idosos e, posteriormente, fazer a adequação do peso, a partir das
seguintes fórmulas:

Cálculo do Peso Ideal para Idoso = 24, 5 x altura ²

Adequação do Peso  %   Peso Atual x 100 /Peso Ideal

329
UNICESUMAR

A partir delas, é possível classificar o estado nutricional do idoso.

Adequação do peso (%) Estado Nutricional

≤ 70 Desnutrição Grave

70,1 a 80 Desnutrição Moderada

80,1 a 90 Desnutrição Leve

90,1 a 110 Eutrofia

110,1 a 120 Sobrepeso

> 120 Obesidade

Quadro 18 - Tabela de adequação do peso (%) / Fonte: adaptado de Medeiros, Medeiros e Serrão (2018).

Além disso, é possível avaliar a gravidade do problema de saúde de acordo com a perda de peso invo-
luntária (correlação com a mortalidade), a partir do uso da fórmula em questão, e para classificação
do percentual da perda de peso segundo o tempo.

Perda de peso  %    Peso Usual Peso Atual  x 100 / Peso Usual

Tempo Perda de peso significativa Perda de peso grave

1 semana 1a2 >2

1º mês 5 >5

3 meses 7,5 >7,5

6 meses 10 >10

Quadro 19 - Classificação do percentual da perda de peso segundo o tempo / Fonte: adaptado de Medeiros, Medeiros e Serrão (2018).

O IMC é o indicador antropométrico mais utilizado para avaliar o risco nutricional. Ele pode ser
uma medida facilmente aplicável, não é invasiva e tem baixo custo. Em idosos, porém, o emprego
apresenta controvérsias em função do decréscimo de estatura, acúmulo de tecido adiposo, redução
da massa de tecido adiposo, diminuição da massa corporal magra e decréscimo da quantidade de
água no organismo. Assim, é muito discutido o uso do IMC e dos limites de normalidade adotados
para análise de desnutrição, sobrepeso e obesidade em idosos. Uma das referências mais utilizadas
foi proposta por Lipschitz, em 1994.

330
UNIDADE 9

IMC (kg/m²) Classificação

<22 Magreza

22-27 Eutrofia

>27 Excesso de peso

Quadro 20 - Classificação do estado nutricional segundo IMC para idosos / Fonte: adaptado de Lipschitz (1994).

O tratamento do quadro clínico do paciente hospitali-


zado é de suma importância. Alimentar-se é uma das
atividades mais importantes do ser humano, tanto por
REALIDADE
razões biológicas quanto pelas questões sociais que
AUMENTADA
envolvem o ato de comer. O profissional deve atender
às necessidades nutricionais de cada um de acordo
com as recomendações dos médicos, trabalhando em
conjunto com a equipe médica e demais profissionais
assistenciais. Garante-se, desse modo, todo o planeja-
mento do cuidado ao paciente.
A desnutrição é um fator de risco em hospitais,
pois favorece o surgimento de diversas complicações
e aumenta o índice de mortalidade. O nutricionista é
o profissional mais habilitado para atuar nessas ques-
tões. Além disso, é mérito do nutricionista realizar
uma avaliação do estado nutricional com precisão,
Caro(a) estudante, verifique aqui a
analisar a especificidade do estado nutricional de cada
realidade aumentada que preparei
paciente e ter sensibilidade na prescrição nutricional. para você!
Portanto, o profissional nutricionista não é um mero
funcionário do hospital, mas um profissional capaci-
tado para cuidar de forma humanizada da alimenta-
ção dos pacientes, independentemente de ser via oral,
parenteral ou enteral.

331
Caro(a) aluno(a), gostaria de convidá-lo a realizar uma verificação crítica dos conhecimentos realiza-
dos até então a partir das questões que estão inseridas no mapa de empatia a seguir.

Descrição da Imagem: a figura é composta por um retângulo colorido, dividido por algumas formas. Logo, há um retângulo
com quatro pirâmides, cujas pontas de unem por meio de uma figura de um rosto que pisca e sorri no centro. As pirâmides
têm as seguintes cores: verde-claro, rosa-claro, azul-claro e salmão. Em cada uma das pirâmides, encontram-se perguntas:
o que ouve? O que pensa e sente? O que vê e o que fala e faz? Na base do retângulo, há outras duas formas em formato de
retângulo nas cores rosa-claro e roxo-claro. Elas têm as seguintes perguntas: quais são as dores? Quais são as necessidades?

332
1. Leia o fragmento a seguir:

“A prevalência de hipoalbuminemia em idosos hospitalizados é elevada, acometendo aproxi-


madamente nove entre dez idosos, sendo que o tempo de hospitalização está relacionada a
diminuição dos níveis de albumina sérica. Pode ocorrer uma tendência à queda do nível de
albumina sérica quando o indivíduo não apresenta um estado nutricional adequado, podendo
ocorrer piora nutricional com a albumina. Se a dosagem de albumina não for considerada
como um fator de diagnóstico nutricional, ao menos indica um sinal do aumento do seu risco,
exigindo um diagnóstico nutricional aprofundado”.

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Considerando os seus conhecimentos sobre os níveis de albumina sérica em pacientes hos-


pitalizados, assinale a alternativa correta:

a) A albumina sérica é um excelente índice para avaliar o estado nutricional.


b) A albumina é o melhor indicador de desnutrição proteica devido à meia-vida curta.
c) A albumina sérica menor que 3,5 g/dL é, geralmente, considerada indicativo de desnutrição.
d) A albumina sérica não é afetada por medicamentos, apenas pelo baixo consumo alimentar.
e) A albumina sérica não pode ser considerada um bom indicador da lesão e estresse metabó-
lico, apenas da desnutrição.

2. Leia o trecho a seguir:

“O índice de massa corporal é uma ferramenta de avaliação nutricional que fornece informa-
ções sobre alterações na composição corporal e tem relação com as taxas de mortalidade.
A circunferência da panturrilha é considerada a medida mais sensível da massa muscular
em idosos pela Organização Mundial da Saúde e a circunferência de braço, além de ser uma
ferramenta de avaliação nutricional, pode ser usada em mulheres como marcador de tempo
hospitalar prolongado”.

Considerando os seus conhecimentos sobre os métodos de avaliação antropométrica em


hospitalizados e idosos, assinale a alternativa correta:

a) O uso de técnicas de medição deve ser sempre realizado do lado dominante do corpo.
b) O uso do IMC em pacientes críticos pode ser hipoestimado devido às grandes alterações de
balanço hídrico.
c) O uso de fórmulas preditivas tem, como vantagem, o uso da altura recumbente.
d) O uso da circunferência muscular do braço está associado à análise de altas taxas de mor-
talidade.
e) O uso das dobras cutâneas não pode ser aplicado na avaliação de pacientes hospitalizados
por não considerar o edema.

333
3. Suponha que você atenda a um paciente idoso do sexo masculino. Ele tem 76 anos e que deu
entrada no hospital devido à um pré-cirúrgico. Você precisa calcular a TMB para elaborar a dieta
pós-cirúrgica, com os ajustes de fatores posteriormente analisados. Ao realizar um exame físico,
encontrou peso de 60 kg e estatura de 1,58 m. A partir do estudo de Coletto et al. (2003), qual
seria o valor da TMB do paciente?

334
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343
UNIDADE 1

1. B. Com uma adequada avaliação nutricional, a partir do uso correto dos métodos de triagem
nutricional, o profissional pode detectar uma ingestão insuficiente de nutrientes, assim como
prevenir uma possível deficiência nutricional e doenças posteriores, assim como uma desnutrição
protéico-energética.

2. A. Dentro da semiologia nutricional tem-se os métodos diretos de avaliação do estado nutricional de


um indivíduo. Ao fazer uso dos métodos diretos é possível trabalhar com uma abordagem objetiva
(abordagem quantitativa) e subjetiva (abordagem qualitativa). A abordagem objetiva compreende
os exames antropométricos (peso, altura, dobra cutânea, etc.); exames laboratoriais (glicemia,
hemograma, etc.); exame clínico nutricional (sinais e sintomas clínicos nutricionais) e densitome-
tria, bioimpedância, entre outros. Por outro lado, a abordagem subjetiva é pautada na semiologia
nutricional, na avaliação subjetiva global e avaliação muscular subjetiva, como veremos adiante.

3. Nesta questão o aluno deverá mencionar as quatro técnicas que podem ser usadas em seu atendi-
mento nutricional, sendo elas : Palpação: composta por uma avaliação tátil, visando sentir pulsações
e vibrações. Com uso desta técnica você nutricionista pode avaliar as estruturas corporais, como:
textura, tamanho, temperatura, consistência e mobilidade. O turgor, e elasticidade da pele, integri-
dade da derme, tamanho de órgãos, edema periférico, massas abdominais, ascite, perda de peso,
etc. Inspeção: nesta técnica você irá usar de sua visão, olfato e audição na avaliação do paciente.
Podendo verificar a presença de obesidade, caquexia, condição hídrica, integridade da pele, cicatri-
zação de feridas icterícias, ascite, capacidade funcional, estado mental, etc. Percussão: consiste na
avaliação de determinados “sons”, para determinar o contorno, formato e posição destes. Permite
avaliar também se o órgão está sólido ou se há presença de líquido ou gases. Essa técnica não é
sempre necessária no exame clínico nutricional. Ausculta: nesta técnica, serão avaliados os sons
corpóreos que podem ser ouvidos com ou sem estetoscópio, como: sons do coração, dos pulmões
(presença de líquidos), intestinais (ruídos hidroaéreos) e dos vasos sanguíneos.

UNIDADE 2

1. Durante anos a abordagem reducionista foi largamente utilizada, sendo o método tradicional domi-
nante nas pesquisas e prática profissional no campo da nutrição. Em tal, são estudadas as partes ao
invés da totalidade, ou seja, são estudados os componentes individuais dos alimentos em vez dos
hábitos alimentares como um todo. Sendo assim, durante o atendimento nutricional, o profissional
irá reconstruir a realidade alimentar de um paciente a partir de pequenos relatos, reduzido a grupos
alimentares, itens alimentares e/ou constituintes alimentares. Por outro lado, a abordagem holística
descreve melhor as relações das complexidades em uma abordagem que analisa as relações de
forma mais dinâmica. É possível analisar o padrão de estilo de vida de forma dinâmica entre os
inúmeros fatores que os compõem, melhorando a compreensão de forma individual.

2. É necessário que o estudante mencione que o QFA é um método retrospectivo, sendo uma fer-
ramenta útil para avaliar o consumo alimentar em grupos com nutrientes específicos, porém as
informações são coletadas de modo geral, não específicas para determinados nutrientes, aplicando-o
a partir de listas de alimentos ou grupos de alimentos, anotando a frequência em que os alimentos
são consumidos em um dado período de tempo. Além disso, deve mencionar que durante o aten-
dimento poderão ser aplicadas perguntas abertas e/ ou fechadas, por exemplo; abertas: com que

344
frequência você consome pão?; ou fechadas: assinale a frequência que você consome pão (2 a 5
vezes por semana, 1 a 2 vezes por semana, menos de 1 vez por semana).

3. C. O R24hnão reflete a ingestão usual ou as diferenças entre a ingestão de dias de semana e final
de semana, a menos que realizado em uma série de vários dias. Ainda, dependendo do dia da se-
mana, a ingestão relatada pode ser atípica. Um único recordatório pode ser utilizado para estimar
a média da ingestão de nutrientes de grupos, mas não de identificação de diferenças culturais, já
que permite a descrição infinita de alimentos.

UNIDADE 3

1. E. A ferritina é a principal proteína envolvida no armazenamento do ferro, sendo encontrada no meio


intracelular e também como constituinte normal do plasma. Analisar um quadro de anemia a partir
da dosagem de ferritina pode ser considerado um parâmetro sensível para verificar uma possível
depleção de ferro, porém não pode ser considerada uma proteína específica para o diagnóstico da
anemia ferropriva, pois se apresenta elevada nas doenças inflamatórias, causadas por aumento da
síntese hepática hepática e nas doenças com elevada disponibilidade do ferro.

2. C. O balanço nitrogenado é definido como a diferença entre a quantidade ingerida e perdida pelo
organismo. Trata- se de uma técnica não invasiva e acessível, que consiste na diferença entre o
nitrogênio ingerido e o excretado, usado para avaliar o estresse metabólico. Com o nitrogênio in-
gerido, considera- se o da dieta e o reabsorvido de secreções digestivas e de vias urinárias. Envolto
no nitrogênio perdido, considera- se a soma do urinário, fecal e de perdas obrigatórias como pele,
pêlo, secreções e unha.

3. E. A proteína C reativa é um biomarcador inflamatório útil para se predizer quando um período


hipermetabólico da resposta inflamatória diminui. Pode ser considerada um marcador não espe-
cífico e reflete qualquer tipo de inflamação. Quando as concentrações de PCR começam a cair, o
paciente entra em um período anabólico da resposta inflamatória, visto que uma terapia nutricional
mais intensa pode ser benéfica.

UNIDADE 4

1. O aluno (a) deverá apresentar inicialmente o cálculo da densidade corporal e posteriormente a %GC
do paciente. Segue abaixo o cálculo adequado:

DC = 1,1717 − 0, 0671log( DCT + DCSI + DCA)


DC= 1,1714 − 0, 0671log(15,9 + 21, 7 + 24, 6)
DC
= 1,1714 − 0, 0671log(62, 2)
DC
= 1,1714 − 0, 0671x1, 7934
DC
= 1,1714 − 0,12033
=DC 1, 05107 g .ml − 1

345
4,95
%=
GC − 4,50 x100
DC
4,95
%GC
= − 4,50 x100
1, 05107
%GC 4, 709486 − 4,5 x100
=
%GC = 0, 2094 x100
%GC = 20,95%

2. E. O uso da circunferência muscular do braço, área muscular do braço e área muscular do braço cor-
rigida são importantes para avaliar uma depleção de proteínas somáticas, assim como acompanhar
a progressão de doenças que causam catabolismo. As dobras cutâneas, como a DCSE, assim como
as circunferências de cintura e panturrilha, possuem boa relação com as medidas antropométricas
e a densidade corporal, sendo um método de campo muito utilizado.

3. E. A antropometria tem como objetivo o estudo de componentes mensuráveis do corpo humano


através das medições de comprimentos, circunferências, perímetros, dobras cutâneas, pontos de
medições, entre outros. A partir de seu uso, pode- se ter as principais medidas para avaliação do
estado nutricional de pacientes de todas faixas etárias, sexo e etnia. Atualmente, pode- se correla-
cionar as medidas antropométricas encontradas com diversos parâmetros, com o risco de desen-
volvimento de DCNT’s, como, doenças cardiovasculares, síndrome metabólica, obesidade, assim
como o crescimento e desenvolvimento de lactentes, crianças e adolescentes.

UNIDADE 5

1. A invasão no limite extremamente baixo de gordura corporal pode afetar inúmeras funções fisio-
lógicas e até a capacidade de um indivíduo em realizar exercícios, haja vista que reduzir a gordura
corporal de maneira extrema não só conduz a um baixo desemprenho desportivo, como pode
levar a graves complicações nutricionais. Porcentagens de gordura abaixo de 12% em mulheres
pode causar amenorreia (ausência de ciclo menstrual) e oligomenorréia (ciclo menstrual irregular).
Ademais, podem ocorrer quadros de menarca tardia, aumentando o risco de câncer devido baixís-
simos níveis de estrogênio.

2. O (a) Aluno (a) deverá inicialmente calcular a densidade corporal pela fórmula de Durnin (1974):

D= 1,1567 − 0, 0717 log( DCTríceps + DCBíceps


+ DCSubescapular + DCSuprailíaca )
D= 1,1567 − 0, 0717 log(25,5 + 12, 2 + 17, 6 + 18, 7)
=D 1,1567 − 0, 0717 log(73,5)
=D 1,1567 − 0, 0717 x1,8662
D = 1, 0229 g .ml −1
Em seguida, após encontrar o valor da densidade, calcular a %GC por Siri (1961):

346
4,95
%=
GC − 4,50 x100
DC
4,95
%GC
= − 4,50 x100
1, 0229
%GC 4,8391 − 4,50 x100
=
%GC = 0,3391x100
%GC = 33,91%

Por fim, aluno (a) deverá apresentar a classificação da %GC por Lohman (1988); logo, a porcentagem
encontrada está acima de30%, configurando a paciente em alto risco.

3. Resposta esperada questão 3- Aluno deverá apresentar os seguintes passos calculados:

1)- Calcular a densidade corporal da paciente por Durnin (1974):

( DCTríceps, DCBíceps,
DC 1,1765 − 0, 0744 x log ∑
=
DCSubescapular , DCCristailíaca )
DC 1,1765 − 0, 0744 x log ∑ (18,11,13,17)
=
DC 1,1765 − 0, 0744 x1, 770
=
DC 1,1765 − 0,131
=
DC = 1, 0455 g .ml −1

2) Apresentar a porcentagem de gordura corporal por Siri (1961);

4,95
%=
GC − 4,50 x100
DC
4,95
%GC
= − 4,50 x100
1, 0455
%GC 4, 7345 − 4,50 x100
=
%GC = 0, 2345 x100
%GC = 23, 45%

3) Apresentar o cálculo da gordura corporal em kg:

=GC 23,
= 45 x 49 11, 49kg

4) Apresentar o cálculo da porcentagem de massa magra:

% MM =100 − %G =76,55%

5) Apresentar o cálculo da massa magra em kg:

347
=MM massatotal − massagorda
MM= 49 − 11, 49
MM = 37,51kg

UNIDADE 6

1. O (a) Aluno (a) deverá responder que a paciente foi nascida a termo, pois somente crianças nascidas
abaixo de 37 semanas gestacionais são consideradas recém-nascidos pré-termo. Além disso, seu
peso ao nascer foi considerado adequado pois, são consideradas crianças abaixo do peso aquelas
que possuem, ao nascer, 2.500g ou menos. Entretanto, seu ganho de peso não foi satisfatório,
ela não duplicou de peso quando completou seis meses de idade, nem triplicou o peso quando
completou 1 ano de idade.

2. O (a) Aluno (a) deverá mencionar que a anemia pode atingir em especial gestantes e crianças
menores de dois anos de idade, dentre os principais sintomas que a paciente pode apresentar,
estão: tonturas, dores de cabeça, falta de concentração, irritabilidade e confusão mental, fraqueza
muscular, falta de oxigênio nos músculos, falta de energia, palidez nas mucosas, dentre outros. A
paciente em questão apresenta indicativos de anemia, pois, apresentou hemoglobina menor que
11 g/dl e ferritina inferior a 15 mg/ml.

3. Para adequada resposta dessa questão o aluno deverá encontrar um valor de IMC de 29,35 kg/m²,
classificado a gestante com sobrepeso. Com relação a seu ganho de peso, ele deverá ser entre 7 e
11,5 kg, e os cálculos da TMB, GE e VET da seguinte forma:

TMB :14,818 xpeso + 486


= 14,818 x75 + 486,=
TMB 6 1597,95kcal
GET : TMBxmédiaNAF
=GE 1597,95
= x1, 76 2812,39kcal
VET : GET + adicionalenergéticogestacional
= 2812,39 +=
VET 85 2897,39kcal / dia

UNIDADE 7

1. O aluno deverá mencionar que para classificação do estado nutricional do paciente inicialmente é
necessário calcular seu IMC, encontrando um valor de 19, 72 kg/m².

Logo, foi observado que o paciente se encontra entre o P50 e P85, classificando-o como eutrófico.

348
2. De acordo com a relação peso/idade situado entre os escores +2 e +3, a criança pode ser classificada
com excesso de peso para a idade.

3. Com relação a peso/idade, a paciente ficou entre P50 e P97, ou seja, seu peso está adequado e
dentro do esperado para idade.

UNIDADE 8

1. Para resposta correta desta questão o aluno deverá apresentar o seguinte cálculo:

= 93
PesoatualxMET = x 4 6, 2kcal / min

3 horas de treino ao dia= 180 minutos

6, 2 x180 = 1116kcal / min

2. Para resposta adequada dessa questão o aluno deverá apresentar o seguinte cálculo:

= 92,12
PesoatualxMET = 18, 4kcal / min

4 horas de treino por dia= 240 minutos

18, 4 x 240 = 4416kcal

TMR = 66, 47 + (13, 75 x92) + (5, 00 x177) − (6, 76 x 24)


TMR= 66, 47 + 1265 + 885 − 162, 24
TMR = 2120,54kcal

3. Para resposta adequada dessa questão o aluno deverá apresentar o seguinte cálculo:

DC = 1,1765 − 0, 0744 x log(∑ DCtríceps + DCBíceps + DCSubescapular + DCCristailíaca )


= 1,1765 − 0, 0744 x log(8,5 + 6 + 10, 75 + 10)
DC
DC 1,1765 − 0, 0744 x log 35, 25
=
DC 1,1765 − 0, 0744 x1,5474
=
DC = 1,1021x1,5474
1
DC = 1, 7053 g.ml

%GC
= 495 − 450 / DC
%GC
= 495 − 450 /1, 7053
%GC = 45 /1, 7153
%GC = 26, 23

349
TMR = (15, 4 xpeso) − (27 xaltura ) + 717
TMR= (15, 4 x69,8) − (27 x1,82) + 717
TMR= 1.074,92 − 49,14 + 717
TMR = 1.742, 78kcal

UNIDADE 9

1. C. A albumina sérica menor que 3,5 g/dL é geralmente considerada indicativo de desnutrição.

2. D. O uso da circunferência muscular do braço está associado à análise de altas taxas de mortalidade.

3. O Aluno deverá apresentar o seguinte cálculo:

TMB: 66 +(13,7 x P) + (5,0 x A) – (6,8 x I)


TMB: 66 + (13,7 x 60) + (5,0 x 158) – (6,8 x 76)
TMB: 66 + 822 + 790 – 516,8
TMB: 1.161,2 kcal

350
351
352

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