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TraUma
EmErgência mÉDica
"O pessimista vê a dificuldade em cada oportunidade.
O otimista vê oportunidade em cada dificuldade.”
Versão 1.0
2ª Edição, 2013
ISBN 978-989-8646-02-6
9 789898 646026
EmErgência TraUma
PREFÁCIO
Prefácio
O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) tem Nestas páginas pode encontrar o trabalho de uma vasta
feito esforços consideráveis para melhorar a resposta equipa, nas áreas técnicas, pedagógicas e, também,
às situações de emergência médica, sobretudo no audiovisuais, que trabalhou afincadamente para lhe
que diz respeito aos tempos de resposta, ao acesso a poder disponibilizar este Manual, que esperamos
cuidados de emergência e à eficiência da sua atuação. que se venha a revelar como uma ferramenta útil do
Mas, este esforço para que o Sistema Integrado de seu processo evolutivo de aquisição de novos e/ou
Emergência Médica trabalhe cada vez melhor não melhores conhecimentos. A toda esta equipa, cuja
pode ficar-se apenas por aqui. composição encontrará na Ficha Técnica, aqui fica o
É também fundamental melhorar a nossa capacidade agradecimento do INEM pelo bom trabalho realizado.
de intervenção no terreno, as nossas competências
técnicas e atualizar os conhecimentos, de forma Termino, afirmando que o INEM conta com todos e com
permanente e continuada, habilitando os operacionais cada um para garantir uma assistência tecnicamente
a intervir da melhor forma possível. qualificada, sempre com um elevado respeito e
Assim, é com grande satisfação que lhe apresentamos consideração pela vida humana, a todos aqueles
o novo Manual de Emergências de Trauma, onde pode que possam eventualmente necessitar do nosso
encontrar aquelas que são as boas práticas atuais, saber e das nossas competências. Por isso, por essa
consensualizadas a nível internacional, na assistência responsabilidade acrescida, temos a obrigação de
às vítimas de trauma. aproveitar cada dia como uma oportunidade única
Todos aqueles que desempenham funções e irrepetível para aprendermos, para melhorarmos.
operacionais na emergência médica pré-hospitalar,
são frequentemente confrontados com situações de miguel Soares de Oliveira
trauma, situações graves e que exigem uma atuação Presidente do Conselho Diretivo do INEM
segura e tecnicamente adequada. Este Manual destina-
se a Enfermeiros e Médicos, permitindo-lhes aprofundar
conhecimentos previamente adquiridos e também
adquirir novas competências, habilitando-os a uma
atuação de teor avançado que poderá fazer toda a
diferença na vida daqueles que diariamente assistimos,
em cenários muitas vezes complexos e hostis.
EmErgência TraUma
ficha TÉcnica
cOOrDEnaçãO TÉcnicO-ciEnTífica
VaLiDaDO PELa cOmiSSãO DE PEriTOS
miguel Soares de Oliveira,
Presidente do Conselho Diretivo do INEM Ana Teresa Lufinha,
Hospital Militar Principal, Médico (Anestesiologia)
Luís meira,
INEM (Departamento de Formação Emergência antónio marques,
Médica) Médico (Anestesiologia) Hospital de Santo António, Médico (Anestesiologia)
Daniel ferreira,
Hospital da Luz, Médico (Cardiologia)
Ernestina gomes,
aUTOrES Hospital Pedro Hispano, Médico (Anestesiologia)
DESign E PaginaçãO
David rafachinho
EmErgência TraUma
ínDicE
SEcçãO 1
MECANISMOS DE LESÃO
1. TiPOS DE TraUma 12
2. aciDEnTES EnVOLVEnDO VEícULOS aUTOmÓVEiS 16
3. aciDEnTES EnVOLVEnDO mOTOcicLOS 22
4. aTrOPELamEnTO 24
5. QUEDaS 26
6. TraUma PEnETranTE 28
7. EXPLOSÕES 32
8. LESÕES POTEnciaiS VERSUS mEcaniSmO DE LESãO 34
SEcçãO 2
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
1. TraUma TOrÁcicO 38
2. TraUma aBDOminaL E PÉLVicO 52
3. LESãO OcULTa 62
4. TraUma crÂniO-EncEfÁLicO 74
5. TraUma VErTEBrO mEDULar 82
6. TraUma DaS EXTrEmiDaDES 92
7. TraUma TÉrmicO 100
8. TraUma Em PEDiaTria 112
9. TraUma nO iDOSO 122
10. TraUma na graViDEZ 130
11. aciDEnTE DE SUBmErSãO 134
SEcçãO 3
BIBLIOGRAFIA E SIGLAS
1. BiBLiOgrafia 144
2. SigLaS 148
EmErgência TraUma
10
SEcçãO 1
MECANISMOS
DE LESÃO
11
EmErgência TraUma
12
SEcçãO 1
MECANISMOS DE LESÃO
1. TiPOS DE
TraUma
SEcçãO 1
Tipos de Trauma
MECANISMOS DE LESÃO
13
TRAUMA
facTO Dados Europeus: predomina no sexo masculino (80% das vítimas), sendo a média etária de 32 anos.
Dados do Instituto Nacional de Estatística (Portugal) em 2004: 109 vítimas mortais por trauma por
cada 100.000 habitantes (o que nos coloca no topo da lista de morte por trauma na Europa).
Impacto rotacional
Capotamento
Impacto frontal
ACIDENTES COM
Impacto angular
MOTOCICLOS
FECHADO
Ejeção
PENETRANTE
Adulto
ATROPELAMENTO
Criança
Queda de pé
Queda de cabeça
Baixa energia
ARMAS
Média e alta energia
EXPLOSÃO
notas:
TraUma fEchaDO
Na Europa, os acidentes de viação representam 55%
dos casos de trauma, seguidos das quedas com
17%. Outros dados: acidentes diversos (incluindo
desportivos) 22%, agressões 6%.
Agressões
SEcçãO 1
MECANISMOS DE LESÃO
2. aciDEnTES
EnVOLVEnDO
VEícULOS
aUTOmÓVEiS
SEcçãO 1
Acidentes envolvendo veículos automóveis
MECANISMOS DE LESÃO
17
notas:
Os acidentes envolvendo veículos automóveis são a
causa mais frequente de trauma fechado, e podem
envolver:
1. Impacto frontal;
2. Impacto traseiro;
3. Impacto lateral;
4. Impacto rotacional;
5. Capotamento.
Impacto frontal
A extensão de estragos no veículo indica a velocidade
aproximada deste, no momento do impacto. Quanto
maior a intrusão no chassi, maior a velocidade no
momento de impacto. Quanto maior for a velocidade,
maior a troca de energia e mais elevada será a
probabilidade dos ocupantes terem sofrido lesões.
Apesar do veículo num impacto frontal parar
subitamente o movimento para a frente, o ocupante
continua a mover-se e irá prosseguir um de dois
caminhos possíveis:
• Para cima e sobre;
• Para baixo e sob.
Figura 3: "Para cima e sobre" (imagem da esquerda) e "Para baixo e sob" (imagem da direita)
EmErgência TraUma
18
notas:
Impacto traseiro Impacto lateral
O impacto traseiro ocorre quando um veículo que se No caso do impacto lateral o veículo alvo é acelerado
move lentamente ou que está imobilizado (veículo alvo) na direção da força criada pelo veículo bala.
é atingido por trás, por um veículo que se move a uma O ocupante pode sofrer lesões na sequência da
velocidade mais elevada (veículo bala). aceleração lateral, ou à medida que o habitáculo é
Neste tipo de colisões, a energia do veículo bala é invadido pela projeção da porta.
convertida, no momento do impacto, em aceleração Os impactos laterais que ocorrem no lado mais próximo
do veículo alvo. do ocupante produzem mais lesões do que aqueles
Quanto maior a diferença de velocidades no momento que ocorrem no lado mais afastado do ocupante.
do impacto, maior será a quantidade de energia Cinco regiões corporais podem sofrer lesões na
disponível para provocar aceleração e lesões. sequência do impacto lateral:
Nesta situação o tronco do ocupante é acelerado pelo • clavícula: pode ser comprimida e fraturada se a
banco e se o apoio de cabeça estiver incorretamente força for aplicada na direção do ombro;
posicionado abaixo da região occipital, a cabeça • Tórax: A compressão da parede torácica pode
iniciará o seu movimento para a frente após o tronco, causar fraturas de costelas, contusão pulmonar,
resultando em hiperextensão da coluna cervical. Este hemo ou pneumotórax. Podem ainda ocorrer
movimento pode provocar lesão de ligamentos e lesões vasculares major devidas à aceleração/
outras estruturas de suporte, em especial na região desaceleração súbitas;
anterior do pescoço. • abdómen e Bacia: A intrusão ou deformação no
Entretanto se o veículo embater noutro veículo ou habitáculo pode comprimir e fraturar a bacia. Além
objeto, ou se o condutor carregar bruscamente no disso, pode projetar a cabeça do fémur contra o
travão, o ocupante continuará a mover-se para a frente acetábulo e produzir lesão articular. Os ocupantes
depois do veículo se imobilizar, seguindo o padrão de do lado do condutor são mais vulneráveis a lesões
colisão do impacto frontal. do baço neste tipo de impacto, ao passo que
os ocupantes do lado do passageiro são mais
susceptíveis a lesão do fígado;
• cervical: O ponto de ligação ao crânio é posterior
e inferior ao centro de gravidade cefálico. Isto faz
com que o movimento da cabeça seja de flexão
lateral e rotação. Assim, o lado da coluna cervical
contra lateral ao impacto será aberto (ocorre o
movimento de distração), ao passo que o lado
homolateral é comprimido. Este movimento pode
resultar em fraturas e luxações vertebrais, ou
mesmo em lesão medular;
• crânio: Pode embater na porta e com isso
produzir lesões.
O impacto rotacional resulta na combinação das lesões Durante o capotamento o veículo pode sofrer diversos
verificadas no impacto frontal e impacto lateral. As impactos, de diferentes ângulos. O mesmo se aplica
lesões mais graves ocorrem no ocupante mais próximo ao ocupante sem dispositivos de contenção.
do ponto de impacto. Mesmo nos ocupantes que fazem uso destes
dispositivos, os órgãos internos são submetidos a
forças de desaceralação que podem produzir lesões
graves. As lesões mais graves estão obviamente
presentes nos indivíduos que não utilizam dispositivos
de contenção. Dados de 2008 revelaram que 77%
das vítimas projetadas do veículo na sequência de
capotamento morreram.
SEcçãO 1
MECANISMOS DE LESÃO
3. aciDEnTES
EnVOLVEnDO
mOTOcicLOS
SEcçãO 1
Acidentes envolvendo motociclos
MECANISMOS DE LESÃO
23
Impacto Frontal
A colisão frontal contra um objeto faz com que o
motociclo pare. Dado que o centro de gravidade da
moto é abaixo e atrás do eixo da frente, no momento do
impacto, a moto inclina-se para a frente e o motociclista
é atirado contra o guiador.
Daqui podem resultar lesões no crânio, tórax, abdómen,
bacia ou fémur, dependendo exclusivamente de qual
é a porção anatómica que embate no guiador.
Para além disso podem resultar outras lesões na Figura 13: Impacto frontal (possível fratura
sequência da projeção do motociclista. bilateral de fémur)
Impacto Angular
Nesta situação o motociclo embate num objeto num
determinado ângulo. Na sequência do embate o
motociclista é esmagado entre a moto e o objeto. É
habitual ocorrerem lesões nas extremidades superiores
e inferiores, quer sejam fraturas, quer sejam lesões
extensas de tecidos moles.
Podem também ocorrer lesões nos órgãos abdominais
na sequência da transferência de energia.
Ejeção
Figura 14: Impacto angular
Dado a ausência de dispositivos de contenção, o
motociclista pode, na sequência do trauma, ser
projetado. Se tal acontecer, o individuo continuará em
voo até que a cabeça, os braços, o tórax, o abdómen
ou as pernas embatam noutro objeto, quer seja um
veículo, um poste, ou mesmo o asfalto.
EmErgência TraUma
24
SEcçãO 1
MECANISMOS DE LESÃO
4. aTrOPELamEnTO
SEcçãO 1
Atropelamento
MECANISMOS DE LESÃO
25
Na vítima pediátrica
Na criança, tal como no adulto, quando a desproporção
de dimensões com o veículo é muito grande, pode
sofrer também esmagamento de membros ou torso.
Figura 15: O padrão de lesão no Atropelamento varia com a dimensão da vítima e do veículo
SEcçãO 1
MECANISMOS DE LESÃO
5. QUEDaS
SEcçãO 1
Quedas
MECANISMOS DE LESÃO
27
de múltiplos impactos.
Quanto maior for a altura da queda, maior a
probabilidade de lesão, já que aumenta a velocidade
e consequentemente a energia cinética.
Quedas de altura superior a três vezes a altura da
vítima são frequentemente quedas das quais resultam
lesões graves.
Queda de Cabeça
Se a vítima cai de cabeça com o corpo quase alinhado,
como acontece nos mergulhos em águas rasas, o peso
total do tronco, bacia e pernas, comprimem a cabeça Figura 18: A coluna pode ser comprimida ao longo
e a coluna cervical. A fratura da coluna cervical é do seu eixo ou angulada em hiperextensão ou
frequente quando este padrão de lesão está presente. hiperflexão
EmErgência TraUma
28
SEcçãO 1
MECANISMOS DE LESÃO
6. TraUma
PEnETranTE
SEcçãO 1
Trauma Penetrante
MECANISMOS DE LESÃO
29
notas:
Efeitos do Trauma Penetrante
caBEça aBDÓmEn
Depois do projétil penetrar no crânio, a sua energia O Abdómen inclui estruturas de três tipos: ósseas,
é distribuída por uma área pequena. Esta energia vasculares e vísceras (ocas e maciças).
transferida do projétil é forçada contra o crânio que A lesão resultante da agressão com arma de baixa
não consegue expandir (ao contrário do que acontece energia pode não causar danos significativos. Sabe-se
por exemplo com a pele). Este movimento faz com que apenas 30% das lesões por esfaqueamento na
que o próprio cérebro seja comprimido contra a face região abdominal necessitam de tratamento cirúrgico.
interna do crânio. Se a energia cinética associada ao No entanto as lesões resultantes de armas de média
projétil for suficientemente forte, o crânio pode explodir. energia causam danos mais graves já que, entre 85%
Existem situações em que o projétil, ao entrar num a 95% dos casos é necessária correção cirúrgica.
determinado ângulo segue a curvatura da face interna Habitualmente os danos provocados por este tipo
do crânio, não possuindo a energia suficiente para sair. de armas, mesmo quando envolvem órgãos sólidos
Este mecanismo pode provocar lesões muito e vasculares, não causam exsanguinação imediata,
significativas (ex. calibre 0,22 ou 0,25 - denominadas permitindo que os operacionais do pré-hospitalar
assassinas). iniciem a abordagem inicial da vítima e efetuem o
transporte a tempo da intervenção cirúrgica eficaz,
TÓraX na unidade de saúde adequada.
Tendo em conta que dentro do tórax existem três
grupos de estruturas muito importantes (respiratórias, EXTrEmiDaDES
digestivas e cardiovasculares), numa situação de O trauma penetrante nas extremidades pode incluir
trauma penetrante uma ou mais estruturas desses lesão óssea, muscular, nervosa ou vascular.
sistemas podem ser afetadas (pulmão, coração, No caso de armas de média e alta velocidade,
grandes estruturas vasculares, esófago). quando os ossos são atingidos, os fragmentos
óseos tornam-se projéteis secundários, lacerando
os tecidos em redor.
Na sequência da cavitação permanente e temporária,
os músculos podem expandir à passagem do projétil,
causando hemorragia.
O projétil pode ainda perfurar vasos sanguíneos à
sua passagem, ou a lesão parcial destas estruturas
pode causar a formação de coágulos e consequente
obstrução vascular num período de minutos ou horas.
SEcçãO 1
Trauma Penetrante
MECANISMOS DE LESÃO
31
EmErgência TraUma
32
SEcçãO 1
MECANISMOS DE LESÃO
7. EXPLOSÕES
SEcçãO 1
Explosões
MECANISMOS DE LESÃO
33
notas:
EXPLOSÕES Lesões secundárias
Nas explosões civis, a maioria das lesões são feridas
As lesões resultantes de uma explosão podem ocorrer múltiplas, extensas, de profundidade variável e
por três tipos de mecanismos: primária, secundária contaminadas, causadas por fragmentos da explosão.
e terciária. Diferentes tipos de lesão ocorrem nas
diferentes fases.
Lesões terciárias
Lesões primárias A deslocação de ar pode ser tão intensa que projeta
a vítima à distância, provocando lesões de impacto.
É a fase mais grave da explosão e pode ser aquela
que está menos visível.
A explosão provoca uma onda de choque que afeta
principalmente órgãos com ar como os pulmões,
intestinos e ouvidos.
Pode provocar embolia gasosa com obstrução das
artérias coronárias ou cerebrais e morte súbita.
SEcçãO 1
MECANISMOS DE LESÃO
8. LESÕES
POTEnciaiS
VERSUS
mEcaniSmO DE
LESãO
SEcçãO 1 Lesões Potenciais versus Mecanismo de Lesão
MECANISMOS DE LESÃO
35
notas:
mEcaniSmO DE LESãO POTEnciaiS LESÕES
• Lesão vertebro-medular: cervical;
• Lesões faciais;
• Fratura da grelha costal anterior;
• Vollet Costal: fratura de duas ou mais costelas contíguas em dois
ou mais pontos;
• Contusão Pulmonar (compressão do tecido pulmonar);
• Contusão do miocárdio (disritmias);
IMPACTO FRONTAL
• Pneumotórax;
(Automóvel):
• Aneurisma/Disseção da Aorta: em especial na junção entre a
porção móvel (aorta ascendente e arco aórtico) e a porção fixa
• Volante danificado;
• Marcas dos joelhos no •
(aorta descendente);
Hemorragia intra-abdominal;
tablier;
• Fratura do pára-brisas • Lesão mesentérica (laceração e arrancamento dos pedículos
vasculares dos órgãos abdominais);
(“Olho de boi”).
• Compressão e esmagamento de órgãos sólidos (fígado, baço, rins
ou pâncreas);
• Rotura diafragmática e rotura de órgãos ocos (cólon), relacionadas
com o aumento da pressão intra-abdominal;
• Laceração dos rins, fígado e baço (devido à desaceleração
súbita). No caso do fígado, o ligamento redondo pode literalmente
seccionar o lobo esquerdo, condicionando hemorragia grave;
• Fratura/Luxação do Joelho/Bacia.
IMPACTO LATERAL
• Pneumotórax;
• Aneurisma/Disseção da Aorta;
(Automóvel)
• Rotura do diafragma;
• Fratura do baço, Fígado (consoante o lado afetado) e Rim (do lado
afetado);
• Fratura da Bacia ou acetábulo.
PROJEÇÃO
• Maior risco por lesões provenientes de todos os mecanismos de
lesões.
SEcçãO 2
DESORDENS
ESPECÍFICAS NO
PRÉ-HOSPITALAR
37
EmErgência TraUma
38
SEcçãO 2
DESORDENS ESPECÍFICAS
NO PRÉ-HOSPITALAR
1. TraUma
TOrÁcicO
SEcçãO 2
Trauma Torácico
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
39
cOmPrESSãO
O esmagamento do tórax faz com que as estruturas
que o constituem sejam comprimidas e lesadas. Esta
condição pode ocorrer por uma causa externa (ex.
atropelamento ou soterramento) ou por compressão
interna, na sequência da desaceleração rápida. Neste
caso os órgãos são comprimidos pela parede torácica
posterior e coluna vertebral.
Trauma Penetrante
O trauma penetrante é causado por qualquer objeto que
Costelas viole a parede torácica. Para além da ferida torácica
Costelas falsas
Rebordo Flutuantes podem ainda ser lesadas estruturas subjacentes.
VIII-XII
da grelha costal O trauma torácico penetrante pode ser causado por:
• Arma de fogo;
• Arma branca;
Figura 22: Ossos do tórax • Outros objetos perfurantes;
• Empalamentos (vedação/poste);
• Fragmentos projetados na sequência de explosão.
notas:
TOracOTOmia DE
EmErgência
A massagem cardíaca externa por paragem cardíaca Toracotomia
é ineficaz em vítimas hipovolémicas. Assim, vítimas de
trauma torácico penetrante, fortemente hipovolémicos, Gestos terapêuticos que podem ser efetuados numa
sem pulsos periféricos, mas com atividade elétrica toracotomia de emergência:
miocárdica, podem ser candidatos a toracotomia • Drenagem do sangue da cavidade pericárdica
de emergência (ressuscitação). Nesta situação é causando tamponamento;
essencial assegurar previamente a reposição da • Controle direto da hemorragia exsanguinante
volémia, entubação traqueal e ventilação mecânica intratorácica;
da vítima. • Massagem cardíaca direta;
• Clampagem da aorta descendente.
Idealmente deve ser decidida e realizada por um
cirurgião experiente, já que o seu resultado é melhor Material necessário
nestas circunstâncias.
• Serra de Gigli (facultativo);
A probabilidade de sobrevivência é maior nas vítimas • Pinça de Kocher;
de lesão por arma branca. • Cabo de bisturi com lâmina (n.º 21);
• Tesoura.
Deve ser realizada em ambiente hospitalar, mas
existem descrições de execução em contexto pré-
hospitalar, em vítimas selecionadas (agressões por
arma branca).
Contraindicações para
toracotomia de emergência em
ambiente pré-hospitalar
• Ausência de sinais de vida;
• Ausência de atividade elétrica cardíaca;
• Qualquer vítima com débito cardíaco, incluindo
vítimas hipotensas;
• Trauma fechado.
SEcçãO 2
Trauma Torácico
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
41
notas:
aS SEiS LESÕES LETaiS
A obstrução da via aérea não resolvida provoca a morte em poucos minutos. As lesões no tórax superior
podem afetar a via aérea. Os fragmentos de fraturas ósseas ou objetos penetrantes podem lesar a laringe ou a
traqueia superior. O trauma fechado pode causar hemorragia ou edema na via aérea, resultando em obstrução.
Hemotórax maciço
O hemotórax maciço pode surgir na sequência de trauma fechado ou penetrante. O hemotórax maciço
caracteriza-se pela presença de > 1500 mL de sangue no tórax ou a drenagem de 200 mL/h (3 mL/Kg/h).
A lesão de tecido pulmonar, vasos pulmonares ou intercostais podem causar hemorragia maciça. A acumulação
rápida de sangue na cavidade torácica conduz à hipóxia e hipovolémia.
Sangue
no Espaço Pleural
SEcçãO 2
Trauma Torácico
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
43
notas:
Pneumotórax hipertensivo
Causado por trauma fechado ou penetrante, o pneumotórax hipertensivo desenvolve-se quando uma “válvula
unidirecional” se estabelece no tecido pulmonar ou na parede torácica. Na inspiração, a “válvula” abre e
acumula-se ar no espaço pleural. Durante a expiração esta “válvula” encerra e o ar fica preso no espaço pleural.
Na próxima inspiração uma maior quantidade de ar irá acumular-se no espaço pleural. Esta acumulação
de ar (sob tensão) no espaço pleural faz com que o pulmão do lado afetado colapse. Se o ar acumulado
(sob tensão) não for libertado, a pressão continuará a aumentar, condicionando o desvio das estruturas do
mediastino e colapso parcial do pulmão contra-lateral à lesão. Isto provoca diminuição do retorno venoso e
redução do débito cardíaco.
Ar da
VPP
Figura 25: Pneumotórax Hipertensivo Figura 26: Ventilação com pressão positiva no
pneumotorax (VPP)
EmErgência TraUma
44
notas:
Pneumotórax aberto
O trauma penetrante no tórax pode provocar uma porta de entrada na parede torácica.
O pneumotórax aberto ocorre quando a porta de entrada permanece aberta e o pulmão subjacente colapsa.
Se esta porta de entrada possuir um diâmetro > 3 cm (mais de 2 terços do diâmetro da traqueia) o ar entra
preferencialmente pela ferida torácica, em cada inspiração. Esta lesão é muitas vezes descrita como ferida
torácica aspirativa. Perante esta condição a ventilação eficaz e as trocas gasosas estão comprometidas e
a vítima fica em hipóxia.
notas:
Tamponamento cardíaco
O trauma penetrante no tórax superior (ex. ferida por arma branca) é uma causa frequente de tamponamento
cardíaco. No entanto, o trauma fechado significativo pode também provocar lesões no miocárdio e/ou grandes
vasos , produzindo hemorragia no pericárdio. O pericárdio e constituído por tecido fibroso pouco expansível.
Quando a cavidade pericárdica é preenchida de forma súbita por sangue, uma pequena quantidade (<100
mL) é suficiente para comprometer a função do miocárdio.
O tamponamento cardíaco deve ser assumido como “presente até prova em contrário” sempre que ocorra
trauma penetrante no retângulo formado horizontalmente pela linhas das clavículas e verticalmente pelas
linhas ao longo dos mamilos até ao rebordo costal (a denominada caixa cardíaca).
compromisso da
Sangue > 100 mL função cardíaca
cavidade pericárdica
Pressão Intracardíaca
notas:
Tórax instável
O trauma fechado e especificamente o impacto direto e as forças de compressão são causas frequentes de
tórax instável.
Um segmento ósseo da parede torácica lesado, habitualmente na região anterior ou lateral, causa perda de
continuidade com as restantes costelas. O tórax instável é definido como fratura de duas ou mais costelas em
dois ou mais pontos. Esta lesão provoca o movimento paradoxal do segmento afetado (durante a inspiração
o retalho costal move-se “para dentro”, e durante a expiração, enquanto a parede torácica volta à posição
inicial, o retalho costal move-se “para fora”).
A hipóxia desenvolve-se à medida que o segmento instável lesa o tecido pulmonar subjacente, causando
contusão pulmonar. A vítima consciente e com dor estará relutante a inspirar profundamente, desenvolvendo
hipóxia devido a ventilação ineficaz.
O retalho O retalho
move-se move-se
para dentro para fora
INSPIRAÇÃO EXPIRAÇÃO
notas:
aS SEiS LESÕES OcULTaS
A rotura da parede da aorta é habitualmente causada pela desaceleração rápida (ex. queda, impacto a
alta velocidade). Muitas destas vítimas morrem no local do acidente por rotura completa da aorta. Só as
roturas contidas por laceração parcial da espessura da parede vascular podem chegar com vida ao hospital,
apresentando risco de colapso circulatório, caso a lesão se torne transparietal.
A aorta possui três camadas e a exterior, a adventícia, é frequentemente a única que está a conter o hematoma
resultante da rotura aórtica Ao aumentar a pressão arterial da vítima, esta camada pode romper, causando
hemorragia maciça e morte.
•
fratura dos primeiros arcos costais);
Pressão arterial diferente em cada um dos
• Controlar a pressão arterial, monitorizando
a mais elevada (habitualmente no braço
membros superiores;
direito). O controlo, quer da pressão
• A vítima pode apresentar dor torácica com
arterial, quer da força de contração do
irradiação ao dorso;
• Em unidade de saúde, o alargamento do
miocárdio, pode ser obtido através da
administração de β-bloqueantes.
mediastino superior no Rx tórax levanta a
suspeita, que será depois confirmada.
notas:
Rotura traqueobrônquica
A lesão da traqueia e brônquios são sugestivos de transferência significativa de energia cinética no trauma
fechado.
A maioria destas lesões ocorre na carina e são muitas vezes fatais no local do acidente.
A saída de ar pela traqueia ou brônquio lesado compromete a ventilação eficaz e promove a hipóxia.
•
na vítima consciente;
Enfisema subcutâneo;
• A abordagem complexa à via aérea
(ex. entubação seletiva do brônquio
• Pneumotórax.
principal) é difícil de efetuar no contexto
pré-hospitalar e pode agravar uma lesão
traqueobrônquica grave;
• Transporte precoce.
notas:
Rotura esofágica
Contusão do miocárdio
A contusão do miocárdio é causada habitualmente por trauma fechado e sugere o envolvimento de energia
significativa, nomeadamente impacto direto e compressão.
A contusão do miocárdio está muitas vezes associada a fratura do esterno, da coluna torácica ou de arcos
costais.
costais;
• Estabelecer acesso venoso, com
administração prudente de fluidos;
• Dor torácica;
• ECG 12 derivações e monitorização
• Arritmias cardíacas (ex. extrasístoles,
contínua;
taquicardia sinusal, taquicardia de complexos
estreitos);
• Se estiverem presentes disritmias efetuar
tratamento farmacológico / elétrico
• Sinais de isquémia do miocárdio - alterações
indicado (ver protocolo específico - SAV);
do segmento ST, bloqueio de ramo.
• Transporte precoce.
EmErgência TraUma
50
notas:
Contusão pulmonar
Rotura diafragmática
A rotura diafragmática pode resultar de trauma fechado ou penetrante no tórax e/ou abdómen. Em qualquer
um dos mecanismos, o tamanho da lesão no diafragma irá determinar a gravidade dos sinais e sintomas.
Uma lesão pequena pode causar desconforto abdominal ou até ser assintomática numa fase inicial. Uma
rotura ou perfuração maior pode fazer com que o conteúdo abdominal se desloque para a cavidade torácica
causando compromisso ventilatório e/ou circulatório, à medida que os órgãos abdominais comprimem os
órgãos torácicos.
• Sinais de choque hipovolémico /instabilidade • O2 a 100% (15 L/min), garantir SpO2 ≥95%;
hemodinâmica; • Intubação traqueal e ventilação assistida
• Dor abdominal severa; se vítima em falência respiratória;
• Defesa à palpação abdominal; • Intubação gástrica;
• Dificuldade respiratória causada pelo • Corrigir o choque hipovolémico. Puncionar
compromisso pulmonar; dois acessos periféricos (preferencialmente
• Presença de ruídos hidro-aéreos na G14 ou G16), e iniciar a administração de
auscultação pulmonar. solução cristalóide;
• Transporte precoce.
SEcçãO 2
Trauma Torácico
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
51
notas:
SEcçãO 2
DESORDENS ESPECÍFICAS
NO PRÉ-HOSPITALAR
2. TraUma
aBDOminaL E
PÉLVicO
SEcçãO 2
Trauma Abdominal e Pélvico
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
53
A pélvis (bacia) deve ser palpada de forma suave apenas uma vez para avaliar sinais de
instabilidade. Perante a evidência de instabilidade, suspeitar de hemorragia maciça.
A manipulação excessiva deve ser evitada.
• O trauma abdominal raramente surge com a lesão de um único sistema, é preciso pesquisar
a presença de lesões torácicas ou outras;
• O trauma abdominal fechado pode ser difícil de identificar, a cinemática permite suspeitar
de 90% das lesões;
• Os objetos penetrantes “in situ” devem ser mantidos como foram encontrados, até avaliação
pelo cirurgião no Bloco Operatório;
• A fratura dos últimos arcos costais (9º-12º) está frequentemente associada a lesão de
órgãos abdominais;
• As vítimas com suspeita de fratura de bacia necessitam de imobilização, analgesia precoce
e eficaz;
• A mobilização excessiva em doentes com lesão intra-abdominal e pélvica pode agravar a
hemorragia.
EmErgência TraUma
54
notas:
anaTOmia Da caViDaDE
aBDOminaL
DirEiTO ESQUErDO
• Lobo direito do fígado;
•
• Vesícula;
•
Lobo esquerdo do fígado;
Estômago;
QUADRANTE • Cabeça do pâncreas;
•
SUPERIOR • Duodeno;
•
Baço;
Corpo do pâncreas;
• Cólon ascendente e
• Cólon transverso e descendente.
transverso.
QUADRANTE
• Cego; • Sigmóide;
INFERIOR
• Apêndice; • Cólon descendente.
• Cólon ascendente.
Esófago
Fígado
Estômago
Vesícula biliar
Jejuno
Ileo
Cego
Apêndice Sigmóide
Reto
aBDOminaL
notas:
LESÕES aBDOminaiS
ESPEcíficaS
Fígado Diafragma
Localizado predominantemente no quadrante superior A compressão ou desaceleração abrupta pode causar
direito, é o órgão sólido abdominal que é lesado com rotura do diafragma. Uma força penetrante (ex. facada)
maior frequência. O lobo direito está parcialmente pode causar laceração do diafragma.
localizado por baixo das costelas inferiores à direita, Independentemente do mecanismo, a gravidade
razão pela qual a lesão deve ser suspeitada sempre da lesão é determinada pelo tamanho da lesão
que esteja presente trauma da grelha costal inferior diafragmática. Uma lesão pequena pode causar
à direita. É um órgão extremamente vascularizado desconforto abdominal ou até ser assintomática numa
e portanto particularmente suscetível à hemorragia. fase inicial. Uma rotura ou perfuração maior pode fazer
Sinais e sintomas sugestivos de lesão hepática: com que o conteúdo abdominal se desloque para a
• Abrasões, hematomas ou feridas no quadrante cavidade torácica, causando compromisso ventilatório
superior direito; e/ou circulatório, à medida que os órgãos abdominais
• Dor no quadrante superior direito; e o cólon comprimem os órgãos torácicos.
• Suspeita de fraturas à direita (em especial entre Sinais e sintomas sugestivos de lesão diafragmática:
9ª e 12ª costela); • Sinais de choque hipovolémico/instabilidade
• Sinais de choque hipovolémico e/ou instabilidade hemodinâmica;
hemodinâmica. • Dor abdominal severa;
• Defesa à palpação abdominal;
• D i fi c ul d ad e re s p ir atór i a c au s ad a p e l o
compromisso pulmonar;
• Presença de ruídos hidro-aéreos na auscultação
pulmonar;
• Diminuição do murmúrio vesicular na base
pulmonar esquerda.
Baço
Situado no quadrante superior esquerdo. Está também
parcialmente localizado sob as costelas inferiores,
razão pela qual a suspeita de fraturas de costelas à
esquerda seja um indício a valorizar. É também um
órgão extremamente vascularizado, razão pela qual
está suscetível à hemorragia na sequência do trauma.
Sinais e sintomas sugestivos de lesão esplénica:
• Abrasões, hematomas ou feridas no quadrante
superior esquerdo;
• Dor no quadrante superior esquerdo ou que
irradia para o ombro esquerdo (sinal de Kehr);
• Suspeita de fraturas à esquerda (em especial
entre 9ª e 12ª costela);
• Sinais de choque hipovolémico/instabilidade
hemodinâmica.
Figura 41
SEcçãO 2
Trauma Abdominal e Pélvico
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
57
Rins Evisceração
notas:
Os rins estão localizados no retroperitoneu, ao nível Ocorre quando na sequência de trauma penetrante,
de D12-L3. A lesão renal pode ocorrer por trauma surge uma lesão na parede abdominal que permite
fechado associado a impacto direto ou compressão, a evisceração de conteúdo abdominal. O conteúdo
ou por trauma penetrante (ex. faca, projétil). A lesão eviscerado deve ser coberto com compressas
que coloca em risco a vida resultante do trauma renal esterilizadas, embebidas em soro.
é rara (a exceção é a avulsão do pedículo renal, que Um objeto penetrante no abdómen que esteja ainda “in
pode resultar em hemorragia maciça). situ” não deve ser removido até que a vítima chegue
Sinais e sintomas sugestivos de lesão renal: ao bloco operatório, já que esse mesmo objeto pode
• Abrasões, hematomas ou feridas na região estar a comprimir ou tamponar vasos que sangrariam
lombar; profusamente caso fosse removido.
• Dor lombar;
• Dor no flanco;
• Hematúria (por vezes apenas microscópica).
O conteúdo abdominal não deve ser recolocado na cavidade abdominal, já que há risco acrescido
de causar mais hemorragia.
EmErgência TraUma
58
notas:
fraTUraS Da Bacia
As fraturas da bacia variam desde lesões minor,
relativamente insignificantes até fraturas complexas,
associadas a hemorragia interna maciça e/ou
hemorragia externa.
As vítimas com suspeita de fratura de bacia não deverão ser lateralizadas, em particular nas
situações em que o mecanismo sugere compressão lateral, já que o rolamento para o lado
afetado poderá agravar a lesão.
Artéria Mesentérica
Veia Ilíaca interna inferior
Artéria Ilíaca interna
Artéria Iliolombar
Artéria Ilíaca externa
Veia Ilíaca externa Artéria Sacral lateral
Artéria Glútea superior Artéria Retal superior
Veia Presacral
Veias Prevesicais
Artéria Glútea inferior
Artéria Obturatória
Artéria Vesical
Artéria Pudenda
notas:
aBOrDagEm PrÉ-hOSPiTaLar
A vítima consciente com suspeita de trauma pélvico deve ser alvo de analgesia eficaz.
Esta questão não deve desviar a atenção Abordagem do Exame Primário sistematizado, no entanto esta lesão
pode causar dor excruciante e por isso deve ser considerada a administração precoce de opióides (morfina).
notas:
SEcçãO 2
DESORDENS ESPECÍFICAS
NO PRÉ-HOSPITALAR
3. LESãO
OcULTa
SEcçãO 2
Lesão Oculta
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
63
TRAUMA TRAUMA
EXPLOSÃO?
FECHADO? PENETRANTE?
LESÃO OCULTA
TRAUMA TRAUMA
EXPLOSÃO?
FECHADO? PENETRANTE?
notas:
POPULaçãO cOm aLTO
riScO Para LESãO OcULTa
notas:
Défice Neurológico/
Doença Psiquiátrica
Várias doenças psiquiátricas interferem com a
capacidade da equipa para detetar lesão traumática
(ex. um doente em fase maníaca pode negar qualquer
sensação de dor, apesar de apresentar uma lesão
significativa).
Vítimas com défices sensitivos crónicos (ex. lesão da
espinal-medula, AVC ou outra doença neurológica)
podem não percecionar a dor associada ao trauma.
Dependendo da distribuição específica do défice,
podem não ser identificadas lesões nas extremidades
ou até na coluna dorsolombar (ex. pode passar
facilmente despercebida a fratura de colo do fémur,
no hemicorpo previamente afetado por um AVC).
EmErgência TraUma
66
notas:
cinEmÁTica DO TraUma
Na identificação da lesão oculta assume particular • Quais as lesões primárias , secundárias e
importância o conhecimento pormenorizado da terciárias associadas à explosão que podem
cinemática associada ao trauma, já que esta permite estar presentes?
suspeitar de cerca de 90% das lesões, antes mesmo
de se iniciar o exame primário da vítima.
A recolha de informações relacionadas com os danos No caso de trauma penetrante:
do(s) veículo(s) constituem pistas para as lesões
sofridas pelos ocupantes: • Qual o sexo do agressor?
• Pára-brisas estilhaçado com abaulamento • Qual foi a arma utilizada?
circular indica impacto da cabeça, sugerindo • Se arma de fogo:
lesão cervical e de crânio; Qual o calibre e munição utilizada?
• Deformação do volante, sugere trauma torácico Média ou alta energia?
e/ou abdominal;
• Deformidade no tablier sugere luxação do joelho,
da anca ou fratura do fémur.
Questões genéricas:
• Cenário seguro?
• A vítima trata-se de uma criança, um adulto, uma
grávida ou um idoso?
• Há história de doença, hábitos toxicómanos ou
défices?
• Trauma Fechado, Penetrante ou Explosão?
No caso de queda:
• Qual a altura da queda?
• Qual a parte do corpo que embateu em primeiro
lugar?
No caso de explosão:
• Qual a distância entre a explosão e a vítima?
SEcçãO 2
Lesão Oculta
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
67
notas:
Cavidade
Craniana
Cavidade
Vertebral
Cavidade
Torácica
Cavidade
Pericárdica
Diafragma
Cavidade
Abdominal
Cavidade
Pélvica
notas:
caBEça
Dura-Máter Dura-Máter
notas:
rEgiãO cErVicaL
A artéria carótida e a veia jugular interna são os vasos lesados com maior frequência. A artéria vertebral
(porque se encontra numa posição mais protegida) é lesada com menor frequência.
A laringe, a traqueia, a faringe e o esófago são também frequentemente lesados, enquanto a medula é
lesada com menor frequência.
Zona 2
Zona 1
notas:
TÓraX
As lesões torácicas podem ser divididas em 2 tipos: risco de vida potencial ou imediato.
notas:
TraUma fEchaDO TraUma PEnETranTE
As lesões torácicas (parede torácica e órgãos
Os impactos na região torácica atingem internos) podem comprometer de forma direta
inicialmente o esterno, este absorve grande parte os mecanismos de transporte de oxigénio. A
da energia. No entanto, a parede posterior do hipóxia e a hipovolémia resultantes de trauma
tórax e os órgãos da cavidade torácica continuam torácico podem ser a causa de lesão secundária
a mover-se para a frente. O coração e a aorta em vítimas com lesão cerebral traumática, ou
ascendente estão relativamente “soltos” na podem ser a causa direta do desenvolvimento
cavidade torácica, mas a aorta descendente está de edema cerebral.
fixa à coluna torácica. Assim, quando se cria uma Também o choque e/ou a lesão cerebral
aceleração (ex. impacto lateral) ou desaceleração traumática podem agravar as lesões torácicas
abruptas (ex. colisão frontal), produz-se um e a hipoxémia, através da alteração do normal
movimento contrário entre o arco aórtico e a aorta padrão ventilatório ou causando a perda dos
descendente, levando a uma secção total ou reflexos protetores e consequente aspiração.
parcial da aorta, nesta região. Pulmão: devido à baixa densidade dos tecidos,
Pulmão: a compressão da parede torácica resulta o projétil entra sem provocar grandes lesões.
frequentemente em pneumotórax. Do ponto de vista clínico, as mais importantes
grelha costal: a compressão externa do tórax são as alterações do espaço pleural (ex.
pode levar ainda à fratura de costelas. Quando pneumotórax, hemotórax).
estão envolvidas múltiplas costelas existe a Estruturas vasculares: os pequenos vasos
possibilidade de se desenvolver um tórax instável não estão fixados de forma rígida à parede
(duas ou mais costelas contíguas fraturadas em torácica, podendo ser afastados à passagem
dois ou mais pontos). do objeto causador de lesão sem sofrerem
miocárdio: a lesão cardíaca fechada é uma grandes danos. Já os grandes vasos (ex. aorta,
situação grave já que pode conduzir ao cava inferior e superior) não podem mover-
desenvolvimento de arritmias potencialmente se facilmente, estando mais suscetíveis à
fatais. ocorrência de lesões.
Esófago: a lesão esofágica resultante do trauma O miocárdio, quando atingido por projéteis
fechado, apesar de muito rara é fatal caso não de alta energia, sofre lesões que levam à
seja reconhecida. Resulta da expulsão forçada de exsanguinação imediata da vítima. No entanto,
conteúdo gástrico para o esófago na sequência se a lesão for causada por armas de baixa
da compressão significativa dos quadrantes ou média energia (ex. facas, calibre 0,22), a
abdominais superiores. sua contração reduz o tamanho das lesões,
Deve-se suspeitar de lesão esofágica em qualquer permitindo que a vítima chegue viva ao hospital.
vítima com: Esófago: a porção torácica do esófago pode
• Impacto direto severo na porção inferior do ser lacerada, disseminando o seu conteúdo na
esterno ou no epigastro, associado a choque cavidade torácica. Os sinais e sintomas desta
sem outra causa aparente; lesão podem surgir muito mais tarde (horas ou
• Suspeita de hemo/pneumotórax à esquerda dias após a lesão). Portanto, mesmo sem sinais
(sem fratura de costelas: critério facilmente específicos, se a cinemática é sugestiva, estas
identificável no intrahospitalar, mas não lesões devem ser suspeitadas e investigadas,
fidedigno no préhospitalar). permitindo tratamento precoce e prevenindo
complicações graves (ex. mediastinite).
Hérnia diafragmática
Outra lesão oculta importante é a lesão diafragmática.
Estas lesões podem ser extremamente difíceis de
identificar já que, em algumas situações, os sinais
podem surgir entre semanas ou anos após a lesão
inicial. Para além disso, podem mimetizar uma
variedade de condições médicas.
Se a lesão não for diagnosticada na sequência do
evento traumático que a criou, desenvolve-se uma
hérnia.
Apesar de muitas hérnias diafragmáticas serem
assintomáticas, nalguns casos pode ocorrer
estrangulamento de conteúdo abdominal. Podem
também causar sintomas crónicos que se assemelham
à litíase biliar, à úlcera péptica, a sub-oclusão intestinal
ou a doença coronária.
EmErgência TraUma
72
notas:
aBDÓmEn
A parede anterior, lateral, posterior e inferior do abdómen são extremamente fortes. Mas a parede superior,
constituída pelo diafragma (com aproximadamente 5 mm de espessura), corresponde à porção da parede
mais frágil. Assim, o aumento da pressão abdominal pode levar a:
Hematoma retroperitoneal
O retroperitoneu contém vários espaços potenciais
(passíveis de expandir) que podem acomodar grande
volume de sangue, com poucas manifestações clínicas.
A lesão de estruturas contidas no retroperitoneu é por
vezes difícil de identificar através do exame físico e
numa fase inicial, os sinais e sintomas de peritonite
não estão presentes.
Vítimas anticoaguladas têm um risco elevado de sofrer
hematoma retroperitoneal.
Este pode manifestar-se por dor lombar nos quadrantes
abdominais inferiores ou na região inguinal. Podem
também estar presentes equimoses na região
periumbilical ou nos flancos.
Esta lesão caracteriza-se ainda pela hipotensão e
taquicardia, que melhora de forma transitória com a
administração de fluidos.
SEcçãO 2
Lesão Oculta
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
73
EmErgência TraUma
74
SEcçãO 2
DESORDENS ESPECÍFICAS
NO PRÉ-HOSPITALAR
4. TraUma
crÂniO-
EncEfÁLicO
SEcçãO 2
Trauma Crânio-Encefálico
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
75
notas:
Avaliação neurológica sumária
A avaliação e estabilização do doente com TCE segue Na avaliação da GCS, em caso de assimetria da
os mesmos princípios que regem a atuação perante resposta motora, deverá ser considerada a melhor
qualquer traumatizado - “ABCDE” É assim fundamental resposta, uma vez que é a que melhor se relaciona
respeitar essa hierarquia de prioridades, sendo que a com o prognóstico do doente.
avaliação neurológica deverá ser realizada de forma A avaliação dever-se-á fazer de forma rápida, rigorosa
sistemática assim que tenham sido devidamente e seriada. Aproximadamente 15% dos doentes sem
avaliados e assegurados a via aérea, a ventilação e sinais neurológicos iniciais de lesão encefálica
a circulação. vêm a deteriorar o estado de consciência de forma
Deverão ser avaliados os seguintes parâmetros: progressiva.
• Estado de consciência: GCS nas crianças pré- A presença da tríade de Cushing (bradicardia,
verbais, Pediatric-GCS (P-GCS) - Tabela 4; hipertensão arterial e irregularidade respiratória),
• Pupilas: em repouso pesquisa-se a dimensão e embora raramente presente, traduz a presença de
a simetria, considerandose anisocória quando a hipertensão intracraniana grave, com necessidade
diferença de diâmetro pupilar seja > 1 mm; após de terapêutica emergente.
estimulação luminosa alternada considera-se
reativa quando após o estímulo haja redução do
diâmetro em pelo menos 1 mm. Deve-se pesquisar
simultaneamente sinais de trauma ocular que
possam justificar alterações pupilares;
• Resposta motora: identificação grosseira de
parésias.
INAPROPRIADA
À DOR 2 3 FUGA À DOR 4
CHORO À DOR
INCOMPREENSÍVEL
AUSENTE 1 2 FLEXÃO ANORMAL 3
GEMIDO À DOR
• GCS 15;
TCE MÍNIMO • Sem perda da consciência;
• Sem amnésia lacunar.
notas:
aBOrDagEm PrÉ-hOSPiTaLar
atuação no a: Permeabilização da Va com controlo da coluna cervical
• Proteção cervical;
• Permeabilização da via aérea, se necessário com subluxação da mandíbula;
• Aspiração de vómito ou secreções;
• Está contraindicada a introdução de dispositivos nasais até ser possível a exclusão de fraturas da
base do crânio;
• Se necessária entubação orotraqueal (EOT):
Sedação sempre, incluindo doentes em GCS 3 uma vez que podem persistir reflexos do tronco
cerebral com reação à EOT e possível aumento da pressão intracraniana;
Pré-oxigenação, se possível até SpO2 ≥ 95%; se suspeita de estômago cheio, evitar a
utilização de insuflador manual com máscara;
Fármacos de eleição (adulto): Etomidato - 0,2-0,5 mg/Kg; Propofol - 1-2 mg/Kg; Midazolam -
0,3 a 0,35 mg/Kg;
Lidocaína - 1 mg/Kg EV antes da EOT: reduz reatividade laríngea e brônquica à EOT e ao tubo
endotraqueal; pode exercer algum efeito protetor cerebral;
Embora esteja preconizada a entubação de sequência rápida nestes casos, em regra não há
necessidade de se associar bloqueio neuromuscular pelos riscos acrescidos que representa,
sem benefício significativo para o doente; se de todo necessário, podese utilizar: succinilcolina
EV - 1 mg/Kg (contraindicado nos doentes com miopatias); vecurónio - 0,1 mg/Kg;
Está contraindicada a utilização de fármacos passíveis de aumentar a pressão intracraniana
(ex.cetamina).
notas:
atuação no D: Disfunção neurológica
• Avaliação neurológica sumária, conforme descrita;
• Elevação da cabeça (em plano duro), se possível, a 30 - 45°;
• Garantir a permeabilidade das veias jugulares internas, principal meio de drenagem venosa do
encéfalo – atenção ao colar cervical muito apertado;
• Avaliação da glicemia capilar;
• Controlo de convulsões:
Diazepam - 0,1 mg/Kg EV em bolus lento, ou 0,5 mg/Kg rectal;
Midazolam - 0,05 mg/Kg EV, ou 10 mg bucal/nasal;
Fenitoína (2.ª linha) - 20 mg/Kg EV (ritmo de administração < 50 mg/minuto);
Se mal convulsivo, iniciar terapêutica EV contínua: midazolam (0,1-0,4 mg/Kg/h); propofol (2-10
mg/Kg/h);
Como alternativa de 3.ª linha, podem-se utilizar barbitúricos (pentobarbital, tiopental), não
apresentando contudo globalmente benefícios significativos face aos restantes fármacos e
implicando risco importante de hipotensão arterial.
• Controlo da febre:
Paracetamol - 1 g EV;
Evitar, se possível, anti-inflamatórios não-esteróides.
• Controlo da dor;
• Sedação adequada;
• Em caso de deterioração neurológica aguda:
1.ª linha - Manitol - 0,25-1 g/Kg EV, durante 30 minutos;
2.ª linha - hiperventilação por um período curto (EtCO2 30-35 mmHg):
• Empiricamente, no adulto 20/minuto; na criança 25/minuto, no lactente (< 1 ano) 30/minuto;
• Evitar utilizar nas primeiras 24h por potenciar o risco de isquemia cerebral.
Figura 52: As veias jugulares internas são o principal meio de drenagem venosa do encéfalo
SEcçãO 2
Trauma Crânio-Encefálico
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
79
notas:
avaliação secundária
• Reavaliação frequente (fundamental o registo desta informação ao longo do tempo);
• Em caso de agravamento neurológico, reavaliar desde o “A” (via aérea);
• Dados importantes a ser colhidos:
Mecanismo do traumatismo;
Existência de evento prévio ao traumatismo.
• Outros aspetos importantes do exame físico:
Fraturas ou outras lesões da cabeça e face;
Equimose peri-orbitária “Raccoon eyes”, equimose retroauricular (sinal de Battle), epistáxis /
rinorráquia, otorragia /otorráquia - sinais de possível fratura da base do crânio;
Outras fraturas do crânio ou face (ex. fraturas de Le Fort).
i ii iii
Figura 54: Fraturas da face, classificação de "Le Fort I, II e III"
EmErgência TraUma
80
SEcçãO 2
DESORDENS ESPECÍFICAS
NO PRÉ-HOSPITALAR
5. TraUma
VErTEBrO
mEDULar
SEcçãO 2
Trauma Vertebro Medular
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
83
anaTOmia Da cOLUna E Da
ESPinaL-mEDULa L1 - PARAPLEGIA
Paralisia abaixo
A coluna vertebral é constituída por: da cintura
• 7 vértebras cervicais (C1-C7);
• 12 vértebras dorsais (D1-D12);
• 5 vértebras lombares (L1-L5);
• 5 vértebras sagradas fundidas (S1- S5).
facTO
Os pontos mais vulneráveis são os de maior
mobilidade e as zonas de transição entre Região
segmentos pouco móveis e de grande Lombar
mobilidade; entre eles C5-C6 e T12-L1.
Sacro
Cóccix
notas:
• Perante qualquer vítima com múltiplas lesões deve suspeitar-se que possa ter ocorrido trauma
vertebro-medular, até ter sido possível excluí-lo;
• A lesão medular pode ser agravada pela instabilidade mecânica da coluna, pela hipóxia e
pela hipoperfusão;
• É essencial estar alerta para o doente que está cansado, que tem ventilação superficial e
não consegue tossir;
• Choque medular é uma manifestação neurológica e não hemodinâmica, decorrente de
contusão da medula. Caracteriza-se por flacidez e perda de reflexos;
• Choque neurogénico ocorre quando, por lesão medular cervical ou dorsal alta, há uma perda
do tónus vasomotor e da estimulação simpática cardíaca. Manifesta-se por hipotensão,
vasodilatação periférica e normo ou bradicardia;
• Toda a vítima de trauma em choque, tem até prova em contrário, ponto de partida em
hipovolémia - a Prioridade é encontrar o local de hemorragia;
• A utilização de Metilprednisolona em doentes com lesão da espinal-medula não é consensual.
SEcçãO 2
Trauma Vertebro Medular
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
85
notas:
mEcaniSmO DE LESãO Trauma penetrante
O trauma penetrante no pescoço (causado por arma
Trauma fechado branca, arma de fogo ou objetos perfurantes) pode
Nos adultos, o movimento excessivo da coluna vertebral provocar várias lesões. A proximidade de estruturas
resulta habitualmente de: nobres como a via aérea, vasculares, nervosas e do
• Acidentes de viação; trato digestivo, significa que qualquer lesão penetrante
• Acidentes de mergulho; nesta região deve ser cuidadosamente avaliada.
• Quedas;
• Lesões desportivas (ex. rugby, equitação); O pescoço divide-se em 3 regiões anatómicas, que
• Autoagressão (enforcamento); indicam as estruturas que poderão estar envolvidas:
• Agressão. • A zona 1 estende-se desde as clavículas até à
extremidade da cartilagem cricoide. A traqueia, o
Nas crianças, o movimento excessivo da coluna esófago, o mediastino superior e a porção superior
vertebral resulta habitualmente de: dos pulmões estão nesta região;
• Quedas em altura (duas a três vezes a altura • A zona 2 vai desde a área entre a cartilagem
da vítima); cricoide até ao ângulo da mandíbula. As artérias
• Quedas de triciclos ou bicicletas; carótidas e vertebrais, as veias jugulares, a
• Atropelamento. faringe, a laringe, o esófago e a traqueia,
encontram-se nesta região;
As forças envolvidas no movimento excessivo podem • A zona 3 estende-se desde o ângulo da mandíbula
provocar fraturas das vértebras ou lesão dos ligamentos até à base do crânio. Nesta região estão as
que estabilizam a coluna. artérias vertebrais assim como segmentos das
Se a lesão for instável, fazendo com que os fragmentos veias jugulares.
ósseos se mobilizem, pode provocar lesão medular.
Zona 3
Zona 2
Zona 1
notas:
L E S ãO n E U r O LÓ g i ca Lesão neurológica primária
Como descrito anteriormente, existem uma série de
PrimÁria E SEcUnDÁria mecanismos através dos quais podem ocorrer lesões
vertebromedulares, resultantes de:
A lesão medular pode ser dividida em lesão primária
• Fraturas;
e secundária. A lesão primária refere-se à lesão que
• Luxações;
ocorre no momento do acidente.
• Subluxações;
A lesão secundária ocorre minutos ou horas após
• Hematomas;
a lesão primária e cabe aos profissionais de saúde
• Edema de tecidos moles.
envolvidos na abordagem à vítima, minimizar o seu
risco.
Para além de lesão estrutural, alguns traumatismos
podem causar isquémia medular, com a consequente
redução de aporte de nutrientes e oxigénio aos tecidos,
podendo conduzir à morte celular. A lesão neurológica
primária pode variar em termos de gravidade.
Quanto à gravidade, os défices neurológicos podem
ser completos (quando não existe qualquer atividade
neurológica abaixo do nível da lesão) ou incompletas,
se permanecer alguma função sensitiva ou motora
abaixo desse nível. Estas têm melhor prognóstico
e podem associar-se a recuperação funcional total
ou parcial.
notas:
chOQUE mEDULar
VERSUS
chOQUE nEUrOgÉnicO
Choque Medular
É definido como a perda completa de toda a função
neurológica, incluindo reflexos e tónus rectal, abaixo
do nível de lesão. Trata-se de uma condição transitória,
causada pelo edema da medula na sequência do
traumatismo. Caracteriza-se por:
• Perda de sensibilidade e paralisia flácida
generalizada com ausência de reflexos;
• Priapismo (nos homens).
Choque Neurogénico
O choque neurogénico ocorre quando há lesão do
sistema nervoso simpático a nível medular.
Está associado a traumatismos cervicais ou dorsais
altos.
A lesão do sistema nervoso simpático manifesta-se por:
• Perda do tónus vasomotor - vasodilatação;
• Perda da inervação simpática do miocárdio - bradi
ou normocárdia.
notas:
aBOrDagEm
PrÉ-hOSPiTaLar
notas:
atuação no B: Ventilação e Oxigenação
• Avaliar:
Frequência respiratória;
Esforço respiratório (musculatura acessória e amplitude; a lesão medular completa e proximal
a D6 afeta os músculos intercostais e acima de C5 provoca paralisia do diafragma);
Oximetria de pulso.
• Administrar O2 100% (15 L/min), garantir SpO2 ≥ 95%, para evitar hipóxia e minimizar a lesão
neurológica secundária;
• Vítima “cansada” e incapaz de efetuar inspiração profunda ou incapaz de tossir pode estar a
desenvolver problemas ventilatórios relacionados com lesão da espinal-medula. Esta será uma
candidata à entubação traqueal e ventilação assistida.
notas:
atuação no E: Exposição corporal com controlo da temperatura
• Depois de expor a vítima para identificar lesões ocultas e avaliar a região posterior, devemos tomar
as medidas necessárias para prevenir a hipotermia (ex. usar a manta térmica; aquecer a célula
sanitária; administrar fluidos aquecidos);
• O risco de hipotermia é maior na vítima em choque neurogénico com perda do tónus vasomotor, já
que ocorre vasodilatação e consequentemente aumenta a perda de calor através da pele. Alguns
doentes com lesão medular perdem a capacidade de regular a sua própria temperatura (poiquilotermia).
C5 Abdução do ombro
C6 Extensão do punho
C7 Extensão do cotovelo
L4 Dorsiflexão do tornozelo
Tabela 9: Dermátomos
SEcçãO 2
DESORDENS ESPECÍFICAS
NO PRÉ-HOSPITALAR
6. TraUma DaS
EXTrEmiDaDES
SEcçãO 2
Trauma das Extremidades
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
93
Fémur
Rótula
Tíbia
2ª Falange
Perónio 1ª Falange
Metatarso
Tarso
notas:
LESÕES ÓSSEaS
Luxação
As fraturas e luxações ocorrem num número significativo Corresponde à perda completa de contacto da
de vítimas de trauma. superfície articular de dois ossos numa articulação.
O mecanismo de lesão habitual é o trauma fechado. No É frequente ocorrer no ombro mas pode acontecer em
entanto o trauma penetrante (ex. projétil) pode também qualquer articulação (cotovelo, anca, joelho).
provocar fraturas ósseas. Pode haver lesão dos ligamentos que suportam a
articulação e se articulação não for realinhada em
tempo oportuno pode ocorrer lesão nervosa e de
Fratura vasos sanguíneos distais à lesão.
fraTUra DO fÉmUr
É necessária uma quantidade de energia cinética
considerável para fraturar a diáfise do fémur e
nestas situações surgem muitas vezes outras lesões
associadas (ex. lesão da bacia ou acetábulo).
O fémur é um osso longo e a fratura diafisária pode
resultar em hemorragia importante (1-2 L no adulto).
A fratura exposta da diáfise do fémur pode resultar
em exsanguinação da vítima.
Esta é um tipo de fratura extremamente dolorosa, por
isso na vítima consciente a analgesia com opióides
(ex. morfina) é essencial.
A imobilização provisória é importante porque ajuda a
reduzir a dor, a lesão de tecidos moles e a hemorragia.
SEcçãO 2
Trauma das Extremidades
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
95
notas:
fEriDaS SínDrOmE
Corresponde à lesão da pele, tecido subcutâneo,
cOmParTimEnTaL
músculos, tendões e pode resultar de trauma
Ocorre quando há um aumento da pressão no espaço
penetrante (ex. projétil, faca) ou trauma fechado (ex.
limitado do compartimento muscular (fáscia), que
esmagamento, laceração/estiramento de tecidos).
conduz à diminuição do fluxo sanguíneo nos tecidos
Apesar de algumas feridas parecerem inócuas,
abaixo da lesão. A síndrome compartimental na perna,
todas apresentam risco de infeção. Assim uma vez
braço ou coxa deve ser considerado nas vítimas
completado o exame primário (e abordadas as lesões
de trauma com lesões ortopédicas e/ou vasculares
que colocam em risco a vida), as feridas devem ser
significativas.
copiosamente irrigadas com soro fisiológico.
É difícil identificar a síndrome compartimental já que
As feridas extensas podem causar não só hemorragia
os sinais e sintomas desenvolvem-se lentamente, e
e infeção graves mas também perda de função por
pode não ser óbvia até que o aumento de pressão
lesão nervosa ou isquémia.
se torne crítico.
As lesões com risco de desenvolver síndrome
compartimental são:
LESãO POr ESmagamEnTO • Lesão por esmagamento severa;
• Lesão vascular;
O esmagamento pode causar lesão extensa nos tecidos
• Fraturas;
subjacentes. Se o músculo for gravemente afetado irá
• Contusão extensa.
libertar mioglobina e potássio. A mioglobina lesa o
sistema de filtração glomerular. Esta situação poderá
Sinais e sintomas associados à possível instalação
causar insuficiência renal aguda (IRA).
da síndrome compartimental:
Pode ocorrer devido a:
• Dor (severa), desproporcional ao estímulo/lesão;
• Encarceramento prolongado;
• Parestesia;
• Lesão muscular traumática;
• Pressão (extremidade edemaciada e tensa);
• Compromisso circulatório na área lesada (ex.
• Paralisia;
membro).
• Palidez (sinal tardio);
• Ausência de pulso (sinal tardio).
A chave para melhoria do prognóstico da lesão por
esmagamento é a reanimação volémica precoce. O
O tratamento definitivo desta lesão ocorre no hospital
atraso no início da fluidoterapia resulta em 50% de
com a realização de fasciotomia. Qualquer tala ou
prevalência de IRA, e o atraso de 12 ou mais horas
penso aplicados que estejam demasiado apertados
resultará no desenvolvimento de IRA em quase 100%
devem ser removidos e a perfusão da extremidade
vítimas.
reavaliada.
Perante a vítima com lesão por esmagamento ainda
encarcerada, deve instituir-se assim que possível
fluidoterapia com soro fisiológico (até 1500 mL/h),
adicionando bicarbonato de sódio (50 mEq) e manitol
LESãO VaScULar
(10g) em cada litro de soro administrado.
A lesão vascular é causada quer por trauma fechado
Após a extração da vítima o volume infundido passa
quer penetrante e pode colocar em risco a extremidade
a ser soro fisiológico (500 mL/h), alternando com Dx
se não for precocemente identificada e abordada. A
5% (500 mL/h) com bicarbonato de sódio (50 mEq)
lesão arterial é particularmente importante já que o
por cada litro de soro.
músculo não tolera a ausência de fluxo arterial por
Uma vez estabilizada a pressão arterial da vítima é
mais de 6 horas, iniciando-se a partir daí o processo
fundamental estar atento aos sinais de hipercaliémia
de morte celular (necrose).
(ondas T apiculadas no monitor). Tratar disritmias
Os sinais de lesão arterial ou vascular incluem:
associadas à hipercaliémia (ver protocolo SAV).
• Ausência ou diminuição de pulsos na extremidade
afetada;
• Palidez e diminuição da temperatura na
extremidade afetada;
• Hematoma pulsátil e expansivo;
• Sopro/frémito;
Na situação de esmagamento o
• Hemorragia ativa grave;
lactato de ringer deve ser evitado • Presença de sopro (à auscultação).
devido à presença de potássio na
sua composição. As fraturas ou luxações que comprometam o fluxo
sanguíneo devem ser realinhadas e estabilizadas assim
que possível. A monitorização contínua dos pulsos e
de outros sinais de lesão vascular, na extremidade
afetada deve ser mantida até à unidade hospitalar.
EmErgência TraUma
96
notas:
LESãO nErVOSa amPUTaçãO TraUmÁTica
Os nervos periféricos podem ser lesados na sequência A amputação traumática pode colocar em risco a vida
de trauma fechado ou penetrante. Um nervo pode e/ou a extremidade da vítima. É do ponto de vista físico
ser completamente lesado (ex. facada) ou pode ser e psicológico uma lesão devastadora para a vítima.
comprimido ou estirado devido a uma fratura ou edema A amputação traumática pode desencadear hemorragia
dos tecidos na sequência de trauma fechado. difícil de controlar, principalmente nas amputações
parciais ou incompletas. Perante a porção restante da
Sinais e sintomas de lesão nervosa incluem: extremidade amputada com hemorragia ativa devem
• Redução ou perda da função motora (movimento ser aplicadas compressas esterilizadas e efetuada
e força); compressão manual direta. Se a compressão manual
• Redução ou perda da função sensitiva; direta não for eficaz, dever-se-á aplicar um garrote
• Parestesia. proximal à lesão.
A reimplantação da parte amputada pode ser possível
É difícil avaliar adequadamente a função nervosa dependendo da gravidade da lesão na extremidade
periférica no contexto pré-hospitalar e perante uma afetada e da condição fisiológica da vítima. O segmento
vítima de trauma com múltiplas lesões, com lesões amputado deve ser cuidadosamente embrulhado em
distrativas ou com alteração do estado de consciência. compressas humedecidas e colocada dentro de um
Esta (re)avaliação deverá prosseguir após a chegada saco de plástico. Posteriormente este saco deverá
à unidade hospitalar. ser colocado num banho frio (mistura de gelo e água).
Na amputação parcial pode haver ainda algum
grau de ligação entre a extremidade e a porção
afetada. Muitas vezes a pele, músculos e ossos estão
gravemente lesados e há necessidade de amputar.
Nestas situações os tecidos devem ser cobertos com
compressas esterilizadas até avaliação pelo cirurgião
na unidade hospitalar adequada.
notas:
Reimplantações
inDicaçÕES cOnTrainDicaçÕES
rELaTiVaS
• Tempo de isquémia “quente” prolongada:
6 horas: Amputações envolvendo
músculo;
12 horas: Amputação da mão e dedos;
• Tempo de isquémia “fria” prolongada:
12 horas: Amputações envolvendo
músculo;
• Extremidade amputada congelada;
• Lesão com componente de esmagamento ou
avulsão;
• Amputações em crianças;
• Extremidade com amputações em múltiplos
• Múltiplos dedos;
níveis;
• Dedo único com secção proximal à inserção
• Dedo único com secção distal à inserção do
do flexor superficial dos dedos;
tendão flexor superficial dos dedos;
• Polegar;
• Contamina o extrema (lesões agrícolas);
• Amputações proximais (região palmar, punho
• Extremidade com função afetada antes da
lesão.
e antebraço distal).
aBSOLUTaS
• Lesão grave com esmagamento, avulsão ou
estiramento de tecidos;
• Condições médicas gerais que possam pôr a
vida em risco;
• Lesões associadas que possam pôr em risco a
vida (politraumatizado);
• Doentes mentalmente instáveis (doença do
foro psiquiátrico) que impossibilitem um pós
operatório adequado;
• Vasos arterioscleróticos.
EmErgência TraUma
98
notas:
aBOrDagEm
PrÉ-hOSPiTaLar
notas:
atuação no D: Disfunção neurológica
• Determinar o nível de consciência (GCS);
• A deterioração do estado de consciência pode indicar instabilidade hemodinâmica devido à hipovolémia.
• A lesão das extremidades pode ser perturbadora e distrativa: Nunca esquecer as prioridades
de avaliação!
• Dor, palidez, parestesia e paralisia? Pensar em lesão vascular, lesão nervosa ou síndrome
compartimental;
• As lesões ósseas devem ser alinhadas e imobilizadas assim que possível;
• A presença de uma ferida sobre uma região edemaciada, é até prova em contrário uma
fratura exposta: É importante minimizar os riscos de infeção!
EmErgência TraUma
100
SEcçãO 2
DESORDENS ESPECÍFICAS
NO PRÉ-HOSPITALAR
6. TraUma
TÉrmicO
SEcçãO 2
Trauma Térmico
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
101
cLaSSificaçãO “cLÁSSica”
As queimaduras são lesões provocadas pela ação de
VERSUS
energia térmica, eletricidade, substâncias químicas
cLaSSificaçãO “aTUaL”
ou radiações.
Embora as queimaduras atinjam principalmente a
• Espessura Epidérmica (antiga 1º Grau): Eritema
pele, quando estas são profundas ou extensas, as
da pele, pele intacta (ex. queimadura solar). Não
suas repercussões acabam por ser sistémicas, com
deve ser considerada no calculo da superfície
profundas alterações de todos os órgãos e sistemas.
corporal queimada;
As principais repercussões das queimaduras a nível
• Superficial de Espessura Parcial (antiga 2º
cutâneo resultam da lesão da pele com consequente
Grau): envolve a epiderme e parte de derme
alteração da função de barreira e perda de água,
papilar;
eletrólitos e proteínas. Outras alterações traduzem-se
• Profunda de Espessura Parcial (antiga 3º Grau):
a nível do controlo da temperatura, da sensibilidade e
envolve a epiderme, toda a camada papilar da
da excreção de vários produtos metabólicos (através do
derme até à derme reticular;
suor). A perda da integridade da pele comporta ainda
• Espessura Profunda completa: envolve toda
um elevado risco de infeção, particularmente quando
a espessura da pele;
os cuidados de assépsia são deficientes.
• Espessura Profunda completa +: envolve, além
Alguns dos efeitos sistémicos mais importantes
de toda a espessura da pele, tecidos subjacentes,
incluem alterações cardiovasculares, hematológicas,
como músculos e/ou ossos.
imunológicas, hormonais e metabólicas.
A gravidade das queimaduras é muito variável, com o
prognóstico a depender essencialmente da extensão
e profundidade das queimaduras, atingimento da Critérios para referenciação em
via aérea, lesões associadas, idade do queimado, Centro de Queimados
patologia prévia e existência de falência aguda de
órgãos ou sistemas. • Queimaduras de espessura parcial ou completa
As queimaduras podem classificar-se de acordo com em mais de 10% da superfície corporal;
a sua causa, profundidade, extensão e gravidade. • Queimadura de espessura parcial ou completa
O aspeto mais crítico do tratamento precoce da superior a > 5% da superfície corporal em crianças
vítima queimada é restaurar e manter uma adequada (Centro de Queimados Pediátrico - crianças até
perfusão tecidular, permitindo o correto funcionamento 18 anos);
dos órgãos vitais. • Queimadura profunda de espessura parcial (antigo
3º grau) em mais de 2% da superfície corporal;
• Queimaduras da face, pescoço, tórax, períneo,
Causa (tipo) da Queimadura: mãos e pés;
• Queimaduras Circulares do tórax e/ou membros
• Térmicas; e/ou dedo (em que há risco de comprometimento
• Elétricas; da função);
• Químicas; • Queimaduras elétricas;
• Por radiação. • Queimaduras químicas;
• Carboxihemoglobina > 10%;
• Queimaduras com lesões associadas;
• Inalação de fumo e/ou substâncias tóxicas;
• Traumatismo Crânio-Encefálico;
• Traumatismo Músculo-Esquelético;
• Queimaduras com doenças associadas:
• Diabetes Mellitus;
• Doença hepática;
• Doença renal;
• Doença cardíaca;
• Doença psiquiátrica e/ou neurológica;
• Neoplasias e situações de imuno-depressão.
notas:
Extensão da Queimadura
Quando o tempo o permitir, o calculo da área da
queimadura deve ser feito imediatamente. Para uma
avaliação inicial poderá usar-se um de 3 métodos:
• A regra dos nove, que divide o corpo em múltiplos
de 9;
• Tabela de “ Lund and Browder” (a usar
preferencialmente);
• Em alternativa, pode-se considerar a medida da
palma da mão da vítima como 1% da superfície
corporal. 1%
Figura 66: Medida da palma da mão + dedos
4,5%
4,5%
18%
18%
1%
9% 9%
9% Área cutânea - Adulto
9%
Cabeça e Pescoço 9%
Torso 36%
Braços 18%
Pernas 36%
Períneo 1%
TOTAL 100%
notas:
CABEÇA (A) 19 17 13 77 9 7
PESCOÇO 2 2 2 2 2 2
TRONCO
13 13 13 13 13 13
ANTERIOR
TRONCO
13 13 13 13 13 13
POSTERIOR
NÁDEGAS 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5
GENITAIS 1 1 1 1 1 1
BRAÇO 4 4 4 4 4 4
ANTEBRAÇO 3 3 3 3 3 3
notas:
aBOrDagEm
PrÉ-hOSPiTaLar
• Nas queimaduras provocadas por químicos
Abordagem segundo ABCDE, sempre respeitando as que reagem com a água, a remoção
regras de segurança, genericamente: Permeabilidade mecânica prévia (limpeza com compressas
das vias aéreas, Lavagem, Analgesia e Fluidoterapia. secas) é particularmente importante (exceção:
queimaduras oculares). A lavagem de vestígios
Garantir a segurança da equipa destas substâncias, desde que feita com água
(potável) em abundância, normalmente não
e da vítima: acarreta problemas importantes;
Efetuar uma avaliação rápida do local da ocorrência,
• A queimadura com ácido fluorídrico constitui
identificando fatores que poderão comprometer a
exceção: a lavagem deve durar 5 a 10 minutos e
segurança, necessidades especiais e os mecanismos
a vítima rapidamente evacuada para o hospital
de trauma envolvidos (com a vítima em local seguro,
para tratamento específico;
parar o processo responsável pela lesão):
• Perante a suspeita de queimaduras por radiação
• Nas queimaduras por fogo, devem ser extintas
a primeira preocupação deve ser a identificação
eventuais chamas, preferencialmente com água.
e localização da fonte radioativa e o imediato
Em alternativa, com um cobertor ou obrigando a
afastamento da equipa (e da vítima) desse local,
vítima a rodar sobre si mesma. A principal causa
procurando a proteção de edifícios ou acidentes
de morte num incêndio é a inalação de gases
de terreno (atenção à possibilidade de a vítima
nocivos e não a lesão térmica;
estar contaminada com material radioativo). Nesta
• Nas queimaduras elétricas deve ser confirmado
situação, deve ser imediatamente contactado
que a corrente elétrica foi desligada ou fazê-lo
o CODU.
antes de abordar a vítima. No caso particular de
acidentes envolvendo corrente elétrica de alta
tensão, a abordagem do local apenas deve ser
feita após obter garantias de que é seguro, pela
possibilidade de formação de arcos voltaicos
com propagação da corrente através do ar.
Deve-se caracterizar se a queimadura ocorreu
com alta (>1000V) ou baixa tensão, se com
corrente alterna ou contínua. Podem produzir
lesões internas gravíssimas e exteriormente
serem pouco evidentes. É importante observar as
portas de entrada e de saída. Estas nem sempre
são evidentes no exame físico. A observação da
vítima no local, orientada pelas características
do acidente é muitas vezes a melhor maneira de
identificar as queimaduras. A eletrocussão é causa
de morte frequentemente por paragem respiratória
ou cardíaca. A reanimação cardiorespiratória
nestas vítimas é relativamente bem sucedida
mas pode tornar-se prolongada;
• Nas queimaduras químicas deve ser removida
a roupa da vítima e a área atingida deve ser limpa
com compressas secas (excepto nos olhos)
seguida de lavagem com água em abundância,
pelo menos durante 60 minutos, podendo a
lavagem continuar durante o transporte da vítima.
A lavagem de queimaduras químicas deve ser
feita de modo a que a água (potável) não arraste
a substância química para zonas não atingidas
(ou outras pessoas). Queimaduras químicas
nos olhos devem ser copiosamente irrigadas
com SF durante, pelo menos 30 minutos. Nunca
deve ser tentada a neutralização da substância
que está a provocar a queimadura, de um modo
geral provoca uma reação exotérmica. A atitude
correta é diluir o químico;
SEcçãO 2
Trauma Térmico
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
105
notas:
Processo de Queimadura
INTERROMPER O PROCESSO
VA PERMEÁVEL?
NECESSITA SUPORTE
VENTILATÓRIO?
ESTABELECER PRIORIDADES
NO TRATAMENTO
• Monitorização;
SIM TVM?
• Fluidoterapia;
• Analgesia.
Imobilizar
POSSIBILIDADE DE
MAUS TRATOS?
EmErgência TraUma
106
notas:
atuação no a: Permeabilização da Va com controlo da coluna cervical
• A coluna cervical deve ser estabilizada dado o potencial de lesão associado à cinemática (ex.
explosões ou acidentes com desaceleração súbita; eletrocussões com corrente de alta tensão);
• Avaliar o risco de compromisso da via aérea devido à presença de:
queimadura da via aérea;
queimadura da face e/ou pescoço (em particular se há atingimento da face);
dispneia, estridor laríngeo, rouquidão, tosse ou broncoespasmo;
pêlos da face ou do nariz (cílios nasais) queimados;
tosse com expetoração fuliginosa;
queimadura da língua ou mucosa oral;
alteração do estado de consciência - agitação ou confusão.
• Considerar VA Definitiva se:
Índice de Clark ≥ 2;
Intoxicação por monóxido de carbono;
Queimadura circunferencial do tórax.
• Para a Entubação Traqueal:
Pré-oxigenação com O2 a 100%;
Propofol (administrado lentamente, permitindo a avaliação do estado da consciência -
habitualmente são necessários 1-2 mg/Kg), ou nos doentes hemodinamicamente instáveis:
cetamina 1-2 mg/Kg EV, administrados durante 1 min (com diazepam 0,2 mg/Kg EV);
Fixar tubo traqueal com fita de nastro e não adesivo.
• Para manutenção da anestesia: Propofol 4-6 mg/Kg/h EV em perfusão contínua ou, no caso da
cetamina, em incrementos repetidos com metade da dose inicial.
Índice de Clark
criTÉriO POnTUaçãO
Espaço fechado 1
Dispneia 1
Alteração da consicência 1
Rouquidão 1
Queimadura facial 1
Expectoração carbonácea 1
TOTAL 7
Tabela 11
• Índice de Clark ≥ 2 implica forte suspeita de lesão inalatória e deverá ser considerada a
entubação endotraqueal;
• A OVA superior pode ocorrer rapidamente após a queimadura;
• A rouquidão progressiva é um sinal de OVA e a entubação traqueal precoce deve ser
equacionada, antes da instalação do edema e consequente alteração da anatomia das
estruturas.
SEcçãO 2
Trauma Térmico
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
107
notas:
atuação no B: Ventilação e Oxigenação
• A inalação de gases aquecidos, químicos ou produtos de combustão podem comprometer a ventilação
e a oxigenação. Considerar a possibilidade de:
intoxicação por CO (ex. incêndios em espaços fechados);
libertação de produtos tóxicos (ex. libertação de cianetos na combustão de alguns materiais
sintéticos);
edema pulmonar (mesmo na ausência de lesão inalatória, o aumento de permeabilidade da
microcirculação pode contribuir para o aparecimento de EAP).
• Administrar O2 100% (15 L/min) humidificado a todas as vítimas com queimaduras extensas
independentemente de valor SpO2 . A administração de oxigénio a 100% reduz a semivida da
carboxihemoglobina de 4 para 1 hora. O quadro clínico da intoxicação por CO depende da % de
Carboxi-hemoglobina (CO-Hb) (ver tabela 12);
• Pesquisar sinais de hipóxia (ansiedade, agitação, taquipneia).
• Avaliar:
Frequência respiratória;
Esforço respiratório (musculatura acessória e amplitude);
Oximetria de pulso (apesar de aparelho não diferenciar oxi-hemoglobina de carboxihemoglobina);
Avaliar a parede torácica (presença de queimaduras no tórax pode comprometer ventilação).
• Doentes queimados com intubação traqueal devem ser ventilados com 100% de oxigénio:
Indicação para ventilação;
Vítima em coma;
Insuficiência respiratória;
Intoxicação por monóxido de carbono;
Queimaduras circunferenciais do tórax.
EScarOTOmia
Escarotomia de urgência não é recomendada na fase pré-hospitalar, mesmo perante queimadura
circunferencial. Quase exceção (deverá ser considerada, tendo em conta o tempo de transporte): as
queimaduras circunferenciais do tórax podem, em casos extremos, formar uma couraça e causar uma
síndrome respiratória. Assim, a escarotomia de emergência só deve ser realizada no local do acidente se
absolutamente imprescindível. A técnica inclui duas incisões em linhas cefalocaudais, paralelas, laterais
aos mamilos, unidas por uma incisão perpendicular na região abdominal alta. Esta deve ser realizada "a
mínima" e deve interessar apenas a escara para que não se torne sangrativa.
Tabela 12
Uma ventilação insuficiente e a hipoxémia podem, também, dever-se a lesão por inalação ou
intoxicação por monóxido de carbono (CO). A afinidade do CO à molécula de hemoglobina é
240 vezes superior à do Oxigénio.
EmErgência TraUma
108
notas:
atuação no c: assegurar a circulação com controlo da hemorragia
• Os objetivos passam por identificar a instabilidade hemodinâmica como em qualquer outra vítima
de trauma;
• Estabelecer acessos venosos (2 acessos G14, G16) preferencialmente numa área de pele sã. Se
difícil, considerar colocação de abocath G16 em veia jugular externa e/ou uso de agulha intraóssea.
• Monitorizar:
Frequência cardíaca;
Débito urinário;
Cor da pele ou a recuperação do preenchimento capilar em áreas não queimadas
Estado de consciência;
ECG (vítima de queimadura elétrica por causa de arritmias) tendo o cuidado de não colocar
elétrodos em áreas queimadas.
• Uma vez que a diminuição do volume intravascular provocada pelas queimaduras não ocorre de
imediato, a presença de choque obriga a considerar outras causas (particularmente no caso de
explosões e queimaduras por corrente elétrica de alta tensão).
ELETrOcUSSãO:
• Em caso de eletrocussão, queimadura grave extensa ou esmagamento, administrar manitol 100 a
200 mL/70 Kg EV a fim de promover a diurese e evitar a insuficiência renal;
• Nas situações de eletrocussão, mesmo com queimaduras pouco extensas, há a possibilidade de
lesões musculares significativas. Devido à libertação de mioglobina provocada pela rabdomiólise, é
importante promover um débito urinário adequado para prevenir o desenvolvimento de Insuficiência
Renal Aguda (1-2 mL/Kg/h);
• Queimaduras elétricas podem também ser causa de ausência de pulso palpável (por edema muscular
- podem surgir síndromes compartimentais). Também aqui, a fasciotomia de emergência não deve
ser realizada, excepto nos casos referidos anteriormente.
SEcçãO 2
Trauma Térmico
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
109
notas:
QUEimaDUra QUímica:
Na avaliação das queimaduras químicas, para além do cálculo da extensão da queimadura é necessário
identificar uma eventual lesão inalatória e suspeitar de toxicidade sistémica (ex. queimadura por
ácido fluorídrico que apresenta risco de morte por hipocalcémia e hipomagnesiémia. Manifestações
incluem hipotensão, prolongamento do intervalo QT, arritmias ventriculares e paragem cardíaca. A
morte nestas circunstâncias é muito pouco frequente no pré-hospitalar).
Uma vez que a diminuição do volume intravascular provocada pelas queimaduras não ocorre de
imediato, a presença de choque obriga a considerar outras causas (particularmente no caso de
explosões e queimaduras por corrente elétrica de alta tensão).
A pressão arterial (PA) indireta é um índice pouco fiável da avaliação do estado cardiovascular
numa vítima queimada, devido à alterações fisiopatológicas compensadoras.
A medida de PA, pode ser ainda, difícil de obter, devido ao edema das extremidades.
notas:
atuação no D: Disfunção neurológica
• Determinar o nível de consciência (GCS). A alteração do estado de consciência pode indicar um
dos seguintes:
Hipoxémia;
Edema cerebral;
Hematoma cerebral;
Intoxicação por CO;
Hipovolémia;
TCE associado;
Hipoglicémia;
Ingestão de drogas ou álcool.
• Intubação Traqueal se GCS ≤ 8.
analgesia
• A avaliação da dor deve ser realizada assim que possível;
• A cobertura das queimaduras é o primeiro passo para diminuir a dor (a simples corrente de ar sobre
a queimadura provoca dor);
• Considerar a administração de opióides (analgésico recomendado) para a dor intermitente ou antes
de procedimentos dolorosos:
Adultos: Morfina 2 mg EV (repetir se necessário cada 5 minutos até dose máxima de 0,2 mg/Kg);
Crianças: Morfina 0,1 mg EV (repetir se necessário cada 15 minutos até dose máxima de 0,3 mg/Kg).
• Em princípio, a via intramuscular e subcutânea não devem ser utilizadas, porque a absorção dos
fármacos poderá ser demasiado imprevisível;
• Se não existirem acessos vasculares endovenosos, considerar cetamina 3 a 7 mg/Kg IM.
avaliação secundária
• Considerar hipótese de lesão oculta (trauma ou queimadura), especialmente perante cenário de
explosão ou queda;
• Dependendo das características do acidente, deve-se pesquisar a existência de outros tipos de lesões;
• Nas queimaduras elétricas pode haver lesão do miocárdio com arritmias, lesões músculo-esqueléticas
(devidas aos movimentos durante a eletrocussão) ou alterações neurológicas (convulsões, delírio,
coma, quadriplegia).
SEcçãO 2
Trauma Térmico
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
111
notas:
OUTrOS cUiDaDOS aOS QUEimaDOS
• Nas queimaduras químicas, pode ser necessário continuar a lavagem durante o transporte;
• Transportes cuja duração previsível exceda 30 minutos justificam a algaliação do queimado;
• Queimadura do períneo é simultaneamente uma indicação para algaliação mas uma indicação
para grandes precauções, dado que a destruição tecidular pode condicionar uma algaliação difícil
ou mesmo impossível. Não deve ser tentada mais do que uma vez e sempre de forma suave. Caso
não seja possível a algaliação, em ambiente hospitalar será utilizada outra técnica de drenagem
vesical (punção supra-púbica);
• No caso de queimaduras de pequena dimensão, após lavagem com soro fisiológico, pode cobrir-se
a lesão e proteger com compressas ou penso de abdómen;
• Os membros queimados devem ser elevados, se possível para reduzir o edema. Os olhos, se
envolvidos, devem ser cobertos com um penso ocular humedecido;
• Não remover restos de roupa queimada aderentes à pele;
• Remover anéis, colares, cintos e outros acessórios que se localizem em zonas não queimadas;
• Não romper flictenas. Exceção: as flictenas com mais de 5 cm de diâmetro, dado o risco do seu
rebentamento espontâneo, podem ser drenadas com agulha EV. Este procedimento não deve
atrasar o transporte e só deve ser realizado se a localização da flictena comprometer qualquer tipo
de intervenção necessária.
Dada a exiguidade de vagas para queimados no país, considerar helitransporte para um centro
adequado.
É essencial parar o processo de queimadura mas cuidado com a hipotermia - não irrigar
continuamente a vítima queimada. Todas as vítimas queimadas devem receber O2 em alta
concentração. As queimaduras não causam hipotensão numa fase precoce - O doente está a
sangrar de onde?
A via aérea na vítima queimada deve ser abordada precocemente e reavaliada de forma regular
a alteração do estado de consciência deve fazer suspeitar de intoxicação por CO.
EmErgência TraUma
112
SEcçãO 2
DESORDENS ESPECÍFICAS
NO PRÉ-HOSPITALAR
6. TraUma Em
PEDiaTria
SEcçãO 2
Trauma em Pediatria
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
113
Metade das crianças transportadas pelos serviços O tamanho do abdómen predispõe à ocorrência de notas:
de emergência tem uma lesão grave. Felizmente, as lesões múltiplas em traumas fechados. As costelas
lesões mais comuns representam problemas minor flexíveis e a fina parede abdominal proporcionam pouca
(ex. lacerações, queimaduras, feridas incisas ligeiras proteção aos órgãos sólidos (que são proporcionalmente
na cabeça e fraturas das extremidades). No contexto maiores na criança e sangram abundantemente) do
de trauma minor, o papel da equipa de EPH é linear. abdómen superior, aumentando a incidência de lesões.
efetuar a avaliação do cenário, procurar problemas As lesões costumam ser mais profundas e extensas,
fisiológicos e anatómicos e transportar para a unidade porque os órgãos possuem cápsula mais espessa
hospitalar. e elástica. Pela mesma razão, a hemorragia cessa
Em contrapartida, o trauma multissistémico representa espontaneamente com maior frequência, permitindo
para a equipa um grande desafio e exige uma avaliação por vezes o tratamento conservador das lesões.
sistematizada e uma abordagem especifica para O periósteo mais espesso e mais elástico e a cortical
a criança. A maioria dos princípios da abordagem óssea altamente porosa e vascularizada, associados
de trauma nos adultos pode ser aplicado de forma a maior quantidade proporcional de matriz proteica
segura e eficaz nas crianças. O desafio na avaliação em relação ao seu conteúdo mineral, torna o osso
de uma vítima pediátrica prende-se com as diferenças mais maleável, justificando a ocorrência de fraturas
que se referem ao mecanismo de lesão, à anatomia incompletas (ex. “ramo verde”) e completas sem desvio.
e às respostas fisiológicas. As modificações na A relação entre a superfície e o volume corporal é
abordagem são necessárias e exigem adaptação elevada ao nascimento e diminui com o crescimento.
devido à diferença no tamanho dos equipamentos A hipotermia desenvolve-se rapidamente, em
utilizados nos procedimentos de emergência. consequência da exposição da criança à temperatura
Em comparação com os adultos, as crianças apresentam ambiente e da própria infusão de fluidos intravenosos
maior frequência de lesões multissistémicas, devendo- (administrar de preferência aquecidos).
se tal facto à maior absorção de energia por unidade Nas crianças jovens, a instabilidade emocional origina
de área, uma vez que a massa corporal é menor. O frequentemente comportamentos regressivos na
tecido adiposo é exíguo, o tecido conjuntivo tem menor presença de stress, dor ou percepção de um ambiente
elasticidade e os órgãos são mais próximos entre si. hostil. A capacidade da criança interagir com pessoas
A idade pediátrica constitui um dos picos de incidência estranhas /desconhecidas e a situações diferentes é
de traumatismos crânioencefálicos. limitada, especialmente na presença de dor.
Em regra de gravidade ligeira, implicando apenas Um aspeto de particular importância a considerar neste
observação ou internamentos hospitalares curtos, escalão etário é a eventual presença de maus-tratos.
estima-se contudo que aproximadamente 75% Frequentemente não declarados, podem constituir o
dos doentes pediátricos internados no contexto de principal mecanismo traumático do doente. Estima-se
trauma tenham sofrido traumatismo craniano, sendo que aproximadamente 10% das crianças com menos
o traumatismo crânio-encefálico (TCE) a principal de 10 anos que entram nos Serviços de Urgência por
causa de morte nestes doentes. alegado acidente terão sido vítimas de maustratos.
Em termos práticos, o comportamento de um É dever moral de qualquer profissional de saúde que
adolescente pré-adulto face a um TCE e subsequente tenha contacto com crianças traumatizadas identificar
abordagem terapêutica não difere muito em relação possíveis sinais de maus-tratos e protegêlas, dentro
aos adultos. do limite das suas competências. Não havendo lesões
Para os restantes escalões etários enquadrados na idade patognomónicas, deverão no entanto levantar suspeita
pediátrica, contudo, existem algumas particularidades de maus-tratos genericamente as seguintes situações:
que importa conhecer, designadamente: • Lesão neurológica significativa em doente com
• Gravidade: em regra, os TCE são de menor idade < 3 anos;
gravidade do que no adulto; • Lesão neurológica importante em criança com
• Presença de lesão: é menor a probabilidade de sinais externos mínimos de lesões traumáticas;
existência de lesão encefálica com indicação • Fraturas cranianas múltiplas;
para tratamento cirúrgico; • História incoerente ou inapropriada para a
• Mecanismo de produção: alguns mecanismos são gravidade das lesões;
muito típicos nesta faixa etária (ex. as quedas, • Associação de hemorragia da retina, traduzida
por vezes de grande altura, os atropelamentos por alteração súbita da acuidade visual;
e os acidentes de bicicleta e skate); • Lesões múltiplas, em diversos estádios de
• Resposta à lesão: maior probabilidade de resolução;
desenvolver edema cerebral maligno precoce; • Lesões múltiplas de diversos órgãos ou
• Convulsões: maior probabilidade de registar crises localizações distantes entre si.
convulsivas nodecurso das primeiras 24h pós-
TCE (o que pode justificar medicação profilática); a abordagem assenta na metodologia aBcDE,
• Prognóstico: é, por norma, melhor do que o do as prioridades são as mesmas do adulto, apenas
adulto. ajustando e compreendendo alterações /diferenças
próprias do estado de desenvolvimento.
EmErgência TraUma
114
notas:
Afogamento Afogamento
Queimaduras Queimaduras
Abuso Abuso
Tabela 13
Figura 69
SEcçãO 2
Trauma em Pediatria
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
115
notas:
aBOrDagEm PrÉ-hOSPiTaLar
atuação no a: Permeabilização da Va com controlo da coluna cervical
Propofol não deve ser utilizado como indutor em crianças com menos de 3 anos de idade,
ou como fármaco de manutenção em crianças com menos de 2 meses de idade - eficácia e
segurança não estão estabelecidos.
EmErgência TraUma
116
notas:
atuação no B: Ventilação e Oxigenação
• Administrar O2 suplementar;
• Monitorização contínua da SpO2 e se possível, da end-tidal CO2 (EtCO2);
• Garantir SpO2 ≥ 95%, idealmente SpO2 > 98%;
• Evitar SpO2 < 90%;
• EtCO2, manter 35-45 mmHg (ex. verificar correta localização de TET);
• Se TCE assegurar a normoventilação (EtCO2 35-45mmHg): evitar hipoventilação ou hiperventilação;
• Identificar e corrigir situações com risco de vida:
Descomprimir pneumotórax hipertensivo;
Penso oclusivo em 3-lados se ferida aberta no tórax.
• Ponderar Ventilação assistida;
• Promover VA definitiva se:
VA com compromisso severo (ex. queimadura);
Falência respiratória (hipoventilação e/ou hipóxia mantida mesmo com O a 100% ou com
ventilação por insuflador manual);
Paragem respiratória;
GCS ≤ 8;
Falência circulatória progressiva;
Retalho costal móvel.
• Considerar sonda gástrica (via oral) para diminuir comprometimento diafragmático (descompressão
gástrica, optimiza a ventilação e as trocas gasosas);
• A suspeita de fraturas de arcos costais indica trauma torácico, com lesão de órgão subjacente (ex.
fígado, baço e pulmão), pesquisar e identificar.
SE TraUma crÂniO-EncEfÁLicO:
• Tratamento agressivo da hipotensão arterial, definida da seguinte forma para os diferentes escalões
etários (PAS - Pressão Arterial Sistólica):
0-28 dias - PAS < 60 mmHg;
1-12 meses - PAS < 70 mmHg;
1-10 anos - PAS < 70 + (2 x Idade) mmHg;
>10 anos - PAS < 90 mmHg.
• Reposição de volume deverá ser feita com soros isotónicos não glicosados;
• A administração de volume deve ser feita de forma controlada a fim de, por um lado, combater a
hipotensão e, por outro, evitar a elevação da pressão intracraniana por sobrecarga de volume.
SEcçãO 2
Trauma em Pediatria
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
117
chOQUE
graU 1-2
Perda de Sangue
% Volume <30% 30-45% >45%
Taquicardia
frequência cardíaca Ligeiro aumento Aumento moderado
Bradicardia
Pressão arterial
Normal ou aumentada Normal ou diminuída Diminuída
sistólica
Tempo preenchimento
Prolongado Muito Prolongado -
capilar
frequência
Aumento moderado Aumento acentuado Respiração agónica
respiratória
notas:
Resposta ao bólus inicial de fluidoterapia (20 mL/Kg)
PErDa ESTimaDa
DE VOLUmE < 30% 30-45% 45%
SangUínEO
Alterados
Em raras ocasiões
Discreta melhoria,
a falha de resposta
Retorno ao normal mantendo PA e FC
à administração de
fluidos deve-se a
As vítimas deste grupo As vítimas deste grupo
falência cardíaca por
respondem ao bólus inicial embora respondam à
SinaiS contusão do miocárdio,
de fluidos e mantêm-se administração inicial
ViTaiS tamponamento
hemodinamicamente de fluidos, apresentam
cardíaco ou
estáveis, necessitando sinais de deterioração da
pneumotórax
apenas de fluidoterapia de perfusão quando se reduz
hipertensivo.
manutenção. o aporte para doses de
As causas de choque
manutenção.
não hemorrágico
devem ser
descartadas.
nEcESSiDaDE
DE maiS fLUiDOS Baixa Elevada Elevada
(criSTaLÓiDE)
nEcESSiDaDE
Baixa Moderada a elevada Imediata
DE SangUE
nEcESSiDaDE
DE inTErVEnçãO Possível Provável Muito provável
cirúrgica
chOQUE
chOQUE cOmPEnSaDO PEri-Pcr
DEScOmPEnSaDO
notas:
atuação no D: Disfunção neurológica
• Garantir permeabilidade das veias jugulares internas, principal meio de drenagem venosa do encéfalo
- atenção ao colar cervical muito apertado;
• Avaliação neurológica sumária:
Estado de consciência (AVDS ou GCS pediátrica);
Pupilas;
Resposta motora: identificação grosseira de parésias (nas crianças incapazes de cumprir ordens,
observar movimentos espontâneos ou reflexos: dor, reflexo de moro);
Tensão da fontanela anterior: nas crianças com fontanela anterior aberta (geralmente até aos
18 meses) a palpação da fontanela anterior permite estimar de forma qualitativa a pressão
intracraniana).
• Controlo da febre:
Paracetamol - 10-15 mg/Kg;
Evitar, se possível, anti-inflamatórios não-esteróides.
• Controlo da dor;
• Sedação/Analgesia adequada;
• Avaliação da glicemia capilar;
• Se TCE:
Elevação da cabeça (em plano duro), se possível, a 30-45 graus.
• Controlo de convulsões:
Diazepam - 0,1 mg/Kg (EV) em bolus lento, ou 0,5 mg/Kg rectal;
Midazolam - 0,05 mg/Kg (EV), ou 10 mg bucal/nasal;
Fenitoína (2.ª linha) - 15-20 mg/Kg (EV) (ritmo de administração < 50 mg/minuto);
Se mal convulsivo, iniciar terapêutica (EV) contínua: Midazolam (0,1-0,4 mg/Kg/h);
Como alternativa de 3.ª linha, podem-se utilizar barbitúricos (pentobarbital, tiopental), não
apresentando contudo globalmente benefícios significativos face aos restantes fármacos e
implicando risco importante de hipotensão arterial.
• Em caso de deterioração neurológica aguda:
1.ª linha - Manitol - 0,25-1 g/Kg (EV), durante 30 minutos;
2.ª linha - hiperventilação por um período curto (EtCO2 30-35 mmHg):
• Empiricamente, no pré-adulto 20/minuto; na criança 25/minuto, no lactente (< 1 ano)
30/minuto;
• Evitar utilizar nas primeiras 24 horas por potenciar o risco de isquemia cerebral.
cUmPrE OrDEnS
OriEnTaDa
ESPOnTÂnEa 4 5 MOVIMENTOS NORMAIS 6
BALBUCIA
ESPONTÂNEOS
OrDEm VErBaL cOnfUSa LOcaLiZa a DOr
3 4 5
ESTÍMULO VERBAL CHORO IRRITÁVEL FUGA AO TOQUE
inaPrOPriaDa
À DOr 2 3 fUga À DOr 4
CHORO À DOR
incOmPrEEnSíVEL
aUSEnTE 1 2 fLEXãO anOrmaL 3
GEMIDO À DOR
notas:
atuação no E: Exposição corporal com controlo da temperatura
• Providenciar medidas para manter a temperatura corporal normal, ou aquecer a criança:
Aquecer ambiente (célula sanitária e outros);
Mantas térmicas;
Fluidos EV aquecidos.
avaliação secundária
• Reavaliação frequente;
• Em caso de agravamento neurológico, reavaliar desde o “A” (via aérea);
• Dados importantes a ser colhidos:
Mecanismo do traumatismo;
Existência de evento prévio ao traumatismo.
• Outros aspetos importantes do exame físico:
Fraturas ou outras lesões da cabeça e face;
Diástase das suturas;
Palpação da fontanela anterior;
Equimose peri-orbitária “Racoon eyes”, equimose retroauricular (sinal de Battle), epistáxis/
rinorráquia, otorragia/otorráquia - sinais de possível fratura da base do crânio;
Outras fraturas do crânio ou face (ex. fraturas de Le Forts).
SEcçãO 2
DESORDENS ESPECÍFICAS
NO PRÉ-HOSPITALAR
7. TraUma nO
iDOSO
SEcçãO 2
Trauma no Idoso
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
123
notas:
aBOrDagEm
PrÉ-hOSPiTaLar
Tendo em vista o objetivo de aumentar a probabilidade
de sobrevivência da vítima, é essencial integrar as
alterações decorrentes do envelhecimento e os efeitos
de múltiplos problemas médicos, no processo de
avaliação e abordagem.
• Degenerações
• Risco aumentado de
lesão da coluna cervical
osteoarticulares
(esteoporose/ osteoartrite).
A • Próteses dentárias parciais
ou totais
• OVA?
notas:
A suspeita de fraturas de costelas representa também um risco para o idoso, já que é uma lesão
mal tolerada e que pode resultar em falência respiratória súbita.
EmErgência TraUma
126
notas:
•
nas coronárias;
• Ruptura do arco aórtico;
C Limite superior da frequência
cardíaca mais baixo;
•
•
Contusão miocárdica;
Risco aumentado de IRA;
• Redução do débito cardíaco.
• Risco aumentado de EAP.
• Redução do fluxo sanguíneo
a nível renal;
• Redução do número de
glomérulos, nefrónios e da
capacidade da bexiga;
• Redução do metabolismo de
fármacos.
A avaliação cardiovascular no idoso é mais complexa (devido aos efeitos de doença cardíaca pré-
existente e do uso de múltiplos fármacos). Na presença de lesão traumática o idoso liberta também
catecolaminas na resposta à perda de sangue. Na criança ou adulto isto causaria taquicardia, no
entanto nalguns idosos a sensibilidade às catecolaminas está reduzida e por isso o pulso e outros
sinais vitais podem permanecer dentro de limites normais.
SEcçãO 2
Trauma no Idoso
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
127
notas:
•
D
sangue, encobrindo sinais
Mais espaço no crânio
clínicos (que podem ser
proporciona maior mobilidade
subtis e surgir tardiamente
ao cérebro;
em comparação com o
• Dura mater adere ao crânio.
adulto);
• Lesão cerebral traumática.
• O idoso pode ter dificuldade em reportar dor devido à diminuição do número de receptores
da dor;
• A imobilização prolongada no plano duro pode condicionar o desenvolvimento de úlceras de
pressão (em todos os doentes mas particularmente no idoso, que perdeu 20% de espessura
da derme e em que a regeneração da epiderme é prolongada).
EmErgência TraUma
128
notas:
aBUSO na PESSOa iDOSa
A prevalência de pessoas idosas vítimas de abuso
em Portugal é desconhecida.
É no entanto fundamental que a EPH esteja
sensibilizada para os sinais de suspeição, de modo
que a situação seja reportada na unidade hospitalar.
• Perda de peso;
• Alimentação e/ou hidratação inadequada;
• Aparência mal cuidada (ex. roupa suja ou maus cuidados
de higiene);
SinaiS DE nEgLigência • Úlceras de pressão;
• Doente deixado numa cama molhada ou suja (ex. fezes
e/ou urina);
• Tratamento médico inadequado (ex. não administra
medicamentos).
notas:
EmErgência TraUma
130
SEcçãO 2
DESORDENS ESPECÍFICAS
NO PRÉ-HOSPITALAR
8. TraUma
na graViDEZ
SEcçãO 2
Trauma na Gravidez
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
131
notas:
aBOrDagEm PrÉ-hOSPiTaLar
notas:
cESariana "pERimORtEm"
No 3º trimestre, em caso de paragem cardiorrespiratória,
está formalmente indicado manter suporte avançado
de vida até chegar ao hospital.
Nesta situação deve-se pedir ao CODU para prevenir
a equipa de obstetrícia do hospital de destino para se
preparar para uma cesariana emergente.
Existem poucos dados que suportem a vantagem de
cesariana em grávidas traumatizadas, em PCR por
hipovolémia.
O sofrimento fetal começa em regra antes das
manifestações de instabilidade hemodinâmica da
mãe, pelo que o choque prolongado, compromete a
sobrevivência do feto.
Para outras causas de PCR na grávida a cesariana
pode ter sucesso se executada nos 4 - 5 minutos
seguintes à PCR.
Figura 73: Cesariana
EmErgência TraUma
134
SEcçãO 2
DESORDENS ESPECÍFICAS
NO PRÉ-HOSPITALAR
9. aciDEnTES
DE SUBmErSãO
SEcçãO 2
Acidentes de submersão
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
135
notas:
As ocorrências relacionadas com a água ou com outros afOgamEnTO
meios líquidos podem ser de diversa natureza. A este
propósito os afogamentos e os acidentes relacionados Em Portugal, o afogamento continua a ser uma causa
com o mergulho merecem uma atenção particular. de mortalidade importante, particularmente no grupo
Portugal tem uma grande extensão de costa e uma etário entre 1 e 4 anos, onde é a segunda causa de
rede hidrográfica importante, com praias frequentadas mortes acidentais (dados de 2002). Embora termos
anualmente por milhões de banhistas, um número como afogamento, quase afogamento, pré-afogamento
crescente de piscinas (públicas e particulares) e de e vários outros sejam usados frequentemente, muitas
instalações recreativas aquáticas os (“aquaparques”). vezes, o contexto em que estas designações são
Existe ainda um número considerável de lagos, poços, empregues é pouco claro. Importa portanto utilizar
tanques, pedreiras alagadas e muitos outros locais uma terminologia mais objetiva, com definições
onde existe água. Em muitos dos exemplos referidos, claras que eliminem estas imprecisões. De acordo
as condições de segurança são deficientes ou mesmo com recentes recomendações internacionais (ILCOR
inexistentes, potenciando o risco de afogamento. Advisory Statment e Organização Mundial de Saúde),
Relativamente ao mergulho, nos últimos anos tem- designações como pré-afogamento, afogamento
se verificado um aumento do interesse por esta sem aspiração (seco), com aspiração (molhado/
atividade, sendo cada vez mais os mergulhadores húmido), silencioso, ativo, passivo ou secundário
recreativos. Embora a maior parte dos mergulhos não devem ser utilizados. Estes termos / expressões
decorra sem problemas, ocasionalmente podem devem ser substituídos unicamente por afogamento
verificar-se acidentes ou complicações. e, relativamente às consequências do afogamento,
Além da assistência rápida, é necessário que os devem ser utilizados:
cuidados pré-hospitalares sejam prestados de forma • morte por afogamento;
correta, permitindo a estabilização do afogado ou da • afogamento com sequelas (com morbilidade);
vítima de um acidente de mergulho e a sua preparação • afogamento sem sequelas (sem morbilidade).
para o transporte para a Unidade de Saúde mais
adequada. Por afogamento entende-se a situação em que há
compromisso da ventilação devido à submersão/
As prioridades da abordagem destas situações são: imersão num meio líquido (normalmente em água).
1. Garantir a segurança da vítima e da equipa Subjacente a esta definição está o facto de existir
durante toda a intervenção; uma interface líquida na entrada das vias aéreas que
2. Identificar e corrigir as lesões que implicam risco impede a vítima de respirar.
de vida, efetuando manobras de RCP quando
indicado; morte por afogamento designa as situações em que é
3. Não agravar as lesões existentes nem provocar possível estabelecer uma cadeia de causalidade clara
novas lesões; entre o episódio de afogamento e a causa de morte,
4. Identificar as situações em que o tratamento independentemente do tempo decorrido entre ambos.
recompressivo (em câmara hiperbárica) está
indicado. As situações em que a vítima de afogamento sobrevive,
designam-se por afogamento com sequelas, se o
episódio de afogamento originou sequelas irreversíveis,
ou afogamento sem sequelas, se o afogamento
não provocou lesões ou se as lesões sofridas foram
reversíveis. Incluem-se no grupo dos sobreviventes de
afogamento todas as vítimas de afogamento que foram
reanimadas com sucesso e tiveram alta hospitalar ou
morreram por causas não diretamente relacionadas
com o afogamento.
BarOTraUma
EDEma
PULmOnar
agUDO
Tipo i:
Manifestações dermatológicas, linfáticas ou
do sistema músculoesquelético.
Doença por descompressão
Tipo ii:
aciDEnTE POr
Sintomatologia de outros sistemas como por
DEScOmPrESSãO
exemplo neurológicas ou cardiovasculares.
EfEiTOS TÓXicOS
aSSOciaDOS • Narcose do Azoto;
aO aUmEnTO Da • Toxicidade do oxigénio;
PrESSãO • Intoxicação por dióxido de
ParciaL DOS carbono.
gaSES
notas: regiões do sistema nervoso envolvidas. As lesões Quando as condições que predispõem ao edema são
medulares são as mais frequentes, manifestando-se corrigidas, esta situação resolve de forma espontânea.
por parestesias dos membros. Outras manifestações No entanto, outras causas de edema pulmonar devem
incluem paralisia, vertigens, ataxia, disfasia, ser excluídas (por exemplo, embolia pulmonar, isquemia
incontinência de esfíncteres, perturbações visuais e miocárdica, disritmias ou hipertensão).
alterações do estado de consciência. As manifestações
cardiovasculares resultam da formação de êmbolos
gasosos a nível da circulação pulmonar (arterial)
dando origem a desconforto retroesternal, hipertensão Efeitos tóxicos associados
pulmonar, edema pulmonar, tosse e dispneia Esta ao aumento da pressão
ultima é considerada mais grave e com pior prognóstico.
parcial dos gases
Este sistema de divisão entre tipo I e II pode ser usado,
mas tem pouca importância visto que podem aparecer O aumento da pressão de uma mistura de gases
sintomas neurológicos mesmo após uma apresentação condiciona aumentos proporcionais das pressões
inicial do tipo I. Igualmente o tratamento de escolha parciais dos gases dessa mistura, como expresso
é igual para os dois tipos de doença. por um dos corolários da Lei de Dalton. Esta Lei
estipula que a pressão de uma mistura de gases é
O embolismo gasoso traduz-se pela presença de igual à soma das pressões parciais dos gases que
bolhas gasosas na circulação venosa é comum após o compõem a mistura. Como resultado do aumento da
regresso do mergulhador à superfície. pressão parcial dos gases que se verifica durante o
Normalmente estas bolhas são eliminadas a nível mergulho, alguns gases podem começar a ter efeitos
dos capilares pulmonares sem qualquer problema. tóxicos, como resultado do aumento da quantidade de
No entanto, após um barotrauma pulmonar com gás dissolvido (Lei de Henry). É o caso do dióxido de
shunt intrapulmonar ou perante a existência de um carbono (CO2), do oxigénio e do azoto.
shunt intracardíaco direito-esquerdo (foramen ovale A toxicidade do dióxido de carbono pode surgir quando
patente), as bolhas de gás podem entrar para a se verifica um aumento da pressão parcial de CO2
circulação arterial, dando origem a um embolismo no sangue arterial (hipercapnia). A hipercapnia pode
gasoso arterial. Do mesmo modo se a quantidade de surgir nas situações em que se verifica retenção de
bolhas na circulação direita exceder a capacidade de CO2 associada ou não a um aumento da produção
eliminação pulmonar, mesmo sem haver passagem (ex. por aumento da atividade física).
para a circulação arterial, podemos ter um quadro Nas causas de retenção incluem-se as situações
semelhante a um tromboembolismo pulmonar. As em que o mergulhador hipoventila conscientemente
manifestações mais frequentes do embolismo gasoso para poupar ar, veste um fato de mergulho que lhe
arterial são sobreponíveis a um AVC tromboembólico limita a expansão torácica, apresenta anomalias nas
podendo variar desde défices focais de instalação trocas gasosas intrapulmonares ou utiliza um aparelho
rápida (com hemiplegia, alterações do estado de respiratório autónomo em circuito fechado ou semi-
consciência e convulsões) até síncope ou morte. fechado com uma anomalia no seu funcionamento.
Outras manifestações possíveis resultam da oclusão Nos aparelhos que funcionam em circuito fechado
das artérias coronárias com as disritmias e enfarte ou semi-fechado, o ar expirado é reutilizado e são
do miocárdio ou oclusão das artérias distais com utilizados filtros que removem o CO2 produzido. Os
isquémias arteriais periféricas. mergulhadores que recorrem a estes aparelhos estão
sujeitos a um risco aumentado de toxicidade pelo
CO2, sempre que o processo de remoção deste gás
Edema Pulmonar Agudo estiver diminuído.
Os primeiros sintomas de toxicidade pelo CO2 são
Esta complicação tem sido obser vada em cefaleias. Outras manifestações são tonturas, confusão,
mergulhadores jovens, após mergulhos em águas frias dispneia e sensação de calor facial. Em casos mais
ou temperadas. Não se relaciona com o barotrauma graves pode surgir depressão respiratória e cardíaca,
nem com o acidente por descompressão e a sua seguidas de letargia, síncope e convulsões. A toxicidade
patofisiologia permanece mal esclarecida. pelo CO2 desaparece rapidamente após o regresso à
Uma explicação possível baseia-se no aumento de superfície e a remoção da causa da retenção.
fluidos no espaço intravascular como consequência A toxicidade do oxigénio pode surgir após longos
do aumento da pressão hidrostática, associado a um períodos de sujeição a pressões parciais de oxigénio
aumento do preload, afterload e da pressão capilar elevadas, particularmente quando são utilizadas
pulmonar. Estas alterações hemodinâmicas poderiam misturas gasosas enriquecidas em oxigénio (geralmente
conduzir ao edema pulmonar e estão particularmente utilizadas por profissionais em mergulhos técnicos).
associadas a disfunção ventricular esquerda. A metabolização do oxigénio dá origem à formação
O edema pulmonar do mergulhador caracteriza-se por de radicais livres, normalmente removidos pela ação
desconforto torácico, tosse com expetoração arejada, de várias enzimas.
hemoptises, broncospasmo, ortopneia, fraqueza O aumento da pressão parcial do oxigénio provoca o
muscular e tonturas. aumento da produção dos radicais livres, podendo ser
ultrapassada a capacidade de remoção enzimática.
SEcçãO 2
Acidentes de submersão
DESORDENS ESPECÍFICAS NO PRÉ-HOSPITALAR
139
• O afogamento em água requer os procedimentos indicados, não sendo relevante se ele tiver
ocorrido em água doce ou salgada;
• O afogamento noutro tipo de meios, no entanto, poderá obrigar a adoptar algumas medidas
particulares como a lavagem (por exemplo, afogamento numa fossa séptica) ou a colocação
de sonda gástrica e lavagem gástrica (ex. afogamento numa cuba de vinho);
• A tentativa de remoção de água dos pulmões previamente à realização de manobras de
reanimação não se justifica;
• A colocação de uma sonda para drenagem poderá estar indicada se a vítima apresentar indícios
de ter o estômago dilatado devido à água deglutida;
• Devido às alterações de pressão hidrostática que se verificam durante a submersão, a retirada
de um afogado ou de um mergulhador da água pode ser acompanhada de alguma instabilidade
hemodinâmica.
EmErgência TraUma
140
notas:
• Perante uma vítima que apresenta queixas compatíveis com barotrauma do ouvido ou
perinasal, antecipar a possibilidade de coexistir barotrauma pulmonar;
• Nas vítimas de acidentes de mergulho que apresentem dificuldade respiratória, considerar
sempre a possibilidade de pneumotórax;
• Nunca excluir a possibilidade de acidente por descompressão mesmo que o mergulhador
garanta ter cumprido criteriosamente as tabelas de mergulho, particularmente se a clínica
for compatível;
• Ter atenção à possibilidade de um afogamento não ter sido acidental.
notas:
atuação no a: Permeabilização da Va com controlo da coluna cervical
• Remoção da água:
Considerar sempre uma possível lesão vertebro - medular concomitante;
Se possível retirada da vítima na horizontal (necessidade de manter o eixo cabeça, pescoço,
tronco e, se possível, membros inferiores alinhados).
• Desobstrução/permeabilização cuidadosa das vias aéreas:
Atenção à estimulação do reflexo do vómito e à presença de corpos estranhos;
Aspiração de secreções cuidada e repetida.
SEcçãO 3
BIBLIOGRAFIA E SIGLAS
SEcçãO 3
BIBLIOGRAFIA E SIGLAS
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EmErgência TraUma
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