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UNIÃO EDUCACIONAL DO NORTE – UNINORTE


FACULDADE BARÃO DO RIO BRANCO – FAB
CURSO DE BACHARELADO EM PSICOLOGIA

ANTONIO JOSÉ SANTOS INÁCIO


AUCILENE SILVA DE QUEIROZ
DEANDRISON DE OLIVEIRA AMARAL
EUNICE FERNANDES ELIOTE
MARA LÚCIA DO PRADO GORZONI
SARA CRISTINA SARAIVA PINTO
VALZILENE SALES JERÔNIMO

ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COM MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA


DOMÉSTICA

RIO BRANCO – AC
2016
1

ANTONIO JOSÉ SANTOS INÁCIO


AUCILENE SILVA DE QUEIROZ
DEANDRISON DE OLIVEIRA AMARAL
EUNICE FERNANDES ELIOTE
MARA LÚCIA DO PRADO GORZONI
SARA CRISTINA SARAIVA PINTO
VALZILENE SALES JERÔNIMO

ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COM MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA


DOMÉSTICA

Trabalho apresentado como requisito para


obtenção de nota parcial referente à B2, da
disciplina Optativa I (Psicologia Jurídica) do
oitavo período do Curso de Bacharelado em
Psicologia, da Uninorte, sob orientação da Prof.ª
Esp. Jarcilene Martins Sousa Silva.

RIO BRANCO – AC
2016
2

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 3
1 VIOLÊNCIA ........................................................................................................................ 4
1.1 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA................................................................................................ 4
2 CENÁRIO NACIONAL DE VIOLÊNCIA CONTRA À MULHER .......................................... 6
3 A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA .......................................................................................... 7
3.1 LEI Nº 11.340/2006 - LEI MARIA DA PENHA............................................................... 7
3.2 LEI Nº 13.104/15 - LEI DO FEMINICÍDIO ..................................................................... 7
3.3 LEI Nº 13.239/2015 .................................................................................................... 8
4 OS TIPOS DE VIOLÊNCIA................................................................................................. 8
4.1 VIOLÊNCIA EMOCIONAL OU PSICOLÓGICA ............................................................ 8
4.2 VIOLÊNCIA FÍSICA ...................................................................................................... 9
4.3 VIOLÊNCIA SEXUAL ................................................................................................... 9
4.4 VIOLÊNCIA PATRIMONIAL ......................................................................................... 9
4.5 VIOLÊNCIA MORAL..................................................................................................... 9
4.6 ÍNDICES DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO BRASIL .................................... 10
5 O CICLO DA VIOLÊNCIA ................................................................................................ 11
6 A REDE DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER .......................... 12
6.1 O CENTRO DE REFERÊNCIA DE ATENDIMENTO À MULHER EM SITUAÇÃO DE
VIOLÊNCIA – CASA ROSA MULHER.............................................................................. 12
6.2 VARA DE PROTEÇÃO À MULHER ........................................................................... 13
7 O PAPEL DO PSICÓLOGO NESSAS INSTITUIÇÕES .................................................... 14
7.1 O PAPEL DO PSICÓLOGO NA CASA ROSA MULHER ............................................ 14
7.2 O PAPEL DO PSICÓLOGO NA VARA DE PROTEÇÃO À MULHER ......................... 15
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................. 16
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 17
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INTRODUÇÃO

Este trabalho apresenta um panorama geral da violência contra a mulher,


seus aspectos culturais, sua definição, tipos de violência, sua base legal, o ciclo da
violência e a rede de combate à violência contra a mulher.
Seu objetivo é demonstrar a atuação dos psicólogos do Centro de
Referência de Atendimento à Mulher em Situação de Violência – Casa Rosa Mulher
e da Vara de Proteção à Mulher da Comarca de Rio Branco (AC), dentro desse
cenário.
Sabe-se que a violência contra a mulher é descrita desde os primórdios da
humanidade e acontece em todos os níveis da sociedade, não escolhendo cor, raça,
nível de escolaridade, condição financeira, religião e tem traços transgeracionais.
Seus motivos são vários: desde disputa de poder, ciúmes, sentimento de
posse não permitindo que a companheira tenha autonomia, busca de igualdade de
gênero, a subjetividade dos envolvidos, sentimento de inferioridade e caracteriza-se
por agressão física, verbal, psicológica, abuso sexual e negligência direcionada à
companheira, podendo envolver crianças e adolescentes.
Normalmente a violência desenvolve-se no nível relacional mais íntimo e é
necessário considerar a construção sócio-cultural e política estabelecida na relação.
Somos seres inseridos em um meio social e somos atravessados por todos esses
constructos. Possuímos herança da cultural patriarcal e a subordinação vivenciada
pelas mulheres perdura há séculos, apesar de todas as conquistas.
A violência contra a mulher é um grave problema de saúde pública, de
violação dos Direitos Humanos e ainda existe subnotificação dos casos. Entretanto é
evidenciado pelo número de óbitos que ocorrem a todo instante em todo mundo.
Por isso esta temática tem grande relevância, pois o conhecimento também
é uma forma de prevenção.
4

1 VIOLÊNCIA

A violência é considerada por muitos estudiosos como um fenômeno


extremamente complexo e com múltiplas causas que atinge todos, se manifestando
de diversos tipos, gerando múltiplas consequências, entre elas a emocional.
Linda L. Dahlberg (2002, p.1165) utiliza o conceito de violência da
Organização Mundial da Saúde (OMS), pelo qual o:

Uso intencional da força física ou do poder real ou em ameaça,


contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma
comunidade, que resulte ou tenha qualquer possibilidade de resultar
em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento
ou privação (DAHLBERG et al., 2002, p. 5).

Desde a origem da humanidade, as tribos nômades, pela própria


sobrevivência e defesa do território já guerreavam na busca pelo poder, onde
sempre venciam os mais fortes. Esse estigma de pessoa forte, de poder, essa
violência, vivenciamos até nos dias atuais, apenas de forma diferente.
A violência está relacionada com qualquer forma de lesão física ou psíquica
que prejudique o desenvolvimento da pessoa humana ou até levar ao extremo, no
caso, a morte. Atualmente muitos casos são apresentados e até banalizados pela
mídia, quando a população sem conhecimento aplaude e repete esse padrão de
comportamento.
Serão necessários muitos anos para que possa haver uma transformação na
sociedade, devendo começar primeiro dentro de cada indivíduo, na sua forma de ver
e se relacionar com outro.
Esse trabalho irá enfocar de forma específica a violência cometida contra a
mulher. Muitas vezes ela começa de forma silenciosa e essa não tem sequer
conhecimento de que está sofrendo violência e sofre calada sem buscar nenhuma
forma de ajuda.

1.1 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

De acordo com a Cartilha da Secretaria de Políticas para as Mulheres (2015)


a violência doméstica é entendida como toda agressão ou violência sofrida pela
mulher rica ou pobre, branca ou negra, jovem ou idosa, com deficiência, lésbica,
5

indígena, no campo ou na cidade, de qualquer religião e de qualquer grau de


escolaridade, dentro do espaço caseiro, envolvendo pessoas com e sem vínculos.
Prevenir a violência doméstica é uma tarefa árdua e complexa e envolve
muitas áreas que precisam estar articuladas e integradas como: segurança,
educação, assistência social, saúde, etc., para que a mulher que esteja passando
por esse processo possa ter condições de romper esse ciclo.
A violência contra a mulher é um grave problema de saúde pública, de
violação dos Direitos Humanos, onde são asseguradas as oportunidades de viver
sem violência, como narra a Lei Maria da Penha, no seu Art. 2º.

Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação


sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza de
direitos fundamentais inerentes à pessoas humana, sendo-lhes
asseguradas as oportunidades e facilidade para viver sem violência,
preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral,
intelectual e social (BRASIL, Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006).

Diante desse quadro foi criado o enfrentamento da violência contra a mulher


e desenvolvidas políticas públicas e serviços especializados: Delegacias
Especializadas no Atendimento à Mulher (DEAM), Centro de Referência e
Assistência Social (CRAS), Conselho Tutelar, Conjunto de leis (Lei Maria da Penha
e do Feminicídio, por exemplo), Instituto Médico Legal (IML), entre outros.
Além de todo aparato legal e as políticas públicas para diminuir a prática da
violência contra a mulher, se faz necessária a participação da sociedade civil, isto é,
do cidadão comum contribuindo com informações e ajudando a denunciar para
fortalecer o enfrentamento. Para esse enfrentamento é necessário mudanças
culturais, sociais e econômicas.

Como já vimos em muitas outras oportunidades, esta subalternidade,


determinante na condição feminina, é fruto do seu papel de gênero.
Sabemos que a sociedade através de suas instituições (aparelhos
ideológicos), da cultura, das crenças e tradições, do sistema
educacional, das leis civis, da divisão sexual e social do trabalho,
constroem mulheres e homens como sujeitos bipolares, opostos e
assimétricos: masculino e feminino envolvidos em uma relação de
domínio e subjugação (COSTA, 2012).

Por isso torna-se relevante conquistar a equidade de gênero, uma vez que o
homem e a mulher são diferentes, portanto têm necessidades diferentes. Deve
haver igualdade de direito e não de gênero.
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Trata-se, portanto de um tema complexo que afeta muitas mulheres, que


deixa muitas marcas, algumas irreversíveis e quem tem alto custo tanto para a
sociedade como para cada mulher violentada. Portanto, buscar informações e apoio
é primordial para sair do ciclo da violência.

2 CENÁRIO NACIONAL DE VIOLÊNCIA CONTRA À MULHER

A violência especialmente contra as mulheres no Brasil é constante. De


acordo com o Mapa da violência 2015 – Homicídios de Mulheres no Brasil, divulgado
no início de novembro pela Organização das Nações Unidas (ONU), a Secretaria
Nacional de Políticas para Mulheres e a Faculdade Latino-Americana de Ciências
Sociais, a violência contra a mulher é crescente no país desde 2008. (WAISELFISZ,
2015).
O gráfico abaixo mostra índices (%) de violência feminina nas cincos regiões
brasileiras.

GRÁFICO 1
ÍNDICE DE VIOLÊNCIA FEMININA POR REGIÕES

7% 7%

17%
21%
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
Centro-Oeste
48%

Adaptado. Fonte: Mapa da violência 2015. Homicídios de mulheres no Brasil.


7

Nesse gráfico a região sudeste apresenta 48%, a região sul 21% já a região
nordeste 17% e as regiões Norte e Centro-Oeste apresentaram índice de 7%.
Portanto a região que apresenta o maior índice de violência é a região sudeste.

3 A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

3.1 LEI Nº 11.340/2006 - LEI MARIA DA PENHA

A Lei nº 11.340/06 de 07 de agosto de 2006, conhecida como Lei Maria da


Penha, é um importante instrumento legal construído para mulheres que sofrem
violência doméstica ou familiar, escrita por mulheres, com objetivo de garantir seus
direitos como o direito à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, dentre outros.
É uma lei multidisciplinar onde o juiz tem atribuições mistas, decidindo várias
questões do âmbito do direito civil, de família, administrativas, trabalhistas e penais.
Com essa Lei o juiz passou a ter poderes para conceder as chamadas medidas
protetivas de urgência e são de dois tipos:
 As medidas de proteção que obrigam o agressor determinadas
condutas como: suspenção de posse ou restrição do porte de armas,
afastamento do lar, proibição de aproximação da vítima, seus
familiares e testemunhas, restrição ou suspenção de visitas aso
dependentes menores, dentre outros.
 As medidas protetivas de urgência destinadas à vítima são:
recondução da vítima e seus dependentes ao seu domicílio após o
afastamento do agressor, garantia de seus direitos a bens, guarda de
filhos e alimentos, após a retirada do agressor, encaminhamento da
vítima aos programas oficiais de proteção, dentre outros.

3.2 LEI Nº 13.104/15 - LEI DO FEMINICÍDIO

O feminicídio é o crime cometido contra a mulher pelo fato dela ser mulher.
Essa lei de 09 de março de 2015 altera o código penal ao prever o feminicídio
como um tipo de homicídio qualificado e inclui-lo no rol dos crimes hediondos.
Isso significa que a violência doméstica e familiar ou menosprezo e
discriminação contra a condição de mulher passam a ser vistos como
8

qualificadores do crime. Os homicídios qualificados têm pena que vai de 12 a 30


anos, enquanto os homicídios simples preveem reclusão de 6 a 12 anos. Os
crimes hediondos são de extrema gravidade e recebem um tratamento mais
severo por parte da justiça. Eles são inafiançáveis e não podem ter a pena
reduzida, por exemplo.
A lei prevê alguns agravantes para alguns crimes em que a pena pode
aumentar em 1/3, são eles: feminicídio ocorrido durante a gestação ou nos três
meses posteriores ao parto; feminicídio contra menor de 14 anos, maior de 60
anos ou pessoa com deficiência; feminicídio na presença de descendente ou
ascendente da vítima.

3.3 LEI Nº 13.239/2015

Essa lei de 30 de dezembro de 2015 trata da realização, no âmbito do


Sistema Único de Saúde - SUS, de cirurgia plástica reparadora de sequelas de
lesões causadas por atos de violência contra a mulher. Muitas mulheres que sofrem
violência, às vezes ficam com sequelas e poderão procurar o SUS desde que tenha
o boletim de ocorrência da agressão para realizar a cirurgia plástica necessária.

4 OS TIPOS DE VIOLÊNCIA

A Lei Maria da Penha define cinco tipos de violência doméstica e familiar


contra as mulheres.

4.1 VIOLÊNCIA EMOCIONAL OU PSICOLÓGICA

É qualquer ação que cause dano emocional e diminuição da autoestima,


como:
Xingar e humilhar; ameaçar, intimidar e amedrontar; criticar
continuamente, desvalorizar os atos e desconsiderar a opinião ou
decisão da mulher, debochar publicamente, diminuir a autoestima;
tirar a liberdade de ação, crença e decisão; tentar fazer a mulher ficar
confusa ou achar que está ficando louca; atormentar a mulher, não
deixa-la dormir ou fazê-la sentir culpada; controlar tudo o que ela faz,
quando sai, com quem e onde vai; impedir que trabalhe, estude, saia
de casa, vá a igreja ou viaje; procurar mensagens no celular ou e-
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mail; usar as/os filhas/os para fazer chantagem; isolar a mulher de


amigos e parentes. (SPM-PR, 2015, p. 20)

4.2 VIOLÊNCIA FÍSICA

É qualquer conduta que atinja a integridade e a saúde física da mulher


como:
Bater e espancar; empurrar, atirar objetos, sacudir, bater; morder ou
puxar os cabelos; estrangular, chutar, torcer ou apertar os braços;
queimar, cortar, furar, mutilar e torturar; usar arma branca, como faca
ou ferramentas de trabalho, ou arma de fogo. (SPM-PR, 2015, p. 22)

4.3 VIOLÊNCIA SEXUAL

É qualquer conduta que force a vítima a presenciar ou participar de relação


sexual não desejada, mediante ameaça, coação ou uso de força, como:
Forçar relações sexuais quando a mulher não quer ou quando estiver
dormindo ou doente; forçar a prática de atos sexuais que causem
desconforto ou nojo, fazer a mulher olhar imagens pornográficas
quando ela não quer; obrigar a mulher a fazer sexo com outras(s)
pessoa(s); impedir a mulher de prevenir a gravidez, forçá-la a
engravidar ou ainda forçar o aborto quando ela não quiser. (SPM-PR,
2015, p. 22)

4.4 VIOLÊNCIA PATRIMONIAL

É quando o agressor tem a atitude de:


Controlar, reter ou tirar dinheiro ela; causar danos de propósito a
objetos de que ela gosta; destruir, reter objetos, instrumentos de
trabalho, documentos pessoais e outros bens e direitos. (SPM-PR,
2015, p. 23)

4.5 VIOLÊNCIA MORAL

É qualquer conduta que tenha a configuração de:


Fazer comentários ofensivos na frente de estranhos e/ou conhecidos;
humilhar a mulher publicamente; expor a vida íntima do casal para
outras pessoas, inclusive nas redes sociais; acusar publicamente a
mulher de cometer crimes; inventar histórias e/ou falar mal da mulher
para outros com o intuito de diminuí-la perante amigos e parentes.
(SPM-PR, 2015, p. 24)
10

4.6 ÍNDICES DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO BRASIL

O Gráfico 02 mostra o índice (%) dos tipos de violencia que foram cometidos
contra as mulheres no ano de 2015 em ambito nacional, sendo que esses dados
foram coletados a partir dos atendimentos de mulheres pelo Sistema Único de
Saude (SUS).

GRÁFICO 2
TIPOS DE VIOLÊNCIA

2%
4% 7%

Violência Física
Violência Psicológica
Violência Sexual
28%
59% Violência Econômica
Outras

Adaptado. FONTE: mapa da violência 2015. Homicídios de mulheres no Brasil.

O gráfico 02 indica que 59% das mulheres que foram atendidas sofrem
violência física, 28% violência psicológica, já a violência sexual é de 4%, para
violência econômica somente 2% e as outras formam de violência são 7%, ou seja,
o maior índice de violência cometido é de ordem física baseado nos atendimentos
que foram realizados pelos SUS.
A violência não tem um único padrão ou forma e muitas vezes deixa sinais
invisíveis, mas todas são extremamente graves de devem ser denunciadas para que
a mulher tenha seus direitos humanos garantidos.
11

5 O CICLO DA VIOLÊNCIA

O ciclo de violência doméstica é descrito através de três fases:


1. Fase da Tensão – é quando iniciam as brigas, ameaças, insultos,
beliscões e desentendimentos e tensões vão se acumulando.
2. Fase da Violência é a fase que ocorre a explosão de todos os
desentendimentos e tensões, a violência é declarada.
3. Fase da Lua de Mel é quando o agressor se dá conta de seus atos e
para não perder sua condição de dominador promete tudo que a
vítima deseja, torna-se mais carinhoso e atencioso, faz promessas de
mudanças e a mulher acredita que aquilo não vai mais acontecer.

Este ciclo tem sua importância na medida em que contribui para ampliar a
compreensão da dinâmica das relações de violência contra a mulher.
12

6 A REDE DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

6.1 O CENTRO DE REFERÊNCIA DE ATENDIMENTO À MULHER EM SITUAÇÃO


DE VIOLÊNCIA – CASA ROSA MULHER

De acordo com a revista Casa Rosa Mulher (2011), o Centro de Referência


de Atendimento à Mulher em Situação de Violência – Casa Rosa Mulher, foi
inaugurado em 15 de abril de 1994, primeiramente com o objetivo de atender uma
demanda, fruto de uma situação preocupante vivenciada pelas crianças e
adolescentes do Estado do Acre de prostituição infantil, violência física e sexual,
gravidez precoce e drogas, apontados por pesquisas e trabalhos realizados pelo
Centro de Defesa dos Direitos Humanos e Educação Popular, pela Universidade
Federal do Acre e pela Maternidade Bárbara Heliodora.
A instituição era um espaço com atendimento integral para meninas,
adolescentes e mulheres que viviam em situação de risco pessoal e social. O
trabalho tinha o objetivo de promover a cidadania e valorizar a autoestima.
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As crianças e adolescentes vítimas de violência sexual foram migradas para


o projeto Federal Sentinela, em 2001, hoje incorporado no CREAS – Centro de
Referência Especializado de Assistência Social.
Com essa mudança a Casa Rosa Mulher passa atender somente mulheres
vítimas de violência doméstica e familiar. Em 2006, consolida-se como Centro de
Referência de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, que se constitui uma
das políticas públicas de prevenção e enfrentamento à violência contra a mulher.
A Casa Rosa Mulher é um espaço de acolhimento com atendimento
multidisciplinar na área jurídica, social e psicológica, visando contribuir com o
fortalecimento da mulher e o resgate de sua cidadania. Também oferece cursos
profissionalizantes através de diversas parcerias.
Atualmente a equipe da casa conta com uma psicóloga, duas assistentes
sociais, advogada, coordenadora da Casa, vigia, secretaria, zeladoras, recepcionista
e motorista. Ela faz parte da Secretaria Municipal Adjunta da Mulher
Devido enchente de 2015 as instalações da casa foram muito danificadas
trazendo prejuízo à quantidade de atendimento, uma vez que os cursos
profissionalizantes que eram oferecidos funcionavam como atrativos, tanto como
justificativa para sair de casa e estar na instituição, bem como para ajudar na
conquista da autonomia financeira.

Atendimentos psicológicos realizados na Casa da Rosa Mulher 2015/1


Relação de Atendimentos às Mulheres Vítimas de Violência Doméstica
ATIVIDADES JAN FEV MAR ABR MAIO JUN
Atendimentos em Grupos 36 08 04 36 14 24
Atendimentos Individuais 03 - 06 03 29 38
Visitas Domiciliares - 01 - - - -
Rodas de Conversas Psicológicas - - - - 05 10
Atendimento Geral 39 09 10 39 48 72
TOTAL 217

6.2 VARA DE PROTEÇÃO À MULHER

Dentro da estrutura do Poder Judiciário do Estado do Acre em decorrência


do tamanho populacional residente no estado possui de forma especifica uma única
Vara de Proteção à Mulher, pertencente à Comarca do município de Rio Branco,
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tendo como titular a Juíza de Direito Shirlei de Oliveira Hage Menezes e a Juíza de
Direito Substituta Ana Paula Saboya Lima.
Sobre a denominação de Vara de Violência Doméstica e Familiar (alteração
da nomenclatura ocorreu em 09 de setembro de 2015, através da Resolução nº
195/2015, pois se entende que o substantivo “proteção” denomina um significado de
amparo, socorro, assumindo um sentido de prevenção, sem nenhuma referência à
agressão sofrida), foi instalada em fevereiro de 2008, com o intuito de ir além do
somente voltado à aplicabilidade preceituada pela Lei nº 11.340/06 (Lei Maria da
Penha), “aplicação de medidas voltadas às mulheres vítimas de violências e punição
aos seus agressores bem como foco a execução de diversos projetos sociais, com
foco no combate a violência” (TJAC, 2014, p.12).
Para o desenvolvimento das atividades a Vara conta com apoio intrínseco
estabelecido com órgãos e instituições tanto da esfera federal (Ministério da
Justiça/Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania), como da estadual
(Secretaria de Estado de Desenvolvimento para a Segurança Social e Instituto de
Administração Penitenciária – IAPEN).

7 O PAPEL DO PSICÓLOGO NESSAS INSTITUIÇÕES

7.1 O PAPEL DO PSICÓLOGO NA CASA ROSA MULHER

O atendimento realizado pela psicóloga na Casa Rosa Mulher tem


fundamental importância no enfrentamento à violência contra a mulher, pois esse
atendimento normalmente é o primeiro acolhimento que a mulher recebe e pode ser
individual ou grupal, e tem como objetivo empoderá-las, bem como estimular o
resgate de autoestima para que elas possam se posicionar diante dessa situação
O empoderamento está relacionado com a maneira com que as pessoas ou
comunidades se comportam frente a determinadas situações, através do
conhecimento que têm do senso de justiça que carregam e como influenciam o meio
em que atuam. Empoderamento segundo Costa é

Um mecanismo pelo qual as pessoas, as organizações, as


comunidades tomam controle de seus próprios assuntos, de sua
própria vida, de sue destino, tomam consciência de sua habilidade e
competência para produzir, criar e gerir (COSTA, 2012, online).
15

Por isso o empoderamento dessas mulheres através das orientações e


conhecimentos é uma ferramenta que junto com autoestima vai auxiliá-la em uma
tomada de decisão.
O trabalho é realizado de forma individual para casos que exigem uma
atenção maior e também é oferecido trabalho em grupo, a roda de conversa, onde
através das trocas de experiências as mulheres que sofrem violência se ajudam
mutuamente.
A psicóloga também realizada visitas domiciliares quando necessário, fazem
oficinas nas diferentes instituições, juntamente com a equipe multidisciplinar,
seleção e encaminhamento para cursos profissionalizantes, estudo de caso e
elaboração de relatório técnico.

7.2 O PAPEL DO PSICÓLOGO NA VARA DE PROTEÇÃO À MULHER

Segundo o artigo 29 da lei 11.340/06, discorre sobre a criação de uma


equipe de atendimento multidisciplinar que poderá ser integrada por profissionais
especializados nas áreas psicossocial, jurídica e de saúde. Essa equipe na Vara é
composta por duas psicólogas e uma assistente social.
Na equipe multidisciplinar na Vara de Proteção à Mulher da Comarca de Rio
Branco, compete às psicólogas atender tanto as promoventes (vítimas de violência)
e os promovidos (as) (os que cometem algum tipo de violência), esse atendimento é
decorrente de pedido oriunda pela juíza da vara, seja de forma escrita (intimação) ou
verbal (geralmente após audiência).
Os atendimentos realizados através de escuta geram relatórios que serão
anexados ao processo, sempre que se faz necessária há por parte da magistrada a
solicitação de visitas domiciliares. Atuam no recebimento dos pedidos de renúncia
as medidas protetivas postuladas, promovem grupos reflexivos sobre a violência
doméstica tanto com os promovidos, como as promoventes.
16

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A violência contra mulher é um tema extremamente complexo e envolve muitas


variáveis, porém há uma lacuna, onde a prevenção é fundamental.
No Brasil temos um arcabouço jurídico capaz de dar suporte para várias ações,
porém sua prática ainda é bastante acanhada, onde a rede de enfrentamento de
combate à violência da mulher funcionada de maneira fragmentada, com trabalhos
isolados e pontuais.
Verifica-se também que essa causa ainda é muita política, mesmo sabendo ser um
caso de saúde pública e de violação dos Direitos Humanos, seus investimentos
ficam a mercê do partido político que está no poder.
Apesar dos ganhos com todas as estratégias traçadas, ainda há muito a conquistar,
pois a cultura machista ainda está muito presente em nosso dia a dia e nos
atravessa de uma forma silenciosa que às vezes sequer temos consciência.
Por isso a importância do profissional de psicologia bem formado e informado para
trazer a sua contribuição para essa temática dentro da Psicologia Jurídica.
17

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 11.340, de 04 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a


violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da
Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir,
Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados
de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo
Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências.
Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso em 15 de abr. 2016.

BRASIL. Lei nº 13.104, de 09 de março de 2015. Altera o art. 121 do Decreto-Lei


no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, para prever o feminicídio como
circunstância qualificadora do crime de homicídio, e o art. 1o da Lei no 8.072, de 25
de julho de 1990, para incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13104.htm>.
Acesso em 15 de abr. 2016.

BRASIL. Lei nº 13.239, de 30 de dezembro de 2015. Dispõe sobre a oferta e a


realização, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS, de cirurgia plástica
reparadora de sequelas de lesões causadas por atos de violência contra a mulher.

Brasil. Secretaria de Políticas para as Mulheres. Viver sem violência é direito de toda
Mulher. Disponível em:< http://www.spm.gov.br/central-de-
conteudos/publicacoes/publicacoes/2015/livreto-maria-da-penha-2-web-1.pdf>.
Acesso em 25 abr. 2016.

COSTA, Ana Alice. Gênero, poder e empoderamento das mulheres. Disponível


em <https://pactoglobalcreapr.files.wordpress.com/2012/02/5-empoderamento-ana-
alice.pdf>. Acesso em 29 de abr. 2016.

DAHLBERG, Linda L.; KRUG, Etienne G.. Violência: um problema global de saúde
pública. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.11, supl. p.1163-1178, 2006.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
81232006000500007&lng=en&nrm=iso>. Acesso 25 abr. 2016.

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO ACRE. Dispõe sobre a alteração da


nomenclatura da Vara da Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher e modifica
as Resoluções nºs 129/08 e 160/2011, ambas do Pleno Administrativo do Tribunal
de Justiça do Estado do Acre. Resolução nº 195, de 09 de setembro de 2015.
Disponível em: < http://www.tjac.jus.br/wp-
content/uploads/2015/09/Resolu%C3%A7%C3%A3o_TPADM_TJAC_195_2015.pd>
. Acesso em 30 abr. 2016.

WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2015: Homicídios de mulheres no


Brasil. Brasília. 2015. Disponivel em:< http://www.mapadaviolencia.org.br/>. Acesso
em 30 de abr. 2016.

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