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A propósito da teoria molecular da evolução '~.,: Embora Comte seja considerado o pai da sociologia e tenha-lhe dad
~,~s~e. nome, Durkheim é apontado como um de seus primeiros grande~
"O que pretendo afirmar pode ser expresso em três enunciados.
I {:teo:lcos. Ele e ~eus c?laboradores se esforçaram por emancipar a socio-
I
l. De acordo com a teoria moderna - a teoria sintética - as ~l?gla das demais teo~las sobre.a sociedade e constituí-Ia como disciplina
Comtedeuo
I unidades de transmissão, as unidades de conservação, em hereditari- '~./Igorosame~te cientffica. En:. livros e cursos, sua preocupação foi definir
nome de
I edade, e a unidade de mutação; são a mesma, a saber, o gene. Cha-
mo-lhe unidade de transmissão e, também, unidade de mutação.
:r.
com precrsao o objeto, o metodo e as aplicações dessa nova ciência.
sociologia a
~
Imbuído d~s princípios positivistas, Durkheim queria definir com ri- essa ciência,
:! 2. O segundo enunciado fundamental é o de que a unidade de
. gor a SOCiologia como ciência, estabelecendo seus princípios e limites e mas
li
oi
seleção, tal como Darwin imaginou, é o indivíduo - não o gene. É o
:í:' rompendo com as idéias de senso comum - os "achisrnos" -que .l Fl ter- Durkheim foi
,I indivíduo que se constitui na unidade de seleção, mas não através do ~, '.
ingênuo processo que aparece nos escritos do próprio Darwin, de Spencer, :. pretavam a realidade SOCIal de maneira vulgar e sem critérios. um dos seus
I
II
I
ou de outros - não através do violento e simplificado conceito de luta
pela vida ou de sobrevivência do mais apto, mas na forma de pressões
seletivas que modulam a probabilidade de que genes proverúentes des-
te indivíduo serão encontrados em geração ulterior, depois de uma,
Em uma de suas obras fundamentais, As regras do método sociológico,
-',; pu~llcada em 1895,. Durkhaim definiu com clareza o objeto da socio-
.: logia - os fatos sociais.
.,..;::.
grandes
teóricos.
l 'jl:.i
! te-e-o menos entendido, é o que tem sido objeto de maior atenção.
Traduz a idéia de que a unidade de evolução não é O gene, nem o
no experimenta a força da sociedade sobre si. .
': f~rça ~oerciti~a do~, fatos sociais se torna evidente pelas "sanções
fi indivíduo, mas a população. Não qualquer população, todavia, e sim a
/:i população que partilha certo genoma, a saber, uma população legais ou
espontaneas a que o indivíduo está sujeito quando tenta
111 mendeliana, com recornbinação sexual conduzindo à contínua produ- rebelar-se, contra ela. "Legais" são as sanções prescritas pela socieda-
li! •. de, sob a torma de leis, nas quais se define a infração e se estabelece a
~:i ção de novos genomas, através de recombinação. É uma unidade efe-
:Ii tivamente capaz de evoluir. Como talvez saibam, muito da reflexão > penalidade correspondente. "Espontâneas" são as que afloram como
teorética gira em torno desse conceito, incluindo o desenvolvimento resposta.a uma conduta considerada inadequada por um grupo ou por
!
'i de complicados e interessantes modelos de populações em evolução."
MONOO, jacques. A propósito da teoria molecular da evolução. In: HARRÉ.
Ron (Org.), Problemas da revolução cientifica: incentivos e obstáculos ao progres-
so das ciências, p. 32-33. (O homem e a ciência)
u~a socl~dade: Multas de trânsito, por exemplo, fazem parte das coer-
. çoes legal:, pOIS estã~ previstas e regulamentadas pela legislação que
l'Jk,regula o trafego de veicules e pessoas pelas vias públicas. Já os olhares
rf de reprovação de que somos alvo quando comparecemos a um local
co~ ~ roupa Inadequada constituem sanções espontâneas. Embora não'
- Entender o texto
.: I. ~ . codificados em lei, esses olhares têm o poder de conduzir o.Infrator
I!I Ne~se texto, o autor explica a teoria evolucionista sob o ponto de vista biológico. para ~ comport~mento esperado. Durkheim dá o seguinte exemplo das
_Faça um esquema com as principais idéias do autor. sançoes espontaneas:
80 A SOCIO!CGIA
ClÁSSICA A 5CKJOlCGIA DE DURKHEI'A 81
~}\segunda característica dos fatos sociais é que eles existem e atuam
G;e os indivíduos independentemente de sua vontade ou de sua ade-
i';5~~onsciente, sendo, assim, "exteriores aos indivíduos". Ao nascermos
~rrencontramos regras sociais, costumes e leis que somos coagido~ a
:,~ikeitarpor meio de mecanismos de coerção social, como a educaçao.
::Não nos é dada a possibilidade de opinar ou escolher, sendo assim inde-
.:~~ndentes de nós, de nossos desejos e vontades. Por isso, os fatos sociais
sãó ao mesmo tempo "coercitivos" e dotados de existência exterior às
ç~nsciências individuais.
'<' A terceira característica dos fatos sociais apontada por Durkheim é a
!5geheralidade". É social todo fato que é geral, que se repete em tod~s os Ésodal todo
iNdivíduos ou, pelo menos, na maioria deles; que ocorre em distintas fato que é
sociedades, em um determinado momento ou ao longo do tempo, Por geral, que se
Se sou industrial, nada me proíbe de trabalhar utili- 'éSsa generalidade, os acontecimentos manifestam sua natureza coletiva, repete na
zando processos e técnicas do século passado; mas, se sejam eles os costumes, os sentimentos comuns ao grupo, as crenças ou
o fizer, terei a ruína como resultado inevitável. maioria dos
os valores. Formas de habitação, sistemas de comunicação e a moral indivíduos.
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. existente numa sociedade apresentam essa generalidade.
São Paulo: Nacional, 1963. p. 3.
82 A SOCIÓIOGIA'CIÁSSICA
A SOCIOLOGIA DE DURKHEIM 83
propõe o exercício da dúvida metódica, ou seja, a necessidade dó cien- se mantém constante de um ano para o outro. A longo
Durkheim
tista inquirir sempre sobre a veracidade e objetividade dos fatos estuda- prazo, ainda por cima, a evolução dos suicídios se inscre-
aconselhava o
dos, procurando anular, sempre, a-influência de seus desejos, interesses ve em curvas que têm formas similares para' todos os pa-
e preconceitos. cientista a
íses da Europa. Os desvios entre regiões e países são
estudar os
Para identificar os fatos sociais entre os diversos acontecimentos da "fatos sociais"
igualmente constantes.
vida, Durkheim orienta o sociólogo a ater-se àqueles acontecimentos como "coisas", LAlLEMENT, Michael. História das idéias sociológicas,
mais gerais e repetitivos e que apresentem características exteriores co- fenômenos que Petrópolis: Vozes, 2003. p. 218.
muns. De acordo com esses critérios, são fatos sociais,por exemplo, os lhe são
crimes, pois existem em toda e qualquer sociedade e têm como caracte- exteriores e
rística comumprovor-arsr-, uma reação negativa, concreta e observável podem ser
Sociedade: um organismo em adaptação
da sociedade contra quem os pratica, a que podemos chamar de "pena- observados e
lidade". Agindo dessa forma objetiva e apreendendo a realidade por suas, Para Durkheim, a sociologia tinha por finalidade não só explicar a
medidos de sociedade como também encontrar soluções para a vida social. A socie- A
características exteriores, o cientista pode analisar os crimes e suas pena- forma objetiva. ,"generalidade"
lidades sem entrar nas discussões de caráter moral a respeito da dade, como todo organismo, apresenta estados que podem ser conside-
rados estados "normais" ou "patológicos", isto é, saudáveis ou doentios. de um fato
criminal idade, o que, apesar de útil, nada tem a ver com o trabalho cien- social
tífico do sociólogo. Buscando o que caracteriza o crime por suas evidên- Durkheim considera um fato social como "normal" quando se encon- representava,
cias, o sociólogo se exime de opiniões, assim como prescinde da opi- tra generalizado pela sociedade ou quando desempenha alguma função para
nião - sempre contraditória e subjetiva - a respeito dos fatos que estão importante para sua adaptação ou sua evolução. Assim, por exemplo,
Durkheim, o
sendo estudados. afirma que o crime é normal não apenas por ser encontrado em toda e consenso
qualquer sociedade e em todos os tempos, mas também por representar
A generalidade é um aspecto importante para a identificação dos fatos social e a
sociais que são sempre manifestações coletivas, distinguindo-se dos acon- um fato social que integra as pessoas em torno de determinados valores. vontade
tecimentos individuais, ou acidentais. É ela que ajuda a distinguir o essen- Punindo o criminoso, os membros de uma coletividade reforçam seus coletiva.
cial do fortuito e aponta para a natureza sociológica dos fenômenos. princípios, renovando-os. O crime tem, portanto, uma importante fun-
ção social.
A "generalidade" de um fato social, isto é, sua unanimidade, é garan-
Suicídio tia de normalidade na medida em que representa o consenso social, a
Durkheim estudou profundamente o suicídio, utilizando nesse traba- vontade coletiva, ou o acordo de um grupo a respeito de determinada
lho toda a metodologia defendida e propagada por ele. Considerou-o questão. Diz Durkheim:
fato social por sua presença universal em toda e qualquer sociedade e ... para saber se o estado econômico atual dos povos
por suas características exteriores e mensuráveis, completamente inde- europeus, com sua característica ausência de organiza-
pendentes das razões que levam cada suicida a acabar com a própria ção, é normal ou não, procurar-se-áno passado o que lhe
vida. Assim, apesar de uma conduta marcada pela vontade individual, o deu origem. Se estas condições são ainda aquelas em que
suicídio interessa ao sociólogo por aquilo que tem de comum e colettvo atualmente se encontra nossa sociedade, é porque a situ-
e que, certamente, escapa às consciências individuais dos envolvidos- ação é normal, a despeito dos protestos que desencadeia.
do suicida e dos que o cercam. Para Durkheim, a prova de que o suicídio
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico, op. ctr. p. 57
depende de leis sociais e não da vontade dos sujeitos, estava na regulari-
dade com que variavam as taxas de suicídio de acordo com as alternâncias Partindo, pois, do princípio de que o objetivo máximo da vida social é
das condições históricas. Ele verificou, por exemplo, que as taxas de promover a harmonia da sociedade consigo mesma e com as demais ~oci- Aquilo que
suicídio aumentavam nas sociedades em que havia a aceitação profunda edades, e que essa harmonia é conseguida por meio do consenso social, a põe em risco
de uma fé religiosa que prometesse a felicidade após a morte. É sobre "saúde" do organismo social se confunde com a generalidade dos aconte- a harmonia e
fatos assim concretos e 9Pj~ti.vos, gerais e ,c,oletivos,cuja natureza social cirnentos.Quandourn Ja.t0 pqeem risco a harmonia, o acordo; o consen- o consenso
se evidencia, que o sociólogo de~~ se d~biuç~r. ,.., " . .,,' so'e, portanto, a adaptação é a evolução da sociedade, estamos diante de representa
um estado
Com o' auxílio de estatísticas, mostra em seguida .um acontecimento de.caráter mórbido e de uma sociedade doente.
mórbido da
Durkheimque .o suicídio é com eerteza um fato social na Portanto, "normal" é aquele fato que não extrapola os limites dos sociedade.
medida em que, em todos os países, a taxa de suicídios acontecimentos mais gerais de uma determinada sociedade e que reflete
Toda a teoria sociológica de Durkheim pretende demonstrar que os Para Durkheim, o trabalho de classificação das sociedades - como tudo
fatos soc~ais.t~m existência própria e independem daquilo que pensa e " o mais - deveria ser efetuado com base em apurada observação experi-
faz cada indivíduo em particular. Embora todos possuam sua "consciên- mental. Guiado por esse procedimento, estabeleceu a passagem da solidari-
cia Individual", seu modo próprio de se comportar e interpretar a vida edade mecânica para a solidariedade orgânica como o motor de transfor-
podem-se notar, no interior de qualquer grupo ou sociedade, formas pa- mação de toda e qualquer sociedade.
dronizadas de conduta e pensamento. Essa constatação está na base do
que Durkheirn chamou de "consciência coletiva".
A definição de consciência coletiva aparece pela primeira vez na sua
obra Da. divisão do trabalho social. Trata-se do "conjunto das crenças e
dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma socieda-
de" que "forma um sistema determinado com vida própria" (p. 342).
A consciência coletiva não se baseia na consciên-
cia de indivíduos singulares ou de grupos específicos
mas está espalhada por toda a sociedade. Ela revela-
ria, segundo Durkheim, o "tipo psíquico da socieda-
de", que não seria apenas o produto das consciências
individuais, mas algo diferente, que se imporia aos
indivíduos e perduraria através das gerações.
A consciência coletiva é, em certo sentido, a for-
ma moral vigente na sociedade. Elaaparece como um
conjunto de regras fortes e estabelecidas que atribu-
em valor e delimitam os atos individuais. É a consci-
ência coletiva que define o que, numa sociedade é
ç:pnsicjeréldo"imoral", "reprovável" ou "criminoso:'.
'.. - l~·
....
·."Ji.l" ., .t .~jl , •.i ~ 1,
DURKHEIM, Érnile. As regras do método sociológico, op. cít. p. 52. 2 Como o texto descreve o fato social, segundo a visão de Durkheim?
Para a elaboração dessa postura, Durkheim procurou estabelecer os limi- 6 Defendendo a imparcialidade e a objetividade da ciência, Durkheim afirma:
tes e as diferenças entre a particularidade e a natureza dos acontecimentos
filosóficos, históricos, psicológicos e sociológicos. Elaborou um conjunto ., . nao
"O sentimento é objeto da ClenC13, - e- cnitério de verdade científica".
coordenado de conceitos e de técnicas de pesquisa que, embora norteado DURKHEIM, Êrnile. As regras do método sociológico, op. cit. p. 3l.
por princípios das ciências naturais, guiava o cientista para o discemimento
de um objeto de estudo próprio e dos meios adequados para interpretá-Io. Para Durkheim, a verdadeira ciência deve se guiar pelos sentimentos pessoais do
cientista? Por quê?
Ainda que preocupadocom as leis gerais capazes doeexp!icar,,~evoc .:" ..... : ....
fi~i~~*~5!lt~~i!!;~!~~::~~j
·::.:~êtf~f!~"~;~,l
'~it.~Dçfa~9s!,al:~pisttng!Jj.Ij~ª.if~.5~l:J.t~s
.lR5jâflcia~da vida sÓei~L:f;s~u pa-:
pél' na organizaçãO-social/coi'n<:>a educação, a família e.a religião.
Af' '.'.
7 l:.marT19~;1q"",:,
8
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eDurkheirn
Durkheim considerava
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considerava
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a e d ucaçao,
.: d: -d ..,
-10 'importante de inreqroçôo dos m IVI uos a socre a
posição? Argumente..
a generalidade,elemento
- f orm ai e. informal,-como
. .. elemen-
d de. Você concorda com essa
-Ó:
A SOCIOlOGIA DE DURKHEIM 89
9 O crime, para Durkheim, é um fato social normal ou patológico? Por quê? Discuta se 14 Para Durkheim, é social todo fato que é geral. Observe a imagem o seguir e identifi-
o aumento vertiginoso da criminalidade nos últimos anos no Brasil e em outras socie- que os elementos que, segundo ele, carocterizam ou não um fato social.
dades permite ainda classificar o crime como um fato social normal.
11 Sobre certos sentimentos que eram até então considerados inatos no homem - como
amor filial, piedade, ciúme sexual-, Durkheim afirma que eles não são encontrados
em todas as sociedades:
2002 2002 2002 2002 2003 2003 2003 2003 2004 2004 2004 2004
16 Vídeo: O quatrilho (Brasil, 1994. Direção de Fábio Barreto. DuraçãO: 120 min) - O
filme conta a história de dois cosois de calT\poneses imigrantes italianos, no Rio Gran-
de do Sul, que, para sobreviverem, resolvem morornc mesma casa. Com o tempo, a
esposa de um deles passa a se interessar pelo marido da outra,- provocando uma
situação constrangedora entre eles.
• Analise de que maneira o filme pode ser visto como um retrato do que Durkheim
define como solidariedade mecânica existente nas sociedades rurais tradicionais.
Leitura complementar
··";~;i;t~;1;r~,Q:;~bh;lt=:";:;\;b7;:;~:;~~~;~~~'frit~:~te
, '1;,.,' f0rmql;Ílnic~; ,em que ele podena ser estabelecido em urna ciencia
ni:~t~;';jç\1'tÓ;~i;,:e.rilplen:iformaçãó ..Uma observaçãobem-feítá em: geral deve muito
:~'í:j;it;,'Yb(~,;'':'-aurna te'oria constiruida, mas ela não é o produto necessário dos
A SOCIOLOGIA DE DURKHEVVI 93