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SIMULADO R1 - MARÇO/22

QUESTÕES • RESPOSTAS • COMENTÁRIOS

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2 | MAR 22

GABARITO SIMULADO R1 - MARÇO 2022

GINECOLOGIA E CLÍNICA CIRURGIA


PEDIATRIA PREVENTIVA
OBSTETRÍCIA MÉDICA GERAL

QUESTÃO RESPOSTA QUESTÃO RESPOSTA QUESTÃO RESPOSTA QUESTÃO RESPOSTA QUESTÃO RESPOSTA

1 B 21 D 41 D 61 D 81 C

2 A 22 C 42 C 62 C 82 E

3 C 23 C 43 B 63 C 83 B

4 A 24 A 44 B 64 A 84 A

5 D 25 A 45 A 65 A 85 D

6 C 26 A 46 D 66 C 86 D

7 C 27 B 47 E 67 D 87 D

8 A 28 B 48 B 68 B 88 B

9 D 29 A 49 E 69 A 89 A

10 D 30 C 50 D 70 A 90 A

11 A 31 C 51 D 71 A 91 B

12 C 32 D 52 A 72 C 92 B

13 C 33 B 53 C 73 D 93 A

14 D 34 D 54 A 74 C 94 D

15 C 35 A 55 E 75 A 95 D

16 ANULADA 36 A 56 A 76 D 96 A

17 A 37 C 57 D 77 A 97 D

18 A 38 D 58 B 78 B 98 C

19 B 39 C 59 D 79 A 99 B

20 C 40 A 60 D 80 C 100 C

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GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA
QUESTÃO 1 O diagnóstico de abortamento retido é realizado pela
constatação de gestação inviável (com ou sem embrião)
Alessandra, 24 anos vem ao pronto socorro por estar pela ultrassonografia. A paciente geralmente está assin-
apresentando sangramento vaginal intermitente nos tomática e pode relatar regressão dos sinais e sintomas
últimos 3 dias e refere estar grávida de 2 meses, pelas gravídicos. No exame físico, o útero tem tamanho me-
suas contas, já que sempre teve ciclos muito regulares. nor que o esperado e o colo está fechado.
Ao exame clínico, paciente está estável hemodinami-
camente. BHCG urinário positivo. Especular com Quanto ao abortamento completo, há eliminação in-
sangramento escurecido, tipo suco de ameixa. Toque tegral do produto conceptual. A sintomatologia é re-
vaginal com colo entreaberto e útero aumentado com- presentada pela redução ou mesmo parada do sangra-
patível com 20 semanas. mento e das dores em cólica ao término da eliminação
do conteúdo uterino. No toque vaginal, se identifica
Qual hipótese diagnóstica mais provável? útero menor que o esperado para idade gestacional e
A) Gestação ectópica colo fechado
B) Mola hidatiforme
C) Abortamento inevitável Vamos às alternativas:
D) Abortamento retido A) INCORRETA: na ectópica, o útero é menor que a
E) Abortamento completo idade gestacional
B) CORRETA: sangramento em aspecto de suco de
Resposta correta: letra B
ameixa, com útero maior que a idade gestacional
provável
Gestação ectópica Deve ser suspeitada em casos de san-
gramento vaginal, podendo estar associada à dor ab- C) INCORRETA: colo uterino fechado é incompatí-
dominal, útero menor que a idade gestacional e não vel com esse diagnóstico
identificação de embrião intrauterino. D) INCORRETA: não há evidência ultrassonográfica
para pensar nesse diagnóstico
A gravidez molar é um dos diagnósticos diferenciais
das hemorragias de primeira metade da gestação. As E) INCORRETA: útero deveria estar menor, nem
manifestações clínicas são sangramento transvaginal de deveria haver sangramento vaginal associado, além
repetição (aspecto de suco de ameixa/framboesa), útero do mais, falta ultrassonografia para confirmar
de volume aumentado para a idade gestacional, hipe- o diagnóstico.
rêmese gravídica, podendo, ainda, apresentar sintomas
de hipertireoidismo. Take-Home Message:
O abortamento inevitável representa a evolução de uma • Sempre que houver sangramento vaginal associado
ameaça de abortamento. É caracterizado por dilatação a útero maior que a idade gestacional, deve-se pensar
da cérvice ao exame clínico, permitindo que membra- em gestação molar
nas ovulares ou o próprio embrião sejam tocados ao
exame digital ou visibilizados através do colo no exame
especular. Nessa forma clínica, há aumento do sangra-
mento genital e da dor pélvica em cólica, mas o tama-
nho uterino ainda corresponde à idade gestacional.

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QUESTÃO 2 • Gestação ectópica íntegra de até 4cm no maior diâ-


metro
Quanto aos sangramentos da primeira metade da ges-
tação, é correto afirmar que: • Ausência de atividade cardíaca do produto conceptual

A) Em casos de abortamento retido a conduta expec- • BHCG sérica ≤5.000 e crescente em duas dosagens
tante reduz incidência da Síndrome de Asherman consecutivas
B) Prescrição de progesterona tem excelente benefício Conduta expectante está indicada:
nos casos de ameaça de abortamento com intuito • Estabilidade hemodinâmica
preventivo para evolução para abortamento
• Desejo de procriação
C) Gestação ectópica tem sempre conduta cirúrgica,
pois as últimas revisões revelam que os benefícios • Gestação ectópica íntegra de até 4cm no maior diâ-
do metotrexato não superam os riscos metro
D) Abortamento infectado é a principal causa de histe- • Ausência de atividade cardíaca do produto conceptual
rectomia em mulheres em idade fértil
• BHCG sérica ≤5.000 e decrescente em duas dosa-
E) Para pacientes com quadro sugestivo de aborta- gens consecutivas
mento em curso com feto vivo, a prescrição de ato-
siban é capaz de inibir o processo e prosseguir com Em relação ao abortamento inevitável, como o pró-
a gestação prio nome já diz, não há medida salvadora que possa
impedir a progressão do abortamento. O tratamento
Resposta correta: A consiste na estabilização clínica e esvaziamento uterino
pelas vias farmacológica ou mecânica, a depender da
Comentários: idade gestacional.
O tratamento expectante do abortamento retido pode
ser sugerido à paciente e se baseia no fato de que, em Vamos às alternativas:
até quatro semanas, a grande maioria apresenta sinais e
A) CORRETA: a maioria dos casos de abortamento
sintomas de abortamento, com expulsão do produto da
retido pode ser eliminado espontaneamente em
concepção, sendo evento natural e com menor taxa de
até 04 semanas o que reduz a intervenção médica
intervenção médica e suas possíveis complicações. Caso
(curetagem) e suas possíveis complicações (siné-
o abortamento não ocorra espontaneamente ou a pa-
quias uterinas – Síndrome de Asherman)
ciente não aceite a espera, realiza-se esvaziamento ute-
rino farmacológico, com misoprostol e/ou mecânico, B) INCORRETA: não existe benefício na prescrição
por meio de vácuo aspiração ou dilatação e curetagem de progesterona para casos de hemorragia da pri-
meira metade da gestação
O tratamento da gestação ectópica depende de diversos
C) INCORRETA: a depender de critérios clínicos,
fatores, entre eles o estado hemodinâmico da paciente,
ultrassonográficos e laboratoriais, pode-se indicar
integridade da tuba e do seu desejo de novas gestações.
terapia medicamentosa (metotrexato) ou cirúrgica
Pode ser clínico (medicamentoso ou expectante) ou,
ainda, cirúrgico (laparotomia/laparoscopia). D) INCORRETA: a principal causa de histerectomia
são os miomas e seus efeitos (sangramentos, dor etc)
O uso de metotrexato está indicado para pacientes com:
E) INCORRETA: atosiban é um tocolítico utilizado
• Estabilidade hemodinâmica para casos de trabalho de parto prematuro com in-
• Desejo de procriação tuito de tentar inibir esse processo a fim da prescri-
ção de corticoterapia para amadurecimento pulmo-
nar, logo, não tem espaço no abortamento inevitável.

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Take-Home Message: Comentários:


• Pode-se propor conduta expectante para aborta- A partir da 8ª semana de gestação ocorre um rápido
mento retido pois a maioria elimina o produto con- aumento do volume sanguíneo materno; ao termo,
ceptual em até 4 semanas observa-se um aumento de aproximadamente 1.500
• Gestação ectópica pode ser tratada clinicamente ml. O aumento do volume plasmático é relativamente
com metotrexato em alguns casos maior (30 a 50%) que o das hemácias (30%) o que
leva a hemodiluição com aparente diminuição dos eri-
• Progesterona não tem papel nos casos de hemorra- trócitos e hemoglobina. Produz-se a chamada anemia
gia da primeira metade da gestação fisiológica da gravidez ou pseudo-anemia da gravidez,
que pode ser profilaticamente evitada administrando-
-se ferro a mãe.
QUESTÃO 3
Muito embora esta anemia dilucional possa diminuir
Durante atendimento de gestantes é de suma impor- o transporte de oxigênio, outros fatores como a hiper-
tância que se tenha em mente que os parâmetros clí- ventilação materna e consequentemente o aumento da
nicos e laboratoriais são diferentes das pacientes não PO2 arterial, a diminuição da viscosidade sanguínea,
gestantes. Assinale a alternativa correta acerca de uma resultante da hemodiluição a vasodilatação e o au-
paciente, 35 anos G2P1n 33 semanas que ao ser avalia- mento do fluxo sanguíneo atuam melhorando a oferta
da refere que está sentindo-se um pouco mais cansada de oxigênio.
para realizar as atividades do dia a dia. Ao exame: Bom
estado geral, corada, hidratada. PA 90x60mmHg FC Vamos às alternativas:
90bpm, FR 22irpm; Hb 11 Ht 32% Plaquetas 284mil,
PCR 4 Ur 10 Cr 0,4. A) INCORRETA. A queixa de cansaço é muito co-
mum no terceiro trimestre. Deve-se avaliar pela
A) Anemia ferropriva observada na paciente justifica o anamnese e exame físico se há necessidade de inves-
quadro de astenia relatado pela mesma e deve ser tra- tigação complementar.
tado com suplementação de ferro, ambulatorialmente
B) INCORRETA. Não há anemia aqui. O valor de
B) A anemia gestacional é um evento esperado e está referência da hemoglobina no terceiro trimestre é
relacionada a maior risco de transfusão sanguínea igual ou superior a 11 g/dL no primeiro e terceiro
no pós-parto imediato trimestre, e igual ou superior a 10,5 g/dl no segun-
C) Os achados clínico-laboratoriais são compatíveis do trimestre.
com terceiro trimestre de gestação C) CORRETA.
D) A paciente tem indicação de internação hospitalar a D) INCORRETA. Os níveis pressóricos tendem a cair
fim de investigar tal queixa, conduta ratificada pe- no segundo trimestre e gradualmente retornar aos
las alterações em sinais vitais, sobretudo hipotensão níveis pré gestacionais ao longo do terceiro trimes-
e taquipneia. tre. A frequência respiratória tende a ser mais eleva-
E) Valores tão baixos de ureia e creatinina devem cha- da no terceiro trimestre. Está tudo normal por aqui!
mar atenção a lesão renal nesta paciente E) INCORRETA. Os valores de ureia e creatinina ten-
Resposta correta: Letra C dem a cair pelo aumento de filtração glomerular.

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Take-Home Message: doras de antígeno D antes que o corpo materno seja


• Na gestação: sensibilizado e, portanto, desenvolva anticorpos espe-
cíficos. O risco da ocorrência de aloimunização Rh
o Anemia dilucional durante ou imediatamente após a primeira gestação
o Aumento das frequências respiratória e cardíaca encontra-se em torno de 1%, sendo que administração
de imunoglobulina anti-D pode reduzir esse risco para
o Diminuição da PA (especialmente no segun-
cerca de 0,2%, sem qualquer evento adverso.
do trimestre)
Após uma primeira injeção do anti-D, se a repetição
de eventos de sensibilização ocorrer (abortamento ou
QUESTÃO 4 ameaça de abortamento, procedimento de medicina
fetal – amniocentese ou cordocentese), a abstenção da
Primigesta, 28 anos, o Rh negativo, triagem de anti- profilaxia é possível, dependendo da dose inicialmente
corpos: negativo, recebeu imunoglobulina anti-D 300 administrada (a proteção dura seis semanas para 200
mcg com 28 semanas. Evoluiu para parto vaginal sem µg e nove semanas para 300 µg) e da quantidade de
intercorrências com 37 semanas. Exames no puerpério: hemorragia feto-materna. Para a profilaxia rotineira do
Tipagem sanguínea da mãe: O Rh negativo. Triagem terceiro trimestre, a dose de 300 mcg de Ig anti-D é
de anticorpo: positivo. Tipagem sanguínea do recém- suficiente. A profilaxia Rh poderá ser abolida caso o
-nascido: O Rh positivo. Qual a melhor conduta? pai alegado for confirmadamente RhD negativo. No
A) Prescrever imunoglobulina anti-D.  parto, o fenótipo RhD do recém-nascido deve ser de-
B) Considerar diagnóstico de isoimunização Rh. terminado e, caso seja Rh positivo, nova dose deverá
ser administrada.
C) Solicitar a titulação de anticorpos.
D) Encaminhar ao hematologista. A pesquisa de anticorpos irregulares (versão mais com-
pleta do coombs indireto) deve ser solicitada em toda
Resposta correta: Letra A  primeira consulta do pré-natal. Nos casos em que a
gestante é Rh negativo e não sensibilizada, a orientação
Comentários: é repetir a pesquisa de anticorpos irregulares por vol-
A aloimunização Rh consiste na sensibilização ao antí- ta de 27 semanas, antes da administração da imuno-
geno D presente na superfície eritrocitária. Durante a globulina anti-D. Quando há história de sangramento
gestação e parto, pequenas quantidades de hemácias fe- sem administração da imunoglobulina, a pesquisa de
tais podem atingir a circulação materna. Nos casos em anticorpos irregulares deve ser sempre solicitada, inde-
que a grávida é Rh negativo (desprovida do antígeno pendentemente do período da gestação, visto que pode
D) e a criança, Rh positivo (pai é positivo), a mãe pode ter ocorrido sensibilização.
ser sensibilizada e passa a produzir anticorpos anti-D. Após a administração da imunoglobulina anti-D não
Estes atravessam a barreira placentária na ocasião de é recomendado realizar novamente a pesquisa de an-
uma gestação posterior e acarretam doença hemolítica ticorpos anti-D, pois a imunoglobulina administrada
perinatal, a qual pode cursar com repercussões graves, poderá ser detectada no sangue materno ainda por
determinando morbidade e mortalidade fetal e perina- período que varia de seis a 12 semanas e não há como
tal aumentadas. diferenciar se o anticorpo detectado é proveniente de
Como medida profilática para a aloimunização, pre- resposta imune materna ou se é exógeno. Quando há
coniza-se a administração de imunoglobulina anti-D dúvida se ocorreu sensibilização da gestante previa-
por volta das 28 semanas, tal medida tem por objetivo mente à administração da imunoglobulina profilática
destruição das hemácias fetais potencialmente carrea- anti-D, a diferenciação seria baseada no fato de que os

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títulos de anti-D tenderiam a diminuir no caso de se- QUESTÃO 5


rem resultantes de imunoglobulina exógena e, quando
houve sensibilização materna, os títulos permanece- Secundigesta (G2P1C1A0), 32 anos, com 39 semanas
riam estáveis ou aumentariam. de gestação, interna na fase ativa do trabalho de parto
espontâneo. Relata cesárea prévia, há 3 anos, por “pa-
rada de dilatação”, cujo recém-nascido pesou 3750 gra-
Vamos às alternativas:
mas. Exame físico geral normal, altura uterina 34 cm.
A) CORRETA - Paciente Rh negativo, primigesta e A monitorização intraparto está demonstrada abaixo
com triagem de anticorpos negativa, ou seja, não (Figura 1), assim como a evolução do trabalho de par-
sensibilizada para o fator Rh. Neste caso é espera- to, até às 14h (Figura 2). De acordo com o Programa
do que a triagem de anticorpo materno seja posi- de Humanização do Parto do Ministério da Saúde do
tiva no pós parto, pois ela havia recebido imuno- Brasil, qual seria a conduta para essa parturiente?
globulina há menos de 12 semanas. Ou seja, neste
caso, é mandatória avaliação de Rh de recém-nas-
cido e, sendo este positivo, devemos administrar
nova dose de imunoglobulina anti-D. 
B) INCORRETA - Neste caso é esperado que a tria-
gem de anticorpo materno seja positiva no pós
parto, pois ela havia recebido imunoglobulina há
menos de 12 semanas e não sugere diagnóstico de
isoimunização Rh.
C) INCORRETA - idem item B.
D) INCORRETA - Neste caso, devemos realizar avalia-
ção de Rh de recém-nascido e, sendo este positivo,
devemos administrar nova dose de imunoglobulina
anti-D. Não há necessidade de encaminhamento
para especialista.

Take-Home Message:
1 - A imunoglobulina anti D (Rhogan) administrada
poderá ser detectada no sangue materno ainda por
período que varia de seis a 12 semanas
2 - Em pacientes com Rh negativo, deve-se realizar pes-
quisa de Rh no recém-nascido e, se Rh positivo,
administrar imunoglobulina anti D nos primeiros
dias pós parto. A) Evitar uso de analgesia farmacológica de parto.
B) Indicar resolução da gestação por parto cesárea.
C) Prescrever infusão endovenosa de ocitocina.
D) Manter assistência obstétrica habitual.
Resposta correta: Letra D

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Comentários: • Frequência cardíaca fetal basal (FCF) – linha


Com relação à figura 1: de base.

Estamos diante de uma cardiotocografia categoria 1, • Oscilações da frequência cardíaca fetal – variabili-
ou seja, normal. Vamos relembrar essa classificação? As dade da FCF
bancas gostam bastante de cobrar este conceito durante • Aceleração da frequência cardíaca fetal.
a assistência ao trabalho de parto! • Desacelerações da frequência cardíaca fetal
A cardiotocografia (CTG), também conhecida como Categorias da CTG Anteparto:
monitorização fetal eletrônica, é um método não inva-
sivo de monitorização dos batimentos cardíacos fetais, • Categoria I – Normal (altamente preditivo de equi-
cujo objetivo primário é a avaliação da vitalidade do líbrio ácido-base normal).
concepto (oxigenação) e consiste no registro gráfico si- • Categoria II – Atípica/Indeterminada (não é predi-
multâneo da frequência cardíaca fetal, dos movimentos tor de alteração no equilíbrio, mas não pode atestar
fetais e das contrações uterinas. normalidade no momento da observação).
Os parâmetros analisados são: • Categoria III – Anormal (equilíbrio ácido-base
anormal).

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Com relação à figura 2: Take-Home Message:


Primeiramente, estamos diante de uma paciente com 1 - Antecedente pessoal de parto cesáreo não é por si só
cesárea anterior que se encontra em trabalho de parto. indicação de nova cesárea.
De acordo com os protocolos do Ministério da Saúde, 2 - É importante sabermos avaliar a cardiotocografia para as-
o antecedente pessoal de parto cesáreo não é por si só segurarmos bem-estar fetal durante o trabalho de parto.
indicação de nova cesárea, especialmente se conside-
rarmos que o risco de rotura uterina nestes casos é bas- 3- As linhas de alerta e de ação no partograma nos auxiliam
tante baixo (menor que 1%). As pacientes candidatas no diagnóstico de distocias durante o trabalho de parto.
à parto vaginal após cesariana não devem ter cicatriz
uterina que não a clássica (segmentar transversa), e
isso inclui histerotomia ou miomectomia prévia en- QUESTÃO 6
trando na cavidade uterina. Também não podem ter Primigesta, 21 anos, durante o acompanhamento pré-
antecedente de rotura uterina prévia ou presença de -natal de risco habitual, elabora e registra institucional-
contraindicação ao trabalho de parto como placenta mente o seu plano de parto, pelo qual manifesta expres-
prévia ou apresentação fetal anômala. As mulheres sa vontade de um parto sem intervenções, incluindo a
que tiveram sua última cesariana há menos de 18 a 24 recusa de: uterotônicos para indução ou estimulação de
meses devem ser aconselhadas sobre um risco aumenta- trabalho de parto, manipulação vaginal desnecessária,
do de rotura uterina durante o trabalho de parto. amniotomia, analgesia farmacológica, episiotomia. A
Além disso, a figura retrata um partograma em que, equipe assistencial acolhe o plano de parto e promo-
apesar de ainda não verificarmos a descida da apresen- ve esclarecimentos e orientações sobre a viabilidade de
tação, há evolução fisiológica do trabalho de parto, pois cada tópico abordado. Durante a evolução do trabalho
as representações gráficas de dilatação e apresentação de parto espontâneo a termo, a paciente manteve sinais
não ultrapassaram a linha de alerta. vitais normais, atividade uterina efetiva e vitalidade fe-
tal preservada. Após 6 horas de evolução, com 4 cm de
dilatação cervical, ocorre corioamniorrexe espontânea
Vamos às alternativas: com saída de líquido amniótico claro e com grumos,
A) INCORRETA - a analgesia farmacológica de par- intensificando a sintomatologia dolorosa às contrações
to tem papel tanto na coordenação das contrações uterinas. Conforme previsto no plano de parto, foram
uterinas quanto para o próprio alívio da dor, e não disponibilizados e aplicados métodos não farmacoló-
há motivo para evitarmos seu uso neste caso. gicos de alívio de dor, porém a parturiente passa a de-
mandar verbalmente por analgesia farmacológica devi-
B) INCORRETA -como discutimos acima, apesar de
do à não melhora da sintomatologia dolorosa. Qual a
a parturiente ter antecedente prévio de cesárea, não melhor conduta para esse caso?
há contra indicação neste caso para tentativa de
parto vaginal. A) Explicar que a analgesia farmacológica será ofertada
após maior progressão da dilatação cervical.
C) INCORRETA - em pacientes com progressão de
trabalho de parto adequada não há indicação de in- B) Condicionar a oferta da analgesia farmacológica à
fusão endovenosa de ocitocina. reformulação do plano de parto.
D) CORRETA - como discutido acima, a paciente se C) Atender à solicitação da parturiente e realizar
encontra em trabalho de parto fisiológico, com boa analgesia farmacológica. 
vitalidade fetal, progressão adequada e sem contrain- D) Manter a conduta de não intervenção com analge-
dicação à tentativa de parto vaginal. Dessa maneira, sia farmacológica prevista no plano de parto.
devemos manter a assistência obstétrica habitual. 
Resposta correta: Letra C

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Comentários: QUESTÃO 7
De acordo com as Diretrizes Nacionais de Assistência Em relação aos esquemas de imunização em mulheres,
ao Parto Normal do Ministério da Saúde de 2017, no assinale a alternativa ERRADA:
caso de a parturiente ter um plano de parto escrito,
deve-se ler e discutir com ela, levando-se em considera- A) A imunização para HPV quadrivalente, segundo o
ção as condições para a sua implementação tais como Programa Nacional, são duas doses com intervalo de
a organização do local de assistência, limitações (físi- seis meses entre elas, para meninas de 9 a 14 anos
cas, recursos) relativas à unidade e a disponibilidade de B) A vacina contra febre amarela contém vírus atenua-
certos métodos e técnicas; avaliar o que a mulher sabe do, por isso é contraindicada na gravidez
sobre estratégias de alívio da dor e oferecer informações C) As gestantes com esquema vacinal completo para
balanceadas para encontrar quais abordagens são mais dTpa (tríplice bacteriana acelular do adulto) não
aceitáveis para ela; encorajar a mulher a adaptar o am- necessitam de dose de reforço a cada gestação 
biente às suas necessidades;
D) Na imunização de gestantes e puérperas contra a
Outro ponto relevante para conseguirmos responder a COVID-19 não se deve usar imunizantes que te-
questão é que a solicitação materna por analgesia de nham como vetor o Adenovírus
parto compreende indicação suficiente para sua reali-
zação, independente da fase do parto e do grau de dila- Resposta correta: Letra C
tação. Isto inclui parturientes em fase latente com dor
intensa, após esgotados os métodos não farmacológicos. Comentários:
A vacinação para HPV está disponível no SUS com
Vamos às alternativas: vacina quadrivalente (subtipos 6, 11, 16 e 18) para
A) INCORRETA – a analgesia farmacológica está in- meninas dos 9 aos 14 anos e meninos dos 11 aos 14
dicada em qualquer fase do trabalho de parto, in- anos, em duas doses com intervalo de 6 meses entre
dependente da progressão da dilatação cervical, por elas. Também está disponível para pacientes com imu-
tanto, não devemos esperar maior progressão da nossupressão (pacientes oncológicos, portadores de
dilatação para ofertar analgesia. HIV, pós transplante de órgão sólidos/medula óssea),
B) INCORRETA – o desejo da paciente por analgesia sendo para meninos dos 9 ao 26 anos e meninas dos
já é uma indicação de seu uso;o plano de parto não é 9 aos 45 anos. A partir dos 15 anos recomendam-se 3
uma regra absoluta que deve ser seguida independen- doses com intervalo de 0-3-12 meses para melhor res-
te do contexto ou da evolução do trabalho de parto. posta imunológica.
C) CORRETA – o desejo por analgesia farmacológi- Com relação ao período gravídico, as 3 vacinas que a
ca é uma indicação por si só. grávida deve recebr são: DTPa, Hepatite B e Gripe.
D) INCORRETA – o plano de parto não deve ser en- Mais recentemente, a vacina contra Covid-19 também
gessado, podendo ser rediscutido e alterado em con- foi incorporada ao esquema de vacinação nacional.
junto com a paciente durante o trabalho de parto. Com relação a DTPa, a gestante deve receber vacinação
entre a 27a e a 36a semana de gravidez. Caso não tenha
Take-Home Message: esquema completo, deve-se completar esquema vacinal
O plano de parto não deve ser um fator que impeça na gravidez.
adequada assistência à paciente, o que inclui tomadas Na gestação, não utilizamos vacinas de vírus e bactérias
de decisão em conjunto com a própria parturiente ao vivos, como é o caso da tríplice viral, varicela, febre
longo da progressão do trabalho de parto. amarela, BCG.

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Vamos às alternativas: Comentários:


A) INCORRETA - é correto afirmar que a imunização O rastreio de diabetes na gestação é universal nas pa-
para HPV quadrivalente, segundo o Programa Na- cientes que não possuem este diagnóstico previamente.
cional, é composta por duas doses com intervalo de Glicemia de jejum
seis meses entre elas, para meninas de 9 a 14 anos
B) INCORRETA - é correto afirmar que a vacina con- • 92 - 125  diabetes mellitus gestacional (DMG)
tra febre amarela contém vírus atenuado, por isso é • >125  diabetes prévio / overt diabetes
contraindicada na gravidez; pode-se discutir casos
Caso a glicemia de jejum tenha vindo normal, está
de exceção em áreas em endêmicas, por exemplo,
indicada a realização do TOTG-75 entre 24 e 28 se-
mas seria de fato uma conduta de exceção
manas de gestação, onde se avalia a glicemia de jejum
C) CORRETA - toda gestante com esquema vacinal e se repete a glicemia 1 hora e 2 horas após ingestão de
completo deve receber nova vacina dTpa em cada 75g de glicose.
gravidez. 
D) INCORRETA - é correta a afirmação, pois não uti- TTOG
lizamos vacinas de vírus e bactérias vivos nesta fase Glicemia de jejum: 
da vida da mulher
• 92 - 125  diabetes mellitus gestacional
• >125  diabetes prévio / overt diabetes
Take-Home Message:
1h após: >= 180
- Toda gestante deve receber dTpa durante a gravidez e
isso deve ocorrer em toda nova gestação, preferen- 2h após: >= 153. Se >= 200, diabetes prévio.
cialmente ao final do segundo trimestre. Deve ficar muito claro que não há indicação de repetir
- Não utilizamos vacinas de vírus ou bactérias vivos na a GJ quando alterada nem realizar “exames confirma-
gravidez, com algumas exceções podendo ser feitas tórios”! 
a depender do risco de contaminação daquela pa- Uma vez feito o diagnóstico, o tratamento está indica-
ciente em específico. do com dieta, atividade física e controle com aferição
de glicemia capilar em jejum, 1h após café, 1h após
almoço e 1h após jantar. Caso haja importante des-
QUESTÃO 8
controle glicêmico, introduz-se insulinoterapia, pois
Sobre o diabetes gestacional assinale a alternativa os antidiabéticos orais não estão indicados para diabe-
CORRETA: tes gestacionais. Os valores de referência para avaliação
A) A glicemia de jejum e o teste de tolerância à glico- de controle adequado se seguem:
se com 75g de glicose são exames utilizados para o
diagnóstico 
B) Na maioria das mulheres, o metabolismo de carboi-
dratos não retorna às funções normais após o parto
C) Seu tratamento tem como pilares: a dieta, o exercí-
cio físico e o uso de hipoglicemiantes orais
D) Se o controle glicêmico for insatisfatório, a resolução da
gravidez pode ser considerada entre 39 e 40 semanas
Resposta correta: Letra A

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12 | MAR 22 SIMULADO R1 - GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA

Consenso Brasileiro Tratamento do Diabetes mellitus Gestacional no Brasil 2019

Vamos às alternativas:
Take-Home Message:
A) CORRETA - a glicemia de jejum e o TTOG com - A glicemia de jejum e o TTOG com 75g de glicose
75g de glicose são de fato exames utilizados para o são utilizados para o diagnóstico de diabetes melli-
diagnóstico.  tus na gravidez.
B) INCORRETA - na maioria das mulheres o me-
- Um exame alterado é suficiente para fazer o diagnós-
tabolismo de carboidratos retorna às funções nor-
tico, não devendo ser repetido.
mais. Dentre as diabéticas gestacionais, até metade
pode desenvolver diabetes mellitus tipo 2 até 10 - O uso de hipoglicemiante oral na gravidez é conduta
anos após o parto. de exceção.
C) INCORRETA - os hipoglicemiantes orais não são
regra no tratamento, pois não há evidência científi-
ca suficiente que suporte seu uso globalmente.
D) INCORRETA - diante do descontrole glicêmico,
devemos considerar parto quando a paciente atinge
o termo, ou seja, 37 semanas.

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SIMULADO R1 - GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA MAR 22 | 13

QUESTÃO 9 Vamos às alternativas:


Em alguns casos a gestação ectópica pode ser tratada A) INCORRETA: o BHCG inicial deve ser
de forma conservadora, com terapia medicamentosa. ≤5000mUi/mL
O medicamento de escolha e a característica clínica que B) INCORRETA: não se usa o misoprostol
possibilita seu uso é: C) INCORRETA: não deve haver atividade cardíaca
A) Metotrexato e BHCG inicial de 6000mUI/mL D) CORRETA
B) Misoprostol e estabilidade hemodinâmica E) INCORRETA: não se usa o misoprostol
C) Metotrexato e atividade cardíaca do produto con-
ceptual
Take-Home Message:
D) Metotrexate e desejo de procriação
• Tratamento clínico/expectante para gestação ectópi-
E) Misoprostol e BHCG inicial de 2700mUI/mL
ca deve cumprir critérios bem estabelecidos, prin-
Resposta correta: Letra D cipalmente baixos títulos de BHCG, embrião sem
BCF, estabilidade hemodinâmica e desejo de pro-
O tratamento da gestação ectópica depende de diversos criação
fatores, entre eles o estado hemodinâmico da paciente, • Medicação de escolha para tratamento clínico de
integridade da tuba e do seu desejo de novas gestações. gestação ectópica é metotrexato.
Pode ser clínico (medicamentoso ou expectante) ou,
ainda, cirúrgico (laparotomia/laparoscopia).
O uso de metotrexato está indicado para pacientes com:
• Estabilidade hemodinâmica
• Desejo de procriação
• Gestação ectópica íntegra de até 4cm no maior diâ-
metro
• Ausência de atividade cardíaca do produto concep-
tual
• BHCG sérica ≤5.000 e crescente em duas dosagens
consecutivas (acima de 10%) em duas dosagens
consecutivas (24h a 48h)
Conduta expectante está indicada:
• Estabilidade hemodinâmica
• Desejo de procriação
• Gestação ectópica íntegra de até 4cm no maior diâ-
metro
• Ausência de atividade cardíaca do produto concep-
tual
• BHCG sérica ≤5.000 e decrescente em duas dosa-
gens consecutivas

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14 | MAR 22 SIMULADO R1 - GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA

QUESTÃO 10 dominais. Com a progressão da infecção, no exame


ginecológico, a mulher pode referir bastante dor e apre-
A.L.S, 15 anos, chega ao pronto socorro com intensa sentar sinais de peritonismo, estado geral comprometi-
dor abdominal, confusa e com dificuldade de respon- do, náuseas e vômitos, queda do nível de consciência e
der às perguntas que lhe foram feitas. Está acompanha- sinais de choque séptico (calafrios, cianose, desidrata-
da da melhor amiga que refere que a paciente descobriu ção, hipotensão, taquicardia, pulso filiforme).
estar grávida há pouco tempo, não deseja nem aceita a
gestação, inclusive nem contou à família, além disso O tratamento para o abortamento infectado contem-
ela tem queixado de cólicas, náuseas e calafrios há um pla a estabilização clínica associada ao uso de antibio-
dia. Ao exame físico: regular estado geral, FC 105bpm ticoterapia endovenosa. O esquema preferencial de
PA 100x60mmHg TAX 37,9ºC. Abdome plano, mui- tratamento é a associação da gentamicina com clinda-
to doloroso à palpação hipogástrica, ausência de dor à micina. Em casos mais graves, pode ser acrescentada
descompressão brusca. Observado sangramento vaginal penicilina ou ampicilina e a clindamicina substituída
em moderada quantidade em absorvente. Exame espe- pelo metronidazol. As pacientes deverão permanecer
cular com pequena quantidade de sangramento coleta- com terapia endovenosa por 48 horas após o último
do em fundo de saco uterino com pus se exteriorizando pico febril e melhora clínica.
pelo orifício externo do colo, toque com útero aumen-
tado, compatível com 7 semanas e colo impérvio. Exa- Vamos às alternativas:
mes iniciais: Hb 9,4 Ht 27% Leuco 25.450 Plaquetas A) INCORRETA: ainda que a paciente já tivesse tido
240mil INR 1,02 PCR 78 BHCG positivo. Acerca do eliminado porção do produto conceptual (aborto
quadro, o provável diagnóstico e conduta são: retido), de modo algum a conduta seria expectante,
A) Aborto retido e o tratamento deve ser expectante diante de um quadro grave como o dela
B) Aborto inevitável e a conduta consiste na estabiliza- B) INCORRETA: abortamento inevitável é caracteri-
ção clínica, antibioticoterapia e remoção cirúrgica zado por um colo dilatado, além disso, a conduta
do conteúdo intrauterino deve ser ativa para eliminação imediata do foco in-
C) Aborto infectado e a conduta contempla sintomáti- feccioso
cos, antibioticoterapia e esperar a eliminação com- C) INCORRETA: o diagnóstico está correto, mas
pleta do produto intrauterino como na alternativa anterior, devemos tomar con-
D) Aborto infectado, devendo estabilizar a paciente, duta ativa
iniciar antibioticoterapia e promover a eliminação D) CORRETA: tratamento deve ser iniciado imedia-
cirúrgica do conteúdo intrauterino tamente, incluindo remoção cirúrgica do produ-
E) Aborto infectado e só se deve fazer a curetagem se a to conceptual.
ultrassonografia confirmar o diagnóstico E) INCORRETA: independente de o embrião esta
vivo ou não, há indicação para resolução da gesta-
Resposta correta: Letra D ção pelo risco de vida materno.

É uma forma de abortamento complicada por infecção


intrauterina, frequentemente relacionada à aborto in- Take-Home Message:
duzido por técnicas inadequadas e inseguras. As infec- • Abortamento infectado tem diagnóstico clínico-la-
ções são geralmente polimicrobianas e provocadas por boratorial
bactérias do trato genital.
• Tratamento do abortamento infectado inclui anti-
As manifestações clínicas mais frequentes são: febre, bioticoterapia endovenosa com remoção cirúrgica
sangramento genital em pequena quantidade ou pu- do produto intrauterino (foco infeccioso).
rulento, com odor fétido, acompanhado de dores ab-

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SIMULADO R1 - GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA MAR 22 | 15

QUESTÃO 11 Pode ainda haver o desenvolvimento de lesões papilo-


matosas nas regiões anogenital e conjuntival após o nas-
Primigesta, 16 anos, 21 semanas, refere lesões na vulva cimento. O mecanismo clássico da contaminação dos
há 30 dias. Na consulta na Unidade Básica de Saúde, a RNs se dá pela passagem pelo canal de parto, porém
avaliação da genitália evidencia as lesões mostradas na há relatos de caso com positividade para HPV-DNA
figura 1. Qual a melhor conduta para esse caso? em líquido amniótico, com estudos referindo inclusive
casos de papiloma laringeal juvenil em neonatos de ges-
tantes submetidas à cesariana.
O tratamento preferencial das lesões condilomatosas
na gestação deve ser feita com métodos que destroem
a lesão, porém devemos lembrar que na gestação NÃO
se deve utilizar: podofilina, podoxipodofilina ou in-
terferon. Condilomas pequenos podem ser tratados
com ácido tricloroacético (ATA) entre 50 a 80% com
aplicações semanais. Condilomas maiores e os que são
resistentes ao ATA são tratados pela excisão com bis-
turi, cauterização, cirurgia de alta frequência (CAF)
ou LASER. Os resultados são similares. A cesariana só
deve ser indicada apenas nos casos com condilomas
extensos em que houver obstrução mecânica do canal
de parto e/ou risco de hemorragia grave e todas as ges-
A) Ácido tricloroacético 80%.  tantes com verrugas genitais devem ser orientadas sobre
B) Podofilotoxina. o baixo risco de contaminação do RN.
C) Expectante.
D) Imiquimode. Vamos às alternativas:

 Resposta correta: Letra A A) CORRETA – A aplicação de ATA 50-80% é uma


excelente alternativa no tratamento de condi-
Comentários: loma genital na gestação, especialmente nas le-
sões menores.
Primeiramente, era importante identificar as lesões
B) INCORRETA - Não podemos utilizar Podofiloto-
verrucosas ao redor do introito vaginal, na sua porção
xina na gestação.
mais posterior. Assim, faríamos o correto diagnóstico
de condiloma genital, que é causado pelo papilomaví- C) INCORRETA – Devemos realizar o tratamento
rus humano – HPV. na gestação das lesões condilomatosas, porém com
cautela quanto as opções terapêuticas permitidas
A gestação favorece o desenvolvimento e a proliferação na gestação.
das lesões condilomatosas e também torna mais difícil
D) INCORRETA - Não podemos utilizar Imiquimo-
seu tratamento, com constantes recidivas, podendo in-
de na gestação (imunomodulador).
clusive promover obstrução ao canal de parto.
O principal risco da infecção pelo HPV na gestação é a
possível contaminação do recém-nascido (RN) durante
sua passagem pelo canal de parto, cuja contaminação
atinge principalmente a árvore respiratória desse RN.

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16 | MAR 22 SIMULADO R1 - GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA

Take-Home Message: como teratomas. Finalmente, as células precursoras do


1- Devemos tratar as lesões condilomatosas na gesta- TCG podem se diferenciar para se assemelhar a estru-
ção. Nas lesões pequenas, utilizamos ATA 50-80% turas extraembrionárias, como o saco vitelino (tumor
com aplicações semanais do seio endodérmico) ou placenta (coriocarcinoma).
Como é um grupo heterogêneo de tumores, é difícil
2 - Não devemos utilizar podofilina, podoxipodofili- generalizar o seu comportamento.
na ou interferon/imunomoduladores (imiquimod)
na gravidez. Os principais marcadores biológicos dos TCG são a
alfa-fetoproteína (AFP), a fração beta da gonadotrofi-
3 - Não há contraindicação ao parto vaginal nestes na coriônica (BHCG) e a desidrogenase lática (DHL).
casos, salvo diante de obstrução mecânica à via de
parto e/ou risco de hemorragia grave. Vamos às alternativas:
A) INCORRETA - os endometriomas ovarianos são
QUESTÃO 12 estruturas císticas ovarianas com conteúdo líqui-
do, em aspecto “achocolatado”, sem componente
Menina, 14 anos, menarca há 2 anos, apresentando sólido e não apresentam crescimento rápido como
ciclos menstruais normais, queixa-se de aumento do apresentado na questão. Além disso, esperaríamos
volume abdominal há 2 meses. Ao exame clínico abdo- encontrar elevação do CA 125. (Reforço que essa
minal identifica-se uma massa estendendo-se da pelve elevação não é critério diagnóstico de endometriose)
à cicatriz umbilical. A ultrassonografia confirma a pre-
sença de uma massa predominantemente sólida ocu- B) INCORRETA - o leiomioma uterino não apresenta
pando a pelve, não há ascite ou alterações em abdome crescimento rápido, raramente acomete pacientes tão
superior. As dosagens de marcadores tumorais mostram jovens e não cursa com elevação de alfafetoproteína.
CA 125 com valor normal e alfafetoproteína com valor C) CORRETA - paciente jovem com aumento de
elevado. Qual é a hipótese diagnóstica mais provável? volume abdominal importante e massa pélvica,
precisamos pensar em neoplasia de ovário de li-
A) Endometrioma ovariano. nhagem germinativa, o que é corroborado pela
B) Leiomioma uterino. elevação de alfa fetoproteína, um dos marcadores
C) Tumor de células germinativas do ovário.  tumorais deste tipo de neoplasia.  
D) Tumor epitelial maligno do ovário D) INCORRETA - os tumores epiteliais malignos aco-
metem pacientes mais velhas, após a 4a década de vida
Resposta correta: Letra C principalmente e costumam cursar com elevação do
CA 125, não tendo associação com a alfafetoproteína.
Comentários:
Quando nos deparamos com uma paciente jovem com
massa pélvica, entre as nossas hipóteses diagnósticas de- Take-Home Message:
vem estar os tumores de ovário de linhagem germinativa. - Paciente jovem com aumento de volume abdomi-
Os tumores de células germinativas (TGC) se origi- nal e massa pélvica: entre as nossas hipóteses diag-
nam das células germinativas primordiais. Quando os nósticas devem estar os tumores de ovário de linha-
precursores permanecem indiferenciados, assemelhan- gem germinativa.
do-se a células germinativas primitivas, são conhecidos - Os principais marcadores biológicos dos tumores de
como seminomas (testículo), disgerminomas (ovário) e célula germinativa são a alfa-fetoproteína (AFP), a fra-
germinomas (SNC). Os TCGs que exibem diferencia- ção beta da gonadotrofina coriônica (BHCG) e a desi-
ção para tecidos somáticos das linhagens endodérmi- drogenase lática (DHL).
cas, mesodérmicas e / ou ectodérmicas são conhecidos

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SIMULADO R1 - GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA MAR 22 | 17

QUESTÃO 13 A) Internação hospitalar, clindamicina e gentamicina,


manter DIU.
Nuligesta, 26 anos, vem ao pronto atendimento quei-
B) Tratamento ambulatorial, azitromicina, ceftriaxona
xando de corrimento fétido há 10 dias e dor no baixo
e metronidazol, retirar DIU.
ventre há sete dias. Nega febre, vômitos ou diarreia.
Usa dispositivo intrauterino (DIU) de cobre há um C) Tratamento ambulatorial, doxiciclina, ceftriaxona
ano. Ao exame, observa-se conteúdo vaginal de colora- e metronidazol, manter DIU. 
ção esverdeada e odor fétido, dor a palpação profunda D) Internação hospitalar, penicilina cristalina e ceftria-
de hipogástrio e ao toque vaginal apresenta dor à mo- xona, retirar DIU.
bilização do colo e palpação de anexos. Qual o manejo
Resposta correta: Letra C
mais adequado para essa paciente?
Comentários:
Para fazermos o diagnóstico correto deste caso, precisa-
mos nos lembrar dos critérios diagnósticos da Doença
Inflamatória Pélvica (DIP). Lembrando que são neces-
sários três critérios maiores + um critério menor ou
um critério elaborado para que possamos definir este
diagnóstico. Vamos relembrar?

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18 | MAR 22 SIMULADO R1 - GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA

A DIP é uma doença bastante comum em mulheres jovens com atividade sexual desprotegida. Está associada a
sequelas importantes em longo prazo, como infertilidade por fator tubário, gravidez ectópica e dor pélvica crônica.
Como esta é uma doença de etiologia polimicrobiana (C. trachomatis, N. gonorrhoeae, G. vaginalis, H. influenza,
S. agalactiae, M. genitalium, M. hominis e U. urealyticum, dentre outros), o tratamento se baseia no uso de anti-
bioticoterapia de amplo espectro, que deve ser iniciado imediatamente em mulheres jovens, sexualmente ativas,
com queixa de desconforto ou dor pélvica, e que preencham os critérios clínicos acima expostos. Os esquemas de
tratamento preconizados são:

Mas como saber se podemos fazer tratamento ambulatorial ou se devemos internar a paciente? Lembre-se: o trata-
mento ambulatorial se aplica a mulheres que apresentam quadro clínico leve e exame abdominal e ginecológico
sem sinais de pelviperitonite. Devemos propor internação hospitalar na DIP quando:

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SIMULADO R1 - GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA MAR 22 | 19

Acabamos indicando laparotomia nos casos de massas Take-Home Message:


anexiais não responsivas ao tratamento ou na ruptura - As pacientes que usam DIU não precisam remover o
destas – ou seja, a simples presença de abscesso tubo- dispositivo.
-ovariano não indica cirurgia!!
- No tratamento da DIP, usamos antibioticoterapia de
A paciente para qual foi proposto tratamento ambula- amplo espectro, podendo ser ceftriaxona + metro-
torial deverá retornar entre 48-72h do início do trata- nidazol + doxiciclina ou cefotaxima + metronidazol
mento, pois nesse período é esperado que tenha havido + doxiciclina.
melhora clínica. Se houver piora do quadro, considere
realizar outros exames de imagem, como ressonância
nuclear magnética ou tomografia computadorizada QUESTÃO 14
axial, para diagnósticos diferenciais ou complicações de
DIP. As pacientes que usam DIU não precisam re- Mulher, 23 anos, saudável, G1P1, com ciclo menstrual
mover o dispositivo. Caso exista indicação, a remoção variando de 24-33 dias nos últimos 6 meses. O volume
deve ser realizada somente após as duas primeiras do- menstrual é normal e a duração do sangramento é de 4 a
ses do esquema terapêutico. Nesses casos, as pacien- 5 dias. Após as orientações, ela optou pelo uso da tabeli-
tes devem ser orientadas sobre métodos alternativos nha. Considerando que você usou o método do calendá-
de barreira, como diafragma, preservativo masculino e rio (ou ritmo) para seus cálculos (Organização Mundial
feminino. As duchas vaginais não estão recomendadas. da Saúde, 2018), qual a alternativa contém o período do
ciclo menstrual que essa mulher deverá fazer abstinência
As parcerias sexuais dos últimos dois meses, sintomá-
ou usar preservativo para evitar uma gravidez?
ticas ou não, devem ser tratadas empiricamente con-
tra N. gonohrroeae e C. trachomatis.  A) 7º ao 23º dia do ciclo.
Todas as mulheres que têm DIP aguda devem ser ras- B) 5º ao 24º dia do ciclo.
treadas para N. gonorrhoeae e C. trachomatis e testa- C) 8º ao 19º dia do ciclo.
das para HIV, sífilis e hepatites virais. D) 6º ao 22º dia do ciclo.
Resposta correta: Letra D
Vamos às alternativas:
A) INCORRETA - a paciente da questão não apresen- Comentários:
ta critérios diagnósticos para internação hospitalar, Este método baseia-se no fato de que a duração da se-
conforme vimos acima. gunda fase do ciclo menstrual (pós-ovulatório) é rela-
B) INCORRETA - segundo as orientações do Minis- tivamente constante, com a ovulação ocorrendo entre
tério da Saúde, a azitromicina não entra no esque- 11 a 16 dias antes do início da próxima menstruação.
ma terapêutico do tratamento da DIP; além disso,
O cálculo do período fértil da mulher é feito mediante
não há indicação de retirada do DIU neste caso.
a análise de seu padrão menstrual prévio, durante 6
C) CORRETA - esse esquema terapêutico está cor- (seis) a 12 (doze) meses. E então realizamos 4 passos:
reto e é o mais utilizado na prática diária (doxici-
clina, ceftriaxona e metronidazol). Também está - Verificar a duração (número de dias) de cada ciclo,
correta a manutenção do DIU.  contando desde o primeiro dia da menstruação (pri-
meiro dia do ciclo) até o dia que antecede a menstrua-
D) INCORRETA - idem item A
ção seguinte (último dia do ciclo).
- Verificar o ciclo mais curto e o mais longo (na ques-
tão, 24 e 33 dias, respectivamente).

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20 | MAR 22 SIMULADO R1 - GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA

- Calcular a diferença entre eles (neste exemplo, 33 - 24 QUESTÃO 15


= 9 dias).
Casal procura atendimento com desejo de engravidar.
Atenção: ae a diferença entre o ciclo mais longo e o Estão sem contracepção há 1 ano e 6 meses. Ela, 35
mais curto for de 10 dias ou mais, a mulher não deve anos e nuligesta, tem história de ciclos menstruais re-
usar este método. gulares, com fluxo moderado e dismenorreia, que se
- Determinar a duração do período fértil da seguin- intensificou no último ano. Ele, 34 anos e um filho
te maneira: de outro relacionamento, relata história de hérnia in-
guinal unilateral corrigida cirurgicamente na infância.
Ciclo mais curto menos 18 = início do período fértil
Qual das afirmativas abaixo está CORRETA, conside-
 24 - 18 = 6
rando os exames iniciais para avaliação e identificação
Ciclo mais longo - 11 = dia do fim do período fértil de possível causa de infertilidade desse casal?
 33 - 11 = 22
A) Dosagem de FSH está indicada e pode ser realizada
Nesta questão, o período fértil determinado foi do 6° em qualquer dia do ciclo menstrual
ao 22° dia do ciclo menstrual (ambos os dias, inclusi- B) Endometriose é um provável diagnóstico e o exame
ve). Para evitar a gravidez, orientar a mulher e/ou casal padrão-ouro para o seu diagnóstico é a ressonância
para abster-se de relações sexuais com contato genital magnética
durante o período fértil calculado.
C) Histerossalpingografia apresenta alta sensibilida-
de para detecção de oclusão tubária 
Vamos às alternativas:
D) Espermograma não faz parte da propedêutica ini-
A) INCORRETA - cial, nos casos em que o parceiro já tenha sido pai
B) INCORRETA - de um filho
C) INCORRETA - Resposta correta: Letra C
D) CORRETA - período fértil determinado foi do 6°
ao 22° com base no cálculo acima demosntrado. Comentários:
A propedêutica básica do casal infértil é sempre do
Take-Home Message: CASAL e engloba tanto a avaliação clínica do casal,
com anamnese e exame físico completos, quanto esper-
- O cálculo do período fértil da mulher é feito me- mograma do parceiro, ultrassonografia transvaginal e
diante a análise de seu padrão menstrual prévio, histerossalpingografia da parceira. Muitas vezes a inves-
durante 6 (seis) a 12 (doze) meses tigação engloba também o perfil hormonal da parceira.
- Calcular a diferença entre o ciclo mais longo e o A histerossalpingografia deve ser realizada na fase
mais curto. Subtraia 18 do ciclo mais curto e sub- folicular do ciclo menstrual (6º a 11º dia do ciclo),
traia 11 do ciclo mais longo. Pronto, encontramos com contraste iodado, cuja sensibilidade é em torno
o período fértil da paciente! de 85% a 100% na identificação da oclusão tubária. É
considerado um teste confiável e não invasivo e, quan-
do utilizado em mulheres de baixo risco para patologias
nas trompas, limita o número de laparoscopias desne-
cessárias
Os níveis séricos basais de hormônio folículo-estimu-
lante (FSH) e hormônio luteinizante (LH) devem ser

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SIMULADO R1 - GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA MAR 22 | 21

colhidos no terceiro dia do fluxo menstrual natural, Take-Home Message:


isoladamente. As relações entre LH e FSH são impor- - A propedêutica básica do casal infértil é sempre do
tantes para o diagnóstico etiológico da disfunção, pre- casal e deve ser feita por completo.
dizendo o tratamento adequado para cada situação.
- A histerossalpingografia deve ser feita entre o 6o e o
Se tanto o FSH quanto o LH são baixos, associados, 11o dia do ciclo menstrual e tem elevada sensibili-
neste caso, a baixos valores de estradiol (menor que dade na identificação de obstrução tubária
40 pg/mL), suspeita-se de hipogonadismo hipogona-
dotrófico, que pode ser relacionado a problemas hipo- - A dosagem de FSH e LH deve ser feita ao 3o dia do
talâmico-hipofisários. Estando a relação aumentada, ciclo menstrual fisiológico.
maior que 2 (com LH elevado e FSH baixo), princi-
palmente nas pacientes portadoras de hirsutismo, obe-
sidade central e acne, a hipótese mais provável seria de QUESTÃO 16
síndrome dos ovários policísticos (SOP). Se os níveis Mulher de 22 anos vai à consulta com ginecologista
de FSH e LH apresentam-se elevados, associados à di- querendo trocar o método contraceptivo. Relata uso
minuição do estradiol sérico, constituindo o hipogo- de pílula contraceptiva combinada oral, há seis meses,
nadismo hipergonadotrófico em mulheres abaixo de desde que iniciou a vida sexual com o atual namorado.
40 anos, suspeita-se de falência prematura ovariana e, Porém, queixa náuseas importantes e cefaleia holocra-
menos comumente, da síndrome do ovário resistente e niana desde que iniciou o método. Vinha controlando
disgenesia gonadal. Nesse caso, é necessária a avaliação os sintomas com antieméticos e analgésicos, acreditan-
do cariótipo da paciente; do que os sintomas cessariam. É portadora de Diabe-
tes Mellitus tipo 1 bem controlado, diagnosticado há
Vamos às alternativas: três anos. Não apresenta alterações ao exame físico na
A) INCORRETA - a dosagem de FSH deve ser reali- consulta atual. Considerando o exposto, é CORRETO
zada no terceiro dia do ciclo menstrual fisiológico afirmar que:
B) INCORRETA - apesar da alta acurácia da resso- A) Implantes subdérmicos de etonogestrel constituem
nância magnética, o padrão-ouro no diagnóstico da a alternativa mais segura e com menor potencial de
endometriose é a videolaparoscopia diagnóstica. provocar náuseas e cefaleia nessa paciente
C) CORRETA - a sensibilidade da histerossalpingo- B) Métodos contraceptivos hormonais são contraindi-
grafia é bastante elevada para diagnóstico de obs- cados em pacientes com diabetes mellitus tipo 1,
trução tubária. devendo ser indicado DIU de cobre, métodos com-
D) INCORRETA - o espermograma deve ser sempre portamentais ou preservativos
realizado pois o paciente pode ter evoluído com C) Métodos contraceptivos progestagênicos isolados
alguma disfunção que não existia na ocasião de são contraindicados em pacientes com Diabetes
outra gestação (tanto no caso da infertilidade pri- Mellitus tipo 1, por estarem mais relacionados a
mária quanto secundária), ou ter tido sucesso em eventos tromboembólicos
uma gestação mesmo com ejaculado alterado. Para D) Observando as características clínicas da paciente,
programar melhor tratamento, devemos realizar a dispositivos intrauterinos de cobre ou de levonor-
propedêutica básica completa. gestrel são considerados critério 2 de elegibilidade e
poderiam ser indicados sem restrições
Resposta correta: questão anulada pela banca -
e nós concordamos com a banca!

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22 | MAR 22 SIMULADO R1 - GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA

Comentários:
Vamos às alternativas:
Em relação aos contraceptivos, a Organização Mundial
de Saúde categoriza os métodos com base em critérios A) INCORRETA - não se pode dizer que o implan-
de elegibilidade, sendo estes divididos em 4 categorias: te subdérmico de etonogestrel é a alternativa mais
segura, pois qualquer método hormonal para esta
- Categoria 1: use o método em qualquer circunstân-
paciente é categoria 2 pela OMS, ou seja, não há
cia
superioridade entre eles.
- Categoria 2: use o método de modo geral (benefí- B) INCORRETA - como vimos acima, métodos con-
cios são maiores que os possíveis malefícios) traceptivos hormonais não são contraindicados em
- Categoria 3: não é recomendado o uso do método, toda paciente com DM1
a menos que métodos mais adequados não estejam C) INCORRETA - métodos contraceptivos proges-
disponíveis ou não sejam aceitáveis (os possíveis tagênicos isolados não são contraindicados em pa-
malefícios são maiores que os benefícios) cientes com DM1
- Categoria 4: não utilizar o método (contraindica- D) INCORRETA - categoria 2 não significa que o mé-
ção absoluta) todo pode ser indicado sem restrições; apenas que
os benefícios superam os riscos
Considerando a diabetes mellitus tipo 1, os contracep-
tivos hormonais combinados, são considerados catego-
ria 4 diante de quadros complicados com nefropatia, Take-Home Message:
retinopatia, neuropatia ou outra vasculopatia, ou mais
Os contraceptivos hormonais são categoria 2 em pa-
de 20 anos de doença.
cientes com diabetes mellitus, exceto nos casos de diag-
No caso da paciente acima, que apresenta diagnóstico nóstico há mais de 20 ou sinais de nefropatia/retinopa-
há 3 anos, o DIU de cobre é categoria 1 da OMS e tia/neuropatia.
todos os demais métodos (DIU de levonorgestrel, im-
plante subdérmico, medroxiprogesterona, contracepti-
vo oral combinado ou isolado) são categoria 2.

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SIMULADO R1 - GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA MAR 22 | 23

QUESTÃO 17 Resposta correta: Letra A

Mulher, 25 anos, procura atendimento ginecológico Comentários:


devido a quadro de leucorreia iniciada há três dias. Afir-
ma corrimento aumentado, com odor fétido que piora Uma leitura desatenta poderia nos levar a confundir o
após relação sexual. Ao exame ginecológico, notou-se quadro acima descrito com vaginose bacteriana, quan-
corrimento abundante, malcheiroso, branco-amarela- do na verdade o examinador quer que pensemos em
do, com poucas bolhas, pH de 6,1 e teste das aminas tricomoníase. A tricomoníase acomete epidemiologi-
positivo. Considerando o quadro clínico apresentado camente pacientes mais jovens e seu quadro clínico é
pela paciente, é CORRETO afirmar que: composto por corrimento amarelado, com odor desa-
gradável, conteúdo bolhoso, pH entre 5,0 e 6,0 e tam-
A) a paciente deverá fazer uso de metronidazol via bém pode apresentar teste das aminas positivo.
oral e realizar sorologia para rastreio de HIV, sífi-
lis, hepatite B e C  O corrimento característico da vaginose bacteriana,
diferentemente do exposto no enunciado, é branco
B) a terapia com antimicrobianos só deve ser iniciada
ou acinzentado.
após cultura ampla de agentes microbiológicos
C) caso se verifique a presença de Trichomonas vagi-
nalis no exame a fresco será excluída a possibilidade
de vaginose bacteriana
D) o tratamento de parceiro deve ser realizado somente
após bacterioscopia positiva para gonococo e clamídia

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24 | MAR 22 SIMULADO R1 - GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA

Vamos às alternativas: Os prolapsos genitais podem cursar com sintomas de


abaulamento (típica queixa de “bola na vagina”), sin-
A) CORRETA - o tratamento da tricomoníase é o tomas urinários (incontinência urinária, polaciúria, ur-
metronidazol, e deve ser feito por via oral, em gência miccional, hesitação, sensação de esvaziamento
dose única. Por se tratar de infecção sexualmente incompleto, redução manual do prolapso para urinar
transmissível (IST), o parceiro deve ser tratado e etc), além de dor pélvica, distúrbios sexuais (dispareu-
deve ser feita investigação de outras ISTs por meio nia, redução da sensibilidade, lubrificação e orgasmo) e
de sorologia.  sintomas intestinais (incontinência fecal, urgência para
B) INCORRETA - o tratamento deve ser empírico e defecar, grande esforço etc).
iniciado imediatamente.
O tratamento cirúrgico dos prolapsos genitais depende
C) INCORRETA - a paciente pode apresentar trico- de qual estrutura está prolapsada, mas em geral pode
moníase em conjunto com vaginose bacteriana, ser feito por via vaginal. No de cúpula, esta é fixada no
uma alteração não exclui a outra. promontório ou no sacro ou, ainda, colpocleise para
D) INCORRETA - o tratamento do parceiro deve ser idosas sem atividade sexual. O de parede vaginal ante-
empírico e é mandatório. rior pode-se usar a colporrafia para correção da fáscia
pubovesicocervical (cirurgia de Kelly Kennedy). O de
parede posterior, faz-se a colporrafia corrigindo a fáscia
Take-Home Message:
retovaginal. No caso de prolapso uterino pode-se fazer
As bancas nem sempre trarão descrições “óbvias” do histerectomia com reconstrução do assoalho.
exame clínico. Atenção com as principais diferenças
A colpocleise é um procedimento obliterativo (fecha-
entre as vulvovaginites - um detalhe pode fazer dife-
mento da vagina), ideal para pacientes mais idosas e/ou
rença na hora de entender o que o examinador espera
clinicamente comprometidas, sem desejo de atividade
como resposta.
sexual futura.
Nas situações onde a paciente não tenha condições
QUESTÃO 18 clínicas para a cirurgia ou tenha preferência por um
tratamento não invasivo, pode-se optar pelo pessário.
Mulher de 78 anos de idade, hipertensa e diabética Este dispositivo de silicone comumente é utilizado na
controlada com medicamentos, tercigesta com 3 partos forma de anel ou donut, devendo ser individualmente
normais, refere bola na vagina há 2 anos, que tem pio- adaptado de acordo com a avaliação do quociente de
rado progressivamente. Há 6 meses precisa introduzir prolapso de órgãos pélvicos (POP-Q), tem a vantagem
a bola para conseguir urinar. Nega vida sexual, incon- de poder ser colocado e retirado pela própria pacien-
tinência urinária e anal. Entre os tratamentos abaixo, o te, quando devidamente orientada, não influenciando
mais indicado é: negativamente em seu convívio social, trabalho e ativi-
A) pessário vaginal. dade sexual.
B) colocação de sling retropúbico sob raquianestesia.
C) colpocleise sob anestesia local.
D) colpossacrofixação abdominal sob anestesia geral.
Resposta correta: Letra A

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SIMULADO R1 - GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA MAR 22 | 25

Vamos às alternativas: QUESTÃO 19


A) CORRETA: paciente é idosa, com comorbida- Mulher de 50 anos de idade, refere sangramento vaginal
des (risco cirúrgico alto), dessa forma, o pessário intermitente há 2 meses. A data da última menstruação
é uma boa alternativa para tratamento clínico foi há 2 anos. Nega terapia hormonal e comorbidades.
da mesma. Realizou ultrassonografia endovaginal que mostrou
B) INCORRETA: sling é utilizado para tratamento imagem hiperecogênica de 7 mm com vascularização
cirúrgico de incontinência urinária de esforço e na única e espessura endometrial de 3 mm. A conduta
questão estamos diante de prolapso genital mais adequada, dentre as abaixo, é
C) INCORRETA: colpocleise seria alternativa se ficas- A) curetagem uterina para biópsia endometrial.
se claro na questão que a paciente não tem desejo B) histeroscopia cirúrgica para retirada de póli-
de nova atividade sexual, além do mais, a anestesia po endometrial.
utilizada é a raquianestesia C) histerectomia subtotal.
D) INCORRETA: essa cirurgia é indicada para pro- D) histerectomia total abdominal e salpingooforecto-
lapso de cúpula e a questão não deixa claro qual é o mia bilateral.
tipo de prolapso da paciente, além disso, pode ser
feita raquianestesia Resposta correta: Letra B

A hiperplasia endometrial pode ser considerada uma


Take-Home Message: lesão precursora de câncer de endométrio. Deve ser
- Prolapsos genitais podem ser tratados clínica suspeitada em pacientes menopausadas quando a es-
ou cirurgicamente; pessura endometrial for >4mm em mulheres sem tera-
- O tipo de prolapso definirá qual cirurgia adotada; pia de reposição hormonal (TRH) e >8mm quando há
TRH. A investigação pode ser feita por cureta de No-
- Colpocleise está indicada para mulheres idosas, sem vak, curetagem semiótica ou histeroscopia diagnóstica
atividade sexual ou pretensão de ter; com biópsia (padrão ouro).
- Pessário pode ser utilizada como ferramenta paliativa Os pólipos endometriais são tumores benignos for-
até o tratamento cirúrgico ou pacientes com con- mados por glândulas endometriais e estroma fibrótico
traindicação clínica para tal. cobertos por um epitélio superficial, apresentam vascu-
larização única. São causas estruturais de sangramen-
to uterino anormal e tal menorragia está associada a
estase venosa dentro do pólipo (pouca circulação de
sangue) que leva à necrose apical e, assim, o sangue
vem. O diagnóstico pode ser feito por ultrassonografia
transvaginal (irá revelar imagem hiperecogênica e sus-
peita de espessamento endometrial), curetagem uteri-
na (resultado no anatomopatológico) e histeroscopia.
O tratamento preferencial é a histeroscopia cirúrgica
com polipectomia.

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26 | MAR 22 SIMULADO R1 - GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA

Vamos às alternativas: Diante de nódulo mamário, deve-se proceder uma in-


vestigação complementar, a priori, com exame de ima-
A) INCORRETA: a curetagem uterina pode ser utili- gem (USG/mamografia) ou partir direto para punção
zada como meio para obtenção de material endo- aspirativa com agulha fina (PAAF). Tais abordagens
metrial para diagnóstico e tratamento de algumas completam o chamado teste triplo (exame clínico, ima-
causas de sangramento pós menopausa (pólipos), genológico e cito/histológico). A core biopsy e a ma-
entretanto, não é o melhor método. motomia são ferramentas para diagnóstico histológico
B) CORRETA: os quadros clínico e imagenológico e estudo de imuno-histoquímico. Podem ser feitas se
são compatíveis com pólipo endometrial e o trata- PAAF positiva ou em lesões (palpáveis ou não) suspei-
mento padrão ouro é polipectomia histeroscópica tas de malignidade.
C) INCORRETA: não há diagnóstico nem suspeita de A decisão por qual método inicial de investigação por
malignidade na questão em tela a qual daria subs- imagem deve levar em consideração alguns aspectos,
trato para histerectomia tais como: idade da paciente, qual risco individual des-
D) INCORRETA: assim como na alternativa anterior, ta paciente para o câncer de mama, história familiar de
não há substrato para histerectomia câncer de mama, disponibilidade do método etc.
A mamografia é o exame padrão para rastreamento
Take-Home Message: (diagnóstico precoce) do câncer de mama, sendo méto-
do preferido em pacientes acima de 40 anos. Para além
• Todo sangramento pós menopausa deve ser investi-
de rastreamento, essa ferramenta diagnóstica deve ser
gado
utilizada para investigação, ou seja, quando há nódulos
• Hiperplasia endometrial no pós menopausa deve ser palpáveis. Nos casos onde há diminuição da sensibi-
suspeitado se espessura endometrial >4mm se sem lidade mamográfica (mamas densas e pequenas) e/ou
uso de reposição hormonal ou >8mm com reposi- impossibilidade da caracterização das alterações como
ção hormonal benignas ou malignas (BI-RADS 0), recomenda-se a
• Pólipo endometrial é causa estrutural de sangramen- complementação com outro exame, geralmente ultras-
to uterino anormal e deve ser suspeitado quando há sonografia mamária bilateral. Em alguns casos, a resso-
imagem hiperecogênica intrauterina com vasculari- nância magnética pode ajudar, também.
zação única. A core biopsy (biópsia por agulha grossa) costuma ser
preferida em tumores maiores, onde se retira apenas
uma pequena porção do tumor para avaliação histoló-
QUESTÃO 20 gica. A mamotomia é preferida em tumores pequenos
ou não palpáveis, como nas microcalcificações; nesta
Mulher de 42 anos de idade refere nódulo de mama
técnica, a biópsia é guiada pela mamografia ou, ainda,
esquerda de 2 centímetros há 3 meses. Foi à UBS e o
pela ultrassonografia.
médico tentou fazer uma punção e não veio líquido. A
conduta indicada a seguir, dentre as abaixo, é:
A) indicar mamotomia para retirada do nódulo.
B) realizar ultrassonografia de mamas.
C) realizar mamografia bilateral.
D) indicar quadrantectomia e radioterapia.
Resposta correta: Letra C

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SIMULADO R1 - GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA MAR 22 | 27

Vamos às alternativas:
A) INCORRETA: por se tratar de um nódulo palpá-
vel, o tipo de biópsia preferido é o por agulha grossa
B) INCORRETA: a mamografia é o exame inicial e de
escolha para essa paciente (já é maior de 40 anos,
mamas menos jovens e densas)
C) CORRETA
D) INCORRETA: a decisão pelo tipo de tratamen-
to vai depender do diagnóstico histológico des-
se nódulo.

Take-Home Message:
• Nódulo palpável deve ser investigado com exame de
imagem e biópsia dirigida
• Biópsia de agulha grossa para tumores maiores
• Mamotomia para tumores menores
• USG de mamas pode ser útil para alterações palpá-
veis, para complementar mamografia ou para ma-
mas jovens e densas, mas a mamografia é sempre o
primeiro exame após os 40 anos.

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28 | MAR 22 SIMULADO R1 - PEDIATRIA

PEDIATRIA
QUESTÃO 21 A Colestase Neonatal afeta 1 a cada 2500 nascidos a
termo, sendo definida com uma redução da formação
RN 26 dias de vida, trazido à UBS pela mãe com histó- biliar ou redução do fluxo biliar para o lúmen intesti-
ria de diurese escurecida, que mancha a fralda, 7 trocas nal, com retenção de substâncias biliares no fígado, e
por dia, associada a icterícia zona IV, iniciada ainda na consequente acúmulo de bilirrubina conjugada (direta,
maternidade, com piora nas últimas 2 semanas. Trata- >1mg/dl). Além da icterícia clínica, os pacientes podem
-se de RN termo, 38 semanas, nascido de parto nor- apresentar colúria (urina escurecida, cor de “coca cola”,
mal, sem intercorrências. Está em aleitamento materno pois toda bilirrubina é excretada pelos rins, uma vez
exclusivo, com ganho de 18g/dia desde a alta hospita- que não há passagem de bilirrubina pelas vias biliares
lar. Qual é a alternativa correta em relação ao caso? para o intestino) e hipocolia/acolia fecal (fezes brancas,
A) A principal hipótese é de Síndrome da Icterícia do pela ausência de bilirrubina intestinal).
Leite Materno, devendo ser realizado teste com in- A Atresia de Vias Biliares é a principal causa de icterícia
terrupção da amamentação por 24 horas, caso haja colestática nos primeiros meses de vida (25%-40%),
melhora da icterícia está confirmada a hipótese. sendo a principal causa de insuficiência hepática ter-
B) Deve ser checada tipagem sanguínea materna e do minal e transplante hepático em crianças. Causada por
recém-nascido, e avaliada presença de anemia, pois uma obliteração inflamatória e fibrótica progressiva dos
a principal hipótese é de icterícia por incompatibi- ductos biliares extra-hepáticos, evoluindo com cirrose
lidade materno fetal biliar, insuficiência hepática e, se não tratada, óbito nos
C) Como RN com baixo ganho ponderal e icterícia primeiros dois anos de vida. Seu diagnóstico é uma
iniciada logo após o nascimento, trata-se de prová- urgência, pois o tratamento é cirúrgico (Portoenteros-
vel Icterícia fisiológica associada à baixa ingesta de tomia de Kasai), e deve ser realizado até 60 dias de vida,
leite materno, devendo ser orientada a técnica do para reestabelecer o fluxo biliar. A investigação inicial é
aleitamento e agendado retorno precoce para reava- feita com ultrassom (na AVB a vesícula é hipoplásica e
liação pouco contrátil, e há o cordão triangular), e pela bióp-
D) Devem ser avaliadas as fezes do RN, checado re- sia hepática (proliferação de canalículos biliares, plugs
sultado da triagem neonatal biológica e devem ser biliares, fibrose portal).
solicitados exames iniciais: bilirrubina total e fra- Outras causas de colestase a serem consideradas são:
ções, urina 1, urocultura hipotireoidismo congênito (avaliar TSH do teste do
Pezinho), fibrose cística (avaliar IRT do teste do pe-
Resposta correta: Letra D
zinho), infecção do trato urinário (urina 1 e urocultu-
ra), infecções congênitas (checar cartão de pré-natal),
Comentários:
outras endocrinopatias, erros inatos do metabolismo,
Considera-se icterícia prolongada a icterícia que se síndromes genéticas.
mantém após a primeira semana de vida no RN ter-
Temos um paciente com 26 dias de vida que se man-
mo, e após a segunda semana de vida no pré-termo. A
tém ictérico, com provável colúria (urina escurecida
Academia Americana de Pediatria recomenda que todo
que mancha a fralda) e baixo ganho ponderal (no pri-
bebê com mais de 2 semanas de vida, que esteja ictéri-
meiro trimestre espera-se um ganho de 25-30g/dia).
co, deve ser submetido à dosagem de bilirrubina total
Devemos pensar em icterícia colestática e solicitar bi-
e frações, para avaliar o aumento de bilirrubina direta
lirrubina total e frações.
(Colestase).

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SIMULADO R1 - PEDIATRIA MAR 22 | 29

RESPOSTAS: QUESTÃO 22
A) INCORRETA- A Síndrome na Icterícia do Leite Sobre as infecções congênitas, assinale a incorreta:
Materno é um diagnóstico de exclusão da icterícia A) Na sífilis congênita precoce, prevalecem sintomas
prolongada, com aumento de bilirrubina indireta. mucocutâneos e ósseos, como a rinite, o exantema
Ela surge na primeira semana e se mantém, poden- e periostite.
do estender-se até 12 semanas, nos bebês em aleita-
mento materno exclusivo, com bom ganho ponde- B) A presença de calcificações periventriculares deve le-
ral, sem outras alterações. vantar a suspeita de infecção por Citomegalovírus,
devendo ser solicitado PCR ou isolamento viral na
B) INCORRETA – A icterícia por incompatibilidade urina ou saliva do RN até a 3ª semana de vida
materno-fetal normalmente se manifesta precoce-
mente, nas primeiras horas de vida. C) A toxoplasmose congênita normalmente se mani-
festa já nas primeiras semanas de vida, através de
C) INCORRETA – A icterícia fisiológica surge no fi- hidrocefalia, calcificações cerebrais e coriorretinite
nal do segundo para o terceiro dia de vida, atinge o
pico entre o 3º e 4º dia, e se resolve no RN termo D) A ocorrência simultânea de cardiopatia congênita,
até o 7º dia, sem atingir níveis elevados (> 12mg/ falha na triagem auditiva e oftalmológica neonatal
dl). A icterícia por baixa ingesta é aquela que se de- deve levantar a suspeita de Síndrome da Rubéola
senvolve na primeira semana de vida, em um RN Congênita
com elevada perda de peso, e se resolve assim que Resposta correta: Letra A
o aleitamento esteja bem estabelecido, sendo uma
causa não fisiológica de icterícia. Comentários:
D) CORRETA – Além da dosagem da bilirrubina Vamos recordar as manifestações específicas de uma
total e frações na icterícia prolongada, o médico das STORCHZ:
deve avaliar as fezes (hipocolia fecal) e a diurese do
bebê (colúria). Considerando as causas possíveis • Sífilis: ósseas (ostecondrite, periostite, pseudopara-
de icterícia colestática (hipotireoidismo, fibrose lisia de Parrot), rinite sifilítica, rash maculopapular
cística) deve ser checado o teste do pezinho; e con- (acomete mãos pés), pênfigo palmoplantar (lesões
siderando que a infecção do trato urinário nesta bolhosas que evoluem com descamação em palmas
faixa etária pode e manifestar apenas com icterí- e plantas dos pés)
cia, deve ser solicitado urina 1 e urocultura. • Toxoplasmose: Tríade de Sabin (hidrocefalia, calci-
ficação intracraniana difusa, coriorretinite), líquor
com aumento da celularidade e aumento impor-
Take-Home Message: 
tante de proteínas
Frente a icterícia prolongada devemos sempre conside-
• Citomegalovírus: calcificações cerebrais PERI-
rar a possibilidade de Colestase Neonatal, e de Atresia
VENTRICULARES, microcefalia, surdez neuros-
de Vias Biliares (aumento de bilirrubina direta, colú-
sensorial (principal causa de surdez neurossensorial
ria, acolia fecal). A investigação deve ser realizada com
no RN), restrição de crescimento intrauterino/pe-
urgência, pela necessidade de tratamento cirúrgico da
queno para idade gestacional, trombocitopenia
atresia de VB.
• Rubéola: ocular (catarata, glaucoma), cardiopatia
congênita (principais persistência do canal arterial e
estenose pulmonar), pode evoluir com surdez neu-
rossensorial

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30 | MAR 22 SIMULADO R1 - PEDIATRIA

• Herpes: vesículas ou cicatrizes mucocutâneas, QUESTÃO 23


trombocitopenia e elevação de transaminases, con-
juntivite Sobre as triagens neonatais assinale a correta:

• Zika: microcefalia, calcificação cerebral difusa, ar- A) O reflexo do olho vermelho deve ser realizado ainda
trogripose, hipertonia, alteração auditiva e ocular na maternidade, para todos os recém-nascidos, per-
mitindo avaliação de acuidade visual e alterações
retinianas
RESPOSTAS:
B) A triagem auditiva neonatal pode ser realizada nos
A) CORRETA - A Sífilis Congênita tem 2 momen- RN pré-termos, porém não é obrigatória, pois espe-
tos de apresentação: a precoce (antes do 2 anos de ra-se alterações relacionadas à prematuridade
vida)- através das lesões ósseas (periostite, pseudo- C) Caso o RN tenha fatores de risco para perdas au-
paralisia de Parrot) e mucocutâneas (rinite, exan- ditivas, o exame de escolha é o Potencial auditivo
tema, pênfigo); e a tardia (após os 2 anos): fronte evocado de tronco encefálico (PEATE), permitin-
olímpica, dentes de Hutchinson, nariz em sela, do avaliação de perdas retrococleares
perfuração em palato, tíbia em sabre, articulações
D) Caso haja alteração no teste do reflexo do olho ver-
de Clutton.
melho, o RN deverá ser acompanhado com o pe-
B) CORRETA – A marca da Citomegalovirose Con- diatra na rede básica, com reavaliação periódica do
gênita com as calcificações periventriculares ! Na desenvolvimento neurológico
suspeita de CMV, o diagnóstico é confirmado atra-
vés do PCR ou isolamento viral na salive ou urina Resposta correta: Letra C
do RN até a terceira semana de vida.
C) INCORRETA – Apesar desta ser a tríade da Toxo- Comentários:
plasmose Congênita, infelizmente apenas 10-30% O teste do olhinho ou reflexo do olho vermelho é o
dos pacientes manifestam sintomas ao nascer ou exame de triagem para avaliar a transparência das es-
nos primeiros meses de vida. A toxoplasmose, na truturas oculares, permitindo o diagnóstico precoce
maior parte das vezes, irá se manifestar durante a de problemas oculares congênitos podem impedir o
infância, quando as sequelas oftalmológicas/ neu- desenvolvimento visual cortical. A observação do re-
rológicas já estão estabelecidas. flexo vermelho da retina indica que as estruturas ocu-
D) CORRETA – A Síndrome da Rubéola Congêni- lares internas estão transparentes. A opacidade desses
ta apresenta-se clinicamente por estas 3 alterações: meios pode causar leucocoria (pupila branca) ou perda
cardiopatia, alteração ocular e surdez. do reflexo. São avaliadas pelo ROV: catarata congê-
nita, glaucoma congênito, retinoblastoma, leucoma,
inflamações intraoculares da retina e vítreo, retinopatia
Take-Home Message: 
da prematuridade (ROP) no estágio 5, descolamento
Frente à suspeita de infecção congênita devemos checar de retina, vascularização fetal persistente e hemorra-
o pré-natal, realizar uma boa anamnese materna (ma- gia vítrea.
nifestações durante a gestação), e devemos buscar dife-
O exame deve ser realizado pelo pediatra ainda na ma-
renciar as apresentações de cada uma das STORCHZ.
ternidade para todos os RN, e 2-3 vezes ao ano, até o
Muitas manifestações são inespecíficas (como icterícia,
terceiro ano de vida. Utiliza-se um oftalmoscópio dire-
prematuridade, baixo peso), e até 90% das STORCHZ
to, cuja luz projetada nos olhos, atravessa as estruturas
são assintomáticas ao nascimento.
transparentes, atinge a retina e se reflete, causando o
aparecimento do reflexo vermelho observado nas pu-

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SIMULADO R1 - PEDIATRIA MAR 22 | 31

pilas devido à vascularização da retina e coroide e do Take-Home Message: 


epitélio pigmentário. Se reflexo ausente ou duvidoso, o O teste do olhinho permite avaliar a transparência das
lactente deve ser encaminhado ao oftalmologista. estruturas oculares pelo reflexo vermelho, e deve ser
O teste da Orelhinha ou Triagem Auditiva Neonatal realizado em todos os RN na maternidade. O teste da
deve ser realizado para todos os RN, de preferência orelhinha também deve ser realizado em todos os RN,
ainda na maternidade entre 24-48 horas de vida, até estando o EOA indicado nos pacientes sem fatores de
o primeiro mês de vida, por fonoaudióloga. Pode ser risco para perdas auditivas, e o PEATE para os pacien-
realizado através de Emissões Otoacústicas (EOA), que tes com fator de risco.
avalia perdas cocleares e depende da integridade anatô-
mica da orelha. O EOA é a escolha nos pacientes sem
fatores de risco para perdas auditivas: história familiar QUESTÃO 24
de surdez na infância ou consanguinidade, internação
Mãe refere que seu filho de 8 anos está apresentando
em UTI neonatal por mais de5 dias, intercorrências
quedas frequentes ao solo há 3 semanas. Refere difi-
neonatais (ventilação mecânica, icterícia elevada, uso
culdades em subir escadas e de se levantar da posição
de medicamentos ototóxicos, asfixia, peso ao nascer
sentada, necessitando de ajuda. Criança está deprimida
<1500g), infecção congênita, anomalia craniofacial,
e irritada. Ao exame físico você nota sua pele averme-
síndrome genética. Na presença de fatores de risco, o
lhada (foto abaixo), dificuldade de manter os braços
exame de escolha é o Potencial Auditivo Evocado de
elevados e de subir a escada para sentar-se na maca.
Tronco Encefálico (PEATE) que avalia perdas retroco-
Qual a hipótese diagnóstica principal?
cleares (cóclea, nervo auditivo e tronco encefálico).

RESPOSTAS:
A) INCORRETA- O teste do olhinho não permite
avaliação da acuidade visual, mas sim avalia a trans-
parência das estruturas oculares.
B) INCORRETA – A triagem auditiva deve ser rea-
lizada em todos os recém-nascidos, incluindo os
pré-termo. Entretanto, em caso de prematuridade
extrema, ou internação em UTI neonatal, o exame A) Dermatomiosite juvenil.
será realizado no momento oportuno, de acordo B) Síndrome de Guillain-Barré.
com as condições clínicas do bebê. C) Lupus eritematoso sistêmico juvenil.
C) CORRETA – Na presença de fatores de risco, o D) Miosite viral.
exame de escolha é o Potencial Auditivo Evocado
de Tronco Encefálico (PEATE) que avalia perdas Resposta correta: A
retrococleares (cóclea, nervo auditivo e tronco en-
cefálico). Comentários:
D) INCORRETA – Caso haja resultado duvido- A questão aborda uma criança com sinais de fraqueza
so (assimétrico) ou alterado (branco) no teste muscular proximal (dificuldade em subir escadas, se le-
do olhinho, o paciente deverá ser encaminhado vantar, erguer os braços). Além disso, apresenta lesões
ao oftalmologista. cutâneas. Tais características apontam para o diagnósti-
co de dermatomiosite juvenil.

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32 | MAR 22 SIMULADO R1 - PEDIATRIA

A dermatomiosite é a miosite inflamatória mais co- O tratamento é feito com corticoides. O metotrexa-
mum em crianças, com fraqueza muscular proximal e to pode ser usado ajuda a poupar corticoide, mas é
rash característico, que é o primeiro sintoma em meta- mais imunossupressor.
de dos casos. As principais características do acometi- A) CORRETA - Dermatomiosite juvenil é a corre-
mento cutâneo são: ta. Paciente com fraqueza muscular proximal e
• Fotossensibilidade e eritema em áreas fotoexpostas rash característico.
(sinal do xale). B) INCORRETA - Na síndrome de Guillain-Barré, a
• Heliótropo (descoloração azulada das pálpebras) e característica da fraqueza é diferente: se inicia nas
edema periorbital. extremidades inferiores e progressivamente sobe,
envolvendo tronco, membros superiores e mús-
• Eritema facial envolvendo a prega nasolabial (ao culos respiratórios. Também não há acometimen-
contrário do LES) to cutâneo.
• Pápulas de Gottron (são placas rosadas espessadas C) INCORRETA - O quadro de pele no lupus eri-
ou atróficas, perto de articulações interfalangeanas tematoso sistêmico juvenil é diferente do caso em
proximais e distais) questão. Rash malar é o mais comum, em forma de
• Inflamação de pequenos vasos no leito ungueal, com borboleta; acomete as eminências malares e cruza
alças de capilares espessadas, tortuosas ou ausentes. a ponte nasal, poupando as pregas nasolabiais. No
lúpus discoide, há rash eritematoso na face, orelhas
e couro cabeludo, em extremidades superiores e tó-
rax. Mialgia e miosite são menos comuns no lupus.
D) INCORRETA - Na miosite viral, há quadro de fe-
bre e sintomas respiratórios seguidos após cerca de
5 dias por dor muscular severa, principalmente nas
costas e pernas. Pode ocorrer fraqueza generalizada
(e não apenas proximal). Não há o acometimento
cutâneo no quadro em questão.

Take-Home Message:
Na dermatomiosite juvenil, ocorre fraqueza muscular
proximal e rash característico (principalmente heliótro-
po e pápulas de Gottron).

A fraqueza muscular é insidiosa e parece uma fadiga. É


simétrica, afetando músculos proximais. Pode ser difícil
subir escadas, pentear cabelos e levantar da cama. Pode
ter fraqueza axial. Pode ter dor muscular como resultado
da inflamação, com elevação de enzimas musculares.

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SIMULADO R1 - PEDIATRIA MAR 22 | 33

QUESTÃO 25
Menino de 5 anos é trazido à consulta de puericul- tante do exame físico sem alterações. Consultando a
tura sem queixas. Peso: 19 kg (P50), altura: 109 cm, tabela abaixo, como se classifica a pressão aferida nes-
PA: 106 x 64 mmHg (repetida e confirmada), res- ta consulta?

A) Pressão arterial elevada. A técnica de aferição demanda o uso de um manguito


B) Hipertensão estágio 2. de tamanho adequado. Medir a circunferência do meio
C) Hipertensão estágio 1. do braço (entre acrômio e olécrano) com o braço fle-
tido a 90 graus. 40% desta circunferência = largura da
D) Pressão arterial normal. borracha do manguito. O cuff deve envolver 80-100%
Resposta correta: A da circunferência do braço, e metade do comprimento.
Para definir a hipertensão, usamos:
Comentários:
• Crianças até 13 anos
A hipertensão arterial primária é o principal diagnós-
ticos em crianças e adolescentes hipertensos. Em geral, • Normal: até p90
são crianças acima de 6 anos, com história familiar para • Elevada: p90 a p95 ou 120x80, o que for menor
hipertensão, e sobrepeso ou obesidade. Crianças nestas • Hipertensão estágio 1: p95 a p95 + 12mmHg, ou
condições não precisam de investigação para causas se- 130x80 a 139x89, o que for menor
cundárias.
• Hipertensão estágio 2: >p95 + 12mmHg, ou
Dentre as causas secundárias, doença renal e doença >140x90, o que for menor
renovascular estão entre as principais causas de hiper-
tensão secundária, mais ainda em crianças mais novas. • A partir de 13 anos
Ainda pode haver como causa de hipertensão secundá- • Normal: <120x80
ria a coarctação de aorta, e as causas endocrinológicas
(ex: feocromocitoma, cushing). • Elevada: 120x80 a 129x80

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34 | MAR 22 SIMULADO R1 - PEDIATRIA

• Hipertensão estágio 1: 130x80 a 139x89 QUESTÃO 26


• Hipertensão estágio 2: >140x90 Menino com 4 anos, foi atendido no pronto atendi-
mento com febre, cefaleia, queda do estado geral e vô-
mitos, iniciados há 1 dia. Internado para investigação.
Para ver os percentis, utilizam-se tabelas com sexo, ida-
Pais relatam que a criança já apresentou dois episódios
de e altura. Só passa para a próxima coluna de altura
prévios de meningite (aos 12 e 18 meses de vida), am-
quando atinge a altura correspondente (não aproximar
bos confirmados por cultura de liquor como sendo
o valor). Classificamos pelo mais grave.
meningocócicas, requerendo internação hospitalar e
Temos um menino de 5 anos com 109cm, com PA: tratamento com antibiótico endovenoso. Ao exame:
106 x 64 mmHg. Sua PA está entre p90 e p95. TA 39°C; prostração; FC 140 bpm; FR 50 mrpm; de-
p50: 92x51 mais aspectos do exame físico normais. Exames labo-
ratoriais: Hemograma: Hb 11,7 Ht 34% GB 15.900
p90: 104x64 Neutrófilos 14.110 (20% de bastonetes, 80% seg-
p95: 108x67 mentados) Plaquetas 345.000. Liquor: aspecto turvo,
proteínas aumentadas, glicose consumida, presença de
p95+12: 120x79
células em grande quantidade e cocos gram negativos.
Qual a hipótese diagnóstica mais provável?
A) CORRETA - Pressão arterial elevada seria entre A) Deficiência do sistema complemento.
p90 a p95, ou seja, entre 104x64 e 108x67. É a B) Agamaglobulinemia congênita.
correta, pois a PA sistólica é 106mmHg. 
C) Doença granulomatosa crônica.
B) INCORRETA - Hipertensão estágio 2 seria >p95 +
D) Imunodeficiência combinada grave.
12mmHg, ou seja, > 120x79.
C) INCORRETA - Hipertensão estágio 1 seria p95 a Resposta correta: A
p95 + 12mmHg, ou seja, entre 108x67 e 120x79.
D) INCORRETA - Pressão arterial normal seria até Comentários:
p90, ou seja, até 104x64. A questão trata de um paciente com imunodeficiência.
Imunodeficiências primárias (IDPs) são defeitos inatos
da imunidade, a maioria sendo causados por problemas
Take-Home Message:
genéticos. Podem acometer a imunidade inata (barrei-
Na criança, a definição do valor alterado de PA depen- ras cutâneas, fagócitos, linfócitos NK, complemento)
de do sexo, idade e altura. O valor é classificado em ou a imunidade adaptativa (linfócitos T e B, imuno-
normal, PA elevada, Hipertensão estágio 1 e hiperten- globulinas).
são estágio 2, de acordo com os percentis encontrados
Em geral, crianças com IDPs desenvolvem infecções
para PA sistólica e diastólica.
mais frequentes, mais severas e mais atípicas. Cada ca-
tegoria confere risco diferente para certas infecções. A
história familiar também deve ser considerada. Fami-
liares com doenças infecciosas raras, principalmente
homens da família materna. Consanguinidade também
chama atenção.
Failure to thrive numa criança com múltiplas infecções
deve chamar atenção para imunodeficiência.

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SIMULADO R1 - PEDIATRIA MAR 22 | 35

Os sinais de alarme para as IDPs mais graves (urgências Respostas


pediátricas), ou que requerem TMO, ou que causam
imunodesregulação, são: A) CORRETA - Deficiência do sistema complemen-
to é a resposta correta. Deficiência primária do
• Infecções fúngicas, virais ou bacterianas persisten- complemento causa infecções por organismos en-
tes ou graves capsulados. Deficiência de complemento tanto do
• Reação adversa a vacinas de germes vivos, em espe- início da cascata quanto da via terminal deve ser
cial BCG considerada em doença invasiva meningocócica,
como sepse ou meningite. Se tiver deficiência do
• Diabetes mellitus persistente ou outra doença au-
começo da via clássica (C1, C2, C3 e C4), tem
toimune ou inflamatória
mais suscetibilidade a outros encapsulados, como
• Quadro sepse-like sem identificação de agente in- pneumococo e hemófilos.
feccioso B) INCORRETA - Agamaglobulinemia congênita
• Lesões cutâneas persistentes cursa com deficiência de linfócitos B. Por isso, não
tem IgG, IgA, IgM e IgE. Ao desaparecerem os an-
• Diarreia persistente
ticorpos maternos, começam a ter IVAS tipicamen-
• Cardiopatia congênita com anomalias de vaso da te por encapsulados (pneumococo e hemófilos),
base principalmente micoplasma, salmonella, giardia.
• Atraso na queda do coto umbilical >30 dias C) INCORRETA - Doença granulomatosa crônica
ocorre por defeitos nos componentes do burst oxi-
• História familiar de imunodeficiência ou óbito pre-
dativo em organismos fagocitados pelos neutrófi-
coce por infecções
los. A forma mais comum ocorre por uma mutação
• Linfocitopenias e outras citopenias persistentes no cromossomo X, e portanto é mais frequente em
• Hipocalcemia meninos. Tem maior suscetibilidade a organismos
com catalase, como aureus, serratia, klebsiella,
• Ausência de imagem tímica burkholderia, aspergillus e nocardia, e o bacilo da
BCG. Pode acometer pele, pulmões, linfonodos, fí-
gado, baço, SNC e ossos.
D) INCORRETA - Imunodeficiência combinada gra-
ve SCID (severe combined immunodeficiency dise-
ase) é um exemplo clássico de deficiência primária
de células T. Infecções causadas por VSR, rinovírus,
parainfluenza, adenovírus, CMV e formas vacinais
atenuadas podem causar infecções severas. Doença
bacteriana ou fúngica invasiva também ocorrem.

Take-Home Message:
Nas imunodeficiências, ocorrem infecções mais fre-
quentes, mais severas e mais atípicas. Cada imunodefi-
ciência tem sua particularidade, mas existem sinais de
alarme gerais para todas.

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36 | MAR 22 SIMULADO R1 - PEDIATRIA

QUESTÃO 27 sem esteatorreia). O edema pode ser simétrico e gravita-


cional, pela hipoalbuminemia, ou assimétrico e localiza-
Menina, 2 anos, apresenta quadro de diarreia, sem do, associado a outras malformações linfáticas.
muco ou sangue, 3 vezes ao dia, aumento de volume
abdominal e déficit pondero-estatural há cerca de 1 A) INCORRETA - Na deficiência congênita de IgA,
ano. Concomitantemente apresenta edema de mem- o paciente não apresenta desnutrição proteica. A
bros inferiores, mais acentuado à direita, que segundo maioria dos pacientes é assintomático. Quando
a mãe, surgiu desde o nascimento. Mantém bom apeti- há sintomas, são decorrentes de perda de imuni-
te, família de classe média. Nega outras comorbidades. dade em mucosas, como infecções pulmonares
Pais hígidos, sem história de consanguinidade. Exames e gastrointestinais.
laboratoriais: Albumina = 2,0 g/dL (Valor de referência B) CORRETA - Linfangiectasia intestinal é a respos-
3,0 a 4,8 g/dL); Hemograma: Hb = 10,0 g/dL; GB = ta correta. O paciente tem desnutrição proteica,
7000 (linfócitos <2 x 109/L = linfopenia), plaquetas perda de proteínas nas fezes, diareria com estea-
normais; Gamaglobulina = 0,3 g/dL (valor de referên- torreia, e linfopenia. O quadro todo é compatível.
cia 0,6 a 1,79); Urina rotina normal; Ureia e creatina C) INCORRETA - A alfa-1-antripsina é uma enzi-
normais; Alfa-1-Antitripsina fecal = 0,9 mg/g fezes (va- ma sintetizada no fígado que protege o pulmão de
lor de referência <0,30); Esteatócrito = 5% (VR <2). destruição por elastase neutrofílica. Na deficiência,
Qual a principal hipótese diagnóstica para esta criança? ocorre acúmulo de polímeros no retículo endoplas-
A) Deficiência congênita de IgA. mático, causando estresse inflamatório e induzindo
apoptose de hepatócitos. Portanto os principais ór-
B) Linfangiectasia intestinal.
gãos acometidos são o fígado e o pulmão. O quadro
C) Deficiência de alfa-1-antripsina. clínico do caso da questão não é compatível.
D) Fibrose cística. D) INCORRETA - Fibrose cística poderia ser confun-
Resposta correta: B dido com o quadro em questão pela desnutrição e
má absorção intestinal, com esteatorreia e perda de
Comentários: proteínas nas fezes. Porém não cursa com linfope-
nia, nem com o edema assimétrico.
Paciente com quadro compatível com desnutrição pro-
teica (edema, hipoalbuminemia, déficit pôndero-esta-
tural), sem indícios de baixa ingesta (bom apetite e boa Take-Home Message:
condição financeira). Apresenta diarreia sem produtos A linfangiectasia intestinal causa:
patológicos, mas o esteatócrito indica má absorção de
gorduras. Seus exames evidenciam linfopenia e hipo- • Perda de proteínas nas fezes (alfa-1 antitripsina fecal
gamaglobulinemia, e alfa-1-antitripsina fecal é elevada. elevada, hipoalbuminemia  edema)

Tais achados são compatíveis com linfangiectasia in- • Perda de gordura nas fezes (esteatorreia, diarreia)
testinal, que é caracterizada por ectasia dos linfáticos • Perda de linfócitos para dentro do intestino (lin-
entéricos. Pode ocorrer perda de linfócitos para dentro fopenia com hipogamaglobulinemia).
do intestino, provocando linfopenia severa e hipoga-
maglobulinemia, muitas vezes sendo confundida com
SCID (imunodeficiência combinada grave).
Ocorre perda de proteínas pelo intestino, causando hi-
poalbuminemia e alfa-1-antitripsina fecal elevada. O pa-
ciente apresenta edema, perda de peso e diarreia (com ou

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SIMULADO R1 - PEDIATRIA MAR 22 | 37

QUESTÃO 28 Em crianças sem controle esfincteriano, a coleta pode


ser por sondagem vesical ou punção suprapúbica. Ou-
Em uma consulta de rotina a mãe refere que sua filha tra alternativa menos confiável é o saco coletor, mas
de 5 anos teve disúria e polaciúria, sem febre, por 3 precisa limpar muito bem o genital e só é útil quando
dias, há 10 dias atrás. Foi atendida na UPA sendo soli- vem negativa.
citado exame de urina, que foi coletado por jato médio.
Após avaliação do exame de urina tipo 1 foi prescrito Na urina 1, o nitrito e a esterase leucocitária são fre-
sulfametoxazol + trimetoprima (SMZ+T) VO e mar- quentemente positivos. A presença de leucocitúria tam-
cado retorno em 2 dias para checagem do resultado de bém contribui (>5/campo ou 10mil/ml), assim como
urocultura. A mãe refere que a criança está bem e que visualização de bactérias na microscopia (a bacteriúria
a sintomatologia desapareceu com 48 horas de trata- representa a presença de 10.000 UFC na cultura).
mento medicamentoso. Por isso resolveu aguardar a Para fechar o diagnóstico, precisa da cultura. Se a cul-
consulta de puericultura para avaliação do resultado da tura mostrar >1.000 colônias/mL de um patógeno úni-
cultura de urina. Antecedentes da criança: asma brôn- co em urina de sonda, ou >50-100.000 UFC em jato
quica e constipação intestinal funcional. Nega quadro médio, com urina 1 mostrando piúria ou bacteriúria
semelhante anteriormente. Exames trazidos pela mãe: em criança sintomática, existe ITU. No saco coletor, se
Urina tipo 1: densidade 1,012; pH 5, nitrito positivo, a cultura vier positiva precisa fazer a coleta por sonda.
proteína 50 mg/L, leucócitos 200-250 por campo, he- Se punção suprapúbica qualquer unidade de único pa-
mácias 20-30 por campo; Urocultura: 300.000 UFC/ tógeno sugestivo ou 1.000 UFC de gram positivo.
mL de E coli, sensível a sulfametoxazol + trimetoprima.
Não é necessário fazer exame de imagem para diag-
Qual a conduta mais adequada para esse caso? nosticar. Considerar USG se tiver suspeita de abscesso
A) Repetir exame de cultura de urina. renal, se evolução desfavorável após 2 dias de antibio-
ticoterapia, ITU com quadro sistêmico grave, doença
B) Manter seguimento regular de puericultura.
renal prévia.
C) Pedir ultrassonografia de rins e de vias urinárias.
O tratamento é iniciado empiricamente com cobertura
D) Realizar cintilografia estática com DMSA
Escherichia coli. Em menores de 3 meses, o tratamento
Resposta correta: B é parenteral; nos maiores de 3 meses pode ser por via
oral. Se houver febre na história, é necessário que o ní-
Comentários: vel de concentração do medicamento no parênquima
renal seja suficiente para tratar pielonefrite (não usar
Paciente de 5 anos com infecção urinária sem febre
nitrofurantoína e ácido nalidíxico).
causada por E.coli multisensível. As infecções urinárias
podem ocorrer em crianças de todas as idades, mas são No seguimento da criança com infecção urinária, exa-
mais comuns no primeiro ano de vida. mes de imagem são indicados para descartar malfor-
mações do trato urinário, mas não há consenso entre
Neste caso, encontramos na história uma possível causa
os protocolos. A maioria das diretrizes recomenda rea-
para a infecção urinária: a constipação. Em torno de 5
lização de ultrassonografia dos rins e bexiga como ava-
anos, há um pico de incidência após o desfralde, devido
liação inicial nos menores de dois anos apresentando
à disfunção vesicointestinal, cursando com constipação
pielonefrite. Outros exames, como uretrocistografia
associada à infecção urinária.
miccional e cintilografia renal com DMSA são solici-
A suspeita de infecção urinária é baseada nos sintomas, tados apenas em situações específicas.
urina 1 ou ambos. Cultura é necessária para confirmar
e fazer a terapia adequada. Urina de jato médio é sa-
tisfatória, contanto que seja feita higiene adequada.

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38 | MAR 22 SIMULADO R1 - PEDIATRIA

A) INCORRETA - Havendo resposta terapêutica e QUESTÃO 29


confirmação de sensibilidade no antibiograma, não
há necessidade de colher cultura de controle. Pré-escolar do sexo masculino, de 4 anos de idade, com-
pareceu a consulta rotina de puericultura. Pais não re-
B) CORRETA - Resposta correta, pois não há ne-
latavam queixas clínicas neste atendimento. Descrevem
nhum sinal de alarme na história indicando a ne-
boa alimentação e bom desenvolvimento global. Peso
cessidade de maior investigação. Acrescentaria nes-
e estatura ambos nos percentis 50 (P50) para idade e
ta resposta o tratamento da constipação funcional.
gênero. Pediatra observou mucosas levemente descora-
C) INCORRETA - A ultrassonografia de rins e de vias das (+/4+) ao exame clínico, e sem outros achados de
urinárias está apenas indicada se tiver suspeita de importância no exame físico. O paciente retorna hoje
abscesso renal, se evolução desfavorável após 2 dias (1 semana após) para avaliação de resultado de exame
de antibioticoterapia, ITU com quadro sistêmico hematológico solicitado na consulta prévia.Traz o se-
grave, ou doença renal prévia. Também pode ser guinte laudo de exame hematimétrico: eritrócitos 5,55
solicitada como investigação de malformações em milhões/mm³ (VN: 3,6 a 5,2); hemoglobina 10,40 g/
menores de dois anos apresentando pielonefrite. dL (VN: 11 a 13,1 g/dL); hematócrito 32,10% (VN:
Não é o caso desta paciente. 35,0 - 43,0%); VCM 57,83 fL (VN: 74,0 a 102,0 fL);
D) INCORRETA - A cintilografia estática com DMSA HCM 18,73 pg (VN: 23,0 a 31,0 pg); CHCM 32,39
tem diferentes indicações em cada guideline, mas g/dL (VN: 26,0 a 34,0 g/dL) RDW 13,6% (VN: 11,5
sempre em casos atípicos ou suspeitos para malfor- a 14,5%). Série vermelha: microcitose e hipocromia
mação. Não é o caso da nossa paciente. discretas; ausência de anisocitose. Com base nos dados
clínicos e laboratoriais apresentados, qual a alternativa
que corresponde a melhor conduta a ser adotada para
Take-Home Message:
o caso?
Na ITU simples, o diagnóstico é feito com urocultura,
A) Solicitar exame de eletroforese de hemoglobina.
e não é necessário fazer exames de imagem em todos os
pacientes. A disfunção vesicointestinal é causa de ITU B) Melhorar o aporte de ferro com alimentos ricos
em crianças constipadas. em ferro.
C) Prescrever ferro elementar (4 mg/k/dia) por 3 meses.
D) Pesquisar perda de sangue oculto nas fezes.
Resposta correta: A

Comentários:
Questão traz criança de 4 anos assintomática, com pa-
lidez identificada ao exame físico, levando à coleta de
hemograma. No hemograma temos:
• Hemoglobina 10,40 g/dL (VN: 11 a 13,1 g/dL) 
Baixa
• VCM 57,83 fL (VN: 74,0 a 102,0 fL)  baixo
• HCM 18,73 pg (VN: 23,0 a 31,0 pg)  baixo
• RDW 13,6% (VN: 11,5 a 14,5%)  normal

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SIMULADO R1 - PEDIATRIA MAR 22 | 39

A deficiência de ferro e anemia ferropriva é a deficiência A) CORRETA - A eletroforese de hemoglobina vai


de nutriente mais comum. Nenhum exame sozinho ca- contribuir para o diagnóstico da talassemia, que é
racteriza o status de ferro de uma criança. Sempre dosar o principal diagnóstico diferencial neste caso (ane-
hemoglobina, para detectar a anemia. No hemograma, mia hipocrômica microcítica com RDW normal).
além da anemia pode ter leucopenia e plaquetose. B) INCORRETA - Esta opção seria uma possibilidade
Um exame sugestivo de anemia ferropriva contém: se a suspeita principal fosse anemia ferropriva.
• Anemia (hemoglobina baixa) C) INCORRETA - Este é o principal tratamento para
anemia ferropriva, mas esta não é a principal sus-
• Microcitose (volume corpuscular médio baixo) peita.
• Aumento de RDW (indicando hemácias de dife- D) INCORRETA - Na anemia por perdas sanguíneas
rentes tamanhos: anisocitose) ocultas nas fezes, o perfil acaba sendo similar ao da
• Reticulócitos <0,5% (baixa resposta medular por ferropriva, pois as perdas levam a aumento de pro-
falta de substrato - o ferro) dução medular com maior consumo dos estoques
de ferro. Além disso, esta causa é mais comum em
Para diagnosticar a deficiência de ferro, pode-se utilizar
a ferritina, que com valores abaixo de 12mcg/L para <5 adultos que em crianças.
anos, e menores que 15ug/L para 5-12 anos, indicam
depleção dos estoques. Cuidado com inflamações, pois Take-Home Message:
é proteína de fase aguda (pode fazer uma dosagem si-
multânea de PCR para descartar inflamação). A anemia ferropriva tem no hemograma anemia hi-
pocrômica microcítica com RDW alargado. Se o
O tratamento da anemia ferropriva consiste em consu- RDW for normal, o principal diagnóstico diferencial
mo de alimentos com ferro biodisponível, e reposição é a talassemia, cujo diagnóstico é feito na eletroforese
de ferro por via oral com dose terapêutica de 3 a 5 mg/ de hemoglobina.
kg/dia de ferro elementar.
No entanto, no paciente da questão, apesar da anemia
hipocrômica microcítica, o RDW está normal, sem
anisocitose. Entramos então no diagnóstico diferencial
da anemia hipocrômica microcítica, sendo o principal
deles a talassemia.
A talassemia é um grupo de problemas genéticos na pro-
dução de cadeias globínicas, causando um desbalanço
entre alfa-globina e beta-globina. É uma patologia re-
lacionada à quantidade de cadeias, e não de qualidade;
quanto mais genes afetados, mais severa a doença.
Na beta talassemia, os heterozigotos com apenas uma
mutação geralmente são assintomáticos, ou tem ane-
mia leve com microcitose, e podem ser diagnosticados
erroneamente como anemia ferropriva. Um fator que
ajuda a diferenciar é o RDW normal, diferente da fer-
ropriva (que tem RDW aumentado).
O diagnóstico é feito através da eletroforese
de hemoglobina.

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40 | MAR 22 SIMULADO R1 - PEDIATRIA

QUESTÃO 30 cm, sua estatura sentado é de 84 cm e a relação estatura


total pela estatura sentada é de 0,6. Encontra-se impú-
Um paciente com 13 anos é avaliado por apresentar bere (G1P1). Sua idade óssea é de 12 anos. De acordo
problemas no crescimento. Nasceu a termo, peso ade- com os dados clínicos apresentados, a causa mais pro-
quado para a idade gestacional, DNPM adequado, não vável da baixa estatura deste paciente é?
tem histórico de doenças prolongadas, cirurgias ou uso
prolongado de medicações. É o único filho. Seu pai A) Deficiência isolada de hormônio do crescimento.
mede 167 cm; sua mãe mede 145 cm e teve menarca B) Hipopituitarismo.
aos 12 anos. Atualmente o paciente mede 140 cm (ver C) Displasia esquelética. 
curva abaixo, onde estaturas anteriores são apresenta- D) Variante da normalidade: baixa estatura constitucional.
das), seu IMC está no percentil 25, sua envergadura
é 134 cm, seu segmento inferior (púbis-pé) mede 66 Resposta correta: C

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SIMULADO R1 - PEDIATRIA MAR 22 | 41

Comentários: A) INCORRETA - Na deficiência isolada de hormô-


Questão traz um paciente com queixa de baixa estatu- nio do crescimento, a baixa estatura é proporcional.
ra. Vamos relembrar alguns conceitos. Também pode haver atraso de idade óssea.
B) INCORRETA - Hipopituitarismo pode causar bai-
O primeiro passo é saber se é mesmo baixa estatura: xa estatura por diversas deficiências hormonais (de
o Z-score da estatura deve ser <-2, ou estar 2 desvios- GH, de cortisol, de hormônios tireoidianos). No
-padrão abaixo da estatura alvo. Portanto, realmente o entanto, são todas causas de baixa estatura propor-
paciente tem este diagnóstico. cional, e cursam com atraso de idade óssea
O próximo passo é saber como está a velocidade de C) CORRETA - Displasia esquelética é a principal
crescimento. Lembrar que em nenhuma faixa etária as suspeita diante de baixa estatura desproporciona-
crianças crescem menos de 5cm/ano. VC baixa sempre da, como é o caso.
indica algum problema relacionado ao crescimento, e D) INCORRETA - Na baixa estatura constituciona,
demanda investigação de causas patológicas. ou familiar, a estatura alvo é baixa e não há atraso
Lembrar também das variantes normais do crescimen- de idade óssea, o que poderia ser compatível com o
to. Na baixa estatura familiar, a estatura alvo é baixa. quadro do paciente. No entanto, as variantes nor-
Ela é calculada fazendo a média das alturas dos pais da mais do crescimento causam baixa estatura propor-
criança, somando 6,5cm se for menino e subtraindo cional, que não é o caso em questão.
6,5cm se for menina. Já no atraso constitucional do
crescimento, a estatura alvo é normal; o paciente em
geral também apresenta atraso puberal, e por isso a sua Take-Home Message:
estatura é baixa para a idade, pois ainda não acelerou Na baixa estatura, devemos estar atentos também às
seu crescimento. proporções corporais, que podem apontar para displa-
No entanto, a questão segue por outro caminho: a bai- sias ósseas se houver baixa estatura desproporcionada.
xa estatura desproporcionada. Neste caso, a envergadu-
ra é 6cm menor que a estatura, e a estatura sentado é
grande proporcionalmente à estatura total, indicando
membros encurtados. Ao observar que o paciente apre-
senta baixa estatura desproporcional, a principal sus-
peita diagnóstica passa a ser displasia óssea.
Medidas adicionais são necessárias se houver baixa es-
tatura desproporcional (envergadura, relação segmento
superior/segmento inferior, altura sentada, tamanho
das mãos e dos pés, comprimento do antebraço). Exis-
te um valor de referência para cada faixa etária e sexo.
A displasia óssea mais comum é a acondroplasia, cujo
fenótipo consiste de baixa estatura desproporcional,
segmento proximal dos membros mais curto que o dis-
tal, macrocefalia, e deformidades nos dedos. A baixa
estatura se torna mais evidente a partir dos 2 anos.

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42 | MAR 22 SIMULADO R1 - PEDIATRIA

QUESTÃO 31 A cistite (infecção urinária baixa) em geral tem quadro


afebril, com sintomas baixos de disúria e polaciúria; já
Criança do sexo feminino, com 5 meses e previamente a pielonefrite cursa com febre, dor abdominal e queda
hígida, apresenta quadro de irritabilidade, dor abdomi- do estado geral.
nal, febre, mal-estar, náuseas e vômitos. Mãe nega epi-
sódios semelhantes anteriores. Realizado exame de urina Há maior predisposição para infecção urinária em
com o seguinte resultado: numerosos leucócitos; hemá- pacientes com refluxo vesicoureteral (RVU) e outras
cias: 20.000 mL; nitrito positivo; presença de contagem patologias do trato urinário, sejam estruturais ou fun-
bacteriana > 100.000 ufc/mL. Paciente foi internada e, cionais. Por isso, em pacientes abaixo de dois anos, é
após 24 horas de tratamento com antibioticoterapia, re- necessário descartar malformações do trato urinário,
cebe alta em bom estado geral e afebril. No seguimen- e a maioria das diretrizes recomenda realização de ul-
to ambulatorial. Em relação à investigação por imagem trassom de rins e bexiga para os menores de dois anos
desta criança, dentre as condutasabaixo, a melhor é apresentando pielonefrite.

A) Expectante e deve ser realizada após o segundo epi- Os possíveis exames são:
sódio de ITU. • Ultrassonografia dos rins e bexiga: avalia morfo-
B) Realizar uretrocistografia miccional após urocultu- logia, tamanho, obstrução, sinais de inflamação
ra negativa. aguda. É a triagem inicial de malformações, pois é
C) Realizar ultrassonografia de rins e vias urinárias muito disponível e pouco invasivo. Não avalia bem
em até 6 semanas. refluxo nem cicatrizes renais.
D) Realizar cintilografia renal com DMSA • Uretrocistografia miccional (UCM): padrão ouro
para detecção de refluxo. Cateteriza a uretra, injeta
Resposta correta: Letra C  contraste e faz RX durante a micção. Vê fase de
enchimento e esvaziamento da bexiga.
Comentários:
• Cintilografia renal com ácido dimercaptosuccínico
A infecção do trato urinário é a segunda infecção bacte- -tecnécio-99 (DMSA). Avalia morfologia e cicatri-
riana mais prevalente em pediatria, atingindo 8,4% das zes. Em geral, é feita 4-6 meses após episódio agu-
meninas e 1,7% dos meninos menores de sete anos de do. Não vê função.
idade (porém no primeiro ano de vida afeta igualmente
meninos e meninas). No momento, não há um único protocolo de investi-
gação, pois há divergências entre as diretrizes. Realizar
Na urina 1, o nitrito e a esterase leucocitária são fre- mais investigação pode detectar mais casos de refluxo
quentemente positivos. A presença de leucocitúria tam- vesico ureteral, mas com benefício questionável.
bém contribui (>5/campo ou 10mil/ml), assim como
visualização de bactérias na microscopia (a bacteriúria
representa a presença de 10.000 UFC na cultura).
Para fechar o diagnóstico, precisa da cultura. Se a cul-
tura mostrar >1.000 colônias/mL de um patógeno úni-
co em urina de sonda, ou >50-100.000 UFC em jato
médio, com urina 1 mostrando piúria ou bacteriúria
em criança sintomática, existe ITU. No saco coletor, se
a cultura vier positiva precisa fazer a coleta por sonda.
Se punção suprapúbica qualquer unidade de único pa-
tógeno sugestivo ou 1.000 UFC de gram positivo.

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SIMULADO R1 - PEDIATRIA MAR 22 | 43

A) INCORRETA - Nesta faixa etária (< 2 anos), a C) CORRETA - É recomendado realizar USG de
maioria das diretrizes concorda com a realização rins e vias urinárias para pacientes com ITU febril
de USG de rins e vias urinárias para pacientes com abaixo de 2 anos, para identificar as malformações
pielonefrite, pelo risco de malformações renais que urinárias que predispõe à recorrência da infecção.
predispõe à ITU. Portanto não devemos aguardar o D) INCORRETA - A cintilografia com DMSA não é
segundo episódio de ITU. o primeiro exame na investigação por imagem da
B) INCORRETA - A uretrocistografia miccional é in- ITU febril. Em geral, é recomendada para casos atí-
dicada para pacientes com alteração em outro exa- picos, com evolução ruim, ou com outro exame de
me (USG ou DMSA), por ser um exame mais in- investigação alterado.
vasivo. Pode ser recomendada em alguns guidelines
para meninos abaixo de 6 meses. Não é o caso da
nossa paciente.

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44 | MAR 22 SIMULADO R1 - PEDIATRIA

Take-Home Message: fatorial, tendo teorias que envolvem desde uma imatu-
No paciente menor de 2 anos com infecção urinária ridade do sistema nervoso autônoma até desajustes na
febril (pielonefrite), está recomendado pela maioria dos relação materno-fetal.
guidelines a realização de USG como triagem inicial Os critérios diagnósticos de Wessel, também conheci-
para malformações no trato urinário. Outros exames, dos como “regra dos 3”, apesar de não serem tão uti-
como cintilografia por DMSA e uretrocistografia mic- lizados na prática clínica, podem te ajudar a lembrar
cional, tem indicação mais restrita. algumas das características dessa dor: duram pelo me-
nos 3 horas, ocorrem pelo menos 3 dias por semana e
por pelo menos 3 semanas seguidas. Além disso, a dor
QUESTÃO 32 costuma aparecer mais no período noturno.
Menina, dois meses, é atendida no setor de emergência Não há tratamento específico para cólica. As medica-
com quadro de “”muito choro””. Os achados clínicos ções anti espasmódicas e para gases, frequentemente
que mais sugerem o diagnóstico de cólica são: utilizadas nos adultos, não mostraram evidência no alí-
A) crises de choro com duração de 2 a 6 horas/dia; vio das crises. O papel do pediatra é dar apoio e segu-
aparecimento de massa endurada na região inguinal rança à família para enfrentar as crises.
direita durante as crises de choro Relembrando os aspectos gerais do tema, vamos anali-
B) ganho ponderal ascendente no percentil 10 desde o sar cada caso clínico:
nascimento; crises de choro que ocorrem prepon- A) INCORRETA. Aqui temos um lactente com crises
derantemente pela manhã; choro com duração de 2 de choro, que duram pelo menos 3 horas, mas a
horas/dia por 5 dias na semana causa do choro parece ter uma explicação: massa
C) perda de peso desviando a da curva de crescimento durante as crises - uma provável hérnia inguinal?
ao nascimento; choro com duração de 2 horas/dia B) INCORRETA. Aqui temos crise de choros, com du-
por 4 dias na semana; crises de choro que ocorrem ração menor que 3 horas, que ocorre pela manhã.
preponderantemente no fim da tarde e início da C) INCORRETA. Aqui temos uma criança com perda
noite de peso e crises de choro menores do que 3 horas.
D) ganho ponderal ascendente no percentil 10 desde Provavelmente, a causa do choro é fome.
o nascimento; choro com duração de 3 a 4 horas/ D) CORRETA. Temos um lactente, em ganho de peso
dia por 4 dias da semana; crises de choro que ocor- adequado, com crises de choro de pelo menos 3
rem preponderantemente no fim da tarde e início horas, por pelo menos 3 dias/semana, sem causa
da noite aparente, principalmente no período da noite
Resposta correta: Letra D
Take-Home Message:
Temos aqui uma questão sobre uma das principais quei-
xas nas consultas de puericultura: a cólica do lactente. - A cólica do lactente é uma condição frequente e de
É uma questão que pede para o candidato escolher qual etiologia multifatorial, ainda desconhecida.
caso clínico mais se aproxima de uma possível cólica. - É caracterizada pela regra dos 3: duração de pelo
Para isso, vamos relembrar como é o quadro clínico da menos 3 horas, por 3 dias/semana, por 3 sema-
cólica e analisar cada uma das alternativas. nas seguidas.
A cólica do lactente é definida como o choro súbito, - Ocorre predominantemente no período vespertino
inexplicado e inconsolável, que ocorre em crises paro- (fim de tarde e começo da noite.
xísticas, onde o bebê se contorce, nos primeiros meses
de vida, com pico na 6ª semana. Sua etiologia é multi-

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SIMULADO R1 - PEDIATRIA MAR 22 | 45

QUESTÃO 33 O surgimento dos pelos pubianos (adrenarca) está rela-


cionado com a síntese e secreção de hormônios andro-
Pode-se afirmar, sobre o desenvolvimento dos caracte- gênicos na zona reticular da adrenal (DHEA e DHE-
res sexuais secundários, que: A-S), sendo uma regulação diferente da gonadarca. No
A) o primeiro sinal de puberdade feminina é o nasci- geral, o surgimento de pelos ocorre depois do início
mento dos pelos pubianos da puberdade, apesar da elevação desses hormônios já
B) a puberdade masculina ocorre cerca de um ano a ocorrer antes, Já a gonadarca está relacionada à secreção
um ano e meio mais tarde que a feminina pulsátil do GnRh, promovendo o aumento da síntese
do LH e FSH, sendo o marco da puberdade em ambos
C) o primeiro sinal de puberdade masculina é o nasci-
os sexos.
mento dos pelos pubianos
D) a menarca ocorre simultaneamente à telarca,na pu- Relembrado esses conceitos,
berdade
vamos as alternativas:
Resposta correta: Letra B
A) INCORRETA. A pubarca não está relacionada ao
Temos aqui uma questão bem direta e conceitual sobre eixo hipotálamo-hipófise-gônadas, não sendo mar-
puberdade. A questão exige que o candidato relembre co da puberdade. Seria a telarca.
o marco puberal em cada sexo e qual idade ele costuma B) CORRETA. A puberdade nas meninas pode ini-
ocorrer. Para lembrar, consideramos que o início da pu- ciar aos 8 anos e nos meninos por volta de 9 anos
berdade deve ocorrer e seu principal marco, conforme C) INCORRETA. O primeiro sinal de puberdade nos
o sexo: meninos é o aumento do volume testicular (> 4 cm³)
Meninas: D) INCORRETA. Espera-se que a menarca ocorra
Idade: entre 8 e 13 anos cerca de 2 anos após a telarca

Marco do desenvolvimento: telarca


Take-Home Message:
Evolução: marcada pela telarca, seguida da pubarca e,
cerca de 2 anos após, pela menarca (estadiamento de - A puberdade feminina ocorre entre os 8 e 13 anos e
Tanner M4P4) seu marco é a telarca;
Meninos: - A puberdade masculina ocorre entre os 9 e 14 anos e
seu marco é o aumento do volume testicular (maior
Idade: entre 9 e 14 anos
que 4 ml);
Marco do desenvolvimento: gonadarca
- A pubarca não está relacionada ao eixo hipotálamo-
Evolução: marcada pelo aumento do volume testicu- -hipófise-gônadas, sendo estimulada pela produção
lar (> ou = 4cm³), seguido pela pubarca e crescimen- de hormônios androgênicos na adrenal.
to peniano.
O estirão de crescimento ocorre entre os estágios 2-3
nas meninas e 3-4 nos meninos do estadiamento pube-
ral de Tunner. Além disso, espera-se que o adolescente
avance de estágio aproximadamente em 1 ano, não po-
dendo avançar em menos de 6 meses ou demorar mais
que 2 anos.

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QUESTÃO 34 ralmente de maneira simétrica, e ascendente, podendo


acometer até pares cranianos ou musculatura respirató-
Menina, 8 anos, com história de pneumonia tratada há ria, levando em raros casos, à insuficiência respiratória
cerca de 10 dias, evoluiu, há 3 dias, com dormência nos e até morte. A alteração neurológica é caracterizada por
pés. Nas últimas 48 horas, associaram-se quedas fre- uma paralisia flácida aguda, com abolição ou diminui-
quentes. Nega traumas ou uso de medicações. Exame ção dos reflexos tendinosos, com evolução ascendente
físico: sensibilidade normal; fraqueza dos tornozelos e e bilateral.
joelhos com preservação da força na altura do quadril.
Pode-se afirmar que: Também podem apresentar como sintomas sinais de
disautonomia, como taquicardia sinusal, bradicardia,
A) o prognóstico é reservado por ser uma encefalopatia hipertensão ou hipotensão e diaforese. No geral, a pro-
crônica progressiva gressão dos sintomas ocorre nas primeiras 2 semanas,
B) a eletroneuromiografia revelará condução nervosa sendo monofásico: ocorre uma progressão da doença,
normal que atinge um platô - que pode durar até meses - e re-
C) a punção lombar está contraindicada por não haver cuperação após. O prognóstico é bom, sendo que cer-
história de febre ca de 80% dos pacientes se recuperam completamente
D) ela deve ser tratada com imunoglobulina venosa após meses. A mortalidade ocorre em menos de 3%
dos casos.
Resposta correta: Letra D
O diagnóstico é clínico, pela combinação da história
clínica compatível e exame físico com os achados cita-
Temos aqui uma questão que apresenta um caso clínico
dos acima. Entretanto, alguns exames complementares
em que uma criança de 8 anos, após 1 semana de um
podem reforçar ainda mais seu diagnóstico:
quadro infeccioso, evoluiu com fraqueza nos membros
inferiores, que parece ter ocorrido progressivamente, • No líquor, a alteração típica é a dissociação albumi-
de maneira ascendente. Qual a neuropatia periférica nocitológica. Isso significa um aumento da protei-
ascendente que sempre devemos lembrar, ainda mais norraquia com celularidade normal
com história de um gatilho infeccioso? A Síndrome de • A eletroneuromiografia pode apresentar alterações
Guillain-Barré! típicas, relacionadas à anormalidades de condução
A Síndrome de Guillain-Barré (SGB) é uma doença • A ressonância magnética com preenchimento com
imunomediada dos nervos periféricos, de início agu- gadolínio pode mostrar padrão de desmielinização
do, geralmente com antecedente de quadro infeccioso
como gatilho há cerca de 1-3 semanas. É mais comum O tratamento de escolha é com imunoglobulina endo-
nos adultos, tendo pico de incidência entre 30-50 anos. venosa. Outra modalidade de imunoterapia utilizada é
a plasmaférese. Além do tratamento específico da do-
Diversos agentes etiológicos podem ser o gatilho para ença, deve ser realizada analgesia e medidas de profila-
a apresentação do quadro, mas podemos citar espe- xia para trombose venosa profunda. Mesmo após trata-
cialmente as bactérias “atípicas” de pneumonia (My- mento adequado, alguns pacientes podem permanecer
coplasma, Haemophilus), o Campylobacter do trato com sequelas motoras. O uso de corticoides, apesar de
gastrointestinal e alguns vírus como influenza, HIV, fazer sentido por ser um imunossupressor, não há evi-
EBV e até COVID. dências de que melhora o prognóstico da doença, não
Os casos mais clássicos da doença se manifestam com sendo indicado.
dor, parestesia e fraqueza nos membros, sem compro- Relembrado dos principais pontos da SGB,
metimento do sistema nervoso central ou de outras
causas óbvias. A fraqueza progride rapidamente, ge-

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SIMULADO R1 - PEDIATRIA MAR 22 | 47

vamos analisar as alternativas: Temos aqui uma questão difícil e direta, que exige do
candidato saber qual a causa mais provável para uma
A) Incorreta. A SGB é uma neuropatia periférica, com massa abdominal em recém-nascidos. Para responder
bom prognóstico. essa questão, precisamos lembrar as possíveis etiologias
B) Incorreta. Por ser uma neuropatia periférica, pode de massas abdominais e sua prevalência nessa faixa etária.
apresentar alterações na condução elétrica Pensando na topografia abdominal, a origem dessa massa
C) Incorreta. Não só causas infecciosas podem cursar é variada: pode ser renal, ovariana, gastrointestinal, hepa-
com déficits neurológicos, além de que a ausência tobiliar, pancreática, esplênica, adrenal ou genitourinária.
de febre não exclui infecção do SNC Além disso, temos tanto causas benignas quanto malignas,
D) Correta. O tratamento da SGB é feito com imu- sendo necessária avaliação completa com anamnese, exa-
noglobulina me físico com características e localização da massa, outros
sinais associados e os exames de imagem.
Lembrando que cerca de 50% das anomalias congê-
Take-Home Message:
nitas no recém-nascido são de origem genitourinária.
- A síndrome de Guillain-Barré aparecerá na sua
Entre as alterações urinárias que cursam com massa
prova como uma neuropatiaperiférica ascendente,
abdominal palpável estão as patologias obstrutivas do
bilateral, após 1-3 semanas de um gatilho infeccioso.
TGU, levando a hidronefrose e os rins policísticos, que
- O prognóstico no geral é bom, com recuperação com- são a segunda causa mais comum de massa palpável
pleta dos sintomas em até 80% dos casos. em flancos. O tumor de Wilms, apesar de ser o tumor
- Apesar de o diagnóstico ser clínico, os exames com- renal mais comum da infância, tem incidência menor
que as patologias obstrutivas.
plementares podem reforçar sua hipótese, princi-
palmente a dissociação proteinocitológica. Descartada as causas renais, especialmente no sexo femi-
nino, não podemos deixar de pensar nos cistos de ovários.
- O tratamento é com imunoglobulina. Não se
Apesar da sua pequena incidência, é uma causa importan-
usa corticoide.
te de massa abdominal, sendo a grande maioria benigna.
Outras causas que podemos citar: tumores hepáticos
QUESTÃO 35 (mais comum é o hepatoblastoma), cistos hepáticos,
neuroblastoma em sítio de adrenal, constipação intesti-
Ao realizar o exame físico imediatamente antes da alta nal, linfoma, sarcoma, entre outras.
hospitalar em uma RN de dois dias, nascida de parto
cesáreo a termo, palpa-se uma massa abdominal. Pode- Vamos analisar as alternativas:
-se afirmar que causa mais frequente de massa abdomi-
nal palpável nesta faixa etária é: A) Verdadeiro. Mais da metade dos casos de massa
abdominal são de origem renal, especialmente as
A) Hidronefrose benignas, como hidronefrose.
B) Tumor de Wilms B) Falso. Apesar de ser o tumor renal mais comum da
C) Cisto ovariano infância, sua incidência ainda é menor que a das
D) Hidrometrocolpos causas benignas.
C) Falso. Apesar de ser importante lembrar de seu
Resposta correta: Letra A diagnóstico diferencial no sexo feminino, a inci-
dência dos cistos ovarianos é baixa.
D) Falso. O hidrometrocolpos é um tumor pélvico que
pode cursar com massa abdominal, mas é raro.

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48 | MAR 22 SIMULADO R1 - PEDIATRIA

Take-Home Message: A doença falciforme é uma hemoglobinopatia autos-


- As causas mais comuns de massa abdominal no perío- sômica recessiva, em que as hemácias falciformes são
do neonatal são de origem renal formadas pela hemoglobina S, devido a uma mutação
genética. Diferente da hemoglobina “normal” (HbA),
- O tumor de Wilms é o tumor renal mais comum quando está em situação de hipóxia ou estresse, a HbS
da infância. polimeriza, levando à alterações estruturais, com per-
da de cátions e água, gerando a anemia hemolítica. A
destruição celular a nível de capilares obstrui os vasos,
QUESTÃO 36 tendo como consequência a anemia, crise álgica e lesão
Menina, 2 anos, portadora de doença falciforme e sem de órgão alvo.
história de internações prévias, apresenta quadro de fe- O diagnóstico é feito pela detecção de bandas S na ele-
bre seguida de dor abdominal difusa de início súbito troforese de hemoglobina e, lembrando, que faz parte
há cerca de 3 horas. Exame físico: fácies de dor; pali- da triagem neonatal (teste do pezinho). Após o diag-
dez; taquicardia; taquipneia; temperatura axilar=39,1 nóstico, além do seguimento de rotina, imunizações,
ºC; peristalse presente; dor difusa à palpação superfi- suplementação com ácido fólico e penicilina benzati-
cial e profunda do abdome com maior intensidade no na profilática, é importante orientar a família sobre as
quadrante superior esquerdo; baço palpável na altura principais complicações e como preveni-las. Para re-
da cicatriz umbilical. O diagnóstico mais provável e a lembrar, as principais complicações são:
conduta mais adequada, respectivamente, são:
A) sequestro esplênico/internação; monitorização hemo-
1. Crise Álgica:
dinâmica; solicitação de hemograma, reticulócitos e
amostra de sangue para possível hemotransfusão É a principal complicação e a mais frequente causa de
B) crise álgica/analgesia parenteral; observação na internação. A dor ocorre pela oclusão dos capilares san-
emergência e, caso haja melhora, alta com analgesia guíneos, tendo como principais desencadeantes o frio,
oral e orientação de retorno em 48 horas os quadros infecciosos, a hipóxia, esforço físico e desi-
dratação. O paciente deve ser internado, mantida boa
C) crise aplásica/internação; solicitação de hemograma,
hidratação, analgesia com frequente uso de opióides e
reticulócitos e amostra de sangue para possível he-
pode haver necessidade de exames laboratoriais confor-
motransfusão
me quadro clínico.
D) síndrome torácica aguda com repercussão abdo-
minal / solicitação de radiografia de tórax; manejo 2. Síndrome Torácica Aguda: (STA):
ambulatorial com antibióticos de amplo espectro; A STA é definida como infiltrado pulmonar novo (ex-
orientação de retorno em 36 horas ceto atelectasias) associado à pelo menos um dos se-
guintes sintomas:
Resposta correta: Letra A
• febre
Temos aqui uma questão com uma criança com anemia • dor torácica
falciforme, com quadro de febre associado a dor em
QSE, palidez, taquicardia, taquipneia e esplenomega- • taquipneia
lia. A questão exige que o candidato analise o quadro • hipoxemia
clínico e indique a complicação mais provável da doen-
• desconforto respiratório
ça de base. Para entendermos melhor a questão, vamos
relembrar a fisiopatologia da anemia falciforme e suas
principais complicações.

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SIMULADO R1 - PEDIATRIA MAR 22 | 49

É a principal causa de morte na doença falciforme, tan- Outras complicações: priapismo, colecistite, necrose
to em crianças quanto em adultos. A principal etiologia avascular de grandes ossos, vaso-oclusão mesentérica,
é a infecciosa, sendo os principais agentes o pneumo- entre outras.
coco e os germes atípicos (Micoplasma, Clamídia) e o Relembrada as principais complicações, vamos analisar
vírus da Influenza. as alternativas:
O tratamento é feito em regime de internação hospi- A) Verdadeira. Temos uma criança apresentando uma
talar, com hidratação, analgesia, antibioticoterapia (ce- palidez importante associada à esplenomegalia e
falosporina de 3ª geração + macrolídeo), Beta2 Adre- repercussão hemodinâmica, com taquicardia e
nérgico de curta duração, oxigenioterapia e fisioterapia taquipneia. Provavelmente trata-se de um qua-
respiratória. Além disso, devem ser coletados hemocul- dro de sequestro esplênico, sendo o tratamento
tura e hemograma completo, para avaliar necessidade com hemotransfusão.
de transfusão de concentrado de hemácias e até mesmo
redução de HbS. B) Incorreta. A crise álgica geralmente caracteriza-se por
dor em membros, sem repercussões hemodinâmicas.
3. Sequestro esplênico: C) Incorreta. Apesar de a crise aplásica cursar com ane-
É a segunda causa de morte em crianças. Geralmente mia importante com febre associada, não justifica-
ocorre nos primeiros 5 anos de vida e pode ser recidivan- ria a esplenomegalia aguda.
te. O baço “rouba” as hemácias da corrente sanguínea. D) Incorreta). Apesar da taquipneia descrita, o pacien-
Os sinais clínicos principais são: o aumento súbito do te não tem outros comemorativos para pensar em
baço e a redução intensa da Hb, podendo evoluir para acometimento pulmonar, como tosse, hipóxia, des-
choque hipovolêmico. conforto respiratório ou RX com novo infiltrado.
O tratamento é feito em regime hospitalar, com coleta
de hemograma e transfusão de concentrado de hemá- Take-Home Message:
cias. Pode ser feita expansão volêmica com cristaloides A anemia falciforme é uma doença genética que produz
até a disponibilidade do CH. uma hemoglobina “diferente” (HbS). Em situações de
A esplenectomia está indicada após duas crises de se- estresse, essas hemácias polimerizam, levando as com-
questro esplênico ou após um primeiro episódio grave plicações das doenças.
4. Acidente Vascular Cerebral A complicação mais comum é a crise álgica, que tem
Na criança, o mais comum é o AVC isquêmico, mas como principais desencadeantes o frio, infecções, hipó-
pode ser hemorrágico também. Os sinais são sintomas xia. Tratamento é feito com base em analgesia.
neurológicos focais, convulsões, ataxia, etc. O diagnós- A complicação com maior mortalidade é a síndrome
tico é feito com exame de imagem e o tratamento é torácica aguda, definido como novo infiltrado pulmo-
feito com transfusões para diminuição da HbS. nar associado a um dos seguintes sinais: febre, dor to-
5. Crise aplásica: rácica, hipoxemia ou taquidispneia.

É a anemia grave ou pancitopenia decorrente da su- O sequestro esplênico é definido como esplenomega-
pressão da medula óssea, de etiologia principalmente lia aguda associada à anemia intensa, podendo evoluir
infecciosa (Parvovirus B19). O quadro clínico é de para choque volêmico.
febre, anemia importante e reticulócitos baixos. Pode A crise aplásica é a anemia ou pancitopenia aguda,
ser feito mielograma e sorologias virais para comple- geralmente de etiologia infecciosa, sendo o principal
mentação. O tratamento é de suporte, com regressão agente o Parvovírus B19.
espontânea em 5-10 dias.

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50 | MAR 22 SIMULADO R1 - PEDIATRIA

QUESTÃO 37 A) Repetir o salbutamol; solicitar Rx do tórax; não


ofertar oxigênio suplementar
Menina, 12 anos, portadora de asma em acompanha-
B) Não repetir o salbutamol; prescrever corticoide oral
mento irregular, é admitida com desconforto respirató-
e solicitar Rx do tórax
rio e tosse pouco produtiva, de início há 6 horas. O pai
informou que administrou 20 “”jatos”” de salbutamol C) Repetir o salbutamol; prescrever corticoide oral e
a cerca de 20 minutos. Exame físico, incompleto, pois ofertar oxigênio suplementar
a criança só aceita ficar sentada: fala entrecortada; agi- D) Iniciar agonista de longa duração do receptor beta
tação; frequência respiratória = 42 irpm; SpO2 = 91%, adrenérgico e corticoide oral
em ar ambiente; batimento de asa de nariz; retração
Resposta correta: Letra C
de fúrcula e tiragem intercostal. O manejo inicial mais
adequado é:
Temos aqui uma paciente de 12 anos com crise de asma.
Lembrem-se que para entendermos como tratar a crise
asmática, é importante entendermos qual o grau de gra-
vidade da crise, para definir quais intervenções faremos.
Coloco abaixo tabela adaptada do GINA de 2010:

Tabela adaptada do GINA 2010

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SIMULADO R1 - PEDIATRIA MAR 22 | 51

Ao analisarmos, classificamos nossa paciente com cri- Relembrado os pilares do tratamento da asma,
se de asma no mínimo grave, já que apresenta SatO2
< 95%, sinais de desconforto respiratório importante, vamos analisar as alternativas:
fala entrecortada, agitação e preferência por ficar sen-
tada. Sabendo disso, nosso tratamento da crise será fei- A) Incorreta: Está indicado o uso de salbutamol, po-
to com: rém está indicado uso de O2 suplementar pela hi-
poxemia e dispneia
1. Beta2 agonista de curta duração - SABA (ex: salbu-
B) Incorreta. Apesar da dose alta ofertada pelo pai, não
tamol): São broncodilatadores utilizados em todas as
tem problema repetir o salbutamol e, inclusive, há
exacerbações, independente da gravidade. A sequência
indicação, já que a criança mantém taquidispneia
inicial é feita com 3 resgates a cada 20 minutos, via
importante
inalatória, podendo ser repetida. A dose para crianças
maiores de 10 anos é de 800 a 1000 mcg (8 a 10 jatos). C) Correta. Verdadeiro. Vimos que há indicação de
CE via oral, repetir o salbutamol e ofertar O2
2. Brometo de ipratrópio: derivado da atropina, tem
D) Incorreta. O uso de broncodilatador de longa dura-
ação anticolinérgica, levando a broncodilatação e redu-
ção é controle intercrítico
ção da secreção. Utilizado sempre em associação com o
SABA nas crises graves.
3. Corticosteróides sistêmicos (CE): essencial no tra- Take-Home Message:
tamento das exacerbações, sendo realizado inclusive - O manejo da crise asmática da emergência depende
nas exacerbações leves, pela ação anti-inflamatória, ace- da classificação da doença (leve, moderada ou grave).
lerando a recuperação e reduzindo recidivas. Deve ser
- Nas crises graves, está indicado uso de salbutamol em
administrado preferencialmente via oral, mas pode ser
associação com uso de ipratrópio.
utilizado via endovenosa nas crises graves.
- A saturação de oxigênio alvo para crise asmática é
4. Sulfato de magnésio: O aumento da concentração
maior ou igual a 94%.
de magnésio, leva a um efluxo de cálcio, levando ao re-
laxamento da musculatura lisa e consequente bronco-
dilatação. É uma medicação utilizada nas crises graves,
QUESTÃO 38
quando não há resposta ao tratamento com SABA.
Assim, nossa criança teria indicação de fazer o salbu- RN com duas horas de vida, está taquicárdico, taquip-
tamol associado com ipratrópio e o corticosteróide via neico e com SpO2=69% em ar ambiente (sem melhora
oral. Além disso, como esta com SatO2 < 94%, está com oxigênio suplementar). Exame físico: hiperfone-
indica;do o uso de oxigênio suplementar. se da segunda bulha cardíaca; sem sopros. Radiografia
do tórax: trama vascular pulmonar aumentada; estrei-
tamento do mediastino e área cardíaca diminuída. A
conduta imediata, mais adequada, é:
A) correção cirúrgica de defeito de septo atrioventricular
B) iniciar tratamento com digoxina
C) valvuloplastia da estenose pulmonar
D) iniciar tratamento com prostaglandina E
Resposta correta: Letra D

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52 | MAR 22 SIMULADO R1 - PEDIATRIA

Temos aqui uma questão de um recém-nascido apre- As cardiopatias com circulação em paralelo (ex: trans-
sentando taquicardia, taquipnéia, hipoxemia (SatO2 posição das grandes artérias) apresentam cianose pre-
69% em ar ambiente) e provavelmente com algum grau coce e acentuada taquidispneia, com área cardíaca
de hipertensão pulmonar, já que temos hiperfonese de normal ou pouco aumentada e trama vascular pulmo-
segunda bulha e trama vascular aumentada. Estamos nar aumentada.
diante de um provável caso de cardiopatia congênita Para finalizar, as cardiopatias críticas que não depen-
cianosante, com hiperfluxo pulmonar, sem sinais de dente do CA, como as de shunt misto (ex: truncus) ou
congestão. Vamos relembrar esse grupo de patologias com grande shunt E-D (ex: defeitos septais amplos), a
para entender a questão. taquipneia pode surgir mais tardiamente, após a segunda
Na maternidade, ao nascer, um dos papeis do pediatra semana de vida, à medida que a RVP e a taxa de hemo-
é reconhecer precocemente as cardiopatias congênitas globina diminuem.O RX de tórax mostra área cardíaca
críticas, que são aquelas em que as manifestações clí- aumentada e aumento da trama vascular pulmonar.
nicas são decorrentes do fechamento do canal arterial. Vale ressaltar que, mesmo nas cardiopatias com fisio-
Nesses casos, as manifestações costumam ser preco- logia canal dependente, até 30% dos pacientes podem
ces, já nos primeiros dias de vida. Relembrando um ser assintomáticos nos primeiros dias de vida. Por isso,
pouco de fisiologia, durante a transição da circulação foi estabelecido o teste neonatal para triagem de car-
fetal, ocorre diminuição resistência vascular pulmonar diopatias congênitas cianosantes: o teste do coraçãozi-
(RVP) ao nascer e, como consequência, fechamento nho. Esse teste deve ser realizado com 24h a 48h de
do canal arterial, ocorre o aparecimento dos sintomas, vida, realizando a medida de saturação do membro
mais comuns a cianose, taquipnéia, choque cardiogêni- superior direito e algum membro inferior. O diagnós-
co e sopro cardíaco. tico definitivo da cardiopatia congênita é feita com
Essas cardiopatias podem ser divididas em três gran- o ecocardiograma.
des grupos: O tratamento é feito com a cirurgia de correção espe-
1. Cardiopatias com fluxo pulmonar dependente do cífica para cada doença. Entretanto, para garantirmos
canal arterial: Atresia pulmonar e similares uma oxigenação e perfusão adequadas, é importante
2. Cardiopatias com fluxo sistêmico dependente do que o canal arterial seja mantido funcionando. Para
canal arterial: Síndrome de hipoplasia do coração es- isso, pode ser feita infusão de prostaglandina E, que
querdo, coartação de aorta crítica e similares promove a vasodilatação do CA e mantém ele aberto.

3. Cardiopatias com circulação em paralelo: transposi- Assim, voltando ao caso da questão, provavelmente te-
ção das grandes artérias mos uma cardiopatia congênita crítica, provavelmente
de fluxo pulmonar dependente de canal arterial, sendo
Entre as cardiopatias com fluxo pulmonar dependen- a prostaglandina necessária para manter o fluxo sanguí-
te do CA, como a atresia pulmonar, o quadro clínico neo adequado.
é uma hipoxemia que não responde à oxigênio, sem
sinais de desconforto respiratório significativo e trama
vascular pobre ao RX de tórax.
Jás as cardiopatias com fluxo sistêmico dependente
de canal arterial (ex: sd de hipoplasia do coração es-
querdo) apresentam baixo débito sistêmico e con-
gestão venosa pulmonar evoluindo para choque, RX
com cardiomegalia e trama pulmonar aumentada.

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SIMULADO R1 - PEDIATRIA MAR 22 | 53

Analisando as alternativas, Temos aqui uma questão em que a banca descreve um


temos: quadro compatível com o de sarampo, reforça que não
se sabe o estado vacinal e ainda te dá a provável hi-
A) Incorreta. Os defeitos de septo para gerarem hi- pótese diagnóstica. O desafio aqui é lembrar sobre as
poxemia e shunt, devem ser defeitos extensos, que complicações da doença. Vamos fazer uma revisão de
provavelmente se manifestam mais tardiamente, sarampo para entender a questão.
não sendo a primeira hipótese.
O Sarampo é uma doença importante de ser estudada,
B) Incorreta. Temos uma alteração estrutural do coração e já que, do ponto de vista epidemiológico, veio à tona
não uma falha de bomba para pensarmos em digoxiina nos últimos anos. Era uma doença erradicada no Brasil,
C) Incorreta. Apesar da estenose pulmonar ser uma mas em 2018 apresentou um surto, tanto pela vinda
possibilidade - pequena devido o hiperfluxo pul- “externa” do vírus quanto pela diminuição da cobertu-
monar - a conduta imediata é garantir o CA aberto ra vacinal no país.
D) Correta. Conforme vimos, nas cardiopatias críticas, O quadro clínico suspeito é caracterizado por: Febre
a conduta mais importante é a manutenção do CA alta, acima de 38,5°C, exantema maculopapular mor-
biliforme, tosse seca (inicialmente), coriza, conjuntivite
Take-Home Message: não purulenta e manchas de Koplik, que é definida por
pequenos pontos brancos amarelados na mucosa bucal,
As cardiopatias congênitas críticas são aquelas depen- na altura do terceiro molar, antecedendo ao exantema.
dentes do canal arterial. Esse sinal é patognomônico da doença. A evolução na-
O teste do coraçãozinho é o método de triagem na ma- tural da doença pode ser dividida em três períodos:
ternidade dessas cardiopatias, sendo realizado entre 24- 1. Período de infecção: duração de cerca de 1 sema-
48h de vida. na. Inicia com febre acompanhada de tosse, coriza,
As prostaglandina é a droga utilizada para manter o ca- conjuntivite e fotofobia. Por volta do 3º dia, surge o
nal arterial aberto nas cardiopatias congênitas críticas. exantema maculopapular morbiliforme com áreas de
confluência, de evolução craniocaudal
2. Período toxêmico – período onde ocorrem as com-
QUESTÃO 39 plicações, principalmente nas crianças menores do que
Adolescente, 17 anos, que desconhece o seu estado va- 2 anos.
cinal, é admitido com história de febre alta, cefaleia, 3. Remissão: Melhora dos sintomas, exantema pode
tosse e conjuntivite há 10 dias, além de apresentar se tornar escurecido e com descamação furfurácea
exantema macular, confluente no tronco e face, nos úl-
Em relação às complicações relacionadas ao sarampo,
timos 7 dias. Suspeita-se de sarampo.Neste Contexto,
a principal é a otite média aguda. Vejam esse quadro
pode-se afirmar que:
retirado do Fluxograma de Atendimento do Sarampo,
A) a complicação mais comum é meningoencefalite viral do Ministério da Saúde:
B) o exame da orofaringe revelará manchas de Koplik
C) deve-se recomendar administração de vitamina A
D) o uso de corticoide sistêmico é recomendável para
evitarem-se complicações
Resposta correta: Letra C

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54 | MAR 22 SIMULADO R1 - PEDIATRIA

Retirado do fluxograma de atendimento de Sarampo, Ministério da Saúde, 2019

O diagnóstico é feito com anticorpos específicos para Não há tratamento específico. Alguns estudos apontam
sarampo (IgM e IgG) e, se disponível, talvez seja ne- que o uso de vitamina A pode reduzir a mortalidade e
cessário teste de reação em cadeia de polimerase de a morbidade da doença. É recomendada uma dose ao
secreção orofaríngea, urina e sangue ou isolamento diagnóstico e uma segunda dose 24h após. A dose da
do vírus. Em casos de surto instalado, o diagnóstico vitamina A está apresentada na tabela abaixo:
pode ser feito pelo quadro clínico compatível e víncu-
lo epidemiológico.

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SIMULADO R1 - PEDIATRIA MAR 22 | 55

Retirado do fluxograma de atendimento de Sarampo, QUESTÃO 40


Ministério da Saúde, 2019
Recém-nascido (RN), 25 dias, é atendido com história
Relembrado os aspectos gerais do sarampo, de “”vômitos biliosos”’ há cerca de 6 horas. Exame físi-
co: apático; sonolento; desidratado; hipocorado; perfu-
vamos analisar as alternativas: são periférica lentificada; abdome difusamente disten-
dido. Radiografia simples do abdome: “”pobreza”’ de
A) Incorreta. A meningoenfecalite é uma complica-
gás intestinal. A hipótese diagnóstica mais provável é:
ção importante do sarampo, pelo risco de sequelas
neurológicas, mas é uma complicação rara. A mais A) volvo do intestino médio
comum é a otite médida aguda B) estenose hipertrófica do piloro
B) Incorreta. As manchas de Koplik são patognomô- C) atresia jejuno ileal tipo 1
nica para o Sarampo, porém não estão presente em D) invaginação intestinal aguda
todos os casos da doença
C) Correta. O uso de vitamina A está indicado no Resposta correta: Letra A
tratamento do sarampo
Temos aqui um caso clínico de um RN de 25 dias, que
D) Incorreta. Não há evidências de que o uso de corti-
iniciou subitamente um quadro de abdome agudo obs-
coide melhore o prognóstico da doença.
trutivo, com vômitos biliosos, instável hemodinamica-
mente e com RX de abdome mostrando pouco ar no
Take-Home Message: intestino. Todos esses achados são compatíveis com um
quadro de abdome agudo obstrutivo. Vamos relembrar
- O quadro clínico do sarampo é caracterizado por fe-
os diagnósticos diferenciais de abdome agudos obstru-
bre, tosse, coriza, conjuntivite e exantema maculo-
tivo nessa faixa etária para discutirmos as alternativas.
papular morbiliforme, de progressão cranio caudal.
Atresia de esôfago:
- As manchas de Koplik são um sinal patognomônico
da doença, mas pode não estar presente em todos Condição congênita, em que ocorre uma interrupção
os casos. da luz do esôfago, podendo ter comunicação com a
traqueia. Geralmente diagnosticado na maternidade,
- A meningoencefalite é uma complicação rara, mas
em um RN em que nasce taquipneico, sialorreia e com
com potencial risco de morbimortalidade.
vômitos desde o nascimento. Diagnóstico pode ser fei-
- A única medicação específica indicada é a vitamina A, to com RX com contraste iodado/bário, mostrando
feita em duas doses. a interrupção.
Atresia de duodeno:
Ocorre uma obstrução do duodeno congênita, poden-
do ser extrínseca como pâncreas anular emá rotação
intestinal ou intrínseca, como a membrana duodenal.
O achado clássico no RX abdominal é o sinal da dupla
bolha (bolha gástrica e a obstrução duodenal).
Estenose hipertrófica do piloro
É a hipertrofia da musculatura do piloro, de etiologia
desconhecida, que aumenta progressivamente, até o
momento em que se obstrui a passagem dos alimentos,

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56 | MAR 22 SIMULADO R1 - PEDIATRIA

com vômitos não biliosos - já que a obstrução é altA) vamos às alternativas:


após todas as mamadas. O pico da incidência é de 4 a
6 semanas. A) volvo do intestino médio
Verdadeira. Temos um quadro clínico compa-
Tríade clínica clássica: palpação de oliva na topografia
tível com volvo, onde temos um RN com sinais
gástrica, peristaltismo visível e vômitos não biliosos.
de abdome agudo obstrutivo, com sinais de cho-
Intussuscepção/invaginação intestinal aguda que associado.
Ocorre a “entrada” de uma alça em outra, de etiologia B) estenose hipertrófica do piloro
desconhecida. A topografia mais comum é a íleo-cecal Falso. Pela obstrução alta, não teríamos vômitos de
e o pico de incidência é de 3 a 8 meses. A clínica é ca- conteúdo biliosos
racterizada por dor abdominal intensa, em cólica, com C) atresia jejuno ileal tipo 1
períodos de acalmia. Apresenta também fezes muco
Falso. Por ser uma condição congênita, teríamos os
sanguinolentas ou em geleia de framboesa. No exame
primeiros sinais nas primeiras horas de vida.
físico, pode ser palpável a invaginação.
D) invaginação intestinal aguda
Volvo intestinal
Falso. A idade e o quadro obstrutivo é até compatí-
É a torção de uma porção do intestino, levando à is- vel com invaginação, mas geralmente está associado
quemia e necrose. É um quadro clínico de urgência, à fezes muco sanguinolentas e não costuma evoluir
geralmente cursa com sinais de choque, associado à dis- rapidamente para instabilidade hemodinâmica.
tensão abdominal, vômitos biliosos e dor intensa. Pode
também apresentar sangue nas fezes. O RX de abdome
simples não apresenta sinais específicos além dos clás- Take-Home Message:
sicos de obstrução: ausência de ar no reto, dilatação de - Os principais sinais de abdome agudo obstrutivo no
alças. Se o RX for feito com contraste ou pelo ultras- RN são distensão abdominal dolorosa e vômitos bi-
som, podemos ver o sinal do “saca rolha”. liosos. As principais alterações no raio-x abdominal
Atresia de jejuno-íleo são: ausência de ar no reto, dilatação de alça, edema
de parede de alça e sinal da dupla bolha.
Condição congênita, geralmente associada a condições
isquêmicas intra-útero. RN evolui rapidamente com - O volvo de intestino costuma cursar com sinais de
distensão abdominal, vômitos biliosos, sem apresenta- instabilidade hemodinâmica, além dos sinais de
ção de mecônio. obstrução intestinal.

Para relembrar: Uma das causas de obstrução ileal é o - A estenose hipertrófica do piloro tem seu pico de in-
íleo-meconial, associado à fibrose cística. cidência entre 4 a 6 semanas e sua tríade clássica é:
palpação de oliva em epigástrio, peristaltismo visí-
Relembrado os aspectos gerais de cada diagnósti- vel e vômitos não biliosos.
co diferencial,
- As fezes clássicas da invaginação intestinal é em geleia
de framboesa

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SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA MAR 22 | 57

CLÍNICA MÉDICA
QUESTÃO 41 “iminente” são: taquidispneia, ortopneia, uso de
musculatura acessória, tosse ineficaz com obstrução
A respeito da miastenia gravis, assinale a alternati- brônquica, inquietação, insônia, ansiedade, sudore-
va incorreta: se, taquicardia e hipertensão.
A) É uma doença de junção mioneural e frequente- D) INCORRETA. RESPOSTA DA QUESTÃO.
mente se manifesta com ptose palpebral, geralmen- Complementando a explicação da alternativa
te no final do dia. anterior, as principais causas de uma crise mias-
B) A diplopia é frequente. tênica são: infecções, interrupção do tratamento
C) A crise miastênica geralmente se manifesta por ta- imunossupressor, cirurgias e uso inadvertido de
quipneia, ansiedade, cianose e hiperidrose. medicamentos, como antibióticos (quinolonas,
macrolídeos, aminoglicosídeos) e outros fárma-
D) São fatores desencadeantes de surto miastênico
cos, incluindo cloroquina. Agora, fadiga por si só
quadros infecciosos, fadiga, uso de cloroquina.
não é uma causa de descompensação da doença, e
E) É mais comum em adultos jovens e no sexo feminino. sim um sintoma comum.
Resposta correta: Letra D (OPÇÃO E) – CORRETA. A miastenia gravis de iní-
cio precoce – aquela que acontece em pacientes an-
Comentários tes dos 50 anos de idadE) é muito mais comum
em mulheres (chegando até a 70% de acordo com
Questão super direta do IAMSPE, que nos fornecia
algumas estatísticas).
cinco alternativas, e o autor queria saber qual era a
FALSA (cuidado, pessoal!).
Take-Home Message:
Conforme formos analisando as alternativas, aproveita-
remos para fazer uma boa revisão sobre o tema, como A miastenia gravis adquirida é uma doença autoimune,
de praxe no nosso QBANK! e ocorre através do “ataque” de auto anticorpos contra
receptores de acetilcolina, em torno de 80% dos ca-
A) CORRETA. A miastenia gravis é a principal doen-
sos, e contra o receptor MuSK, em torno de 5% das
ça da junção neuromuscular do adulto, e sua prin-
vezes. Sua principal característica clínica é a fatigabi-
cipal característica é a presença de fraqueza e fadiga
lidade e flutuação dos sintomas ao longo do dia – o
muscular que pioram ao longo do dia. Geralmente
paciente acorda “bem”, e vai piorando ao longo do dia.
os sintomas se iniciam na musculatura ocular ex-
O diagnóstico é feito através da eletroneuromiografia
trínseca e no músculo levantador da pálpebra, le-
e da pesquisa desses auto anticorpos. Já o tratamento
vando à diplopia e ptose, respectivamente.
é realizado através de drogas sintomáticas (Piridostig-
B) CORRETA. A diplopia é um dos principais sinto- mina) e imunossupressoras (corticoides, azatioprina,
mas da miastenia gravis, e é justificada pelo acome- micofenolato, imunoglobulina).
timento do músculo reto medial (oftalmoparesia).
C) CORRETA. A crise miastênica é a complicação
mais temida da doença, pois é uma descompensa-
ção grave, que resulta em uma fraqueza muscular
generalizada, também dos músculos respiratórios,
levando o paciente à insuficiência respiratória agu-
da. Os sinais clínicos mais comuns de uma crise

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58 | MAR 22 SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA

QUESTÃO 42 Resposta correta: Letra C

Paciente com constipação intestinal crônica, já tendo Comentários:


usado fibras laxativas, hidratação adequada e exercícios
físicos diários. Qual sua próxima conduta terapêutica? Para respondermos essa questão, é importante relem-
brarmos os principais mecanismos de ação dos laxantes
A) laxativos estimulantes (senna) disponíveis em nosso meio.
B) enemas a cada 3 dias
C) laxativos osmóticos
D) solicitaria parecer da coloproctologia quanto a op-
ção cirúrgica

Classe Exemplos Mecanismo de ação Comentários


Formadores de massa Psyllium, Fibras São polissacarídeos naturais São simples, procuram se
dietéticas, ou sintéticos ou derivados aproximar dos mecanismos
Policarbofila de celulose que absorvem, fisiológicos da evacuação. É
aumentando o bolo fecal uma das primeiras opções na
abordagem da constipação
(ou mesmo A primeira em
algumas referências)
Osmótico Polietilenoglicol, Atraem líquido para o lúmen Pode cursar com distensão
Lactulose, intestinal para manter a abdominal, gases (mais
hidróxido de osmolaridade lactulona). Apesar da absorção
magnésio de magnésio ser limitada,
pacientes com insuficiência
renal podem cursar com
HiperMg com uso de
hidróxido de magnésio
Estimulante Bisacodil, Alteram o transporte de Início de ação geralmente mais
Picossulfato de eletrólitos pela mucosa rápido, mas com mais cólica.
sódio, Sene intestinal e estimulam a Apesar de muito citado, não
atividade motora. há uma evidência convincente
que o seu uso crônico ocasione
danos estruturais ou funcionais
ao cólon. Contudo, por este
motivo, muitas referências irão
considerá-los uma opção de
segunda linha ou de resgate e,
portanto, é melhor evitar esta
classe como primeira opção em
questões de prova

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SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA MAR 22 | 59

Surfactantes / Óleo mineral, Facilitam a interface entre os O óleo mineral pode ocasionar
Lubrificantes Docusato componentes hidrofílicos e pneumonite gordurosa se
hidrofóbicos da massa fecal, aspirado (o que não é raro
permitindo que a água entre em crianças e idosos). Além
mais facilmente nas fezes. disso, seu uso prolongado
pode prejudicar absorção de
vitaminas lipossolúveis
Secretagogos Lubiprostona Nos EUA, também são Passou a ser comercializado no
aprovados o linaclotida e o Brasil mais recentemente (em
plecanatida. Aumentam a 2020). Custo elevado.
secreção intestinal de cloreto
pela ativação de canais na
superfície dos enterócitos. Para
manter a eletroneutralidade,
o sódio também é secretado.
Por osmolaridade, também há
secreção de água para o lúmen
intestinal
Procinéticos (Agonistas Prucaloprida Ao estimular os receptores Custo elevado. O tegaserode,
seletivos serotoninérgicos) de serotonina (5-HT4), que apesar de eficaz na
são amplamente distribuídos constipação, não é prescrito
nos neurônios entéricos, os por reações adversas no
agonistas de 5-HT4 liberam o sistema cardiovascular.
neurotransmissor excitatório
acetilcolina e induzem a
secreção da mucosa

Vamos às alternativas: C) CORRETA - Paciente já realizou medidas não far-


macológicas e utilizou fibras laxativas (formado-
A) INCORRETA - O uso crônico de laxantes estimu- res de massa) sem sucesso. O próximo passo ainda
lantes parece ser seguro, mas ainda é tema contro- é otimizar laxativos orais e, por custo-benefício,
verso nas diferentes referências. Muitas fontes su- sem dúvidas os laxantes osmóticos são uma opção
gerem que sejam utilizados como segunda linha e, interessante para o caso.
portanto, sempre é melhor evitar marcar essa opção
D) INCORRETA – Operar? Mas já? Ainda nem ten-
como primeira escolha se tivermos outros laxantes
tou terapia medicamentosa, nem avaliou se há
orais nas outras alternativas.
disfunção de assoalho pélvico ou se há trânsito in-
B) INCORRETA - Os tratamentos tópicos (supositó- testinal lento... Completamente inviável discutir
rios e enemas retais) são considerados em situações cirurgia como próximo passo.
emergenciais e sua aplicabilidade de rotina será de-
cidia como situações excepcionais.

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60 | MAR 22 SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA

Take-Home Message:
- Na maioria das vezes, medidas gerais, higienodietéticas e comportamentais serão suficientes para a correção da
constipação intestinal crônica.
- Caso ausência de melhora com medidas gerais, recomenda-se o uso de laxantes orais. Apesar de não ser totalmente
consensual, uma abordagem sequencial defendida em algumas referências é de formadores de massa > osmó-
ticos / lubrificantes > estimulantes. O uso de secretagogos e agonistas seletivos serotoninérgicos acaba sendo
reservado para casos refratários devido ao custo.

QUESTÃO 43 A ) Internação para uso de imunobiológico


B ) Internação para uso de corticoide intravenoso
Homem com colite ulcerativa em uso mesalazina oral
4,0 g/dia, chega ao pronto socorro com diarreia mucos- C ) Acompanhamento ambulatorial para uso de imu-
sanguinolenta de 8 vezes ao dia, com febre diária e mal nossupressor oral
estar geral. Ao exame apresenta frequência cardíaca de D ) Acompanhamento ambulatorial para uso de ciclos-
100 batimentos por minuto, desidratação e temperatu- porina oral
ra de 38°. Após ter sido afastada a presença de infecção, E ) Internação para uso de ciclosporina intravenosa
qual a próxima conduta?
Resposta correta: Letra B

Comentários:
A gravidade do surto agudo da retocolite ulcerativa
pode ser melhor avaliada pelos critérios de Truelove &
Witts, conforme descritos abaixo.

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SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA MAR 22 | 61

A colite fulminante, por sua vez, cursa com mais de - Corticoterapia sistêmica venosa por 3 a 5 dias;
10 evacuações ao dia, com enterorragia, febre, taqui- - Tromboprofilaxia;
cardia, necessidade transfusional, provas de atividade
inflamatória elevadas, com ou sem megacólon tóxico - Uso de antibioticoterapia em casos selecionados (se
(caracterizado por uma dilatação de cólon transverso suspeita de infecção);
com diâmetro acima de 6 cm, evidenciada na radiogra- - Descartar clostridium e citomegalovírus;
fia de abdome).
- Hidratação e correção de distúrbios hidroeletrolíticos.
Considerando-se esses critérios, podemos classificar a cri-
O uso de infliximabe (ou ciclosporina) fica reservados
se do paciente em questão como colite grave. A conduta,
aos não respondedores a corticoterapia sistêmica.
então, deve seguir o fluxograma abaixo e consiste em:

Vamos às alternativas: C) INCORRETA - Paciente com colite grave necessita


A) INCORRETA – Na colite grave / fulminante, o de internação.
uso de imunobiológico é reservado para os não res- D) INCORRETA - Paciente com colite grave necessita
pondedores à corticoterapia sistêmica; de internação.
B) CORRETA – Perfeito. Paciente com colite grave E) INCORRETA - O uso de ciclosporina neste con-
e portanto está indicada a internação e o início de texto é reservado para os não respondedores à corti-
corticoterapia sistêminca intravenosa. coterapia sistêmica

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62 | MAR 22 SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA

Take-Home Message:
- Pacientes com colite grave ou fulminante necessi-
tam de internação para uso de corticoterapia intra-
venosa. Se ausência de resposta após 3-5 dias, está
indicado infliximabe ou ciclosporina. Em caso de
nova falha terapêutica, a conduta é colectomia.

QUESTÃO 44
Você está cuidando de um paciente vítima de trauma Explicação: O paciente em questão está apresentando
e decide fazer o reparo de uma laceração grande em sinais de intoxicação devido ao anestésico local usado.
sua perna com sutura. Você administra lidocaína no A lesão muscular era grande e provavelmente grande
paciente e começa a realizar o procedimento. Pouco quantidade do mesmo deve ter sido utilizado, não se
tempo após o paciente começa a se queixar de gosto respeitando a dosagem máxima preconizada da me-
metálico na boca. De repente o mesmo começa a fi- dicação. Apesar de ser um evento raro, o mesmo tem
car hipotenso, apresenta bradicardia e evolui para uma possibilidade de gerar um efeito fatal, principalmente
PCR. Além das medidas preconizadas pelo ACLS, o devido a toxicidade se concentrar no sistema nervoso
que você deve fazer nessa situação: central e no coração. Qualquer anestésico local pode
A) Cálcio EV causar o problema, no entanto, a bupivacaina tende a
ser uma das mais importantes no cenário, devido a sua
B) Emulsão Lipídica EV  alta potência. Dentre os sintomas neurológicos clássi-
C) Ringer Lactato EV cos temos gosto metálico, alteração do nível de consci-
D) Bicarbonato EV ência, sensações na região perioral, convulsões. Den-
tre os sintomas cardíacos, taquicardia, bradicardia,
Resposta correta: Letra B
hipotensão, arritmias ventriculares. O tratamento em
questão envolve suporte clínico e por fim, a emulsão
lipídica. A mesma tem a função de remover o anestési-
co dos tecidos cardíaco (principalmente) e transportar
para ser metabolizada em outros órgãos
Dentre os fatores de risco para intoxicação por anesté-
sicos tópicos, destacamos:

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SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA MAR 22 | 63

Neal JM, Barrington MJ, Fettiplace MR, Gitman M, Memtsoudis SG, Mörwald EE, Rubin DS, Weinberg G.
The Third American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Practice Advisory on Local Anesthetic
Systemic Toxicity: Executive Summary 2017. Reg Anesth Pain Med. 2018 Feb;43(2):113-123. doi: 10.1097/
AAP.0000000000000720. PMID: 29356773.

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64 | MAR 22 SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA

Neal JM, Barrington MJ, Fettiplace MR, Gitman M, Memtsoudis SG, Mörwald EE, Rubin DS, Weinberg G.
The Third American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Practice Advisory on Local Anesthetic
Systemic Toxicity: Executive Summary 2017. Reg Anesth Pain Med. 2018 Feb;43(2):113-123. doi: 10.1097/
AAP.0000000000000720. PMID: 29356773.

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SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA MAR 22 | 65

Dentre as alternativas: Dentre os sintomas apresentados pelos pacientes, estes


tendem a apresentar certa diferença caso a intoxicação
A) Incorreta – Cálcio EV seria o tratamento para ca- seja aguda ou crônica. Em intoxicações agudas, é mais
sos de hipercalemia. Não é o que houve com esse comum a presença de sintomas gastrointestinais, com
paciente. Inclusive, em intoxicações por anestésicos sintomas neurológicos aparecendo mais tardiamente.
locais, é indicado se evitar beta-bloqueadores e blo- Já em intoxicações crônicas, os sintomas neurológicos
queadores dos canais de cálcio. são predominantes.
B) Correta – explicado acima.
Em intoxicações agudas, dentre os sintomas temos:
C) Incorreta – Não há necessidade de realizar expan- náuseas, vômitos, tremores, fraqueza, tontura, apatia,
são volêmica. O paciente em questão não apresenta tinnitus, hiperreflexia, confusão, clonus, convulsões,
como etiologia de sua PCR, hipovolemia. coma, alterações eletrocardiográficas (prolongamento
D) Incorreta – Bicarbonato EV não consegue reverter de QT), hipotireoidismo, leucocitose e geralmente au-
a intoxicação ocasionada por anestésicos locais. sência de sintomas cutâneos.
Em intoxicações crônicas é menos prevalente a presença
Take-Home Message:: Em intoxicações por anestési- de náuseas e vômitos. Em relação aos sintomas neuroló-
cos locais, os sintomas são prioritariamente cardíacos gicos, costumam ser mais pronunciados, com a adição
e neurológicos. O tratamento deve ser realizado com a de quadro psicótico possível, hipertensão intracraniana,
emulsão lipídica EV. déficits de memória; aplasia de medula pode ocorrer, sin-
tomas cutâneos (dermatite, úlcera) e miocardite.
O tratamento imediato, além do suporte clínico in-
QUESTÃO 45
tensivo, ressuscitação volêmica agressiva, pode ser re-
Qual o tratamento mais indicado diante de um caso de alizado com irrigação intestinal com polietilenoglicol
intoxicação agudo por lítio? (PEG). Pode ser realizado por boca ou através de uma
sonda até que o efluente seja claro.
A) Irrigação intestinal 
B) alcalinização da urina Devemos lembrar que também hemodiálise pode ser
realizada para retirada com algumas indicações: Lite-
C) carvão ativado
mia acima de 5mEq/L ou 4mEq/L com a função renal
D) lavagem gástrica alterada; presença de alterações em ECG graves, sinto-
Resposta correta: Letra A mas neurológicos graves.

O lítio é uma medicação utilizada na psiquiatria como Dentre as alternativas:


um estabilizador de humor, principalmente no con-
A) Correta – explicado acima
texto de transtornos bipolares, com diferentes tipos de
formulações, de liberação mais rápida ou mais demo- B) Incorreta – Alcalinização da urina não é uma alter-
rada. O lítio tem um intervalo muito estreito entre a nativa viável para depuração do lítio do corpo do
terapêutica e toxicidade, o que faz com que seu uso paciente.
deva ser realizado com muito cuidado a fim de se evitar C) Incorreta – Carvão ativado não deve ser realizado,
os efeitos adversos da medicação. Formulações de libe- visto que o mesmo não adsorve o lítio. O carvão,
ração rápida chegam a atingir o pico plasmático dentre geralmente, não consegue adsorver metais.
de 30 minutos, já formulação de liberação mais lenta, D) Incorreta – lavagem gástrica não é uma maneira
até 6-12 horas. adequada de se realizar a depuração do lítio.

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66 | MAR 22 SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA

Take-Home Message: lítio pode causar uma miríade de Comentário:


sintomas. Dentre os sistemas principalmente acometi- Interpretação de derrame pleural começa pela análise
dos, temos: SNC, coração e trato gastrointestinal visual do líquido (ex: sangue = hemotórax, pus = em-
Um dos tratamentos viáveis inclui a realização de irri- piema). Próximo passo é aplicar os critérios de LIGHT
gação intestinal com PEG. para detectar se esse derrame é um EXSUDATO, va-
mos aos três critérios:
- Proteína total pleural / proteína total sérica > 0,50
QUESTÃO 46
- LDH pleural / LDH sérico > 0,60
Com relação aos resultados do exame laboratorial do
líquido pleural extraído por toracocentese de um der- - LDH pleural > 2/3 do limite superior do LDH sérico
rame pleural em um paciente com pneumonia, e seus (ou > 200 U/L*)
exames de sangue, assinale a alternativa correta: * Variação da literatura
Líquido pleural: Se for um transudato (todos os critérios de LIGHT
- Turvo negativos) os 3 grandes diagnósticos são: insuficiên-
cia cardíaca, síndrome nefrótica (hipoalbuminemia)
- Proteínas 3,8 g/dL e cirrose.
- LDH 310 U/L Se for um EXSUDATO (pelo menos 1 critério de LI-
- Citologia, diferencial: linfócitos 25%, neutrófilos GHT positivo) precisamos seguir com a investigação,
70%, eosinófilos 5% avaliando o padrão do derrame: neutrofílico (>50%),
linfocítico (>30-50%) ou eosinofílico (>10%). Vamos
- pH 6,8
verificar as principais causas:
- Glicose 35 mg/dL
- EXSUDATO neutrofílco: parapneumônico, em-
- Bacterioscopia com presença de cocos gram positivo piema (aspecto de pus).
Sangue: - EXSUDATO linfocítico: tuberculose pleural (ADA
- Proteínas 5,0 g/dL > 40), neoplasia.

- LDH 200 U/L (LSN: 220 U/L) - EXSUDATO eosinofílico: drogas, fungos, parasi-
tas, pneumonias eosinofílicas, colagenoses, asbesto,
pós-operatório de cirurgias cardíacas e torácicas.
ALTERNATIVAS No caso de derrame pleural tipo EXSUDATO e pa-
A) É um transudato linfocítico não complicado. drão neutrofílico em contexto de pneumonia deve-
B) É um transudato neutrofílico complicado. mos perguntar se ele é não complicado, complicado
ou empiema:
C) É um exsudado neutrofílico não complicado.
D) É um exsudado neutrofílico complicado. - Não complicado: sem pus, sem bactérias, pH >7,20,
glicose >40.
E) É um exsudado eosinofílico complicado.
- Complicado: sem pus, com bactérias, pH <7,20, gli-
Resposta correta: Letra D cose <40 (consumida).
- Empiema: pus.
Na questão temos contexto de pneumonia e:

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- Todos os critérios de LIGHT são positivos (Proteína QUESTÃO 47


total pleural / proteína total sérica = 0,76; LDH pleural
/ LDH sérico = 1,55; LDH pleural = 310) = EXSU- Com relação à última atualização da USPSTF (United
DATO States Preventive Services Task Force) de 2021 sobre o
screening para câncer de pulmão, assinale a alternati-
- Padrão NEUTROFÍLICO (neutrófilos 70%) va INCORRETA:
- COMPLICADO (não pus, presença de bactérias tipo ALTERNATIVAS
coco gram positivo, pH baixo e Glicose consumida)
A) A população alvo do screening é formada por pa-
A) INCORRETA. Não é transudato pelos critérios de cientes com idade entre 50 a 80 anos de idade,
Light, e não se classifica o citológico em transudatos. carga tabágica igual ou superior a 20 maços-ano e
B) INCORRETA. Não é transudato pelos critérios de tabagista ativo, ou que parou há menos de 15 anos.
Light, e não se classifica o citológico em transudatos. B) A forma de rastreio indicada é a tomografia de
C) INCORRETAÉ EXSUDATO pelos critérios de tórax com baixa dose de radiação a ser realiza-
LIGHT, o padrão é NEUTROFÍLICO (>50%) da anualmente.
porém trata-se de um derrame pleural parapneu- C) A tomografia de tórax no contexto de screening de
mônico COMPLICADO (sem pus, com bactérias, câncer de pulmão deve ser avaliada segundo o pa-
pH <7,20, glicose <40) drão Lung-RADS.
D) CORRETA. É EXSUDATO pelos critérios de D) O screening para câncer de pulmão já provou ser
LIGHT, o padrão é NEUTROFÍLICO (>50%) uma medida que reduz a mortalidade em 15-20%
e trata-se de um derrame pleural parapneumôni- para o grupo definido como de risco para o desen-
co COMPLICADO (sem pus, com bactérias, pH volvimento da doença.
<7,20, glicose <40)
E) O protocolo brasileiro do sistema único de saú-
E) INCORRETA. É EXSUDATO pelos critérios de de de rastreio de câncer de pulmão foi atualizado
LIGHT, porém o padrão é NEUTROFÍLICO no início de 2022 para abarcar as novas diretivas
(>50%) - o número de eosinófilos é normal. da USPSTF.
Resposta correta: Letra E
Take-Home Message:
- Primeiro passo: avaliação visual do líquido pleural. Comentários:
- Segundo passo: critérios de LIGHT para ver se é um Noventa porcento das neoplasias de pulmão são atri-
EXSUDATO (1 critério basta). buídas ao tabagismo, e sabe-se que há relação direta
com a idade do paciente, carga tabágica e também que
- Terceiro passo, para os EXSUDATOS: ver o padrão
o abandono do hábito não zera o risco. Outro conheci-
(neutrofílico, linfocítico).
mento importante é que o câncer de pulmão em esta-
- Quarto passo, para derrame pleural parapneumôni- dio inicial têm maior chance de cura e sobrevidA)
co: não complicado (pH normal, glicose normal, portanto diagnósticos mais precoces cursam com redu-
sem bactérias), complicado (pH baixo, glicose con- ção da morbidade e mortalidade.
sumida, presença de bactérias, não é pus ainda),
Em março de 2021 a USPSTF (United States Preventi-
empiema (pus).
ve Services Task Force) atualizou as recomendações para
o rastreio/screening de câncer de pulmão. Atualmente
é indicado que pessoas com idade entre 50 a 80 anos
de idade + carga tabágica ≥ 20 maços-ano + tabagista

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68 | MAR 22 SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA

ativo ou que parou há menos de 15 anos. Devemos fora dos critérios, sem condições clínicas de prosseguir
excluir pessoas que apresentam histórico de câncer ou investigação/tratamento ou baixa expectativa de vida.
sintomas que podem estar associados a neoplasia ativa A interpretação do exame deve ser realizada segundo o
(ex: hemoptise, síndrome consumptiva) – estes devem protocolo Lung-Rads, atualmente na versão 1.1 - que
ser submetidos a investigação ativa e não rastreio. estratifica os achados em risco de ser neoplasia e con-
A realização do screening é com base na tomografia de dutas a serem tomadas.
tórax realizada sem contraste e com baixa dose de radia- No Brasil, atualmente, não há protocolo nacional para
ção. A periodicidade do exame é anual. Devemos sus- o rastreio de câncer de pulmão!
pender a realização do exame quando o paciente ficar

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A) CORRETA. Não há distinção entre sexo, diagnós- C) CORRETA. Lung-RADS é indicado para interpre-
tico de DPOC ou outras condições pulmonares. tação de nódulos no contexto de screening de cân-
Importante destacar que não é indicado rastreio cer de pulmão. Protocolo da Fleischner é indicado
para um paciente que se encontra com suspeita de para nódulo incidental (outro contexto de identifi-
câncer de pulmão (ex: hemoptise, síndrome con- cação de nódulo pulmonar).
sumptiva, neoplasia de outro sítio) pois neste caso D) CORRETA. A sobrevida parece ser maior
devemos investigar ativamente a suspeita. do que a encontrada no rastreio de câncer de
B) CORRETA. Portanto não é indicação de raio X mama atualmente.
de tórax ou PET-CT como exame de rastreio para E) INCORRETA. Não há protocolo nacional via
câncer de pulmão. Na tomografia de rastreio não é SUS para rastreio de câncer de pulmão.
necessário contraste.

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Take-Home Message: São contraindicações absolutas para trombólise endo-


- Tabagismo é o principal fator de risco para DPOC e venosa no contexto de tromboembolismo pulmonar
câncer de pulmão. com instabilidade hemodinâmica: Sangramento ativo
(exceto menstrual), alteração significativa de exame da
- Rastreio de câncer de pulmão reduz a mortalidade em coagulação (ex: Plaq <100k, RNI >1,7, TTPa >40s),
15-20% daqueles com fator de risco. hemorragia intracraniana no passado, neoplasia ma-
- Março/2021 a USPSTF atualizou as indicações de ligna do SNC, lesão vascular estrutural do SNC, AVE
screening: 50-80 anos, ≥ 20 maços-ano + tabagista isquêmico a menos de 3 meses, TCE/Trauma facial/
ativo ou que parou há menos de 15 anos. Cirurgia SNC a menos de 3 meses, suspeita de dissec-
ção aguda de aorta.
- Interpretação dos achados (nódulos) em exame tomo-
gráfico de screening de câncer de pulmão devem ser São contraindicações relativas: ressuscitação cardiopul-
feitos segundo o Lung-RADS. monar traumática ou com duração maior que 10 minu-
tos, gestação ou pós-parto a menos de 7 dias, cirurgia
- No Brasil não há protocolo SUS para rastreio de cân-
de grande porte a menos de 3 semanas, sangramento
cer de pulmão.
“interno” a menos de 2-4 semanas, sítios de punção não
compressíveis, procedimento invasivo recente, doença
ulcerosa péptica ativa, uso de Varfarina com RNI>1,7,
QUESTÃO 48 AVE isquêmico a mais de 3 meses, anticoagulação oral,
Paciente admitido por dispneia, dor torácica, taquip- idade > 75 anos, derrame pericárdico*, endocardite in-
neia e dessaturação de início súbito com histórico de fecciosa* e retinopatia diabética*. * Apenas em algumas
imobilização recente. Diagnóstico de tromboembolis- fontes da literatura.
mo pulmonar foi realizado com angiotomografia de Importante lembrar que existe outra forma de trom-
tórax. Apresenta sinais de instabilidade hemodinâmica bólise além da versão endovenosa: dirigida por cateter,
e trombólise endovenosa foi indicada. Com relação aos que permite uso de dose menor e combinação com ou-
cenários abaixo assinale aquele em que não há con- tros métodos de quebra/remoção do trombo.
traindicação para a realização da medicação.
A) HÁ CONTRAINDICAÇÃO absoluta para rece-
A) Plaquetopenia moderada ou grave, TAP-RNI > ber trombólise endovenosa.
1,7, TTPa >40 segundos.
B) NÃO HÁ CONTRAINDICAÇÃO. Sangramen-
B) Sangramento menstrual atual. to menstrual não é contraindicação ao procedi-
C) Hemorragia intracraniana no passado. mento de trombólise endovenosa.
D) AVE isquêmico há 2 meses sem transforma- C) HÁ CONTRAINDICAÇÃO absoluta para rece-
ção hemorrágica. ber trombólise endovenosa.
E) Cirurgia de grande porte há menos de 3 semanas. D) HÁ CONTRAINDICAÇÃO absoluta para rece-
ber trombólise endovenosa.
Resposta correta: Letra B
E) HÁ CONTRAINDICAÇÃO relativa para receber
Comentários: trombólise endovenosa.

Em toda medicina a prescrição envolve verificar indica-


ção e ausência de contraindicações, na trombólise isso
também é muito importante.

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Take-Home Message: QUESTÃO 49


- Toda prescrição médica exige indicação e ausência Considere as 4 bactérias e infecções, abaixo. Bactéria
de contraindicação. (agente etiológico):
- São contraindicações absolutas para trombólise en- I. E. coli;
dovenosa no contexto de TEP: Sangramento ativo
(exceto menstrual), alteração significativa de exame II.Clostridium perfringes;
da coagulação (ex: Plaq <100k, RNI >1,7, TTPa III. S. aureus;
>40s), hemorragia intracraniana no passado, neo-
IV. Streptococcus pneumoniae;
plasia maligna do SNC, lesão vascular estrutural do
SNC, AVE isquêmico a menos de 3 meses, TCE/ Infecções:
Trauma facial/Cirurgia SNC a menos de 3 meses, a. otite média aguda em adultos;
suspeita de dissecção aguda de aorta.
b. osteomielite;
- Outras contraindicações, relativas: ressuscitação
cardiopulmonar traumática ou com duração maior c. gangrena gasosa;
que 10 minutos, gestação ou pós-parto a menos d. prostatite;
de 7 dias, cirurgia de grande porte a menos de 3
É correta a associação entre principal agente etiológico
semanas, sangramento “interno” a menos de 2-4
e infecção:
semanas, sítios de punção não compressíveis, pro-
cedimento invasivo recente, doença ulcerosa pép- A) I-a, II-b, III-c, IV-d.
tica ativa, uso de Varfarina com RNI>1,7, AVE B) I-d, II-b, III-c, IV-a.
isquêmico a mais de 3 meses, anticoagulação oral, C) I-d, II-c, III-a, IV-b.
idade > 75 anos, derrame pericárdico, endocardite
D) I-c, II-d, III-b, IV-a.
infecciosa e retinopatia diabética.
E) I-d, II-c, III-b, IV-a.
- Na presença de contraindicação para trombólise no
TEP considerar: intervenção radio-endovascular Resposta correta: Letra E
com baixa dose de trombolítico ou sem trombolíti-
co, anticoagulação isolada, embolectomia cirúrgica. Uma questão simples e direta, interessante para revisar-
mos os principais agentes das infecções acima. Vamos
uma por uma.
Otite média em adultos: processo supurativo infeccio-
so da orelha média, sendo mais comumente precipitada
pela função prejudicada do tubo de Eustáquio (IVAS
ou rinite alérgica), resultando em retenção de secre-
ção com posterior infecção associada. Tanto em adulto
quanto em crianças os principais agentes são o pneu-
mococo e o Haemophilus influenzae. Streptococcus do
grupo A, Staphylococcus aureus e Moraxella catarrhalis
são menos frequentes. O antibiótico de escolha, pen-
sando nos principais agentes, é a amoxicilina com cla-
vulanato, pensando na possibilidade de betalactamase.
Já que estamos no assunto, vale lembrar que o meca-
nismo de resistência do pneumococo não é pela pro-

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72 | MAR 22 SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA

dução de betalactamase e, portanto, cepas resistentes veis como Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachoma-
podem ser em geral tratadas com aumento da dose da tis em homens sexualmente ativos que podem ter em
amoxicilina. Betalactamases são produzidas por gram concomitância uretrite ou epididimite. Vale também
negativos. lembrar que pacientes com prostatite bacteriana agu-
Osteomielite: infecção do tecido ósseo. Pode ser clas- da estão agudamente enfermos com febre, calafrios,
sicamente dividida pelo mecanismo da infecção (em disúria, dor pélvica ou perineal. Condições como dia-
hematogênica e não hematogênica) e pela duração da betes ou HIV podem predispor a complicações como
infecção (aguda ou crônica). No geral, o diagnóstico a formação de abscessos. O toque retal deve ser feito
pode ser suspeitado por exames de imagens, mas é es- delicadamente, pois uso de força mais vigorosa, além
tabelecido pela cultura da biópsia óssea (que nem sem- de causar dor, não adiciona nenhum benefício e pode
pre é possível e muitas vezes presumimos que o agente inclusive aumentar o risco de bacteremia. O tratamen-
isolado no sangue seja o mesmo do tecido ósseo). Os to empírico recomendado é com sulfametoxazol-trime-
principais agentes variam muito em relação às caracte- toprim ou uma fluoroquinolona.
rísticas da osteomielite e do hospedeiro (imunocom-
prometido vs. imunocompetente), mas sem dúvida, Alternativas: 
um importante que você nunca deve esquecer é o S. A) otite média aguda em adultos => pneumococo
Aureus. O tratamento idealmente será guiado pelas cul-
turas e será por tempo prolongado. Vale lembrar que na B) osteomielite => S. aureus
não hematogênica, o debridamento cirúrgico seguido C) gangrena gasosa => Clostridium perfringens
de antibioticoterapia é o ideal.
D) prostatite => E. Coli
Gangrena gasosa: é uma infecção ameaçadora a vida
E) CORRETA
que atinge os músculos que se desenvolve ou por
continuidade desde uma área de trauma (usualmen-
te causada pelo Clostridium perfringens) ou de forma Take-Home Message:
hematogênica vinda do trato gastrointestinal com im-
- Otite média em adultos: lembrar que causas são
plantação muscular (usualmente causada pelo Clostri-
IVAS e rinite alérgica causando obstrução da tuba.
dium septicum). Isso costuma ser bastante perguntado
Os principais agentes são o pneumococo e o Hae-
em prova, atenção! Traumas com comprometimento
mophilus influenzae, tratamento de escolha é com
vascular (especialmente penetrantes) são excelentes em
amoxicilina com clavulanato.
criar um ambiente anaeróbico para a proliferação do
clostridium. Tratamento é desbridamento agressivo ci- - Osteomielite: dividida em hematogênica e não he-
rúrgico junto com antibioticoterapia, sendo a de esco- matogênica, aguda ou crônica. Os principais agen-
lha a combinação de penicilina com clindamicina EV tes variam muito em relação às características da
quando o agente definitivo for isolado, enquanto que osteomielite e do hospedeiro (imunocomprome-
para quadros polimicrobianos o recomendado é pipe- tido vs. imunocompetente), mas sem dúvida, um
racilina-tazobactam com clindamicina EV. importante que você nunca deve esquecer é o S.
Aureus.
Prostatite aguda bacteriana: tipicamente acomete ho-
mens jovens e de meia idade, sendo geralmente causada - Gangrena gasosa: infecção ameaçadora à vida, cau-
pelos mesmos agentes de ITU (atenção!), usualmente sada por clostridium, sendo Clostridium perfringens
gram negativas, em especial enterobactérias como a E. nos casos de trauma, e Clostridium septicum nos ca-
coli (na questão) e Proteus. Outras possibilidades, me- sos de disseminação hematogênica. Tratamento en-
nos frequentes, são patógenos sexualmente transmissí- volve desbridamento agressivo cirúrgico junto com

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SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA MAR 22 | 73

antibioticoterapia, sendo a de escolha a combina- Na última atualização do ACLS, houve algumas mu-
ção de penicilina com clindamicina EV quando o danças a respeito do uso da adenosina. Vamos apro-
agente definitivo for isolado, enquanto que para veitar a questão para lembrar de alguns pontos mais
quadros polimicrobianos o recomendado é pipera- específicos em relação ao seu uso.
cilina-tazobactam com clindamicina EV. A grande maioria dos alunos vai lembrar que a adeno-
- Prostatite aguda bacteriana: tipicamente acomete ho- sina entra no fluxograma para taquicardias de QRS es-
mens jovens e de meia idade, causada pelos mesmos treito estáveis como uma das possibilidades de reversão
agentes de ITU como a E. coli (na questão) e Proteus. da arritmia, em caso de falha da manobra vagal, na dose
O tratamento empírico recomendado é com sulfame- inicial de 6 mg, podendo ser repetida mais uma vez na
toxazol-trimetoprim ou uma fluoroquinolona. dose de 12 mg. Isso é o básico que já estava presente nas
atualizações mais antigas do ACLS. Vamos agora revi-
sar alguns aspectos específicos em relação ao seu uso.
QUESTÃO 50 O que ela de fato faz? A adenosina aumenta o bloqueio
Segundo as novas diretrizes do ACLS, sobre o uso da AV e em 2 minutos cessa aproximadamente 90% das
adenosina está incorreto afirmar que: arritmias de reentrada.
A) Está indicada para taquicardias de QRS estreito, es- Para quais ritmos ela não é eficaz? Ela não será capaz
táveis, que não responderam à manobra vagal, po- de reverter o flutter atrial e a fibrilação atrial, mas será
dendo ser repetida até duas vezes, na dose de 6mg capaz de retardar a condução AV, permitindo identi-
inicialmente e depois 12 mg ficar as ondas de flutter ou de fibrilação (acontece o
B) Pode ser considerada para taquicardia de QRS largo que chamamos de “abertura do ECG” possibilitando a
estável desde que ritmo regular e QRS monomórfi- identificação do ritmo de base).
co Além do básico (taquiarritmia de complexo estreito es-
C) Sua dose deve ser reduzida em pacientes que utili- tável), o novo ACLS propõe que para taquicardias de
zam carbamazepina ou dipiridamol. É aconselhável complexo largo e regular, a adenosina é uma opção que
evitar em pacientes com broncoespasmo. pode ser considerada. Sempre lembramos da amioda-
D) Sua infusão pode ser realizada em acesso periféri- rona (150 mg em 10 minutos) nesse cenário, mas é
co desde que calibroso, mesmo em membros in- importante ter na manga essa outra opção. O racional
feriores, podendo também ser realizada em acesso para isso é que existe a possibilidade de que neste cená-
central desde que respeitada a dose inicial de 6 mg rio você esteja lidando, na verdade, com uma taquicar-
e posteriormente 12 mg.  dia supraventricular com aberrância de condução.

Resposta correta: Letra D

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A adenosina pode causar broncoespasmo, por isso, ela Take-Home Message: Adenosina
deve ser administrada com cautela em pacientes com - Indicada para taquicardias de QRS estreito estáveis
asma ou DPOC, especialmente se estiverem apresen- em caso de falha da manobra vagal, na dose inicial
tando uma crise da doença respiratória. de 6 mg, podendo ser repetida mais uma vez na
Uma picuinha que é importante saber é que a dose ini- dose de 12 mg
cial deve ser reduzida para 3 mg em pacientes receben- - Entra como uma das possibilidades para taquicar-
do dipiridamol ou carbamazepina, em transplantados dias de QRS largo, complexo monomórfico e re-
cardíacos ou se for ministrada em acesso central. gular, estáveis, pela chance de ser uma taquicardia
Sobre sua administração, um outro ponto importan- supraventricular com aberrância de condução
te é que ela deve ser preferencialmente administrada - Pode deflagrar broncoespasmo: cuidado na asma e
em acesso venoso em membros superiores sendo que DPOC, principalmente se exacerbados
quanto mais proximais forem (ou seja quanto mais
próximos do ombro) melhor, tendo em vista a meia-vi- - Reduzir a dose em pacientes que usaram dipirida-
da extremamente curta da droga. Por isso, acessos em mol e carbamazepina
membros inferiores não são os mais indicados. - Utilizar acesso preferencialmente em membros su-
periores. Se for usar acesso central, lembrar de re-
duzir pela metade as doses.
A) CORRETA: indicação clássica da adenosina. Essa é
a que maior parte dos alunos se lembra.
B) CORRETA: na nova atualização de 2020 houve a
inclusão da adenosina como uma possibilidade para
taquicardias de QRS largo, complexo monomórfi-
co e regular, estáveis, pela chance de ser uma taqui-
cardia supraventricular com aberrância de condu-
ção. O fluxograma deixa como uma das opções.
C) CORRETA: a adenosina deve ser usada com cau-
telas em pacientes com broncoespasmo e as doses
devem ser reduzidas em pacientes com uso de car-
bamazepina e dipiridamol.
D) INCORRETA: a adenosina deve ser preferen-
cialmente administrada em acessos em membros
superiores. Pode ser sim feita por acesso central,
mas recomenda-se que nesses casos as doses sejam
reduzidas pela metade. 

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QUESTÃO 51 Sarampo é causado por um morbilivírus da família Pa-


ramyxoviridae, cuja transmissão acontece por aerossóis em
De acordo com o Ministério da Saúde, em 2019, fo- média 5 dias antes e 5 dias depois do início do exantema.
ram diagnosticados 1.845 casos de sarampo no País. Os
índices indicam uma tendência de redução nos casos: Apresenta pródromo catarral (tosse e coriza), associado
foram 1.008 em julho, ante 197 até 18 de agosto. Em a conjuntivite não purulenta com fotofobia e febre alta
Pernambuco, foram confirmados cinco casos de saram- (até 40°). Neste período pode apresentar sinal de Koplik
po. Quatro diagnósticos, confirmados pela Fiocruz Rio (manchas brancas de 2 a 3 mm com halo eritematoso
de Janeiro, são de três pessoas que viajaram em excur- que aparecem na mucosa jugal na altura dos molares, em
são para Porto Seguro, na Bahia, e um paciente que média 48h antes do exantema e que desaparecem em até
manteve contato com o grupo. O último caso foi de 72 horas), que é patognomônico da doença.
um adolescente de 18 anos, na cidade de Taquaritinga Evolui com exantema maculopapular, morbiliforme,
do Norte, no Agreste. Ainda está sendo investigada a de progressão craniocaudal lenta e que geralmente pou-
morte de um bebê de 7 meses também em Taquaritinga pa palmas e plantas. A febre costuma se intensificar nas
do Norte. primeiras 48h após o início do exantema, com melhora
Em relação ao Sarampo, é INCORRETO afirmar que significativa após este período. Persistência da febre a
partir do 3º ou 4º dia de exantema sugere complicações
A) o período de transmissibilidade inicia-se 6 dias antes infecciosas da doença, como otite média aguda (com-
do exantema e dura até 4 dias após seu aparecimento. plicação mais comum), pneumonia, diarreia e doenças
B) o quadro clínico caracteriza-se por febre alta, acima neurológicas (encefalite e encefalomielite disseminada
de 38,5°C, exantema maculopapular morbiliforme aguda ou ADEM). Imunodeprimidos e gestantes apre-
de direção cefalocaudal, tosse seca (inicialmente), sentam maior risco de complicações.
coriza, conjuntivite não purulenta e manchas de
Na fase de convalescença, o exantema evolui com des-
Koplik (pequenos pontos brancos amarelados na
camação furfurácea.
mucosa bucal, na altura do terceiro molar, antece-
dendo o exantema). O diagnóstico pode ser confirmado com sorologia IgM
C) febre por mais de 3 dias, após o aparecimento do (detectável a partir do 3° e até o 30° dia de exantema),
exantema, é um sinal de alerta e pode indicar o apa- aumento de IgG seriado, RT-PCR ou cultura viral.
recimento de complicações, como infecções respi- O tratamento é feito com vitamina A (50 a 200 mil
ratórias, otites, doenças diarreicas e neurológicas. UI de acordo com a idade, 1 vez ao dia por 2 dias)
D) no Brasil, a Coordenação Geral do Programa Na- e sintomáticos.
cional de Imunizações recomenda aplicar a vacina A vacina é realizada com vírus vivo atenuado. No Bra-
contra o sarampo rotineiramente, sob o seguinte sil, o Programa Nacional de Imunizações preconiza
esquema: uma dose da vacina imediatamente pós- uma dose de tríplice viral aos 12 meses, uma dose de
-parto, e outra dose aos 15 meses. tetraviral aos 15 meses e uma nova dose de tríplice viral
E) o diagnóstico laboratorial é realizado por meio de entre 10 e 19 anos. Adultos até 29 anos devem ter duas
sorologia para detecção de anticorpos IgM específi- doses da vacina e entre 30 e 50 anos, pelo menos uma
cos e soroconversão ou aumento de anticorpos IgG, dose. Profissionais de saúde devem receber duas doses,
utilizando-se a técnica de ensaio imunoenzimático independente da idade.
(ELISA).
Os contactantes suscetíveis devem ser submetidos à vaci-
Resposta correta: Letra D nação de bloqueio em até 72 horas. Em caso de contrain-
dicação à vacina (gestantes, imunodeprimidos e menores
de 9 meses), realizar imunoglobulina em até 6 dias.

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SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA MAR 22 | 77

Analisando as alternativas: Take-Home Message:

A) o período de transmissibilidade inicia-se 6 dias an- • Transmissibilidade por aerossois 5 dias antes e 5 dias
tes do exantema e dura até 4 dias após seu apare- depois do exantema
cimento. – CORRETO, em média 5 dias antes e • Pródromo catarral com conjuntivite, febre alta e si-
depois nal de Koplik
B) o quadro clínico caracteriza-se por febre alta, acima • Exantema morbiliforme craniocaudal poupando
de 38,5°C, exantema maculopapular morbiliforme palmas e plantas
de direção cefalocaudal, tosse seca (inicialmente),
coriza, conjuntivite não purulenta e manchas de • Febre após o 3° dia de exantema é sinal de alarme
Koplik (pequenos pontos brancos amarelados na para complicações infecciosas (respiratórios, gas-
mucosa bucal, na altura do terceiro molar, antece- trintestinais e neurológicas)
dendo o exantema). – CORRETO • O diagnóstico é geralmente sorológico com IgM (a
C) febre por mais de 3 dias, após o aparecimento do partir do 3° dia de exantema)
exantema, é um sinal de alerta e pode indicar o • Tratamento é suportivo e com vitamina A por dois dias
aparecimento de complicações, como infecções res-
piratórias, otites, doenças diarreicas e neurológicas. • Vacinação com vírus vivo atenuado aos 12 e 15 me-
– CORRETO ses e na adolescência.
D) no Brasil, a Coordenação Geral do Programa Na- • Vacinação de bloqueio até 72h do contato, imuno-
cional de Imunizações recomenda aplicar a vacina globulina se vacina contraindicada.
contra o sarampo rotineiramente, sob o seguinte
esquema: uma dose da vacina imediatamente pós-
-parto, e outra dose aos 15 meses. – INCORRE- QUESTÃO 52
TO, por se tratar de vacina com vírus vivo atenu- Homem de 35 anos, chega a Unidade de Emergência
ado, é contraindicada para menores de 9 meses, referindo que foi mordido por cachorro na perna es-
sendo a primeira dose preconizado pelo PNI aos querda. Refere que há 5 anos foi esplenectomizado pós
12 meses  trauma por acidente automobilístico. O cachorro é de
E) o diagnóstico laboratorial é realizado por meio de um amigo e está com a vacinação em dia. O exame
sorologia para detecção de anticorpos IgM específi- físico é normal, mas há uma lesão pequena em perna
cos e soroconversão ou aumento de anticorpos IgG, esquerda que corresponde à mordida de cachorro, com
utilizando-se a técnica de ensaio imunoenzimático eritema mínimo em volta. A conduta para este caso é:
(ELISA). – CORRETO
A ) Amoxacilina-clavulanato
B ) Ciprofloxacin
C ) Observação
D )Metronidazol

Resposta correta: Letra A

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78 | MAR 22 SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA

Explicação : em mordedura animal, obviamente temos de glicose. Os não fermentadores, que não são coloni-
uma ferida infectada com flora polimicrobiana, prove- zantes, temos apenas 4 : Pseudomonas, Acinetobacter,
niente da boca do animal. Dentre os principais agentes Stenotrophomonas e Burkholderia. Logo, aqui, temos
que precisamos nos preocupar, temos que proteger contra a família das enterobactérias. Fora
1. Cocos gram positivos : do contexto de assistência hospitalar, elas costumam ser
multissensíveis, podendo ser tratadas com betalactâmi-
-Staphylococcus (coagulase negativos ou aureus) : lem- cos em geral, ciprofloxacino e bactrim.
brar que são colonizantes naturais de pele e mucosa oral.
Staphylococcus universalmente produzem penicilinase, 3) Anaeróbios de boca
sendo resistentes à penicilinas. Como o mecanismo de -Aqui, as questões de prova no geral querem que você
resistência é enzimático, ele pode ser transponível por saiba de um cocobacilo gram negativo anaeróbio facul-
um inibidor de beta-lactamase, como o clavulanato ou tativo em específico : Pasteurella multocida. Cães e ga-
o tazobactam, ou por uma troca de classe e uso de ou- tos apresentam taxas de colonização por esse agente de
tro beta-lactâmico, como uma cefalosporina. Entretan- até 70-90%, ganhando ainda maior destaque em mor-
to, caso tenhamos em um antibiograma oxacilina como didas por gatos (os dentes mais finos propiciam ainda
resistente, lembrar que essa resistência não é enzimáti- mais a inoculação do germe). É um agente envolvido
ca, é por alteração de PBP (a proteína da membrana a também em arranhaduras animais. Outro anaeróbio
qual se liga o beta-lactâmico e causa lise celular). Logo, de boca importante a ser lembrado são os do gênero
resistência à oxacilina marca resistência a todos os be- lactobacilus. Para tratar anaeróbios nós precisamos de
ta-lactâmicos. Então de nada adianta associar inibidor ou um inibidor de beta-lactamase (clavulanato ou ta-
de beta-lactamase pois o mecanismo de resistência é zobactam) ou de clindamicina ou metronidazol. Clin-
alteração do sítio de ligação. Nesse caso, devemos usar damicina costuma ser mais indicado quando se trata
vancomicina. Mas staphylos com resistência a oxacilina de mucosa oral (mordedura animal ou broncopneumo-
não são colonizantes naturais da pele e mucosa oral, nia aspirativa). Metronidazol é mais indicado em trato
como é o caso dessa questão. São germes encontrados gastrointestinal por sua melhor ação do que a clinda-
em ambiente hospitalar. micina contra o gênero Bacillus, o principal anaeróbio
-Streptococcus : lembrar que dos streptos, o principal deste sítio. Memorize : do umbigo para cima clinda, do
grupo envolvido em flora oral são os streptos do grupo umbigo para baixo metronidazol.
viridans - S. mitis, S.oralis e S.gordonii. Outros streptos O examinador ainda disse no enunciado “esplenecto-
encontrados em mucosa oral são S. mutans, S.sanguinis mizado há 5 anos após trauma automobilistico”. Que
e S.salivarius. Vale ainda se proteger contra o S.pyoge- que isso importa ? Lembrar que pacientes esplenecto-
nes, que é colonizante da pele, mas está mais associado a mizados são mais susceptíveis a infecções por bactérias
infecções de pele e partes moles. Streptos são universal- encapsuladas - principalmente streptococo, meningo-
mente (no Brasil) sensíveis a beta-lactâmicos. Lembrar cocco e haemophilos. A cápsula atua como fator de
que os streptos do grupo viridans são importantes agen- virulência, atrapalhando a opsonição. Como no baço
tes causadores de endocardite bacteriana. Caso tenha- temos importante desempenho de fagocitose guiado
mos uma hemocultura positiva para esse agente, sempre pela sistema de complemento, ser esplenectomizado
pesquisar foco infeccioso odontogênico. (anatomica ou funcionalmente, como é o caso de pa-
2) bacilos gram-negativos entéricos cientes falciformes por exemplo), torna o paciente mais
susceptível a essas infecções. Logo, lembre-se de vacinar
-Lembrar que os colonizantes do trato gastrointestinal seu paciente esplenectomizado para pneumo, meningo
são a enorme família das enterobactérias (Klebsiella, e haemophilus.
E.Coli, Proteus, Morganella, Citrobacter, Enterobac-
ter, Yersinia….). Esses são ditos bacilos fermentadores Mas recapitulando, logo temos como opções :

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SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA MAR 22 | 79

-Um betalactâmico, cobre streptos, mas tem que ter um A) correta


inibidor de betalactamase para cobrir tanto staphylos B) correta mas incompleta - falta cobertura para anaeró-
quanto anaeróbios : amoxicilina com clavulanato. bios com clindamicina.
-Algo que cubra bem coco gram positivos e bacilos C) incorreta, é trauma infectado.
gram negativos, com algo que cubra anaeróbios: cipro- D) CORRETA - metronidazol tem ação exclusiva con-
floxacino com clindamicina. Esse esquema é preferível tra anaeróbios pois sua ativação depende de uma
em caso de acidentes com animais aquáticos pois ai te- reação de oxirredutase. Neste caso, estaríamos dei-
mos uma participação maior da Aeromonas. xando cocos gram positivos completamente sem co-
Tempo de tratamento é de 5 dias. Mas lembrar ainda bertura e parte dos bacilos gram negativos (que são
de cuidados gerais : mordedura animal é ferida infec- anaeróbios facultativos, logo o metronidazol acaba
tada. Não pode suturar pois se transforma em abscesso não funcionando). Sem contra que para anaeróbios
fechado. Inclusive por isso que feridas puntiformes de- de boca o mais indicado é a clindamicina.
vem que ser abertas : você tem que manter drenagem
contínua de secreção. Ferida muito extensão, não da Take-Home Message:
para cicatrizar por segunda intenção ? Tem que internar
e lavar em centro cirurgico. Mordedura animal é ferida infectada, polimicrobiana.
Tratamento é espectro estendido com cobertura para
Além disso, mordedura animal é trauma infectado. anaeróbios. Principais alternativas são amoxicilina-cla-
Transmite tétano. Lembrar que se a pessoa não sabe vulanato ou ciprofloxacino + clindamicina. Tempo de
se já teve 3 doses de vacina para tétano, deverá receber 5 dias. Não suturar, é ferida infectada, deixe drenar.
tanto vacina quanto imunoglobulina. Se a já teve 3 do- Atenção para vacina de tétano e raiva.
ses e a última foi há menos de 5 anos, está protegida.
Em outros casos, de modo geral, está indicado apenas a
vacinação, sem necessidade de imunoglobulina.
E mordedura animal transmite raiva. Com relação à
profilaxia de raiva, depende de se o animal é conhecido
e vacinado. Se for e o acidente tiver sido leve (atenção
: acidente leve NÃO inclui acidente em extremidades
- mãos e dedos - esses são graves por definição), po-
de-se simplesmente observar o animal. Em acidentes
graves (feridas profundas, que atinjam mãos e dedos,
ou até mesmo arranhaduras graves), mesmo em animal
conhecido e vacinado, o indicado é fazer ao menos 2
doses de vacina. Em todos os acidentes com animais
desconhecidos / desaparecidos / silvesters, está indicado
vacinação completa (4 doses, devendo a primeira ser
em até 72hs), sendo que acidentes graves (por exemplo,
arranhadura ou mordedura em mãos) deve ser feita in-
clusive a imunoglobulina.

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80 | MAR 22 SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA

QUESTÃO 53
utilizando musculatura acessória. Sua saturação está
Dá entrada no seu departamento de emergência um 89% em ar ambiente. PA: 165x84. Você decide rea-
paciente com queixa de dispneia. O paciente relata ter lizar um USG POCUS e vê a seguinte imagem. Você
apresentado um infarto extenso há cerca de 1 ano, fa- percebe esse tipo de imagem em mais de uma janela
lando inclusive que “quase não sobreviveu”. Na entra- pulmonar. O ECG apresenta achados compatíveis com
da você percebe que ele está um pouco desconfortável, IAM de parede anterior prévio.

O diagnóstico provável?
A) Infarto agudo do miocárdio
B) Insuficiência cardíaca descompensado tipo L
C) insuficiência cardíaca descompensada do tipo B 
D) Pneumonia
 Resposta correta: Letra C 

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SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA MAR 22 | 81

O paciente apresenta quadro clínico compatível com No caso da questão, a presença de linhas B denota lí-
insuficiência cardíaca descompensada do tipo B, no quido no espaço intersticial, compatível com quadro
qual o paciente se apresenta no padrão úmido e quente, congestivo. Uma pneumonia poderia mostrar achado
ou seja, se apresenta bem perfundido, no entanto com semelhante, no entanto na questão é relatado que o
congestão sistêmica importante. achado é visto em mais de uma janela, o que não é
O que é notável é que o paciente apresentou um IAM muito compatível com quadro de pneumonia.
prévio de parede anterior, o que levou o mesmo a de- Se o achado for visto em pelo menos dois campos pul-
senvolver quadro de IC agora. Não fica clara na ques- monares, e principalmente, bilateralmente, deve se
tão o motivo da descompensação. pensar muito em quadro congestivo.
No USG um achado muito comum de vermos nesse Devemos lembrar que apenas o USG não é suficiente
cenário são as famosas linhas B. que representam “algo para fecharmos o diagnóstico, servindo este como fer-
de errado” no interstício pulmonar, seja líquido, tran- ramenta para auxiliar no diagnóstico.
sudato, exsudato inflamatório,etc. O USG normal do pulmão apresenta linhas A, que são,
Para serem caracterizadas como patológicas, devemos ter basicamente, reverberações frente a um pulmão nor-
pelo menos 3 linhas em cada campo. Menos que isso, mal, permitindo a passagem do som de maneira ade-
podemos considerar como achado normal e fisiológico. quada, com eco adequado.

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82 | MAR 22 SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA

Dentre as alternativas: QUESTÃO 54


A – Incorreta – o paciente não apresenta novo IAM. É Homem de 25 anos refere que, há dois meses, foi
relatado que seu ECG se mostra normal, apenas com tratado para sífilis precoce com penicilina benzatina
achados prévios de IAM prévio. 2.400.000 UI via intramuscular após VDRL = 1/128.
Na época do diagnóstico realizou sorologia para HIV
B – Incorreta – o paciente de fato apresenta IC des-
com resultado não reagente. Neste momento, repete
compensada. No entanto o padrão L se caracteriza
sorologia para sífilis apresentando VDRL = 1/64. A
como um padrão Seco e frio. Não é o caso do paciente. melhor conduta é:
C- Correta – explicado acima A) Observação
D – Incorreta – a pneumonia poderia produzir o achado B) Retratamento com penicilina benzatina.
de linhas B. no entanto as mesmas não seriam bilaterais. C) Coleta de PCR
Também poderíamos ver o padrão C, que consiste em
D) Retratamento com ceftriaxona
consolidações pulmonares com broncogramas aéreos.
Resposta correta: Letra A

Take-Home Message: Para responder a essa questão temos que discorrer sobre
Linhas B no USG denotam algum problema no inters- critérios de cura e indicação de pesquisa de neurossífilis.
tício pulmonar. Frente a um paciente com hipótese de Primeiramente, temos que pontuar que a sífilis é uma
insuficiência cardíaca, pensem em congestão pulmonar. doença de progressão lenta, passando por fases sinto-
Referência: B-lines and lung rockets. Typical multiple máticas que se resolvem sozinhas (ditas sífilis primária e
B-lines. This figure shows... | Download Scientific Dia- secundária) e períodos de latência. Com relação à tem-
gram (researchgate.net) poralidade, a sífilis é dividida entre formas precoces e
formas tardias. Formas precoces são a sífilis primária (o
Ultrassom pulmonar: um guia para iniciantes - ICU cancro duro, a úlcera de bordas infiltradas, fundo lim-
Revisited po e indolor), a sífilis secundário (rash máculo-papular,
podendo ser morbiliforme, atingindo palmas e plantas)
e a fase dita latente precoce, que é quando não se tem
clínica, mas pode ocorrer recorrências do secundaris-
mo. Após 1 ano de contágio, são as ditas formas ditas
tardias, latente tardia e terciária.
Por que dessa divisão ? Porque as formas precoces
apresentam maiores treponemias (logo, maiores títu-
los de VDRL). Devido a isso, possuem maior risco de
transmissão e tendem a responder mais ao tratamento.
Após 1 ano, a treponemia cai consideravelmente (bem
como os títulos de VDRL), logo o tratamento tem que
ser mais prolongado. Então o tratamento das formas
precoces é uma dose única de penicilina G benzatina,
2.400.000 UI, já nas formas tardias esse procedimento
é repetido num intervalo de 7-10 dias por 3 semanas,
totalizando 7.200.000 UI.

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SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA MAR 22 | 83

E quais são os critérios de cura ? Primeiro lembrar : tes- Vale aqui ressaltar um último detalhe : pacientes soro-
tes treponêmicos (sorologia, teste rápido, FTA-ABS) não positivos possuem a BHE “cronicamente inflamada”.
variam com tratamento, ficam como cicatriz sorológica e Logo, por haver maiores chances de termos uma trepo-
são mais sensíveis em formas tardias. Teste não treponê- nemia latente em SNC, indicamos LCR se não preen-
micos enxergam a cardiolipina, variam com treponemia cher critérios de cura (excluindo reinfecção) em até 2
e fazem controle de cura, mas são examinador-depen- anos. Exatamente por serem mais susceptíveis à neuros-
dente. Como formas precoces respondem mais ao tra- sífilis, em soropositivos costumamos indicar LCR se ao
tamento, se espera a queda de duas diluições em até 6 diagnóstico diagnóstico de sífilis é feito com um CD4
meses. Como formas tardias respondem menos, se espe- < 350 e paciente sem TARV, principalmente se altos tí-
ra a queda de duas diluições em até 12 meses.  tulos de VDRL (>1/32). Já em pacientes soronegativos,
Teve queda de duas diluições mas não negativou VDRL indicamos coleta de LCR se mesmo após retratamento
? Tudo bem, esse é o chamado serofast. Ocorre princi- (sempre excluindo reinfecção), ainda não atingirmos a
palmente quando o tratamento é dado nas fases tardias. queda de duas diluições em até 1 ano.
O que importa : queda de duas diluições ( 1/16 -> 1/4). Logo, na questão temos um paciente que, após um
Tem-se que esperar esse período porque a sífilis é uma tratamento correto para uma forma precoce (veja bem,
doença lenta. não é primária, é precoce) de sífilis, teve queda de
Tratou e não curou ? Primeiro, não existe resistência do VDRL em 1 diluição em 2 meses.
treponema à penicilina. Pacientes alérgicos à penicilina, A) CORRETA. O critério de cura é avaliado em 6 me-
se não gestantes, devem ser tratados com doxiciclina, ses para formas precoces, ainda podemos esperar. 
mas aí sim pode ter falha. Se não existe resistência, por B) INCORRETA. O retratamento só será indicado se
que que não curou ? Sempre, sempre suspeite de rein- após 1 ano ainda não preencher critério de cura.
fecção. Outra possibilidade : tratou como forma preco- Note bem : espera-se que o paciente se cure em
ce uma sífilis tardia. Por isso que quando não houver até 6 meses nas formas precoces), mas como sífilis
certeza de quando ocorreu o contágio ou frente a uma tem um curso indolente, para se ter certeza que não
manifestação primária ou secundária, o tratamento houve cura, pode-se esperar o dobro de tempo para
deve ser com 3 doses. Então ok, tratou, não curou, pa- retratar. Isso, claro, sempre excluindo reinfecção.
ciente jura que não se expôs. Indica-se retratamento, C) INCORRETA. LCR para pesquisa de santuário em
agora sempre feito com 3 doses. Pode-se aguardar até 1 paciente assintomático só será indicado se mesmo
ano nas formas precoces e até 2 anos nas formas tardias após retratamento ainda não preencher critérios de
para realmente averiguar que não curou (em se excluin- cura em 1 ano. Somos mais lenientes com a coleta
do reinfecção), justamente porque tem pessoas que res- de LCR em pacientes soropositivos, pois possuem
pondem mais devagar e sífilis é uma doença lenta. maiores riscos de neurossífilis : indicamos frente à
Quando indicar líquor em paciente assintomático ? necessidade de retratamento ou se o diagnóstico de
Primeiro, porque indicar líquor ? Acontece que a pe- sífilis é feito durante uma fase avançada de imunos-
nicilina G benzatina é uma penicilina de depósito, é supressão.
uma molécula grande, de absorção lenta. Não faz pico D) INCORRETA . Ceftriaxona é o esquema alterna-
sérico, não ultrapassa a barreira hemato-encefálica. O tivo para tratamento de neurossífilis, que é tratada
treponema invade o sistema nervoso central antes mes- preferencialmente com penicilina cristalina. Não
mo do surgimento do cancro duro (lembrar : neurossi- existe resistência do treponema à penicilina. Não
filis não é sinônimo de sífilis terciária; é completamente há indicação de tratamento empírico para neurossí-
outra doença). Logo, o sistema nervoso central pode filis em paciente assintomático sem alteração liquó-
atuar como “santuário” e proteger o treponema da ação rica - logo, colha o LCR antes.
da penicilina, por isso que o paciente não cura - forma
uma latência em SNC.

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84 | MAR 22 SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA

Take-Home Message: QUESTÃO 55


Sífilis tem um curso lento. Critério de cura é a queda Homem 44 anos, sem comorbidades conhecidas, apre-
de duas diluições. Formas precoces isso acontece em senta-se na sala de emergência sonolento, extremidades
geral em até 6 meses, mas pode-se aguardar até 1 ano. frias e mal perfundidas, FC 43 bpm, FR 20 ipm, PA
Formas tardias respondem menos ao tratamento, logo 60X70 mmHg, Sat 88% em ar ambiente. Família nega
aguardamos o dobro de tempo. LCR em paciente as- histórico de ingestão de qualquer tipo de medicação ou
sintomático : primeiro ver se o paciente é soropositivo. droga. Apresentou subitamente o quadro descrito aci-
Se for, indica-se se não preencheu critérios de cura ou ma sendo prontamente encaminhado para o PS. ECG
se teve diagnóstico de sífilis durante a AIDS. Se não for apresenta BAV Mobitz I. Sobre a conduta inicial, base-
soropositivo, podemos antes retratar e reavaliar antes ada nas mais recentes diretrizes do ACLS - AHA, além
de indicar LCR. da monitorização multiparamétrica, fornecimento de
oxigênio e manutenção das vias aéreas pérvias, a sequ-
ência melhor indicada é:
A) Atropina 0,5 mg em bolus (máximo de 3 mg). Sendo
ineficaz, considerar primeiro infusão com dopamina
ou epinefrina antes do marcapasso transcutâneo.
B) Atropina 0,5 mg em bolus (máximo de 3 mg). Sen-
do ineficaz, considerar com igual nível de indicação
marcapasso transcutâneo imediato ou infusão de
epinefrina ou dobutamina.
C) Atropina 1 mg em bolus (máximo de 3 mg). Sendo
ineficaz, considerar primeiro infusão com dopami-
na ou epinefrina antes do marcapasso transcutâneo.
D) Atropina 1 mg em bolus (máximo de 3 mg). Sen-
do ineficaz, considerar com igual nível de indicação
marcapasso transcutâneo imediato ou infusão de
epinefrina ou dobutamina.
E) Atropina 1 mg em bolus (máximo de 3 mg). Sen-
do ineficaz, considerar com igual nível de indica-
ção marcapasso transcutâneo imediato ou infusão
de epinefrina e dopamina.
Resposta correta: letra E

O fluxograma ao lado descreve o novo algoritmo para


bradicardia sintomática em adultos segundo o ACLS
atualizado, veja:

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SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA MAR 22 | 85

É uma questão excelente para revisarmos o manejo da ser perguntado é que doses menores que 0,5 mg podem
bradicardia sintomática em adultos. Em primeiro lugar, paradoxalmente causar bradicardia, um dos motivos da
o aluno necessita estar por dentro da última atualização última modificação no algoritmo. Em casos ineficazes,
do ACLS - 2020, pois a dose de atropina inicial mudou ou mesmo em casos em que há baixa probabilidade de
de 0,5 para 1 mg! Fique atento. Ela pode ser repetida a resposta (Mobitz II ou BAV 3o grau), o aluno também
cada 3-5 minutos até a dose máxima de 3 mg. Um outro deve se lembrar de que não é necessário esperar a dose
ponto que o novo ACLS coloca que pode eventualmente máxima de atropina para indicar o próximo passo.

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Marcapasso transcutâneo, infusão com dopamina (e QUESTÃO 56


não dobutamina, cuidado!) ou infusão com epinefri-
na podem ser utilizadas sem preferência inicial, sendo A degeneração combinada subaguda de medula espi-
sua escolha baseada nas características do paciente e da nhal é quadro de mielopatia metabólica associada à de-
equipe, tendo em vista o que for mais fácil e prático. A ficiência de vitamina:
velocidade da infusão da dopamina também teve um A) B12.
novo ajuste na atualização, sendo 5 a 20 mcg/kg/min. B) B3.
Já a velocidade da epinefrina é de 2-10 mcg/minuto.
C) B2.
A) INCORRETA: dose antiga de atropina. Marcapas- d) B6.
so ou infusão (dopamina ou epinefrina) são igual-
mente possíveis na ausência de resposta. E) B1.
B) INCORRETA: dose antiga de atropina. Pelo ACLS, Resposta correta: Letra A
dobutamina não está indicada para estes casos.
C) INCORRETA: dose certa de atropina, porém mar- Comentários:
capasso ou infusão (dopamina ou epinefrina) são Essa questão do SUS-SP foi bem direta – o autor queria
igualmente possíveis na ausência de resposta. saber qual é a deficiência vitamínica responsável pela
D) INCORRETA: dose certa de atropina, porém a ques- condição chamada de degeneração combinada su-
tão cita dobutamina que não está indicada pelo ACLS. baguda da medula espinhal. Hein? Calma! Você que
E) CORRETA: conforme vimos, a dose indicada está nunca ouviu falar nesse termo, está no lugar certo para
certa (1 mg de atropina em bolus) e se ineficaz aprender! Vamos lá!
(dose máxima de 3 mg, podendo repetir a cada A degeneração combinada subaguda é uma doença
3-5 minutos) marcapasso ou infusão (dopamina que resulta da deficiência de vitamina B12, e que ocor-
ou epinefrina) são igualmente possíveis. re predominantemente na substância branca da medula
espinhal, resultando numa perda de bainhas de mieli-
Take-Home Message: na. Ela afeta principalmente as colunas posteriores e
laterais, e acomete num primeiro momento a medula
- Lembrar da dose atualizada da atropina: 1 mg em torácica, e, posteriormente, a cervical e a lombar.
bolus, podendo se repetir a cada 3-5 minutos, com
dose máxima de 3 mg. E o que “passa” na parte dorsal (posterior) da medula?
A sensibilidade profunda, como a propriocepção e a
- Marcapasso transcutâneo ou infusão (dopamina ou vibratória, que ascendem até o bulbo, através do fas-
epinefrina) são igualmente possíveis na ausência de cículo grácil (que transmite as informações dos mem-
resposta a atropina. bros inferiores) e cuneiforme (transmite a sensibilidade
- Lembre-se de que ritmos como Mobitz II e BAV dos membros superiores). Observem a imagem abaixo,
terceiro grau não costuma responder com atropina, para melhor entendimento:
por isso não espere a repetição de 3 doses antes de
prosseguir com o algoritmo.

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SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA MAR 22 | 87

Fonte: FMRP-USP - Profa. Dra. Luiza da Silva Lopes.

O azul claro representa os tratos sensitivos da medula, e A investigação diagnóstica inclui exames laborato-
são justamente eles, principalmente os dorsais, afetados riais, que mostrarão níveis baixos de Vitamina B12,
pela degeneração combinada subaguda. ou próximos ao limite inferior da normalidade. A
E quais são os principais sintomas? Marcha atáxica de- dosagem de ácido metilmalônico e homocisteína são
vido ao acometimento da propriocepção (chamamos de úteis, porque ambos estão aumentados na deficiên-
ataxia sensitiva), paraparesia espástica, queimação e dor cia de B12.
em pés e mãos (pelo acometimento também de nervos Outro exame que pode ajudar é a ressonância magné-
periféricos). Em estágios mais avançados de deficiência tica de coluna, que mostrará uma alteração de sinal,
de vitamina B12 podem ocorrer demência, déficit vi- na sequência T2, nas colunas dorsais (posteriores) e
sual (secundário a uma neuropatia óptica), hipotensão laterais da medula espinhal, que realça ao contraste.
ortostática, anosmia, disgeusia (não é só COVID-19 Após o tratamento, esses achados desaparecem (foto
que dá isso! Rs) e disfunção esfincteriana. abaixo).

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88 | MAR 22 SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA

Fonte: Merritt’s Neurology, 14ª edição, 2022.

O tratamento é feito através da reposição de vitamina codifica uma proteína transportadora de riboflavi-
B12 (cianocobalamina), na dose de 1000mcg diaria- na no intestino, e síndrome de Brown-Vialetto-Van
mente por uma semana, depois 1 vez por semana por 1 Laere, cujo “defeito” está no gene SLC52A2, com
mês, e depois mensalmente. mecanismo fisiopatológico parecido com a doença
de Fazio-Londe.
Agora, vamos analisar as D) INCORRETA. A deficiência de piridoxina (vita-
alternativas: mina B6) pode levar a uma neuropatia periférica,
ataxia, alteração do nível de consciência e até mes-
A) CORRETA. Conforme acabamos de revisar, a de- mo crises convulsivas.
ficiência de vitamina B12 pode levar a sintomas
E) INCORRETA. A falta de tiamina (vitamina B1)
neurológicos em até 40% dos casos, sendo a dege-
leva à clássica encefalopatia de Wernicke, comum
neração combinada subaguda da medula espinhal
em pacientes etilistas e desnutridos, demência de
uma síndrome clássica dessa condição. 
Korsakoff, crises convulsivas e neuropatia periférica.
B) INCORRETA. As manifestações neurológicas da
deficiência de vitamina B3 (niacina) são encefalo-
patia e neuropatia periférica. Take-Home Message:
C) INCORRETA. A riboflavina (vitamina B2) é es- A degeneração combinada subaguda da medula é
sencial para a síntese de mielina no sistema nervo- uma condição classicamente relacionada à deficiência
so central. A sua deficiência é representada basi- de vitamina B12, que clinicamente se manifesta com
camente por duas doenças genéticas: síndrome de ataxia sensitiva (prejuízo à propriocepção), sinais e sin-
Fazio-Londe (ou paralisia bulbar progressiva), que tomas piramidais, como paraparesia espástica e sinal
ocorre devido a mutações no gene SLC52A3, que de Babinski.

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SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA MAR 22 | 89

QUESTÃO 57 os pacientes a partir da pré hipertensão (≥ 130/85).

Em relação à hipertensão arterial sistêmica, assinale a O tratamento farmacológico está indicado a partir do
alternativa CORRETA: diagnóstico para os hipertensos estágio 1 (≥ 140/90)
de moderado/alto risco CV e em todos os estágios 2 (≥
A) Pacientes com hipertensão arterial sistêmica, diabe- 160/100) e estágio 3 (≥ 180/110).
tes mellitus e proteinúria devem receber inibidor
da enzima conversora de angiotensina e bloqueador Nos hipertensos estágio 1 de baixo risco CV ou nos
do receptor da angiotensina. pré-hipertensos de alto risco CV ou com DCV pre-
existente, o tratamento farmacológico está indicado
B) Em homens hipertensos, o uso de bebida alcoólica
apenas se refratariedade à mudança de estilo de vida.
na dose de 700 ml de cerveja ou de 300 ml de vi-
nho ao dia deve ser fortemente desencorajado. Homens atletas com menos de 30 anos e hipertensão
C) Pacientes com pressão arterial sistólica entre 130 e sistólica isolada podem ter hipertensão arterial espú-
139 mmHg e pressão arterial diastólica entre 85 a ria, situação na qual a pressão aórtica central é normal.
89 mmHg e risco cardiovascular moderado devem Ainda não está claro se isso resulta em menor risco car-
receber inibidor da enzima conversora de angioten- diovascular. A diretriz brasileira de hipertensão de 2017
sina ou bloqueador do receptor da angiotensina. orientava tratamento nesses casos apenas se alto risco
CV ou lesão de órgão alvo. A última diretriz de 2020
D) A hipertensão arterial sistólica isolada em homem
não faz nenhuma orientação específica para esses casos.
com 25 anos de idade somente deve ser tratada
farmacologicamente se o risco cardiovascular for A) Pacientes com hipertensão arterial sistêmica, diabe-
alto ou se houver lesão de órgão alvo. tes mellitus e proteinúria devem receber inibidor
da enzima conversora de angiotensina e bloqueador
Resposta correta: Letra D do receptor da angiotensina. - ERRADO, a associa-
ção de IECA com BRA é contraindicada
Vamos relembrar as principais drogas para o tratamen-
B) Em homens hipertensos, o uso de bebida alcoólica
to de HAS.
na dose de 700 ml de cerveja ou de 300 ml de vinho
Como primeira linha, temos os IECAs ou BRAs (sen- ao dia deve ser fortemente desencorajado. - ERRA-
do que a associação de ambos é proscrita pelo risco de DO, álcool é um fator de risco para hipertensão por
lesão renal aguda e hipercalemia) e/ou  BCC e/ou Tia- provocar hiperatividade simpática
zídico. Nos pacientes diabéticos ou nefropatas, prefe- C) Pacientes com pressão arterial sistólica entre 130 e
rir IECA ou BRA para nefroproteção. 139 mmHg e pressão arterial diastólica entre 85 a
Como quarta droga, a recomendação é de adicionar es- 89 mmHg e risco cardiovascular moderado devem
pironolactona (já que a maioria das causas secundárias receber inibidor da enzima conversora de angioten-
é por apneia obstrutiva do sono, que cursa com hipe- sina ou bloqueador do receptor da angiotensina.
raldosteronismo; ou por hiperaldosteronismo primário - ERRADO, pela Diretriz Brasileira de 2020 está
secundário a hiperplasia adrenal cortical bilateral) indicado tratamento apenas nos indivíduos pre-hi-
pertensos de ALTO risco ou com DCV estabelecida
Se PA não controlada, adicionar betabloqueador (se
e que sejam refratários a mudança de estilo de vida.
FC > 70 bpm) ou clonidina.
D) A hipertensão arterial sistólica isolada em homem
Como última linha, os vasodilatadores de ação direta (mi- com 25 anos de idade somente deve ser tratada
noxidil ou hidralazina, sempre associar com diurético e be- farmacologicamente se o risco cardiovascular for
tabloqueador, porque eles tem risco de taquicardia reflexa alto ou se houver lesão de órgão alvo. - CORRE-
e de retenção de sódio e água secundárias a vasodilatação) TA, recomendação constava na 7ª Diretriz Brasi-
Pela última diretriz brasileira de hipertensão (2020), as leira de Hipertensão (2017), consenso vigente na
mudanças de estilo de vida estão indicadas para todos época da prova.

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90 | MAR 22 SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA

Take-Home Message: Primeiro GRAVEM quando devemos começar o ras-


• 1a linha: IECA/BRA e/ou BCC e/ou Tiazídico (se treio de lesões de órgão alvo, que será o mesmo para os
diabético ou nefropata, preferir IECA/BRA para 3 grupos que estudaremos:
nefroproteção). IMEDIATAMENTE APÓS O DIAGNÓSTICO em
• 2a linha: espironolactona pacientes com DM2

• 3a linha: betabloqueador (se FC > 70 bpm) ou clo- 5 ANOS APÓS O DIAGNÓSTICO em pacientes
nidina com DM1

• 4a linha: vasodilatadores de ação direta (minoxidil Essa diferença se dá por um simples motivo: não é pos-
ou hidralazina) sível definir quanto tempo de DM2 um paciente tem,
já que passa anos assintomático. Como um quadro de
• Homem jovem com hipertensão sistólica isolada: DM1 abre com uma complicação muito marcante, te-
considerar hipertensão arterial espúria e medida da mos mais segurança de que antes da complicação agu-
pressão aórtica central da, não havia doença estabelecida.
• Tratar farmacologicamente, no momento do diag- Dito isso vamos fazer um panorama dos 3 principais
nóstico, os hipertensos estágio 1 de alto risco CV; órgãos alvo do Diabetes:
estágio 2 e estágio 3
Nefropatia diabética 
• Tratar farmacologicamente estágio 1 de baixo risco
CV refratários a MEV e os pré-hipertensos apenas 1. Uma das principais causas de doença renal crônica
de alto risco CV também refratários. (há divergências se a principal causa no Brasil seria
ela ou a hipertensiva)
2. O mecanismo de lesão é majoritariamente glo-
QUESTÃO 58 merular. Portanto o grande exame de rastreio é a
dosagem de albumina na urina. Isso é feito com
Mulher, 52 anos, com hipertensão e diabetes tipo 2 há 4
a relação albumina/creatinina maior que 30mg/g.
anos, relata que ultimamente vem urinando mais, com
Além disso, como há uma chance razoável de evo-
surgimento de nictúria no último mês. Refere dificul-
lução para DRC, devemos medir a TFG periodica-
dade para aderir a dieta e exercício físico regularmente.
mente.
Está em uso de losartana, metformina e gliclazida. Exa-
me físico sem alterações. Glicemia de jejum: 246 mg/ 3. A evolução natural da doença é: HIPERFILTRA-
dL, hemoglobina glicada: 8,9% (VR: 4,3-6,1); funções ÇÃO >> MICROALBUMINÚRIA >> MACRO-
hepática e renal normais. Qual exame mais adequado ALBUMINÚRIA
para rastreio de complicação crônica do diabetes neste 4. Tratamento é feito com 1) Medidas dietéticas com
momento? máximo de proteína de 0,8g/kg/dia 2) Controle da
A) Ultrassonografia de rins dislipidemia 3) Interrupção do tabagismo
B) Fundo de olho  1. Destaque para uso de drogas inibidoras do sis-
C) Gasometria venosa tema renina angiotensina aldosterona que, se ini-
D) Lipidograma ciadas em fase sem doença renal crônica estabeleci-
da são NEFROPROTETORAS
Resposta correta: Letra B

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SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA MAR 22 | 91

Retinopatia diabética - Neuropatia autonômica: representada pela gastropa-


Dentre rim, olho e nervos, essa é a mais comum! E é a resia, pela hipotensão postural, pela incontinência
principal causa de cegueira acima dos 20 anos! Existem urinária... Ou seja, por disfunções autonômicas
2 tipos que serão divididas da seguinte forma: múltiplas!

- Retinopatia diabética proliferativa: mais grave, - Mononeuropatias: acometimento de um par crania-


marcada notadamente pela presença de NEOVAS- no, de um grande nervo... Exemplo: síndrome do
CULOGÊNESE. túnel do carpo.

- Retinopatia diabética não proliferativa:


1. Leve: apenas microaneurismas - O rastreio é feito por um bom exame clínico (pesqui-
sa das neuropatias autonômicas) associada a teste
2. Moderada: microaneurismas e qualquer outra coisa com monofilamento de 10g, buscando alterações
diferente dos critérios graves táteis, térmicas e dolorosas
3. Severa: Hemorragia nos quatro quadrantes OU al- - Tratamento é feito direcionado com a causa:
terações vasculares intrarretinianas OU Dilatações
venosas - Gastroparesia: procinéticos

4. Muito severa: 2 das acima - Hipotensão postural: medidas comportamentais (não


levantar muito rápido)
Existe uma alteração muito típica chamada Edema
Macular Diabético, que não está relacionada ao grau - Gabapentina ou pregabalina para dores neuropáticas
da retinopatia, mas é a principal responsável pela perda
de acuidade visual. Vamos às alternativas: 
O grande exame é o fundo de olho! É um exame no A) INCORRETA US de rins não é um bom exame
geral anual, tirando algumas situações especiais (Ex. de rastreio, já que só se altera quando há doença
Gravidez que deve ser feito trimestralmente) estabelecida
Alguns métodos de tratamento: Inibidores da VEGF B) CORRETA Exame correto para uma complicação
(Bevacizumabe); fotocoagulação a laser e implan- muito comum
te vítreo. C) INCORRETA Não é exame de rastreio
Neuropatia diabética  D) INCORRETA O controle da dislipidemia é adju-
vante, mas não é indicado para rastreio de compli-
- Tem como grande representante a polineuropatia dis- cações.
tal simétrica que se inicia na região plantar e tem ca-
ráter ascendente (a chamada neuropatia em meia),
porém existem outros tipos de acometimento:

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92 | MAR 22 SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA

Take-Home Message:
- Complicações crônicas do DM tem como foco 3 alvos: olho, rim e nervos.
- Sua pesquisa deve ser:
1. IMEDIATAMENTE APÓS O DIAGNÓSTICO em pacientes com DM2
2. 5 ANOS APÓS O DIAGNÓSTICO em pacientes com DM1
- Grave essa tabelinha:

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SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA MAR 22 | 93

QUESTÃO 59 pitalização, quadros infecciosos, uso de benzodiazepíni-


cos ou opioides e distúrbios eletrolíticos/metabólicos.
Mulher, 85 anos, portadora de síndrome da fragilidade
e hipertensão arterial sistêmica. Interna devido a pneu- O diagnóstico passa pelos dos aspectos apresentados
monia e evolui, no segundo dia de internação, com agi- acima: AGUDO e FLUTUANTE. Esses dois ele-
tação e confusão mental. Ao exame físico: REG, con- mentos são suficientes para distinguir de um quadro
fusa, desidratada 1+/4+. PA: 149 x 68 mmHg, FC 92 demencial prévio. O paciente com delirium apresen-
bpm, FR: 18 irpm, satO2: 94% com cateter nasal a 2 ta déficit de atenção associado a alteração do nível de
L/min. Ausculta pulmonar: MV presente, com roncos consciência ou pensamento desorganizado.
de transmissão difusos. Ausculta cardíaca sem altera- O tratamento sempre passa pela resolução do fator de-
ções. Abdome doloroso à palpação difusa, sem massas sencadeante associado a:
ou visceromegalias palpáveis. Em relação à alteração
1. Orientação espaço temporal do paciente: uso das órte-
comportamental, qual é o tratamento medicamentoso
ses, correta iluminação do quarto, visita de familiares
mais adequado?
2. USO DE HALOPERIDOL! Em caso de delirium
A) Diazepam
que cursa com agitação psicomotora essa é a droga
B) Clorpromazina de escolha!!! Não usar benzodiazepínicos por ser fa-
C) Clonazepam tor desencadeante. Outra opção é a quetiapina.
D) Haloperidol Aproveitando o tema, a questão fala que a paciente é
Resposta correta: Letra D portadora de síndrome de fragilidade. Vamos revê-la:
A Síndrome de Fragilidade é uma das principais síndro-
Uma paciente idosa, frágil, infectada e internada evo- mes geriátricas, cuja prevalência aumenta com a idade. É
lui com agitação psicomotora. Estamos diante de um definida por uma maior vulnerabilidade aos traumas dos
clássico caso de delirium, uma das complicações mais mais variados tipos (internações, doenças, cirurgias...).
comuns de qualquer enfermaria.
Façam um exercício de memória: um idoso de 95 anos
Trata-se de um estado de alteração mental AGUDO é necessariamente frágil? De maneira nenhuma!! Por-
e FLUTUANTE (melhora ao longo do dia e piora a tanto a idade é apenas um fator de risco.
noite) e tem como principais fatores de risco a idade
Há uma miríade de escalas e critétios diagnósticos dis-
avançada e a existência de alguma demência prévia.
poníveis na literatura. A mais simples e que ajuda a res-
São vários os fatores capazes de desencadear um quadro ponder boa parte das questões é a escala FRAIL:
de delirium. Os mais comuns da pratica medica são: hos-

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94 | MAR 22 SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA

Se o paciente apresentar 3 ou mais pontos, está disg- QUESTÃO 60


nosticada a Síndrome. Não caiam na pegadinha: DÉ-
FITIC COGNITIVO NÃO É CRITÉRIO!! É apenas Paciente masculino, 52 anos, sedentário, recebendo
um fator de risco. atendimento de rotina com diagnóstico de hipertensão
arterial. Ao exame físico apresenta-se com IMC: 42kg/
Não há tratamento medicamentoso específico. Mas há m² e pressão arterial de 132 x 82 mmHg e com os se-
sim um tratamento. Como podemos fazer que um ido- guintes resultados de exames laboratoriais: glicemia:
so não se torne frágil? 112 mg/dl, teste de tolerância à glicose 75g (GTT 75):
- Ora, se pelo menos 3 dos critérios diagnósticos en- 112/190, colesterol total: 198 mg/dl, HDL colesterol:
volvem perda de massa muscular (fadiga, resistência 49 mg/dl, triglicérides: 270 mg/dl, creatina: 0,8 mg/dl,
e deambulação), dois tratamentos fundamentais são: TGO: 28 mg/dl, TGP: 37 mg/dl, urina tipo 1: sem al-
NUTRIÇÃO adequada e ATIVIDADE FÍSICA terações. Além das orientações de cuidados não farma-
cológicos como orientação dietética e atividade física
- Alguns estudos demonstraram que o estímulo cog-
regular, que medicação seria mais adequada à condição
nitivo também tem seu papel para tanto a profilaxia
de saúde do paciente?
quanto o tratamento.
A) Sitagliptina (inibidor da DDP4)
Vamos às alternativas B) Dapaglifozina (inibidor do SGL T2)
C) Glibenclamida (sulfoniureia)
A) INCORRETA Não devemos usar benzodiazepíni-
cos!! D) Metformina (biguanida)
B) INCORRETA Não se trata da primeira escolha Resposta correta: Letra D
C) INCORRETA Não devemos usar benzodiazepíni-
cos!!
D) CORRETA Droga de primeira escolha

Take-Home Message:
- Delirium é estado confusional AGUDO e FLU-
TUANTE!
- Idade avançada e estado demencial prévio são os
principais fatores de risco
- O tratamento passa pela retirada de fator desenca-
deante (infecção? Internação? Distúrbios metabóli-
cos?) e uso de Haloperidol se agitação psicomotora
Não usar benzodiazepínicos!

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SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA MAR 22 | 95

A) INCORRETA. Sitagliptina é um antidiabético oral C) INCORRETA. Glibenclamida é um antidiabético


utilizado no tratamento de diabetes, cujo mecanis- oral utilizado no tratamento de diabetes, cujo me-
mo de ação é a inibição da enzima DDP-4, tendo canismo de ação ocasiona aumento da secreção de
efeito incretínico (aumenta síntese e secreção de in- insulina. O paciente em questão não tem diabetes.
sulina). O diagnóstico de diabetes seria feito caso D) CORRETA. Para os indivíduos com intolerância a
houvesse uma glicemia de jejum ≥ 126 e uma gli- glicose, a mudança de estilo de vida é o tratamento
cemia após 2h no TTOG (teste de tolerância oral à recomendado (redução de peso corporal em caso de
glicose) ≥ 200. Pelos valores indicados, o paciente obesidade, atividade física de ao menos 150 minu-
em questão tem um diagnóstico de intolerância à tos por semana). Mas pode ser considerado o uso
glicose, com risco aumentado para desenvolver dia- de metformina, especialmente em pacientes com
betes, mas não tem diabetes. obesidade, que é o caso em questão (IMC=42).
B) INCORRETA. Dapaglifozina é um antidiabético
oral utilizado no tratamento de diabetes, cujo meca- Explicação:
nismo de ação é a inibição de SGLT-2 em túbulo renal
Os critérios diagnósticos de diabetes mellitus podem
proximal. O paciente em questão não tem diabetes.
ser vistos na tabela a seguir:

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96 | MAR 22 SIMULADO R1 - CLÍNICA MÉDICA

Como se pode observar pela tabela, o diagnóstico de


diabetes no presente caso seria feito caso houvesse uma
glicemia de jejum ≥ 126 e uma glicemia após 2h no
TTOG (teste de tolerância oral à glicose) ≥ 200. Pe-
los valores indicados, o paciente em questão tem um
diagnóstico de intolerância à glicose, com risco aumen-
tado para desenvolver diabetes, mas não tem diabetes.
É muito importante observar que, na ausência de sin-
tomas clássicos e glicemia casual ≥ 200, o diagnóstico
de diabetes só é fechado quando há repetição dos testes
em outro dia, com exceção do TTOG.
Para os indivíduos com intolerância a glicose, a mu-
dança de estilo de vida é o tratamento recomendado
(redução de peso corporal em caso de obesidade, ativi-
dade física de ao menos 150 minutos por semana), po-
dendo reduzir em até 58% o risco de desenvolvimento
de diabetes. A metformina pode promover alguma per-
da de peso e exercer algum efeito na redução de LDL e
triglicérides. Sendo assim, pode ser usada em pacientes
com intolerância a glicose que tenham obesidade.

Take-Home Message::
O diagnóstico de diabetes é estabelecido quando há
uma glicemia de jejum ≥ 126md/dL; uma glicemia
após 2h no TTOG (teste de tolerância oral à glicose)
≥ 200md/dL; uma hemoglobina glicada ≥ 6,5% ou
na presença de sintomas clássicos (poliúria, polidipsia,
polifagia) e de uma glicemia aleatória ≥ 200mg/dL. É
muito importante observar que, na ausência de sinto-
mas clássicos e glicemia casual ≥ 200, o diagnóstico de
diabetes só é fechado quando há repetição dos testes
em outro dia, com exceção do TTOG.

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SIMULADO R1 - PREVENTIVA MAR 22 | 97

PREVENTIVA
QUESTÃO 61 Explicação:
Durante a reunião de discussão de família, a agente co- Existem várias formas de composição familiar. A famí-
munitária de saúde (ACS) lia “nuclear” ou “tradicional”, que seria a família “pa-
informou que uma nova família havia se mudado para drão”, é formada por pai, mãe e filhos biológicos. A
o território da Unidade de Saúde da Família (USF). Por família “extensa” inclui pessoas de mais de uma geração
meio da visita domiciliar para o cadastramento, a ACS com relações de consanguinidade e a família “abran-
identificou que no domicílio residia um casal jovem gente” inclui os não parentes que moram na mesma
(homem 35 anos e mulher 33 anos), com duas crianças casa. Também há as famílias monoparentais, em que
(um menino de 7 anos e uma menina de 4 anos). A há apenas pai ou mãe; as famílias reconstituídas, após
mulher estava desempregada, o marido trabalhava em divórcio e novo casamento e as famílias funcionais, as
uma indústria de bebidas durante o dia, o menino esta- famílias compostas, em que há integrantes que man-
va frequentando a escola e a menina ficava em casa com tém laços consanguíneos com apenas um dos pais (o
mãe, pois não havia vaga na creche do bairro. A mulher pai ou a mãe).
informou também que ela e o marido não eram os pais
biológicos das crianças. Take-Home Message::
Considerando as estruturas familiares, a equipe pode Existem várias formas de composição familiar. A família
classificar esta família como: “nuclear” ou “tradicional”, que seria a família “padrão”,
A) Extensa. é formada por pai, mãe e filhos biológicos. A família
B) Composta. “extensa” inclui pessoas de mais de uma geração com
C) Nuclear. relações de consanguinidade e a família “abrangente”
inclui os não parentes que moram na mesma casa.
D) Funcional.
Nas famílias compostas, há integrantes que mantém la-
Resposta correta: Letra D ços consanguíneos com apenas um dos pais (o pai ou
a mãe).
A) INCORRETA. A família “extensa” inclui pessoas de
mais de uma geração com relações de consanguinidade. Fique atent(o) a esses conceitos, pois podem aparecer
nas provas.
B) INCORRETA. Nas famílias compostas, há inte-
grantes que mantém laços consanguíneos com ape-
nas um dos pais (o pai ou a mãe).
C) INCORRETA. A família “nuclear” ou “tradicio-
nal”, que seria a família “padrão”, é formada por
pai, mãe e filhos biológicos.
D) CORRETA. Você pode ter chegado a essa alterna-
tiva por exclusão das demais, mas fique tranquilo.
Nesse caso, a família pode ser considerada funcio-
nal, pois cumpre suas funções básicas de criação
de seus membros, além de cada um de seus inte-
grantes ter papeis bem definidos.

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98 | MAR 22 SIMULADO R1 - PREVENTIVA

QUESTÃO 62 Explicação:
Gestante, 30 anos, G2P1A0C1, IG 1º USC 26 sema- De acordo com o art. 14 da Lei no 7.210, de 11 de
nas. Vinha realizando o pré-natal julho de 1984 – Lei de Execução Penal:
em Unidade de Saúde da Família (USF) quando foi “§ 3o Será assegurado acompanhamento médico à
condenada a cumprimento definitivo de mulher, principalmente no pré-natal e no pós-parto,
pena, com reclusão em regime fechado. Além do parto extensivo ao recém-nascido.” (NR)”
hospitalar, a gestante terá direito: Nessa mesma lei, temos:
A) Terminar pré-natal em estabelecimento prisio- “§ 2o Os estabelecimentos penais destinados a mulhe-
nal. Período de amamentação de 6 meses em pri- res serão dotados de berçário, onde as condenadas pos-
são domiciliar. sam cuidar de seus filhos, inclusive amamentá-los, no
B) Terminar pré-natal em USF. Retorno para estabele- mínimo, até 6 (seis) meses de idade.” (NR)”
cimento prisional após o parto.
C) Terminar pré-natal em unidade prisional. Período Take-Home Message::
de amamentação em berçário de unidade prisional.
D) Terminar pré-natal em USF. Período de amamenta- Questão bastante específica, mas não se esqueça: por
ção de 6 meses em prisão domiciliar. lei, os presídios devem contar com atendimento pré-
-natal (ou assegurar que as presas consigam fazê-lo fora,
Resposta correta: Letra C quando indisponível) e berçários onde as condenadas
possam amamentar seus filhos.
A) INCORRETA. Os presídios devem contar com
atendimento pré-natal (ou assegurar que as presas
consigam fazê-lo fora, quando indisponível) e ber-
çários onde as condenadas possam amamentar seus
filhos
B) INCORRETA. As gestantes cumprem a pena na
prisão, tendo direito a acompanhamento pré-natal
na prisão, quando disponível, ou fora, mas em regi-
me de cárcere.
C) CORRETA. De acordo com a Lei de Execução
Penal, as gestantes devem ter assegurado acom-
panhamento pré-natal e os presídios devem ter
berçários onde as condenadas possam amamentar
seus filhos
D) INCORRETA. Pelos motivos já explicitados nas
alternativas anteriores

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SIMULADO R1 - PREVENTIVA MAR 22 | 99

QUESTÃO 63 Explicação:
Paciente do sexo feminino, 20 anos, comparece à Uni- Hipertireoidismo é o aumento da produção de hormô-
dade de Saúde da Família (USF) para consulta, com nios pela tireoide, enquanto tireotoxicose é o quadro
história de há 2 meses ter iniciado quadro de palpi- clínico decorrente da exposição do organismo ao exces-
tações, irritabilidade e fraqueza. Em registro anterior so de hormônios tireoidianos (HT). O hipertireoidis-
de prontuário, observou-se ainda, perda ponderal de mo pode ser declarado, em que há aumento das con-
4 Kg, no período. Nega uso de medicações. Ao exame centrações de HT e supressão de TSH, ou subclínico,
peso 52kg, FC: 114bpm. PA: 110 x 70 mmHg. FR em que há supressão de TSH com valores normais de
14 ipm. Pele quente e úmida. ACV: Ritmo Regular, HT, na ausência de doença hipofisária ou hipotalâmica.
com 2 Bulhas normofonéticas, sem sopros. AR: MV+ As principais causas de hipertireoidismo são: doença de
Simétrico, sem RA. Tireoide: palpável, sem aumento Graves, bócio multinodular e adenoma
de tamanho e sem nódulos palpáveis. Qual a melhor
conduta inicial a ser realizada no contexto da atenção tóxico. As tireoidites são uma outra causa, embora me-
primária à saúde? nos comuns.
A) Solicitar anticorpos anti-receptores de TSH Os sintomas mais comuns nos quadros de tireotoxicose
(TRAb). são irritabilidade, sudorese excessiva, palpitaçãol, aste-
B) Solicitar ultrassom de tireoide, TSH e T4 livre. nia, perda de peso, diarreia, poliúria e oligomenorreia.
C) Solicitar TSH, T4 livre e T3. A confirmação diagnóstica se faz pela dosagem de TSH
D) Solicitar TSH, cintilografia de tireoide com capta- e hormônios tireoidianos (geralmente T4L), que, na
ção. forma declarada da doença, se encontram respectiva-
mente, diminuído e elevados. É importante lembrar
Resposta correta: Letra C que o melhor parâmetro laboratorial de controle do hi-
pertireoidismo são os níveis de T4L e T3L, visto que as
A) INCORRETA. A utilidade diagnóstica do TRAb, dosagens de TSH podem permanecer suprimidas por
na maioria dos casos, é limitada, pois a análise dos vários meses após início do tratamento.
sinais e sintomas, bem típicos no caso em questão,
aliada à constatação da hiperfunção da glândula por
TSH/T4L, torna desnecessário esse exame num Take-Home Message::
primeiro momento. As principais causas de hipertireoidismo são: doença de
B) INCORRETA. Como não foi constatada nodu- Graves, bócio multinodular e adenoma tóxico.
lação ao exame físico, o ultrassom de tireoide é Os sintomas mais comuns nos quadros de tireotoxicose
dispensável como exame inicial para realização do são irritabilidade, sudorese excessiva, palpitaçãol, aste-
diagnóstico no contexto da Atenção Primária. nia, perda de peso, diarreia, poliúria e oligomenorreia.
C) CORRETA. A confirmação diagnóstica ho hiper-
tireoidismo se faz pela dosagem de TSH e hormô- A confirmação diagnóstica se faz pela dosagem de TSH
nios tireoidianos. e hormônios tireoidianos (geralmente T4L). O hiper-
tireoidismo pode ser declarado, em que há aumento
D) INCORRETA. O exame de cintilografia é dispen- das concentrações de hormônios tireoidianos (HT) e
sável como exame inicial para realização do diag- supressão de TSH, ou subclínico, em que há supressão
nóstico no contexto da Atenção Primária. de TSH com valores normais de HT

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100 | MAR 22 SIMULADO R1 - PREVENTIVA

QUESTÃO 64 Explicação:
Gilberto é residente de MFC e gostaria de iniciar em O trabalho com grupos é uma importante ferramenta de
sua unidade de saúde um grupo de apoio para cessação abordagem comunitária na Atenção Primária à Saúde.
do tabaco. Ele e seu preceptor estão na fase de plane- É fundamental um bom planejamento, com estabeleci-
jamento do grupo. Em relação ao referencial teórico, mento de objetivos claros para a ação comunitária. O
utilizarão ferramentas como o feedback e os reforços vínculo é um componente importante nesse trabalho.
dos próprios participantes, e as atividades terão como O compartilhamento de experiências em um ambiente
objetivo organizar, orientar os membros, monitorar de reflexão compreensiva tende a abrir caminho para o
comportamentos elencados como problemas pelos par- diálogo em grupo e, posteriormente, para a mudança
ticipantes, avaliar o progresso e planejar procedimentos em grupo.
específicos de mudança e manutenção para mudanças
de comportamento. Em relação ao referencial teórico- A formação de grupos faz parte das atividades de atua-
-técnico escolhido por Gilberto e seu preceptor, pode- ção dos membros de uma unidade de Atenção Primá-
mos classificá-lo como: ria à Saúde. O facilitador do grupo pode ser qualquer
membro da equipe que tenha treinamento adequado
A) Terapia cognitivo-comportamental de grupo  aos seus objetivos e características. É recomendado que
B) Grupanálise haja de 3 a 15 pessoas, com duração de uma até duas
C) Terapia interacional (interpessoal) de grupo horas e frequência de uma a três vezes por semana.
D) Terapia sistêmica Existem alguns referenciais teóricos que podem ser utili-
Resposta correta: Letra A zados. Em grupos que tem como objetivo mudanças de
comportamento, é comum utilizar como referencial te-
A) CORRETA. Trata-se de um referencial teórico órico a terapia cognitivo-comportamental de grupo, que
muito utilizado em grupos que tem como objeti- usa como instrumentos para mudança o feedback e os
vo mudanças de comportamento elencados como reforços dos próprios indivíduos componentes do grupo.
problema pelos participantes. Utiliza como ins-
trumentos para promover posturas assertivas o fe- Take-Home Message::
edback e os reforços dos próprios participantes do
grupo.   O trabalho com grupos é uma importante ferramen-
B) INCORRETA. Trata-se de um grupo que utiliza ta de abordagem comunitária na Atenção Primária à
o modelo da psicanálise. O facilitador visa tornar Saúde. É fundamental um bom planejamento, com
consciente o material inconsciente de membros estabelecimento de objetivos claros para a ação comu-
do grupo. nitária. O vínculo é um componente importante nes-
se trabalho.
C) INCORRETA. Nesse tipo de grupo, a aprendiza-
gem interpessoal é o mecanismo curativo funda- O compartilhamento de experiências em um ambiente
mental. O facilitador deve mobilizar essa interação de reflexão compreensiva tende a abrir caminho para o
entre os membros do grupo. diálogo em grupo e, posteriormente, para a mudança
D) INCORRETA. Nesse tipo de grupo, que usa o pa- em grupo.
radigma sistêmico, o facilitador entende o grupo O referencial teórico que é mais utilizado em grupos
como um sistema em que ele próprio está incluído, que tem como objetivo mudanças de comportamento,
promovendo mediação das ideias dos integrantes como cessação de tabagismo, é o da terapia cognitivo-
do grupo. -comportamental de grupo.

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SIMULADO R1 - PREVENTIVA MAR 22 | 101

QUESTÃO 65 A) Corretos. Lucas tentou explorar a experiência com


a doença, o contexto da pessoa e seu conhecimen-
Lucas, médico recém-contratado para atuar uma Equi- to, além de traçar um plano conjunto a fim de
pe de Saúde da Família em meio rural, está realizan- fortalecer a relação entre pessoa e profissional 
do uma visita domiciliar na casa de Dona Conceição, B) Incorretos. Lucas explorou apenas a subjetividade
paciente idosa de 72 anos com sequela de Acidente da queixa e não se ateve às questões biológicas, tra-
Vascular Encefálico (AVE) há cerca de 9 anos. Lucas çando um plano com alto risco de dano desnecessá-
inicia sua visita se apresentando e questionando como rio para a pessoa
ela estava e como ele poderia ajudá-la. De pronto, ela
C) Corretos. Lucas deixou que Conceição falasse sem
responde: “é essa babaceira na boca, meu filho. Não
interrupções prematuras, praticando a escuta ativa,
sei por que me dá isso, é todo dia!”. Lucas já revisara e dividiu o cuidado com outro profissional da equi-
o prontuário da paciente e verificara o diagnóstico de pe, não entrando em discussão quando Conceição
sialorreia como sequela do AVE prévio. Mesmo assim, insistiu em alternativas de cuidado
achou melhor ouvir um pouco mais Dona Conceição.
D) Incorretos. Lucas, apesar de ter explorado bem a doença
Descobriu que era empregada doméstica, mas estava
e o adoecimento, não incorporou a prevenção no seu
aposentada. Ouviu Dona Conceição dizer que é evan-
atendimento, esquecendo-se de solicitar exames de ras-
gélica e frequentadora da igreja do bairro, que tinha três
treamento necessários para uma pessoa de 72 anos
filhos, dois dos quais moravam em outra cidade, além
de uma filha mais nova que, apesar de casada e com Resposta correta: Letra A
seus próprios filhos, também fazia o papel de cuidadora
da paciente. Procurou saber também sua percepção so- A) CORRETA. O item descreve corretamente os pas-
bre o problema apresentado, como sua vida havia sido sos do método clínico centrado na pessoa que fo-
afetada e quais expectativas dela a respeito disso tudo. ram seguidos nesse atendimento.
Ao final, mesmo ponderando com a paciente seu diag- B) INCORRETA. Além de explorar a subjetividade
nóstico anterior, Conceição insistiu se não poderia ser da queixa, Lucas não deixou de levar em considera-
outra coisa e se não havia nada a ser feito. Lucas propôs ção o diagnóstico de sialorreia relacionada ao AVE
então realizar uma avaliação odontológica na próxima e traçou o plano de avaliar, com segurança, opções
visita para descartar outras alterações que pudessem es- farmacológicas para alívio do sintoma, levando em
tar contribuindo para a sialorreia e combinou de estu- consideração as condições de saúde preexistentes.
dar a segurança de opções farmacológicas para alívio do C) INCORRETA. De fato,Lucas deixou Conceição falar
sintoma considerando as condições de saúde de Dona sem interrupção prematura e dividiu o cuidado com
Conceição. A respeito da abordagem de Lucas na con- outro profissional. Quando a paciente insistiu em al-
sulta na perspectiva do Método Clínico Centrado na ternativas de cuidado, lembrou a ela do diagnóstico
Pessoa, pode-se afirmar que a condução da consulta e a prévio relacionado ao AVE, mas ainda assim discutiu
conduta tomada estão: junto com ela opções de manejo, compartilhando a
decisão do cuidado. O item descreve corretamente a
conduta trazendo técnicas de habilidade de comuni-
cação e entrevista motivacional, mas não explicita pas-
sos do método clínico centrado na pessoa.
D) INCORRETA. Lucas, a partir do momento em
que programou avaliação odontológica preventiva
e também programou o estudo de opções farmaco-
lógicas com segurança para prevenir danos, incor-
porou a prevenção no atendimento, ainda que não
tenha realizado pedido de exames de rastreamento.

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102 | MAR 22 SIMULADO R1 - PREVENTIVA

Explicação: contratransferência é um processo, igualmente incons-


ciente, através do qual o médico responde à pessoa de
O método clínico centrado na pessoa é dividido atual- uma forma semelhante a que usou em relacionamentos
mente em quatro componentes: significativos do passado”.(Medicina Centrada na Pes-
1)Explorando a saúde, a doença e a experiência da pes- soa, 3ªed, 2017; Schaeffer, 2007; Murdin, 2010).
soa com a doença: Algumas questões podem abordar a antiga configuração
A saúde e a doença são exploradas através da história, do MCCP, em que os três primeiros componentes eram
exame clínico, exame de laboratório; os mesmos, mas o 4º componente era “Incorporando
prevenção e promoção da saúde”, o 5º componente era
A dimensão da experiência da doença, ou illness, é fei-
“Intensificando a relação médico-pessoa” e o 6º com-
ta abordando-se sentimentos, idéias, efeitos na função,
ponente, “Sendo realista”. Atualmente, a incorporação
expectativas. Para lembrar, há o acrônimo SIFE (senti-
de prevenção e promoção da saúde é vista como sendo
mentos, ideias, função e expectativas), que vale a pena
parte de todos os outros componentes, e não um como
lembrar de questionar durante os atendimentos.
um componente isolado. E “Sendo Realista” foi con-
2) Entendendo a pessoa como um todo, inteira: siderado um aspecto inerente à consulta e ao contexto
O entendimento da pessoa pode se dar através da da relação médico-pessoa, perdendo também seu lugar
abordagem de sua história de vida, aspectos pessoais e como componente isolado. É importante ficar atento a
de desenvolvimento; isso para não confundir.

A abordagem do contexto próximo envolve família,


emprego, comunidade, suporte social; Take-Home Message::
O contexto distante está relacionado a sua cultura, co- O método clínico centrado na pessoa é um tema que
munidade, ecossistema. tem sido cobrado e é bastante simples. Basta me-
3) Elaborando um projeto comum de manejo: morizar os seus quatro componentes:

O médico estabelece problemas e prioridades e com- 1)Explorando a saúde, a doença e a experiência da


partilha com a pessoa objetivos do tratamento e do pessoa com a doença (para abordar experiência da
manejo; são definidos os papéis da pessoa e do médico. doença, lembrar do acrônimo SIFE, sentimentos,
ideias, função e expectativas. Pode ser útil no dia-a-
4) Intensificando a relação médico-pessoa: -dia e mesmo em provas práticas)
São ferramentas usadas pelo médico nesse componente: 2) Entendendo a pessoa como um todo
• compaixão; 3) Elaborando um projeto comum de manejo
• poder (que o médico deve saber, inclusive, como 4) Intensificando a relação médico-pessoa
compartilhar durante a consulta);
Algumas questões podem, ainda, abordar a configu-
• cura; ração antiga do método, antes de sua revisão, que
• autoconhecimento; trazia “Incorporando prevenção e promoção da
saúde” como 4º componente e “Sendo realista”
• transferência e contratransferência
como 6º componente. Esses atributos, agora, são
(transferência é um processo no qual “a pessoa incons- considerados como inerentes à consulta e aos de-
cientemente projeta, em indivíduos de sua vida, pen- mais componentes.
samentos, comportamentos e reações emocionais que
se originam em outros relacionamentos significativos”;

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SIMULADO R1 - PREVENTIVA MAR 22 | 103

QUESTÃO 66 Explicação:
Marília é uma mulher de 35 anos que procura sua uni- A mudança de comportamento é um verdadeiro desafio
dade de saúde para fazer um check-up. Ela não tem co- para a promoção de saúde. Nesse processo, a motivação
morbidades conhecidas, não faz uso de medicamento, é um aspecto chave. No estudo da abordagem motiva-
não tem histórico familiar de doenças, é tabagista, faz cional, são definidos alguns estágios para mudança de
academia e trabalha como vendedora. Você conversa hábito, dentro do chamado modelo transteórico:
com ela sobre o tabagismo, se já tentou parar e se tem 1.Pré-contemplação:
vontade. Ela te diz que sabe que o cigarro é um pro-
blema e preocupa-se com sua saúde, mas também que Nesse estágio, a pessoa não considera a possibilidade de
o cigarro alivia seu estresse e não pensa em parar no mudança e isso não é motivo de preocupação para ela.
momento, mas considera parar eventualmente. Você 2.Contemplação: a pessoa admite que tem um proble-
pensa em trabalhar sua motivação para ajudá-la a parar ma, encontra-se ambivalente com relação à mudança
de fumar. Em relação à motivação para a mudança de e considera adotar mudanças (nos próximos 6 meses).
hábito, é correto afirmar que:
3.Preparação: a pessoa inicia algumas mudanças, faz
A) Não deve ser trabalhada quando há ambivalência planos, cria condições favoráveis para a mudança, revi-
em relação a mudança sa tentativas passadas (nos próximos 30 dias).
B) É algo estático e não muda com o passar do tempo 4. Ação: a pessoa implementa mudanças no ambiente
C) Trabalhar a motivação pode ajudar o paciente a e no comportamento, dedica tempo e energia para que
lidar com sua ambivalência  ocorra e se mantenha a mudança (que ocorreu há me-
D) É algo intrínseco de cada sujeito, e não é influencia- nos de 6 meses).
do por fatores externos ou ambientais 5. Manutenção: é a continuação do trabalho iniciado
Resposta correta: Letra C no estágio de ação, para que a pessoa consiga manter os
ganhos que teve com a mudança e prevenir a recaída
A) INCORRETA. Quando há ambivalência, deve ser nos velhos hábitos (nesse estágio, a mudança ocorreu
trabalhada a motivação para a mudança há mais de 6 meses).
B) INCORRETA. A motivação para mudança de há- Uma pessoa pode transitar por esses estágios, progre-
bitos se modifica com o passar do tempo e as expe- dindo ou regredindo devido a diversos fatores, intrín-
riências da pessoa secos e extrínsecos.
C) CORRETA. Abordar os benefícios da mudança de A entrevista motivacional é uma conversa voltada para
comportamento, trabalhando a motivação, pode o fortalecimento da motivação de uma pessoa, visando
ajudar a lidar com a ambivalência ao seu comprometindo com uma mudança. Tem como
D) INCORRETA. Fatores externos e ambientais, principal objetivo resolver a ambivalência, que é o con-
como a convivência com outras pessoas de deter- flito psicológico existente quando há a necessidade de
minados hábitos perniciosos, influenciam bastante decidir entre dois caminhos possíveis. Trata-se de uma
o processo de mudança de hábitos. intervenção breve que pode ser muito útil no contexto
de educação e promoção em saúde.

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104 | MAR 22 SIMULADO R1 - PREVENTIVA

Take-Home Message:: Resposta correta: Letra C


A mudança de comportamento é um verdadeiro desafio
para a promoção de saúde. É muito comum as questões A) INCORRETA. Nos encontros clínicos da Aten-
abordarem, principalmente em contexto de cessação de ção Primária, dá-se preferência ao registro clínico
tabagismo e outros hábitos, os estágios de mudança de orientado por problemas, que é dividido no SOAP,
comportamento, que são: pré-contemplação, contem- sendo S a parte subjetiva, em que se registra o relato
plação, preparação, ação e manutenção. É importante da pessoa; O a parte objetiva, em que se registram
lembrar de cada um desses estágios e também lembrar exame físico e exames complementares; A a parte
do termo ambivalência, que é o conflito psicológico em de avaliação, em que é trazida a lista de problemas
que a pessoa se encontra quando precisa decidir entre da consulta e P o plano de manejo.
permanecer com o hábito ou abandoná-lo. É importante B) INCORRETA. O prontuário de fato pertence ao
que esse conflito seja abordado, estimulando a mudança. paciente, que tem total direito de acesso e pode so-
licitar cópia, mas é de responsabilidade do médico
o registro dos dados pertinentes no atendimento,
QUESTÃO 67 não sendo necessário, e até mesmo improdutivo,
que haja autorização expressa para registro de todos
Manter uma boa qualidade dos registros em prontuário eles. Em caso de dados sigilosos ou que se considere
de pacientes é uma importante tarefa, não só por sua que possam comprometer o paciente por alguma
característica documental legal. Um bom registro pode razão, é importante que o profissional e a pessoa
também facilitar a busca de informações ou até mesmo estejam de comum acordo quanto ao registro.
o raciocínio clínico. Sobre os registros em prontuário, é
C) INCORRETA. Com frequência, não se chegará a
correto afirmar que:
um diagnóstico específico nas consultas da Atenção
A) É muito comum que nos encontros clínicos da Primária, tanto porque o quadro pode estar ainda
atenção primária os pacientes tragam mais de uma em evolução, quanto pela possibilidade de sinto-
demanda a ser abordada. Por isso, o melhor registro mas inespecíficos que muitas vezes não vão gerar
de anamnese a se fazer é com base na queixa princi- um diagnóstico fechado. O ReSOAP prevê isso e
pal. Após essa definição, pode-se registrar a história na lista de problemas, ou no “A”, também chamado
da doença/moléstia atual, antecedentes e interroga- de avaliação, estimula que sejam colocados sinais
tório sistemático e sintomas ou diagnóstico sindrômico quando não
B) Numa perspectiva legal, o prontuário pertence há diagnóstico específico.
a pessoa que está sendo cuidada. Dessa forma, o D) CORRETA. O registro deve ser sumário e seguir
profissional deve pedir autorização ao paciente para recomendações, mas diferentes estilos de escrita
registrar todos os dados que ali estiverem contidos. devem ser respeitados.
C) O Registro em Saúde Orientado por Problemas (Re-
SOAP) é a forma de registro mais adequada a aten- Explicação:
ção primária, uma vez que afunila as diferentes possi- O Registro Orientado por Problemas constitui impor-
bilidades de interpretação para as demandas trazidas tante ferramenta de memória para o profissional de
a fim de se chegar a um diagnóstico específico saúde, além de instrumento de apoio à decisão clínica
D) O registro médico é diferente de uma narrativa, sen- e qualidade e continuidade do cuidado prestado. Esse
do mais sumário e sem necessariamente prescindir registro é realizado na forma do SOAP, que pode ser
de frases completas. Mesmo assim, ainda há espaço visto a seguir:
para diferentes manifestações de estilos de escrita

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SIMULADO R1 - PREVENTIVA MAR 22 | 105

Importante: A avaliação ou lista de problemas não Take-Home Message::


deve conter diagnósticos não confirmados ou suspei-
tos seguidos de interrogação. Exemplo: HAS? Apen- O Registro Clínico Orientado por Problemas é uma
dicite? Gastrite? Depressão? Em vez disso, é preferível importante ferramenta de coordenação do cuidado de
que sejam descritos os sinais e sintomas revelantes ou um paciente. É importante lembrar o significado de
diagnóstico sindrômico e o tempo em que começaram. cada sigla do SOAP, em que temos: Subjetivo; Obje-
Exemplo: “Medida isolada de PA elevada” ; “Abdome tivo; Análise e Plano. E é sempre bom lembrar que a
agudo inflamatório”; “Sintomas dispépticos há 2 sema- análise não pode conter diagnósticos interrogados, o
nas” ou “Tristeza e anedonia há 3 semanas”. que com frequência é tema de questões.

Além da lista de problemas da evolução, existe uma


lista de problemas principal, na qual são colocados os
problemas de saúde de maior importância. Serve como
resumo da situação de saúde da pessoa. Caso um pro-
blema seja resolvido, coloca-se data de encerramento.
Também não deve conter diagnósticos interrogados.

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106 | MAR 22 SIMULADO R1 - PREVENTIVA

QUESTÃO 68 Explicação:
O médico de família e comunidade está preocupado Na puericultura, os profissionais de saúde assistentes de-
com uma criança de 2 anos que se mudou para sua área vem ficar atentos para os seguintes sinais de alarme para
recentemente. Na consulta passada a mãe contou que, considerar o diagnóstico de uma imunodeficiência (1):
nos últimos 12 meses, a criança apresentou vários episó- • História familiar de imunodeficiência ou morte
dios de sinusite, otite e pneumonia, todos necessitando prematura inexplicada (p.e. antes dos 30 anos)
de antibióticos por tempo longo e que, no momento,
vem apresentando diarreia difícil de controlar. Informou • Déficit de crescimento ponderoestatural
que a criança chia o peito às vezes e tem uma alergia na • Necessidade de antibióticos endovenosos ou hospi-
pele (eczema), desde os primeiros meses de vida. Relatou talizações para combater infecções
também que a criança precisou tomar, por vários meses,
• Seis ou mais otites ou IVAS em um ano
um medicamento porque aos 7 meses de idade apareceu
um caroço na axila direita que supurou. A mãe disse ain- • Duas ou mais sinusites agradavas ou pneumonias
da que, quando era pequena (a mãe), perdeu um irmão em um ano
alguns dias após nascer e que há alguns anos perdeu uma • Dois ou mais episódios de sepse ou meningite na
sobrinha, mas não sabe dizer a causa. vida
Qual a principal suspeita diagnóstica para o quadro • Lesões de pele extensas
desta criança?
• Abscessos ou infecções profundas de pele recorren-
A) Alergia à proteína do leite de vaca. tes
B) Erro inato da imunidade.
• Diarreia crônica
C) Intolerância à lactose.
• Granulomas
D) Parasitose intestinal
• Lesões que não cicatrizam
Resposta correta: Letra B
Na presença desses sinais, a criança deve ser encami-
A) INCORRETA. É mais comum nos primeiros me- nhada ao especialista para investigação de imunodefi-
ses de vida, com reações associadas à ingestão de lei- ciência primária.
te, podendo haver sintomas respiratórios, diarreia,
rash cutâneo.
Take-Home Message::
B) CORRETA. O quadro clínico é compatível com a
suspeita de imunodeficiência primária: a presen- Durante a puericultura, especialmente em crianças que
ça de infecções graves de repetição, o histórico de frequentam a creche, é comum que os pais apresentem
morte prematura na família, diarreia crônica. preocupação quanto às infecções de repetição. A maioria
dos casos são benignos, mas o profissional de saúde deve
C) INCORRETA. O quadro esperado seria, especial-
atentar para os seguintes sinais de alarme: história fami-
mente, diarreia e outros desconfortos gastrointesti-
liar de imunodeficiência ou morte prematura inexplica-
nais associados à ingestão de leite e derivados.
da (p.e. antes dos 30 anos); Déficit de crescimento pon-
D) INCORRETA. O quadro pode variar de acordo deroestatural; Necessidade de antibióticos endovenosos
com a parasitose intestinal, podendo haver déficit ou hospitalizações para combater infecções; Seis ou mais
de ganho ponderoestatural, diarreia crônica, ina- otites ou IVAS em um ano; Duas ou mais sinusites agra-
petência, mas nenhuma explicaria o conjunto de davas ou pneumonias em um ano, entre outros. A sus-
sinais e sintomas vistos nesse caso. peita e encaminhamento precoces são fundamentais.

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SIMULADO R1 - PREVENTIVA MAR 22 | 107

QUESTÃO 69 Explicação:
Uma criança de oito anos de idade é trazida à Unidade Para a profilaxia da raiva humana, devem ser conside-
de Saúde da Família (USF) com história de ter sido rados:
atacada por um porco doméstico, ao adentrar o interior Acidentes leves: 
de um chiqueiro, na propriedade rural onde vive com
seus pais. O exame físico revela lesão única e superficial Ferimentos superficiais, pouco extensos, normalmente
na panturrilha direita. A família informa que a criança únicos, em tronco e membros (exceto mãos, polpas di-
nunca havia recebido vacinas antirrábicas anteriormen- gitais e planta dos pés). Obtidos a partir de mordeduras
te. Com vistas à profilaxia antirrábica, a conduta a ser ou arranhaduras, causadas por unha ou dente, lambe-
adotada neste caso envolve limpeza criteriosa e desin- dura de pele com lesões superficiais.
fecção do local atingido, acompanhada de: Acidentes graves: 
A) Quatro doses de vacina, sem uso de soro. Ferimentos na cabeça, face, pescoço, mão, polpa digital
B) Três doses de vacina e observação do animal. e/ou planta do pé.
C) Quatro doses de vacina e uma dose de soro. Ferimentos profundos, múltiplos ou extensos, em qual-
D) Apenas acompanhamento do animal. quer região do corpo.
Resposta correta: Letra A Lambedura de mucosas.
Lambedura de pele onde já existe lesão grave.
A) CORRETA. Trata-se de um acidente leve (super-
ficial em membro), ocasionado por animal do- Ferimento profundo causado por unha de animal.
méstico de interesse econômico ou de produção Em todos os casos, deve-se lavar o local do ferimen-
(porco). Logo, a conduta, além de lavar bem o lo- to com água e sabão. Além disso, o paciente deve ser
cal da ferida, é iniciar imediatamente com 4 doses orientado a informar imediatamente a unidade de saú-
de vacina, sem uso de soro. de caso o animal morra, desapareça ou se torne raivoso,
B) INCORRETA. Pelo motivo explicitado na explica- uma vez que podem ser necessárias novas intervenções
ção do item A, devem ser feitas 4 doses de vacina, e de forma rápida, como a aplicação do soro ou o prosse-
não três. guimento do esquema de vacinação.
C) INCORRETA. Não é indicado soro nesse caso, Em caso de ausência de suspeita clínica de raiva, é pre-
pois se trata de um acidente leve (superficial em ciso avaliar, sempre, os hábitos do cão e do gato e os
membro, poupando mãos e pés). cuidados recebidos. Podem ser dispensadas do esque-
D) INCORRETA. Por se tratar de animal doméstico ma profilático as pessoas agredidas pelo cão, ou gato,
de interesse econômico ou de produção (porco), que, com certeza, não têm risco de contrair a infecção
deve-se proceder imediatamente à vacinação. rábica. Por exemplo, animais que vivem dentro do do-
micilio (exclusivamente); que não tenham contato com
outros animais desconhecidos; que somente saem à rua
acompanhados de seus donos e que não circulem em
área com a presença de morcegos. Em caso de dúvida,
iniciar o esquema de profilaxia indicado.

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108 | MAR 22 SIMULADO R1 - PREVENTIVA

QUESTÃO 70 A pesquisa em epidemiologia apresenta diversos tipos


de estudos, que se dividem em diversas categorias. Ao
Foi realizado estudo com objetivo de avaliar se o iní- conjunto de especificidades de um tipo de pesquisa da-
cio mais precoce da terapia antirretroviral, em pacien- mos o nome de desenho. Você já deve ter lido alguma
tes infectados pelo HIV, diminui a possibilidade de coorte, ou, quem sabe, um ensaio clínico randomizado
apresentar eventos graves relacionados ou não à aids, duplo-cego etc. É sobre eles que vamos aprender agora.
ou morte por qualquer causa. Nesse estudo, pacientes
que tinham contagens de células CD4 acima de 500 Pra começar, temos dois grandes grupos, o dos estudos
células/mm³ foram alocados, aleatoriamente, para ini- observacionais e o dos experimentais. Os estudos ob-
ciar terapia antirretroviral imediatamente ou quando a servacionais são aqueles em que não há interferência
contagem for abaixo de 350 células/mm³ ou, ainda, na do pesquisador sobre o que está ocorrendo. Ele apenas
ocorrência de doença definidora de aids. O desenho do mede, sem participar no fenômeno. Já os experimentais
estudo, visando atender o objetivo proposto, deve ser: são caracterizados por intervenção, o que em medicina
A) Ensaio clínico randomizado costuma significar tentativa de mudar o desfecho de
uma doença ou impedir um evento adverso de um tra-
B) Estudo de caso-controle aninhado a uma coorte.
tamento ou exame.
C) Revisão sistemática
Estudos observacionais
D) Série de casos
E) Coorte Estudos descritivos
Resposta correta: Letra A Os estudos descritivos são aqueles em que se descreve o
estado de saúde de uma população ou de uma amostra
Comentários: populacional. Um exemplo seria a mortalidade anual
Essa é uma questão sobre o extenso tema dos estudos ao longo dos anos no Brasil. Não se busca fazer ne-
epidemiológicos. Esse especificamente é qual? Vamos nhuma inferência de causalidade, somente mostrar de
descobrir entendendo o essencial de cada um. forma crua o dado.

(https://brasilem-
sintese.ibge.gov.br/
populacao/taxas-bru-
tas-de-mortalidade.
html)

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SIMULADO R1 - PREVENTIVA MAR 22 | 109

Dois tipos frequentes de estudo descritivo são o relato momentos bem definidos para as observações. Eles dão
de caso e seu plural, a série de casos. O relato de caso é ênfase no aspecto do acompanhamento de seus objetos
a “descrição detalhada de casos clínicos, contendo ca- de estudo ao longo de um período, construindo um
racterísticas importantes sobre sinais, sintomas e outras segmento de reta ou vários na reta do tempo.
características do paciente e relatando os procedimen- Nós vamos prosseguir discutindo dois estudos analí-
tos terapêuticos utilizados, bem como o desenlace do ticos observacionais seccionais: o estudo ecológico e o
caso” (Parente, 2010). Você com certeza já deve ter lido estudo de corte transversal.
algum dos relatos dos pacientes do dr. Freud, ou até
mesmo foi chamado para escrever um caso de algum Unidades de estudo
paciente com algum assistente mais legal. Antes de começarmos a tratar deles propriamente, va-
No caso das séries de casos, temos exatamente a mes- mos discutir mais um conceito fundamental para a sua
ma coisa, apenas expandida para mais de um paciente. compreensão e de outro estudos, a unidade de estudo.
A mais famosa série de casos talvez seja a descrição de Cada estudo aborda suas populações ou amostras po-
pneumonia por P. jiroveci (à época ainda carinii) em pulacionais de maneiras diferentes, mas podemos dizer
cinco homens homossexuais jovens em Los Angeles, que existem duas formas básicas de abordagem: o nível
que culminou na descoberta da AIDS (https://www. individual e o nível agregado.
cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/june_5.htm). An- O nível individual, já diz o nome, pega pessoa por pes-
tes, a infecção pulmonar pelo fungo só era vista em soa e analisa os seus dados, o que permite inferências
idosos, o que fez com que esses novos casos levantassem individuais. Já no nível agregado (também chamado de
grande suspeita. Eis a importância de um estudo des- ecológico (olha a dica!)), nós usamos conglomerados de
critivo bem feito. pessoas e informações generalizadas para as diferentes
Estudos analíticos observacionais populações estudadas.
Os estudos analíticos são aqueles em que há preocu- Vamos aos exemplos. Poderíamos tentar observar a re-
pação no estabelecimento de uma relação entre os ele- lação entre etilismo e cirrose hepática. Em um estudo
mentos do estudo. Geralmente, essa relação é de causa a nível individual, seria possível abordar um grupo de
e efeito. No caso dos estudos observacionais, normal- pessoas e dividi-lo em etilistas e abstêmios. A partir daí,
mente estamos querendo saber se a exposição a algum compararíamos as proporções de etilistas cirróticos e de
fator é causa ou não de alguma doença, ou se é ou não abstêmios cirróticos, etilistas cirróticos e etilistas não-
fator protetivo. Os estudos experimentais são em sua -cirróticos etc. Em um estudo em nível agregado, nós
totalidade analíticos, mas a gente vai falar deles depois. poderíamos comparar uma cidade com mais etilistas e
uma cidade com menos etilistas quanto a incidência
Estudos analíticos observacionais seccionais de cirrose hepática. Poderíamos obter alguma relação
Quando falamos em estudos analíticos observacionais, de proporção, mas não seria possível estabelecer con-
podemos ter duas estratégias de observação quanto clusões a nível individual.
ao tempo: seccional e longitudinal. Como o nome Estudos ecológicos
já diz, os estudos seccionais abrangem somente uma
seção do tempo. São cortes tão curtos de tempo que Dada a explicação das unidades de estudo, podemos
poderiam praticamente representar um ponto no eixo encaixar os estudos ecológicos em várias das caixinhas
que representa o tempo. Isso não significa que estamos que já temos. Esses estudos são analíticos observacio-
impedidos de obter diversos cortes da reta, mantendo nais seccionais e trabalham com populações em nível
alguma noção de temporalidade. Já os estudos longitu- agregado. Embora genericamente classificados como
dinais apresentam obrigatoriamente pelo menos dois analíticos, existem estudos ecológicos chamados de

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110 | MAR 22 SIMULADO R1 - PREVENTIVA

exploratórios, em que não se mede a exposição da(s) que indivíduos dessa cidade são portadores de cirrose e
população(ões) a fatores (o que torna esses estudos des- simultaneamente etilistas. Ainda seria um estudo eco-
critivos), mas a ênfase ainda é dada no nível agregado. lógico devido a essa última característica que generaliza
No exemplo de etilismo x cirrose que utilizamos aci- os resultados.
ma, temos a comparação de mais de uma localidade Os estudos ecológicos ainda podem ter o desenho de
geográfica, configurando o que chamamos de desenho séries temporais, em que se usam recortes de diferentes
de múltiplos grupos. Nem todo estudo ecológico é as- períodos; e também há os desenhos mistos, em que se
sim. Poderíamos ter coletado para uma mesma cidade combinam diferentes localidades geográficas em dife-
dados sobre etilismo e cirrose hepática, mas nos depa- rentes períodos a serem comparados.
rarmos com uma base de dados que oferece tais regis- Abaixo temos um exemplo interessante de um desenho
tros simplesmente como prevalências, sem distinção de de múltiplos grupos:

(Adaptado de http://sphweb.bumc.bu.edu/otlt/MPH-Modules/PH717-QuantCore/PH717-Module1B-Descrip-
tiveStudies_and_Statistics/PH717-Module1B-DescriptiveStudies_and_Statistics6.html)

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Estudos de corte transversal po sem esse desfecho. A partir daí, avaliamos quantas
Os estudos de corte transversal são estudos analíticos dessas pessoas tiveram exposição ao fator de interesse e
observacionais seccionais e trabalham com o nível in- comparamos os dois grupos. Ou seja, comparamos os
dividual. Outros de seus nomes são estudo de preva- casos com os controles. Outra coisa que acontece nesse
lência, estudo transversal, estudo seccional e estudo de tipo de estudo é que quem escolhe a quantidade de ca-
inquérito. A unidade de estudo individual e o corte sos e controles é o pesquisador. O pesquisador pode até
obrigatório de um período pontual no tempo são suas mesmo escolher organizar um estudo com três contro-
principais distinções quanto a outros estudos. Já os les para cada caso, ou dez, vinte, quantos desejar. Isso
principais dados colhidos nessas pesquisas dizem res- é muito interessante para aumentar o poder estatístico
peito às informações de prevalência e podem dar uma do estudo e em pesquisas de doenças raras também.
primeira visão quanto uma potencial relação de causa e Estudos experimentais
efeito entre fatores de exposição e doenças. Embora exista uma vastidão de estudos experimentais,
Estudos analíticos observacionais longitudinais vamos focar em dois deles, o ensaio clínico controlado
Estudos de coorte randomizado e ensaio comunitário.

Ah, as famosas coortes. Já ouviu falar no Framingham Ensaios clínicos controlados randomizados
Heart Study? Não? Neste link você pode aprender um Um ensaio clínico é um estudo experimental analítico
pouco sobre esse estudo tão importante https://www. cuja unidade de estudo é individual, pode ser tanto sec-
ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4159698/. Ele é cional como longitudinal no aspecto temporal. Nele se
um estudo analítico observacional longitudinal cuja faz uma intervenção em uma determinada população
unidade de estudo é individual que avalia desde 1948 de modo a amenizar ou curar uma doença (um ensaio
os cidadãos de Framingham quanto a fatores como ida- terapêutico) ou então evitar tal doença (um ensaio pro-
de e HDL e observa se apresentam algum desfecho car- filático). O chamado ensaio comunitário é a plurali-
diovascular. E é basicamente isso que define um estudo zação do ensaio clínico profilático, onde se intervém
de coorte: agrupar pessoas de acordo com exposição ou sobre toda uma comunidade (bairro, município, dis-
não a certos fatores e observar se algum desfecho (IAM, trito etc) dividindo-a em grupo experimental e grupo
morte etc) ocorre ou não ocorre. Se o momento da co- controle. No ensaio comunitário, a unidade de estudo
leta dos dados de exposição é anterior ao desfecho, te- é em nível agregado.
mos uma coorte concorrente (ou um estudo de coorte Os ensaios clínicos podem ser controlados (mais co-
prospectivo). Se não tivermos condições financeiras ou muns), o que significa que há um grupo recebendo a
mesmo temporais para acompanhar uma população da intervenção e um grupo controle; e podem ser não con-
exposição ao desfecho, podemos coletar os dados da ex- trolados, em que todos os sujeitos do estudo recebem
posição em algum registro e confrontá-los com dados tratamento, como no estudo de “antes e após”.
mais novos para ver quem teve desfecho e quem não
teve. Isso é uma coorte histórica (ou um estudo de co- A randomização é um processo pelo qual o grupo a
orte retrospectivo). receber a intervenção terapêutica e o que não vai re-
cebê-la são selecionados aleatoriamente, sem fator de
Estudos de casos-controle interferência humano. Embora existam ensaios clínicos
O próximo estudo é analítico observacional longitudi- não randomizados, nos quais quem recebe e quem não
nal e também de unidade de estudo individual. O que recebe o tratamento é uma decisão do médico pesqui-
acontece é que ele é praticamente uma coorte de ordem sador, eles são menos frequentes e apresentam gran-
invertida. Pegamos um grupo de pessoas com o desfe- de viés.
cho de interesse (geralmente, uma doença) e outro gru-

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112 | MAR 22 SIMULADO R1 - PREVENTIVA

Outro ponto importante é a presença ou não de mas- cada vez mais técnica e menos baseada em achismos.
caramento em um estudo. Quando todos (pacientes, Então, podemos finalmente responder à questão. Basta
médicos pesquisadores, administradores da terapia etc) lembrarmos das diversas características de cada um dos
sabem quem está recebendo o novo tratamento e quem desenhos de estudo:
não está, trata-se de um ensaio aberto (open label). Esse
tipo de desenho é o único possível em estudos sobre A) CORRETA - Devido à experimentalidade do es-
cirurgias, por exemplo. Se só os pacientes não sabem tudo (é instituída uma terapia medicamentosa),
se estão recebendo placebo/terapia já estabelecida ou ele é um ensaio clínico. A alocação aleatória dos
se estão recebendo a terapia experimental, temos um pacientes indica a randomização.
estudo uni- ou simples-cego. Quando os pacientes e B) INCORRETA - Essa alternativa é interessante por
médicos envolvidos na pesquisa não sabem quem está demonstrar que uma coorte pode ser facilmente
recebendo cada terapia, temos um estudo duplo-cego. convertida num estudo de casos-controle, aprovei-
Normalmente não falamos em estudos triplo-cegos tando ainda mais os dados desse estudo tão caro.
porque quem administra a terapia costuma ser o pró- Mas, nem coortes, nem casos-controles são experi-
prio médico avaliador, mas existem casos em que isso mentais, logo, esta alternativa está errada.
não ocorre e temos esse último tipo de cegamento. C) INCORRETA - A revisão sistemática é um de-
Do ponto de vista ético, é necessário ressaltar a impor- senho de estudo bastante particular, que reúne
tância do consentimento livre e esclarecido dos pacien- diversos estudos num só. Não é um único estu-
tes ou comunidades que participarem dos testes, assim do experimental.
como a necessidade de que o tratamento a ser testado D) INCORRETA - Séries de casos são estudos descriti-
seja superior ao tratamento vigente. Testes com place- vos, não podendo apresentar aspectos experimentais.
bo só são possíveis na ausência de qualquer tratamen- E) INCORRETA - Coortes não são experimentais.
to conhecido.
Revisão sistemática Take-Home Message::
As revisões sistemáticas representam um desenho de es- - Ensaios clínicos são estudos experimentais, distin-
tudo particular. Não são propriamente experimentais, guindo-se dos demais estudos (relatos e séries de ca-
embora geralmente se usem extensamente de estudos sos, transversais, ecológicos, casos-controles, coor-
experimentais. Elas definem uma pergunta bastante es- tes etc), que são observacionais.
pecífica a ser respondida e organizam uma coletânea
de artigos relevantes e de qualidade sobre o tema pu- - A revisão sistemática é um desenho de estudo bas-
blicados num determinado período recente. Os dados tante particular, que reúne diversos estudos num só.
são então organizados em gráficos e tabelas para serem
comparados. Havendo a possibilidade, os autores po-
dem até mesmo combinar os dados numéricos dos
artigos, criando um grande pool de amostras popula-
cionais, e oferecer estimativas precisas do poder de um
fármaco, da sensibilidade de um exame, dos riscos de
uma cirurgia etc. Chama-se isso de metanálise.
As revisões sistemáticas estão no cerne da medicina ba-
seada em evidências. Graças a grandes revisões e me-
tanálises, como as da Cochrane, é que podemos orga-
nizar consensos clínicos e praticarmos uma medicina

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QUESTÃO 71 se estão recebendo placebo/terapia já estabelecida ou


se estão recebendo a terapia experimental, temos um
É um indicador de qualidade específico da metodolo- estudo uni- ou simples-cego. Quando os pacientes e
gia dos Ensaios Clínicos: médicos envolvidos na pesquisa não sabem quem está
A) Randomização recebendo cada terapia, temos um estudo duplo-cego.
Normalmente não falamos em estudos triplo-cegos
B) Estratificação
porque quem administra a terapia costuma ser o pró-
C) Restrição prio médico avaliador, mas existem casos em que isso
D) Pareamento não ocorre e temos esse último tipo de cegamento.
Resposta correta: Letra A Do ponto de vista ético, é necessário ressaltar a importân-
cia do consentimento livre e esclarecido dos pacientes ou
Comentários:
comunidades que participarem dos testes, assim como a
Primeiramente, o que é um ensaio clínico? necessidade de que o tratamento a ser testado seja superior
Um ensaio clínico é um estudo experimental cuja uni- ao tratamento vigente. Testes com placebo só são possíveis
dade de estudo é individual, podendo ser tanto seccional na ausência de qualquer tratamento conhecido.
como longitudinal no aspecto temporal. Nele se faz uma Agora, vamos a algumas estratégias preventivas e analíticas
intervenção em uma determinada população de modo que aumentam a qualidade de um estudo, evitando vieses.
a amenizar ou curar uma doença (um ensaio terapêuti- Randomização: Essa estratégia já abordada é uma delas.
co) ou então evitar tal doença (um ensaio profilático). O Ela é característica dos estudos experimentais, não sendo
chamado ensaio comunitário é a pluralização do ensaio aplicada em estudos observacionais. Com a randomiza-
clínico profilático, onde se intervém sobre toda uma co- ção é mais provável que fatores de confusão sejam distri-
munidade (bairro, município, distrito etc) dividindo-a buídos igualmente pelos grupos controle e tratamento.
em grupo experimental e grupo controle. No ensaio co-
munitário, a unidade de estudo é em nível agregado. Pareamento: É uma medida que pode ser tomada de
modo que para cada participante que temos do grupo
Os ensaios clínicos podem ser controlados (mais co- índice (expostos nas coortes, desfechos nos casos-con-
muns), o que significa que há um grupo recebendo a trole e tratamento nos ensaios clínicos) tenhamos um
intervenção e um grupo controle; e podem ser não con- ou mais participantes do grupo controle com caracte-
trolados, em que todos os sujeitos do estudo recebem rísticas semelhantes que possam ser fatores de confusão
tratamento, como no estudo de “antes e após”. no estudo. Os estudos costumam parear índices e con-
A randomização é um processo pelo qual o grupo a re- troles por sexo e idade, por exemplo.
ceber a intervenção terapêutica e o que não vai recebê-la Restrição: Um jeito de evitarmos fatores de confusão é
são selecionados aleatoriamente, sem fator de interferên- tornando o estudo menos generalizante, eliminando os
cia humano. Embora existam ensaios clínicos não ran- fatores de confusão na raiz da seleção dos participantes.
domizados, nos quais quem recebe e quem não recebe Por exemplo, asma na infância é duas vezes mais co-
o tratamento é uma decisão do médico pesquisador, eles mum em meninos. Então, para evitarmos a sobrevalo-
são menos frequentes e apresentam grande viés. rização de certas características da doença em meninos
Outro ponto importante é a presença ou não de mas- comparativamente a meninas em determinado estudo,
caramento em um estudo. Quando todos (pacientes, podemos restringir a participação a crianças apenas do
médicos pesquisadores, administradores da terapia etc) sexo masculino. É por isso que às vezes temos aqueles
sabem quem está recebendo o novo tratamento e quem estudos sobre a unha do dedo mindinho do pé esquer-
não está, trata-se de um ensaio aberto (open label). Esse do, fica mais difícil de termos certos vieses.
tipo de desenho é o único possível em estudos sobre Estratificação: essa estratégia analítica é muito útil
cirurgias, por exemplo. Se só os pacientes não sabem quando queremos usar uma grande amostra popula-

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cional. Nela dividimos os grupos de sempre (casos x QUESTÃO 72


controles; expostos x não expostos; etc) em subgrupos.
No nosso exemplo da asma, poderíamos estratificar os A revista Lancet publicou em 2011 uma série de artigos
resultados para meninos e meninas. Poderíamos estra- intitulados “Saúde no Brasil”, com 5 volumes. No volu-
tificar um estudo sobre tabagismo e mortalidade por me 3 que trata das doenças infecciosas ficamos sabendo
faixas etárias. Assim por diante. que apesar de taxas de controle expressivamente maio-
res para hanseníase terem sido obtidas com a adoção do
Aqui já é possível relacionarmos as alternativas às carac-
terísticas de cada uma das ferramentas. esquema multidrogas, a taxa de incidência pouco mu-
dou nesse período mantendo-se em torno de 7 casos
A) CORRETA - A alocação dos pacientes em grupos por 100.000 habitantes por ano. Na sua avaliação, qual
controle e tratamento de forma aleatória é carac- seria a causa dessa manutenção da taxa de incidência?
terística dos estudos experimentais.
A) Há grandes taxas de recidiva na Hanseníase
B) INCORRETA - A estratificação pode ser aplicada
em qualquer estudo em que se dividam grupos ín- B) O aparecimento do Micobacteryum leprae multi-
dice e controle. droga resistente.
C) INCORRETA - A restrição pode ser aplicada em C) Esquema de tratamento multidroga não impacta
qualquer estudo em que se dividam grupos índice na transmissão.
e controle. D) Não há adequado controle de vetor.
D) INCORRETA - O pareamento pode ser aplicado E) A baixa taxa de cura e o esquema multidroga explica
em qualquer estudo em que se dividam grupos ín- a grande incidência ainda mantida na população.
dice e controle.
Resposta correta: Letra C
Take-Home Message::
Comentários:
As diversas estratégias de controle de variáveis de con-
fusão podem ser aplicadas a qualquer estudo que Essa questão parece exigir que a gente tenha lido o ma-
seja analítico. Entretanto, a randomização é exclu- terial referido. Bem, é até legal que você tenha lido,
siva dos estudos experimentais. porque a resposta está escancarada nele. Mas, basta a
gente pegar nosso conhecimento prévio de hanseníase
- Randomização: seleção aleatória dos grupos experi-
e epidemiologia em geral.
mento e controle.
- Pareamento: seleção de um ou mais participantes Sobre as taxas de recidiva da doença, os boletins da
controle para cada participante índice. OMS indicam que são baixas para o mundo todo, mes-
- Restrição: eliminar fatores de confusão, limitando a mo que o Brasil seja a liderança nas Américas.
abrangência do estudo. Já a resistência aos antimicrobianos talvez seja uma
- Estratificação: agrupar os sujeitos do estudo em ou- ameaça para o futuro do tratamento da doença. Porém,
tros grupos além de índice e controle. no momento, apesar de presente em todas as áreas con-
Na questão originalmente redigida, tínhamos aleatoriza- sideradas endêmicas, é bastante baixa, não representan-
ção e cegamento nas alternativas. Após extensa pesquisa do um problema imediato.
bibliográfica, não observamos definições distintas para Resta entender que o tratamento multidroga realmente
aleatorização e randomização. Cegamento embora possa não impacta na transmissão. É o que diz o texto publi-
ser visto em coletas cegas de informação (usada para evi- cado pela Lancet: “durante esse período [de 1988 a
tar viés de memória, quando é melhor coletarmos regis- 2008], as taxas de incidência mudaram pouco, com
tros de exposição anteriores ao desfecho) é tradicional- uma taxa de detecção-caso em indivíduos menores de
mente associado ao mascaramento de ensaios clínicos.

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SIMULADO R1 - PREVENTIVA MAR 22 | 115

15 anos no entorno de sete casos por 100.000 habi- A) INCORRETA - As taxas de recidiva não são consi-
tantes a cada ano. Esse resultado sugere que, apesar deradas altas.
de as iniciativas de controle da hanseníase por meio B) INCORRETA - Não se considera uma preocu-
da identificação e do tratamento dos casos tenham pação imediata a existência de cepas multidro-
reduzido a prevalência da doença, a estratégia teve ga resistentes.
pouco efeito sobre a redução da transmissão.” C) CORRETA - Infelizmente, devido a isso, é im-
A alternativa D parece até que fala de arbovirose, né? portante o advento de novas formas de prevenção
Isso porque a hanseníase costuma ter sua transmissão para a doença.
de pessoa para pessoa por meio de gotículas, embora D) INCORRETA - Não há vetor a ser controlado para
seja possível por contato físico. Os tatus foram descri- a hanseníase.
tos como vetores em estados do sul dos Estados Uni- (OPÇÃO E) INCORRETA - A taxa de cura pelo es-
dos, mas isso não é um problema no Brasil. quema multidroga é altíssima.
A última alternativa fala sobre uma baixa taxa de cura
com o esquema multidroga, mas isso não é verdade,
pois, o que explicaria, então, outro dado desse mesmo Take-Home Message::
texto da Lancet: “Após a introdução da terapia mul- A hanseníase é doença endêmica no Brasil. Com o es-
tidrogas, que é ofertada gratuitamente a pacientes tabelecimento do esquema de tratamento multidroga
com hanseníase pelo SUS, a prevalência da han- pela OMS (aqui o Ministério da Saúde chama de po-
seníase no Brasil caiu substancialmente – de 180 liquimioterapia ou PQT), tivemos uma queda drásti-
casos por 100.000 habitantes, em 1988, para 26 ca na prevalência e nas deficiências causadas por essa
casos por 100.000 habitantes, em 2008, com uma doença, pois a taxa de cura do tratamento, quando fei-
grande queda nas deficiências associadas à doença”? to corretamente, é altíssima. Desafios ainda permane-
Outros dados ainda indicam que, no mundo, a cura cem quanto a transmissão, pois a PQT não diminuiu a
com o esquema multidroga é de 99%. incidência de hanseníase.
Seria legal a gente relembrar como é esse esquema tão Vale recordar os tratamentos para hanseníase preconi-
importante de terapia multidroga aqui no Brasil. zados pelo Ministério da Saúde:
Para os casos paucibacilares em adultos, temos: dose
mensal de 600mg de rifampicina com administração
supervisionada; dose mensal de 100mg de dapsona su-
pervisionada e dose diária de 100mg autoadministrada.
O tratamento é dado em 6 cartelas (1 cartela para cada
mês), devendo o paciente concluir as 6 cartelas em até
9 meses.
Para os casos multibacilares em adulto é quase a mesma
coisa. De diferente, nós temos umas dose mensal de
300mg de clofazimina de administração supervisiona-
da e 1 dose diária de 50mg autoadministrada. O núme-
ro de cartelas também é diferente: são 12, que devem
ser terminadas em até 18 meses.

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116 | MAR 22 SIMULADO R1 - PREVENTIVA

QUESTÃO 73 Vamos às alternativas:


São sistemas nacionais de informação úteis para a prá- A) CORRETA - SINAN – Sistema de Informação de
tica da Vigilância Epidemiológica por profissionais e Agravos de Notificação
equipes de saúde, EXCETO: B) CORRETA - SINASC – Sistema de Informações
A) SINAN sobre Nascidos Vivos
B) SINASC C) CORRETA - SIM – Sistema de Informações So-
C) SIM bre Mortalidade
D) SCNES D) INCORRETA
E) SIH E) CORRETA - SIH – Sistema de Informações Hos-
pitalares
Resposta correta: Letra D
Take-Home Message:
Comentários:
Reconhecer os canais de informação da Vigilância Epi-
Questão direta, que cobra identificar quais são os ca-
demiológica, vide acima.
nais de informação da Vigilância Epidemiológica.

QUESTÃO 74
Em um município X com 980.000 habitantes em que mortalidade por doenças cardiovasculares, e usando os
a expectativa de vida está acima dos 70 anos, ocorreram dados abaixo:
14.210 óbitos por todas as causas entre 2019 e 2020. Tabela. Distribuição dos óbitos segundo faixas etárias e
Na comparação da mortalidade por covid-19 com a causa. Município X, 2019- 2020.

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Em relação ao indicador que confere maior importân- Take-Home Message:


cia epidemiológica para a covid-19, a alternativa cor- Anos potenciais de vida perdidos (APVP) revela quan-
reta é: titativamente o impacto da mortalidade precoce por
A) Mortalidade proporcional por causa de óbito. uma ou mais causas em relação à duração média espe-
B) Coeficiente de mortalidade por causa específica. rada de vida de uma população.
C) Anos potenciais de vida perdidos (APVP)
D) Número absoluto de óbitos para cada causa. QUESTÃO 75
Resposta correta: Letra C Um grupo de pesquisadores pretende avaliar a associa-
ção entre tabagismo e episódios de pneumonia bacte-
Comentários: riana entre adultos na comunidade. Para tanto, eles irão
Quando levamos em conta uma expectativa de 70 acompanhar toda a população adulta de uma pequena
anos, dado que o município X tem expectativa aci- cidade e registrar todos os casos de pneumonia bacte-
ma dos 70 anos, observamos que o número de mortes riana ao longo de um ano. A informação sobre a expo-
por covid-19 em pessoas abaixo dessa faixa etária (N = sição ao tabaco será obtida através de um questionário,
1.899) é maior que o número de mortes por doenças enviado pelo correio imediatamente antes do início do
cardiovasculares (N = 1.238). Nesse sentido, observa- estudo, novamente aos seis meses de acompanhamento
mos que mais pessoas morreram por Covid-19 antes de e logo após o final do estudo. Trata-se de estudo:
alcançarem a expectativa de vida quando comparado A) Observacional, prospectivo de coorte
com doenças cardiovasculares.
B) Observacional, retrospectivo de caso-controle
Um indicador que leva em consideração o impacto da C) Experimental, prospectivo de coorte
mortalidade precoce é o de Anos potenciais de vida
D) Experimental, retrospectivo de coorte
perdidos (APVP), que revela quantitativamente esse
impacto por uma ou mais causas em relação à duração E) Observacional, de corte transversal
média esperada de vida de uma população. Dessa for- Resposta correta: Letra A
ma, ficamos com a alternativa C.
A) INCORRETA. A mortalidade proporcional por Comentário:
causa de óbito indica o peso proporcional, em por- Analisando-se o desenho do estudo segundo os eixos
centagem, da mortalidade por uma causa específica unidade de análise, papel do investigador e temporali-
comparada ao total de óbitos da região no tempo dade, temos:
específico. Portanto, não leva em consideração o
peso da morte precoce. - Unidade de análise: “adultos na comunidade”
– individuado;
B) INCORRETA. O coeficiente de mortalidade por
causa específica é calculado pelo número de óbitos - Papel do investigador: “acompanhar toda a população
da causa específica dividido pela população total do (...) e registrar todos os casos” – observacional, ou
mesmo local e período, multiplicado por 100.000. seja, sem intervenção;
C) CORRETA. - Temporalidade: “imediatamente antes do início do
D) INCORRETA. Esse é o dado bruto, que não leva estudo, novamente aos seis meses (...) e logo após o
em consideração as faixas etárias em que ocorreram final do estudo” – longitudinal.
cada causa de óbito nem a mortalidade precoce.

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118 | MAR 22 SIMULADO R1 - PREVENTIVA

Nosso desenho apresentado é, portanto, individuado- Take-Home Message::


-observacional-longitudinal. O estudo parte do fator Estudo de coorte é individuado-observacional-longitu-
de risco (“exposição ao tabaco será obtida através de dinal e parte do fator de risco para verificar desfecho.
um questionário”) para checar desfecho (casos de pneu- É prospectivo quando pesquisa e fenômeno estudado
monia bacteriana). Portanto, é um estudo de coorte. progridem em paralelo.
Como o encaminhamento da pesquisa e o fenômeno
da pesquisa (pneumonia bacteriana) progridem em pa-
ralelo, essa coorte é definida como coorte concorrente
ou coorte prospectiva. Resposta item A.
A coorte restrospectiva é quando o início e o fim do
acompanhamento ocorreu no passado, antes do mo-
mento da realização da pesquisa.

QUESTÃO 76

Para investigar a possível influência da melatonina com dados com homens sem câncer. (VER IMAGEM). Os
câncer, foi desenvolvido um estudo de base populacio- resultados sugerem que neste estudo epidemiológico
nal em Montreal, entre 1979 e 1985. Foi abordado o de ____o trabalho noturno pode aumentar o risco de
histórico de trabalho de três mil homens com câncer câncer de _________. De acordo com o apresentado,
incidente em 11 locais anatômicos. Confrontou-se os complete as lacunas com a alternativa CORRETA.

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SIMULADO R1 - PREVENTIVA MAR 22 | 119

A) Coorte; melanoma QUESTÃO 77


B) Caso-controle; esôfago
Paciente feminina, 27 anos, com queixa de corrimento
C) Transversal; bexiga vaginal há 2 meses e odor
D) Caso-controle; pulmão
desagradável. Ao exame físico especular você coleta
Resposta correta: Letra D exame de Papanicolau e observa moderada quantidade
de corrimento em fundo de saco vaginal de coloração
Comentário: acinzentada, sem alterações em paredes vaginais e colo
de útero. Wiff teste realizado e foi positivo; no exame
O estudo em questão é individuado (“três mil homens
à fresco observou-se a presença de Clue Cells. Diante
com cânceres” e “homens sem câncer”), observacional
desse quadro clínico qual a melhor conduta, além de
(“abordado o histórico de trabalho”) e longitudinal
orientar prevenção de infecções sexualmente transmis-
(“entre 1979 e 1985). Apresenta, portanto, um dese-
síveis (IST) e discutir sobre métodos contraceptivos?
nho individuado-observacional-longitudinal, caracte-
rísticos de coorte e caso-controle. Como o estudo apre- A) Prescrever metronidazol 500mg de 12/12h,
sentado parte do desfecho (“câncer incidente”) para uma semana.
verificar a exposição (“trabalho à noite”), temos que ele B) Prescrever ciprofloxacina 500mg (dose única), do-
é um estudo caso-controle. O estudo de coorte parte da xicilina 10 mg, 12/12h, 7 dias.
exposição para verificar o desfecho. C) Prescrever fluconazol 150 mg em dose única.
Após essa análise, devemos observar qual local anatô- D) Prescrever dexametasona, apresentação creme vaginal.
mico apresenta maior força de associação com o traba-
lho noturno. Para isso, devemos procurar o maior o va- Resposta correta: Letra A
lor de odds ratio (OR), tendo em vista que seu IC95%
não pode conter o valor 1 (sem associação). Neste caso, A) CORRETA. O quadro clínico é compatível com
o pulmão apresenta OR 2,03 e IC95% (1,43 – 2,89). vaginose bacteriana, cujo tratamento é o indicado
nessa alternativa: metronidazol VO 500mg a cada
12h por uma semana 
Take-Home Message:: B) INCORRETA. Não é esse o tratamento para vagi-
Estudo de coorte é individuado-observacional-longi- nose bacteriana.
tudinal e parte do desfecho para verificar a exposição. C) INCORRETA. O tratamento indicado é para candi-
Saber interpretar OR, vide acima. díase, mas o quadro clínico é compatível com vaginose.
D) INCORRETA. Não é esse o tratamento indicado
para vaginose bacteriana.

Explicação:
A vaginose bacteriana ocorre pela proliferação aumen-
tada de algumas bactérias da flora vaginal normal (es-
pecialmente Gardnerella vaginalis, Bacteroides sp). Não
é uma infecção sexualmente transmissível, mas pode
estar associada à relação sexual. Apresenta-se como um
corrimento com odor fétido branco-amarelo-acizenta-
do de aspecto fluido ou bolhoso, que se acentua após
o coito ou no período menstrual. A presença de corri-

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120 | MAR 22 SIMULADO R1 - PREVENTIVA

mento com odor fétido na ausência de prurido (cuja A) INCORRETA. O DPC deve ser focado nas temá-
presença falaria mais a favor de candidíase) é bastante ticas mais frequentes da prática cotidiana. O apren-
indicativa de vaginose. Mas, quando disponível e ne- dizado de adultos é mais eficaz quando a teoria se
cessário, é possível fazer o teste das aminas (teste de correlaciona com a prática, levando a um aprendi-
Whiff ), em que se aplica 1 a 2 gotas de KOH a 10% na zado significativo.
lâmina com secreção vaginal. No teste positivo, há uma B) CORRETA. Os métodos de ensino e aprendiza-
liberação de odor de peixe podre. No exame bacterios- gem que podem ser usados como apoio no DPC
cópico, podem ser observadas as chamadas “clue cells” devem se basear na andragogia, que reúne méto-
e o pH vaginal costuma ser maior que 4,5. dos voltados para ensino de adultos.
O tratamento de primeira linha consiste em usar Metro- C) INCORRETA. O desenvolvimento de ativida-
nidazol 500 mg, de 12/12h, VO, por 7 dias ou Metroni- des em pequenos grupos é um método valioso de
dazol gel vaginal 100 mg/g, 1 aplicação à noite, por 5 dias. aprendizado no DPC.
D) INCORRETA. É importante considerar que a sim-
ples presença em atividades relacionadas com DPC
Take-Home Message:: não garante o aprendizado, devendo a participação
A vaginose bacteriana ocorre pela proliferação aumen- ser ativa para que haja um aprendizado significativo.
tada de algumas bactérias da flora vaginal normal, apre-
senta-se como um corrimento com odor fétido (odor Explicação:
de peixe podre) branco-amarelo-acizentado de aspecto
O Desenvolvimento Profissional Contínuo (DPC) é
fluido ou bolhoso, que se acentua após o coito ou no
um processo de aprendizagem planejado e elaborado
período menstrual. O tratamento é com Metronidazol
continuamente com base na prática cotidiana, incluin-
500 mg, de 12/12h,
do identificação de necessidades de aprendizado e uma
VO, por 7 dias ou Metronidazol gel vaginal 100 mg/g, agenda pedagógica, que seria um plano concreto de
1 aplicação à noite, por 5 dias. aprendizado. Os métodos de ensino e aprendizagem
que podem ser usados como apoio nesse processo de-
vem se basear na andragogia, que reúne métodos vol-
QUESTÃO 78 tados para ensino de adultos, como aprendizagem cen-
Com relação ao Desenvolvimento Profissional Contínuo trada no indivíduo, e-learning e atividades interativas.
(DPC) na Atenção Primária à Saúde é correto afirmar: O desenvolvimento de atividades em pequenos grupos
é um método valioso nesse processo, mas é importante
A) Deve ser focado nas temáticas menos vistas nas ro- considerar que a simples presença em atividades rela-
tinas profissionais, visto a necessidade de saber con- cionadas com DPC não garante o aprendizado, deven-
duzir casos complexos, quando necessário. do a participação ser ativa.
B) As metodologias e seus processos devem ser cen-
trados nos princípios da andragogia. 
C) O método de ensino preferencialmente deve ser o Take-Home Message::
individual, para evitar auditoria por pares. O Desenvolvimento Profissional Contínuo (DPC) é
D) A participação por si só, em atividades relacionadas um processo de aprendizagem planejado e elaborado
ao DPC, garante o incremento nos desempenhos continuamente com base na prática cotidiana, devendo
da prática da APS. se basear na andragogia, que reúne métodos voltados
para ensino de adultos, como aprendizagem centrada
Resposta correta: Letra B no indivíduo, e-learning e atividades interativas.

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SIMULADO R1 - PREVENTIVA MAR 22 | 121

QUESTÃO 79 Explicação:
Sobre os atributos da atenção primária à saúde (APS),
A Atenção Primária à Saúde tem como atributos es-
é correto afirmar:
senciais a atenção no primeiro contato (ou acesso), a
A) Uma equipe de saúde da família que trabalha em longitudinalidade, a integralidade e a coordenação do
área rural onde intoxicações por agrotóxicos são cuidado, e como atributos derivados o foco na família,
comuns, ao buscar se familiarizar com o diagnós- a orientação comunitária e a competência cultural.
tico e manejo desse agravo, fortalece o atributo de
integralidade em seu serviço.  Atenção ao primeiro contato:
B) Para manter forte o atributo de acesso, os serviços A Atenção Primária deve ser porta de entrada dos ser-
de APS devem focar na função de “gatekeeper”, viços de saúde. Espera-se que os serviços desse nível de
ou seja, a triagem de pacientes que necessitam re- atenção sejam acessíveis e resolutivos frente às princi-
almente consultar na APS, devendo utilizar ferra- pais necessidades de saúde trazidas pela população.
mentas de avaliação de risco clínico validadas.
Longitudinalidade:
C) O foco na prevenção primária e o manejo de pa-
cientes crônicos são as características mais impor- Implica a existência de uma fonte regular de atenção e
tantes para avaliar a qualidade do atributo de longi- seu uso ao longo do tempo, independente da presença
tudinalidade da APS. de problemas específicos relacionados à saúde ou do
D) Os três atributos nucleares da atenção primária à tipo de problema.
saúde, segundo Barbara Starfield, são: acesso, inte- Integralidade:
gralidade, prevenção e longitudinalidade. São atri-
Possui quatro dimensões: ações de promoção e pre-
butos derivados, segundo a mesma autora, foco na
venção, atenção nos três níveis de complexidade da as-
família, equidade e competência cultural.
sistência médica, articulação das ações de promoção,
Resposta correta: Letra A proteção e prevenção e abordagem integral do indiví-
A) CORRETA. A ampliação da oferta de serviços da duo e das famílias. Uma Atenção Primária resolutiva é
equipe de saúde fortalece o atributo da integralidade. responsável não somente por ações rotineiras, de pre-
B) INCORRETA. A função de filtro, “porteiro” ou venção ou promoção da saúde, mas atendimento de
“gatekeeper” dos serviços de APS ocorre a partir do demanda espontânea, realização de diagnósticos, trata-
momento em que, tendo sido realizado o atendi- mento e reabilitação.
mento, boa parte das demandas são resolvidas na Coordenação do cuidado:
Atenção Primária, sendo encaminhados a outros
níveis de atenção apenas os casos com real necessi- Articulação entre os diversos serviços e ações de saúde,
dade. Mas para que isso funcione o acesso deve ser de forma que estejam sincronizados e voltados ao al-
garantido. Barrar atendimento através de avaliação cance de um objetivo comum, que é ofertar ao usuário
de risco clínico não fortalece o acesso. um conjunto de serviços e informações que respondam
a suas necessidades de saúde de forma integrada, por
C) INCORRETA. Longitudinalidade implica a existên-
meio de diferentes pontos da rede de atenção à saúde
cia de uma fonte regular de atenção e seu uso ao longo
do tempo, independente da presença de problemas es- Orientação familiar e comunitária:
pecíficos relacionados à saúde ou do tipo de problema. Efetiva-se quando a avaliação das necessidades para a
D) INCORRETA. A Atenção Primária à Saúde tem como atenção integral considera o contexto familiar e sua ex-
atributos essenciais a atenção no primeiro contato (ou posição a ameaças à saúde
acesso), a longitudinalidade, a integralidade e a coorde-
nação do cuidado, e como atributos derivados a orien-
tação familiar e comunitária e a competência cultural.

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122 | MAR 22 SIMULADO R1 - PREVENTIVA

Competência cultural: Resposta correta: Letra C


Implica uma capacidade dos fornecedores e das organiza-
ções de cuidados em saúde de compreender e responder A) INCORRETA. O quadro clínico é compatível com
efetivamente às necessidades culturais e linguísticas, tra- crise de asma aguda. Caso não haja melhora do qua-
zidas pelos pacientes às situações de cuidados de saúde. dro, a criança deve ser encaminhada à emergência
pediátrica, e não ao ambulatório da especialidade.
Take-Home Message: B) INCORRETA. O quadro clínico é compatível com
crise de asma aguda. Caso não haja melhora do qua-
A Atenção Primária à Saúde tem como atributos es-
dro, a criança deve ser encaminhada à emergência pe-
senciais a atenção no primeiro contato (ou acesso), a
diátrica, e não ao ambulatório da especialidade. Além
longitudinalidade, a integralidade e a coordenação do
disso, caso não haja resposta ao broncodilatador de
cuidado, e como atributos derivados a orientação fami-
liar e comunitária e a competência cultural. É impor- ação rápida, é indicado o uso de corticosteroide oral.
tante lembrar desses conceitos e de suas definições, pois C) CORRETA. A cada episódio de exacerbação de
costumam ser temas de questões de residência. asma, é importante verificar a presença de uma
infecção respiratória que possa ter desencadeado
o quadro, assim como investigar se há má adesão
QUESTÃO 80 ao tratamento e se há fatores ambientais desenca-
A paciente comparece à unidade de saúde da família deantes. O erro na técnica de uso do dispositivo
com seu filho de 7 anos. Informa que a criança foi inalatório também deve ser investigado
diagnosticada com asma há 4 meses, quando iniciou D) INCORRETA. O quadro clínico é compatível com
o tratamento com budesonida spray oral, em uso até crise de asma aguda. Deve ser prescrito o tratamen-
o momento. Relata que a criança estava bem até há 2 to adequado e, caso não haja melhora do quadro, a
dias quando começou a apresentar sibilos e tosse seca criança deve ser encaminhada à emergência pediá-
principalmente à noite e pela manhã, ao acordar. Nega trica, e não ao ambulatório da especialidade.
dispneia e não sabe informar sobre a ocorrência de
febre. Durante a consulta, a médica colheu a história
Explicação:
clinica da criança, realizou o exame físico completo e
mediu o pico de fluxo expiratório (PFE), constatando A cada episódio de exacerbação de asma, é importante
que a asma não estava controlada. verificar a presença de uma infecção respiratória que
Com base nas informações descritas acima, qual a con- possa ter desencadeado o quadro, assim como inves-
duta inicial mais adequada para o caso desta criança? tigar se há má adesão ao tratamento e se há fatores
A) Prescrever corticosteroide por via oral por 5 dias e, ambientais desencadeantes. O erro na técnica de uso
se não houver melhora, encaminhar a criança ao do dispositivo inalatório também deve ser investigado
especialista para avaliação do caso. como possível fator associado à crise.
B) Iniciar broncodilatador de ação-rápida inalatório Para adequada escolha do tratamento, a crise de asma
por 5 dias e, se não houver melhora, encaminhar a deve ser avaliada como leve/moderada ou grave. Sinais
criança ao especialista para avaliação e conduta. indicativos de uma crise grave são: incapacidade de fa-
lar , sonolência, SatO2<92%.
C) Verificar presença de infecção respiratória atual,
a adesão aos medicamentos, a técnica de uso do Verifique a seguinte tabela:
dispositivo inalatório e o cuidado ambiental.
D) Encaminhar a criança ao especialista para avaliação
do caso, realização de exames específicos e ajuste do
esquema terapêutico para asma.

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SIMULADO R1 - PREVENTIVA MAR 22 | 123

Para tratamento da crise aguda de sibilância leve ou Take-Home Message::


moderada em crianças entre 6 e 11 anos de idade, o A cada episódio de exacerbação de asma, é importante
GINA (2021)(1) recomenda a utilização de salbutamol verificar desencadeantes, como infecção, má adesão te-
(100mcg) 4-10 puffs a cada 3-4 horas e corticoide oral rapêutica, fatores ambientais ou erro de técnica no uso
(prednisolona 1 a 2mg/kg). No entanto, algumas ou- de dispositivo inalatório. Para adequada escolha do tra-
tras fontes, como o Uptodate(2) e o Tratado de Medici- tamento, a crise de asma deve ser avaliada como leve/
na de Família e Comunidade (3)trazem que o corticoi- moderada ou grave. Sinais indicativos de uma crise gra-
de sistêmico pode ser reservado para os casos em que o ve são: incapacidade de falar, sonolência, SatO2<92%,
paciente não responde ao tratamento inicial ou quando entre outros. Para tratamento de crise leve/moderada,
há piora clínica/sinais de gravidade. Fique atento à lite- deve-se utilizar salbutamol, lançando-se mão da pred-
ratura recomendada da prova que está prestando. nisolona se não houver resposta (ou já no início, de
Os anticolinérgicos podem ser associados, mas apenas acordo com o GINA).
em episódios graves de sibilância.

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124 | MAR 22 SIMULADO R1 - CIRURGIA GERAL

CIRURGIA GERAL
QUESTÃO 81 Já podemos responder à questão:
Homem, 65 anos de idade, sem comorbidades, apre- A) INCORRETA – esvaziamento linfonodal só
senta melanoma cutâneo em dorso, com espessura de está indicado em casos de linfonodos acometi-
Breslow de 1,5 mm na biópsia excisional. Qual é a con- dos confirmados.
duta adequada? B) INCORRETA – o Breslow é alto e apenas o segui-
A) Esvaziamento linfonodal. mento não é recomendado
B) Seguimento com dermatoscopia. C) CORRETA –  alternativa correta da questão
C) Ampliação de margens e biópsia do linfonodo sen- D) INCORRETA – A quimioterapia para melanoma
tinela.  é reservada para casos raros, recidivantes ou invasi-
D) Quimioterapia sistêmica com a dacarbazina. vos, apenas em protocolos de estudo.

Resposta correta: Letra C Take-Home Message:

Comentários: Outro tema muito recorrente em provas. Suspeita de melanoma -> Biópsia excisional -> confir-
Questão que não é difícil após você entender o que o mado suspeita? -> Avaliar breslow e características his-
examinador está querendo saber. Já foi feita a suspei- topatológicas -> seguimento ou ampliação de margens
ta de melanoma e a biópsia excisional já foi realizada, +- pesquisa de linfonodo sentinela conforme resultado.
confirmando esta suspeita. Qual o próximo passo?
Analisar o anatomopatológico e a espessura de Breslow.
Este resultado irá guiar as próximas condutas.
Breslow < 1mm = Ampliação de margens para 01 cm e
seguimento clínico
Breslow > 1mm = Ampliação de margens para 02 cm e
biópsia do linfonodo sentinela
Lembrar que alguns lugares já realizam a biópsia do
linfonodo sentinela a partir de um breslow > 0,8mm
ou quando o anatomopatológico evidencia outros fa-
tores de pior prognóstico (ulcerações, invasão linfovas-
cular, microssatelitose). Temos que ler com cuidado as
questões de melanoma e tentar sentir o que o exami-
nador está pensando. Lembrar também que apesar da
necessidade de ampliação de margens, locais que ne-
cessitariam de ressecções ósseas, tendíneas ou de outras
estruturas nobres devem ser poupados mesmo que não
seja possível alcançar a margem adequada, pois isto não
muda o prognóstico.

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SIMULADO R1 - CIRURGIA GERAL MAR 22 | 125

QUESTÃO 82 Comentários:

Uma paciente de cinquenta anos de idade, com an- Questão que não é difícil, o truque aqui é você fazer o
tecedente de lesão raquimedular, há trinta anos, por diagnóstico correto. Todas informações necessárias es-
ferimento de arma de fogo, é dependente de lavagem tão na questão, basta procurá-las e não se enrolar com
intestinal para evacuar. Há cerca de três dias, iniciou o excesso de texto.
quadro de febre e queda do estado geral. Ao exame Paciente com fator de risco importante -> Trauma ra-
físico, apresentava-se consciente, contactuante, deso- quimedular e necessidade de lavagens constantes. Evo-
rientada, taquipneica, desidratada 3+/4, descorada +/4, lui com quadro séptico grave agudo -> Febre, taqui-
com frequência cardíaca de 120 bpm, pressão arterial cardia, perfusão periférica lentificada. Ao exame físico
de 100 x 70 mmHg e perfusão periférica de 3 s. À ins- apresenta hiperemia de períneo e CREPITAÇÃO lo-
peção, observou-se hiperemia em todo o períneo, com cal (sinal de alarme grave). Olhando com mais cuida-
crepitação à palpação. No toque retal, havia laceração do você encontra uma laceração de pele do canal anal
da pele do canal anal com cerca de 3 cm de extensão. (porta de entrada).
Com base nessa situação hipotética, é correto afirmar
Com todos esses dados, qual o diagnóstico? Fasceíte
que a melhor conduta é realizar:
necrotizante de períneo, ou síndrome de Fournier (na
A) tomografia computadorizada de abdome e pelve, questão o paciente é do sexo feminino e a síndrome de
com contraste endovenoso. Fournier foi inicialmente descrita apenas em homens,
B) ressonância nuclear magnética de pelve. mas isso não importa para responder corretamente a
C) o debridamento em centro cirúrgico e a confecção questão)...
de sigmoidostomia em alça. Quando temos uma infecção necrotizante de fáscias e/
D) o debridamento em centro cirúrgico e a confecção ou tecidos moles, qual a conduta preconizada? Cirur-
de sigmoidostomia terminal. gia. Desbridamento precoce e amplo em centro cirúr-
(E) o debridamento em centro cirúrgico. gico. Associado a suporte intensivo e antibioticotera-
pia empírica ampla. Cada minuto perdido realizando
 Resposta correta: Letra E medicações ou testes diagnósticos piora o prognóstico
do doente.
Vamos reconstruir ou fechar primário a ferida? Vamos
perder tempo realizando colostomias ou outros pro-
cedimentos? Não. A abordagem inicial é de desbrida-
mento agressivo e curativo, sendo necessária a reavalia-
ção periódica em centro cirúrgico com novas lavagens.
A derivação de trânsito, o fechamento e outras medidas
são tomadas progressivamente, em diferentes tempos,
conforme a melhora clínica do doente.

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126 | MAR 22 SIMULADO R1 - CIRURGIA GERAL

Pronto, podemos voltar à QUESTÃO 83


questão: A respeito das técnicas operatórias para hernioplastia
A) INCORRETA – Não vamos atrasar o tratamento inguinal, assinale a alternativa correta.
com um exame demorado que não muda a conduta. A) Lichtenstein é uma técnica consagrada, porém está
B) INCORRETA – Não vamos atrasar o tratamento caindo em desuso devido aos incomparáveis bene-
com um exame demorado que não muda a conduta. fícios da laparoscopia.
C) CORRETA – Pode confundir o aluno! É possível B) Lichtenstein continua sendo uma das técnicas de
que a ostomia em alça seja necessária para este do- escolha para o tratamento da hérnia inguinal,
ente, porém neste momento de sepse e gravidade, mesmo com o surgimento da laparoscopia. A es-
o tempo cirúrgico deve ser abreviado. A ostomia colha da técnica deve ficar a cargo da expertise e
fica reservada para um segundo tempo, quando experiência do cirurgião.
o doente se encontra mais estável. Podemos rea- C) TAPP é a técnica na qual se utiliza a laparoscopia
lizar o controle de evacuações com flexi-seal por para correção de hérnia inguinal sem violar a cavi-
exemplo no primeiro momento. E claro, realizar dade abdominal.
um bom curativo e trocas periódicas, avaliando a
D) Na correção de hérnia por laparoscopia, obrigato-
região, sempre.
riamente deve-se utilizar grampos para fixar a tela.
D) INCORRETA – Pode confundir o aluno. É possí-
vel que a ostomia em alça seja necessária para este Resposta correta: Letra B
doente, porém neste momento de sepse e gravida-
de, o tempo cirúrgico deve ser abreviado. A ostomia Comentários:
fica reservada para um segundo tempo quando o Técnicas operatórias de hérnias inguinais, tema recor-
doente se encontra mais estável. Podemos realizar rente e importantíssimo para a sua prova. Vai cair. Her-
o controle de evacuações com flexi-seal por exem- nioplastia inguinal, amplamente discutido, mas vamos
plo no primeiro momento. E claro, realizar um nos ater ao que está comprovado na literatura e nos
bom curativo e trocas periódicas, avaliando a re- principais livros textos:
gião, sempre.
Tratamento de hérnia inguinal = Cirúrgico. Eletivo se
E) CORRETA – Alternativa correta. Resposta da possível, de urgência nos encarceramentos ou estrangu-
questão. Vamos resolver a urgência. lamentos. E qual é a melhor técnica operatória?
A única resposta que temos para esta pergunta por en-
Take-Home Message: quanto é que independente da técnica, o uso de tela é
Paciente com fator de risco importante -> Evolui preconizado é obrigatório. Portanto, a princípio, técni-
com quadro séptico grave agudo -> Ao exame físico cas antigas (Bassini, Shouldice, etc) não devem ser mais
característico  (porta de entrada)  Fasceíte usadas. Agora quanto a via de acesso (TAPP, TEPP, Li-
necrotizante de períneo  Cirurgia de urgência + chtenstein), não existe evidência de superioridade entre
antibioticoterapia ampla + suporte intensivo e reabor- uma ou outra. A escolha depende do tipo de paciente,
dagens programadas. do serviço, do cirurgião e do material disponível. O
único conceito definido é que em hérnias recidivadas
a técnica cirúrgica deve ser feita por via diferente da
anterior (Se foi operado por TAPP, a próxima deve ser
Lichtenstein). Então vamos às alternativas:

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SIMULADO R1 - CIRURGIA GERAL MAR 22 | 127

A) INCORRETA – Lichtenstein ainda é a cirurgia Comentários:


mais realizada nas hernioplastias. Rápida, fácil, ba- Porque usar antibioticoprofilaxia nas cirurgias? A ques-
rata, podendo ser realizada com raquianestesia ou tão responde:
até com anestesia local. Seus benefícios são muito
comparáveis com a laparoscopia até hoje. Um doen- Ela comprovadamente diminui os índices de infecção
te com contraindicações para técnica laparoscópica, em ferida operatória.
por exemplo, deve ser submetido a esta operação. Atenção! Infecção de ferida operatória. Outras infec-
B) CORRETA – Resposta correta, respondida ções têm outra fisiopatologia envolvida (pneumonia,
nos comentários. itu, complicações pós-op não tem relação com essa me-
C) INCORRETA – Esta seria a técnica TEPP (extra- dida, e sim com cuidados pós-operatórios gerais).
-peritoneal). A técnica TAPP (Transabdominal) E em quais cirurgias vou fazer a antibioticoprofilaxia?
viola a cavidade abdominal.
Em procedimentos com risco de infecção e/ou pacien-
D) INCORRETA – Hoje em dia a tela usada nas ci- tes que tem alto risco caso contraiam uma infecção de
rurgias laparoscópicas de hérnias podem ser fixadas sítio cirúrgico, ou seja:
de vários jeitos. Grampos, tacks, colas, sutura lapa-
roscópica. As únicas coisas que devemos respeitar Cirurgias limpas-contaminadas, contaminadas ou de
são fechar o peritônio para evitar o contato da tela longa duração
com as alças, e evitar fixar pontos e grampos no Pacientes ASA III, IV, V, ou com comorbidades e que
triangulo da dor (Região mais lateral da cavidade sejam submetidos a cirurgias de risco
abdominal e região inguinal, lateral aos vasos epi-
Atenção! A cirurgia infectada vai precisar de antibio-
gástricos inferiores) para não causar aprisionamen-
ticoterapia! Portanto, este paciente não precisa da an-
to de nervos importantes que passam na região.
tibioticoprofilaxia, pois já estará em uso de antibióti-
cos terapêuticos.
Take-Home Message: Lichtenstein – TAPP – TEPP, to- E como é essa classificação?
das com bons resultados, o importante é colocar tela.
E a escolha varia conforme paciente, cirurgião e local. Segue abaixo a tabela, com a taxa de infecção de sítio
A única vez que vamos escolher a via, é em recidivas de cirúrgico associado a cada classe:
hernioplastias, quando vamos usar uma via diferente As limpas não precisam de profilaxia, a princípio!
da anterior.
As infectadas precisam de antibioticoterapia!
E como fazer essa profilaxia?
QUESTÃO 84 Vamos fazer uma dose de ataque, elevada, seguida de
A antibioticoprofilaxia comprovadamente diminui os doses de manutenção administradas a cada 2x a meia
índices de infecção em ferida operatória, em cirurgias vida da droga, no intraoperatório.
limpas-contaminadas, e está indicada: O momento de início é na indução anestésica! (mo-
A) A partir de 2h antes do início da cirurgia. mentos antes da cirurgia)
B) A partir de 12h antes do início da cirurgia. A duração é até o fim do procedimento cirúrgico e a
C) Até 1h após o início da cirurgia. droga escolhida depende da microbiota da região ope-
D) Até 2h após o início da cirurgia rada e da CCIH do seu hospital kk

Resposta correta: Letra A

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128 | MAR 22 SIMULADO R1 - CIRURGIA GERAL

Tomando todas essas medidas, em conjunto com um QUESTÃO 85


bom cuidado pré-operatório, uma boa técnica cirúrgi-
ca e manutenção intraoperatória e bons cuidados pós- Paciente do sexo feminino, 42 anos, obesidade grau 3,
-operatórios, vamos minimizar os riscos de complica- comparece no Pronto Socorro referindo dor em hipo-
ções e de infecção de sítio cirúrgico. côndrio direito de moderada intensidade. Ao exame fí-
sico apresentava-se em regular estado geral, PA 110x80
Parabéns, doutor, mmHg, FC: 101 bpm, descorada 1+/4+. Laborato-
rialmente Hb de 9 e 12350 leucócitos. Realizou a TC
Vamos às alternativas: abaixo. Qual a principal hipótese diagnóstica:
A) CORRETA – Na indução anestésica, então +-
2 horas antes do procedimento (resposta me-
nos errada)
B) INCORRETA – 12 horas antes, já passou o efeito
faz tempo
C) INCORRETA – Depois de começar a cirurgia, de-
pois de já incisar a pele e já infectar tudo lá
D) INCORRETA - Depois de começar a cirurgia, de-
pois de já incisar a pele e já infectar tudo lá

Take-Home Message:
E como fazer essa profilaxia?
Vamos fazer uma dose de ataque, elevada, seguida de
doses de manutenção administradas a cada 2x a meia
vida da droga, no intraoperatório. A) Colecistite Aguda com abscesso hepático
O momento de início é na indução anestésica! (mo- B) Abscesso hepático
mentos antes da cirurgia) C) Colangiocarcinoma
A duração é até o fim do procedimento cirúrgico e a D) Adenoma hepático com sangramento espontâneo
droga escolhida depende da microbiota da região ope-
rada e da CCIH do seu hospital kk Resposta correta: Letra D

EXPLICAÇÃO:
Adenoma hepático é um tumor hepático epitelial be-
nigno. Acomete predominantemente mulheres jovens
(20-44 anos). É uma entidade clínica rara: 1 - 1,3 :
1.000.000 pessoas; a incidência sobe bastante entre
mulheres usuárias de ACO: 3,4 : 100.000. Geralmente
estão localizados no lobo direito, sendo lesões solitárias
em 70-80% dos casos.

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SIMULADO R1 - CIRURGIA GERAL MAR 22 | 129

Na maioria dos casos trata-se de lesão assintomática, Take-Home Message::


exceto quando sangram ou quando muito volumosos. A presença do adenoma associa-se a risco de:
O desenvolvimento do adenoma tem forte associação
com o uso de ACO (risco aumentado quando o uso for • Degeneração maligna
por tempo > 5 anos) e de esteróides. • Ruptura
Subtipos de adenoma: • Hemorragia espontânea
• Adenoma relacionando a mutação no HNF-1-alfa Quando sintomático:
(mais esteatótico; não maligniza)
• Dor abdominal, principalmente em epigástrio e hi-
• Mutação na beta-catenina: associado a maior risco pocôndrio direito
de desenvolvimento de CHC
• Massa palpável
• Inflamatório (maior risco de sangramento): asso-
• Hepatomegalia
ciado a obesidade (esteatose)
• Desconforto pós prandial devido a sintomas com-
• Não-classificados
pressivos
O adenoma inflamatório é o subtipo mais comumen-
A dor pode estar associada a:
te encontrado (~50% dos casos). Histologicamente é
composto por hepatócitos com discretas atipias e NÃO • Sangramento
apresentam ductos biliares em sua composição (portan- • Crescimento do adenoma
to não captam Primovist na grande maioria dos casos).
• Necrose
CORREÇÃO: ATENÇÃO: Dor abdominal +/- Hipotensão e ou ta-
quicardia deve-se investigar possibilidade de ruptura.
A) INCORRETA - Mulher jovem, obesa, com dor em
HCD e taquicardia. Imagem não mostra vesícula
biliar. Presença de realce ao contraste no interior da
lesão, o que fala a favor de uma ruptura do adeno-
ma
B) INCORRETA - Paciente sem epidemiologia e clí-
nica de abscesso hepático
C) INCORRETA - História clínica pouco compatível
com colangiocarcinoma
D) CORRETA - Imagem hipodensa com realce em
seu interior ao contraste, associada a dor abdomi-
nal em topografia hepática, taquicardia e anemia 

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130 | MAR 22 SIMULADO R1 - CIRURGIA GERAL

QUESTÃO 86
Paciente 38 anos comparece ao PS referindo dor em hi- laparoscópica. Atualmente, no 4o PO apresenta-se icté-
pocôndrio direito e febre há 2 dias. Diagnosticada com rica 3+/4+, dor abdominal, TGO de 160, TGP de 210,
colecistite aguda, foi submetida a colecistectomia video- BD de 12,0 e BT de 13,0. Realizou o exame a seguir:

Em relação ao caso podemos afirmar que: EXPLICAÇÃO:


A) Trata-se de coledocolitíase. Tratamento consiste em Colecistectomias são responsáveis por ~80-85 % das le-
CPRE sões de via biliar. A lesão durante o procedimento lapa-
B) Trata-se de coledocolitíase. Tratamento derivação roscópico é 2x mais frequente que durante o procedi-
biliodigestiva mento aberto ( 0,6% Vs. 0,3%). Os principais indícios
C) Trata-se de lesão de via biliar Strasberg E1. Trata- de lesão são: obstrução ductal e vazamento de bile.
mento com dreno de Kehr Vazamento de bile caracteriza-se por:
D) Trata-se de lesão de via biliar Strasberg E3. Trata- • Ocorre na 1a semana de PO
mento com hepaticojejunostomia + derivação em • As queixas principais são: muita dor abdominal (se-
Y de Roux cundária a coleperitônio), náuseas, vômitos e íleo
Resposta correta: Letra D prolongado
A obstrução clinicamente é caracterizada por:
• Aumento de enzimas hepáticas e canaliculares
• Aumento de bilirrubinas totais as custas de bilirru-
bina direta
• Dor abdominal, prurido e icterícia

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SIMULADO R1 - CIRURGIA GERAL MAR 22 | 131

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132 | MAR 22 SIMULADO R1 - CIRURGIA GERAL

Tratamento: • Como não há continuidade com o restante da árvo-


Lesões percebidas durante o ato cirúrgico devem ser re biliar a CPRE não é efetiva
corrigidas, se possível, no mesmo procedimento uma • Na refratariedade: Derivação hepaticojejunal em Y
vez que o reparo precoce associa-se a menores taxas de Roux ou Hepatectomia parcial
de estenoses cicatriciais; se o reparo primário não for Strasberg D: Vide lesões identificadas no ato cirúrgico
possível recomenda-se a derivação biliodigestiva com
hepaticojejunostomia ou coledocojejunostomia em Y Strasberg E:
de Roux. • Bismuth I: A estenose pode ser tratada com procedi-
• Lesão parcial < 30% da circunferência do ducto bi- mento endoscópico + colocação de endoprótese
liar: Reparo primário + Kehr • Derivação coledocojejunal ou hepaticojejunal em Y
• Lesão parcial > 30% da circunferência do ducto bi- de Roux
liar: Coledocojejunostomia em Y de Roux
• Lesão de ductos hepáticos com calibre < 3mm: So-
CORREÇÃO:
mente ligadura A) INCORRETO - Não há imagem de subtração no
• Lesão de ductos hepáticos com calibre > 3mm: He- interior do colédoco
paticojejunostomia em Y de Roux B) INCORRETO - Não há imagem de subtração no
interior do colédoco
Strasberg A:
C) INCORRETO - Há lesão de via biliar próximo a
• O objetivo do tratamento é diminuir a pressão in- bifurcação dos hepáticos
traductal
D) CORRETO - Lesão de via biliar alta, no nível da
• Tratamento de preferência é: CPRE + Esfincteroto- bifurcação dos hepáticos
mia + Stent
• Se CPRE não disponível: Drenagem de via biliar Take-Home Message::
com Kehr
• Lesão parcial < 30% da circunferência do ducto bi-
Strasberg B: liar: Reparo primário + Kehr
• Como ocorreu ligadura do ducto hepático acessó- • Lesão parcial > 30% da circunferência do ducto bi-
rio há, portanto, oclusão de ducto segmentar liar: Coledocojejunostomia em Y de Roux
• Se dor controlada + Laboratoriais sem grandes alte- • Lesão de ductos hepáticos com calibre < 3mm: So-
rações a medida conservadora pode ser uma opção mente ligadura
• Se paciente cursar com colangite: drenagem biliar • Lesão de ductos hepáticos com calibre > 3mm: He-
do segmento obstruído paticojejunostomia em Y de Roux.
• Na refratariedade do paciente sintomático: Deriva-
ção hepaticojejunal em Y de Roux
Strasberg C:
• Vazamento de ducto hepático acessório
• O ducto com vazamento geralmente oclui esponta-
neamente

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SIMULADO R1 - CIRURGIA GERAL MAR 22 | 133

QUESTÃO 87 Categoria IIF  são cistos mais complexos do que os


da categoria II, mas sem os sinais sugestivos de cate-
Com um número maior de exames de imagem rea- goria III. Pode haver múltiplas septações finas ou es-
lizados, o achado incidental de massas renais é cada pessamento mínimo de septações, ou presença de cal-
vez mais frequente, podendo ser tanto lesões benignas cificações mais grosseiras. Não há realce pelo meio de
quanto malignas. Assinale a alternativa correta sobre contraste. Esta classificação inclui lesões totalmente in-
o tema: trarrenais, sem hiperatenuantes, sem realce, maiores do
A) O achado de lesão com cavidade arredondada, de que 3 cm em diâmetro. Esta categoria requer acompa-
parede fina revestida por epitélio, com conteú- nhamento para certificação de não malignidade. Por-
do líquido seroso, é típico de carcinoma de célu- centagem de malignidade próxima a 5%
las renais. Categoria III   Lesões císticas com septações gros-
B) O achado de lesão sólida, medindo 2,8cm no polo seiras, irregulares ou com limites mal definidos. Pode
inferior do rim direito, hipervascularizada, sem haver algum grau de realce da lesão. Cerca de 46 a 60%
componente de gordura, deve ser biopsiada para destas lesões são malignas.
confirmação diagnóstica e nefrectomia parcial.
Categoria IV   contém as características das lesões
C) Os pacientes com carcinoma de células renais são, do tipo III, e além disso apresentam componentes de
em sua grande maioria, sintomáticos, sendo a febre partes moles periféricos com realce periférico. Estão as-
e a perda de peso sintomas precoces e comuns. sociadas a malignidade em 85 a 100% dos casos.
D) As lesões benignas são mais comuns, a grande
maioria composta por cistos simples, adquiridos,
assintomáticos, sem significado clínico relevante.
Resposta correta: Letra D

Comentários:
O achado incidental de lesões do parênquima renal é
relativamente comum com o aumento do uso de méto-
dos diagnósticos por imagem. A Classificação de Bos-
niak foi criada no intuito de diferenciar lesões renais
benignas daquelas passíveis de malignidade. A classifi-
cação de Bosniak ocorre em 5 categorias:
Categoria I  cistos renais simples únicos ou múlti-
plos, possuem parede fina, não apresentam septações,
calcificações ou componentes sólidos. O cisto apresen-
ta densidade de água e não há realce de contraste. Por-
centagem de malignidade próxima de 0%.
Categoria II  Lesões benignas nas quais pode-se
observar septações finas, calcificações finas ou um pe-
queno segmento de calcificação espessada. Esta catego-
ria também inclui lesões hiperatenuantes menores do
que 3 cm com margens bem definidas e sem realce.
Porcentagem de malignidade próxima de 0%.

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134 | MAR 22 SIMULADO R1 - CIRURGIA GERAL

Bosniak 1

Bosniak IIF (esquerda) e Bosniak IV (direita)

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SIMULADO R1 - CIRURGIA GERAL MAR 22 | 135

A) INCORRETA- Trata-se de um cisto do tipo Bosniak I, virtualmente sem risco de malignidade.


B) INCORRETA- Via de regra, lesões renais altamente suspeitas para malignidade não tem indicação de biópsia,
realizando-se a cirurgia imediata. As indicações de biópsias renais são apenas para casos de dúvida diagnóstica
ou alternativas terapêuticas não cirúrgicas (por exemplo, crioablação por radiointervenção, uma conduta de
exceção). Lembrando que lesões císticas não devem ser diagnosticadas.
C) INCORRETA- A grande Maioria dos pacientes com Tumores renais são assintomáticos em função da desco-
berta ser feita majoritariamente de modo incidental atualmente.
D) CORRETA-  responde a questão. 

Take-Home Message:
RESUMO DO PAPO  CLASSIFICAÇÃO DE BOSNIAK PARA LESÕES RENAIS 
Definição Malig% Conduta

I Paredes finas. Densidade < 20 UH. Sem ~0% Sem condutas adicionais necessárias
septos, calcificações ou componentes
sólidos. Sem realce.
II Lesões císticas de septos finos (fio de ~0% Sem condutas adicionais necessárias
cabelo). Sem realce mensurável. OU
Lesões sólidas menores que 3 cm, com
margens bem definidas, sem realce.
IIF Múltiplas septações finas. Espessamento 5% Comparar com exames anteriores se possível.
discreto da parede. Realce perceptível Aquisição de outro exame de imagem (por
dae septos ou parede. Calcificações exemplo RM) para melhor caracterização.
grosseiras. OU lesões sólidas totalmente
intrarrenais, sem realce, maiores do que requerem exames de follow-up (por isso o F)
3 cm.

III Paredes espessas, paredes mal definidas 46 a 60% Comparar com exames anteriores. Aquisição
ou septos com realce presente. de outro exame de imagem (RM). As opções
incluem vigilância da lesão com exames
periódicos de imagem, biópsia e nefrectomia
parcial.
IV Características Bosniak III associadas 85 a 100% Cirurgia
a realce de partes moles adjacentes
independentes da parede ou septo.

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136 | MAR 22 SIMULADO R1 - CIRURGIA GERAL

QUESTÃO 88 reconstrução arterial e/ou venosa, pelas próprias feridas


e orifícios de entrada apresentados pelo paciente. Muitas
Homem de 22 anos, vítima de trauma automobilístico vezes não é necessário exame de imagem pré procedi-
é trazido ao hospital pelo resgate. Após a avaliação e es- mento, pode ser realizada exploração local da ferida e
tabilização iniciais, detecta-se desalinhamento ao nível reconstrução imediata. É comum nos traumas por arma
da coxa no membro inferior direito e ausência de pulsos de fogo haver além do segmento atingido pelo projétil,
distais neste membro. Escolha a alternativa com a sequ- uma extensão pré e pós ferida que sofreu também pela
ência recomendada das condutas abaixo mencionadas: lesão térmica. Da mesma forma, se o paciente recebeu
A) paciente deve ser submetido a exame de imagem um tiro por exemplo numa região de trajeto vascular, e
não invasivo e se confirmada lesão vascular subme- mantém todos os pulsos no membro, é necessário ainda
tido a reconstrução do leito arterial. algum tipo de exame de imagem (que pode ser invasivo
B) paciente deve ter o membro alinhado e, caso o pul- ou não invasivo - como angiotomografia) para avaliação
so não volte após esta manobra ser submetido a de lesão térmica secundária (que pode levar a formação
exame de imagem invasivo que, se positivo, indica de pseudoaneurismas e lesões mais tardias que não ne-
a reconstrução arterial. cessariamente promovem isquemia mas podem evoluir
com sangramento e até mesmo trombose do vaso).
C) após o alinhamento do membro, não havendo re-
torno dos pulsos distais deve-se proceder a recons- Nos traumas fechados, muitas vezes não é possível ava-
trução arterial imediata. liar pelo exame físico quais foram as lesões vasculares.
D) deve-se alinhar o membro e aguardar por pelo me- É comum quando há fratura de ossos longos, como fê-
nos 6 horas para que eventuais espasmos sejam re- mur e tíbia, ocorrer estiramento dos vasos que podem
vertidos antes de qualquer outra conduta, princi- eventualmente evoluir com trombose. Além disso ain-
palmente em pacientes jovens. da pode acontecer lesão direta do vaso por espícula ós-
sea, gerando sangramento. As duas lesões podem estar
Resposta correta: Letra B associadas a lesão venosa concomitante.
Nos traumas fechados, quando há ausência de pulso, é
Comentários:
indicada a realização de exame invasivo - arteriografia
Podemos dividir os traumas vasculares em dois grandes com punção retrógrada da artéria femoral) para avalia-
grupos: traumas fechados e traumas penetrantes. ção do membro e programação da reconstrução. Quan-
Nos traumas penetrantes (ferimento por arma de fogo, do o pulso está presente, as fraturas devem ser fixadas
ferimento por arma branca) normalmente é simples pela ortopedia e após o procedimento o paciente deve
identificar qual foi o trecho acometido que necessita de ser reexaminado e avaliada presença de pulsos e perfu-
são do membro antes da liberação do centro cirúrgico.

Pulso presente Pulso ausente


Trauma Reavaliar após fixação de fraturas, sem indicação Arteriografia e revascularização pós
fechado de exame fixação de fraturas
Trauma aberto Avaliar necessidade de hemostasia em centro Exploração da ferida e revascularização
cirúrgico, avaliar necessidade de exame de
imagem não invasivo (suspeita de lesão térmica
ou pseudoaneurisma)

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SIMULADO R1 - CIRURGIA GERAL MAR 22 | 137

A) INCORRETA: Para pacientes com trauma e lesão QUESTÃO 89


vascular presumida (lesão compatível com trajeto dos
grandes vasos ou ausência de pulso distal) deve ser Qual das alternativas abaixo é o principal quesito em
realizado exame de imagem invasivo (arteriografia) comum ao sucesso de enxertos de gordura e de pele?
e viabilizada a reconstrução do trajeto lesado o mais A) Contato com leito receptor bem vascularizado.
brevemente possível, visto que o paciente já está com B) Presença de tecido de granulação.
o membro isquêmico (sem pulso) e normalmente se
C) Fixação do enxerto.
trata, como no enunciado, de paciente jovem com
circulação colateral pouco desenvolvida. Isso deve ser D) Imobilidade da área enxertada.
feito após a fixação da fratura para que a lesão possa E) Ausência de colonização bacteriana
ser bem avaliada e para que a reconstrução não seja
Resposta correta: Letra A
prejudicada pelo reposicionamento do osso.
B) CORRETA: A primeira medida para melhora de Comentários:
perfusão do membro é o alinhamento - isso nor-
malmente diminui o estiramento dos vasos (tanto Falou em enxerto, seja de pele, gordura, tendão, fás-
leito arterial quanto venoso), se houver lesão por cia...seja o que for. Lembre-se das fases de integração
espícula óssea diminui a agressão ao vaso, e o ideal do enxerto: embebição, revascularização e maturação.
é que o membro seja fixado pela ortopedia antes da Para que haja enxertia, precisamos de uma área doadora
intervenção vascular, para que seja possível avaliar e uma área receptora, isso é óbvio. Na área receptora, a
sem fatores de confusão a perfusão do membro e principal e primeira característica em comum que deve
para que o enxerto, se realizado, não seja manipula- existir para o sucesso da enxertia de gordura e de pele,
do, estirado, rodado, pela fixação do osso. Indica-se é a presença de um leito receptor bem vascularizado.
exame invasivo - arteriografia com punção retró-
grada da artéria femoral, para avaliação. 
C) INCORRETA: É sempre necessário iniciar a revas-
cularização com exame de imagem para que a cirur-
gia possa ser planejada adequadamente. Principal-
mente nas lesões por esmagamento e estiramento é
difícil precisar pelo exame físico qual é o trecho que
necessita de reconstrução.
D) INCORRETA: Nos pacientes jovens, e nos pacien-
tes de todas as idades, deve ser realizada a recons-
trução arterial imediata.

Take-Home Message:
Em geral, em traumas com pulsos ausentes a conduta é
cirúrgica - exames invasivos e reconstrução no mesmo
tempo operatório. Nunca adiar a reconstrução arterial
em traumas, pois em geral acometem pacientes jovens
sem circulação colateral bem desenvolvida que evo-
luem rapidamente com isquemia e perda de membro.

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138 | MAR 22 SIMULADO R1 - CIRURGIA GERAL

ALTERNATIVAS QUESTÃO 90
A) CORRETA e responde a questão. Sobre doença de Hirschsprung, pode-se afirmar que:
B) INCORRETA. Tecido de granulação está presente A) A aganglionose ocorre frequentemente em retos-
em feridas abertas na fase fibroproliferativa e indica sigmoide.
que o leito está adequado para receber enxerto de B) A colostomia seguida de abaixamento endoanal é o
pele. No entanto, não esperamos que haja tecido de procedimento de Duhamel.
granulação para enxertar gordura no subcutâneo.
C) Nas formas clássicas há predomínio do sexo feminino.
C) INCORRETA. Fixar enxerto de pele aumenta a chan-
D) A manometria anorretal define o diagnóstico em
ce de sucesso, mas não é essencial; um curativo bem
95% dos casos.
oclusivo e imóvel pode substituir a fixação do enxerto
de pele. Enxertos de gordura não podem ser fixados, Resposta correta: Letra A
mas devem ser colocados em áreas com menor mobi-
lidade para aumentar o sucesso da integração.
EXPLICAÇÃO:
D) INCORRETA. A imobilidade é fundamental em
ambas as situações, mas não é o principal situação Mais uma de Hirschsprung no nosso simulado! Vamos
que deve existir em comum. A primeira principal e de novo! A Doença de Hirschsprung( ou Megacólon
primeira situação é leito bem vascularizado. Os en- Congênito) ocorre pela ausência de células gangliona-
xertos não irão se integrar se o leito estiver desvascu- res nos plexos submucosos e mioentéricos e pode ocor-
larizado. Outro ponto importante é que enxertos de rer em todo trato gastro intestinal. Mais de 80% dos
gordura não podem ser fixados e a imobilidade muitas casos (Hirschsprung clássico) são de zona retossigmói-
vezes não pode ser assegurada, como na lipoenxertia de, mas existe uma parcela de cólon total, ou até ileo
de lábios e região perioral. Isso não significa que não e até envolvendo todo TGI.Lembre-se que no periodo
ocorrerá nenhuma integração. A face é extremamente fetal as células ganglionares povoam o TGI em sentido
vascularizada e ocorrerá uma integração de parte do crânio- caudal, portanto, sempre que houver células
enxerto de gordura, embora uma porcentagem signi- no reto, tem células a montante do reto, sempre que
ficativa esteja sob risco de reabsorção devido a mobili- houver células no transverso, tem células a montante
do transverso, e por ai vai…
dade ocasionada pela fala.
E) INCORRETA. Infecção e colonização são coisas A doença tem uma incidência de 1:5.000 nascidos vi-
distintas. Não deve existir infecção na área recep- vos com um predomínio discreto para o sexo masculi-
tora, isso é fato. Entretanto, todas as feridas aber- no.Existe uma associação genética e familiar, no entan-
tas são colonizadas e se a colonização for inferior a to, a maioria dos casos é esporádico.
105 organismos/g de tecido, a enxertia ainda assim A criança com Hirschsprung tem atraso na eliminação
pode ser realizada com sucesso. de mecônio, constipação desde o nascimento, disten-
são abdominal e ao toque retal tem fezes explosivas. O
rx de abdome sugere um quadro de obstrução baixa e
Take-Home Message: o próximo passo é a realização de um enema opaco que
Vários fatores interferem na integração dos enxertos, irá mostrar uma zona de transição ( cólon proximal bem
sejam eles quais forem. Desde técnica asséptica, atrau- distendido e repleto de fezes e cólon distal espástico).O
mática, o tipo de tecido a ser enxertado e a região do diagnóstico é confirmado então por biópsia retal que
corpo receptora merecem atenção. Mas a primeira irá mostrar ausência de células ganglionares na amos-
característica que deve existir nos leitos receptores é: tra. Em alguns casos pode ser realizada a manometria
BOA VASCULARIZAÇÃO. anorretal, que irá mostrar ausência de reflexo inibitó-
rio anorretal (relaxamento do esfincter interno quando

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SIMULADO R1 - CIRURGIA GERAL MAR 22 | 139

é inflado um balão no reto), este exame é dispensável Take-Home Message::


na investigação, no entanto, ajuda a excluir doença de
Doença de Hirschprung:
Hirschsprung quando este reflexo está presente.
A aganglionose ocorre frequentemente em retossigmoide.
Após o diagnóstico o tratamento consiste em ressecção
da zona agangliônica e abaixamento do cólon saudável Tem um discreto predomínio do sexo masculino
até 2 cm acima da linha pectínea. Isto pode ser reali- E a manometria anorretal tem alta sensibilidade e é um
zado de diversas formas. A forma mais moderna é o bom exame para exclusão da doença
abaixamento endoanal, uma cirurgia em tempo único
aonde atráves de uma dissecção endoanal o reto é abai-
xado, ressecado, e é então possível realizar anastomo- QUESTÃO 91
se. As técnicas de Swenson, Soave e Duhamel também
pondem ser realizadas para o abaixamento. O Swenson A reação metabólica ao trauma é caracterizada por uma
consiste em uma anastomose termino-terminal, o So- série de alterações neuro-hormonais que têm a finalida-
ave realiza uma dissecção submucosa, criando um cuff de de iniciar o processo de regeneração orgânica. Dos
muscular que envolve a anastomose, ambas estas técni- fatores abaixo, qual faz parte dessa reação?
cas tem sua versão endoanal modificadas. O duhamel
A) Aumento da secreção de tiroxina.
é a única técnica que não possui uma versão endoa-
nal e consiste na anastomose termino lateral do cólon B) Aumento da secreção de hormônio antidiurético.
abaixado com o reto distal, deixando um coto retal de C) Redução da secreção de cortisol.
aproximadamente 5 cm, que funciona com um reser- D) Redução da secreção de catecolaminas.
vatório.Observe a fotografia para entender melhor os
três procedimentos. Resposta correta: Letra B

Comentários:
Questão clássica sobre REMIT.
Todo ano cai na prova da AMRIGS, tanto no R1,
quanto no R3.
REMIT – Reação endócrino e metabólica a injúria
e trauma.
Na injúria aguda, o organismo tende a lançar mãos
de mecanismos para compensar a homeostase, isto é o
REMIT. Qualquer tipo de injúria se encaixa neste pro-
cesso: trauma, trauma cirúrgico, sepse, inflamação, etc.
No início teremos fase adrenérgica com catabolismo,
A) CORRETA: alternativa correta da questão quebrando substrato e energia, tentando poupar ao
B) INCORRETA: Duhamel não é um abaixamento máximo reservas para lutar contra a injúria. Após a es-
endoanal tabilização, entramos na fase de anabolismo, para repor
C) INCORRETA: Discreto predomínio do sexo mas- o que usamos e perdemos.
culino Vamos ver os fluxogramas da 1ª fase do REMIT:
D) INCORRETA: Manometria anorretal tem alta sensi-
Na injúria aguda, todos estes sistemas serão ativados,
bilidade e é um bom exame para exclusão da doença
causando as reações seguintes e a resposta ao trauma.

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140 | MAR 22 SIMULADO R1 - CIRURGIA GERAL

Repara só quanta coisa acontece na fase inicial (fase QUESTÃO 92


adrenérgica-corticoide).
Para realizar herniorrafia por videolaparoscopia, é ne-
Depois que o paciente sobrevive a essa fase inicial e cessário saber que o ducto deferente se une aos vasos
consegue entrar em um equilíbrio novamente, ele en- gonadais somente no:
tra na fase de catabolismo – síntese de novos substratos.
A ) orifício inguinal externo
Tudo se inverte, e o corpo começa a criar reservas.
B) orifício inguinal interno
Vamos ver as fases em ordem e entender:
C ) triângulo da dor
1º = Fase corticoadrenérgica (inicial) – catabolismo e
D ) canal femoral
hipermetabolismo
2º = Transição – redução do catabolismo Resposta correta: Letra B
3º = Anabolismo precoce – início da síntese de proteí-
nas e deposição de gorduras
Explicação: Questão direta e reta, e fácil, sobre ana-
4º = Anabolismo tardio – balanço energético positivo
tomia laparoscópica da correção cirúrgica de hérnias
O anabolismo precoce começa entre o 3º a 10º dia, a inguinais. A famosa visão laparoscópica (posterior)
depender da resposta inicial e da magnitude do trau- da região inguinal. Tema cada vez mais recorrente e
ma. O anabolismo tardio começa muito depois, apenas na moda.
quando já existe uma regulação completa da homeosta-
Vamos lembrar desta visão, das estruturas, dos marcos
se do doente e ele se recuperou por completo.
anatômicos e do grandioso Y invertido ou os 05 triân-
Reparem, que para responder á questão, bastava conhe- gulos desta região.
cer as alterações iniciais do REMIT
Com imagem, fica mais fácil.
Vamos às alternativas:
A) INCORRETA – Tiroxina não tem relação com o
REMIT
B) CORRETA – Perfeito, REMIT – aumento de
ADH – Retenção de sódio e água
C) INCORRETA – O cortisol também aumenta no
REMIT
D) INCORRETA – As catecolaminas aumentam du-
rante o REMIT

Take-Home Message:
REMIT

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SIMULADO R1 - CIRURGIA GERAL MAR 22 | 141

Triângulo anterior e medial = acima do ligamento in- Triângulo posterior e central = separado pelo ducto
guinal, medial aos vasos epigástricos inferiores, lateral deferente medialmente e pelos vasos espermáticos la-
ao púbis e ao músculo reto  Região das hérnias teralmente. Estas estruturas vão se juntar na altura do
inguinais diretas! anel inguinal INTERNO, quando adentram o canal
Triângulo anterior e lateral = acima do ligamento in- inguinal e seguem para a bolsa escrotal. Este é o famo-
guinal, lateral aos vasos epigástricos inferiores, medial so triângulo de DOOM (da morte), pois abaixo dele,
à crista ilíaca  Região das hérnias inguinais indi- estão os vasos ilíacos. Se você mexer muito ali, pode
retas, que adentram o canal inguinal, pelo anel ingui- causar um sangramento gravíssimo.
nal INTERNO. Triângulo posterior e lateral = lateral aos vasos esper-
Triângulo posterior e medial = abaixo do ligamento in- máticos, abaixo do ligamento inguinal. Este é o famoso
guinal, medial ao ducto deferente, lateral ao púbis  triângulo da dor, que contém os nervos da região ingui-
região das hérnias femorais. nal. Se mexer ali, o doente vai ter dor no pós-operató-
rio e te culpar para sempre kkk.

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142 | MAR 22 SIMULADO R1 - CIRURGIA GERAL

Após este resumo, vamos então, às QUESTÃO 93


alternativas: Paciente sexo feminino, 58 anos, não-etilista e não-ta-
A) INCORRETA – Se tudo der certo, na laparoscopia, bagista. Refere disfagia progressiva para alimentos sóli-
nunca vamos chegar e nem ver o orifício inguinal dos com necessidade de coluna d’água há 9 meses. Per-
externo, que se localiza na aponeurose do músculo da ponderal de 2 kg no período. Paciente com IMC de
oblíquo externo, lá na parede anterior. 29 kg/m2. Em relação ao caso, qual a principal hipó-
B) CORRETA – Perfeito, é lá que eles se juntam, tese diagnóstica e quais os exames a serem solicitados?
olhem a imagem mais uma vez. A) Acalásia. EDA, EED, Manometria.
C) INCORRETA – Triângulo da dor é a região mais B) Acalásia. EDA e manometria
lateral e posterior, nada a ver. C) Divertículo de Zenker. EDA. EED
D) INCORRETA – Canal femoral, abaixo do liga- D) Divertículo de Zenker. EDA
mento inguinal, medial ao ducto deferente.
Resposta correta: Letra A
Take-Home Message::
Visão laparoscópica da região inguinal, Y invertido e
05 triângulos. Voltem e revejam as imagens.

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SIMULADO R1 - CIRURGIA GERAL MAR 22 | 143

EXPLICAÇÃO: OBS: Radiografia de tórax pode visualizar ar no medias-


tino o que representa material estagnado no esôfago.
A acalásia é um distúrbio motor primário mais comum
do esôfago. Sua fisiopatologia resulta da degeneração O segundo exame a ser solicitado é o EED (esofago-
progressiva das células ganglionares no plexo mioenté- grafia) onde as seguintes características podem es-
rico da parede esofágico promovendo a falha do relaxa- tar presentes:
mento do esfíncter esofágico inferior associada a uma • Dilatação do corpo esofágico
perda de peristaltismo no esôfago distal. • Estreitamento na altura do EEI
Características da doença: • Contrações não-peristálticas
• Déficit do relaxamento do EEI durante a deglutição
• Resíduo de contraste (retardo de esvaziamento)
• Graus variados de hipertonia do EEI
• Ausência de bolha gástrica
• Com a progressão da doença: contrações anormais
da musculatura esofágica até sua disfuncionalidade Esofagomanometria:
Essas alterações secundárias à destruição dos corpos • Principal exame diagnóstico
celulares dos neurônios do plexo de Auerbach ocor- • Pressão normal de repouso: 10-30 mmHg
rem progressivamente:
• Achados clássicos:
• Inicialmente há perda de interneurônios inibitórios
que secretam NO o Ausência de relaxamento do EEI em resposta à
deglutição
• Com a progressão da doença há perda de neurônios
colinérgicos o Graus variados de hipertonia do EEI
A perda de peso é progressiva e insidiosa devido a difi- o Peristalse com baixas amplitudes
culdade de alimentação. Atenção especial deve ser dada o Aperistalse / ondas terciárias
pois o principal diagnóstico diferencial é a neoplasia
de esôfago cujo sintoma de perda ponderal importante
também mostra-se presente. CORREÇÃO:
Em torno de 1-10% dos pacientes com acalásia irão A) CORRETO - A principal hipótese é a acalásia,
desenvolver CEC de esôfago devido ao insulto crônico paciente sem fatores de risco para neoplasia de
da mucosa associado a estase gástrica do conteúdo ali- esôfago. A investigação no entanto deve contem-
mentar impactado. plar exames que excluam neoplasia, por isso a en-
Etiologia: doscopia. O prosseguimento deverá ser feito com
EED, onde a avaliação da dilatação do esôfago e
• Chagas (mais comum no Brasil)
o retardo do esvaziamento é possível. Por fim, a
• Idiopática outras doenças reumatológicas manometria mostrará a hipertonia do EEI, confir-
Diagnóstico: mando a hipótese. 
Primeiro exame a ser solicitado: EDA B) INCORRETO - Hipótese diagnóstica correta, po-
rém o EED é fundamental
• Excluir causa maligna como etiologia da obstrução
e dos outros sintomas C) INCORRETO - A principal hipótese é acalásia
• Identificar possíveis lesões pré-malignas/malignas: D) INCORRETO - A principal hipótese é acalásia
Cromoscopia com lugol deve ser realizada e áreas
suspeitas biopsiadas

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144 | MAR 22 SIMULADO R1 - CIRURGIA GERAL

Take-Home Message:: • Contrações não-peristálticas


Primeiro exame a ser solicitado: EDA • Resíduo de contraste (retardo de esvaziamento)
• Excluir causa maligna como etiologia da obstrução • Ausência de bolha gástrica
e dos outros sintomas Esofagomanometria:
• Identificar possíveis lesões pré-malignas/malignas: • Principal exame diagnóstico
Cromoscopia com lugol deve ser realizada e áreas
suspeitas biopsiadas • Pressão normal de repouso: 10-30 mmHg
OBS: Radiografia de tórax pode visualizar ar no medias- • Achados clássicos:
tino o que representa material estagnado no esôfago. o Ausência de relaxamento do EEI em resposta à de-
O segundo exame a ser solicitado é o EED (esofago- glutição
grafia) onde as seguintes características podem es- o Graus variados de hipertonia do EEI
tar presentes: o Peristalse com baixas amplitudes
• Dilatação do corpo esofágico o Aperistalse / ondas terciárias
• Estreitamento na altura do EEI

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SIMULADO R1 - CIRURGIA GERAL MAR 22 | 145

QUESTÃO 94 Sintomas:

Paciente de 76 anos, sexo masculino Comparece em • Retenção de alimentos e saliva, ocasionando halito-
consulta referindo disfagia e engasgo (aponta região se, regurgitação e/ou aspiração
cervical lateral esquerda). Perda ponderal de 20kg em • Sintomatologia respiratória: broncoespasmo/asma,
6 meses. Queixa-se também de halitose. Qual o prová- pneumonias de repetição
vel diagnóstico e a melhor conduta terapêutica dentre • Ulceração do divertículo e sangramento
as alternativas: • Disfagia: quando há crescimento excessivo do falso
A) Síndrome de Plummer-Vinson - Esofagectomia divertículo pode ocorrer compressão extrínseca
sem linfadenectomia Diagnóstico:
B) Divertículo de Zenker - Diverticulopexia sem mio- • Inicialmente estudo baritado combinado ou não
tomia com estudo dinâmico
C) Síndrome de Plummer Vinson - Ruptura endoscó- • Método alternativo para diferenciar divertículo de
pica massa tireoidiana ou cervical é um US de pescoço
D) Divertículo de Zenker - Miotomia com diverticu- • Cuidado com exames endoscópicos, bem como son-
lopexia dagem, devido risco de perfuração do divertículo
Resposta correta: Letra D Tratamento:
• Pacientes com divertículos > 1 - 2 cm e sintomáti-
cos são candidatos ao tratamento
EXPLICAÇÃO: • < 2 cm: Tratar causa do divertículo, ou seja, a hi-
Divertículo Zenker: pertonia do cricofaríngeo: miotomia (procedimen-
to realizado normalmete por endoscopia)
Divertículo de pulsão (portanto é um pseudodiver-
• 2-5 cm:
tículo) mais comum do esôfago. Há a protrusão da
mucosa através de uma área de fraqueza muscular. o Miotomia + Diverticulopexia (portanto sem inva-
Predomínio masculino (1,5x mais comum em homens são do TGI)
que mulheres); incidência anual de 2 pacientes a cada o Ou abordagem endoscópica (bisturi elétrico ou
100000 habitantes. pinça harmônica)
Formado pela herniação da mucosa da região do esôfa- • > 5 -6 cm: Miotomia + Diverticulectomia
go cervical através de um área de fragilidade posterior
da faringe: triângulo de Killian. Especificamente essa CORREÇÃO:
protrusão ocorre entre as fibras do m. faríngeo inferior A) INCORRETO - A principal hipótese é Zenker;
e as do músculo cricofaríngeo. não há relato na história de anemia ferropriva, o
Possíveis causas do surgimento do Divertículo que é um achado associado à Síndrome de Plum-
de Zenker: mer-Vinson
• Dismotilidade esofágica B) INCORRETO - Apesar do diagnóstico estar corre-
to, o tratamento exige a miotomia
• Disfunção do esfíncter esofágico superior
C) INCORRETO - Hipótese errada, embora o trata-
• Esôfago curto mento para a Síndrome de Plummer-Vinson seja a
ressecção endoscópica
D) CORRETO - Hipótese correta com proposta te-
rapêutica também correta

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Take-Home Message:: Use a imaginação, qualquer fator que atrapalhe a re-


Tratamento: generação de tecidos, resposta do organismo á lesão e
qualquer desequilíbrio para a homeostase e funções fi-
• Pacientes com divertículos > 1 - 2 cm e sintomáticos siológicas normais é um problema para a cicatrização...
são candidatos ao tratamento
- Deficiências de vitaminas (ou hormônios, substratos
• < 2 cm: Tratar causa do divertículo, ou seja, a hiper- e qualquer outra coisa),
tonia do cricofaríngeo: miotomia (procedimento
realizado normalmente por endoscopia) - Isquemia, hipóxia, necrose, ou qualquer outro distúr-
bio de homeostase,
• 2-5 cm:
- Diabetes, hipertensão, tabagismo, desnutrição, obesi-
o Miotomia + Diverticulopexia (portanto sem in- dade, doença neoplásica ou qualquer outra comor-
vasão do TGI) bidade
o Ou abordagem endoscópica (bisturi elétrico ou - Infecção, sepse, inflamação, ou qualquer outra doen-
pinça harmônica) ça sistêmica e aguda também
• > 5 -6 cm: Miotomia + Diverticulectomia Ou seja, tudo de ruim pode causar uma dificuldade
na cicatrização.

QUESTÃO 95 As deficiências de vitaminas dificultam a cicatrização


pois o organismo vai ter falta de substrato disponível
São fatores que dificultam a cicatrização tecidu- para formar novas reações e substâncias para ajudar no
al adequada: processo de cicatrização
I. Deficiência de vitaminas. A isquemia vai dificultar, pois falta de oxigênio não
II. Isquemia. permite que nada funcione no organismo, seja local ou
sistêmico
III. Diabetes melito.
O diabetes vai atrapalhar, pois o paciente diabético tem
Quais estão corretos? várias alterações micro sistêmicas que prejudicam a ci-
A) Apenas I e II. catrização, tais quais: contração da micro vasculatura,
B) Apenas I e III. falha de circulação periférica, hiperglicemia, etc.
C) Apenas II e III. E quais as fases da cicatrização, só para lembrar-
D) I, II e III. mos rapidamente:
O processo de cicatrização é dividido didaticamente
Resposta correta: Letra D
por 3 fases.
Comentários: -Fase inflamatória: ocorre nos 2 primeiros dias. O es-
tímulo inicial para que a sequência de eventos da
Questão legal e que precisa de um raciocínio lógico
coagulação ocorra é a própria lesão tecidual, os va-
para ser respondida. (Ou decoreba).
sos do local da ferida se contraem, as plaquetas ade-
Fatores que interferem na cicatrização. Fatores que di- rem, agregadas ao local da lesão e formam o tampão
ficultam a cicatrização adequada. hemostático inicial. Começa então a sequência de
Resumindo: Quais fatores de risco para uma eventos da coagulação com ativação das vias intrín-
má cicatrização? seca e extrínseca para resultar na fibrina que é po-
limerizada em coágulo estável. Após a hemostasia

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SIMULADO R1 - CIRURGIA GERAL MAR 22 | 147

inicial, os vasos se dilatam secundariamente pela Percebam então, que qualquer alteração nesse processo
ação da bradicinina aumentando a permeabilidade de cicatrização irá resultar em uma cicatrização inefi-
vascular. O aumento da permeabilidade irá atrair ciente e não fechamento da ferida. Como vimos, isto
neutrófilos e monócitos para a ferida que irão eli- pode ser causado por: tabagismo, infecção, desnutrição
minar os restos celulares, corpos estranhos e bac- do paciente, DM, obesidade, radioterapia, corticoides,
térias. Nesses 2 primeiros dias, as células inflama- baixa tensão de oxigênio, e todos os outros fatores de
tórias começam a mudar a sua população para o risco supracitados.
tipo celular com predomínio dos monócitos que
irão se diferencias em macrófagos e fagocitar teci- Vamos às alternativas:
dos e restos bacterianos além de secretar fatores de
crescimento. Nesse momento, a ferida está limpa A) INCORRETA – Todos os fatores causam dificul-
e com boa vascularização, pronta para o processo dade na cicatrização de tecidos
proliferativo. B) INCORRETA - Todos os fatores causam dificulda-
de na cicatrização de tecidos
-Fase proliferativa: macrófagos, mastócitos liberam fa-
tores de crescimento que estimulam a ativação de C) INCORRETA - Todos os fatores causam dificulda-
fibroblastos. Estes, conforme se proliferam, se tor- de na cicatrização de tecidos
nam o tipo predominante de células por 3 a 5 dias D) CORRETA - Todos os fatores causam dificuldade
nas feridas. Os fibroblastos irão sintetizar e secretar na cicatrização de tecidos
colágeno, principalmente tipo I e tipo III. Embora
o tipo III seja a princípio depositado em quanti-
Take-Home Message:
dades maiores na ferida, sua quantidade é sempre
menor que a do colágeno I na cicatriz já madura. Percebam então, que qualquer alteração nesse processo
O colágeno é o principal componente estrutural da de cicatrização irá resultar em uma cicatrização inefi-
cicatriz e é ele que mantem a ferida fechada após ciente e não fechamento da ferida. Como vimos, isto
a retirada de pontos. Além disso, os fibroblastos pode ser causado por: tabagismo, infecção, desnutrição
adquirem características de célula muscular lisa e do paciente, DM, obesidade, radioterapia, corticoides,
se diferenciam em miofibroblastos contráteis, que baixa tensão de oxigênio, e todos os outros fatores de
resultará na contração da ferida e seu fechamento. risco supracitados.
-Fase de maturação ou remodelação: durante esse pro-
cesso há a perda do equilíbrio entre a produção e
degradação do colágeno. Há um aumento da de-
gradação do colágeno por meio da colagenase, evi-
tando assim a formação de cicatrizes patológicas
como queloide e cicatriz hipertrófica. Os capilares
regridem, a cicatriz que antes era avermelhada, se
torna mais clara e esse remodelamento pode durar
de meses até anos. Elas se tornam mais fortes e sua
resistência à tração aumenta, porém a resistência re-
sultante jamais será igual a pele normal, atingindo
no máximo 80% da força da pele integra. A cicatriz
não possui anexos epidérmicos (glândulas sebáceas
e folículos pilosos).

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QUESTÃO 96 observar o sítio de origem, tamanho, extensão para


outras regiões laríngeas e faríngeas, comprometimento
Uma paciente de 54 anos de idade, com quadro de dis- da comissura anterior e processo vocal, mobilidade de
fonia há trinta dias, professora, tabagista (trinta anos/ pregas vocais e permeabilidade de via aérea. Nas lesões
maço), ao exame de laringoscopia, apresenta lesão ve- laríngeas suspeitas é mandatória a biópsia para confir-
getoinfiltrativa de terço médio de prega vocal esquerda, mação anatomopatológica da malignidade. Aproxima-
com redução da mobilidade. Com base nessa situação damente dois terços desses tumores acometem prima-
hipotética, é correto afirmar que a melhor conduta riamente o andar glótico, daí ser a disfonia persistente
diagnóstica será um sinal precoce. O terço restante de tumores atinge a
A) indicar a biópsia da lesão, para estabelecimento do supraglote, na qual o sintoma mais precoce costuma ser
tipo histológico, do estadiamento e do tratamento. a disfagia. Tumores infraglóticos são raros e costumam
B) o seguimento da lesão, com encaminhamento para ser diagnosticados em estádio clínico mais avançado,
a fonoterapia para reabilitação vocal. podendo manifestar-se com dispneia.
C) orientar a cessação do tabagismo, com encaminha- Voltando à questão…
mento para a fonoterapia. A) - CORRETA - Paciente com disfonia que não
D) a ressecção da lesão, com radioterapia pós-operatória. passa, fator de risco para câncer (tabagismo), le-
E) a ressecção completa da lesão, por meio de cordec- são ULCEROINFILTRATIVA em prega vocal es-
tomia ampliada com margem de segurança oncoló- querda com sintomas de invasão de musculatura
gica, congelando essas margens. laríngea (paresia de prega vocal). Cara de câncer,
focinho de câncer, cheiro de câncer… O que de-
Resposta correta: Letra A vemos fazer de imediato? Confirmar logo se tratar
de um carcinoma para estadiar e tratar! Portanto,
Explicação: letra A corretíssima.
B) INCORRETA - O seguimento dessa lesão não é
O câncer de laringe é um dos mais comuns entre os que uma opção… Uma lesão com suspeita tão forte de
atingem a região da cabeça e do pescoço, representan- câncer em paciente jovem deve ser investigada ati-
do cerca de 25% dos tumores malignos que acometem vamente e no momento que foi vista.
essa estrutura e 2% de todas as doenças malignas. O C) INCORRETA - Sem dúvida nenhuma a interrup-
Brasil apresenta uma ocorrência expressiva de câncer de ção do tabagismo é uma medida muito importante.
laringe quando comparada a outros países da América Porém, o encaminhamento à Fonoaudiologia nesse
Latina: cerca de 8.000 casos novos e 3.000 mortes pela momento só será válido se o(a) fonoaudiólogo(a)
doença atingem anualmente a população brasileira. em questão também for médico(a) e fizer a biópsia!
Mais de 90% dos cânceres de laringe são carcinoma D) - INCORRETA - Para propor um tratamento,
epidermóide. Carcinogênese é uma alteração do con- antes precisamos saber a natureza da lesão e, em
trole do crescimento celular por causa de uma exposi- se comprovando neoplásica, realizar o correto ES-
ção prolongada a agentes com potencial mutagênico. TADIAMENTO. Dependendo desses fatores a
O tabagismo é um importante determinante do risco conduta poderá mudar. Inclusive, tumores glóticos
de câncer de faringe e a associação com o etilismo au- com estadiamento clínico (TNM) T1 e T2 (pregas
menta ainda mais esse risco. vocais móveis e paresia de prega vocal, respectiva-
Dependendo do sítio de origem, os tumores são clas- mente) geralmente são tratados com monoterapia
sificados em glóticos, supraglóticos e infraglóticos. A (cirurgia ou radioterapia). Portanto, não coloque-
laringoscopia mostra lesão vegetante, infiltrativa ou mos os carros na frente dos bois...
ulcerada em laringe. Durante o exame, é importante E) INCORRETA - Mesma explicação da letra D.

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Take-Home Message::
Quando temos um paciente com disfonia persistente,
fatores de risco para oncogênese (tabagismo), perda
ponderal e lesão ulceroinfiltrativa em pregas vocais de-
vemos imediatamente pensar em câncer de laringe (em
especial o carcinoma epidermoide). E, quando identi-
ficamos essa situação, não podemos perder tempo: rea-
lizar a biópsia assim que possível para comprovarmos
a etiologia da lesão, procedermos com estadiamento
para, em seguida, propor o melhor tratamento possível.
Quanto ao câncer de laringe, um detalhe interessante
que pode nos ajudar a pensar no subsítio que está aco-
metido é relacionarmos as regiões anatômicas da larin-
ge com os sinais clínicos mais típicos:
• Supraglote: disfagia.
• Glote: disfonia.
• Infraglote: dispneia.
Ainda, outro ponto importante de se saber quanto aos
CEC de cabeça e pescoço é a cancerização de campo.
Esse conceito propõe que os tumores se desenvolvem
de forma multifocal dentro de um campo de tecido que
tenha sido cronicamente exposto a agentes canceríge-
nos. Portanto, quando se tem um câncer de boca em
paciente tabagista e etilista, por exemplo, temos que
pensar que pode haver outro tumor primário em algum
sítio diferente da cabeça e pescoço, como a laringe. Por
isso, quando se tem a evidência de CEC do trato aero-
digestivo alto, a busca por esses outros tumores se faz
imperiosa através de exame físico completo (incluindo
laringoscopia ou videolaringoscopia), tomografia com-
putadorizada de face e pescoço com contraste, endos-
copia digestiva alta e, em alguns casos, broncoscopia.

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QUESTÃO 97 Assinale a alternativa que melhor representa o diagnós-


tico e a conduta:
Paciente de 24 anos com hipertensão arterial pulmonar
tipo 1, apresenta 5ª episódio de derrame pleural volu- A) Transudato – Toracocentese de repetição
moso no último mês. Apesar da boa condição clínica e B) Exsudato – videotoracoscopia
estando otimizada do ponto de vista medicamentoso C) Exsudato – pleurodese química
refere ter sido submetida a 4 toracocenteses e uma dre- D) Transudato – dreno de longa permanência
nagem. Traz consigo análise do liquido pleural eviden-
ciando: PH 7,6; LDH 51; Glicose 97; Proteínas 1,2. Resposta correta: Letra D
Exames laboratoriais mostravam: Hb 11.2, Leucogra- Comentários:
ma: 11.500, Proteínas totais 6.2, albumina 3.5, LDH
Paciente jovem com hipertensão arterial pulmonar de
230. Radiografia de tórax após a última drenagem (es- difícil controle apresentando derrame pleural de repe-
querda) e atual (direita). tição. Quadro clínico típico de doentes que apresentam
transudato recorrente. Vamos ver as alternativas:
A) Falsa. A afirmativa acerta no diagnóstico de transu-
dato pelos critérios de Light, porém a toracocentese
de repetição não parece ser a melhor opção, tendo
em vista que se trata de paciente jovem fora de um
estado terminal de vida e que apresenta recorrência
do derrame em um curto intervalo de tempo (me-
nor que 1 semana).
B) Falso. A afirmativa erra no diagnóstico dizendo tra-
tar-se de um exsudato.
C) Falso. Mesmo motivo da alternativa anterior. Erra
no diagnóstico de exsudato. A pleurodese química
pode ser uma alternativa terapêutica nessa situação,
todavia não se trata da primeira escolha.
D) Verdadeiro. A afirmativa classifica o derrame cor-
retamente como um transudato e sinaliza para a
melhor alternativa terapêutica nesses casos. O dre-
no de longa permanência tem bons resultados em
termos de qualidade de vida para esses doentes.

Take-Home Message:
- Os critérios de Light devem ser aplicados para diferen-
ciação entre transudato e exsudato. Apenas um critério
positivo classifica o liquido como exsudato: Ptn da pleu-
ra / Ptn sérica < ou = 0.5, LDH pleural / LDH sérico <
ou = a 0.6 e LDH da pleura > que 2/3 do LDH sérico.
- O dreno de longa permanência é a melhor opção para
casos de transudato recorrente em um curto intervalo
de tempo e em pacientes com sobrevida ainda elevada.

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QUESTÃO 98 EXPLICAÇÃO:
Neonato de termo, ao nascer tem ausência de ânus e Amadas anomalias anorretais! Vamos relembrar quais
é observada saída de mecônio na região peno-escrotal são elas? Existe uma infinidade de variações e malfor-
(fotografia). mações anorretais na natureza. Para fins didáticos clas-
sificamos elas da seguinte forma: Anomalias dos meni-
nos - Ânus imperfurada com fístula reto uretral bulbar,
reto uretral prostática ou reto vesical. Anomalias das
meninas- Ânus imperfurado com fístula reto vestibular
ou cloaca. Anomalias de ambos os sexos - Ânus im-
perfurado com fístula reto-perineal e atresia retal sem
fístula ( Muito rara).
E o que significa tudo isso? Pensem da seguinte forma,
na anomalia anorretal temos um defeito da formação
do intestino posterior.Durante a gestação o intestino
posterior não chega a membrana anal e por isso não
temos o ânus perfurado. Durante este desenvolvimen-
to existe o septo urorretal que separa o TGI do TGU
no feto, e esta separação fica incompleta quando não
ocorre desenvolvimento total do reto.Em outras pala-
vras , se o reto não abre no complexo esfincteriano ele
normalmente vai abrir em outro lugar!E por isso existe
essa infinidade de fístulas!
Pois bem, quanto mais alto é o defeito, ou seja quan-
to mais distante do complexo esfincteriano está o reto,
pior é o prognóstico. Isto porque além do desenvolvi-
mento anômalo do reto quando as anomalias são mais
altas, a musculatura e a inervação também são pouco
desenvolvidas, causando um pior prognóstico de conti-
Qual conduta cirúrgica que deve ser instituída para tra- nência para esta criança.Além disso, em anomalias mais
tar esta criança? Assinale a resposta correta. altas a dissecção para correção é maior podendo causar
mais casos de incontinência por lesão iatrogênica das
(A) Colostomia.
estruturas do períneo.
(B) Anorretoplastia sagital posterior.
Para a correção de praticamente todas as anomalias
(C) Proctoplastia por via perineal. anorretais é usada a Anorretoplastia Sagital Posterior
(D) Dilatações sucessivas. (Cirurgia de Peña). Essa cirurgia consiste em fazer uma
incisão ampla no períneo, achar o reto, ligar a fístula e
Resposta correta: Letra C posicionar o reto no esfíncter ( com a ajuda de um ele-
troestimulador muscular para achar o esfíncter). A úni-
ca exceção para isso é a fístula reto perineal, esta fístula
é muito baixa, inclusive, ela chega a se abrir no perí-
neo, apesar de abrir fora do complexo esfincteriano. Na

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152 | MAR 22 SIMULADO R1 - CIRURGIA GERAL

maioria das vezes não é necessária a Cirurgia de Peña QUESTÃO 99


para corrigir esta anomalia, é realizada então uma dis-
secção menor, a proctoplastia perineal, que consiste só Mulher de 81 anos, portadora de hipertensão arterial
em colocar o reto no esfíncter sem grandes incisões ou sistêmica de longa data. Relata tabagismo prévio e
dissecções. E adivinha qual é o aspecto desta anomalia? abstinente há 10 anos. Chega ao Pronto Atendimento
Exatamente o da foto da questão! A fístula se abre no com sintomas de amaurose fugaz em olho esquerdo (3
períneo, as vezes é possível ver mecônio eliminado an- episódios nos últimos 2 dias com 3 minutos de duração
terior ao que seria o ânus, e é comum a associação com cada), e um episódio há 1 hora de perda da capacidade
o groove perineal(calha perineal) este aspecto de calha de fala, com recuperação em 10 minutos. Ao exame
em que a fístula se apresenta. físico as bulhas cardíacas são normofonéticas e o ritmo
é regular. O que se espera encontrar no exame físico
A) INCORRETA: Não é necessária colostomia para e qual o primeiro exame complementar indicado para
tratar fístula retoperineal, esta anomalia é muito identificar a provável etiologia da doença?
baixa e pode ser corrigida em um único tempo
A ) Perda de campo visual e tomografia de crânio.
B) INCORRETA: Não é necessário o Peña para tratar
fístula retoperineal, es anomalia é muito baixa e não B ) Sopro cervical à esquerda e ultrassonografia com
demanda de uma dissecção grande como a do Peña. doppler de carótidas.
C) CORRETA: Alternativa correta da questão. C ) Sopro cervical à direita e ultrassonografia com do-
ppler de carótidas.
D) INCORRETA: Dilatar esta fístula não vai fazer
com que esta criança tenha continência, afinal, a D ) Sopro cervical à direita e tomografia de crânio.
fístula se abre fora do complexo esfincteriano. Resposta correta: Letra B

Take-Home Message::  Para o tratamento de fístulo


retoperineal - Proctoplastia perineal, para todas as ou-
tras: Anorretoplastia sagital posterior

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SIMULADO R1 - CIRURGIA GERAL MAR 22 | 153

Logo, todo o enunciado contrói o quadro clínico de


um paciente que teve um AIT associado a estenose da
carótida esquerda.
No exame físico, já que os déficits já foram revertidos, a
única alteração que poderíamos esperar encontrar seria
o sopro carotídeo, associado a estenose e ao turbilho-
namento de fluxo que ela causa. A investigação com-
plementar poderia incluir angiotomografia ou angio-
ressonância cervical, mas o exame mais barato e menos
invasivo disponível é o Doppler de carótidas.
A) INCORRETA: A perda de campo visual não está
necessariamente associada a amaurose fugaz, que
foi o sintoma apresentado pela pacientE) são coi-
sas diferentes. Perda de campo visual, cegueira, he-
mianopsia, são sintomas associados com circulação
Comentários:
cerebral posterior, e não com o território carotídeo.
Nesse caso vemos a descrição de um acidente isquê- A amaurose fugaz é associada não com o processa-
mico transitório, ou seja, um sintoma cerebral isquê- mento cortical da visão, e sim com a isquemia da
mico - um déficit focal - que se reverte em menos de retina, irrigada pela artéria oftálmica, que é ramo
24h. Os descritos para essa paciente foram bem curtos, da carótida. A angiotomografia de crânio, caso o
duraram minutos, mas poderiam ter durado horas e paciente tivesse perda de campo visual, poderia
ainda teriam essa mesma classificação caso se revertes- ajudar realmente no diagnóstico, mas no caso do
sem completamente. paciente com isquemia de provável território caro-
A amaurose fugaz é um sintoma associado ao território tídeo, não vai ajudar a investigar a causa, que está
extracraniano - carotídeo. Trata-se de uma perda de vi- na região cervical.
são súbita e de rápida reversão causada por isquemia da B) CORRETA: A amaurose fugaz, como é causada
retina. A retina é irrigada pela artéria oftálmica que é por isquemia da retina, e não do córtex associado
ramo da carótida. Logo, seja por embolização, seja por a visão, sempre é ipsilateral à carótida acometida
hipofluxo, a artéria oftálmica pode sofrer com a doença (a artéria oftálmica, que é responsável pelo fenô-
aterosclerótica carotídea. Por ser ramo direto da caróti- meno, é ramo da carótida). Dessa forma o sopro
da, e por não envolver a interpretação cortical da visão, a esquerda é condizente com o sintoma apresen-
a amaurose fugaz é sempre ipsilateral à carótida doente. tado, e o Doppler de carótidas vai identificar ate-
rosclerose e estenose que é a provável causa dos
Esse é um dos únicos sintomas visuais que podemos as-
sintomas do paciente. 
sociar ao território carotídeo. As hemianopsias e outras
alterações visuais, que normalmente estão associadas C) INCORRETA: A amaurose fugaz é um sintoma
com a leitura cortical da visão, são objeto da circulação ipsilateral à carótida acometida, logo no caso des-
cerebral posterior (portanto território não carotídeo, da crito, seria a esquerda.
artéria basilar, na grande maioria dos casos). D) INCORRETA: Errou a lateralidade do sopro e errou
o exame indicado, já que a etiologia da doença pro-
O outro sintoma apresentado foi a perda de capacidade
vavelmente é circulação extracraniana (carótidas).
de fala - que imaginamos que tenha sido uma disartria
ou afasia de expressão, o que também é sintoma asso-
ciado ao território carotídeo esquerdo.

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154 | MAR 22 SIMULADO R1 - CIRURGIA GERAL

Take-Home Message:: de imagem de escolha é a ultrassonografia, que permite


A ausculta do sopro carotídeo faz parte do exame físi- avaliar corretamente o parênquima testicular e a túnica
co do paciente com suspeita de AVC ou AIT, e ajuda albugínea. Em lesões penetrantes no escroto, a explora-
a identificar se realmente há lesão vascular associada, ção cirúrgica é mandatória para adequada avaliação dos
uma vez que existem outras causas de AVC, como o testículos e estruturas do cordão espermático.
cardioembolismo. A confirmação é através de imagem, A) INCORRETA- A medida inicial no paciente seria
e normalmente a conduta, além do tratamento clínico a realização de ultrassonografia para avaliar a exten-
otimizado, envolve cirurgia para a prevenção de novos são da lesão, uma vez não se tratar de trauma pene-
AVC/ AIT. trante. Não é possível estabelecer a conduta defini-
tiva (observação versus exploração) apenas com os
dados deste enunciado.
QUESTÃO 100 B) INCORRETA- Pela mesma razão elencada no
0. Homem de 30 anos refere trauma escrotal em mo- item A, o ultrassom deve ser realizado e auxiliará na
tocicleta durante frenagem. Após 3 horas, passou a ter decisão de melhor conduta. Via de regra, sempre
dor local intensa, com aumento de volume da bolsa. desejamos manter o testículo, se viável.
C) CORRETA-  A extensão do trauma pode ser uma
Exame físico: estável hemodinamicamente, sem outros
indicação cirúrgica para avaliação da viabilidade
locais de traumatismo. Exame genital: aumento impor-
do testículo e rafia da túnica albugínea. 
tante de volume da bolsa direita, sem definição exata
do testículo e intensa dor local. D) INCORRETA- Quando bem indicada, a aborda-
gem cirúrgica se propõe na limpeza, hemostasia e
Assinale a alternativa correta. tentativa de preservação de parênquima testicular e
A) Trata-se de um trauma escrotal fechado, e a condu- cordão espermático.
ta conservadora é a primeira opção, com analgesia e
compressa fria, sendo a cirurgia reservada em casos
Take-Home Message:
de complicações.
• A ultrassonografia permite avaliar corretamente o
B) A pesquisa de ruptura testicular deve ser realiza-
parênquima testicular e a túnica albugínea.
da e, se persistir a dúvida, a orquiectomia dever
ser indicada. • Em lesões contusas, a avaliação do USG testicular e
da extensão de lesão indicará ou não a exploração
C) Pequenas hematoceles podem ser manejadas de
cirúrgica.
forma conservadora; porém, quando de grande
volume, a exploração cirúrgica é aconselhável. • Em lesões penetrantes no escroto, a exploração ci-
D) A abordagem cirúrgica precoce está associada a rúrgica é mandatória para adequada avaliação dos
maiores taxas de orquiectomia, quando comparada testículos e estruturas do cordão espermático.
à abordagem tardia.

Resposta correta: Letra C

A Ruptura testicular deve ser considerada em todos os


pacientes vítima de trauma escrotal, visto que pode es-
tar presente mesmo em casos em que o exame físico não
apresenta edema ou hematoma exuberante. O exame

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