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DOSIMETRIA DA PENA

Princípio da individualização da pena.

1ª Fase) Circunstâncias Judiciais = PENA BASE


2ª Fase) Circunstâncias Legais - Atenuantes e Agravantes = PENA INTERMEDIÁRIA
3ª Fase) Causas de Aumento ou Diminuição - Majorantes e minorantes = PENA DEFINITIVA

1ª FASE - CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS


Análise com maior margem para valorar a pena.
Caráter residual ou subsidiário; não incidem quando prevista como causa de aumento ou diminuição.
É aplicável o que não está na segunda e na terceira fase.
Muitas vezes o juiz deixa de valorar a pena na primeira fase, pois a pena será valorada na segunda ou
terceira fase.
Fixa a pena base. Não pode reduzir o mínimo legal ou aumentar o máximo da pena cominada.

Circunstâncias judiciais (8)

CULPABILIDADE
Trata-se do grau de reprovabilidade e censura da conduta do réu.
Ex=
a) Planejar antecipadamente o crime.
b) Posição em organização criminosa.
c) Pluralidade de tiros que atingiram a vítima, pelas costas.
d) Homicídio na presença de familiares.

ANTECEDENTES DO RÉU
Tudo aquilo que não é reincidente e for uma condenação definitiva anterior ao novo crime.
Não tem prazo de validade. Deve constar na folha de antecedentes.
Súm 444 STJ = “É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a
pena-base”. Caso contrário, violaria o princípio da Presunção de Inocência.
Reincidência requer uma condenação definitiva em trânsito em julgado antes do novo crime
(extinção/cumprimento dentro de um lapso de 5 anos - período depurador).
Atos infracionais (“crimes” praticados por menores de idade) NÃO podem ser considerados maus
antecedentes para a elevação da pena-base, tampouco para a reincidência.
Contravenção penal pode ser considerada como reveladora de maus antecedentes - MAS NÃO GERA
REINCIDÊNCIA.

CONDUTA SOCIAL
Refere-se ao comportamento do réu em seu meio familiar, social, profissional.
É a relação e convivência perante a sociedade.
Obtida no interrogatório ou depoimento testemunhal.
Ex=
a) Prática de ameaça e agressões a familiares
b) Envolvimento com tráfico de drogas
c) Réu é conhecido no bairro em que reside como uma pessoa perigosa e temida
d) Possui 3 filhos, não os acompanha, não paga pensão alimentícia

PERSONALIDADE DO AGENTE
Não cabe alegação genérica que o modo de agir do réu demonstra uma personalidade voltada para o
delito. Precisa ser comprovado por FATOS.
Ex=
a) Egoísmo, possessividade e ciúmes descontrolados
b) A forma como planejou a ação criminosa, sua frieza, dissimulação e traços de psicopatia
c) Comportamento violento e agressivo do agente, em suas relações domésticas
d) Acusado sempre se referiu à homicídios com naturalidade, mostrando-se indiferente à morte
e) Mentor da empreitada criminosa.

MOTIVOS DO CRIME
É o porquê, a razão do agente ter praticado o delito.
Estão previstos nas fases subsequentes, então dificilmente o juiz vai aplicar na primeira fase. Raras as
ocasiões.
Ex=
a) Em decorrência de rivalidade política
b) Intenção do agente de se enriquecer à custa de outrem (extorquiu pessoas carentes)

CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME
Modo de execução = modus operandi, forma de execução do crime.
Meios empregados = instrumento utilizado na execução do crime.
Circunstâncias de tempo e lugar = local do crime e às condições temporais, como o crime cometido
no silêncio da noite.
Ex=
a) Aproveitou-se da confiança que ganhou da Vítima (com quem convivia) e de familiares
b) Adentrou dentro da residência da vítima e praticou o delito na presença da filha da vítima
c) Crime em praça pública, na presença de vários populares.
d) Utilização de engenhoso, articulado e sofisticado esquema criminoso
e) Cometido por meio de um ato violento e delongado
f) Intenso sofrimento da vítima e a violência exacerbada e desproporcional
CONSEQUÊNCIAS DO CRIME
São os efeitos deste para a vítima, familiares e a sociedade.
Ex=
a) Expressivo prejuízo causado à vítima
b) Nos crimes tributários, o montante do tributo sonegado, quando expressivo
c) Vítima apresentou crises psicológicas e necessitou de acompanhamento especializado
d) Prejuízo à clientela do estabelecimento comercial

COMPORTAMENTO DA VÍTIMA
Refere-se à atitude da vítima, se provocativa ou facilitadora da ocorrência do crime.
Nunca pesa contra o réu. Ou pesa contra a própria vítima ou é neutra (nenhuma influência).
Quando se entender que a vítima contribuiu para a ocorrência do delito, é admitida a compensação
desse vetor com outra circunstância judicial desfavorável.

FIXAÇÃO DA PENA-BASE
1ª corrente = 1/8 sobre a pena abstrata mínima para cada circunstância (+ benéfica) - DOUTRINA
2ª corrente = 1/6 sobre a pena mínima. (muita força no TJSC - JURISPRUDÊNCIA)
3ª corrente= 1/8 sobre o intervalo (MÉDIO) entre a pena mínima ou máxima. (+ gravosa ao réu) -
(intervalo= máximo da pena - mínimo da pena) - JURISPRUDÊNCIA

2ª FASE - CIRCUNSTÂNCIAS LEGAIS


Não podem conduzir à redução abaixo do mínimo legal ou aumento da pena máxima.
Aplicação 1/6 da pena base.

AGRAVANTES
ROL TAXATIVO

I - a reincidência.
Período depurador: o termo inicial do período depurador é a data do cumprimento da pena ou da
extinção da punibilidade, e não da data do trânsito em julgado da condenação anterior.
Contravenção penal NÃO caracteriza reincidência, somente maus antecedentes.
II - ter o agente cometido o crime:
a) por motivo fútil ou torpe;
Motivo fútil é o móvel insignificante que levou o agente a praticar o delito.
Motivo torpe é o motivo repugnante, vil, abjeto, moralmente reprovável.
b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro
crime;
Conexão entre dois ou mais crimes.
c) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificultou ou
tornou impossível a defesa do ofendido;
Modo da prática do crime.
Traição - confiança,
Emboscada - tocaia ou cilada,
Dissimulação - disfarce da real intenção criminosa
d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de
que podia resultar perigo comum;
Perigo Comum - coloca em risco mais pessoas além da vítima.
e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge;
Abuso de autoridade - vínculo de dependência.
Relações domésticas e de coabitação/hospitalidade - ligações existentes entre membros de uma
mesma vida familiar, podendo ou não existir vínculo de parentesco.
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de
hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da lei específica;
g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou profissão;
h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida;
i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade;
j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade pública, ou de
desgraça particular do ofendido;
Insensibilidade moral do agente que se aproveita de situações calamitosas.
l) em estado de embriaguez preordenada.
Atinge o estado de embriaguez visando a prática do crime.
Agravantes no caso de concurso de pessoas: ver art. 62.

OBS
Quando a agravante não aumenta a pena:
Quando for elementar do tipo penal. Ex: art. 250 CP.
Qualificar o delito. Ex: art. 121 §2 CP
Se a pena base for fixada no máximo.

ATENUANTES
I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos, na data da
sentença;
II - o desconhecimento da lei;
III - ter o agente:
a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral;
b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou
minorar-lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano;
c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de
autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima;
d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime;
e) cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o provocou.
A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou posterior ao
crime, embora não prevista expressamente em lei.
Ex= arrependimento sincero do agente, sua extrema penúria, a recuperação do agente após o
cometimento do crime, a confissão, embora não espontânea, ter o agente sofrido dano físico,
fisiológico ou psíquico, em decorrência do crime, ser o réu portador de doença incurável.
Em alguns casos é aplicável a teoria da co-culpabilidade, na qual a sociedade teria certa parcela
contribuição para o delito.
OBS
Quando a atenuante não atenua a pena:
Constituir o crime ou privilegiar o acusado.
Quando a pena base estiver no mínimo legal.

3ª FASE - CAUSAS DE AUMENTO E DIMINUIÇÃO


Pena definitiva.
Majorantes e minorantes (dependem de cada caso) - têm suas quantidades estabelecidas na própria
lei.
Podem aumentar a pena acima do limite máximo ou reduzir abaixo do mínimo.
Podem ter quantidades fixas ou variadas.

Parte Geral: Causas Genéricas


Podem ser aplicadas em qualquer infração.
Ex: concurso formal, material ou crime continuado (causas de aumento)
Crime tentado (causa de diminuição).
Parte Especial: Causas que dependem do crime praticado
Causas diretamente ligadas aos crimes praticados.

Qualificadoras X majorantes
Qualificadoras: diretamente ligadas aos crimes e mudam os limites da pena mínima e máxima.
Majorantes: causas de aumento calculadas sobre a pena intermediária (previstas na parte geral ou
especial).

Majorantes X minorantes
Quando há uma majorante e uma minorante, as duas serão aplicadas, independentemente se estão
na parte geral ou especial do código. Não há compensação de uma pela outra, as duas serão
aplicadas.
No entanto, caso haja duas ou mais majorantes ou duas ou mais minorantes na parte especial do
código, o juiz aplicará somente uma (a que mais majorar ou mais minorar a pena).
CONCURSO DE CRIMES

Concurso Material
Mais de uma ação ou omissão, com dois ou mais crimes.
Pena calculada individualmente. Posteriormente, somam-se as penas.
Homogêneo: dois crimes iguais
Heterogêneos: dois crimes diferentes

Concurso Formal
Uma só ação ou omissão, com dois ou mais crimes
Dividido em:
1) Concurso formal próprio/perfeito:
O agente pratica uma só conduta típica, que produz dois ou mais resultados (iguais ou diferentes),
SEM vontade.
Aplicação da pena: critério de EXASPERAÇÃO.
Utilizar a pena de um dos crimes em aumentá-la de ⅙ até ½
OBS: em caso de dois crimes diferentes, utiliza-se o mais grave.
Mais benéfico ao réu.
Às vezes, o critério da exasperação fica PIOR para o réu (ou seja, a pena fica maior). Quando isso
ocorrer, somam-se as penas dos dois crimes (concurso material benéfico).

2) Concurso formal impróprio/imperfeito:


O agente pratica uma só conduta típica, que produz dois ou mais resultados (iguais ou diferentes),
COM vontade/dolo.
Aplicação da pena: sistema do cúmulo material (somam-se as penas).

Crime Continuado
O agente pratica mais de uma ação ou omissão, produzindo dois ou mais crimes da mesma espécie.
E pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os
subsequentes ser havidos como continuação do primeiro (elo de continuidade).
EXASPERAÇÃO.
1) Crimes da mesma espécie:
Para a jurisprudência: aqueles que possuem o mesmo tipo penal (mesmo art).
Para a doutrina: mesmo bem jurídico atingido (ex: crimes que atinjam patrimônio).

2) Crimes cometidos pelas mesmas condições de tempo:


Jurisprudência: crime continuado entre infrações praticadas em intervalo de tempo não superior a
trinta dias.

3) Crimes cometidos com identidade de lugar:


Mesma rua, mesmo bairro, mesma cidade, ou até em cidades vizinhas se forem limítrofes.

4) Crimes cometidos com o mesmo modo de execução:


Identidade quanto ao modus operandi do agente ou grupo.

5) Crimes subsequentes sejam tidos como continuação do primeiro:


As ações subsequentes devem ser tidas como desdobramento lógico da primeira, demonstrando a
exigência de unidade de desígnios.

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