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MBA EM VALUE INVESTING

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RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

|Prólogo
No verão de 2022, um casal de Laguna, no litoral sul de Santa Catarina, parou
na rodovia para socorrer um homem de 83 anos que sofrera um acidente dirig-
indo uma camionete. Estava começando a chover, a visibilidade diminuía, e ele
acabou caindo numa valeta ao tentar sair da pista principal para a marginal, onde
pretendia chegar a um posto de combustível.

O homem não havia se machucado gravemente, a não ser por algumas luxações
e hematomas, e o casal o convidou para passar a noite na casa deles. O homem
aceitou. Ele saíra de São Paulo pela manhã e estava a caminho de Gramado, na
Serra Gaúcha (seu plano era pernoitar em Laguna antes de seguir viagem no dia
seguinte).

Pela manhã, o casal ainda o acompanhou a um funileiro, que fez o orçamento


dos reparos necessário na camionete: 20 mil reais, pelo menos. O homem decide
deixar o veículo para o conserto e alugou um carro para seguir viagem.

Mais tarde, o funileiro pesquisou o nome do homem em um cartão de visita que


ele havia deixado e descobriu que se tratava do bilionário Luiz Barsi Filho.

Essa é a história de abertura do livro “O Rei dos Dividendos”, lançado em 2022.


No livro, Barsi conta que na corrida da vida, ele largou em último lugar. Na in-
fância, dividia um quarto de cortiço com a mãe, e precisava fazer bicos como en-
graxate e vendedor de guloseimas para ajudá-la a garantir que houvesse comida
na mesa.

Barsi conseguiu vencer as dificuldades para se tornar o maior investidor pessoa


física na bolsa de valores do Brasil. Ele ingressou no mercado financeiro como
corretor e consultor de investimentos. Elaborou um estudo chamado Ações Gar-
antem o Futuro, que foi a base do que hoje em dia passou a ser conhecido como o
Jeito Barsi de Investir, um método cujo objetivo principal é formar as bases para
a construção de uma carteira previdenciária de ações, que assegure ao investidor
o recebimento de dividendos e uma renda mensal para uma aposentadoria con-
fortável – e quem sabe até, como no caso de Barsi, um caminho para a riqueza.

Boa leitura!

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RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

1. O Menino do Quintalão
Luiz Barsi Filho teve uma origem humilde, filho de um descendente de italianos
(de quem herdou o nome) e de uma descendente de espanhóis, Maria Margarida
Ruiz Santos Barsi. Seu primeiro lar foi em um sobrado no bairro paulistano da
Mooca que pertencia aos avós paternos, que viviam no andar de cima, deixando
o térreo para ser dividido entre os pais de Barsi e as famílias de outros três tios.

Barsi tinha pouco mais de um ano quando o pai morreu. A situação, que já não
era muito confortável, piorou. Ele e a mãe tiveram de se mudar para um cortiço
no bairro do Brás, que chamavam de Quintalão. O avô de Barsi não considerava
a nora – a mãe de Barsi – como alguém da família e disse que ela só poderia ficar
na casa da Mooca se pagasse um aluguel alto. A mãe não teve condições financei-
ras, se mudou e começou a trabalhar arduamente, primeiro numa fábrica de cha-
rutos, e, um pouco mais tarde, como vendedora de uma bombonière de cinema.

Desses tempos mais doloridos, Barsi guardou o carinho e a união com sua mãe,
uma mulher trabalhadora e amorosa, rígida quando necessário em relação às mui-
tas travessuras do filho. No entanto, Barsi não romantiza a situação. “Não tinha
nada de bonito na pobreza”, diz ele. “Nunca tive a expectativa de ser um homem
rico. Tudo o que eu queria era nunca mais voltar à pobreza de onde vim.”

À medida que crescia, Barsi começou a trabalhar para contribuir com as despesas
da família. Aos sábados e domingos, ele ajudava a mãe a vender doces no cine-
ma. Nos demais dias, engraxava sapatos na esquina da rua Rangel Pestana com a
Professor Batista de Andrade, também no Brás.

Ele só saiu do cortiço aos 20 anos, quando a mãe usou a indenização que recebeu
ao sair da bombonière do cinema para dar entrada num pequeno apartamento no
bairro (ela passou a trabalhar como costureira num ateliê).

Durante muito tempo, Barsi se distanciou da família paterna, que os tinha ex-
pulso do sobrado em que viviam – e só se reaproximou muitos anos mais tarde.
Na década de 1970, quando já ganhava algum dinheiro, ele comprou um imóvel,
mais tarde demolido para a construção de um galpão.

Para Barsi, foi a infância difícil que o motivou a buscar a riqueza financeira.
“Rico é aquele que se contenta com o que tem”, afirma ele. “Sob esse aspecto,
sempre fui e ainda sou pobre, pois nunca me contentei com o que tinha e ainda
hoje não me contento. É isso que me impulsiona. Não vou parar por aqui.”

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RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

2. O Contabilista
Apesar das dificuldades na infância e de ter de trabalhar como engraxate e vend-
edor de balas, Barsi nunca deixou de estudar. Sua mãe só permitia que ele fizesse
os bicos para ajudar nas despesas da família aos fins de semana ou depois da
escola. Barsi frequentou escolas públicas e, aos 12 anos, entrou em uma escola
técnica de comércio. Com 14 anos, conseguiu um emprego como office boy em
um laboratório de origem americana que prestava serviços à Gessy, fabricante de
produtos de higiene que mais tarde foi vendida ao grupo que hoje é a Unilever.

Aos 15 anos, quando começou a etapa técnica na escola de comércio, Barsi


começou a trabalhar em um escritório de contabilidade – o primeiro de uma série
de empregos na área. Trabalhava de dia e estudava à noite. Após terminar o curso
técnico, ele entrou na faculdade de Economia e Contabilidade que funcionava na
mesma escola.

Durante esse período, ele entregava a maior parte do salário para a mãe, que
administrava as despesas da casa. Ele tinha uma rotina intensa, mas sempre se
cobrava um bom desempenho nos estudos, motivado pelo desejo de melhorar de
vida. Completou o curso de Economia e Contabilidade em 1962, aos 23 anos.

Na época, só 1 em cada 100 trabalhadores brasileiros tinha curso superior – e


logo Barsi foi convidado para dar aulas de estrutura e análise de balanços e con-
tabilidade em cursos noturnos. Ele adorava ser professor e buscava despertar o
interesse e a curiosidade dos alunos pela contabilidade.

Durante o dia, Barsi passou a trabalhar como auditor, prestando serviços em uma
empresa chamada Ratio. O serviço proporcionou um aprendizado valioso sobre o
mundo empresarial e o mercado financeiro. Ele começou a entender o funciona-
mento das empresas, a importância dos dividendos e a possibilidade de se tornar
sócio de um negócio através da compra de ações.

Foi nesse momento que Barsi percebeu que poderia investir em ações de negócios
promissores e receber os dividendos gerados por eles, além de ter a oportunidade
de lucrar com a valorização das ações no mercado financeiro.

Naquele momento, porém, devido às circunstâncias da vida, essa ideia precisou


ser guardada para o futuro. Sua vida era intensa e cansativa, trabalhando de dia,
dando aulas à noite e lidando com dificuldades no casamento.

Barsi conheceu a primeira esposa no curso de contabilidade. Eles se casaram em

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RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

janeiro de 1962 e tiveram quatro filhos: Ieda Maria, Luiz e os gêmeos Luciano
e Luciane. As diferenças entre o casal, porém, desgastaram a relação. Um dos
principais pontos de conflito era justamente a administração do dinheiro (Barsi
era mais econômico).

Após a separação, ele concordou em ceder a casa onde viviam e pagar uma pensão
alimentícia generosa para seus filhos. Com poucos recursos, Barsi voltou a morar
com a mãe e enfrentou desafios financeiros para sustentar a mãe, a ex-esposa e
os quatro filhos.

Diante da necessidade de encontrar novas formas de ganhar dinheiro além dos


empregos tradicionais, Barsi começou a frequentar a Ordem dos Economistas
em busca de oportunidades. Ali, estabeleceu parcerias e obteve um emprego no
Departamento de Águas e Energia Elétrica, mas logo decidiu deixá-lo devido a
sua ambição de ganhar mais e ao seu crescente interesse pela Bolsa de Valores.

Incentivado por amigos, ele começou a frequentar a Bolsa. Apesar de ter pouco
dinheiro para investir, retomou ideia de comprar ações para ganhar dividendos
ou obter lucros com a negociação de papéis voláteis. “Eu era um homem de 30
anos e suspeitava que dentro de mim houvesse certo apetite pelo risco que os
empregos todos que havia tido não satisfaziam”, diz ele. “Talvez a Bolsa tivesse
algo para mim.”

3. O Investidor Iniciante

No final da década de 1960, Barsi era frequentador assíduo da Bolsa de Valores,


então conhecida como Corbeille – uma palavra francesa que designa um cesto em
forma arredondada, e que era usada por aqui devido ao formato circular de um
balcão de madeira em que os corretores se aglomeravam para gritar suas ofertas
e negociações.

Naqueles tempos em que não havia internet nem celular, as informações circula-
vam por meio de conversas pessoais.

Barsi ia à bolsa diariamente, observando o movimento e comprando ações com a


ajuda de um operador. Ele investia o que podia do pouco dinheiro que poupava
dos salários que ganhava. “Acho curioso quando alguém diz que para comprar
ações é preciso ser rico”, diz ele. “Conheço uma pessoa que era pobre e enrique-
ceu comprando ações ao longo de mais de 50 anos. Eu mesmo.”

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RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

Naquela época, as negociações eram feitas por meio de títulos ao portador rep-
resentados por cautelas. As negociações eram agitadas e emocionantes, com os
corretores anunciando os preços dos papéis e os investidores gritando suas in-
tenções de compra e venda. A bolsa funcionava no Pátio do Colégio, no coração
do centro de São Paulo.

De lá para cá, houve grandes transformações no mercado de capitais – e Barsi


pôde acompanhar todas elas. Nos anos 60 foram criados o Banco Central do Bra-
sil, o Conselho Monetário Nacional e o Sistema Financeiro Nacional. No final
daquela década, o governo passou a permitir que parte do Imposto de Renda pago
pelo cidadão fosse utilizado para investimentos. Era uma configuração à primeira
vista favorável ao mercado de capitais.

Surgiram, no entanto, algumas barreiras ao crescimento dos investimentos indi-


viduais diretamente no mercado de ações. O governo criou os chamados Fundos
Fiscais 157, onde os recursos dos investidores eram administrados pelos bancos,
que faziam as aplicações na Bolsa (Barsi vê nisso uma das razões pelas quais boa
parte dos brasileiros ainda hoje não têm uma mentalidade de médio e longo prazo
para os investimentos em ações).

Na época, Barsi já desenvolvia uma estratégia própria de investimento, baseada


na análise dos balanços das empresas para buscar aquelas que pagavam bons
dividendos. Ele também já percebia a importância de reinvestir os dividendos na
própria carteira para construir patrimônio a longo prazo.

Uma de suas principais influências era Herbert Cohn, um investidor inteligente


de quem aprendeu a importância de ter uma estratégia ao operar determinado pa-
pel. Herbert utilizava as chamadas “espirais de alta” para impulsionar os preços
das ações e gerar lucros para seus clientes. Cohn foi no Brasil um dos pioneiros
na função de market maker (formador de mercado), uma figura responsável por
trazer liquidez ao mercado – a função foi regulamentada em 2003, quase 30 anos
após a morte de Herbert Cohn.

4. O Sócio de Corretora

No início dos anos 70, a Bolsa de Valores estava em crescimento devido aos
Fundos 157 e comprou uma sede própria – o prédio do antigo Banco Mercan-
til de São Paulo, na rua Álvares Penteado. A bolsa que conhecemos hoje é uma
sociedade de capital aberto, mas naquele momento, funcionava como um clube
formado por 134 sociedades corretoras. Só elas podiam operar. Barsi então de-

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RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

cidiu se envolver mais ativamente no mercado de capitais e se associou a três


profissionais com quem tinha amizade para criar a corretora Cruzeiro do Sul, que
funcionava numa salinha num prédio situado na esquina da Praça da Sé com a rua
XV de Novembro.

Na época, havia mais de 20 Bolsas de Valores no Brasil, mas não demoraria até
que a de São Paulo se consolidasse como a maior do país – o que era natural,
considerando o peso da economia paulista. Foi nesse período que surgiu o pregão
de viva-voz, que perdurou até 2010.

Aos poucos, porém, Barsi percebeu que ser dono de uma corretora não trazia
tanta satisfação quanto ele esperava – as responsabilidades administrativas o af-
astavam do que realmente gostava de fazer, que era operar no mercado. Foi quan-
do ele decidiu vender sua participação na Cruzeiro do Sul e migrar para outra
corretora, a Montanarini, onde atuava como operador de forma independente.

Na Bolsa, Barsi foi gradativamente se tornando uma figura conhecida – tanto


que foi convidado para escrever um artigo sobre o mercado de capitais no jornal
Diário Popular. A repercussão foi tão boa que ele passou a escrever uma coluna
semanal e chegou a ser editor de economia e mercado de capitais. Barsi trabalha-
va o dia todo na Bolsa e nas corretoras e à noite escrevia os artigos para o jornal.

No início dos anos 1970, a Bolsa de Valores de São Paulo passou por uma de suas
maiores crises. Muitas empresas que haviam aberto o capital devido ao grande
volume de recursos proporcionados pelos fundos 157 não se mostraram à altura
do desafio e acabaram falindo. Ao mesmo tempo, o governo era negligente na
fiscalização dos fundos.

Diante desse cenário, Barsi concentrou suas operações de maneira direta em al-
gumas das poucas empresas que mantinham os papéis em Bolsa. Uma delas era a
fabricante de papéis e celulose Ripasa, de Limeira, no interior paulista. Embora
atuasse no mesmo ramo que a Klabin, que ia de vento em popa, a Ripasa não de-
colava. Barsi então foi chamado pelo principal executivo da empresa, que pediu
a ele para agir como market maker, garantindo oferta de compra e venda de seus
papéis. Práticas como essa não são mais permitidas hoje em dia, mas na época
não havia regulamentação.

Barsi trabalhou com a Ripasa por seis meses, e também comprava para si próprio
as ações da empresa, que pagava bons dividendos. Desfez-se dos papéis algum
tempo depois, quando fundos começaram a investir na Ripasa, quintuplicando o
valor das ações – com o dinheiro da venda, comprou ações de uma concorrente,
a Papel Simões.

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RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

O mercado de capitais só começou a sair da má fase em 1974, quando as más


empresas já haviam saído e apenas as melhores permaneciam na Bolsa. No perío-
do mais difícil, porém, muitas pessoas perderam dinheiro. Como ainda era um
investidor pequeno, Barsi não chegou a ser afetado pelo crash daquele início de
década e os tempos de vacas magras que se sucederam. Ele pôde constatar na
prática, porém, que na fase baixa havia grandes oportunidades de comprar boas
empresas com ações baratas devido à situação do mercado. “Tinha vontade de
comprar mais e mais naquele tempo em que os papéis custavam centavos, mas
infelizmente não tinha capital para isso”, diz ele.

5. O Equilibrista

Quando a Bolsa começou a se reerguer, uma empresa passou a se destacar: a


Audi Administração e Participações, uma holding composta por uma indústria de
aguarrás (a Química Industrial Paulista); o Banco Econômico de São Paulo; uma
corretora e distribuidora de valores; e uma financeira; além de negócios menores.

A companhia era liderada por Nagib Audi, industrial nascido em Bauru, filho de
libaneses. Seus balanços eram aparentemente lucrativos e esboçavam perspecti-
vas de crescimento promissoras. A empresa se beneficiou de um mecanismo de
sustentação criado pelo Banco Central, que permitia a negociação de valores para
evitar oscilações dos preços das ações. Esse esquema proporcionou uma valori-
zação constante das ações da Audi, atraindo investidores deslumbrados.

Um corretor chamado Vito Abatepaulo Carparelli, conhecido como Vitão, con-


venceu Barsi a investir nas ações da Audi. Ele comprou 100 mil ações da empresa
e se surpreendeu ao ver os papéis se valorizarem diariamente. A Audi se tornou
uma blue chip, e os investidores acreditavam que as ações continuariam subindo
indefinidamente.

No entanto, o esquema da Audi eventualmente entrou em colapso. Num dado mo-


mento, o volume de dinheiro manipulado por Nagib Audi cresceu tanto que não
havia capital de giro suficiente para sustentá-lo. As ações da empresa perderam
todo o valor, e Nagib Audi fugiu para a Europa. Muitos investidores perderam
dinheiro nesse esquema, e a Bolsa de Valores foi criticada por permitir aquele
tipo de prática.

Não foi um caso isolado. Outro exemplo de transação estranha daqueles tempos
envolveu a empresa Tecnosolo. Uma corretora promovia uma falsa espiral de alta
nas ações da empresa, oferecendo recompra garantida por preços cada vez mais

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RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

altos. No entanto, quando o esquema começou a cheirar mal, todas as transações


foram canceladas, causando prejuízos para muitos investidores.

Barsi explica que a falta de regulamentação e de supervisão adequadas no merca-


do financeiro da época possibilitava esse tipo de esquema fraudulento – e ele fez
o possível para se manter afastado desse tipo de coisa, na qual alguns até chega-
ram a ganhar muito dinheiro, mas levou outros tantos a perder bastante.

6. O Teórico

Como consultor econômico-financeiro independente, Barsi vivia de comprar e


vender ações para os clientes da corretora. Isso proporcionava alguns ganhos que
permitiam a ele investir na sua própria carteira e dar algum conforto aos filhos e
à mãe, com quem ainda morava.

Não era o suficiente. A memória dos tempos do cortiço Quintalão e o temor de


voltar a ser pobre ainda rondavam a sua cabeça. Barsi já desconfiava que o siste-
ma previdenciário brasileiro – o Instituto Nacional de Previdência Social fora
criado em 1966 – não conseguiria bancar uma vida confortável na velhice.

Ele passou a estudar, então, o modelo de aposentadoria nos Estados Unidos, onde
as pessoas se aposentam investindo em ações, recebendo dividendos para pagar
suas despesas – e chegou à conclusão de que investir em ações era uma alterna-
tiva viável e segura para garantir uma aposentadoria tranquila.

Ao avaliar o potencial de geração de renda mensal por meio de dividendos, Barsi


se concentrou na CESP. A empresa de energia elétrica já pagava bons dividendos
e tinha potencial de crescimento.

Foi essa a origem do estudo “Ações Garantem o Futuro”, que tratava original-
mente sobre como montar uma carteira previdenciária baseada em ações para o
recebimento de dividendos. Barsi mostrou o texto a algumas pessoas – e uma
delas o levou até os executivos da CESP, que pediram ao autor autorização para
publicar o estudo em forma de livro.

Barsi bem que tentou apresentar suas ideias a pessoas importantes do governo –
entre elas o então ministro da Fazenda, Antônio Delfim Netto. Não teve muito
sucesso. Ele, no entanto, se orgulha de ter seguido sua própria estratégia de in-
vestimento, se aposentado com base naquilo que já era proposto em “Ações Ga-
rantem o Futuro”. Foi isso o que o tornou bilionário. Ainda hoje, amigos a quem

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RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

ele apresentou seus estudos nos anos 70 lamentam não terem lhe seguido.

7. O Milionário

Do estudo original “Ações Garantem o Futuro” e da sua aplicação prática nos


primeiros anos, Barsi aprimorou algumas das estratégias que ainda aplica hoje
em dia.

Um dos critérios para selecionar um investimento é que a empresa tenha projetos


sustentáveis de longo prazo e, obviamente, um bom histórico de distribuição de
dividendos. Isso praticamente limita a carteira a companhias já consolidadas.
“Comprar ações no IPO (sigla em inglês para abertura pública inicial, é um tiro
no escuro”, afirma Barsi.

Ele aprendeu a se manter distante do varejo (altamente sensível a momentos de


crise) e de companhias aéreas, cujos custos são altos e com alta sensibilidade a
oscilações econômicas. Setores como varejo, companhias aéreas, turismo, saúde
e transporte, considerados menos estáveis, são deixados de lado em sua metod-
ologia.

Barsi determinou, na época, que sua carteira seria composta por um número lim-
itado de ações – em torno de 12, considerando que se cada uma delas pagasse
dividendos uma vez por ano, ele teria algo próximo a uma renda mensal.

Até pela falta de capital que na época o impedia de fazer grandes investimentos
de uma vez só, Barsi acabou desenvolvendo o hábito de fazer aplicações gradati-
vas – e comprar aos poucos se revelou uma boa estratégia de investimentos.

Uma das bases da estratégia era o fato de que os dividendos são pagos pela quan-
tidade de ações que o investidor possui, e não pelo seu valor de mercado. Portan-
to, o ideal é possuir a maior quantidade de ações possível, e só é possível comprar
muitos papéis quando o mercado está em baixa.

O sonho de Barsi era chegar a ter, nas empresas investidas, uma participação
suficiente para indicar representantes ao conselho fiscal ou de administração e
opinar nos rumos do negócio – o que se concretizou muitas vezes com o passar
do tempo.

A disciplina é uma característica essencial para o sucesso dessa estratégia de in-


vestimento.

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RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

Um aspecto a considerar é que Barsi desenvolveu sua metodologia num país em


que a grande maioria da população preferia investir na caderneta de poupança,
que na época já era incentivada pelo governo por meio de campanhas public-
itárias. Ainda hoje, boa parte dos brasileiros que detêm alguma capacidade de
investimento ainda preferem aplicações tradicionais como essa ou instrumentos
de renda fixa. Entre aqueles que investem na bolsa, muitos ainda não vislumbram
o potencial de enriquecer formando carteiras previdenciárias baseadas em ações
pagadoras de dividendos.

Barsi, porém, viu. E foi assim que, em algum momento da segunda metade dos
anos 1970, o menino engraxate que chegou a viver num cortiço se descobriu
milionário. “Certamente fiquei muito feliz quando consultei meu extrato e vi
ali o número que para muitos é mágico, mas esse momento não ficou na minha
memória”, afirma ele. “Embora o primeiro milhão tenha sido importante, não
fiquei satisfeito. Como aliás não me sinto ainda hoje.”

8. O Aposentado

Dos anos 70 em diante, o mercado financeiro brasileiro foi se sofisticando. A


Comissão de Valores Mobiliários (CVM) foi criada em 1977, o que trouxe regu-
lamentação e proteção ao mercado de capitais. No meio do caminho, no entanto,
houve conflitos, especialmente com estatais que acreditavam estar acima das
regras.

Um caso emblemático envolveu a Petrobras, que deu origem ao primeiro inquéri-


to aberto pela CVM, para tratar de suspeitas de vazamento de informações priv-
ilegiadas. Outro caso foi relacionado à então Companhia Vale do Rio Doce. Em
um dia de abril de 1980, o próprio governo entrou vendendo um volume brutal
de ações a menos de 10 minutos do fim do pregão na bolsa do Rio de Janeiro – o
caso foi encerrado com a aplicação de uma multa ao presidente da Bolsa.

No final da década de 1970, Barsi percebeu que os dividendos pagos pela sua
carteira já lhe garantiam uma renda suficiente para que pudesse se aposentar. Ele
mal tinha 40 anos, e nem passou pela sua cabeça a possibilidade de parar de tra-
balhar. A diferença importante é que, a essa altura, ele já não precisava mais tirar
dinheiro do próprio bolso para investir – os próprios dividendos recebidos eram
recursos para o reinvestimento.

Nessa trajetória, Barsi descobriu que o principal adversário de um investidor é


a ansiedade, que muitas vezes obscurece uma visão de longo prazo no mercado

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RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

de capitais. “No mercado de capitais, lidar com a ansiedade é uma questão de


sobrevivência”, diz ele. “Ela nos leva a pensar de forma inadequada e a perder
dinheiro.”

9. A Raposa
Ao estudar empresas que pagavam bons dividendos, Barsi se encantou com a
Klabin, companhia centenária fundada pelo imigrante lituano Maurício Freeman
Klabin no final do século XIX. A empresa começou como uma gráfica em São
Paulo e se tornou uma das maiores indústrias de papel e celulose do Brasil.

O interesse na Klabin foi reforçado quando percebeu que muitos membros da


família Klabin-Lafer possuíam ações e recebiam dividendos. A conclusão: se os
familiares viviam dos dividendos, os acionistas também seriam beneficiados.

A Klabin, na visão de Barsi, era uma empresa sólida, bem gerida e comprometida
com questões de sustentabilidade, navegando bem pelas crises econômicas. E,
acima de tudo, pagava bons dividendos. O investidor comprou os primeiras pa-
péis da empresa na década de 1970.

Era sabido que a empresa não seguia estritamente as regras do mercado finan-
ceiro. Frequentemente, a Klabin divulgava notas informando o pagamento de
dividendos que já haviam sido efetuados para a família antes de tornar os papéis
“EX-dividendo”. O termo significa que o preço das ações é ajustado para baixo,
descontando o valor dos dividendos pagos. A Klabin possuía ações nominativas
e ao portador, sendo que as ações nominativas se tornavam EX na data da assem-
bleia ou divulgação dos resultados, enquanto as ao portador precisavam aguardar
a determinação dessa data.

Em uma ocasião, a Klabin anunciou uma bonificação adicional de 200% junto


com o dividendo regular quando Barsi foi apresentado ao principal executivo da
empresa, Horácio Cherkassky, que fez um comentário ofensivo. “Na Bolsa só
tem ladrão”, disse Cherkassky. Barsi rebateu, afirmando que na Bolsa havia mais
“otários” do que ladrões. E bolou um plano para provar isso.

No dia seguinte, Barsi decidiu vender suas ações da Klabin na Bolsa. Pôs na
tabuleta um valor acima do preço EX-dividendo e encontrou compradores dis-
postos a pagar pelo valor pedido. Ao perceber o que tinham feito, muitos vol-
taram para reclamar - mas Barsi argumentou que ele apenas deixou a oferta escri-
ta na tabuleta. Foram os compradores que decidiram adquirir as ações pelo valor

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RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

pedido. O investidor comprovou seu argumento: havia otários na Bolsa. “Não fui
eu que vendi, foram eles que compraram”, diz.

Anos mais tarde, em 2014, Barsi diz ter tomado o troco. Ao ingressar no nível 2
de governança corporativa do novo mercado, a Klabin alterou as regras que as-
seguravam o pagamento de 10% de dividendos adicionais aos acionistas prefer-
enciais (como era o caso dele na época), substituindo-as pelo direito de tag along
(que garante aos minoritários o direito de receber pelas ações o mesmo valor
pago aos majoritários em caso de venda da empresa).

Barsi não gostou, pois tinha ações preferenciais com o objetivo de maximizar
dividendos. Chegou a escrever uma carta à SEC (Securities and Exchange Com-
mission) nos Estados Unidos, buscando proteção como acionista minoritário,
mas a SEC informou que a questão deveria ser resolvida na Justiça brasileira.

Nos anos seguintes, outras empresas também cortaram os dividendos adicionais


pagos aos acionistas preferenciais. “Raras vezes os pequenos acionistas tiveram
voz”, diz Barsi.

10. O Crítico da Agiotagem


A carteira previdenciária de ações montada por Barsi seria posta à prova na dé-
cada de 1980, marcada pela hiperinflação e por sucessivos planos econômicos
que não obtiveram sucesso em controlar a situação. Toda a turbulência daquele
período reforçou nele duas convicções. “Infelizmente, não tenho em alta conta os
governos. Embora o Brasil tenha bons economistas, grande parte deles se aposen-
tou pelo Estado, algo em que não acredito”, diz ele. “Acredito nas empresas e na
geração de riqueza por meio delas e do trabalho de tantos brasileiros.”

Barsi argumenta que a experiência dele nos turbulentos anos 80 comprova que
as ações são a melhor maneira de proteger o dinheiro da inflação. Apesar dis-
so, muitos brasileiros têm receio de investir nas empresas e preferem opções de
renda fixa oferecidas pelos bancos, pagando altas taxas de administração. Além
disso, é impressionante para ele que muitos investidores não tenham a adequada
percepção de risco em ativos como criptomoedas, mas desconfiam do mercado
de ações.

Barsi argumenta que a renda fixa não proporciona ganhos reais e não resulta em
acúmulo de riqueza. Ele defende a ideia de investir em ações como forma de se
proteger da inflação, principalmente por meio do recebimento de dividendos.

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RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

A ressalva: as pessoas não devem ter medo de comprar ações, desde que o façam
com o propósito de investir, não de especular. Para ele, quem entra no mercado
com mentalidade especulativa sempre será um perdedor no longo prazo. “O único
jeito que descobri de enriquecer com ações é bem menos mirabolante: comprar,
guardar e reinvestir”, diz ele.

11. O Investidor Protegido

Em 1989, Fernando Collor de Melo foi eleito presidente do Brasil prometendo


um governo austero e sem corrupção e a abertura da economia. Não havia, no
entanto, certeza sobre como ele lidaria com a hiperinflação.

Antes da posse de Collor, as pessoas e empresas buscaram proteção, tentando ad-


ivinhar quais seriam as medidas adotadas. Muitos temiam que o overnight, uma
aplicação financeira que rendia de um dia para o outro e era popular entre a classe
média como forma de proteção contra a inflação, fosse afetado. Como resultado,
houve um intenso movimento de migração para a caderneta de poupança, chegan-
do ao ponto em que os bancos deixaram de abrir novas contas.

Apesar das preocupações, havia um sentimento de alívio e esperança de que o


novo presidente cumpriria suas promessas e tomaria medidas para lidar com a
situação econômica do país.

Após tomar posse, Collor implementou medidas drásticas: o dinheiro dos brasile-
iros foi confiscado, com um limite de saque de 50 mil cruzeiros, e o restante fi-
caria bloqueado nos bancos por 18 meses. A maioria das pessoas nunca recuperou
esse dinheiro. Segundo os jornais da época, o total de recursos dos brasileiros em
aplicações, poupança e conta corrente era de 120 bilhões de dólares, dos quais 95
bilhões foram bloqueados.

Parte das medidas também afetaram negativamente o funcionamento das Bolsas


de Valores. A proibição da emissão de títulos ao portador levou à extinção dos
negócios no mercado aberto. Com os recursos bloqueados, a Bolsa ficou sem din-
heiro, movimentando apenas uma fração do seu volume habitual. Nas primeiras
duas semanas, a Bolsa chegou a cair 80%.

Com sua filosofia de investimentos, porém, Barsi não tinha dinheiro aplicado
nas modalidades afetadas pelo plano. Collor capturou todos os ativos, menos as
ações – e alguns dias depois do confisco das aplicações nos bancos, Barsi rece-
beu dividendos do Banco Bandeirantes.

15
RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

As medidas tomadas por Collor foram surpreendentes e calamitosas, deixando


as pessoas perplexas. No entanto, ele prometia abrir o mercado aos investimen-
tos estrangeiros e iniciar privatizações, o que trazia uma esperança de melhora
futura. E naquele momento o mercado de capitais precisava dessa luz no fim do
túnel: a Bolsa ainda não havia se recuperado totalmente do escândalo causado
pelo investidor Naji Nahas.

Nahas foi uma figura polêmica no mercado financeiro brasileiro. Ele era conhe-
cido por seu estilo agressivo e arriscado de investimento. Muitos o culpam pela
quebra da Bolsa do Rio de Janeiro – Barsi, no entanto, acredita que houve no
caso responsabilidade também dos então dirigentes da Bovespa, responsáveis por
mudanças nas regras que prejudicaram Nahas.

Nascido no Líbano, Nahas chegou ao Brasil em 1969 com uma pequena fortuna.
Ele era conhecido por suas transações ousadas e pela habilidade em manipular o
mercado. Uma de suas estratégias era a criação de “camas de gato”, nas quais os
investidores ficavam presos em armadilhas complexas.

Ele também utilizava um mecanismo de financiamento no qual os investidores


podiam comprar ações sem dinheiro em mãos, recorrendo a empréstimos bancári-
os. Esse esquema permitia a rolagem de posições e gerava lucros, mas também
envolvia taxas altas e manipulações de preços.

Para Barsi, Nahas se beneficiou dessas práticas, girando grandes quantias e re-
alizando operações duvidosas, como comprar e vender ações para si mesmo por
meio de laranjas.

Num dado momento, a Bolsa de São Paulo tomou medidas para restringir as
atividades de Nahas, exigindo que 30% das operações fossem liquidadas no dia
seguinte. Essa mudança dificultou suas operações e limitou sua capacidade de
comprar ações sem dinheiro em mãos.

Em junho, os boatos sobre a quebra de Nahas se confirmaram quando ele deu um


cheque sem fundos de 44 milhões de cruzados novos. As Bolsas de São Paulo e
do Rio de Janeiro fecharam em queda, e Nahas foi enquadrado por crime contra
a economia popular. A Bolsa do Rio acabou fechando definitivamente em 2000.

Atualmente, Nahas continua atuando de forma discreta no mercado financeiro.

16
RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

12 – O Consultor

Ao longo de sua trajetória como investidor, Luiz Barsi Filho sempre esteve liga-
do a corretoras que lhe ofereciam estruturas profissionais para atuar. Depois de
vender a Cruzeiro do Sul, ele passou por Montarini, Barros Jordão e Souza Bar-
ros. Operou por muito tempo também na Cobansa, até que essa corretora fosse
vendida para o grupo Votorantim. Em 1994, ele iniciou uma parceria com a Elite,
que só começou a enfraquecer em 2019.

Barsi chegou à Elite como consultor econômico-financeiro independente, função


que hoje equivale à do agente autônomo de investimentos (função oficializada
em 2008, a partir de quando os candidatos ao posto tiveram de passar a se sub-
meter a uma prova). Quando essa mudança se consolidou, ele passou a operar
apenas para si mesmo, entregando sua carteira de clientes a outro profissional.

Como consultor, Barsi destaca a importância de estudar o mercado e buscar em-


presas boas e baratas para investir. Seu hábito era de compartilhar suas con-
clusões com amigos e clientes, informando o que estava comprando, mas nunca
recomendando a compra de determinado papel.

Ainda hoje, Barsi vê no mercado brasileiro a existência de uma cultura do ime-


diatismo e falta de compreensão das pessoas sobre a oportunidade de comprar
ações mais baratas quando o mercado está em baixa.

Nos anos 90, Barsi já era um homem rico, mas levava uma vida simples. Ainda
dividia um apartamento com a mãe. Foi nessa época que iniciou o relacionamen-
to com sua atual esposa, Magaly, com quem teve uma filha, Louise Barsi.

Problemas de saúde, porém, fizeram com que Barsi passasse a ter mais cuidado
com a qualidade de vida. Barsi sofreu seu primeiro infarto quando Magaly ainda
estava grávida de Louise, que nasceu em setembro de 1994.

Barsi estava a caminho do seu primeiro bilhão, mas mantinha uma rotina sem
ostentação. Enquanto crescia, Louise ouvia do pai as primeiras lições sobre ações
(ele dizia que eram pequenas partes de boas empresas). Aos 14, ele montou para
ela uma carteira composta de ações da Ultrapar, que renderiam o equivalente a
300 reais por mês em dividendos, que seriam a mesada.

Preocupado com a qualidade de vida, Barsi comprou uma casa em um condomínio


fechado em Mairiporã, na Grande São Paulo, que ele descreve como agradável,
mas sem luxos. Foi lá, no entanto, que ele sofreu um segundo infarto, jogando

17
RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

tênis.

13. O Investidor Exposto


Os bancos sempre foram alvos do interesse de Barsi para compor sua carteira
previdenciária de ações. Um dos motivos: suas ações tradicionalmente são boas
pagadoras de dividendos. Nos anos 1990, porém, ele teve uma série de dissabores
com o setor, que levaram a perdas financeiras. “Algumas vezes me perguntei se
isso teve relação com meu segundo infarto”, diz ele. “Hoje, olhando em retros-
pecto, penso que sim.”

Paradoxalmente, diz ele, seus investimentos em bancos também foram re-


sponsáveis por parte significativa de seus ganhos financeiros.

Um exemplo: em 1998, Barsi tinha ações do banco Noroeste há mais de duas dé-
cadas quando essa instituição foi comprada pelo Santander, que estava reforçan-
do sua presença no Brasil. O Santander pagou um bom valor pelas ações aos mi-
noritários – Barsi recebeu um cheque de 5 milhões de reais pela sua participação,
o que na época era o maior valor que ele havia recebido de uma única vez. Esse
dinheiro foi reinvestido na Klabin e no Banco do Brasil.

Nem todas as experiências, porém, foram tão boas. Barsi descreve, por exemp-
lo, o caso do Banco Econômico. Em meados dos anos 1980, ele havia adquiri-
do ações dessa instituição com base em condições de pagamento favoráveis em
relação aos dividendos que seriam distribuídos. No fim das contas, a operação foi
lucrativa. Em 1995, no entanto, o Econômico acumulava prejuízos e sofreu inter-
venção do Banco Central. Cerca de 900 mil clientes tiveram as contas bloqueadas
e 276 agências fecharam as portas. Pipocaram denúncias de que o patrimônio do
banco havia sido desviado para contas dos controladores em paraísos fiscais. Em
2007, o banqueiro Ângelo Calmon de Sá foi condenado por gestão fraudulenta.
Barsi tinha 35 milhões de ações e acabou perdendo uma grande soma.

Outra experiência negativa foi com o Banco Nacional, que faliu devido a fraudes
e maquiagem nos balanços, resultando em perdas financeiras. Barsi também per-
deu dinheiro com o Banco do Progresso, que pediu falência, e com o Banco Ban-
deirantes, que foi vendido por um valor baixo, reduzindo seus dividendos.

No geral, porém, Barsi mantém a confiança no setor bancário. “Não tenho certeza
se a melhor maneira de descrever o que houve é que eu tenha perdido muito com
os bancos nos anos 90”, diz ele. “Na verdade, deixei de continuar ganhando.”

18
RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

Ainda hoje, o Banco do Brasil ainda é um dos ativos mais importantes da sua
carteira.

14. O Visitador
Os eventuais equívocos numa trajetória de 50 anos não abalaram as convicções
de Luiz Barsi Filho. Cada um dos fracassos (e não foram muitos) o ajudou a aval-
iar melhor as empresas. Para ele, é fundamental conhecer o que existe em cada
companhia além daquilo que as cotações mostram. Para isso, a melhor tática é
visitar as empresas e conhecer as fábricas, complexos industriais e escritórios.
Nessas ocasiões, ele procura perceber o estado de espírito dos colaboradores e
como isso se reflete no ambiente empresarial.

Outro ponto importante para um investidor é participar de assembleias de acioni-


stas para avaliar o quanto as empresas estão de fato comprometidas em crescer e
enriquecer os acionistas. “No Brasil, nunca havia grande quórum nessas assem-
bleias, e me acostumei a ser um dos poucos investidores presentes”, afirma. Ele
faz uma comparação com o que acontece nos Estados Unidos, em que algumas
reuniões de acionistas têm de ser realizadas em estádios de futebol, tamanho o
número de investidores presentes.

Numa assembleia do Banco do Brasil em 2008, Barsi descobriu uma importante


oportunidade de investimento. O presidente do banco na época anunciou um pro-
jeto para ter as contas bancárias de todos os funcionários públicos do país. Barsi
concluiu que isso só seria possível se o Banco do Brasil adquirisse a Nossa Caixa,
instituição paulista que era responsável por centralizar os pagamentos do funcio-
nalismo público do estado de São Paulo. Ele começou então a adquirir ações do
Nossa Caixa, acreditando que a compra pelo Banco do Brasil era iminente – o
que de fato ocorreu. Ele aproveitou a fusão para vender suas ações e obter lucros
significativos.

O dinheiro obtido com a venda foi aplicado em bônus de reflorestamento ofere-


cidos pela Klabin, que proporcionaram retornos excepcionais nos anos seguintes.

15. O Homem de Família

Uma vez superadas as perdas com os bancos e os dois infartos, Barsi aproveitou
a estabilidade financeira e passou a fazer viagens mais longas com sua família.

19
RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

Ele, Magaly e Louise faziam viagens de carro para Gramado, no Rio Grande do
Sul, e dali para Buenos Aires, visitando novas cidades ao longo do caminho. Eles
também comemoraram o aniversário da filha na Disney e fizeram uma viagem de
40 dias pela Europa.

Barsi menciona que mesmo durante essas viagens, ele mantinha contato com co-
legas de trabalho e acompanhava o mercado financeiro diariamente.

Nesse período, a saúde da mãe de Barsi começou a deteriorar mais rapidamente –


ela sofria de Alzheimer e a doença progredia rapidamente. Foi a nota mais triste
de uma fase da vida relativamente tranquila para Barsi: sua mãe morreu em abril
de 2002, aos 92 anos.

16. O Investidor Inoxidável

Os anos 2000 começaram de forma melancólica no mercado brasileiro. O presi-


dente Fernando Henrique Cardoso, que conseguira controlar a inflação em 1994,
via sua popularidade minguar na esteira da desvalorização da moeda, em 1998,
e do apagão de energia elétrica, em 2001 e 2002, que levou a um racionamento,
com graves consequências para a economia.

A eleição de Lula, em 2002, não ajudou a acalmar os mercados – mas um boom


na demanda e nos preços das commodities nos anos seguintes contribuiu para que
o Brasil crescesse a taxas chinesas.

A essa altura, porém, o fato de o país estar em crise não significava que Barsi
também estaria. Ele sempre aproveitou esses momentos, geralmente relacionados
a períodos de baixa nos preços das ações, para comprar barato papéis de boas em-
presas. Esse mesmo raciocínio serviu para as crises que vieram de fora do Brasil,
como a do subprime, em 2008.

Eventos políticos nunca deixam de interferir no mercado. Mas ele gosta de relem-
brar uma frase do megainvestidor americano Warren Buffett: sempre que pos-
sível, devemos manter nossa atenção nas empresas, deixando a política para os
políticos.

Nas crises mais recentes, Barsi sempre esteve a postos para comprar. Um exem-
plo foram seus investimentos na Unipar, uma empresa do setor petroquímico,
cujas ações adquiriu quando seus valores estavam extremamente baixos.

20
RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

No início dos anos 2000, o governo Lula decidiu estruturar o setor petroquímico
no país, criando três polos em parceria com empresas privadas, sendo a Unipar
uma das candidatas para uma parceria com a Petrobras.

Barsi começou a comprar ações da Unipar em 2006, quando estavam sendo nego-
ciadas a 2,10 reais. Naquela época, o Brasil estava em uma fase de crescimento
econômico e a demanda por produtos petroquímicos estava em alta. A Petrobras
exigiu que a Unipar expandisse sua produção, e a empresa tomou um empréstimo
bilionário do BNDES para atender a essa demanda crescente.

No entanto, a crise do subprime em 2008 afetou várias empresas brasileiras, in-


cluindo a Unipar, que enfrentou dificuldades financeiras devido ao pagamento de
um financiamento significativo e à desaceleração da demanda por petroquímicos.
A Unipar se viu em uma situação precária, com suas ações desvalorizadas, e re-
cebeu uma oferta de compra da Petrobras pelo valor da dívida da empresa. Ao
final das negociações, a Unipar ficou apenas com a Carbocloro, uma empresa de
produção de cloro e soda, representando uma pequena fração do que ela já havia
sido.

No entanto, Barsi reconheceu o valor dessas matérias-primas e decidiu inve-


stir na Unipar quando suas ações estavam sendo negociadas a cerca de 25 cen-
tavos. Com dinheiro disponível devido a outros investimentos bem-sucedidos,
ele aproveitou essa oportunidade e comprou ações da empresa. Sua justificativa
era que a empresa mantinha enorme potencial, mesmo após uma reestruturação
necessária devido à crise, pois continuava produzindo matérias-primas essenciais
para as indústrias: soda e cloro.

É nesse ponto que Barsi explica a metáfora do “jacaré de boca aberta”. Os jac-
arés, diz ele, ficam parados com a boca aberta esperando a oportunidade de que
um passarinho pouse ali em busca do alimento que fica preso entre seus dentes
– é nesse momento o abocanham. Isso aconteceu, por exemplo, quando um acion-
ista da Unipar, insatisfeito com a situação da empresa, vendeu a Barsi uma par-
ticipação de 10%, dando a ele uma posição significativa no capital da companhia.

As ações da Unipar levaram quase uma década para se valorizar muito além do
ponto que Barsi previa quando começou a comprá-las. Poucos tiveram, como ele,
paciência e disciplina para esperar. Quem esperou teve lucros estratosféricos.

21
RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

17. O Guerreiro

No começo dos anos 2000, Luiz Barsi Filho começou a comprar ações da Eternit
devido aos bons dividendos que a empresa pagava. A Eternit era conhecida por
sua estabilidade e capacidade de pagamento, sendo considerada uma ação defen-
siva. Havia, no entanto, um problema: uma das suas principais matérias-primas
para a fabricação de telhas era o amianto, considerado cancerígeno sob determi-
nadas condições de manejo. Essa substância era crescentemente alvo de apertos
na regulamentação, sendo proibida em várias partes do mundo.

A essa altura, uma determinação do conglomerado francês Saint-Gobain, contro-


lador da Brasilit, uma das principais concorrentes da Eternit, levou à redução do
uso de amianto nos produtos da empresa. Isso resultou na queda dos preços das
ações da Eternit, criando uma oportunidade de compra, aproveitada por Barsi e
por outro grande investidor brasileiro, Lirio Parisotto.

Barsi adquiriu uma posição significativa na Eternit e foi convidado a integrar o


conselho da empresa. Nesse período, ele e Parisotto (que na época era o maior
acionista individual e também ocupava uma cadeira como conselheiro) frequen-
temente discordavam em relação às estratégias que a empresa deveria adotar.
Barsi criticava o fato de a empresa ter despesas administrativas elevadas e os
salários altos pagos aos executivos. Ele acreditava que a Eternit deveria man-
ter as atividades relacionadas ao amianto (que é seguro quando manuseado nas
condições adequadas). Parisotto advogava por uma diversificação das atividades,
buscando outras fontes de receita no setor de materiais de construção.

A pressão para banir o amianto no Brasil aumentou e, em 2017, seu uso foi proi-
bido. A Eternit, cujos dividendos já vinham minguando, precisou entrar com um
pedido de recuperação judicial para proteger-se de dívidas significativas.

A mina de amianto da Eternit em Minaçu chegou a ter a operação interrompida


por determinação judicial, mas depois foi reaberta e fechada várias vezes dev-
ido a batalhas legais – atualmente produz amianto que é exportado para outros
países. “Em retrospecto, penso que nós dois tínhamos razão. Tanto Barsi quanto
eu queríamos o melhor para a Eternit”, diz Parisotto. “Se o amianto tivesse pe-
renidade, o Barsi estaria certíssimo, e eu, errado.”

Apesar das diferenças daquele período, Barsi e Lirio Parisotto têm filosofias de
investimento semelhantes. Hoje ambos mantêm a proximidade e uma admiração
mútua. A Eternit passou pela recuperação judicial, adaptou suas fábricas para
usar fibras alternativas e busca retornar como uma empresa saudável. Barsi man-

22
RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

tém a participação na Eternit por e espera que a empresa retorne o pagamento


de dividendos no futuro. Ele acredita no potencial das telhas fotovoltaicas como
uma nova fonte de receita. Louise Barsi faz parte do conselho e relata ao pai os
planos da empresa para retomar os investimentos.

18. O Turrão
Nem mesmo investidores experientes como Luiz Barsi Filho estão livres de
equívocos. Um dos que ele costuma contar é o do investimento na empresa de
telecomunicações Oi, que em 2012 prometia pagar 8 bilhões de reais em dividen-
dos nos três anos seguintes. A promessa acabou não sendo cumprida – e Barsi se
desfez das ações da companhia com prejuízo.

Outra experiência negativa foi com a Embratel, que durante décadas deteve o
monopólio das telecomunicações no Brasil. A empresa foi privatizada no gov-
erno FHC, nos anos 1980, quando foi adquirida pela americana MCI. Barsi era
acionista da companhia em 2004, quando a MCI vendeu a Embratel para a Tel-
mex, controlada pelo magnata mexicano Carlos Slim, que logo manifestou a in-
tenção de fechar o capital da empresa.

Barsi protestou contra isso, alegando que a medida era proibida pelo edital de
privatização. Não deu resultado: a Embratel fechou o capital em 2012. Barsi op-
tou por não vender suas ações, o que resultou em papéis sem liquidez e de difícil
negociação.

Barsi afirma que sempre buscou estimular os filhos a seguir seus passos e con-
struir carteiras que pagassem bons dividendos. Louise é quem melhor representa
suas filosofias de investimento. Com dois sócios – Felipe Ruiz e Fabio Baroni
–, ela criou um negócio digital chamado AGF (Ações Garantem o Futuro) para
difundir o Jeito Barsi de Investir, a filosofia de investimentos de seu pai. Atual-
mente Louise participa de conselhos de empresas e tem um olhar atento para o
mercado de investimentos.

Em 2008, dez anos depois do segundo infarto, uma anomalia em seu eletrocardio-
grama durante uma consulta de rotina levou Barsi a uma cirurgia cardíaca para
colocar cinco pontes de safena. A operação foi bem-sucedida, mas a recuperação
foi difícil, dolorida e traumática – e ele ainda contraiu pneumonia. Num certo
dia, um dos médicos que o atendia tentou relacionar a ocupação de Barsi no mer-
cado financeiro com seus problemas cardíacos – mas ao final acabou pedindo
recomendações de investimento.

23
RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

Após a cirurgia, Barsi e a família decidiram se mudar de Mairiporã para um apar-


tamento próximo do metrô em São Paulo porque ele gostava de ir ao trabalho
de metrô. Durante a pandemia, a família o convenceu a utilizar um carro com
motorista para diminuir o risco de contrair covid-19. “Aceitei, mas sinto falta do
transporte coletivo”, afirma ele. “Quando Louise não está por perto, às vezes saio
escondido para passear de ônibus. E me sinto bem.”

19. O Louco dos Dividendos


Embora siga uma estratégia de investimento baseada em dividendos, Barsi en-
tende que as empresas podem deixar de pagá-los em determinadas circunstâncias.
Por isso, ele busca construir uma carteira diversificada em que a lucratividade
de algumas ações compense a falta de dividendos em outras. Ao comprar uma
empresa, ele adquire seu histórico. Companhias como Banco do Brasil pagam
dividendos que sustentam a Previ, Caixa de Previdência dos funcionários da In-
stituição. A Transmissão Paulista, de energia, envia dividendos para remunerar
sua controladora colombiana.

Nessa onda, os pequenos acionistas acabam sendo beneficiados e remunerados


também.

Nem sempre dá certo. Em 2018, Barsi começou a investir na Paranapanema, quan-


do a empresa ainda estava sob alguma ingerência do Estado – fundos de pensão
como Previ e Petros, além do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal,
tinham participações significativas. Barsi acreditava no potencial de negócios e
em uma reestruturação. No entanto, a pandemia de Covid-19 afetou a companhia,
levando-a a enfrentar problemas financeiros e a necessidade de renegociar dívi-
das com os bancos. Até o momento, a situação ainda não se normalizou.

Outra empresa que reduziu os dividendos aos acionistas é a Ultrapar. Entre out-
ros empreendimentos, a empresa é dona dos postos de combustíveis Ipiranga,
da distribuidora de gás Ultragaz e da petroquímica Oxiteno. A remuneração dos
acionistas, porém, caiu quando a companhia adquiriu a rede de farmácias Extra-
farma, um negócio muito distante do seu DNA original. Barsi decidiu, então, se
desfazer dos papéis que detinha.

Ele afirma, no entanto, não ser impaciente quando a redução dos dividendos é
temporária. É o caso da companhia de energia AES, que em 2021 deixou de pagar
dividendos devido à crise hídrica que prejudicou ou o setor elétrico.

24
RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

Outro exemplo é o da Cosan. Ele decidiu investir na empresa, que abriu seu
capital em 2005 como uma empresa de açúcar e álcool. Na época, o CEO da em-
presa, Rubens Ometto, afirmava que um dia as petroleiras se associariam a ela.
Em 2010, quando a Cosan fez uma associação com a British Petroleum (BP) e
adquiriu os postos de combustível da Shell no país, Ometto foi elogiado. Barsi
comprou ações da Cosan pouco depois desse evento, a preços entre 2,80 e 3 reais
por ação, e as vendeu por cerca de 90 reais quase uma década depois.

Em abril de 2021, a Cosan anunciou um desdobramento de ações, no qual os


acionistas receberiam três ações para cada uma que possuíam, sem alteração no
capital social da empresa. Barsi achou o movimento interessante. Ao analisar o
balanço mais recente da empresa, o autor constatou que seu desempenho era ex-
traordinário. A Cosan possuía usinas de açúcar e álcool, uma operação no Porto
de Santos, a subsidiária Raízen para a comercialização das safras, a empresa de
energia Compass e a distribuidora de gás natural Comgás. Além disso, havia ad-
quirido a América Latina Logística (ALL), que foi renomeada como Rumo e se
tornou a maior operadora logística ferroviária independente do país.

Motivado por essas informações, Barsi voltou a investir na Cosan, comprando


ações a pouco mais de 20 reais. No entanto, ele ficou preocupado com a saída de
Rubens Ometto da empresa em 2021 e sua influência na continuidade do sucesso
da Cosan. Para esclarecer suas dúvidas, o autor entrou em contato com Ometto
e conseguiu agendar uma reunião. Durante a conversa, Ometto afirmou que as
pessoas que lá estavam o representavam, fazendo-o sentir-se presente na empresa
mesmo estando afastado. Satisfeito com o encontro, o autor manteve e até am-
pliou seus investimentos na Cosan.

20. O Polemista
No final de 2012, a presidente Dilma Rousseff enfrentou aumentos significativos
nos custos de energia elétrica, e ela tentou conter esses aumentos com um decre-
to. Em setembro daquele ano, ela emitiu uma medida provisória, a MP 579, com
novas regras para concessões no setor elétrico. A MP indicava que a intenção de
praticar preços mais baixos seria decisiva para a renovação dos contratos e para
o pagamento de uma indenização futura. A Eletrobras, empresa estatal do setor
elétrico, anunciou que seguiria as novas regras.

O mercado, no entanto, reagiu negativamente a essa medida. As ações da Eletro-


bras despencaram de cerca de 26 reais para 3,50 reais. Os acionistas ficaram
preocupados e muitos analistas previram que o valor das ações chegaria a apenas

25
RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

1 real em um ano.

A reação de Luiz Barsi Filho? A um jornal, ele declarou que Dilma merecia um
beijo na boca. Graças a ela, ele podia comprar ações da Eletrobras a preços muito
baixos.

Em 2013, as empresas brasileiras do setor elétrico perderam mais de 37 bilhões


de reais em apenas quatro meses devido às medidas adotadas pelo governo Dil-
ma. A Eletrobras foi uma das mais afetadas, perdendo quase metade do valor de
mercado. Desde então, a empresa tem lutado para se recuperar e se reestruturar.
Durante o governo de Michel Temer, houve uma redução da interferência do
governo federal na empresa e um aumento dos preparativos para privatizá-la. A
empresa foi finalmente privatizada em junho de 2022.

Em 2015 e 2016, protestos contra a presidente Dilma tomaram as ruas do país,


causando turbulências e quedas violentas no mercado financeiro. Uma situação
ruim se repetiu com a crise causada pela pandemia de covid-19, em 2020. No
mundo globalizado, o novo coronavírus espalhou-se rapidamente por todos os
continentes. Fronteiras foram fechadas e os investimentos derreteram.

Mais uma vez, a filosofia de Barsi foi posta à prova – e passou no teste. Aos
poucos, o mercado foi se recuperando. A bolsa voltou a subir. “Aprendi que é
preciso ter um pouco de sangue de barata para operar na bolsa, ignorando o curto
prazo, pensando a médio e longo prazo”, diz ele. Para toda crise, há um antídoto,
sejam as próximas eleições para substituir um governante, políticas públicas para
debelar problemas econômicos e financeiros e vacinas para lidar com questões
sanitárias. A grande lição da pandemia, para Barsi, foi sobre a necessidade de ol-
har para o futuro e se preparar para enfrentar situações inesperadas, que possam
afetar a fonte de receita de uma pessoa ou empresa.

Durante a pandemia, as bolsas de valores ao redor do mundo sofreram grandes


quedas, e o Brasil não foi exceção. Barsi viu essas quedas como oportunidades
de investimento – e foi às compras.

Em 2021, ele decidiu investir no IRB, a maior resseguradora do país, que passava
por um processo de reconstrução de sua credibilidade. Ele acreditava que a em-
presa estava sendo negociada abaixo de seu valor real.

O IRB foi criado em 1939 e foi uma estatal até ser transformado em empresa mis-
ta nos anos 1990. Em 2017, a empresa abriu o capital e teve uma valorização ini-
cial, com suas ações chegando a valer 45 reais. Em 2021, quando Barsi começou
a comprá-los, esses papéis estavam cotados a pouco mais de 5 reais – e continu-

26
RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

aram caindo, chegando a valer menos de R$ 1 em certos momentos.

A empresa havia enfrentado investigações de fraude contábil conduzidas pela


Polícia Federal e pela CVM, o que havia levado a um derretimento dos preços
das ações. Naquela altura, porém, Barsi analisou os balanços e julgou que o
IRB havia admitido seus erros e estava sendo transparente em relação aos ativos
problemáticos. Ele acreditava que, com uma gestão atenta, a empresa poderia se
recuperar. Seus investimentos geraram uma reação negativa no mercado, mas ele
continuou comprando ações do IRB.

Barsi até mesmo indicou um executivo experiente, Fabio Schvartsman, ex-presi-


dente da Vale, para o conselho de administração do IRB.

Ele acredita que parte do que aconteceu com as ações do IRB se deve ao “aluguel
de ações”. Por esse mecanismo, um acionista empresta suas ações para toma-
dores que precisam delas temporariamente. Os tomadores muitas vezes realizam
vendas a descoberto, ou seja, vendem ações que não possuem na expectativa de
recomprá-las a um preço mais baixo e obter lucro.

Apesar de o aluguel de ações ser permitido em vários países, o autor destaca que
no Brasil essa prática é mais intensa, especialmente devido à predominância de
especuladores em relação aos investidores. Quando há uma grande quantidade
de ações alugadas e vendidas no mercado, a tendência é que os preços caiam. O
IRB, por exemplo, tinha 135 milhões de ações alugadas em 2021, o que exercia
uma pressão negativa sobre o preço.

Barsi ressalta que, apesar de cometer erros, ele acredita no que está comprando.

Não é a primeira vez que acontecem situações como essa, em que ele vai na con-
tramão do mercado.

Há muitos exemplos disso. No passado, Barsi diz ter sido chamado de louco por
comprar determinadas ações – mas sua persistência foi recompensada pela valo-
rização das ações. Foi o que aconteceu com a Suzano, que ele começou a comprar
por 3,80 reais – os papéis chegaram a 60 reais.

Ele acredita que situações semelhantes aconteçam com o IRB e com outras com-
panhias, como a Cielo. Fundada em 1995, essa empresa é uma provedora de
tecnologia e serviços para o varejo. Apesar da concorrência acirrada e da queda
na utilização das maquininhas da Cielo, Barsi confia na capacidade inovadora da
empresa e em seu potencial de recuperação. Ele comprou ações da Cielo quando
estavam sendo negociadas a 2 reais, considerando que estavam subvalorizadas.

27
RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

Ele viu na empresa um acervo tecnológico dinâmico e números que mostravam a


recuperação de parte de sua participação no mercado ao desenvolver maquininhas
com novas funcionalidades. Barsi fixou a meta de ter pelo menos 20 milhões de
ações da Cielo (no momento que o livro foi escrito, ele detinha 13 milhões de
ações). Sua esperança era que a recuperação do IRB e o potencial inovador da
Cielo vão se refletir em lucros futuros. “Meu plano é guardar esses papéis até eles
deslancharem, porque acredito que isso um dia acontecerá”, afirma. “O futuro
dirá quem tem razão: as tais ‘vozes do mercado’ ou eu.”

21. O Filósofo
Num país tão desigual como o Brasil, é natural que um investidor como Luiz
Barsi Filho desperte curiosidade nas pessoas. Frequentemente perguntam se ele
gasta dinheiro. Sua resposta é que gasta, sim, mas com racionalidade e rein-
vestindo a maior parte do que ganha. Ele critica aqueles que tratam o dinheiro
como algo descartável.

Essa é uma das razões que o torna muito criterioso na hora de investir. Quando
não encontra oportunidades interessantes, opta por deixar o dinheiro na renda
fixa para preservar o capital. É, nas palavras dele, a situação em que jacaré fica
com a boca aberta.

Segundo Barsi, ele continua fazendo o mesmo que fazia em 1971, quando começou
a investir em ações. Antes de aplicar seu dinheiro numa empresa, procura reunir
todas as informações disponíveis e entra em contato com o CEO, o presidente
do conselho e o diretor de relações investidores. Ele recentemente fez isso com
o diretor de RI da Auren, plataforma de comercialização de energia que resultou
da união dos ativos da CESP com a Votorantim e o fundo CPP (Canada Pension
Plan), para expressar sua preocupação com o aluguel de ações e como isso pode-
ria afetar o valor das ações da empresa.

O medo de voltar a ser pobre sempre o motivou a continuar investindo. De acordo


com Barsi, após ter conquistado o primeiro milhão, o processo de acumulação de
riqueza se acelerou.

Seu objetivo com o livro “O Rei dos Dividendos” foi deixar um legado e compar-
tilhar a experiência de enriquecer no mercado de ações. Ele destaca a importância
de prioridade, disciplina e paciência como elementos decisivos e a necessidade
de se manter uma abordagem técnica e analítica, com foco no médio e longo pra-
zo.

28
RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

Barsi só lamenta não ter convencido mais pessoas a investir em empresas bra-
sileiras para promover o progresso do país e a riqueza individual. Ele encoraja
os investidores a pensarem em si mesmos como pequenos donos de empresas e
a terem uma mentalidade de longo prazo – mesmo que para isso seja necessário
começar com investimentos muito pequenos, como foi o caso dele próprio.

Hoje em dia, porém, ele vê cada vez mais pessoas interessadas em descobrir sua
filosofia de investimento – e atribui isso à filha caçula, Louise. Ela e seus dois
sócios têm se empenhado para divulgar o Jeito Barsi de Investir, que consiste no
seguinte

1. Invista somente em geração, circulação e distribuição de riqueza. Aborte a


agiotagem e não tente ganhar dinheiro em operações de curto prazo. Seja
um investidor, não um especulador. Nunca opte pelo day trade nem entregue
seus recursos a terceiros sem participar das decisões de investimentos.

2. Não tenha medo de comprar ações. Elas representam um dos investimentos


mais seguros e garantidos do planeta. Eleja sempre ações de empresas en-
volvidas em atividades perenes. Lembre-se do Plano Collor, que encurralou
todas as aplicações e os títulos de renda fixa, mas não as ações.

3. Ações representam a participação do investidor em projetos empresariais de


qualidade e com visão de futuro. Vise projetos sustentáveis, com histórico de
boas distribuições.

4. Lastreie suas aplicações em projetos empresariais muito bem fundamenta-


dos, nunca em lançamentos de ações de novas empresas na Bolsa (IPOs, a
sigla em inglês para oferta inicial de ações).

5. Nunca aplique seus recursos em fundos de qualquer natureza, pois o único


beneficiado será o administrador, que lucra em todas as direções com as múl-
tiplas taxas inerentes aos fundos.

6. Uma carteira de renda mensal se forma de maneira gradual, sistemática e


progressiva, nunca pulverizada em seu início.

7. O mercado de ações permite ao investidor ser parceiro de grandes e impor-


tantes projetos empresariais. Ao mesmo tempo, as ações representam a segu-
rança de sua participação no empreendimento.

8. Fuja de derivativos e nunca se alavanque além da sua capacidade financeira.


Fuja também de empresas instaladas em paraísos fiscais.

29
RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

9. Nunca invista em setores cujo histórico se apresenta sempre negativo, como


companhias aéreas, varejo, turismo, saúde, construção civil, transporte,
prestação de serviços e congêneres.

10. Comprar na baixa e vender na alta é proposta especulativa postulada pelas


bolsas de valores, que se beneficiam do giro dos papéis por meio da cobrança
de emolumentos, taxas de corretagem e outros custos. Nunca escolha essa
trajetória, pois ela conduz o investidor ao insucesso. Não se esqueça de que
as ações serão sempre alvo de oportunidades. Sabendo avaliá-las, o investi-
dor nunca perderá.

30
RESUMO DO LIVRO “O REI DOS DIVIDENDOS”

|Epílogo
Ao final do livro, Luiz Barsi Filho se pergunta: “o que será do dinheiro que gan-
hei e investi quando eu me for?”

Aos 84 anos, ele faz algumas reflexões. Acredita, por exemplo, em uma força
suprema capaz de criar elementos e realizar façanhas que não estão ao alcance
do homem: o Sol, o vento, a Lua, os mares. Ele lembra da mãe, de quem cuidou
até o último dia de vida, fazendo tudo o que era possível — mas a hora da morte
chega e ninguém é capaz de revertê-la.

Barsi demonstra gratidão pela vida – tem uma boa casa, uma boa cama, passei-
os, boa comida e nada lhe falta. Trabalha todos os dias, observando até hoje as
oscilações do mercado. Costuma fazer a melhor refeição do dia com a esposa e,
às vezes, com a filha caçula. Depois, tira um cochilo antes de voltar a revisar as
operações do dia.

Ele guarda com carinho memórias de programas com a família, passeios e via-
gens – como a que fez nos anos 80 para a Patagônia argentina. Lá, num povoado
chamado San Martin de Los Andes, os locais contaram sobre um Iago que valia
a pena conhecer — o Lácar. Barsi lembra que o lago era lindo e plácido. Diante
dele, tirou as sandálias e se aproximou com cautela, sentindo as pedrinhas do
leito do lago pinicando a sola dos pés. A água estava gelada, apesar do sol bril-
hante. Olhando as montanhas e o lago, ele pensou: “Se eu tiver que morrer aman-
hã, sinto muito, mas vou dizer à morte que volte daqui a seis meses”, relembra
ele. “Talvez eu pense assim até hoje.”

31
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