Você está na página 1de 2

A crise de 1383-1385

Em 1367, D. Fernando subiu ao trono herdando uma grande fortuna que lhe foi deixada pelo
seu pai, D. Pedro I. Surtos de peste e sucessivas guerras tiverem graves consequências
económicas, levando até o rei a desvalorizar a moeda por mais de que uma vez. Tentando
fazer face á crise e desenvolver a agricultura e o comércio, sem grandes resultados, foram
tomadas medidas como a Lei das Sesmarias de 1375 e a criação da Companhia das Naus.
Formoso, o rei que com o seu carácter passou à história influenciou também a política.
“Amador de mulheres e achegador delas” foi assim que foi chamado por Fernão Lopes.
Violação de um tratado, criação de má vizinhança, colocação de Portugal na órbita de
Inglaterra e reforço da influência de um setor da nobreza foram consequências da sua paixão
por uma mulher casada, Leonor Teles.

Lisboa ocupada por Henrique II (rei castelhano), em 1373 e cercada por outro (João I), em
1382, tudo permitido pela chefia militar da Inépcia. “Um fraco rei faz fraca a forte gente.” foi
assim que Camões resumiu o seu reinado.

Pouco depois da morte de D. Fernando (1383), Leonor Teles assumiu a sua relação com o
nobre galego João Fernandes Andeiro.

A dia 6 de dezembro de 1383, D. João mais um grupo de amigos dirigiram-se ao palácio real.
Após cumprimentar Leonor Teles e os nobres por quem ela se fazia acompanhar, pediu a
Conde Andeiro para conversarem a sós. Conde Andeiro, amante de Leonor, desconfiado fez
sinal aos seus homens para que fossem buscar armas ficando assim sozinho com o mestre.
Trocavam palavras em voz baixa, junto à janela, quando de repente, o filho bastardo do rei D.
Pedro (D. João) pegou num cutelo comprido deu um golpe na cabeça do homem mais
poderoso de Portugal. Conde Andeiro ainda vivo tenta chegar aos aposentos da rainha, mas foi
impedido por uma última espadada que Rui Pereira lhe deu, a espadada da sua morte.

D. João, com apenas 26 anos, mesmo sendo filho de rei não sonhava com a Coroa. Foi-lhe dito
que a viúva do seu meio-irmão (D. Fernando) e seu amante (Conde Andeiro) o tencionavam
matar, temendo pela própria vida apunhalou o Conde Andeiro, foi por medo que o apunhalou.
“chegou-se à frente” para que o poder não caísse na rua, seguindo o conselho político “Dai o
que não é vosso, prometei o que não tendes e perdoai a quem não vos errou”.

Lisboa já estava em alvoroço. Os gritos “Matam o mestre! Matam o mestre nos paços da
rainha! Acudi ao mestre que o matam!” do pajem de D. João (Gomes Freire), que cavalgava a
galope pelas ruas alarmaram o povo que foi logo acorrer. O pajem dirigiu se a casa de Álvaro
Pais. Álvaro Pais era uma figura de grande prestígio na cidade tinha sido chanceler-mor dos
reis D. Pedro e D. Fernando, segundo a crónica de Fernão Lopes foi também autor da intriga
patriótica que terminou na morte de Conde Andeiro, pessoa que odiava. Ao ouvir os gritos do
pajem, Álvaro Pais montou a cavalo atrás do pajem e seguiu bradando “Acudamos ao mestre,
amigos, acudamos ao mestre, que é filho de el-rei D. Pedro!”.

Junto às portas do palácio, ameaçando invadi-lo, estava uma multidão. O próprio mestre D.
João os impediu surgindo à janela principal e dizendo “Amigos, sossegai, que eu estou vivo e
são, a Deus graças”. Continuando indignados pela recusa do bispo de Lisboa em mandar tocar
os sinos, dirigiram-se à Sé e lançaram da torre o prelado, D. Martinho (castelhano) juntamente
com dois acompanhantes. Revoltados dirigiram-se, de seguida, à judiaria com o intuito de
matar judeus e roubar suas casas e lojas, mas no último minuto viram-se impedidos por um
magistrado que invocou o noma do mestre (D. João).

D. João estava hesitante perante a revolução que provocou. Temia pela sua vida pois sabia que
o rei de Castela não tardaria a invadir Portugal. Chegou até a pensar em fugir para Inglaterra,
mas acabou por desistir. Mandou também um pedido de casamento à viúva do seu meio-
irmão, cujo amante matou, através de emissários a Alenquer, sitio para onde Leonor se tinha
ausentado. Pedido esse que a rainha recusou.

Ricos proprietários e mercadores de Lisboa, pressionados pelos homens dos ofícios e pela
arraia-miúda, declararam apoio ao mestre (D. João) e prometeram pegar em armas por ele.
Consequentemente D. João, preparando a resistência ao invasor, decidiu liderar a revolução
aceitando assim o título de Regedor e Defensor do Reino.

Nos dois anos seguintes, Portugal foi palco de batalhas e de uma guerra civil.

O país vivia num clima de tensão após a morte de D. Fernando, em outubro de 1383. Devido a
D. Fernando ter sido derrotado nas três guerras que travou com Castela foi assinado o Tratado
de Salvaterra de Magos, sendo assim imposto a D. Beatriz, sua filha única, que casasse com o
rei castelhano João I. D. João I, rei de Castela, face à morte de D. Fernando quis cobrar a
herança da mulher (D. Beatriz). Leonor Teles, seguiu a lógica feudal e reconheceu a soberania
de Beatriz, mas os membros da fidalguia, os burgueses, os proprietários de terras e
mercadores, além do povo, opuseram-se.

A revolução de Lisboa foi seguida por relatos em Beja, em Portalegre, em Estremoz e no Porto.
Vilas e cidades tomaram voz pelo mestre, sendo assim reconhecido como o rosto da
independência que, segundo o historiador José Mattoso, foi decisivo para a formação de
identidade nacional.

D. João não nasceu para ser rei, mas teve um dos reinador mais longos da nossa história: 48
anos. Representantes do clero e da nobreza a imitarem o povo a escolhê-lo como rei, devido a
sua capacidade de liderança durante o cerco de Lisboa e a resistência à invasão castelhana.
Confirmou Portugal como país independente, inaugurou uma nova dinastia e lançou a
expansão ultramarina, em 1415. Foi apelidado como o rei da Boa Memória, mas com a guerra
da independência e depois a conquista e manutenção de Ceuta, deixaram os portugueses na
miséria (à míngua). Ainda assim/Apesar disso, Camões dedicou-lhe um dos maiores elogios de
Os Lusíadas “Viva o famoso rei que nos liberta!”.

Você também pode gostar