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Preparação exame pt

1. Poesia Trovadoresca

Cantigas de amigo: dá voz à mulher; são autores masculinos que as compõem; tema de
lamentação da mulher pela ausência do amigo, ou seja, do amado.

Cantigas de amor: mulher amada é idealizada e o sujeito poético coloca-se na posição de vassalo,
ao serviço da sua senhora; tema de amor não correspondido.

Cantigas de escárnio: carácter satírico; tecidas críticas a alguém, de forma direta ou indireta; voz
masculina; crítica feita de forma subtil, sem explicitar a identidade de quem se critica.

Cantigas de maldizer: carácter satírico; tecidas críticas a alguém, de forma direta ou indireta; voz
masculina; crítica direta e ostensiva, identificando-se o alvo.

*Constantemente presente o PARALELISMO- princípio da repetição e da simetria*

2. Crónica de D. João I- Fernão Lopes

Género de texto
Crónica medieval- textos em que se registam acontecimentos históricos por ordem cronológica.

Caracteristicas da escrita de Fernao Lopes


• Articulação entre a compilação de fontes e a investigação original e crítica;
• Dimensão interpretativa e estética;
• Visão global e integradora de várias perspetivas.

Afirmação da consciência coletiva


• crise política de 1383-1385 (período sem rei/período de tomada de consciência de liberdades e
responsabilidades).
• Povo: Papel decisivo na fase de nomeação do Mestre; Preparação para o cerco, de forma
empenhada e valorosa; Vivência da miséria associada à falta de mantimentos durante o cerco.

Atores individuais e atores coletivos


• Personagens históricas – Mestre de Avis, Álvaro Pais, D. Leonor, D. Nun’Álvares Pereira, entre
outros.
• Povo, massa anónima, a “arraia miúda”, a população das cidades, em especial a de Lisboa. Mesmo
em caso de diálogo, são vozes, normalmente não identificadas, que saem da multidão,
representando-a, ou dirigindo-se a outros companheiros.

Estilo
• Objetividade VS Subjetividade
• Objetividade presente no rigor da pormenorização(cf. Descrições pormenorizadas com valor
descritivo e informativo).
• Subjetividade: presente na apreciação crítica e emotiva dos factos relatados (interrogação retórica,
frase exclamativa). “pensa alto, comenta, interpela”

• Conjugação de planos – planos gerais (focalização da cidade e dos atores coletivos que nela
intervêm) e planos de pormenor (incidência em grupos de personagens e/ou situações particulares).
• Visualismo – recursos (comparação, personificação, enumeração, hipérbole) e vocábulos que
marcam o sensorialismo da linguagem (atos de ver e ouvir). Uso da técnica da reportagem: o leitor
"vê" e "sente" os acontecimentos, está no centro da ação.
• Coloquialismo – recursos expressivos (interrogação retórica, apóstrofe) e interpelação do
interlocutor, recorrendo à 2ª pessoa do plural.
• Dinamismo – recriação dos acontecimentos de forma dinâmica.
• Uso do discurso direto e indireto, misturados, com períodos longos e curtos e alternados.

A crise de 1383-138

Em 1383, D. Fernando, rei de Portugal, estava a morrer. Como descendentes, deixava apenas a
infanta D. Beatriz, a qual havia sido prometida a dois príncipes castelhanos, a um Inglês e a mais um
castelhano: Fernando, filho de D. João I de Castela. No tratado de Salvaterra de Magos, o qual
assinalava a paz com Castela, o seu casamento havia sido decidido por este último castelhano e o
filho varão que nascesse herdaria o reino de Portugal.

O povo português temia este acordo, pois se D. Beatriz falecesse antes de dar à luz um filho varão,
Portugal perderia a sua independência.

Começaram a surgir dois candidatos ao trono (meios-irmãos) e os seus apoiantes:


• D. João, filho do Rei Pedro I de Portugal e D. Inês – acabou por ser preso;
• João, Grão-Mestre de Avis, filho bastardo de D. Pedro I – filho de D. Teresa Lourenço, aia de Inês
de Castro.

Quando o rei morre, a regência do reino é entregue a D. Leonor Teles, a rainha e os conflitos
iniciam-se.

D. João I, mestre de Avis, foi apoiado pelas tropas Inglesas e organizou uma reunião nas Cortes de
Coimbra, onde acabou por ser eleito rei de Portugal. Esta situação levantou uma grande revolta por
parte dos castelhanos.

D. Leonor Teles e o Conde Andeiro


Com a morte de Fernando em 22 de outubro de 1383, Leonor assumiu a regência do reino e o seu
amante galego, João Fernandes Andeiro, passou a exercer uma influência decisiva na corte.
Esta ligação e influência desagradaram ao povo e à burguesia e a alguma nobreza, que odiavam a
regente e temiam ser governados por um soberano castelhano.
D. João, Mestre de Avis, apoiado por um grupo de nobres, entre os quais Álvaro Pais e o jovem
Nuno Álvares Pereira, foi incentivado pelo descontentamento geral a assassinar o conde Andeiro.

A ação ocorreu no paço, a 6 de dezembro de 1383. Leonor abandonou Lisboa, fiel ao Mestre de
Avis, e refugiou-se em Alenquer e depois em Santarém, cidades fiéis à causa da rainha, onde tentou
manobrar politicamente a sua continuidade no poder. No entanto, com o desenvolver do conflito
entre o Mestre de Avis e o rei castelhano, a regente perdeu espaço de manobra e acabou por ser
constrangida a abdicar da regência a favor de João I de Castela e de Beatriz, sua filha, a esposa do
rei castelhano.

Com a vitória do partido do Mestre de Avis na guerra civil e contra Castela, este tornou-se regente e
depois rei. D. João I de Castela, genro de Leonor.

Síntese da obra
• Glorificação da memória de D. João I;
• Construção dos pilares da consciência nacional, através da criação de uma tradição histórica
legitimadora, mediante a elaboração da História de Portugal desde os primórdios da humanidade.
• Narração do reinado de D. João I, desde a sua aclamação (depois da morte do Conde Andeiro) até
ao estabelecimento da paz com Castela.
• Nesta obra existe uma afirmação da consciência coletiva:
❖ Afirmação de D. João como Regedor e Defensor do reino e, posteriormente, como rei;
❖ Manifestação da coragem, do espírito de sacrifício e dos sentimentos de patriotismo da
população durante a Guerra Civil com Castela.

Obra
• Está dividida em duas partes:
❖ Na primeira parte: narração dos acontecimentos desde o assassinato do Conde Andeiro
(dezembro de 1383) e até à aclamação do Mestre de Avis como rei de Portugal (abril de 1385);
▪ Tem 193 capítulos, onde se apresentam temas como:
• Relação e casamento de D. Fernando com D. Leonor Teles;
• Conflitos com Castela;
• Assinatura do Tratado de Salvaterra de Magos (determinando o casamento de D. Beatriz, filha de
D. Fernando e herdeira da coroa portuguesa, com o rei de Castela)- morte de D. Fernando;
• Envolvimento de D. Leonor Teles com o Conde Andeiro.
❖ Na segunda parte: relato do conflito entre Portugal e Castela, desde a aclamação de D. João
I nas cortes de Coimbra (abril de 1385) à assinatura do tratado de paz (31 de outubro de 1411).
▪ Tem 204 capítulos, onde se apresentam temas como:
• Descontentamento popular e reações à aclamação de D. Beatriz e de D. João de Castela como
monarcas portugueses;
• Assassínio do Conde Andeiro pelo Mestre de Avis.

3. Farsa de Inês Pereira- Gil Vicente

A Farsa de Inês Pereira é composta em três partes


1. Inês Fantasiosa;
2. Inês mal-maridada;
3. Inês quite e desforrada.

Personagens

Inês Pereira: jovem esperta que se aborrece com o trabalho doméstico. Deseja ter liberdade e se
divertir. Sonha casar-se com um marido que queira também aproveitar a vida.

Mãe de Inês: mulher de boa condição econômica, que sonha casar Inês com um homem de posses.

Leonor Vaz: fofoqueira, encarregava-se normalmente em arranjar casamentos e encontros


amorosos.

Pero Marques: primeiro pretendente de Inês rejeitado por ser grosseiro e simplório, apesar da boa
condição financeira. Foi seu segundo marido.

Latão e Vidal: judeus casamenteiros, assim como Leonor.

Brás da Mata: escudeiro, índole má, primeiro marido de Inês.

Moço: criado de Brás.

Ermitão: antigo pretendente de Inês e amante depois de seu casamento com Pêro.

Fernando e Luzia: amigos e vizinhos da mãe de Inês.

Resumo
Inês Pereira é uma jovem solteira que sofre a pressão constante do casamento, e reclama da sorte
por estar presa em casa, aos serviços domésticos, cansando-se deles. Imagina Inês casar-se com
um homem que ao mesmo tempo seja alegre, bem-humorado, galante e que goste de dançar e
cantar, o que já se percebe na primeira conversa que estabelece com sua mãe e Leonor Vaz. Essas
duas têm uma visão mais prática do matrimônio: o que importa é que o marido cumpra suas
obrigações financeiras, enquanto que Inês está apenas preocupada com o lado prazeroso, cortesão.

O primeiro candidato, apresentado por Leonor Vaz, é Pero Marques, camponês de posses, o que
satisfazia a ideia de marido na visão de sua mãe, mas era extremamente simplório, grosseirão,
desajeitado, fatos que desagradam Inês. Por isso, Pêro Marques é descartado pela moça.

Aceita então a proposta de dois judeus casamenteiros divertidíssimos, Latão e Vidal, que somente se
interessam pelo dinheiro que o casamento arranjado pode lhes render, não dando importância ao
bem-estar da moça. Então lhe apresentam Brás da Mata, um escudeiro, que mostra-se exatamente
do jeito que Inês esperava, apesar das desconfianças de sua mãe.
Eles se casam. No entanto, consumado o casamento, Brás, seu marido, mostra ser tirano,
proibindo-a de tudo, até de ir à janela. Chegava a pregar as janelas para que Inês não olhasse para
a rua. Proibia Inês de cantar dentro de casa, pois queria uma mulher obediente e discreta.

Encarcerada em sua própria casa, Inês encontra sua desgraça. Mas a desventura dura pouco pois
Brás torna-se cavaleiro e é chamado para a guerra, onde morre nas mãos de um mouro quando
fugia de forma covarde.

Viúva e mais experiente, fingindo tristeza pela morte do marido tirano, Inês aceita casar-se com Pêro
Marques, seu antigo pretendente. Aproveitando-se da ingenuidade de Pêro, o trai descaradamente
quando é procurada por um ermitão que tinha sido um antigo apaixonado seu. Marcam um encontro
na ermida e Inês exige que Pero, seu marido, a leve ao encontro do ermitão. Ele obedece
colocando-a montada em suas costas e levando Inês ao encontro do amante.

Consuma-se assim o tema, que era um ditado popular de que "é melhor um asno que nos carregue
do que um cavalo que nos derrube".

4. Os Lusíadas- Luís de Camões

Estrutura Interna:
Proposição – Apresentação do projecto e da sua intenção/propósito
Camões propõe-se a cantar:
homens ilustres;
Reis;
Heróis, homens imortais pelos seus feitos.
Invocação – Pedido de inspiração/ajuda às ninfas do Tejo
A obra deve ser:
● perfeita,
● maravilhosa,
● acessível a todos,
● majestosa

Dedicatória – Dedicação da obra a D. Sebastião

Narração – Ida de Vasco da Gama à Índia - “in media res” – a narração começa no meio da viagem

Acção Principal: Viagem de Vasco da Gama a Calecute


Ação Secundária: História de Portugal

Herói Individual: Vasco da Gama


Herói Colectivo: Povo Português

Narradores:
● Vasco da Gama
● Paulo da Gama
● Luís de Camões
● Fernão Veloso

Planos:
● Do poeta
● Da Mitologia
● Da Viagem
● Da História de Portugal

Episódios:
● Mitológicos – consílio dos Deuses no Olimpo, consílio dos Deuses Marinhos
● Bélicos – Batalha de Ourique, Batalha do Salado e Batalha de Aljubarrota
● Naturalistas – Cruzeiro do Sul, Tromba marítima, Tempestade, Escorbuto, Fogo de Santelmo
● Simbólicos – Velho do Restelo, Adamastor, Ilha dos Amores, Sonho Profético de D. Manuel
● Líricos – Morte de Inês de Castro, Formosíssima Maria
● Cómicos – Fernão Veloso
5. Sermão de Santo António aos Peixes- Padre António Vieira

Barroco - Entre os finais do século XVI e meados do século XVIII.

Púlpito - Varanda onde se faziam os sermões.

Sermão - É um discurso oratório, uma pregação com intenções didáticas, morais ou mesmo
políticas, baseado na palavra de Deus que pretende transmitir.
Pregar ao peixes, Fazer ouvidos de mercador, Fazer orelhas moucas, Entrar a cem e sair a
duzentos. -» sinónimo de indiferença por parte do interlocutor; não dar atenção ao que se
diz.
Santo António- Séc. XII Padre António Vieira- Séc. XVIII

Alegoria – Todo o sermão é uma alegoria, visto que transmite outros sentidos que não o
sentido literal.
Capítulo I

Cristo – Um argumento de autoridade é algo pronunciado por alguém de prestígio que


não pode ser contestado (por exemplo Cristo).

O Conceito Predicável é “Vos sois o Sal da Terra”. A metáfora do sal diz respeito ao facto
de o sal na época ser usado para conservar os alimentos não os deixando deteriorar.
Assim, também os pregadores deveriam conservar as “almas” (terra) e preservá-las da
corrupção. O paralelismo é feito entre as ações do sal e da terra. A intenção é contrapô-
las e apurar a verdadeira causa da tamanha corrupção na terra.
As citações bíblicas servem para conferir autoridade às palavras do pregador, uma vez
que, os seus argumentos são suportados por textos sagrados, neste caso, nas próprias
palavras de cristo. O seu objetivo é dar ainda um carácter mais persuasivo ao discurso.

Capítulo II

Virtudes Gerais dos Peixes: Obediência; Oposição entre as virtudes dos peixes e a falta dessas
virtudes nos homens; crítica ao comportamento humano; Ordem; Quietação; Atenção.

O Padre António Vieira elogia a obediência, tranquilidade e a atenção com que os peixes
ouviram Santo António, ao contrário dos homens, que o perseguiram, em vez de o
ouvirem e seguirem. A história de “António” realça a natureza distinta dos homens e dos
peixes. Pode entender-se também que o orador se serve do nome próprio e do relato
que produz como uma narrativa autobiográfica já que também ele é vítima da
incompreensão dos homens.

A distância face aos homens garante aos peixes a liberdade que os outros animais não têm.
Os exemplos dados comprovam que os animais que vivem perto dos homens são
subjogados por ele.

Capítulo III

6. Frei Luís de Sousa

Estrutura Externa

“Frei Luís de Sousa” é constituído por três atos, sendo que o primeiro e o terceiro têm doze cenas e
o segundo ato, quinze. Verificamos, assim, estarmos perante um texto organizado de forma
tripartida, regular e harmoniosa.
Estrutura Interna

Exposição – Ato I, Cenas I a IV


Através das falas das personagens tomamos conhecimento dos antecedentes da ação que explicam
as circunstâncias atuais; conhecemos igualmente as personagens e as relações existentes entre
elas.

Conflito – Cenas V a XII do Ato I, Ato II e até à Cena IX do Ato III


Desenrolar gradual dos acontecimentos, em que se vivem momentos de tensão e de expetativa – no
caso de FLS, desde o conhecimento de que os governadores espanhóis escolheram o palácio de
Manuel de Sousa para se instalarem até ao reconhecimento do Romeiro (Clímax) – e que
desencadearam uma série de peripécias.

Desenlace – Ato III, Cenas X a XII


Desfecho motivado pelos acontecimentos anteriores – dá-se a consumação da tragédia familiar em
que Maria morre e os seus pais se veem obrigados a separar-se, morrendo um para o outro assim
como para a vida terrena.

Personagens

D. Manuel de Sousa Coutinho:


Homem culto, de muitas letras e espirituoso, cavalheiro e racional;
Nobre cavaleiro de malta, bom marido e pai terno;
Corajoso, audaz, decidido, patriota e nacionalista;
É fidalgo e bom português;
Revela-se ingénuo, e pouco perspicaz.

D. Madalena de Vilhena
Nobre e culta;
Sentimental, apaixonada, romântica, sensível e frágil;
Supersticiosa, pessimista, cautelosa e insegura (vivia em pânico constante);
Complexo de culpa e remorsos da sua vida passada, pois casou com D. João e gostava de D.
Manuel;
Ligada aos amores infelizes de Inês de Castro.

Telmo Pais
É sem dúvida a personagem Sebastiana por excelência.
Aio de D. João de Portugal, cultiva quase em toda parte a esperança de que o seu amo regresse.
Ironicamente será no reencontro com D. João que a sua posição se alterará, tomando o partido,
ainda
que involuntário, por Maria de Noronha;
Telmo Pais tinha um carinho enorme por Maria, era contra o segundo casamento de Madalena.

Dona Maria de Noronha


Personagem principal
É terna, adorava D. Sebastião;
Sonhadora, corajosa, pura, ingénua, supersticiosa;
Curiosa, perspicaz e inteligente;
Sofria de tuberculose, possuía ouvidos de tísica.

D.João de Portugal
Nobre (família dos vimiosos);
Cavaleiro, austero;
Ama a pátria e o seu rei;
Ligado à lenda de D. Sebastião;
Pensa que o seu sentimento por Madalena é recíproco;
Exemplo de paradoxo.

Frei Jorge
Irmão de Manuel de Sousa;
Representa a autoridade da Igreja.
É também confidente de Madalena, pois é a ele que ela confessa o seu “terrível” pecado: amou
Manuel de Sousa ainda D. João estava vivo.
Acompanha sempre a família, é conciliador, pacificador e impõe uma certa racionalidade, procurando
manter o equilíbrio no meio de uma família angustiada e desfeita.

Espaço

A peça situa-se em três lugares:


- palácio de Manuel de Sousa Coutinho (acto I);
- palácio de D. João de Portugal (acto II);
- capela / parte baixa do palácio (acto III).

O ato I envolve um espaço aberto, com amplas janelas, luz, decorado e comunica com o exterior, o
que se relaciona com alguma felicidade que se vive naquele lugar.

O ato II decorre num espaço mais fechado, mais sombrio e melancólico. Não tem janelas e as portas
têm reposteiros, há grandes retratos de família, lembrado o passado. É aqui que vai chegar o
Romeiro e a felicidade da família começa a desagregar-se.

No ato III, o espaço ainda é mais fechado e subterrâneo, não há janelas e há poucas portas. Na
capela não há decoração, há apenas um altar e uma cruz, símbolos de sacrifício e de morte. É lá que
Manuel e Madalena vão professar e Maria vai morrer.

Em suma pode dizer-se que, à medida que a ação avança e se torna mais trágica, o espaço é mais
fechado e opressivo e aniquilador das personagens.

Tempo

Também o tempo se fecha e concentra.


- Inicialmente amplo e vasto (21 anos);
- 1578 – batalha de Alcácer Quibir;
- +7 – anos de buscas por parte de Madalena;
- +14 – segundo casamento / +13 nascimento de maria;
- 1599 – tempo presente.

No presente, a peça passa-se numa sexta-feira à tarde, 21 anos após a batalha de Alcácer Quibir,
passam oito dias desde o incêndio (noite de sexta para sábado), é de novo sexta-feira. Chega o
Romeiro, Manuel de Sousa e Madalena professam e Maria morre.
Toda a ação dramática se passa “Hoje”, o dia em que tudo se concentra: por um lado, Madalena
teme esse dia; por outro lado, D. João quer chegar ali “Hoje” (é o dia em que faz 21 anos que
ocorreu a batalha).
Em síntese, podemos dizer que a ação, espaço e tempo convergem e concentram-se
progressivamente, até à tragédia final.

Drama e Tragédia

“Frei Luís de Sousa” é um drama quanto à forma e uma tragédia quanto ao conteúdo.

Principais características trágicas da obra:


- número reduzido de personagens;
- personagens de elevado estatuto social e moral;
- ação única e que converge para o desenlace trágico;
- concentração temporal (progressão temporal, até culminar na madrugada da morte e separação);
- concentração espacial (progressão espacial, terminando na Igreja de S. Paulo dos Domínicos);
- presença de momentos e indícios trágicos.

Marcas do drama romântico:


- Texto em prosa;
- Não cumprimento da lei das três unidades (ação, espaço e tempo);
- Presença de temáticas como: a liberdade individual, o patriotismo, a cosmovisão cristã, a
importância
do oculto, a primazia dos sentimentos sobre a razão e a mitificação da figura de Camões.

Elementos da Tragédia Clássica

Hybris: consiste num desafio feito pelas personagens à ordem instituída perpetrada tanto por D.
Madalena, como por D. Manuel de Sousa Coutinho. Com efeito, no primeiro caso, o
O desafio consistiu no facto de a personagem se ter apaixonado por D. Manuel de Sousa Coutinho
quando ainda era casada com D. João de Portugal. Além disso, ambas as personagens põem em
causa a ordem instituída ao casarem sem terem provas irrefutáveis da morte de D. João de Portugal.
Peripécia e anagnórise: momento em que se verifica uma inflexão abrupta dos acontecimentos e
revelação de acontecimentos desconhecidos ou na identificação de determinada personagem,
respetivamente. Ocorrem em simultâneo: com a chegada do Romeiro e o reconhecimento da sua
identidade (anagnórise), dá-se uma inversão brusca nos acontecimentos (peripécia) — o casamento
torna-se inválido e Maria torna-se filha ilegítima.
Clímax: momento culminante da ação. Ocorre na cena final do Ato Segundo, pois é neste momento
que a tensão dramática atinge o seu auge: D. João de Portugal dá a conhecer de forma inequívoca a
sua identidade, demonstrando, ao mesmo tempo, de forma paradoxal, que o esquecimento a que foi
votado anulou a sua existência.

Catástrofe: desenlace trágico. A família é totalmente exterminada: D. Madalena e D. Manuel morrem


para o mundo, ingressando na vida religiosa, e Maria morre, de facto.

Ágon: conflito vivido pelas personagens (conflito com outras personagens ou o conflito interior).
As atitudes de D. Madalena ao longo da intriga são um reflexo do conflito interior que a atormenta.
Telmo é vítima de um conflito interior: depois de ter passado vinte e um anos a desejar o regresso do
antigo amo, apercebe-se de que, na verdade, o seu amor por Maria acabou por superar o que nutria
por D.João de Portugal, mostrando-se disposto a abdicar dos seus princípios éticos para a salvar.

Pathos: sofrimento crescente das personagens. O sofrimento das personagens vai-se intensificando
ao longo das cenas.

7. Amor de Perdição- Camilo Castelo Branco

Personagens

Simão Botelho – Este é o protagonista que, inicialmente, é descrito como um jovem revoltado e
engajado nas questões sociais de sua faculdade, aos 17 anos de idade. Quando conhece Teresa,
torna-se um homem virtuoso e dedicado, embora ainda seja muito passional e capaz de fazer tudo
por sua amada; um típico herói romântico.

Teresa de Albuquerque – Ela também é protagonista, uma doce jovem de 15 anos que representa a
materialização do ideal romântico feminino. Embora delicada, ao longo da trama, vai adquirindo
traços heróicos à medida que luta por seu amor.

Mariana – Uma jovem melancólica, de origem simples, que se envolve numa paixão por Simão. Sabe
que nunca será correspondida, o sofrimento lhe serve de combustível para estar sempre servindo ao
seu amado; até naquilo que ele precisa para se corresponder com Teresa.

Domingos Botelho – O pai de Simão, homem renomado socialmente, ocupava cargos jurídicos,
porém cheio de defeitos de uma elite gananciosa. Luta incansavelmente pelo fim da paixão do filho.

Tadeu de Albuquerque – O pai de Teresa, de caráter semelhante a Domingos Botelho. Ambos são
inimigos de família. Autoritário, obstinado e superprotetor.
João da Cruz – O pai de Mariana, um simples ferreiro que contraiu dívida com o pai de Simão,
sendo, portanto, designado para ser o “fiel escudeiro” do herói protagonista. A personagem mais
equilibrada da narrativa.

Resumo da Obra

O romance se passa centralmente na cidade de Viseu, embora mude de cenário algumas vezes,
durante o desenrolar dos fatos.
A narrativa começa com a história da família de Simão, seus conflitos com o pai, seu comportamento
agressivo movimentado pelos ideais da Revolução Francesa. Era um jovem engajado em defesas
públicas e acadêmicas, pois estudava numa universidade em Coimbra, muito movimentada na
época.
Porém, Simão vai passar um tempo em Viseu, cidade em que sua família morava. Neste período,
seu pai percebe o comportamento modificado do filho e descobre que ele está enamorado de sua
vizinha, Teresa.
O casal mantém sua relação amorosa pelas janelas de seus quartos, às escondidas, já que as
famílias são inimigas.
Motivo da briga de família: Há muito tempo as famílias tiveram uma briga por motivos jurídicos, mas
isso permanece incomodando até os tempos atuais por causa do orgulho deles.
Simão retornou à Coimbra para concluir os estudos e se tornar um homem independente, assim,
poderia voltar a Viseu e casar-se com sua amada, como havia prometido.
Enquanto isso, Teresa se comunicava com a irmã de Simão, mas foi descoberta. Então, o pai de
Teresa, Tadeu, arquitetou um casamento forçado com um primo distante para impedir a paixão.
Após sofrer muitas ameaças, Teresa envia uma carta para Simão contando tudo.
Simão retorna escondido à cidade e fica hospedado na casa de João da Cruz, sujeito que devia um
favor ao pai de Simão, por causa de uma ajuda que recebera para escapar da forca. Daí em diante,
João se tornou o braço direito de Simão.
Em uma noite de festa, Teresa e Simão, que trocavam cartas semanalmente, combinaram de se
encontrar enquanto todos estavam distraídos. Porém, o primo de Teresa estava de olhos fixos em
sua prometida e descobriu o caso.
Embora não tivesse denunciado publicamente a identidade de Simão, quis vingar-se. Os dois
rapazes preparam armadilhas e o confronto resultou no ferimento de Simão, que foi para casa de
João ser cuidado por Mariana, filha e enfermeira.
Contudo, Mariana se apaixona por seu paciente. Uma jovem já melancólica reconhece que seu amor
é irrealizável, se contentando em ser a fiel serva de Simão. Assim, Mariana se torna mediadora das
cartas e do romance do casal protagonista.
Tadeu coloca sua filha no convento de Viseu, como punição. Teresa lida com os maus modos das
freiras deste convento e é dedurada por escrever cartas que mantinham sua relação com Simão.
Então, é mandada para um convento em Monchique, mais distante, onde sua tia era freira.
Sempre informado por cartas, Simão aguarda o momento em que Teresa seria transferida, para
tentar raptá-la e fugir com ela. A emboscada vai mal e Simão é preso.
Domingos, seu pai, não busca retirar o filho da prisão, devido às rixas entre eles. Porém, quando
Simão foi condenado à força, decide usar de sua influência para alterar a pena. Tudo o que
consegue é que seu filho seja exilado por 10 anos na Índia.
Mariana caiu à beira da loucura com a notícia da força, mas logo se recuperou, disposta a continuar
ajudando Simão e desejando ir ao exílio com ele. Tadeu percebe que Teresa e Simão estarão na
mesma cidade na hora do embarque e tenta levar Teresa de volta ao primeiro convento, mas é
impedido pela freira que é tia de Teresa.
Chegado o dia, Teresa escreve uma carta final para Simão e vai ao mirante para vê-lo uma última
vez. Lá, morre de tristeza, da doença do amor. Simão recebe a carta e, já no barco, morre a bordo
por uma doença.
Logo após, Mariana atira-se ao mar, morrendo ambos no oceano dos amores impossíveis.

8. Os Maias- Eça de Queiróz

Época

Dividido em dois planos narrativos, “Os Maias” apresenta aos leitores a história das três gerações de
uma família burguesa – cujo protagonista é o personagem Carlos Maia -, ao mesmo tempo em que
tece uma crítica sobre a alta sociedade de Lisboa, em 1880.

Resumo da obra

A ação de “Os Maias” passa-se em Lisboa, na segunda metade do século XIX. No outono de 1875,
Afonso da Maia, nobre e rico proprietário, instala-se no Ramalhete (casa cuja descrição abre o
primeiro livro). Do matrimónio com Maria Eduarda Runa, nasce o único filho do casal, Pedro da Maia,
rapaz de temperamento nervoso, fraco e de grande instabilidade emocional. Muito ligado à mãe, que
o criou com enorme apego e devoção, Pedro vê-se inconsolável após a morte desta, mas consegue
recuperar quando conhece uma bela mulher chamada Maria Monforte, filha de um traficante de
escravos.
Afonso da Maia rejeita o relacionamento do seu filho com Maria Monforte, todavia, os jovens
casam-se mesmo a contragosto do patriarca. Deste casamento nascem duas crianças, Maria
Eduarda e Carlos Eduardo; não obstante, pouco depois do nascimento do garoto, Maria Monforte
enamora-se por Tancredo, um príncipe italiano, visita da casa, com o qual foge, levando embora
consigo a filha. Ao chegar a casa, Pedro descobre a fuga e, desesperado, refugia-se na casa do seu
pai, levando o filho, ainda bebé. Nessa mesma noite, redige uma longa carta destinada ao pai e, por
não suportar o abandono, comete suicídio.
Aos cuidados do avô, Carlos Eduardo recebe uma educação forte e austera; passados alguns anos,
contra a vontade de todos, exceto do seu avô Afonso, o jovem transfere-se para Coimbra, para
estudar medicina. Após se formar, regressa ao Ramalhete e monta um consultório, mas sem
prescindir de uma vida de aventuras burguesas ao lado dos seus amigos intelectuais João da Ega,
Alencar, Damaso Salcede, Palma de Cavalão, Eusebiozinho, o maestro Cruges, entre outros.
Um dia, Carlos conhece uma mulher chamada Maria Eduarda e apaixona-se por ela, mesmo
acreditando ser esta senhora casada com um cavalheiro brasileiro de nome Castro Gomes. A
despeito da sua condição, o jovem tenta-se aproximar dela, sem obter êxito, até que recebe o
chamado de Maria Eduarda, que necessitava dos seus serviços médicos, visto que a sua governanta
se encontrava doente. Em razão das frequentes visitas de Carlos à casa de Maria Eduarda, ambos
começam a envolver-se e decidem viver um romance.
Amantes, encontram-se às escondidas numa casa na Quinta dos Olivais. Ao descobrir o
envolvimento do casal, Castro Gomes, o brasileiro com quem Carlos julgava que Maria Eduarda era
casada, decide procurar o jovem médico para lhe contar que ela não é sua esposa, mas sim uma
dama de companhia, revelação que põe fim ao romance proibido. Contudo, uma reviravolta no
enredo de Os Maias aclara o passado misterioso de Maria Eduarda que, ao receber documentos e
objetos de um viajante, que portava papéis que comprovavam a sua riqueza e um cofre, herança da
sua mãe, tem o seu sobrenome exposto.
Ao ter acesso à verdadeira identidade da sua amada, Carlos descobre que a mãe de Maria Eduarda
era Maria Monforte, a sua mãe, que havia fugido anos antes com o príncipe napolitano e
abandonando-o e ao pai, Pedro. Ou seja, ele e Maria Eduarda eram irmãos.
Apesar da aterradora constatação, Carlos ignora o facto e, sem revelar a sua descoberta para Maria
Eduarda, decide continuar com a relação incestuosa. O seu avô, Afonso da Maia, descobre toda a
verdade e morre de desgosto. Quando Maria Eduarda finalmente descobre ser irmã do próprio
amante, parte rumo a Paris, onde tempos depois se casa. Para esquecer a sua triste sina, Carlos
resolve viajar pelo mundo, regressando dez anos depois a Portugal, onde reencontra os seus velhos
amigos.

Objetivo

O autor queria montar, por meio desse retrato realista, um painel crítico da sociedade lisboeta, que
preparava as suas mulheres para um casamento rico e uma vida de beatice e futilidade sentimental,
uma forma de denunciar a opressão sofrida pelas mulheres no século XIX.

9. Sonetos Completos- Antero de Quental

Temas

• Deus;
• Amor;
• Justiça;
• Fraternidade;
• Morte;
• Solidão;
• Nada.
Na sua obra há a presença de um tipo de interrogação que não chega a ser filosófica, como em
Fernando Pessoa. A sua interrogação é meramente teórica, pois dirige-se ao particular: EU/MUNDO
ou DEUS.

A angústia existencial

Na obra poética de Antero, é visível uma profunda angústia existencial.


Com efeito, como afirma António Sérgio, a par de uma face luminosa do eu, temos uma face noturna,
sendo esta dualidade geradora de uma grande inquietação interior.
• Na sua vertente apolínea, a poesia anteriana é dominada pela racionalidade de um pensador que
exalta o papel revolucionário do poeta e que aspira à justiça social e ao Bem.

• No entanto, na obra de Antero está patente uma busca permanente da perfeição, que não se
compadece com a dimensão transitória e imperfeita da realidade. Desse ponto de vista, todos os
ideais estarão, à partida, condenados ao malogro, uma vez que nunca poderão satisfazer totalmente
a ânsia de Absoluto do eu.

• É por este motivo que deparamos com a vertente mais negra da obra de Antero, marcada por um
profundo desalento provocado pelo desmoronar de todos os seus sonhos.

• No intuito de se libertar deste sentimento doloroso de derrota, o eu busca desesperadamente uma


forma de evasão — quer através da aspiração a um estado de indiferença próximo do «nirvana»
budista (isto é, uma condição próxima do não-ser) quer através do desejo de refúgio no sono no seio
de uma figura protetora, que tanto pode assumir traços maternais (sendo, por vezes, identificada
com Nossa Senhora) como traços paternais (destacando-se a figura de Deus). No entanto, este
desejo de proteção nem sempre é investido de contornos positivos. De facto, o sujeito poético
manifesta, ao longo de toda a obra, dúvidas em relação à existência de Deus. Deste modo, mais do
que um gesto voluntário de entrega ao divino, o comportamento do eu é, na verdade, uma atitude de
desistência resultante de um sentimento de profundo desencanto em relação a todas as esperanças

Configurações do Ideal

A obra poética de Antero é marcada pela busca de um ideal, que pode assumir diferentes
configurações.

• o eu faz a apologia da necessidade de transformação da sociedade — processo em que o poeta


teria um papel fundamental.

• o eu manifesta também a sua aspiração a um amor que surge, muitas vezes, com contornos
idealizados (e que é, por vezes, associado a uma figura feminina também ela ideal).
• busca da perfeição a nível ético — que está, obviamente, também associada à aspiração à justiça
social. Este processo pauta-se por uma preocupação constante com a busca do Bem e da própria
santidade.

• Petrarquismo – mulher ideal Linguagem, estilo e estrutura: - o discurso conceptual;

• o soneto - com os seus catorze versos decassilábicos, o soneto é uma forma poética que permite
desenvolver uma ideia, um raciocínio, de forma sintética e concentrada. Após tratar um problema,
normalmente de natureza filosófica, o eu poético dos sonetos de Antero chega a uma conclusão no
terceto final e remata o seu pensamento com a chamada «chave de ouro», com um desfecho
engenhoso; há muitas marcas de monólogo interior;
• recursos expressivos: a apóstrofe, a metáfora, a personificação; imagem e alegoria; interrogações,
as frases exclamativas e as reticências.

• embora tente afastar-se do Romantismo, a linguagem surge recuperada dessa corrente, cultivando
um vocabulário e motivos literários associados à noite, à morte, às ruínas, etc. (Nada aqui há de
contraditório porque as ideias estão em consonância com o ideário realista e o pensamento moderno
da segunda metade do século XIX);

• Como na grande maioria dos sonetos Antero desenvolve um argumento e trata questões filosóficas,
a linguagem tende a ser abstrata («Tormento do ideal»). Daí que se afirme que o poeta cultive um
discurso conceitual nas suas composições poéticas, pois com esta linguagem debate ideias e
conceitos;

• alguns poemas adotam um registo narrativo e, nesse modo discursivo, apresentam um breve
episódio que retrata uma questão ou um problema filosófico: a busca da felicidade («O palácio da
ventura»), o papel do amor e da morte na vida dos homens («Mors-amor»), entre outros.

10. Cesário Verde. Sentimento dum Ocidental

O “livro de Cesário Verde” é uma obra poética póstuma, isto é, publicada depois do seu falecimento,
no ano de 1997, pelo seu amigo Silva Pinto. Sabe-se ainda que a sua estruturação foi de sua
responsabilidade, publicando assim os poemas como forma de homenagear Cesário Verde, poeta
Contemporâneo incompreendido na altura em que começara a escrever poesias.
Cesário Verde era um poeta atento a tudo o que o rodeava, desde o próprio quotidiano dos
calceteiros, das varinas e dos peixeiros, que representam a classe desfavorecida, até ao quotidiano
dos dentistas, representantes da classe privilegiada.
Para além de poesias sobre o quotidiano, o SR. Verde destacava-se por ser progressista, deixando
os poemas sobre o amor trágico, característico do Romantismo, de lado e instaurando o Realismo,
com o qual começa os poemas sobre os seus sentimentos mais obscuros e profundos, como por
exemplo a angústia e a revolta, acrescentando ainda uma gota de críticas às desigualdades sociais
que, com a observação cinematográfica, ia desvendando pela cidade de Lisboa a diferentes horas do
dia.
O poeta em "sentimento dum ocidental” direciona ainda uma outra censura, desta vez à própria
Igreja Católica e às capelas, referindo que uma comercialização religiosa está em progresso à frente
dos olhos de todos, contudo ninguém o vê. Ainda em relação ao poema, à medida que o leitor o vai
analisando, o mesmo apercebe-se de um simples pormenor e chega a uma conclusão: o poema “
sentimento dum ocidental” retrata um poeta que anda às voltas num sítio que parece conhecer,
porém do qual nada conhece.
Concluindo, sendo este um burguês comerciante, ele ouvia todo o tipo de lamúrias e
desassossegos dos seus clientes face às injustiças sociais em Portugal, mais especificamente, em
Lisboa.

Etapas do dia em “Sentimento dum Ocidental”


I- Avé-Marias
II-Noite Fechada
III-Ao Gás
IV-Horas mortas

11. Fernando Pessoa, Ortónimo e Heterónimos

Temas das suas Obras

❖ Fingimento artístico- dor sentida é diferente da dor imaginária;


❖ Dor de pensar- consciência e inconsciência;
❖ Sonho e realidade- idealização e frustração;
❖ Nostalgia da Infância- saudade e memória.

Heterónimos mais importantes

Alberto Caeiro

❖ Bucolismo — idealização da vida campestre;


❖ Sensacionismo — valorização das sensações;
❖ Paganismo — caráter politeísta.;
❖ Versos livres — sem métrica e sem rima;
❖ Linguagem simples — sem dificuldade de compreensão;
❖ Locus amoenus — lugar ameno."

Ricardo Reis

❖ Odes (Poesia própria para canto), poemas líricos de tom alegre e entusiástico, cantados pelos
gregos, ao som de cítaras ou flautas, em estrofes regulares e variáveis.
❖ É uma poesia neoclássica, pagã, povoada de alusões mitológicas.
❖ Enfim, uma poesia moralista, sentenciosa, contida, sem qualquer traço de espontaneidade.
Cultivando preferencialmente a ode, utiliza uma linguagem culta, rebuscada – o hipérbato, inversão
da ordem normal dos elementos da frase, é um recurso amplamente usado.

Álvaro de Campos

❖ Álvaro de Campos é um poeta moderno, aquele que vive as ideologias do século XX.
❖ Engenheiro de profissão vê o mundo com a inteligência concreta de um homem dominado pela
máquina.
❖ De temperamento rebelde e agressivo, seus poemas reproduzem a revolta e o inconformismo,
manifestados através de uma verdadeira revolução poética Álvaro de Campos é um homem de
espírito inconformado com o tempo, é completamente inadaptado ao mundo que o rodeia, vive
marginalizado, sendo uma personalidade do não.
❖ No poema "Ode Triunfal", ele situou a relação do homem com o mundo mecanizado.
Bernardo Soares

❖ Quando Fernando Pessoa está cansado ou sonolento escreve através de Bernardo Soares;
❖ Discurso marcado pelo devaneio e com temáticas próximas das do ortónimo;
❖ Obra em prosa.

12. O Livro do Desassossego- Bernardo Soares (semi-heterónimo)

Estrutura

Fragmentos-500;
Prosa Poética.

Características

Imaginário Urbano
❖ Bernardo Soares, Lisboa em criança. Trazido por um tio que lhe arranjou emprego num escritório;
❖ Cidade importante para a obra, vida reflete-se do trabalho e viver na mesma rua: Rua Dos
Douradores- efeito de estreiteza de horizontes;
❖ Sente necessidade de se libertar do ambiente claustrofóbico, deambulação pela ruas de Lisboa;
❖ Deambulação desencadeia nele o processo de reflexão contínua na alma. Motivo da deambulação
considerado exteriorização de errância interior- devaneio constante, através do qual procura
evadir-se de existência asfixiante.

Quotidiano
❖ Vive sozinho, solidão. Ajudante de guarda-livros e vive num pobre quarto alugado;
❖ Idealização, mundo do sonho, interioridade;
❖ Segue temáticas de F. Pessoa.

Deambulação e sonho: Observador Acidental


❖ Observar;
❖ Fazer Registos;
❖ Relação da personagem com a realidade em que vive e o lugar em que se inscreve que o conduz ao
seu desassossego, origem na insatisfação, tédio, no temperamento sonhador, nas circunstâncias
adversas da sociedade em que vive;
❖ Personagem em movimento=observador acidental;
❖ Momentos descritivos e narrativos são ponto de partida para reflexões ou abrem portas para a
imaginação. O “eu” imagina-se noutro lugar. É no sonho que ele procura pôr termo ao seu
desassossego;
❖ Sensações, reflexões; associações do narrador.

Percepção e transfiguração poética do real


❖ Aspetos de paisagem urbana de Lisboa e rurais. Visão é sensação dominante;
❖ Perceção que o “eu” tem e registo do real = objetiva;
❖ Mundo exterior descrição lança ponte para representação o mundo interior, imaginação serve de
ponte entre paisagens exteriores e mundo interior e realidades interiores suplementam a exterior;
❖ Aspetos do mundo exterior, transforma interiormente de forma artística e imaginativa. O “eu”
transfigura o real, torna o seu e/ou muda-lhe a forma por palavras usadas- transformação poética.

13. “Mensagem”- Fernando Pessoa

“Mensagem”= Mens agitat molem

Estrutura

1ª Parte- “Brasão”
Termo heráldico, símbolo da formação do reino e do passado hereditário dos governantes régios.
Marca dos serviços.
Nascimento do Império;
Mitos e figuras históricas identificadas nos elementos dos brasões;
Portugal erguido pelo esforço dos heróis e destinado a grandes feitos.

Capítulo I. “Os Campos”: símbolo do espaço de vida e consolidação do reino.


“O dos Castelos”: símbolo de proteção/conquistados aos Mouros.
“O das Quinas”: 5 chagas de cristo- sofrimento e dor. Remete para a dor enquanto
condição necessária para alcançar a glória.

Capítulo II. “Os Castelos”


“Ulisses”: herói místico; deu origem a Lisboa.
“D. Dinis”: herói, rei lavrador, rei poeta.
Capítulo III. “As Quinas”
“D. Sebastião, Rei de Portugal”: remete-nos para um momento importante da
nação, assumindo D. Sebastião um papel importante na decisão tomada de avançar para
a conquista de África.
O sujeito poético afirma encontrar como base da sua loucura a grandeza, orgulhando-se
disso. Em consequência dessa loucura, encontrou a morte em Alcácer Quibir.
O sujeito lança a ideia de que a loucura é a força da ação e é necessário valorizar o sonho.

2ªParte- “Mar Português”


Realização e vida;
Descobrimentos que exigiram luta contra o desconhecido e elementos naturais.

Capítulo II. “Horizonte”


❖ Símbolo do indefinido, do longe, do mistério, do desconhecido, do mundo a
descobrir, do objetivo a atingir;
❖ Evoca um espaço longínquo que se procura alcançar funcionando, assim, como
uma espécie de metáfora da procura, como um apelo da distância, do "Longe", à
eterna procura dos mundos por descobrir;
❖ Este poema apresenta-nos o sonho como motor da ação dos Descobrimentos. É o
sonho que, movido pela esperança e pela vontade, desperta no homem o desejo
de conhecer, de procurar a verdade.

Capítulo IV. “O Mostrengo”


❖ Poema inspira-se na passagem do Cabo das Tormentas, ou seja, a passagem do
Oceano Atlântico para o Oceano Índico;
❖ Simboliza o ultrapassar de medos;
❖ O poema apresenta uma estrutura narrativa com um diálogo repetido entre o
Mostrengo, Golias, e o Homem do Leme, David;
❖ Semelhança com o episódio “Adamastor” de “Os Lusíadas”.

Capítulo VIII. “Fernão de Magalhães”

Capítulo X. “Mar Português”


❖ “Português” remete para a conquista e o domínio dos mares pelos Portugueses,
que os ligaram e fizeram com que existisse apenas o “mar” conhecido.
❖ Essa união foi o resultado do sofrimento e da coragem dos lusitanos; daí o mar ser
“português”. Por outro lado, apesar de os Portugueses já não cruzarem o mar no
presente, o título deixa entender que ele será sempre lusitano;
❖ O mar, glória e desgraça do povo português;
❖ Os sacrifícios necessários para que os Portugueses conquistassem o mar
traduzem-se na morte de muitos dos que partiram e no sofrimento dos que ficaram
em terra, daí que o poeta dê realce, através do uso de uma linguagem emotiva
marcada pelas exclamações e pelo uso da 2.ª pessoa, que estabelece uma relação
afetiva com o mar.
3ªParte- “O Encoberto”
Desintegração;
Sofrimento e mágoa;
Império moribundo;
Fé de que com a morte venha a ressurreição;
Esperança do 5º Império.

Capítulo I. “Os Símbolos”


“O Quinto Império”: 1ª parte: estrofes 1 a 3- reflexão acerca da vivência humana
e da importância do sonho.
2ª parte: estrofes 4 e 5- anúncio de uma nova época, de um novo império.

Capítulo III. “Os Tempos”


“ Nevoeiro”: Caracteriza uma situação de crise que se perfila em várias
modalidades, tais como, crise política, crise de valores e crise de identidade;
“Nevoeiro” tem uma conotação negativa e positiva;
A negativa é pois o nevoeiro pode simbolizar o desconhecido, o medo e a positiva é pois
pode simbolizar a chegada de um “D. Sebastião” que irá salvar Portugal, ou seja, é
atribuído um significado de esperança.

14. Conto “Sempre é uma companhia”

Neste conto, a ação gira em torno de 2 personagens: Batola e a sua mulher.


O leitor acompanha de perto o drama pessoal e íntimo destas duas figuras, mas lê também acerca
de angústias e outros problemas do Rata e de outras personagens da história.

Batola
• Estatura média
• Atarracado, pernas tortas e cara redonda
• Preguiçoso, passivo
• Agressivo quando bebe
• Frustrado
• Não consegue superar a situação existencial em que se encontra
• Tem uma loja com a mulher

Mulher do Batola
• O narrador não lhe atribui um nome pelo que se entende que não nutre
grande afeto por ela e que o papel que desempenha é mais importante que
a sua identidade
• Alta e séria
• Rosto ossudo e olhos negros
• Dinâmica, determinada, trabalhadora

Relação Matrimonial entre Batola e a Mulher


• Fria e distante
• Violenta
• Vazio de sentimentos, coexistência
• Silêncio e tensão

Rata
• Vive na miséria
• Amigo de Batola
• Fonte de novidades porque saía frequentemente da aldeia ao contrário do
imobilismo de Batola
• Doença
• Estagnação
• Suicídio
Os trabalhadores agrícolas levam uma vida de trabalho e parecem não ter forma de ultrapassar as
suas difíceis condições. São tratados como animais.

Vendedor de Telefonias
• Inteligente e perspicaz
• Elegante e afável
• Cativante, convincente e calculista

Espaço físico, psicológico e sociopolítico


• Alcaria, interior Alentejano
• Anos 40 do século XX
• A ação incide na casa das duas principais personagens
• Espaço claustrofóbico
• Grande pressão
• Vidas vazias, carenciadas e principalmente rotineiras
• Narrador omnisciente
• Narrador tem acesso aos pensamento e às angústias do protagonista
• Localidade rural
• Uma aldeia parada no tempo
• Pobreza e atraso cultural

Solidão e convivialidade
• A existência da telefonia introduz a convivialidade na aldeia
• A primeira parte é marcada pela solidão. A relação fria entre Batola e a
mulher. Todos os aspetos negativos foram de certa forma quebrados pelas
conversas com o Rata, mas este contacto termina quando o mesmo se
suicida.
• O modo de vida da população altera-se quando Batola adquire uma
telefonia, o que permitiu a aldeia ter conhecimento das notícias do país e do Mundo. Por isso,
juntavam-se na loja de Batola e da mulher com esse objetivo.

Peripécia Inicial e Final


Inicialmente o narrador apresenta os traços principais do protagonista. Em certo momento da
história, Batola demora a aviar uma criança que tinha ido comprar café com o intuito que a mulher
tratasse disso. Conclui-se, aqui, que a inércia e a frustração minam Batola e que a relação é pautada
pela frieza e pelo ressentimento.
No final, onde ocorre o desenlace da ação, a mulher recua na sua intransigência e comunica ao
marido que aceita a telefonia. Antes, esta personagem ameaçava sair de casa caso ele ficasse com
o aparelho e Batola convence-se que tem de abdicar do rádio para que tal não aconteça.

A alteração da atitude da mulher de Batola tem consequências na sua relação e na


comunidade
• Habitantes continuarão a conviver
• Poderão escutar notícias do exterior
• Ânimo do marido
• Casal aproximou-se
• Ressurgiram afetos
• Partilha.
Conto:
• Extensão breve
• Ação como unidade evidente, sem ações secundárias
• Número limitado de personagens
• Maior concentração de tempo e espaço

15. Poetas Contemporâneos

A poesia contemporânea, com início no século XX, é caracterizada por uma representação das
sociedades no início do mesmo; pela abordagem de temas como o amor, a nostalgia da infância, a
natureza, o quotidiano e a crítica sociopolítica; pelas figurações do poeta, como sendo sofredor, ser
pensante, o existencialismo, o niilismo e o paralelismo entre consciência e inconsciência é
caracterizada, também, pela dureza no ato da escrita, a poesia que faz parte do corpo humano ou
que transmite sensações e o poema como fruto da escrita, música ou até da tecnologia.
Desta forma, dá-se principal atenção a poetas, tais como: Miguel Torga, com por exemplo, o
poema “Orfeu Rebeldes”, cujo tema é a exaltação da liberdade absoluta do homem; Eugénio de
Andrade com o poema “Que fizestes das palavras”, cujo tema é a inquietação/emoção do ser
humano; Alexandre O’ Neill com, por exemplo, “Perfilados de medo, agradecemos”, tendo como
temática o tempo do Estado novo, vivido em Portugal e, por fim, Ruy Belo, com o poema “E tudo era
possível”, cujo tema é o da nostalgia da infância.
Já relativamente aos estilos e linguagens, na poesia contemporânea, verificam-se poesias
irregulares a nível estrófico e métrico e com recurso a versos brancos, aprisionam a formas rígidas,
nem a rimas e métricas e com preferência a soneto inglês (4+4+4+2 versos), como é o caso de
Alexandre O’ Neill e poesias com frequentes versos decassílabos ou alexandrinos, versos soltos e
com retoma ao soneto, numa variante menos rígida, onde nem sempre é rimado e organizado em
duas quadras e dois tercetos, como é o caso de Ruy Belo.
Concluindo, pode-se afirmar que a poesia contemporânea dá liberdade aos poetas de escreverem
sobre o que quiserem e da forma que quiserem, diferenciando-se estilos, linguagens e temáticas.

16. “Memorial do Convento”

❖ “Memorial”: em memória dos humilhados e oprimidos de que a História não fala e que realizaram
feitos memoráveis, por capricho de um rei- D. João V.

❖ “Era uma vez”: a fórmula com que começam os contos tradicionais (e marca de discurso oral),
reenviando a ação para um tempo indefinido, conferindo ao texto um caráter atemporal ou
intemporal ou ucrónico. A sua repetição intencional convida o leitor a entrar num mundo ficcional,
apesar das informações do título da obra- são acontecimentos ficcionais e históricos,
acontecimentos transfigurados pelo narrador, daí a tipologia de romance.
❖ Presente 4 romances:
➔ Romance Histórico;
➔ Romance Social;
➔ Romance Intervencional;
➔ Romance de Espaço.

A ação desdobra-se em 4 linhas

“Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento em Mafra”- construção do
convento, pelo povo e a mando do Rei e relação com a esposa;
“Era uma vez a gente que construiu esse convento”- povo escravo do Rei;
“Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes”- Relação entre Baltasar e
Blimunda;
“Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido”: Construção da passarola pelo Padre
Bartolomeu, ajudado por Baltasar e Blimunda e Scarlatti.

Personagens Históricas

D. João V
Megalómano;
Absoluto;
Vaidoso;
Egocêntrico;
Dado aos prazeres da cara e destemperos vários;
Sacrificou todos os homens válidos e a riqueza do país na construção do convento, devido à sua pouca astúcia e
inconsciência da situação do país.

D. Mariana Josefa
Mulher culta;
Interesse pela música;
Rainha de Portugal- esposa de D. João V.

Povo
Anónimos que construíram o Convento são glorificados neste Memorial.

Padre Bartolomeu de Gusmão


Inventa a passarola;
Morto pela inquisição;
“Padre Louco”.

Domenico Scarlatti
Músico italiano barroco;
Deu aulas a D. Maria Bárbara, filha do Rei.
Personagens ficcionais

Blimunda Sete- Luas


Vê as pessoas “por dentro” se estiver em jejum;
Início da obra assiste à partida da mãe para o degredo;
No fim da obra assiste à morte de Baltasar, pela inquisição.

Baltasar Sete-sóis
Perde a mão esquerda na guerra;
Participa na construção do convento e da passarola.

Baltasar e Blimunda
Representam o amor e a simplicidade;
Casal que simboliza o lado dos oprimidos e explorados pelo poder absolutista.

Sebastiana Maria de Jesus


Mãe de Blimunda;
Considerada feiticeira.

Cruzamento de Personagens

O padre Bartolomeu e o músico Scarlatti, personagens históricas, juntamente com Baltasar e Blimunda, formam um
grupo, fundamentado na amizade solidária, que vai pôr em prática o sonho de voar;
Congregam esforços e envolvem-se na construção da passarola: o trabalho físico e artesanal de Baltasar conjuga-se
com a capacidade mágica de blimunda,os conhecimentos científicos do padre e o caráter encantatório da arte
musical de Scarlatti.

Amor

Simbologias
Simbologias

Espaço físico

Mafra
Monte Junto: lugar onde aterra a passarola depois de ter sobrevoando Mafra; lugar onde o Padre desaparece;
lugar onde Baltasar e Blimunda vão tratar da conservação da máquina voadora.
Pêro Pinheiro: Lugar de onde é trazida a pedra para a construção do Convento.
Ilha da Madeira: Lugar onde se alojam, em barracas de madeira, os trabalhadores deslocados para a
construção do Convento.
Vela: Designação do local exato escolhido para construção do Convento.

Lisboa
Rossio: Praça central da capital, onde se realizam os autos de fé.
Terreiro do Paço: Local de trabalho de Baltasar ao chegar a Lisboa; cenário da procissão do Corpo de Deus.
São Sebastião da Pedreira: espaço rural onde se encontra a quinta que serve de cenário à construção da
passarola; local mágico ao qual só acedem o Padre Bartolomeu, Scarlatti, Baltasar e Blimunda.

Narrador

Heterodiegético
Não participa enquanto personagem;
3ª pessoa.

Homodiegético
1ª pessoa do singular- participa enquanto outras personagens;
Exemplos: mãe de Blimunda, quando conta o que se vai passando no auto de fé; o rei e patriarca, quando
escrevem a procissão do Corpo de Cristo; Manuel Milho, quando conta a história da rainha.
OU
1ª pessoa do plural;
Exemplos: quando parece que se junta a outras personagem para participar na ação; para estabelecer
cumplicidade com o narratário.
Narrador Omnisciente
Conhece tudo sobre a ação e as personagens;
Domina o passado, presente e futuro do tempo dos episódios narrador.

Focalização Interna
Quando se encontra na pele de outras personagens

Narrador Interativo
Torna posição;
Exprime opinião;
Comenta a situação;
Narrador tece comentários relativamente à ação e à conduta das personagens, denotando-se intenção de crítica
aos abusos da classe dominante relativamente ao povo.

Resumo dos capítulos

Capítulo I
·Relação Rei/Rainha e a promessa da construção do convento em Mafra
·Apresentação de um facto histórico: propósito da construção de um convento
franciscano em Mafra;
·Narração satírica das motivações desta intenção: promessa do rei D. João V de
construir um convento, caso a esposa, D. Maria Ana Josefa, lhe desse um herdeiro;
·Sonhos de D. Maria Ana e de D. João V com o futuro descendente…

Capítulo II
·Os milagres conseguidos pelos franciscanos e o seu desejo na construção do convento
·“O célebre caso da morte de Frei Miguel da Anunciação” que conserva o corpo intacto;
·A locomoção da imagem de Santo António, numa janela, que assustou os ladrões;
·A recuperação das lâmpadas do convento de S. Francisco de Xabregas, que tinham sido
roubadas…
·A gravidez da rainha;
·O desejo dos franciscanos, desde 1624, de construção de um convento em Mafra.

Capítulo III
·A situação socioeconómica: excesso de riqueza/ extrema pobreza
·Os excessos do Entrudo e a penitência da Quaresma;
·A impostura de alguns penitentes que “têm os seus amores à janela e vão na procissão
menos por causa da salvação da alma do que por passados ou prometidos gostos do
corpo”;
·A devoção das mulheres que, com a liberdade de percorrerem as igrejas sozinhas,
aproveitam, muitas vezes, para encontros com os amantes secretos;
·A situação da rainha que, grávida, só podia sonhar com o cunhado D. Francisco;
·A sátira a “mais uns tantos maridos cucos…”

Capítulo IV
Baltasar Sete-Sóis regressa da guerra maneta
·O passado “heroico” de Baltasar Mateus, o Sete- Sóis, que perde a mão esquerda nas
lutas de Olivença;
·A viagem até Lisboa por Évora, Montemor, Pegões e Aldegalega, matando um ladrão
que havia tentado assaltá-lo;
·Em Lisboa, anda pela ribeira, pelo Terreiro do Paço, pelo Rossio, por bairros e praças,
juntando-se a outros mendigos;
·Com João Elvas vai passar a noite num “telheiro abandonado” onde “falaram de crimes
acontecidos…”

Capítulo V
·O auto de fé no Rossio e o conhecimento travado entre Baltasar, Blimunda e o padre
Bartolomeu
·A rainha D. Maria Ana, no quinto mês de gravidez, não pode assistir ao auto de fé;
·Descrição de um auto de fé e os condenados pelo Santo Ofício;
·A mãe da Blimunda, Sebastiana Maria de Jesus, acusada de ser feiticeira e cristã-nova,
“condenada a ser açoitada em público e a oito anos de degredo no reino de Angola”;
·O encontro com o padre Bartolomeu Lourenço e Baltasar Mateus, o Sete- Sóis;
·O convite de Blimunda para Baltasar permanecer em sua casa até voltar a Mafra;
·O ritual do casamento e a consumação do amor entre Baltasar e Blimunda.

Capítulo VII
·Nascimento da filha de D. João V, Maria Bárbara
·Apesar de alguma deceção do rei, por não ser um menino, mantém a promessa de
construir o convento.

Capítulo VIII
·Os poderes de Blimunda em ver dentro dos corpos
·O mistério de Blimunda que come pão de olhos fechados e possui o poder de olhar
dentro das pessoas;
·A prova do poder de Blimunda que, ainda em jejum, sai à rua com Baltasar.
·Nascimento do segundo filho de D. João V, o infante D. Pedro
·Escolha do alto da Vela em Mafra para edificar o convento.

Capítulo IX
·Mudança de Baltasar e Blimunda para a abegoaria na quinta do duque de Aveiro, em S.
Sebastião da Pedreira;
·Continuação da construção da passarola voadora pelo padre Bartolomeu, por
Blimunda e Baltasar.
·O padre Bartolomeu parte para a Holanda, enquanto Sete-Sóis regressa a Mafra, a casa
dos pais, acompanhado de Blimunda
·Tourada no Terreiro do Paço com Baltasar e Blimunda na assistência, antes de partirem
para Mafra;
·Partida para Mafra de Blimunda e Baltasar.

Capítulo X
Ao chegar à casa da família em Mafra, Baltasar, acompanhado de Blimunda, é recebido
por sua mãe, Marta Maria; o pai, João Francisco, encontrava-se a trabalhar no campo;
·Baltasar fica a saber que o pai vendeu a el-rei uma terra que tinha na Vela para a
construção do convento;
·A única irmã de Baltasar, Inês Antónia, e o marido, Álvaro Diogo, conhecem “a nova
parenta”;
·Morte do infante D. Pedro, que vai enterrar em S. Vicente de Fora;
·Baltasar vai visitar as obras do convento e passa a ajudar o pai no campo
·Nascimento do infante D. José, terceiro filho da rainha
·Doença do rei, enquanto o seu irmão D. Francisco tenta a cunhada, revelando à rainha
o interesse em tornar-se seu marido
·Ida de D. João V para Azeitão “cura os seus achaques”;
·Apesar da recuperação da saúde do rei, D. Maria Ana continua os sonhos com o
cunhado.

Capítulo XI
·Regresso do padre Bartolomeu, que deseja que Blimunda consiga armazenar éter
composto de “vontades”
·Bartolomeu é recebido em casa do pároco de Mafra, Francisco Gonçalves, perto da
casa de Sete-Sóis;
·Em conversa com Blimunda e Baltasar, fala-lhes da descoberta na Holanda, de que o
éter se encontrava na “vontade” de cada um;
·O padre pede a Blimunda que olhe dentro das pessoas e encontre essa “vontade”, que
é como uma nuvem fechada.

Capítulo XII
·Em Mafra, Blimunda comunga em jejum, pela primeira vez; e vê na hóstia “uma nuvem
fechada”;
·O padre Bartolomeu pede, por carta, a Baltasar e Blimunda que regressem a Lisboa;
·Uma tempestade, comparável ao “sopro do Adamastor”, destruiu a igreja de madeira,
construída especialmente para a cerimónia da inauguração dos alicerces, mas foi
reerguida em dois dias, o que passou a ser visto como um milagre;
·Inauguração da primeira pedra do convento, a 17 de novembro de 1717
·17 De novembro de 1717: procissão e bênção da primeira pedra;
·Regresso de Baltasar e Blimunda a Lisboa, onde começam a trabalhar na passarola
·Reflexão do narrador sobre o amor “das almas, dos corpos e das vontades”.
Capítulo XIII
·Baltasar e Blimunda constroem a forja;
·O padre Bartolomeu diz a Blimunda que são necessários pelo menos duas mil
“vontades”;
·8 De junho de 1719: a procissão do Corpo de Deus;
·Enumeração dos participantes e descrição com comentários irónicos;
·Monólogos cheios de sarcasmo do patriarca e de el-rei.

Capítulo XIV
O padre Bartolomeu regressa de Coimbra, “doutor em cânones”;
·O músico Sacarlatti, napolitano de 35 anos, que ensina a infanta D. Mari Bárbara, toma
conhecimento do projeto da passarola
·Diálogo entre Bartolomeu e Scarlatti sobre o poder extraordinário da música e a
essência da verdade;
·O padre revela o seu segredo ao músico e apresenta-lhe a “trindade terrestre”: ele,
Sete-Sóis e Sete-Luas;
·O padre Bartolomeu Lourenço prepara um sermão para a festa do Corpo de Deus
questionando os fundamentos da trindade divina.

Capítulo XV
·A epidemia da cólera e da febre-amarela e a recolha das “vontades” por Blimunda
·O padre Bartolomeu pede a Blimunda que aproveite a ocasião para recolher as
vontades que se libertam do peito dos moribundos;
·Depois de cumprida a tarefa, Blimunda fica doente;
·Ao toque de cravo de Scarlatti, Blimunda recupera a sua saúde;
·Com as vontades recolhidas e a máquina de voar pronta, o padre Bartolomeu precisa
de avisar el-rei.

Capítulo XVI
·O duque de Aveiro recupera a Quinta de S. Sebastião da Pedreira, pois ganha a
demanda com a coroa;
·A concretização da viagem da passarola voadora, com o padre Bartolomeu, Baltasar e
Blimunda
·O padre Bartolomeu descobre que o Santo Ofício já estava à sua procura;
·Os três, depois de retirarem o telhado da abegoaria e colocarem tudo o que possuem
dentro da máquina, decidem levantar voo;
·Scarlatti, que chegara a tempo de ver a máquina subir, senta-se ao cravo e toca uma
música, antes de atirar o instrumento para dentro do poço;
·Os três sobrevoam a vila de Mafra; mas, com dificuldades de navegação por falta de
vento, têm de aterrar;
·O padre Bartolomeu, por emoção ou medo, tenta incendiar a máquina, sendo
impedido por Baltasar e Blimunda;
·O padre parte sozinho mata adentro;
·Blimunda e Baltasar escondem a máquina sob a ramagem e partem na mesma direção:
“Isto aqui é a serra do Barregudo, lhes disse um pastor, e aquele monte além… é
Monte Junto.”;
·Chegam a Mafra depois, quando uma procissão celebra o milagre que julgavam ser
uma aparição do Espírito Santo, e que mais não fora do que a máquina voadora.

Capítulo XVII
·O regresso de Baltasar com Blimunda a Mafra, onde começa a trabalhar nas obras do
convento, e anúncio da morte do padre Bartolomeu em Toledo
·Baltasar inicia o seu trabalho de carreiro nas obras do convento;
·O andamento das obras do convento;
·Notícias do terramoto de Lisboa;
·Dois meses depois de ter chegado a Mafra, regresso de Baltasar a Monte Junto, onde
haviam deixado a máquina de voar;
·Manutenção da máquina;
·Domenico Scarlatti em casa do visconde;
·Conversa às escondidas de Scarlatti e Blimunda: “resolvi vir a Mafra saber se estavam
vivos.”, “Vim-te dizer, e a Baltasar, que o padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão
morreu em Toledo… dizem que louco…”

Capítulo XVIII
·Caracterização dos gostos reais e dos trabalhadores em Mafra
·Visão irónica e depreciativa de Portugal;
·Esforços colossais e vítimas causadas pela construção do convento;
·Outros relatos de histórias pessoais: Francisco Marques, José Pequeno, Joaquim da
Rocha, Manuel Milho, João Anes e Julião Mau- Tempo.

Capítulo XIX
·Baltasar torna-se boieiro e participa no carregamento da pedra do altar (Benedictione),
verificando-se, durante o transporte, o esmagamento de um trabalhador
·A azáfama na construção do convento;
·Baltasar passa de carreiro a boieiro ajudado por José Pequeno;
·Transporte, de Pêro Pinheiro até Mafra, de uma imensa pedra: “Entre Pêro Pinheiro e
Mafra gastaram oito dias completos. Quando entraram no terreiro… toda a gente se
admirava com o tamanho desmedido da pedra, tão grande. Mas Baltasar murmurou,
olhando a basílica, tão pequena.”;
·Morte do trabalhador Francisco Marques, que acabou esmagado sob uma roda de um
carro de bois.

Capítulo XX
·Blimunda acompanha Baltasar ao Monte Junto. Depois de lá passarem a noite,
Blimunda ainda em jejum, procura certificar-se de que as vontades ainda estavam
guardadas dentro de cada uma das duas esferas;
·Renovação da máquina voadora em Monte Junto;
·Viagem de regresso;
·Morte de João Francisco, pai de Sete- Sóis.

Capítulo XXI
·Decisão de D. João V de que a sagração do convento de fará em 22 de outubro de
1730, data do seu aniversário
·D. João V manifesta o desejo de construir em Portugal uma basílica como a de S. Pedro
em Roma;
·Chama o arquiteto João Frederico Ludovice (ou Ludwig) para executar tal tarefa, ma
este diz-lhe que o rei não viveria o suficiente para ver a obra concluída;
·Decisão de D. João V: ampliar a dimensão do projeto do convento de 80 para 300
frades;
·Com “medo de morrer”, D. João V decide que a sagração da basílica de Mafra seja a 22
de outubro de 1730 (dia do seu aniversário);
·Recrutamento em todo o reino operários para Mafra;
·Escolha dos homens como tijolos.

Capítulo XXII
Casamento da infanta Maria Bárbara com o príncipe Fernando VI de Espanha e do
príncipe D. José, com a infanta espanhola Mariana Vitória;
·A “troca das princesas”, em 1729, une as famílias reais de Portugal e Espanha;
·Viagem ao rio de Caia para levar a princesa Maria Bárbara e trazer Mariana Vitória;
·João Elvas acompanha, com um grupo de pedintes, a comitiva à fronteira;
·Cerimónia do casamento com música de Domenico Scarlatti.

Capítulo XXIII
·Baltasar vai ao Monte Junto e desaparece com a passarola
·Transporte de várias estátuas de santos para Mafra;
·A viagem de trinta noviços, do convento de S. José de Ribamar, em Algés, para Mafra;
·Baltasar decide ir sozinho ao Monte Junto verificar o estado da passarola;
·A máquina inesperadamente levanta voo quando Baltasar “entrou na passarola” para a
reparar.

Capítulo XXIV
·Blimunda procura Baltasar, enquanto em Mafra se faz a sagração do convento, em 22
de outubro de 1730
·Blimunda, inquieta e angustiada, procura o seu homem;
·No cume do Monte Junto, usa o espigão de ferro de Baltasar para evitar ser violada por
um frade;
·Em Mafra, começam as festas da sagração do convento

Capítulo XXV
·Durante nove anos Blimunda procura Baltasar e vai encontrá-lo em Lisboa a ser
queimado num auto de fé
·Blimunda procura Baltasar por todas as partes do país;
·Em 1739, onze “supliciados”, entre eles António José da Silva, encontram-se a caminho
da fogueira num auto de fé, na praça do Rossio;
·Estava lá também Baltasar e, quando está para morrer, a sua “vontade” desprende-se e
é recolhida dentro do peito de Blimunda.

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