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Universidade Estadual do Paraná Campus Paranaguá- nome Terrimar dos Reis

Literatura Brasileira III-


4°ano-Letras -português
Prof. Catia
Avaliação do segundo bimestre

1- Jorge de Lima, Cecília Meireles, Murilo Mendes e Vinícius de Moraes são quatro poetas
inseridos, didaticamente, no segundo momento do Modernismo Brasileiro.
Leia o fragmento do poema Místico, de Vinícius de Moraes. Identifique e comente 3
características que unem os poetas citados e identifiquem o momento de que são
representantes. Considere a temática e forma. Desenvolva sua resposta.

Resposta: De fato, de acordo com todas as fontes que eu consultei, ambos os poetas se
destacaram como representantes da 2a fase do modernismo, que de acordo com o
pesquisado, teve início nos anos de 1930, se estendendo por toda a era Vargas (até 1945).
A crítica especializada tem como consenso, que a poesia neste período histórico
estudado, é caracterizada por assuntos contemporâneos (daquela época, claro), temática
sociopolítica e conflito existencial. No campo estrutural, os versos livres se mesclam e
“dançam “ com os regulares e brancos. São poetas dessa geração:

"Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)


Cecília Meireles (1901-1964)
Jorge de Lima (1893-1953)
Murilo Mendes (1901-1975)
Vinicius de Moraes (1913-1980)"

No correlato a prosa, a mesma ficou conhecida popularmente como “como romance de


1930”, com forte caráter regionalista e realista (no sentido de retratação da realidade da
época, não em termos de verossimilhança).Os problemas sociais de regiões brasileiras são
mostrados de forma crítica e, por vezes, determinista. Os enredos dinâmicos e a linguagem
simples tornaram os romances do período muito populares. Seus principais autores são:

“Erico Verissimo
Graciliano Ramos (1892-1953)
Jorge Amado (1912-2001)
José Lins do Rego (1901-1957)
Rachel de Queiroz (1910-2003)"

2- O poema a seguir é de Carlos Drummond de Andrade, que está inserido no mesmo


período estético no qual se enquadram os poetas citados na questão anterior. Compare os
poemas apresentados (o de Vinícius e o de Drummond), procurando estabelecer
semelhanças e diferenças entre eles. Desenvolva sua resposta.
Igreja Tijolo areia andaime água tijolo. O canto dos homens trabalhando trabalhando mais
perto do céu cada vez mais perto mais — a torre. E nos domingos a litania dos perdões, o
murmúrio das invocações. O padre que fala do inferno sem nunca ter ido lá. Pernas de seda
ajoelham mostrando geolhos. Um sino canta a saudade de qualquer coisa sabida e já
esquecida. A manhã pintou-se de azul. No adro ficou o ateu, no alto fica Deus. Domingo...
Bem bão! Bem bão! Os serafins, no meio, entoam quii ieleisão.

Resposta: Em nossa pesquisa, descobrimos que ambos os autores, são parecidos e se


completam muito bem, tendo até sido amigos, tendo suas respectivas famílias, se
encontrado mesmo após a sua morte,como descobrimos em nossa pesquisa:

A morte de Vinicius de Moraes, a 9 de julho de 1980, apanhou Carlos Drummond de Andrade em


meio a uma crise de herpes. Já de natureza caseiro, em ocasiões como essa o poeta tinha um
motivo adicional para não sair à rua. Não queria ser visto com feridas no rosto, que ainda por
cima o impediam de se barbear. Mas foi um Drummond com barba por fazer que apareceu no
velório de Vinicius, no Cemitério de São João Batista. Mais surpreendente ainda, o bicho-do-
mato que passou a vida driblando repórteres praticamente se ofereceu aos microfones para falar
do morto. Quem baixar os arquivos de jornais, revistas e emissoras de televisão irá verificar que
a partir de então foi que o urso, como ele próprio uma vez se chamou (Apelo a Meus
Dessemelhantes em Favor da Paz), parou de fugir dos entrevistadores.
Vinicius de Moraes não estava entre os amigos mais chegados de Drummond,
mas havia nele algo que fascinava o poeta mineiro, tão comedido em gestos e palavras: Vinicius
gastava-se perdulariamente, pulverizava seu talento entre a poesia escrita, a música, o teatro, o
cinema, corria o risco do ridículo ao se enfiar, já mais do que maduro, num macacão juvenil,
entrava e saía de casamentos, nove ao todo — ao passo que Drummond, apaixonado pela
colegial Lígia Fernandes desde a “curva perigosa dos cinquenta”, não cogitou desfazer seu
casamento com Dolores, a mulher com quem se casou aos 22. Até à sua morte, em 1987,
equilibrou duas histórias paralelas sem entregar-se radicalmente a nenhuma delas, morando
com Dolores e namorando Lígia, num subreptício chamego vespertino que talvez jamais tenha
conhecido uma literal noite de amor. Chegava a recriminar um jovem confrade mineiro, seu
amigo, vinte anos mais jovem, sempre que este desfazia um casamento. É significativo que
Drummond tenha dito, certa vez, de Vinícius de Moraes: dos poetas brasileiros de seu tempo, foi
o que mais integralmente viveu a vocação da poesia, levando-a para fora do suplemento
literário, do livro, do poema.

Quem conviveu com Drummond há de lembrar-se da cabeça baixa, da figura


travada, da rigidez corporal que em rapaz lhe valia gozações quando passava na porta de uma
república de estudantes: “Abana o braço, moço, abana o braço!” — e tudo o que ele conseguia
fazer então era mandar uma “banana”. Mas os íntimos falam de um Drummond bem diverso,
um Drummond chapliniano que aos 80 anos (morreu com 84) ainda se permitia uma
cambalhota no soalho da sala que divertir uma criança. A filha, Maria Julieta, evocou um pai
brincalhão que às vezes, em sua companhia, gostava de perambular catatonicamente pela casa a
murmurar palavras desconexas, para o desespero de Dolores. Mais adiante, fascinava os três
netos com a mágica de tirar os dentes, as mesmas “dentaduras duplas” cuja chegada lamentou
num poema célebre.

Quais desses dois — o comedido ou o chapliniano — era o Drummond


verdadeiro? Um e outro, sintetizados na poesia mais alta que o país viu nascer neste século.

fonte: https://www.carlosdrummond.com.br/conteudos/visualizar/Drummond-e-Vinicius-
entre-o-comedimento-e-a-cambalhota

No correlato a obra de ambos, temos que “ Nada mais paradoxal que a comparação
temática da obra dos dois. Um louva o amor e a felicidade e a vida, mesmo quando
triste, o ouro duro, de ferro, com bom humor, mas sempre comedido.
Outro dia revirando recortes velhos de jornal encontrei a manchete: Jogo de
Espelhos , sobre o relançamento de obras de Vinicius e a inclusão de um poema
inédito dedicado a Drummond.

Os dois librianos manifestaram a admiração mútua por meio de crônicas em jornais,


entrevistas e etc., mas o poema Retrato de Carlos Drummond de Andrade,
descoberto pelo poeta e professor Eucanaã Ferraz , escrito na década de 1940 e
publicado pela editora Companhia das Letras, numa organização de poesias de
Vinicius intitulada Caminho para distância.

O poema, como definiria Manuel Bandeira, era do tipo de poema desentranhado, ou


seja, daqueles que surgem de atos banais e nos evocam pensamentos mais
profundos. Coisa que me lembra muito a estrutura narrativa da Clarice Lispector, mas
este é outro assunto.

Segundo o organizador da obra os autores eram “amigos e frequentavam a casa de


amigos em comum”, ainda que seja público a preferência de Drummond por longos
telefonemas à visitas.

Susana de Moraes, filha de Vinicius e produtora de um LP de poesias de Drummond


declamadas pelo próprio, lembra que no ano desta produção (1970), Drummond
falava de seu pai de maneira maravilhosa. (Drummond veio a ser padrinho do
casamento dela , anos depois).

O cenógrafo, Pedro Drummond, neto do poeta, afirma o abalo do avô diante da morte
de Vinicius.”Hoje os filhos do Vinicius ainda são amigos da gente , ainda que nos
vejamos pouco. Mas , sempre que a gente se encontra , sinto a continuidade do afeto
que havia entre os dois”.
O certo de tudo isso é que onde poderia haver uma competição, havia mesmo era
uma grande admiração de parte a parte como nota-se em trechos de entrevistas e
crônicas de ambos, transpostos abaixo:

“Depois de uns chopes, a máscara do poeta esgarça-se num riso silenciosos, que lhe
vem de passagem casta e longínqua na alma, e sua cabeça baixa se levanta, suas
mãos mortas reencarnam, e ele tamborila na mesa uma alegria rápida e
extraordinária”.

Vinicius de Moraes, crônica de 1940.

“…invejo o conceito que o Vinicius teve de vida , de independência de espírito, de


falta de compromissos com as convenções sociais…fazia o que queria e sempre com
aquela doçura , com aquela capacidade de encantar que fazia com que as donas de
casa mais severas o adorassem “.

Carlos Drummond de Andrade – Entrevista a Zuenir Ventura, Veja (1980).

“Considero Drummond o único poeta brasileiro de caráter universal”

Vinicius de Moraes In: Querido Poeta , Ruy Castro (Compilação de correspondência).

“único poeta brasileiro que ousou viver sob o signo da paixão…eu queria ter sido
Vinicius de Moraes”…

Carlos Drummond de Andrade

Retrato de Carlos Drummond de Andrade

Duas da manhã: abro uma gaveta

Com um gesto sem finalidade

E dou com o retrato do poeta

Carlos Drummond de Andrade.

Seus olhos nem por um segundo

Piscam; o poeta me encara

E eu vejo pela sua cara

Que ele devia estar sofrendo

Dentro daquela gaveta há muito.


Tiro-o, depois com mão amiga

Limpo-o da poeira que lhe embaça

Os óculos e suja-lhe a camisa

E o poeta como que acha graça

Procuro um lugar para instalá-lo

Na minha pequena sala fria

Essa sala tão sem poesia

Onde me reencontro todo dia

E onde me sento e onde me calo.

Texto retirado de: https://entrestantes.wordpress.com/2011/04/05/261/

3- “Poema de sete faces” é um dos poemas mais icônicos de Carlos Drummond de


Andrade. Leia-o para responder a esta questão.
Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na
vida.
As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna,
meu Deus, pergunta meu coração. Porém meus olhos não perguntam nada.
O homem atrás do bigode é sério, simples e forte. Quase não conversa. Tem poucos, raros
amigos o homem atrás dos óculos e do -bigode,
Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era
fraco.
Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma
solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o
diabo.
a) A partir da primeira estrofe, como o eu poético caracteriza sua relação com o mundo?
Essa relação permanece ao longo do poema ou se altera? Explique.
Resposta: ao longo do texto a relação do poeta com o mundo muda completamente,
começa cru, puro no mundo e se perde diante das inúmeras tentações carnais, tanto que
chega a se revoltar para com o divino, pois acredita estar sofrendo injustiça, que advém do
que era e do que se tornou, reação de estranhamento, decepção, desilusão com o andar do
seu tempo de vida, de tal modo que culpa isso a um karma espiritual, ao diabo ao abandono
de deus.
As sete faces correspondem a sete estrofes, como se fosse um retrato em sete partes.
Poema tipicamente modernista, de ruptura com as convenções. Descontínuo, inesperado,
coloquial. Escritos com versos livres e com estrofes heterogêneas. Irônico, neste poema de
descoberta do eu e do mundo Drummond se coloca como gauche - um desajeitado - mas
cujo coração transborda, mais vasto que o mundo, com humor desencantado, sarcástico.
Com uma secura que representa a emoção Antilírica. Observe o tom de confidência da
última estrofe, onde o poeta assume a emoção, embora a atribua ao conhaque e a lua...
Assim, o Poema de Sete Faces ("Quando nasci, um anjo torto/ desses que vivem na
sombra/ disse: Vai, Carlos! ser
gauche na vida") expõe o contato com um mundo caótico e múltiplo. "Isso caracteriza seu
esforço poético", comenta o ensaísta, que vê nessa fase modernista uma ambiguidade de
tom que supõe um "Eu reflexivo atrás do Eu". Nessa primeira fase, Drummond seguia a
linha modernista ao criar poemas que provocam tanto riso como seriedade. Mas, apesar
dessa verve que se aproveitava da linguagem oral extraída da fala cotidiana, o poeta não
escondia o "Eu retorcido”. Sendo o sofrimento beirando o desespero, o desajeitamento do
indivíduo.
b)Encontram-se , nesse poema, exemplos de metonímia e de prosopopeia. Localize e
explique as ocorrências.

Resposta: Trata se de uma questão interessante, pois já na primeira estrofe podemos


reconhecer, uma inovação a tudo que estava sendo feito anteriormente na época, pois
identifica-se o rompimento com os aspectos do discurso, através da ironia, “um anjo torto”,
geralmente os anjos possuem características pautadas a partir da retidão do caráter e
espírito, características tais quais: bondade, beleza, serenidade e não através do desvio
de conduta de procedimentos que nos leve a contemplação da luz, Deus. Assim, este
fragmento do 1º. Verso demonstra contradição conflitante no correlato a apresentação do
anjo, pois anjo é claridade, bondade e não o desvio irônico citado pelo poeta.Em suma, o
autor inova ao humanizar a figura angelical do anjo que se conhecia até então, subvertendo
a , a alcançar verossimilhança com nós humanos, transformando o anjo do texto numa
figura anômala e sui generis da junção de anjo com humano, um verdadeiro “anjo torto”

Ainda pertinente à apresentação irônica do autor destacamos o verso “disse: Vai Carlos!
ser gauche na vida”, exaltando a palavra gauche. Aplicada ao ser humano, tendo como
significado aquele que sente às avessas, torto, que não consegue estabelecer uma
comunicação com a realidade. Relação ironia do poeta, mais uma vez aqui apresentada.

Na segunda estrofe destacamos a presença da prosopopeia, proporcionando características


de seres animados a seres inanimados “as casas aspiram”, ou dando características
humanas a objetos. Neste caso a casa deseja o homem, sendo uma característica humana.
Curioso observar, que tal humanização se liga diretamente com o “anjo torto”, o qual nos
referimos acima e pelo qual se dá maior coesão e coerência com o texto, no todo, no geral.

O segundo e terceiro verso, com destaque as palavras homem e mulher, representam a


relação de contrariedade/anti, a antítese proporcionando ideia contrária através da
utilização das palavras, por meio de um jogo de palavras bastante avançado para a época,
sutil, mas que não deixará o leitor fiel dos mestres “ passar batido”
Para finalizar a análise, na terceira estrofe destacamos a hipérbole, o exagero da utilização
da expressão com intuito de realçar uma ideia. Assim destacamos os versos a seguir “O
bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas”. Nestes versos percebemos
ainda a presença da ironia sendo sequência na quarta estrofe onde a presença da ironia se
evidencia, quanto demonstra que o homem se esconde atrás do bigode, por esse ser tão
grande, exagerado que consegue esconder seu próprio dono. “O homem atrás do bigode”.
Reforçando também o tamanho dos óculos do homem que ocupa um espaço superior ao
ideal, referente ao verso “o homem atrás dos óculos e do bigode”.

Tal ironia, hoje nos parece simples, mas na época, da forma que o autor praticava, tornou-
se única e para a todo o sempre.

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