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Os Mais – A Crónica de Costumes

O jantar dos Gouvarinhos

O Objetivo
O jantar dos Gouvarinho trata-se de uma reunião semelhante ao jantar no Hotel Central, onde persiste o
aparato exterior a contrastar com a ignorância das classes dirigentes do país.

Este jantar teve como objetivos juntar a aristocracia (nobreza) e a alta burguesia, bem como a camada
dirigente do país, e desmascarar a sua ignorância. Permitiu, por sua vez, através da conversa, observar a
subvalorização dos valores sociais, o atraso intelectual do país e a mediocridade mental de algumas figuras
de alta burguesia da aristocracia, como também a incapacidade de dialogar o que prova uma enorme falta de
cultura em relação a certos assuntos daquela época.

A Relação com a intriga central


Sabendo que a intriga principal foca-se nos amores de Carlos Eduardo e Maria Eduarda, a relação do capítulo XII
com esta mesma intriga está no que acontece a seguir ao jantar: Carlos após sair da casa da tia da Condessa (onde
esteve “aprisionado” durante a tarde), foi visitar Maria Eduarda, onde lhe declarou o seu amor, que é, por sua vez,
correspondido (consumação do incesto – inconsciente).

Ambos envolvem-se pela primeira vez. Perante o desejo de Maria Eduarda de viver num lugar mais calmo, longe das
coscuvilhices e dos vizinhos, Carlos compra a Quinta dos Oliviais a Craft – Afonso aprova o investimento,
desconhecendo, contudo o motivo do mesmo.

Críticas à Sociedade Portuguesa


Algumas das reflexões críticas e assuntos abordados são: a escravatura, literatura, finanças, atraso intelectual do país,
educação, decadência do jornalismo português e corrupção do jornalismo, gosto convencional, provincianismo snob e
falta de espírito crítico da sociedade lisboeta.

Jantar
O jantar foi um ambiente marcado pela futilidade e ociosidade da alta burguesia e aristocracia lisboeta; apresenta uma
visão crítica relativamente medíocre, ignorância e superficialidade da elite social lisboeta, em geral, e à incapacidade
da classe política dirigente, em particular. Onde se sobressai Ega, com o seu jeito mordaz e impiedoso.

Durante o jantar os grandes temas de conversa são:


 A educação das mulheres em que Ega diz que “ A mulher só devia ter duas prendas: cozinhar bem e amar
bem.” Ao dizer isto está a desprezar as capacidades das mulheres;
 O atraso intelectual e falta de cultura dos invíduos que são detentores de cargos que os inseram na esfera
social do poder, e consequentemente do país;
 O deslumbramento pelo estrangeiro.

Personagens
Neste jantar, intervêm os personagens Carlos da Mais, Sousa Neto e a sua mulher, João Ega, Conde e Condessa
de Gouvarinho, D.Maria da Cunha e a baronesa de Alvim, entre os quais se destacam João da Ega, o Conde e
Condessa de Gouvarinho e Sousa Neto.
João da Ega
Apresentando uma função naturalista e realista na obra, João da Ega era uma personagem contraditória. Por um lado
mostra-se romântico e sentimental. Por outra, crítico e sarcástico. Excêntrico, exagerado, ateu, leal aos seus amigos,
diletante, amigo inseparável de Cralos e um falhado corrompido pela sociedade. Usava um “vidro entalado no olho”,
tinha “nariz adunco, pescoço esganiçado, punhos tísicos e pernas de cegonha”. Era o autêntico retrato de Eça.

Conde de Gouvarinho
Conde de Gouvarinho era um deputado pertencente ao Centro Progressista. Tinha um bigode encerado e uma pêra
curta. Era muito voltado pro passado. Tem falta de memória e revela uma enorme falta de cultura. É um homem fútil,
vaidoso, maçador e incompetente; além disso não compreende a ironia sarcástica de Ega. Representa a incompetência
do poder político da época.

Condessa de Gouvarinho
De 33 anos, a Condessa de Gouvarinhos possui cabelos crespos e ruivos, nariz pelutante, olhos escuros e brilhantes,
“pele de cetim”, “ pé fino e comprido” e “aroma de verbena”. É uma mulher fútil, que despreza o marido pelo seu
fraco poder económico e que desenvolve uma paixão forte por Carlos (até este se fartar dela). É imoral, provocadora,
sem escrúpulos, sensual e anda sempre bem vestida de forma requintada e exuberante. Representa as mulheres
adúlteras.

Sousa Neto
Sousa Neto é o representante da intrução pública. É um homem ignorante, defende a imitação do estrangeiro e não
tem opinião própria. É uma personagem-tipo da burocracia, mostra ineficácia na Administração. É um cavalheiro
alto, grande de barba rala e conheceu Pedro e Afonso da Maia.

Condessa de Gouvarinho e Maria Eduarda


Condessa de Gouvarinho: “Brilhava mais e melhor que todas na imaginação de Carlos.”; . Tem um casamento
falhado, desprezando o marido pelo seu fraco poder económico; . Procura Carlos, com a desculpa de que o filho está
doente. . Carlos acaba tudo com ela, por esta ser fútil.

Maria Eduarda: Era vista por Carlos como uma deusa; . Escolhe a maneira mais fácil de subir na vida, juntar-se
com homens ricos; . Usa a “doença” da Miss Sara, para Carlos ir a sua casa, e este aproveita. . Afastam-se depois de
saberem do incesto.

Analogia com a Atualidade


A sociedade descrita e retratada por Eça está, ainda hoje, “à solta”.
A crítica que Eça faz à sociedade do século XIX, caracterizando-a como uma sociedade corrupta, fútil,
superficial, ignorante, procurando agitar as ideias sociais, políticas e literárias, constitui uma verdadeira
caricatura da sociedade portuguesa da época, conservando-a até à actualidade, apesar dos contextos serem
um pouco diferentes.

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