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Capítulo XVIII
Personagens
Carlos da Maia
Caracterização Física
Carlos era um belo e magnífico rapaz. Era alto, bem constituído, de
ombros largos, olhos negros, pele branca, cabelos negros e
ondulados. Tinha barba fina, castanha escura, pequena e aguçada
no queixo. O bigode era arqueado aos cantos da boca. Como diz
Eça, ele tinha uma fisionomia de "belo cavaleiro da Renascença".
Caracterização Psicológica
Carlos era culto, bem-educado, de gostos requintados. Ao contrário
do seu pai, é fruto de uma educação à inglesa. É corajoso e frontal.
Amigo do seu amigo e generoso. Destaca-se na sua personalidade
o cosmopolitismo, a sensualidade, o gosto pelo luxo, e diletantismo
(incapacidade de se fixar num projecto sério e de o concretizar).
Todavia, apesar da educação, Carlos fracassou. Não foi devido a
esta mas falhou, em parte, por causa do meio onde se instalou –
uma sociedade parasita, ociosa, fútil e sem estímulos. Mas também
devido a aspectos hereditários – a fraqueza e a cobardia do pai, o
egoísmo, a futilidade.
Ega
Caracterização Física
Ao nível físico, brinca com a sua magreza, com o seu monóculo e
com o bigode arrebitado. Usava "um vidro entalado no olho", tinha
"nariz adunco, pescoço esganiçado, punhos tísicos, pernas de
cegonha". Era o autêntico retrato de Eça.
Caracterização Psicológica
Ao nível intelectual, revela a sua dualidade romântica e
regeneradora.
Ega, amigo inseparável de Carlos da Maia, caracteriza-se por ser
um irreverente, excêntrico, revolucionário, boémio, exagerado,
provocador, sarcástico, crítico, anarquista e satânico.
João da Ega é a projecção literária de Eça de Queirós. É uma
personagem contraditória, por um lado, romântico e sentimental,
por outro, progressista e crítico, sarcástico do Portugal
Constitucional.
Sofre também de diletantismo, concebe grandes projectos literários
que nunca chega a executar. Terminado o curso, vem viver para
Lisboa e torna-se amigo inseparável de Carlos. Ega, um falhado,
corrompido pela sociedade, encarna a figura defensora dos valores
da escola realista por oposição à romântica.
Dâmaso
Caracterização Física
Era baixo, gordo, "frisado como um noivo de província". Era
sobrinho de Guimarães. A ele e ao tio se devem, respectivamente,
o início e o fim dos amores de Carlos com Maria Eduarda.
Caracterização Psicológica
Dâmaso é uma suma de defeitos. Filho de um agiota, é presumido,
cobarde e sem dignidade.
Obcecado pelo “chique a valer”, vive dividido entre a admiração
bacoca por Carlos, que considera "um tipo supremo de chique", e
os ciúmes e a inveja que a superioridade do amigo e a sua relação
com Maria Eduarda lhe provocam.
É dele a carta anónima enviada a Castro Gomes, que revela o
envolvimento de Maria Eduarda com Carlos. É dele também, a
notícia contra Carlos na Corneta do Diabo. Mesquinho e
convencido, provinciano e tacanho.
Representa o novo-riquismo e os vícios da Lisboa da segunda
metade do séc. XIX. O seu carácter é tão baixo, que se retracta, a
si próprio, como um bêbado, só para evitar bater-se em duelo com
Carlos.
Críticas Sociais
A - Sociedade da alta burguesia
Toda a ação decorre em ambientes com personagens identificáveis
com a alta burguesia, ou com a elite portuguesa. Trata-se sempre
de gente que não precisa trabalhar para viver, e que vive sem
problemas de ordem material.
B - O diletantismo
O diletantismo, ou a incapacidade de ação útil.
Explicitamente mencionado por Eça, o diletantismo atinge quase
todos os personagens que não sofrem de tacanhez (como Ega e
Carlos).
O mal do diletantismo impede que se fixe a atenção num trabalho
sério sem se deixar desviar por solicitações acidentais, Carlos
“tinha nas veias o veneno do diletantismo” (Capítulo IV).
C - Apreciação do estrangeiro
O embevecimento perante tudo o que é estrangeiro atinge
praticamente todos: desde Afonso que viveu em Inglaterra e não
esconde a sua admiração por ele, a Carlos, que acaba por se fixar
em Paris, a Dâmaso que pacoviamente admira tudo o que é
francês. Note-se como o vocabulário dos personagens está cheio
de termos e expressões estrangeiros.
F - A inação da sociedade
Uma certa falta de fibra, uma certa tendência para a inação, uma
certa “moleza no agir”. Numerosos exemplos, de que se destaca o
vendedor de bilhetes com “duas mãos brutas e moles” a arranjar
troco (capítulo XI), mas principalmente no capítulo final, onde o
próprio Carlos pasma da abundância de jovens ociosos que se
passeiam: “que fazem ali, às horas de trabalho, aqueles moços
tristes de calça esguia?” (capítulo XVIII)